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Julgamento ou resolução do processo?

Wilson Gianulo

Mestre pela Universidade Mackenzie


Professor da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie
Editor da Revista Literária de Direito
Membro da Academia Paulista de Letras Jurídicas

1. O fundamento para a alteração

E m u m a ú n i c a l i n h a f u n d a m e n t a t i va a e x p o s i ç ã o d e

motivos do projeto nº.3.253/2004 da Câmara dos

Deputados de emanação do Instituto Brasileiro de Direito

Processual (IBDP) que resultou na Lei nº.11.232/2005,

refere-se a necessidade de adaptação sistemática em razão

do novo tratamento da execução de sentença condenatória

ali tratada, com a alteração dos artigos 162, 269 e 463,

todos do Código de Processo Civil, uma vez que a

sentença não mais põe fim ao processo (item 5. letra f –

Exposição de Motivos).

Assim sendo a Lei nº.11.232/2005, alterou os artigos

162, 267, 269 e por extensão lógica o caput do artigo 463.

A i n t e n ç ã o m e s m a d a a l t e r a ç ã o n e s s e p a r t i c u l a r,

aparentemente, é a de estabelecer que a sentença de

mérito não mais ponha fim à relação jurídica processual.

E tal, em certa medida se percebe pela leitura da

nova redação do parágrafo 1º do artigo 162 e por

c o n s e q ü ê n c i a t é c n i c a o j u i z a o s e n t e n c i a r, n ã o m a i s a c a b a

seu trabalho jurisdicional, como se e d i t a va na letra

modificada do artigo 463.


Tu d o isso para ajustar a nova realidade

procedimental no tratamento da execução da sentença

condenatória para pagamento de quantia.

2. O resultado das alterações

A alteração não apenas estabeleceu que a sentença

condenatória se estendesse até a satisfação, foi muito

além do que alvitrou e de outra parte, não conseguiu o

efeito perseguido.

Em verdade o que buscou foi a possibilidade de que

a sentença condenatória para pagamento de quantia não

extinguisse o processo e continuasse a surtir efeitos com a

prática de atos executivos, findando aí sim.

De início não retirou o efeito extintivo da sentença

de uma forma geral, porque ao alterar o artigo 162 em seu

parágrafo 1º, fez surtir efeitos em todo ato que se

identifique com sentença, quer declaratória, quer

constitutiva ou mesmo condenatório-satisfativa.

Pe l a evidência dos elementos teleológicos a

sentença decide d e f i n i t i va m e n t e uma questão

controvertida (incidência jurídica), devendo ser guerreada

apenas pelos recursos cabíveis, ao passo que a

satisfatividade decorrente se opera no plano fático não

i n o va n d o a d e f i n i ç ã o j u r í d i c a q u e a p r e c e d e a f u n d a m e n t a .

U m a t u t e l a d e c l a r a t ó r i a o u c o n s t i t u t i va n ã o a d m i t e

a continuidade que o reformado parágrafo 1º do artigo 162

buscou e m p r e s t a r, ou por outra, a simples prolação

sentencial nesses casos exaure os efeitos perseguidos


pelas partes, tornando impossível a continuação do

procedimento.

A l e t r a d a l e i n o va f o i a l é m d o q u e s e p r o p ô s , p o i s

deveria apenas se limitar a designar a finalização do

procedimento cognitivo-satisfativo, quando ultimada esta

última parte e não buscar estender a todo ato sentencial

essa particularidade, até por que, inviável essa pretensão

ante as evidências técnicas incidentes.

Numa palavra, buscou o texto legal modificador

inibir efeito temporal que a sentença originalmente

impunha ao processo, mas não obteve sucesso em seu

intento.

De se salientar que o artigo 162 identifica os atos

do juiz que são praticados em todos os procedimentos

judiciais. Ademais este artigo discrimina a eficácia dos

atos judicantes, seu alcance e conteúdo, explicita em seu

parágrafo 1º que “Sentença é o ato do juiz que implica

alguma das situações previstas nos artigos 267 e 269 desta

lei”.

Dessarte, a classificação de sentenças no plano

sistemático do Código não sofreu a alteração a qual a

lembrada letra f do item 5 da Exposição de Motivos

proclama, não conduz a que a sentença de mérito não mais

extinga o processo.

No que respeita a eficácia sentencial como ato

decisório definitivo, mesmo no sentido condenatório,

apesar de a tutela compreender a continuação

procedimental para os atos satisfativos, a discussão do


direito acaba superada, não mais sendo possível rediscuti-

la na fase subseqüente (CPC. art. 475-L).

3. Os vocábulos empregados e as conseqüências

O centro de incidência da norma sofreu

deslocamento de significado, na medida em que procurou,

segundo a exposição de motivos, emprestar a sentença,

não mais um ponto final do processo cognitivo (elemento

e x c l u s i va m e n t e t e m p o r a l d o a t o ) e i n g r e s s o u e m o u t r o

âmbito, o da qualidade do ato praticado pelo juiz, qual

s e j a , o d e j u l g a r.

Assim, o juiz, através da sentença, estabelece, em

todos os casos enumerados no artigo 267 a extinção pura e

simples do processo e no caso do artigo 269, inciso I toda

a carga de finalização que a sentença originalmente

impõe, especialmente em se tratando de tutelas

declaratória e constitutiva, que por óbvio, se apartam da

condenatório-satisfativa tratada nos artigos 475-A e

seguintes do Código de Processo Civil.

Houve aqui, clara extensão negativa de significado

e c o n t e ú d o s o b r e a s s e n t e n ç a s d e c l a r a t ó r i a e c o n s t i t u t i va ,

p o r q u e , s e g u n d o a p r e t e n s ã o d o l e g i s l a d o r, e s t a s t a m b é m

não finalizam o processo, mas têm inegavelmente, seu

e x a u r i m e n t o m e r i t ó r i o h a v i d o p e l a d e c i s ã o d e f i n i t i va d o

juiz.

Houve, por certo, confusão entre a questão

temporal (finalização do procedimento) e o significado


jurídico da palavra julgar que não pode ser utilizada

como sinônimo de resolução.

O que queria o legislador era designar que a

sentença c o n d e n a t ó r i o - s a t i s f a t i va não poria fim ao

processo, que após ela deveria passar por procedimento

executivo, mas não foi isto o que sucedeu, porquê alterou

dispositivo legal que alcança todos os atos do juiz que

decidam não interlocutoriamente a questão controvertida,

seja ela declaratória, constitutiva ou condenatório-

satisfativa.

Essa situação resultaria em apenas mais um erro de

p r o p ó s i t o d o l e g i s l a d o r, n ã o f o s s e o r e a l r e s u l t a d o q u e

proporcionou, ou seja, o de erro do enfoque temporal para

o d e s i g n i f i c a d o a o t r o c a r a p a l a v r a j u l g a r p o r r e s o l v e r.

O ato de julgar ou resolver não induz se possa

aferir que um põe e o outro não fim ao processo, nenhum

dos dois vocábulos designam semelhante significado, quer

semântico, quer jurídico.

As palavras julgar e julgamento estabelecem

significados relativos a decidir uma questão posta a

a p r e c i a ç ã o d e u m j u i z o u á r b i t r o 1, a l é m d a s a c e p ç õ e s m a i s

vulgares de conjecturas e juízos estéticos, mas sempre

identificadas com a preferência de uma coisa a outra, de

uma tese em detrimento de uma antagônica ou diversa.

Na consideração processual julgar identifica

comportamento judicante, resultante da aplicação de

1
Assim na maioria dos dicionários de língua portuguesa, como em Cândido de
Figueiredo, Lello, Aurélio, etc.
judicium, ou tomar decisões judiciais, estas quando afetas

à d e c i s ã o f i n a l o u d e f i n i t i va o u a i n d a d e m é r i t o r e d u n d a

da extinção do feito, assim designado como a discussão

entabulada pelas partes.

Julgamento, portanto é palavra carregada de

c o n t e ú d o d e c i s ó r i o q u e v e n h a a f a z e r c o i s a j u l g a d a 2, o u

seja, decisão que estabeleça a entrega do provimento

jurisdicional, o que se opera especialmente no que toca ao

mérito, à lide, ao pedido do autor em sua relevância

bilateral relacionada ao direito do réu.

A idéia central de julgamento encontra na entrega

da tutela, negativa ou p o s i t i va seu elemento, sua

substância.

Quando, de outra parte, a entrega da tutela é

meramente t e r m i n a t i va , anota-se uma negatividade

meritória absoluta, vez que a jurisdição se viu impedida

de ferir o mérito.

De qualquer forma, o ato pelo qual o magistrado

põe fim a relação litigiosa examinando o pedido ou não é

sentença, esta declare ou constitua, ou ainda condene há

de ser um ato diverso de uma interlocutória, pois que,

mesmo em se tratando de decisão condenatória será esta

objeto de recurso apelativo, uma vez que decidiu a

q u e s t ã o d e m é r i t o e m p r o l d o a u t o r.

Vê-se, por conseguinte, que a palavra resolução que

substituiu a julgamento não alcançou o desiderato

2
Assim se vê em José Náufel, in Novo dicionário jurídico brasileiro, Vol. III, p. 122 e
também de Alcides de Mendonça Lima, in Dicionário do código de processo civil
brasileiro. 2ª edição p.366.
propalado na exposição de motivos do antes aludido

projeto de lei que se tornou norma, nem teve o condão de

alterar a natureza do ato prolatado pelo juiz.

A extinção da relação jurídica processual se opera

por nada mais se ter para fazer em relação a ela, o que se

dá em todas as sentenças de mérito, razão de se ver que

não é a palavra resolução que aponta para uma não

extinção do processo, porque resolver ou julgar acabam

tendo o efeito único de decisão não de extinção.

A identificação de uma e outra significações se

estabelece como qualificações não como finalização

temporal da relação em si.

Pa r a o s f i n s d e d e t e r m i n a r o t é r m i n o d a r e l a ç ã o

processual a substituição da palavra julgamento por

resolução não se mostra eficaz.

De fato, a palavra resolução tem significado

tecnicamente muito distanciado do de decisão.

Vu l g a r m e n t e p o d e - s e - l h e a t r i b u i r o c a r á t e r d e d e c i s ã o ,

mas r e s o l v e r, no mundo jurídico, é ato que está

inarredavelmente ligado à teoria dos contratos e à ciência

da administração.

Nessa conformidade a palavra resolução substitui

mal o vocábulo julgamento ou pela dubiedade daquela,

cuja amplitude vulgar não se coaduna com o ato de

d e c i d i r, e m e n o s a i n d a c o m o a t o d e j u l g a r, o u p e l a f a l t a

absoluta de precisão terminológica tão necessária na

ciência, especialmente a jurídica repleta de termos

equívocos, análogos e dúbios.


4. Julgamento ato próprio do poder judicante

Julgar é ato inerente ao juiz de direito é ato

p r i m á r i o d e j u d i c a r.

Julgar é decidir um conflito de interesses com a

carga de comprometimento moral que se exige de ser

humano investido no poder jurisdicional.

Uma vez que, exatamente nesse mister se substitui o

vocábulo pelo qual se designa o ato de julgar por um

outro que muito longinquamente com ele se identifica,

então não parece lógico que tal alteração tenha sido

inserida apenas para modificar uma palavra sem lhe

alterar o significado, especialmente pela consideração de

que a alteração proposta vai muito além do que almejou

i n i c i a l m e n t e o l e g i s l a d o r.

A verificação de que não há palavras despiciendas

no texto legal impõe não apenas se conclua pela intenção

do legislador de trocando a palavra julgamento pelo

vocábulo resolução, impor significação sinônima de uma

em relação a outra apesar desse conteúdo sinônimo ter

suporte meramente coloquial e nunca técnico.

Resolução, somente poderá ser compreendida,

quanto sua manifestação jurídica, como sinônimo vulgar

de julgamento, de decisão, por que outra forma não se

aplica nem jurídica nem tecnicamente.

A resultante da troca de vocábulos se mostra algo

mais inquietante, pois, não se justificaria uma palavra


cujo conteúdo é preciso, adequado e s e c u l a r, ser

substituída por outra cuja inaplicabilidade é evidente.

Imposta a palavra resolução no sentido de resolver

a questão discutida não impõe ao julgador comportamento

voltado para uma decisão justa da lide. Resolução é muito

menos que isto, constitui-se apenas em resolver o

problema posto, ficando em segundo plano a procura do

julgador por decidir de forma a trazer justiça,

impregnando sua manifestação de fundamentos capazes

de apaziguar aos litigantes.

Julgar impõe um compromisso de entregar a

m e l h o r s o l u ç ã o a m a i s a d e q u a d a e n ã o a p e n a s r e s o l v e r, é

atitude moralmente a va l i á v e l submete ao julgador a

primados a que um mero resolutor não está submisso.

5. Em conclusão

Da maneira como posta a alteração l e g i s l a t i va

inevitável se verifique a diminuição da importância de

uma decisão definitiva jurisdicional, que transforma um

julgamento em mera resolução, diminuindo-se não apenas

s u a c o n o t a ç ã o , m a s o va l o r m o r a l d o c o m p r o m e t i m e n t o

pessoal do julgador reduzido a simples resolutor de

conflitos.

A alteração empreendida mostra-se Infeliz e

despida da técnica l e g i s l a t i va necessária, porque

virtualmente aponta o juiz como um agente investido do

poder judicante, mas cuja função é apenas a de resolver o

conflito destituindo-o de seu aspecto mais saliente, o de


j u l g a d o r, a q u e l e q u e f a z j u s t i ç a c o m o e m p r e e n d i m e n t o d e

seu ofício.

E m s u m a , a a l t e r a ç ã o c o m o a p r o va d a e v i g e n t e n ã o

se limitou a dar ao processo condenatório-executivo

contexto unitário findo pela consecução dos atos

e x e c u t i v o s , f o i a l é m , t a l v e z s e m o p r e t e n d e r, m a s e m s u a

ânsia de somente designar um efeito temporal, modificou

o sentido conotativo de comportamento que individualiza

o juiz de direito, que o põe acima dos demais agentes

p ú b l i c o s , e x a t a m e n t e o a t o d e j u l g a r.

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