Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Introdução
De acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral – TSE (2019), as
mulheres representam 52,5% dos eleitores brasileiros. Por outro lado, há uma
representação ínfima das mulheres nos espaços de poder, a exemplo da Câmara
Federal.
Em 2014, foram eleitas 51 Deputadas Federais, representando 9,94% em
relação ao total de 513 parlamentares. Em 2018, foram eleitas 77 Deputadas
Federais, passando a 15%, em relação ao total dos parlamentares. O que significa
um aumento de 51% na representação das mulheres na Câmara Federal.
O fim do financiamento das campanhas eleitorais por empresas privadas,
em 2015, traz alterações na legislação eleitoral, e, entra em vigência nas eleições
gerais de 2018, o Fundo Especial de Financiamento de Campanha – FEFC,
instituído pela Lei 13.488/2017, sancionada em 06 de outubro de 2017.
A partir da Consulta TSE nº 0600252-18, de Deputadas Federais e
Senadoras, julgada em 22 de maio de 2018, o TSE decidiu destinar 30% dos
recursos do FEFC para as candidaturas de mulheres, o que não estava previsto na
legislação aprovada no Congresso Nacional.
Este trabalho tem como objetivo analisar o impacto da decisão do TSE,
em aplicar 30% dos recursos do FEFC nas candidaturas de mulheres, e sua relação
com o resultado do processo eleitoral, das mulheres, para a Câmara Federal.
As informações de deputadas federais eleitas em 2014 e 2018 e das
contas eleitorais foram coletadas no Repositório de Dados e no sistema
DivulgaCand do site do TSE, sendo sistematizadas em um banco de dados que
referenciou este trabalho. A partir do qual se investigou a correlação de variáveis
para a análise de diversos aspectos envolvendo a utilização dos recursos do FEFC.
Para compreender a sub-representação das mulheres, inclusive as
dificuldades que enfrentam para acessar recursos para o financiamento de
campanhas, serão considerados estudos que apontam para a importância do
financiamento público, como estratégia de política afirmativa para contribuir com
uma representação igualitária das mulheres no legislativo. E, teorias feministas, que
estabelecem conexões com questões de ordem moral, econômicas e institucionais.
2
Tabela 1 - Part icipação das mulheres na Câmara Federal. Legislaturas de 1950 a 1999. Brasil
TOTAL DE DEPUTADOS
LEGISLATURA HOMENS MULHERES % MULHERES
1950-1954 325 1 0,3
1954-1958 325 1 0,3
1958-1962 325 1 0,3
1962-1966 403 1 0,2
1966-1970 398 6 1,4
1970-1975 292 1 0,3
1975-1979 363 1 0,2
1979-1983 418 2 0,4
1983-1987 471 8 1,6
1987-1991 462 25 5,1
1991-1995 473 30 5,7
1995-1999 475 38 7
Fonte: Elaboração das autoras.
Resolução TSE 23.575/2018 Artigo 19, § 3º Destina no mínimo 30% (trinta por cento) do montante do
Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC)
para aplicação nas campanhas das candidatas mulheres
Consulta TSE nº 0600252-18 Destina 30% do tempo de propaganda eleitoral para as
candidatas mulheres, pelos partidos ou coligações.
Gráfico 5 – Custo médio das campanhas das candidatas, por Estado. Brasil. 2014, 2018.
Gráfico 6 – Distribuição das candidatas eleitas de acordo com o perfil ideológico dos Partidos.
14
nos costumes, que vêm pautando o debate na Câmara Federal, também, não
necessariamente, está em acordo com o pensamento das mulheres trabalhadoras.
Pois, o voto das Deputadas será determinado, não necessariamente pelo gênero,
mas sim, pelo posicionamento de seu partido de acordo com o espectro ideológico,
no qual se insere. Como ocorreu nas mudanças da legislação trabalhista, que
aprovou, com o voto de mulheres, a possibilidade de grávidas e lactantes exercer
atividade insalubre.
6 Considerações Finais
Os dados sobre a utilização de 30% dos recursos do FEFC revelam a
importância de mecanismos institucionais para promover a participação política das
mulheres. E, que o uso destes recursos contribuiu para o crescimento de 51% da
representação das mulheres em relação às eleições de 2014. Um resultado positivo,
mas, ainda distante da superação da sub-representação das mulheres nos espaços
de poder e para reverter à posição do Brasil no ranking da ONU, ao ocupar a 154°
posição, entre 174 países, quanto à representação feminina.
O processo de superação, da sub-representação política das mulheres,
mantém uma correspondência com mudanças nas relações de poder estabelecidas
na sociedade, seja no campo da economia, da família, e institucional.
A concentração de recursos públicos no financiamento de campanhas
eleitorais, em um número reduzido de organizações partidárias, pode se constituir,
por um lado, em um mecanismo de manutenção de poder, e não de perspectiva de
renovação, o que contraria as aspirações populares. Por outro lado, pode levar a um
crescimento descritivo da participação das mulheres na Câmara Federal e demais
casas legislativas, ou no executivo, mas, torna ainda maior, à distância na relação
entre representantes e representadas. Alterar esta situação implica em mudança nos
critérios adotados para a distribuição de recursos dos Fundos de Financiamento
Público, seja de manutenção dos partidos ou eleitoral. O que desenha um novo
campo de embate político, que pode contribuir para melhorar a qualidade da
democracia brasileira, e que interessa não somente às mulheres, mas, a todos que
estejam sendo alijados do processo.
E, soma-se, a isto, a situação de vulnerabilidade das normas legais. Pois,
a cada quatro anos, a depender do perfil ideológico de quem assume o executivo ou
da maioria composta pelo congresso, qualquer pequeno avanço em direção à
16
REFERÊNCIAS
ALVARES, Maria Luzia Miranda. Entre eleitoras e elegíveis: as mulheres e a
formação do eleitorado na democracia brasileira – quem vota? Quem se
candidata. Cad. Pagu, Dez 2014, no. 43, p. 119-167. ISSN 0104-8333.
BIROLI, Flávia. Teorias Feministas da Política, Empiria e Normatividade. Lua
Nova [online]. 2017, n.102, pp.173-210. ISSN 0102-6445. Disponível em
http://dx.doi.org/10.1590/0102-173210/102. Acesso em: 03 abr. 2019.
PATEMAN, Carole. Críticas feministas à dicotomia público/privado. In: MIGUEL, Luis
Felipe; BIROLI, Flávia (Orgs.). Teoria política feminista: textos centrais. Vinhedo,
Editora Horizonte, 2013.
POWER, Timothy J; ZUCCO, Cesar. BBC Brasil, mar. 2018. Disponível em
<https://www.bbc.com/portuguese/brasil-43288018>. Acesso em: 27 jun. 2019.
SACHETT, Teresa; SPECK, Bruno. Financiamento Eleitoral e Representação
Política: O peso do dinheiro e o desequilíbrio de gênero nas esferas legislativas. In:
34° CONGRESSO ANUAL DA ANPOCS, 2010, Caxambu, Minas Gerais, Anais
eletrônicos. Disponível em <https://anpocs.com/index.php/papers-34-encontro/st-
8/st06-7>. Acesso em: 23 mar. 2019.
SANCHEZ, Beatriz. Reforma Política e Representação Parlamentar Feminina:
possibilidades e limites. Almanaque de Ciência Política, Vitória, vol. 1, p. 04-14,
2017. Disponível em <https://doi.org/10.25193/issn2526-8066.v1.n1.a01>. Acesso
em: 25 mar. 2019.
VOTO da mulher. In: PORTO, Walter Costa. Dicionário do voto. Brasília: UnB,
2000. p. 427-436. Disponível em <http://www.tse.jus.br/eleitor/glossario/termos/voto-
da-mulher>. Acesso em: 27 abr. 2019.
Documentos
BRASIL. Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997. Lei das Eleições. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 1 out. 1997. Disponível em: <
http://www.tse.jus.br/legislacao/codigo-eleitoral/lei-das-eleicoes/lei-das-eleicoes-lei-
nb0-9.504-de-30-de-setembro-de-1997>. Acesso em: 19 mar.2019.
BRASIL. Lei 9.096, de 19 de setembro de 1995. Lei dos Partidos Políticos. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 20 set. 1995. Disponível em: <
18
http://www.tse.jus.br/legislacao/codigo-eleitoral/lei-dos-partidos-politicos/lei-dos-
partidos-politicos-lei-nb0-9.096-de-19-de-setembro-de-1995>. Acesso em: 19 mar.
2019.