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XIII Reunião de Antropologia do Mercosul

22 a 25 de Julho de 2019, Porto Alegre (RS).

Grupo de Trabalho: Mulher, Política e Resistência.

“Financiamento Público de Campanha e Representação Feminina na Câmara


Federal nas Eleições Legislativas de 2018”

Glenda Liliane Rodrigues Guilhon da Silva - UFPA


Leny May da Silva Campêlo – UFPA
Resumo
Em 2018, com a instituição do Fundo Especial de Financiamento de Campanha –
FEFC, foram eleitas 77 Deputadas Federais, representando 15%, do total de 513
parlamentares. O que significa um aumento de 51% na representação das mulheres
na Câmara Federal. Este trabalho tem como objetivo analisar o impacto da decisão
do Tribunal Superior Eleitoral em aplicar 30% dos recursos do FEFC nas
candidaturas de mulheres, em relação ao resultado do processo eleitoral de 2018,
das mulheres, para a Câmara Federal, considerando dimensões de ordem descritiva
e de representação substantiva, bem como, na perspectiva da democratização do
acesso aos recursos para financiamento das campanhas eleitorais. E, assim,
contribuir para a análise deste dado na política brasileira, que é o financiamento
público de campanha.

Palavras-Chave: Mulheres, Representação, Financiamento.


1

Introdução
De acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral – TSE (2019), as
mulheres representam 52,5% dos eleitores brasileiros. Por outro lado, há uma
representação ínfima das mulheres nos espaços de poder, a exemplo da Câmara
Federal.
Em 2014, foram eleitas 51 Deputadas Federais, representando 9,94% em
relação ao total de 513 parlamentares. Em 2018, foram eleitas 77 Deputadas
Federais, passando a 15%, em relação ao total dos parlamentares. O que significa
um aumento de 51% na representação das mulheres na Câmara Federal.
O fim do financiamento das campanhas eleitorais por empresas privadas,
em 2015, traz alterações na legislação eleitoral, e, entra em vigência nas eleições
gerais de 2018, o Fundo Especial de Financiamento de Campanha – FEFC,
instituído pela Lei 13.488/2017, sancionada em 06 de outubro de 2017.
A partir da Consulta TSE nº 0600252-18, de Deputadas Federais e
Senadoras, julgada em 22 de maio de 2018, o TSE decidiu destinar 30% dos
recursos do FEFC para as candidaturas de mulheres, o que não estava previsto na
legislação aprovada no Congresso Nacional.
Este trabalho tem como objetivo analisar o impacto da decisão do TSE,
em aplicar 30% dos recursos do FEFC nas candidaturas de mulheres, e sua relação
com o resultado do processo eleitoral, das mulheres, para a Câmara Federal.
As informações de deputadas federais eleitas em 2014 e 2018 e das
contas eleitorais foram coletadas no Repositório de Dados e no sistema
DivulgaCand do site do TSE, sendo sistematizadas em um banco de dados que
referenciou este trabalho. A partir do qual se investigou a correlação de variáveis
para a análise de diversos aspectos envolvendo a utilização dos recursos do FEFC.
Para compreender a sub-representação das mulheres, inclusive as
dificuldades que enfrentam para acessar recursos para o financiamento de
campanhas, serão considerados estudos que apontam para a importância do
financiamento público, como estratégia de política afirmativa para contribuir com
uma representação igualitária das mulheres no legislativo. E, teorias feministas, que
estabelecem conexões com questões de ordem moral, econômicas e institucionais.
2

2 Do lugar na sociedade aos obstáculos para a participação política das mulheres.


Está presente na discussão sobre a participação política das mulheres:
qual o seu lugar, afinal, na sociedade?
Pateman (2013) faz esta discussão a partir das teorias feministas sobre a
dicotomia entre público e privado, no contexto do liberalismo. E, reconhece a
complexidade da diferenciação entre estes espaços, na medida em que há uma
ideia mística de que está na natureza das mulheres uma posição de submissão aos
homens e de ter, como seu lugar, o espaço doméstico.
A maneira em que mulheres e homens são situados de forma diferenciada
dentro da vida privada e do mundo público é, como indicarei, uma questão
complexa, mas, subjacente a uma realidade complicada, há a crença de
que as naturezas das mulheres são tais que elas são devidamente
submetidas aos homens e seu lugar é na esfera doméstica e privada. Os
homens corretamente habitam as duas esferas e tomam as decisões no
âmbito delas. O argumento feminista essencial é de que a doutrina
“separados, mas iguais” e o individualismo e o igualitarismo ostensivos da
teoria liberal obscurecem a realidade patriarcal de uma estrutura social de
desigualdade e a dominação das mulheres pelos homens (PATEMAN,
2013, p. 57).

E, destaca na argumentação das teorias feministas que relações sociais


patriarcais e de classe são veladas pela teoria liberal, com sua ideia de
universalidade.
Ao analisar esta dicotomia a partir de outras categorias, como moralidade
e poder, para Pateman (2013) a luta das mulheres, pelo direito ao voto, se apresenta
como um movimento de questionamento às teorias liberais.
A longa luta para dar o direito de voto às mulheres é um dos mais
importantes exemplos teóricos e práticos de ataques feministas à dicotomia
entre o privado e o público. Argumentos sufragistas mostram como a
tentativa de universalizar os princípios liberais leva a um questionamento do
próprio liberalismo[…] (PATEMAN, 2013, p. 65).

E, ainda que surjam opiniões diferenciadas sobre o movimento sufragista,


em relação à dicotomia entre público e privado, ele expôs esta contradição e a
transformou em um problema político.
Com a conquista do voto as relações sociais patriarcais e de classe vão
se refletir em dificuldades econômicas na eleição das mulheres, seja pelo menor
poder econômico, seja pelas dificuldades de acessar recursos na sociedade, ou
ainda, nos partidos, como nos traz VELÁSQUEZ (2003 apud ZOVATTO, 2015, p.
324):
3

[...] o obstáculo real e mais inabilitante que enfrenta a mulher na política é a


falta de acesso aos recursos financeiros do partido político a que pertence,
pois embora os partidos possuam recursos para realizar campanhas
eleitorais, as mulheres não se beneficiam deles. Assim, não obstante os
avanços que ocorreram na incorporação da mulher à política, a perspectiva
de gênero não chegou a atravessar e estender às mulheres a questão
crucial do financiamento. Financiar campanhas eleitorais e, em termos mais
gerais, financiar qualquer atividade política, se torna assim uma questão
mais crítica para as mulheres do que para os homens.

E, a superação deste obstáculo é fundamental para a construção desta


participação que, considerando diferentes dimensões da representação política, tais
como a descritiva e a substantiva discutidas por Sanchez (2017), poderá ser
analisada pelo aspecto numérico da representação das mulheres,
A dimensão descritiva diz respeito à quantidade de mulheres nos
parlamentos. De acordo com essa perspectiva, o Congresso deveria ser
como um microcosmos da população, ou seja, se as mulheres
correspondem à metade da população, deveriam ocupar metade das
cadeiras do Legislativo (SANCHEZ, 2017, p. 6).

Ou pela relação entre eleitas e representadas.


Essa preocupação com a representação dos interesses está associada à
dimensão da representação substantiva. Nessa perspectiva, a
representação significa agir de acordo com os interesses dos
representados, de modo responsivo. Nesse sentido, não basta que as
mulheres estejam presentes no parlamento, é necessário que elas
representem os interesses das mulheres (SANCHEZ, 2017, p. 6).

Na abordagem da luta das mulheres brasileiras, por sua participação


política, Alvares (2014), ao analisar a formação do eleitorado na democracia
brasileira, registra a ausência da participação das mulheres na Constituição de 1824,
o que é por ela considerado uma demonstração da desigualdade de gênero na
sociedade brasileira.
[...] configura o tratamento desigual de gênero, fortalecendo as estruturas
patriarcais do comportamento político do demos. O não voto para as
mulheres justificava-se por essas regras que determinavam uma “condição
feminina” diferenciada da masculina na educação, nos costumes, nos quais
sobressaía um estereótipo comum à família patriarcal brasileira: o mando
dos homens em relação à sujeição das mulheres (ALVARES, 2014, p. 135).

Na base desta desigualdade encontra-se o caráter patriarcal na formação


da sociedade brasileira, onde as mulheres, apesar das ações que empreendiam
para conquistar esta participação estavam em uma relação de subordinação aos
homens.
4

3 A ação política das mulheres brasileiras por uma cidadania.

Articuladas através de uma imprensa feminista, ou ainda, se organizando


no Partido Republicano Feminino, ou na Federação Brasileira pelo Progresso
Feminino, as mulheres, que não lograram êxito em sua demanda pelo voto nas
Constituições de 1824 e de 1891, que institui a República, atuaram em defesa do
acesso à educação de nível superior, no ingresso em carreiras profissionais com
baixa presença de mulheres e no fortalecimento do ativismo político pelo direito ao
voto (ALVARES, 2014). Nisso, são altamente influenciadas pelos movimentos
emancipacionistas que ocorriam na Europa e Estados Unidos.
Com as mudanças políticas na década de 30 e que levam ao fim da
República Velha, o Código Eleitoral de 1932 traz, entre as principais inovações, a
instituição do voto feminino. Mas, esta é uma vitória parcial, pois enquanto o Código
Eleitoral adota o voto universal, por sua vez a Constituição de 1934 define que
apenas as mulheres no exercício de função pública remunerada eram obrigadas ao
exercício do voto. O que é referendado pelo Código Eleitoral de 1935.
No período de exceção, vivido entre os anos de 1964 a 1984, que cai a
obrigatoriedade do exercício de função pública remunerada para que as mulheres
pudessem exercer o direito ao voto, com o Código Eleitoral de 1965. Ainda assim, as
mulheres analfabetas continuavam inalistáveis, o que foi prescrito somente com a
Constituição de 1988, portanto, é a partir deste momento que as mulheres
brasileiras, em sua totalidade, passam a exercer o direito ao voto, o que
compreende o direito a ser votada.
E, podemos verificar (Tabela 1) que, de acordo com os dados do TSE
sobre a presença das mulheres na Câmara dos Deputados, entre 1950 a 1999, até a
Legislatura de 1983 a 1987 o percentual de mulheres varia de 0,2% a 1,4%.
Situação que começa a se alterar após a Constituição de 1988, quando as mulheres,
na Legislatura de 1987 a 1991, representam 5,1% do total de eleitos à Câmara
Federal.
5

Tabela 1 - Part icipação das mulheres na Câmara Federal. Legislaturas de 1950 a 1999. Brasil
TOTAL DE DEPUTADOS
LEGISLATURA HOMENS MULHERES % MULHERES
1950-1954 325 1 0,3
1954-1958 325 1 0,3
1958-1962 325 1 0,3
1962-1966 403 1 0,2
1966-1970 398 6 1,4
1970-1975 292 1 0,3
1975-1979 363 1 0,2
1979-1983 418 2 0,4
1983-1987 471 8 1,6
1987-1991 462 25 5,1
1991-1995 473 30 5,7
1995-1999 475 38 7
Fonte: Elaboração das autoras.

4 A Conferência de Pequim e as políticas afirmativas no sistema eleitoral brasileiro.

A Conferência de Pequim “Ação para a Igualdade, o Desenvolvimento e a


Paz”, promovida pela ONU em 1995, e de cujo resultado o Brasil é signatário, trouxe
importantes contribuições para o debate sobre a situação da mulher, seja pela
perspectiva transversal, ou de ordem conceitual e programática, com vistas à
superação dos obstáculos que se colocam ao pleno exercício de sua cidadania,
inclusive, no que diz respeito a sua participação nos espaços de poder. Em termos
conceituais, a Conferência marca a ruptura com a questão biológica, como categoria
de análise das desigualdades entre homens e mulheres, e incorpora o conceito de
gênero, considerando estas relações como resultado de padrões determinados
social e culturalmente, portanto, passíveis de alteração.
Não é da natureza das mulheres uma posição de submissão aos
homens, ou de ter, como seu lugar, o espaço doméstico. Os homens e as mulheres
aparecem posicionados de forma distinta na sociedade, não por questões biológicas,
mas em razão de relações sociais desiguais, patriarcais e de classe, e que são
veladas pela teoria liberal, com sua ideia de universalidade PATEMAN (2013).
6

É nesse contexto que, a partir da década de 1990 começa a se inscrever,


na Legislação Eleitoral Brasileira, políticas afirmativas para fazer frente à sub-
representação das mulheres.
Quadro 1 – Legislação Eleitoral. Brasil.
Lei/Ano Artigo Estabelece
Lei 9100/1995 Artigo 11, §3° Cota de gênero de, no mínimo, 20% para as mulheres na
composição das chapas proporcionais de partido ou
coligação.
Lei 9504/1997 Cota mínima de 30% e máxima de 70%, para cada sexo,
nas chapas proporcionais, de partido ou coligação.
Lei 9.096/95 Artigo 44, Inciso V Destina 5% dos recursos do Fundo Partidário para Ações
de Promoção da Participação Política das Mulheres
(incluído pela Lei 12.034/2009 e alterado pela Lei
13.165/2015)
Lei 9.096/95 Artigo 45, Inciso IV Destina 10% nos programas partidários e nas inserções,
para promover e difundir a participação política feminina
(incluído pela Lei 12.034/2009, alterado pela Lei
13.165/2015 e excluído pela Lei 13.487/2017 que
extinguiu os programas e inserções partidárias anuais).
Resolução TSE 23.575/2018 Artigo 21, § 4º Destina ao financiamento de campanhas das candidatas
no mínimo 30% dos gastos totais contratados nas
campanhas eleitorais com recursos do Fundo Partidário,
incluídos nesse valor os recursos a que se refere o inciso
V do art. 44 da Lei nº 9.096/1995 (Lei nº 13.165/2015).

Resolução TSE 23.575/2018 Artigo 19, § 3º Destina no mínimo 30% (trinta por cento) do montante do
Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC)
para aplicação nas campanhas das candidatas mulheres
Consulta TSE nº 0600252-18 Destina 30% do tempo de propaganda eleitoral para as
candidatas mulheres, pelos partidos ou coligações.

A Resolução TSE 23.575/2018, ao assegurar a aplicação de 30% dos


recursos do FEFC para as candidatas mulheres, se constitui como um marco na
busca de superar obstáculos estruturais à participação política das mulheres, no
contexto da democracia representativa liberal.

5 O financiamento público de campanha e a construção de um caminho de ruptura


dos constrangimentos estruturais da participação política das mulheres.

5.1 O Fundo Especial de Financiamento de Campanha - FEFC


As eleições de 2018 se realizaram sob um novo marco jurídico em
relação ao financiamento das campanhas eleitorais. É a primeira eleição que conta
com financiamento público de campanha, através da instituição do Fundo Especial
de Financiamento de Campanha – FEFC.
Em setembro de 2015 o TSE tomou uma decisão histórica que alterou,
estruturalmente, a política de financiamento das campanhas eleitorais. Na
oportunidade, julgou a Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI 4650 que
considerou inconstitucional o financiamento de campanhas por empresas. Até 2014
7

as empresas podiam financiar as campanhas eleitorais em, até, 2% do seu


faturamento bruto. O que representou, naquele ano, 80% do total do financiamento
das campanhas, representando mais de R$3 bilhões, conforme dados do TSE.
Diante da decisão do TSE, o congresso brasileiro aprovou mudanças na
legislação eleitoral que, de um lado, ratificou o fim do financiamento por empresas,
e, de outro, instituiu o financiamento público, com a Lei 13.488/2017. Os recursos do
FEFC tiveram sua distribuição, aos Partidos, definidas por Lei, mas, pode-se
observar que tal decisão não leva em consideração a questão de gênero. Senão,
vejamos:
I - 2% (dois por cento), divididos igualitariamente entre todos os partidos
com estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral;
II - 35% (trinta e cinco por cento), divididos entre os partidos que tenham
pelo menos um representante na Câmara dos Deputados, na proporção do
percentual de votos por eles obtidos na última eleição geral para a Câmara dos
Deputados;
III - 48% (quarenta e oito por cento), divididos entre os partidos, na
proporção do número de representantes na Câmara dos Deputados, consideradas
as legendas dos titulares;
IV - 15% (quinze por cento), divididos entre os partidos, na proporção do
número de representantes no Senado Federal, consideradas as legendas dos
titulares.
A partir da provocação de Deputadas e Senadoras, através da Consulta
TSE nº 0600252-18, julgada em 22 de maio de 2018, o TSE decide pela destinação
de 30% dos recursos do FEFC para as candidatas Mulheres.
A questão econômica tem uma relação direta com a sub-representação
das mulheres, seja pelo fato de terem um menor poder econômico, seja pelas
dificuldades de acessar recursos na sociedade, ou ainda, nos partidos
(VELASQUEZ, 2003 apud ZOVATTO, 2015, p. 324).

E, as legislações, que regulam o financiamento dos partidos e


campanhas, raramente, explicitam a questão de gênero (ZOVATTO, 2015). O que
ocorreu quando da decisão do congresso brasileiro ao aprovar o Fundo Especial de
Financiamento de Campanha e as regras para sua distribuição.
8

A iniciativa das parlamentares, e seu acolhimento pelo TSE, demonstram


a importância do ativismo das mulheres para superar os obstáculos à sua
participação política, bem como à democratização do acesso aos recursos para o
financiamento das campanhas eleitorais.
Os Partidos receberam, através do FEFC, R$1.716.209.431,00, dos
quais, de acordo com as normas legais, R$514.862.830,00 a ser destinados às
candidaturas das mulheres, correspondendo a 30%.
O FEFC é constituído com recursos de dotação orçamentária da União,
especificamente, nos anos em que ocorrem eleições. Para sua viabilização foi
extinta a propaganda partidária anual, e as bancadas devem destinar 30% das
emendas parlamentares, com execução obrigatória, para compor o FEFC.

Gráfico 1 – Cota de recursos do FEFC às candidaturas das mulheres em relação ao


recursos destinados aos Partidos. Brasil. 2018.

Fonte: Elaborado pelas autoras

Coube a Executiva Nacional, dos Partidos, definir as cotas individuais


para as candidatas mulheres, por se tratar de uma decisão interna corporis. E, nas
Atas enviadas pelos Partidos, ao TSE, em geral, não há uma especificação da cota
individual, para as candidatas mulheres, sendo esta uma decisão posterior da
Executiva Nacional, ou Regional, respeitando a determinação legal.
Foi observado que 64,33% do FEFC foram destinados a 07 Partidos, de
um total de 35 agremiações partidárias aptas a participar do processo eleitoral. Ou
9

seja, houve uma concentração de recursos, inclusive, para as Mulheres, em 20%


das organizações partidárias. Sendo que, os 07 Partidos elegeram 37 Deputadas
Federais, representando 48% das 77 Deputadas Federais eleitas. Esta concentração
é resultado do critério adotado, por legislação aprovada pelo próprio Congresso
Nacional, que estabelece como base de distribuição dos recursos as bancadas
partidárias constituídas na eleição anterior.
Gráfico 2 - Recursos do FEFC utilizados pelas candidatas eleitas. Brasil. 2018.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

5.2 A eleição das candidatas mulheres à Câmara Federal com o financiamento


público de campanha.
Em comparação com as eleições legislativas de 2014, houve um
incremento na representação das mulheres na Câmara Federal. Em 2014 foram
eleitas 51 Deputadas Federais, representando 9,94% em relação ao total de
Deputados Federais, que é de 513 parlamentares. Em 2018 foram 77 Deputadas
Federais eleitas, passando a 15%, em relação ao total dos parlamentares. O que
representa um aumento de 51% da representação das mulheres, na Câmara
Federal.
Gráfico 3 – Deputadas eleitas em 2014 e 2018, em relação ao total de Deputados.

Fonte: Elaborado pelas autoras


10

Das 77 Deputadas eleitas, 29 foram reeleitas, correspondendo a 38% das


eleitas. Em 2014, 19 Deputadas, entre as 51 eleitas, haviam disputado a reeleição e
representaram 37% das eleitas. Portanto, percentualmente, a composição da
bancada mantém a mesma taxa de participação de reeleitas.
Apesar da concentração dos recursos, observado anteriormente, um
número maior de Partidos passa a contar com representação na bancada de
Deputadas Federais eleitas. Em 2014, a bancada eleita era oriunda de 17 Partidos,
e, em 2018 de 24 Partidos.
Em termos regionais, em 2018, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste
foram as que obtiveram um maior incremento em suas representações, sendo que o
Norte e Nordeste, no fundamental, mantiveram sua representação, em relação a
2014.

Gráfico 4 – Distribuição de candidatas eleitas por região. Brasil. 2014, 2018.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Quanto ao financiamento das campanhas, em 2018 as fontes de receitas


permitidas dividiam-se em públicas e privadas, sendo que as públicas eram
constituídas pelos: Fundo Especial de Financiamento de Campanha e Fundo
Partidário. E, as privadas por Recursos Próprios, Recursos de Pessoas Físicas,
Financiamento Coletivo, e Doação de Outros Candidatos ou Comitês. O Fundo
Especial de Financiamento de Campanha e o Financiamento Coletivo são inovações
nas eleições de 2018.
11

As Deputadas Federais eleitas, em 2018, tiveram um investimento total de


recursos financeiros na ordem de R$94.842.935,98, sendo que o investimento de
recursos financeiros do FEFC foi da ordem de R$69.673.717,88, o que representou
73%, em relação ao total de recursos financeiros utilizados. Em 2014, o total de
recursos financeiros utilizados pelas Deputadas Federais eleitas foi na ordem de
R$59.024.303,23. Dos quais, 44,3% originários do Fundo Partidário – FP, que têm
como objetivo a manutenção dos Partidos, sendo que 5% devem ser destinados ao
Apoio de Ações de Promoção da Participação Política das Mulheres, e que pode ser
utilizado no financiamento de campanhas. A segunda receita, em 2014, foi a doação
por empresas, que corresponderam a 26,8% do total, dos recursos. Esta fonte
estava proibida desde as eleições de 2016.
O FEFC ampliou o volume de recursos nas campanhas, em geral, e na
campanha das Deputadas Federais eleitas, em particular. O que fortalece a
relevância dos recursos públicos, distribuídos pelos Partidos, para o financiamento
das campanhas das mulheres. E, no caso, posicionado de forma determinante. O
que corrobora, por um lado, os estudos que apontam sobre a dificuldade das
candidatas mulheres arrecadarem recursos para suas campanhas, através da
doação de terceiros ou disponibilizando recursos próprios. E, nas campanhas à
Câmara Federal isso chega a ser “dramático” (SACCHET; SPECK, 2010, p. 12). E,
por outro lado, o papel que os Partidos Políticos podem desempenhar no
enfrentamento da sub-representação das mulheres, com a destinação de recursos
específicos para o financiamento das candidaturas de mulheres.
Das Deputadas eleitas, em 2018, 07 candidatas não utilizaram recursos
financeiros do FEFC em suas campanhas, seja por motivações programáticas, como
a estabelecida pelo Partido NOVO, que defende o fim de financiamento público aos
Partidos, seja para sua manutenção ou para a disputa eleitoral. Ou outras, como
concepções pessoais ou políticas, ou pelo pouco recurso disponível no Partido. E,
apenas 01, entre as eleitas, teve como principal fonte de financiamento Recursos
Próprios.
A legislação não determina que, independente do valor recebido, pelo
Partido, todas as candidatas recebam os recursos do FEFC. O que pode levar a
constituição de tutelas, através da contratação de despesas pelo Partido, ou a
utilização de critérios de racionalidade sobre expectativa eleitoral que, em geral, é
12

como se mobilizam os Partidos, cujo objetivo é alcançar a maior representatividade,


e onde nem sempre as mulheres se enquadram (ALVARES, 2014).
Portanto, a ruptura do caráter patriarcal dos Partidos, enquanto
instituição, é necessária para desconstruir a política como espaço masculino, pois, o
processo de integração das mulheres não será alcançado, apenas, com o
estabelecimento de normas. Pois, como assevera Biroli (2017, p. 204), “o que está
em jogo não é a exclusão ou inclusão das mulheres, mas sim uma dimensão
estruturante das relações de poder nas diferentes esferas da vida, constitutiva das
instituições e dos valores políticos”.
O custo médio das campanhas das Deputadas eleitas, em 2018,
considerando o Partido, não sofreu grande alteração, em relação a 2014. Em 2014,
o custo médio foi de R$1.157.339,28, e, em 2018 ficou em R$1.231.726,44.
Entretanto, podemos observar que 09 Partidos registraram um custo médio maior,
em relação a 2014, sendo 04 deles do grupo de 07 Partidos que concentrou a maior
parte dos recursos do FEFC. E, quando olhamos para os Estados, chama a atenção
o fato de que todos os Estados da Região Norte, que elegeram Deputadas, tiveram
um custo médio maior em 2018, a saber: Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e
Tocantins.

Gráfico 5 – Custo médio das campanhas das candidatas, por Estado. Brasil. 2014, 2018.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

6 Quem são as mulheres que estão sendo eleitas?


Ainda que o senso comum aponte para uma miscelânea de Partidos, com
baixa identidade programática, as análises de especialistas e levantamentos de tipo
13

survey indicam que, ao considerar o posicionamento dos Partidos, a partir da


percepção dos próprios parlamentares, ou manifesto em votações, sobre temas de
alta relevância, eles mantém uma coerência de pensamento político, que os colocam
dentro de um espectro ideológico.
Power e Zucco (2018) realizaram, em 2017, o Brazilian Legislative Survey
(BSL), que englobou temas como aborto, controle fiscal, reforma política, entre
outros. E, tomando o cenário político de 1979, como referência, constituíram dois
grandes campos no Congresso: um de Centro-Direita e outro de Centro-Esquerda, e
os Partidos foram classificados em Esquerda, Centro-Esquerda, Centro, Centro-
Direita e Direita.
Ilustração 1 – Percepção ideológica dos Partidos, por Deputados e
Senadores

E9Fonte: BLS Survey (2017)

A partir desta classificação, a bancada de Deputadas eleitas em 2018, em


relação ao espectro ideológico, teve um incremento da presença de mulheres
oriundas de Partidos de Centro, Centro-Direita e Direita, em sua composição. Em
especial, dos Partidos mais a Direita, que em números absolutos elegeram 23
Deputadas, das quais 09 são do PSL, Partido que constitui a 2ª bancada de
mulheres na Câmara Federal. Das 77 Deputadas eleitas, 62% vêm deste bloco de
Partidos, enquanto que 38% dos Partidos de Esquerda e Centro-Esquerda.

Gráfico 6 – Distribuição das candidatas eleitas de acordo com o perfil ideológico dos Partidos.
14

Fonte: Elaborado pelas autoras

A análise sobre a autodeclaração de cor/raça indica que se mantém a


representação hegemônica de mulheres brancas na Câmara Federal. Em 2014, as
mulheres brancas ocupavam 41 das 51 cadeiras. Este número cresceu, em 2018,
para 63 cadeiras, das 77 ocupadas por mulheres. Ou seja, as brancas ocupavam
75% dos assentos das mulheres na Câmara, em 2014, e passaram a ocupar 82%
dos assentos das mulheres em 2018. O dado contra-hegemônico é a eleição da
primeira mulher indígena para a Câmara Federal.
E, o perfil profissional se constitui hegemonicamente de mulheres
profissionais liberais, com grau de instrução superior. O que pode ser considerado a
partir da constatação do crescente aumento da escolarização das mulheres. A
PNAD Contínua de 2016 informava que, entre a população com nível superior
completo, o percentual era de 16,9% entre as mulheres e 13,5% dos homens.
Os dados do IBGE nos remetem a uma composição da população
feminina, no Brasil, bastante diversa de sua representação na Câmara Federal, em
todos os indicadores de análise, tais como, raça/cor, grau de instrução e profissão.
Ao considerarmos estes dados, a partir da dimensão da Representação
Substantiva (Sanchez, 2017), há uma distância entre representantes e
representadas. Não se trata aqui de “aprisionar” a representação política das
mulheres em dogmas, ou percepções particularistas. Mas, reconhecer que o móbil
que determina a ação política de mulheres brancas, com grau de instrução superior,
integrantes de camadas médias, ou altas, não necessariamente estará em
consonância com o das mulheres negras, pardas, trabalhadoras e de baixa
instrução. Ou ainda, que a defesa de teses liberais na economia, e conservadoras
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nos costumes, que vêm pautando o debate na Câmara Federal, também, não
necessariamente, está em acordo com o pensamento das mulheres trabalhadoras.
Pois, o voto das Deputadas será determinado, não necessariamente pelo gênero,
mas sim, pelo posicionamento de seu partido de acordo com o espectro ideológico,
no qual se insere. Como ocorreu nas mudanças da legislação trabalhista, que
aprovou, com o voto de mulheres, a possibilidade de grávidas e lactantes exercer
atividade insalubre.

6 Considerações Finais
Os dados sobre a utilização de 30% dos recursos do FEFC revelam a
importância de mecanismos institucionais para promover a participação política das
mulheres. E, que o uso destes recursos contribuiu para o crescimento de 51% da
representação das mulheres em relação às eleições de 2014. Um resultado positivo,
mas, ainda distante da superação da sub-representação das mulheres nos espaços
de poder e para reverter à posição do Brasil no ranking da ONU, ao ocupar a 154°
posição, entre 174 países, quanto à representação feminina.
O processo de superação, da sub-representação política das mulheres,
mantém uma correspondência com mudanças nas relações de poder estabelecidas
na sociedade, seja no campo da economia, da família, e institucional.
A concentração de recursos públicos no financiamento de campanhas
eleitorais, em um número reduzido de organizações partidárias, pode se constituir,
por um lado, em um mecanismo de manutenção de poder, e não de perspectiva de
renovação, o que contraria as aspirações populares. Por outro lado, pode levar a um
crescimento descritivo da participação das mulheres na Câmara Federal e demais
casas legislativas, ou no executivo, mas, torna ainda maior, à distância na relação
entre representantes e representadas. Alterar esta situação implica em mudança nos
critérios adotados para a distribuição de recursos dos Fundos de Financiamento
Público, seja de manutenção dos partidos ou eleitoral. O que desenha um novo
campo de embate político, que pode contribuir para melhorar a qualidade da
democracia brasileira, e que interessa não somente às mulheres, mas, a todos que
estejam sendo alijados do processo.
E, soma-se, a isto, a situação de vulnerabilidade das normas legais. Pois,
a cada quatro anos, a depender do perfil ideológico de quem assume o executivo ou
da maioria composta pelo congresso, qualquer pequeno avanço em direção à
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inserção da mulher na seara política pode ser retirado, ou desqualificado, como


ocorreu com a anistia da multa aos partidos que descumpriram a obrigação de
aplicar, no mínimo, 5% das verbas destinadas à promoção e difusão da participação
política das mulheres, que corresponde a cerca de R$ 70 milhões, aprovada pelo
Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, no dia
17/05/2019.
Não tivemos aqui a pretensão de esgotar a análise deste dado novo na
política brasileira, que é o financiamento público de campanha. Reconhecemos este
trabalho como passos iniciais, seja pelas implicações, inclusive teóricas, que o tema
traz, ou ainda, pelas correlações que se fazem necessárias, quanto ao seu impacto,
no desempenho de outros atores: mulheres não eleitas, homens, e, segmentos
sociais, como trabalhadores, negras/negros, indígenas, entre outros.
17

REFERÊNCIAS
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formação do eleitorado na democracia brasileira – quem vota? Quem se
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