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Sacrificar ou não sacrificar?

Data: 23 de setembro de 2016

Autor: Nós na Umbanda

Tenho acompanhado há algum tempo um forte debate no meio umbandista relacionado a uma
ação que, para algumas casas é fundamento, e para outras posiciona-se contra fundamento da
Umbanda – os sacrifícios animais.

Primeiramente, é necessário explicitar com clareza o que são os tais sacrifícios e o que é
sacrificar. Segundo o Novo Dicionário Crítico e Etymológico de Língua Portuguesa (de Francisco
Solano Constancio, 1836), sacrificar vem do latim sacrificare, que por sua vez, advém das
palavras “fazer” e “santo” da mesma língua. Ou seja, sacrificar é o mesmo que sacralizar
ritualmente. Pelo sacrifício, oferenda-se, pela imolação, um animal à divindade e esse animal
(ou sua maior parte) será consumido pelos fiéis. Horrível?
Pensemos primeiro em Jesus, enquanto judeu. Sua circuncisão, por ser primogênito, a
purificação de sua mãe, foram cumpridas com os sacrifícios rituais que permeavam a cultura
judaica, de acordo com o solicitado no Velho Testamento. Pode-se tranquilamente afirmar isso
porque jamais ouviu-se dizer que nem ele, nem sua família, descumprissem a Lei – muito pelo
contrário, já que ele mesmo disse que veio para cumpri-la. (Mateus 5: 17, 18). Cristo, um
grande crítico dos religiosos hipócritas, falou com severidade dos fariseus e escribas. (Mateus
23: 27). Das vendas no Templo, que estariam transformando a casa de seu Pai em uma casa de
comércio. (João 2:16).

Porém, sob a perspectiva religiosa cristã, vê-se que nem Cristo, nem seus apóstolos,
questionaram a existência e manutenção de sacrifícios a Deus, mesmo que os mesmos se
mantivessem até a terceira destruição do templo, em 70 d.C.

Dentro da Umbanda, a qual todo sabemos ser cristã mesmo que não siga preceitos e
ritualística tradicionais, existe uma história documentada de grande diversidade de influências
que variam de terreiro a terreiro. Inclusive, sobre tal diversidade, afirma-se que
Existe muita similitude entre algumas práticas do Candomblé e as utilizadas na Umbanda. (…)
chegou-se ao ponto de muitos rituais utilizados na Umbanda serem de origem candomblecista
(…). (LINARES; TRINDADE; COSTA, p. 121)

Apesar dessa influência mista, está-se criando consenso com relação ao surgimento dessa
religião. Grande parte dos umbandistas já aceita que Pai Zélio Fernandino de Moraes e o
Caboclo das Sete Encruzilhadas fundaram a Alabanda em 15 de novembro de 1908, que
significaria, segundo relatos e gravações, “Deus ao seu lado”.

Com o tempo, houve a corruptela do nome, aceita pelo querido Caboclo, talvez influenciada
pela existência da palavra banto Umbanda que no contexto daquele povo, significava “arte de
curar”.

O querido Caboclo posicionou-se, segundo relato do próprio Pai Zélio, contra o sacrifício de
animais na prática de Umbanda. (TRINDADE, p. 125). De fato, até onde sabemos, não há notícia
de casa dessa religião descendente das tendas mestras fundadas pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas que tenha praticado o sacrifício ritualístico.

Entretanto, as perguntas para raciocínio são: apenas podem ser consideradas casas de
Umbanda as que foram fundadas por frequentadores das tendas abertas pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas? Mesmo considerando-se as próprias tendas mestras, elas são idênticas entre si?

Até o presente, permanecem em atividade duas delas – a Tenda Espírita Nossa Senhora da
Piedade (TENSP) e a Tenda Espírita São Jorge (TESJ). E o que se pode afirmar é que não existe
igualdade ritualística comparando-se as duas casas fundadas e autorizadas pelo querido
Caboclo.

Na TENSP, por exemplo, jamais se usaram atabaques ou trabalharam-se com linhas auxiliares.
Não há também trabalhos com exus. Já na São Jorge, observa-se o trabalho com instrumentos
de percussão, como foi registrado por Pai Pedro Miranda no CD Todo mundo quer Umbanda,
assim como é feito trabalho com a linha de esquerda da Umbanda.
Assim, nem mesmo o amado Caboclo esperava ou exigia que houvesse unidade ritualística
entre as casas.

Atentemo-nos também para a questão histórica. Existe um forte ramo umbandista de tradição
afro-ameríndia originário de Brasília que possui enorme aproximação com os cultos de nação
convivendo com outros menos próximos aos cultos tradicionais, como pode ser observado no
livro Casos verídicos e fenômenos de Umbanda, de Túlio Ferreira (1993). Ainda existem ramos
em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul originários de casas que transicionaram do Candomblé
para a Umbanda, mas guardando ainda tradições do culto original – isso não pode ser
considerado exceção, como já pontuado por Linares, Trindade e Costa (2015).
O que todas possuem em comum? O culto tendo por base o amor, a humildade e a caridade.
Quanto à ritualística, ela envolverá ou não sacrifícios dependendo da proximidade maior ou
menor com os ritos de nação, já que muitas casas de Umbanda possuem origem não conectada
às tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Pode-se julgá-los?
Continuemos raciocinando. Na Nossa Senhora da Piedade, jamais se matou um animal
ritualisticamente, mas em entrevista tanto de Pai Zélio quanto de Mãe Lygia, sua neta e atual
zeladora, relatam que nos primórdios da casa encomendava-se a morte de um porco para fazer
a comida de Ogum – hoje, a mesma comida é preparada, porém com itens adquiridos no
supermercado. Comida sagrada, energizada com Axé, como toda comida servida em dia de
festa dentro de um terreiro.

A pergunta é: mesmo que não tenha sido morto no terreiro, dentro de um ritual, o animal
deixou de morrer? E se sua morte propiciou o preparo de pratos sagrados, deixou de ser um
sacrifício animal em prol da religião?

Cada um responderá a essas perguntas segundo seus parâmetros, obviamente, mas para nós
sempre parecerá hipocrisia em um mundo em que a proteína animal ainda é parte importante
da dieta, onde existem abatedouros que matam, muitas vezes, sem o devido respeito ou
cuidado, critique-se o uso ritualístico e respeitoso do corte animal.

Entendemos também que dependendo de suas raízes uma casa de Umbanda apresentará
cortes inclusive para reforçar assentamentos. Linares, Trindade e Costa afirmam: “A Umbanda
respeita todos os graus de consciência de seus adeptos que não são obrigados a praticar um
único ritual. ” (p. 62).

Assim, pergunto em relação às casas de Umbanda de Nação, Trançada ou Omolokô: seremos


nós a julgá-las como Umbanda ou não, se ali existe amor, humildade e caridade – se existe Axé
e as bênçãos dos Orixás? Seremos mais duros em nossa avaliação que a própria espiritualidade
superior que ali se faz presente trabalhando em nome do Bem?

É claro que imaginamos que, com o correr dos tempos e a evolução do planeta,
transformando-se em mundo de regeneração, a tendência é de que atos símiles se tornem
cada vez mais raros e desnecessários. Conhecemos pelo menos um caso de terreiro que não
faz cortes, mas cujos zeladores são formados em uma casa de ritualística de nação que exige o
sacrifício animal.

Isso por si só demonstra que a Umbanda possui capacidade de transformação e transmutação,


quando há orientação espiritual para tanto. Entretanto, o tempo de renovação proposto pela
espiritualidade raras vezes é o mesmo da humanidade encarnada o que exige de nós o
exercício da paciência.

Assim, deixemos de apontar nossos dedos e permitamos que a própria espiritualidade conduza
a mudança necessária, no tempo e no passo em que julgar que as consciências humanas
encarnadas suportarão. Lembrando sempre que quando um terreiro deixa de servir à
Espiritualidade Maior e tem seu trabalho gravemente conspurcado e seus valores deturpados,
suas portas não persistem abertas por muito tempo – deixemos, portanto, o julgamento para
os capazes de fazê-lo, seguindo a orientação de Jesus. (Mateus 7:1).

Fontes

FERREIRA, Túlio Alves. Casos verídicos e fenômenos de umbanda. Ed. Pensamento. 1993.
LINARES, Ronaldo; TRINDADE, Diamantino Fernandes; COSTA, Wagner Veneziani. Iniciação à
Umbanda. Ed. Madras. 2015.
TRINDADE, Diamantino Fernandes. História da Umbanda no Brasil. Editora do Conhecimento.
2014.

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