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O REINO ANIMAL

2º volume

BRIOZOÁRIOS E BRAQUIÓPODES
2º volume

Há animais cujos nomes são mais ou menos conhecidos de toda


a gente, embora os próprios animais não o sejam. Existem
animais que quase toda a gente conhece, sem lhes saber o
nome. Há ainda um terceiro grupo de animais que a maioria
das pessoas não só não conhece como também nunca ouviu falar
deles. São, por vezes, animais que desempenham um grande
papel no mundo vivo e que, além disso, presentemente têm um
considerável interesse do ponto de vista científico. Dois
exemplos: os Briozoários e os Braquiópodes.
Todos eles são Derossomas, por oposição aos Vermes
propriamente ditos ou Ortossomas. Neles se observa uma
regressão do eixo ântero-posterior: o animal desenvolve-se
perpendicularmente a esse eixo, aproximando-se, assim, o
ânus e a boca, tornando o intestino a forma de ansa. Os
Vermes Derossomas subdividem-se em Hidrocélicos e
Moluscóide. Os primeiros abrangem, também os Equinodermes e
os Enteropneustras, grupo em que se coloca uma série de
animais muito estranhos (Rhabdopleura e Cephalodiscus,
Dolichoglossus e Balanoglossus), que, depois das tentativas
de os colocar em vários filos, se acabou por os situar
entre, ou na vizinhança, os Protocordados. Os Moluscóides
reúnem os Briozoários e os Braquiópodes, assim como um
terceiro grupo, o dos Foronídeos, representados por um só
género, Phoromis.

Briozoários ou Polizoários

Os Briozoários, por vezes chamados musgos-do-mar, são


principalmente marinhos, mas estão representados nas águas
doces por espécies.
Com uma única excepção, estes animálculos constituem
colónias incrustadas nas pedras, conchas e algas, ou
formando arborescências em forma de leque ou de taça. Cada
colónia compõe-se de um certo número de compartimentos
separados, em substrato comum, cada um dos quais habitado
por um indivíduo (denominado polipídeo por semelhança com os
pólipos dos Celenterados) de estrutura simples.
É dotado de tubo digestivo, de uma dupla coroa de tentáculos
em redor da boca e de um gânglio cerebróide. A reprodução
faz-se por larvas ciliadas, e a colónia cresce por
gemiparidade puramente vegetativa de novos polipídeos.
Estes animais de tipo especial encontram-se em quase todas
as costas marítimas do Globo. Uns vivem na zona das marés,
de mistura com as algas, a que muito se assemelham, outros
formam, à superfície destas, delicadas manchas que lembram
rendas, outros ainda constituem massas gelatinosas,
arborescente ou digitiformes, ou mesmo rendilhadas cobrindo
os rochedos. Os Briozoários que vivem nas águas mais
profundas apresentam-se sob a forma de maciços de tamanho
considerável, lembrando certos tipos de corais, de onde lhes
vem o nome inglês lace coral, isto é, coral de renda.
Os dois nomes científicos dados ao grupo exprimem o aspecto
das espécies mais características: Polizoários, porque são
constituídos por numerosos animais vivendo em conjunto, e
Briozoários (literalmente: musgos-animais), porque formam
revestimentos sobre os rochedos marítimos, comparáveis aos
dos musgos sobre os rochedos terrestres.
São raras as espécies encontradas nas águas doces e uma
delas tem configuração suficientemente simples para poder
servir de modelo ao grupo e permitir compreender as espécies
marinhas mais complexas. Trata-se de Paludicella, que vive
nos lagos e cursos de água da Europa. Este animal é
constituído por uma colónia (zoário) de polipídeos, cuja
estrutura é bem diferente da dos polipídeos, dos corais e
outros Celenterados. Cada polipídeo vive dentro de um
compartimento didérmico, alongado, revestido por cutícula, o
cistídeo, e comunica com os seus vizinhos pela extremidade.
Forma-se assim uma arborescência que lembra a do musgo,
cujos ramos são constituídos por fiadas de polipídeos
ligadas topo a topo. Cada cistídeo tem uma abertura perto da
extremidade anterior, por onde sai a boca do polipídeo
cercada de um penacho de tentáculos ocos, mantendo-se todo o
restante do corpo no interior. O órgão mais visível é o tubo
digestivo, em forma de U, constituído pela faringe
musculosa, situada logo abaixo da boca. Um duplo cordão
mesentérico - o funículo - liga o tubo digestivo à parede do
corpo. Não há vasos sanguíneos nem sangue, mas este é
substituído, nas suas funções, por um líquido claro e
incolor - a hemolinfa - que preenche a cavidade e a parede
do cistídeos, mantida em movimento circulatório pela acção
dos cílios vibráteis das células mesodérmicas.
O sistema nervoso é formado por um gânglio cerebróide,
situado perto da boca, e pelos filetes nervosos que deles
partem.
Não há órgãos do sentido propriamente ditos. No entanto,
representam-nos células sensoriais distribuídas pela
ectoderme.
Os órgãos sexuais, formados por dois grupos de células
reprodutoras, masculinas e femininas, situam-se na região
onde o funículo se insere na parede do corpo. Os ovos, após
a fecundação, na cavidade geral, podem ser evacuados pelo
poro genital ou continuar ali durante a incubação, saindo
então já no estado de larvas ciliadas. Estas, depois de
nadarem algum tempo na água, acabam por se fixar a um
suporte e dar origem a novos polipídeos, cada um dos quais,
por gemiparidade, produz uma nova colónia. Há, pois,
alternância de geração sexuada e de crescimento, puramente
vegetativo, gemíparo.
Em muitos Briozoários dulciaquícolas, formam-se órgãos
reprodutores especiais, designados estatoblastos. São
agregados de células não especializadas, com um revestimento
capsular protector, que lhes permite a sobrevivência quer
aos frios intensos do Inverno. Desse modo, desempenham um
papel de primeira ordem na perenidade das espécies que vivem
em lagoas e rios.
Em condições favoráveis de temperatura e humidade, o
conteúdo vivo dos estatoblastos sai da cápsula, flutua e
acaba por formar uma nova colónia.
Os Briozoários marinhos constróem colónias mais importantes,
mas diferem muito pouco da Paludicella, apenas com as
diferenças essenciais respeitantes à constituição do
conjunto colonial, à ornamentação do revestimento externo
dos polipídeos e à estrutura da abertura bucal. Em alguns,
os cistídeos córneos são substituídos por camadas calcárias,
de modo que as colónias respectivas são vulneráveis,
quebradiças.
O revestimento externo dos polipídeos pode ser guarnecido
por diversa ornamentação, constituída por relevos vários e
sulcos que lhe imprimem uma estrutura microscópica muito
bela e delicada. Esta ornamentação pode mesmo conferir
protecção à colónia, mormente quando a abertura bucal é
defendida por grupos de picos acerados ou quando é coberta
por opérculo.
Em algumas espécies, certos polipídeos estão transformados
em aviculários, isto é, em órgãos com a configuração de
cabeça de ave. Parecem minúsculas cabeças de abutres
suportadas por compridos pescoços que se balanceiam
elegantemente de um lado para o outro, e cujos bicos se
fecham sobre seja o que for que passe ao seu alcance.
Em outras espécies, existem compridos vibraculários em forma
de chicote. Estes dois tipos de indivíduos especializados
servem provavelmente para manter o asseio da colónia,
isentando-a dos sedimentos que constantemente tendem a
depositar-se à sua superfície.
Todos os Briozoários são fixos, excepto a Cristatella
mucedo, espécie de água doce, de vasta dispersão nas regiões
temperadas, frias e mesmo árcticas. As suas colónias são
achatadas, em forma de lesma, com os polipídeos salientes em
toda a face superior, e pode rastejar sobre plantas
aquáticas por meio de ondulações da sua face inferior.

Braquiópodes

O filo de que vamos ocupar pertence ao tipo conservador,


isto é, de grandes longevidade. Os Braquiópodes conservaram
intactos os seus caracteres anatómicos essenciais durante
toda a sua história evolutiva. Representantes deste filo
encontram-se já nas rochas fossilíferas mais antigas no
Câmbrico inferior, e alguns géneros, que apareceram nesse
período de Era Primária. São animais que permanecem, durante
mais de 500 milhões de anos, e cujo restos fossilizados são
extraordinariamente abundantes nas rochas, em contrapartida,
os seus representantes actuais tornaram-se raridade
excepcional.
Os Braquiópodes são organismos marinhos fixos, cujas partes
moles se encerram dentro da concha bivalve (mais ou menos
calcificada), constituída por uma valva muito maior que a
outra, e provida de um rostro perfurado, através do qual
passa o pedúnculo de fixação do animal. Os Anglo-Saxões
chamam lamp-shells aos Braquiópodes, em virtude da
semelhança da concha com as antigas lâmpadas romanas. Na
concha, o corpo ocupa a parte posterior da cavidade do
manto, junto ao pedúnculo. A boca é circundada por um disco
em forma de ferradura ou lofóforo, dotado de dois braços
tentaculares, alongados ou enrolados em espiral, e coberto
de cílios. ao tubo digestivo pode faltar o ânus. O aparelho
circulatório é fechado, constituído por coração e alguns
vasos. Tem sistema nervoso simples, com um gânglio
subesofágico, mas sem órgãos dos sentidos.
Os sexos são separados. Os produtos sexuais evacuam-se
através de tubos nefridianos. Dos ovos fecundados nascem
larvas ciliadas, desenvolvidas nalgumas espécies em câmara
de incubação que se situam no interior da cavidade do manto.
Os Braquiópodes assemelham-se muito, exteriormente, aos
Moluscos bivalves, e, por esse motivo, foram outrora
incluídos nesta classe.
Embora sejam muito semelhantes aos Moluscos bivalves, uma
diferença fundamental os distingue. Nos Moluscos, as duas
valvas do concha são laterais, ao passo que nos Braquiópodes
uma é dorsal e a outra ventral.
É certo que, nuns e noutros, a concha é segregada pelo
manto, a pretendida homologia dos braços e do lofóforo com o
pé dos moluscos não pôde ser confirmada, pois que se
reconheceu tratar-se de apêndices meramente bucais.
Conclui-se que, mesmo admitindo-se a existência de
parentesco longínquo, as semelhanças superficiais são
resultados de fenómenos de evolução convergente.
A antiguidade e a conservação dos caracteres primitivos, que
se observam nos Braquiópodes.
O contraste existente quanto ao crescimento, à longevidade e
ao comportamento das espécies observa-se também nos géneros,
nas famílias, nas ordens e mesmo nos filos, como é o caso
dos Braquiópodes.

ARTROPODES

O filo dos Artrópodes ou animais articulados compreende


uma grande variedade de espécimes que têm as seguintes
características. Existe um esqueleto externo, constituído
por cutícula dura de quitina, formando uma série de
segmentos que envolvem o corpo; entre estes segmentos, a
cutícula é muito delgada e flexível, o que torna o esqueleto
articulado, como se tratasse de uma armadura de cavaleiro
medieval. Originariamente, há um par de apêndices
articulados, simples, ligados a cada segmento, mas o seu
número pode ser reduzido e a sua estrutura transformada de
modo a formar patas locomotoras ou natatórias, armas
ofensivas e defensivas e, na região bucal, as mandíbulas e
as maxilas. Geralmente, um ou dois pares do extremo mas
anterior são transformados em antenas.
Como a cutícula não é um tecido vivo, não pode crescer, e
porque aprisiona completamente os músculos e as outras
partes moles do indivíduo, o aumento do tamanho deste não se
pode produzir senão acompanhado por uma série de mudas
(ecdises). A cada uma delas, o esqueleto externo (exúvia) é
abandonado, ficando o animal apenas coberto por uma simples
película mole. Segue-se um curto período de crescimento
rápido, e, pouco tempo depois, uma nova cutícula se forma,
dentro da qual o animal continua a nutrir e a armazenar
reservas alimentares que irão servir para o crescimento
subsequente à sua próxima muda.
Nos Artrópodes, que representam os Invertebrados mais
evoluídos, aparecem, pela primeira vez, apêndices de
diversas formas, munidos de numerosas articulações, o que
lhes aumenta o poder de locomoção e as possibilidades de
adaptação. Pela primeira vez, também, encontram-se
mandíbulas e maxilas, mas, contrariamente ao que acontece
nos Vertebrados, a sua acção não se opera de cima para
baixo, mas lateralmente. A formação de uma cutícula rígida
tornou a respiração aérea relativamente fácil de realizar,
permitindo a invasão vitoriosa das terras, aliadas a uma
complicação crescente do sistema nervoso e dos órgãos dos
sentidos, prepararam o terreno para os modos de vida mais
activos e mais variados, de maneira que não nos devemos
surpreender ao ver os diversos membros do grupo dos
Artrópodes adaptarem-se a um número quase infinito de
situações, na agua, na terra e no ar.

O filo dos Artrópodes subdivide-se em classes:

Aracnídeos, cuja cabeça se fundiu com o tórax, formando um


cefalotórax. São privados de antenas (substituídas pelas
quelíceras) e possuem quatro pares de patas.

Crustáceos, em que a cabeça não se distingue do tórax


(cefalotórax), e que possuem dois pares de antenas, e patas,
em geral, numerosas e de forma diferentes.

Prototraqueados, contendo algumas espécies raras dos


Invertebrados arcaicos, mas especializadas.

Miriápodes, que têm cabeças distintas, um par de antenas e


numerosas patas, todas semelhantes.

Insectos, cujo corpo compreende cabeça, tórax e abdomen


distintos; têm um par de antenas e três pares de patas. Em
geral, um ou dois pares de asas estão inseridas, no adulto,
na parte superior lateral do tórax.

ARACNiDEOS

Os representantes desta classe, que abrange os límulos, os


escorpiões, as aranhas

e os minúsculos ácaros, etc., são muitas vezes confundidos


com insectos, aos quais se assemelham pelo seu revestimento
externo quitinoso. A parecença não vai mais além, pois só
nos estados larvares dos ácaros se encontram os três pares
de patas característicos dos insectos, e o corpo de qualquer
Aracnídeo Não está nunca dividido em três partes distintas.
O carácter mais relevante desta classe é o processo segundo
o qual se efectua a respiração, por brânquias nalgumas
formas aquáticas, ou por pulmões lamelados nas formas
terrestres. Também podem existir traqueias nas formas
terrestres, mas sempre diferentes das dos Insectos. A classe
subdivide-se em:

"
" Subclasse dos Delobranquiados - Aracnídeos aquáticos que
respiram por meio de brânquias - com a ordem dos Xifosuros
(límulo ou carangueijo-baioneta).
"
" Subclasse dos Embolobranquiados - aracnídeos terrestres
respirando por meio de pulmões lamelados ou traqueias - com
as ordens dos Escorpionídeos (escorpiões ou lacraus),
Araneídeos (aranhas), Solífugos (falsas aranhas), Quernetos
(falsos escorpiões), Opilionídeos (carraças, oução-do-quijo,
sarcopta da sarna, etc.). [Reconhecem-se mais as seguintes:
Palpigrados, Uropígios, Amblipígios e Ricinuleídeos.]

Xifosuros

Esta primeira ordem, que abrange o límulo, tem um interesse


particular. Os seus fósseis foram encontrados em terrenos do
Silúrico, o que significa que estes animais se mantiveram
sem qualquer modificação durante centenas de milhões de
anos. Hoje encontram-se nas águas pouco profundas da costa
norte-americana do Atlântico, do Japão, da península Malaia
e das Indias. Os límulos lembram fósseis vivos, e são-no na
realidade. A face superior do corpo consiste numa grande
carcaça de forma abaulada, à qual se segue um abdomen
hexagonal, que termina por longo e robusto prolongamento
lembrando uma espada, de onde lhe vem o nome de carangueijo-
baioneta. Na face inferior, encontra-se cinco partes de
apêndices, que servem ao mesmo tempo à locomoção e à
nutrição, aos quais se seguem pares de brânquias em forma de
lamelas, utilizadas na respiração e como auxiliares da
natação. Medem cerca de 50 centímetros de comprimento, vivem
nos fundos arenosos, nos quais se enterram geralmente, e
deslocam-se desajeitadamente, utilizando a baioneta caudal.
Enterram-na na areia e servem-sedela como se fosse alavanca
para impelir o corpo para a frente. Os límulos alimentam-se
de vermes marinhos e de moluscos sem casca.

Escorpionídeos

Depois dos límulos, os aracnídeos maiores são os escorpiões


ou lacraus: os gigantes chegam a atingir 20 centímetros de
comprimento, e os mais pequenos somente meio centímetro. As
600 espécies conhecidas encontram-se nos países quentes e
temperados e, como não bebem nunca, estão admiravelmente
adaptadas à vida nas regiões desérticas. Durante o dia,
escondem-se debaixo das pedras e nos buracos, e de noite
saem para caçar insectos e aranhas, dos quais se alimentam.
O corpo do escorpião é constituído pelo cefalotórax, munido
de um par de quelíceras, um par de fortes patas-maxilas e
quatro pares de patas locomotoras, e pelo abdomen, a suposta
cauda, formada por seis segmentos articulados, terminando o
último por um aguilhão curvo, que contém o canal de glândula
de veneno. A presa é segura pelas patas-maxilas e dilacerada
pelas quelíceras. Só quando oferece resistência é que o
aguilhão entra em acção. Neste caso, a "cauda" curva-se por
cima do corpo, de maneira a espetar a vítima, segura à
frente da cabeça. Os escorpiões só são perigosos quando
molestados. Preferem viver escondidos e manifestam sempre
uma certa hostilidade entre si e é proverbial que, quando
dois se encontram juntos, ou se acasalam se são macho ou
fêmea, ou se devoram se são machos. Levam vida solitária.
Da fêmea (por ovoviparidade) nascem os jovens, que são
transportados durante a primeira semana sobre o dorso da
mae. [Em Portugal existe uma única espécie: Buthus
occitanus, cuja fêmea devora o macho após o casamento.]

Araneídeos

As numerosas espécies diferentes de aranhas são


extraordinariamente semelhantes na forma do corpo, mas seus
hábitos são muito diversos e variados, geralmente
relacionados com o uso que fazem dos seus fios de seda. [O
seu número eleva-se a mais de 25000 espécies descritas.]
Embora haja poucos animais capazes de produzir seda, como
por exemplo certos insectos, dos quais o bicho-da-seda é o
mais famoso e menos utilizado na indústria, as aranhas estão
associadas no nosso espírito à ideia de fiação da seda.
O corpo da aranha, como na maior parte dos Aracnídeos, está
nitidamente dividido em cefalotórax e abdomen. A cabeça e o
tórax estão, com efeito, soldados de maneira a formar um
cefalotórax, que tem geralmente oito olhos, as quelíceras,
as patas-maxilas ou palpos e quatro pares de patas. Para
trás do cefalotórax encontra-se o abdomen, com as fieras,
que segregam a seda, na sua extremidade. As únicas aranhas
que fazem, excepção são os Liphistius, cujo abdomen é
segmentado, lembrando a estrutura das formas ancestrais das
aranhas da actualidade.
[O macho distingue da fêmea pela configuração dos palpos,
nos quais o tarso é dotado de uma vesícula, prolongada por
estilete que funciona como órgão de copulação, a que se
juntam, por vezes, apófises mais ou menos complexas.]
Todos os Araneídeos são carnívoros. Na parte anterior da
região cefálica encontra-se as glândulas que segregam o
veneno, que é inoculado pelos ganchos das quelíceras. Este
veneno é fulminante para os insectos pequenos. Certas
aranhas de grande porte são capazes de matar peixes, ratos,
ratazanas, aves pequenas e até serpentes. A picada da maior
parte das aranhas produz, quando muito, no Homem, uma
ligeira irritação, mas algumas podem ser perigosas mesmo
para os grandes quadrúpedes. A má reputação das aranhas é
devida, em grande parte, ao comportamento das viúvas-negras
(Latrodectu mactans) que se encontram somente na América
tropical e cuja picada produz uma dor aguda, insónias,
náuseas e, em cerca de 10% dos casos, até a morte.
As aranhas são capazes de consumir, de uma vez só, grandes
quantidades de alimentos e de os armazenar nos cegos
intestinos tubulares. Têm possibilidade de suportar grandes
jejuns forçados, ou então podem viver das suas reservas
durante meses, mesmo um ou dois anos, sem comer.
O seu ciclo vital típico é o dos insectos. Não há
metamorfose, mas o crescimento faz-se por uma série de mudas
das cutículas. Após a eclosão, o jovem tem já a configuração
de aranha, ainda que pequena e imperfeita. O corpo é, em
geral, transparente e o tubo digestivo está cheio de reserva
nutritiva (lecitina). Muitas vezes, não têm ainda olhos, a
boca raramente está completa e é incapaz de produzir fio de
seda. Passado um certo tempo, opera-se uma muda, e então
apercebem-se os olhos e as fieras, ficando o animal apto a
dar os seus primeiros passos, libertando-se então da ooteca.
Neste estado confecciona, pela primeira vez, os "fios da
virgem", fios de seda que flutuam no ar.
A aranha adulta tem tendência a evitar a luz, sendo activa
sobretudo de noite, mas a jovem sai instintivamente para a
luz e manifesta forte propensão para subir às plantas,
arbustos e sebes. Já no cimo. volta a cabeça para o vento,
levanta a extremidade do abdomen e exsuda uma gota de seda
líquida, que, à mais ligeira brisa, se transforma num longo
fio.
Sendo arrastado pelo vento, leva a aranha pelos ares na sua
extremidade.
Na Primavera ou Outono, podem ver-se no ar muitos fios. Esta
dispersão é indispensável para que as numerosas aranhas
recém-nascidas não sejam incomodadas, reciprocamente, na
competição pelos alimentos. Estas migrações podem estender-
se a alguns metros ou atingir até 300 quilómetros!
Podem agrupar-se os Araneídeos segundo o seu modo de procura
dos alimentos. Há os que caçam e os que constróem teias. Os
primeiros abrangem as Licósidas, ou aranhas-lobas, as
Tomísidas, ou aranha-carangueijas, e as Saltícidas, aranhas-
saltadoras ou papas-moscas. As construtoras de teias podem
agrupar-se conforme tecem a teia de fios lassos, a teia em
forma de manga, a teia plana comunicando com um abrigo
tubular, ou ainda uma teia em roseta, constituída por fios
radiais, a partir de um centro comum, e ligados entre si por
meio de laçadas circulares de espirais. É digno de se ver as
Licósidas a correr sobre o solo ou por cima dos relvados, as
fêmeas contém os ovos, fixas nas suas fieiras. Os recém-
nascidos saídos da ooteca são levados no dorso da mae até
serem capazes de vida independente. Estas aranhas, em vez de
tecerem a sua teia e nela permanecerem, espiando as vítimas,
percorrem os campos procurando-as incessantemente.
A célebre tarântula, do Sul da Europa, é uma das aranhas-
lobas, cuja picada goza da falsa reputação de provocar
histeria, que se acredita só poder ser curada por meio de
danças frenéticas. O nome do animal vem justamente de
Tarento, cidade italiana, e a dança chama-se tarantela.
As Tomísidas ou aranhas-caranguejas, somente se assemelham
vagamente a um caranguejo, mas caminham de lado como eles.
São atarracadas e deprimidas, com a extremidade posterior
mais larga que a anterior. As patas estendem-se mais para
diante ou para trás.
Têm por hábito manter-se espreitando as presas, entre as
folhas mortas ou entre as pétalas das flores, harmonizando-
se as suas cores com as do meio-ambiente, e de se lançar
repentinamente sobre as suas vítimas. Algumas, como a
Misumena vatia, podem mudar de cor, para amarelo, se se
encontram sobre flores amarelas, para branco se passam para
flores brancas; esta transformação dura cerca de 48 horas.
Nos estados malaios e em Ceilão, existem borboletas que vêm
ordinariamente poisar sobre excrementos de aves. As
tomísides destas regiões, pertencentes ao género
Phrynarachne, são de cor branca e negra; tecem a sua teia,
branca e irregular, e colocam-se ao centro, imitando de
maneira perfeita os excrementos das aves sobre os quais as
borboletas vêm imprudentemente poisar. Nas Saltícias, que
vivem no cimo das plantas baixas, dos muros ou das grades, o
corpo mede um pouco menos de um centímetro e é mais comprido
quelargo; o cefalotórax é muito largo anteriormente. Podem
deslocar-se facilmente para diante, de lado ou às arrecuas.
Esta facilidade de manobras dos papas-moscas está ainda
associada à faculdade de dar saltos prodigiosos em relação
ao tamanho do animal, sobre moscas e outros insectos que
violam o seu território. Têm uma visão penetrante, para o
que contribuem um par de grandes olhos, muito juntos, na
parte anterior da cabeça, um grande olho de cada lado e dois
pares de olhos mais pequenos e mais afastados, situados
dorsalmente, mais para trás. Antes de saltar sobre sua
presa, contornam-na pacientemente, com habilidade, encostam
o corpo contra o substrato, aproveitando as irregularidades
do terreno para se esconderem da cobiçada vítima.
Deslocando-se assim, a aranha deixa para trás um fio de
"ariana" que fixa num ponto e, ao dar o salto final, se
deixa escapar a presa, o que raramente sucede, o fio
funciona como a corda do alpinista. Se falhar o alvo e ficar
suspensa, pode subir rapidamente ao longo do fio até ao
local onde se encontrava. Outras aranhas caçadoras são, por
exemplo, as grandes terafosas, que aparecem às vezes na
Europa transportadas nos cachos de bananas provenientes da
América ou da africa. Chamam-lhes por vezes tarântulas,
embora não tenham qualquer relação com as licósidas de
Tarento [e, no Brasil, aranhas-carangueijeiras, embora não
sejam tomísidas.] As mígalas ou terafosas são as maiores de
todas as aranhas, cerca de 9 centímetros de comprimento do
corpo e envergadura total de 22 centímetros. Têm por hábito
esconder-se debaixo das pedras, troncos abatidos ou buracos
das árvores, durante o dia, saindo somente de noite para
caçar. Apesar do seu enorme tamanho, a mordedura não é mais
dolorosa do que a picada de uma vespa. Alimentam-se
principalmente de insectos embora ocasionalmente capturem
também pequenas aves.
Parece que há um abismo entre o simples fio de "ariana" do
papa-moscas e a teia maravilhosamente regular da epeira-dos-
jardins, contudo admite-se com certa razão que ela deriva
desse fio elementar. Muitas teias, tecidas entre as folhas
das ervas e dos arbustos, não passam de alguns fios de seda
emaranhados. A formação de teias planas, das quais nos
apercebemos, muitas vezes, nos arbustos, ou de teias lassas,
como as que se encontram nas casas, não são senão um exagero
e uma intensificação das teias mais simples. Em certas
espécies, que tecem teias planas irregulares, cada uma das
patas posteriores tem um pente (calamistro) que serve para
dobar e cardar a seda. [Nessas aranhas, a seda é também
produzida por certas fieiras transformadas no cribelo.]
Mais evoluídas são as teias planas que se prolongam num
tubo, no qual a aranha se abriga. Tais ninhos podem também
ver-se nos cantos dos compartimentos das habitações.
Os mais surpreendentes encontram-se entre as Ctenizas e
aranhas afins. As espécies europeias deste grupo cavam um
túnel na terra, graças a uma fiada especial de dentes
escavadores dispostos nas quelíceras e forram-no com um tubo
de seda, cuja extremidade livre pode estar ligada à
vegetação vizinha. Nas espécies próprias dos países quentes,
a entrada do buraco está munida de uma tampa com charneira,
feita de terra e seda, que se adapta perfeitamente à
abertura. A face inferior da tampa adapta a aranha às suas
quelíceras para fechar o esconderijo. [Em Portugal e no Sul
da França, as terafosas constróem um ninho semelhante; são
por isso conhecidas por aranhas-buraqueiras.]
As maravilhosas teias em rosetas representam o mais elevado
desenvolvimento da indústria das aranhas e constituem uma
manifesta vantagem na economia do material e dos esforços
para sua realização.
Uma anomalia interessante encontra-se nas aranhas aquáticas,
as argirõetas, que tecem uma espécie de sino de mergulhador
dentro de água, num entrelaçado de plantas aquáticas. A
aranha vem à superfície da água, deixando uma parte do corpo
a descoberto para armazenar ar entre os pêlos que o
revestem, e depois nada novamente até à sua teia, à qual
cede o ar.
O emprego da seda está estreitamente ligado à reprodução e à
nutrição. Verdadeiramente, deviam ter sido estes os
primitivos destinos da seda. Antes de pôr os ovos, a fêmea
tece sempre a "toalhinha" de seda., sobre a qual coloca
ainda outra ou uma almofada de seda, onde a postura é feita.
Novas camadas de seda se vão juntando a estas até se formar
uma ooteca mais ou menos arredondada. Os processos de
construção são muito variáveis, bem como a forma definitiva
destes saquinhos de ovos, que vão da simples esfera às
estruturas mais complicadas, muitas vezes decoradas com
bocados de folhas ou de grãos de terra, a fim de lhes dar um
certo disfarce. Finalmente, as otecas são fixadas em caules
de ervas ou tronquinhos de plantas, nas fendas de cascas das
árvores, nos muros e sedes. Em certas espécies, a mae está
de vigia sobre a ooteca até à eclosão das filhas. Como
vimos, as licósidas transportam as suas ootecas fixadas às
fieiras e, por exemplo, no Pholcus phalangiodes, a aranha
frequente nas habitações humanas, a ooteca é transportada
presa pelas quelíceras. É frequente a aranha fêmea devorar o
macho após a copulação. As aranhas são realmente muito
vorazes e apresentam grande propensão para o canibalismo.
Mas tem-se verificado em certas espécies que um casal pode
viver em conjunto na mesma teia depois do casamento. As
aranhas de teia têm visão muito deficiente: orientam-se
principalmente pelas vibrações da teia e dos fios que lhes
estão ligados. O macho avança sobre a teia da seda, ao que a
fêmea responde. O macho, inconsciente do risco que pode
correr, tem medo de se aproximar da sua consorte.
As aranhas que não tecem teias (Licósidas, Salticidas e
Tomísidas) Têm visão penetrante. Não podem servir-se das
vibrações dos fios de seda como anúncio da presença de uma
vítima, de um inimigo ou de um pretendente amoroso! A sua
corte é acompanhada de demonstrações visíveis.
Nos papas-moscas (Saltícidas), as patas ornamentadas com
tufos de pêlos e o abdomen com desenhos coloridos são
ostentados à fêmea. O macho pode andar à volta da fêmea
muitas vezes, exibindo os seus encantos, antes de iniciar o
casamento.
A aranha jovem, geralmente não deixa a ooteca antes da
primeira muda, da qual se desembaraça pelos seus próprios
meios. Alimentando-se, cresce e torna-se demasiado pequena
para o seu esqueleto externo. A pressão interna rasga-o e o
corpo liberta-se. A parte mais delicada da operação consiste
na saída das patas, que se realiza por meio de sacudidelas
cerca de 600, de modo que, ao terminar a muda, a aranha fica
estafada e necessita de repouso. Em seguida "penteia-se", de
modo a colocar os pêlos do corpo na direcção adequada.
Depois da muda, a cor da aranha é mais pálida, escurecendo à
medida que a nova cutícula endurece.
As aranhas, quando agarradas por uma pata, têm a faculdade
de a abandonar e de a regenerar depois. Esta destaca-se ao
nível da segunda articulação, por um processo
voluntário(autotomia). A regeneração inicia-se logo que a
pata se destaca, mas o membro não é inteiramente substituído
antes da muda seguinte. Os inimigos das aranhas são as aves
e outros animais insectívoros, as vespas e os icneumonídeos,
que põem os ovos no seu próprio corpo ou nas ootecas. O que
a aranha tem, portanto, a fazer é esconder-se nos buracos,
nas fendas ou, como as aranhas-buraqueiras, no solo. Outros
métodos consistem na coloração protectora, no emprego de
enganos, na semelhança, no mimetismo, nas cores de
advertência, na simulação da morte, ou na procura de
invisibilidade, graças a uma vibração dos fios da teia.
Solífugos

As falsas-aranhas, das quais as Galeodes são as mais


conhecidas, assemelham-se bastante às aranhas propriamente
ditas, mas o tórax tem três segmentos e as quelíceras,
fortemente desenvolvidas, constróem apêndices de aspecto
terrível. Os Solífugos são essencialmente nocturnos e de
movimentos muito rápidos; estendem para diante o par de
patas anteriores, utilizando-se como órgãos tácteis.
Alimentam-se de insectos, que matam com o auxílio das
quelíceras, pois não segregam veneno Tal como os escorpiões,
são mais frequentes nos países tropicais, se bem que certas
espécies se encontrem no Sul da Europa.

Quernetos ou pseudo-escorpião

Os falsos escorpiões são de tamanho muito pequeno: o maior


que se conhece mede somente 0,5 centímetros e a maior parte
atinge 3 milímetros. Alimentam-se de ácaros e de insectos
mais pequenos do que eles, e vivem debaixo das pedras, nos
musgos, debaixo da casca das árvores, nos montes de estrume,
na palha e no feno e nas fendas dos madeiramentos das
habitações e outras construções.
Só superficialmente se parecem com os escorpiões. O abdomen,
segmentado, não termina em cauda. Não existe aguilhão nem
glândulas de veneno e as quelíceras são pequenas e segregam
a seda; os palpos ou patas-maxilas, grandes, têm o aspecto
de tenazes, o que faz lembrar os escorpiões.
O Cheiridium museorum encontra-se nos livros velhos e na
papelada, sobretudo se há muito não são revolvidos; é, por
isso, conhecido por escorpião-dos-livros.
Constróem ninhos de seda para se protegerem no Inverno,
durante as mudas. O falso escorpião recolhe primeiro grãos
de terra e partículas de matéria vegetal, dispondo-os em
círculo e cimentando-os interiormente com o auxílio da seda,
sobrepondo assim sucessivas camadas, como na construção de
uma parede. [Os ovos fecundados (de 2 a 50, conforme as
espécies) são postos na câmara de incubação, que cobre a
região genital. Esta é formada pela expansão externa dos
condutores genitais da fêmea e por membrana segregada por
glândula especial.]
Os recém-nascidos possuem um órgão de sucção com o auxílio
do qual parece alimentarem-se de uma substância proveniente
de certas glândulas do corpo da progenitora, e que é
introduzida na incubadora.

Opilionídeos

Os opiliões têm o corpo compacto e arredondado, sem


separação visível em cefalotórax e abdomen, e quatro pares
de longas patas, desproporcionadas, que lhes permitem
movimentos muito rápidos. Alimentam-se não só de pequenos
insectos, de ácaros e de aranhas, como também dos seus
próprios congéneres. Não têm glândulas sericígenas, de modo
que não podem construir nem ooteca nem teia. Os ovos são
postos debaixo das pedras ou nas fendas. Tem um par de
olhos, mas o sentido do tacto é o mais importante, dada a
maneira como o segundo par de pata se agita continuamente.
Estes animais parece utilizarem principalmente dois
processos para se defenderem dos inimigos, além da
velocidade dos seus movimentos. Próximo dos olhos,
encontram-se os orifícios de um par de glândulas odoríferas
a que se atribui um cheiro repugnante; mas o meio de defesa
mas eficaz consiste na facilidade com que o animal se
liberta das patas (autotomia) para evitar ser capturado.
Os opiliões são muito abundantes em todo o Mundo.

Acarinos

Os representantes desta ordem, dos quais os mais conhecidos


são as carraças, o oução-do-queijo e os sarcoptos-da-sarna,
não se tem prestado a atenção que merecem, dado o papel que
desempenham nas actividades humanas. Nos campos estratégicos
situados nas selvas, durante a Segunda Guerra Mundial, a
importância dos Acarinos, como agentes vectores de dõença,
foi manifesta, e fizeram-se até pesquisas consideráveis.
Conhecem-se 20000 espécies pertencentes a esta ordem, mas é
provável que o número total de espécies exceda muitos estes
quantitativos.
Os Acarinos existem em toda a superfície do Globo.
Encontram-se sobre o solo ou dentro deste; sobre as plantas
ou dentro delas; sobre os animais, debaixo da pele ou nas
cavidades respiratórias; na água doce e na água do mar;
sobre toda a espécie de animais e vegetais mortos.
O seu corpo não está visivelmente dividido como nos outros
Aracnídeos; é arredondado e varia de tamanho conforme a
quantidade de alimento de que dispõe, sendo, na maior parte
das vezes, pouco visível a olho nu. Na parte anterior,
encontra-se as peças bucais, de tipo triturador ou sugador,
e imediatamente atrás da região cefálica quatro patas que
terminam por ventosas, por ganchos, ou por sedas, segundo os
seus hábitos.
O ciclo vital destes animais difere igualmente do dos outros
Aracnídeos. Do ovo sai uma larva que possui três pares de
patas, em vez de quatro. Esta transforma-se em ninfa, no
momento em que surge o quarto par.
Estes animais não se entregam somente a refeições
pantagruélicas, pois são capazes de suportar prolongados
jejuns. Em certos casos, verificou-se que eles duraram
vários anos, no decorrer dos quais o crescimento parara
completamente; mas este inicia-se de novo logo que o jejum
termine.
A variedade dos seus hábitos, bem como as diversas maneiras
de ataque ao Homem, são bem ilustradas pela descrição de
alguns exemplos mais comuns:

"
"Trombídeos. - O trombídeo, mais conhecido pelo nome de mal-
rubro, é a larva de Thrombicula autumnalis, que se esconde
na relva e nas ervas, esperando agarrar-se ao corpo de um
animal que passe. Infesta particularmente os rõedores, mas
um grande número de aves e mamíferos, incluindo o Homem,
estão também sujeitos ao seu ataque. Fixado ao corpo de um
animal, morde-o e lança uma gota de líquido cuja reacção
produz uma perfuração na pele, permitindo ao animálculo
alimentar-se da linfa. aparecem então centros de intensa
irritação (eritema outonal), que duram cerca de uma semana.
Estando saciado, o
trombídeo solta-se do hospedeiro e acaba a sua transformação
em ninfa em um adulto, na terra. espécies próximas,
tropicais, são agentes vectores do tifo exantemático.
"
"Sarcoptídeos. - Uma das espécies (Sarcoptes scasbieii)
escava canalículos na pele humana e aí põe os ovos - é a bem
conhecida sarna -, que se traduz por insuportáveis pruridos.
Outras espécies parasitam cavalos, gatos, caes, carneiros e
aves de capõeira.
"
"Tiroglifos. - São os ouções-de-queijo, da farinha e dos
cogumelos, etc., uma espécie de minúsculas "aranhas", que se
notam sobretudo quando têm a cor vermelha vistosa. Alguns
destes ácaros causam prejuízos às colecções de insectos.
[São Sarcoptídeos detritícolas.]
"
"Demodicídeos. - Vivem nas glândulas sebáceas e folículos
pilosos. Demodex folliculorum produz, no Homem, pequena
afecções cutâneas faciais.
"
"Oribatídeos. - Cegos e vegetarianos, sugam o suco de
numerosas plantas e são responsáveis por diversas dõenças
vegetais.
"
"Gamasídeos. - Também cegos, mas carnívoros, os mais
conhecidos são os Dermanyssus, porque vivem muitas vezes nos
galinheiros (D. gallinae). Atacam as aves durante a noite,
sugando-lhes o sangue e provocando uma espécie de eczema. Os
cavalos e os homens, que frequentam os pátios de criação,
são igualmente suas vítimas.
"
"Ixodídeo. - O comportamento dos ixodídeos, mais conhecido
por carraça ou carrapatos, é o seguinte: A larva sobe ao
longo do caule de uma planta qualquer e espera a ocasião de
poder-se agarrar-se a um animal que passe. Uma vez sobre
este, enterra o rostro (espécie de tubo bucal sugador) na
pele do animal e começa a sugar o sangue. Quando saciada,
deixa-se cair no chão, transformando-se em ninfa activa e
recomeça a sua faina. De novo a ninfa volta ao solo,
transformando-se em adulto e este sobe para os vegetais,
aguardando a passagem de um hospedeiro.
Machos e fêmeas acasalam no corpo do hospedeiro e, quando a
fêmea cai ao solo, põe vários milhares de ovos, fechando
assim o ciclo.
Os Ixodídeos são os responsáveis por inúmeras dõenças do
Homem e mais ainda dos animais domésticos. Na maior parte
dos casos, a dõença é causada por organismos inferiores,
como protozoários, bactérias ou vírus, que a carraça inocula
no seu hospedeiro, no momento em que o morde.
"
"Acaros - de - água. - Há dois grupos: os Halacarídeos,
vivem rastejando e enterram-se na areia; os Hidracnídeos,
vivem na água doce e possuem patas vilosas que lhes permitem
nadar. Estes últimos são relativamente grandes e de cores
muito vivas. Todos são carnívoros e alguns de hábitos
parasitários.

Algumas observações sobre o comportamento do papa-


moscas
O papa-mosca zebrado (Salticus scienicus) não opta por
estender uma armadilha e instalar-se à espera da presa. É um
excelente caçador e um intérprete brilhante da arte da
estratégia. Do facto de o seu corpo apresentar riscas em
fundo negro vem a comparação com a zebra. Pelos hábitos é,
contudo, um tigre! Para assistir a algumas de suas prõezas
basta procurar, com um pouco de paciência, nas gretas e
buracos das paredes, durante o dia agradável, uma destas
pequenas aranhas zebradas e esperar calmamente que uma mosca
venha pisar na parede.
Para a caçada, confia, em grande parte, na velocidade dos
seus movimentos, nas suas habilidosas manobras, e na sua
extraordinária visão. Dois grandes olhos na parte anterior
da cabeça, mais um de cada lado e dois pares de olhos mais
pequenos na parte superior da cabeça constituem um
dispositivo formidável, que lhe permite olhar em todos os
sentidos ao mesmo tempo. Como caçador, não tem somente que
descobrir a sua presa e ser capaz de seguir o mais
insignificante dos seus movimentos, mas deve igualmente
estar à espreita da mais pequena irregularidade do terreno
que lhe permita disfarçar-se. Por outro lado, se não quer
tornar-se também vítima de outro animal, tem que velar pela
sua própria segurança.
Uma mosca que poise na parede, a uma dezena de centímetros
da aranha, acaba por chamar a atenção desta. Com os olhos
fixos nela, baixa lentamente a cabeça, deprime o corpo e
começa a avançar lentamente na sua direcção, deslocando-se
uma pata de cada vez. Toda esta operação é nitidamente
felina! Mas como a mosca tem igualmente vista excelente e
pressente o menor movimento, a aranha rasteja até junto dela
a uma velocidade demasiado lenta, para afastar suspeitas;
assim, morosamente, há muitas probabilidades de a mosca voar
antes que se aproxime o suficiente para poder saltar sobre
ela. Só as precauções não bastam; é preciso também agir com
rapidez! Mas mover-se rapidamente na superfície nua dos
tijolos corre o risco de alertar a mosca. Furtivamente, a
aranha atinge uma greta da parede, deixando-se aí cair
prudentemente. Num momento tudo muda. A aranha parece
despertar; corre a toda a velocidade ao longo da fenda,
parando por instantes para lançar uma olhadela para o
exterior, a fim de verificar-se a mosca não desapareceu.
Chegada à extremidade da greta, a aranha volta a rastejar na
superfície descoberta do tijolo. Aproxima-se pouco a pouco
da mosca e prepara-separa saltar; mas, primeiramente, produz
um fio de seda e fixa-o à superfície do tijolo. A mosca
apercebe-se e, como se tivesse consciência do perigo
iminente ou talvez somente para mudar de posição, levanta
voo.
A aranha está habituada a estes desaires - o caçador falha
por vezes a sua presa; - mas também sabe, por experiência,
que quando uma mosca levanta voo, pode não voltar, mas,
geralmente, faz uma pequena digressão e torna a poisar no
mesmo local, a aranha espera que ela se acomode e sossegue,
e só depois recomeça os movimentos de aproximação, tal como
anteriormente. Desta vez, o fio de seda foi desenrolado sem
interrupção, enquanto a aranha se movia, e fixado de quando
em quando. É absolutamente certo que a vida está presa por
um fio! Dentro em pouco vai saltar e este salto pode levá-la
a cair não importa onde. Pode calcular mal a distância, ou
falhar o alvo e cair no espaço, ou então a mosca pode
deslocar-se e alterar os seus cálculos. Mas, suceda o que
suceder, ela é decidida: o fio retê-la-á, entre o céu e a
terra, e permitir-lhe-á voltar à parede.
Chegada ao local propício, a aranha prepara-se para saltar,
coloca as patas debaixo do corpo e, zás! Ei-la que atravessa
o ar. A mosca, consciente subitamente do perigo para
estender as asas. Mas é demasiado tarde! De um salto,
absolutamente prodigioso para um animal tão pequeno, a
aranha poisa em cima da mosca e enterra profundamente os
seus ganchos no corpo da infeliz ...

CURIOSIDADES:

[A Tegenaria atrica, aranha aparentada com a Tegenaria


doméstica e elativamente abundante em habitações,
estábulos e outras construções pouco limpas. Estas
aranhas são úteis, pois destrõem insectos nefastos.

A aranha Dysdera, tece uma manga de seda, nas fendas das


paredes e lugares semelhantes, onde vive.

A aranha Segestria florentina, é frequente nos celeiros,


adegas, estábulos, etc., que acidentalmente pode morder o
homem, sem gravidade.
O grupo der Opiliões(Liobonum), Aracnídeos de pernas
longas, que diferem das aranhas por terem corpo
indiviso.

Micrommata virescens, é uma aranha de cor verde-claro,


por vezes confundida com a vegetação onde se
instala.
Philaeus chrsops, é uma aranha vermelha salticida.]

CRUSTaCEOS

O papel que desempenham no mar é semelhante àquele que


assumem os Insectos em terra; e tal como se encontram poucos
insectos no mar, também os Crustáceos não estão
representados em terra firme senão por algumas raras
excepções, como os bichos-de-conta e os caranguejos
terrestres. No mar, porém, encontram-se desde a zona litoral
até ao mais profundo dos abismos oceânicos. Alguns de entre
eles formam uma parte considerável do plâncton, de que tão
grande número de habitantes do mar se alimenta. Esses são,
no entanto, dos mais pequenos de todos. Os maiores, que nos
são mais familiares, compreendem os caranguejos, os
lavagantes, as gambas e os camarões, ainda os balámos, que
têm um aspecto tal, que mais facilmente seriam tomados por
Moluscos. Existem neste grupo uma diversidade de formas
muito maior do que em qualquer outro grupo de Artrópodes. De
um modo geral, podemos definir os Crustáceos como Artrópodes
principalmente aquáticos, respirando por brânquias, ou por
toda a superfície do corpo, e possuindo dois pares de
antenas na região anterior da cabeça; pelo menos um par de
mandíbulas e dois pares de maxilas, e um número variável de
patas locomotoras ou natatórias. Existe uma característica
comum à maior parte dos grupos de Crustáceos: a presença da
larva náuplio. Esta tem o corpo oval, munido de três pares
de apêndices, na região inferior, em volta da boca, e um só
olho (ciclópico) ao meio da cabeça. Muitas espécies que,
quando adultas, não têm nenhuma semelhança, começam a sua
existência sob a forma de náupli.
A classe dos Crustáceos subdivide-se em subclasses:

1 - Branquiópodes ou Filópodes (pulgas-de-água doce);


2 -Ostracodes;
3 - Copépodes;
4 - Cirrípodes (balámos e percebes);
5 -Malacostráceos (caranguejos, lavagantes, camarões,
gambas, bichos-de-conta).

A última subclasse compreende os Crustáceos maiores e os


mais conhecidos, mas as outras são de grande interesse, e,
entre elas, os Copépodes têm um papel de primeiro plano na
economia das águas, tanto doces como do próprio mar.

Branquiópodes ou Filópodes

O Apus cancrformis, conhecido por "torniquete" que, por


vezes, se encontra nos tanques e poças de água formadas pela
chuva, apresenta o corpo dividido em segmentos como um verme
anelídeo. Cada um dos seus onze primeiros segmentos tem um
par de patas em forma de barbatanas, e a cauda é bifurcada.
Nota-se também a presença do duplo par de antenas habitual e
um par de olhos pedunculados e móveis. Há muita
probabilidade de que os tanques e as poças sequem durante o
Verão, e, quando tal acontece, os ovos destes pequenos
animais ficam inclusos na vasa, prestes a eclodir com as
primeiras chuvas. Uma forma vizinha, a Artemia salina, não
pode viver senão em águas contendo uma forte concentração de
sal, como as salinas, ou o Grande Lago Salgado do deserto do
Utá.
As dáfnias (pulgas-de-água), que abundam nos tanques e nas
valas, têm o corpo encerrado numa carapaça bivalve, da qual
se destaca a cabeça, ornamentada com um par de antenas
plumosas e com um olho médio, único. Os quatro ou seis pares
de patas estão em movimento contínuo, o que faz que uma
corrente constante, arrastando os mais diversos alimentos,
seja obrigada a passar pela carapaça. Estes Crustáceos são
todos de pequenas dimensões. Fáceis de recolher, e
transparentes, pode observar-se neles cada órgão do seu
corpo e cada pormenor do seu comportamento, pelo que
constituem um dos objectivos favoritos do exame
microscópico.
Os ovos são postos num saco incubadora, formado pela
cavidade existentes entre o corpo e a carapaça, e quando não
há machos, desenvolvem-se sem serem fecundados
(partenogénese). Durante a maior parte do ano, todas as
dáfnias são fêmeas, mas, em certas estações, os machos
aparecem e então produzem-se ovos fecundados.

Ostrácodes

Os Ostrácodes, que possuem igualmente uma carapaça bivalve,


como as dáfnias, bem como uma cabeça prõeminente e antenas,
são quase todos microscópicos. Abundam, tanto no mar, como
na água doce. Reproduzem-se por partenogénese: uma cultura
destes animálculos foi vigiada durante mais de 30 anos sem
que se tivesse visto intervir um único macho.

Copépodes

É difícil encontrar sobre a Terra o equivalente ao papel do


desempenho dos Copépodes na economia do mar. Os Copépodes
enxameiam por inumeráveis milhares à superfície das águas
oceânicas, onde se alimentam de algas microscópicas, e, por
seu turno, eles constituem o essencial da alimentação de
muitos peixes, principalmente a sardinha e o arenque.
Os Copépodes planctónicos têm, normalmente, corpo fusiforme,
que termina em cauda bifurcada, e dois pares de antenas na
região anterior, sendo um dos pares muito longo. Nadam por
meio dos seus numerosos pares de patas natatórias. Não se
encontram apenas na água do mar, existem igualmente na água
doce: os maravilhosos Cyclops são, entre eles, dos mais
conhecidos.
Além dos Copédopes livre e pelágicos, existem muitos que
vivem como parasitas de outros animais aquáticos e que são
designados "piolhos-de-peixe". Alguns entre eles, os
Caligos, não diferem muito das espécies livres, salvo em que
o seu corpo tem tendência a achatar-se, com que se prendem
ao corpo dos seus hospedeiros, aos quais sugam o sangue.
Outros, os Lerneídeos, devido aos seus costumes parasitas,
degeneraram de tal modo que não são mais do que sacos
informes, praticamente privados de apêndices.

Cirrípodes

Existem três tipos principais de Cirrípodes:

"
"os percebes, que são pedunculados;;
"
"os balámos ou bolotas-domar; e
" outras formas parasitas consideravelmente modificadas.

Os percebes e as lapas, que se fixam em bocados de madeira


imersos, são bem conhecidos dos marítimos e vão-nos servir
de protótipos, ainda que os balámos, que pululam sobre quase
todas as rochas, sejam, de longe, os mais numerosos.
Não há nenhuma semelhança exterior entre um percebe e os
outros crustáceos, por exemplo, um caranguejo ou um camarão.
O seu corpo está encerrado numa carapaça composta de cinco
placas articuladas e suportado por um forte pedúnculo
musculoso. De um lado da carapaça existe uma fenda através
da qual surge, por vezes, um penacho de filamento
encaracolado, que são simplesmente os seis pares de patas
marginados com sedas. Estas patas pode o animal abri-las em
leque de modo a formar uma espécie de rede, a qual permite
arrastar os seres microscópicos que flutuam na água e lhe
irão servir de alimento. O pedúnculo representa, na
realidade, a cabeça do percebe e, no cinzento que fixa o
Crustáceo ao seu suporte, pode descobrir-se apenas um par de
antenas.
O primeiro estado da existência do percebe é o de larva
náuplio, que rapidamente se transforma em larvas cipris,
muito semelhante a um Ostrácocode, e onde se pode ver um par
de antenas natatórias e apenas um par de antenas
(antênulas), terminando em ventosa. Até esta altura da sua
vida, o percebe nada livremente, mas num certo estado fixa-
se, segura-se pelas ventosas das antenas, desembaraça-se da
carapaça bivalve e, após grandes metamorfoses, mal se
reconhece nele um crustáceo.

Malacostráceos

Os representantes mais conhecidos desta subclasse são,


incontestavelmente, os camarões, as gambas, os lagostins, as
lagostas e os lavagantes.
Nos Malacostráceos, produziu-se uma divisão manifesta do
corpo em tórax e abdomen, o primeiro com oito pares de
apêndices, o segundo com seis, além duma peça terminal, o
telson.
Os Malacostráceos subdividem-se em:

a) Filocarídeos, os mais primitivos de todos os


Malacostráceos, muito estreitamente aparentados com as
formas fósseis do Câmbrico. Os representantes do grupo, de
que Nebalia bipes é um exemplo típico, têm carapaça bivalve
como os Ostrácodes e certos Branquiópodes; as brânquias são
em forma de folha nas patas torácicas, tal como nos
Branquiópodes, e no entanto têm o tórax e o abdomen
característico dos Malacostráceos. São eles os que mais se
aproximam dos Malacostráceos fósseis do Câmbrico, e dão-nos
uma ideia do aspecto que, possivelmente, teriam os
antepassados mais afastados do grupo.
b) Sincarídeos ou caranguejos-das-montanhas. Com uma única
ordem: a dos Anaspidáceos. Posto que se trate de uma ordem
muito restrita, compreendendo apenas uma meia dúzia de
espécies, apresentam um interesse particular. A primeira
espécie que foi descoberta em cursos de água de montanhas da
Tasmânia, Anaspides tasmaniae, é um ser com o aspecto geral
do camarão, medindo oito centímetros e com o corpo bem
segmentado, sem carapaça. O camarão-da-montanha é - o que
não admira - o sobrevivente de um grupo antigo, bem mais
espalhado noutras eras; os restos fósseis encontrados nos
terrenos do Carbónico. Existem numerosas espécies em que os
representantes não medem mais do que um milímetro de
comprimento, e que se encontram nas grutas e poços da Europa
e da Malásia.

c) Pericarídes, que compreende os bichos-de-conta, os


camarões-de-água-doce e as pulgas-da-areia. São, por vezes,
chamados "camarões-marsupiais", porque as fêmeas possuem um
saco incubador na superfície inferior do tórax, formado por
uma série de placas, que se cobre parcialmente e estão
presas à base das patas. Os ovos são postos no saco e aí se
desenvolvem. Quando os jovens deixam a bolsa incubadora,
mostram poucas diferenças em relação ao adulto, excepto nas
dimensões. as ordens em que se subdivide são:
"Misidáceos. - As Misis têm pequenas dimensões e vivem
na água do mar, por vezes nas poças dos rochedos, mas
encontram-se certas espécies vizinhas em tanques de água
doce. Têm o aspecto de camarões, mas possuem uma bolsa
marsupial bem visível.
"
"Cumáceos e Tanaidáceos. - Os membros destas duas
ordens são de muito pequenas dimensões, vivem no mar, e, a
maioria, enterra-se na areia. Alguns deles têm um papel
considerável na economia geral do mar
"
"Termosbençeos. - Esta ordem contém apenas uma única
espécie, pois os indivíduos que a constituem vivem na água
quase a ferver, de uma fonte termal, na Tunísia.
"
"Isópodes. - Esta ordem, em que estão incluídos os
bichos-de-conta, é sem dúvida aquela em que predomina o
maior número de Pericarídeos, pois compreende uma grande
quantidade de géneros e de espécies. Todos os Isópodes
apresentam uma forma característica: São deprimidos dorso-
ventralmente, sem carapaça, e têm o corpo segmentado; o
abdomen é curto e os apêndices abdominais, em forma de
palhetas, servem de brânquias às espécies que vivem na água
(Aselídeos). A maior parte dos Isópodes são marinhos, mas é
também nesta ordem que se encontram os únicos Crustáceos
verdadeiramente terrestres, os bichos-de-conta. Algumas
espécies de Isópodes, como os de género Idotes, vivem na
zona litoral que só recebe água do mar na altura das maiores
marés, e, posto que sejam considerados como animais
marinhos, estão em via de se tornar terrestres. As forma
aquáticas respiram por meio de feixes de tubos, que se
reconhecem sob a forma de manchas brancas, na parte inferior
do abdomen.
Certos Isópodes, apesar do seu tamanho
relativamente pequeno, devoram determinados peixes com
selvajaria, outros mordem os banhistas. Outros ainda, se
tornam parasitas, aos quais se prendem e sugam o sangue.
Nalguns destes parasitas, se produz uma inversão de sexo,
durante a sua existência. Quando jovens, são machos livres,
nadando activamente, quando se instalam, fixando-se sobre um
peixe, transformam-se em fêmeas. O parasitismo mais
pronunciado encontra-se em formas como Bopyroides
hippolytes, que vivem em verrugas que produzem à superfície
da carapaça de um determinado camarão. É a fêmea que origina
estes tomores, pois o macho, muito mais pequeno, vive
parasitando à sua própria fêmea.
"
"Anfípodes. - Os Anfípodes diferem dos Isópodes pelo
seu corpo comprimido lateralmente e os apêndices torácicos
de aspecto nitidamente diferente. Os quatro pares anteriores
são dirigidos para a frente, e os três pares de patas
posteriores são dirigidos para trás. Os Anfípodes
compreendem certos "camarões-de-água-doce", que constituem a
base de alimentação de peixes, como a truta; e são também as
"pulgas-da-areia", que se podem ver saltitando em grande
número sobre as algas ou sobre a areia, no limite da maré
alta ou próximo desta. Encontram-se muitos outros Anfípodes
no plâncton.
"Os representantes da família dos Ciamidas, os piolho-
de-baleia, vivem sobre a pele dos Cetáceos. São incapazes de
nadar em qualquer estado da sua existência, e transmitem-se
de uma baleia a outra por simples contacto.
"
d) Hoplocarídeos, como, por exemplo, a zagaia (Saquila)

e) Eucarídeos, compreendendo os camarões-do-mar, as gambás,


os caranguejos, os lavagantes, as lagostas e os lagostins.
Esta divisão compreende duas ordens com representação actual
muito diferente, os Eufasiáceos e o Decápodes, estes últimos
agrupando a imensa variedade de lagostas, lagostins,
lavagantes, camarões e caranguejos, que, para a maioria das
pessoas, são os crustáceos típicos
Eufasiáceos. - Os Eufasiáceos lembram pequeninos
camarões, muito semelhantes aos Misidáceos, mas não têm saco
marsupial. Encontram-se em miríades no plâncton marinho, e
constituem o alimento não só de numerosos peixes, como
também de baleias
Decápodes. - Alguns dos Decápodes menos evoluídos
lembram bastante os Eufasiáceos e outros Crustáceos mais
primitivos; no entanto, distinguem-se deles pelo facto de os
três primeiros pares de apêndices torácicos estarem
transformados em máxilas, que se dominam patas-maxilas. Dos
cinco pares de patas restantes (de onde o nome de
Decápodes), um ou dois pares terminam habitualmente em
pinças, que o animal utiliza para agarrar os seus alimentos.
As brânquias encontram-se na base das patas torácicas, e
estão encerradas em câmaras branquiais, formadas pelos
bordos da carapaça em ambos os lados desta.
A ordem pode subdividir-se, do seguinte modo, em
subordens:
Macruros. - Compreende os Decápodes mais primitivos
(lagostins, camarões, gambas, lavagantes e lagosta) que
possuem abdomen alongado e apêndices abdominais formando
palhetas natatórias, com a ajuda das quais o animal se
desloca na água.
Anomuros. - Os bernardos-eremitas.
Braquiuros. - Os caranguejos que têm um abdomen curto e
dobrado sob o tórax.

Desta primeira subordem que citámos, a dos Macruros (do


grego macro, grande, e ura, cauda), fazem parte muitos
milhares de crustáceos, e como os nomes vulgares de camarão,
lagostim, lagosta, gamba e lavagantes são muitas vezes
empregados sem nenhum critério, isso dificulta muito a sua
definição vulgar.
Os Peneídeos, em que se incluem principalmente as gambas (os
camarões grandes, normalmente rosados) e aqueles que, no
Mediterrâneo, se denominam "caramotas", têm abdomen
deprimido lateralmente e rostro denteado, prõeminente,
salientando-se do centro da carapaça. Estes camarões abundam
em todas as regiões tropicais e temperadas, na água doce e
na água do mar, e comem-se geralmente com apreço. A espécie
mais comum na Europa e na América do Norte mede de 2 a 8
centímetros, mas as espécies tropicais chegam a atingir os
60 centímetros.
Os Palemonídeos, os camarões propriamente ditos, têm o
abdomen ligeiramente achatado e o rostro reduzido a um
pequeno espinho.
Costumam enterrar-se na areia, quando se sentem em perigo, e
fazem-no de tal modo que ficam completamente tapados, só com
as antenas de fora. Estas são compridas, em forma de
"chicote", tanto nas gambas, como nos camarões propriamente
ditos, e servem de órgãos do tacto; tanto os camarões como
as gambas podem nadar, recuando, devido a certos movimentos
do telson (último segmento abdominal). Alimentam-se de
matéria animal e de vegetais em putrefacção. Uma espécie que
merece atenção é o camarão-esopo (Hippolyte varians), que se
encontra nas poças das rochas. Tem a faculdade de harmonizar
a sua cor com a cor das algas entre as quais vive. Sobre uma
alga castanha, fica castanho, uma alga vermelha, torna-se
vermelho, etc.; se o deslocam, ele procurará, logo que
possa, uma alga com uma cor parecida com a sua. Caso isso
não seja possível, mudará a sua cor, de modo a harmonizar-se
de dois a três dias.
Os outros Macruros, os do tipo caminhante e não nadador, são
geralmente de muito maiores dimensões e o seu exosqueleto
quitinoso está impregnado de sais calcários, de modo a
formar uma espessa e pesada armadura.
Existem três grupos principais: o primeiro é o Erionídeos,
que estão confinados aos mares profundos; são cegos e os
olhos encontram-se reduzidos ao pedúnculo. O seu principal
interesse é o facto de terem sido conhecidos como fósseis do
Secundário, antes de serem encontrados vivos! O segundo
grupo é o dos Scilarídeos, lagosta-da-pedra e cigarras-do-
mar, que não têm pinças, mas, em compensação, apresentam
órgãos ofensivos, o corpo é coberto de picos e as antenas
são bem desenvolvidas, robustas e longas. Como são animais
que vivem entre rochas, as antenas assinalam imediatamente a
aproximação dos inimigos. O representante mais conhecido
deste grupo é a lagosta (Palinurus vulgaris). É necessário
citar também os Scyllarus, que são vendidos no Mediterrâneo
e em Portugal, sob o nome de cigarras-do-mar. O terceiro
grupo, o dos Nefropsídeo, compreende os lavantes (Homarus) e
os lagostins (Nephops). Além da sua armadura mais robusta,
caracterizam-se pela presença de fortes pinças esmagadoras.
Os seus costumes são semelhantes aos das lagostas. Quando se
abrigam, as antenas advertem-nos da chegada de qualquer
inimigo, e as pinças possantes, servem de órgãos de defesa.
O alimento que utilizam consiste principalmente de matérias
em putrefacção, que seguram com as pinças e partem com as
maxilas. Em certos lavagantes, as enormes pinças estão
armadas de grossos tubérculos que lhes facilitam o quebrar
das conchas dos mexilhões e de outros Moluscos que também
lhes servem de alimento.
Com o esqueleto externo tão rígido, o crescimento seria
impossível se não existisse o processo da muda ou ecdise. A
carapaça robusta fende-se no dorso e o animal liberta-se da
sua armadura. Possui o crustáceo, nesse momento, uma pele
mole que o expõe a muitos perigos e, por isso, tende a
esconder-se até que a nova carapaça tenha endurecido. É
enquanto o endurecimento se produz que o animal aumenta as
suas dimensões. Um lavagante substitui a sua carapaça oito
vezes no primeiro ano, cinco vezes no segundo, três vezes no
terceiro. Depois, a taxa de crescimento diminui e os machos
passam a ter mudas apenas duas vezes por ano, e as fêmeas
somente uma vez
Anomuros. - Os representantes mais característicos deste
grupo são os Paguros ou bernado-eremita, casa-alugada ou
moradores. Costumam viver na concha vazia de um molusco
gastrópodes, e o seu corpo é adaptável a essa habitação. O
abdomen é mole e enrolado assimetricamente em hélice, o que
lhe permite uma fácil adaptação à concha, e o telson está
transformado de forma tal que pode segurar-se fortemente no
interior daquela. As pinças são desiguais, utilizando a
maior para impedir o acesso à concha, quando o animal aí
está instalado. Os dois pares de patas locomotoras são
longos, delgados, e servem para rastejar, ao passo que os
outros dois pares seguintes são curtos, e têm uma série de
grosseiras excrescências, que facilitam ao animal subir para
a concha. Uma outra modificação significativa é a assimetria
que se encontra nas palhetas natatórias, pois só as do lado
direito do abdomen é que são mais visíveis na fêmea do que
no macho, e servem para o transporte dos ovos.
Como o bernardo-eremita cresce, precisa de mudar de concha
de tempos a tempos. Nessa altura, procura uma nova concha e
explora-lhe cuidadosamente o interior com as suas pinças,
antes de proceder à mudança de casa!
Outros paguros, do género Cõenobita, que se encontram nas
praias tropicais, internam-se frequentemente muito por terra
dentro, mas voltam novamente ao mar para se reproduzirem.
Estes agudos sobem por vezes às árvores, mas não de maneira
tão constante como o grande caranguejo-dos-coqueiros (Birgus
latro), também pagurídeo, que sobe quase até o cimo das
palmeiras. Esta última espécie não necessita de concha
estranha para esconder o seu abdomen, pois este, que está
virado para debaixo do tórax, é protegido por fortes placas.
Muitas outras formas próximas não se servem de abrigos
portáteis; a sua defesa consiste em que a carapaça é eriçada
de espinhos, como os Lithodes, ou então em se recolherem a
galerias na vasa, como os gébios dos trópicos, cru, cujas
patas em forma de pá lhes permitem escavar o solo.
Braquiuros. - (Do grego brachy, curto, e ura, cauda). Os
caranguejos propriamente ditos, têm, em geral, uma carapaça
mais larga do que longa, e o abdomen reduzido, esportulado,
dobrado sob o tórax; as palhetas natatórias são então
desenvolvidas na fêmea, que as utilizam no transporte dos
ovos. Todo o aparelho maxilar está coberto pelas terceiras
patas-maxilas, achatadas e em forma de opérculos. As larvas
de eclosão recente pertencem, em geral, à forma zoé, que se
transforma em larvas egalope. Esta tem o aspecto geral do
adulto, exceptuando-se o abdomen, que é grande e não
dobrado, e as paletas que servem realmente para nadar.
O número de espécies é grande, assim como a variedade de
formas e de costumes.
Os Dromia mantêm sobre o dorso, com a ajuda das patas
aduncas, uma esponja ou uma ascídia, de modo a camuflar-se.
Os caranguejos-da-areia enterram-se nesta e possuem um
aparelho especial formado pela armadura bucal, que lhes
permite respirar sem desenterrar senão a extremidade da
carapaça. As chamadas aranhas-do-mar possuem sobre a
carapaça pêlos curvos especiais, nos quais prendem
fragmentos de algas e de outros organismos, como esponjas e
celenterados, que os deixam bem camuflados. A aranha-do-mar
gigante tem uma carapaça com a largura de trinta centímetros
e a envergadura total, quando como as pinças estendidas, de
mais de três metros!
Há caranguejos que se assemelham a pedras, ao coral e a
outros elementos do seu habitat. Outros dissimulam-se na
areia ou ainda nas fendas das rochas. Os Pinnotheres, que
parecem ervilhas, vivem na cavidade do manto dos mexilhões e
das ostras, ou no intestino de ouriços ou de estrelas-do-
mar. Uma outra espécie, Melia tesselata, do indico e do
Pacífico, transporta uma amémona-do-mar em cada uma das
pinças para se proteger! Apesar da sua forte carapaça e de
tão formidáveis pinças, os caranguejos manifestam, em geral,
uma gama extensa de adaptação de formas e de costumes, todas
dirigidas num mesmo sentido: a protecção por camuflagem.
Apesar dos Braquiuros serem tipicamente marinhos, muitas das
espécies tropicais têm costumes nitidamente anfíbios. Os
caranguejos de "pé-leve", do género Ocyoda, vivem em
galerias escavadas na areia, bastante acima dos limites das
marés. O cavalete, cava-terra, bocas ou caranguejo-
violinista, a Uca, que emite curiosos sons, vive nos
lamaçais e nos pântanos salgados. As fêmeas têm aspecto
normal, mas os machos apresentam uma pinça muito mais
desenvolvida do que a outra, muitas vezes maior que o corpo.
Todos estes caranguejos terrestres, podem respirar o ar
livre e viver fora de água, mas não são verdadeiramente
terrestres, pois têm a necessidade de regressar ao mar para
se reproduzirem.

Hoplocarídeos

Estes crustáceos constituem a ordem dos Stomatópodes, que


estão representados nos nossos mares pela Squilla mantis,
"zagaia", são achatados, têm um grande abdomen e o telson
muito visível. A carapaça é pequena, deixando a descoberto
os quatro últimos segmentos torácicos. Os segmentos da
cabeça são móveis, contrariamente ao que se passa nos outros
crustáceos. As pinças estão substituídas por patas fortes,
com o último segmento armado com dentes fortes e que se
volta sobre o segmento precedente, como a lâmina de um
canivete; nisto, como no seu comportamento, a zagaia
assemelha-se muito ao louva-a-deus, entre os insectos. Vivem
nas fendas das rochas ou nos buracos de areia e apoderam-se
de animais que passem ao seu alcance.

PROTRAQUEADOS OU ONICOFOROS

O peripato

No nosso clima, vivem os bichos-de-conta, um dos animais


mais extraordinários que sobrevivem na actualidade. O
primeiro contacto com ele será assinalado por um ou dois
jactos ou vaporização de um líquido esbranquiçado que ele
lança, lá do fundo de uma fenda do terreno, a uns 8 a 30
centímetros, e que se solidifica sob a forma de rede de fios
brancos, fortemente aderente aos dedos do intruso! Ficará,
assim, sabendo que está em presença do peripato (Peripatus),
animal que constitui um elo entre os Vermes Anelídeos, do
corpo mole, e os Artrópodes terrestres, fortemente
couraçados, como são os Insectos, os Aracnídeos e os
Miriápodes.
Quando se abre uma dessas fendas do terreno onde os fios
glutinosos foram lançados, aparece então um animalzinho que
parece uma lesma de veludo, com três a oito centímetros de
comprimento. Tem o corpo sinuoso e afilado, contráctil, e,
na cabeça, possui um par de antenas flexíveis, que lembram
os tentáculos da lesma. Os olhos desta estão situados na
extremidade dos tentáculos, os globosos do peripato estão na
base das antenas. Outra característica que distingue o
peripato, em relação à lesma, é que ele tem 20 pares de
patas, curtas, em forma de saco e terminadas por um par de
ganchos. Além disso, o tegumento, ou seja a película que o
envolve, é completamente seco, mole e aveludado ao tacto. A
sua cor varia, harmoniza-se perfeitamente com o ambiente e
cada espécie pode oscilar entre as tonalidades do cinzento-
ardósia e do castanho-avermelhado ou terra cozida, com uma
risca escura dorsal. Alguns indivíduos de cor castanha
avermelhado são muito mais difíceis de distinguir sobre os
troncos caídos das florestas de Kanysna (africa do Sul),
pois a soa cor é precisamente a desses troncos. Nas grutas
da serra da Mesa, encontra-se uma espécie completamente
destituída de pigmento, como o resto é típico da
generalidade dos animais cavernícolas. Os fios glutinosos
provêm de duas pequenas papilas bucais, situadas de um e
outro lado da boca, e em cuja extremidade se abre o orifício
da glândula mucosa, cujo líquido em contacto com o ar,
solidifica como a seda. Esse líquido armazena-se em
reservatórios, com alguma semelhança com os das canetas de
tinta permanente, suados lateralmente no corpo. Os fios
glutinosos, resultantes da solidificação do líquido, são
usados como meio de defesa contra os inimigos. Mas embora o
peripato seja carnívoro, e que pequenos animais sejam
retidos facilmente naqueles fios pegajosos, nunca ninguém
viu que ele se alimentasse desses assim imobilizados.
Os olhos têm um campo visual curiosamente limitado, pois não
vêem para a frente, mas apenas para cima e para os lados.
São olhos tão simples que não são capazes de registar mais
do que variações de luminosidade. Existe, todavia, um
sistema complexo de pêlos sensoriais, tácteis e gustativos
que cobrem as antenas e a maior parte do corpo. O animal é
igualmente sensível à humidade, que para ele tem importância
vital. Todos os animais terrestres precisam de ter um ou
outro mecanismo regulador que evita a secura. Os poros da
pele humana, por exemplo, são automaticamente regulados de
maneira a evitar uma evaporação inoportuna.
O peripato, mal dotado sob esse aspecto, é obrigado a
procurar a humidade.
Num compartimento normalmente seco, perde um terço do seu
peso em menos de quatro horas, exsicando-se duas vezes mais
depressa do que a minhoca e quatro vezes mais rapidamente do
que a lagarta. A minhoca se encontra em grau inferior,
porque esta tem o tegumento muito mais pernetável à água do
que a cutícula seca do peripato. A explicação é que o
peripato respira por meio de traqueias, isto é, por tubos
respiratórios que levam o ar desde as aberturas (estigmas)
na superfície do corpo até aos tecidos mais internos. Os
insectos terrestres evitam perdas de água por meio de um
sistema traqueano muito ramificado, com poucos estigmas e um
mecanismo de obturação perfeita, no caso do peripato as
traqueias são tubos simples, não ramificados. Por isso,
precisa de ter um número muito maior, cada um com abertura
própria; e como esses tubos não têm dispositivos de
obturação, o peripato precisa de se manter em lugares
húmidos, sob pena de secar e morrer ao cabo de poucas horas.
Vive dependente das condições ambientais. Uma colónia de
peripatos vivendo num determinado lugar húmido ficará
completamente isolada de uma outra, se entre as duas houver
uma zona seca a separá-las. É de esperar que, em cada
localidade se origine uma espécie distinta.
No peripato, a fecundação é caracterizada por uma cópula das
mais elaboradas, ligada a uma série de processos conducentes
à fertilização dos ovos. Em muitas espécies, encontram-se
indícios que igualam em complexidade o desenvolvimento
embrionário dos Mamíferos. Nalgumas espécies, o macho
deposita os espermatozóides em cápsulas (espermatóforos) em
qualquer parte do corpo da fêmea, mesmo sobre patas, e, por
vezes, até sobre outro macho, o que denuncia falta de
discriminação sexual. Depois da deposição do espermatóforo,
a região onde se situa é invadida por glóbulos brancos de
sangue provenientes da região cutânea subjacente. Então a
cutícula rompe-se e os espermatozóides seguem a corrente
sanguínea até atingirem os ovários, cuja parede perfuram. Aí
se concentram durante cerca de um ano , em grande número
junto dos óvulos, servindo alguns de alimento a estes,
enquanto não chegam ao estado de maturação, momento em que
são fecundados. Na sua maioria, as espécies são vivíparas.
Normalmente, o desenvolvimento do ovo realiza-se dentro do
útero materno e o embrião absorve o alimento que a mae lhe
fornece através da parede uterina.
Descendentes de antepassados aquáticos, os peripatos
resolvem o problema de vida terrestre, adquirindo meios de
locomoção adequados, órgãos sensoriais eficazes, etc. Mas,
embora se tenha especializado como animal terrestre, o
sistema imperfeito de traqueias condena-o a um meio húmido e
impossibilita-o de se expandir noutras terras. Assim, os
peripatos, que, desde há muito tempo no decorrer da
evolução, deixaram a água pela terra firme, continuam, por
assim dizer, a marcar passo nos mesmos lugares, por anos sem
fim.
CURIOSIDADE:

[O crustáceo Squilla desmaresti, é um crustáceo


estomatópodes. Estes animais, que lembram os
louva-a-deus, são conhecidos em Portugal por "zagaia",
e no Brasil por "tamburutaca"]

MIRIAPODES

Generalidades

O peripato não é o único representante, obscuro e


desconcertante, do ramo dos Artrópodes. A classe dos
Miriápodes não é senão uma colecção de Artrópodes
extravagantes, mal conhecidos, unidos entre si por laços de
parentesco bastante discutíveis. Os Miriápodes constituem um
cómodo compartimento taxonómico, no qual se reúne um certo
número de animais, aliás difíceis de classificar. Em geral,
dá-se o nome de centopeias tanto às éscolopendras ou
lacraias, como aos milpés ou piolhos-de-cobra (no Brasil) e,
no entanto, não obstante as semelhanças superficiais, têm
pouco em comum. As escolopendras e seus parentes próximos,
ou Quilopodes(litóbios, escutígeras, geófilo, carnívoros,
etc.), são animais de movimentos rápidos, carnívoros e
solitários, têm corpo achatado, um só par de patas em cada
segmento e ganchos bucais (forcípulas) em relação com
glândulas de veneno, o que tudo está relacionado com a sua
agressividade. Numerosos pormenores anatómicos diferenciam
nitidamente as escolopendras, tais como os julos, glómeris,
etc. São animais lentos, vegetarianos e, em geral,
gregários; têm corpo cilíndrico, dois pares de patas em cada
segmento e exsudam um veneno defensivo das glândulas
situadas, regularmente, nos flancos. Por isso, as
escolopendras e os julos, se apresentam algumas semelhanças
resulta principalmente de uma evolução convergente. Na
classe dos Miriápodes incluem-se também, em geral, os
Paurópodes e os Sinflos, assim como alguns outros, todos
minúsculos, quando muito com 1 milímetro de comprimento,
vivendo debaixo das pedras, de troncos, folhas caídas, etc.
Os Paurópodes e os Sinfilos podem considerar-se afins dos
Diplópodes, visto que, como estes, são não só vegetarianos e
de forma cilíndrica, mas também têm o orifício genital
situado no terceiro segmento do corpo.
São animais geralmente pouco conhecidos, mesmo dos
naturalistas. Alguns Sinfilos tornam-se pragas nas estufas.
Por outro lado, os Aurópodes e os Sinfilos, menos nocivos,
devem com justiça ser considerados, assim como os milípedes,
os bichos-de-conta e ainda muitos outros animálculos,
verdadeiros encarregados de limpeza naturais. Efectivamente,
absorvem os restos dos cadáveres e de plantas mortas,
assegurando a limpeza do solo e a manutenção da fertilidade.
Alguns desses miriápodes obscuros, e em particular os que
são designados por Linguatulípodes, optaram pela vida
parasitária. São vermiformes, destituídos de patas, e
encontram-se no organismo dos caes, dos lobos e outros
animais, assim como em seres humanos que comem carne crua.
hospedeiro recebe-os no estado de ovos, de onde saem larvas
com seis patas. Depois esses apêndices reabsorvem-se e os
parasitas - havendo tomado o aspecto de línguas - suspendem-
se, por meio de ganchos, em diversas partes do corpo, desde
a cabeça às pleuras dos pulmões. O hospedeiro, mais tarde,
expulsa por meio de espirros os ovos do parasita, os quais,
uma vez no solo, podem infestar outros animais. Além destes
notáveis seres, intermediários dos Anelídeos e dos
Artrópodes, devem citar-se os Tardígrdos, microscópicos, de
corpo não segmentado e dotados de oito patas, terminadas por
ganchos.
Vivem na água e no musgo húmido, mas, se este eventualmente
seca, passam a um estado de morte provisória (anabiose), por
vezes até durante várias dezenas de anos, retornando à
actividade normal quando o musgo é de novo humedecido.
Também alguns vermes marinhos ou de água doce, como os
Rotíferos e as Anguílulas, são igualmente dotadas desta
estranha revivescência.

Taxonomia

A classe dos Miriápodes compreende essencialmente as


escolopendras ou centopeias e os milpés de espécies,
repartidas por todo o Globo, tanto nos climas quentes como
nos frios. São animais totalmente terrestres, embora alguns
vivam entre os limites das marés. O corpo é constituído por
uma série de segmentos de aspecto semelhante, excepto o
primeiro, que em configuração de cabeça. Esta é ornada, por
cima, com um par de antenas e, por baixo, ladeando a boca,
com um par de maxilas e um ou mais pares de maxílulas. Para
detrás da cabeça, cada segmento tem um par de patas, nos
Quilópodes, e dois pares em todos os segmentos posteriores a
quatro, nos Diplópodes.
Quilópodes. - A esta ordem pertencem os Miriápodes
carnívoros, a que os anglo-saxões chamam Centípedes; são em
geral de cor castanha pálida ou negra, raramente de cores
vivas, e muito excepcionalmente luminescentes, como o
Geophilus electricus. O seu habitat característico é debaixo
das folhas mortas, das pedras e dos vegetais em
decomposição. Alimentam-se de insectos adultos ou de suas
larvas, assim como de minhocas. No que diz respeito a
algumas espécies de grande porte, a mordedura é perigosa
para o Homem. A reprodução da espécie europeia lithobius
forficatus foi estudada em pormenor. Os ovos saem, um a um,
pelo orifício genital, situado no antepenúltimo segmento e,
cada um deles, é imediatamente apanhado por um par de
apêndices situado na face inferior desse segmento. O macho,
se se apercebesse disso, apanharia o ovo e devorá-lo-ia, ao
que parece, e talvez por isso a fêmea tem o cuidado de
cobrir o ovo com um líquido viscoso e de o rolar na terra
para que esta lhe adira, camuflando-o completamente.
Neste grupo, o número de patas e, portanto, o dos segmentos
está longe de corresponder à designação de Miriápodes (do
grego Myria, dez mil), pois esse número nunca excede 175
pares. [Em Portugal, o Stigmatogaster dimidiata chega a
apresentar 145 segmentos]. A Scutigera coleoptrata, a
centopeia-de-parede, tem apenas 15 pares de patas, todas
muito delgadas, e o par posterior é muitíssimo mais comprido
do que o próprio corpo, de modo que a este animal, assim
configurado. há quem o tome por uma aranha com muitas
pernas. [Além da mordedura, os Quilópodes podem causar ao
Homem perturbações nervosas e gastrointestinais,
introduzindo-se nas fossas nasais ou no tubo digestivo.]
Diplópodes. - aos representantes desta ordem chamam os
anglo-saxões milípedes. São todos de regime alimentare
vegetariano, constituído por plantas em putrefacção, raízes
e frutos. Podem, por isso, constituir uma praga nos
hortejos, como, por exemplo, o Iulus terrestris, milpés,
[também chamado entre nós, impropriamente, bicho-de-conta,
pelo hábito de se enrolar].
Não têm aparelho inoculador de veneno, mas, em compensação,
exsudam de glândulas especiais, como se disse, uma
substância, fortemente iodada, de cheiro muito desagradável,
repelente.
Os cuidados com a protecção da futura prole são notáveis,
nos Julídeos. A fêmea recolhe-se a um abrigo subterrâneo e
prepara um cimento formado por terra, humedecida com a sua
própria saliva, construindo assim um ninho em forma de
dorna, apenas com um orifício no cimo. Põe os ovos através
dessa abertura, selando-a depois convenientemente. à
nascença, os pequeninos julos têm apenas três pares de
patas.

INSECTOS

Os insectos, são quase exclusivamente terrestres ou


dulciaquícolas.
Conhecem-se cerca de 650000 espécies, das quais muito raras
habitam o mar, tais como algumas espécies de percevejos
(Hemípteeros) do género Halobates, e um mosquito
quironomídeo que se encontra ao lado da costa de Samoa. Um
certo número de espécies vive entre os limites das marés,
podendo imergir por momentos, o que não é suficiente para
serem consideradas propriamente marinhas.
Também larvas de outros mosquitos se adaptam a águas de
estuário, com teor salino bastante elevado. Em
contrapartida, há insectos adaptados a todas as condições de
vida, quer terrestres quer aquáticas, nos rios ou nos lagos.
Há tendência para aliar-se o termo insectos" a uma
quantidade de pequenos animais articulados e rastejantes,
como as aranhas, as centopeias e mesmo crustáceos
terrestres, como o bicho-de-conta.
Um insecto possui três pares de patas: todos os outros
animais têm menos (como os Quadrúpedes terrestres) ou mais
(como os Miriápodes, Crustáceos, Aracnídeos, etc.). As
larvas de certos ácaros têm só três pares de patas, mas mais
tarde desenvolve-se sempre um quarto par.
O corpo dos Insectos está dividido em três partes distintas:
cabeça, tórax e abdomen, encontram-se os olhos, um par de
atenas e, inferiormente, o aparelho bucal formado pelo
laboro ou lábio superior, por um par de mandíbulas, um par
de maxilas e um lábio inferior. As peças bucais podem
apresentar, contudo, grandes modificações, segundo o
processo de alimentação: por trituração, libação, sucção ou
aspiração por meio de picada. No tórax estão inseridos os
três pares de patas e as asas. Apesar de poucos insectos
habitarem nos mares, é provável que os seus predecessores
tenham sido marinhos.
Os Insectos provêm de um antepassado vermiforme, pois o seu
corpo é completamente segmentado, embora nem sempre a
segmentação seja muito nítida. Assim, a cabeça é composta de
cinco segmentos, sempre visível no embrião em vias de
desenvolvimento, mas, nos adultos, mais ou menos fundidas;
além disso, o tórax é constituído por três segmentos e o
abdomen pelos doze restantes.
A descoberta do peripato estabeleceu a ligação entre os
Insectos e os seus presumíveis antecessores vermiformes.
Qualquer contacto do animal com o mundo que o rodeia opera-
se sempre através dos sentidos. As mudanças de temperatura,
de humidade, de luminosidade e outros factores externos que
necessitam de uma acomodação ou adaptação não podem ser
apreciados senão por meio de um receptor sensorial.
O que mais surpreende nos insectos são os olhos. Nos
insectos mais primitivos, não existem propriamente olhos ou;
pelo menos, são rudimentares. É com as antenas, de funções
tácteis, que o insecto se orienta. Noutros, mais evoluídos,
são as patas anteriores que servem de antenas condutoras.
Naqueles cujos olhos são bem desenvolvidos, estes compõem-se
exteriormente de um grande número de facetas hexagonais. Nas
libélulas, cada olho pode apresentar cerca de 20000 facetas.
Cada faceta compreende: uma lente externa (córnea) e uma
mais pequena, cónica, interna (cristalino), envolvida por
células nervosas circundantes, cheias de pigmento, e ligadas
às fibras nervosas que conduzem ao cérebro. As células
nervosas correspondem à retina do olho dos Vertebrados e
chamam-se retínuloas. Os insectos possuem também órgãos
auditivos, tácteis, gustativos, olfactivos e outros que não
existem nos animais superiores. Todos estes órgãos podem
apresentar grandes variações quando observados em grupos
diferentes de insectos. E, assim, são frequentes as espécies
que não possuem órgãos auditivos; contudo, as que têm
"ouvidos" nas patas anteriores; os gafanhotos acrídios no
primeiro segmentos abdominal; as moscas-da-carne na base das
asas e os mosquitos na base das antenas. No entanto, em
todos eles a estrutura dos órgãos auditivos é semelhante;
são fossetas com uma membrana timpânica que oblitera uma
cavidade cheia de ar ou de líquidos. São em geral muito
desenvolvidos, sobretudo nas borboletas nocturnas. Nas
diurnas não existem estas vibrações.. A experiência mostrou
que os receptores sensoriais responsáveis são certos grupos
de pêlos situados na metade anterior do corpo.
Os órgãos olfactivos estão alojados nas antenas e são
constituídos por minúsculas fossetas, que podem atingir um
milhar em cada artículo. O olfacto, alojado nas antenas,
desempenha na vida do animal uma função mais ou menos
importante, consoante a estrutura destas (pectinadas, etc.).
Um bômbix macho pode determinar a situação exacta de uma
fêmea à distância de dois quilómetros. Além disso, está
provado, experimentalmente, que nas antenas estão também
situados os sentidos de equilíbrio e orientação.
O sentido do tacto está situado nos minúsculos pêlos das
antenas, das maxilas e da face. Na base dos pêlos, que não
são constituídos por matéria viva, encontra-se uma célula
sensorial ligada ao sistema nervoso principal por uma fibra
nervosa.
São bem conhecidos os órgãos tácteis distribuídos pelo corpo
peludo das borboletas nocturnas e diurnas, que lhes permite
distinguir, pelo simples contacto, uma folha ou uma flor de
um dedo humano.
O sentido do gosto não se limitam às peças bucais. O gosto
pode construir um sentido complementar, visto que, além do
sentido gustativo, situado na língua, certas borboletas
possuem um órgão auxiliar do gosto localizado na pata
anterior.
Os órgãos dos sentidos estão sempre ligados por fibras
nervosas ao sistema nervoso central, o qual, como todos os
invertebrados superiores, compreende um cordão que se
estende ao longo do corpo.
As patas dos Insectos têm uma estrutura uniforme, embora,
por vezes, se encontrem transformadas, segundo as funções.
No louva-a-deus, o primeiro par está transformado em pinças
muito desenvolvidas e guarnecidas de fortes espinhos, que
servem para agarrar e manter as presas. No ralo e nos
coleópteros escavadores (Escarabeídeos),as patas anteriores
são alargadas e achatadas em forma de pá. Em muitos
insectos, sobretudo nas abelhas, os segundo e terceiro pares
de patas são normais, isto é, compreendem quatro artículos
principais: a anca, a coxa ou fémur, a perna ou tíbia e o
tarso; há ainda uma articulação, o terocânter, entre a anca
e a coxa. O tarso é constituído por cinco pequenos segmentos
que terminam por um par de patas.
Nem todos os insectos possuem asas; embora os lepisma e
colêmbolos nunca as tivessem tido, outros, presentemente
ápteros, descendem de formas aladas. As asas são pequenas e
encontram-se como que amarrotadas. A borboleta suspende-se
então pelas patas num ramo ou folha e, ao fim de pouco
tempo, verifica-se que cada asa se tornou mais regular e
perdeu o aspecto enrugado. Tal aspecto é devido ao facto de
as asas terem forma de um saco, cujas paredes aderem uma à
outra logo que secam.
Nas asas encontram-se as nervuras que dão constância,
traqueias.
Quanto à forma, as asas variam sensivelmente. Além das asas
das borboletas, obreias de escamas imbricadas, existem as
dos cooléoptros, cujo primeiro par, espesso e endurecido,
constitui os élitros, que cobrem, quando em repouso, o
segundo par de asas, funcional. Nas moscas e mosquitos, o
segundo está reduzido aos balanceiros, órgãos em forma de
sem-halteres. As nervuras têm uma estrutura bastante
constante dentro da mesma espécie, pelo que servem até como
elemento de classificação.
O sistema respiratório dos Insectos é único entre os
Artrópodes. De cada lado encontra-se uma série de orifícios,
denominados estigmas, que conduzem a tubos de ar de calibre
maior, ou traqueias, as quais se estendem ao longo da
cavidade interna do corpo. As traqueias principais
ramificam-se extraordinariamente e assim conduzem o ar a
todas as partes do corpo. Existe um sistema de grandes
lacunas, cheias de sangue, incolor ou verde, nas quais
mergulham os órgãos internos. O coração dos insectos, em
forma de tubo, e dividido por válvulas numa série de
compartimentos, está situado dorsalmente.
O ciclo evolutivo da borboleta é bem conhecido. Do ovo sai
uma larva ou lagarta, que se alimenta intensamente e que
termina por se transformar em ninfa ou crisálida, da qual
emergirá, finalmente, a borboleta. Mas nem em todos os
insectos isto se passa da mesma maneira. Podemos considerar
três grupos distintos: as espécies primitivas desprovidas de
asas, constituindo o grupo "Apterigotas". Estes, no momento
da eclosão, apenas diferem dos adultos pelo tamanho, e o seu
crescimento é acompanhado de uma série de mudas. No grupo
dos "Exopterigotas", o crescimento faz-se do mesmo modo, mas
o aspecto do indivíduo varia gradualmente após cada uma das
mudas, principalmente no que se refere ao desenvolvimento
das asas. Finalmente, no terceiro grupo, os dos
"Endopterigotas", os insectos passam por uma metamorfose
brusca, como, por exemplo, nas borboletas.
A multiplicidade de designações atribuídas aos estados
juvenis dos animais ocasiona uma grande confusão,
particularmente no que se refere aos Insectos. Desse modo,
julga-se útil apresentar os esclarecimentos e algumas
definições

"
"Embrião. - Período de desenvolvimento de um organismo que
tem início na primeira parte de segmentação do ovo e termina
na eclosão ou nascimento do indivíduo.
"
"Larva. - Nos Invertebrados inferiores é o estado que se
segue ao embrião e durante o qual o indivíduo se apresenta
com uma forma diferente do adulto, necessitando de uma
transformação ou metamorfose para atingir esse estágio.
"Nos insectos, chama-se larva à forma áptera que sai do
ovo e que se mantém com o mesmo aspecto, apesar de aumentar
de tamanho e de passar por pequenas modificações, até que a
ninfa se forme. Nos Lepidópteros, a larva chama-se largara e
pode, noutros grupos, ser designada também por nomes
vulgares, quando existam.
"
"Ninfa. - Nos Insectos, com metamorfose completas, é o
estado intermediário de repouso entre o estado larvar e o
insecto perfeito ou imago, durante o qual a larva sofre uma
destruição dos seus tecidos, seguida de reconstituição
segundo um novo plano (metamorfose). Em certos grupos, a
ninfa é designada por crisálida, Nos Lepidópteros, ou ainda
por pupa, nos Dípteros-Braquíceros, (moscas).
a classe dos insectos divide-se em três subclasses e 23
ordens, conforme a relação seguinte:

I - Subclasse Apterigotas

Ordens:

01 - Tisanuros (lepisma);
02 - Proturos (acerentomon);
03 - Colêmbolos (poduros);
04 - Dipluros (campódea)

II - Subclasse Exopterigotas

Ordens:
01 - Ortóptero (baratas, louva-a-deus, fasmídeos - bicho-
palha ou bicho-pau -, grilos, gafanhotos, ralos, forfículas,
etc.);
02 - Plécopteros (perlas);
03 - Isópteros (térmitas, formifga-branca ou salalé);
04 - Embiopteros (embia);
05 - Zorápteros (zorotipo);
06 - Psocópteros (piolho-dos-livros);
07 - Efemerópteros (piolhos);
08 - Efémerópteros (efémeras);
09 - Odonatas (libelinhas);
10 - Tisanópteros (tripés);
11 - Hemípteros (percevejos, hidrocorizas, cigarras,
pilgões, cochonilhas, etc.

III - Subclasse Endopterigotas

Ordens

01 - Nevrópteros (formiga-leão, hemeróbios, etc.);


02 - Tricópteros (fríganas);
03 - Lepidópteros (borboletas);
04 - Coleópteros (cárabos, escaravelhos, besoiros,
joaninhas, etc.);
05 - Himenópteros (cinpídeos, icneumonídeos, abelhas,
vespas, formigas, etc)
06 - Estrepsípteros (eoxeno);
07 - Díptero (moscas, mosquitos);
08 - Sifonápteros (pulgas).

APTERIGOTAS

Insectos primitivos, sem asas, cujo crescimento se efectua


mediante uma série de mudas, sem alteração nítida no aspecto
exterior [Ametabólicos]. São as formas mais arcaicas e mais
primitivas dos insectos, dos quais existem vestígios nas
rochas provenientes do Devónico. As mais antigas formas
conhecidas eram marinhas.

Tisanuros

O lepism do açúcar ou peixinho-de-prata (Lepisma saccharina)


é um tesanuro característico, de meio centímetro de
cumprimento, , que se encontra nos livros ou nas fendas das
casas, etc,; desaparece rapidamente quando surpreendido. O
corpo, pisciforme, está revestido por uma camada de escamas
prateadas, bem visíveis à lupa. Duas antenas delicadas,
quase tão longo como o corpo, prolongam a cabeça; e a cauda
termina por três sedas. Os três pares de patas encontram-se
na superfície inferior do tórax, mas, além disso, existem
também pequenos apêndices pares, noutros segmentos do corpo.
Os lepismas têm olhos rudimentares, mas as antenas tácteis,
bem desenvolvidas, bastam aos seus hábitos nocturnos.
Alimentam-se de pão ou de amido, que encontram nas colas das
encadernações dos livros ou dos papéis das paredes, etc.
Os machilis vivem entre os limites das marés. Outras
espécies encontram-se em todo o Globo, debaixo das pedras,
na terra revolta e nas grutas.

Proturos

Os representantes desta ordem (exemplo: Acerentomon) são


extremamente pequenos e vivem debaixo das pedras, na tufa e
no musgo ou debaixo dos troncos de árvores caídas. São cegos
e não têm antenas, mas o primeiro par de patas ergue-se
anteriormente e funciona como antenas

Colêmbolos

Os Colêmbolos, dos quais os poduros são os mais


característicos, vivem, em grande quantidade, geralmente
debaixo das pedras e das folhas mortas. Do tamanho exíguo,
podem ver-se saltar em todas as direcções, quando
perturbados. A cauda bifurcada está voltada para diante,
pelo lado inferior do corpo, e, apoiando-se no solo, com
movimento brusco, serve assim de mola para o salto.

Dipluros

Há que considerar a existência de uma quarta ordem, a dos


Dipluros. Os seus componentes (exemplo: Campodea) têm o
mesmo habitat dos Proturos e também são cegos; como os
Tisanuro, têm antenas longas, multiarticuladas, mas, ao
contrário destes, as peças bucais são encobertas pela cabeça
(endotróficos).

EXOPTERIGOTAS

A esta subclasse pertencem os insectos cujo crescimento se


faz mediante uma série de mudas, durante as quais as asas se
desenvolvem gradualmente (Heterometabólicos).
Ortópteros

Depois dos Apterigotas, os Ortópteros são os insectos mais


primitivos. Têm sido encontrados, em rochas do Carbonífero,
fósseis muito semelhantes às baratas. As espécies actuais
que constituem esta ordem são muito numerosas e de larga
expansão geográfica.
As forfículas, corta-orelhas ou bichas-cedelas [lacrainha ou
tesoura, no Brasil] reconhecem-se facilmente pelas grandes
tenazes situadas na extremidade posterior do abdomen
(Dermápteros). As asas são também notáveis: as do primeiro
par (o anterior), pequenas e consistentes, cobrem, quando em
repouso, as posteriores (segundo par), que são grandes,
membranas, mas susceptíveis de se dobrar. Alimentam-se
sobretudo de animais e são particularmente activas durante a
noite, permanecendo debaixo das pedras ou das folhas caídas,
durante o dia. As fêmeas "chocam" os ovos como as galinhas
e, após a eclosão, as jovens aninham-se debaixo da mae, tal
como os pintainhos.
Muitas espécies de baratas (Blatóides), todas originárias
dos trópicos, têm sido disseminadas pelo Mundo inteiro, pelo
próprio homem: Blatella germanica, a barata-alema, Blatta
orientalis, a barata-preta das cozinhas, e Periplaneta
americana, a barata americana ou barata-vermelha (Brasil), a
mais frequente e de maior dispersão.
Na Natureza, as baratas alimentam-se de matérias em
putrefacção e vivem debaixo das pedras. Nas habitações,
comem os detritos existentes nas cozinhas e despensas, e
escondem-se nos buracos das paredes e nas gretas das
madeiras.
As patas, compridas e delgadas, permitem-lhes deslocações
rápidas. As asas faltam, por vezes, ou são muito reduzidas,
mas, quando existem, dispõem-se horizontalmente sobre o
corpo, ficando o segundo par, dobrado em leque, coberto pelo
primeiro.
Certas espécies vivem na terra e, por consequência, têm
hábitos escavadores, que atingem o seu apogeu numa espécie
australiana, Panesthia lata, na qual o segundo e o terceiro
pares de patas estão particularmente dilatadas e armadas de
espinhos, que lhes permitem revolver a terra. Em geral, um
macho e uma fêmea adultos vivem no mesmo local com os seus
descendentes.
Para lhes facilitar a vida nos buracos, os adultos arrancam
com as mandíbulas as suas próprias asas. As fêmeas fazem
grandes posturas numa espécie de mala (ooteca), dividida
longitudinalmente em dois compartimentos, onde os ovos se
encontram dispostos em fiadas compactadas.
O louva-a-deus (Mantóide) é um insecto notável e curioso.
Tem o primeiro segmento do tórax e o primeiro par de patas
muito compridos; estas são robustas e armadas de fortes
espinhos curvos. Geralmente a sua coloração é verde, mas a
do segundo par de asas pode apresentar variações em relação
com a cor das plantas e flores sobre as quais o animal vive.
Este disfarce acentua-se em certas espécies pela presença de
excrescências foliáceas no tórax. O louva-a-deus, com o
primeiro par de patas pretensoras em atitude de prece, põe-
se à espreita entre a folhagem. Aí espera atentamente a
aproximação da presa (um insecto), a qual, quando em posição
conveniente, é como que arpoada pelas patas anteriores do
louva-a-deus e, seguidamente, imobilizada entre o fémur e a
tíbia das patas pretensoras. Os ovos, envolvidos numa
substância mucilaginosa, que seca rapidamente em contacto
com o ar, são postos nos caules das plantas. Após a eclosão,
os jovens mantêm-se fixos a um suporte por um filamento de
sedas segregadas pelo abdomen, até à terceira muda.
Os bichos-palha ou bichos-pau (Fasmópteros) encontram-se
ainda mais disfarçados que os Mantídeos, mas, como
vegetarianos, necessitam somente de se defender dos seus
inimigos. Em virtude do alongamento dos três segmentos do
tórax, o seu corpo é comprido e delgado; isto, ligado a uma
coloração esverdeada ou acastanhada, dá-lhes o aspecto de
caules (colmos) ou ramos caulinares. Por outro lado, estes
insectos permanecem absolutamente imóveis durante o dia; o
último par de patas fixa-se a um ramo e os outros dois
mantém-se hirtos e tomam o aspecto de pequenos ramos da
própria planta.
Os Phyllies (folhas-secas) têm afinidades como os
Fasmópteros; todo corpo bem como as patas são achatados e
foliáceos, o que os torna absolutamente semelhantes às
folhas entre as quais vivem. Esta parecença é, por vezes,
ainda acentuada pela presença de manchas escuras, anéis ou
orifícios.
O grupo seguinte abrange os Acrídios, aos quais pertencem os
gafanhotos de antena curta. O corpo é deprimido
lateralmente; o último par de patas, muito desenvolvido e
dotado de músculos possantes, permite aos animais dar saltos
progosos. Caracterizam-se também pelo seu órgão de
estridulação, composto por uma fiada de pequenos tubérculos
situada na fase interna da coxa posterior; é a fricção desta
com uma nervura espessada da asa anterior que origina o
"canto" característico do gafanhoto. Os órgãos auditivos,
orifícios em forma de crescente, encontram-se no primeiro
segmento abdominal.
As fêmeas possuem um ovopositor, curto e robusto, com o qual
introduzem os ovos no solo a uma pequena profundidade.
Quando da eclosão, os jovens assemelham-se aos pais, mas não
têm asas. Estas desenvolvem-se progressivamente até ao
estado adulto, momento em que estão aptos para o voo.
Convém acentuar que os Acrídios constituem a mais importante
família dos Ortópteros. Mais abundantes nas regiões quentes,
encontram-se contudo em todo o Mundo, sendo conhecidas cerca
de 10000 espécies.
O seu regime vegetariano, não específico, permite-lhes
utilizar todos os vegetais na sua alimentação., produzindo
grandes prejuízos nas culturas.
Quando das pragas, as regiões atingidas ficam completamente
devastadas. [Em Portugal têm-se registado várias invasões de
Dociostaurus maroccanus, em diversos concelhos do Ribatejo e
do Alentejo.]
Os gafanhotos arborícolas (gafanhotos-cigarras) são parente
próximos do gafanhotos que saltitam no solo. Têm antenas
compridas e dirigidas para trás, atingindo a extremidade
superior do abdomen; o ovopositor é longo, delgado e curvo.
O órgão estridulador é constituído por uma espécie de grosa,
situada na superfície inferior da asa anterior esquerda, que
é friccionada por uma crista delgada da superfície superior
da asa posterior direita. Os órgãos auditivos estão situados
nas tíbias anteriores. Uma das espécies mais conhecida,
Tettigonia viridissima, que se encontra também em Portugal,
e cujo canto lembra o da cigara.
A tendência que os Mantóides e Fasmópteros apresentam quanto
ao desenvolvimento de formações foliáceas aparece igualmente
entre os gafanhotos-cigarras.
Na espécie sul-americana Tanuisa brullei [conhecida por
"esperança", como as suas congéneres], as asas anteriores
têm a forma de verdadeiras folhas, às quais não faltam até
certos sinais semelhantes aos deixados pelas lagartas na
folhagem!
Completamente diferente é uma espécie sul-americana do
género Myrmecophana, cujas larvas lembram tanto as formigas
que chegam mesmo a iludir entomologistas experimentados!
Os grilos, embora menos elegantes, aproximam-se
morfologicamente dos gafanhotos. De hábitos essencialmente
nocturnos, são de cor castanho-escura ou negra. A
alimentação é extremamente variada, constituída por vegetais
mortos ou vivos, matéria animal e até representantes da
mesma espécie (canibalismo). O grilo doméstico (Gryllus
domesticus), tal como as baratas, vive nas habitações
rurais, por vezes.
O grilo-real, da Austrália (Anastostoma australiae), é um
insecto de aspecto robusto, feroz, áptero e com fortes
mandíbulas escavadoras.
O ralo, ou grilo-toupeira (no Brasil), que pertence ao
género Gryllotalpa, é talvez o representante mais conhecido
de uma das famílias de Ortópteros. No seu corpo robusto,
destacam-se não só o primeiro segmento torácico, bem
desenvolvido e em forma de escudo, como também as patas
anteriores, curtas e largas, cuja tíbia, à maneira de pás,
possuem quatro dentes vigorosos. A primeira articulação do
tarso, semelhante a ma lâmina de canivete, pode mover-se
sobre a aresta da tíbia, transformando a pata numa
verdadeira tesoura, graças à qual o ralo corta as radículas,
quando da construção das suas galerias.

Plecópteros

Os Plecópteros, ou Perlas, de pequenas dimensões e de


coloração muito tténue, deslocam-se com lentidão. As larvas
são aquáticas e os adultos alados. As antenas são longas e
delgadas. As asas anteriores, estreitas, cobrem
completamente, quando em repouso, as asas posteriores, muito
maiores, as quais se encontram dobradas em leque sobre o
abdomen. Durante a fase aquática, a respiração faz-se por
meio de brânquias, formadas por diversas excrescências do
sistema traquial dos segmentos torácicos, ou de outras
partes do corpo.

Isóptero

As térmitas [formiga-branca ou salalé, Angola; murchem,


Moçambique; bagabaga, Guiné; cupim, Brasil] lembram, pela
sua organização social, as formigas, abelhas e vespas,
insectos sociais. Muito antes da evolução do Homem, já
existia a "sociedade" entre os insectos. A termiteira
percedeu assim a "sociedade"humana.
Conhece-se cerca de 2000 espécies de térmitas. Encontram-se
65 térmitas fósseis incrustadas nas rochas, no âmbar ou na
goma copal; presume-se que, nos tempos pré-históricos, as
térmitas tivessem uma maior expansão que hoje em dia. Apesar
de geologicamente mais recentes, têm afinidades de origem
com as baratas. Os seus fósseis encontram-se em todos os
segmentos a partir do Tercário inferior. Tal como as
baratas, as térmitas derivam do grupo mais primitivo de
insectos, mas estas mais fortemente especializadas no que
diz respeito à vida social e à sua divisão em castas,
enquanto as baratas são gregárias; assim, as térmitas
poderíamos apelida-las de "mundanas".
As térmitas são polimorfas, pois, em cada espécie, há
machos, fêmeas e três tipos de reprodutores - formas
monogamias aladas e de olhos funcionais, e formas poligamias
de asas atrofiadas, proveniente de castas ápteras, bem como
uma série de formas intermediárias, incluindo "soldados"
fecundos. Pode haver, além disso, três tipos de "soldados"
estéreis, machos ou fêmeas, e dois tipos de "obreiras",
estéreis, macho e fêmeas.
Surge uma grande diversidade de tipos segundo as espécies, e
as castas apresentam também grande variações; nas "obreiras"
e "soldados" existem também numerosas castas intermediárias.
Nas térmitas mais primitivas, não aparecem as "obreiras" e,
nas mais especializadas, não existem "soldados". Enquanto as
obreiras constituem a casta mais numerosa da colónia durante
a maior parte do ano, os "soldados" são em número reduzido.
Em certas estações do ano, as formas reprodutoras são muito
abundantes.
Conhecem-se várias subespécies, raças e híbridos
provenientes do cruzamento de espécies semelhantes.
As térmitas são insectos sociais, de corpo mole, alados ou
ápteros e munidos de um aparelho bucal triturador. O tórax é
bastante desenvolvido e os dois pares de asas de tamanho
semelhante. à excepção de uma espécie primitiva australiana,
que põe os ovos numa ooteca semelhante às baratas, as
restantes põem os ovos isolados.
Não existe propriamente estado ninfal, mas simples estados
de repouso, de curta duração quando das diversas mudas.
Embora a metamorfose seja incompleta, as larvas passam por
uma série de transformações até atingirem o estado adulto. A
copulação é semelhante à existente nas baratas, suas
próximas parentes.
Vivem geralmente debaixo da terra, nas habitações, dentro
das madeiras, ou ainda em abrigos tubulares, feitos de uma
argamassa especial, evitando assim os seus maiores inimigos
as formigas. Existem térmitas que vivem à superfície,
durante o dia. São de cor sombria e têm olhos. Nos trópicos,
esta espécie de tubos que as térmitas constróem, quando vêm
à superfície em busca de alimentos e de água, atinge por
vezes grandes dimensões, ao longo dos coqueiros.
Há uma divisão de trabalho e a cõexistência de formas
reprodutoras e estéreis; as "obreiras" provêm da mesma casta
que os "soldados" e tratam não só da alimentação dos jovens
das formas reprodutoras e dos "soldados" como também lhes
dispensam outros cuidados. Os "soldados" defendem a colónia
do ataque das formigas. Nas térmitas primitivas, as
mandíbulas estão munidas de dentes em forma de serra, mas
nas mais especializadas existe na fonte uma glândula, cuja
segregação ácida constitui o meio de combate mais eficaz.
Nas formas intermediárias, as mandíbulas e as glândula
frontal desempenham ambas igual papel na defesa. por vezes,
projectam um líquido viscoso, que afasta os inimigos.
Noutras formas mais especializadas, as mandíbulas,
assimétricas, são utilizadas na produção de um ruído que
assusta os inimigos ou alerta as suas congéneres.
Os ninhos de térmitas podem ser construídos de terra ou de
uma argamassa especial, debaixo do solo ou à superfície: em
forma de pirâmide, cuja altura pode atingir cinco metros; em
forma de abrigos de pasta dentro das árvores; ou ainda em
galerias feitas nas madeiras. Estas verdadeiras aldeias de
térmitas são muito frequentes nos trópicos. Na estrutura dos
ninhos das térmitas, produziu-se um progresso comparável ao
da evolução da habitação humana. No interior dos mais
majestosos, existe uma disposição ordenada das células e
galerias, bem como uma câmara real para os indivíduos
reprodutores, e "creches", destinadas a cuidar dos jovens.
As rainhas das espécies tropicais atingem grandes dimensões
e chegam a viver até cerca de 25 anos.
No grupo das térmitas africanas e orientais cultoras de
cogumelos, as rainhas podem medir 10 centímetros de
comprimento; são imóveis e vivem enclausuradas numa cápsula
(câmara real). Nestes ninhos, as galerias conduzem às
câmaras, nas quais os fungos comestíveis são cultivados.
Na africa do Sul, as térmitas constituem para os aborígenes
objectos de culto.
O alimento principal da maior parte das térmitas é a
celulose, que extraem da madeira, morta ou viva, ou de
outros vegetais. Para digerir esta celulose existem no
intestino milhares de protozoários, que aí vivem em
simbiose, os quais a tornam assimilável.
São frequentes, nos ninhos, insectos degenerados, de formas
bizarras, de abdomen hiperatrofiado, mas que possuem
diversas glândulas de secreção externa, cuja substância é
apreciada pelas térmitas.
Por vezes, os indivíduos de uma termiteira lembram-se uns
aos outros, o que se pode verificar se se deitar veneno em
pó numa das galerias. As térmitas, incapazes de raciocinar,
são orientadas por instintos hereditários e de tactismo,
tais como a fome, o sexo e o medo. Seguem-se umas às outras
graças aos odores corporais e comunicam entre si
possivelmente por meio de vibrações do corpo, que conseguem
detectar através do solo. Talvez por isso as térmitas não
atacam a madeira nas proximidades de uma máquina que produza
vibrações .
O voo de enxamearão das térmitas, que tem lugar, em geral,
nos trópicos, após as chuvas, é um fenómeno muito
interessante. Das aberturas das termiteiras saem verdadeiros
bandos. Não se trata de um voo nupcial, visto que a
copulação só tem lugar quando os machos e as fêmeas perdem
as asas. Muitos animais aproveitam este voo para se
alimentarem de térmitas (sapos, lagartixas). Após a perda
das asas, as térmitas, que voaram a grandes alturas em pleno
dia, voltam a procurar um abrigo debaixo da terra.
O conceito de superorganismo que se aplica aos insectos
sociais provém do facto da diversidade das castas dentro de
uma mesma espécie ser tão perfeita que a colónia pode
considerar-se como um único indivíduo que viva sujeito às
mesmas leis simples.
No seu conjunto, podemos comparar uma destas colónias ao
corpo humano: as obreiras representam os glóbulos vermelhos,
os soldados os glóbulos brancos e a superfície exterior do
ninho é análoga à pele humana do homem. Considera-se também
a rainha como o cérebro da colónia e, nesse caso, mas
provavelmente, as obreiras como elementos motores. Contudo,
é mais racional comparar uma colónia de térmitas a
organismos multicelulares, tais como as esponjas.
O homem, ao perturbar o equilíbrio da Natureza pela
exterminação de florestas, pela cultura intensiva da terra,
pelo crescimento e desenvolvimento da civilização, que se
manifesta nos trabalhos de construção, drenagem e irrigação,
desalojou as térmitas do seu habitat natural e levou-as a
atacar os madeiramentos das habitações em busca de alimentos
e de abrigos. E, assim, de seres inofensivos tornaram-se num
flagelo.
Noventa e cinco porcento das perdas ocasionadas pelas
térmitas em todo o Mundo deve-se ao tipo "lucífugo", mas
praticamente estas podem evitar-se graças a uma construção
apropriada. Os metais e outros materiais impenetráveis são
danificados pela acção corrosiva da humidade exsudada pelas
térmitas lucífugas com a terra e a madeira mascada com que
constróem os seus túneis.
Ãos ataques deste insecto pode o homem replicar utilizando
meios mecânicos ou químicos. E, assim, isolando as madeiras
do solo impregnando-as de substâncias tóxicas, consegue-se
evitar ou, pelo menos, diminuir a sua acção nefasta.
Embiópteros

Esta ordem abrange, poucas espécies de insectos,


insignificantes e existentes só nos trópicos. Pouco se sabe
dos seus hábitos. Medem cerca de 1 centímetro, têm corpo
alongado e antenas compridas e delgadas. O macho é alado e a
fêmea áptera. O segmento da base do tarso das patas
anteriores é dilatado e susceptível de produzir seda. A
maior parte das espécies vive em pequenas colónias.
Uma espécie da India, Embia major, constrói um sistema
complicado de túneis forrados de seda, Embora nesta espécie
não se encontre a organização social das térmitas, podemos
contudo pensar no que seria as primeiras partes da evolução
das sociedades dos insectos.

Zorápteros

Os Zorápteros são constituídos por insectos minúsculos, com


2-3 milímetros (exemplo: Zorotypus)que lembram certos
Apterigotas primitivos. Muitos são ápteros, mas outros têm
asas semelhantes às das térmitas. Têm um sistema de vida
social simples, diferentes do das térmitas, em cujo ninho
podem habitar, apesar da maioria preferir as madeiras
apodrecidas.

Psocópteros

Os Psocópteros são insectos pequenos, pouco activos,


caracterizados por um par de órgãos em forma de tesoura que,
associado às peças bucais, é empregado para perfurar a casca
das árvores. Certas espécies, como sucede com as baratas e
os grilos, tornam-se quase domésticas.
O piolho-dos-livros, Trogium pulsatorium (relógio-da-morte),
assim chamado pelo tiquetaque produzido no silêncio da
noite, por virtude do seu hábito de bater com a parte
saliente do esternito pregenital de encontro à superfície
onde repousa. [Também chama "relógio-da-morte" a alguns
coleópteros dos géneros Anobium e Xestobium, que emitem um
som característico ao friccionar a madeira com as
mandíbulas. Tais ruídos destinam-se unicamente a aproximar
dois sexos e não são prenúncio de morte. Trogium pulsatorium
é também conhecido como piolho-dos-livros.] Troctes
divinatorium ou piolho-do-pó é uma espécie áptera; encontra-
se não só nos livros velhos como também nos lixos
domésticos. Além destas espécies e das que se alimentam das
colas de encadernação dos livros, dos papéis deformar
paredes, das colecções entomológicas, etc., há outras que
preferem os bolores e líquenes, contribuindo provavelmente
para a dispersão dos seus esporos. Certos Psocídeos de
maiores dimensões lembram pequenos ácaros; por vezes, as
suas asas estão cobertas de escamas semelhantes à dos
Lepiópteros.

Anopluros

Os piolhos dividem-se em dois grupos naturais: os


"trituradores" ou Malófagos, e os "picadores" ou
Sifunculados, cujas peças bucais estão transformadas num
tubo sugador. Os Malófagos são designados como "piolhos-
-das-aves", visto encontrarem-se quase exclusivamente
nestas. Há também espécies que vivem em certos mamíferos,
principalmente nos domésticos. São pequenos - raramente mais
de meio centímetro de comprimento -, de corpo achatado,
ápteros, e alimentam-se de fragmentos de penas, de pêlos ou
de células epidérmicas mortas. Provocam, ao deslocar-se,
ferimentos no hospedeiro. Não podem passar de um hospedeiro
a outro a não ser por contacto e, por conseguinte, cada
espécie de piolho corresponde muitas vezes a uma espécie de
ave..
Os piolhos "picadores", Anopluros propriamente ditos,
alimentam-se de sangue. Alguns são transmissores de agentes
de dõenças. O piolho-de-corpo (Pediculus corporis) tem um
papel patogénico importante, pois pode transmitir a febre
dos cinco dias. Rickettsia prowazeki, agente de tifo
exantemático, pode ser transmitido pela picada de um único
piolho. Esta dõença, sugando o sangue de um hospedeiro
dõente, podem inocular o agente patogénico num indivíduo
saudável. Encontram-se, nestes piolhos, o mesmo exclusivismo
que nos Malófagos. Assim, os piolhos-do-corpo e a cabeça,
próprios do Homem, encontram-se somente nos Antropóides e em
certos macacos.
As espécies do género Polyplax existem, unicamente, nas
ratazanas e ratos, e assim por diante.

Efemerópteros
As efémeras são muito vulgares em todo Mundo, nas
proximidades das ribeiras e lagos. A sua existência é
bastante singular; as larvas, aquáticas, podem viver até
três anos antes de atingirem o estado perfeito, que tem uma
duração somente de algumas horas ou, quando muito, de um ou
dois dias, o que justifica o seu nome.
Na Primavera e no fim do Verão, aparece à tardinha um grande
número de efémeras, que se entrega à sua dança nupcial: o
bando eleva-se batendo as asas e desce depois lentamente. As
fêmeas, após a fecundação, fazem a postura dos ovos em massa
pegajosas, sobre as pedras submersas. O insecto adulto não
se alimenta. Os seus principais inimigos são as aves, que os
atacam durante a dança nupcial, e os peixes, que os devoram
quando à superfície da água. É, por isso, que os "iscos" dos
pescadores se assemelham muitas vezes às efémeras.
Dos ovos saem pequenas larvas activas e na maioria
vegetarianas. Primeiro, parecem respirar pela pele, mas em
seguida desenvolvem-se brânquias abdominais. Depois de
várias mudas, durante dois ou três anos, aparecem asas
rudimentares. Por fim, a larva surge à superfície da água e,
por uma fenda que se abre no dorso, sai a efémera alada,
deixando a flutuar o seu invólucro vazio. Depois, a efémera
afasta-se um pouco, instala-se num caule e liberta-se da
segunda pele (exúvia), facto este único entre os insectos.

Odonatas

As libelinhas chamam-nos a atenção não somente pela beleza


delicada das suas cores e o carácter feérico das suas asas,
como também pela prodigiosa rapidez do seu voo. Conhecem-se
mais de 3000 espécies de Odonatas, que, embora cosmopolitas,
são mais abundantes nos trópicos. A sua anatomia externa é
muito característica: cabeça grande, olhos prõeminentes,
compreendendo 20000 ou 30000 facetas, e abdomen delgado. As
asas (os dois pares são aproximadamente do mesmo tamanho)
são duras e brilhantes, com numerosas nervuras dispostas
transversalmente. A cabeça, que roda livremente sobre o
"pescoço", tem um par de antenas curtas e um par de
mandíbulas possantes, do tipo triturador; as restantes peças
bucais são as maxilas, mais fracas, e o lábio inferior, na
larva, transformando numa espécie de armadilha para insectos
(máscara). As patas não são utilizadas para o animal se
deslocar, mas para segurar as presas de tamanho grande. Os
ovos podem ser espalhados na água ou deixados nela quando a
fêmea, voando, toca com o abdomen na superfície líquida; por
vezes estão encerrados em cordões gelatinosos que aderem a
objectos submersos, outras vezes são depositados em fendas
feitas pelo ovopositor no caule aquático. Dos ovos saem
"proninfas", assim chamadas devido ao seu aspecto
incompleto; desembaraçam-se da exúvia e tornam-se livres,
diferindo nitidamente da libelinha adulta, salvo nos seus
hábitos predadores. Durante o período de um a cinco anos, as
larvas de insectos, vermes, girinos e até pequenos peixes. A
sua cor escura confunde-se com o lobo; tem por costume pôr-
se à espreita (máscara). O processo segundo o qual a larva
da libelinha captura a presa lembra muito o utilizado pelas
ras e camaleões. Nos três casos, é notável a mesma espera
imóvel, a mesma rapidez no ataque e a precisão de pontaria,
mas o mecanismo é nitidamente diferente da libélula.
A "máscara" é constituída pelo lábio inferior articulado e
muito alongado, que terrena num possante par de tenazes. Em
repouso, dobra-se sobre si mesmo e cobre inteiramente a
superfície inferior da cabeça - daí o seu nome.
A larva muda uma dúzia de vezes e, quando atinge o momento
de deixar a vida anfíbia, sobe para o caule de uma planta
aquática e permanece assim, em repouso, a uma certa
distância da água. A pele fende-se dorsalmente e surge o
insecto perfeito. o tórax aparece em primeiro lugar, e,
dilatando-se, origina maior rotula na pele. Depois, a cabeça
sai deslocando-se para trás. Nesta posição, a libélula está
ligada ao invólucro somente pela extremidade da cauda.
Então, a cabeça volta novamente para diante e a extremidade
do abdomen sai do invólucro. Após um certo tempo, movimenta-
se para permitir às asas a sua expansão, secagem e
endurecimento. Tanto as libelinhas como as suas larvas são
insaciáveis glutonas, e muito ciosas do seu campo de acção,
sempre prontas a atacar rapidamente qualquer intruso, mesmo
que se trate de outra libélula, o que tem grande importância
sob o ponto de vista da sobrevivência. Isto assegura não só
um aprovisionamento suficiente para cada indivíduo, em
virtude de uma dispersão regular da população, como também
uma certa segurança: evitando um aglomerado de indivíduos
que assim se tornaria presa fácil aos seus inimigos.
A maior libélula, Megalopropus cõerulatus, cuja envergadura
vai de 18 a 20 centímetros, não apresenta senão uma quarta
parte do tamanho dos gigantes do Carbonífero .
As libelinhas são os insectos mais velozes. Certos
observadores exageram considerando-se capaz de atingir 40
quilómetros por ora!
O voo dos insectos mais rápido é o de 25 quilómetros por
hora da grande libélula (Aeschna), mas na maioria dos
insectos a velocidade é inferior a 16 quilómetros por hora,
sendo a das abelhas de 10 quilómetros por hora e da mosca
doméstica 7 quilómetros por hora. Erradamente, atribuiu-se a
um gasterófili (Díptero) americano uma velocidade
supersónica, superior a 1200 quilómetros por hora!

Tisanópteros

Os tripés são insectos minúsculos; alguns apenas ultrapassam


um centímetro, mas, na sua maioria, são muito mais pequenos,
medindo apenas meio centímetro.
De hábitos vegetarianos e muito numerosos, causam prejuízos
consideráveis às colheitas. Tornar a aveia estéril não é sua
menor maldade. Não são os insectos maiores os que ocasionam
os maiores prejuízos! Os tripés pululam sobre as flores,
folhagem, folhas secas e cogumelos. Distinguem-se pelas asas
estreitas, reduzidas a uma ou duas nervuras, e orladas de
pêlos. As peças bucais estão modificadas e adaptadas para
perfurar e sugar.
Uma vez mais se encontram nesta ordem indícios precursores
da metamorfose que caracteriza os Endopterigotas. Após a
eclosão, os jovens são semelhantes aos progenitores, mas
ápteros. ao cabo de dois ou três meses, o esboço das asas
aparecem no tórax em muitas das espécies. Os tripés, neste
estado de crescimento, abrem caminhos no solo para aí
repousar com toda a calma. A reprodução faz-se geralmente
por partenogénese. Em todas as espécies, os machos são muito
menos conhecidos do que as fêmeas, ou mesmo nalgumas
extremamente raros.

Hemípteros

A ordem dos Hemípteros contém uma grande variedade de


formas, das mais repugnantes às mais maravilhosamente
coloridas, cuja beleza rivaliza com a das borboletas. Os
grupos que a compõem são:

a) Heterópteros ou percevejos propriamente ditos -


percevejos terrestres ou Geocorisas e percevejos-de-água ou
Hidrocorisas;
b) Homópteros, que abrange as cigarras, bem como as psilas,
pulgões e piolhos das plantas.
a) Heterópteros. - Nos percevejos o primeiro segmento
torácico é geralmente grande e onde a cabeça fica como que
encaixada. Abdomen oval e deprimido; asas anteriores duras e
córneas, tornando-se membranas só na extremidade. Todos os
representantes desta subordem emitem um odor desagradável em
virtude da secreção produzida por glândulas especiais
situadas na parte anterior do abdomen.
Geocorisas (percevejos terrestres). - Os Pentatomídeos,
percevejos-dos- -bosques, incluem grande número de espécies.
São especialmente caracterizados pela presença de um
escutelo, que se estende sobre a região dorsal do abdomen.
Os Pentatomídeos encontram-se frequentemente na maior parte
da vegetação; para os recolher basta agitar uma árvore ou
arbusto - numerosos insectos caem no papel ou pano que se
coloca no solo, entre os quais diversas espécies de
Pentatomídeos. Como verdadeiras pragas citamos: percevejo-
hotentote, Eurygaster maurus, insecto castanho-escuro, com
duas manchas claras de um ou de outro lado do escutelo, que
em certas regiões da Europa atacam o trigo; percevejo-da-
couve, Eurydema oloracea e o percevejo-arlequim, Murgantia
histrionica, da América, causam grandes prejuízos nas
couves.
Blissus leucopteros é um flagelo para as pastagens, trigo e
outros cereais. De coloração preta e branca, mede cerca de
meio centímetro de comprido, e pode invadir, aos milhares,
os campos de trigo. Caso curioso: apesar de alados, as suas
invasões são feitas correndo pelo solo.
Enquanto, na sua maioria, as espécies são verdes ou
castanhas, algumas há de cores vivas, vermelhas, azuis ou
até negras, outras, como o percevejo-arlequim, são mesmo
multicolores.
Entre os Coreídeos, próximos dos Pentatonídeos, encontra-se
o percevejo negro da cabaça, Anasta tristis, da América do
Norte, e o percevejo do arroz, Leptocorisa geniculata, da
índia e do Extremo Oriente. De corpo alongado, ostentam
cores semelhantes às das plantas que parasitam.
Os Pirrocorídeos, vermelhos com manchas negras, incluem os
Dysdercus, ou "manchadores de fibra", percevejos-do-algodão,
por mancharem justamente as suas fibras. Na ilha da
Trindade, a espécie passa por uma fase migratória semelhante
à dos Acrídios (gafanhotos).
Os Reduvídeos, de hábitos carnívoros, são também frequentes;
na Europa, Reduvius persoatus, vive nas habitações, onde
ataca os vulgares percevejos-das-camas; Nos Estados Unidos
da América uma das espécies mais conhecidas é o grande
percevejo do género Triatoma , também designado por
"percevejo-beijador", devido ao seu costume de morder a
cara. Encontra-se nas casas, sobretudo nos estados do Sul e
õeste. Uma outra espécie de Reduvídeos, Triatoma megista,
inocula o Trypanosoma (Schizotrypanum) cruzi, agente da
"dõença de Chagas". Transmite uma dõença de homem para
homem. No Brasil, denominam-se "barbeiros", porque mordem
também na cara; e noutros estados sul-americanos, por
"percevejos-voadores".
Há, porém, espécies de certa utilidade para o homem. O
Phonoctonus, da Africa, ataca os Dysercus. Conhecem-se
outros reduvídeos miméticos que se assemelham a mosquitos, a
fasmídeos e até ao louva-a-deus (Plõearia domestica).
Citaremos ainda um geocorísco bastante conhecido, Cimex
lectularius, ou percevejo-das-camas. Tem meio centímetro de
comprido, corpo largo, deprimido, sem asas e de cor
castanho-avermelhado. Escondem-se geralmente nas fendas das
paredes e só de noite sai em busca do sangue que se
alimenta. Finalmente, aparece-nos um grupo que faz a
transição com os percevejos de água. São os Saldídeos, de
cor sombria, predadores que vivem nas costas, nas salinas,
ou no lombo das margens dos rios e lagos. Os Hirómetros
vivem à superfície das águas.
É, sem dúvida, paradoxal que o único percevejo marinho
esteja incluído entre os percevejos terrestres, contudo, é
aqui que teremos que colocar o Halobates, que vive à
superfície do mar.
Hydrocorisas (percevejos da água). Além do seu habitat
aquático, dois caracteres distinguem os Hidrocoristas dos
Geocoristas:

a) quando tem asas, estas não são rígidas e córneas na base


como as dos verdadeiros percevejos;
b) as antenas estão escondidas em cavidades situadas por
debaixo da cabeça.

O maior dos Hidrocoristas, Lethocerus indicus, é conhecido


como "assassino gigante de peixes", do Oriente, visto
encontrar-se numa área que se estende da India à Austrália.
Mede 10 centímetros, tem cor castanha e forma oval. São
aquáticos e alimentam-se de limneias, larvas e insectos, e
peixes. Os adultos voam bem e, em virtude de serem atraídos
em grande número pelas lâmpadas eléctricas, chamam-lhes "
percevejos da luz eléctrica", nos Estados Unidos, onde se
encontram frequentemente duas espécies, Belostoma americana
e Benacus gruseus.
As nepas (Nepa) ou escorpiões-da-água, são aparentados com
os Belostomas; embora de tamanho menor, são também
predadores. Por vezes, atacam mesmo os banhistas, picando-os
com seu esporão, semelhante a uma agulha. Medem cerca de 5
centímetros de comprido, têm o primeiro par de patas
semelhante ao do louva-a-deus, mas não denteado, e a
extremidade do abdomen munida de um sifão ou tubo
respiratório.
As nepas vivem no fundo dos rios, com o qual a sua cor
acastanhada se harmoniza muito bem, ou ainda entre as
plantas aquáticas.
Os Notonectídeos encontram-se principalmente nas zonas
temperadas. Lembram pequenos barquitos impulsionados por
meio de remos, quando deslizam suavemente à superfície da
água. Caracterizam-se facilmente, pois nadam de costas. O
corpo é oval e o terceiro par de patas, que funcionam como
os remos de um barco, é muito mais comprido do que os
outros. Na fase anterior do corpo, encontram-se uma carena
longitudinal com um sulco de cada lado. Quando o animal
mergulha, o ar contido nos sulcos mantém-se, graças a uma
série de pêlos dispostos ao longo destes, permitindo assim
que o insecto continue a respirar quando submerso.
As motonetas alimentam-se principalmente de larvas de
mosquitos e moscas.
Os Corixídeos são quase cosmopolitas. A parte posterior da
cabeça recobre o tórax, o que os distingue dos outros
percevejos de água. São pequenos, ovais, de consistência
mole, brilhantes e vegetarianos. O nome popular de
"gafanhoto-de-água", que lhes é atribuído em certos países,
provém da estridulação emitida pelos machos. Em certos
casos, esta é provocada pela fricção das patas anteriores
sobre as faces, noutros é o bordo da asa anterior, que raspa
sobre uma superfície rugosa situada no dorso do animal.

b) Homópteros. - O carácter mais importante que separa os


Homópteros dos Heterópteros é que naqueles as asas, em
repouso, dispõem-se sob a forma de telhado por cima do
corpo. O aspecto das cigarras contrasta nitidamente com o
dos percevejos. O corpo é robusto e a cabeça grande. Nela
encontra-se, de cada lado, volumosos olhos compostos e ao
centro três olhos simples e ocelos, dispostos em triângulo.
O tórax é curto e estende-se em parte sobre o abdomen. As
asas são grandes, brilhantes e praticamente transparentes,
ou então ligeiramente coloridas e um pouco opacas.
A Fêmea da cigarra introduz, por meio do ovopositor, os ovos
num caule. Após a eclosão, as larvas caem e enterram-se no
solo; aí constróem uma câmara subterrânea e alimentam-se dos
sucos que extraem das raízes.
A vida subterrânea pode ter uma grande duração, tal como
sucede com Magicicada septendecim, que atinge o record
conhecido até agora - 17 anos -, desde a ocasião da postura
ao momento em que a larva sai da terra, e sobe pelos
arbustos ou árvores, onde se mantém em repouso. A película
larvar fende-se e a cigarra adulta emerge finalmente, para
viver apenas alguns dias.
Só os machos das cigarras "cantam", com um ruído produzido
por um órgão complicado situado na base do abdomen.
Todos conhecem a cicadelas, quer sob o aspecto de massas
viscosas agarradas às plantas, quer sob a forma de pequenos
insectos verdes ou castanhos que saltitam entre as ervas. No
entanto, poucas pessoas sabem que estas duas formas, de
aparência diferente, representam duas fases da existência de
uma única espécie.
A cicadela, de cabeça larga e curta, de olhos laterais e, se
bem com menos de um centímetro, lembra vagamente uma ra,
tanto pela sua coloração como pela maneira como salta sobre
as folhas onde se instala. As larvas exsudam, em parte, a
seiva que engolem, misturam-na com uma secreção saponosa,
insuflam-lhe bolhas de ar, e acabam por ficar envolvidas por
uma massa mucosa protectora. É a esta espécie de baba que os
Franceses chamam "baba-de-cuco".
As larvas de certas espécies de cicadelas vivem debaixo da
terra, igualmente envolvidas por muco.
As pequenas psilas, que lembram exactamente cigarras em
miniatura, ocasionam prejuízos consideráveis às colheitas,
sobretudo nas pêras e maças. São de cor verde ou castanha,
muito activas, e tanto saltam como voam; contudo, os seus
voos não são nunca prolongados. Constituem, com os
fulgorídeos, pulgões e piolhos das plantas, os restantes
Hemídeos.
Os Afídeos, também conhecidos por pulgões, merecem uma
atenção especial devido ao seu processo de reprodução por
partenogénese.
Os Cocídeos, cochonilhas ou piolhos das plantas, são
notáveis porque, depois da segunda muda, as fêmeas perdem os
olhos e as patas e fixam-se ao seu hospedeiro vegetal por
meio do rosto. ao mesmo tempo, o corpo transforma-se de tal
maneira que acaba por se assemelhar o caule e as folhas,
como se fizesse parte da própria planta. A actividade destas
fêmeas reduz-se a funções de nutrição e reprodução. Os
machos mantêm-se quase normais. No seu corpo, delgado e
alongado, medindo pouco mais de um centímetro, existem duas
finas antenas na parte anterior da cabeça, e um par de
longos estiletes filiformes no prolongamento do abdomen. Não
possuem senão um par de asas e, sendo desprovidos de peças
bucais, não se podem alimentar. A sua única função consiste
em fecundar a fêmea.
Certos Coccídeos são muito nocivos. Entre eles, o piolho-de-
são-josé, Aspidious perniciosus, que nos Estados Unidos da
América faz verdadeiras devastações nas madeiras, pereiras e
outras árvores de fruto; Diversas espécies de lepidosaphes,
cochonilha vírgula, que lembram pequenas conchas de
mexilhões; os Cerastoplastes do género Dactylopius, que
constituem um flagelo para as árvores fruteiras,
particularmente nas estufas, e cujo nome provém da cera
esbranquiçada que cobre o seu escudo, e a cochinilha-da-
laranja, Icerya purchasi.
Nem todos os Cocídeos são somente nocivos. É do Dactylopius
coccus, que vive sobre o cacto nepal, do México, que se
extrai o carmim, e é a Carteria lacca, do Norte da India,
que nos fornece a laca, utilizada na preparação de vernizes,
tintas, lacre e outros produtos domésticos.

Fim do segundo volume

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