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SIMULAÇÃO DE MODELOS

DE EDIFÍCIOS UTILIZANDO A
TECNOLOGIA BIM

CAROLINA MIRANDA DE ARAÚJO

0
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - USJT

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

CAROLINA MIRANDA DE ARAÚJO

SIMULAÇÃO DE MODELOS DE EDIFÍCIOS UTILIZANDO A


TECNOLOGIA BIM

Dissertação apresentada ao curso de Pós-


Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade São Judas Tadeu, como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre
em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Guillermo


Vázquez Ramos

São Paulo

2016
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca
da Universidade São Judas Tadeu
Bibliotecária: Tathiane Marques de Assis - CRB 8/8967

Araújo, Carolina Miranda de.


A663s Simulação de modelos de edifícios utilizando a tecnologia BIM /
Carolina Miranda de Araújo. - São Paulo, 2016.
185 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Fernando G. Vázquez Ramos.


Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São
Paulo, 2016.

1. Building Information Modeling. 2. Representação arquitetônica. I.


Ramos, Fernando G. Vázquez. II. Universidade São Judas Tadeu,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e
Urbanismo. III. Título

CDD 22 – 720.105
0

Eu acredito nas formas impossíveis.


(Zaha Hadid)

Se uma imagem vale mais do que mil palavras,


um modelo vale mais do que mil imagens.
(Edward McCracken)

O lápis e o computador são muito


semelhantes, pois são apenas tão bons quanto
as pessoas que os manejam.
(Norman Foster)
AGRADECIMENTOS

À Cidade de São Paulo.

À USJT e CAPES, pela oportunidade da bolsa de estudos que me foi atribuída.


0
À Profa. Dra. Paula Belfort, pela extrema colaboração em todas as fases deste
trabalho.

Ao Prof. Dr. Fernando Vázquez Ramos, por todo o incentivo pelo tema proposto, com
suas informações e orientações que foram de valiosa importância para o crescimento
e desenvolvimento da dissertação.

Ao amigo e Mestre Rodrigo Ramon Rodrigues, por todos os seus ensinamentos, por me
incentivar a ingressar no Mestrado e pelo grande apoio na fase inicial desta trajetória.

À amiga e Prof. Celia Bitencourt por ter me aconselhado sempre de forma tão
carinhosa.

À amiga e parceira Helen Cristiane, pela confiança em meu profissionalismo e todas


as suas circunstâncias e principalmente pela compreensão ao longo desta fase.

Aos meus queridos pais, sou imensamente grata por me ensinarem que não há limites
para o conhecimento, pelo constante incentivo e principalmente por acreditarem em
meu potencial.

À Deus, por sempre mostrar o melhor caminho a ser tomado.

À todos, que de alguma forma colaboraram para que a realização deste trabalho
pudesse ser concretizado.

Por fim, dedico a todos aqueles que buscam compreender as complexidades da


arquitetura contemporânea.
RESUMO

No atual momento em que a sociedade se desenvolve numa dinâmica


pautada pelo conhecimento coletivo e pela produção em rede, cabe
pensarmos no potencial das novas práticas de projeto, pois estas utilizam 5
novos modos de trabalhar que auxiliam no próprio entendimento da
arquitetura. A complexidade dos projetos arquitetônicos vem crescendo a
cada dia. Uma saída para superar esse desafio é a utilização de softwares 3D,
que possibilitam desenvolver um modelo tridimensional, promovendo uma
simulação virtual, onde seja possível visualizar o objeto modelado, permitindo
continuar a projetar em vários eixos de ação. Este modo de trabalhar facilita
não só a visualização da forma, mas contempla como o objeto será
construído, incluindo o próprio processo de construção, além de facilitar
especialmente a compatibilização dos projetos complementares. Propomos
nesta pesquisa esclarecer as possibilidades que a tecnologia BIM (Building
Information Modeling) permite, desde uma abordagem teórica e
metodológica até a demonstração de um estudo de caso, projetando um
edifício utilizando essa tecnologia, como um modelo único, onde serão
inseridas todas as informações, permitindo visualizar o projeto complexo
através do modelo virtual. O projeto modelado aponta um novo processo de
projeto embasado nas diferentes possibilidades de representação que os
modelos virtuais são capazes de oferecer, onde objetos digitais são
codificados para descrever e representar componentes modelados de forma
livre, assim sendo, uma nova abordagem para a prática de concepção de
projetos e visualização espacial dos mesmos.

Palavras-chave: BIM; Representação Arquitetônica; Simulação Espacial;


Modelo Tridimensional; Projeto Digital.
ABSTRACT

At the moment in which the company develops a dynamic marked by the


collective knowledge and network production, we should think about the 6
potential of new design practices, as they use new ways of working that help in
the proper understanding of architecture. The complexity of architectural
projects is growing every day. An outlet to overcome this challenge is to use 3D
software that enable developing a three-dimensional model, promoting a
virtual simulation, where you can view the modeled object, allowing continue
to design in various lines of action. This way of working facilitates not only the
way viewing, but contemplates how the object will be built, including own
construction process, and especially facilitate the matching of complementary
projects. We propose in this study to clarify the possibilities BIM (Building
Information Modeling) allows, from a theoretical and methodological
approach to the demonstration of a case study, designing a building using this
technology as a single model, which will be inserted all the information,
allowing you to see the complex project through the virtual model. The
patterned design shows a new process grounded project in the different
possibilities of representation that the virtual models are able to offer, where
digital objects are coded to describe and represent modeled components
freely, therefore, a new approach to the practice of design spatial projects
and display thereof.

Keywords: BIM; Architectural Representation; Space Simulation; Three-


dimensional Model; Digital Project.
LISTA DE FIGURAS

7
CAPÍTULO 1. TECNOLOGIA BIM

Figura 1 - Mapeamento das curvaturas no software Catia. Museu


Guggenheim, Bilbao. Fonte: Dennis Shelden, 2002, p. 198. 30
Figura 2 - Modelo tridimensional do Museu Guggenheim, Bilbao. 31
Figura 3 - Fachada do Museu Guggenheim, Bilbao. 31
Figura 4 - Zaha Hadid, Azabu-Jyuban Building, 1986. Competição em
Tóquio, Japão. 32
Figura 5 - Representação do Projeto Catedral (Balsas, MA, 2012). Fonte:
Modelo da autora. 34
Figura 6 - Desenho 2D de projeto desenvolvido no software AutoCad. Fonte:
Desenho da autora. 35
Figura 7 - Comparações entre as plataformas CAD e BIM. 36
Figura 8 - Ciclo de Vida de um edifício. 38
Figura 9 - Dimensões do BIM. Fonte: Tabela da autora. 39
Figura 10 - Esquema de processo colaborativo. 41
Figura 11 - Esquema de modelo integrado. 42
Figura 12 - Metodologia de projeto integrado. Fonte: Esquema da autora. 44
Figura 13 - O elemento porta parametrizado. Fonte: Arquivo da autora. 46
Figura 14 - Produtos remodelados da empresa Tigre. Fonte: Arquivo da
autora. 47
Figura 15 - Visualização do arquivo em planta, corte, vista 3D e imagem
renderizada. Fonte: Arquivo da autora. 49
Figura 16 - Exemplo de projeto arquitetônico, interiores, elétrico,
luminotécnico, hidráulico e projeto de forro. Fonte: Arquivo da autora. 49
Figura 17 - Exemplo de projeto de prefeitura. Fonte: Arquivo da autora. 50
Figura 18 - Exemplo de madeiramento. Fonte: Arquivo da autora. 50

CAPÍTULO 2. O DESENHO DE ARQUITETURA NA ERA DIGITAL

Figura 19 - Processo de Projeto em Plataforma CAD. Fonte: Esquema da


autora. 54
Figura 20 - Processo de Projeto em Plataforma BIM. Fonte: Esquema da
autora. 55
Figura 21 - Metodologia de implementação da tecnologia BIM. Fonte:
Esquema da autora. 58
Figura 22 - Projeto Residência Pacuiba – Ilha Bela. Fonte: Arquitetura Gui
Mattos, 2012. 64
Figura 23 - Projeto Residência Pacuiba – Ilha Bela. Fonte: Arquitetura Gui
Mattos, 2012. 64
Figura 24 - Projeto Residência Pacuiba – Ilha Bela. Fonte: Arquitetura Gui
Mattos, 2012. 64
Figura 25 - Projeto Habitarte. Fonte: Aflalo & Gasperini Arquitetos. 65
Figura 26 - Projeto Habitarte. Fonte: Aflalo & Gasperini Arquitetos. 65
Figura 27 - Projeto Habitarte. Fonte: Aflalo & Gasperini Arquitetos. 66
Figura 28 - Projeto Habitarte. Fonte: Aflalo & Gasperini Arquitetos. 66 8
Figura 29 - Edifício B32, Primeiro Edifício Corporativo Projetado em BIM.
Fonte: Contier Arquitetura. 67
Figura 30 - Edifício B32, Primeiro Edifício Corporativo Projetado em BIM.
Fonte: Contier Arquitetura. 68
Figura 31 - Edifício B32, Primeiro Edifício Corporativo Projetado em BIM.
Fonte: Contier Arquitetura. 68
Figura 32 - Projeto de instalação médica no software Revit, WASA / Studio A.
72
Figura 33 - Projeto de instalação médica no software Revit, WASA / Studio A.
73
Figura 34 - Projeto de instalação médica no software Revit, WASA / Studio A.
74

CAPÍTULO 3. SIMULAÇÃO DE MODELOS DE EDIFÍCIOS

Figura 35 - Caixa de desenho no software Revit Architecture. Fonte: Modelo


da autora. 77
Figura 36 - Implantação. Fonte: Modelo da autora. 78
Figura 37 - Plantas subsolo, nível zero e pavimento térreo e suas vistas 3D.
Fonte: Modelo da autora. 79
Figura 38 - Plantas 2º, 3º e 4º pavimento e suas vistas 3D. Fonte: Modelo da
autora. 79
Figura 39 - Torre de escritórios. Fonte: Modelo da autora. 80
Figura 40 - Torre residencial. Fonte: Modelo da autora. 81
Figura 41 - Torre hotel. Fonte: Modelo da autora. 81
Figura 42 - Cortes do modelo. Fonte: Modelo da autora. 82
Figura 43 - Elevações do modelo. Fonte: Modelo da autora. 83
Figura 44 - Setorização e tabela de relação de ambientes. Fonte: Modelo
da autora. 84
Figura 45 - Malha estrutural esquemática. Fonte: Modelo da autora. 85
Figura 46 - Perspectiva sistema estrutural. Fonte: Modelo da autora. 86
Figura 47 - Detalhe esquemático da estrutura. Fonte: Modelo da autora. 86
Figura 48 - Sistema estrutural. Fonte: Modelo da autora. 87
Figura 49 - Sistema hidráulico. Fonte: Modelo da autora. 88
Figura 50 - Evolutionary Computation, Jens Mehlan, Christoph Opperer, Jorg
Hugo, 2006. Fonte: Architectural Design, 2009, p. 73. 90
Figura 51 - CODE [9], Patrik Schumacher Studio, 2014. 91
Figura 52 - Metropol Parasol, Jürgen Mayer H. Architects (2004-2011). 94
Figura 53 - Metropol Parasol, Jürgen Mayer H. Architects (2004-2011). 94
Figura 54 - Programação visual através de nós no software Dynamo. 98
Figura 55 - Face interativa do software Dynamo com o Revit. 98
Figura 56 - Exemplo de nós, fios e portos no software Dynamo. Fonte:
Dynamo: Visual Programming for Design, p. 12. 100
Figura 57 - Exemplo de uma treliça adaptativa no software Dynamo. Fonte:
Dynamo: Visual Programming for Design, p. 25. 100
Figura 58 - Exemplo de análise solar no software Dynamo. Fonte: Dynamo:
Visual Programming for Design, p. 39. 101
Figura 59 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. Fonte:
Esquema da autora. 102 9
Figura 60 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa
conceito). Fonte: Esquema da autora. 103
Figura 61 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa
análises). Fonte: Esquema da autora. 104
Figura 62 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa
análises). Fonte: Esquema da autora. 105
Figura 63 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa
estrutura). Fonte: Esquema da autora. 105
Figura 64 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa pisos).
Fonte: Esquema da autora. 106
Figura 65 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa
painéis). Fonte: Esquema da autora. 106
Figura 66 - Etapa de conceituação do estudo de caso. Fonte: Modelo da
autora. 107
Figura 67 - Etapa de análises de condicionantes do estudo de caso. Modelo
da autora. 107
Figura 68 - Etapa da elaboração da estrutura do estudo de caso. Fonte:
Modelo da autora. 108
Figura 69 - Etapa da elaboração dos pisos do estudo de caso. Fonte:
Modelo da autora. 109
Figura 70 - Etapa da elaboração dos painéis do estudo de caso. Fonte:
Modelo da autora. 109
Figura 71 - Finalização do estudo de caso. Fonte: Modelo da autora. 110
Figura 72 - Processos de concepção do modelo. Fonte: Esquema da autora.
112
Figura 73 - Diferentes tipos de representação do modelo. Fonte: Modelo da
autora. 113
Figura 74 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora. 114
Figura 75 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora. 115
Figura 76 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora. 115
Figura 77 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora. 116
Figura 78 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora. 116
Figura 79 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora. 118
Figura 80 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora. 118
Figura 81 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora. 118
Figura 82 - Maquete física do modelo. Fonte: Modelo da autora. 120
SUMÁRIO

RESUMO 5

ABSTRACT 6

LISTA DE FIGURAS 7

INTRODUÇÃO 13

10
CAPÍTULO 1. TECNOLOGIA BIM 27

1.1 Breve Histórico do Sistema BIM 28

1.2 O Ato de Projetar no Sistema BIM 35

1.3 Processo de Projeto Colaborativo e Integrado 40

1.4 Componentes Paramétricos 44

1.5 Processo de Compatibilização de Projetos 47

CAPÍTULO 2. O DESENHO DE ARQUITETURA NA ERA DIGITAL 53

2.1 Metodologias de Projeto Digital 53

2.2 As Necessidades e Desafios para Implantação do BIM em


Escritórios 56

2.3 Desafios Decorrentes da Formação Profissional e Mudanças de


Hábitos e Costumes 59

2.4 Sucesso Alcançado em Escritórios 62

2.5 Softwares que Suportam a Tecnologia BIM 69

2.6 Revit Architecture, um estudo de caso 72

CAPÍTULO 3. SIMULAÇÃO DE MODELOS DE EDIFÍCIOS 76

3.1 Técnicas de Representação Gráfica e Artística de Modelos de


Edifícios 76

3.2 Simulação do Modelo Arquitetônico 78

3.3 Simulação do Modelo Estrutural 85

3.4 Simulação do Modelo Hidráulico 88


3.5 Dinâmica de Sistemas: do Estudo de Massas à Fabricação Digital
do Modelo no Software Dynamo 89

3.5.1 Dinâmica da Parametrização 90

3.5.2 Dinâmica da Fabricação Digital 92

3.5.3 Dinâmica de Sistemas 96

3.5.4 Interface Gráfica de Programação do Software Dynamo 97

3.5.5 Dinâmica da Simulação do Modelo 101 11


3.6 Percepção do Espaço Virtual 111

CONCLUSÃO 121

REFERÊNCIAS 124

APÊNDICES:

A1. IMPLANTAÇÃO DA PLATAFORMA BIM ANALISADA EM QUATRO ESCRITÓRIOS


DE ARQUITETURA 132

A1.1 Objetivo do Estudo 132

A1.2 Questões para Orientação das Entrevistas 134

A1.3 Resultados e Análise 141

A1.4 Considerações Finais 146

A2. ARQUITETURA BIODIGITAL: INFORMAÇÃO DA VIDA EM ARQUITETURA 149

A2.1 Tecnotopismo e o Grupo Metabolista 149

A2.2 Arquitetura Topológica e Processos Morfogenéticos 153

A2.3 Arquitetura Genética 156

A2.4 Arquitetura Evolutiva 159

A2.5 Bioarquitetura e Sustentabilidade 162

A2.6 Considerações Finais 165

A2.7 Referências 165


A3. CIDADES DIGITAIS PARAMÉTRICAS: O DESENHO URBANO EM AMBIENTE
VIRTUAL 169

A3.1 Urbanismo Morfológico 169

A3.2 Urbanismo Paramétrico 170

A3.3 Urbanismo Paramétrico: outros estudos de caso 177

A3.4 Urbanismo Generativo 181

A3.5 Urbanismo Paramétrico visando Políticas Públicas, em questão:


12
Conjuntos de Habitação de Interesse Social 185

A3.6 Considerações Finais 192

A3.7 Referências 193


INTRODUÇÃO

O Mundo Analógico:

Os meios tradicionais de representação em arquitetura,


fundamentalmente ancorados em representações gráficas que combinaram
por séculos os resultados do sistema diédrico (plantas, elevações e cortes)
com imagens perspectivadas de todo tipo (do escorço à axonometria) 13
resultam da existência inata de uma relação imanente entre o pensamento
e a ação da mão que desenha.
Trata-se de um pensamento imagético que exige como forma de
fixação de seus conteúdos sua transformação imediata em marca gráfica
carregada de significação. Significados que inicialmente se apresentam de
forma aberta e polissêmica, mas que no decorrer do processo vão sendo
afirmados como únicos e verdadeiros para que finalmente se consolidem
como ''um traçado exato e uniforme, mentalmente concebido, constituído
por linhas e ângulos, levado a cabo por uma imaginação e intelecto cultos'',
como afirmou Alberti (2011, p. 146) no século XV.
Essa relação, que une intelecto, imaginação e representação é filha
de um pensamento abstrato capaz de interpretar nos desenhos que executa
(acúmulo de linhas e manchas que ''não dependem da matéria'') (ALBERTI,
2011, p. 146) signos que representam uma realidade outra, a do edifício
desejado.

As palavras e os croquis, o lápis e o papel são os fragmentos iniciais do


projeto arquitetônico, discursos e ferramentas em concretude virtual. A
experiência de valor, convencionalmente denominada 'estética', evidencia-
se nas representações gráficas do espaço. Idealmente deveriam ser belas e
funcionais. Imaginemos que o sejam. Então textos e desenhos de arquitetura
são também algumas das mais fugazes tentativas para o aprisionamento e
enquadramento dos sonhos (GUIMARAENS, 1994, p. 84).

Ainda que não só de representações gráficas vive a arquitetura. Na


história, e aqui nos referimos a história das construções que nos levam a
tempos bem antigos como os egípcios e mesopotâmicos, tem se
aproveitado de outras formas representacionais menos abstratas que o
desenho, como os modelos escalados (maquetes) portadoras de diferentes
materialidades. Maquetes são analogias mais diretas e óbvias que os
desenhos, pois sua tridimensionalidade, ainda que escalada, as assemelha
com as construções imaginadas que representam. Menos abstratas e
portadoras de uma materialidade corpórea (uma forma física tridimensional),
elas permitem visualizações e aproximações ao objeto desejado difíceis de
alcançar pelos desenhos, o que as transforma em companheiras assíduas
desses no processo de projeto.
Juntam-se também outras técnicas de montagem, como a da
fotografia que permitiu a colagem como forma de inserção dos objetos em
situações próprias do mundo real. Ou ainda, do mundo fantasioso das 14
possibilidades de construir novas realidades que nas imagens conseguidas
pela colagem se apresentam para garantir sua execução.
O desenho, e essas outras formas da representação em arquitetura,
tanto produz conhecimento como é a produção do próprio conhecimento.
Serve, ainda, como meio de diálogo codificado, um tipo de linguagem entre
diferentes arquitetos e diferentes profissionais que tomam parte da
construção arquitetônica no sentido mais amplo, entendido pelo esforço de
esclarecimento de autores como Evans (1995), Corona Martínez (1998),
Rodrigues (2000), Veseley (2004), Sainz (2005), Vázquez Ramos (2009), entre
outros.
Começamos por verificar a relação lógica do desenho com a
linguagem e os processos mentais e percebermos que o desenho tem
valores e pode comunicar coisas diferentes. Podemos por isso verificar que o
desenho é em si uma forma de expressão do indivíduo, como afirma Silvia
Simões (2002, p. 2):

No termo desenho o ato de projetar e o seu resultado gráfico, (o desenho


propriamente dito), como uma estrutura conceitual, como um meio, e ao
mesmo tempo um fim, constatamos que, é a ação de estabelecer
conhecimento, que tem como obrigação dar corpo, dar forma, de mostrar
e fazer pública uma imagem.

Vários tipos de desenho permitem expressar a mesma ideia de formas


diferentes, tornar visível de forma permanente, o que permite ampliar o
entendimento e a compreensão da mesma (ideia). Da mesma forma, as
ideias se estabelecem e recriam apoiadas nos desenhos ou nas
representações em geral. Não é um processo diacrônico (temporal, como
sucessão de eventos interligados) que leva da ideia à imagem materializada
no desenho (ou da forma materializada na maquete), mas um processo
sincrônico e dialético que se alimenta reciprocamente.
Tendemos a imaginar que o processo se realiza por etapas
subsequentes, pois a linguagem trabalha dessa forma, numa sucessão
cronológica de eventos, mas os processos de projeto não são assim. As
representações gráficas (e ainda a dos modelos) se apresentam de forma
polissêmica, mostram tudo de uma vez, não podem ser definidas pela
argumentação verbal, pois são parte de uma realidade visual não linguística,
mas plástica.
Os atos de projetar e representar (que não podem ser separados) 15
podem ser entendidos como um tipo de ação meditativa (que requer tempo
de maturação), um equilíbrio entre o construir (não necessariamente o
objeto, mas sua representação) e o pensar. Mas não qualquer ''pensar'', é um
ato de pensar a forma física de modo a transformar nada em algo (em nosso
caso, em algo arquitetônico), que se realiza a partir da maneira na qual o
arquiteto consolida uma posição específica das possíveis articulações físicas
da forma que diretamente afetam a percepção espacial e a construção
final do objeto. Como afirma Elvan Silva (1998, p. 114):

Para o uso corrente basta entender que a percepção espacial é,


fundamentalmente, um ato sensorial, decorrente da resposta provocada
por estímulos visuais, auditivos, táteis e sinestésicos presentes nos elementos
da expressão arquitetônica. Em tais condições, conclui-se que ao arquiteto
compete, na realidade, descrever com precisão a forma a ser construída,
sua particular ''concepção do espaço'' se materializará no efeito produzido
pela forma arquitetônica [...].

Neste ponto é importante assinalar que a necessidade de um olhar


mais atento aos impactos sobre os processos cognitivos, próprios ao ato
perceptivo e ao ato de projetar, decorre hoje da consolidação do avanço
da tecnologia, bem como dos softwares de modelagem da construção,
pois, tais tecnologias estão mudando a maneira de projetar e apresentar os
desenhos arquitetônicos que até aqui estamos discutindo.
Nas últimas décadas do século passado, a incorporação dos
computadores ampliou as possibilidades de ''representação'', se ainda
conseguíssemos usar esta terminologia. As aproximações entre o ato de
representação, o entendimento do objeto e o olhar perceptivo das formas (e
do espaço que a elas está associado), passam a ser construídos de uma
forma nunca antes abordada, pois a modelagem digital incorpora as
vantagens não abstratas da maquete sem excluir as configurações abstratas
que o desenho introduzia no processo de projeto.
Não é só que, como afirmou Dennis Dollens (2002, p. 29, tradução
nossa), a arquitetura tenha sido ''tocada (corrompida no sentido
heideggeriano do termo) pela tecnologia'', mas também que a humanidade
tem sucumbido a ela. Esta situação não é ruim, nem para a arquitetura nem
para a humanidade, se pensarmos que, o que a tecnologia nos oferece é a
possibilidade de desenvolver, e, sobretudo controlar melhor nossos sonhos.
Como também afirma Dollens (2002), a possibilidade de realização desses
sonhos não está apenas na capacidade imaginativa que os arquitetos 16
possuem para compor formas (arquitetônicas), mas na possibilidade de
realizar ''desenhos'' (produzir scripts) cuja precisão permita a construção das
formas desejadas.
As linhas, como afirma Alberti (2011), devem explicitar com clareza os
procedimentos para a construção de elementos arquitetônicos. De acordo
com Carlos Maciel (2003), o desenho:

Se tratado de modo abstrato e desvinculado da lógica e das implicações


da construção, perde sua relação direta com o elemento arquitetônico e
deixa de ser o meio para sua realização.

Hélio Piñón (2006, p. 130) definia esta caraterística como a tectônica


da arquitetura que impacta a representação, para opor a possibilidade de
um desenho de utopias arquitetônicas a um desenho de arquiteturas, uma
vez que se entende que não há forma sem matéria. Pensando assim, e tendo
como premissa que a finalidade do projeto é a construção de um objeto
arquitetônico, como um ''empenho em conceber artefatos materiais''
(PIÑÓN, 2006, p. 122), arrisca-se a não realização do edifício como previsto,
se vir a existir, por mera impossibilidade ou divergência técnica,
discrepâncias entre o desenho (a representação do objeto desejado), o
espaço e volume imaginados.

A deficiência da representação decorre do desconhecimento da


construção, por vezes do próprio desconhecimento das normas do desenho
técnico ou ainda das convenções do desenho arquitetônico. Portanto, a
representação, para ser suficiente e para viabilizar a construção de um
edifício qualquer, deve se fundamentar no conhecimento de todas as
premissas que possibilitam a realização do objeto (MACIEL, 2003).

Cunha (2004, p. 23 e 24), no seu livro 'Desenho Técnico', seguindo de


forma inconsciente os preceitos de Alberti, refere dois grandes grupos de
desenhos: o desenho artístico (expressivo) e o desenho técnico. Ambos
entendidos como linguagem de representação mental (pensamento visual)
de quem desenha, mas com características totalmente opostas.

O desenho artístico possibilita ampla liberdade de figuração e apreciável


subjetividade na representação e no desenho técnico esta diversidade na
representação e na interpretação não é admissível, devendo o mesmo
objeto, num determinado tipo de figuração, ser representado sempre da
mesma maneira, de forma completa e rigorosa, sem qualquer ambiguidade.

17
Num sentido figurado e acompanhando as argumentações de Jorge
Sainz (2005, p. 25), o desenho é ''o meio de comunicação'' do próprio do
arquiteto. É através do desenho que o arquiteto expressa sua intenção e seus
desejos. É através do desenho que se procura a escala, a forma, os espaços
cheios e vazios, a proporção e os ambientes, as cores, as texturas, etc. Assim,
toda a expressão da ideia pensada pelo arquiteto passa pelo desenho, seja
ele de caráter expressivo ou técnico.
De acordo com Carlos Maciel (2003), quando o arquiteto idealiza um
projeto, ''constitui um exercício mental, onde este processo segue ideias,
conceitos, pontos de referência e cria ou modela mentalmente o seu
projeto''. O processo é apenas uma sequência (organizada ou não), de
ideias, que, ''transmitidas'' no papel, geram mais ideias. Essa transmissão,
contudo, precisa de um esclarecimento, pois não se trata de um ''fazer
chegar de um lugar ao outro'', como definição de dicionário, que indicaria
que alguma coisa foi produzida no cérebro e daí diretamente colocada no
papel.
Não se pode afirmar que no caso do desenho arquitetônico, que é
processo de projeto, esse processo seja ''direto''. A ação do desenhar, que se
faz diacronicamente, mas é sincrônica como o pensar, não sucede à ideia.
O projetista produz um processo de complementariedade imagética entre
imagem mental e imagem gráfica.

No espaço de um século se passou a entender o desenho como se fosse


uma linguagem, o desenho entendido como pensamento; da
representação e da expressão, à imagem presente da futura realidade. O
desenho de arquitetura não é simples instrumento ou só uma forma de
expressão; é o princípio gerador, o motor da arquitetura; e forma parte de
seu próprio ser (SAINZ, 2005, p. 58, tradução nossa).

Ainda de acordo com Maciel (2003), ''o desenho técnico possui


traços rigorosos, tende a obedecer a uma linguagem fechada e definida e a
normas previamente convencionadas''. No desenho expressivo, a
representação pode ser um simples croqui, esboço abstrato ou uma
reprodução fiel de algo concreto, podendo expressar uma ideia, um
sentimento ou o que se vê desde o ponto de vista de quem desenha.
Apesar desta clara distinção entre estes dois diferentes tipos de
desenho, podem existir relações diretas entre um e o outro. Assim, ainda que
um tipo de desenho corresponda a uma categoria determinada, técnica ou
expressiva, podem ser complementares, ou se complementar. 18

Um desenho técnico pode ser a interpretação técnica de um esboço. Mas


também podemos ter um esboço onde, o arquiteto tenta explicar por um
desenho simplificado, por exemplo, uma perspectiva, a intenção do
desenho técnico já realizado (MACIEL, 2003).

O Mundo Digital:

O chamado ''desenho digital'' ainda que não seja propriamente uma


representação gráfica, mas um sistema computacional de organização de
dados (imputs e outputs) adota formas visíveis similares às das representações
gráficas através da interface de um monitor, enquanto prática do processo
de projeto.
Desde o ponto de vista das relações que interligam as ações de
pensar, observar e analisar, com a finalidade de produzir um objeto
arquitetônico, possibilita estudar essas representações dinâmicas do
''desenho digital'' em diferentes tipos de ''representações'', ou formas digitais
de processamento de dados. Pois, em definitiva, o ''desenho é a
representação gráfica de uma ideia, o ato de se tornar visível um
pensamento, independentemente dos meios utilizados'' (SIMÕES, 2002, p. 2).
O Professor Yu-Tung Liu (2003, p. 7, tradução nossa) da Universidade
Nacional Chiao Tung, que é um pesquisador do mundo digital, afirma que:

Este novo tipo de arquitetura produzida pela combinação de novos esforços


entre a arquitetura e tecnologia digital é geralmente chamada de
arquitetura digital; [...] pode ser definida como instrumento [...] uma nova
teoria [...] como uma revolução.

A definição de Liu aponta alguns aspectos importantes para entender


o que pode ser gerado (como arquitetura) por meio dos computadores. O
primeiro ponto é notar que se fala de um ''novo tipo de arquitetura''. Por que
uma nova tecnologia de projetar produziria novas formas arquitetônicas?
Tradicionalmente aceitamos que novos materiais são capazes de produzir
novos tipos de arquitetura (as arquiteturas da pedra, do tijolo, do ferro, do
concreto), mas nunca foi registrado que mudanças na forma de projetar, ou
de representar, poderiam produzir novos tipos de arquitetura.
Quando Alberti (2011) define as qualidades e capacidades do
recém-chegado ''arquiteto'', associando-o inexoravelmente ao processo do
projeto as mudanças que se deram na arquitetura não tinham a ver com a 19
prática do desenho e do projeto, pois poderiam ser projetadas com os
mesmos ''instrumentos'' catedrais góticas ou clássicas. A opção pelas
clássicas foi ideológica e conceitual, não instrumental. Mas, agora, se afirma
que um novo tipo de arquitetura nasce da prática do projeto digital. Por
quê?
Esta definição sobre o que é a arquitetura digital pode ser assimilada
por aquilo que for capaz de influenciar e compreender o desenho virtual.
Segundo o Prof. Liu (2003, p. 7), existem duas premissas que poderão ajudar a
distinguir o que é arquitetura digital. A primeira premissa define:

Se a arquitetura digital não influencia o desenho como método, então pode


ser tratada meramente como uma nova ferramenta. Se a arquitetura digital
for uma teoria usada para auxiliar no processo de projeto a nível mental [...]
e o ciberespaço e a experiência em trabalhar em rede puderem influenciar
o nosso conceito sobre espaço no mundo real [...] como a geometria
espacial Grega, o místico espaço Gótico, o dinamismo do espaço Barroco e
o modernismo espacial, estamos então perante uma nova teoria espacial,
chamada digitalismo. Então, a arquitetura digital pode ser definida como
uma revolução. Todas as revoluções mudam a história humana e estilos de
vida.

A segunda premissa está relacionada com o tempo de duração:

[...] podemos ainda definir a arquitetura digital pela sua duração. Portanto,
se a arquitetura digital durar uns poucos anos, pode ser considerada como
uma ferramenta; se durar mais do que 10 anos, pode ser considerada como
uma nova teoria; se durar mais do que 30 anos, pode ser vista como uma
era; se ainda mais do que cem anos, pode ser definida com uma revolução.

O embasamento subjacente no paradigma digital encontra-se na


relação que se estabelece entre geometria e forma. As possibilidades que o
processamento digital de dados e a capacidade das máquinas em
gerenciar formas complexas, são de fato uma ruptura da maneira com a
qual arquitetos vêm produzindo formas. Uma vez que não podemos construir
formas que não são capazes de pensar e, sobretudo, de representar. A
possibilidade que as máquinas nos oferecem para garantir que novas formas
são pensáveis e desenháveis, isto é, que são graficamente (ou digitalmente)
possíveis de serem definidas com precisão para que sejam construídas,
garantem a possibilidade de existência de novas formas, isto é, nova
arquitetura.
Segundo estas definições, podemos considerar que a arquitetura 20
digital pode ser mais do que um instrumento, pode ser uma nova teoria, um
novo paradigma, uma revalorização do pensar espacial no qual as
possibilidades para a utilização de novas ferramentas destinadas a pensar e
a criar espaços podem ser utilizadas para a criação de novos conceitos de
espaço (EICHEMBERG, 2003).
Mas não é só um problema de formas e sua possibilidade de
construção. O mundo digital abre uma perspectiva de relacionamento com
as representações que não era possível no sistema analógico. No processo
digital, quando tratamos de modelagem, temos uma percepção imediata
da forma, uma vez que o modelo é uma simulação completa desta, ao
contrário do processo analógico, onde temos diversas representações que
imaginamos mentalmente através de uma sequência abstrata de relações
que nosso cérebro precisa reconstruir a cada passo.
O modelo digital incorpora de forma direta todas as caraterísticas do
objeto que representa, ele não é uma representação, mas uma simulação
eletrônica de um objeto físico do mundo real (desejado ou construído). Trata-
se de uma simulação que totaliza (isto é, assume) o objeto com todos seus
elementos e que, assim, pode ser tratado como um todo, não como uma
somatória de partes abstratas (os desenhos do mundo analógico) que
indicavam de forma indireta (e abstrata) o objeto desejado. Assim, alterar
um modelo digital produz um efeito imediato (direto) sobre o objeto. Para
realizar a mesma alteração dentro de um sistema analógico deveremos
proceder com uma sequência de alterações que afetam um número
expressivo de peças gráficas, que são o suporte expandido da
representação arquitetônica tradicional.
Com o desenho digital tem-se a possibilidade de visualizar
continuamente o que produzimos, através de imediatas imagens
tridimensionais que simulam os diferentes tipos de percepção ótica,
especialmente a da perspectiva cônica, a relação entre ação e objeto é
praticamente direta e os resultados visuais são imediatos.
A manipulação direta do modelo no computador veio permitir que o
projetista pudesse assistir ao objeto que projeta em diferentes tipos de vistas
simultaneamente, e ainda mais importante, permite que o projetista capte
de forma imediata, sem mediações abstratas no seu cérebro, o objeto
desejado.

Operando no Mundo Digital: 21

O processo digital, por não ser um processo manual, mas eletrônico,


incorporou uma série de restrições ao acúmulo de informação, uma vez que
no suporte digital tudo aquilo que produzimos poderá ser apagado sem
nunca deixar vestígio da sua existência, salvo quando arquivamos as revisões
durante o projeto. Mas, não é só isso. Encontramo-nos num momento de
transição entre um mundo totalmente digital e informatizado e um mundo de
origem analógico do qual herdamos práticas ancestrais que ligam desenhos
a ideias e se constroem como a fonte de informação mais precisa para a
prática da arquitetura (não só a construtiva propriamente dita, mas a do
processo de projeto como já afirmamos aqui).
Quando estamos a ''desenhar'' em um computador, existe uma
codificação da ação em registo gráfico, como afirma Silvia Simões (2002, p.
14): ''existe um software que 'traduz' o nosso movimento num elemento
gráfico''. Percebemos que se trata de um procedimento híbrido. Um
procedimento que inclui as formas do desenhar gráfico (analógico do papel
e o lápis) dentro de um ambiente (o digital) que, a rigor, não precisa disso,
pois pode ser instrumentalizado de outras formas. Inicialmente na simulação
da tridimensionalidade que o modelo digital permite e logo mais na
possibilidade que o mundo holográfico e virtual poderá nos oferecer.
Mas, é importante lembrar que softwares e hardwares impõem
também formas de entendimento, e de projeto, aos projetistas (arquitetos,
engenheiros, designers). O meio é a mensagem na famosa máxima de
Marshall McLuhan. Ao mesmo tempo em que se abrem enormes
possibilidades de trabalho com os computadores, os softwares que rodam
neles nos limitam às caraterísticas de seus scripts. Impõem muitas vezes
soluções não necessariamente desejadas, mas possíveis ou aceitáveis para
problemas que poderiam ser resolvidos de muitas formas diferentes se
abordados de formas analógicas ou por outros softwares que privilegiam
outras entradas ou parâmetros.
Como afirma Simões (2002, p. 14), as relações que se estabelecem no
processo do desenho digital são dependentes não só da capacidade
criativa, conceptual de quem desenha, mas também das características do
software e do hardware que utilizam.
Com o desenvolvimento de softwares específicos do campo da
arquitetura, com o avanço da tecnologia digital e a consolidação da rede
mundial de computadores, houve uma profunda mudança nas formas de se
projetar. 22

Mesmo se pensarmos no computador como uma ferramenta, integrada nos


procedimentos complexos de design, ele é essencialmente ainda capaz de
desmantelar nossas modalidades convencionais de fazer, ler, escrever,
comunicar e, inevitavelmente, compreender. A tecnologia digital já não é
uma ferramenta de expressão, e pode ser visto como um meio de
comunicação para interagir, fazer conexões, para permitir que o fluxo de
informações em uma forma complexa (ALMEIDA, PRATSCHKE, e LA ROCCA,
2005, p. 343, tradução nossa).

O computador possibilita um suporte virtual para a realização de todo


o processo do projeto. É através dele que vemos a interface do software no
qual se encontram tanto as suas ferramentas como os suportes de ''desenho''
(nos softwares tipo CAD) ou de construção de elementos (nos softwares
paramétricos). Os meios tecnológicos relacionados com os chamados
softwares de design, isto é, de projeto, permitem hoje em dia uma variedade
enorme de simulações espaciais.
Parece preciso entender que será necessário aplicar novos conceitos
para interagir com os novos meios, como por exemplo: operação e interface
digital. A ideia de operação está intimamente ligada à automatização, num
sentido que não pode ser aplicado às ferramentas tradicionais (analógicas),
já que a ideia de automatização de componentes, de documentação,
detecção de interferências, de atividades do processo construtivo, está
associada à necessidade de comportamentos preconcebidos, que podem
ser infinitamente repetidos de forma a tornar as operações mais rápidas.
Como muitos autores têm falado desde os anos 90 do século passado
(de William J. Mitchell a Dennis Dollens, de Stephen Parrella a Peter Zellner ou
Neri Oxman) o computador é acima de tudo um novo espaço de trabalho,
com os seus processos, ferramentas, suportes, espaços, memórias e
resultados, representando também um novo desafio conceitual e cultural.
A tecnologia digital se apropriou de muitos dos elementos que
figuram na prática do desenho para a concepção das representações,
produzindo ''um novo desenho mental, um novo espaço de trabalho com
uma ordem e como uma nova estrutura narrativa de que é exemplo o
desenho, a representação dinâmica digital'' (SIMÕES, 2002, p. 21 e 22).
Definições como a de Simões trazem consigo o problema dos termos
em português, pois é evidente que o problema não se encontra no
''desenho'', que é uma palavra que não se aplica ao mundo digital, apesar 23
de que nele possamos simular uma ação que se assimila ao desenho (ainda
que seja com um mouse). Mas a afirmação introduz um aspecto que nos
parece interessante, o do ''desenho mental''. É evidente que o mundo digital
produz imagens simuladas muito próximas da realidade. Provavelmente
produzirá no futuro próximo quase realidades apoiando-se na holografia e na
realidade virtual que impactará a experiência humana não só de forma
sensorial, mas cognitiva.
Curiosamente alguns autores (Derrick de Kerckhove, 2001, por
exemplo) já têm percebido que o mundo digital, especialmente o que
chamamos de ciberespaço, é muito similar ao espaço mental. Talvez esta
similitude entre o mental e o digital seja a chave para entendermos porque o
mundo digital avança de forma tão acelerada, ocupando espaços cada
vez mais vastos da produção humana.
Mas, enquanto aguardamos que esse mundo virtual nos alcance,
enfrentamos hoje à complexidade crescente que os projetos já têm trazido
para a indústria da construção. Essa situação já aponta uma necessidade
imediata de acesso a novas tecnologias, pois o mundo contemporâneo
requer de novas técnicas que sejam capazes de gerir enorme quantidade
de dados, algo que o mundo tradicional do desenho não consegue
acompanhar.
Os softwares de modelagem paramétrica, por exemplo, que
trabalham com elementos arquitetônicos portadores de dados variados
sobre o objeto que simulam, permitem também que os projetos de edifícios
possam ser ''apresentados'', isto é, visualizados, mas também representados
no sentido tradicional da forma gráfica, de variadas maneiras: imagens foto-
realísticas, animações tridimensionais, multimídia interativa, realidade virtual,
representando uma nova atitude sobre pensar o espaço físico na
concepção e representação do processo do projeto. Apesar dos avanços
que tudo isso traz, a representação 3D por muito tempo não teve recursos
necessários para sua elaboração, mas hoje conta-se com diversas
ferramentas que tornaram isso possível (CRESPO E RUSCHEL, 2007, p. 3).
O aperfeiçoamento do computador e das ferramentas de design
digital permitiu que os arquitetos materializassem novas concepções de
projetos, esse novo paradigma tem gerado diversos questionamentos entre
profissionais e pesquisadores da área em relação às modificações produzidas
pelo uso desta nova tecnologia na representação gráfica (STUMPP et al.,
2015, p. 502). 24
Neste sentido, Gilfranco Alves e Juliana Trujillo (2015, p. 488), em sua
proposta metodológica para o ensino de processos digitais de projeto,
manifestaram que:

A evolução dos meios digitais tem proporcionado significativas mudanças


socioculturais, em função das modificações que ocorrem nos modos de vida
contemporâneos. A velocidade e a dinâmica de disponibilização do
conhecimento, as bases tecnológicas que se diversificam e se especializam
cada vez mais, assim como as relações interdisciplinares e as trocas possíveis
de serem feitas em níveis cada vez mais ampliados, vêm alterando o modo
de se pensar, de se projetar e de se produzir em arquitetura e urbanismo.
Concomitantemente a esta gama de atualizações e desenvolvimentos, os
processos digitais de projeto apresentam uma série de caminhos que se
abrem, tanto de um ponto de vista teórico, discutindo e propondo
abordagens que apontem outras possibilidades para problemas
arquitetônicos contemporâneos, como de um ponto de vista prático,
utilizando software, máquinas e equipamentos para otimizar a capacidade
de produção e potencializar a performance da arquitetura que se pode
produzir atualmente.

Balizada por estes princípios, a presente dissertação foi estruturada da


seguinte maneira:

O Capítulo 1 (Tecnologia BIM), tem como objetivo compreender os


conceitos do uso da tecnologia BIM, realizar uma abordagem geral sobre o
ato de projetar na plataforma BIM, analisar o impacto do BIM no processo de
projeto, apontar metodologias de projeto digital, bem como potenciais e
possibilidades no uso da tecnologia como item fundamental para projetos
integrados de forma colaborativa.
Na continuação dessa trajetória, O Capítulo 2 (O Desenho de
Arquitetura na Era Digital), aborda as necessidades da implementação do
BIM em escritórios e universidades, tendo como pontos de análise as
instituições acadêmicas, os escritórios de arquitetura e o exercício da prática
profissional. São identificadas as principais vantagens e dificuldades da sua
utilização e implementação, tendo como finalidade às mudanças
metodológicas, curriculares e as consequentes implicações no mundo do
trabalho para os novos profissionais. Demonstra em casos práticos como
funciona a implementação do método para um escritório e apresenta os
softwares BIM.
Com ênfase no software Revit Architecture, um estudo de caso, o
Capítulo 3 (Simulação de Modelos de Edifícios), pontua a visão e 25
experiências reais da autora em meio a técnicas de simulação de modelos
de edifícios e as possibilidades de suas representações e percepções do
espaço virtual, chegando a dinâmica de sistemas, o qual a aplicação do
modelo resultou do estudo de massas à fabricação digital.
O Apêndice 1 (Implantação da Plataforma BIM analisada em Quatro
Escritórios de Arquitetura) tem como objetivo analisar escritórios que já
utilizam essa tecnologia, obter dados de cada empresa, suas atividades,
planejamentos e suas maiores dificuldades, assim sendo, formulamos 10
questões como protocolo de entrevista.
Elaboramos tanto o Apêndice 2 (Arquitetura Biodigital: Informação da
Vida em Arquitetura), como o Apêndice 3 (Cidades Digitais Paramétricas: O
Desenho Urbano em Ambiente Virtual) com finalidade dar subsídio a
dinâmica de sistemas, apresentando novas simulações do espaço com o uso
ferramentas digitais que possibilitam a análise e manipulação de formas
complexas. Tais ferramentas, eficientes para desenvolver novas concepções
de projetos, bem como visualizá-las de novas maneiras em um sistema
adaptativo dinâmico, dada a sua capacidade de lidar com grandes
quantidades de cálculos, parâmetros, informações, interações e formas que
são demasiadamente complexas para serem operadas pela mente humana.
26

CAPÍTULO 1.

TECNOLOGIA BIM
CAPÍTULO 1. TECNOLOGIA BIM

Experimentamos o nosso ambiente continuamente, percebendo


suaves gradações de forma e cor. Experiência de espaço é um evento
multissensorial complexo: não só o visual, mas também os aspectos táteis e
auditivos desempenham um importante papel. Ao modelar a condição
espacial da arquitetura e do espaço urbano através de representações, a
27
complexidade de um ambiente não pode ser totalmente simulada por
polígonos desenhados. Há irregularidades, construção imperfeita, a marca
do humano, elementos que dão caráter local. Por outro lado, a partir de um
modelo virtual 3D podemos trabalhar em relação aos seus aspectos
tangíveis. Nós encaramos no mundo digital o que estamos a construir no
mundo físico.

O espaço virtual converte-se em um cenário para a especulação e reflexão,


para testar, deformar, envolver, dar forma e animar sequências espaciais,
pois, caso contrário, permaneceriam como imagens gráficas estáticas.
Através de sua natureza líquida, o espaço digital se converte em um
colaborador no desenvolvimento das ideias e das formas não só como um
hospedeiro passivo de formas preconcebidas ou formatos do software
recomendado. O espaço digital se converte em correspondente e professor
(DOLLENS, 2002, p. 17).

O desenho digital se apresenta em constante evolução em relação


aos processos de desenho paramétrico e representação gráfica digital,
impulsionado pela necessidade da busca pela fidelidade visual, o impacto
do observador e facilitar a ligação entre projetistas e o mundo da indústria
da construção.
Com a adoção do desenho em escala como nova forma de
comunicação, que possibilitou o surgimento da profissão, a introdução e
utilização dos computadores no campo profissional, a despeito das
incipientes tentativas de automatizar o processo de projeto, se caracteriza
pelo forte incremento da comunicação, tanto pela facilidade de troca de
dados, quanto pela agilidade proporcionada nos processos de desenho e
suas representações.
1.1 Breve Histórico do Sistema BIM

O cenário especulativo do final dos anos de 1960 nas cidades de


Londres, Toronto, Nova York, Chicago, entre outas, estava por um vivo
debate entre a via tecnológica da arquitetura high-tech, o historicismo, e
outras correntes modernas. Com a predominância da forma, estrutura,
geometria interna do projeto sobre a sua funcionalidade ou comunicação
de significados de arquitetura, justificou a atenção dos processos 28
tecnológicos e resultou em uma série de experimentos no campo da
representação gráfica.
A tecnologia BIM (Building Information Modeling), apesar de já existir,
ainda que de forma rudimentar, há pouco mais de 30 anos 1 é pouco
explorada pelo mercado brasileiro. As bases conceituais do sistema BIM
surgem em 1962, quando o engenheiro eletrônico Douglas C. Englebart
sugeriu uma interface gráfica que podia interagir com um modelo de
construção. Com a evolução da representação computacional, começam
a surgir os programas de modelagem de geometrias construtivas sólidas.
Jerry Laiserin 2 aponta que o exemplo mais antigo que se tem
conhecimento hoje como sendo BIM, é o protótipo do ''Building Description
System'' publicado pelo americano Charles M. Eastman, no extinto AiA
Journal. Este trabalho mostrou noções de derivação de seções, planos,
isométricas e perspectivas com base em elementos modelados, e que
alterações afetavam automaticamente todos os desenhos correspondentes,
situação rotineira nos dias de hoje, mas revolucionária para a época.
Originado através de tais pesquisas desenvolvidas, o conceito de Building
Information Modeling (BIM) é definido por Eastman (2008, p.13) como uma
tecnologia de modelagem associada a um conjunto de processos para
produzir, comunicar e analisar modelos da construção.
A representação digital do processo de construção a fim de facilitar o
intercâmbio de informação em formato digital nasce na primeira aplicação
com o conceito de edifício virtual no ARCHICAD Graphisoft da Nemetschek,
na sua estreia em 1987. Contudo, em 1993 o software Building Design Advisor,
desenvolvido no Lawrence Berkeley National Lab, utiliza um modelo de

1 O surgimento da Tecnologia BIM, bem como artigos que remetem sua história podem ser
encontrados através do portal ARCHITECTURE RESEARCH LAB.
2 No ano de 2005, Laiserin e Charles M. Eastman organizaram a First Industry-Academic
Conference em BIM, conjuntamente a Paul Teichloz (Stanford CIFE). A partir daí, a plataforma
BIM começou a ser amplamente divulgada.
objeto de edifício para realizar simulações, fornecer informações do projeto,
critérios de otimização, parametrização, entre outros (EASTMAN et al., 2008).
Nos últimos 20 anos, com avanços na tecnologia de memória,
velocidade e processamento dos computadores, foi possível obter maior
eficiência na aplicação dos conceitos BIM, que envolvem gerenciamento e
planejamento, e não se restringem apenas à utilização de softwares
específicos no campo da arquitetura. A terminologia Building Information
Modeling, é utilizada há pelo menos 10 anos (MENEZES, 2011, p. 156), ainda 29
que este termo não fosse totalmente compreendido, foram realizados
estudos sobre o BIM3, com experimentações em softwares e entendimento
das possibilidades que a tecnologia poderia permitir.
Assim sendo, a arte gráfica abriu caminho a inovação da
representação gráfica arquitetônica, não limitada no desenho analógico. O
uso criativo na produção e apresentação de projetos arquitetônicos, a
constante incorporação de novas técnicas e um grande interesse em
associar os processos de representação a concepções artísticas e culturais,
formaram um estilo gráfico com propostas de representações futuristas.
Precursores da tecnologia da construção e do uso de geometrias
complexas para gerar formas arquitetônicas, destacam-se Frank Gehry, Peter
Eisenman, e Daniel Libeskind.
Projetos que podem ser considerados variantes de tecnologia, rumo
ao modelo de projeto executivo como projeto de fabricação, são os projetos
do arquiteto Frank Gehry, pioneiro com investimentos maciços em tecnologia
de ponta e nos estudos de formas complexas que necessitavam o auxílio de
programas de computadores sofisticados, trabalhando indistintamente com
maquetes físicas e maquetes 3D e nos últimos 20 anos passou a escanear
suas maquetes físicas a fim de retrabalhar no computador.
O projeto para o Museu Guggenheim (1991-1997), em Bilbao, assim
como outras de suas obras a partir dele, puderam ser executadas através

3 Segundo Jim Glymph arquiteto diretor do escritório de Gehry, o projeto Museu Guggenheim foi
desenvolvido em grande parte por métodos convencionais, posteriormente o modelo BIM foi a
referência básica para a construção do edifício. Desenhos tradicionais como plantas, cortes e
fachadas foram feitos para cumprir protocolos legais de documentação junto à Prefeitura de
Bilbao. Esses desenhos foram extraídos automaticamente do modelo digital. Ver (Lindsey, 2001,
p.44).
das possibilidades oferecidas pelo CATIA 4 (Computer Assisted Three-
dimensional Interactive Application), (Figura 1-3), software lançado em 1982
destinado a projetos e produção mecânica que possibilita a análise da
curvatura das superfícies, determina com precisão os pontos dessas
superfícies curvas, permitindo o dimensionamento de elementos estruturais
de fixação de placas, por exemplo.

30

Figura 1 - Mapeamento das curvaturas no software Catia. Museu


Guggenheim, Bilbao. Fonte: Dennis Shelden, 2002, p. 198.

Na arquitetura, o chamado efeito Bilbao na leitura simbólica do


edifício nas palavras de Branko Kolarevic (2003, p. 59), é provavelmente o
exemplo mais conhecido de edifício que capta a revolução da informação
digital. O impacto de sua construção mostrou ao mundo da arquitetura
como a combinação entre criatividade, tecnologia de ponta e poder
econômico são capazes de gerar.
Desta forma, podemos considerar que a modelagem com finalidades
construtivas do Museu Guggenheim foi uma das portas para o
desenvolvimento das arquiteturas digitais. No entanto, Bruce Lindsey (2001,
tradução nossa) observa algo que mudou no processo de projeto:

Apesar dos esforços contrários, a introdução de ferramentas digitais alterou


o processo de Gehry. Elas também mudaram a sua arquitetura. Gehry já
havia ganhado o Prêmio Pritzker em 1989, sem a ajuda de computadores
quando Jim Glymph e Rick Smith se juntaram ao escritório. Depois que se
juntaram a ele, [...] projetaram e construíram o Museu Guggenheim em
Bilbao, Espanha; [...]. Ele provavelmente teria sido uma construção diferente,
sem o uso de ferramentas digitais [...].

4 CATIA é o software desenvolvido pela empresa francesa Dessault Systems para a construção
dos caças Mirages da Força Aérea Francesa, que o escritório de Gehry adaptou para a
realização de projetos arquitetônicos.
Figura 2 - Modelo tridimensional do Museu Guggenheim, Bilbao. Disponível
31
em: <http://pt.wikiarquitectura.com/index.php/Guggenheim_Bilbao>.
Acesso em: 20 mar. 2015.

Figura 3 - Fachada do Museu Guggenheim, Bilbao. Disponível em:


<http://pt.wikiarquitectura.com/index.php/Guggenheim_Bilbao>. Acesso
em: 20 mar. 2015.

Projetos de inovação e conceituação encontramos também Zaha


Hadid (Figura 4). Seus experimentos formais embasados em múltiplas
combinações de técnicas, representações e as reflexões em torno da
geometria complementaram o sistema clássico de representação, planta,
corte e elevação.
Arquitetos em atividade como Eric Owen Moss e Peter Eisenman
preferiram o desenho manual e as maquetes tridimensionais físicas como
auxiliares na busca de soluções de projeto, reservando a produção digital
para etapas posteriores a concepção.
Os projetos de Gehry, Eisenman, Libeskind, Tschumi e Hadid
influenciaram o ambiente acadêmico e profissional, resultando uma
relevante renovação na linguagem de representação de projetos
arquitetônicos.
Ao trabalharem com tecnologia de ponta, incorporaram técnicas de
representação gráfica associadas ao sistema de apresentação de projetos
em geral. Contudo, não podemos considerar seus trabalhos como ruptura do
sistema clássico de representação gráfica arquitetônica, e sim como
iniciativas de novas representações.

32

Figura 4 - Zaha Hadid, Azabu-Jyuban Building, 1986. Competição em Tóquio,


Japão. Disponível em: <http://www.zaha-hadid.com/architecture/azabu-
jyuban-building/>. Acesso em: 17 mar. 2015.

As formas de representação dos processos de projeto desses


significativos arquitetos fundaram uma base conceitual para a seguinte
geração de arquitetos que começaram a adotar tais representações a partir
dos anos de 1990.
O que difere a situação atual com os períodos anteriores é que, pela
primeira vez na história da representação gráfica arquitetônica, o avanço da
tecnologia e a evolução dos sistemas de representação gráfica ocorrem em
tal velocidade que muitos arquitetos desconhecem novas formas de
apresentar e representar projetos.
A representação gráfica arquitetônica é mais bem observada como
uma continuidade da evolução da tecnologia juntamente com uma
sequência de iniciativas criativas individuais, que cabe ao perfil de cada
profissional sua forma de representar.
Mesmo com a evolução da tecnologia após os anos de 1990,
profissionais tardaram a migrar para áreas tecnológicas no campo da
arquitetura e da representação gráfica. Hoje, desenhistas e arquitetos,
diante da informática, a cibernética e a evolução da tecnologia, possuem 33
maior facilidade em adotar em seus escritórios os novos modos de
representação. Todavia, grandes empresas, instituições e escritórios tardaram
em aceitar a transição para essa nova tecnologia.
A transição para a produção digital se apresenta de forma desigual,
pois, desde os anos de 1990 a tecnologia se concentrou na produção e
documentação do projeto. Já o cenário atual da representação gráfica
arquitetônica apresenta um importante papel nos meios digitais em projetos
de arquitetura.
O desenho ganhou novas técnicas e a informatização chegou aos
meios de representação do projeto (Figura 5), redefinindo a prática
profissional contemporânea.
De certa forma, parece que para a maioria dos profissionais a
concepção de espaços arquitetônicos segue um processo mental seguido
por uma diversidade de recursos gráficos. Cada um elege o recurso com o
qual se depara mais a gosto, sem perder a qualidade dos objetos
arquitetônicos que concebe. Diante de toda evolução das técnicas
representativas digitais, o desenho manual mantém seu prestígio como
ferramenta de representação do pensamento arquitetônico e como
componente relevante do estilo gráfico de cada arquiteto.
34

Figura 5 - Representação do Projeto Catedral (Balsas, MA, 2012). Fonte:


Modelo da autora. Disponível em: <http://carolinaaraujo.arq.br>. Acesso
em: 12 mar. 2015.
1.2 O Ato de Projetar no Sistema BIM

O cenário atual é de crescimento para o BIM, mas nota-se que este


crescimento vem encontrando dificuldades com a falta de usuários
capacitados, mão de obra especializada, acesso a softwares 3D, tanto do
segmento de arquitetura, quanto de engenharia e demais projetos
complementares.
Para garantir modelos de planejamento de obra que prevejam toda 35
a organização dos espaços, evitando erros e retrabalhos, não são mais
desenvolvidos utilizando apenas desenhos 2D (Figura 6) e gráficos clássicos
de programação. Cada vez mais nota-se a necessidade de criar modelos
tridimensionais parametrizados de diferentes tipos de projetos utilizando a
tecnologia BIM.

Figura 6 - Desenho 2D de projeto desenvolvido no software AutoCad. Fonte:


Desenho da autora.

Desta forma, a simples representação do edifício através de linhas e a


simples modelagem sem características (maquete eletrônica), passaram a
ser vistas como retrabalhos, ou seja, refazer o desenho em todas as plantas,
cortes, elevações e perspectivas quando o projeto é alterado.
Ao trabalharmos maquete eletrônica na plataforma CAD (Computer-
Aided Design) convencional, os elementos são linhas, volumes e hachuras, os
desenhos técnicos possuem geometria 2D e não são parametrizados com
objetos do mundo real. Já na plataforma BIM, os elementos são paredes,
portas, janelas, componentes paramétricos 5 vinculados ao modelo
tridimensional da edificação, sendo que o arquivo pode ser configurado
para obter informações como cronogramas, análises, especificações dos
componentes, custos, entre outros, conforme definimos na figura 7. 36

Figura 7 - Comparações entre as plataformas CAD e BIM.


Fonte: Tabela da autora, adaptada de Hippert, 2009.

O BIM cria oportunidades de realizar análises precisas quantitativas de


acordo com a exigência de cada modelo, auxiliando todas as disciplinas de
projeto envolvidas nas decisões a serem tomadas.

5 Chamados de ''parâmetros'', que podem ser manipulados de diversas maneiras, através da


digitação de medidas, valores, quantidades, formatos, ou ainda alterando desenhos ou
informações.
O modelo paramétrico do projeto em 3D possibilita uma grande
capacidade de revisar e controlar o que se projeta. Erros e colisões que não
são percebidos no formato 2D podem ser facilmente detectados, corrigidos
e revisados na plataforma BIM, pois, é possível determinar regras e
parâmetros que detectem automaticamente falhas e tolerâncias
proporcionais que reduzem automaticamente o retrabalho e a quantidade
de revisões em um projeto.
BIM é um sistema que permite a modelagem virtual de um objeto 37
com as suas características (geométricas e não geométricas) que, ao serem
agrupadas, facilitam o projeto, construção, operação, manutenção desse
objeto por todos os agentes envolvidos no processo, gerencia a construção
da obra e ajuda na manutenção pós-obra.
Projetando um modelo paramétrico 3D pode-se inserir todo o tipo de
propriedade, ou seja, parâmetros, medidas, valores, pesos, coeficientes de
reflexão, técnicas construtivas, entre outros, em que o arquiteto e demais
profissionais desejam inserir, permitindo uma geração automática de
informações sobre custos, quantificação, análises de conforto térmico e
acústico, análise da posição solar, análise de sombreamento, planejamento
da obra e também o ciclo de vida do empreendimento, além da geração
automática de plantas, cortes, elevações, e diversas perspectivas de
apresentação.
Os softwares que utilizam o sistema BIM são considerados como
ferramentas que vem impulsionando o mercado internacional da AEC
(arquitetura, engenharia e construção), sua aplicação na construção de
conceitos em relação à modelagem espacial em 3D trabalha tanto com o
acompanhamento de dados em tempo real, como também no processo
integrado 6 , que amplia consideravelmente a compreensão do
empreendimento e viabiliza a visibilidade dos resultados.
As informações armazenadas no banco de dados do projeto em um
mesmo arquivo eletrônico (modelo virtual paramétrico) são acessíveis às
equipes envolvidas nas fases da cadeia produtiva da construção civil e
industrial (planejamento, projeto, orçamento, construção, suprimentos,
comissionamento, operação, manutenção, etc.), que possuem capacidade
financeira e visão tecnológica para se adaptar (Figura 8).

6 Processo integrado pode ser entendido como um sistema de informação que integra todos os
dados e processos, organizados em um único sistema.
38

Figura 8 - Ciclo de Vida de um edifício. Disponível em:


<http://buildipedia.com/aec-pros/design-news/the-daily-life-of-building-
information-modeling-bim>. Acesso em: 20 mar. 2015.

A utilização de softwares BIM pode trazer grandes vantagens como


reduzir o tempo para entendimento do que irá ocorrer em cada etapa da
obra, produzir um planejamento preciso, diminuir os custos com retrabalhos
resultantes de erros causados por mau entendimento ou erro de
planejamento.
Em alguns trabalhos, por exemplo, Addor (et al, 2010, p. 108), define o
BIM como uma simulação inteligente da obra, da forma de construir e deve
para tanto possuir seis características:
 Modelo da edificação: Possui desenhos técnicos vinculados
a maquete eletrônica, é paramétrico, tridimensional, sem
representações como hachuras e linhas;
 Tridimensional: Ter três ou mais dimensões para simular o
processo, permitindo entender os componentes e suas
características que fazem o modelo da edificação virar obra;
 Parametrizável: Ser quantificável, dimensionável.
 Abrangente: Conter o máximo de informações da
edificação, tais como comportamento dos sistemas, sequência
executiva no espaço e no tempo, custos do projeto.
 Integrado: A toda a cadeia produtiva, projetistas,
construtoras, usuários, facilities, proprietários. Ser interoperável
entre plataformas de softwares e hardwares.
 Durável: Que possa ser usada em todas as fases do
empreendimento, projeto e planejamento, fabricação e
construção, operação e manutenção.

O modelo gerado tem como pressuposto a representação da


edificação em 3 dimensões, largura, altura e profundidade, contudo, as
características fundamentais são as informações armazenadas no arquivo e
a parametrização. Para esses detalhes adicionais, foram criadas múltiplas 39
dimensões (Figura 9), que representam o nível de informação e a forma com
que lidamos com elas.

Figura 9 - Dimensões do BIM. Fonte: Tabela da autora.

Com essas características, o BIM pode representar um grande salto


qualitativo para diferentes tipos de projetos, desde que seja devidamente
adotado.
O principal benefício que o BIM apresenta é que a partir de um único
arquivo digital, há informações de todo o ciclo de vida do projeto.
Entretanto, apesar das inúmeras vantagens, os softwares BIM ocupam uma
pequena parcela no mercado de programas para projetos e uma das
principais desvantagens deste sistema é que o profissional fica isolado em
alguns ambientes de projeto se comparado aos demais profissionais que
utilizam softwares 2D.
Outras razões pelas quais os softwares BIM tem pouca atuação no
mercado são:
 Quando necessário existe maior volume de arquivos CAD
importados ou exportados no modelo integrado;
 Processo de renderização dificultoso uma vez que vários
passos são envolvidos e envolve muitos ajustes dos elementos;
 Maior tempo na produção do projeto quando se modela
todos os componentes; 40
 Realização de mudanças ou compatibilização é trabalhosa
no uso de softwares diferentes;
 Dificuldade de modificação dos componentes em 3D
quando modelados por terceiros;
 Poucos profissionais habilitados para atuar no
desenvolvimento de projetos no sistema BIM;
 Algumas limitações na modelagem de elementos;
 Falta de bibliotecas parametrizadas;
 Custo elevado dos softwares;
 Dificuldade na criação de padrões e regras para
coordenação de projetos, entre outros.

Contudo, as barreiras culturais são as que mais influenciam a baixa


adoção do BIM no mercado nacional, devido à ausência de procedimentos
para controle da qualidade e gerenciamento das interfaces entre os
agentes. Erroneamente muitos passaram a enxergar o BIM como
simplesmente softwares modeladores 3D sem ligação com a construção civil,
a obra.
Como são programas relativamente novos7, o custo dos softwares e o
treinamento, os poucos profissionais capacitados são também alguns dos
motivos para a lenta transição dos modos de projetar (CRESPO e RUSCHEL,
2007a, p. 3).

1.3 Processo de Projeto Colaborativo e Integrado

7O software BIM mais utilizado no mercado foi lançado em 2000 pela empresa Revit Technology
Corporation, posteriormente em 2002, a Autodesk comprou este software, alterando-o para Revit
Building, que é dividido em Revit Architecture, Revit Structure e Revit MEP.
O Prof. Wilson Florio (2007, p. 8) define o processo colaborativo
aplicado na metodologia de projeto, como produção e compartilhamento
do conhecimento, uso de computadores e comunicações eletrônicas,
rapidez de acesso e do fluxo de informações, proporcionando uma gestão
de projetos que distribua responsabilidades entre os participantes de modo
que todos coparticipem das decisões do projeto (Figura 10).

41

Figura 10 - Esquema de processo colaborativo.


Fonte: Autodesk Revit Architecture, 2010, p. 5.

O uso do BIM no projeto colaborativo pode contribuir tanto para o


processo de levantamento de custos de materiais e as quantificações dos
objetos, como para os prazos para a execução (FLORIO, 2007, p. 8).
Com a plataforma BIM, um projeto complexo que contenha
viabilidade, anteprojeto, projeto legal, projeto executivo, entre outros, que
demanda conhecimento de muitos profissionais e tecnologias, pode ser
gerenciado com maior facilidade, já que este facilita o processo
colaborativo sobre um modelo integrado (Figura 11).

42

Figura 11 - Esquema de modelo integrado.


Fonte: Esquema adaptado de Hippert, 2009, p. 3 e 4.

A integração entre os usuários e estas diferentes fases de projeto é


uma ótima oportunidade de negócios para os arquitetos, fornecedores da
construção, proprietário, e demais técnicos envolvidos.
Com embasamento nos pressupostos do Prof. Florio (2007, p. 5 e 6)
expomos algumas das características que são facilitadas pelo projeto
integrado que podem ser seguidas, ou ainda, que o projeto integrado
promove:
 Melhorar a visualização dos dados e informações sobre o
projeto, assim como tornar clara a exigência do cliente já nas
fases iniciais do projeto, permitindo compreender e participar
ativamente do processo de projeto;
 Contribuir para melhorar a eficiência e qualidade da
construção civil, com intenção reduzir custos e desperdícios de
materiais e melhorar o aproveitamento de mão de obra;
 Aprimorar a coordenação dos documentos compartilhados
da construção a fim de promover tanto a rápida troca de
informações, como aumentar a produtividade e melhorar os
prazos de entrega dos projetos destinados à execução da obra;
 Proporcionar uma gestão de projetos que incorpore e
compartilhe informações e distribua responsabilidades, riscos e
recompensas entre os participantes do projeto, ou seja, trocar o
projeto hierárquico por projeto colaborativo de modo que todos 43
coparticipem das decisões do projeto;
 Incorporar e disseminar informações oriundas de fabricantes
dos materiais para quantificar e estimar custos;
 Identificar a organização da troca das informações mais
adequada aos projetos integrados;
 Desempenho econômico durante todo o ciclo de vida útil da
construção;
 Determinações do que será modelado;
 Decisões de padrões do desenho arquitetônico / modelo /
procedimentos;
 Criação do modelo 3D adaptado a qualquer tipo de
cenário (insolação, esforços estruturais, acústica, etc.), o que
pode resultar diferentes representações gráficas;
 Visualização de todas as etapas de projeto em uma mesma
cena;
 Modelo da construção com a envoltória (cheios e vazios do
entorno);
 Modelos e ferramentas devem ser interoperáveis para as
verificações de conflitos e inconsistências;
 Modelo e suas representações ou possibilidades de
manipulação que o modelo permite;
 Diferentes tipos de visualização que possibilitam diferentes
tipos de representações gráficas (impressas, como plantas,
cortes, elevações, perspectivas, etc.);
 Identificação dos desempenhos inadequados;
 Integração dos consultores na construção, isto é, permitir
que o trabalho de consultores externos possa ser integrado no
projeto de forma a facilitar a construção;
 Administração do modelo de informação ou ferramentas de
colaboração na construção;
 Desenvolvimento de soluções nas diferentes especialidades
graças à integração de resultados e de verificações que o
modelo permite por parte dos diferentes agentes envolvidos
(arquitetos, contratantes, consultores, especialistas, projetistas,
proprietários, etc.).

44

Figura 12 - Metodologia de projeto integrado. Fonte: Esquema da autora.

A adoção de sistemas BIM e a evolução do BIM não se limitam a uma


implantação de nova tecnologia, mas referem‐ se à adoção de novos fluxos
de trabalho envolvendo ambiente colaborativo e planejamento nas fases
iniciais do projeto. O novo modelo de colaboração envolve recursos
avançados de visualização, aliados à transferência contínua de informações
entre os diversos agentes participantes do processo de projeto (projetistas,
construtores, contratantes, consultores, etc.). A organização dos dados é
fundamental para permitir a colaboração entre os diversos agentes
participantes do processo de projeto (COELHO, 2008, p. 6).

1.4 Componentes Paramétricos

A possibilidade de desenvolver diferentes tipos de componentes do


projeto (elementos de arquitetura, como paredes ou portas, a instalações e
sistemas estruturais, ou ainda objetos de decoração) em um determinado
projeto, através de um software do sistema BIM, resulta em simulações de
muita precisão, já que os softwares indicam as incoerências entre as
propostas executivas das diferentes áreas técnicas incumbidas no projeto.
No entanto, nota-se que há certa dificuldade de encontrar profissionais que
tenham migrado para esta tecnologia. Neste caso, há dois desafios a serem
vencidos, profissionais aptos a compreender a tecnologia BIM e o modo de
como estes profissionais modelariam seus projetos. 45
No sistema BIM, os componentes do edifício são objetos digitais
parametrizados que descrevem e representam os componentes do edifício
da vida real, por exemplo: um objeto parede é um objeto com propriedades
de paredes. Isto quer dizer que este objeto é representado por dimensões
como comprimento, largura e altura, ainda que possua seus atributos
parametrizáveis como materiais, finalidade, especificações, fabricante, e
preço, por exemplo. E esse objeto não permite componentes como mesas
ou pisos, mas sim janelas e portas, como ocorre na vida real. Um objeto pode
ter um jogo finito de parâmetros que dita a sua forma. A codificação do
objeto inclui estes parâmetros, e isto previamente requer conhecimento
construtivo do real objeto (CRESPO e RUSCHEL, 2007a, p. 2). Se uma porta é
um modelo paramétrico e em algum determinado momento do projeto for
alterado suas dimensões, o modelo automaticamente se ajustará aos novos
valores concebidos, obtendo atualizações instantâneas que repercutem em
todo o projeto (Figura 13).
46

Figura 13 - O elemento porta parametrizado. Fonte: Arquivo da autora.


Disponível em: <http://carolinaaraujo.arq.br>. Acesso em: 20 abr. 2015.

Os elementos construtivos são paramétricos, interconectados e


integrados espacialmente, são representados tridimensionalmente, porém a
qualquer momento é possível a visualização bidimensional, em qualquer
vista. O usuário tem também a liberdade de manipular o objeto no espaço
de desenho, permitindo ver detalhes do modelo construído. Alguns
elementos têm fórmulas embutidas que remetem a um comportamento do
objeto modelado, como por exemplo, escadas (CRESPO e RUSCHEL, 2007a,
p. 6).
Cada elemento possui informações de acordo com as suas
características, os elementos podem ser paramétricos, onde o usuário
somente modifica valores, elementos básicos (como paredes, pilares, portas,
etc.,) normalmente já vêm parametrizados nos softwares convencionais BIM,
porém nem todo elemento é paramétrico, existem famílias que não precisam
ser parametrizadas. Os parâmetros simulam com precisão o elemento e seus
dados vinculados que estão inclusos no modelo, como cor, textura, custos e
sistemas de funcionamento.
No sistema BIM, se o fornecedor da indústria da construção
disponibilizar seus produtos em forma de modelos tridimensionais, será muito
mais fácil para o projetista importar e especificar estes produtos em seus
projetos. O fornecedor provê os dados para que o projetista use o seu
produto. Do outro lado, o projetista utiliza as informações do modelo que
foram disponibilizadas pelo próprio fabricante. Empresas como Tigre e Deca,
(Figura 14), por exemplo, já fornecem aos profissionais bibliotecas de seus
produtos. Contudo, muitas empresas não possuem seus produtos modelados,
mas como os fornecedores também estão migrando para a plataforma BIM,
o que ampliará no futuro a oferta de bibliotecas de famílias, a falta desses
produtos hoje não limita as opções do projetista, pois ele mesmo pode
modelá-los. 47

Figura 14 - Produtos remodelados da empresa Tigre. Fonte: Arquivo da


autora. Disponível em: <http://carolinaaraujo.arq.br>. Acesso em: 20 abr.
2015.

1.5 Processo de Compatibilização de Projetos

Desde que a compatibilização de projetos (complexos) existe, esta se


realiza mediante a sobreposição de desenhos de diferentes tipos de projetos
feitos com linhas (a mão ou no computador), que representam diferentes
etapas da obra. No caso dos desenhos a mão a tarefa era feita com a
sobreposição de folhas semitransparentes (papel vegetal), no caso dos
arquivos CAD a sobreposição é através de layers (camadas eletrônicas) ou
camadas que representam as diferentes propostas técnicas (projetos
arquitetônicos mais projetos complementares). A sobreposição por camadas
seja em papel ou em layers, apresenta fortes limitações por tratar-se de uma
verificação bidimensional, em planta ou em elevação, por exemplo, o que
dificulta a visualização de determinados elementos, pois não evidencia as
incompatibilidades.
Existem várias possibilidades de falhas na concepção gráfica das
etapas de projeto que é feito no modo tradicional, como a
incompatibilização entre projetos, dispositivos e materiais que não se
adaptam à construção ou entre eles. Os projetos complementares por sua 48
vez subordinam-se ao projeto arquitetônico, porém, em muitos casos o
arquiteto precisa adaptar seu projeto as exigências da construção civil,
como por exemplo, estrutura, bombeiros e demais instalações, e tudo isto se
faz em tempos sequenciais, isto é, um trabalho depois do outro, o que torna
o processo vagaroso.
Nos sistemas baseados na tecnologia BIM, ''design'' deve ser
entendido como projeto e não como desenho, pois gerenciam a informação
no ciclo de vida completo de um empreendimento de construção, através
de um banco de informações inerentes a um projeto, integrado à
modelagem em três dimensões (COELHO, 2008, p. 3).
O BIM corresponde a uma forma de simulação virtual da construção,
como apontávamos anteriormente, onde modelamos de forma sequencial
como na construção real de um edifício, que permite armazenar as
informações necessárias em um banco de dados unindo-os em um único
arquivo, com o qual estabelece uma conexão com os projetos
(arquitetônico, elétrico, hidráulico, estrutural, prefeitura, dentre outros) de
forma a facilitar a comunicação entre os conteúdos e todos os projetistas
implicados na viabilização do projeto, pois ''o BIM melhora a visualização
espacial do que está sendo concebido já que a qualquer momento do
processo de projeto, é possível visualizar o modelo em 3D'' (Figura 15-18)
(FLORIO, 2007, p.7).
49

Figura 15 - Visualização do arquivo em planta, corte, vista 3D e imagem


renderizada. Fonte: Arquivo da autora. Disponível em:
<http://carolinaaraujo.arq.br>. Acesso em: 20 abr. 2015.

Figura 16 - Exemplo de projeto arquitetônico, interiores, elétrico,


luminotécnico, hidráulico e projeto de forro. Fonte: Arquivo da autora.
Disponível em: <http://carolinaaraujo.arq.br>. Acesso em: 20 abr. 2015.
50

Figura 17 - Exemplo de projeto de prefeitura. Fonte: Arquivo da autora.


Disponível em: <http://carolinaaraujo.arq.br>. Acesso em: 20 abr. 2015.

Figura 18 - Exemplo de projeto de madeiramento. Fonte: Arquivo da autora.


Disponível em: <http://carolinaaraujo.arq.br>. Acesso em: 20 abr. 2015.
Em um cenário ideal, os projetistas das diversas disciplinas poderão
utilizar o modelo central que será constantemente atualizado e
compatibilizado através de softwares BIM. Estes softwares permitem fazer a
detecção automática de interferências entre os projetos das diferentes
disciplinas que participam do projeto global e até mesmo de caráter
normativo, reduzindo assim os riscos e, posteriormente, problemas que
poderão surgir no canteiro de obras. É importante destacar também que, ao
trabalhar no ambiente BIM, qualquer alteração no modelo acarretará uma 51
atualização automática nas pranchas que forem emitidas, evitando erro nas
revisões de todas as disciplinas envolvidas. É um panorama bem diferente do
atual, onde cada especialista trabalha de forma independente e o processo
de compatibilização está sujeito a revisões manuais feitas por escritórios
especializados, que tentam suprir as deficiências de comunicação entre os
agentes envolvidos no projeto global.
52

CAPÍTULO 2.

O DESENHO DE ARQUITETURA
NA ERA DIGITAL
CAPÍTULO 2. O DESENHO DE ARQUITETURA NA ERA DIGITAL

2.1 Metodologias de Projeto Digital

Usos ou costumes no desenvolvimento de projeto tradicional tratam o


processo de concepção do edifício de forma fragmentada, definindo
53
momentos específicos para a atuação dos diferentes projetistas (no início ou
no final de um projeto). Apesar de ser evidente a necessidade de uma
integração das decisões do projeto, ocorre a contratação de profissionais
terceirizados em momentos distintos, levando a tomar as decisões dos
projetos de forma linear ou sequencial ao invés de integrada.
No desenho realizado em 2D (plantas, cortes e elevações que
compõem o tradicional sistema diédrico), podemos identificar atividades
típicas (Figura 19), assim como procedimentos no desenvolvimento de
projetos que podemos definir, em geral, tal como:

 Redesenho de projetos recebidos de outras áreas (estrutural,


elétrico, luminotécnico, hidráulico) para padronização pessoal
ou de escritórios em geral com a finalidade de unificar
informações e proceder à compatibilização;
 Procedimento de análises e compatibilização dos diversos
projetos submetidos pelas diferentes disciplinas envolvidas;
 Revisões dos desenhos gerados em 2D ou 3D;
 Correções em função das verificações de consistência dos
projetos representados nos desenhos;
 Modificações de projeto em relação às novas informações
que ocorrem na sequência das revisões internas;
 Levantamento de quantificação e especificação de materiais
para execução da obra;
 Montagem do caderno descritivo no processo 2D.
54

Figura 19 - Processo de Projeto em Plataforma CAD. Fonte: Esquema da


autora.

Alguns projetistas ainda não estão habituados com a prática da


modelagem paramétrica 3D, ou seja, um tipo de modelo que não é uma
simples representação e sim uma simulação de objetos que comportam
características de todo tipo, desde dimensionais até intrínsecas, como cor,
textura, coeficientes, entre outros, e preferem optar pelo projeto em CAD.
Outros tentam mesclar os dois sistemas importando arquivos do formato DWG
para um programa que gera a compatibilização de projetos em BIM. Com o
uso de softwares 3D, a tecnologia BIM para compatibilização e
desenvolvimento de projetos, altera a automatização das informações de
projetos, integrando-os, o que permite a interface entre projetistas e
coordenadores de projeto através do modelo paramétrico (Figura 20).
55

Figura 20 - Processo de Projeto em Plataforma BIM. Fonte: Esquema da


autora.

O projeto integrado não deve ser entendido apenas como uma


tarefa de compatibilização de projetos realizados por vários tipos de
projetistas, mas deve ser assumido como um procedimento que permite a
resolução de problemas, bem como a antecipação dos mesmos, uma vez
que no trabalho conjunto, num mesmo modelo os diferentes agentes podem
atuar de forma colaborativa na definição de um produto coeso, o projeto
executivo final.
Um projeto bem desenvolvido inegavelmente reduz dúvidas, erros e
retrabalhos durante a execução da obra. O resultado das simulações das
diferentes áreas se fazem essenciais na busca pela qualidade do projeto.
Essas informações são organizadas de forma visual e interativa tornando-se a
principal fonte para as equipes responsáveis pela execução, desta forma, o
projeto garante legibilidade e viabilidade das intenções de quem projeta.
O processo de projeto no setor da construção civil é complexo
devido às características dos atuais empreendimentos, composto por
diversos subprojetos, desenvolvidos por diferentes profissionais de forma
fragmentada e sequencial, gera-se uma grande quantidade de informação.
Fabricio (2007) aponta a necessidade de uma coordenação eficiente de
todo o processo, conciliando todos os envolvidos com o projeto e
administrando o fluxo de informações, pois, como advertem Manzione e
Melhado (2007), as falhas de projeto são causadas por problemas no
atendimento dos requisitos dos usuários e pelas modificações de projeto
executadas durante a fase de construção do empreendimento.
Um bom processo de projeto, conduzido com o auxílio de 56
ferramentas de tecnologia de informação adequadas, é o pilar fundamental
para a qualidade dos processos de construção e dos edifícios resultantes
(MOUM, 2006).

2.2 As Necessidades e Desafios para Implantação do BIM em Escritórios

De acordo com Larissa Leiros Baroni (2011), o processo de


implantação do BIM no mercado de edificações em geral está em
desenvolvimento para que possa de fato propiciar avanços na arquitetura e
também na construção civil brasileira. Desafios como: questões tecnológicas,
interesses comerciais, criação de bibliotecas de componentes (que
aproximem o sistema virtual à realidade da obra) e a qualificação de
profissionais, são essenciais para a interação de toda a cadeia produtiva e
também para o melhor aproveitamento do potencial da ferramenta.
Nota-se que a tendência do desenvolvimento do projeto é através
da computação gráfica, o qual busca esclarecer o processo construtivo
através de uma simulação do mesmo durante a etapa de projeto. Assim, os
softwares que trabalham nesse sistema melhoram as condições do processo
de projeto, também o condicionam às normas e regras da construção o que,
às vezes, não garante um melhor projeto, necessariamente, o que garante é
que possa ser melhor construído.
O sistema BIM como novo modo de trabalho permite que suas
configurações sejam alteradas para adequar-se a uma ''personalização'' dos
recursos de impressão (ou de representação em geral). Contudo, para que
tais mudanças aconteçam, é preciso metodologias de trabalho que
envolvam principalmente a postura do arquiteto frente a sua
responsabilidade como profissional chave no processo.
A maioria dos profissionais veem o tempo e os recursos despendidos
em treinamento como impedimentos para a troca de programa e se
preocupam com o tempo que se leva para dominá-lo.
É visto que construtoras e demais empresas voltadas a projetos em
geral têm procurado tornar-se mais competitivas através da implantação de
novas tecnologias construtivas e pela modernização organizacional e
gerencial, mas nesse processo ocorrerão resistências às mudanças desde os
operários da obra até a alta gerência. Outras dificuldades na implantação 57
de processos BIM são a falta de padronização de componentes da cadeia
produtiva, a ausência de banco de dados e parametrização de
componentes, a falta de conhecimento na utilização da ferramenta, o
investimento de treinamento, a dificuldade de interligação entre os
profissionais e projetos terceirizados, o fornecimento da grande maioria dos
fabricantes em bibliotecas digitais parametrizadas, além da
incompatibilização entre os diversos escritórios e profissionais, pois, mesmo o
projeto sendo desenvolvido no mesmo software, cada profissional possui seus
arquivos organizados de formas diferentes.
Apresentamos uma sequência de fases que facilitam a implantação
da tecnologia BIM de forma a esclarecer o processo: (Figura 21).

 (1) – O líder ou equipe de implementação deve se aprofundar


no estudo BIM e na manipulação do software. O primeiro
contato em geral, é feito nos cursos autorizados pelo
fabricante do programa.
 (2) – O líder ou equipe de implementação customiza o
software para atender às necessidades específicas do
escritório. Além da criação de padrões gráficos e modelagem
de componentes, é preciso estudar as modificações no
processo de trabalho atual e montar um planejamento para a
implementação.
 (3) – A primeira equipe de arquitetos passa pelo treinamento
inicial no curso do revendedor ou no curso interno
desenvolvido pelo núcleo de formação.
 (4) – Essa equipe recém-treinada parte para o
desenvolvimento de um projeto piloto, com suporte do núcleo
de implementação ou de consultoria externa. A produtividade
tende a ser mais baixa e o escritório precisa se programar para
isso.
 (5) – Terminado o projeto piloto, a equipe formada passa a
desenvolver novos projetos em BIM.
 (6) – A próxima equipe a ser treinada começa o curso, e em
seguida, o projeto piloto. A sequência se repete até que todo
o escritório esteja migrado a nova tecnologia.

58

Figura 21 - Metodologia de implementação da tecnologia BIM. Fonte:


Esquema da autora.

Pela complexidade e abrangência do sistema BIM, e pelas suas


características diferenciadas da plataforma CAD, sua implantação num
escritório, independente do porte dos projetos, acarreta inicialmente uma
redução no rendimento da produção de projetos, após um período de
adaptação, a produtividade e qualidade fazem com que o rendimento
aumente a longo prazo, uma vez que o processo de adaptação ocorre
paulatinamente.
Durante a implantação do sistema BIM e do novo fluxo do processo
de trabalho pode ocorrer grande impacto na gestão de projetos, bem como
nas novas formas de representar, nas relações entre a equipe, gestão dos
processos, sistema de trabalho e o produto final. Contudo, no processo da
implantação é recomendado insistir em explorar todos os recursos e
ferramentas que o programa oferece, mesmo dando trabalho a prática
acaba dando mais agilidade.
Para a implantação da tecnologia BIM os conceitos de padronização
e modelagem são muito importantes. Devem-se adequar as ferramentas BIM
à realidade da execução do projeto, assim como desenvolver e integrar
mais os softwares, algo que será possível com o intenso uso da ferramenta,
ou seja, prática diária. Para uma equipe que deseja pôr em prática o sistema
BIM é sugerido primeiramente o aprendizado de elementos construtivos, pois, 59
o passo a passo da execução de um projeto em BIM é similar ao canteiro de
obras, e só depois proceder a integração com ferramentas mais avançadas,
o que requer conhecimento de obra.
Os principais desafios para a implantação da tecnologia BIM, são as
mudanças nas formas de projetar, a utilização adequada ao potencial da
ferramenta, adequação de objetos ao projeto, as possibilidades de
customização dos objetos, a complexidade da ferramenta, o tempo
consumido para modelagem, a falta de apoio técnico e de treinamento, e
os custos extras para adquirir módulos complementares e avançados.

2.3 Desafios Decorrentes da Formação Profissional e Mudanças de Hábitos e


Costumes

No campo da arquitetura, existem hábitos comuns na forma de


projetar e representar colocados em prática de forma errônea, insiste-se em
representações onde se perdem noções de padronização e organização. A
tecnologia BIM proporciona novas aproximações e procedimentos, quase
que intuitivos, produtos do manejo de um modelo virtual parametrizado,
capaz de induzir e facilitar a percepção espacial, o dimensionamento dos
espaços, a modelagem de componentes e de novos elementos construtivos
ou de equipamentos, assim como, ajudar no gerenciamento de novas
noções de volumetria, e principalmente mudar a maneira de projetar e
representar. Contudo, continuará sendo de fundamental importância a visão
do arquiteto em relação à concepção de desenho arquitetônico, aquele
processo mental que precede ao processo do desenho.
Os desafios a serem vencidos podem vir da iniciativa do setor privado
e também do setor público. Em órgãos ligados à iniciativa privada estão
sendo implantadas políticas voltadas ao uso do BIM, como por exemplo, o
caso do Guia de Boas Práticas em Sustentabilidade na Indústria da
Construção, 8 lançado em 2007 pela Câmara Brasileira da Indústria da
Construção e Serviço Social da Indústria (SESI). A iniciativa no setor privado
poderia também ser através do aumento de investimentos em tecnologias e
soluções para implantação do BIM.
Muitos países já apostaram na eficiência da aprovação de projetos
com a utilização desta ferramenta. Cingapura, por exemplo, possui uma
plataforma digital para aprovações de projetos que vêm apresentando
resultados positivos desde 2006. O tempo de licenciamento passou de 102 60
dias para apenas 26. Além disso, desde 2009, os projetos passaram a ser
entregues para aprovação em BIM, sendo que, desde o início de 2013, o uso
do formato 3D passou a ser obrigatório. Em Bogotá, na Colômbia, avanços
na legislação local de uso e ocupação do solo aliados à tecnologia
ajudaram a reduzir trâmites de licenciamento. Em Stuttgart, na Alemanha, o
processo de aprovação envolve não apenas o poder público, mas também
a comunidade do entorno do empreendimento. Já na Inglaterra, a forma
encontrada para aperfeiçoar o licenciamento foi o apoio de agências
especializadas para a realização do processo. Lá, são considerados 14 itens
na avaliação, que têm pesos distintos dependendo do tipo e da
complexidade do projeto. Para a Olimpíada de Londres, por exemplo, foi
desenvolvido um sistema alternativo de aprovações para viabilizar obras de
infraestrutura a tempo das competições. Em todos esses casos, apresentados
no final de 2012 num evento promovido pela Associação Brasileira dos
Escritórios de Arquitetura (Asbea), o tempo para aprovação de projetos
deixou de ser um problema há muito (FERREIRA, 2013).
No setor público, no Brasil, poderiam implantar incentivos como a
aprovação de projetos com o uso do BIM. Normas e requisitos técnicos com
padrões adaptados no mercado brasileiro são determinantes para a
orientação de projetos. No Exército Brasileiro, a aplicação do BIM tornou-se
ferramenta obrigatória em todos os projetos e obras. O projeto piloto
implantado pelo Departamento de Engenharia e Construção do Exército
Brasileiro (DEC/EB) e o Instituto Brasileiro de Informação e Tecnologias (IBICT) é
responsável pelo desenvolvimento de bibliotecas BIM a ser executado pelo
Exército.9

8 Disponível em:
<http://www.cbic.org.br/arquivos/Guia_de_Boas_Praticas_em_Sustentabilidade_CBIC_FDC.pdf>.
Acesso em: 20 ago. 2015.
9 De acordo com a coordenadora geral do IBICT, Cecília Leite, está em andamento o projeto de
implementação de uma biblioteca digital para área de construção civil que está sendo
De acordo com informações do Conselho de Arquitetos e Urbanistas
(CAU), está em processo de normatização a NBR 15965 – Sistema de
Classificação da Informação da Construção, que se divide em duas
categorias, sendo a 1ª: Terminologia e estrutura; e a 2ª: Características dos
objetos da Construção. Sendo que também está em processo de
normatização a ABNT / CEE – 134 - Modelagem da Informação da
Construção (BIM) / NBR ISO 12006-2-2010, que remete a construção da
edificação organizada pelos processos desenvolvidos, os recursos e os 61
resultados da construção.
A classificação da informação da construção poderia estar embutida
nos aplicativos BIM e nos objetos das bibliotecas. Isso facilitaria a
comunicação com outras aplicações como na geração de orçamentos,
cotações e catálogos eletrônicos. A construção de um acervo normativo é
de fundamental relevância para a implantação e utilização do BIM no Brasil.
O avanço da tecnologia nas áreas de construção e computação, fez
com que o ensino de desenho arquitetônico assistido por computador se
tornasse necessário para se adaptar ao uso de ferramentas digitais
modernas.
No entanto, em muitas escolas de arquitetura, como afirma o Prof.
Karim Hadjri (2006, p. 70), falando de sua experiência na University of Central
Lancashire, a tecnologia dos computadores não é adequadamente
integrada na grade curricular, os resultados de aprendizagem de
modelagem digital não são entendidos, a utilização de ferramentas que não
restringem a imaginação a fim de produzir formas que possam ser edificáveis
não são totalmente conhecidas, a necessidade de arquivar as propostas de
desenho dentro de um ambiente digital e melhorar o processamento de
informações de projetos arquitetônicos também são pouco esclarecidas.
A complexidade dos softwares baseia-se fundamentalmente na
utilização de métodos de modelagem tridimensional e a modelagem de
componentes paramétricos, o qual ampliaram possibilidades e técnicas de
modelagem de geometrias complexas. Tradicionalmente os alunos
produzem muitas maquetes físicas dispostas como parte do seu
desenvolvimento de volumetria, mas lutam para recriá-las digitalmente, para
posterior análise e melhoria (HADJRI, 2006, p. 70).

elaborado em parceria entre o MDIC, o Ministério do Exército e o IBICT. Disponível em:


<http://www.ibict.br/Sala-de-Imprensa/noticias/2013/biblioteca-digital-para-a-area-de-
construcao-civil/?searchterm=BIBLIOTECA%20BIM>. Acesso em: 16 ago. 2015.
Por sua vez, as universidades como berço de inovação tecnológica
deveriam contribuir para a formação de profissionais capacitados para
enfrentar o mundo tecnológico. A implantação de uma inovação para o
desenvolvimento de projetos deveria ter incentivo e apoio das faculdades
de arquitetura e engenharia. As faculdades que já implantaram o BIM em
suas grades curriculares 10 poderiam ampliar o nível de conhecimento,
acrescentar outros tópicos de ensino e principalmente utilizar outras
metodologias de trabalho, como: elaboração de um plano de automação 62
de um projeto eficiente, planejamento e desenvolvimento de biblioteca de
famílias, disseminar o conhecimento obtido na modelagem para o emprego
da metodologia BIM em outras disciplinas, entre outros.
No curso de arquitetura percebe-se que o maior problema reside em
formar um profissional que seja capaz de entender claramente tanto as
sucessivas etapas de criação, desenvolvimento e execução de projetos,
como saber utilizar os melhores recursos para expressar e comunicar suas
ideias sem perder criatividade e competência técnica. Portanto, durante sua
formação, o aluno deveria percorrer um caminho onde pudesse desenvolver
competências e habilidades tanto do lado criativo, intuitivo e artístico, como
do lado lógico, racional e técnico (FLORIO, 2007, p. 4).
Quando as novas tecnologias se consolidarem no mercado, as
mudanças percebidas não serão apenas na qualidade do produto final, mas
ocorrerão mudanças em todos os níveis de organização, dos processos às
relações profissionais.

2.4 Sucesso Alcançado em Escritórios

Colocar em prática as premissas do sistema BIM em escritórios de


arquitetura ou até mesmo aceitar este novo modo de trabalho é um
processo longo, o mercado está em desenvolvimento e os caminhos desta
migração não são tão claros. Ainda assim, há casos de migrações bem-

10 Nos últimos 10 anos, temos como exemplo o curso de Engenharia de Construção Civil da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, os cursos de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade São Judas, Universidade Tuiuti do Paraná, entretanto, outras estão ingressando no
ensino do BIM, com intenção de capacitação instrumental das ferramentas de desenho digitais
para criação e o desenvolvimento de projetos.
sucedidas, como nos casos dos escritórios Gui Mattos, Aflalo e Gasperini11 e
Contier Arquitetura,12 pioneira na adoção do método BIM no Brasil, ou de
escritórios que estão no meio do percurso, cuja experiência pode jogar luz
em relação a decisões do desenho, do modelo, dos procedimentos
adotados, tornando assim, exemplo a nortear futuras tentativas.
Ao analisarmos escritórios de arquitetura que já utilizam a tecnologia
BIM no desenvolvimento de projetos, destacamos empresas dos quais
compreendem os conceitos de BIM, atualizadas com os novos processos de 63
conhecimento do mundo digital e que consideram o uso desta tecnologia
como item fundamental para o desenvolvimento do ciclo de vida dos
projetos integrados e da própria construção civil.
Destacamos empresas no âmbito da cidade de São Paulo que fazem
parte do pequeno grupo de empresas de arquitetura que mantêm relações
com a indústria da construção e cujo trabalho se baliza pelos impactos que
estas novas práticas digitais tem no processo de gestão e administração de
obras complexas.
De acordo com a entrevista para a Revista AU (2011),13 no escritório
de arquitetura Gui Mattos a transição começou em 2004, e o treinamento
dos arquitetos foi no curso básico do distribuidor. Todas as equipes passaram
de uma só vez, a modelar novos projetos em BIM (Figura 22-24).

À mudança se seguiu uma queda brusca de produtividade. "Foi caótico.


Antes, demorávamos oito ou dez meses para desenvolver um projeto
executivo e, de repente, isso passou para 16 meses", afirma José Rocha,
coordenador de arquitetura do estúdio. "Inflamos a equipe, chegamos a
trabalhar com 25 arquitetos [hoje são 16], porque uma pessoa que tocava
quatro projetos passou a tocar apenas um." Financeiramente, a empresa
também sofreu.

11 Para informações sobre o trabalho destes escritórios recomendamos acessar os seguintes sítios:
<http://www.arquiteturaguimattos.com.br/>.; <http://aflalogasperini.com.br/>.; Acesso em: 01
abr. 2015.

12 Desde 2002, quando a plataforma BIM foi adotada pela empresa, o escritório Contier
Arquitetura tem ajudado a estabelecer as melhores práticas e introduzido novos padrões para a
sua localização no Brasil, ainda assim, o Luiz Augusto Contier quando foi coordenador do Curso
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu, introduziu o ensino de BIM na
grade curricular da graduação. Disponível em: <http://contier.com.br/>. Acesso em: 23 mai.
2015.
13 Revista AU, edição nº 208. São Paulo, Editora Pini. Julho 2011. Disponível em:
<http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/208/desafios-da-implementacao-224373-1.aspx>.
Acesso em: 10 mar. 2016.
Figura 22 - Projeto Residência Pacuiba – Ilha Bela. Fonte: Arquitetura Gui
Mattos, 2012. Disponível em: <http://www.arquiteturaguimattos.com.br/2012- 64
pacuiba-ilhabela/13/04/2012/>. Acesso em: 10 mar. 2016.

Figura 23 - Projeto Residência Pacuiba – Ilha Bela. Fonte: Arquitetura Gui


Mattos, 2012. Disponível em: <http://www.arquiteturaguimattos.com.br/2012-
pacuiba-ilhabela/13/04/2012/>. Acesso em: 10 mar. 2016.

Figura 24 - Projeto Residência Pacuiba – Ilha Bela. Fonte: Arquitetura Gui


Mattos, 2012. Disponível em: <http://www.arquiteturaguimattos.com.br/2012-
pacuiba-ilhabela/13/04/2012/>. Acesso em: 10 mar. 2016.

De acordo com a mesma entrevista, o escritório Aflalo & Gasperini


está em fase avançada na utilização da tecnologia BIM (Figura 25-28). Os
primeiros testes foram iniciados em 2005, desenvolvendo projetos piloto na
plataforma BIM paralelos ao mesmo projeto em AutoCAD. A experiência
demorou a vingar. "Nunca dava certo. Se já é difícil fazer apenas um projeto,
imagine fazer o mesmo projeto duas vezes e em uma plataforma nova.
Acabávamos levando só o 2D e abandonando o BIM", conta o arquiteto
Miguel Aflalo (AU, 2011).
O arquiteto ressalta ainda que a maior ou menor aptidão dos
arquitetos para absorver a nova tecnologia acaba tendo reflexos também
no quadro hierárquico da empresa, sendo que a transição para o BIM deve
ser acompanhada de uma decisão gerencial vinda da diretoria da empresa.

Às vezes, pessoas que não têm cargos altos, mas lidam melhor com o 65
software acabam tendo um desenvolvimento mais rápido e tendem a ser
mais úteis e responsáveis do que no processo tradicional. O que acontece
às vezes é que a equipe começa o projeto em BIM, mas na hora de mudar o
processo de trabalho, as pessoas desistem. Tem que ter uma decisão de
virada de chave. A equipe tem que começar e terminar um projeto na
plataforma custe o que custar. Caso contrário, os arquitetos esbarram na
zona de conforto e podem acabar voltando para o CAD (AU, 2011).

Figura 25 - Projeto Habitarte. Fonte: Aflalo & Gasperini Arquitetos. Disponível


em: <http://aflalogasperini.com.br/blog/project/habitarte/>. Acesso em: 12
mar. 2016.

Figura 26 - Projeto Habitarte. Fonte: Aflalo & Gasperini Arquitetos. Disponível


em: <http://aflalogasperini.com.br/blog/project/habitarte/>. Acesso em: 12
mar. 2016.
66

Figura 27 - Projeto Habitarte. Fonte: Aflalo & Gasperini Arquitetos. Disponível


em: <http://aflalogasperini.com.br/blog/project/habitarte/>. Acesso em: 12
mar. 2016.

Figura 28 - Projeto Habitarte. Fonte: Aflalo & Gasperini Arquitetos. Disponível


em: <http://aflalogasperini.com.br/blog/project/habitarte/>. Acesso em: 12
mar. 2016.

De acordo com a entrevista para a Revista Construção Mercado14 e


também com o relato de Luiz Augusto Contier no aplicativo Linkedin, 15 a
empresa Contier Arquitetura é pioneira na implantação de BIM, escritório de
grande porte, encontra-se em estágio avançado com processo consolidado
e planejamentos definidos.
Este escritório demonstra que é possível, por meio de um bom plano,
conseguir alcançar a eficiência em projetos desenvolvidos com a tecnologia

14 Revista Construção Mercado, edição nº 127. São Paulo, Editora Pini. Fevereiro 2012. Disponível
em: <http://construcaomercado.pini.com.br/negocios-incorporacao-
construcao/127/integracao-absoluta-disparidade-na-adocao-entre-projetistas-arquitetos-e-
282614-1.aspx>. Acesso em: 10 mar. 2016.

15 Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/o-primeiro-edif%C3%ADcio-corporativo-


totalmente-projetado-em-contier>. Acesso em: 10 mar. 2016.
BIM. Contier Arquitetura, que hoje só recebe contratos para projetos
desenvolvidos em BIM, foi uma das primeiras empresas no Brasil a adotar o
uso do software Revit, em 2002. O Edifício B32, sede da Petrobras em Santos
(2011), foi o primeiro empreendimento privado no Brasil, de grande porte e
alta complexidade, que teve todos os projetos executivos desenvolvidos em
BIM.
Contier relata sua experiência no desenvolvimento do projeto Edifício
B32 (Figura 29-31): 67

No B32, o empreendedor buscou atingir vários objetivos com a utilização do


BIM no desenvolvimento dos projetos, como a antecipação dos problemas
de compatibilização dos projetos, detecção de interferências, assertividade
de todos os documentos de projeto. O BIM foi usado para solucionar essas
interferências, enquanto o mercado tantas vezes tem contratado apenas
sua detecção. Com a detecção feita pelos autores dos projetos durante o
seu desenvolvimento, as soluções são propostas rapidamente. A detecção
de incompatibilidades é substituída por soluções consistentes,
multidisciplinares, integradas e em tempo real. Isso é projeto.

Um empreendimento em que as disciplinas operam dessa forma


obviamente antecipa soluções que, nos projetos compatibilizados da forma
tradicional, só aparecem nas obras. Esse projeto, por seu porte, ajudou a
aprimorar os procedimentos da Contier Arquitetura. Para que várias equipes
de diferentes disciplinas pudessem trabalhar simultaneamente no modelo
digital, inserindo objetos, alterando suas propriedades, especificando
características e parâmetros, o Plano de Execução BIM do projeto, criado
pela Contier Arquitetura, recebeu vários aperfeiçoamentos, como a criação
de estilos de vistas com controle por filtros visando uniformidade visual de
documentos e a automação da extração de quantitativos.

Figura 29 - Edifício B32, Primeiro Edifício Corporativo Projetado em BIM. Fonte:


Contier Arquitetura. Disponível em: <http://contier.com.br/edificios-
comerciais/edificio-petrobras-sede-bacia-de-santos>. Acesso em: 13 mar.
2016.
Figura 30 - Edifício B32, Primeiro Edifício Corporativo Projetado em BIM. Fonte:
Contier Arquitetura. Disponível em: <http://contier.com.br/edificios-
comerciais/edificio-petrobras-sede-bacia-de-santos>. Acesso em: 13 mar. 68
2016.

Figura 31 - Edifício B32, Primeiro Edifício Corporativo Projetado em BIM. Fonte:


Contier Arquitetura. Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/o-
primeiro-edif%C3%ADcio-corporativo-totalmente-projetado-em-contier>.
Acesso em: 13 mar. 2016.

Os usuários pioneiros dos escritórios estudados demonstraram que o


processo de projeto por meio da tecnologia BIM sofreu mudanças
significativas quando comparado ao processo de projeto tradicional e
afirmam que os benefícios em produtividade compensam as dificuldades.
Conforme constatado nos casos mencionados, identificamos as reais
necessidades de um escritório de arquitetura, quanto ao planejamento e
desenvolvimento de projetos em BIM. Vários pontos abordados mostram que
é necessário conhecer os conceitos da tecnologia BIM antes de sua
implantação. O profissional responsável pela implantação de BIM deve
buscar informações relacionadas a novos processos de trabalho, aquisição
de novos equipamentos, elaboração de padrões BIM e treinamentos para a
equipe de projeto.
Entendemos que os benefícios decorrentes da implantação do BIM,
por meio da análise das etapas, processos, instrumentos e ferramentas
utilizadas foram fundamentalmente a diminuição do tempo necessário para
a elaboração do projeto e sua representação, agilidade no entendimento e
visualização da proposta, rapidez na elaboração de novas propostas, maior
precisão na compatibilização com os projetos complementares.
De uma forma geral, os casos implantaram a tecnologia em busca da
melhoria do processo de projeto. Cada caso, de diferentes maneiras,
identificou suas necessidades, customizou o programa aos padrões do
escritório, promoveu a capacitação da equipe e realizou a adequação do
processo de projeto à nova tecnologia. Assim sendo possível avaliar os
resultados obtidos. 69
Com finalidade analisar a implantação da plataforma BIM em
escritórios que já usam softwares compatíveis com essa tecnologia,
formulamos 10 questões como protocolo de entrevista, a fim de obter dados
de cada empresa, suas atividades e seus planejamentos.16

2.5 Softwares que Suportam a Tecnologia BIM

Juntamente com o avanço da tecnologia, surgem os diversos


softwares, alguns complementares, outros de simples modelagem, outros
complexos, e as informações sobre cada um deles muitas vezes não nos
permite ter uma visão clara do papel que cada um desempenha e de suas
verdadeiras potencialidades.
Cada sistema é habilitado a realizar melhor uma determinada tarefa,
se ajustando em uma determinada aplicação. Alguns softwares abrangem a
classe de software que tem como característica a paramétrica, onde a
alteração no valor numérico de um determinado parâmetro permite a
atualização automática em todos os valores atrelados a ele e a associativa,
que permitem a geração automática de desenhos 2D, incluindo vistas e
cotas para dimensionamento, a partir do modelo 3D, de modo que
alterações no modelo 3D refletem automaticamente no desenho 2D. Tem-se
ainda softwares onde contam com todos os recursos dos sistemas anteriores,
com a capacidade de modelagem híbrida, de visualização realista ou
fotográfica e ainda a integração de sistemas.
Os softwares que fazem parte da tecnologia BIM são aqueles que
permitem a interoperabilidade, ou seja, a capacidade de se comunicar com
outros softwares que desempenham as mesmas ou diferentes funções,

16 As questões das entrevistas, demais informações e os resultados obtidos encontram-se


presente neste trabalho, compondo o apêndice 1.
podendo-se conectar e trocar informações, indicando uma nova
abordagem para a prática de concepção de projetos.

Alguns softwares BIM:


 Bentley Architecture;
 Graphisoft’s Archicad;
 Autocad Architecture;
 Vectorworks – Nemetschek; 70
 Revit Building - AutoDesk, que são divididos em Revit
Architecture, Revit Structure e Revit MEP.

Bentley Architecture: a solução BIM da Bentley é construída sobre a


plataforma do Microstation, um programa CAD. O Bentley Architecture faz
parte de uma extensa plataforma que inclui softwares específicos para
estrutura, instalações e modelagem de elementos complexos.
É um programa de aprendizagem complexa e interface pouco
intuitiva, além de ter uma base de usuários pequena no Brasil.

Graphisoft’s Archicad: uma grande vantagem deste programa é que


o arquivo pode ser aberto por qualquer projetista que não tenha o
programa, desde que este seja exportado.
Tem limitações em trabalhar com projetos mais complexos, porém,
possui uma ampla biblioteca disponível e compatível para trabalhar com
outros softwares como Volare, Orçamento Expresso, EcoDesign, entre outros.

Autocad Architecture; com estrutura semelhante ao Bentley, é um


software de desenho arquitetônico que permite a criação de maquetes
eletrônicas, documentação e tabelas com maior rapidez e facilidade, e
ainda possui renderização integrada. O programa oferece os recursos de
projeto e documentação que ajudam a automatizar as tarefas de desenho,
reduzir erros e aumentar a eficiência.

Vectorworks – Nemetschek: a principal vantagem na implantação em


escritórios de arquitetura é o seu custo, por ser um dos mais em conta
financeiramente.
Este software BIM e modelador 3D, da Nemetschek, tem vantagens
como: compatibilidade total com formato IFC, troca de arquivos com outros
softwares BIM e projetar de modo convencional, como o programa CAD.
Revit Architecture: o Revit é o mais difundido no mercado,
principalmente por ser do mesmo fabricante do AutoCad e pela estratégia
de vendas da Autodesk. Outro fator é o de este produzir vários programas
para arquitetura, estrutural, hidrossanitários e outros. O programa apresenta-
se como uma forma inteligente de modelar o desenho, a edificação, ou até
mesmo peças de desenho industrial.

O Revit apresenta os seguintes recursos: 71


 Componentes paramétricos;
 Quantitativo de material;
 Revit Building Maker (''modelador de edifícios'' – ambiente de
modelagem conceitual);
 Vistas 3D e sombreamento instantâneo;
 Verificação de interferência;
 Renderização integrada;
 Opções para importação / exportação.
 Ferramentas para projeto e documentação, visualização,
simulação e colaboração do projeto;
 Ferramentas de planejamento de terreno;
 Detecção dos conflitos nos modelos agregados;
 Verificação dos custos de energia e do ciclo de vida da
construção;
 Análises de iluminação mais rápidas e precisas;
 Simulação de projetos estruturais;
 Simulação de projetos hidráulicos;
 Simulação de projetos elétricos;
 Ferramentas para diferentes tipos de representação de
vistas;
 Controle das diferentes etapas de projeto;
 Coordenação BIM com AutoCAD.

Há diversos outros softwares que concorrem com os do sistema Revit


Building, como o ArchiCAD e o Vectoworks, que são hoje os três softwares
BIM mais conhecidos no mercado. Avaliando os quesitos interface e
facilidade de visualização, funções importar e exportar, integração no
mercado de trabalho; apresentações 2D e 3D, modelação, biblioteca de
dados, layouts, sustentabilidade, hardware e assistência técnica, o Revit se
sobressai, sendo considerado o mais completo dos três, seguido pelo
ArchiCAD. Todavia, o ArchiCAD é eficaz em alguns quesitos como a
interface e facilidade de utilização, e o Vectoworks eficaz nos quesitos
apresentação 2D e custo, sendo o mais acessível dos três softwares.

2.6 Revit Architecture, um estudo de caso

A Autodesk Revit Architecture foi especificamente concebida para o


72
BIM como processo integrado que se baseia em informações coordenadas e
confiáveis sobre um projeto, desde o projeto conceitual até a construção em
direção aos processos operacionais. Ao adotarem o BIM, as empresas de
arquitetura podem usar essas informações consistentes ao longo de todo o
processo, com o objetivo de projetar e documentar projetos, visualizar a
aparência com precisão para simplificar a comunicação e simular o
desempenho prático para facilitar a compreensão sobre os custos, a tabela
e o meio-ambiente (AUTODESK, 2010, p. 5).17
É visto que o Revit estendeu sua capacidade e qualidade de projetar
e edificar uma obra da construção civil, aumentando assim, produtividade
em todas as etapas de projeto. Em vez de produzir o modelo em planta e
depois especificar os quantitativos do projeto, passou-se a construir a
modelagem fiel do projeto, onde as vistas são todas interligadas e geradas
de forma inteligente.

Figura 32 - Projeto de instalação médica no software Revit, WASA / Studio A.


Disponível em: <http://www.autodesk.com/products/revit-family/case-
studies/architectural-design>. Acesso em: 24 mai. 2015.

17 Autodesk Revit Architecture, 2010. Disponível em:


<http://images.autodesk.com/latin_am_main/files/revit_architecture10_port_homeprint.pdf>.
Acesso em: 10 mar. 2015.
A plataforma Revit para modelagem de informações de construção
consiste em um sistema de desenho e documentação que suporta projetos,
desenhos e tabelas necessários para a construção de um projeto. A
modelagem de informações de construção (BIM) oferece informações sobre
o projeto, o escopo, as quantidades e as fases do projeto quando forem
necessárias. No modelo do Revit, todas as folhas de desenho, as vistas 2D e
3D e as tabelas consistem em apresentações de informação do mesmo
conjunto de dados do modelo de construção. Enquanto se trabalha com 73
vistas de apresentações e desenho, o Revit Architecture coleta informações
sobre o projeto de construção e coordena essas informações por todas as
representações do projeto. O mecanismo de alteração paramétrica do Revit
coordena automaticamente as alterações realizadas em qualquer parte, —
em vistas de modelo, folhas de desenho, tabelas, cortes e plantas
(AUTODESK, 2010, p. 3).

Figura 33 - Projeto de instalação médica no software Revit, WASA / Studio A.


Disponível em: <http://www.autodesk.com/products/revit-family/case-
studies/architectural-design>. Acesso em: 24 mai. 2015.

O software Autodesk Revit Architecture ajuda a explorar as formas e


os conceitos de projetos mais inovadores desde as etapas iniciais do
processo criativo, ajudando a manter seu foco ao longo da documentação
de construção.
Como uma de suas funções, o Revit é capaz de conceber diversos
tipos de arquivos BIM em um único ambiente, mantendo suas características
e informações iniciais. Isto permite que a ferramenta possa executar uma
série de funções, como identificar as incompatibilidades dos projetos, em
uma busca automática ou estabelecida pelo usuário. O software identifica
elementos com características pré-estabelecidas pelo usuário, juntando-os
em grupos de pesquisa que podem ser utilizados posteriormente. É possível
caminhar virtualmente pela edificação, visualizar o modelo em diferentes 74
posições, simular passeios na edificação, simular posição solar, e assim,
entender a distribuição dos espaços, juntamente com o potencial da
ferramenta.

Figura 34 - Projeto de instalação médica no software Revit, WASA / Studio A.


Disponível em: <http://www.autodesk.com/products/revit-family/case-
studies/architectural-design>. Acesso em: 24 mai. 2015.

Especificamente projetado para a modelagem de informações de


construção (BIM), o software Revit Architecture proporciona suporte ao
projeto sustentável, detecção de conflitos, planejamento de construção,
processo de desenvolvimento e documentação, contribuindo para
procedimentos mais coordenados e uma documentação mais confiável,
considerado como um dos softwares mais utilizados referentes à modelagem
da informação – BIM (AUTODESK, 2010, p. 2).
75

CAPÍTULO 3.

SIMULAÇÃO DE MODELOS DE
EDIFÍCIOS
CAPÍTULO 3. SIMULAÇÃO DE MODELOS DE EDIFÍCIOS

3.1 Técnicas de Representação Gráfica e Artística de Modelos de Edifícios

O poder dos computadores depende, em parte, da sua capacidade de


calcular fórmulas muito rápidas. Essas matemáticas complexas permitiram
geometrias cada vez mais complexas e ferramentas possíveis para o projeto,
que introduzem novas famílias de formas, topologias e superfícies em curvas. 76
Novas ferramentas computacionais chamadas de design paramétrico
permitem a programação de variáveis de parâmetros, entre um ponto e
outro, e construção de regras para traçar uma curva ou geometria em
especial, que define os "graus de inteligência" destes pontos e a relação
entre eles e, portanto, as curvas derivadas delas, permitindo assim a criação
de superfícies e formas complexas. Design paramétrico é normalmente
associado com "geometrias inteligentes". Estas tecnologias digitais capazes
de gerenciar geometrias complexas estão com uma presença notória na
esfera arquitetônica na última década (GOLDBERG, 2006, p. 102, tradução
nossa).

O estudo de caso no presente trabalho aponta os processos de


desenho arquitetônico com o método BIM, os resultados de uma visualização
3D, a noção de ferramentas computacionais e sua capacidade de utilizar
tais ferramentas que unem a representação gráfica com a representação
artística, e, principalmente, que não existem limites para um desenho
complexo, seja retilíneo ou curvilíneo, em determinado software dentro da
prática da arquitetura contemporânea.
O objetivo do modelo escolhido é demonstrar as possibilidades de
desenvolvimento de um projeto complexo no software Revit Architecture,
modelagem de estruturas em steel deck e steel frame, modelagem de
elementos hidráulicos, modelagem de componentes, a representação das
vistas em plantas, cortes, elevações e perspectivas, a documentação de
tabelas, e as possibilidades de desenho em relação a aspectos formais em
uma linguagem orgânica.
O estudo de caso se intitula Complexo Multifuncional Vitalidade
Urbana,18 composto por 3 torres, torre de escritórios com 36 pavimentos (8

18 O projeto Complexo Multifuncional Vitalidade Urbana elaborado pela autora encontra-se


disponível em grupos de rede social: Arquitetura e Revit com Carolina Araújo e Revit
Architecture. Respectivamente disponíveis em:
<https://www.facebook.com/media/set/?set=oa.743970825678890&type=1>.
<https://www.facebook.com/media/set/?set=oa.754056858004253&type=1>.
salas comerciais de 40m² por pavimento), torre residencial com 24
pavimentos (1 unidade habitacional por pavimento), torre hotel com 12
pavimentos (55 unidades habitacionais) e o embasamento composto por
galerias comerciais, situados num terreno de área 15.198,00m², totalizando
área construída 69.673,00m².

77

Figura 35 - Caixa de desenho no software Revit Architecture. Fonte: Modelo


da autora.

Acesso em: 21 abr. 2015.


3.2 Simulação do Modelo Arquitetônico

78

Figura 36 - Implantação Complexo Multifuncional. Fonte: Modelo da autora.

Cada elemento modelado no Revit foi acrescentado ou modificado


de acordo com as necessidades do projeto. Todos os componentes foram
definidos com parâmetros, determinando suas características, restrições e
comportamentos em qualquer vista de representação no arquivo.
Assim, um piso, por exemplo, pode ser visualizado em diferentes vistas
com todas as suas informações e características inseridas nele, como:
revestimentos, espessuras, nível, entre outros (Figura 37 e 38, o mesmo piso de
circulação em planta e em 3D). Embora o software Revit seja voltado à
tecnologia BIM, que gera de forma automática os elementos de projeto em
vistas 3D, cortes e fachadas, vale ressaltar que quem projeta modela
volumes, componentes, determina a posição dos cortes, elabora as vistas de
apresentação, define suas representações, entre outros.

79

Figura 37 - Plantas subsolo, nível zero e pavimento térreo e suas vistas 3D.
Fonte: Modelo da autora.

Figura 38 - Plantas 2º, 3º e 4º pavimento e suas vistas 3D. Fonte: Modelo da


autora.
80

Figura 39 - Torre de escritórios. Fonte: Modelo da autora.

Na caixa de desenho do software, em planta, vista bidimensional,


foram delineados diversos tipos de formas e volumes do complexo
multifuncional, para o resultado final das torres comercial e residencial foi
explorada a ferramenta de massa, no qual, desenhado o perímetro curvo do
volume no embasamento, copiado este mesmo perímetro no pavimento do
coroamento, e ao copiar, fornecido parâmetros e o grau de rotação para
todos os pavimentos, permitindo assim, volumes torcidos.
Devido à forma das torres serem superfícies regradas a partir das
curvas, os componentes de fechamento da fachada, mais precisamente os
perfis metálicos que suportam os vidros, apresentam desalinhamento em
virtude da torção do edifício como um todo. A fim de solucionarmos o
problema, realizamos estes ajustes (fechamento dos perfis, parametrizando-
os), onde demonstramos o processo de fabricação digital no subcapítulo 3.5.
81

Figura 40 - Torre residencial. Fonte: Modelo da autora.

Figura 41 - Torre hotel. Fonte: Modelo da autora.


Desta forma, possibilitou avaliar diferentes comportamentos de
materiais de revestimento, manipulando suas variáveis, tolerâncias. Definido
o vidro temperado laminado liso verde para as fachadas, possibilitou
também estudar as articulações dos perfis metálicos que suportam os vidros,
que auto se ajustam de acordo com a forma do volume e dados
paramétricos.
Visando este esclarecimento, insere-se a seguir as vistas dos cortes e
elevações (Figura 42 e 43) que podem ajudar a ilustrar essa questão, através 82
de possíveis representações bidimensionais e sua representação espacial
com elementos físicos.
As modelagens das bibliotecas de famílias, o template utilizado no
projeto, bem como as imagens para renderização, são materiais produzidos
pela própria autora, que se encontram disponíveis em sua loja virtual.19 Todos
os arquivos são em formato compatíveis com o software Revit.

Figura 42 - Cortes do modelo. Fonte: Modelo da autora.

19 Disponível em: <http://arqcarolinaaraujo.com/loja/>. Acesso em: 19 abr. 2015.


83

Figura 43 - Elevações do modelo. Fonte: Modelo da autora.

O modelo apresenta outros elementos de representação de


linguagem arquitetônica que foram analisados dentro do software como: a
variação na disposição das torres de modo a possibilitar uma variação da
percepção ambiental pela diversificação da incidência da luz, a
permeabilidade espacial, o tapete de vegetação e fechamento em pele de
vidro igualmente busca o uso de sensações como linguagem e dinamismo.
Todavia, a proposta formal pode ser analisada do ponto de vista da
representação gráfica, numa percepção dos processos de desenho, de
como foi possível organizar estes processos no computador, do modelo para
as representações espaciais e para o conjunto final do modelo integrado.
A maneira de se projetar com o software Revit facilitou bastante o
trabalho, gerando detalhes na aplicação da modelagem. O software
permitiu que a geração de quantitativos em tabelas e documentos fosse
feitas de forma automática, bem como as tabelas de áreas privativas e
comuns, e tabelas de esquadrias (Figura 44).
84

Figura 44 - Setorização e tabela de relação de ambientes. Fonte: Modelo da


autora.
3.3 Simulação do Modelo Estrutural

A modelagem iniciou-se a partir da malha estrutural (Figura 45)


definida em steel frame e steel deck e do posicionamento dos pilares, que
foram usados como referências para posicionamento das vigas. Após as
vigas inseridas foram colocadas as lajes. Todas as vigas e os elementos que
compõe a laje foram modelados, completando assim o modelo estrutural do
edifício.
85

Figura 45 - Malha estrutural esquemática. Fonte: Modelo da autora.


O software possibilitou o recorte de um pavimento com intenção
visualizar a modelagem tridimensional do passo a passo da estrutura,
permitindo a representação dos pilares, das treliças metálicas, dos perfis
metálicos e do sistema das lajes em steel deck (Figura 46-48).

86

Figura 46 - Perspectiva sistema estrutural. Fonte: Modelo da autora.

Figura 47 - Detalhe esquemático da estrutura. Fonte: Modelo da autora.


87

Figura 48 - Sistema estrutural. Fonte: Modelo da autora.


3.4 Simulação do Modelo Hidráulico

A modelagem do projeto hidráulico e sanitário ocasionou do projeto


estrutural. Os componentes utilizados como tubos, conexões, registros e
caixas d’água pertencem a biblioteca da autora, o qual possui várias peças
necessárias para elaboração do modelo.
Foram modeladas as tubulações de água quente (tubos vermelhos) e
88
de água fria (tubos azuis), para melhor compreensão do sistema hidráulico,
devido à torção das torres.
Durante a modelagem foi observado o potencial do método BIM
para projetos complementares em relação à detecção de interferências,
como a altura das tubulações de esgoto que cruzam vigas, altura do forro
levando em consideração as inclinações das tubulações sanitárias, o
percurso das tubulações que alimentam cada pavimento, que podem ser
detectadas visualizando toda a estrutura do edifício tridimensionalmente.

Figura 49 - Sistema hidráulico. Fonte: Modelo da autora.


3.5 Dinâmica de Sistemas: do Estudo de Massas à Fabricação Digital do
Modelo no Software Dynamo

Com a chegada da tecnologia computadorizada à indústria da


construção, muito se tem modificado no modo em que essas são idealizadas
e concebidas. Atualmente, com a crescente disponibilidade de ferramentas
para o desenvolvimento de modelos paramétricos e modelos destinados à
fabricação digital, a inserção dessas características como ferramenta de 89
projeto permite ao projetista testar soluções sobre diversas condicionantes
que permeiam o processo de projeto, principalmente no que se refere a
aspectos construtivos.
A experiência da dinâmica da parametrização e da dinâmica da
fabricação digital desde a etapa de concepção de projeto permite o
desenvolvimento de geometrias complexas, desde o controle de suas
propriedades a análises de variáveis estruturais, de conforto ambiental e
também estético. À medida que cresceram a complexidade dos projetos e
a capacidade dos recursos computacionais, surgiu a necessidade de se
utilizar uma abordagem mais sistêmica, bem como surgiram os programas de
simulação baseados em sistemas dinâmicos, uma metodologia de simulação
digital a fim de compreender formas complexas, o qual faz parte do
conceito do pensamento sistêmico para a resolução de problemas.
A fabricação digital, assim como os softwares que permitem a
parametrização tem mostrado resultados inovadores, aliando eficiência,
rapidez e precisão ao processo de projeto. O potencial que estas novas
tecnologias trazem à produção e ao gerenciamento de projetos amplia o
processamento tridimensional de formas, colaborando na compreensão
espacial e no desenvolvimento de modelos que podem ser prototipados
(CELANI, VAZ e PUPO, 2013). A dinâmica da parametrização e a dinâmica da
fabricação digital permitem projetos versáteis e de diferentes aplicações,
pois, uma vez definido os dados paramétricos, a alteração da modelagem
torna-se muito mais ágil.
Ao introduzir os conceitos de parametrização (aspectos do projeto
traduzidos em números), fabricação digital (produção de elementos que
podem ser construídos como resultado de processos digitais), e dinâmica de
sistemas (análise de sistemas complexos e dinâmicos), neste subcapítulo
objetiva-se apresentar o funcionamento da simulação do modelo utilizando
a dinâmica de sistemas no software Dynamo, contemplando o estudo de
massas, análises e o processo da fabricação digital.
3.5.1 Dinâmica da Parametrização

O atual estágio do parametrismo está relacionado com o avanço


contínuo das tecnologias de programação digital, técnicas sofisticadas
paramétricas e modelação paramétrica. O parametrismo emerge da
exploração criativa de sistemas de desenho paramétrico, tendo em vista
articular processos de projeto cada vez mais complexos. Trabalha no sentido
da complexidade organizada (regida por regras) que assimila trabalhos 90
paramétricos aos sistemas naturais, onde todas as formas são o resultado de
forças que interagem por meio de regras. Assim como os sistemas naturais, as
composições paramétricas são integradas e não podem ser facilmente
decompostas em subsistemas independentes (SCHUMACHER, 2009, p.17,
tradução nossa).
As características do parametrismo são devidas ao avanço na
arquitetura de sistemas, nos scripts, processos de projeto, softwares, novas
técnicas de modelagem paramétrica, novas possibilidades de materiais e
técnicas construtivas. Como podemos observar nas figuras 50 e 51, formas
regidas por dados paramétricos.
Os parâmetros são aspectos do projeto traduzidos em números que
são conectados as entidades geométricas do modelo digital. Projetar com
parâmetros exige o estabelecimento da série de princípios paramétricos e a
criação do modelo que inclui elementos geométricos definidos por suas
variáveis mutáveis, agindo como um sistema de informação interligado
(KOLAREVIC, 2000).

Figura 50 - Evolutionary Computation, Jens Mehlan, Christoph Opperer, Jorg


Hugo, 2006. Fonte: Architectural Design, 2009, p. 73.
91

Figura 51 - CODE [9], Patrik Schumacher Studio, 2014. Disponível em:


<http://drl.aaschool.ac.uk/portfolio/code-9/>. Acesso em: 18 mar. 2016.

A descrição paramétrica de formas é um meio particularmente


versátil de representação de curvas e superfícies complexas. Os valores dos
parâmetros podem ser modificados e assim alterando a forma da curva, sem
que a sua descrição fundamental expressa pelos dados fornecidos seja
alterada (KOLAREVIC, 2003).
O maior valor da parametrização é a ''capacidade de definir,
determinar e reconfigurar as relações geométricas'' (BURRY e MURRAY, 1997).
Em formas muito complexas, a parametrização é fundamental para o
controle holístico e para os processos dinâmicos da forma.
Os processos dinâmicos intervêm no conceito de forma dinâmica,
onde o adjetivo ''dinâmico'' não se refere somente a uma forma flexível que
pode ser modificada ao longo do tempo, mas também se refere ao processo
criativo do trabalho, isto é, fluxos contínuos fazem parte de formulação
programática, das fases do projeto e da construção (OXMAN, 2005).
A forma vai sendo gerada através da manipulação de comandos,
dentro de regras estabelecidas pelo usuário. Nesse processo dialogam
geometria e parâmetros e a forma vai sendo editada, transformada,
decomposta ou fragmentada. Contudo, existem diferentes modos de gerar
a forma no ambiente virtual, tanto a forma livre quanto a forma como
resultado de parâmetros. Existem, assim, as ferramentas de modelagem de
formas complexas e as ferramentas que geram formas a partir de uma
sequência de dados ou ideias traduzidas pelos parâmetros, ambas definem
o comportamento transformacional da forma.
Na análise destas técnicas, Oxman e Liu em seu ensaio de 2004, e
também Dennis Dollens em 2002, demonstram que o computador, em alguns
casos, tem se tornado um coprotagonista da concepção e idealização do
projeto, quase um coprojetista, um colaborador na definição da forma
(ROCHA, 2011, p. 150).
De acordo com Oxman (2005, p. 253), a combinação das variáveis
geradas, transformadas e manipuladas, derivadas da parametrização, com
a interatividade geram formas de grande grau de precisão, no âmbito de 92
processos de projeto.
Desta forma, o modelo digital possui parâmetros para a modelagem
a partir de superfícies, extrusão, superfícies de revolução, modelagem sólida,
modelagem de formas livres, entre outros, que são representações
matemáticas da geometria tridimensional, desde uma linha simples 2D,
círculo, arco ou curva, à mais complexa superfície ou sólido 3D de formas
livres. Por conta de sua flexibilidade e exatidão, os modelos podem ser
usados desde processos de projeto até a fabricação nos processos de
prototipagem rápida (ROCHA, 2011, p. 143).

3.5.2 Dinâmica da Fabricação Digital

A inovação tecnológica que as áreas de projeto e indústria da


construção civil têm alcançado nas últimas décadas se deve, em grande
parte, ao rápido desenvolvimento da indústria da computação, o qual tem
introduzido novas técnicas, estabelecido novos desafios e criado novas
ferramentas na rotina dos arquitetos. Desta forma, vem se tornando possível
utilizar modelos geométricos digitais diretamente para a produção de
artefatos físicos, desde maquetes em escala e protótipos em tamanho real
até peças finais para a construção civil (MITCHELL e McCULLOUGH, 1995).
Nas áreas de arquitetura, engenharia e construção, hoje, o
processamento tridimensional tem se tornado processo padrão em vários
procedimentos, fazendo da prototipagem rápida e da fabricação digital
grandes aliadas dos novos desafios do processo de projeto. Um dos principais
benefícios do desenvolvimento cada vez maior de seu uso é a opção de ter
a visualização como grande colaboradora da compreensão espacial, bem
como complemento e caminho para a confecção de modelos rapidamente
prototipados. Essa nova possibilidade tem causado um enorme impacto
desde o início do processo de projeto até a sua construção, contribuindo
para mudanças na forma de projetar e em sua produção, automatizando
tarefas e introduzindo novas tecnologias (MITCHELL e McCULLOUGH, 1995).
A tecnologia da fabricação digital está reconfigurando a relação
entre a concepção e a produção de formas, criando uma inter-relação
entre o que pode ser concebido e o que pode ser construído. Processos
digitais estão abrindo novos territórios na exploração de conceitos, formas e
tectônicas destas formas, articulando a morfologia e topologia focada em
propriedades emergentes e suas adaptações. Isto habilita o projetista a 93
produzir e executar formas muito complexas que, até há pouco tempo, não
poderiam ser projetadas e construídas com os meios tradicionais (ROCHA,
2011, p. 149).
Pode ser exemplificado na utilização de prototipagem rápida, que
gradualmente estão sendo incorporadas, não somente a possibilidade de
construir formas livres ou buscar formas, como também a possibilidade de
gerar formas aliadas aos conceitos da dinâmica de sistemas e pré-
fabricação.
Assim, estabelecem-se interdependências entre elementos e a
definição de comportamentos desses elementos durante as transformações
formais. Um exemplo do processo de fabricação digital pode ser visto nas
figuras 52 e 53, o projeto Metropol Parasol (2004-2011), Sevilla – Espanha, do
escritório Jürgen Mayer H. Architects. O projeto compõe 3.000 peças de
madeira, a maior estrutura em madeira do mundo, o qual conforma seis
guarda-sóis em forma de cogumelos.
Os métodos de produção automatizada de peças modeladas
digitalmente podem ser categorizados segundo sua finalidade, segundo o
número de dimensões com que trabalham, e ainda segundo a maneira
como produzem os objetos. No que refere-se a sua finalidade, eles podem
ser destinados à produção de protótipos, ou seja, modelos de avaliação,
conhecidos como métodos de prototipagem (prototyping). E a produção de
produtos finais, como elementos construtivos para serem empregados
diretamente na obra, são referidos como sistemas de fabricação
(fabrication) ou de manufatura (manufacturing) (CELANI e PUPO, 2008, p. 2).
94

Figura 52 - Metropol Parasol, Jürgen Mayer H. Architects (2004-2011).


Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.130/4066>. Acesso
em: 08 abr. 2016.

Figura 53 - Metropol Parasol, Jürgen Mayer H. Architects (2004-2011).


Disponível em:
<http://estruturasdemadeira.blogspot.com.br/2011/02/metropol-parasols-
sevilla-espanha.html>. Acesso em: 08 abr. 2016.

A professora Regiane Trevisan Pupo (2008, p. 5) descreve em etapas o


processo de fabricação digital de um elemento construtivo, desde sua
concepção até a colocação na obra, a partir de um modelo digital:
 Concepção da forma arquitetônica;
 Construção do elemento construtivo;
 Preparação do modelo a serem concebidos dados
paramétricos;
 Análises;
 Acabamento;
 Elementos construtivos prontos para serem inseridos na obra;
 Localização dos elementos construtivos; 95
 Finalização.

Entre as técnicas e métodos utilizados no processo de projeto três


terminologias retratam como ferramentas digitais de controle na geração da
forma, porém com conceitos e características diferentes, são o modelo
paramétrico, o modelo de informação da construção e a fabricação digital.
A plataforma BIM pressupõe o modelo paramétrico em sua funcionalidade,
porém nem todo modelo paramétrico pressupõe a plataforma BIM. Os
sistemas BIM abrangem um conjunto de programas e aplicações
computacionais, que incluem sistemas e subsistemas de análise, de estrutura,
mecânicos, de automação e controle da construção, de gestão, entre
outros. Depois da programação orientada ao objeto e a forma, os sistemas
puderam ser integrados a um modelo digital 3D. BIM é uma plataforma
preparada para construção através da fabricação digital, no entanto, nem
sempre isso acontece (ROCHA, 2011, p. 153).
É possível fabricar elementos através da prototipagem rápida sem
necessariamente o objeto ter sido projetado através da plataforma BIM.
Embora sejam associados a questões de alto desempenho e produtividade
durante a elaboração do projeto, pode-se dizer que o projeto paramétrico
tem uma ação forte na geração da forma; por outro lado, a plataforma BIM
possui vínculo com as técnicas de prototipagem rápida, propiciando a
fabricação digital dos componentes (ROCHA, 2011, p. 153).
A diferença entre os novos métodos de produção baseados em
modelos digitais e os antigos métodos de produção de massa é que os novos
métodos de produção não se destinam a produzir cópias idênticas de um
mesmo produto. Pelo contrário, constituem-se em sistemas suficientemente
adaptáveis para produzir um grande espectro de formas diferentes, ou seja,
mass customization, produção massificada personalizada (CELANI e PUPO,
2008, p. 1).
3.5.3 Dinâmica de Sistemas

A metodologia System Dynamics é utilizada para analisar sistemas


complexos e dinâmicos. Criada em 1961 pelo professor Jay W. Forrester, do
Massachusetts Institute of Tecnology – (MIT), foi consolidada na engenharia
como área de aplicação inicial, mas atualmente é uma ferramenta para
análise de sistemas administrativos, sociais, econômicos, físicos, químicos,
biológicos e ecológicos (OLIVEIRA, NOVAES e DECHECHI, 2003). 96
Hoje, existem no mercado vários softwares baseados em System
Dynamics. A grande vantagem destes softwares, em relação aos baseados
em outras metodologias, é a sua flexibilidade e abrangência. Os softwares
baseados em System Dynamics permitem, por exemplo, modelar um
processo de produção industrial, atrelado a este, o sistema contábil-
financeiro, e se necessário o mercado em que esta empresa estaria inserida
ou até mesmo o sistema socioeconômico. Tudo isso em um modelo
geralmente impossível de ser resolvido pela análise matemática, porém,
possível de ser construído sem exigir, do usuário, avançado conhecimento de
matemática (STERMAN, 2000).
A modelagem é algo criativo e individual de cada usuário, fruto de
uma maneira sistêmica de ver o mundo, no qual há vários caminhos para
simular um mesmo modelo, tal modelo dependerá do software empregado,
ferramentas e dados paramétricos fornecidos.
O System Dynamics foi a metodologia que fundamentou o
desenvolvimento de softwares como Dynamo, Stella, Vensin e Ithing. Estes
softwares possibilitam metamorfoses em objetos e entre objetos, articulações
dinâmicas entre as partes de objetos e a aplicação de forças externas ou
internas ao objeto (ROCHA, 2011).
A aplicação de uma variável de força, como uma condição inicial,
torna-se a causa, tanto do movimento, quanto de inflexões específicas da
forma. A simulação dinâmica leva em consideração os efeitos das forças no
movimento de um objeto ou de um sistema de objetos, especialmente a
força não originada no próprio sistema: são definidas as propriedades físicas
dos objetos, tais como massa, elasticidade, estática, atrito cinético, entre
outras; são aplicadas forças da gravidade ou do vento; são especificadas
forças de colisão e de detecção de obstáculos e simulações dinâmicas
computadorizadas. Portanto, a forma pode estar sujeita a uma evolução
contínua, pelo uso da animação e de técnicas de simulação de força, que
podem representar fluxos de pessoas ou de tráfego, fenômenos
meteorológicos ou qualquer outro tipo de força (ROCHA, 2011, p. 150).
3.5.4 Interface Gráfica de Programação do Software Dynamo

O software Dynamo, da Autodesk, fornece uma interface de


programação visual que permite personalizar determinado modelo, de
forma a facilitar a análise de soluções conceituais e o comportamento de
elementos e dados paramétricos. 97
A programação visual do software Dynamo é um conceito que
oferece aos usuários meios para a construção de relações programáticas
utilizando um gráfico de interfaces. Ao invés de escrever determinado
"código" a partir do zero, o usuário é capaz de combinar relações
personalizadas por ligação dos nós em conjunto para fazer um determinado
algoritmo personalizado. Isto significa que o usuário pode obter formas a
partir de conceitos computacionais, sem a necessidade de escrever o
código (Figura 54 e 55) (AUTODESK, p. 3).
Dynamo é um plug-in para o Autodesk Vasari e Revit que permite ao
processo de projeto, automação personalizada através de uma interface de
programação visual com nós, fios, pontos, vetores, linhas, sólidos, parâmetros.
São dadas as capacidades de manipulação de dados, estruturas relacionais
e controle geométrico que não são possíveis em uma interface de
modelagem convencional, pois o software justamente é programado para
cálculos de sistemas complexos. Além disso, é possível aproveitar as formas
pré-estabelecidas e os fluxos de trabalho de concepção computacional
dentro do contexto de um ambiente BIM (AUTODESK, p. 3).
98

Figura 54 - Programação visual através de nós no software Dynamo.


Disponível em: https://bim.edu.pl/en/szkolenia/revit-projektowanie-
parametryczne-dynamo/>. Acesso em: 08 abr. 2016.

Figura 55 - Face interativa do software Dynamo com o Revit. Disponível em:


<https://bim.edu.pl/en/szkolenia/revit-projektowanie-parametryczne-
dynamo/>. Acesso em: 08 abr. 2016.

Segue algumas das características que o software Dynamo permite:

 Programação visual aliada ao software Revit e Vasari;


 Geometria extraída do Revit;
 Geometria Dynamo: nós, fios, pontos, vetores, linhas, sólidos,
parâmetros;
 Gerenciamento dos parâmetros do modelo de construção do
Revit;
 Análise de condicionantes, análise estrutural;
 Opções de formas conceituais paramétricas pré-
estabelecidas;
 Flexibilidade paramétrica;
 Componentes adaptativos;
 Automatização de tarefas; 99
 Nós customizados, funcionalidade personalizada para reutilizá-
los;
 Fluxos de trabalho interoperáveis para documentação,
fabricação, coordenação, simulação e análise;
 Importar e exportar dados de documentação, análises e
fabricação para planilhas Excel;
 Estruturas de controle para a criação, posicionamento e
visualização de geometria.

As ligações dos scripts (fios) que determinam a sequência da


programação no software Dynamo conectam-se entre nós (pontos de
concentração dos scripts da programação) para criar relações e
estabelecer um fluxo de programa, pode-se pensar como fios elétricos, que
carregam impulsos de informações de um objeto para o outro. É uma forma
visual amigável encontrada pelos programadores para transmitir a usuários
comuns (não especialistas) a sequência de processos que na linguagem
máquina se fazem através de scripts digitados. Assim, esses fios ''ligam'' a
saída de um nó (onde há uma ordem do programa) para a entrada de outro
nó, aparecem como traços ao serem arrastados e linhas sólidas quando
conectados com sucesso, o que facilita o entendimento por parte do usuário
de que, o que está tentando fazer de fato acontecerá. Os nós podem
representar elementos do Revit como pontos de referência, ou operações
como funções matemáticas com entradas e saídas. E cada nó obtém
dados, códigos, parâmetros que se conectam em conjunto com os fios para
formar um programa visual.
Os portos são as áreas retangulares, os receptores para os fios. A
informação flui através dos portos, que estão à espera de receber certo tipo
de dado, por exemplo, um nó pode-se conectar com entradas e saídas XYZ,
que são os pontos de coordenadas no espaço, ou conectar com os pontos
de referência, que são os elementos do Revit (Figura 56) (AUTODESK, p. 11 e
12).

100

Figura 56 - Exemplo de nós, fios e portos no software Dynamo. Fonte:


Dynamo: Visual Programming for Design, p. 12.

A figura 57 retrata uma treliça metálica, sendo um componente


adaptativo, o qual foi desenvolvido a partir de três curvas e a matriz XYZ.
Determina-se a posição espacial de cada nó da curva, e ao fornecer os
dados de cada nó, obtemos as treliças em função da geometria das curvas.

Figura 57 - Exemplo de uma treliça adaptativa no software Dynamo. Fonte:


Dynamo: Visual Programming for Design, p. 25.

No painel de manipulações do software também é possível obtermos


dados de análises de condicionantes, como exemplo na figura 58, a análise
do modelo construído a partir de dados como a posição do sol, data e local.
Com a simulação solar, verificamos que o software Dynamo fornece os
dados de tamanho de cada montante e painel. Os tamanhos dos painéis
variam a fim de estarem ideais para o projeto e os resultados das análises são
extraídas como planilhas Excel.

101

Figura 58 - Exemplo de análise solar no software Dynamo. Fonte: Dynamo:


Visual Programming for Design, p. 39.

3.5.5 Dinâmica da Simulação do Modelo

O estudo de caso é o modelo do complexo multifuncional


apresentado neste capítulo, escolhido de natureza exploratória e qualitativa,
com abordagem que visa compreender a percepção e o comportamento
da simulação de um modelo, aliado à aplicação da fabricação digital
desenvolvida no software Dynamo.
Como já mencionado, os métodos utilizados abordam desde o
processo de conceituação de projeto até a sua finalização. Este processo
dividiu-se em duas etapas, os quais, em diversos momentos se cruzaram,
tornando o entendimento da forma e suas possíveis soluções mais precisos:

 Processo Criativo: conceituação e modelagem no software


Revit;
 Processo de Fabricação Digital: estudo de massas a
finalização no software Dynamo;

O processo de fabricação digital foi desenvolvido no software


Dynamo juntamente com auxílio do software Revit, foi possível, assim,
organizar estes processos no computador, do modelo para as
representações espaciais e para o conjunto final do modelo integrado, a fim
de permitir o processo de fabricação contemplando: conceito, análises,
estrutura, pisos, painéis e a finalização (Figura 59-65).

102

Figura 59 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. Fonte:


Esquema da autora.
103

Figura 60 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa


conceito). Fonte: Esquema da autora.
104

Figura 61 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa


análises). Fonte: Esquema da autora.
105

Figura 62 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa


análises). Fonte: Esquema da autora.

Figura 63 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa


estrutura). Fonte: Esquema da autora.
106

Figura 64 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa pisos).


Fonte: Esquema da autora.

Figura 65 - Processo de fabricação digital do estudo de caso. (Etapa


painéis). Fonte: Esquema da autora.
Na etapa de conceituação, a volumetria foi desenvolvida a partir de
uma curva fechada desenhada no ambiente de massa no software Revit.
Posteriormente a criação da geometria no Dynamo, especificando os
parâmetros como a altura do topo, o deslocamento do topo em relação aos
eixos X ou Y, rotação da base em relação ao eixo Z e rotação do topo em
relação ao eixo Z, permitindo assim a criação automática da massa no Revit,
podendo ainda ser manipulada através do Dynamo (Figura 66).
107

Figura 66 - Etapa de conceituação do estudo de caso. Fonte: Modelo da


autora.

Na etapa de análises de condicionantes e georeferenciamento,


foram especificadas informações como data, hora e posicionamento do sol,
o qual permitiu a análise de insolação sobre uma determinada superfície da
massa, extraindo assim, todos os dados para o Excel. O cálculo foi feito com
base na direção do sol e no produto escalar das normais da superfície da
massa em diversos pontos (Figura 67).

Figura 67 - Etapa de análises de condicionantes do estudo de caso. Modelo


da autora.
Na etapa da elaboração da estrutura do modelo, a modelagem
iniciou-se primeiramente no software Revit, a partir da malha estrutural
definida em steel frame e steel deck e do posicionamento dos pilares, que
foram usados como referências para posicionamento das vigas. Após as
vigas inseridas foram colocadas as lajes. Todas as vigas e os elementos que
compõe a laje foram modelados, completando o modelo estrutural do
edifício.
No software Dynamo a massa criada foi importada para o projeto, 108
permitindo assim a criação dos níveis de forma automática utilizando a
solução Dyno Browser a fim de gerar os pisos de massa. A criação dos pisos
de massa foi gerada automaticamente no Revit a partir dos níveis criados,
que serviram como geometria de base para a determinação das alturas dos
pilares estruturais. Devido à forma orgânica da massa foi desenvolvido um
método de "engaiolamento" da mesma no Dynamo para elaboração da
estrutura. Os pilares de seção circular também foram gerados
automaticamente, e por fim, ocorreram os ajustes dos pilares no Revit (Figura
68).

Figura 68 - Etapa da elaboração da estrutura do estudo de caso. Fonte:


Modelo da autora.

Na etapa da elaboração dos pisos, foram gerados automaticamente


no Revit, tomando por base os pisos de massa, sendo possível a edição dos
mesmos em diversos aspectos, como por exemplo, acabamentos, materiais
estruturais, espessura total. Desta forma, foi possível avaliar também
diferentes comportamentos de materiais de revestimento, manipulando suas
variáveis, tolerâncias (Figura 69).

109

Figura 69 - Etapa da elaboração dos pisos do estudo de caso. Fonte:


Modelo da autora.

Na etapa da elaboração dos painéis, a partir da seleção das faces


da massa, os painéis foram gerados automaticamente no Revit. Definido o
vidro temperado laminado para as fachadas, possibilitou também estudar as
articulações dos perfis metálicos que suportam os vidros, que auto se ajustam
de acordo com a forma do volume e dados paramétricos (Figura 70).

Figura 70 - Etapa da elaboração dos painéis do estudo de caso. Fonte:


Modelo da autora.
Compondo assim, o modelo em sua totalidade, colaborando na
compreensão espacial e ao gerenciamento do projeto, o qual amplia o
processamento tridimensional. A simulação do modelo constitui-se em um
sistema suficientemente adaptável para produzir um grande espectro de
formas diferentes, personalização de massas e o modelo digital apto ao
desenvolvimento da produção de artefatos físicos, desde maquetes em
escala e protótipos em tamanho real até peças finais para a construção civil,
devido a documentação, informações e dados que possam ser extraídos do 110
modelo (Figura 71).

Figura 71 - Finalização do estudo de caso. Fonte: Modelo da autora.

A aplicação de um modelo de simulação utilizando a dinâmica de


sistemas possibilitou maior flexibilidade e abrangência como alternativa de
compreender os processos da fabricação digital.
O pensamento sistêmico é um instrumento valioso para a
compreensão da complexidade das formas, e a simulação baseada em
System Dynamics possibilita o surgimento de capacidades como a visão
sistêmica, emprego da informação como ferramenta de trabalho,
visualização de estratégias e composições formais, capacidade criadora e
de concepção de projetos.
3.6 Percepção do Espaço Virtual

Seria necessário um olhar analítico sobre os processos de representação da


arquitetura na busca de uma estrutura dos aspectos determinantes desses
processos na era digital. Com isso em vista, chegamos a uma formulação
em torno do qual o trabalho se consolida: espaço, tempo e percepção. Os
dois primeiros conceitos, espaço e tempo, servem como pano de fundo a
toda discussão, uma vez que são entidades fundamentais para configurar o
nosso objeto, a arquitetura. É em torno do terceiro conceito, o de 111
percepção, que está a legitimidade do trabalho, ao entendermos que é por
meio da percepção que se revela a complexidade e o significado da
arquitetura na era digital. [...] Assim, nesse contexto a questão geral com a
qual a arquitetura se relaciona quando se virtualiza é a percepção
(PIAZZALUNGA, 2005, p. 10).

A compreensão dos processos da percepção não só orienta o


entendimento do significado da arquitetura da era digital, como também
serve para definir sua espacialidade e como subsídio aos processos de
concepção, organização e de representação de tais espaços (Figura 72). A
experiência do espaço virtual pode ser entendida como uma unidade de
sensações perceptivas, em busca da construção de ambientes virtuais, no
qual a percepção espacial pode ser vista como experiências de espaço e
tempo.
Renata Piazzalunga (2005, p. 18-20), comentando os trabalhos de
Pierre Lévy e de Derrick de Kerckhove, discute como no espaço virtual a
arquitetura, que sempre foi refém do par possível / real - e que, portanto
esteve sempre atrelada à realização -, liberta-se desse estado que delimita
seu processo criativo à instância do realizável. Essa possibilidade significa
uma mudança de toda a estrutura do pensamento arquitetônico. Ela rompe
com a separação entre o processo de representação. Até então, o primeiro,
fundamentalmente subjetivo, estabelecido pelo processo criativo e abstrato,
ao ter de se revelar como algo realizável no mundo concreto, desprendia-se
de sua natureza qualitativa e dinâmica e passava a um estado de natureza
quantitativa, mensurável e estática. No domínio virtual, os processos de
concepção e representação do espaço unificam-se de tal forma que o
espaço já não é uma construção predeterminada, mas um campo dinâmico
de relações potenciais (PIAZZALUNGA, 2005).
112

Figura 72 - Processos de concepção do modelo. Fonte: Esquema da autora.

A experiência do espaço virtual indaga uma série de fatores


imponderáveis que intervém no processo da percepção espacial, tais como
extrair novos modelos, comportamentos, parâmetros, referências, uma série
de elementos que contribuem nossa percepção e identificam as
particularidades ou diferenças em simulações do espaço.
A percepção digitalizada da espacialidade abre um leque de
possibilidades de representações que permite a análise de diferentes
imagens (virtuais ou físicas, uma vez que podem ser vistas no monitor ou
plotadas) do modelo desenvolvido num determinado programa (Figura 73).
113

Figura 73 - Diferentes tipos de representação do modelo. Fonte: Modelo da autora.

Diversas técnicas de representação permitiram desenhos cada vez


mais realistas. Uma suma significativa de recursos econômicos, intelectuais e
tecnológicos foram aplicados para a busca da fidelidade do objeto
representado e a intenção de representar o mundo visível.
A simulação é a representação formalmente digitalizada de
ocorrências do mundo físico, tais como: ações, movimentos, expressões,
lugares, etc. Formas e aspectos do espaço físico são transferidos para o
virtual. Nesse sentido, a simulação é a idealização, no virtual, de um cenário
para exploração de vivências (PIAZZALUNGA, 2005, p. 27).
Através da experiência no espaço virtual podemos programar
recursos tecnológicos de representação dinâmica, e através da simulação
podemos obter uma realidade virtual do espaço, o qual se define pela
apresentação de um modelo em forma de um sistema de imagens virtuais
infinitas, que cria um ambiente tridimensional interativo que pode ser
experimentado por quem o manipula (Figura 74-78). Assim, entendemos a
virtualização como condição de experiência tanto no espaço físico, como
no espaço virtual.

114

Figura 74 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora.

O espaço virtual se converte em parte da visualização conceitual do


projetista (até porque pode ser considerada uma visualização real, de um
objeto real, ainda que simulado, que se apresenta na imagem digital),
embora este não tenha imaginado um resultado final. Os espaços virtuais se
integram com os espaços conceituais (mentais), imaginados pelo projetista,
entra-se assim no ciclo da parceria criativa entre computadores e projetistas
onde a indeterminação do computador está no mesmo nível de igualdade
que a visão, o capricho e o espírito do arquiteto. Como afirma Dollens (2002,
p. 15, tradução nossa), citando a Malcom McCullough, ''a computação
digital tem expandido nossa capacidade de visualizar estruturas simbólicas
abstratas como imagens físicas''.

115

Figura 75 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora.

Figura 76 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora.


116
Figura 77 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora.

Figura 78 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora.

As imagens virtuais, como já apontamos anteriormente, quando


renderizadas em softwares paramétricos 3D, são consequências de projetos
desenvolvidos e modelados nesses ambientes, e trazem com elas, ainda,
todas as informações dos elementos de arquitetura projetados. Pois, antes da
utilização das ferramentas que geram tais imagens, ferramentas de
visualização de espaços, utilizamos as ferramentas conceituais e
organizacionais que a parametrização permite.
A característica de gerar imagens virtuais e armazenar todas as
etapas de projeto e informações define as relações entre concepção do
projeto e o seu resultado final. O arquivo terá todo o ciclo de vida do projeto
e o edifício construído em ambiente virtual. Isto não só exige a compreensão
das noções de elementos construtivos, como também as limitações e
possibilidades desses elementos conduzidos virtualmente.
A modelagem de elementos construtivos e a aplicabilidade de
materiais devem chegar o mais próximo possível do real, pois, assim como no 117
passado era através do desenho que arquitetos e demais profissionais
comunicavam suas intenções de projeto para empreiteiros e construtores,
assim, os arquitetos que trabalham com programas de modelagem
paramétrica estabelecem nos dados contidos no modelo todas as
informações necessárias para a execução do objeto.
Obviamente os modelos parametrizados estabelecem inúmeras
vantagens sobre seus antepassados analógicos, uma vez que existem
inúmeros tipos de representações de materiais com precisão em meio virtual,
ou seja, quando renderizados (Figura 79-81), materiais, pinturas,
revestimentos, texturas hiper-realistas, como também existem ferramentas
que simulam verdadeiras propriedades físicas de objetos, tais como
refletividade, incandescência, transparência, difusa, especular, brilho,
excentricidade, cor, sombra, contraste, entre outros. Contudo, cabe a quem
projeta a obrigação de ter conhecimento das possibilidades do material
empregado e do componente utilizado.
Evidentemente, a capacidade de simular a realidade depende do
conhecimento que o projetista tenha dessa realidade. Talvez seja este
justamente o empecilho maior para a utilização deste tipo de tecnologia nos
processos de aprendizagem nos cursos de arquitetura. O domínio do
ambiente construtivo, não só dos materiais, mas também dos processos de
construção e das condicionantes estruturais e metodológicas demandados
por esses processos, fazem dos softwares paramétricos ferramentas para
profissionais muito treinados.
118

Figura 79 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora.

Figura 80 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora.

Figura 81 - Perspectiva do modelo. Fonte: Modelo da autora.

Mas, para esses profissionais os programas permitem, habilitam seria a


palavra certa, abrir possibilidades de análise e de realização únicos. Por
exemplo, ao examinar as condições de acessos, circulações, uso e
apropriação do espaço, os ambientes virtuais permitem simular e
experimentar formas e aspectos do espaço físico, envolver as inter-relações
da proposta de projeto com as capacidades do software, bem como
identificar estratégicas compositivas, seus aspectos programáticos e sua
concepção estrutural.
Projetar um complexo multifuncional utilizando a tecnologia BIM
possibilitou cenários espaciais virtualizados e demonstrou a permeabilidade 119
espacial e a multifuncionalidade como alternativas de compreender
processos perceptivos e de representação espacial.
A simulação digital permite o livre jogo da geometria para além das
limitações de desenhos e modelos tradicionais em escala, pois utiliza
processos computacionais de cálculos poderosos o suficiente para alcançar
resultados impossíveis para humanos em tempos tão curtos (alguns
segundos), e insere uma nova camada de representação entre imaginação
e arquitetura de forma amigável e imediata. A tradução da ideia à
realidade agora encontra dois estados intermediários, imaginação e
simulação digital para dimensionar modelos de arquitetura em grande
escala, contudo, modelos em escala (Figura 82) são muitas vezes ainda
desejáveis (TALBOTT, 2006, p. 140, tradução nossa).
120

Figura 82 - Maquete física do modelo. Fonte: Modelo da autora.

Embora o desenho seja o meio de expressão e comunicação mais


utilizado pelos arquitetos, não se pode ignorar a presença do modelo
tridimensional, como outra ferramenta do sistema de representação em
arquitetura. É sob esse panorama, na busca pela perfeição da obra, e
consequentemente sua beleza, que o modelo tridimensional se mostrou um
instrumento de enorme importância e eficácia no desenvolvimento e
amadurecimento da ideia do arquiteto (BASSO, 2005, p. 1).
CONCLUSÃO

A compreensão das atividades do design e suas variadas técnicas de


representação dinâmica juntamente com a experiência no espaço virtual
através do modelo digital, demonstraram que as novas técnicas e
ferramentas digitais conceberam novas bases de pensamento
fundamentado no ambiente digital que é muito parecido com o ''ambiente
mental'', redefinindo o modo representacional da arquitetura, bem como,
121
promovendo novas relações entre ferramentas, representações e processos
cognitivos e conceptivos.
No acelerado processo de informatização do mundo
contemporâneo percebemos com facilidade a importância que as
ferramentas digitais assumem na atividade de projeto em relação à
construção do conhecimento como mediadoras de um complexo processo
cognitivo que envolve capacidade de percepção, abstração, reflexão e
comunicação, não sendo restritivo desde os pontos de vista da criatividade
e produtividade.
A representação de um objeto permite alcançar um novo
conhecimento do mundo real, na tentativa de lhe conferir uma ordem a
partir daquilo que se vê, daquilo que podemos e sabemos representar. O
aspecto projetivo da arquitetura explora essa tendência, pois o objeto que é
capaz de produzir é um objeto de desejo, algo que não existe, mas
gostaríamos que existisse. Nossa experiência de séculos se abre, e se
sustenta, nesse sentido do real e do possível que somos capazes de exprimir
nas representações.
Com a recente evolução dos sistemas de simulação juntamente com
a tecnologia, percebemos que o constante aumento da potência dos
computadores proporciona o surgimento de novos programas e com isto
novas possibilidades de realização de projetos e multiplica as possibilidades
de suas projeções. Destarte, estamos perante um novo e mais radical
paradigma sobre como projetamos e observamos. Estes novos programas,
possibilitam ao arquiteto controlar e experimentar melhor as propostas de
projeto com novas respostas formais e técnicas, mais complexas, em
qualquer fase do projeto, e explorar as relações espaciais mesmo antes da
concretização, através, por exemplo, de perspectivas e modos de
visualização tridimensionais.
Condicionar as práticas de design atualizando-as com os novos
processos de conhecimento do mundo digital significa acompanhar uma
mudança na maneira de projetar que questiona os procedimentos
acumulados até o momento.
Novas condições de experiência podem ser estabelecidas, como, por
exemplo, os processos de virtualização, as presenças virtuais e a realidade
ampliada, pois o espaço virtual estimula as sensações perceptivas.
Entretanto, em tempos de alta tecnologia certos conceitos parecem 122
ser colocados de lado, ofuscados pelo brilho de imagens tão realistas e ricas
em detalhes, sem conhecimento de que, quando renderizadas em softwares
paramétricos 3D, as imagens virtuais são consequências do projeto
desenvolvido e modelado, trazendo com elas todas as informações do
projeto.
O uso da tecnologia BIM ou de qualquer outra tecnologia por si só,
não tem o papel de resolver todos os problemas de gestão de informação
durante o período de concepção do projeto, até o decorrer de seu ciclo de
vida. É fundamental o entendimento da necessidade de analisar e atualizar
os processos envolvidos, o processo de projeto integrado deve promover a
compreensão global do modelo, através da comunicação contínua entre os
agentes envolvidos. BIM é uma nova forma de pensar a arquitetura quando
o objetivo é projetar e construir edificações com uso dos projetos integrados
com novas práticas de trabalho.
A aplicabilidade prática do conceito BIM em projetos em geral,
visando um processo colaborativo através de um projeto integrado, implica
em uma mudança nas práticas adotadas na gestão tradicional de projetos
como também no seu pós-uso.
O verdadeiro potencial da tecnologia e o domínio do sistema BIM são
consequências de seu uso, contudo, o primeiro passo é o entendimento
deste conceito que dá suporte ao sistema em si para que o profissional tome
conhecimento das possibilidades que esta nova tecnologia pode oferecer.
Esforços individuais não chegam a atingir o principal objetivo do BIM, que é a
integração absoluta do projeto e dos membros das equipes participantes do
processo com o mundo construído. O importante é uma sensibilização
coletiva para adoção de sistemas compatíveis.
Projetar em ambiente virtual possibilitou cenários espaciais e
ferramentas conceituais como alternativas de compreender processos
perceptivos e de representação espacial, visto que, a compreensão dos
processos da percepção orienta o entendimento do significado da
arquitetura na era digital.

A simulação digital do modelo possibilitado pelos processos de design


paramétrico e a representação dinâmica digital, foi impulsionado pela
necessidade e pela possibilidade da fidelidade visual, consolidando assim
pensamentos e experiências de caráter visual na concepção do projeto
como uma constante no processo, tanto pela memória de situações 123
espaciais vivenciadas quanto pela ''experiência'' que a própria virtualidade
que se apresenta nas representações dinâmicas permite.
Na busca de tal integridade, a organização espacial no software
proporcionou dinamizar o uso e a ocupação dos espaços, além dos
percursos virtuais, as técnicas de representação e modelagem, juntamente
com o envolvimento das ferramentas computacionais, possibilitaram simular
e experimentar formas edificáveis e aspectos do espaço físico, assim como
controlar os aspectos específicos do espaço físico, a fim de obtermos uma
realidade virtual do espaço.
Com a chegada da tecnologia computadorizada à indústria da
construção, muito se tem modificado no modo em que essas são idealizadas
e concebidas. Atualmente, com a crescente disponibilidade de ferramentas
para o desenvolvimento de modelos paramétricos e modelos destinados à
fabricação digital, a inserção dessas características como ferramenta de
projeto permite ao projetista testar soluções sobre diversas condicionantes
que permeiam o processo de projeto, principalmente no que se refere a
aspectos construtivos.
A experiência da dinâmica da parametrização e da dinâmica da
fabricação digital desde a etapa de concepção de projeto permite o
desenvolvimento de geometrias complexas, desde o controle de suas
propriedades a análises de variáveis estruturais, conforto ambiental e
também estético. À medida que cresceram a complexidade dos projetos e
a capacidade dos recursos computacionais, surgiu a necessidade de se
utilizar uma abordagem mais sistêmica, bem como surgiram os programas de
simulação baseados em sistemas dinâmicos, uma metodologia de simulação
digital a fim de compreender formas complexas, o qual faz parte do
conceito do pensamento sistêmico para a resolução de problemas.
Ainda que, o pensamento sistêmico é um instrumento valioso para a
compreensão da complexidade das formas e a simulação baseada em
System Dynamics possibilitou no estudo de caso, o surgimento de
capacidades como a visão sistêmica, emprego da informação como
ferramenta de trabalho, visualização de estratégias e composições formais,
capacidade criadora e de concepção de projetos.

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131

APÊNDICE 1.

IMPLANTAÇÃO DA PLATAFORMA BIM


ANALISADA EM QUATRO ESCRITÓRIOS
DE ARQUITETURA
A1. IMPLANTAÇÃO DA PLATAFORMA BIM ANALISADA EM QUATRO
ESCRITÓRIOS DE ARQUITETURA

A plataforma BIM pode ser um importante instrumento para criar um


ambiente mais colaborativo e possibilitar a gestão e avaliação do projeto
em todo o seu ciclo de vida, no qual as diferentes disciplinas possam integrar
um modelo que reúne todos os aspectos das etapas da construção civil.
132
Para isso, é considerável o envolvimento das equipes de projeto, bem como
dos escritórios de arquitetura cientes das mudanças necessárias para o êxito
da implantação da plataforma.
Nesse contexto, o trabalho analisa a implantação da plataforma BIM
em quatro escritórios de arquitetura nas cidades de São Paulo, Campinas e
Curitiba, levantando os problemas e as dificuldades encontradas. O material
foi colhido por meio de um protocolo de pesquisa com coleta de dados,
documentos, entrevistas e contato direto com os escritórios. Por fim,
constatamos claramente as mudanças nos processos de projeto em cada
escritório e fizemos uma análise comparativa dessas informações.

A1.1 Objetivo do Estudo

Para analisar a implantação da plataforma BIM em escritórios que já


usam softwares compatíveis com essa tecnologia, formulamos 10 questões
como protocolo de entrevista, a fim de obter dados de cada empresa, suas
atividades e seus planejamentos.20 Mais precisamente, informações como:
 Dados da tecnologia de informação existente;
 Planejamento inicial;
 Como foram adquiridos os novos computadores;
 Como se implantou a tecnologia BIM;
 As dificuldades encontradas;
 Os métodos de trabalho;
 As mudanças no processo de projeto;
 A padronização dos processos de desenvolvimento de
projetos;
 Como foram os treinamentos;

20 As questões integraram uma pesquisa em desenvolvimento na Universidade São Judas Tadeu,


no Programa de Pós-Graduação e Mestrado em Arquitetura.
 Como foram escolhidas as equipes de projetos;
 A dinâmica do desenvolvimento dos projetos;
 Como foram adquiridos os softwares que suportam a
tecnologia BIM.

Pesquisaram-se quatro escritórios de arquitetura, dois deles sediados


em São Paulo, um em Campinas e outro em Curitiba (Figura 1).
133

Figura 1 – Escritório de arquitetura, sua localização, tipologia de projetos,


modo da entrevista e data da pesquisa. Fonte: A autora.

A Nova TTS Gerenciamento e Projetos é uma empresa de pequeno


porte e representa grande parte dos escritórios de arquitetura brasileiros, em
que o arquiteto proprietário também desenvolve todos os projetos (estudos
preliminares a complementares), com o auxílio de estagiários. As informações
foram colhidas via web. Essa entrevista foi definida como estudo-piloto para
o estabelecimento de critérios e da ordem das questões para as outras, por a
empresa ser menor e o contato, mais acessível. Daí derivaram os
procedimentos adotados para a coleta de dados, a estrutura, a descrição
das informações e a análise da pesquisa aplicados aos demais estudos de
caso.
O escritório Carolina Righetto Arquitetura BIM é de médio porte e
demonstrou muito conhecimento em projetos desenvolvidos com a
plataforma BIM e crescimento contínuo com seus conceitos e métodos.
Tendo sido presencial, a entrevista rendeu mais informações.
A Contier Arquitetura é um escritório de grande porte e, pioneira na
implantação de BIM, encontra-se em estágio avançado, com processo
consolidado e planejamentos definidos. Essa empresa demonstrou que é
possível, por meio de um bom plano, alcançar eficiência em projetos
desenvolvidos com a plataforma BIM, apesar das dificuldades iniciais. A
entrevista foi concedida via web.
Finalmente, a Aflalo & Gasperini Arquitetos, também de grande porte,
tem uma equipe técnica específica para desenvolver projetos usando BIM, e 134
isso lhe dá um rápido retorno em termos de resultados, uma vez que os
profissionais são qualificados e receberam treinamento. As informações
foram colhidas por telefone, numa reunião marcada com o coordenador
BIM do escritório.
Todas as entrevistas foram precedidas por uma apresentação geral
da pesquisa, sua estrutura e suas etapas, ressaltando seu principal objetivo:
verificar como os escritórios de arquitetura usam a plataforma BIM no
desenvolvimento de projetos. Assim, o entrevistado tinha inteira liberdade
para inserir itens e observações adicionais às questões.
A entrevista foi dividida em quatro etapas: (1) coleta de dados gerais
da empresa, (2) verificação das ferramentas e dos sistemas utilizados pela
empresa, (3) verificação dos processos de projeto, uso do BIM, equipes aptas
aos novos processos e suas dificuldades, e (4) reflexões da empresa sobre as
tendências da plataforma BIM para o futuro.
Agrupamos as respostas por pergunta para comparar o
posicionamento dos entrevistados imediatamente, pois o estado da arte
neste momento é mais importante do que o posicionamento de cada
agente.

A1.2 Questões para Orientação das Entrevistas

1. Quais os objetivos principais da empresa ao adotar a tecnologia BIM?


(Instrumentos para o planejamento da empresa, missão, objetivos e
expectativas com o sistema BIM.)
AFLALO & GASPERINI: A empresa já havia ouvido falar da tecnologia BIM,
que mudaria as relações de desenvolvimento de projeto e documentação e
as representações de projeto para a obra. Com isso, entendido o conceito
de BIM, os objetivos foram alterar a forma de desenvolver os projetos.
CAROLINA RIGHETTO: Nós acreditamos que podemos melhorar a arquitetura
por meio do BIM. O objetivo principal da nossa empresa é levar essa
tecnologia e seus valores agregados para o mercado em geral. Assim,
começamos a melhorar a metodologia dos projetos, o planejamento de
obra, os quantitativos, os orçamentos e a gestão de obra. Tudo isso dentro
do BIM!
CONTIER ARQUITETURA: O momento de transição traz oportunidades de
cooperação. O objetivo é não impor padrões, e sim disponibilizar 135
informações para o mercado, linkar com bases de dados, com a
expectativa de que o sistema deve ser aberto para irmos mais rapidamente
ao 5D.
NOVA TTS GERENCIAMENTO E PROJETOS: Os maiores objetivos são estar em
tempo real no campo da obra, mesmo estando no escritório, e controlar
custos, quantificar os materiais juntamente com o orçamento etc.

2. Qual foi o software utilizado para elaborar os projetos em BIM? Como foi
reconhecer a necessidade de adquirir hardwares e softwares?
AFLALO & GASPERINI: O software foi o Revit. Como o escritório tem bastante
contato com a Autodesk, a própria Autodesk indicou o Revit, por ser o mais
utilizado para projetos em geral e com mais ferramentas para a modelagem
da construção, informando também as configurações mínimas de hardwares
para o desenvolvimento de projetos em Revit.
CAROLINA RIGHETTO: Os softwares que usamos são da Autodesk, pois eles
disponibilizam mais material didático para o público em geral e conversam
muito bem com outros formatos de arquivo existentes no mercado. As
máquinas, consequentemente, têm que atender a alguns requisitos mínimos
para uma melhor performance no trabalho.
CONTIER ARQUITETURA: Entre outros pioneirismos, o escritório foi a primeira
empresa no Brasil a adotar a plataforma de projeto Revit, em 2002. Também
usamos a plataforma de colaboração ProjectWise, da Bentley, com
tecnologia de ponta.
NOVA TTS GERENCIAMENTO E PROJETOS: O software foi o Revit, que
conhecemos em palestras e workshops. Nesses eventos, me convenci de que
é válido apostar nas tecnologias e novidades que existem à nossa
disposição.
3. Como foi a escolha do primeiro projeto a ser desenvolvido em BIM? Quais
foram as maiores dificuldades encontradas no desenvolvimento desse
projeto?
AFLALO & GASPERINI: Foram dois os primeiros projetos em Revit, em 2009: o
primeiro com tipologia mais simples, projeto de edifício de escritórios com
plantas sem muitas variações, e o segundo de múltiplo uso, com três
edificações, sendo duas de escritórios e uma residencial. As dificuldades
nesses projetos eram relativas a hardware, questões de ferramentas 136
específicas de construção e o próprio entendimento de BIM e do software.
CAROLINA RIGHETTO: O escritório já nasceu BIM, mas não no estágio em que
estamos hoje. Sempre brinco que podemos tratar a implantação de BIM
como o desenvolvimento de uma pessoa. Primeiro nascemos, depois
engatinhamos, depois aprendemos a caminhar e então começamos a
correr. Se o escritório quiser implantar BIM e sair correndo como um adulto, a
chance de cair no meio do caminho é alta.
CONTIER ARQUITETURA: Edifício B32, da Faria Lima Prime Properties, primeiro
empreendimento privado no Brasil de grande porte e alta complexidade
que teve todos os projetos executivos desenvolvidos em BIM. Certamente
representou um desafio extra para o projeto executivo e, se não fosse em
BIM, o processo acarretaria imprecisões, erros de quantidade e outros
problemas, e também não teríamos 160 plantas e 470 folhas A0 no mesmo
cronograma. Nesse contrato, pela primeira vez se exigiu compatibilização
em BIM dos projetos de arquitetura com mais de 20 projetos de outras
disciplinas.
NOVA TTS GERENCIAMENTO E PROJETOS: O primeiro projeto foi a construção
de um edifício faixa 1 financiado pela Caixa Econômica. Como o escritório
tem parceria com a Caixa para desenvolver projetos do Programa Minha
Casa Minha Vida, escolhemos esse edifício como projeto piloto. A maior
dificuldade foi que não tínhamos prática em executar projetos no Revit, o
qual implicou muito tempo perdido até chegarmos a conhecer as
ferramentas.

4. A empresa buscou suporte externo (centros de treinamento e consultoria)


para implantar o sistema BIM na empresa? Se sim, como foi definida a equipe
a ser treinada? A empresa mantém a equipe atualizada, buscando novos
cursos, palestras e eventos na área?
AFLALO & GASPERINI: Primeiramente, foi definida uma equipe de quatro
pessoas com um coordenador para fazer um curso de Revit de 40 horas
oferecido pela própria Autodesk. Depois, não houve suporte externo nem
consultoria, e a equipe inicial foi treinando outras pessoas no escritório. O
escritório participa sempre de palestras com equipes voláteis, não sendo as
quatro pessoas que iniciaram o curso de Revit; hoje; essas pessoas participam
de outras equipes de projeto.
CAROLINA RIGHETTO: Há uma série de parceiros com quem trocamos
informações o tempo todo. Sem eles, o crescimento contínuo não seria
possível. A informação tem que circular para ser efetiva e validada. As 137
palestras e os eventos que frequentamos são ótimos lugares para essa troca
de informação qualificada.
CONTIER ARQUITETURA: A equipe e o fluxo de trabalho foram redesenhados
para acomodar o uso simultâneo do modelo virtual pelos diversos agentes,
bem como para otimizar as revisões decorrentes desse processo.
NOVA TTS GERENCIAMENTO E PROJETOS: Sim. A equipe foi composta por seis
projetistas que usavam AutoCAD. Sempre que surgem novos cursos, o
escritório busca consultoria para passar o treinamento para essa mesma
equipe e, sempre que há eventos ou workshop, o escritório cobre os custos
das inscrições e investe para que pelo menos dois projetistas compareçam a
esses eventos. Este ano, por exemplo, dois projetistas foram ao evento da
Autodesk University.

5. Como era a equipe de projeto antes da implantação do BIM? Como eram


cumpridas as etapas de projeto no modo tradicional? A composição da
equipe de projeto mudou depois da implantação do BIM?
AFLALO & GASPERINI: As equipes sempre foram escolhidas de acordo com a
complexidade de cada projeto, mudando sua composição também de
acordo com o projeto. As etapas de projeto no modo tradicional eram
realizadas no AutoCAD, no qual era difícil visualizar e compatibilizar os
projetos.
CAROLINA RIGHETTO: Quando um membro novo entra para a nossa equipe,
ele precisa acreditar na nossa motivação e estar alinhado com nossos
valores. BIM é algo que se aprende com o uso contínuo. Vontade, garra e
persistência já têm de estar dentro da pessoa, junto com a vontade de
sempre fazer o melhor e ir mais longe!
CONTIER ARQUITETURA: Na minha equipe, todos são arquitetos. Trabalho com
menos gente, mas muito mais qualificada. O BIM se ensina em uma semana.
É preciso ter arquitetos experientes em projeto executivo. No workflow
tradicional, o projeto era dividido em fases (anteprojeto, básico e executivo,
por exemplo), e uma disciplina precisava terminar para outra começar.
NOVA TTS GERENCIAMENTO E PROJETOS: Antes da implantação os projetos
eram todos feitos em AutoCAD, ou seja, demorava muito para chegarmos
aonde queríamos; todos os projetos eram feitos individualmente. Com o BIM,
trabalhamos em rede: cada projetista é responsável por uma área do
projeto; assim, estamos otimizando o tempo, o que era perdido no CAD.
138
6. Ao desenvolver projetos em BIM, procuraram profissionais qualificados no
sistema BIM?
AFLALO & GASPERINI: Como dissemos antes, houve a equipe inicial de quatro
pessoas sem nenhum conhecimento em BIM; hoje; o conhecimento em Revit
é requisito mínimo no escritório para a contratação de arquitetos ou outros
profissionais.
CAROLINA RIGHETTO: Quando comecei a montar minha equipe, sempre
procurei pessoas que tivessem muita vontade de fazer o que amam. Os pré-
requisitos básicos eram saber o mínimo de Revit, mas não só isso. Para entrar
na minha equipe, tem de ter muita força de vontade e garra para fazer o
melhor e se superar a cada projeto!
CONTIER ARQUITETURA: Em projetos complementares, por exemplo, a saída
seria treinar engenheiros. E não há engenheiros disponíveis. Isso permite
compreender por que o segmento está tão atrasado.
NOVA TTS GERENCIAMENTO E PROJETOS: O BIM é uma ferramenta antiga,
mas está chegando agora ao Brasil – poucos profissionais dominam a
ferramenta. Portanto, contratamos profissionais com experiência em
AutoCAD e os qualificamos para trabalhar com BIM.

7. Com a adoção da plataforma BIM, como foram as etapas de projeto em


BIM? (Estudo de viabilidade, estudo preliminar, anteprojeto, projeto legal,
projeto executivo, entre outros.)
AFLALO & GASPERINI: As etapas de projeto não mudaram, pois são padrão
do escritório em todos os projetos. O que mudou foi que, com o BIM, o
escritório exigiu que os profissionais terceirizados para o desenvolvimento de
projetos complementares também fizessem seus projetos em BIM, o que hoje
ainda não ocorre satisfatoriamente, pois eles não dominam totalmente a
ferramenta.
CAROLINA RIGHETTO: Desde o início do estudo de massa e viabilidade,
conseguimos ter uma visão mais concreta de como será o projeto.
Finalizadas essas etapas, partimos para a seguinte de maneira bem definida
e aumentando o LOD (level of development) até a quantificação final.
CONTIER ARQUITETURA: Começamos a usar o Revit em 2002, de forma
pioneira. Meus clientes nunca souberam que projetávamos em BIM. Como a
licitação da sede da Petrobras em Santos exigia que as informações fossem
extraídas de um único modelo, todas as etapas do projeto foram
desenvolvidas em BIM. Atualmente, gerencio 28 disciplinas na plataforma.
Isso deve mudar o panorama do mercado, já que estamos falando de uma 139
empresa de porte passando a contratar apenas em BIM.
NOVA TTS GERENCIAMENTO E PROJETOS: Estamos totalmente integrados ao
BIM. Hoje na empresa, fazemos todos os projetos 100% BIM.

8. Ao desenvolver projetos em BIM, foram elaborados templates e bibliotecas


de famílias exclusivas para o escritório? Foram adaptadas as simbologias
bidimensionais conforme o padrão do escritório? (Cotas, símbolo de norte,
corte, elevações, entre outros).
AFLALO & GASPERINI: Sim, uma equipe específica desenvolveu templates e
bibliotecas. Todas as simbologias bidimensionais do escritório foram
importadas para o Revit.
CAROLINA RIGHETTO: Desenvolvemos templates e famílias que atendam à
nossa arquitetura e à nossa representação gráfica, para manter um padrão
arquitetônico que facilite cada dia mais nossa produção e nosso
desenvolvimento dos projetos.
CONTIER ARQUITETURA: O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior me contratou para criar um grupo de famílias para projetos
de empreendimentos do MCMV dentro das normas de coordenação
modular. As famílias estão disponíveis gratuitamente, mas eu fui pago para
isso. A biblioteca segue junto com o modelo do edifício. Não há como travar
essa informação.
NOVA TTS GERENCIAMENTO E PROJETOS: Sim, adaptamos algumas
simbologias usadas no escritório.

9. Quais foram as principais dificuldades encontradas na adoção da


tecnologia BIM?
AFLALO & GASPERINI: A principal dificuldade é que nem todos os profissionais
de projetos complementares trabalham com o Revit, o que demanda mais
tempo para compatibilizar projetos. A maioria dos profissionais de
complementares exportam o modelo BIM para outros softwares,
desenvolvem seus projetos e nós importamos para o Revit as informações
desses projetos, para que o arquivo se torne modelo único.
CAROLINA RIGHETTO: A principal dificuldade foi a barreira cultural do cliente,
que usa o método tradicional CAD e funciona. Assim, ele dificilmente vê ou
entende por que deve optar pela metodologia BIM.
CONTIER ARQUITETURA: As maiores dificuldades foram a modelagem em 4D e
5D e de clash detection. O 5D exige acoplar o modelo à base para extrair
custos, etapa para a qual as empresas não estão preparadas. Em vez de 140
usar o BIM para fazer o plano de ataque à obra, apenas giram o modelo,
sem vinculá-lo a um software de gerenciamento.
NOVA TTS GERENCIAMENTO E PROJETOS: A maior dificuldade é implantar
algo novo em um escritório que estava acostumado com o AutoCAD, mas
nossos resultados surpreenderam até quem dizia que não ia dar certo e que
não conseguiria aprender a lidar com a ferramenta. Hoje, repito, aqui é 100%
BIM.

10. Quais são as reflexões sobre as tendências do BIM para o futuro?


AFLALO & GASPERINI: É inevitável usar BIM, no melhor sentido. A ideia é que
não só o escritório e arquitetos se beneficiem do modelo BIM, mas também o
cliente, a construtora, a obra. A ideia é que todos entrem no esquema do
uso do BIM.
CAROLINA RIGHETTO: BIM é presente e futuro, não tem mais como voltar. E
quem não se adaptar vai ficar para trás. Se renovar sempre, sem deixar de
fazer o que ama: esse é o segredo!
CONTIER ARQUITETURA: Rastreabilidade e confiabilidade da informação,
consistência do projeto e menos retrabalho. É vantajoso para os clientes que
querem, de fato, extrair informações do modelo.
NOVA TTS GERENCIAMENTO E PROJETOS: Posso dizer que no Brasil todas as
construtoras e escritórios vão se adaptar ao BIM. Tenho certeza de que ele
vai crescer muito aqui no Brasil e afirmo: quem não estiver qualificado vai sair
do mercado. Hoje, as empresas não querem só um cadista, e sim um
modelador BIM, aquele que conhece o passo a passo de obra, modela,
sabe mais a fundo o que é uma construção.
A1.3 Resultados e Análise

Os quatro escritórios selecionados para participar das entrevistas já


conheciam e usavam softwares compatíveis com a plataforma BIM. Quando
a implantaram, buscavam uma ferramenta que oferecesse mais
possibilidades para o escritório e que também atendesse às expectativas dos
clientes. Inicialmente, a plataforma BIM começou a ser usada para poupar
tempo na execução dos projetos, mas, depois, verificou-se que os benefícios 141
vão além da qualidade das vistas de apresentação dos projetos.
Apesar das diferenças entre os escritórios – tamanho, métodos de
projeto, perfil da empresa –, constatamos que as quatro empresas têm
intenções semelhantes com a adoção da plataforma BIM.
Comparando as quatro empresas, verificamos que as que têm mais
recursos financeiros e máquinas com mais capacidade de armazenamento
de arquivos obtêm retorno mais rápido. Por exemplo, os escritórios Contier
Arquitetura e Aflalo & Gasperini Arquitetos planejam adquirir novos
computadores, conhecem dados de tecnologias de informação disponíveis
no mercado e sabem os requisitos mínimos que os softwares exigem.
A seguir, expomos a análise individual dos escritórios, ressaltando que
todos cederam imagens de projetos desenvolvidos em BIM, mostrando
diferentes propostas de projeto com o uso dessa plataforma.
A Nova TTS Gerenciamento e Projetos citou diversos benefícios
decorrentes do uso da plataforma, como a velocidade de projeto, resolução
e antecipação de problemas, controle de custos, controle do passo a passo
da obra, melhoria da representação e visualização do projeto, fatores que
representam um diferencial para o cliente. E a maior dificuldade citada para
o desenvolvimento de projetos do Programa Minha Casa Minha Vida foi que
inicialmente não tinham prática em executar projetos no software Revit, o
que resultou em muito tempo perdido até chegarem a conhecer as
ferramentas. Com o BIM, o trabalho passou a ser feito em rede: cada
projetista é responsável por uma área do projeto, que é modelado em
arquivo único (Figura 2).
142

Figura 2 – Residenciais Guaianazes I,II, III e IV. Fonte: TTS Gerenciamento e


Projetos. Disponível em: <http://www.novatts.com.br/projetos/residenciais-
guaianazes-iii-iii-e-iv>.

O escritório Carolina Righetto Arquitetura BIM destaca que, com a


implantação da plataforma, as equipes de projetos puderam visualizar as
diferentes propostas durante a resolução dos projetos e que mesmo durante
as reuniões de projeto é possível resolver problemas, mostrando o projeto de
uma maneira dinâmica, antecipando soluções, poupando tempo de
reunião e de desenvolvimento do projeto.
Em contratos de projetos, o escritório citou casos em que o cliente
tem certa resistência à plataforma, que ainda usa o método tradicional CAD
ou não conhece os conceitos e as possibilidades da plataforma BIM. No
entanto, a arquiteta gestora não vê essa resistência como um problema, e
sim como um desafio para melhorar a arquitetura por meio de BIM e envolver
a nova tecnologia e seus valores agregados no mercado em geral.
Com o conhecimento de BIM que a equipe tem hoje, melhoraram
não só a metodologia dos projetos, mas também o planejamento de obra,
os quantitativos, os orçamentos e a gestão de obra, desde o início do estudo
de massa e viabilidade até conseguir uma visão mais concreta de como
será o projeto.
Predominam no escritório projetos para o mercado imobiliário, bem
como maquetes eletrônicas de ambientes internos desenvolvidas em
softwares 3D como lobby, sala de jogos, sala gourmet e áreas privativas etc.;
por exemplo, o Projeto KG (Figura 3).
143

Figura 3 – Projeto KG. Fonte: Carolina Righetto Arquitetura BIM.


Disponível em: <http://www.carolinarighetto.com.br/>.

O escritório Contier Arquitetura, que hoje só recebe contratos para


projetos desenvolvidos em BIM, foi pioneiro nessa tecnologia e uma das
primeiras empresas no Brasil a adotar o software Revit, em 2002.
Vale ressaltar que a maior dificuldade para o escritório Contier
Arquitetura foi acoplar o modelo com o 5D para extrair custos, assim como
usar softwares de gerenciamento, que não são tão comuns no mercado –
por exemplo, a plataforma de colaboração ProjectWise, da Bentley –,
enquanto a maior dificuldade dos outros escritórios foi entender as
dimensões 3D e 4D.
Os principais objetivos do escritório ao adotar a plataforma BIM foram
antecipar problemas de compatibilização dos projetos por meio de clash
detection, detectar interferências, ter todos os documentos de projeto,
quantitativos e memoriais de forma organizada, permitir que equipes de
diferentes disciplinas trabalhem simultaneamente no modelo digital etc. O
escritório demonstra que, por meio de um bom plano, é possível alcançar
eficiência em projetos desenvolvidos com a plataforma BIM.
Como mencionado na entrevista, o Edifício B32 (Figura 4-6) foi o
primeiro empreendimento privado no Brasil de grande porte e alta
complexidade que teve todos os projetos executivos desenvolvidos em BIM.
O escritório relata que, além do arquitetônico modelado, teve mais de 20
outras disciplinas compatibilizadas, o que foi um desafio para o projeto
executivo e o cronograma de obra.
144
Figura 4 – Edifício B32, Primeiro Edifício Corporativo Projetado em BIM. Fonte:
Contier Arquitetura. Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/o-
primeiro-edif%C3%ADcio-corporativo-totalmente-projetado-em-contier>.

Figura 5 – Edifício B32, Primeiro Edifício Corporativo Projetado em BIM. Fonte:


Contier Arquitetura. Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/o-
primeiro-edif%C3%ADcio-corporativo-totalmente-projetado-em-contier>.

Figura 6 – Edifício B32, Primeiro Edifício Corporativo Projetado em BIM. Fonte:


Contier Arquitetura. Disponível em: <http://contier.com.br/edificios-
comerciais/edificio-petrobras-sede-bacia-de-santos>.

O escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos está em fase avançada do


uso da plataforma BIM (Figura 7). Os primeiros testes começaram em 2005,
desenvolvendo projetos piloto na plataforma BIM paralelos ao mesmo
projeto em AutoCAD.
Antes da implantação, o escritório procurou entender os conceitos de
BIM para mudar a forma de desenvolver os projetos. Durante o processo, as
dificuldades encontradas nos projetos eram relativas a hardware, software e
questões de ferramentas específicas de construção.
O coordenador BIM do escritório conta que o processo de
implantação começou com uma equipe de quatro pessoas que fizeram um
curso de Revit de 40 horas oferecido pela Autodesk. Não havendo suporte
externo nem consultoria, a equipe inicial foi treinando outras pessoas no
escritório, e as equipes foram escolhidas de acordo com a complexidade de
cada projeto. 145
Ainda hoje, a principal dificuldade do escritório é que nem todos os
profissionais de projetos complementares trabalham com o Revit, o que
demanda mais tempo para compatibilizar projetos. O escritório relata que
grande parte dos profissionais de projetos de outras áreas exportam o
modelo BIM para outros softwares, desenvolvem seus projetos e os entregam
para que o escritório importe para o Revit as informações desses projetos,
para que o arquivo se torne modelo único.
Hoje, o conhecimento em Revit é requisito mínimo no escritório para a
contratação de arquitetos e outros profissionais.

Figura 7 – Projeto Habitarte. Fonte: Aflalo & Gasperini Arquitetos. Disponível


em: <http://aflalogasperini.com.br/blog/project/habitarte/>.

Como constatamos nos casos mencionados, identificamos as reais


necessidades de um escritório de arquitetura quanto ao planejamento e
desenvolvimento de projetos em BIM. Vários pontos discutidos mostram que é
preciso conhecer os conceitos da plataforma BIM antes de implantá-la. O
profissional responsável pela implantação de BIM deve buscar informações
sobre novos processos de trabalho, aquisição de novos equipamentos,
elaboração de padrões BIM e treinamentos para a equipe de projeto.
De modo geral, os escritórios estudados implantaram a plataforma
para melhorar o processo de projeto. De diferentes maneiras, cada escritório
identificou suas necessidades, adaptou o programa a seus padrões,
capacitou uma equipe e adequou as mudanças metodológicas à nova
plataforma. Assim, foi possível avaliar os resultados obtidos.
Por meio da análise das etapas, dos processos, dos instrumentos e das 146
ferramentas utilizadas, podemos entender os benefícios decorrentes da
implantação de BIM, tal como a redução do tempo de elaboração do
projeto e de sua representação, a agilidade do entendimento e da
visualização da proposta, a rapidez da elaboração de novas propostas e a
maior precisão na compatibilização com os projetos complementares.
Pelos dados coletados, percebemos que, para uma implantação
eficiente da plataforma BIM, é fundamental que haja um líder BIM, pois é ele
que coordena o desenvolvimento dos projetos e a equipe técnica e
identifica as necessidades do projeto e o que precisa ser modelado.
A disparidade na adoção entre projetistas, arquitetos e construtoras
faz com que o uso do BIM ainda seja permeado por problemas de
compatibilidade no Brasil. No entanto, usuários pioneiros afirmam que os
benefícios em produtividade compensam as dificuldades.

A1.4 Considerações Finais

Com o crescente processo de informação e de integração de dados


no mundo contemporâneo, percebemos facilmente a importância das
ferramentas digitais na atividade de projeto, nos novos processos de projeto
e nos novos planejamentos no que tange à construção de conhecimento e
ao entendimento da plataforma BIM.
Ainda há um longo caminho a percorrer no setor de projetos da
construção civil. Nota-se que é necessária uma maior participação de
fornecedores e outros projetistas no processo como um todo, para que se
extraiam mais vantagens da plataforma. Alinhar o desenvolvimento do
processo de projeto usando a plataforma BIM com as reais necessidades dos
escritórios de arquitetura ainda pode ser considerado um grande desafio
para a indústria da construção civil no Brasil.
Por outro lado, o uso da plataforma BIM ou de qualquer outra
tecnologia não pode, por si só, resolver todos os problemas de gestão de
informação desde a concepção do projeto até o fim de seu ciclo de vida. É
ainda fundamental entender a necessidade de analisar e atualizar os
processos envolvidos; o processo de projeto integrado deve ensejar a
compreensão global do modelo, por meio da comunicação contínua entre
os agentes implicados. BIM é uma nova forma de pensar a arquitetura
quando o objetivo é projetar e construir edificações com projetos integrados 147
a novas práticas de trabalho.
148

APÊNDICE 2.

ARQUITETURA BIODIGITAL:
INFORMAÇÃO DA VIDA EM
ARQUITETURA
A2. ARQUITETURA BIODIGITAL: INFORMAÇÃO DA VIDA EM ARQUITETURA

Estudos sobre os processos biológicos em relação à concepção de


uma arquitetura mais próxima dos sistemas computacionais generativos e
experimentações do mundo natural, demandam do uso do ambiente virtual
e software paramétrico e generativo que possibilitam processos de projeto
inspirados na biologia, contribuindo para a criação de espaços e formas que
refletem o funcionamento da natureza e uma arquitetura auto organizável, 149
adaptativa e evolutiva.
Os modos de produção, organização e evolução das informações
dos processos biológicos podem servir como métodos aos processos de
projeto digital, da mesma maneira que os processos biológicos evolutivos
podem ser incorporados de modo real aos processos de projetos
arquitetônicos.
Neste contexto, observamos que as relações entre a arquitetura e
biologia partem do pensamento em como realizar uma arquitetura que
interaja com seu contexto ecológico, evolua com ele, promova a redução
de impacto ambiental, favoreça sustentabilidade, valorização dos hábitos e
práticas de uma sociedade.
Este trabalho abre espaço para uma reflexão em direção a
construção dos modos de se fazer arquitetura que tenham em seus
processos a interdisciplinaridade da ecologia, biologia, ambiente virtual com
os processos de projeto digital.

A2.1 Tecnotopismo e o Grupo Metabolista

Nos anos 60 uma nova geração de arquitetos apresentou a utopia


como resposta ao descontentamento produzido pela situação da
arquitetura e urbanística pós-modernas, dadas às limitações impostas por leis
e normas. Suas propostas, na maioria, teóricas e inviáveis, eram associadas a
aspirações físico-espaciais com possibilidades tecnológicas visionárias
(CASTELNOU, 2010, p. 133).

A destruição da memória urbana, a proliferação de periferias e os


problemas de transporte e circulação, além das implicações ecológicas dos
anos 60/70 levaram vários arquitetos a discutirem os modelos modernos e
proporem obras futuríveis baseadas em estruturas altamente complexas
(megaestruturas), com materiais, técnicas e ambientações muito
sofisticadas (COLIN, 2004). 21 Denominou-se tecnotopia como o conjunto
dessas propostas que, baseando-se em parâmetros técnico-construtivos,
desenvolveu propostas de espaços fantásticos, [...] enfatizava uma
metodologia pseudocientífica que incentivava escolhas libertadoras,
visando a fundação de uma civilização urbana não-alienada, mas que
ainda associada à máquina (CASTELNOU, 2010, p. 133).

Assim, a tecnologia foi vista como solucionadora dos problemas


urbanos e ambientais tendo em vista a eficiência técnica, a questão da
150
qualidade do ambiente construído e novas propostas formais e espaciais.
Em 1959, arquitetos japoneses como Noboru Kawazoe e Kisho
Kurokawa, liderados por Kiyonori Kikutake (1928-) formaram o grupo
metabolista, propondo uma visão futura da cidade habitada pela
sociedade de massa, que se caracterizaria por grandes estruturas renováveis,
flexíveis e extensíveis, as quais permitiriam um processo de crescimento
urbano orgânico. Inspirado pelo problema da congestão urbana no Japão e
tomando como base a ideia de que as leis tradicionais de forma e função
estavam obsoletas, o metabolismo apoiava suas propostas nos conceitos de
reciclagem (substituição dos elementos) e flexibilidade (mudança constante
de uso) constantes. Os metabolistas concebiam a arquitetura como algo
móvel e efêmero, cuja forma deveria ser adaptável a uma sociedade
igualmente em processo. Portanto, a urbe deveria ser considerada um
sistema aberto e dinâmico o que permitiria transformações periódicas, nas
quais a ordenação do tráfego seria seu elemento essencial (CASTELNOU,
2010, p. 134).
A proposta Marine City (1958-1963) (Figura 1 e 2) de Kiyonori Kikutake
assume formas orgânicas e expansíveis, as torres residenciais retratam
árvores, sendo que as células cilíndricas podem ser adicionadas ou
removidas conforme necessário, e o alojamento está localizado na água.
Kikutake demonstra em seus projetos, utópicos e concretos, algo em comum:
a constante necessidade de prevalecer sobre a natureza, onde uma nova
arquitetura poderia surgir.

21 COLIN, S. Uma introdução à arquitetura. Rio de Janeiro, Uapê, 2000.


151

Figura 1 – Projeto Marine City, de Kiyonori Kikutake (esquerda). Disponível


em: <http://moussemagazine.it/metabolism-at-mori-art-museum-tokyo/>.
Acesso em: 24 out. 2015.
Figura 2 – Projeto Marine City, de Kiyonori Kikutake (direita). Disponível em:
<http://comover-arq.blogspot.com.br/2012/03/metabolismo-japones-parte-
2-ou-as.html>. Acesso em: 24 out. 2015.

Em 2014, o arquiteto Antxon Canovas, especialista em imagens 3D,


representou em meio digital no software Blender, o projeto Marine City
(Figura 3), em como a proposta das torres poderia estar nos dias de hoje.

Figura 3 – Representação digital do Projeto Marine City, 2014. Disponível em:


http://www.cgarchitect.com/2014/02/kiyonori-kikutakes-marine-city-1963-
unbuilt>. Acesso em: 24 out. 2015.
O projeto Clusters in the Air (1960-1962) (Figura 4 e 5), de Arata Isozaki
(1931-) é outra metáfora orgânica, também retratam árvores e a proposta
do conjunto é a habitação em cápsulas espaciais acopladas nos ramos do
tronco (circulação vertical). O conjunto aparenta monumentalidade, uma
brutalidade visual em formas geométricas modernistas.

152

Figura 4 e 5 – Maquete física do projeto Clusters in the Air (1960-1962).


Disponível em: <https://www.pinterest.com/pin/99923685455260345/>.
Acesso em: 24 out. 2015.

As teorias da tecnotopia e as propostas dos metabolistas aqui


mencionadas tem como finalidade associarmos aos conceitos da arquitetura
biodigital do século atual, que podemos considerar em comum às propostas
de espaços variáveis, flexíveis e eficientes como um organismo vivo, as
relações com as formas da natureza, reciclagem de materiais, elementos
adaptáveis, emprego de películas (células) móveis, sistemas autorreguláveis,
uso da tecnologia por computadores, criatividades arquitetônicas, entre
outros.
A2.2 Arquitetura Topológica e Processos Morfogenéticos

Englobando no termo arquitetura topológica, no qual apresenta


tendências científicas na arquitetura, esta segue o princípio da
desconstrução e depende de técnicas avançadas de animação por
computador para dar plasticidade e maleabilidade à forma arquitetônica.
Giuseppe Di Cristina (2001, p. 133) descreve o termo topologia
arquitetônica como a variação dinâmica da forma produzida pela 153
tecnologia em computador, softwares paramétricos. Uma arquitetura
destinada a ser complexa e orgânica, onde a forma geométrica é elástica
na sua capacidade para contorcer e em deformar um processo de
transformação contínua.

As geometrias descritas pela topologia não são constantes, mas em estado


de contínua transformação, capaz de absorver ou reagir a mudanças no
ambiente. A topologia significa que os elementos permanecem constantes
na medida em que todo o sistema sofre mudança, ou, de acordo com
Marcos Novak "essas relações permanecem constantes sob transformações
e deformações" (CRISTINA, 2001, p. 134).

As formas topológicas são computacionalmente possíveis desde que


matematicamente coerentes. Com o uso da geometria topológica, a
descrição matemática das curvas complexas é mantida, o que garante o
controle sobre as superfícies geradas. A mesma estrutura topológica pode se
manifestar em número infinito de formas, a partir da mesma descrição
geométrica. Isso é possível porque no espaço topológico a geometria não é
representada por equações implícitas, mas por funções paramétricas que
descrevem uma gama de possibilidades (KOLAREVIC, 2003).
Como exemplo da representação de arquitetura topológica com
princípios geométricos, citamos o edifício The Bubble (Figura 6), desenvolvido
pelo escritório Bernard Franken, sob o tema ''Energia Limpa'', que serviu por
duas vezes como pavilhão da BMW em exposições na Alemanha. O software
utilizado foi o Alias WaveFront, que simulou as forças físicas de atração entre
duas bolhas dotadas de massa unidas sobre a influência da gravidade.
154

Figura 6 - Bubble BMW Pavilion, Bernard Franken. Fonte: Kolarevic, 2003, p. 21.

Os softwares paramétricos destinados aos processos digitais e


biológicos podem apresentar modos de conceber, visualizar, gerar, desenhar
e modelar formas físicas a partir de elementos naturais, como conchas,
sementes, plantas, rochas, raízes, folhas, entre outros, onde cadeias de
informação permitem que a forma se torne arquitetura com uma maior
precisão, maior sustentabilidade, mais eficiência.
As tecnologias digitais, mais precisamente os parâmetros da
bioarquitetura, apontam para modelos eco sustentáveis, um meio de
representação que permite explorar uma nova arquitetura, novos espaços
de experiência e relacionamentos, onde o arquiteto define seus parâmetros
e modela formas a partir de organismos biológicos.
A abordagem dos processos generativos também chamados de
processos morfogenéticos constitui a aproximação dos parâmetros da
bioarquitetura ao discurso ecológico e buscam a aproximação com formas
ou processos de desenvolvimento de organismos da natureza. O tema é
amplo e difuso, disperso em várias linhas de pesquisa dentro das arquiteturas
geradas digitalmente, contudo, diversos pesquisadores como Michael
Hensel, Achim Menges e Michael Weinstock, fundadores do Emergence
Design Group na AA, além do núcleo Arquitecturas Genéticas da ESARQ-
UIC22, com os professores Alberto Estévez, Dennis Dollens, Karl Chu, Bernard
Cache e Ignasi Pérez Arnal estão entre os principais atores.
No projeto Honeycomb Morphologies (Figura 7) o arquiteto Andrew
Kudless procurou desenvolver uma estrutura em forma de favo de mel com o
sistema de dupla camada que permitisse que cada favo pudesse assumir

22 Escola Tècnica Superior d'Arquitectura da Universitat Internacional de Catalunya.


formas, posições e tamanhos diferentes em cada uma das peles. O processo
partiu de um elemento simples em forma de favo de mel formado por duas
tiras de papelão dobradas cortadas a laser. O elemento foi testado por meio
de maquetes físicas e avaliações morfológicas digitais a fim de investigar a
inter-relação entre a curva da superfície e as estruturas internas das células
de favo de mel. Os testes serviram para informar propriedades do material,
como por exemplo, o ângulo máximo de dobra do papelão, o tamanho
máximo de cada peça em função da folha e limitações da máquina de 155
corte. As restrições encontradas nos testes serviram de base para o
desenvolvimento algoritmo de geração de favos que definiu a morfologia
dos elementos como tiras dobradas (MENGES, 2007, p. 735 e 736).
Achim Menges (2007) afirma que o que torna inovador não é a
utilização dos algoritmos nem o emprego de alta tecnologia, e sim a
abordagem integral que relacionou diretamente modos de produção e
execução com a forma gerada digitalmente.

Figura 7 – Projeto Honeycomb Morphologies, Andrew Kudless, 2003. Fonte:


Menges, 2007, p. 735 e 736.
A2.3 Arquitetura Genética

[...] Em um mundo biológico, se trabalharmos com DNA como se fosse


software biológico, e em um mundo digital, se trabalharmos com o software
digital como se fosse DNA: esta é a aplicação mais original da genética na
arquitetura. A compreensão de DNA e do software são cadeias da mesma
informação, naturais ou artificiais, que produz ordens (ordem) para a auto-
organização, para o crescimento autônomo, processos de emergência,
156
para a estrutura, a forma e o surgimento da pele (ESTÉVEZ, 2010, p. 168,
tradução nossa).

Alberto T. Estévez (2010),23 em seu texto ''Application of Life information


in Architecture: Biodigital Architecture and Genetics'', menciona que existem
dois tipos de grupos destinados à arquitetura biodigital e pesquisa genética:
1. Trabalhar com "software natural" (DNA), com elementos vivos, com
aplicação real de processos genéticos de arquitetura, crescimento natural. A
pesquisa genética obtém elementos vivos, espaços úteis para arquitetura,
controle genético do crescimento para desenvolver células vivas que são
convertidas em materiais de construção por meio da sua concepção
genética específica, produzindo assim arquitetura 100% ecológica, reciclável
e sustentável;
2. Trabalhar com "DNA artificial" (software), com elementos de
computação, com aplicação real de processos cibernéticos de arquitetura
para a automatização da produção robotizada de arquitetura digital
projetada. Projeto digital e produção visto como um processo genético.
Sabendo-se que "o que pode ser tirado pode ser construído", pois o que
pode ser desenhado utilizando as ferramentas digitais tem um DNA digital
que permite a emergência automatizada, robotizada, autoconstrução e
crescimento artificial, utilizando tecnologias digitais por não produzir mais
modelos e sim moldes.
O trabalho de Estévez (2010) investiga uma série de fatores que
contribui para a arquitetura biodigital e genética, como:

23 Texto de Alberto T. Estévez, "Aplicação de informações da Vida em Arquitetura: Arquitetura


biodigital e Genética", em VV.AA., LIFE, in: Formação / Informações Responsáveis e Variações
em Arquitetura, p. 168-173. Ed. ACADIA, Nova Iorque (EUA), 2010. Disponível em:
<http://albertotestevez.blogspot.com.br/2014/01/bio-digital-architecture-genetics.html>. Acesso
em: 21 out. 2015.
 A bio-plasticidade moldada através da interação aleatória
de certos vírus que podem sofrer mutação do DNA de outros
seres;
 Uso de tecnologias diretamente para a produção de
arquitetura genética na escala 1:1;
 Investigação microscópica de pólen na forma de obter
cúpulas, telhados e painéis;
 Estudo do controle genético do crescimento celular, 157
tornando o tecido vivo como material de construção: massas
celulares que se tornam paredes vivas que emergem por si só;
 Estudos paramétricos a fim de obter mobiliários urbanos
(Figura 8);
 A criação genética de plantas bioluminescentes para uso
urbano e doméstico (Figura 9);
 Esponjas marinhas como, por exemplo, o projeto Biodigital
Skyscraper (Figura 10) devido a estudos experimentais
bioparamétricos para extrair as regras genéticas e os
parâmetros estruturais para aplicação digital com ferramentas,
ou seja, arte digital projetada devido ao DNA, entre outros.

Figura 8 - Biodigital Chair, Alberto T. Estévez, 2010. Fabricado digitalmente


com rasgos de madeira coberto com grama natural. Disponível em:
<http://geneticarchitectures.weebly.com/research_group.html>. Acesso em:
21 out. 2015.
158

Figura 9 - Genetic Barcelona, Alberto T. Estévez, 2003-2006. Folha da árvore


de limão com genes de água-viva bioluminescente (com a proteína GFP-
Fluorescente Verde). Disponível em:
<http://geneticarchitectures.weebly.com/research_group.html>. Acesso em:
25 out. 2015.

Figura 10 - Biodigital Skyscraper, Alberto T. Estévez, 2008-2009, Barcelona.


Detalhes da esponja marinha, resultados das implicações das regras
genéticas e estrutura da esponja biomicroscópica. Disponível em:
<http://albertotestevez.blogspot.com.br/2014/01/bio-digital-architecture-
genetics.html>. Acesso em: 21 out. 2015.
A2.4 Arquitetura Evolutiva

Na arquitetura evolutiva a forma emerge do processo constante


evolução da forma por meio do refinamento do modelo no processo
algorítmico (FRAZER, 1995). O processo se dá por meio da geração de
soluções dentre as quais o designer escolhe algumas que serão escolhidas
para continuar o processo evolutivo. A evolução genética da forma é
159
baseada em regras que definem o código genético da família de objetos
similares. A analogia com os aspectos evolutivos biológicos faz com que esse
tipo de processo também seja chamado de genético. O uso de algoritmos
genéticos para geração da forma é utilizado juntamente com as regras que
vão gerar as formas e definir como será sua evolução e desenvolvimento de
modo que possam ser mapeados em contextos específicos. Em outras
palavras, no processo evolutivo as formas eleitas para evoluir podem ter seu
desempenho avaliado dentro de ambientes simuladores (OXMAN, 2006). Ou,
como afirma John Frazer (1995):

Os conceitos arquitetônicos são expressos como regras geradoras de modo


que sua evolução e desenvolvimento podem ser acelerados e testados com
o uso de modelos de computador. Os conceitos são descritos em uma
linguagem genética que produz um código de instruções para a geração
da forma. Os modelos de computador são usados para simular o
desenvolvimento de formas prototípicas que depois são avaliadas com base
no seu desempenho em um ambiente simulador. Um grande número de
passos evolutivos pode ser gerado em um curto espaço de tempo e as
formas emergentes são muitas vezes inesperadas.

No processo evolutivo a questão é a modelagem da lógica interna


em vez da forma externa. Vários parâmetros são codificados para gerar
estruturas semelhantes e valores alterados durante o processo generativo.
Formas semelhantes, os pseudo-organismos são gerados com base na
aptidão de critérios pré-definidos, passando assim a obter melhor
desempenho nas características de sobrevivência para as novas gerações.
As formas são desenvolvidas por pequenas mudanças incrementais ao longo
de várias gerações (FRAZER, 1995).
Assim, observamos o desenvolvimento biológico das formas orgânicas
naturais e a geração de padrões repetitivos em ambiente digital devido aos
parâmetros pré-estabelecidos, que simulam o comportamento e as
interações entre as formas que constituem um sistema, que ao ser executado
mostra a evolução do modelo ao longo do tempo.
Frazer (et al., 2002, p. 301-303), define o sistema evolutivo como
representações computacionais análogas ao processo de evolução por
seleção natural. As formas são criadas mediante um processo de
recombinação, variação e seleção nos processos de adaptação evolutiva
(Figura 11). Tal técnica proporciona a criação de famílias de formas similares
através de um código genético (leis reguladoras do seu comportamento), ou 160
seja, gerar um grande número de alternativas de formas com diferenças
significativas, mantendo uma linguagem formal entre elas.

Figura 11 - Forma inicial evoluindo para uma forma complexa. Fonte: John
Frazer, 2005, p. 42.

O estudo da arquitetura e das teorias de Dennis Dollens (2009) nos


permite verificar que o autor revive forma orgânica, não como imitação de
perfis naturais, mas o resultado da leitura dos princípios biológicos da
natureza, mais especificamente, das plantas. Sem laços técnicos, mas
relacionado com a tecnologia digital, o arquiteto propõe um novo sistema
formal generativo que utiliza plantas e seu padrão de crescimento como um
modelo.
Dollens (2009, p. 56) relata que utiliza o software Xfrog, programa
usado por paisagistas e biólogos que prevê o crescimento de plantas em
diferentes áreas e situações ambientais e permite fornecer certa evolução
de um edifício, dependendo do local em que se enraíza, assim sendo novas
experiências espaciais e sensoriais de visualização digital botânico-
ambiental. O conceito não é para que os edifícios pareçam com organismos
botânicos, e sim entrelaçar natureza e arquitetura, permitindo estruturas
biológicas.
O projeto Torre Los Angeles (Figura 12 e 13) representa um
crescimento de ramificação de estrutura de uma árvore. O software utilizado
permitiu que os ramos se movimentassem para o fortalecimento do tronco
central. Ao redor do tronco, modelos de pele de tecido biológico para
permitir a ventilação, retratando sementes de amêndoa. Esta pele orgânica
pode dobrar e se moldar de acordo com as necessidades do meio em que 161
se encontra e se adaptar às condições ambientais. A proposta abrange o
possível crescimento da construção dependendo da posição solar e das
condições climáticas que a acompanham (DOLLENS, 2009, p. 23).

Figura 12 – Projeto Torre Los Angeles, Dollens, 2008-2009. Torre Generativa


programada para crescer ramos em uma estrutura autossustentável com
pontas de galhos estendidos definindo uma nuvem de pontos. Fonte:
Dollens, 2009, p. 23.

Figura 13 - Projeto Torre Los Angeles, Dollens, 2008-2009. Fonte: Dollens, 2009,
p. 74.
A2.5 Bioarquitetura e Sustentabilidade

É visto o crescente interesse de propostas conectadas com a


natureza, na tentativa de buscar saídas inteligentes para a solução dos
problemas do planeta. Com isso, o conceito da bioarquitetura juntamente
com a sustentabilidade oferece soluções harmônicas, práticas e
econômicas, como readequação do uso de energia elétrica, energia solar,
eólica, hidroelétrica, racionalização da iluminação, sistemas de ventilação
162
cruzada, materiais com perfis ecológicos, sistema de biodiesel e outras fontes
de energia limpa, sistemas de redução do consumo de água, captação de
águas pluviais, reuso da água, tratamentos eficientes de esgoto, coleta
seletiva de lixos, produtos recicláveis, além do estudo do replantio de
espécies vegetais nativas, produção de produtos orgânicos, estudos de
hortas em áreas rurais e urbanas, além da produção de ervas aromática e
medicinal. Esse panorama geral da arquitetura cria uma interação
harmônica com a natureza ao redor, visando um sistema produtivo
sustentável.
Bioarquitetura Sustentável é pensar em formas biológicas que podem
se transformar e evoluir para formas de arquitetura, preservando o meio
ambiente e seus diversos ecossistemas, visando um novo modo de vida, uma
nova educação ambiental, uma nova conscientização geral do impacto do
desenvolvimento humano no planeta.
Exemplo de Bioarquitetura Sustentável é o projeto Seoul Commune
2026 (Figura 14-16), do escritório Mass Studies, partindo da natureza como
maior fonte de inspiração, proposta futurista que busca conciliar o
desenvolvimento comunitário com crescimento urbano, sustentabilidade,
qualidade de vida, eficiência, alta tecnologia, funcionalidade e visão de
futuro para o desenvolvimento da comunidade.
Trata-se de um conjunto de torres sustentáveis com formas orgânicas,
que podem ter entre 16 e 53 andares, no bairro de Apgujongdong, uma das
regiões mais densamente povoadas do mundo, na Coréia do Sul. Além de
apartamentos, cada torre abriga restaurantes, teatros, um complexo de
compras, espaços privados, semi-público-privados e espaços públicos, além
de outras opções de lazer. Autossuficientes em energia, as torres possuem
uma cobertura de cristais fotovoltaicos, além de um revestimento verde
composto de plantas, que ajuda a controlar a temperatura interna dos
edifícios (MASS STUDIES, 2005).24

163

Figura 14 – Projeto Seoul Commune 2026, Mass Studies. Disponível em:


<http://massstudies.com/projects/seoul_part2.html>. Acesso em: 25 out.
2015.

O conceito das formas orgânicas das torres baseia-se nas células de


colmeia, independentes, com diversas variações espaciais e funcionais, que
são as unidades habitacionais espalhadas ao longo de 15 torres. As
estruturas retratam favos de mel, exclusivas para a melhora das condições
de luz natural. O embasamento é composto por um parque público que
integra horizontalmente os diferentes espaços.

Figura 15 – Detalhes do Projeto Seoul Commune 2026, Mass Studies.


Disponível em: <http://massstudies.com/projects/seoul_part2.html>. Acesso
em: 25 out. 2015.

24 As informações do projeto estão no Portal do escritório Mass Studies. Disponível em:


<http://massstudies.com/projects/seoul_txtEN.html>. Acesso em: 25 out. 2015.
164

Figura 16 - Comparação tipológica do projeto Seoul Commune 2026, Mass


Studies. Disponível em: <http://massstudies.com/projects/seoul_part2.html>.
Acesso em: 25 out. 2015.

A pele exterior das torres consiste em estruturas de rede hexagonal


que derivam da concepção da estrutura de colmeias. As aberturas
hexagonais são preenchidas com diferentes tipos de vidro, painéis de vidro
fotovoltaicos colocados em áreas ensolaradas para a eficiência energética.
A superfície exterior que cobre a estrutura da rede é feito de um geotêxtil
que cria um ambiente onde as videiras podem crescer durante os meses de
verão para sombrear as aberturas. Estas estruturas integradas verdes têm um
sistema de rega interna e uma máquina de nevoeiro com sensores de
temperatura e humidade automáticas para otimizar as condições
ambientais das plantas. O sistema de distribuição de água transporta até 30
por cento da carga de refrigeração durante o verão e limpa as janelas de
vidro dos edifícios.
Tecnologias digitais onipresentes permitem a utilização e gestão
eficaz dos espaços multifuncionais, utilizadas para proteger e maximizar a
privacidade nas unidades habitacionais / células privadas, através do
sistema de rede digital, permitem que os indivíduos monitorem os espaços
públicos em tempo real.
A2.6 Considerações Finais

Em ambiente virtual, quando obtemos uma visualização ecológico-


ambiental de formas biológicas que possibilitam novas visões de arquitetura,
esta arquitetura não é apenas visual ou virtual: é real. O ambiente virtual
oferece inúmeras possibilidades de formas, define formas biológicas
interessantes para tornarem-se reais.
A utilização de ferramentas digitais que possibilitam a análise e 165
manipulação de formas biológicas são eficientes para desenvolver novas
concepções de projetos, dada a sua capacidade de lidar com grandes
quantidades de cálculos, parâmetros, informações, interações e formas
orgânicas que são demasiadamente complexas para serem operadas pela
mente humana.
Processos biológicos em ambiente virtual estão abrindo novos
territórios na exploração de conceitos e formas variadas, articulando a
arquitetura morfológica e topológica focada em propriedades emergentes e
suas adaptações. Isto habilita o projetista a produzir e executar formas
complexas que, até a pouco tempo, não poderiam ser projetadas e
construídas com os meios tradicionais.

A2.7 Referências

CASTELNOU, Antonio. Arquitetura contemporânea. Universidade Federal do


Paraná (UFPR), Curitiba, 2015. Disponível em:
<http://arquitetura.weebly.com/apostila.html>. Acesso em: 23 out. 2015.

DOLLENS, Dennis. D-BA2: Digital Botanic Architecture 2. Santa Fe: Lumen,


2009. Disponível em: <http://exodesic.org/TrussImages/DBA2-150.pdf>. Acesso
em: 20 out. 2015.

ESTÉVEZ, Alberto T., et al. Genetic Architectures / Arquitecturas Genéticas.


Santa Fe (USA) / Barcelona: Lumen, 2003, p. 4-17.

ESTÉVEZ, Alberto T. Biomorphic Architecture. In: Genetic architectures II: Digital


tools and organic forms. Santa Fe (USA) / Barcelona: Lumen, 2005, p. 18-81.
ESTÉVEZ, Alberto T. Genetic architectures: the perfect house or a house is not
a box. In: Arte, Arquitectura y Sociedad Digital. Publicações e Edições
Universidade de Barcelona, 2007, p. 117-122.

ESTÉVEZ, Alberto T. Al margen: Escritos de arquitectura. Madrid: Abada


Editores, 2009.

ESTÉVEZ, Alberto T., et al. Genetic Architectures: New bio & digital techniques. 166
In: Genetic architectures III: New bio & digital techniques. Santa Fe (USA)
/ Barcelona: Lumen, 2009, p. 14-27, 50-51 e 204.

FRAZER, John. An Evolutionary Architecture. Londres: AA Publications, 1995.

FRAZER, John et al. Generative and Evolutionary Techniques for Building


Envelope Design. In: INTERNATIONAL GENERATIVE ART CONFERENCE, GA0202.
Milão, 2002, p. 301-316. Disponível em: <http://cumincad.scix.net/cgi-
bin/works/Show?ga0202>. Acesso em: 21 out. 2015.

KOLAREVIC, Branko. Digital Architectures. In: CONGRESSO IBERO AMERICANO


DE GRÁFICA DIGITAL, Rio de Janeiro, 2003.

KOLAREVIC, Branko. Architecture in the Digital Age: Design and


Manufacturing. New York: Spon Press, 2003.

MENGES, Achim. Computational Morphogenesis. In: ASCAAD, 2007, p. 725-


744. Disponível em: <http://www.ascaad.org/conference/2007/057.PDF>.
Acesso em: 21 out. 2015.

OXMAN, Rivka. Theory and Design in the First Digital Age. Oxford: Elsevier.
Design Studies, nº 27, maio 2006, p. 229-265. Disponível em:
<http://www.technion.ac.il/~rivkao/topics/publications/Oxman_2006_Design-
Studies.pdf>. Acesso em: 21 out. 2015.

OXMAN, Rivka. Performance-based Design: Current Practices and Research


Issues. In: International Journal of Architectural Computing (IJAC), Essex, p.1-
17. jan. 2008.
OXMAN, Rivka. Digital Architecture as a Challenge for Design Pedagogy:
Theory, Knowledge, Models and Medium. Oxford: Elsevier. Design Studies, v.
29, nº 2, mar. 2008, p. 99-120.

167
168

APÊNDICE 3.

CIDADES DIGITAIS PARAMÉTRICAS:


O DESENHO URBANO EM AMBIENTE
VIRTUAL
A3. CIDADES DIGITAIS PARAMÉTRICAS: O DESENHO URBANO EM AMBIENTE
VIRTUAL

Com o avanço das tecnologias digitais, observamos o grande


crescimento das experiências em ferramentas digitais e modelagem
paramétrica no projeto e análise de cidades, desempenhando um papel
importante no âmbito urbano, e assim, mudando a maneira em que
podemos perceber e compreender as cidades e os espaços urbanos. As 169
ferramentas digitais podem ser utilizadas em uma escala maior para gerar
cidades modelo, simular de forma precisa o planejamento das cidades reais,
seu tecido físico, conceber a dinâmica urbana e contribuir para o
desenvolvimento de planos diretores.
O objetivo do presente trabalho é analisar como as ferramentas
digitais interferem no processo de desenho urbano digital, investigar as novas
formas urbanas que o urbanismo paramétrico possibilita, além dos
parâmetros formais, ambientais e programáticos, a inclusão de parâmetros
espaciais, fundamentais para a promoção da vida urbana e soluções
urbanas generativas, assim sendo uma nova abordagem para a concepção
de grandes escalas urbanas e políticas públicas.

A3.1 Urbanismo Morfológico

O desenho urbano exige uma reflexão sobre a forma urbana


enquanto objeto do urbanismo, enquanto corpo ou materialização da
cidade capaz de determinar a vida humana em comunidade. Sendo assim,
o primeiro grau de leitura da cidade deve ser ao mesmo tempo físico-
espacial e morfológico, pois este é o único que permite evidenciar a
diferença entre espaços, formas, e explicar as características de cada
cidade. Uma das maneiras de entender este processo a encontramos na
obra ''Morfologia Urbana e Desenho da Cidade'', de José Lamas (1993), onde
o autor descreve a morfologia urbana como a ciência que estuda as formas,
interligando-as com os fenômenos que lhes deram origem e o estudo
essencial dos aspectos exteriores, ou elementos morfológicos, definindo a
paisagem urbana e a sua estrutura.
No campo de estudo da morfologia, a compreensão e concepção
das formas urbanas se faz em diferentes níveis, podendo-se recortar o
espaço em partes identificáveis. O critério para esta divisão decorrerá do
modo como se processa a leitura e do modo como o espaço é produzido
(LAMAS, 1993).
No meio urbano a organização espacial depende da exposição física
dos elementos (massas e planos) e nas relações entre as várias formas,
formando composições e posteriormente recombinações dessas
composições, que nos introduz ao conceito de estrutura. As estruturas são as
combinações e recombinações dos elementos morfológicos num dado
contexto. O resultado final dos processos combinatórios contínuos de várias 170
tipologias e regras morfológicas dão origem aos padrões urbanos (Figura 1)
(ÇALISKAN, 2013, p. 52).

Figura 1 - Técnicas de variação tipológica e morfológica. DRL Sahra team,


2007-2009. Fonte: Architectural Design, 2009, p. 32. (Numeração nossa).

A3.2 Urbanismo Paramétrico

As características do parametrismo são devidas ao avanço do


desenho digital, processos de projeto, novas técnicas de modelagem
paramétrica, softwares de desenho urbano e possibilidades formais e
organizacionais. No entanto, tais técnicas devem andar juntamente com a
formulação de objetivos, planos diretores, planejamentos e estudos
específicos para cada cidade ou espaço.
A contribuição intelectual para o urbanismo paramétrico de Patrik
Schumacher, sócio no escritório Zaha Hadid Architects (ZHA) e codiretor no
AA Design Lab Research (AADRL) de Londres, serve de subsídio não apenas
para o entendimento desse novo modelo de urbanismo, mas também para
incrementar as discussões em diversas disciplinas e práticas que envolvem as
ferramentas digitais. Schumacher expõe que o urbanismo paramétrico
emerge da exploração criativa de sistemas de desenho paramétrico
articulando processos cada vez mais complexos, tornou-se dominante,
particularmente adequado para urbanismo em grande escala, como
exemplo, uma série de competições de planos diretores (masterplans)
realizados por Zaha Hadid Architects.

Todas as formas do urbanismo paramétrico devem ser parametricamente


maleáveis, diferenciar gradualmente, e as formas devem correlacionar
sistematicamente, evitando formas geométricas rígidas tais como 171
quadrados, triângulos e círculos, simples repetição de elementos,
justaposição de elementos ou sistemas não relacionados (SCHUMACHER,
2009, p. 16, tradução nossa).

Zaha Hadid venceu o concurso internacional promovido pela Jurong


Town Corporation (JTC) com um grande projeto urbano, o One-North
Masterplan (Figura 2 e 3), projeto este que explorou pioneiramente uma
metodologia de desenho paramétrico aplicada ao desenho urbano de
larga escala, visando superar as limitações dos métodos de projeto urbano
normativo, gerenciar uma grande base de dados que requeria uma
visualização rápida de modificações e superar o isolamento físico do local
por meio da oferta de infraestrutura e de uma estratégia espacial que
enfatizasse as conexões com os arredores. O grupo procurou, então,
desenvolver um método de projeto que fosse paramétrico, no qual os dados
numéricos e o modelo digital tridimensional estivessem diretamente
associados, de um modo que as modificações em um deles influenciassem
diretamente o comportamento do outro. O resultado foi uma
pseudoferramenta paramétrica de planejamento que incorporava dados
como área, densidade, fluxos, restrições formais e contextuais, entre outros. A
ferramenta lia e analisava gramaticalmente esses dados numéricos em
planilhas eletrônicas, tabelas, gráficos e modelos tridimensionais (GERBER,
2006, p. 155-157).
172

Figura 2 - One-North Masterplan, Zaha Hadid Architects, Singapura, 2003.


Plano diretor de um novo distrito de negócios, o primeiro de uma série de
planos diretores que levou ao conceito de urbanismo paramétrico. Fonte:
<http://www.zaha-hadid.com/masterplans/one-north-masterplan/>. Acesso
em: 08 nov. 2015.

Figura 3 - One-North Masterplan, Zaha Hadid Architects, Singapura, 2003.


Fonte: Architectural Design, 2009, p. 16.

A integração entre os parâmetros programáticos e formais


procuraram promover o movimento e atividade na rua. Os princípios-chave
do projeto centraram-se na criação de um parque de negócios que
enfatizasse a diversificação de usos, uma atmosfera urbana vibrante, guiada
por uma malha ondulada de edifícios e nós de intensidades. A geometria
curvilínea e elástica das ruas e dos caminhos projetados permite a
articulação com as malhas urbanas das áreas adjacentes, além de produzir
uma grande diversidade de configuração de parcelamento do solo. As
propriedades paramétricas e topológicas deram ao modelo a flexibilidade
necessária para a adaptação e transformação em qualquer etapa de
desenvolvimento do projeto, mas garantindo a manutenção de sua
coerência e caráter formal (AMORIM e SILVA, 2010, p. 21).
Conforme Schumacher (2009, p. 17, tradução nossa), o urbanismo
paramétrico não desempenha como um sistema único, as características
podem:
 Ser associativas a vários subsistemas;
 Ser adaptativas ao meio;
 Possuir interarticulação paramétrica, variações
paramétricas, configurações complexas;
 Possuir integração orgânica por meio de correlações de 173
formas, integração do ambiente construído em evolução,
distribuição de morfologia e organização interior;
 Permitir que determinados ambientes se reconfigurem em
resposta a ocupação prevalente em diferentes escalas de
tempo;
 Possibilitar que a aglomeração urbana forme edifícios em que
as variáveis urbanas são coreografadas e direcionadas através
de modulações sistemáticas que produzem efeitos urbanos
poderosos e facilitam a orientação de campo;
 Modificar quantitativamente parâmetros para que
desencadeiem mudanças qualitativas na percepção do
ambiente virtual, pois, além dos parâmetros de objeto,
parâmetros de observação do ambiente são integrados no
sistema paramétrico.

Entretanto, Amorim e Silva (2010, p. 18), relatam que os parâmetros de


configuração do espaço urbano também podem ser compreendidos como:
 Parâmetros formais: aqueles definidores da forma urbana, o
desenho das malhas e das massas edilícias, além de seus
aspectos geométricos;
 Parâmetros funcionais: aqueles referentes aos usos urbanos;
 Parâmetros ambientais: os dados físicos e ambientais do
lugar onde se inserem tais projetos urbanos;
 Parâmetros espaciais: aqueles relativos à estrutura e as
propriedades morfológicas do objeto urbano, como por
exemplo, as unidades de espaço (convexas e lineares) e suas
propriedades de acessibilidade e visibilidade, bem como a
interface entre os espaços abertos e contínuos (ruas, praças,
etc.) e fechados (edificações).
O urbanismo paramétrico visa proporcionar uma nova lógica de
desenho urbano que opera através da correlação de múltiplos sistemas
urbanos com os sistemas de modulação de abertura e fecho de espaços,
explorando novas técnicas de variação formal e diferenciação, em que
nada se repete. Além disso, são utilizadas técnicas de deformação,
geralmente através de curvas geométricas complexas, e grelhas deformadas
para articular o tecido urbano de novos projetos com o tecido pré-existente
e, assim, promover a ligação da malha urbana com o todo (AMORIM e 174
SILVA, 2010).

O urbanismo paramétrico se fundamenta nos sistemas de desenho


paramétrico, nos quais ''são os parâmetros de um determinado objeto que
são declarados e não a sua forma'' (KOLAREVIC, 2005, p. 253)25, ou seja, o
foco de interesse não é a forma em si, mas os parâmetros que a geram. [...]
Essas ferramentas há muito vêm tendo um forte impacto no processo de
projeto de edifícios especialmente por aprimorarem a concepção e a
representação gráfica digital de componentes construtivos. Nos últimos
anos, técnicas e tecnologias de desenho paramétrico vêm sendo paulatina
e deliberadamente transladadas para o urbanismo, para o desenho urbano
de larga escala, sob o argumento de que os sistemas paramétricos
possibilitam gerar, rapidamente, diferentes alternativas de desenho a partir
da simples alteração de valores de um parâmetro particular, permitindo a
geração de diferentes cenários arquitetônicos e urbanos para serem
posteriormente avaliados, facilitando a tomada de decisão durante o
processo de criação (AMORIM e SILVA, 2010, p. 4 e 5).

O projeto Kartal-Pendik Masterplan (Figura 4-8) é um projeto de


requalificação urbana para uma área industrial abandonada, localizada em
Istambul, entre as regiões de Kartal e Pendik, que se situam na confluência
de importantes infraestruturas como rodovias que fazem a conexão entre
Istambul e outros países europeus e asiáticos. A área foi projetada para ser
uma nova centralidade da cidade a partir da oferta de centros de negócios,
residências e equipamentos culturais, além de espaços para atividades de
lazer como, por exemplo, marinas e hotéis turísticos.

25 KOLAREVIC, Branko. Architecture in the digital age: design and manufacturing. London: Taylor
& Francis, 2005.
175
Figura 4 - Kartal-Pendik Masterplan, Zaha Hadid Archiects, Istanbul, Turkey,
2006. Detalhe da malha urbana que comporta formas edilícias diversas.
Fonte: Architectural Design, 2009, p. 14.

O grupo Zaha Hadid Architects partiu da proposta de integrar as


infraestruturas urbanas existentes, articulando as conexões das principais vias
identificadas no tecido urbano, tais vias definiram uma malha suave que
forma a estrutura subjacente do projeto, um grid26 elástico que se contrai e
estende para ajustar-se às condições urbanas e topográficas do lugar
(AMORIM e SILVA, 2010, p. 21).
Verticalmente, o grid elástico é estendido para formar a paisagem
urbana da área. Em determinadas regiões o grid eleva-se para gerar uma
rede de torres na paisagem aberta, enquanto em outras áreas é invertido
para se transformar em uma malha mais densa cortada completamente por
ruas, e em outros casos pode esvanecer-se completamente para gerar
parques e espaços abertos. Ou seja, por sua flexibilidade, o grid permite a
introdução de formas edilícias diversas, possibilitando diferentes padrões de
densidade, como uma rede de torres de vários andares poderia emergir ou
uma rede de blocos urbanos conformando no perímetro da quadra e com
um pátio central poderia ser disposta. A estratégia é, portanto, um sistema
dinâmico e flexível para a geração da forma urbana (AMORIM e SILVA, 2010,
p. 22).

26 Grid é uma malha, ferramenta utilizada para ordenar elementos gráficos, a fim de obter
composição e coesão visualmente.
176

Figura 5 - Kartal-Pendik Masterplan, Zaha Hadid Archiects, Istanbul, Turkey,


2006. Detalhe da malha urbana que comporta formas edilícias diversas.
Fonte: Architectural Design, 2009, p. 20.

É interessante observar que as investigações de Zaha Hadid e Patrik


Schumacher utilizam o grid como estrutura base para a ordenação e
articulação do território urbano. Grids tem sido utilizados desde a
Antiguidade, gregos e romanos concebiam cidades usando malhas
quadriculares, e ainda que se perderam durante a Idade Média, o mundo
renascentista os recuperou. O urbanismo moderno, surgido dos CIAM
também usou grids, tanto para apresentar seus trabalhos como para pensar
e projetar a cidade. No entanto, a diferença agora é que o grid usado por
Zaha Hadid é uma espécie de grid topológico que se deforma para
adaptar-se a diferentes circunstâncias urbanas e topográficas, ou seja, a
parâmetros físicos e ambientais do campo.

Figura 6 - Kartal-Pendik Masterplan, Zaha Hadid Archiects, Istanbul, Turkey,


2006. Detalhes do plano urbano com articulação do sistema das vias
propostas. Fonte: <http://www.zaha-hadid.com/masterplans/kartal-pendik-
masterplan/>. Acesso em: 05 nov. 2015.
Figura 7 - Kartal-Pendik Masterplan, Zaha Hadid Archiects, Istanbul, Turkey,
177
2006. Fonte: <http://www.zaha-hadid.com/masterplans/kartal-pendik-
masterplan/>. Acesso em: 05 nov. 2015.

Figura 8 - Kartal-Pendik Masterplan, Zaha Hadid Archiects, Istanbul, Turkey,


2006. Fonte: <http://www.zaha-hadid.com/masterplans/kartal-pendik-
masterplan/>. Acesso em: 05 nov. 2015.

O atual estágio de avanço do parametrismo está relacionado com o


avanço contínuo das tecnologias de desenho digital, técnicas sofisticadas
paramétricas e modelação paramétrica. O parametrismo emerge da
exploração criativa de sistemas de desenho paramétrico, tendo em vista
articular processos sociais cada vez mais complexos. Trabalha no sentido da
complexidade organizada (regida por regras) que assimila trabalhos
paramétricos aos sistemas naturais, onde todas as formas são o resultado de
forças que interagem por meio de regras. Assim como os sistemas naturais, as
composições paramétricas são integradas e não podem ser facilmente
decompostas em subsistemas independentes (SCHUMACHER, 2009, p.17,
tradução nossa).

A3.3 Urbanismo Paramétrico: outros estudos de caso


A seguir, demonstramos uma série de experimentos em grande escala
urbana visando à criação do urbanismo paramétrico em diferentes planos
diretores, realizados por estudantes e profissionais no Design Lab Research
(DRL). As propostas tem finalidade expor como as formas das cidades
podem ser ordenadas, controladas e desenvolvidas em laboratórios digitais,
auxiliando a evolução do desenho urbano.
O projeto SineCity (Figura 9), proposta para o emirado Ras Al Khaimah
visa o desenvolvimento de uma série de protótipos de malha urbana que 178
integrassem com as tipologias de arranha-céus, a fim de descrever possíveis
cenários de crescimento da cidade ao longo de 20 anos, a ferramenta foi
baseada na densidade adaptativa, razão da área e distribuição
programática.

Figura 9 - Projeto SineCity, de Praneet Verma, Yevgeniya Pozigun, Rochana


Chaugule e Ujjal Roy, 2009. Fonte: Architectural Design, 2009, p. 9.

O sistema da escala urbana é organizado através de operações


matematicamente controladas de acordo com curvas seno, que dão
origem a uma hierarquia de blocos de infraestrutura e equipamentos
urbanos, e ao mesmo tempo modulam a borda da água, a fim de maximizar
a percepção visual.
O projeto 123 (Figura 10) desafia a proliferação de urbanização
desordenada, resultante da globalização acelerada da região do Golfo, via
pesquisa sobre os princípios algorítmicos e geométricos, tal abordagem
algorítmica constitui a base para códigos de variação de geração de
morfologia e da diferença entre as áreas urbanas, aglomerados e sistemas
arquitetônicos. A proposta visa criar espaços metropolitanos diversificados,
interativos que desafiam as qualidades genéricas e desconexas do modelo
atual de Dubai, oferecendo flexibilidade dentro de uma coerência urbana.
179

Figura 10 - Projeto 123, de Lindsay Bresser, Claudia Dorner e Sergio Reyes


Rodriguez, 2009. Fonte: Architectural Design, 2009, p. 8.

O urbanismo paramétrico é um dos experimentos mais apto a propor


alternativas para masterplan e também para outros estudos urbanos, pois,
emprega uma abordagem paramétrica de urbanismo, investiga sistemas de
desenhos que possam se reconfigurar a medida dos dados inclusos no
modelo, controla a informação dinâmica local através de sistemas
interativos, espaços e interfaces associativas, analisa os espaços urbanos na
concepção de cidades em desenvolvimento com capacidade de
adaptação às contingências futuras e cidades em evolução que se moldam
nas condições contextuais e dinâmicas no ambiente virtual.
Nota-se que estas técnicas, características e atributos possuem real
valor para o projeto urbano, demonstram sistemas associativos em que a
troca de informação e comunicação com o meio controla a dinâmica local
a fim de visualizarmos uma malha urbana organizada, coerente, o
desempenho dos espaços urbanos, suas utilizações, atividades, interfaces,
setores, estruturas, infraestruturas, entre outros.
O projeto Parametric Urbanism (Figura 11 e 12), proposta para o
masterplan de Shanghai, desenvolvida com três tipologias arquitetônicas
primárias, campos de torres diferenciadas, baixa densidade, equipamentos
culturais e extensos espaços verdes, para um maior desenvolvimento.
180

Figura 11 - Projeto Parametric Urbanism, Equipe DRL Craft_Id (Tutores: Patrik


Schumacher e Christos Passas; Estudantes: Victoria Goldstein, Xingzhu Hu,
Ludovico Lombardi e Du Yu), 2006-2008. Fonte: Architectural Design, 2009, p.
24.

Uma série de grids descrevem o desenvolvimento das simulações das


fases da modelagem urbana desenvolvidas no software Maya, cada fase a
fim de resolver e refinar os parâmetros urbanos pré-estabelecidos com uma
proposta de desenho informadas por outros parâmetros espaciais, estruturais
e circulatórios.
181

Figura 12 - Projeto Parametric Urbanism, Equipe DRL Craft_Id (Tutores: Patrik


Schumacher e Christos Passas; Estudantes: Victoria Goldstein, Xingzhu Hu,
Ludovico Lombardi e Du Yu), 2006-2008. Fonte: Architectural Design, 2009, p.
26.

A3.4 Urbanismo Generativo

O professor François Roche (2009, p. 42, tradução nossa), relata que o


intuito do urbanismo generativo é planejar o crescimento e a transformação
das cidades como um processo morfogenético baseado nos sistemas de
auto-organização, regulação, evolução e critérios de seleção, desde
organismos homeostáticos a evolução de ecossistemas. Este sistema de
morfogénese é desenvolvido via processos computacionais dos quais
orientam o desenvolvimento, a transformação e a preservação do tecido
urbano modelado através de códigos e algoritmos genéticos a fim de obter
coerência morfológica do tecido em sua totalidade.
O urbanismo generativo pode ser inicialmente elaborado pela análise
do fluxo de fluidos viscosos, baseados em regras coerentes de distribuição
em ambiente virtual, onde esses fluidos se espalham através de uma
superfície (topografia), e o urbanismo emerge a partir destas observações,
definindo a configuração do tecido urbano em condições locais específicas
(VEREBES, 2009, p. 31).
O professor Hernán Díaz Alonso, (2009, p. 37, tradução nossa) aponta
que:

Assim como fluidos, células também podem ser analisadas e evoluir por
conta própria, à medida de informações trazidas pela natureza. No
urbanismo generativo, esquecemos os tijolos e pensamos em células, células
que podem reformar, recombinar e emergir de maneiras diferentes, de
acordo com sua própria inteligência interna.

182
A morfologia urbana genética também permite ser reproduzida com
dados de parâmetros do local, luz natural, dimensão e espessura das células
vivas, conjunto de biótopos, bioestruturas orgânicas, entre outros. O
fornecimento desses dados de matérias-primas como uma variável de
construção, possibilita o crescimento de tecidos urbanos bem como seus
comportamentos adaptativos. Os softwares paramétricos destinados ao
urbanismo generativo controla a proliferação de urbanização desordenada
resultante da globalização acelerada da mesma forma que a densidade
adaptativa, baseada em pesquisas sobre os princípios algorítmicos e
geométricos. Esta abordagem algorítmica constitui a variação de geração
de morfologia e da diferença entre as áreas urbanas, aglomerados e
sistemas de setorização (ROCHE, 2009, p. 42, tradução nossa).
O projeto Parametric Urbanism 2 (Figura 13) tem como experiência os
estudos de comportamentos em organismos vivos, células individuais, duplas,
triplas e quádruplas, a fim de obter análises de suas organizações associadas
a ramificações. Os resultados são demonstrados em diagramas, onde
podemos observar a evolução, integração, segregação das células e por
fim, a sintaxe espacial em relação às hierarquias dos espaços e setores. Os
algoritmos utilizados simulam o crescimento em formas naturais e analisam o
desempenho de sistemas de ramificação.
183

Figura 13 - Projeto Parametric Urbanism 2. Equipe DRL Egloo (Tutor: Theodore


Spyropoulos; Estudantes: Pankaj Chaudhary, Jawalant Mahadevwala, Mateo
Riestra e Drago Vodanovic), 2006-2008. Fonte: Architectural Design, 2009, p.
30 e 31.

Michael Batty (2009, p. 46) ilustra como as cidades podem agora ser
cultivadas em "laboratórios digitais" e como os processos da evolução
biológica de cidades podem ser diagnosticados em ambiente virtual,
observando os organismos que sobrevivem que se adaptam ao seu
ambiente, assim como as alterações de localização desses organismos que
se movem de forma inteligente identificados no tecido urbano.
"A cidade planejada baseada em hierarquias de árvore é a maneira
mais bem-sucedida, habitável e certamente a mais sustentável" (BATTY, 2009,
p. 46). Observamos esse conceito na figura 14, desenvolvido em laboratórios
digitais, onde aglomerados populacionais emergem a partir que o núcleo
central fornece energia, constituindo assim, o tecido urbano. Desta forma, a
cidade permanece conectada com o núcleo central. Em a) o crescimento
da rede radial hierárquica idealizada em torno do núcleo da cidade; b)
tecido urbano em evolução; c) definição da hierarquia das vias; d)
densidade populacional urbana ativa (BATTY, 2009, p. 46 e 47).
184

Figura 14 - Network growth and urban clusters. (Crescimento da rede e


aglomerados urbanos). Fonte: Architectural Design, 2009, p. 46.

Na figura 15, o diagrama esquemático do processo de evolução


demonstra outro conceito, no qual os organismos são organizados em torno
de um círculo (área da cidade) e a exploração do espaço urbano é
aleatória. O ponto vermelho caracteriza o tecido urbano e os pontos
brancos a população. Em a) cada ponto branco começa a procurar a
cidade (ponto vermelho) através de uma caminhada aleatória; b)
crescimento da estrutura a partir da semente central, toda vez que um ponto
branco encontra um ponto vermelho, automaticamente ele se transforma
em ponto vermelho, não pode mais se mover, e outro ponto branco é
lançado em algum lugar e o processo continua com muitos pontos brancos
a procura de pontos vermelhos; c) a cidade se forma no espaço e os
organismos interagem entre si (BATTY, 2009, p. 47).
185

Figura 15 - Breeding formas urbanas. (Geração de formas urbanas). Fonte:


Architectural Design, 2009, p. 46.

As ferramentas digitais utilizadas para gerar cidades dessa maneira e


para reproduzir diferentes formas urbanas permitem que os sistemas celulares
(incorporando princípios de autômatos celulares) e modelos baseados em
organismos vivos gerem uma ampla gama de formas possíveis para a
formação de uma cidade (BATTY, 2009, p. 47).

A3.5 Urbanismo Paramétrico visando Políticas Públicas, em questão:


Conjuntos de Habitação de Interesse Social

Neste ponto o objetivo é obtermos uma melhor compreensão em


como as ferramentas digitais paramétricas destinadas a desenho urbano
podem contribuir para políticas públicas.
Com a característica da parametrização, observamos que o
processo de desenho torna-se mais fluído e manipulável, capacitando as
soluções do projeto urbano à contínua adequação e evolução da cidade,
permitindo, deste modo, diminuir a probabilidade de insucesso de um estudo
urbanístico. Os processos de desenvolvimento de soluções urbanísticas
tradicionais são limitados à época em que são desenhados, apresentando
dificuldades em adaptar-se à evolução da cidade com o passar do tempo.
Um sistema de desenho urbano paramétrico com integração de
dados do software GIS em um ambiente CAD é uma proposta de plataforma
para a discussão de planos urbanos que oferecem flexibilidade e
informações de acesso de forma interativa. O sistema permite a
manipulação de parâmetros de geometria, atualização automática de
indicadores de acordo com as modificações do projeto, melhorando a
qualidade de decisões do modelo urbano.
Batty (2005, 2008, 2011) defende esta argumentação constatando 186
sobre a inadaptabilidade de muitos dos planos urbanos por prejudicarem os
objetivos do mesmo, serem prejudiciais à criação de planos urbanos
estáticos e definitivos, desenhados do início ao fim, e que tal processo possa
criar problemas sérios no espaço urbano a projetar, quando, por exemplo, a
qualidade de vida é insuficiente, a densidade é geralmente demasiada alta,
e os aspetos formais são pouco interessantes.
Para os arquitetos José Nuno Beirão e José Duarte (2012), as
sociedades urbanas atuais são caracterizadas por uma elevada
complexidade e em constante mudança. Como resposta a tais fatores, o
desenho urbano tradicional tem-se mostrado algo insuficiente e limitado
devido à sua falta de flexibilidade. A capacidade de experimentação e
adaptabilidade de um espaço urbano, tanto durante o processo de projeto
como durante a realização do mesmo, é um dos pontos ideais-base da
parametrização, recorrendo a meios digitais para a simulação de um projeto
urbano capaz de ser corrigido e alterado a qualquer momento do seu
desenvolvimento, de um modo automático pela simples manipulação dos
parâmetros.
A tradição de projetar o espaço urbano através da produção de
planos autoritários já não é uma estratégia eficiente, nota-se cada vez mais
a real necessidade de utilizar processos flexíveis e novos princípios para o
urbanismo, como por exemplo, desenho urbano que envolve
parametrização (Figura 16A), planejamento urbano apto a análise
constante, urbanismo informado preparado para as demandas de
desenvolvimento sustentável, urbanismo participativo e flexível (Figura 16B),
baseado no consenso, planeamento urbano heterogéneo composto por
soluções híbridas, uso de técnicas de simulação da evolução, como também
a combinação dessas estratégias (Figura 16C), que permite levar a um
número ainda maior de possibilidades formais, mantendo a racionalidade e
a lógica construtiva (BEIRÃO, 2012, p. 24).
187

Figura 16 - Diferentes abordagens de projeto: Parametrização (A); Projeto


baseado em regras (B) e combinação das duas estratégias (C). Fonte:
Beirão, Mendes e Celani, 2015, p. 103.

Beirão (2012, p. 23), em sua tese de doutorado, cria um modelo


teórico para uma ferramenta de desenho urbano chamado CItyMaker onde
se podem encontrar as principais contribuições acerca de métodos de
concepção e ferramentas conceituais para a forma flexível, o processo de
desenho urbano interativo e responsivo, no qual as cidades são sistemas
dinâmicos conforme sua configuração, e as características espaciais e
sociais são o resultado de um grande número de fatores que, de alguma
forma, estão relacionadas com o que é construído, bem como a sua
dinâmica.
Beirão, Mendes e Celani (2015, p. 106) definem a ferramenta
computacional CItyMaker como um conjunto de padrões paramétricos
programados para gerar as operações típicas de projeto urbano, tais como
ruas, malhas e espaços públicos, e um conjunto de ferramentas utilizadas
para medir as propriedades de densidade de espaços urbanos. Essa
abordagem combina ferramentas analíticas e de projeto que podem ser
utilizadas de forma interativa dentro da mesma plataforma de trabalho. Os
padrões de projeto urbano que compõem a ferramenta são códigos
projetados para replicar ações típicas de projeto, assim, diferentes
modalidades desses padrões possibilitam produzir diferentes modelos
urbanos. Entre as ferramentas analíticas encontram-se ferramentas de
cálculo de indicadores do plano, que incluem:
 Padrão de projeto de rua: gera a representação de uma rua
incluindo a sua superfície em função de uma largura e o seu
eixo central;
 Padrão de malha retangular: gera uma malha retangular em
função de dimensões da quadra, largura da rua e orientação 188
da malha; gera as quadras e os eixos centrais das ruas em
fluxos de informação separadas;
 Filtro 1 (filtragem de pequenas áreas): filtra quadras com área
inferior a um determinado valor. Os fluxos de informação ficam
disponíveis para posteriores processamentos;
 Filtro 2 (filtro de seleção de polígonos): seleciona um polígono
marcado com um ponto mantendo referência à estrutura de
dados;
 Padrão distribuição de altura máxima da construção: distribui
um limite de altura máxima em função de um ponto atrator ou
rua com efeito atrator;
 Taxa de ocupação: distribui uma ocupação máxima de solo
em função de um ponto atrator ou rua com efeito atrator;
 Padrão para importar informações: importa informações de
um banco de dados SIG (Sistema de Informação Geográfica);
 Padrões de Análise: padrões para análise de densidade e
padrões de cálculo dos indicadores de densidade;

Neste contexto, analisaremos os resultados do CItyMaker, onde foi


utilizado o formalismo da gramática da forma e a abordagem da
modelagem paramétrica27 (Figura 17), como métodos para a geração de
espaços públicos em conjuntos de HIS no Brasil, assumindo que essa
metodologia possa contribuir para uma exploração mais ampla e
aprofundada de diferentes soluções de projeto no contexto urbano e
verificar as mudanças dos indicadores urbanos em tempo real, fazendo uso
de informação associada por georreferenciação. A fim de testar o método

27 O software de modelagem tridimensional utilizado foi o Rhinoceros juntamente com o plug-in


Grasshopper, o qual permite a construção de um modelo paramétrico. À medida que os valores
dos parâmetros estabelecidos no Grasshopper são alterados, o modelo geométrico é
automaticamente atualizado (BEIRÃO, MENDES, CELANI, 2015, p. 104).
proposto foi organizado um workshop com estudantes, denominado
Parametric Urban Design, cada workshop foi direcionado para diferentes
escalas do projeto de um conjunto habitacional: (1) desenho urbano, (2)
implantação urbana do conjunto habitacional e (3) relação entre os edifícios
e os espaços externos (BEIRÃO; MENDES; CELANI, 2015, p. 101).

189

Figura 17 - Ferramenta CItyMaker implementada no plug-in Grasshopper e


visualização no software de modelagem Rhinoceros. Fonte: Beirão, Mendes
e Celani, 2015, p. 105.

A área delimitada para a intervenção proposta está localizada na


cidade de Campinas, constitui um importante vetor de crescimento da
cidade em direção ao aeroporto internacional. O objetivo da proposta
incluiu o desenvolvimento de um desenho urbano para essa região,
habitação para uma população de 5.000 a 10.000 pessoas distribuídas em
três conjuntos predefinidos de acordo com sua renda mensal, estruturas para
facilitar e incentivar o comércio local, instalações (escolas, postos de saúde,
creches, parques, centro de esportes), estruturas para prestação de serviços
e infraestrutura de transporte para conexão entre a cidade e o aeroporto
(BEIRÃO; MENDES; CELANI, 2015, p. 104).
A equipe 1 apresentou uma proposta fundamentada na evolução
urbana e na constante alteração das necessidades e diversidade,
preocupando-se em encontrar soluções flexíveis e elaborar soluções
alternativas para redefinir as relações entre espaço construído e espaço livre,
garantindo a importância dos fluxos. Para isto, a equipe optou pela criação
de pontos focais descentralizados e multiplicados (Figura 18). Além disso, o
grupo apresentou o desenho das quadras a partir da divisão geradas pelas
avenidas principais e dos parques, bem como a distribuição da densidade
do bairro baseada nos pontos focais (BEIRÃO; MENDES; CELANI, 2015, p. 107).

190

Figura 18 - Apresentação do projeto da equipe 1. Utilização das praças


como ponto focal e setorização da área de intervenção. Fonte: Beirão,
Mendes e Celani, 2015, p. 107.

A equipe 2 apresentou a expansão da malha urbana por meio de um


desenho associado ao entorno que fortalece a região com a criação de
novos equipamentos e infraestrutura, no qual incluiu referências do traçado
urbano de cidades como Paris, Barcelona, São Francisco, Londres e Nova
York, bem como explorou de forma relevante as ferramentas do CItyMaker
para análise de uso e ocupação do solo da área do entorno e cálculo da
distância do sistema de transporte público, propondo a subdivisão da área
em distritos menores e assim, apresentar possíveis soluções, desde a escala
do desenho urbano ao edifício. Partindo também de um método baseado
em regras, a equipe apresentou regras para subdivisão e opções de
ocupação da quadra, implantação dos edifícios, detalhamento das vias e
gabarito dos edifícios; bem como regras para ampliação das habitações
unifamiliares como um sistema evolutivo (Figura 19) (BEIRÃO; MENDES;
CELANI, 2015, p. 107).
191

Figura 19 - Apresentação do projeto da equipe 2. Utilização do conjunto de


ferramentas CItyMaker para análise de uso e ocupação do solo e
detalhamento de diretrizes para o conjunto habitacional, Distrito 1:
subdivisão da quadra e regras para ampliação de habitações unifamiliares
(sistema evolutivo). Fonte: Beirão, Mendes e Celani, 2015, p. 108.

A equipe 3 desenvolveu a proposta a partir das seguintes


considerações: a área constitui um vazio urbano, possui infraestrutura
precária, possui áreas verdes com potenciais não valorizados, possui áreas
de invasão ao longo dos cursos d’água. Dessa forma, a solução adotada
pelos alunos foi projetar o desenho urbano baseado nos equipamentos
urbanos e áreas verdes, assim, definiram as diferentes densidades do bairro a
partir de pontos de atração, escalonando o gabarito das edificações
baseando-se na localização dos pontos de atração. Para atingir esses
objetivos, a equipe utilizou ferramentas do CItyMaker para definir as áreas
verdes significativas e a partir da utilização do componente Galápagos 28 do
plug-in Grasshopper, foi feito o cálculo das conexões entre as áreas verdes
mais relevantes. Essa equipe também conseguiu partir do desenho urbano à
escala da quadra, alcançando bons resultados com o uso da ferramenta
Galápagos para otimizar o uso e ocupação das quadras e gabarito dos
edifícios (Figura 20) (BEIRÃO; MENDES; CELANI, 2015, p. 108).

28 Galápagos é um componente do plug-in Grasshopper que funciona como uma plataforma


genérica para a aplicação de algoritmos evolutivos com ampla variedade de problemas por
não-programadores.
192

Figura 20 - Apresentação do projeto da equipe 3. Definição da densidade a


partir dos pontos de atração: uso do Galápagos para calcular as conexões
entre os pontos verdes e para otimizar uso e ocupação das quadras. Fonte:
Beirão, Mendes e Celani, 2015, p. 108.

Diante destas propostas, podemos considerar que o método de


utilizar estratégias de projeto baseado em regras e modelagem paramétrica,
a ferramenta CItyMaker é eficaz não somente para o desenvolvimento de
maior diversidade dos espaços públicos em conjuntos de HIS, mas também
como projetos urbanos em geral. Tal experiência didática demonstra o
potencial da utilização de regras paramétricas implementadas em um
sistema computacional no contexto urbano.
Vale ressaltar também a exploração de diferentes soluções, grande
diversidade de tipos morfológicos urbanos dentro de um único projeto,
diversas configurações espaciais e na experimentação de diferentes
parâmetros e variáveis envolvidas como o uso e ocupação do solo,
densidade, conexão de áreas verdes, malha urbana, entre outros aspectos.

A3.6 Considerações Finais


Com a aplicação dessas ferramentas a nível urbano, consideramos o
real potencial de usar essas ferramentas não só para projetar melhores
cidades para o futuro, mas também para compreender e analisar as atuais
cidades, bem como visualizá-las de novas maneiras em um sistema
adaptativo dinâmico.
A inovação tecnológica contínua tem demonstrado um grande
potencial de atualizar, revisar e alterar um desenho urbano em tempo real e
em contextos geográficos e topográficos, assim sendo, uma nova 193
metodologia computacional para a modelagem da forma urbana. Com a
utilização desta nova metodologia de trabalho é possível diminuir a
probabilidade do insucesso de um estudo urbano, os projetos podem ser
dinâmicos e evoluírem acompanhando a cidade. As possibilidades e
características das ferramentas digitais para adoção de métodos
paramétricos no desenho urbano podem ser um possível futuro do
urbanismo.

A3.7 Referências

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