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Lorena, 2015
AMILCAR PEREIRA CARDOSO
Lorena, 2015
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A
FONTE.
CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
Assessoria de Documentação e Informação
Escola de Engenharia de Lorena
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Dedico este trabalho a minha Avó, Dulce de
Campos Pereira, e ao meu Pai, Hamilton Bernardes
Cardoso, que onde quer que estejam tenho certeza
que estão me olhando, me guiando e me apoiando. Ao
meu Avô, João Manoel Pereira Filho, a minha mãe,
Dulce Maria Pereira, meu pai, meu irmão, Augusto
Mayela Pereira Cardoso, os quais sempre me
apoiaram nos momentos mais difíceis e sempre
partilham dos momentos mais felizes. E a minha
namorada, Priscila Berenice da Costa, que está do
meu lado todo dia me fazendo um homem melhor e
lutando as batalhas da vida
3
Agradecimentos
Ao meu Avô, João Manoel Pereira Filho, por me ajudar tanto em todos esses
anos difíceis, sempre me apoiando com suas palavras e seus gestos
indescritíveis e seu coração e amor imenso. A minha mãe, Dulce Maria Pereira,
por ser essa mulher incrível e forte, que me educou para, acima de tudo, ser um
homem lutador, honesto, afetivo e digno. Muito obrigado por ser INCRÍVEL! Ao
meu irmão, Augusto Mayela, sempre juntos.
A Priscila Berenice da Costa, que me faz ter forças quando não parece existir
mais nada no mundo.
Ao meu orientador, Flávio Teixeira, e a sua esposa, Teresa Paiva, por toda
a paciência e ajuda, durante o processo de elaboração deste trabalho. Ao
Professor Segato, pela mesma paciência e ajuda.
Aos meus amigos, que eu amo, que são família, obrigado! De Lorena: Gui,
Didi (Ornellas), Zacarias (Moreti) e Dedé (Carlão), sem vocês não sei como teria
sido essa reta final; muito obrigado, e um “colar de beijos”. Japoneura (Carol
Horie) e Bianca Komodo (Rebeca) obrigado pela amizade verdadeira todos
esses anos. From Lawrence: George Barrios and Danyial Noorani, thanks for all
the inspiration, you are my brothers. Aos grandes amigos de Rio Preto e de
Brasília, eternos!
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“Learn from yesterday, live for today, hope for tomorrow. The important thing
is not to stop questioning.”
Albert Einstein
É preciso amor
É dia de sol mas o tempo pode fechar
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir A chuva só vem quando tem que molhar
É preciso a chuva para florir
Na vida é preciso aprender se colhe o bem que
Todo mundo ama um dia plantar
Todo mundo chora
É Deus quem aponta a estrela que tem que brilhar
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Erga essa cabeça mete o pé e vai na fé
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si Manda essa tristeza embora
Carrega o dom de ser capaz
Basta acreditar que um novo dia vai raiar
E ser feliz”
Sua hora vai chegar”
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Resumo
6
Abstract
7
Sumário
1. Introdução .................................................................................................... 10
6. Biogás .......................................................................................................... 34
8
6.1. Reatores ................................................................................................ 35
8. Viabilidade financeira.................................................................................... 46
9. Conclusões ................................................................................................... 47
9
1. Introdução
O grande desafio da engenharia e do engenheiro contemporâneo é elaborar
projetos e concretizá-los segundo as premissas de sustentabilidade, atendendo
as demandas da sociedade e necessidade de desenvolvimento das sociedades
sem agredir o meio ambiente, ou reduzindo o impacto e a utilização dos recursos
naturais e, ainda assim, conseguir gerar lucro (CRISTINA et al., 2010). A
engenharia sempre foi a grande responsável em suprir as demandas geradas
pela humanidade, de abrigo e mobilidade, por recursos como maior oferta e
melhor qualidade de alimentos, avanços tecnológicos e melhora dos níveis de
conforto (BRAGA et al., 2012). Porém, por desconhecimento dos impactos
ambientais que seriam gerados e aumento desenfreado na demanda pelos
recursos supracitados a partir da revolução industrial, a prática não sustentável
da engenharia, ou a subordinação a modelos não sustentáveis de
desenvolvimento, somada a outras atividades antrópicas, resultou em grande
desequilíbrio ambiental.
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e utilizado como combustível(BRAGA et al., 2012). Uma das principais fontes de
biogás é de rejeitos orgânicos, consequentemente o que seria lixo e poderia ser
lançado no meio ambiente é transformado em energia. (AHMAD, 2013). Por um
lado, o Brasil assumiu, na Conferência de mudanças Climáticas, em 2012, a
meta voluntária de reduzir a emissão de gases de efeito estufa entre 36,1% a
38,9% até 2020 (em relação ao que emitia em 1990) ((UNITED NATIONS),
2013). Por outro, as práticas de produção e geração de energia ainda são
geradoras de grande impacto. Além do baixo investimento em fontes alternativas
de energia, há pouco investimento na redução do desperdício de matérias primas
que podem ser utilizadas ou reutilizadas, como é o caso dos rejeitos orgânicos
(AMARAL; CORDEIRO; GALERANI, 2011; MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
PECUÁRIA E DESENVOLVIMENTO, 2012)
12
da contribuição da atividade para o aquecimento global, pela queima dos gases
considerados de maior poder nocivo (OLIVEIRA, 2011).
13
O sistema permite que cada empresa estabeleça seu próprio ritmo de adequação
às leis ambientais. Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono (CO 2)
equivalente corresponde a um crédito de carbono. Uma tonelada de metano
reduzida corresponde a 21 créditos de carbono. Os créditos de carbono,
portanto, são certificados de redução de emissões de gases do efeito estufa
(GEE) negociados no âmbito do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo).
O tratamento de efluentes pode gerar energia e, ainda, segundo estudos,
receitas advindas da venda de créditos de carbono, conforme metodologias de
estimativa da produção de metano em reatores anaeróbios e de cálculo das
emissões aprovadas pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas (UNFCCC).
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2. Objetivos e organização
2.3. Organização
O capitulo introdutório traça um panorama geral da pecuária bovina brasileira
de corte brasileira e indica a necessidade de um tratamento adequado dos
efluentes desta atividade para combater a deterioração do meio ambiente.
Também introduz o biogás e como sua produção e utilização está intimamente
relacionada ao tratamento e efluentes de abatedouros.
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O quinto capítulo trata sobre o biogás e a sua produção. São discutidos
maneiras de se formar e purificar o biogás, e parâmetros de dimensionamento
de um biodigestor
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3. Processo de abate
Segundo o Art. 21 do Decreto nº 30.691/52 da Lei Federal nº 1.283/50, que
especifica a inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal, a
definição de matadouro, abatedouro ou frigorífico é: “Estabelecimento dotado de
instalações adequadas para a matança de quaisquer das espécies de açougue,
visando o fornecimento de carne em natureza ao comércio interno, com ou sem
dependências para industrialização; disporá obrigatoriamente, de instalações e
aparelhagem para o aproveitamento completo e perfeito de todas as matérias-
primas e preparo de subprodutos não comestíveis. O atendimento correto da
disposição dos resíduos, as fases do processo tecnológico do abate e a rigorosa
observância da higiene, antes, durante e após os seus trabalhos, são princípios
básicos, cujo respeito constitui a garantia da obtenção de um produto
mercadologicamente valioso, higienicamente idôneo e ecologicamente correto”.
De acordo com Pacheco e Yamanaka (2008, p.27) matadouros “realizam o abate
dos animais, produzindo carcaças (carne com ossos) e vísceras comestíveis.
Algumas unidades também fazem a desossa das carcaças e produzem os
chamados “cortes de açougue”, porém não industrializam a carne”.
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Figura 1- Fluxograma básico de bovinos (PACHECO; YAMANAKA, 2008)
3.1. Recepção
Depois de transportado por caminhões, ou encaminhados pelos
funcionários, os animais são inspecionados e separados de acordo com a
procedência para recuperar-se do stress (Figura 1). Nesta fase diminuem o
conteúdo intestinal e estomacal, portanto deixam excremento pelo local. Os
animais também são lavados para redução do stress e limpeza do couro. Essa
água, junto com os dejetos dos animais, e o produto da posterior raspagem, são
enviados para a ETE.
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3.2. Condução e Lavagem
Depois do repouso, os animais são enviados par ao abate, este trajeto é
denominado condução, onde também mesmo ocorre a lavagem dos animais
para eliminação de esterco e outras sujidades, os quais seguem para a ETE.
3.3. Atordoamento
Esta fase tem como objetivo deixar o animal inconsciente. Nela o animal tem
o seu crânio perfurado, por uma marreta pneumática, e consequente destruição
do seu cérebro. É comum que os animais vomitem nesta etapa, portanto eles
recebem jatos d’água para limpeza, que segue para a ETE.
3.4. Sangria
Esta etapa tem como objetivo matar o animal, o que é feito através da
exsanguinação a qual resulta em morte por falta de oxigenação no cérebro. O
animal passa por outra lavagem e é içado de ponta-cabeça; o seu pescoço é
cortado, na região dos grandes vasos e o animal sangra até a morte. Cada
animal gera em torno de 15/20 litros, que normalmente são colhidos e reservados
para outros usos ou podem ir para uma ETE.
3.6. Evisceração
A evisceração envolve a remoção das vísceras abdominais e pélvicas, além
dos intestinos, bexiga e buxo. Os efluentes gerados são oriundos das águas de
lavagens para visualização de estruturas do animal, e da água resultante da
máquina lavadora de buchos.
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3.7. Corte da carcaça
Aqui as carcaças serão preparadas para estoque. O efluente gerado é
proveniente da água que lava as serras para retirada de fragmentos ósseos e de
aparas de gordura e outros apêndices que possam estar presentes durante o
processo.
3.8. Refrigeração
Resfriamento das carcaças para reduzir a possibilidade crescimento
microbiano. Outro efluente pode ser gerado quando as câmaras são lavadas.
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4. Efluente resultante do abate
21
“verde”, em unidades com abate), para remoção de sólidos grosseiros; na
sequência, caixas de gordura (com ou sem aeração) e/ou flotadores, para
remoção de gordura e outros sólidos flotáveis; em seguida, sedimentadores,
peneiras (estáticas, rotativas ou vibratórias) e flotadores (ar dissolvido ou
eletroflotação), para remoção de sólidos sedimentáveis, em suspensão e
emulsionados - sólidos mais finos ou menores”(PACHECO; YAMANAKA, 2008).
22
limpeza da graxaria e água de
cozimento;
Efluente dos
P7 Afluente das lagoas de polimento;
biodigestores 1 e 2
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Figura 2 - Fluxograma do sistema de tratamento de água residuária do abatedouro de bovinos
(MORALES et al., 2009)
24
As gorduras, os óleos e as graxas contribuem amplamente para o aumento
da DBO e DQO e, ao mesmo tempo que têm um alto potencial de geração de
metano, a sua baixa taxa de degradabilidade pode gerar vários problemas como:
entupimento de canos, geração de maus odores, flotação do lodo e adesão à
superfície da célula bacteriana. Assim, reduzindo a habilidade de metabolizar o
efluente consequentemente limitando o transporte dos substratos solúveis para
biomassa, portanto reduzindo a eficiência da remoção de DBO e DQO (MCCABE
et al., 2014; STABNIKOVA; WANG; IVANOV, 2010). Também, durante a
hidrolise dos lipídios por lipases extracelulares, ácidos graxos de cadeia longa
são produzidos sendo, que estes intermediários, podem inibir a produção de
biogás (RINZEMA et al., 1994; apud PALATSI et al., 2011).
Concentra
Parâmetro
ção
pH 7,2
25
5. Tratamento anaeróbio do efluente
26
Figura 3 - Ação dos microrganismos na digestão anaeróbia: substratos consumidos e produtos
formados (STABNIKOVA; WANG; IVANOV, 2010)
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Figura 4 - Ilustração das etapas da digestão anaeróbia (SANT’ANNA JR, 2013)
5.1.1.1. Hidrólise
Nesta etapa atuam bactérias fermentativas que realizam a hidrólise das
macromoléculas presentes no meio, como polissacarídeos, proteínas, lipídeos e
ácidos nucleicos gerando monossacarídeos, aminoácidos, glicerol, ácidos
orgânicos, purinas e outros; sendo estes últimos os substratos da próxima etapa,
a acidogênica. Esta conversão é executada pela ação de exoezimas, excretadas
pelas bactérias fermentativas hidrolíticas. É normalmente um processo lento,
sendo os lipídios hidrolisados mais lentamente que as outras
moléculas(CHERNICHARO, 1997; LIMA et al., 2001; SANT’ANNA JR, 2013).
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concentração de amônio NH4+ e a concentração dos produtos da hidrolise
(CHERNICHARO, 1997).
5.1.1.2. Acidogênese
As macromoléculas hidrolisadas na fase anterior são poderem ser
transportadas para o interior da célula onde, através do metabolismo
fermentativo dos microrganismos acidogênicos, são metabolizadas para ácidos
orgânicos (principalmente acetato, propianato e butirato), álcoois (etanol),
cetonas (acetona), dióxido e carbono, hidrogênio e biomassa. Em geral as
bactérias acidogênicas (microrganismos fermentativos) representam cerca de
90% da população bacteriana total dos digestores anaeróbios, portanto são de
suma importância para o processo.
A partir das reações formuladas a seguir (Figura 5), pode-se afirmar que esta
etapa é altamente favorecida termodinamicamente cujas reações ocorrem com
muita espontaneidade visto que a energia livre padrão é muito baixa. Os
microrganismos acidogênicos, são os que mais se beneficiam energeticamente
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e, em decorrência, possuem tempo mínimo de geração e elevadas taxas de
crescimento no consórcio microbiano, como mostram as equações químicas da
Figura 5. Os gêneros de bactérias fermentativas acidogênicas são: Clostridium,
Bacteroides, Ruminococcus, Butyribacterium, Propionibacterium, Eubacterium,
Lactobacillus, Streptococcus, Pseudomonas, Bacillus, Escherichia,
Desulfobacter, Micrococcus(CHERNICHARO, 1997; SANT’ANNA JR, 2013)
5.1.1.3. Acetogênese
A acetogênese consiste na oxidação dos compostos orgânicos
intermediários, como propianato e butirato, por bactérias acetogênicas em
acetato, hidrogênio e dióxido de carbono (substratos para os microrganismos
metanogênicos). Essas bactérias são denominadas sintróficas acetogênicas e
os gêneros mais comuns são Syntrobacter e Suntrophomonas. Esta etapa é
fundamental para a digestão anaeróbia pois ocorre a sintrofia entre os
microrganismos acetogênicos e metanogênicos.
∆Go=+76,2 kJ/mol
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deslocando o equilíbrio da equação 4 para a direita. A equação 6 apresenta a
soma das equações 4 e 5, mostrando a sua viabilidade termodinâmica.
(CHERNICHARO, 1997; SANT’ANNA JR, 2013)
5.1.1.4. Metanogênese
A metanogênese é a etapa final do processo, responsável diretamente pela
produção de metano, e constitui, em muitos casos, o passo que governa todo
processo de degradação do substrato. As bactérias metanogênicas pertencem
ao domínio das arqueobactérias, que são diferentes das bactérias típicas, que
pertence ao domínio das eubactérias. As arqueas exibem vários atributos
bioquímicos e estruturais, únicos, as quais adaptaram viver em habitat
específicos. Estas são anaeróbias estritas, requerendo para o seu
desenvolvimento um potencial redox entre -250 e -300 mv. Possuem coenzimas
e cofatores específicos (coenzima F420, F430, coenzima M, Metanopterina) e
degradam apenas um número limitado de substratos com baixo número de
carbonos: acetato, metanol, metilaminas, formiato, hidrogênio e dióxido de
carbono. (CHERNICHARO, 1997)
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Normalmente a eficiência do digestor (ou reator) é maior em temperaturas mais
altas, porém a temperatura ótima depende do grupo de bactérias utilizadas e das
condições locais. Assim, se a temperatura do meio puder ser ajustada, é possível
dimensionar o digestor de maneira a otimizar o tamanho, diminuindo custos de
construção do mesmo, de acordo com a carga de material e maior produção de
biogás (TEODORITA et al., 2008).
32
inibição ou interferência no processo de digestão anaeróbia (TEODORITA et al.,
2008).
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6. Biogás
O francês Jean Louis Mouras, em 1860, “descreveu a liquefação da matéria
orgânica de um efluente doméstico em condições anaeróbias ; 30 anos depois,
Donald Cameron, na Inglaterra, modificou o tanque de Louis Mouras e deu-lhe o
nome de “tanques hidrolíticos”, e este sistema foi escolhido em 1897 pelo
governo local, para o tratamento de todos os efluentes das cidades inglesas”
(MATANGUE, 2011).
Porém foi no início do século XX, na China e na Índia que, a partir de esterco
de animais, principalmente bovinos, iniciou-se o desenvolvimento de biogás a
partir da digestão anaeróbia. Mas foi a partir de 1970, com a crise e o aumento
do preço do petróleo, que a digestão anaeróbia passou a ser pesquisada com
caráter científico, buscando compreender os fundamentos do processo de forma
efetiva e iniciar projetos de digestores e equipamentos auxiliares. Porém foi após
o início da conscientização ambiental, previsto pela Eco-92 e o protocolo de
Kyoto, que a indústria também começou a considerar a implantação de métodos
para produzir biogás a partir de seus efluentes.
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extração. Se não for utilizado pode simplesmente ser queimado diretamente.
Porém, de acordo com o seu poder calorifico, pode ser usado como gás de
cozinha, para caldeiras, motores e, até, como gás combustível de motores para
gerar energia ou ainda ser vendido (STABNIKOVA; WANG; IVANOV, 2010).
6.1. Reatores
A digestão anaeróbia é um processo que ocorre em diversos ecossistemas
naturais, como no rumem de bovinos, sedimentos aquáticos de lagos de águas
doces ou salgadas e até no intestino humano. Baseado no conhecimento desses
sistemas naturais foram desenvolvidos os artificiais, que simulam as condições
necessárias e permitem que estas reações descritas no capítulo anterior
aconteçam.
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ou qualidade do biogás. Em relação à temperatura, embora a produção de
biogás quando em temperaturas mais altas tenham sido maiores, devido à maior
taxa de digestão, o reator não mostrou não mostrou grande sensibilidade em
relação a variação de temperatura, mesmo quando o reator foi operado em
baixas temperaturas
6.1.2. Biodigestor
O biodigestor é um biorreator caseiro, um recipiente fechado, construído de
alvenaria, concreto ou outros materiais, que também consegue atingir a
produção de biogás através da digestão de matéria orgânica em condições
anaeróbias.(COMASTRI FILHO, 1981; PEREIRA, 2014). Embora existam vários
tipos de biodigestores dois se destacam, os modelos indiano e chinês.
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Figura 7 – Biodigestor Modelo Indiano (FUNDAÇÃO ECOLÓGICA NACIONAL, 2013).
Com uma alimentação continua, depois de atingir uma certa pressão este
tipo de digestor pode ser uma fonte continua de biogás. Porém, quando a
pressão está muito alta, ele tende a liberar biogás para a atmosfera. Igual ao
modelo Indiano, a concentração máxima de sólidos totais não deve ser superior
a 8%.
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6.1.3. Lagoas anaeróbias
Lagoas anaeróbias são amplamente adotadas na indústria de
processamento de carne como o primeiro estágio do tratamento secundário de
efluentes com altas cargas de matéria orgânica, sendo extremamente para a
redução do DBO e DQO (aproximadamente 90% sob condições ideais)
(MCCABE et al., 2014).
Embora esses reatores sejam abertos, eles podem ser revestidos por lonas
flexíveis, com a finalidade de armazenar e coletar o biogás resultante da digestão
anaeróbia, conforme apresentado na Figura 9. De acordo com MCCABE et al.,
(2014), em relação à produção e captação de biogás, devido à alta carga
orgânica de resíduos de abatedouros, o acumulo e materiais flutuantes tende a
ser maior que em outros tipos de efluentes, e consequente, se torna fator
limitante.
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Figura 9 – Esquema de coletor de biogás a partir de lagoas anaeróbias
Estima-se que 1,0 m3 de enchimento com óxido de ferro que seja capaz de
remover cerca de 100 kg de enxofre (RAO et al., 2010).
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6.2.3. Remoção de gás carbônico
O gás carbônico pode ser retirado quimicamente ou com água, porém este
processo resulta em um efluente muito ácido, que provavelmente precisará de
um tratamento específico, e caro, para descarte. Devido ao alto custo deste
processo, ele não se aplicaria para os fins deste trabalho.
𝐶
𝐵𝑅 = 𝑚 ∗ (Equação 7)
𝑉𝑅
Tal que:
BR = Carga orgânica [kg/d*m³]
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voláteis (SV) presentes no substrato e deve ser adaptada ao microrganismo ativo
no digestor (KARLSSON; SCHMEIER; KARLSSON, [s.d.]).
𝑉𝑅
𝑇𝑅𝐻 = (Equação 8)
𝑉
Tal que:
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importante adaptar o tempo de retenção à taxa específica de decomposição do
substrato. Deve se conhecer do tempo de retenção, a quantidade de resíduo
orgânico gerado por dia, o fluxo ideal e a taxa de decomposição do substrato
para construir um digestor com volume ideal, que evite um alto custo de
manutenção e tenha uma produção de biogás que justifique o investimento
(AGENCY, 2009; COMASTRI FILHO, 1981; KARLSSON; SCHMEIER;
KARLSSON, [s.d.]; KOVÁCS et al., 2015; TEODORITA et al., 2008).
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7. Geração de energia a partir do biogás
A maioria do biogás gerado, tanto no Brasil como no resto do mundo, é
utilizado em motores de combustão interna para produzir energia elétrica.
Quando viável a energia térmica gerada pelo motor, liberada devido ao
aquecimento do mesmo ou as dos seus sistemas de resfriamento, também é
utilizada. Porém, como a maioria das plantas de biogás são localizadas em áreas
rurais a quantidade de energia térmica liberada, normalmente, não é suficiente.
O motor de combustão interna mais utilizado é o do tipo Otto. O biogás também
é, comumente, queimado em caldeiras para produzir agua aquecida e vapor.
Outro exemplo, que não se aplica a este estudo é um dos produtos de maior
valor agregado que pode ser obtido através do biogás, o biometano. Através de
um tratamento mais oneroso, a purificação do biogás através da remoção de
dióxido de carbono, sulfeto do hidrogênio e outros componentes, o biogás pode
ser transformado em biometano, um equivalente do gás natural. Para isso é
necessário que o gás contenha no mínimo 95% de metano.
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7.1. Combustão direta
A maneira mais simples de se utilizar o biogás é queimando-o diretamente
em caldeiras ou queimadores, o que é o comum em pequenos negócios que
produzem biogás. A combustão direta do biogás em queimadores, como
aquecedores caseiros, é muito utilizada. O Biogás pode ser queimado in loco, ou
transportado por rede de tubulação para os usuários finais.
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8. Viabilidade financeira
A viabilidade energética da produção de biogás através do efluente gerado
a partir do abate de bovinos é ratificada pelos vários estudos sobre geração de
biogás através de efluentes como o esgoto doméstico (GARCILASSO;
VESCOVO, 2012; RAO et al., 2010; TAUSEEF; ABBASI; ABBASI, 2013), de
rejeitos de animais (AHMAD, 2013; BUDIYONO et al., 2011; GARCILASSO;
VESCOVO, 2012; JENSEN et al., 2014; KOTHARI; TYAGI; PATHAK, 2010; RAO
et al., 2010; SANTOS; JUNIOR, 2013; SCIENTIA, 2012), do abate de aves e
suínos (BAYRAMOGLU et al., 2006; BORIN et al., 2013; RAO et al., 2010;
SALMINEN; RINTALA, 2002). No entanto poucos estudos fizeram uma análise
de viabilidade financeira sobre a implementação de um sistema de biodigestor.
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9. Conclusões
Inicialmente vale considerar que há estudos científicos e literatura que
validam eficiência e várias metodologias, e literatura e legislação que
determinam que se fará o tratamento de efluentes com grande quantidade de
matéria orgânica. Ainda, há vantagens financeiras principalmente se se faz o
tratamento por biodigestão, com a produção de biodiesel. Este estudo
sistematiza parte do conhecimento produzido e permite avaliar que é necessária
a opção ética, ou a prática da responsabilidade ética, como aponta o filósofo
contemporâneo Hans Jonas (2006), ao afirmar que a responsabilidade, como
princípio, precisa ser uma componente da ética na sociedade tecnológica. O
fazer científico e tecnológico, devido à enormidade do alcance das intervenções
e consequente impacto no ambiente. Segundo Jonas, demanda
responsabilidade ética, para que o planeta suporte as interferências da
civilização tecnológica. Afirma Jonas (2006, p.39):
47
10. Referências bibliográficas
ALLEGUE, L.; HINGE, J.; ALLÉ, K. Biogas and bio-syngas upgrading. [s.l:
s.n.].
48
DEGANUTTI, R. et al. BIODIGESTORES RURAIS: MODELO INDIANO,
CHINÊS E BATELADA. Bauru: [s.n.].
JENSEN, P. et al. Analysis of the potential to recover energy and nutrient resources
from cattle slaughterhouses in Australia by employing anaerobic digestion. Applied
Energy, v. 136, p. 23–31, 2014.
49
MCCABE, B. K. et al. A case study for biogas generation from covered anaerobic
ponds treating abattoir wastewater: Investigation of pond performance and potential
biogas production. Applied Energy, v. 114, p. 798–808, fev. 2014.
50
RAO, P. V. et al. Biogas generation potential by anaerobic digestion for sustainable
energy development in India. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 14, n.
7, p. 2086–2094, 2010.
51