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Período Democrático: o Governo

9o Ano
João Goulart e o Golpe de 1964
História
Módulo

©autor/iStock
Você sabia que o Brasil já foi uma república
parlamentarista?
Após a renúncia de Jânio Quadros à presidência, na década de 1960,
o Brasil instaurou uma república parlamentarista, na qual o presidente
possuía poderes limitados, e quem realmente governava era o primeiro-
-ministro, político que pertencia ao Parlamento. No nosso caso, pertencia
ao Congresso Nacional.
Neste módulo, vamos estudar por que o Brasil deixou de ser uma
república presidencialista, em decorrência da crise política instaurada
após a renúncia de Jânio Quadros; veremos as dificuldades enfrentadas
por João Goulart (vice de Jânio) nos campos político, econômico e social;
conheceremos as medidas tomadas por ele que levaram à mobilização de
vários setores na articulação e na execução de um golpe militar. Vamos
estudar também a tomada do poder pelos militares em 1964, iniciando
o período da Ditadura-Civil Militar.

Expectativas de aprendizagem:
– Examinar a crise política gerada durante o governo de João Goulart;
– definir as motivações para as reformas propostas por João Goulart;
– relacionar o golpe civil-militar desferido pelos militares à conjuntura da Guerra Fria;
– explicar o apoio de grande parte da sociedade e dos políticos civis ao golpe militar.

Expectativas de aprendizagem:
– Examinar a crise política gerada durante o governo
de João Goulart;
– definir as motivações para as reformas propostas
por João Goulart;
– relacionar o golpe desferido pelos militares à
conjuntura da Guerra Fria;
– explicar o apoio de grande parte da sociedade e
dos políticos civis ao golpe militar.
Período Democrático: o Governo João Goulart e o Golpe de 1964 HISTÓRIA
Módulo 24

1. A renúncia de Jânio Quadros e a crise política


Segundo a Constituição, após a renúncia de um presidente, quem o substitui é o vice-
-presidente. No entanto, o vice de Jânio Quadros, João Goulart, não era uma figura bem-vista
por alguns políticos e setores sociais brasileiros e estrangeiros. Jango, como era apelidado,
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representava o legado populista de Getúlio Vargas, além de ser associado por alguns grupos
sociais a ideais comunistas.
A União Democrática Nacional (UDN) não aceitava a volta de um político com ideais
varguistas ao poder, e fez de tudo para impedir a posse de Jango. É importante deixar claro
que, ao lado dos udenistas, estavam alguns setores do Exército e interesses estrangeiros;
portanto, Jango era um político considerado perigoso aos interesses da elite brasileira.
Quando Jânio renunciou, João Goulart estava em visita oficial à China comunista.
O Brasil adotava uma política externa independente e estava estabelecendo laços diplo-
máticos com os chineses. Na ausência tanto do presidente da república quanto do vice, o
presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu o governo. Os ministros
militares impediram a volta de Jango ao país, afirmando que ele ameaçava a segurança
nacional, pois, até aquele momento, estava em um país comunista. A oposição imaginou
que, assim que Jango voltasse, implantaria o comunismo no Brasil. Buscava, assim, impedir
a volta do vice-presidente e, consequentemente, a sua posse.
A partir desse momento, no Rio Grande do Sul, liderada pelo governador do Estado
Leonel Brizola (cunhado de Jango), a Campanha da Legalidade ganhou força. Essa
campanha tinha como objetivo cumprir a lei, ou seja, assegurar a volta de Jango e a sua
posse como presidente do país. Brizola, apoiado por alguns setores militares, organizou
várias manifestações populares em Porto Alegre.

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Leonel Brizola (à esquerda) e Jango (à direita) reunidos logo depois da Campanha da Legalidade.
Existia um impasse, principalmente, porque os conservadores eram maioria no
Congresso Nacional. A UDN e a parte conservadora do Partido Social Democrático (PSD)
temiam o governo de João Goulart, mas não estavam dispostas a iniciar mais uma crise política
com participação popular. O Congresso adotou, então, a seguinte solução que agradava aos
interesses desses segmentos: Jango assumiria como presidente, porém seus poderes seriam
limitados. Para isso acontecer, o sistema de governo brasileiro deixaria de ser presidencialista
e se tornaria parlamentarista. Jânio renunciou no dia 25 de agosto de 1961, e João Goulart
assumiu no dia 7 de setembro do mesmo ano. Em 18 dias, aconteceu a Campanha da
Legalidade, e o país mudou o sistema de governo.

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HISTÓRIA
Módulo 24

2. O governo parlamentarista de João Goulart


(1961-1963)
Quando assumiu o governo, Jango adotou uma linha mais moderada, reforçando a

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importância dos princípios democráticos para o país. Segundo as regras parlamentaristas,
o chefe do governo (primeiro-ministro) e o ministério seriam indicados pelo Congresso.
Para o cargo de primeiro-ministro, foi então escolhido o deputado Tancredo Neves, do PSD.
O fim do período parlamentarista se deu a partir de um plebiscito, previsto pelo Utilize o leitor óptico do seu
celular para assistir à videoaula.
próprio ato que estipulou o sistema político. No entanto, a data da consulta ao povo para
https://bit.ly/2xtxe1K
a manutenção ou o fim do sistema se daria, segundo o documento, em 1965. A crise do
parlamentarismo, com as sucessivas renúncias dos primeiros-ministros, fez com que o
Congresso aprovasse a antecipação do plebiscito para 6 de janeiro de 1963. Nele, mais
de 60% da população votante apontou a necessidade de se retornar ao presidencialismo.
João Goulart reavia os seus poderes.

História e política
Qual a diferença entre plebiscito e referendo? O artigo em questão estabelecia a proibição do comércio de
Ambos representam consulta à população. Nos dois armas e de munições para civis em todo o território nacional.
casos, a sociedade vai às urnas e expressa a sua vontade por O resultado foi expressivo: 64% da sociedade votou a favor
meio do voto. A convocação cabe ao Congresso Nacional. da manutenção da venda de armas e de munições.
Em um plebiscito, a população é convocada para dar
©selimaksan/iStock

a sua opinião sobre um tema em discussão. Nessa situação,


nenhuma medida foi tomada previamente pelo Congresso,
e a lei é elaborada após o resultado da votação. Foi o que
aconteceu em 1963. A população deveria escolher entre
o presidencialismo e o parlamentarismo. Ao escolher o
primeiro, a lei, feita depois, estabeleceu o nosso sistema
de governo.
Em um referendo, a população também é convocada.
Nesse caso, porém, o Congresso Nacional já elaborou a lei
e deseja que a população diga se é a favor dela ou não. Em
2005, o Brasil passou por um referendo. Nele, a população
O voto é muito importante, tanto no referendo como no plebiscito.
opinou sobre o artigo 35 do Estatuto do Desarmamento.

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Período Democrático: o Governo João Goulart e o Golpe de 1964 HISTÓRIA
Módulo 24

3. O governo presidencialista de João Goulart


(1963-1964)
Como presidente, João Goulart convocou um ministério mais próximo dos
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seus interesses. Herdeiro de Vargas, tentou conciliar a mesma força do Período


Varguista. Jango desejava implantar medidas que foram chamadas de reformas de
base. Estas, para ele, resolveriam os problemas sociais do país. Buscou apoio entre
os militares nacionalistas, os intelectuais, os operários e a burguesia nacional. Jango
esperava repetir a fórmula de sucesso de Getúlio. Entretanto, a conjuntura era outra
e, consequentemente, os interesses dos grupos também. Novos grupos surgiram no
cenário nacional reivindicando os seus direitos; destacou-se, entre eles, o movimento
rural representado pelas Ligas Camponesas.
A situação econômica do país era complicada. A inflação fechou o ano de 1962
com um índice de 54,8%. O salário do trabalhador estava extremamente desvalorizado,
e a insatisfação social com o governo aumentava a cada dia. Para tentar estabilizar a
economia, o ministro do planejamento, Celso Furtado, lançou um plano econômico,
o Plano Trienal. O objetivo era tirar o Brasil da crise e desenvolvê-lo, bem como
promover reformas sociais. Para tanto, previa a reforma agrária, o aumento de
impostos para as camadas com renda mais alta e a redução dos gastos públicos,
mantendo, porém, os investimentos no setor. O plano não deu certo, e João Goulart
não conseguiu apoio suficiente para prosseguir de forma conciliadora.

As Ligas Camponesas
O período de 1950 a 1964 foi marcado pelo crescimento industrial e urbano
em todo o país. As cidades passaram a ser o destino de muitos agricultores que
deixavam suas terras em busca de melhores condições de vida. Isso aconteceu,
em grande parte, porque as relações no campo sofreram consideráveis alterações.
A demanda por gêneros agrícolas aumentou, e a necessidade de mais
terras para o cultivo e pastoreio também. Alguns proprietários passaram
a expulsar agricultores que trabalhavam em suas terras. Esse novo quadro
impulsionou o êxodo rural e a organização dos trabalhadores rurais em busca
dos próprios direitos.
Em 1955, surgiram as Ligas Camponesas. Lideradas por Francisco
Julião, eram compostas de camponeses e tinham como objetivo, por exemplo,
defender o camponês da expulsão de sua terra e da prática do “cambão”, espécie
de imposto cobrado na forma de trabalho, segundo o qual o camponês deveria
trabalhar um dia da semana de graça para o latifundiário.
As Ligas Camponesas se espalharam pelo país, especificamente no
Nordeste. Em 1963, Jango incluiu o trabalhador rural na legislação trabalhista,
o qual passou a ter carteira de trabalho, jornada de trabalho estabelecida,
descanso semanal e férias previstas em lei. Entretanto, a reforma agrária, uma
das prioridades das reformas governamentais de base, ainda era um assunto
polêmico no governo.

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HISTÓRIA
Módulo 24

4. As reformas de base 5. O golpe civil-militar de 1964


Em janeiro de 1964, para realizar as chamadas reformas de O Golpe Militar não foi inteiramente tramado, articulado
base, Jango assumiu uma postura política radical e agressiva e executado em março de 1964. Setores das sociedades civil e
no governo e começou a implantá-la por meio de decretos. militar já estavam divididos e mobilizados antes dessa data.

9o Ano
Jango desejava que fosse feita a reforma na distribuição Desde o momento em que Jango assumiu o governo, os
de terras, na cobrança dos valores de impostos e nos setores conservadores civis eram oposição. Nesse grupo, podem-se
educacional, habitacional e trabalhista. Além disso, pretendia incluir a UDN, os políticos conservadores do PSD e os norte-
que o direito ao voto se estendesse aos analfabetos. Muitas -americanos. A burguesia nacional, preocupada com a possibi-
dessas medidas contrariavam os interesses de grande parte lidade de perder suas propriedades, também se colocou contra as
da sociedade brasileira. reformas de base. Engrossando esse grupo, estavam os militares.
Para ter apoio e demonstrar poder, Jango passou a No início, era apenas o setor aliado aos norte-americanos, mas,
organizar grandes comícios. Nessas manifestações, ele com o passar dos meses, a ameaça à ordem e à hierarquia fez
divulgava as reformas. Esperava, assim, que, diante do apoio com que o número de militares contrários ao governo de Jango
e da pressão popular, o Congresso recuasse e endossasse suas aumentasse. Muitos militares frequentaram a Escola Superior
reformas. Porém, na prática, isso não aconteceu. Em um dos de Guerra, criada em 1949, e foram treinados para manter a
seus comícios mais famosos, o Comício da Central, em segurança nacional. Para esse grupo, somente uma intervenção
13 de março de 1964, no Rio de Janeiro, Jango discursou para militar colocaria ponto final ao governo de Jango, considerado
cerca de 150 mil pessoas e apresentou as reformas de base. comunista.
Aproveitou e assinou dois decretos: um sobre a desapropriação No dia 19 de março, a oposição percebeu que, caso
das refinarias de petróleo que estavam nas mãos dos estran- ocorresse um golpe, teria apoio de grande parte da população.
geiros; e outro a respeito da desapropriação de propriedades Essa certeza veio com uma manifestação conservadora organi-
subutilizadas. zada por mulheres frequentadoras de associações católicas, que
Com esse comício e o anúncio das reformas, Jango acabou realizaram a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”
por acionar o golpe civil-militar. nas ruas de São Paulo. Esse evento reuniu cerca de 500 mil
pessoas em oposição ao governo de João Goulart.
Desentendimentos entre os oficiais da Marinha aumen-
©Folhapress/Folhapress

taram a impopularidade de Jango. O ministro da Marinha


resolveu não punir os oficiais envolvidos na confusão, o que
não agradou às Forças Armadas. Em decorrência desse evento,
até mesmo os militares que apoiavam Jango, por acreditarem
na importância da manutenção da ordem constitucional,
começaram a apoiar a intervenção. Para as Forças Armadas,
a ordem e a hierarquia não podiam, jamais, ser quebradas.

Multidão durante o Comício da Central, ocorrido na Central do Brasil, no Rio de


Janeiro. Nele, João Goulart clamava por apoio popular para aprovar as reformas
de base.

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Período Democrático: o Governo João Goulart e o Golpe de 1964 HISTÓRIA
Módulo 24

■■
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01 Explique por que a oposição conservadora não aceitou a

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posse de João Goulart.
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02 Qual foi o objetivo da Campanha da Legalidade?

03 Qual a solução encontrada para o impasse sobre a posse

■■
de João Goulart?

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04 Diferencie referendo de plebiscito.

05 Indique medidas do Plano Trienal.

■■01
O professor Alcino Salazar, secretário de Justiça da
Guanabara, declarou a O Globo que a extensão do voto ao anal-
fabeto é perigosa concessão aos inimigos do regime democrático,
fundado na verdade e na pureza do princípio da representação.

O Globo, 21 fev. 1964 (adaptado).

Em sua mensagem ao Congresso Nacional, em 15 de


março de 1964, o presidente João Goulart escreveu: “Outra
Na foto, o general Olímpio Mourão Filho e o então governador de São Paulo, Adhemar
discriminação inaceitável atinge milhões de cidadãos que,
de Barros, em junho de 1964. A imagem representa partes constitutivas das forças que
acometeram o Brasil em 1964: a sociedade civil e os militares. embora investidos de todas as responsabilidades (...) e
integrados à força de trabalho, com seu contingente mais
No dia 31 de março, o general Olímpio Mourão Filho, numeroso, são impedidos de votar por serem analfabetos”.
apoiado pelo governador mineiro Magalhães Pinto, mobilizou ALEIXO, J. C. B; KRAMER, Paulo. Os analfabetos e o voto: da conquista da alistabilidade ao desafio
a tomada de poder pelos militares. As tropas estavam em Juiz da elegibilidade. Senatus. Brasília, out. 2000.

de Fora (MG) e foram deslocadas para o Rio de Janeiro.


No dia 1 o de abril, João Goulart voltou a Brasília. As declarações do professor Alcino Salazar e do presi-
Da capital federal, foi para Porto Alegre e, em seguida, dente João Goulart foram feitas em um momento de po-
exilou-se no Uruguai. Na mesma noite, o senador Auro Moura larização na sociedade brasileira, que culminou na ins-
Andrade anunciou que a presidência da República estava vaga. tauração do regime autoritário em 31 de março de 1964.
Ambas as declarações expressavam, naquele momento,
Seguindo a Constituição, assumiu o presidente da Câmara
visões antagônicas relacionadas à seguinte dimensão da
dos Deputados, Ranieri Mazzilli. Não ficou muito tempo
cidadania:
no poder, já que os militares é que, realmente, assumiram.
Leonel Brizola tentou articular uma resistência no Sul, em (A) Direitos políticos.
vão, e também acabou se exilando no Uruguai. Era o fim do (B) Reparações étnicas.
Período Democrático brasileiro, iniciado em 1945. O Brasil, (C) Benefícios sociais.
mais uma vez, mergulhava em uma ditadura, só que, agora, (D) Oportunidades econômicas.
com os militares à frente.

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HISTÓRIA
Módulo 24

■■
02 Uma conjugação adversa foi responsável pelo Golpe
de 1964, que completou 50 anos em 2014. Podemos
identificar diferentes fatores que levaram à queda do
02) A legislação trabalhista, já garantida aos trabalhadores
urbanos, deveria ser estendida aos trabalhadores rurais
por meio do Estatuto do Trabalhador Rural, aprovado em
Governo João Goulart, como os de ordem econômica, 1963.
político-institucional, social, ideológica, assim como

9o Ano
04) Promulgada em 1891 durante o governo de Marechal Deodoro
acontecimentos deflagradores de ações reativas, tanto no da Fonseca, a “Constituição antiquada”, mencionada por
plano civil como no militar, que culminaram no golpe.
Goulart, mantinha evidentes privilégios à elite oligárquica
brasileira.
A partir da afirmativa acima:
08) Entre os pontos fundamentais das chamadas “reformas de
a. explique um dos fatores que levaram à queda do governo base” defendidas pelos partidos de oposição ao Governo
de João Goulart. Jango, estavam a redução drástica dos impostos no Brasil

■■
b. identifique um acontecimento deflagrador do Golpe de 1964. e a maior abertura do mercado nacional para investidores
estrangeiros.
03 16) A vitória do Golpe Militar de 1964 contou com apoio da
sociedade civil e de políticos de oposição ao Governo
Goulart, como Adhemar de Barros, Carlos Lacerda
e Magalhães Pinto, governadores de São Paulo, da
Guanabara e de Minas Gerais, respectivamente.
32) O apoio ao comício de João Goulart pode ser percebido
pela grande manifestação em defesa da igualdade, da
liberdade e da justiça social, conhecida como “Marcha
da Família com Deus pela Liberdade”, ocorrida em São
Paulo, no dia 19 de março de 1964.

■■
Soma: ( )

Disponível em: <www.cartamaior.com.br2>. Acesso em: 15 set. 2014. 04 Veja o trecho desta notícia, publicada na Folha de S.Paulo,
em 20 de março de 1964:

O Comício da Central do Brasil: A disposição de São Paulo e dos brasileiros de todos


O presidente se compromete com a reforma agrária os recantos da pátria para defender a Constituição e os
A Constituição atual, trabalhadores, é uma Constituição princípios democráticos, dentro do mesmo espírito que ditou
antiquada, porque legaliza uma estrutura socioeconô- a Revolução de 32, originou ontem o maior movimento cívico
mica já superada; uma estrutura injusta e desumana. já observado em nosso Estado: a “Marcha da Família com
O povo quer que se amplie a democracia, quer que se ponha Deus pela Liberdade”. Com bandas de música, bandeiras
fim aos privilégios de uma minoria; que a prosperidade da de todos os estados, centenas de faixas e cartazes, em
terra seja acessível a todos. uma cidade com ar festivo de feriado, a “Marcha” começou
na Praça da República e terminou na Praça da Sé, que
Discurso de João Goulart apud DARATIOTO, F. F. M.; DANTAS, J. De Getúlio a Getúlio:
a democracia populista. São Paulo: Atual, 1991. p. 63-64.
viveu um dos seus maiores dias. Meio milhão de homens,
mulheres e jovens – sem preconceitos de cor, credo religioso
ou posição social – foram mobilizados pelo acontecimento.
Sobre o discurso de João Goulart e o contexto político do
Com “vivas” à democracia e à Constituição, mas vaiando
seu governo, julgue as alternativas a seguir e dê a soma
os que consideram “traidores da pátria”, concentraram-se
dos itens corretos:
defronte da catedral e nas ruas próximas. Ali, oraram pelos
01) O discurso do presidente João Goulart vinha ao encontro destinos do país. E, por meio de diversas mensagens, dirigiram
das pressões dos movimentos sociais rurais, que se palavras de fé no Deus de todas as religiões e de confiança
manifestavam por meio das Ligas Camponesas, exigindo nos homens de boa-vontade. Mas, também, de disposição para
“reforma já” e “reforma agrária na lei ou na marra”. lutar, em todas as frentes, pelos princípios que já exigiram o
sangue dos paulistas para se firmarem.

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Período Democrático: o Governo João Goulart e o Golpe de 1964 HISTÓRIA
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Sobre a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, é

■■
correto afirmar que:
01
(A) foi uma manifestação pública organizada por vários
setores da esquerda brasileira em apoio ao governo do
9o Ano

presidente João Goulart.


(B) foi uma demonstração de que parte da classe média
conservadora brasileira e do clero estava claramente
contrária à ideia de um golpe militar no Brasil.
(C) teve como resposta imediata o Comício das Reformas
realizado no Rio de Janeiro, organizado pelas centrais
sindicais, com a participação de João Goulart.
(D) organizada pela União Cívica Feminina e pela Campanha
da Mulher pela Democracia, com o apoio de políticos
conservadores, serviu de “aval” civil ao Golpe Militar de 1964.
(E) teve, entre os seus principais oradores, os governadores
do Rio Grande do Sul (Leonel Brizola) e de Pernambuco

■■
(Miguel Arraes).

05
Não queremos viver na escravidão BANDEIRA, Augusto. Correio da manhã, 21 set. 1963. In: MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Jango e o
Golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. p. 104.
Nem deixar o campo onde nascemos
Pela terra, pela paz e pelo pão: É correto afirmar que a charge, publicada em setembro
de 1963:
Companheiros, unidos venceremos.

JULIÃO, Francisco. “Hino camponês” apud MEDEIROS, Leonilde Sérvolo de. História dos (A) celebra as reformas realizadas pelo presidente João Goulart
movimentos sociais no campo. Rio de Janeiro: FASE, 1989. p. 70.
e as interpreta como sendo resultado das mobilizações
populares.
Sobre as Ligas Camponesas atuantes no final da década (B) mostra que o golpe militar é iminente e que o presidente
de 1950, é incorreto afirmar que: João Goulart defende a necessidade de reprimir os movi-
mentos sociais.
(A) influenciaram grupos defensores da justiça social no (C) critica o presidente João Goulart e faz alusão a protestos,
campo. greves e forte crise política e social, que ocorriam durante
(B) prestaram assistência social jurídica aos trabalhadores seu governo.
rurais. (D) rejeita a autoridade do presidente João Goulart e defende
(C) reuniram os trabalhadores dos engenhos na luta pelos a rebelião como única saída para superar as dificuldades
seus direitos. políticas e econômicas.
(D) adotaram uma postura de colaboração com as oligarquias (E) destaca o uso político da mídia pelo presidente João
rurais. Goulart e critica a influência do rádio e da televisão no
(E) mobilizaram os camponeses para a realização de uma cotidiano dos brasileiros.
reforma agrária.

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HISTÓRIA
Módulo 24

■■
02

9o Ano
BANDEIRA, Augusto. Correio da manhã, 8 set. 1962. In: MOTTA Rodrigo Patto Sá. Jango e o Golpe de 1964 na caricatura.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006 (adaptado).

A charge representa João Goulart e Juscelino Kubitschek. A que episódio polí-


tico a imagem se refere? Qual é o contexto político interno em que tal episódio
se insere? Justifique sua resposta.

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Ditadura Civil-Militar: os Governos

9o Ano
Castelo Branco e Costa e Silva
História
Módulo

Você sabe quantos governos ditatoriais o Brasil já teve?

©Arquivo Nacional\Wikimedia
O Brasil já passou por duas ditaduras, uma com Getúlio Vargas (1937-1945)
e outra com os militares (1964-1985). Entretanto, é possível observar que o povo
brasileiro normalmente se recorda apenas da ditadura mais recente, a dos militares.
É importante ressaltar que a chamada Ditadura Militar – efetivamente comandada
por militares – contou com o apoio de empresários, políticos, civis e parte da imprensa,
havendo, por isso, quem a denomine “Ditadura Civil-Militar”. Como vimos em módulo
anterior sobre o governo de João Goulart, o Brasil passava por um momento de crise
política e econômica, além de estar inserido no contexto mundial da Guerra Fria. Os
militares tomaram o poder nesse cenário de conflitos.
Neste módulo, vamos estudar os dois primeiros governos militares: o do general
Castelo Branco e o do general Artur da Costa e Silva. Em cada um, buscaremos apre-
sentar as principais características políticas, as decisões econômicas que tomaram para
enfrentar a crise nacional e as medidas adotadas. Vamos, ainda, identificar, entre os
militares, diferentes interesses e convicções sobre a melhor forma de governar o país.

Artur da Costa e Silva e ministros no dia da sua


posse, 15 de março de 1967, Arquivo Nacional.

Expectativas de aprendizagem:
– Compreender a Ditadura Civil-Militar brasileira na lógica
da Guerra Fria;
– entender os diferentes projetos políticos dentro do Exército
do Brasil;
– examinar as formas de resistência da população aos militares.
HISTÓRIA
Módulo 25

1. A América Latina e a Guerra Fria


Na década de 1960, o mundo vivia a ameaça de uma guerra nuclear. E, em meio
aos países capitalistas, as revoluções socialistas também eram temidas. Além disso,
era necessário que os países escolhessem que nação apoiar: EUA ou URSS.

9o Ano
Na América Latina, as pressões eram grandes, pois os EUA não aceitariam a
presença de um país comunista em seu continente; logo, a Revolução Cubana, em
1959, foi uma preocupação para os norte-americanos. Assim, políticas de aproximação,
empréstimos e treinamentos militares de combate a comunistas fizeram parte da estra-
tégia norte-americana para a permanência e a vitória do capitalismo nesse continente.
Os EUA criaram escolas militares. Seu objetivo era treinar homens para combater
as revoluções comunistas e ensiná-los a governar e a disseminar esse aprendizado
entre os militares dos seus países. A Escola das Américas, localizada em Fort Gulick,
no Panamá, foi uma das mais conhecidas.
Os militares brasileiros que estudaram em escolas militares norte-americanas
fundaram a Escola Superior de Guerra em 20 de agosto de 1949 e inseriram a Doutrina
de Segurança Nacional no Brasil. Tal doutrina tinha como objetivo combater as
ameaças comunistas no país desenvolvendo estratégias destinadas a controlar a ação
desses grupos.
O golpe civil-militar aconteceu em 1964; porém, a preocupação em evitar
governos comunistas existia desde o final da Segunda Guerra Mundial.

A dualidade do Exército brasileiro


O Exército brasileiro, quando tomou o poder em 1964, possuía o objetivo de afastar a suposta
ameaça comunista do nosso país, entretanto não tinha um projeto político único de governo.
Os militares estavam divididos em dois grupos: os da linha dura e os da Sorbonne. Cada um
pensava de forma diferente em relação à organização política para o país. Em alguns momentos,
durante a ditadura, essas divergências causaram desgastes no Exército.
O grupo da Sorbonne era composto por soldados que haviam combatido na Segunda Guerra
Mundial, sendo considerados intelectuais. Eram aliados da UDN e desejavam um Executivo forte, o
alinhamento incondicional com os EUA e a entrada de capital estrangeiro no país.
O grupo da linha dura desejava um Executivo
©Acervo Última Hora/Folha Press

forte e autoritário. Não tinha ligações diretas com


os norte-americanos, mas propunha uma política
anticomunista. Desejava um governo formado apenas
por militares.
Ao longo do período ditatorial, os militares
promoveram eleições presidenciais cujo objetivo era
equilibrar os interesses desses dois grupos. O presi-
dente general Castelo Branco representava o grupo
da Sorbonne; seu sucessor, o marechal Costa e Silva,
representava o grupo da linha dura.

Costa e Silva, um dos defensores da “linha dura”.

17
Ditadura Civil-Militar: os Governos Castelo Branco e Costa e Silva HISTÓRIA
Módulo 25

2. Governo Castelo Branco Em 1965, foi publicado o AI-2, que promoveu outras
alterações na Constituição: extinguiu a pluralidade partidária,
(1964-1967) estabeleceu o bipartidarismo e determinou eleições indiretas
para presidente e para governador. Assim, evitava-se a vitória
Ao instaurar o novo governo, os militares enfrentaram a
9o Ano

de algum político opositor ao regime.


oposição do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e do Partido
Socialista (PS), mas tiveram o apoio da União Democrática O bipartidarismo passou a imagem de um governo
Nacional (UDN) e do Partido Social Democrático (PSD). democrático, e não de uma ditadura. Os dois partidos eram a
O presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, assumiu proviso- Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido do governo,
riamente a presidência do país. A elite brasileira, a UDN e e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido da
o PSD acreditavam que, após a intervenção militar, o poder oposição consentida. Na prática, os dois não tiveram força
seria transferido para as suas mãos. Entretanto, interessados política, pois era o Exército que comandava. Em 1966, mais
em permanecer no poder, os militares tinham outros planos. dois atos institucionais foram criados (o AI-3 e o AI-4), ambos
estabelecendo novas medidas para as eleições e aumento da
O golpe do dia 31 de março foi ganhando contornos
centralização política no Executivo.
políticos e legitimação. Atos institucionais foram criados
– normas decretadas pelos militares. No dia 9 de abril, foi Em 1967, foi estabelecida uma nova Constituição para o
imposto o Ato Institucional no 1 (AI-1), que estabeleceu a país. Com isso, consolidou-se o Poder Executivo, e as eleições
demissão de funcionários civis e militares ligados ao governo para presidente e para governador tornaram-se indiretas. Nesse
de João Goulart, assim como cassou mandatos de políticos e mesmo ano, assumiu o marechal Costa e Silva.
alterou as regras das eleições, do mandato e dos poderes do
presidente da República. Segundo essa norma, o Executivo
ganhava mais poderes. O novo presidente foi eleito de forma
indireta pelo Congresso, e, apesar das divergências políticas
entre os militares, o escolhido foi o general Castelo Branco. FGTS
No plano político, o governo de Castelo Branco tinha
O FGTS é um importante direito adquirido pelo
um ministério composto por políticos da UDN e militares.
trabalhador brasileiro. Criado em 1966, ajudou no
Esse primeiro governo militar enfrentou sérios problemas
processo de modernização das empresas.
econômicos. Criou-se o Plano de Ação Econômica do
Governo (Paeg), cujo principal objetivo era controlar a No início de cada mês, o empregador deposita em
inflação do país. Para tanto, adotaram-se medidas impo- uma conta aberta (em nome do empregado) na Caixa
pulares, tais como o corte de alguns gastos do governo, o Econômica Federal (banco do governo responsável
aumento dos impostos, a diminuição dos créditos e o controle pela administração do benefício) o valor referente a
dos salários. 8% do salário a ser pago. O empregado só terá acesso
a tal quantia quando for demitido sem justa causa
Na legislação trabalhista, houve uma mudança impor-
ou em outras situações consideradas especiais, como
tante: até 1966, o funcionário que trabalhasse dez anos em uma
compra ou quitação de parcelas do financiamento de
empresa poderia usufruir o direito da estabilidade. O general
um imóvel, em casos de doenças etc.
Castelo Branco extinguiu essa lei e criou em seu lugar o Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
A política externa independente adotada por Jânio Quadros
foi substituída, e o Brasil se tornou aliado dos Estados Unidos. Ao
adotar essa postura, os norte-americanos voltaram a conceder
mais empréstimos ao Brasil e, consequentemente, houve uma
sensível melhora na economia, embora a população continuasse
sofrendo com os impostos e a desvalorização do salário.

18
HISTÓRIA
Módulo 25

3. Governo Costa e Silva A resposta dos militares às oposições consistiu em prisões


arbitrárias, investigações, censuras e torturas. A Frente Ampla
(1967-1969) teve as suas movimentações políticas proibidas pelo governo.
Costa e Silva era um militar do grupo da linha dura do Os militares criaram órgãos dentro do governo para

9o Ano
Exército, em cujo governo os militares mostraram a sua força. controlar e vigiar a população. Entre eles, o mais expressivo
era o Serviço Nacional de Informações (SNI).
Assumiu o poder em um momento de grande insatisfação
popular, pois o governo anterior, para estabilizar a inflação,
adotara medidas desfavoráveis para o trabalhador brasileiro. 3.1 1968: o ano que não terminou
Costa e Silva e seus ministros estabeleceram medidas de Essa denominação foi dada ao ano de 1968 pelo escritor
expansão de crédito no setor agrícola e industrial, além de Zuenir Ventura, em função das suas peculiaridades. Foi
terem incentivado os investimentos estrangeiros no país, mas bastante conturbado, não só no Brasil, mas em vários países.
mantiveram os salários controlados, o que fazia com que o Esse ano foi marcado por manifestações populares que
poder aquisitivo do trabalhador diminuísse. reivindicavam maior liberdade política, direitos, mudanças
A oposição civil aos governos militares ganhou força nos velhos costumes etc. Os estudantes saíram às ruas; a classe
e surgiram, assim, as guerrilhas. Formadas principalmente média, enfrentando dificuldades financeiras, passou a apoiar as
pela esquerda brasileira e por estudantes, esses movimentos se manifestações, e as greves em parques industriais (Osasco-SP
espalharam pelo Brasil. A tática de guerrilha não era novidade e Contagem-MG) ganharam destaque, passando a incomodar
para os militares, uma vez que, influenciados pelas escolas de o Exército.
guerra norte-americanas, aprenderam a lidar com essa forma Uma passeata marcante aconteceu no Rio de Janeiro em
de luta e protesto. A ideia da guerrilha era atuar em vários junho de 1968. Ela ficou conhecida como a Passeata dos
pontos do país, articulando uma resistência contra o governo Cem Mil. Nela, os participantes cobravam do governo uma
e formando, então, um exército popular. posição sobre os problemas estudantis. Muitos se manifestavam
Em 1966, foi criada uma oposição organizada por políticos contra a possível privatização das universidades e também
importantes do cenário nacional, a Frente Ampla. Composta protestavam contra a morte do estudante Edson Luís de
por políticos antes rivais – Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda Lima Souto, de 18 anos, em uma invasão da polícia a um
e João Goulart –, tinha como objetivo restaurar a democracia. restaurante universitário em São Paulo.
ress
©Acervo Última Hora/Folhap

©Folhapress/Folhapress

O cantor e compositor Chico Buarque duran


te a Passeata dos Cem Mil, em 1968.

te Ampla.
discursando após a formação da Fren
O político e jornalista Carlos Lacerda

19
Ditadura Civil-Militar: os Governos Castelo Branco e Costa e Silva HISTÓRIA
Módulo 25

O deputado Márcio Moreira Alves, apesar de apoiar inicialmente o governo militar,


no dia 2 de dezembro de 1968 discursou no Congresso contra a invasão militar na
Universidade de Brasília. O governo, enfurecido com o tom utilizado no discurso, exigiu
Utilize o leitor óptico do seu que o Congresso cassasse o mandato do deputado, mas a Câmara não aceitou. Alguns
9o Ano

celular para assistir à videoaula.


apontam que esse fato foi o estopim para o endurecimento do governo, pois, para não
https://bit.ly/2XDRD3b
perder o controle da situação, os militares fortaleceram ainda mais o Executivo.
No dia 13 de dezembro de 1968, publicou-se o AI-5, considerado por muitos
estudiosos como “o golpe dentro do Golpe”. Por meio dessa norma, os militares impuseram
uma série de medidas que ampliaram o poder do Exército. Entre elas, destacam-se os
seguintes poderes conferidos ao presidente:

• Decretar recesso do Congresso a qualquer momento;


• cassar mandatos parlamentares;
• intervir em municípios e estados;
• suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer pessoa;
• suspender o direito ao habeas corpus do cidadão;
• impor censura prévia a jornais, revistas e a programas de TV.

©Folhapress/Folhapress

Reprodução da capa do jornal Folha de S. Paulo, em 14 de dezembro de 1968, que noticia o


Ato Institucional nº 5 (AI-5).

20
HISTÓRIA
Módulo 25

Como resultado, políticos perderam seus mandatos, e O trecho dessa reportagem, produzida no ano de 1964,
jornalistas, estudantes, artistas e intelectuais foram perse- demonstra que a democracia era:
guidos, presos e mortos ou desapareceram. O Brasil, após
1968, caminhou por um período controverso. Afinal, muitas (A) adotada pelos jornais e revistas da época.
(B) justificada para restauração da lei e da ordem.

9o Ano
decisões eram tomadas sem a consulta popular e política,
(C) articulada por setores que apoiaram o golpe.
muitos fatos eram proibidos de ser publicados e muitas vidas

■■
(D) reformulada pelas mídias para defender o regime.
foram perdidas.
Em 27 de agosto de 1969, vítima de uma trombose 02
cerebral, Costa e Silva foi afastado do poder. Assim, de agosto O regime instaurado em 1964 acirrou ainda mais o
a dezembro desse mesmo ano, o país foi governado por alguns radicalismo político no Rio Grande do Norte. Intelectuais e
militares até que se indicasse o novo ocupante da presidência. políticos foram presos e torturados (Vulpiano Cavalcanti);
Nesse momento de grande instabilidade política, a esquerda alguns foram exilados (Djalma Maranhão); muitos tiveram os
guerrilheira aproveitou e sequestrou o embaixador norte-ame- seus direitos políticos suspensos (Agnelo Alves); outros foram
ricano Charles Burke Elbrick. Em troca, exigiu a liberdade de mortos pelos agentes da repressão (Luiz Maranhão Filho).
15 presos políticos e a publicação de um manifesto. O governo Invariavelmente, todos foram, de alguma forma, calados.
cedeu: enviou os presos políticos para o México e publicou o Trindade, 2010, p. 255.
manifesto. Após esse episódio, a repressão militar à guerrilha
se intensificou.
Durante grande parte do Período Militar, tanto no Rio
Em dezembro, o militar Emílio Garrastazu Médici foi Grande do Norte quanto no restante do país, houve a
indicado para presidente. prevalência de apenas dois partidos políticos oficiais.
Assinale-os:

■■
(A) PSDB e ANL.
(B) PT e PC do B.
01 O que os Estados Unidos fizeram para manter a América (C) PMDB e PTB.

■■ ■■
aliada ao capitalismo? (D) Arena e MDB.

■■
02 O que significa Ato Institucional? 03 O historiador Daniel Aarão Reis defende que o regime
instaurado em 1964 não é conhecido apenas como

■■
03 O que o AI-1 estabeleceu? “Ditadura Militar”, mas como “Ditadura Civil-Militar”,
pois contou com a participação civil.
04 O que o AI-2 estabeleceu em relação aos partidos? Cite

■■
os partidos da ditadura. Para exemplificar o envolvimento civil, é possível citar:

05 O que significa FGTS? Ele substituiu qual direito dos (A) as manifestações populares, como a “Passeata dos Cem
trabalhadores? Mil”, a campanha pela anistia e a “Marcha da Família com
Deus e pela Liberdade”.
(B) a atuação homogênea do clero brasileiro e da Associação

■■
Brasileira de Imprensa (ABI), que temiam a instauração
do comunismo no país.
01 (C) a participação da população nas eleições parlamentares,
Ressurge a democracia. Vive a nação dias gloriosos. legitimando as decisões políticas por meio de referendos.
Porque souberam unir-se todos os patriotas, independen- (D) o apoio de empresários, grupos midiáticos, políticos civis
temente de vinculações políticas, simpatias ou opinião e classes médias urbanas que davam sustentação aos
sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a militares.
democracia, a lei e a ordem.

Trecho da reportagem “Ressurge a democracia”. O Globo, Rio de Janeiro, 2 abr. 1964.


Disponível em: <www.cartamaior.com.br>. Acesso em: 23 ago. 2014.

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Ditadura Civil-Militar: os Governos Castelo Branco e Costa e Silva HISTÓRIA
Módulo 25

■■ 04

■■
No início de 1969, a situação política se modifica.
A repressão endurece e leva à retração do movimento de 01
massas. As primeiras greves, de Osasco e Contagem, têm
9o Ano

seus dirigentes perseguidos e são suspensas. O movimento


estudantil reflui. A oposição liberal está amordaçada pela
censura à imprensa e pela cassação de mandatos.
CARVALHO, Apolônio de. Vale a pena sonhar. Rio de Janeiro: Rocco, 1997, p. 202.

O testemunho, dado por um participante da resistência à


ditadura militar brasileira, sintetiza o panorama político
dos últimos anos da década de 1960, marcados:

(A) pela adesão total dos grupos oposicionistas à luta armada


e pela subordinação dos sindicatos e centrais operárias aos
partidos de extrema esquerda.
(B) pelo bipartidarismo implantado por meio do Ato
Institucional no 2, que eliminou toda forma de oposição Passeata dos Cem Mil, Rio de Janeiro, 26 jun. 1968.
institucional ao regime militar. Disponível em: <alerj.rj.gov.br>.

(C) pela desmobilização do movimento estudantil, que foi


bastante combativo nos anos imediatamente posteriores
O ano de 1968 tornou-se sinônimo de uma rebelião
ao golpe de 64, mas depois passou a defender o regime.
(D) pelo apoio da maioria das organizações da sociedade civil estudantil mundial. Mas 1968 não existiu de uma forma
ao governo militar, empenhadas em combater a subversão isolada; ele foi o ponto culminante de uma década de movi-
e afastar, do Brasil, o perigo comunista. mentos que se espalharam por quase todo o planeta. No
(E) pela decretação do Ato Institucional no 5, que limitou Brasil, na França, no México, nos Estados Unidos, na Espanha,
drasticamente a liberdade de expressão e instituiu medidas no Canadá, na Argentina, na Venezuela, na Polônia, na

■■
que ampliaram a repressão aos opositores do regime. Tchecoslováquia, países com diferentes realidades políticas
e diversas condições econômicas se viram enfrentando um
05 Os Atos Institucionais (AI) foram normas elaboradas mesmo fenômeno político: rebeliões de jovens estudantes
no período de 1964 a 1969, durante a Ditadura Militar, universitários e secundaristas.
editadas pelos comandantes-chefes das Forças Armadas e
pelos presidentes da República, com o aval do Conselho de ARAUJO, M. P. Memórias estudantis: da fundação da UNE aos nossos dias. Rio de Janeiro:
Relume Dumará, 2007 (adaptado).
Segurança Nacional. A respeito das mudanças provocadas
pelos diversos Atos Institucionais, assinale o que for correto:
Os movimentos de contestação política ocorridos na
01) Levaram à modificação da Constituição de 1946, com o década de 1960 tiveram motivações variadas. No Bra-
estabelecimento de eleição indireta para a presidência da sil, a Passeata dos Cem Mil foi o episódio mais mar-
República. cante nesse contexto.
02) Estabeleceram o fechamento dos partidos políticos e
instauraram o bipartidarismo (Arena e MDB) no Brasil. Aponte dois elementos do contexto político brasileiro
04) Autorizaram o presidente da República a decretar estado da época associados diretamente à ocorrência dessa pas-
de sítio, cassar mandatos eletivos, proibir manifesta- seata. Em seguida, apresente um motivo que, em 1968,
ções públicas de caráter político e decretar recesso do contribuiu para a eclosão de revoltas em um dos outros
Congresso Nacional. países citados no texto.
08) Garantiram ao presidente da República o direito de fechar
igrejas e templos vinculados a qualquer religião que fosse
considerada contrária ao governo militar.
16) Dispuseram sobre banimento do território nacional
de qualquer pessoa considerada nociva ou perigosa à
segurança nacional.

Soma: (  )

22
HISTÓRIA
Módulo 25

■■
02 Leia os textos a seguir:

Coube ao gen. Mourão Filho, cmt. da 4a Região Militar,


Lembro-me bem do dia 31 de março de 1964. Era aluno
do curso de Sociologia e Política da Faculdade de Ciências
Econômicas da antiga Universidade de Minas Gerais e
essa histórica iniciativa, a 31 de março, nas altaneiras militava na Ação Popular, grupo de esquerda católica (...) No
montanhas de Minas. E a Revolução, sem que tivesse havido

9o Ano
dia seguinte, 1o de abril, já não havia dúvida sobre a vitória
elaboradas articulações prévias entre os chefes militares – do golpe. Saí em companhia de colegas a vagar pelas ruas
não teria havido tempo para isso –, empolga o Exército, a de Belo Horizonte (...) Contemplávamos, perplexos, a alegria
Marinha e a Aeronáutica, para ter seu epílogo às 11h45min dos que celebravam a vitória e assistíamos, assustados, ao
do dia 2 de abril, no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, início da violência contra os derrotados.
com a partida do ex-presidente João Goulart para o estrangeiro.
CARVALHO, J. M. de. Forças Armadas e política no Brasil.
FIGUEIREDO, M. P. A Revolução de 1964. Um depoimento para a história pátria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 118.
Rio de Janeiro: APEC, 1970, p. 11-12 (adaptado).

Que denominação cada autor utilizou para se referir ao


regime instaurado após 31 de março de 1964? A que se
deve essa diferença de denominação?

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Ditadura Civil-Militar:

9o Ano
Governo Médici
História
Módulo

Usina de Itaipu.

©Sjo\iStock
Você já ouviu falar nas chamadas
“obras faraônicas”?
Durante o regime militar, o governo investiu em
grandiosos projetos de engenharia civil, como a Rodovia
Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói e a usina hidrelétrica de
Itaipu, construída em um trecho de fronteira do Rio Paraná
e considerada uma das maiores do mundo em produção de
energia.
Essas obras, denominadas pela imprensa da época como
“faraônicas”, foram facilitadas pelo cenário de prosperidade
econômica vivenciado no Brasil durante o chamado Milagre
Econômico (1969- 1973).
Neste módulo, vamos estudar o governo de Emílio
Garrastazu Médici, momento da história brasileira em que
essas três construções citadas foram iniciadas.

Expectativas de aprendizagem:
– Examinar as motivações que levaram ao crescimento
econômico do Brasil, conhecido como Milagre Econômico;
– examinar a ideia de propaganda político-ideológica
implementada pelos militares.
HISTÓRIA
Módulo 26

1. Introdução
No contexto da Guerra Fria, todos que se colocavam contra o governo eram tratados
como parte de uma ameaça comunista. Houve, por isso, censura da mídia e de qualquer
tipo de manifestação cultural, além da manipulação por meio das propagandas políticas,

9o Ano
que foram importantes para o fortalecimento da ditadura e para o aumento do controle
sobre a população.
A sociedade brasileira vivia bons momentos no futebol e era beneficiada pelo Milagre
Econômico. Contudo, mesmo com a repressão e a censura, movimentos guerrilheiros
foram organizados e articulados contra os militares.

2. A organização política e econômica do


Governo Médici
Médici fazia parte do grupo dos militares da “linha dura”. Não possuía muita
experiência em administração, mas lhe agradava cumprir as normas da hierarquia militar.
Uma de suas características era delegar funções. Cercou-se de pessoas ligadas às áreas da
administração, da economia e da engenharia para ajudá-lo no governo: eram os tecnocratas.
Coube a esse grupo promover o crescimento e o desenvolvimento do país seguindo as
orientações dos militares e estando atentos aos interesses norte-americanos.
Após o Golpe de 64, o Brasil abandonou completamente a política externa indepen-
dente proposta por Jânio Quadros e seguida por João Goulart, adotando um alinhamento
em relação aos EUA e ao capitalismo.

2.1 O Milagre Econômico


©BOMBAERT Patrick/iStock

Um dos objetivos do governo era aumentar as reservas cambiais, ou seja, a quantidade de moeda forte no país.

A expressão “Milagre Econômico” é usada para designar o período do Governo Médici


marcado pelo crescimento econômico acelerado. O Brasil, até 1973, chegou a crescer
cerca de 10% ao ano, e a inflação estava controlada. O salário continuava desvalorizado,
porém a oferta de emprego era grande; logo, mesmo ganhando pouco, os brasileiros não
conviviam com o desemprego. As exportações cresceram muito, graças aos incentivos
fiscais concedidos aos exportadores.
É importante esclarecer que esse momento positivo da economia não surgiu no
Governo Médici. Desde o governo do general Costa e Silva, as ações do ministro Delfim Neto
buscaram ajustar a economia brasileira; o apogeu desse plano aconteceu no Governo Médici.

25
Ditadura Civil-Militar: Governo Médici HISTÓRIA
Módulo 26

Esse quadro econômico provocou certa euforia na


população. Os brasileiros passaram realmente a acreditar que
o país havia abandonado o seu passado colonial de pobreza
A Rodovia Transamazônica
e miséria. O discurso do governo era de que logo o país faria
O objetivo do governo, com a construção da Rodovia
9o Ano

parte do grupo dos países desenvolvidos e a população, diante


do quadro positivo que vivenciava, realmente acreditou nessa Transamazônica, era ocupar a Amazônia e usurfruir dos
realidade. Esse crescimento econômico e as ofertas de opor- recursos que ela pudesse oferecer. Além disso, desejava
tunidades explicavam, portanto, o apoio da classe média e das deslocar as migrações do Nordeste para essa região.
camadas populares à ditadura militar. Assim, resolveria o problema do Sudeste, sem infraes-
As mudanças econômicas foram possíveis porque o trutura para receber tantos migrantes, e promoveria o
governo investiu nos setores industriais, agrícolas e em desenvolvimento da Região Norte. Contudo, o plano
grandes obras públicas (pontes, estradas e usinas hidrelé- não deu certo. A ocupação e a exploração de algumas
tricas). A Ponte Rio-Niterói e a Rodovia Transamazônica são empresas levaram à expulsão de posseiros que viviam
exemplos de obras desse período. Outro fator responsável pelo na região, e o desmatamento gerou o empobrecimento
crescimento foi o grande investimento estrangeiro no país. do solo. Com isso, havia milhares de colonos na região
Várias empresas multinacionais, aproveitando as facilidades vivendo na miséria.
ofertadas pelo governo (baixos impostos e obras gratuitas para Hoje, ela é uma importante rodovia que liga as
as suas instalações) estabeleceram-se no Brasil. regiões Norte e Nordeste. Contudo, a manutenção de
mais de dois terços da rodovia é precária, com a floresta
reocupando as vias. Além disso, a maioria dos trechos
Domínio Público/Folhapress

conservados no Norte ainda são em estrada de terra.


©Brasil2/iStock

O presidente da República Emílio Garrastazu Médici (ao centro), ao lado do


ministro Delfim Netto e da primeira-dama Scila Médici.
Desmatamento na Floresta Amazônica.
O Milagre Econômico, entretanto, deixou também
algumas consequências negativas para a sociedade brasileira:
arrocho salarial, concentração de renda entre os mais ricos,
aumento da dívida externa e das desigualdades entre as regiões
brasileiras. Por mais que o ministro Delfim Neto afirmasse que
era importante “esperar o bolo crescer para depois dividir”,
grande parte da população brasileira jamais se beneficiou
dessa divisão.

26
HISTÓRIA
Módulo 26

3. A sociedade brasileira no Governo Médici


Como já foi dito, uma parcela considerável da população brasileira apoiava o
regime militar. De certa forma, os resultados da política econômica justificavam essa
aceitação. No entanto, há quem considere que grande parte desses resultados foi fruto

9o Ano
da censura imposta e das perseguições políticas.
Não existiam greves de trabalhadores, passeatas de estudantes, partidos de
oposição nem jornais que mencionassem os problemas do país. Nos noticiários e na
imprensa, só eram divulgadas notícias positivas. Assim, muitos achavam que o país
havia melhorado muito com os militares.
Letras de músicas foram censuradas e os famosos festivais tornaram-se palcos de
protestos. Muitos cantores, cartunistas e jornalistas foram investigados. Alguns foram
presos e interrogados; outros, exilados. Os militares adotavam uma atitude ostensiva.

3.1 A propaganda nacionalista


O governo de Médici criou a Assessoria Especial de Relações Públicas (Aerp).
Cabia a ela trabalhar a imagem de um país tranquilo, sem problemas e em crescimento,
e sempre associar a imagem do próprio Médici à de um homem bondoso, ligado à
cultura e ao futebol. A conquista da Copa do Mundo de 1970 foi o ponto alto para
o governo brasileiro nesse sentido, já que ele aproveitou o clima de euforia e alegria
para promover o nacionalismo, com marchinhas como “Pra frente, Brasil”.

Domínio Público/Wikimedia

Seleção de 1970. Quando chegaram ao Brasil, os jogadores foram recebidos pelo presidente como heróis.

Slogans como “Ninguém segura esse país” e “Brasil, ame-o ou deixe-o” eram
divulgados em todo o país, reforçando o nacionalismo e o sucesso dos militares no
poder. Com tanta censura e propaganda política, era muito difícil que a população
soubesse o que realmente estava acontecendo no Brasil.

27
Ditadura Civil-Militar: Governo Médici HISTÓRIA
Módulo 26

4. As revoltas e a repressão:
“Os anos de chumbo”
Para manter o silêncio e o controle, foram criados órgãos de segurança. Eles
9o Ano

estavam espalhados por todo o país e possuíam autonomia para aplicar as determi-
nações do governo. Os estados, por meio da sua polícia, criaram o Departamento de
Ordem Política e Social (Dops). As polícias estaduais e a federal estavam subordinadas
ao Exército, e todos obedeciam ao Serviço Nacional de Informação (SNI).
Em 1969, em resposta aos movimentos guerrilheiros, o Exército criou a Operação
Bandeirantes (Oban) para organizar a repressão na Região Sudeste. Logo depois,
fundou os Destacamentos de Operações e Informações e Centros de Operações de
Defesa Interna (DOI-Codi), nos quais os suspeitos eram submetidos a interrogatórios.
A Igreja, em 1964, diante da ameaça comunista, apoiou o golpe militar.
Contudo, após alguns anos de ditadura, retirou seu apoio e passou a ser oposição ao
regime. Por se posicionarem contra a repressão, padres foram presos e torturados.
A relação do Governo Médici com a Igreja ficou muito desgastada, pois a instituição
religiosa passou a denunciar os problemas sociais no Norte e no Nordeste e o descaso
do governo para com essas regiões do país.

A luta armada: os grupos revolucionários


Desde a Revolução Cubana, em 1959, o Brasil e

El Gráfico (Argentina). Data: 1970


toda a América Latina foram influenciados pelo ideal do
socialismo. As ideias de Che Guevara e de Fidel Castro
ganharam força no continente, o que preocupava o governo
norte-americano.
No Brasil, vários movimentos revolucionários foram
organizados. Esses grupos acreditavam não ser possível tirar
os militares do poder apenas com passeatas e chegaram à
conclusão de que era necessária a luta armada. Podemos
destacar três grupos nesse período:

• Aliança Libertadora Nacional (ALN): grupo


formado por uma dissidência do Partido Comunista
Brasileiro (contrário à luta armada). Seu principal Carlos Marighella, líder revolucionário da ALN.
líder foi Carlos Marighella.
• Vanguarda Popular Revolucionária (VPR): formada As ações mais comuns desses grupos foram os assaltos
por militares de esquerda contrários ao Golpe de 64. a bancos, instalações militares e carros pagadores.
Sua principal liderança foi o militar Carlos Lamarca. O objetivo era conseguir dinheiro para a compra de armas.
• Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8): Uma ação extremamente marcante aconteceu em setembro
organização de orientação marxista, cujos membros de 1969, promovida pela ALN e pelo MR-8: o sequestro do
pretendiam a instalação de um governo socialista no embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. Para
Brasil. Seu nome é uma homenagem ao dia da morte libertá-lo, os revolucionários exigiram que 15 presos políticos
de Che Guevara. fossem soltos. O governo, pressionado, acatou o pedido.

28
HISTÓRIA
Módulo 26

4.1 A guerrilha do Araguaia


Em 1973, praticamente todos os movimentos guerri-
lheiros urbanos estavam desorganizados e sem força. Alguns
grupos deslocaram-se para as áreas rurais, em locais de pouco
■■
01 Sobre o período correspondente à ocupação da Amazônia
durante a ditadura civil-militar brasileira, analise as

9o Ano
afirmativas a seguir:
movimento, sem a presença dos órgãos de segurança. Um
desses locais foi a região do Rio Araguaia, no sul do estado do I. Logo nos primeiros anos do Governo Médici, a ocupação
Pará. A região foi escolhida porque era isolada e área de conflito da Amazônia foi anunciada como um imperativo
por posse de terras. da segurança nacional e como fórmula para resolver
Para lá se deslocaram vários membros do PC do B, problemas crônicos tanto da economia amazônica como
disfarçados de agricultores, médicos e comerciantes. Eles da nordestina.
II. Entre 1970 e 1973, o governo fomentou, por meio do
se aproximaram da população local com o objetivo de fazer
Plano de Integração Nacional (PIN), uma política de
amizade e de, aos poucos, convencê-la da importância da luta
desocupação da fronteira amazônica, tendo como um dos
armada. A ideia era formar um exército contra a exploração objetivos a colonização de vários trechos da Transamazô-
dos latifundiários. nica.
No início de 1972, o governo foi informado do movimento III. Por considerar que na Amazônia se encontravam os mais
pelo serviço de segurança e enviou tropas para a região. graves problemas de segurança nacional e os mais extensos
A guerrilha, contudo, só foi derrotada no governo de Geisel, vazios demográficos, o governo decidiu adotar medidas
após três campanhas militares. Praticamente todos os guerri- especiais para essa região, cujo ponto central era a cidade
lheiros foram mortos, e eles só conseguiram resistir por tanto de Manaus.
IV. O elemento mais significativo do Programa de Integração
tempo em razão do apoio da população local. Enquanto toda
Nacional, ao qual o Governo Médici deu prioridade
essa movimentação acontecia na região, o país nada sabia sobre
absoluta, foi a Rodovia Transamazônica, com mais de
ela, visto que o governo não a divulgava. cinco mil quilômetros de extensão.
V. O Ministério da Agricultura incentivou a ocupação da
5. A sucessão Amazônia com a criação de agrovilas, pequenas comu-
nidades de colonos instaladas ao longo das estradas.
Apesar de ser considerado um dos presidentes mais
Estão corretas apenas:
populares da ditadura, Médici não conseguiu que a linha dura
tivesse um sucessor. O candidato mais forte – o general Ernesto
(A) I, III, IV e V.
Geisel – fazia parte do “grupo da Sorbonne”. (B) II, III, IV e V.
(C) I, II, III e IV.
(D) I, II, IV e V.

■■ ■■
(E) II, III e IV.

■■
01 Quem eram os tecnocratas e qual foi a função deles no 02 Explique o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

■■
governo do general Médici?
03

■■
02 Qual o significado da expressão “Milagre Econômico”? Foi a época do “Ninguém segura este país”, da
marchinha “Pra frente, Brasil”, que embalou a grande vitória

■■
03 Caracterize o Milagre Econômico. brasileira na Copa do Mundo de 1970. Foi a época em que
muitos brasileiros idosos de classe média lamentavam não
04 Quais foram os problemas do Milagre Econômico a longo ter condições biológicas para viver até o novo milênio, quando

■■
prazo?
o Brasil se equipararia ao Japão.

05 O que significa a expressão “obras faraônicas”? FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1996. p. 485.

29
Ditadura Civil-Militar: Governo Médici HISTÓRIA
Módulo 26

Nessa época de euforia no Brasil, houve:

(A) queda da desigualdade social, alcançada pela adoção de


■■
05
De um ponto de vista político, achávamos que a ditadura
militar era a antessala do socialismo e a última forma de
programas de renda mínima. governo possível às classes dominantes no Brasil. Diante de
(B) aumento dos direitos políticos e civis, propiciado pelas
9o Ano

nossos olhos apocalípticos, ditadura e sistema capitalista


emendas parlamentares à legislação.
cairiam juntos num único e harmonioso movimento. A luta
(C) dependência crescente do país em relação ao sistema
especificamente política estava esgotada.
financeiro internacional, facilitada pelos empréstimos
externos. GABEIRA, F. Carta sobre a anistia: a entrevista do Pasquim. Conversação sobre 1968.
(D) mudança dos índices de concentração de renda no campo, Rio de Janeiro: Codecri, 1980.

■■
deflagrada pela reforma agrária em latifúndios produtivos.
Compartilhando da avaliação presente no texto, vários gru-
04 pos de oposição ao regime militar lançaram-se, nos anos
1960 e 1970, na batalha política, seguindo a estratégia de:
Texto I
Propaganda na Era Vargas (A) aliança com os sindicatos e incitação de greves.
(B) organização de guerrilhas no campo e na cidade.
O programa Hora do Brasil era irradiado por todas as
(C) apresentação, à Anistia Internacional, de acusações.
emissoras de rádio do país entre 19 e 20 horas. O aproveita-
(D) conquista de votos para o Movimento Democrático
mento sistemático desse programa foi determinado pelo DIP, Brasileiro (MDB).
Departamento de Imprensa e Propaganda, um órgão criado (E) mobilização da imprensa nacional a favor da abertura do
em 1939 pelo Governo Vargas. (...) sistema partidário.
CAMPOS, Flávio de; CLARO, Regina. A escrita da história. Volume único.
Ensino Médio. 2. ed. São Paulo: Escala Educacional, 2009. p. 553 (adaptado).

Texto II
Propaganda no regime militar
O apelo ao consumo era o Milagre Econômico alcan-
■■
01 A realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil
reacendeu o debate sobre os usos políticos do futebol. Sobre
as relações históricas entre política e futebol, considere as
çando a população. Enceradeiras, ventiladores, ferros afirmativas a seguir:
elétricos, geladeiras, batedeiras, torradeiras, aspiradores
I. Durante o governo de Jânio Quadros (1961), o futebol era o
de pó etc. A julgar pela enxurrada de eletrodomésticos que esporte mais praticado pelas elites, e, por isso, os negros foram
invadia as casas da classe média e os sonhos de consumo proibidos de fazer parte da seleção brasileira de futebol.
da sociedade brasileira, o país não deixava nada a dever aos II. No primeiro Governo Vargas (1930-1945), durante a
ricos e invejados primos norte-americanos. Segunda Guerra Mundial, proibiu-se que times fundados
CAMPOS, Flávio de; CLARO, Regina. A escrita da história. Volume único. por imigrantes adotassem nomes estrangeiros, como os
Ensino Médio. 2. ed. São Paulo: Escala Educacional, 2009. p. 678.
dois Palestra Itália – o paulista, que virou Palmeiras, e o
Com base no papel desempenhado pela propaganda nos mineiro, que virou Cruzeiro.
momentos expressos nos textos e nos dias atuais, é cor- III. O Governo Militar (1964-1985) aproveitou a Copa de 1970
reto afirmar que: para fazer propagandas ufanistas, além de criar, em 1971,
o Campeonato Brasileiro, dentro da política de integração
(A) tendo em vista a clara distinção entre propaganda e notícia, nacional, com o objetivo de envolver no esporte o maior
justifica-se a liberdade da propaganda para ser sempre número de estados.
fictícia ou metafórica. IV. Com a redemocratização, o futebol continua visado pelo
(B) a propaganda, independentemente do tempo ou do poder político, porém há uma distância maior entre
espaço em que é utilizada, mantém sua integridade e seu política e futebol, em comparação a períodos anteriores.
compromisso inalienável com a verdade dos fatos. Assinale a alternativa correta:
(C) tanto no período da ditadura de Vargas (1937-1945) quanto
no do regime militar (1964-1985), a propaganda, por sua (A) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
ligação com a arte, foi poupada da censura. (B) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
(D) ao longo do tempo e da história, muitas vezes, de acordo com (C) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras.
interesses políticos e/ou pessoais, a propaganda pode ser (e (D) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
é) utilizada como meio de manipulação ideológica. (E) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.

30
HISTÓRIA
Módulo 26

■■
02 O Milagre Econômico fez da economia brasileira, na década de 1970, a oitava
economia do mundo capitalista. O Produto Interno Bruto (PIB) teve notável
crescimento, e o ufanismo chegou a slogans como “Brasil, ame-o ou deixe-o” e
“Ninguém segura este país”. O presidente Médici era aplaudido quando entrava
no estádio do Maracanã.

9o Ano
O Milagre apoiou-se em algumas colunas básicas, entre as quais não está
incluído(a):

(A) a empresa nacional – apoiada por subsídios e por uma política de arrocho salarial.
(B) a prática do liberalismo econômico – com livre jogo, nos mercados, de produtos
nacionais e importados, tendo esses últimos baixas taxas alfandegárias.
(C) o capital estrangeiro – em forma de empréstimos e investimentos diretos, que
afluíam abundantemente.
(D) a empresa estatal – com numerosas atribuições, respondendo por 50% do PIB
em 1970.

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31
Ditadura Civil-Militar:

9o Ano
os Governos Geisel e Figueiredo
História
Módulo

©David Redfern\iStock
Você sabia que, por ter sido exilado, Gilberto Gil
conheceu Jimi Hendrix?
Gil, Caetano e os demais membros do Movimento Tropicalista optaram
por se manifestar contrariamente aos militares de uma forma peculiar:
passaram a compor como “panfleto” oposicionista. A indicação de uma
quebra de paradigmas socioculturais com inspiração no movimento hippie
fez dos artistas baianos uma ameaça à ordem, e Gilberto Gil e Caetano
Veloso foram forçados ao exílio.
Os cantores chegaram a Londres, na Inglaterra, em 1969. A tristeza
causada pela distância de casa foi momentaneamente quebrada com o
badalado Festival da Ilha de Wight, onde os artistas brasileiros não só
se apresentaram no palco de uma das maiores festas juvenis do mundo,
como também puderam conhecer muitos artistas renomados e ligados à
valorização da juventude como atuante social – Gil, em especial, conheceu o
guitarrista Jimi Hendrix, um dos maiores ícones da música e do movimento
hippie. Em 1997, o presidente Figueiredo promulgou a Lei da Anistia, a qual
liberou o retorno dos exilados políticos ao Brasil.
Neste módulo, estudaremos os governos dos dois últimos presidentes
militares, Geisel e Figueiredo, que representaram os bastiões da abertura
política. Entretanto, veremos que o fim do regime ditatorial militar ocorreu
de maneira “lenta, gradual e segura”.

Expectativas de aprendizagem:
– Examinar o fortalecimento da “linha dura”;
– identificar as causas do Milagre Econômico;
– relacionar os feitos militares à política de propaganda
enaltecedora do regime.
HISTÓRIA
Módulo 27

1. Governo Geisel (1974-1979)


O general Geisel, como dito no módulo anterior, não foi um sucessor indicado
pelo antecessor Médici. Apesar de algumas manobras políticas realizadas pelos
militares da “linha dura” para manter Médici no poder, a Cúpula Militar não aprovava

9o Ano
essa medida. Para eles, o governo era do Exército, e não um governo pessoal. Evitava-se,
com isso, a ideia de uma ditadura personalista, como aconteceu no Chile, com o
general Pinochet, que governou o país de 1973 a 1990.
Geisel buscou, em seu governo, controlar os militares da “linha dura” e acabar
com as suspeitas de corrupção que rondavam alguns oficiais. Para ele, era necessário
promover a abertura política no país de forma lenta e gradual. Nesse processo, que
ficou conhecido como o período da distensão, era preciso extinguir os atos adicionais
impostos à sociedade, principalmente o AI-5.
Essa postura de abertura política adotada pelo “grupo da Sorbonne”, que Geisel
integrava, tinha como objetivo buscar novamente o apoio da população para que os
militares continuassem no poder. Entretanto, eles sabiam que, para isso, precisavam
promover o crescimento da economia do país, como acontecera no período do
Milagre Econômico. A tarefa não era fácil, visto que Geisel recebeu o governo com
sérios problemas econômicos.

Os lugares de memória das ditaduras latino-americanas

No governo de Pinochet, o Chile vivenciou uma

©Jeremy Richards /iStock


ditadura muito violenta, com imposição de censura e
perseguições políticas. Na fotografia ao lado está o Parque
Villa Grimaldi, que, no período militar, era uma espécie
de prisão onde os suspeitos passavam por interrogatórios
e sessões de tortura. Atualmente, essa prisão se tornou
um local de memória e promoção dos direitos humanos.
Diferentemente de Médici, que delegava tarefas, Geisel
foi um presidente muito atuante nas decisões políticas.
Centralizador nas suas decisões, procurou saber de tudo
o que acontecia durante seu mandato. Para tanto, lia os
relatórios feitos pelos ministros e os acompanhava de perto.
Geisel repetiu a fórmula de Médici ao compor o quadro de Entrada para o Villa Grimaldi. Santiago, Chile, em 19 de novembro de 2014.
funcionários do seu governo com tecnocratas.

1.2 Os problemas do Milagre Econômico


O Milagre Econômico representou um momento de grande crescimento
econômico do Brasil durante o Governo Médici. Esse desenvolvimento ocorreu porque
o país privilegiou as empresas estrangeiras, pegou muitos empréstimos e manteve
baixos os salários dos trabalhadores. Como foi um crescimento alcançado com capital
externo, sem bases firmes e sólidas, era certo que, a longo prazo, ele poderia se tornar
um grande problema. E foi o que aconteceu.

33
Ditadura Civil-Militar: os Governos Geisel e Figueiredo HISTÓRIA
Módulo 27

Aliada à crise econômica brasileira, ocorreu a crise internacional do petróleo. O Brasil,


que importava o mineral, enfrentou sérios problemas: o preço do barril aumentou conside-
ravelmente e a disponibilidade de capitais externos reduziu bastante. O país passou a gastar
mais e a ter menos recursos para resolver seus problemas internos.
9o Ano

Para tentar resolver a questão do petróleo, o governo criou o Proálcool (Programa


Nacional do Álcool). Com esse programa, os latifundiários passaram a receber ajuda
do governo (empréstimos a juros baixos) para investir na lavoura de cana-de-açúcar e,
depois, instalar usinas para a produção do álcool. No Governo Geisel, também foi criado o
primeiro projeto para a construção e instalação, no Brasil, de usinas nucleares destinadas
à produção de energia elétrica. O local escolhido para a instalação foi Angra dos Reis (RJ).
Tais medidas visavam diminuir o consumo de gasolina no país, não depender tanto
do mercado externo e criar fontes alternativas para o problema de falta de energia. Os dois
projetos receberam inúmeras críticas – para os opositores, o incentivo à cana-de-açúcar
poderia levar muitos latifundiários a abandonarem as plantações de alimentos, o que
poderia provocar a fome generalizada no país. As usinas nucleares, por sua vez, foram
criticadas não só porque o investimento era muito alto, mas também pelo perigo que
ofereciam à população e ao meio ambiente.
Em 1977, a situação econômica brasileira estava complicada. Com a dívida externa e a
inflação elevadas, além do arrocho salarial, a possibilidade de uma recessão era enorme, ou
seja, o Brasil deixaria de crescer. Esse tipo de situação, quando se manifesta, não é interessante
para nenhuma sociedade: os empresários deixam de lucrar e, consequentemente, demitem
os seus empregados, afetando todos os setores sociais.
Os desentendimentos entre os militares da “linha dura” e o general Geisel continuaram
após a morte do jornalista Vladimir Herzog. A oposição consentida, o MDB, fortaleceu-se,
e era claro que conseguiria a maioria dos governadores e de deputados e senadores no
Congresso nas eleições de 1978.
Para evitar esse problema, o governo, em abril de 1977, enviou ao Congresso
um projeto de reforma judicial, que foi negado. Como resposta, utilizando o AI-5, o
governo fechou o Congresso e, já sem ele, alterou, mais uma vez, o jogo eleitoral. As
medidas tomadas pelo governo ficaram conhecidas como Pacote de Abril e favoreceram
a Arena, estabelecendo:

• eleições indiretas para governador;


• escolha de um terço dos senadores (conhecidos como “biônicos”) pelo governo;
• extensão do mandato de presidente para seis anos;
• modificação da configuração das bancadas no Congresso, dando mais espaço para os
deputados do Norte e Nordeste (regiões em que os militares tinham mais apoio).

Em 1978, após medidas autoritárias como o Pacote de Abril, Geisel revogou o AI-5.
Esse ato foi muito importante para a abertura política proposta pelo presidente. É preciso
salientar o quanto a sociedade brasileira estava insatisfeita com os governos militares e já se
mobilizava contra eles. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a Igreja – que apoiaram
o golpe em 1964 e no início da década de 1970 – passaram a fazer oposição à ditadura e a
exigir a volta da liberdade e da democracia ao país. Muitos advogados e membros da Igreja
foram presos e torturados nos porões dos serviços de segurança do governo.

34
HISTÓRIA
Módulo 27

Empresários que haviam financiado a chegada dos militares ao poder, insatisfeitos


com os incentivos fiscais dados às empresas multinacionais no país, também passaram
a desejar a volta da democracia. As passeatas de estudantes, tão fortes na década de
1960, voltaram às ruas de algumas cidades. Os trabalhadores das indústrias meta-
lúrgicas do ABCD paulista – Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do

9o Ano
Sul e Diadema –, em 1978, passaram a exigir mais direitos e ajuste salarial. Foi nessa
região que surgiu o novo sindicalismo, independente do governo, e consequentemente
a figura de Luiz Inácio Lula da Silva, líder dos sindicalistas.

Lula discursando na greve dos metalúrgicos, em janeiro de 1979. ©Folhapress/Folhapress

Os problemas de abastecimento de energia


Em 1973, Brasil e Paraguai assinaram o Tratado de Durante o Período Militar, o Brasil concretizou a sua
Itaipu para a exploração e o desenvolvimento de novas escolha no campo energético: optou pela energia produzida
fontes de energia. Em 1974, o Brasil deu início à construção pela força dos rios. Desde então, várias hidrelétricas foram
de uma usina hidrelétrica que tinha como meta abastecer construídas pelo país. Delas provém cerca de 90% da
o país de energia elétrica e era, então, a maior do mundo. energia elétrica produzida atualmente. Os governos sempre
Tratava-se de um projeto desafiador, mas de extrema apostaram nas usinas hidrelétricas por acreditarem nas
necessidade para o país. suas vantagens. Entretanto, em 2001, o país passou por
uma séria campanha de racionamento de energia, devido à
possibilidade de apagão. Em 2014 e no primeiro semestre de
©fotoember /iStock

2015, os estados da região Sudeste vivenciaram, mais uma


vez, a possibilidade de racionamento de água e energia. A
causa foi um período longo de estiagem.
Ainda em 2015, os governos estaduais e o Governo
Federal receberam severas críticas à sua política de privi-
legiar apenas as usinas hidrelétricas e, também, ao fato de
esconderem da sociedade a real situação do nível de água
das represas. A possibilidade de um novo racionamento e
de apagões é grande.
Hidrelétrica de Itaipu.

35
Ditadura Civil-Militar: os Governos Geisel e Figueiredo HISTÓRIA
Módulo 27

João Figueiredo assumiu o governo, dando continui-


dade à abertura política iniciada no Governo Geisel. A
censura foi suavizada, tanto que os jornais apresentavam
O assassinato do jornalista
algumas críticas ao governo.
Vladimir Herzog
9o Ano

Apesar da proposta da distensão política, alguns

©João Bittar/Folhapress
setores da “linha dura” do Exército mantiveram as
perseguições, as torturas e as execuções.
Em 1975, militares no DOI-Codi, em São Paulo,
em mais uma das suas sessões de depoimentos e
torturas, tiveram um grave problema. Eles prenderam
Vladimir Herzog, um importante e conhecido jorna-
lista, para averiguação e interrogatório. O jornalista
apareceu morto em uma das celas e os militares
alegaram que o jornalista havia cometido suicídio.
©Mark Evans/iStock

João Batista Figueiredo.

O país, contudo, enfrentava graves problemas no setor


econômico. A alta inflação disparou os preços dos produtos,
e os salários dos trabalhadores não acompanhavam esse
aumento. Logo, o poder de compra era baixo e o custo de vida
do trabalhador, muito elevado. Algumas indústrias, em queda,
faliram, contribuindo para elevar o número de desempregados
no país. O valor da dívida externa era altíssimo e a cada ano
tornava-se maior. A oposição aumentou, assim como as
pressões sobre os militares.
É provável que o jornalista tenha morrido por
Uma das características desse período foi a criação
conta das torturas a que fora submetido. O caso ganhou
do termo “estagflação”, uma combinação de “estagnação
grande repercussão. Líderes religiosos – o cardeal Dom
econômica” e “inflação”.
Evaristo Arns, o rabino Henri Sobel e o pastor James
Wright – celebraram um culto ecumênico na Catedral Sem o apoio da sociedade, os dias dos militares no
da Sé, em São Paulo, que contou com a participação poder estavam perto do fim. A crise presente no governo do
de uma multidão de cerca de 6.000 pessoas. Era a general Geisel, que se estendeu por anos, atingiu seu ápice
primeira manifestação em massa desde 1968 e uma no governo de Figueiredo.
demonstração de que a população já não apoiava mais

■■
os militares integralmente.

01 Caracterize a forma como o presidente Geisel governou

■■
o país.

2. O governo de João Baptista

■■
02 O que significa a expressão “distensão lenta e gradual”?
Figueiredo (1979-1985) 03 Explique por que o Brasil, no Governo Geisel, não deu

■■
O nome de Figueiredo foi escolhido por Geisel, e a Arena segmento ao Milagre Econômico.
aceitou o general como o novo presidente do país. A oposição,

■■
o MDB, lançou um candidato, mas, como as eleições eram 04 O que foi o Proálcool e quais eram os seus objetivos?
indiretas, Figueiredo ganhou no Congresso, com uma
diferença de 129 votos. 05 Cite as medidas do Pacote de Abril.

36
HISTÓRIA
Módulo 27

■■
■■
03
Em março de 1964, quando tropas do Exército foram às
01 Sobre o golpe militar de 1964, é correto afirmar que: ruas derrubar o presidente João Goulart, Dilma Rousseff era uma
estudante de 16 anos que se preocupava pouco com política.

9o Ano
(A) ocorreu por iniciativa exclusiva dos militares, sem o Aécio Neves era um menino de quatro anos que gostava de
apoio da sociedade civil, o que levou as forças armadas a brincar com o avô, o então deputado federal Tancredo Neves.
instituírem uma ditadura governada apenas por generais Eduardo Campos não tinha nascido, mas se lembra até hoje
e sem a participação de outros setores da sociedade. das histórias que seu avô Miguel Arraes, à época governador de
(B) teve como objetivo central o combate ao comunismo
Pernambuco, contava sobre o dia em que foi deposto e levado
no Brasil e à democracia de massas, promovendo o fim
à prisão pelos militares. Nos últimos anos, o país foi governado
dos partidos e do sistema eleitoral assim que os militares
sucessivamente por um professor exilado depois do golpe,
tomaram o poder.
(C) procurou pôr fim ao projeto desenvolvimentista, promo- Fernando Henrique Cardoso, um líder operário preso na ditadura,
vendo, ao longo de duas décadas, um amplo processo de Luiz Inácio Lula da Silva, e uma ex-guerrilheira presa e torturada,
abertura econômica e de privatizações no país. Dilma. A chegada dessas pessoas ao poder demonstra que a
(D) instalou uma intensa repressão contra os setores mais à transição do país para a democracia foi exitosa, mas incapaz de
esquerda no espectro político, como a União Nacional dos pacificar as controvérsias provocadas pelo golpe e pela ditadura
Estudantes (UNE) e as Ligas Camponesas, com milhares inaugurada em 1964.
de pessoas presas e torturadas.
(E) estabeleceu uma política externa de muita aproximação com Disponível em: <www1.folha.uol.com.br>.

os EUA, evitando qualquer conflito com esse aliado durante

■■
os anos 1960 e 1980, como forma de combater o comunismo. Analise as afirmativas a seguir, relativas a fatos e aspectos
econômicos do período da ditadura militar:
02 Do ponto de vista econômico, os anos 1980, no Brasil,
são considerados a “década perdida”, pois os índices de I. Em termos de políticas públicas, o início da ditadura
crescimento da economia, que chegaram a atingir a casa militar pode ser considerado como o fim do período
dos 10% anuais entre 1950 e 1970, caíram a taxas inferiores nacional desenvolvimentista, iniciado em 1930.
a 1%. Sobre os fatos que podem explicar essa queda, não II. O período conhecido como “Milagre Brasileiro”, carac-
é correto incluir: terizado por elevadas taxas de crescimento econômico,
ocorreu durante a ditadura militar.
(A) o excesso de intervenção do Estado na economia durante III. Um dos principais pontos positivos atribuídos ao regime
o governo militar, que criou inúmeras empresas estatais, militar foi a modernização do sistema tributário, imple-
aumentando, assim, o peso da máquina estatal e o déficit mentada logo no início da ditadura.
público. IV. Os governos militares, pela sua veia nacionalista,
(B) a crise do petróleo de 1979, que diminuiu a oferta do caracterizaram-se por aversão ao capital estrangeiro e,
produto e, consequentemente, aumentou o seu preço, portanto, grande resistência em contrair dívida externa.
prejudicando os países importadores desse combustível, V. No período da ditadura, a inflação foi reduzida de forma
como o Brasil. gradual ao longo dos anos, por meio, entre outras medidas,
(C) o aumento deliberado do salário mínimo, que ampliou a do achatamento dos salários.
renda dos trabalhadores, permitindo o seu maior acesso ao
mercado de consumo e, dessa maneira, provocando inflação É correto somente o que se afirma em:
e carência de produtos.
(D) o crescimento do endividamento externo, derivado dos (A) I, II e III.
empréstimos tomados pelo governo militar para ampliar (B) II, IV e V.
os investimentos no país, mas que se tornaram impagáveis (C) I, III, e IV.
depois que os bancos internacionais aumentaram as taxas (D) II, III e V.
de juros. (E) I, IV e V.
(E) a tendência de os governos brasileiros procurarem resolver
os problemas do déficit público sem cortar gastos ou
ampliar receitas, mas aumentando a emissão de moedas,
com o acirramento do surto inflacionário.

37
Ditadura Civil-Militar: os Governos Geisel e Figueiredo HISTÓRIA
Módulo 27

■■ 04

■■
Embora a crise já estivesse se manifestando quando
o general Geisel tomou posse, o seu plano econômico [II 01
Plano Nacional de Desenvolvimento] continuava mantendo
No final de março de 1964, civis e militares se uniram
9o Ano

as mesmas expectativas dos anos anteriores: altas taxas de


para derrubar o presidente João Goulart, dando um golpe
crescimento econômico e controle da inflação.
de Estado tramado dentro e fora do país. Entre uma data
HABERT, Nadine. A década de 70 – Apogeu e crise da ditadura militar brasileira.
e outra, 1964 e 1985, o Brasil passou por um turbilhão de
A adoção do II Plano Nacional de Desenvolvimento acontecimentos. A economia cresceu, alçando o país ao oitavo
gerou, ao final do governo Geisel: PIB mundial. Mas, igualmente, cresceram a desigualdade e a
violência social, alimentadas em boa parte pela violência do
(A) uma estagnação econômica, associada a um processo de Estado. A vida cultural passou por um processo de mercan-
deflação das mercadorias importadas. tilização, o que não impediu o florescimento de uma rica
(B) uma mudança acessória no modelo econômico, que passou cultura crítica ao regime. Os movimentos sociais, vigiados e
a privilegiar o mercado interno e a distribuição de renda. reprimidos, não desapareceram; tornaram-se mais diversos
(C) um aumento da participação do estado na economia e um e complexos, expressão de uma sociedade que não ficou
crescimento considerável da dívida externa brasileira. passiva diante do autoritarismo.
(D) um crescimento econômico acima do planejado, porém
com as maiores taxas de desemprego durante o regime NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do regime militar brasileiro.
São Paulo: Contexto, 2014, p. 7-8 (adaptado).
militar.
(E) a intervenção direta do fundo monetário internacional No ano de 2014, foram intensos os debates e as discus-
(FMI), exigindo o pagamento de parcelas atrasadas da sões públicas sobre os 50 anos do golpe militar, o qual

■■
dívida externa. deu início ao nosso último período ditatorial, que se es-
tendeu até 1985.
05 Quando João Batista Figueiredo (1979-1985) iniciou
seu governo, o Brasil vivenciava um momento de graves A respeito do processo político que levou ao golpe e à
críticas advindas dos diversos setores sociais ao autori- posterior ditadura:
tarismo presente durante o Regime Militar. Durante o
Governo Figueiredo, no plano econômico, apontam-se a. Cite dois aspectos da crise do Governo João Goulart
como principais problemas que não foram solucionados: (1961-1964) que contribuíram para a sua queda.
b. Aponte duas formas de contestação ao regime militar
(A) a alta taxa de desemprego, consequência da redução do que confirmam a ideia, expressa na citação de Marcos
crescimento econômico, e o combate à política mone- Napolitano, de que a sociedade não foi impotente em

■■
tária de empréstimos junto a bancos estrangeiros. relação ao poder ditatorial.
(B) a indexação de preços e salários e o bloqueio dos investi-
mentos ligados ao mercado financeiro internacional. 02
(C) a redução dos investimentos na área tecnológica e dos
Os anos 1970, que se iniciaram em 1969, foram terríveis.
subsídios à área rural, agravando e acirrando a ocupação
Todo mundo parecia apoiar a ditadura. Os brasileiros começaram
de terras por parte dos trabalhadores rurais.
(D) a transformação dos cruzados novos em cruzeiros e o a década torcendo pelo Brasil na Copa, “90 milhões em ação”,
congelamento de preços de salários dos trabalhadores unidos em torno da excelente seleção, que levou o tricampeo-
das indústrias. nato. A vitória deu grande prestígio a Emílio Garrastazu Médici, o
(E) a questão da dívida externa, em que o governo não con- militar de plantão no governo. O plano econômico, apelidado de
seguia pagar os empréstimos já obtidos, a significante alta “Milagre Brasileiro”, além de enriquecer ainda mais a burguesia,
da inflação e o aumento no nível de desemprego. propiciou a expansão da classe média e elevou os padrões
de consumo de muitas famílias: eletrodomésticos, um carro,
o segundo carro, financiamentos da casa própria pelo Banco
Nacional da Habitação, o BNH. Mas, principalmente, o começo
dos anos 1970 marca o início da era da televisão no Brasil.

KEHL, Maria Rita. “As duas décadas dos anos 70”. In: Anos 70: trajetórias.
São Paulo: Iluminuras, 2006, p. 32 (adaptado).

38
HISTÓRIA
Módulo 27

O texto faz um balanço da década de 1970 no Brasil e destaca, entre outros


aspectos:

(A) o aumento da carestia, o avanço do populismo e a explosão no consumo de bens de


primeira necessidade.

9o Ano
(B) o surgimento da indústria automobilística, a vitória eleitoral dos militares e a
forte repressão à oposição institucional.
(C) o aumento da prática de esportes, a militarização do cotidiano e o declínio do
regime militar.
(D) o surgimento do sonho da casa própria, a superação da hiperinflação e a plena
democratização do país.
(E) o aumento das desigualdades sociais, o avanço da cultura de massa e o autori-
tarismo político.

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39
O fim da Guerra Fria

9o Ano
História
Módulo

Você já ouviu a expressão “Guerra


nas Estrelas” para além da série
criada por George Lucas?
Em março de 1983, o então presidente norte-
-americano, Ronald Reagan, anunciou um programa de
defesa estratégica no espaço (SDI), que ficou conhecido
como “Guerra nas Estrelas”. O objetivo era interceptar,
no espaço, mísseis militares com ogivas nucleares
enviados contra o país. Extremamente audacioso,
Reagan mostrou por meio do programa que era possível
impedir um ataque soviético e, assim, “salvar a humani-
dade de sua destruição”. Mais uma vez, os norte-ameri-
canos reforçavam a ideia da luta do bem contra o mal.
A opinião pública acreditou em tal política e a apoiou.
A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS),
diante de uma tecnologia tão moderna e ameaçadora,
não possuía recursos financeiros suficientes para
investir em algo semelhante. Contudo, o programa
“Guerra nas Estrelas”, meses depois, foi deixado de lado.
Neste módulo, estudaremos os últimos anos da
Guerra Fria e as políticas adotadas pelos EUA e pela
URSS que levaram à diminuição da tensão entre esses
países. Trabalharemos o fim do bloco socialista e as
consequências disso na URSS e no Leste Europeu, como
a queda do Muro de Berlim e a guerra na Iugoslávia.
©Teamjackson\iStock

Expectativas de aprendizagem:
– Compreender as razões que levaram à crise da URSS
e do socialismo;
– interpretar a política de distensão;
– examinar o processo de abertura política e econômica da URSS.
HISTÓRIA
Módulo 28

1. A política de distensão
Nas décadas de 1960 e 1970, EUA e URSS tiveram que enfrentar mudanças nos
respectivos blocos. Os EUA, por causa da derrota no Vietnã, encararam a oposição
interna, e a URSS enfrentou dificuldades após o rompimento com a China. No plano

9o Ano
militar, as duas potências mantinham um equilíbrio bélico.
Ao longo da década de 1960, já no momento da Coexistência Pacífica, os dois
países perceberam que era necessário reavaliar as suas atitudes e adotaram uma
política conhecida como détente, palavra francesa que significa distensão ou relaxa-
mento. Esse termo foi utilizado no cenário político internacional, precisamente após
a Crise dos Mísseis, em Cuba (1962), e até o início dos anos 1980, com a Guerra do
Afeganistão. Na prática, foi empregado para ilustrar a mudança de relacionamento
entre URSS e EUA, antes hostil e, após 1962, mais diplomático. Em 1975, as duas
potências se aproximaram quando lançaram, em conjunto, o voo da Apollo-Soyuz,
em uma missão espacial.

©Stepan Popov/iStock

Selo comemorativo da missão espacial Apollo-Soyuz.

Os problemas econômicos na URSS, provocados pela forte estatização e pelos


altos investimentos no setor bélico, agravaram-se, gerando crise nos setores agrícola
e de bens de consumo. Havia também uma crise política, em decorrência da qual, em
1964, Nikita Kruschev, então primeiro-ministro da URSS, foi deposto por um golpe.
Em seu lugar assumiu o reformista Leonid Brejnev.
Brejnev preocupou-se com o crescimento econômico do país, tentou resolver os
problemas da produção no setor agrícola e propôs uma nova organização do trabalho.
No campo político, atuou diferentemente de Kruschev, pois buscou centralizar
novamente o poder do bloco socialista em torno do Partido Comunista. Em razão
dessa medida, afastou-se um pouco da política détente. Por ter uma postura mais
autoritária, enfrentou a oposição dos partidos no Leste Europeu; um bom exemplo
foi o movimento acontecido na Tchecoslováquia em 1968, no qual as tropas soviéticas
invadiram o país para evitar as manifestações contra Moscou.

41
O fim da Guerra Fria HISTÓRIA
Módulo 28

Apesar do sucesso da centralização política, internamente, a URSS enfrentava


problemas. Os jovens soviéticos não exaltavam o Partido Comunista como os seus
pais, e, no próprio partido, existia uma oposição à forte centralização. As décadas
de 1970 e 1980 sinalizavam que a economia soviética não ia bem, mesmo com as
9o Ano

mudanças propostas por Kruschev. Enquanto os países capitalistas, nesse período,


desenvolveram tecnologias avançadas em todos os setores, os países socialistas não
acompanharam essa revolução tecnológica. Os EUA, em 1983, lançaram um programa
de defesa espacial, enquanto os soviéticos não puderam apresentar nenhuma resposta.
A situação econômica soviética piorou com o envio de tropas para a guerra no
Afeganistão (1979-1989), pois os soviéticos aumentaram os gastos no setor bélico
para garantir a área de influência no país.

A Guerra do Afeganistão (1979-1989)


Em 1978, o Afeganistão tornou-se socialista. Contudo, Em 2001, ele se tornou mundialmente conhecido em decor-
no ano seguinte, grupos islâmicos locais se rebelaram rência dos ataques terroristas às Torres Gêmeas, nos EUA.
contra o novo governo. Utilizando a mesma estratégia de
repressão aplicada no Leste Europeu, a URSS enviou tropas

©MivPiv/iStock
para o país para garantir a soberania do regime socialista.
Os EUA se posicionaram contra a dominação socia-
lista no Afeganistão e enviaram auxílio aos afegãos.
O conflito se ampliou, tornando-se uma violenta guerra
civil e, internacionalmente, reativando o clima hostil e
bélico entre as potências. Após dez anos de conflito, os
soviéticos não conseguiram impor o domínio na região e
se retiraram em 1989. A essa altura, a economia soviética,
que já estava fragilizada, piorou ainda mais.
Entre os que receberam ajuda norte-americana,
podemos citar o fundamentalista Osama Bin Laden. Vista aérea de parte da cidade de Kabul, Afeganistão.

2. O fim do bloco socialista


Em 1985, uma mudança na direção do Partido Comunista alteraria os rumos
da política internacional e daria fim à Guerra Fria. Ao assumir o controle do Partido,
Mikhail Gorbachev adotou medidas consideradas extremamente ousadas.
Primeiramente, ele suspendeu os testes nucleares, cortou pela metade os investi-
mentos no setor bélico e conduziu a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão. Seu
objetivo era manter o socialismo no país, mas sob uma administração mais moderna e
eficiente. Desejava também resolver os problemas internos que afetavam a população
russa. Com essas medidas, ganhou a simpatia da comunidade internacional, visto que
elas possibilitavam o fim da Guerra Fria. Para alcançar tais objetivos, adotou duas políticas
que ficaram conhecidas como Perestroika e Glasnost.

42
HISTÓRIA
Módulo 28

A Perestroika (reestruturação) foi uma política de orien- As duas políticas dividiram a história da URSS, porque,
tação econômica. As principais medidas adotadas foram: após a sua implantação, foi muito difícil manter um governo
• corte de gastos no setor bélico; socialista no país. Mais complicado ainda foi sustentar o socia-
• liberdade para pequenos negócios; lismo nos demais países que compunham o bloco. A URSS era

9o Ano
• incentivo à fabricação de bens de consumo; uma “colcha de retalhos”, ou seja, um país composto por várias
• criação de um programa para aumento de salários; nacionalidades que, durante o socialismo, foram obrigadas
• autorização de entrada de empresas estrangeiras no país. a conviver sob o mesmo regime. No entanto, a partir da
Perestroika e da Glasnost, grupos nacionalistas começaram a
A Glasnost (transparência), por sua vez, foi um conjunto se mobilizar. Em 1987, os conflitos nacionalistas e separatistas
de mudanças na organização política do país. As principais que começaram dentro da URSS se espalharam pelo Leste
medidas adotadas foram: Europeu, pela África e pela Ásia.
• garantia da liberdade de expressão; Com o avanço dos movimentos separatistas, Gorbachev,
• liberdade para os presos políticos; no final de 1990, formou um novo governo, cujo objetivo era
• transparência nos governos soviéticos. impedir esses conflitos. Entretanto, não havia como reverter a
situação; era impossível detê-los.
Boris Yeltsin, em 1991, tornou-se o novo presidente da
República, após eleições diretas realizadas no país. Grupos
Chernobyl e o desastre nuclear conservadores desejavam a volta do regime socialista e
Em 1986, um dos mais sérios acidentes nucleares tentaram articular um golpe para depor Gorbachev e impedir
do mundo ocorreu na usina de Chernobyl, atingindo o o governo de Yeltsin. O golpe fracassou, mas deflagrou uma
nível 7 na Escala Internacional de Eventos Nucleares. crise política na URSS. As repúblicas soviéticas, uma a uma,
O reator número 4 da usina explodiu e liberou uma foram proclamando as suas independências. Para tentar salvar
nuvem radioativa. Essa radioatividade foi 100 vezes parte do território, Yeltsin, o presidente eleito (que ainda não
maior que a liberada com as bombas lançadas em
havia tomado posse), uniu-se às repúblicas da Bielorrússia e da
Hiroshima e Nagasaki.
Ucrânia, proclamando a Comunidade dos Estados Indepen-
Acredita-se que a explosão tenha provocado dentes (CEI). Em dezembro de 1991, Gorbachev renunciou.
a morte de milhares de pessoas, mas esse número
pode ser muito maior, uma vez que muitos ficaram Foi o fim da URSS. O bloco socialista se fragmentou em
expostos à radiação e apresentaram problemas de vários países, e alguns enfrentaram longas e sangrentas guerras.
saúde posteriormente, sendo o câncer o mais comum. Em 1989, o Muro de Berlim foi destruído, e, no ano seguinte, a
A população teve cerca de 36 horas para abandonar o Alemanha foi unificada.
local e recebeu a informação de que retornaria três dias
depois. A URSS postergou a divulgação do desastre.
Atualmente, a cidade de Pripyat, a mais próxima da
usina e a mais afetada pela sua explosão, parece uma “cida-
de-fantasma”. Ela foi aberta para a visitação de turistas, que
andam com detector de radiação e, quando este começa a

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apitar, são obrigados a recuar. O apito indica que os níveis
de radiação no local são muito altos e perigosos à saúde.
A agricultura e a pecuária não são permitidas na região.
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As bandeiras dos países integrantes da CEI e, no centro, a


A cidade-fantasma de Pripyat, na Ucrânia. bandeira da CEI, que representa todos os países.

43
O fim da Guerra Fria HISTÓRIA
Módulo 28

3. Os efeitos da desintegração

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da URSS
3.1 Reunificação da Alemanha
9o Ano

Em 2012, parte de Muro de Berlim que continuou erguida, simbolicamente, com


diversas pinturas e grafites de artistas de todo o mundo.

3.2 Desintegração da Iugoslávia


Ao contrário da Alemanha, que estava dividida e depois
foi unificada, a Iugoslávia, que estava unificada, fragmentou-se.
Uma das causas dessa desintegração foi o fato de o país, após
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a Segunda Guerra, reunir seis nacionalidades diferentes:


sérvios, croatas, eslovenos, macedônios, bósnios-muçulmanos
e montenegrinos, além de algumas minorias. A Iugoslávia era
um país que possuía três línguas oficiais e, consequentemente,
costumes, tradições e religiões diferentes. O único ponto que
Em Londres, um pedaço da construção do Muro de Berlim.
unia todas essas nacionalidades era a origem eslava.
O país enfrentava, desde a década de 1980, muitos
Ao final da Segunda Guerra, a Alemanha havia sido
problemas econômicos. Com a divulgação das ideias de
dividida em quatro zonas, e Berlim, separada por um muro.
Gorbachev, o desejo da liberdade política e, principalmente,
Com as mudanças políticas na URSS, os efeitos da Perestroika
o ideal separatista ganharam força na Iugoslávia. O país foi
e da Glasnost chegaram às Alemanhas Ocidental e Oriental,
governado pelo marechal Tito de 1945 a 1980, que conseguiu,
e manifestações tomaram conta das ruas dos dois países. Em
mesmo com toda a diversidade étnica, manter o país unido.
1989, a extinta Alemanha Oriental anunciou a abertura de todas
Após a morte do marechal em 1980, os conflitos se espalharam,
as suas fronteiras. O Muro de Berlim, construído em 1961, foi
dividindo a Iugoslávia em sete novos países: Eslovênia,
derrubado. Para muitos historiadores, o fim da Guerra Fria é
Croácia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Sérvia, Kosovo e
representado pela queda do Muro de Berlim, pois ele era, ao
Macedônia. Nesse processo separatista, uma violenta guerra
longo de todos os anos, o maior símbolo da divisão mundial
civil aconteceu na região.
entre capitalismo e socialismo. Em 1990, após eleições, as duas
Alemanhas foram unificadas. 3.2.1 A guerra na Bósnia (1992-1995)
Depois da queda do Muro de Berlim, vários pedaços de sua A Bósnia-Herzegovina reunia uma diversidade maior de
construção foram espalhados na Alemanha e por outros países. grupos étnicos. Os muçulmanos eram a maioria, seguidos pelos
A foto acima mostra uma parte do Muro exposta em Londres, sérvios (cristãos ortodoxos) e croatas.
na área externa do Museu Imperial de Guerra.
Em 1991, várias regiões da antiga Iugoslávia já tinham
O país enfrentou grandes desafios para concluir o processo proclamado a independência. Nesse contexto, surgiu um
de unificação. Mais de 20 anos depois, as diferenças ainda são projeto de criação de um país que unisse os sérvios, espalhados
perceptíveis entre os dois lados, principalmente no que se refere pelo território da Iugoslávia. Esse projeto envolvia territórios
ao desenvolvimento industrial e agrícola. ocupados por muçulmanos e croatas bósnios, que, em 1992,
votaram pela separação da Bósnia-Herzegovina. Os sérvios,
mesmo sendo minoria na região, foram contra, defendendo

44
HISTÓRIA
Módulo 28

■■
a unidade territorial da região, sob controle sérvio. Assim,
declararam guerra, invadindo o território da Bósnia. Os três
anos de conflito foram marcados por atrocidades e muita 01 Na segunda metade do século XX, o mundo assistiu ao que
violência. Campos de concentração foram criados pelos sérvios se convencionou chamar de Guerra Fria, uma polarização

9o Ano
contra os muçulmanos e croatas, com o objetivo de promover política e ideológica entre países capitalistas e socialistas,
uma “faxina étnica”. A Europa voltou a viver o horror de uma liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética,
guerra com alto grau de violência contra civis. respectivamente. Sobre a Guerra Fria, leia e analise as
seguintes proposições e faça a soma das corretas:
A ONU enviou tropas para a região, e organizações
independentes prestaram ajuda; no entanto, o conflito foi 01) Costuma-se atrelar o fim da Guerra Fria à dissolução da
resolvido somente em 1995, com a assinatura do Acordo de União Soviética, em 1991.
Dayton. A Bósnia foi dividida em dois países: República Sérvia 02) Durante a Guerra Fria, todos os países do mundo estavam
e Federação Bósnio-Croata. alinhados aos Estados Unidos ou à União Soviética.
04) Tanto capitalistas quanto socialistas se utilizaram da
publicidade para manifestar as vantagens dos seus estilos

Domínio Público/Wikimedia
de vida.
08) A Guerra Fria repetiu a rivalidade entre Estados Unidos
e União Soviética, presente na Segunda Guerra Mundial,
quando esses dois países lutaram em lados opostos.
16) Todos os países do continente americano estavam
alinhados aos princípios capitalistas dos Estados Unidos.
32) Desde o princípio, Estados Unidos e União Soviética
assinaram tratados para a não utilização de armas
nucleares, não investindo dinheiro em sua fabricação.

■■
Soma: ( )
Cidade de Sarajevo: reflexos civis da guerra na Bósnia.
02 Sobre os conflitos que atingiram a antiga Iugoslávia,
marque a alternativa incorreta:
4. A Europa pós-Gorbachev (A) Trata-se de um dos mais antigos conflitos europeus, cujas
O Leste Europeu mudou consideravelmente em relação raízes, entre outras, encontram-se na diversidade étnica dos
não só às fronteiras (novos países), como também à economia povos que habitam as várias unidades políticas da região.
e à política. Muitos países ingressaram na União Europeia, (B) Um dos momentos significativos dos conflitos na região
mas as diferenças entre o Leste Europeu e a Europa Ocidental, ocorreu às vésperas da Primeira Guerra Mundial, com as
mesmo após 20 anos, ainda são grandes. A industrialização, as chamadas Guerras Balcânicas.
oportunidades de trabalho, o PIB, entre outros, são exemplos (C) A crise do Leste Europeu favoreceu a fragmentação da
região, levando à eclosão das rivalidades nacionais.
de que, apesar da ajuda financeira da Europa Ocidental, muito
(D) Após a Segunda Guerra Mundial, com a liderança de
ainda precisa ser feito em benefício dessa região.
Tito, a Iugoslávia manteve-se unida sob uma economia
capitalista.

■■
(E) Um traço marcante do conflito é a diversidade religiosa,
que opõe, genericamente, cristãos ortodoxos, católicos e

■■
01 O que foi o programa SDI e por que ele ficou conhecido muçulmanos.

■■
como “Guerra nas Estrelas”?
03 Espesso e perigoso, o Muro de Berlim separou bairros,
02 O nome détente representa qual momento da Guerra cortou cemitérios ao meio e fechou entradas de igrejas.

■■
Fria? Existiu por 28 anos, durante os quais se estima que 125
pessoas morreram ao tentar transpô-lo.
03 Explique por que a Guerra do Afeganistão contribuiu para Sobre o Muro de Berlim, é correto afirmar que:

■■
a crise soviética.
(A) na noite de 29 de novembro de 1947, o governo da

■■
04 Caracterize a Perestroika. Alemanha Oriental conduziu sua construção.
(B) apesar de todo o aparato de segurança, o muro não impediu
05 Caracterize a Glasnost. a fuga em massa de seus cidadãos.

45
O fim da Guerra Fria HISTÓRIA
Módulo 28

(C) tornou-se o maior símbolo da Guerra Fria, pois dividia Com base nas informações do fragmento, é correto con-
uma cidade em dois sistemas econômico-ideológicos. cluir que o autor se refere a(à):
(D) por ocasião do bloqueio imposto à cidade de Berlim (junho
de 1948 a maio de 1949), seus acessos foram fechados. (A) unificação do Estado alemão, em 1871.
(E) sua construção foi motivada pela fuga de alemães ociden- (B) política externa adotada pela Rússia logo após à Revolução
9o Ano

■■
tais para o Leste Europeu, por meio de Berlim Oriental. Bolchevique.
(C) algumas consequências das medidas liberalizantes
04 Em janeiro de 1990, a capa de uma revista norte-americana adotadas na União Soviética na década de 1980.
estampou a imagem de Mikhail Gorbachev, atribuindo-lhe (D) formação do Comecon, que reuniu, na década de 1940, as
o título de homem da década. Sob sua liderança, foram principais economias da Europa Oriental com os Estados
tomadas medidas para reconstruir a URSS, exceto o: Unidos.
(E) algumas consequências do Plano Marshall, adotado na
década de 1940, para recuperar a economia europeia.
Disponível em: <sectioneuroterminale.blogspot.com>.

■■
01 Identifique e explique dois motivos para o fim da Guerra

■■
Fria.

02 Na Copa do Mundo de 2006, surpreendemo-nos com a


declaração do técnico da Seleção Alemã, Jürgen Klinsmann,
diante da possibilidade de a Alemanha ganhar aquela
Copa e ser tetracampeã. Na verdade, a Alemanha estaria
ganhando o seu primeiro título de Copa do Mundo,
segundo afirmou Jürgen Klinsmann.

Assinale a opção que explica corretamente a afirmação


do técnico alemão:

(A) A Alemanha Oriental, fruto dos tratados do pós-Segunda


Capa da revista Time, janeiro de 1990. Guerra Mundial, foi vitoriosa nas três copas disputadas
no período de domínio nazista, e esses títulos não foram
(A) empenho para maior transparência nas políticas públicas. reconhecidos pela Fifa.
(B) decréscimo do investimento financeiro na indústria bélica. (B) A Alemanha unificada, vencedora de três copas mundiais,
(C) incremento da presença estatal nas atividades econômicas. não teve reconhecida a sua condição de nação porque, na
(D) aumento das relações diplomáticas com os países capita- época das vitórias, estava ocupada pelas forças da Otan.
listas. (C) Os títulos mundiais conquistados pela Alemanha no
(E) incentivo à produção de bens de consumo com maior período da Guerra Fria foram atribuídos apenas à parte

■■
qualidade. oriental.
(D) A Alemanha Ocidental ganhou apenas dois dos três títulos;
05 o outro título foi conquistado pela parte oriental, ocupada
Na política externa, a aproximação com as potências por forças soviéticas.
(E) A Alemanha, derrotada na Segunda Guerra Mundial,
ocidentais praticamente determinou o fim da Guerra Fria,
teve o seu território dividido em duas partes, e apenas a
trazendo desdobramentos, como a queda do Muro de Berlim e a
ocidental foi vitoriosa nas três copas mundiais.
derrubada – pacífica ou violenta – dos ditadores na Europa
Oriental. (...) A Alemanha Oriental foi finalmente reunida com
a sua parte ocidental, formando um só país.
Berutti, 2004.

46
A Nova República:

9o Ano
Governos Sarney e Collor
História

©Eder Chiodetto/Folhapress
Módulo

Você sabia que o primeiro impeachment do


Brasil ocorreu com Fernando Collor de Melo?
Há 23 anos, em 1992, o Brasil assistia à abertura do processo
de afastamento, aprovado por 441 votos na Câmara dos Deputados.
Collor, na época, era o primeiro presidente da República eleito pelo
voto direto após o regime militar, ao derrotar em segundo turno o
então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Neste módulo, estudaremos o período após a ditadura militar
chamado pelos historiadores de Nova República.

Expectativas de aprendizagem:
Movimento dos caras-pintadas.
– Identificar os pontos e princípios da Constituição de 1988;
– examinar a conjuntura econômica do Governo Sarney;
– analisar criticamente a crise política que gerou o processo
de impeachment de Fernando Collor.
A Nova República: Governos Sarney e Collor HISTÓRIA
Módulo 29

1. Governo José Sarney Seguem as principais características da Constituição:

(1985-1990) • Estabeleceu o sistema da república presidencialista, com


eleições diretas e mandato de quatro anos;
José Sarney assumiu a presidência após a morte de Tancredo • estabeleceu eleições em dois turnos, caso, no primeiro,
9o Ano

Neves e encarou sérios problemas políticos e econômicos. o candidato não tenha superado 50% do total dos votos
Politicamente, teve que enfrentar toda a bancada do PMDB válidos;
e, ainda, encontrar uma forma de cumprir todas as promessas • afirmou os direitos de liberdade de expressão;
políticas feitas por Tancredo Neves. Existia grande esperança, • pôs fim às prisões arbitrárias, ou seja, ninguém mais
por parte da sociedade, de que a abertura política resolveria poderia ser preso ou ter a sua casa invadida sem mandado
todas as dificuldades do país. Economicamente, Sarney herdou judicial;
todos os problemas dos governos militares: inflação e dívida • assegurou a liberdade individual;
externa altíssimas. • estabeleceu que o Estado deve dar assistência à sociedade –
saúde, educação e previdência –, sendo também obrigado
a proteger o meio ambiente.
1.1 A convocação da Assembleia
Constituinte e a Constituição Cidadã

©Lula Marques/Folhapress
©LeandroPignatari/iStock

Congresso Nacional em Brasília, iluminado com as cores da bandeira.


Após várias discussões políticas, as eleições para a Assem-
bleia Constituinte foram marcadas para novembro de 1986,
juntamente com as eleições para governadores. Ela começou
a trabalhar em fevereiro de 1987, e, já no início, ficou muito
clara uma divisão política:

• O “centrão”: formado pelos partidos PFL, PDS, PTB e


outros menores, apresentava tendências mais conserva-
doras e, por isso, era considerado de “direita”.
• Os progressistas: formado pelos partidos PT, PDT,
O líder da Assembleia Constituinte, Ulysses Guimarães, erguendo a então recém-
PCB, PCdoB, PV e PSB, o grupo tinha propostas mais -concluída Constituição Federal, em outubro de 1988.
inovadoras e voltadas para os interesses dos trabalhadores,
sendo considerado como a “esquerda” da Assembleia. A Constituição de 1988, de forma geral, apresentou muitas
inovações e garantiu ao indivíduo a liberdade de ir e vir, a
Para elaboração e confecção do texto final da Constituição,
igualdade de direitos entre homens e mulheres e novos direitos
muitos debates aconteceram. Afinal, a divisão partidária existente
trabalhistas, tais como os assegurados ao trabalhador rural, que
na Assembleia deixava muito clara a defesa de interesses. O texto
passou a ser equiparado ao trabalhador urbano.
final foi promulgado, ou seja, votado e aprovado, em outubro de
Após a promulgação da Constituição, o PMDB perdeu
1988. A nova Constituição, mais democrática e liberal, expressou
alguns dos seus deputados. Eles saíram do partido e fundaram
a recente situação política e social do país, sendo, inclusive,
o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB).
conhecida como Constituição Cidadã.

48
HISTÓRIA
Módulo 29

1.2 Os planos econômicos Para o funcionamento do congelamento dos preços, o


governo liberou tabelas, que foram publicadas em jornais, com
Sarney assumiu o governo com uma das inflações mais os preços pelos quais os produtos deveriam ser vendidos.
altas do mundo e uma dívida externa exorbitante. Há anos Como a Superintendência Nacional de Abastecimento
que o Brasil não pagava os valores dos empréstimos, apenas os

9o Ano
(Sunab) tinha poucos funcionários para fiscalizar o cumpri-
juros, que consumiam grande parte do dinheiro do governo, mento do tabelamento, logo surgiu um movimento de pessoas,
logo sobrava muito pouco para investimentos no país, em áreas principalmente donas de casa, que se colocaram como fiscais do
como educação, transporte e saúde. A alta inflação abalava o governo. Elas verificavam e denunciavam os estabelecimentos
salário do trabalhador, que não acompanhava os aumentos que não cumpriam os preços estabelecidos.
diários dos produtos. O país foi tomado por euforia e entusiasmo. Afinal, os
brasileiros não precisavam mais se preocupar com o aumento
diário dos preços dos produtos. O salário não era afetado pela

©Fernando Santos/Folhapress
desvalorização, pois a inflação estava controlada.
O Plano Cruzado funcionou muito bem até meados
de 1986. Após julho, os problemas começaram a aparecer.
Banqueiros e empresários, que tiveram os seus lucros reduzidos
com o tabelamento, não estavam satisfeitos com o Plano. Muitos
empresários começaram a estocar os produtos, esperando o
preço aumentar. A consequência dessa atitude foi o sumiço de
vários itens das prateleiras dos supermercados. Muitas vezes, o
consumidor só conseguia comprar pagando ágio, valor acima
da tabela. O desabastecimento atingiu várias cidades. A carne
foi o principal produto que desapareceu e, por conta do ágio,
tornou-se muito cara.
Para resolver os problemas do Plano Cruzado, o ministro
Dilson Funaro anunciou, em novembro de 1986, o Plano
Cruzado II. No início de 1987, José Sarney decretou a moratória,
ou seja, adiou o pagamento dos juros das dívidas. A situação
com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com os credores
do Brasil ficou bem complicada. Os problemas permaneceram
José Sarney. e o ministro deixou o cargo. Assumiu, em seu lugar, Bresser
Pereira. Em julho de 1987, anunciou o Plano Bresser, com
Foram necessárias medidas urgentes para resolver a crise novos congelamentos de preços e salários. O Plano revelou-se
econômica brasileira. Dilson Funaro, ministro da Fazenda, um fracasso. Ao longo desse ano, Sarney voltou a negociar com
reuniu uma equipe de estudiosos para implantar um plano que os credores e a pagar os juros das dívidas. Em janeiro de 1988, o
resolvesse o problema da inflação. Brasil tinha um novo ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega.
1.2.1 O Plano Cruzado (fevereiro de 1986) Ele anunciou o quarto plano econômico do Governo Sarney, o
Plano Verão, que também não resolveu os problemas da alta
O Plano de Estabilização Econômica propôs algumas inflação e da crise econômica.
mudanças no funcionamento da economia brasileira. Mudou-se Ao final do Governo Sarney, os cenários político e
a moeda de cruzeiro para cruzado; os preços dos produtos e os econômico eram um verdadeiro caos. O presidente e os seus
salários foram congelados. Foi criado o “gatilho salarial”, um ministros passaram apenas a administrar a situação para que
mecanismo que corrigiria o salário do trabalhador todas as vezes ela não piorasse até a sucessão do governo.
que a inflação chegasse a 20%.

49
A Nova República: Governos Sarney e Collor HISTÓRIA
Módulo 29

Entre eles, estavam Paulo Maluf, Ulysses Guimarães, Luiz


Inácio Lula da Silva, Leonel Brizola, Fernando Collor de Mello
e outros. A vitória no primeiro turno foi de Fernando Collor
A força dos movimentos sociais
(Movimento Brasil Novo – PRN, PSC, PTR e PST), porém ele
9o Ano

não obteve mais de 50% dos votos. As eleições encaminharam-se,

©mangostock/iStock
então, para o segundo turno, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A vitória foi de Fernando Collor de Mello, que se tornou
o primeiro presidente eleito de forma direta após o período
da Ditadura.

Quem era Fernando Collor de Mello?


Político de família

©Ubirajara Dettimar/Abr/Wikimedia
A fiscalização dos preços foi um importante movimento social.
tradicional de Alagoas,
O Plano Cruzado, além das mudanças econômicas, Collor aliou-se ao PMDB
trouxe a força da sociedade. Os cidadãos passaram a e tornou-se governador
fiscalizar o preço dos produtos e tornaram-se fiscais do estado. Entretanto,
do governo. seus planos eram mais
Movimentos sociais podem ser entendidos ambiciosos. Fernando
como articulações de grupos presentes na sociedade Collor desejava a presi-
que compartilham as mesmas ideias e objetivos. dência do Brasil. Um
O movimento das donas de casa ganhou força pelo dos grandes desafios
país. Mesmo individualmente, elas agiram como um para o cumprimento
coletivo, cada uma em seu bairro, cidade e estado. desse desejo era torná-lo Fernando Collor de Mello, o 32º
A presença das mulheres em supermercados, com conhecido, pois o seu presidente da República.
as listas nas mãos, conferindo os preços, é uma das nome não era forte nos
imagens mais marcantes do Plano Cruzado. principais estados do país, como Minas Gerais e São
Atualmente, Minas Gerais conta com o Paulo. Além disso, o PMDB não o lançaria como
Movimento das Donas de Casa e Consumidores de candidato do partido.
Minas Gerais, entidade que trabalha em defesa e
Com uma equipe de marketing político muito
proteção do consumidor.
competente, Collor conseguiu fazer um levantamento
do que mais atormentava o brasileiro. Apesar dos
problemas regionais, um ponto de insatisfação era
comum a todos: a corrupção. Sem apoio político do
2. As eleições presidenciais PMDB, abandonou o partido e juntou-se ao Partido de
Sarney deixou o governo com baixíssima popularidade. Reconstrução Nacional (PRN). Em um novo partido,
Era difícil que o PMDB e o PFL conseguissem um sucessor autointitulou-se “caçador de marajás”, alguém que
nas urnas. Em 1989, a campanha eleitoral ganhou força pelo colocaria um fim aos altos salários dos funcionários
país. Vários nomes surgiram como candidatos à presidência. públicos. Collor tornou-se uma referência no cenário
No total, para o primeiro turno, concorreram 22 candidatos. nacional e um candidato forte à presidência.
Apresentou-se para a população como um
político sério e conservador. Ele estaria acima de todos
os outros, justamente por ser diferente, por não ser
corrupto. O seu discurso moralista e as imagens de
salvador, de esportista, de político moderno e popular
ajudaram muito em sua campanha.

50
HISTÓRIA
Módulo 29

3. O governo de Fernando Collor A economia brasileira não apresentava sinais de recu-


peração: a inflação voltou a crescer e a desvalorizar o salário
de Mello (1990-1992) dos trabalhadores, o consumo diminuiu, empresas faliram e o
desemprego cresceu. A pobreza e a miséria dominavam as prin-
3.1 A posse e o anúncio do

9o Ano
cipais capitais brasileiras. Apesar desse contexto desfavorável,
a população ainda apoiava o presidente, até o aparecimento de
Plano Collor uma série de denúncias de corrupção no governo.
No dia 15 de março de 1990, Collor tomou posse, com
grande apoio popular e do empresariado, chegou ao poder com 3.2 O esquema PC Farias e o fim do
muita força e anunciou o Plano de Estabilização Brasil Novo,
mais conhecido como Plano Collor.
Governo Collor
A sociedade recebeu com espanto as medidas tomadas Em 1992, as denúncias de corrupção no governo
pelo governo, porque o Plano era muito diferente de todos os ganharam a imprensa brasileira. A população assistia a tudo e
outros propostos durante os antigos mandatos. Até então, a esperava uma ação do presidente.
população brasileira havia conhecido medidas que mudavam Entretanto, uma entrevista do irmão de Fernando Collor,
a moeda, congelavam os preços de produtos e salários, mas o Pedro Collor, à revista Veja provocou uma reviravolta na política
confisco do dinheiro da poupança era a primeira vez. nacional. Pedro Collor denunciou a participação do irmão
O Plano Collor estabeleceu: em um esquema de corrupção com o seu antigo tesoureiro de
campanha, Paulo César Farias (PC Farias). Essa denúncia abalou
• a mudança da moeda, de cruzado novo para cruzeiro; o governo. Segundo Pedro Collor, Paulo César Farias tinha livre
• a retenção de todo o dinheiro dos brasileiros que estava acesso aos ministérios para negociar a liberação de verbas para
em algum fundo de investimento, inclusive a poupança empresas particulares em troca de propina.
(em outras palavras, o dinheiro que as pessoas possuíam
nos bancos estava indisponível, ninguém poderia mexer

©Luiz Carlos Murauskas/Folhapress


nesses valores. Só poderiam sacar um valor máximo de
50 mil cruzeiros);
• o dinheiro retido só seria devolvido a partir de setembro
de 1991, em 12 parcelas, com uma correção de 6% ao ano;
• o saque acima do valor permitido só poderia acontecer
para despesas médicas, pagamento de salários e de
impostos, pagamento de financiamentos imobiliários etc.

A população, muito assustada, aceitou o Plano, pois achava


que esse sacrifício seria válido para ter um país sem miséria,
inflação e corrupção. A equipe econômica de Collor acreditava
que, ao retirar o dinheiro de circulação, o consumo diminuiria,
os empresários abaixariam os preços das mercadorias e a Paulo César Farias, tesoureiro da campanha à presidência de Collor.
inflação cederia. Mas, na prática, isso não aconteceu. Collor
também abriu a economia ao mercado externo, liberando as O governo instituiu uma Comissão Parlamentar de
importações. Muitas das empresas brasileiras não conseguiram Investigação (CPI) para apurar as denúncias. Os partidos do
concorrer com os produtos estrangeiros e faliram. governo fizeram de tudo para barrar as investigações e evitar a
Cerca de um ano depois, o Plano Collor I sofreu reajustes, ligação de Fernando Collor a PC Farias, mas cada nova prova
e passou a vigorar o Plano Collor II. Foram incorporadas à apurada mostrava o envolvimento do presidente. A populari-
política econômica brasileira práticas liberais, tais como a dade de Collor caiu muito. Para piorar a sua situação, veio à
privatização de empresas estatais, abertura da economia às tona o valor gasto na reforma da Casa da Dinda (residência da
empresas e aos investimentos estrangeiros e congelamento de família Collor, em Brasília). Cerca de 2,5 milhões de dólares
preços e salários para evitar a inflação. foram gastos apenas para reformar o jardim do local. Além
disso, foi comprovado o desvio de verbas na Legião Brasileira de
Assistência (LBA), na gestão da primeira-dama, Roseane Collor.

51
A Nova República: Governos Sarney e Collor HISTÓRIA
Módulo 29

Alguns políticos começaram a falar sobre impeachment. (A) Altas taxas de inflação e vários planos econômicos, como
O resultado das investigações foi apresentado no dia 24 de o Plano Cruzado. Além de a moeda nacional perder três
agosto de 1992. Collor, em uma ação desesperada, no dia zeros e passar de cruzeiro para cruzado, todos os preços
13 de agosto de 1992, quinta-feira, convocou a população ficaram congelados por um ano, o que ocasionou a falta de
mercadorias e produtos, que só eram oferecidos mediante
9o Ano

a se vestir de verde e amarelo no domingo seguinte, dia 16.


o pagamento de ágio.
O resultado foi péssimo para o governo e para a popularidade
(B) A transição pacífica para um governo com características
do presidente. As pessoas saíram às ruas de preto, e os protestos
democráticas refletiu positivamente na nossa economia.
a favor do impeachment cresceram por todo o país. A população O Brasil conseguiu, junto ao FMI, a moratória da dívida
e, principalmente, os estudantes, foram às ruas com suas “caras brasileira e o aumento do crédito nacional diante de
pintadas” de verde e amarelo. Eles reivindicavam o fim da banqueiros estrangeiros.
corrupção e a saída do presidente do poder. Nas ruas, o povo (C) Com o Plano Bresser, em julho de 1987, o poder aquisitivo
gritava: “Fora Collor!”. das camadas populares aumentou, e os índices de desem-
Em 29 de setembro, o Congresso votou a favor da abertura prego diminuíram. Com isso, ocorreu um aumento no
do processo de impeachment no Senado. No dia 2 de outubro, consumo, o que aqueceu a economia nacional e também
após a formalização da votação, Collor foi comunicado de que atraiu investidores estrangeiros para o país.
(D) O Plano Verão, em janeiro de 1989, precedeu a uma
deveria se afastar do poder por um período de 180 dias.
nova troca de moeda. O cruzado foi substituído pelo
O vice-presidente Itamar Franco assumiu a presidência. No
cruzado novo sob a gestão do ministro da Fazenda,
dia 29 de dezembro, o processo foi julgado no Senado. Como Dílson Funaro, o que acarretou prejuízos para a economia,
última manobra política, Collor renunciou ao cargo, tentando pois novamente nossa moeda foi desvalorizada.
não ter os seus direitos políticos cassados. O pedido de renúncia (E) O resultado de todos os planos editados desde fevereiro
foi lido e colocaria fim ao processo de impeachment, entretanto de 1986 até janeiro de 1989 foi positivo para a economia
o Congresso levou a votação adiante. Collor foi considerado brasileira. A extinção da correção monetária realocou
culpado e teve os seus direitos políticos cassados por oito anos. parte do capital que se encontrava aplicado nos setores
No final de janeiro de 1993, Itamar Franco assumiu como o financeiros para o produtivo, gerando empregos que

■■
novo presidente do país. dinamizaram nossa economia.

02

■■
Sarney assume como vice-presidente no exercício da
presidência da República. É efetivado em 21 de abril de
01 Como a Assembleia Constituinte estava dividida poli- 1985 devido à morte de Tancredo Neves, atribuída à infecção

■■
ticamente? generalizada, após sete cirurgias e 38 dias de agonia, em
tragédia que une e comove o país. A travessia está concluída.

■■
02 Cite três características da Constituição de 1988.
A transição se completou. Não foi apenas o governo que

■■
mudou, mas o regime político. A maior prioridade agora é
03 Caracterize o Plano Cruzado de 1988.
consolidar a transição.

■■
04 Quais foram os problemas do Plano Cruzado de 1988? COUTO, Ronaldo Costa. História indiscreta da ditadura e da abertura – Brasil: 1964-1985.
São Paulo: Editora Record, 1999. p. 443.

05 Quais características de Fernando Collor o destacaram O fator que definiu esse processo de transição no Gover-
no cenário político nacional? no Sarney (1985-1990) foi a(o):

(A) fomento de reformas políticas para eliminar o pluriparti-

■■
darismo existente no país.
(B) emergência de uma nova carta constitucional para resta-
01 O governo de José Sarney (1985-1990) caracterizou-se
belecer o processo democrático.
como um governo de transição democrática, que foi
(C) incremento da reforma econômico-financeira para
responsável, entre outros, pelo estabelecimento de eleições
estatizar o sistema bancário do país.
diretas em todos os níveis. De acordo com a esfera
(D) retomada dos atos institucionais dos governos da década
econômica, marque a alternativa que corresponde a uma
anterior para garantir a organização social.
característica que marcou esse período:

52
HISTÓRIA
Módulo 29

■■
03 Analise o fragmento a seguir:

A CPI por si só, em mãos de correligionários, muitos (A)


Das afirmativas acima, pode-se dizer que:

apenas a I está correta.


profundamente envolvidos em atos de corrupção – como se (B) apenas a II está correta.
verá em seguida no escândalo dos Anões do Orçamento – (C) apenas a I e a II estão corretas.

9o Ano
não seria o bastante para chegar ao impeachment. Este foi, (D) apenas a II e a III estão corretas.

■■
em verdade, obra de brasileiros humildes, como o motorista (E) I, II e III estão corretas.
Eriberto com seu depoimento, e uma maioria revoltada que
ocupava as ruas. A jovem democracia brasileira vivera sua 05 Em março de 1985, José Sarney assumiu de forma ines-
prova de fogo. perada a presidência da República. Em fevereiro do ano
seguinte, anunciou a adoção de um plano econômico que
LINHARES, Maria Yedda (Org.) História geral do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 1990.
provocou impacto imediato em toda a sociedade, pois:

O contexto mencionado anteriormente refere-se ao go- (A) no primeiro mês de sua implantação, a inflação saltou de
verno do presidente: 200% ao ano para 400% ao ano.
(B) aumentou imediatamente o abastecimento de mercadorias
(A) Juscelino Kubitschek. nos supermercados, principalmente pela atuação dos
(B) Tancredo Neves. policiais federais, chamados de fiscais do Sarney.
(C) Floriano Peixoto.
(C) com mais dinheiro e com juros baixos para aquisições a
(D) Fernando Henrique Cardoso.
prazo, muita gente foi às compras, o que gerou expansão

■■
(E) Fernando Collor de Mello.
nas atividades industriais.
04 Nos últimos 30 anos, o Brasil deu passos importantes para (D) criou uma nova moeda, o real, cuja estampa é atraente e
a consolidação do regime democrático com a conquista moderna, e estabilizou o valor do dinheiro brasileiro em
de vários direitos, como a liberdade de expressão e o âmbito internacional.
direito de escolher, por meio de eleições diretas, todos os (E) nas eleições de novembro de 1986, devido ao sucesso do
governantes do país. plano econômico, conseguiu que Fernando Collor de
Mello se elegesse à presidência da República como seu
Sobre esse período, considere as proposições abaixo: sucessor.

I. A Nova República, que pôs fim a 21 anos de ditadura

■■
militar, começou de forma trágica: Tancredo Neves, o
presidente eleito pelo Colégio Eleitoral, não pôde assumir,
por motivo de doença. Em 15 de março de 1985, José 01
Sarney, eleito vice-presidente, assumiu o cargo de presi- (...) o desencanto com a Nova República era provocado
dente da República. Tancredo Neves faleceu em 21 de abril principalmente pelo fracasso dos vários planos econômicos
do mesmo ano. que não conseguiram domar o dragão da inflação. Depois
II. A Constituição de 1988, conhecida como Constituição do breve sucesso do Plano Cruzado, de 1986, a arrancada
Cidadã, assegurou amplamente os direitos civis, sendo as dos preços disparou, esmagando o poder de compra dos
práticas de racismo e de tortura classificadas como crimes brasileiros, especialmente dos mais pobres.
inafiançáveis.
Marly Motta. Rumo ao planalto. Disponível em: <www.revistadehistoria.com.br>.
III. Em 1989, o Brasil realizou a sua primeira eleição presi- Acesso em: 9 ago. 2013.

dencial desde 1960, polarizada entre Fernando Collor e


Ulysses Guimarães. O primeiro era apoiado pelos políticos a. Explique o que é inflação.
do regime militar; o segundo simbolizava a oposição à b. Quais os efeitos do congelamento de preços, base do Plano
ditadura. Cruzado, para a economia brasileira do período?

53
A Nova República: Governos Sarney e Collor HISTÓRIA
Módulo 29

■■ 02 O escândalo é um fenômeno produzido por ações que


envolvem transgressões de códigos morais levadas ao
domínio público, provocando reações que podem afetar
Anteriormente, os dois maiores escândalos políticos da his-
tória republicana brasileira haviam acontecido no segundo
Governo Vargas (1951-1954) e no Governo Collor (1990-
a reputação de pessoas ou instituições. Na esfera política, 1992). Ambas as situações suscitaram crises políticas que
em geral, os escândalos estão associados à corrupção e ao afetaram os governantes.
9o Ano

suborno e constituem materiais explorados pela imprensa.


No Brasil, no ano de 2012, o Supremo Tribunal Federal Caracterize a crise política (seus motivos e efeitos) em
julgou o escândalo do esquema de compra de votos de cada um desses momentos:
parlamentares, conhecido por “mensalão”, denunciado
durante o governo do presidente Lula. a. Segundo Governo Vargas.
b. Governo Collor.

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54
A Nova República: Governos Itamar

9o Ano
Franco, FHC, Lula e Dilma
História
Módulo

Você sabia que o fusca já foi um dos modelos de carro


mais famosos no Brasil?
O carro na fotografia é um fusca, tradicional modelo da Volkswagen. Esse automóvel,
de grande sucesso no Brasil entre os anos de 1960 e 1980, recebeu bastante incentivo no
governo do presidente Itamar Franco. Seu antecessor, Fernando Collor, considerava os
carros brasileiros “carroças”, como afirmou durante seu governo, e era a favor da entrada
de capital estrangeiro no país para promover o desenvolvimento das indústrias. Além
da modernização, Itamar buscou, com a questão do fusca, resgatar um dos símbolos da
industrialização do passado. O governo de Itamar Franco foi muito importante para a
economia brasileira, pois implantou um plano que promoveu o crescimento do país.
Neste módulo, serão estudados os governos de Itamar Franco, Fernando Henrique
Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Veremos como a situação econômica
brasileira mudou, proporcionando a tão sonhada estabilidade, e estudaremos os
programas sociais criados no período. Além disso, ressaltaremos a permanência dos
escândalos de corrupção e de políticas de troca de favores, presentes nos governos do
PSDB e do PT.

©autor/iStock

Expectativas de aprendizagem:
– Compreender a política neoliberal de FHC;
– identificar as políticas sociais do período;
– debater os escândalos de corrupção que permearam os
governos Lula e Dilma.
A Nova República: Governos Itamar Franco, FHC, Lula e Dilma HISTÓRIA
Módulo 30

1. Itamar Franco (1992-1995) Como foi dito na introdução deste módulo, Itamar Franco
incentivou novamente a produção do fusca no país. A ideia era
Itamar Franco nasceu em Juiz de Fora, no estado de Minas resgatar o carro popular. A medida fez sucesso e as montadoras
Gerais. Ali foi prefeito (1967-1971 e 1973-1974), tornando-se, perceberam que o carro popular poderia ser uma grande
logo depois, senador (1974, reeleito em 1982). Em 1986,
9o Ano

solução para a crise automobilística no país.


concorreu ao governo de Minas e, em 1989, candidatou-se O governo de Itamar contava com uma equipe econômica
como vice de Fernando Collor de Mello. que trabalhou muito e estruturou um novo plano para estabi-
lizar as finanças e promover o crescimento do país. Esse plano

©Paulo Fridman\GettyImages
começou a ser desenhado no segundo semestre de 1993 e foi
implantado em 1o de julho de 1994. Nesse dia, o ministro da
Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, anunciou um plano de
estabilização econômica chamado Plano Real.
Na campanha eleitoral de 1994, o PT lançou Luiz Inácio
Lula da Silva para concorrer com o candidato Fernando
Henrique Cardoso. Como o ministro da Fazenda “colhia os
louros” do Plano Real, contou com uma grande vantagem.
FHC, candidato do PSDB, foi eleito no primeiro turno. Itamar
Franco deixou o governo com alto índice de popularidade.

Itamar Franco.

Após as primeiras denúncias de corrupção contra Collor, O que é privatização?


Itamar deixou o PRN e, com o afastamento do presidente,
Entende-se por privatização o processo que
assumiu interinamente o poder em outubro de 1992; em janeiro
transfere as empresas ou órgãos do governo para a
de 1993, tornou-se presidente.
iniciativa privada, por meio de vendas que costumam
O novo governo contava com o apoio de quase todos os acontecer em leilões.
partidos. Seguindo a onda de nacionalismo que assolava o país,
Esse processo aconteceu no Brasil, em primeiro
a ideia era passar para a população a imagem de que todos os
lugar, para atender à política do momento, que preco-
políticos da oposição estavam unidos contra a corrupção. Essa
nizava a menor intervenção do Estado na economia e,
pluralidade partidária era percebida na composição do seu
em segundo, porque existia um discurso de que essas
ministério, que contava com ministros de partidos diferentes.
empresas estavam atrasadas tecnologicamente e muito
No plano econômico, Itamar enfrentava os problemas de teria que ser investido para que elas voltassem a lucrar.
sempre: inflação galopante, juros da dívida externa, salários Logo, vendê-las resolveria os dois problemas e ainda
desvalorizados, alto índice de desemprego etc. A situação não traria dinheiro para os cofres públicos.
era fácil, e a necessidade de uma solução era urgente.
O processo foi alvo de muitas críticas, uma vez que
O presidente, então, investiu em industrialização. As grandes empresas foram vendidas por um preço muito
isenções fiscais atraíram grandes multinacionais, que, em troca, baixo e o país perdeu o controle de setores importantes,
ofereceram empregos. O governo também manteve a política como o energético e o das telecomunicações.
de privatizações e, em 1993, um dos maiores símbolos das
empresas estatais e da era getulista, a Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN), foi privatizada.

56
HISTÓRIA
Módulo 30

2. Fernando Henrique Cardoso – PSDB


(1995-2002)

9o Ano
©Alessandro Carvalho/flickr
Fernando Henrique Cardoso.

Fernando Henrique Cardoso nasceu no Rio de Janeiro, mas cresceu em São


Paulo. Formado em Ciências Sociais pela USP, tornou-se um importante sociólogo
e intelectual. Após o golpe militar, em 1964, exilou-se no Chile e depois foi para a Em 1993, houve um plebiscito no
França, a fim de continuar os estudos. Brasil que contrapôs monarquia
e república. A república foi vito-
Voltou ao Brasil em 1968 e começou a participar da vida política. Cumpriu um
riosa e manteve-se como a for-
importante papel durante o movimento das “Diretas Já!”. Com o sucesso do Plano
ma de governo do país.
Real, chegou à presidência.

2.1 Primeiro governo (1995-1998)


Eleito no primeiro turno, FHC contava com apoio da sociedade brasileira.
Seu grande desafio era manter o crescimento econômico do país e controlar a inflação.
Para tanto, propôs uma reforma do Estado baseada em uma rígida política fiscal, com
mínima participação estatal na economia.
Na prática, isso significou cortes nas despesas do Estado e em vários setores,
entre eles, a educação e a saúde. Para diminuir a influência do governo na economia,
FHC continuou a política de privatizações, das quais se destacam as realizadas nos
setores energético e das telecomunicações. No seu primeiro governo, a principal
privatização foi a da Vale do Rio Doce.
Em 1996, os trabalhadores foram às ruas para protestar contra as políticas
econômicas do governo. A greve, que contou com a participação de 12 milhões de
pessoas, foi organizada pela CUT, a CGT e a Força Sindical. O movimento reivindicava
as condições de emprego, salário, aposentadoria, reforma agrária e manutenção dos
direitos sociais dos trabalhadores.
Uma das marcas polêmicas do primeiro governo de FHC foi a proposta da
emenda constitucional de reeleição, aprovada pelo Congresso. Houve denúncias de
compra de votos por parte do PSDB para garantir a vitória do governo.

57
A Nova República: Governos Itamar Franco, FHC, Lula e Dilma HISTÓRIA
Módulo 30

Apesar do pouco investimento em educação e saúde, a Após 31 dias preso, voltou ao movimento sindical. Ainda no
estabilidade econômica deixava a sociedade satisfeita e tranquila. início da referida década, Lula tornou-se o primeiro presidente
A população brasileira tinha muito medo de promover uma do recém-criado PT. Derrotado nas eleições de 1989, 1995 e
troca de governo. Para ela, era melhor deixar as coisas como 1999, só conseguiu chegar ao poder em 2002.
9o Ano

estavam, ou seja, votar novamente em Fernando Henrique.


3.1 Primeiro governo (2003-2006)
2.2 Segundo governo (1999-2002) Até a posse de Lula, houve um governo de transição entre as
O segundo governo de Fernando Henrique começou equipes econômicas. A ideia era partilhar as informações, para
enfrentando muitos problemas. Em 1998, a Rússia passou por não correr o risco de perder tudo o que o país havia conquistado
uma grave crise econômica, e os investidores internacionais, no campo econômico. Além disso, essa medida acalmou o
temendo que o mesmo acontecesse ao Brasil, começaram a empresariado brasileiro e os investidores internacionais.
retirar os dólares investidos no país. Lula assumiu a presidência e a economia permaneceu
Isso abalou as reservas brasileiras de dólares e fez com estável. Diante de tal situação, o governo continuou promo-
que o governo recorresse ao FMI em busca de empréstimos. vendo o crescimento econômico do país, além de dar conti-
O real foi desvalorizado, o que afetou a população – como nuidade a programas sociais já existentes e investir em outros.
consequência, o consumo diminuiu e o desemprego aumentou. Lula conseguiu, também, uma posição de destaque e de
A popularidade de Fernando Henrique caiu e o PSDB não respeito no cenário internacional, passando a ocupar a postura
conseguiu eleger um sucessor. de líder na América Latina e a pleitear uma cadeira no Conselho
As eleições para a presidência em 2002 foram bem disputadas. de Segurança da ONU.
O candidato Luiz Inácio Lula da Silva agradou diversos setores Um dos grandes problemas enfrentados por Lula foram as
da sociedade, além dos trabalhadores. A vitória foi garantida no denúncias de corrupção no seu governo, sobretudo o esquema
segundo turno, contra o candidato José Serra (PSDB). que ficou conhecido popularmente como Mensalão. Por conta
de alianças partidárias e para conseguir apoio em votações no
3. Luiz Inácio Lula da Silva – PT Congresso, os processos foram concluídos, e determinou-se
a prisão de vários parlamentares, inclusive o delator Roberto
(2003-2010) Jefferson. Mesmo com todas as denúncias, Lula saiu ileso.
Ao final do primeiro mandato, Lula tinha um baixo índice
©Sean Gallup/iStock

de rejeição e os seus programas sociais eram fortes trunfos na


campanha para a reeleição. As eleições seguintes foram para
o segundo turno e Lula ganhou de Geraldo Alckmin (PSDB).

3.2 Segundo governo (2007-2010)


No segundo governo, Lula manteve os programas sociais
já vigentes e criou um novo, chamado Programa de Aceleração
Econômica (PAC), cujo objetivo era promover a modernização
do país. Para isso, foi necessário investir em infraestrutura.
Lula buscou escolher um sucessor e manter o PT no poder.
A pessoa escolhida foi Dilma Rousseff, ministra de Minas e
Energia no primeiro mandato e ministra da Casa Civil no
Luiz Inácio Lula da Silva.
segundo. Com o apoio de Lula, Dilma foi eleita.

Luiz Inácio nasceu no sertão pernambucano e migrou para


o Sudeste em busca de melhores oportunidades de trabalho e
vida. Chegou ao ABC Paulista e se tornou metalúrgico. Durante o
Regime Militar, ingressou no sindicato e comandou as primeiras
greves desse período. Em 1980, foi preso e fichado pelo Dops.

58
HISTÓRIA
Módulo 30

4. Dilma Rousseff – PT O governo foi caracterizado, também, em 2013 e 2014, por


uma série de manifestações em diversos estados. Elas começaram
(2011-2016) em São Paulo, por conta do aumento das passagens de ônibus, e,
depois, se espalharam por todo o país. Milhares de pessoas saíram
©Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr/Wikimedia

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às ruas reivindicando melhor educação, saúde, transporte e menos
corrupção. Após as manifestações, o governo da presidente Dilma
ficou extremamente abalado, comprometendo sua reeleição.
Em 2014, na campanha presidencial, apesar da oposição ao
seu governo, Dilma estava à frente nas pesquisas até o acidente
aéreo que matou o candidato Eduardo Campos. Após o incidente,
Marina Silva (vice de Eduardo Campos) levou a candidatura
adiante, retirando muitos votos da candidata Dilma. No segundo
turno, Marina Silva fez uma aliança política com Aécio Neves.
A reeleição da presidente só foi resolvida no segundo turno e
nos últimos momentos. Dilma Rousseff venceu as eleições com
51,64% dos votos, contra 48,36% do seu adversário. Mais uma
vez, o PT conseguiu se manter no poder e Dilma foi reeleita,
porém com uma forte rejeição.

4.2 O segundo governo (2015-2016)


O segundo governo de Dilma iniciou como terminou
o primeiro: sob um espectro negativo de crise vindoura.
A torrente de gastos públicos de seu governo anterior não
conseguiu se sustentar, já que a conjuntura internacional
mudara. Os excessivos gastos com os programas assisten-
cialistas e com a preparação para a Copa do Mundo de 2014
arrebataram o país logo nos primeiros meses da reeleição,
levando-o a uma grave crise econômica. Para saná-la, medidas
Dilma Rousseff. de austeridade marcaram a nova agenda econômica do governo
petista, como:
4.1 O primeiro governo (2011-2014)
• aumento de impostos;
Dilma governou todo o primeiro mandato tendo como • aumento da taxa de juros;
referência o ex-presidente Lula, que sempre esteve muito • restrição do crédito etc.
presente nas decisões do partido e do governo.
Assim como aconteceu no Governo Lula, o primeiro Tal crise econômica e a mudança radical dos rumos
mandato do Governo Dilma foi marcado por uma forte inter- políticos do governo na economia provocaram uma enxurrada
venção do Estado na economia. Ela manteve os programas sociais de críticas veementes por parte dos congressistas, inclusive dos
do antigo governo e criou outros. Algumas ações de seu governo partidos da base de apoio do governo, como PSD e PMDB.
foram as seguintes: Este último, partido do vice de Dilma, Michel Temer, acabou
rompendo com o PT. Agora, presidente e vice deixam de ser
• Ampliação do acesso à universidade pública, por meio aliados. O governo petista perdeu o apoio do Congresso, que
da expansão do programa de cotas e do financiamento aprovou, com a anuência constitucional do então presidente
estudantil; da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, o pedido de
• desenvolvimento de um programa habitacional, o Minha impeachment de Rousseff. A acusação era a edição de decretos
Casa, Minha Vida; sem a devida autorização do Congresso Nacional e as chamadas
• criação da Lei anticorrupção;
“pedaladas fiscais”.
• abandono da política fiscal dos governos FHC e Lula, com
concessões e isenções fiscais, juros baixos e liberação de
créditos.

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A Nova República: Governos Itamar Franco, FHC, Lula e Dilma HISTÓRIA
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Em 17 de abril de 2016, a Câmara dos Deputados votou a favor do envio do


processo para o Senado. A votação da outra casa legislativa seria definitiva: caso a
maioria dos senadores concordasse com o impeachment, Dilma deixaria a presidência.
No dia 31 de agosto de 2016, o Senado aprovou o pedido de impedimento da
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presidente. Após seu afastamento do cargo, Michel Temer assumiu a presidência.

O Governo Temer (2016-2019)


O governo de Michel Temer iniciou-se de modo definitivo em 31 de
agosto de 2016, após a conclusão do processo de impeachment protocolado
contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. No primeiro semestre de seu mandato,
Temer contou com um índice de aprovação popular bastante baixo, apenas
10% em novembro de 2016, como apontaram os institutos de pesquisa. Além
disso, seu governo foi duramente fragilizado socialmente, devido a polêmicas
envolvendo diversos de seus ministros em escândalos de corrupção na
chamada Operação Lava Jato. Seis de seus ministros tiveram de ser afastados
do cargo após o vazamento de áudios e delações premiadas que os envolviam
em esquemas para paralisar as investigações realizadas pela Polícia Federal.
Nessa esfera de transformações, uma série de reformas conservadoras e
de caráter econômico-social foi idealizada sob o argumento de combate à crise
econômica. Entre as principais propostas estão a Reforma Previdenciária, a
Reforma Trabalhista e a Reforma do Currículo Escolar.

©Diego DEAA/Wikimedia

Michel Temer, presidente da República após o impeachment de Dilma Rousseff.

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03 Em julho de 2011, faleceu o ex-presidente Itamar Franco.
A respeito da sua chegada ao poder e do seu governo, é

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01 O que é privatização? correto afirmar:

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(A) Venceu Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno das

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02 Por que o processo de privatização recebe tantas críticas?
eleições disputadas em 1994, graças ao sucesso do Plano
03 Qual foi a medida polêmica proposta e aprovada no Real, implementado no governo de Fernando Henrique

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governo de Fernando Henrique? Cardoso.
(B) Venceu Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 1989 e
04 Cite duas medidas tomadas pelo segundo governo de organizou um governo de coalizão nacional, do qual parti-

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Dilma para controlar a crise econômica. ciparam todos os demais partidos políticos brasileiros,
inclusive o PT.
05 Quais foram as propostas de reforma do Governo Temer? (C) Assumiu a presidência após o processo de impeachment do
presidente Fernando Collor de Mello e, com seu ministro
Fernando Henrique Cardoso, implementou o Plano Real.

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(D) Foi eleito em janeiro de 1985, em eleição direta pelo colégio
eleitoral, e organizou um governo de reformas políticas e
01 Nas eleições ocorridas no Brasil em outubro de 2014, em econômicas que permitiram sua reeleição em 1994.
vários estados e, especificamente, no caso da presidência (E) Foi eleito em 1994 devido ao sucesso do Plano Real, imple-
da República, a decisão ficou para um segundo turno. mentado no governo do presidente Fernando Henrique

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Outro aspecto presente nessa eleição e que tem sido objeto Cardoso, do qual participou como ministro da Fazenda.
de discussões é o instituto da reeleição para o Executivo
Federal e Estadual. 04 A inflação marcou o Brasil nos anos 1980 e no início dos
Sobre esse assunto, aponte a alternativa que apresenta anos 1990, sendo caracterizada por taxas elevadas e pela
corretamente quando foram instituídos, respectivamen- resistência às medidas tradicionais usadas pelo governo
te, a eleição em dois turnos e o instituto da reeleição: para eliminá-la. Com o Plano Real, iniciado em 1993 e
1994, o processo inflacionário foi controlado. Sobre esse
(A) Constituição de 1946 – Constituição de 1988. importante plano, pode-se afirmar que:
(B) Constituição de 1967 – Constituição de 1988.
(C) Constituição de 1967 – Emenda Constitucional de 1969. (A) introduziu uma nova moeda, o real, e congelou os preços
(D) Constituição de 1988 – Emenda Constitucional de 1997. dos produtos.

■■
(E) Constituição de 1969 – Emenda Constitucional de 2013. (B) introduziu a URV, depois transformada em real.
(C) congelou os preços e desindexou os salários.
02 (D) introduziu uma nova moeda e diminuiu as taxas de juros.
Ao definir seu posicionamento para a reta final da (E) introduziu o plano de ação imediata e diminuiu as taxas

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campanha presidencial, Marina Silva afirmou que sua decisão de juros.
é “inteiramente coerente” com a renovação da política.
No primeiro turno, o discurso da então candidata criticava 05 Em outubro de 1994, embalado pelo sucesso do Plano
a polarização entre PT e PSDB e falava em “nova política”. Real, Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente
da República. Em seu discurso de despedida do Senado,
Folha de São Paulo, 13 out. 2014.
se comprometia a acabar com o que denominava “Era
Vargas”: “(...) Eu acredito firmemente que o autoritarismo
Sobre a participação de Marina Silva na eleição presiden- é uma página virada na história do Brasil. Resta, contudo,
cial de 2014, é correto assinalar: um pedaço do nosso passado político que ainda atravanca
o presente e retarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao
(A) No primeiro turno, Marina era candidata do Partido Rede legado da Era Vargas.” (14/12/1994)
Sustentabilidade e obteve a terceira colocação.
(B) Com a morte do presidenciável do PSB, Eduardo Campos,
Marina foi preterida pelo partido, que preferiu lançar a
candidatura de Beto Albuquerque.
(C) No segundo turno, declarou apoio a Dilma Roussef, do PT.
(D) No segundo turno, recusou-se a declarar apoio a qualquer
um dos candidatos.
(E) No segundo turno, declarou apoio a Aécio Neves, do
PSDB.

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A Nova República: Governos Itamar Franco, FHC, Lula e Dilma HISTÓRIA
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O presidente eleito governou o Brasil por dois mandatos,

■■
iniciando a consolidação da política neoliberal no país,
principiada pelos presidentes Collor e Itamar Franco.
01 Aponte e explique três consequências econômicas
Sobre os dois mandatos (1995-2002), pode-se afirmar
importantes para a sociedade brasileira decorrentes
que se caracterizam:
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da implantação do Plano Real, em 1994, e da política


econômica adotada no contexto do Governo Itamar
(A) pela manutenção do poder aquisitivo dos que se aposen-
Franco (1992-1994) e do primeiro Governo Fernando
tavam; pelo estabelecimento do monopólio nacional sobre

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Henrique Cardoso (1995-1998).
as telecomunicações, por meio das empresas estatais; e
pela nacionalização do sistema financeiro.
02 Acerca da monarquia e da república, na construção do
(B) pelo elevado crescimento econômico, com média anual
Estado brasileiro, é correto afirmar, exceto:
de cerca de 5% ao ano; pelo grande investimento em
infraestrutura e educação; pela distribuição de renda e
(A) A república brasileira passou por diversas fases. Na
aumento da capacidade econômica do Estado.
chamada Primeira República, apesar do discurso de
(C) pela política social de inclusão, com a criação do Bolsa
mudança em relação ao período monárquico, perma-
Família; pela facilitação do ingresso de carentes nas
neceram muitas formas autoritárias de poder, como a
universidades; pela restrição aos investimentos estran-
estrutura oligárquica.
geiros e pelos elevados incentivos à agricultura familiar.
(B) A monarquia brasileira manteve a escravidão e teve sério
(D) pelo rompimento com a política econômica originada pelo
atrito com a Grã-Bretanha, quando esta última tentou
Consenso de Washington; pela consolidação do sistema
acabar com o tráfico de escravos no século XIX.
financeiro estatal e pelo reforço da legislação trabalhista
(C) A transição da monarquia para a república envolveu um
gestada na primeira metade do século XX.
conflito grave entre a aristocracia agrária do Nordeste e do
(E) pelo limitado crescimento econômico; pela privatização
Sudeste contra os movimentos modernizadores centrados
das empresas estatais; pela diminuição do tamanho do
no Exército e na burguesia industrial de São Paulo.
Estado e pelo apagão energético, que levou ao raciona-
(D) Em 1993, houve um plebiscito no Brasil que contrapôs
mento e ao aumento do custo da energia.
monarquia e república. A república foi vitoriosa e
manteve-se como a forma de governo no país.

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