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28/09/2018 As Palavras e Vedanta – Vedanta

As Palavras e Vedanta

By Luciano Giorgio

05/11/2015

https://www.vedantaonline.org/as-palavras-e-vedanta/ 1/7
28/09/2018 As Palavras e Vedanta – Vedanta

As palavras foram feitas para revelar coisas. Elas  podem revelar


coisas apenas em termos de espécie, atributo, ação e relação. Por
exemplo, se eu digo a palavra “livro”, você imediatamente entende
do que se trata, porque livro é uma espécie de coisa distinta de
todas as outras. Se eu disser, “livro vermelho”, você também é
capaz de compreender do que eu estou falando, pois a vermelhidão
é um atributo particular prontamente revelado pela palavra
“vermelho”. Palavras como “cozinheiro”, “motorista”, “professor,”
“zelador”, revelam as coisas em termos da ação que elas
desempenham. Finalmente, palavras como “pai”, “marido”, “dono”,
revelam coisas em termos da sua relação com outras coisas.

As palavras podem revelar as coisas apenas na medida em que


essas coisas possam ser enquadradas em uma das quatro
características citadas acima, e o fato é que tudo o que conhecemos
pode ser enquadrado nelas. Mesmo coisas invisíveis e intangíveis
como emoções ou sentimentos estéticos podem ser precisamente
comunicadas por simples palavras. Quando digo que estou com
raiva, a raiva sendo uma espécie distinta de coisas que existem, as
pessoas parecem entender o que eu digo, e, nesse caso, às vezes
entendem tão bem que fingem que não entenderam só para verem
o pobre coitado aqui fazendo careta.

Sentimentos estéticos, ainda que por sua própria natureza sejam


difíceis de definir, como a noção de belo e sublime, podem ser
facilmente comunicados. Quando digo que acho algo belo, tenho
certeza de que comunico algo concreto, inteligível para os demais.

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28/09/2018 As Palavras e Vedanta – Vedanta

Mesmo coisas sensoriais completamente indefiníveis, como os


gostos  doce, salgado, ou amargo, na medida em que são
experimentadas diretamente pelas pessoas, tornam-se também
facilmente comunicáveis pelas palavras que se convencionou para
indica-las.

O munda inteiro, enfim, é abrangido pelas palavras. O assunto de


que Vedanta fala, contudo, não o é. Vedanta não fala sobre algo no
mundo, sobre alguma coisa. O que Vedanta pretende revelar é,
precisamente, o ilimitado.

Qualquer coisa, qualquer objeto (mesmo coisas invisíveis e


intangíveis como sentimentos estão aqui incluídos na noção de
objeto) só pode ser comunicado justamente porque é limitado. É a
limitação que define uma coisa em particular, que a distingue das
demais. A palavra “vaca” comunica algo porque vaca é uma
espécie de coisa particular limitada por não ser todas as outras
coisas. Mesmo uma vaca particular, a Mimosa, pode ser distinguida
de todas as outras vacas porque ocupa um lugar particular no
espaço, distinto de todos os outros lugares; ou seja, porque é
limitada pelo espaço.

Vedanta, contudo, toma para si a peculiar tarefa de, por meio de


palavras, revelar o ilimitado, o que não é distinguível em termos de
objeto, tempo ou espaço. O ilimitado não é alguma coisa dentre
outras, e nem existe no tempo ou no espaço. Não possui qualidades,
não faz ação alguma (nem de ficar parado) e tampouco tem relação
com qualquer coisa que seja. É muito claro que esta “coisa” não
pode ser revelada pelas palavras.

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28/09/2018 As Palavras e Vedanta – Vedanta

É nesse ponto que o Vedanta tradicional se distingue do “Vedanta


moderno”, como pejorativamente Swami Dayanada costumava a se
referir às pessoas que ensinam algo que elas chamam de Vedanta,
mas que não merece esse nome de fato. Porque o “Vedanta
moderno” conclui que, se não pode ser revelado pelas palavras, o
ilimitado deve ser experimentado “na caverna profunda do
coração”!

Essa conclusão é – sendo  educado – bastante constrangedora. Ter


uma experiência significa necessariamente viver um evento
particular no tempo, distinto dos demais eventos e nascido em um
momento particular. Ora, ser algo distinto de outras coisas e ser
produzido no tempo são coisas que rigorosamente não podem ser
atribuídas ao ilimitado. Mas os Neo-vedantinos não se constrangem
com “meras” inconsistências lógicas, fazendo delas inclusive o seu
invencível trunfo: “Você ainda está preso pela lógica porque não
teve A Experiência” – dizem, com um sorriso sereno no rosto, para
a vergonha alheia ser completa, ilimitada.

Mas a objeção é séria: se as palavras não podem revelar o


ilimitado, então Vedanta é uma brincadeira de mau gosto, porque
Vedanta é justamente um meio de conhecimento para o ilimitado
na forma de palavras, e apenas palavras. Como saímos desse beco
sem saída?

É verdade que as palavras não podem, por seu próprio poder


intrínseco, revelar o ilimitado, mas nem sempre as palavras são
usadas no seu sentido literal. Existe o uso implicado das palavras,
por meio do qual o ouvinte consegue largar o seu significado
imediato e entender algo que não foi expressamente dito.

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28/09/2018 As Palavras e Vedanta – Vedanta

É claro que, no uso implicado das palavras que fazemos


cotidianamente, aquilo que fica implicado pode por fim ser dito
por alguma outra palavra, ou pelo acréscimo de alguma palavra
que falta. Por exemplo, quando digo para alguém que tenho uma
casa na praia, esse é um uso implicado das palavras, pois, se
entendida literalmente, a frase dá a entender que minha casa fica
de fato na praia, na areia, e não é esse o caso. Mas, como para bom
entendedor meia palavra basta, não precisamos explicar isso, pois
todo mundo sabe que “casa na praia” significa “casa perto da
praia”. Eu estou certo de que o ouvinte adicionará por si mesmo,
subconscientemente, o advérbio “perto” na frase. Aqui é
importante notar que existe um contexto silencioso e social,
compartilhado, que permite que usemos as palavras desse modo.
Se você disser a mesma frase para um criança pequena que está
começando a entender as coisas, ela certamente imaginará a casa
na areia.

Em Vedanta, o processo de comunicação é similar; existe um


contexto, conhecido somente por professor e aluno e
conscientemente construído, dentro do qual as palavras são
usadas. O aluno torna-se capaz de largar o significado imediato das
palavras que pretendem revelar o ilimitado, mas reter o sentido
essencial, por assim dizer. Por exemplo, a palavra “existência”,
quando usada para definir o ilimitado, não tem o significado
comum e literal de um atributo de um objeto. Pois só entendemos a
palavra existência como uma condição, uma espécie de atributo de
um objeto qualquer. Quando dizemos que o livro existe, existência
é entendida como algo que pertence ao livro. O livro é que tem
existência. Por si mesma, sem qualificar algum objeto, não
entendemos o que significa “existência”. Nada definido nos vem à
mente pela mera pronúncia da palavra.

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28/09/2018 As Palavras e Vedanta – Vedanta

Entretanto, quando Vedanta usa essa palavra, no contexto do


ensinamento, o aluno larga naturalmente o sentido limitado e
condicionado por objetos, mas retém o essencial implicado na
noção de existência – aquilo que existe sempre, não condicionado
por tempo, espaço ou objeto. Essa “pura existência” não é, na
cabeça do aluno, um conceito abstrato, mas o seu próprio fato de
ser, na medida em que essa “existência” é usada em conjunto com
a palavra “consciência”. Consciência aqui, é claro, não tem o
sentido imediato e comum de algo que é um atributo do sujeito,
separado dos objetos, ou de uma “energia” produzida pelo cérebro.
Consciência é o fato auto-evidente que permeia a tríade
conhecedor-conhecimento-conhecido em qualquer momento da
nossa experiência.

Este artigo não tem a mais mínima pretensão de revelar o


significado do ilimitado, isto é, não pretende substituir o contexto
do ensinamento tradicional de Vedanta, mas apenas dar um
lampejo de entendimento de como as palavras funcionam em
Vedanta. Isso porque há um muito natural mal-entendido de que as
palavras em Vedanta são usadas com o seu sentido imediato,
literal, o que é um engano bastante traiçoeiro, pois leva as pessoas
ao seguinte raciocínio: “Eu já entendi que eu sou o ilimitado, mas
agora eu preciso “realizar” isso, “experimentar” isso.” Na verdade, a
pessoa não entendeu nada, zero, bulhufas, patavinas, apenas
pegou no ar a palavra “ilimitado” (que no seu sentido imediato é
apenas um conceito lógico, abstrato) e, ficando sem nada, concluiu
naturalmente que deve “realizar” isso, o que é uma infelicíssima
conclusão. Normalmente, contudo, talvez mesmo em cem por cento
dos casos, essa confusão é culpa unicamente do professor, e não do
pobre aluno.

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