Vous êtes sur la page 1sur 20

 

População e escravidão nas Minas Gerais, c. 17201


Tarcísio Rodrigues Botelho2

Na última década do século XVII, a descoberta do ouro nos sertões da América


portuguesa provocou a interiorização do seu povoamento, o rápido aumento da sua
população e o reforço do sistema escravista colonial. Em menos de três décadas,
constituiu-se toda uma sociedade peculiar na região das Minas Gerais, provocando
inclusive a sua autonomia administrativa.3 A historiografia econômica sempre enfatizou
este rápido crescimento demográfico gerado pelas descobertas de ouro e,
posteriormente, de diamantes no interior da porção meridional da colônia. O forte
poder atrativo da mineração sobre a população metropolitana está na raiz da verdadeira
explosão demográfica que se segue. As possibilidades (reais e imaginárias) de rápido
enriquecimento foram as motivadoras deste deslocamento, para a América, de
portugueses de origens as mais diversas.4
Aliado a isto, a abertura de uma nova frente de expansão econômica deu-se com
base no trabalho escravo, dando continuidade a este que é um dos grandes traços
característicos da colonização das Américas. Em função disso, o boom aurífero
provocou o rápido incremento do tráfico atlântico de escravos.5
Apesar das profundas transformações demográficas provocadas pela descoberta
e exploração do ouro, poucos trabalhos têm se dedicado a este aspecto da sociedade
mineradora do século XVIII. A ausência de levantamentos populacionais típicos,
origem das fontes tradicionalmente usadas pelos demógrafos historiadores, é um dos
fatores que restringe tais estudos. Assim, alguns autores que têm abordado o tema
procuram recorrer a fontes não propriamente demográficas mas que podem se prestar ao
estudo da população.6
Uma das fontes que se prestam a tal uso são as fiscais. No caso das regiões
mineradoras, um conjunto significativo de informações pode ser extraído das listas de

1
Trabalho apresentado no 12º Encontro da Associação Brasileira de Estudos de População – ABEP, GT
População e História, realizado em Caxambu (MG), outubro de 2000.
2
Doutor em História Social pela USP, professor do Departamento de História e do Mestrado em Ciências
Sociais: Gestão das Cidades da PUCMinas.
3
Para uma visão panorâmica sobre a região mineradora, ver HOLANDA (1986).
SIMONSEN (1977), PRADO JR. (1986), FURTADO (1986) e SOUZA (1982).
CURTIN (1969) e KLEIN (1990).
 

proprietários de escravos produzidas para orientar a cobrança dos quintos reais. Embora
tais fontes sejam conhecidas e já tenham sido utilizadas por diversos autores, elas ainda
não foram exploradas de modo sistemático. Este é o trabalho que pretendo realizar aqui.
A partir das listas de proprietários de escravos para pagamento dos quintos reais,
pretendo tecer algumas considerações sobre a população das Minas Gerais. Para tanto,
inicio com uma discussão sobre esta fonte, dizendo da sua finalidade original, das
condições de sua produção e das potencialidades e limites de seu uso. Em seguida,
traço um painel da propriedade em escravos e caracterizo os proprietários destes
cativos. Finalmente, procuro apresentar uma estimativa da população das áreas
mineradoras em princípios da década de 1720, concluindo com um rápido contraste face
à situação do final do século XVIII.

AS LISTAS DE PROPRIETÁRIOS DE ESCRAVOS PARA COBRANÇA DOS


QUINTOS REAIS

O surgimento da atividade mineradora em sua colônia americana colocou para a


Coroa portuguesa um conjunto de problemas que ela ainda não conhecia. O principal
deles era estabelecer um método eficaz para a cobrança dos tributos devidos pelos
súditos ao soberano. A experiência com a plantation açucareira era pouco útil porque o
ouro tinha uma característica bastante peculiar. Tratava-se de uma “mercadoria” que
prescindia dos mecanismos tradicionais do mercado colonial para se transformar em
moeda, já que o ouro é, ele próprio, um meio de troca universal. Desta forma, as
facilidades de evasão fiscal eram enormes, e a cobrança dos tributos reais requereria
uma nova abordagem.
A tributação básica sobre a atividade mineradora foi o quinto real. Segundo
BESSA (1981, p. 280), o quinto consistia em pagamento a ser feito pelo povo da
Capitania para remissão da capitação, sofrendo inúmeras alterações ao longo dos anos.
As câmaras das vilas, instaladas na região das minas a partir de 1711, foram as
responsáveis pela negociação do volume de ouro a ser pago à Coroa pelos povos que
nelas viviam. O total de arrobas a ser apurado e o valor a ser pago por cada vila eram
definidos pelas reuniões das Juntas feitas pelas vilas, e suas decisões eram fixadas pelos


COSTA (1982), LUNA & COSTA (1982), BERGARD (1999), HIGGINS (1999) e PALACIN (1994)
 

Termos das Juntas. A cobrança era realizada diretamente pelas Câmaras ou através de
procuradores nomeados por ela. Tinha como base a quantidade de escravos de cada
minerador, devendo ser fixado a cada ano o valor a ser pago sobre cada cativo. Em
função disto, ao longo das décadas de 1710 e 1720, a organização da cobrança deste
tributo deu origem a uma série de listas de proprietários de escravos.7
Para os anos iniciais da década de 1720, sobreviveram muitas destas listas, que
cobrem quase todas as vilas da região mineradora. Para a Vila Rica, pude localizar uma
lista para 1721 e outra para 1722, contendo o nome dos proprietários e o total de
escravos de cada um deles.8 Da Vila de Sabará, pude identificar uma lista que refere-se
ao ano “de 1720 para 1721”, para a qual assumi referir-se ao ano de 1721.9 Quanto à
Vila de São José Del Rei, localizei duas listas, uma para 1722 e outra para 1723. 10 A
Vila de Pitangui possui um conjunto de listas para os anos de 1718 a 1724.11 Para a Vila
de São João Del Rei, existem listas cobrindo os anos de “1716 para 1717” até “1719
para 1720”; entretanto, apenas a primeira parece ser realmente completa. 12 Dentre as
vilas instaladas na região das minas por volta do ano de 1720, apenas não pude contar
com informações detalhadas para a Vila do Carmo e a Vila do Príncipe. Entretanto, para
a Vila do Carmo existem listas para períodos imediatamente posteriores ao que me
interessa aqui, além de informações resumidas sobre o total de escravos em cada
distrito; utilizarei, adiante, as informações resumidas para o ano de 1721.13
Por ser uma fonte produzida com finalidades fiscais, apresenta problemas
comuns a todas deste tipo. A principal delas é a sonegação de informações, com a
finalidade de fugir da tributação, o que geraria um subregistro da população escrava que
se pretende estudar. Este é um problema comum não apenas a este tipo de fonte mas,
creio, a todos os levantamentos de habitantes produzidos no período pré-censitário. O
temor de que os levantamentos populacionais fossem utilizados para fins como a coleta
de impostos ou a convocação para o serviço militar era generalizado e certamente


7
A regulamentação sobre a confecção destas listas para o ano de 1718 pode ser vista em: Arquivo
Público Mineiro (doravante APM), CC, Códice 1026.
8
APM, CMOP 11.
9
APM, CMS 02.
10
APM, CC 1046.
11
APM, CC 1038.
12
APM, CC 1012.
13
Arquivo da Câmara Municipal de Mariana (doravante ACMMM), Livro 648.
 

influenciou todas as tentativas de se contar a população.14 No caso das listas dos quintos
reais, embora possa se dizer que certamente a sonegação esteve presente, creio que ela
pode ter sido minimizada pela proximidade do coletor das informações. Afinal, eram
indivíduos escolhidos pelas próprias câmaras, morando na vila e conhecendo a sua
população, que seriam os encarregados de fazer as listas. Além disso, este tipo de
tributo gerava uma “solidariedade” entre a população tributada, pois era necessário
completar uma certa quantidade de arrobas de ouro, pactuada entre as câmaras da região
mineradora. O imposto sonegado por um minerador teria de ser pago por outro, até que
se completasse o total de arrobas designado. Deste modo, creio que se pode considerá-la
uma fonte nem melhor nem pior que as outras nas quais têm se baseado os estudos
demográficos do período pré-censitário brasileiro.

OS PROPRIETÁRIOS DE ESCRAVOS EM MINAS GERAIS NA DÉCADA DE 1720

As listas dos quintos reais permitem que vislumbremos o perfil da posse de


escravos neste momento ainda de consolidação da área mineradora das Minas Gerais. A
primeira aproximação possível de se fazer é percorrer as diversas vilas recém-
estabelecidas e que serviam de referência para a coleta do tributo. A primeira a nos
interessar é a Vila Rica, criada em julho de 1711 a partir dos arraiais de Ouro Preto e
Antônio Dias.15 Estes e outros arraiais da região foram surgindo a partir da década de
1690, concentrando uma significativa população de mineradores. Em 1721, foram
listados 10741 escravos pertencentes a 1757 proprietários, além de 140 escravos “dos
moradores de Capanema”. Havia uma média de 6,11 cativos por proprietário.
Distribuindo-se os cativos segundo faixas de tamanho dos plantéis, vê-se que a maior
parte pertencia a proprietários que detinham de 10 a 19 cativos, apresentando em média
13,10 escravos. Por outro lado, a maioria dos proprietários possuía de 1 a 4 escravos,
com uma média de 2,18 cativos por plantel. Havia 5 grandes plantéis, com uma média
de 64 cativos cada (Tabela 1).


14
Para uma discussão mais aprofundada sobre os problemas com a realização de levantamentos
populacionais pré-censitários no Brasil, ver BOTELHO (1998).
15
Embora a primeira vila da região mineradora tenha sido a Vila do Carmo, criada em abril de 1711 no
arraial do Carmo, ela não será objeto de análise devido à ausência de informações tão detalhadas quanto
as das outras vilas analisadas. As informações sobre as datas de instalação das vilas mineiras foram
retiradas de BARBOSA (1995).
 

Tabela 1
Posse de Escravos, Vila Rica, 1721
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 2174 998 2,18
5-9 2865 441 6,50
10-19 3012 230 13,10
20-49 2370 83 28,55
50 e mais 320 5 64,00
Total 10741 1757 6,11
Obs.: Mais 140 escravos dos moradores de Capanema
Fonte: APM, CMOP 11.

Contrapondo-se os distritos que compunham a sede da vila (aqui considerados


como Ouro Preto, Antônio Dias e Padre Faria) com os outros distritos do termo da vila,
surgem características interessantes. Para todas as faixas de tamanho de plantel, a média
observada fora da vila é superior à observada na sede. A exceção fica com aqueles
planteis com 50 ou mais cativos; pode-se ressaltar, entretanto, que havia 3 plantéis desta
natureza fora da sede da vila, enquanto nesta eram apenas dois (Tabelas 2 e 3).

Tabela 2
Posse de Escravos, Vila Rica, 1721
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 831 395 2,10
5-9 822 126 6,52
10-19 726 57 12,74
20-49 516 19 27,16
50 e mais 133 2 66,50
Total 3028 599 5,06
Fonte: APM, CMOP 11.

Tabela 3
Posse de Escravos, Arraiais do Termo de Vila Rica, 1721
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 1343 603 2,23
5-9 2043 315 6,49
10-19 2286 173 13,21
20-49 1854 64 28,97
 

50 e mais 187 3 62,33


Total 7713 1158 6,66
Fonte: APM, CMOP 11.

A Vila de Sabará, criada em julho de 1711 e situada mais ao norte de Vila Rica,
tornou-se ao longo do século XVIII um dos principais núcleos urbanos das minas, sendo
sede de comarca desde 1714. Aqui, a lista de 1721 apontou um total de 5992 cativos
pertencentes a 912 proprietários, com uma média de 6,57 cativos por plantel. Assim
como em Vila Rica, os cativos eram encontrados principalmente nos plantéis de 10 a 19
cativos, com uma média de 13,28 cativos por plantel. Mas, novamente, eram os
proprietários de 1 a 4 cativos que predominavam, detendo em média 2,26 escravos. Os
seis grandes plantéis contavam com 364 cativos, com uma média de 60,67 escravos
(Tabela 4).

Tabela 4
Posse de Escravos, Sabará, 1721
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 1173 519 2,26
5-9 1334 200 6,67
10-19 1886 142 13,28
20-49 1235 45 27,44
50 e mais 364 6 60,67
Total 5992 912 6,57
Fone: APM, CMS 02.

O contraponto entre a sede da vila e os seus outros distritos mostra mais uma vez
o predomínio de plantéis maiores fora do núcleo urbano principal. Apenas os
proprietários com 20 a 49 cativos possuíam plantéis maiores dentro da sede da vila:
média de 32,29 cativos contra 26,55 fora da vila. Em compensação, inexistiam plantéis
com 50 ou mais cativos dentro da vila, estando fora dela aqueles 6 grandes proprietários
já referenciados (Tabelas 5 e 6).

Tabela 5
Posse de Escravos, Vila de Sabará, 1720-1721
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 284 127 2,24
 

5-9 242 37 6,54


10-19 281 22 12,77
20-49 226 7 32,29
50 e mais - -
Total 1033 193 5,35
Fone: APM, CMS 02.

Tabela 6
Posse de Escravos, Arraiais do Termo da Vila de Sabará, 1720-1721
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 889 392 2,27
5-9 1092 163 6,70
10-19 1605 120 13,38
20-49 1009 38 26,55
50 e mais 364 6 60,67
Total 4959 719 6,90
Fone: APM, CMS 02.

Da Vila de Sabará, passemos para o sul, para a Vila de São José Del Rei, criada
em janeiro de 1718. Quatro anos após, a sua lista para o quinto real continha 3357
cativos pertencentes a 494 escravos. Neste caso, a maior parte dos cativos vivia em
plantéis na faixa de 20 a 49 escravos, com uma média de 26,35 por propriedade.
Novamente, a maioria dos proprietários detinha de 1 a 4 cativos, com uma média de
2,25 escravos. Os donos de 50 ou mais cativos eram 4, com uma média de 60,25 cativos
para cada um (Tabela 7).

Tabela 7
Posse de Escravos, São José Del Rei, 1722
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 624 277 2,25
5-9 802 119 6,74
10-19 794 60 13,23
20-49 896 34 26,35
50 e mais 241 4 60,25
Total 3357 494 6,80
Fonte: APM, CC 1046.
 

O contraponto entre a sede da vila e os outros distritos e arraiais revela realidade


semelhante ao que vimos atrás. As médias eram maiores em todas as faixas de tamanho
para os plantéis localizados fora da sede da vila, à exceção daqueles com 20 a 49
cativos. Para compensar este fato, os dois plantéis com 50 ou mais escravos fora da vila
eram significativamente maiores que os dois plantéis de mesmo tamanho situados
dentro da sede da vila: média de 64,5 cativos para os primeiros e 56 para os outros
(Tabelas 8 e 9).
Tabela 8
Posse de Escravos, Vila de São José Del Rei, 1722
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 136 72 1,89
5-9 139 22 6,32
10-19 162 13 12,46
20-49 172 6 28,67
50 e mais 112 2 56,00
Total 721 115 6,27
Fonte: APM, CC 1046.

Tabela 9
Posse de Escravos, Arraiais do Termo da Vila de
São José Del Rei, 1722
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 488 205 2,38
5-9 663 97 6,84
10-19 632 47 13,45
20-49 724 28 25,86
50 e mais 129 2 64,50
Total 2636 379 6,96
Fonte: APM, CC 1046.

Mais a oeste, podemos observar a Vila de Pitangui, criada em junho de 1715.


Sua lista apresentou um total de 898 cativos, pertencentes a 125 proprietários.16 Embora
a média de 7,18 cativos por proprietário seja superior às das demais vilas, deve-se
ressaltar a ausência dos plantéis com 50 ou mais cativos. Para esta vila, a maior parte
dos cativos estava em plantéis com 20 a 49 escravos, mas os proprietários novamente se
concentravam entre aqueles que possuíam de 1 a 4 cativos (Tabela 10).


16
Este pequeno número de cativos e de proprietários deve-se ao fato da lista abarcar somente a sede da
vila. Ainda não pude determinar se este fato se deve à ausência de outros arraiais mineradores na época
ou se a problemas com a preservação dos outros documentos.
 

Tabela 10
Posse de Escravos, Pitangui, 1722
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 166 66 2,52
5-9 208 33 6,30
10-19 230 16 14,38
20-49 294 10 29,40
50 e mais 0 0 -
Total 898 125 7,18
Fonte: APM, CC 1038.

A última vila que abordarei será a de São João Del Rei. Embora seja a quarta
vila mais antiga da região mineradora, criada em dezembro de 1713, optei por tratá-la
separadamente dada a diferença cronológica dos dados obtidos para ela: refere-se a
1717, enquanto as outras são de 1721 ou 1722. A lista de escravos de 1717 trazia um
total de 3337 cativos pertencentes a 521 proprietários, uma média de 6,4 cativos por
plantel. A maior parte dos cativos estava em plantéis de 10 a 19 cativos, mas os
proprietários, novamente, se concentravam na faixa que detinha de 1 a 4 escravos.
Havia dois grandes plantéis, com uma média de 80 cativos cada (Tabela 11).

Tabela 11
Posse de Escravos, São João Del Rei, 1717
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 608 279 2,18
5-9 850 134 6,34
10-19 1025 78 13,14
20-49 694 28 24,79
50 e mais 160 2 80,00
Total 3337 521 6,40
Fonte: APM, CC 1012.

A sede da vila apresentava padrões ligeiramente diferenciados face aos seus


outros distritos. Entretanto, estas diferenças assumia um sentido diferente do observado
para as outras localidades, pois o tamanho médio dos plantéis era superior dentro da vila
 

(6,84 cativos por proprietário) e inferior fora dela (6,31). Dentre as diferentes faixas de
tamanho de plantel, apenas aqueles de 5 a 9 escravos apresentavam uma média inferior:
5,80 escravos na vila e 6,41 fora dela. Além disso, o único plantel com mais de 50
escravos na vila possuía 60 cativos, enquanto fora dela havia um único com 100 cativos
(Tabelas 12 e 13).

Tabela 12
Posse de Escravos, Vila de São João Del Rei, 1716-1717
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 129 58 2,22
5-9 87 15 5,80
10-19 190 13 14,62
20-49 163 5 32,60
50 e mais 60 1 60,00
Total 629 92 6,84
Fonte: APM, CC 1012.

Tabela 13
Posse de Escravos, Arraiais do Termo de São João Del Rei, 1716-1717
FTP Escravos Proprietários Média
1-4 479 221 2,17
5-9 763 119 6,41
10-19 835 65 12,85
20-49 531 23 23,09
50 e mais 100 1 100,00
Total 2708 429 6,31
Fonte: APM, CC 1012.

Deste rápido giro pelo pelo perfil dos escravistas fixado pelas listas dos quintos
das vilas mineiras, alguns aspectos comuns podem ser ressaltados. Primeiramente, havia
uma grande similaridade no padrão de propriedade de escravos nas minas. O plantel
médio se assemelhava em todas elas, situando-se entre 6 e 7 cativos por proprietário.
Além disso, todas concentravam seus cativos nas faixas de tamanho de plantel de 10 a
19 (Vila Rica, Sabará e São João Del Rei) ou 20 a 49 cativos (São José Del Rei e
Pitangui). Os grandes plantéis eram pouco numerosos, chegando a 17 proprietários com
 

mais de 50 cativos nas cinco vilas analisadas (um total de 1085 cativos, ou 63,82
escravos por plantel). Infelizmente, não existem dados semelhantes para outras
localidades brasileiras na mesma época. Entretanto, é possível dizer, a partir de
evidências esparsas, que este é um padrão de propriedade de escravos mais
desconcentrado do que o observado, por exemplo, na plantation açucareira bahiana.17
Outro aspecto de relevo é o predomínio de plantéis menores nas sedes das vilas em
comparação com o observado nos outros distritos, com a única exceção da Vila de São
João Del Rei. Talvez se possa especular que uma incipiente urbanização já apontava
para esta diferenciação que marca a escravidão brasileira, qual seja, o predomínio de
plantéis menores nos núcleos urbanos.

A POPULAÇÃO DE MINAS GERAIS EM PRINCÍPIOS DA DÉCADA DE 1720

As informações sobre a população cativa contidas nas listas dos quintos reais
permitem ainda que se extraia um novo tipo de dado. Creio que é possível, a partir
delas, elaborar uma estimativa da população de Minas Gerais em princípios da década
de 1720. Inicialmente, temos o total da população escrava, obtida de maneira direta a
partir das listas de quintos. Para Vila Rica e Sabará, o ano de referência é 1721.
Podemos acrescentar a elas a Vila do Carmo, para a qual temos o total da população
cativa no ano de 1721, embora não tenhamos sua distribuição tão detalhada como para
as outras vilas. Para São José Del Rei e Pitangui, o ano de referência é 1722.
Resta apenas a vila de São João Del Rei, importante centro minerador para o
qual temos dados apenas para o anos de 1717. O primeiro desafio, portanto, é estimar a
população escrava de São João Del Rei quatro anos depois, em 1721. Para tanto,
proponho uma comparação com o comportamento da população cativa das outras vilas
na mesma época. Temos dados disponíveis para Pitangui em 1718 e 1722, Vila Rica em
1721 e 1722 e São José Del Rei em 1722 e 1723.18 Além disso, existem dados para um


17
Ver, por exemplo, SCHWARTZ (1988, p. 255), para uma área bahiana em 1788.
18
Pitangui: APM, CC 1038; Vila Rica: APM, CMOP 11; São José Del Rei: APM, CC 1046.
 

pequeno distrito de São João Del Rei em 1717 e 1720.19 A partir da comparação das
taxas de crescimento anual destas localidades, creio ser possível alcançar um índice que
possa ser aplicado a São João Del Rei.
Comecemos por Pitangui. Para esta vila, em 1718 haviam 297 cativos, em 1720
eles chegavam a 420 e em 1722 eram 898. Assim, cresceram a uma taxa anual de
17,33% entre 1718 e 1720 e 38,00% entre 1720 e 1722.20 Obviamente, são taxas
elevadíssimas, refletindo o comportamento de uma região que estava sendo ocupada
rapidamente. De fato, o ouro provocou um deslocamento bastante rápido de colonos
para aquela área, gerando conflitos que tiveram o seu ápice com os chamados motins do
Pitangui, entre 1717 e 1720.21 A partir da derrota dos amotinados e da forte repressão
que se seguiu, a região deve ter entrado em uma fase de estabilidade que permitiu um
crescimento vertiginoso de suas atividades econômicas. Daí o crescimento ainda mais
intenso após 1720. Podemos admitir ser este o padrão de crescimento de uma área ainda
sendo aberta à mineração.
Em São José Del Rei, foram listados 3357 cativos em 1722 e 3961 em 1723;
portanto, um crescimento anual de 16,54%. Também esta é uma taxa de incremento
muito elevada. Refere-se a uma região que, embora não esteja mais no início da sua
ocupação, ainda conhece uma expansão acentuada, com a abertura de novos garimpos e
a chegada de novos mineradores.
Para Vila Rica, o cenário é distinto. De 10881 cativos em 1721, a área passou
para 11870 em 1722, com um incremento de 8,70% no ano. Como estamos falando do
lugar que primeiro foi ocupada pelos mineradores, sede da segunda vila mais antiga da
capitania (após a Vila do Carmo), estamos tratando de uma região já consolidada, com
uma população estabelecida e com a ocorrência de poucas áreas novas se abrindo à
mineração aurífera. Assim, sua capacidade de atrair novos povoadores era bastante
reduzida à época; daí uma taxa de crescimento demográfico menor.


19
São João Del Rei: APM, CC 1023.
20
Para calcular o crescimento anual, uso a seguinte equação: Pt=Po.ert, onde: Pt é a população no
momento final, Po é a população no momento inicial, r é a taxa de incremento anual e t é o período de
tempo em anos.
21
Sobre os motins de Pitangui, veja-se ANASTASIA (1998, p. 87-98).
 

Um pequeno distrito de São João Del Rei pode servir como um contraponto a
esta diversidade encontrada.22 Em 1718, os proprietários de escravos deram à lista dos
quintos reais um total de 183 cativos, número que elevou-se a 208 em 1720. Assim,
houve um incremento anual de 6,40% entre estes dois anos. É uma taxa modesta, que
certamente reflete uma localidade de reduzido poder de atração de mineradores, muito
embora conheça um crescimento significativo na sua população cativa.
Face a evidências tão díspares, como se comportar em relação ao termo de São
João Del Rei? Sugiro que se adote uma taxa de crescimento anual compatível com
aquela observada para Vila Rica. Muito embora São João Del Rei seja vizinho a São
José Del Rei, neste momento a expansão da “fronteira mineradora” estava se dando
muito mais em direção a este último que ao primeiro. Creio que a realidade mais
próxima a São João seja aquela encontrada para Vila Rica: uma área já consolidada,
ainda atrativa aos mineradores porém sem a mesma intensidade que a observada nas
novas regiões auríferas.
Aceitas estas ponderações, proponho para a região três cenários possíveis para o
comportamento de sua população entre 1717 e 1721 (Tabela 14). No primeiro deles,
uma taxa de incremento anual de 7% significa estimar a população escrava local em
11120 indivíduos em 1721. Alternativamente, uma taxa anual de 8% significa estimar
esta população em 11565 indivíduos. Finalmente, se adotarmos uma taxa de
crescimento de 9% ao ano, teremos em 1721 um total de 11958 escravos.

Tabela 14
População Escrava, São João Del Rei, 1717 e 1721
Ano Escravos Cresc. Anual (%)
1717 3337
1721 11120 7
1721 11565 8
1721 11958 9
Fonte: APM, CC 1012.

Para alcançar o propósito de estimar a população da área mineradora em 1720-


1721, devemos construir, ainda, uma estimativa da população livre. Neste caso, as
dificuldades são ainda maiores, porque inexistem levantamentos populacionais

22
Infelizmente, ainda não consegui identificar a qual distrito o documento se refere, pois no APM ele está
identificado apenas como São João Del Rei.
 

completos para a primeira metade do século XVIII, que permitam uma aproximação ao
percentual de livres em uma população mineradora ainda em expansão. Para o ano de
1786, a partir de um quadro já conhecido da população mineira, havia 174135 cativos
em uma população total de 362847 habitantes na Capitania de Minas Gerais. Eram,
portanto, 52% de livres e 48% de cativos. Em 1805, eram 188781 cativos para uma
população de 407004 habitantes; portanto, 53,6% de livres e 46,4% de escravos.23
Com base nesta aproximação, construí três hipóteses sobre a participação dos
livres na população total da região mineradora. A primeira hipótese prevê uma
população livre correspondente a 50% da população total; é, portanto, uma hipótese
conservadora, já que imagina uma situação semelhante àquela encontrada em fins do
século XVIII e princípios do século XIX. A segunda hipótese prevê a população livre
respondendo por 40% da população total, o que significaria um predomínio de cativos
relativamente moderado. A terceira hipótese é a mais radical, pois prevê que apenas
33,3%, ou um terço, da população era livre em 1720-1721; haveria, portanto, dois
escravos para cada livre.
Já havia construído três cenários para a população escrava de São João Del Rei
em 1721; assim, apresento adiante as tabelas que contemplam as três hipóteses acima
descritas nos três cenários traçados para São João Del Rei (Tabelas 15, 16 e 17). Na
verdade, os cenários diferentes para São João Del Rei não afetam em muito a estimativa
da população. Assim, vou me ater ao sentido geral das três hipóteses no conjunto das
tabelas.

Tabela 15
Estimativa para a População de Minas Gerais, 1720-1721
VILA ESCRAVOS LIVRES TOTAL
Hipótese 1 Hipótese 2 Hipótese 3 Hipótese 1 Hipótese 2 Hipótese 3
50% 40% 33,3%
Vila Rica (1721) 10881 10881 7254 5432 21762 18135 16313
Vila do Carmo (1721) 13326 13326 8884 6653 26652 22210 19979
Sabará (1721) 5972 5972 3981 2982 11944 9953 8954
São João Del Rei (1721) 11120 11120 7413 5552 22240 18533 16672
São José Del Rei (1722) 3357 3357 2238 1676 6714 5595 5033
Pitangui (1722) 898 898 599 448 1796 1497 1346
TOTAL 45554 45554 30369 22743 91108 75923 68297


23
Dados obtidos em: APM, Coleção Casa dos Contos, Planilha 30099/2 (microfilmada).
 

Tabela 16
Estimativa para a População de Minas Gerais, 1720-1721
VILA ESCRAVOS LIVRES TOTAL
Hipótese 1 Hipótese 2 Hipótese 3 Hipótese 1 Hipótese 2 Hipótese 3
50% 40% 33,3%
Vila Rica (1721) 10881 10881 7254 5432 21762 18135 16313
Vila do Carmo (1721) 13326 13326 8884 6653 26652 22210 19979
Sabará (1721) 5972 5972 3981 2982 11944 9953 8954
São João Del Rei (1721) 11565 11565 7710 5774 23130 19275 17339
São José Del Rei (1722) 3357 3357 2238 1676 6714 5595 5033
Pitangui (1722) 898 898 599 448 1796 1497 1346
TOTAL 45999 45999 30666 22965 91998 76665 68964

Tabela 17
Estimativa para a População de Minas Gerais, 1720-1721
VILA ESCRAVOS LIVRES TOTAL
Hipótese 1 Hipótese 2 Hipótese 3 Hipótese 1 Hipótese 2 Hipótese 3
50% 40% 33,3%
Vila Rica (1721) 10881 10881 7254 5432 21762 18135 16313
Vila do Carmo (1721) 13326 13326 8884 6653 26652 22210 19979
Sabará (1721) 5972 5972 3981 2982 11944 9953 8954
São João Del Rei (1721) 11958 11958 7972 5970 23916 19930 17928
São José Del Rei (1722) 3357 3357 2238 1676 6714 5595 5033
Pitangui (1722) 898 898 599 448 1796 1497 1346
TOTAL 46392 46392 30928 23161 92784 77320 69553

A Hipótese 1, mais conservadora, admitindo que 50% da população era livre,


indica um total de livres em torno de 46 mil pessoas e uma população total de cerca de
92 mil habitantes nestas seis vilas da região mineradora. A Hipótese 2, admitindo que
40% da população era livre, reduz este segmento para 30,5 mil e considera uma
população de livres e cativos em torno de 69 mil habitantes. A Hipótese 3, por sua vez,
aponta para uma população com um perfil mais escravagista, com cerca de 23 mil livres
e um total de cerca de 69 mil livres e cativos.
Estes números referem-se a 6 vilas da região das minas, tendo ficado de fora a
Vila do Príncipe, situada no extremo norte da região que estamos estudando. Nesta
localidade, o ouro foi descoberto já nos primeiros anos do século XVIII, e em janeiro de
1714 foi criada a 5ª vila das minas. Dali saíram expedições que alongaram os
 

descobertos auríferos para o extremo norte, cabendo a Minas Novas, já no final da


década de 1720, a sede de mais uma vila. Para o momento que nos interessa, era a
localidade do Serro do Frio, arraial sede da Vila do Príncipe, o principal núcleo
povoador da região; mas, como já destaquei, não localizei suas listas dos quintos reais.
Proponho, para superar o problema, que se recorra ao mapa da população de
Minas Gerais de 1776.24 Já bastante explorado por aqueles que lidam com a história da
região, ele traz o total de habitantes das quatro comarcas existentes no momento em que
foi confeccionado. Creio ser possível usar o peso da Comarca do Serro para estimar a
participação da Vila do Príncipe no total de habitantes das minas em 1721-1722.
Segundo BERGARD (1999, p. 89-90), os dados da Comarca do Serro não incluem a
região de Minas Novas. Como, todavia, esta área ainda não estava aberta à exploração
aurífera (seus descobertos são posteriores ao período que estudo), o resultado obtido é
um bom reflexo do que seria a participação dos habitantes da Vila do Príncipe na
população total das minas em 1721-1722.
Em 1776, haveria 319769 habitantes em Minas Gerais, dos quais 58794
habitavam a comarca do Serro Frio, ou 18,39% da população mineira. Deve-se ponderar
que tal participação da Vila do Príncipe pode estar superestimada. Por volta de 1720,
esta área estava ainda se abrindo aos mineradores, o que é evidente pelos descobertos
que se seguem ao norte, em torno da futura vila de Minas Novas. É de se supor,
portanto, que a sua participação no total de habitantes de Minas Gerais em 1776 seja
superior àquela de 1721-1722. Podemos, portanto, imaginar uma participação entre 15%
e 18%.
Com base nestas estimativas, construí a Tabela 18. Por ela, a região das minas
apresentaria uma população oscilando entre 81 mil e 112 mil habitantes em 1721-
1722.25 Esta variação deve-se à consideração das três hipóteses construídas
anteriormente (Tabelas 15, 16 e 17) e à consideração de duas possibilidades para
estimar a participação da Vila do Príncipe no total de habitantes das minas: 1) 15%; e,
2) 18%.


24
Memória histórica da Capitania de Minas Gerais. Revista do Arquivo Público Mineiro, Ano II,
Fascículo 3, Julho a Setembro de 1897. Reedição. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1937. p. 511.
25
Para simplificar o cálculo, adotei uma média aritmética dos três valores encontrados para cada uma das
três hipóteses em função das diferentes estimativas para o crescimento da população de São João Del Rei
entre 1717 e 1722; ver Tabelas 15, 16 e 17 e seus comentários.
 

Neste momento, julgo pertinente adotar algumas decisões sobre estes resultados.
Em primeiro lugar, creio poder-se admitir que a população livre das minas em 1721-
1722 situava-se em torno de 40% do total de seus habitantes. O índice de 50% é muito
elevado, já que implicaria admitir que ele manteve-se inalterado ao longo de todo o
período minerador e mesmo após a sua crise. Desta forma, estaríamos ignorando a
própria dinâmica da sociedade escravista, que sempre contou com taxas significativas
de alforrias, além de ter atraído contingentes cada vez mais numerosos de livres
pobres.26 Por outro lado, considerar que apenas um terço da sua população era livre é
imaginar uma situação bastante radical, especialmente se obervarmos o perfil dos
plantéis escravistas da região, analisado na primeira parte deste trabalho. A região
mineradora era marcada pelo grande número de pequenas posses, o que certamente
implicaria em uma presença significativa de população livre (e liberta).
Em segundo lugar, julgo pertinente estabelecer o peso da população da Vila do
Príncipe sobre a população das minas em 15%. Como já afirmei, em 1721-1722 esta
região estava ainda sendo desbravada pelos portugueses. Seus descobertos haviam
ocorrido a apenas duas décadas, e ainda era uma área onde estavam sendo abertas novas
frentes mineradoras. Portanto, é de se imaginar que representasse um percentual
ligeiramente inferior ao que apresentava em 1776 (18,39%), referência que usei para
estabelecer os dois índices da Tabela 18.

Tabela 18
Estimativa para a população de Minas Gerais, 1721-1722
Hipótese 1 Hipótese 2 Hipótese 3
6 Vilas 91963 76636 68938
Vila do Príncipe - 1 16229 13524 12166
Vila do Príncipe - 2 20187 16823 15133
Total de Minas Gerais - 1 108192 90160 81104
Total de Minas Gerais - 2 112150 93459 84071
Obs.: 1: considerando-se a Vila do Príncipe com uma população equivalente a 15% da
população mineira.
2: considerando-se a Vila do Príncipe com uma população equivalente a 18% da
população mineira.

Admitindo-se estas ponderações, pode-se dizer que a população das minas em


1721-1722 apresentava um total de aproximadamente 90 mil habitantes. Em cerca de 30


26
Sobre estes aspectos da sociedade escravista mineira, ver SOUZA (1982) e PAIVA (1995).
 

anos, a região saíra de uma ausência absoluta de população “europeizados”27 para quase
uma centena de habitantes, graças à “imantação” gerada pelo ouro.
Resta fazer um rápido exercício: comparar este total de habitantes nas minas em
princípios da década de 1720 com os dados disponíveis para o último quartel do século
XVIII, momento da crise da mineração. Entre 1721-1722 e 1776, a população teria
crescido a uma taxa anual entre 2,3% e 2,4%.28 Nos dez anos seguintes, esta taxa teria
se reduzido a 1,26% ao ano, e daí até a primeira década do século XIX a população teria
crescido 0,6% ao ano (Tabela 19). Embora seja muito problemático trabalhar com um
período tão dilatado de tempo, não deixa de ser interessante verificar que é nestas
décadas intermediárias do século XVIII que a população mineira cresce de fato.

Tabela 19
Estimativas para a População de Minas Gerais,
1721-1722, 1776, 1786, 1805
Ano Total Crescimento
Anual
1721-1722 90000
1776 (1) 319769 2,31
1776 (2) 341869 2,43
1786 362847 1,26
1805 407004 0,60
Obs.: 1) Segundo RAPM, Ano 2, Fascículo 3, 1897.
Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1937. P. 511.
2) Segundo BERGARD, 1999, p. 91.
Fonte: Ver texto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pretendi neste trabalho fazer um rápido exercício para estimar a população da


região das minas nas primeiras décadas do século XVIII. Esta é uma experiência
relevante dada a ausência de estimativas mais seguras sobre a população desta região
que se abria para a colonização portuguesa com base em uma organização econômica

27
Por população “europeizada” estou me referindo tanto àquela que veio da Europa (e seus descendentes)
como aos africanos e indígenas que foram submetidos ao processo continuado de aculturação que marca o
avanço da colonização portuguesa.
3DUDFDOFXODUHVWDWD[DFRQVLGHUHLFRPRGDWDLQLFLDORDQRGH
 

ainda inédita nesta porção das Américas. Embora a fonte utilizada como ponto de
partida apresente alguns problemas, sobretudo por sua origem fiscal, ela se constitui em
um raro testemunho acerca do segmento mais significativo da população da época, os
cativos. Assim, merece ser melhor explorada e analisada. Por outro lado, ao longo da
primeira metade do século XVIII são realizados contínuos levantamentos da população
cativa com finalidades fiscais. Merecem, também, uma atenção mais detida de modo
que se possa ter um quadro mais fiel do evolver da população mineira no Setecentos.

BIBLIOGRAFIA

ANASTASIA, Carla Maria Junho. Vassalos rebeldes: violência coletiva nas Minas na
primeira metade do século XVIII. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário histórico-geográfico de Minas Gerais.
2 ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1995.
BERGARD, Laird W. Slavery and the demographic and economic history of Minas
Gerais, Brazil, 1720-1888. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
BESSA, Antônio Luiz de. História financeira de Minas Gerais em 70 anos de
República. Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Fazenda, 1981.
BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. População e nação no Brasil do século XIX. São
Paulo: 1998. (Tese de Doutorado em História Social – Universidade de São Paulo)
CURTIN, Philip. The Atlantic slave trade: a census. Madison: University of Wisconsin
Press, 1969.
COSTA, Iraci Del Nero da. Minas Gerais: estruturas populacionais típicas. São Paulo:
EDEC, 1982.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 21 ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1986. (1ª ed.: 1959).
HIGGINS, Kathleen J. “Licentious liberty” in a brazilian gold-mining region: slavery,
gender, and social control in Eighteenth-century Sabará,: Minas Gerais.
Pennsylvania: The Pennsylvania State University Press, 1999.
HOLANDA, S. B. de. Metais e pedras preciosas. In: ___ (coord.). História Geral da
Civilização Brasileira. Tomo I, Volume 2. 6 ed., São Paulo: Difel, 1985. p. 259-310.
KLEIN, Herbert. Tráfico de escravos. In: FIBGE. Estatísticas históricas do Brasil. 2
ed.. Rio de Janeiro: IBGE, 1990. p. 53-61.
LUNA, Francisco Vidal, COSTA, Iraci Del Nero da. Minas Gerais: economia e
sociedade. São Paulo: FIPE, Pioneira, 1982.
 

PAIVA, Eduardo França. Escravos e libertos nas Minas Gerais do século XVIII:
estratégias de resistência através dos testamentos. São Paulo: Annablume, 1995.
PALACIN, Luis. O século do ouro em Goiás, 1722-1822. 4 ed. Goiânia (GO): Editora
da UCG, 1994.
PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. 19 ed.. São Paulo:
Brasiliense, 1986. (1a. ed.: 1942)
SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial,
1550-1835. São Paulo: Companhia das Letras, Brasília (DF): CNPq, 1988.
SIMONSEN, R.. História econômica do Brasil (1500-1822). São Paulo: Nacional,
Brasília (DF): INL, 1977.
SOUZA, Laura de Mello e. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século
XVIII. Rio de Janeiro: Graal, 1982.

Vous aimerez peut-être aussi