Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
w w w. u n i s u l . b r
Universidade do Sul de Santa Catarina
Polícia Comunitária
e Segurança Pública
Tópicos Emergentes em
Segurança Pública III
UnisulVirtual
Palhoça, 2013
Polícia Comunitária
e Segurança Pública
Tópicos Emergentes em
Segurança Pública III
Livro didático
Designer instrucional
Carmen Maria Cipriane Pandini
Isabel Rambo
UnisulVirtual
Palhoça, 2013
Livro Didático
363.2
P11 Pacheco, Giovanni Cardoso
Polícia comunitária e segurança pública: tópicos emergentes em
segurança pública III: livro didático / Giovanni Cardoso Pacheco,
Nazareno Marcineiro; design instrucional Carmen Maria Cipriani
Pandini, Isabel Rambo. – Palhoça: UnisulVirtual, 2013.
106 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-573-3
Introdução | 7
Capítulo 1
Polícia Comunitária: filosofia de polícia e
uma estratégia de preservação da ordem
pública | 9
Capítulo 2
Comunitarização e resolução de
problemas: as colunas básicas da Polícia
Comunitária. | 39
Capítulo 3
A gestão orientada ao problema sob a ótica da
Polícia Comunitária | 61
Referências | 103
Aproveite esta oportunidade ímpar para expor suas ideias, realizar pesquisas,
socializar conhecimentos, interagir com seus colegas e participar dessa
importante caminhada.
Então, caro aluno, ingresse em mais uma etapa, com entusiasmo, na busca de
novos horizontes do conhecimento.
Bom estudo!
Seção 1
Polícia Comunitária: filosofia e história
A preservação da ordem pública vai muito além de fazer leis rigorosas e
aplicá-las severamente. A segurança não se impõe. Ela é construída a cada
instante da convivência social, numa participação proativa de todos e de
cada um dos integrantes de uma comunidade. É sábio o espírito da nossa
Lei maior do Brasil, quando diz que “segurança é dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos”.
Embora isso seja muito bonito, é bastante difícil passar de uma orientação
contida num texto legal, mesmo que seja a Constituição Federal, para uma
prática condizente, contrapondo a cultura instalada, principalmente logo
depois de um período em que o objetivo do Estado era impor a Lei e a Ordem,
independentemente dos meios usados e das consequências sobre o povo.
Para migrar de uma prática para outra, é preciso uma metodologia bem
elaborada, sustentada por princípios e valores legitimados pelas pessoas que
viessem a ser impactadas ao longo da sua operacionalização. Essa metodologia
é consubstanciada na filosofia da Polícia Comunitária. A ideia central da filosofia
da Polícia Comunitária reside na possibilidade de propiciar uma aproximação
dos profissionais de segurança com a comunidade onde atua, como um
médico ou outro prestador de serviço qualquer. O propósito principal é o de
identificar as necessidades dos usuários dos serviços das organizações estatais
de preservação da ordem pública e, em parceria com os demais entes que
compõem a comunidade, executar ações que visem a gerar paz e harmonia na
vida em sociedade.
10
É o modelo que mais se encontra nas democracias liberais. O foco dessa escola
de polícia é a identificação da autoria do crime para punir o criminoso. Em assim
sendo, busca especializar-se na investigação criminal, no combate ao criminoso e
na severa sanção a quem tenha cometido uma infração à legislação vigente.
A figura abaixo demonstra que o crime possui, a exemplo do fogo, que necessita
a interação do combustível, comburente e uma fonte de calor para existir,
também um triângulo de elementos imprescindíveis para que ocorra.
AMBIENTE
CRIME
É necessário que se diga desde logo que na escola oriental não há omissão em
usar da força necessária para restaurar o estado de normalidade da vida em
sociedade, e sim uma permanente busca de legitimação do uso dessa força.
11
Para que isso aconteça é preciso uma ação pró-ativa, isto significa participar,
influir no processo social, ser instrumento de ajuste das relações sociais
e comunitárias – ir ao encontro do cidadão; estender a mão antes que lhe
solicitem; ensinar técnicas de defesa social mesmo não sendo solicitado. Em
poucas palavras, ser pró-ativo é ser parte integrante da comunidade onde
presta seu serviço.
12
A maioria dos autores afirma que a origem da polícia moderna se deu em 1829,
quando Sir Robert Peel, então Primeiro Ministro Inglês, criou a Real Polícia
Metropolitana de Londres, para a garantia da paz e tranquilidade do povo londrino.
13
10º Princípio - A polícia deve esforçar-se para manter constantemente com o povo,
um relacionamento que dê realidade à tradição de que a polícia é o povo e o povo é
a polícia.
Sir Robert Peel - 1º Primeiro Ministro Inglês - fundador da Policia Londrina em 1829
14
Por serem nacionais, integram as Forças Armadas do país, com todos os direitos,
regalias e obrigações dessas. Via de regra, fazem o policiamento de choque
nas cidades, o policiamento rodoviário nas estradas, a polícia Judiciária no
interior, o serviço de polícia militar em todas as Forças Armadas, o policiamento
e segurança dos Portos e Aeroportos e mantém uma esquadrilha de helicópteros
para transporte de autoridades.
15
Assim, dentro de uma lógica, um estado rico tem uma polícia melhor selecionada,
equipada e paga, ao passo que um estado de menor arrecadação utiliza um serviço
policial menos moderno. São completamente desligadas das Forças Armadas e
exercem, efetivamente, todos os serviços de polícia, tais como patrulhamentos
diversos, polícia judiciária, fiscalização rodoviária e policiamento de choque.
Perceba que essas polícias são, entretanto, hierarquizadas pautando sua conduta
por estatutos. Sua eficiência é decorrente da adoção de uma estrutura adequada
e uma departamentalização criteriosa.
Utilizam desde armamentos leves, até viaturas ajustadas ao tipo de serviço que
será executado. Esse tipo de polícia, normalmente, remunera bem seus policiais
e servidores, em contraprestação eficiente deles, depois de aferido recrutamento
criterioso. Nesse sistema, não existe distinção entre polícia de investigação e
polícia ostensiva, porque o policial se uniformiza ou não, em razão do serviço que
a ele é atribuído, pertencendo todos eles a mesma organização policial.
Diante do que foi dito acima, e fazendo um paralelo com a prática policial
brasileira, fica evidenciado que no Brasil a polícia se filia ao modelo Latino e
pratica, prioritariamente, os postulados da escola de polícia anglo-saxônica.
16
Mas, não obstante a necessidade de tomar como referencial a prática policial nos
outros Estados Democráticos de Direito, era preciso adequar a polícia brasileira
às peculiaridades do Brasil e do povo brasileiro.
Couselo (2000) considera que a polícia não pode ser vista pelo conceito
metafísico de “um ente político”, pois, a seu juízo, mais do que se referir a um
ente do Estado é preciso se referir a uma polícia de um “determinado Estado”.
Com isso, ele busca clarear a ideia de que a polícia possui características
organizacionais e comportamentais legitimadas para cada Estado, resultando
em modelos diferentes para cada local. Por isso, para compreender bem uma
polícia é preciso compreender as características sociopolíticas e culturais da
comunidade em que ela atua.
Por essa razão é preciso considerar a evolução histórica de um país nos seus
parâmetros sociais, políticos e culturais, para definir o modelo de sua polícia e a
tendência de mudança e adequações que tem. Não há que se discutir a estética
da organização neste momento, mas sim a natureza da sua função social e as
possibilidades de aplicação. O objeto de preocupação deve vincular-se ao fim a
que se destina e ao modo de atuação.
17
No Art. 144 da referida Constituição Federal, vê-se inaugurada uma nova era,
alertando a todos os cidadãos brasileiros quanto à responsabilidade comum na
geração de espaços de vida humana em sociedade, calcados no respeito à moral
e aos bons costumes, à integridade física das pessoas e ao patrimônio alheio.
Entretanto, muito ainda é preciso fazer e dizer para que tal orientação seja bem
compreendida e praticada no Brasil. Poucos buscam entender a expressão
insculpida naquele dispositivo legal que diz que “é dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, a preservação da ordem pública”. Certamente, o
legislador não visava a sugerir que o cidadão devesse concorrer com os agentes
públicos, na reação à conduta típica. O que é racional inferir é que todos os cidadãos
brasileiros devam agir orientados pelos preceitos éticos e legais, reguladores de uma
convivência social pacífica e ordeira, para que disso resulte a desejada ordem pública.
18
Como se vê, o arcabouço legal vigente no país deve ser a baliza pela qual se
orientará toda a ação dos agentes de preservação da ordem pública. Entretanto,
a conduta deverá levar em consideração os usos e costumes da cultura vigente
em cada espaço/tempo e legitimada pela comunidade para que a ordem pública
seja construída de forma justa e perfeita.
A ordem pública, portanto, não é algo que se impõe. Ela deve ser construída
numa parceria Sinérgica de todos os atores sociais, onde os agentes públicos
de segurança participam como catalisadores do sistema, valendo-se do
conhecimento técnico-profissional que dispõe e das informações do ambiente em
que está inserido e onde deve agir.
19
É assim que se entende que a Ordem Pública deva ser analisada para ser bem
compreendida. É preciso colocar no contexto social as diversas organizações
públicas encarregadas de fazer a preservação da ordem pública e, assim,
compreender como funciona o sistema de garantia da ordem pública.
Como já vimos noutro lugar, mas por ser relevante para a compreensão da
filosofia da polícia comunitária, de acordo com a visão sistêmica, as propriedades
essenciais de um organismo, ou sistema vivo, são propriedades do todo,
que nenhuma das partes possui. Em outras palavras, as propriedades do
relacionamento de todos os órgãos que compõem o sistema de preservação da
ordem pública não podem ser encontradas em nenhum órgão isoladamente.
Fritjof Capra, ainda, diz que a ênfase nas partes tem sido chamada de
mecanicista, reducionista ou atomística, ao passo que a ênfase no todo, de
holística, organísmica ou ecológica. O sistema de segurança pública somente
será sistema se tiver suas partes interligadas num único propósito, assim como
ele próprio deve ser interligado com as demais funções do Estado e com a
sociedade civil, formando tudo um grande sistema.
20
Outra reflexão fica por conta da diversidade de status que cada órgão do sistema
possui. Todos deveriam possuir igual status, posto que o sistema só funcionará
com a inter-relação de todos os seus componentes, não podendo faltar nenhuma
das partes para que o resultado seja obtido. Entretanto, o que temos no Brasil
são políticas públicas que tratam cada elemento como parte estanque do sistema
de preservação da ordem pública e, por isso, recebem estímulos particularizados
de crescimento e desenvolvimento, independentes e, muitas vezes, em
detrimento dos demais órgãos que com eles devem atuar e, por isso, precisam
ser contemplados de maneira isonômica pelas políticas públicas.
Ainda, pode ser refletido sobre o fato de que o sistema de preservação da ordem
pública parte do sistema de vida humana em sociedade, é um sistema aberto e,
portanto, influencia e é influenciado pelo meio onde está inserido. A compreensão
do que seja um sistema aberto levaria, certamente, os dirigentes públicos a
pensarem com um pouco mais de vagar quando fossem gerar as políticas
públicas de segurança, pois um estímulo inadequado poderá resultar em graves
consequências, seja para o sistema, seja para o ambiente onde ele estiver agindo.
O resultado, enfim, acaba atingindo a todos pelas consequências do efeito
estímulo-reação.
21
O resultado é que a falta de uma ciência que defina postulados e leis científicas
para orientar pensamentos e ações dos profissionais de polícia, permite que
todos se achem aptos a tratar da temática, donde advêm os especuladores e
demagogos especialistas em segurança pública.
O Congresso Nacional, por sua vez, com intenções não identificadas, entra
em ebulição nessas ocasiões, fazendo verter um sem número de soluções
mirabolantes em forma de emendas constitucionais, que vai de medidas de
mudanças insignificantes e inócuas até drásticas propostas de extinção das atuais
polícias estaduais e a criação de outras para substituir as existentes. Entre esses
dois extremos, é oferecido um leque de soluções que passa pela municipalização
do poder de polícia, da atribuição do ciclo completo de polícia para as duas
polícias estaduais, da criação de uma polícia nacional e da participação das
Forças Armadas na garantia da Lei e da Ordem como tarefa rotineira.
22
Entretanto, tudo leva a crer que não há, verdadeiramente, intenção de resolver
o problema e, sim, dar resposta momentânea à opinião pública, que clama
por medidas do governo para reagir ao fato. Senão, porque tais projetos, que
são apresentados como a solução final para o problema, são lançados ao
esquecimento quando a atenção pública se volta para outro interesse?
Seção 2
Polícia tradicional e Polícia Comunitária
23
24
25
Nos Estados Unidos, pelos idos de 1900, iniciou-se o movimento da Reforma, que
surgiu como uma reação aos problemas que a polícia local teve com a comunidade,
em função da forte influência política e intensa corrupção dos policiais.
O controle do crime foi pautado no afastamento da comunidade, neutralidade
política e controles rígidos internos. Nascia, dessa forma, o modelo tradicional de
policiamento. Mas em pouco tempo esse modelo começou a se mostrar ineficaz na
resolução do crime, ocasionando uma crise que resultou em um modelo inspirado
na Polícia de Londres. Muitos acreditam que não surgiu um novo paradigma, mas
sim o reaparecimento do policiamento comunitário (CERQUEIRA, 1999).
26
é que o policial não seja acionado pelo rádio, mas que se antecipe à ocorrência.
Com isso, o número de chamadas à Central de Emergência deve diminuir;
27
28
29
Apresentado em forma de itens o que foi dito acima, abaixo estão as principais
diferenças básicas entre polícia tradicional e comunitária.
30
31
32
33
34
Seção 3
Polícia Comunitária e a relação entre as Polícias
Militar e Civil
Para uma melhor compreensão da relação da Polícia Comunitária com a
existência de duas polícias no Brasil, vamos nos valer das ideias do Coronel da
PMSP Miguel Libório Cavalcante Neto. Diz ele que tradicionalmente se discute a
existência de duas polícias, uma Civil e outra Militar, como se fossem entidades
estanques e que contêm estruturas “impossíveis” de se adequar ou se integrar.
Portanto, não existe policiamento militar nem investigação civil no seio social:
existe sim um trabalho único de polícia previsto em lei, pois uma busca prevenir
o crime, o delito, a desordem, e quando isso não é possível, a outra age,
completando o chamado Ciclo de Polícia, buscando instituir e fazer cumprir a lei,
responsabilizando aqueles que prejudicam a paz pública e o bem-estar social.
35
Por ser uma filosofia e estratégia organizacional, não é peculiar a um tipo ou outro
de polícia (ostensiva ou investigatória). É pertinente à organização policial como
um todo, quando ela se volta ao bom atendimento do cidadão.
36
37
38
Comunitarização e resolução
de problemas: as colunas
básicas da Polícia Comunitária.
39
Seção 1
Implantação do modelo de Polícia Comunitária:
condições básicas
Falar em polícia comunitária implica falar dos seus elementos centrais: a parceria
com a comunidade e a resolução de problemas. Esses dois componentes são
fundamentais para entender o que é polícia comunitária. São a base para a atuação
de qualquer instituição que queira evoluir para o modelo de Polícia Comunitária.
40
41
42
43
Seção 2
A parceria: qual a importância?
Segundo Livramento (2002), para desenvolver a parceria com a comunidade,
a polícia precisa desenvolver relações positivas com os cidadãos, de forma
a envolvê-los nas questões para melhorar o controle do crime, articulando os
recursos da comunidade com os da polícia, empregando-os no enfrentamento
dos problemas mais urgentes da comunidade (CERQUEIRA, 1999).
44
2.1 A comunidade
A palavra comunidade é usada em vários sentidos. O aspecto material dos
lugares em que se fixou o homem é o mais evidente, mas nunca será o único
aspecto do que seja comunidade. A comunidade possui seu foco principal nas
relações entre seres humanos, incluindo a diversidade de reações individuais
e a forma pela qual se manifesta a interação social. Assim, a definição de
comunidade deve abranger tanto a variedade de formas físicas quanto sociais.
45
46
47
Seção 3
A resolução de problemas
A resolução de problemas é um processo em que são detectadas as
preocupações e problemas específicos da comunidade, buscando, de forma
integrada, os instrumentos mais adequados para seu enfrentamento.
Salienta ainda que esse tema não é desconhecido das polícias brasileiras, posto
que é comum de ser encontrado nos textos sobre planejamento nas áreas de
administração, militar, de qualidade total e no que se refere aos processos de
tomada de decisão.
48
Já para Wilson (apud Cerqueira, 1999, p. 93), a polícia atua em função dos riscos,
que é
49
Finalmente, uma das carências recorrentes nas ações, não só das ações
da polícia em particular, mas de políticas de segurança de uma forma geral,
relaciona-se à total ausência de quaisquer mecanismos de avaliação, tanto
da implementação, como dos resultados de ações, programas, estratégias ou
políticas. Não se procura dimensionar o público atingido, o grau de mudanças de
comportamento requerido tanto da polícia como do público atingido, quais outras
organizações que podem ser envolvidas na solução dos problemas; bem como
das fontes de recursos necessários. Além disso, não se tem noção exata dos
resultados a serem alcançados: eliminação total ou parcial do problema, ou sua
simples eliminação da agenda.
50
Seção 4
O Conselho Comunitário de Segurança
(CONSEG)
Para que se possa ter um melhor entendimento do que seja um Conselho
Comunitário de Segurança é fundamental, primeiramente, compreender o que é
um Conselho Comunitário.
51
Assim, percebe-se o quanto as pessoas podem fazer pelo bem- estar de sua
comunidade, não sendo diferente, em se tratando de segurança, quando a polícia
busca na comunidade as informações e mecanismos de interação mútua, visando
a oferecer segurança, buscando fazer parte da recuperação das condições de
vida do bairro.
52
Cabe ressaltar que este trabalho está centrado no estudo dos Conselhos
Comunitários de Segurança, sendo que esse procura resolver e buscar soluções
para os problemas de segurança da comunidade. Assim, os Conselhos
Comunitários de Segurança são instituições que buscam soluções específicas
para o problema de segurança, diferindo de um Conselho Comunitário tradicional,
que busca soluções para problemas gerais da comunidade.
53
Cabe ressaltar que o CONSEG não é um órgão que a polícia utiliza para colher
informações de forma distante e com caráter meramente consultivo. A polícia faz
parte do CONSEG. Dessa forma, polícia e comunidade devem explorar maneiras
criativas de enfrentar as preocupações de segurança do bairro.
54
55
56
Denúncias que acarretem risco de vida ao autor deverão ser realizadas de forma
sigilosa ao Presidente do CONSEG ou aos membros policiais, em local reservado.
57
Cabe destacar que o CONSEG não deve ser um palco indiscriminado de queixas e
reclamações, sem oferecer alternativas e soluções. O CONSEG deve buscar medidas
criativas que visem a solucionar os problemas de segurança da comunidade.
Num passado não muito distante, acreditava-se que quem deveria se preocupar
com segurança pública eram, de forma exclusiva, os próprios órgãos de
Segurança Pública. Quando o cidadão, outras empresas públicas ou privadas
opinavam sobre segurança pública, era uma verdadeira ofensa aos órgãos oficiais.
58
Dessa forma, uma ação que permite fugir do modelo tradicional passou a ser a
adoção da filosofia de polícia comunitária, a qual propõe o aspecto de consulta
à comunidade para estabelecer as prioridades. Assim, a polícia procura dar as
respostas de acordo com as necessidades e a natureza do problema, buscando
medidas que se antecipem à ocorrência do fato delituoso. Assim, surge a
estratégia de organizar as pessoas dentro da comunidade para entenderem qual
é o seu papel na dimensão da vida em sociedade, relacionada à segurança, e
fornecerem a sua contribuição.
Não é demais observar que a própria Carta Magna proclama que a segurança
pública é responsabilidade de todos os cidadãos. Assim, o cidadão também
precisa se mobilizar e contribuir. Naturalmente, o cidadão não irá se armar e
portar equipamentos inerentes à atividade policial; os cidadãos irão se reunir
para buscar uma atuação na sociedade que permita realizar outras atividades
que não sejam de polícia, mas que possam instar a polícia a fazer o que seja de
polícia. É facilmente perceptível que a polícia, muitas vezes, realiza serviços que
não são inerentes ou próprios do papel dela. Mas realiza tais serviços por um
espaço criado na sociedade, por falta de uma organização social adequada, em
que o cidadão precisa se orientar. O cidadão precisa de um lugar para poder
se organizar, esse lugar é denominado de Conselho Comunitário de Segurança,
onde o cidadão vai se organizar para atuar sobre os aspectos do desconforto
relacionados à segurança que, a princípio, não é do Estado, mas sim da
organização social local.
59
A gestão orientada ao
problema sob a ótica da Polícia
Comunitária
61
Seção 1
Fundamentos da gestão orientada ao problema
Ao longo da história da administração, seja ela pública ou privada, as
organizações têm buscado aprimorar métodos, técnicas e ferramentas gerenciais
que permitam melhorar a qualidade dos serviços prestados, ampliar sua
capacidade de atendimento, racionalizando o emprego dos recursos financeiros e
materiais e do capital humano.
62
Existem dois tipos de problemas que devem ser identificados e que precisam ser
analisados de forma diferente. Os problemas de rotina são aqueles que surgem
de repente e que são facilmente percebidos quando a rotina foge de controle. Já
os problemas de melhoria, acontecem quando o que antes era indesejável passa
a ser visto como inaceitável. A existência de problemas normalmente acarreta
custos para as organizações.
A solução de problemas pode ser entendida como todo e qualquer esforço feito
para eliminar os problemas, sendo dividida em três tipos:
63
64
Entendendo a sigla: o nome PDCA é composto pelas primeiras letras dos verbos
em inglês Plan (que significa planejar), Do (que significa fazer, executar), Check (que
significa checar, conferir) e Action (que significa agir, no caso, agir corretivamente).
Esses verbos são a sequência do método PDCA.
A
P
(ACTION)
(PLAN)
Definir as
Metas
Atuar Os métodos
que permitirão
corretamente
atingir as metas
propostas
educar e
Resultados treinar
da Tarefa
Tarefa
Executada
(coletar
(CHEC) Dados)
(DO)
C D
65
Plan – Planejamento
Consiste no estabelecimento de metas e do método para alcançar essas metas.
Três pontos importantes devem ser considerados:
Do- Execução
Compreende a execução das tarefas previstas na etapa anterior e na coleta dos
dados a serem utilizados na próxima etapa. Deve-se considerar também três
pontos importantes:
Check – Controle
Etapa onde se compara o resultado alcançado com a meta planejada,
considerando-se os pontos a seguir:
66
A vasta maioria das decisões que são tomadas nas empresas, sejam elas
de cunho estratégico, tático ou operacional, são baseadas no bom-senso,
experiência, feeling etc. Vale ressaltar que qualquer decisão gerencial, em qualquer
nível, deve ser conduzida para solucionar um problema (resultado indesejável de
uma atividade). Se isso for entendido, fica claro que qualquer decisão gerencial
deve ser precedida de uma análise da atividade, conduzida de maneira sistemática
e sequencial pelo Método de Análise e Solução de Problemas.
67
Dessa forma, as ferramentas são utilizadas como meio de facilitar o trabalho dos
responsáveis pela condução de um processo de análise e solução de problemas.
68
•• Folhas de verificação
•• Brainstorming (Tempestade de Ideias)
•• Benchmarking
•• Formulários de conferência
•• Gráficos
•• Diagrama de causa e efeito
•• Plano de Ação – 5W2H
•• Diagrama de árvore
•• Técnica de avaliação e priorização de problemas (GUT)
As ferramentas da qualidade são inseparáveis do processo de melhoria contínua e
foram largamente difundidas, porque elas fazem com que as pessoas envolvidas
no controle da qualidade vejam, por meio de seus dados, compreendam a razão
dos seus problemas e implantem as soluções para eliminá-los.
69
São formulários nos quais os dados, dos itens a serem verificados, são registrados.
Com as folhas de verificação, permite-se uma rápida percepção da realidade e
uma imediata interpretação da situação, ajudando a diminuir erros e confusões.
70
O que é Brainstorming?
71
O que é Benchmarking?
“Um homem inteligente aprende com seus próprios erros e acertos. Um homem
sábio aprende com os erros e acertos dos outros.”
72
•• Dados;
•• lista de conferência (checklist);
•• localização.
Gráficos
Gráficos são apresentações visuais de dados coletados ,que sintetizam um
conjunto de dados facilitando o trabalho de análise e apresentação. A relação
entre diferentes conjuntos pode ser facilmente identificada com a ajuda de
alguns gráficos bem desenhados. Os diversos tipos de gráficos são ferramentas
poderosas na disseminação das informações, gerando soluções gráficas que
sintetizam um conjunto amplo de dados com objetividade. O uso eficiente dos
gráficos favorece não apenas a compreensão daqueles que estão acompanhando
de longe, mas de todos aqueles que estão diretamente envolvidos no processo
de solução de problemas.
73
74
Quantidade
Percentagem Acumulada
100 80
60
50 40
20
0 0
B D E
Quantidade 33 29 18 16 10 10
Percentagem 31,3 27,4 17,0 15,1 9,4
Percent. Acum. 31,3 58,5 75,5 90,6 100,0
Fonte: WERKEMA(1995).
75
Pode ser entendido como uma representação gráfica que permite “sumarizar e
apresentar as possíveis causas do problema considerado, atuando como um guia
para a identificação da causa fundamental deste problema e para a determinação
das medidas corretivas que deverão ser adotadas”(WERKEMA, 1995).
76
Todo plano de ação deve estar estruturado para permitir a rápida identificação
dos elementos necessários à implementação do projeto. Esses elementos
básicos podem ser descritos pelo que se convencionou-se chamar de 5W2H.
77
Diagrama de árvore
É uma ferramenta gráfica, que permite identificar, detalhadamente, todos os
passos necessários para a obtenção de um certo objetivo. Seu uso permite que
se chegue ao nível de maior detalhamento de um planejamento. Esse diagrama
funciona como um mapa onde são indicados todos os passos para a execução
de um projeto, ou atividade.
78
Seção 2
A relação entre solução de problemas e Polícia
Comunitária
Segundo Trojanowicz e Bucqueroux, a Polícia Comunitária é uma filosofia e
uma estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a
população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a
comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas
contemporâneos, tais como: crime, drogas, medo do crime, desordens físicas
e morais, e, em geral, a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a
qualidade geral da vida na área.
Nos Estados Unidos, o agravamento dos conflitos sociais estimulou uma onda
de reflexões, envolvendo a função policial e, especialmente, o relacionamento
entre polícia e sociedade. Foi observado que, além da lei e do profissionalismo, a
comunidade também podia ser fonte de autoridade.
79
O modelo de Polícia Comunitária pode ser visto como uma forma de adaptação
da organização policial, no sentido de mantê- la compatível com o ambiente das
sociedades liberal-democráticas contemporâneas.
•• Identifique o problema;
•• Analise o problema;
•• Planeje uma providência;
•• Implemente a providência;
•• Avalie a providência.
80
Essa etapa pressupõe que o policial conheça o seu setor de patrulhamento, seus
riscos e áreas críticas, a fim de identificar, em conjunto com a população, os
problemas que afligem a comunidade.
•• o estabelecimento de metas;
•• o desenvolvimento de estratégias ;
•• a avaliação dos recursos disponíveis.
Vale observar que não encontramos nos planejamentos das formas tradicionais
de polícia as exigências que aqui serão analisadas. Essa nos parece ser a grande
e profunda transformação proposta pelos teóricos do policiamento comunitário.
81
82
•• a identificação do problema;
•• a análise de sua natureza, no sentido de compreender suas causas,
efeitos e esfera de atuação;
•• a implementação de ações sobre as causas identificadas - etapa da
resposta -;
•• a avaliação dessa resposta.
Goldstein defende que uma maior especificidade na definição dos problemas
com os quais a polícia se defronta é de suma importância para a implementação
de estratégias mais efetivas de policiamento, bem como o conhecimento
detalhado da natureza desses problemas.
83
Goldstein destaca que, por exemplo, no caso de roubos, a polícia não apenas
deve atuar sobre o criminoso, mas também incentivando o cidadão a se
comportar de maneiras mais seguras, de modo a eliminar algumas das condições
que possam vir a gerar esse tipo de evento. Ou seja, se até recentemente o
trabalho policial poderia se restringir às respostas realizadas o mais rápido
possível às chamadas dos cidadãos, com o intuito de identificar e deter o ofensor,
agora ele deve ser redefinido de modo a incluir medidas preventivas, que se
refiram ao cidadão e aos ambientes em que transitam.
84
Não se pode desconsiderar aqui que tal abordagem sobre a função ou o espaço
da atuação policial seja problemática na medida em que a sociedade delegaria
para uma instituição burocrática, no caso a polícia, o poder de definir o que
deveria ser tratado, como atividade desviante dos diversos problemas com os
quais a polícia se defronta.
85
Goldstein menciona várias alternativas que podem ser exploradas para cada
problema específico. Uma delas refere-se às mudanças físicas e técnicas
e baseia-se na ideia segundo a qual a redução de oportunidades para o
cometimento de delitos constitui um fator para a atenuação de ocorrência desse
tipo de incidente. Assim, a redução de determinados fatores e características
ambientais pode significar uma resposta eficaz. Esse tipo de iniciativa implica
esforços como incentivar a população a adotar mecanismos de segurança em
suas residências, por exemplo.
86
Seção 3
O Ciclo de Análise e Solução de Problemas de
Segurança Pública (CASPSP)
Analisando as várias ações adotadas, nota-se que em bem poucos casos ocorreu
um processo de tomada de decisão racional, o que, via de regra, acarreta
desperdício dos já parcos recursos. Entre as ações adotadas, a que melhores
resultados vêm obtendo no sentido de aproximar polícia e comunidade é a
adoção da filosofia de trabalho policial denominada de Polícia Comunitária. Por
meio dessa filosofia, a polícia busca obter, além da legalidade que lhe é conferida
pela Lei, a legitimidade do apoio e confiança populares.
87
Imagine quando você vai ao médico com algum sintoma: dor, febre etc. Qual a
primeira coisa que ele faz? Exames, ultrassom, radiografia, ou seja, diagnóstico
para localizar as causas do problema, a fim de poder prescrever o tratamento
adequado. Isso também vale para os problemas de segurança pública.
88
89
Grande parte das informações sobre o dia a dia da comunidade está nas mãos
das pessoas que nela vivem, e muitas vezes essas informações não chegam ao
conhecimento da polícia.
Dessa forma, pode-se ter uma visão bem mais abrangente da realidade social e
de segurança pública existente em uma determinada comunidade. Essa visão é
fundamental para a identificação correta dos problemas.
É importante que se tenha em mente que devem ser identificados todo o tipo
de causas que podem gerar o problema e não apenas aquelas relacionadas à
atividade de polícia. As causas sociais, econômicas, culturais, estruturais, entre
outras, influem diretamente para a existência de problemas de Segurança Pública.
90
Além disso, deve-se ainda traçar perfis sobre os diversos atores sociais que
são afetados pelo problema. As informações sobre as vítimas, os agentes, as
características do ambiente e o modo como ocorre o problema são informações
importantes dentro da definição das ações a serem tomadas para eliminar as causas.
Uma boa estratificação começa com a coleta correta dos dados, passa pela
inserção correta deles nos sistemas, que os irão processar, além da correta
tabulação e apresentação desses dados.
•• gráfico de Pareto;
•• ferramentas de análise estatística;
•• diagramas de dispersão e correlação;
•• fichas de verificação;
•• diagrama de causa e efeito;
•• histogramas.
91
O que fazer? Essas ações deverão sempre ser traçadas visando a agir sobre
as causas e não sobre o problema em si (efeito). Devem ser traçadas ações
preferencialmente de natureza preventiva, ou seja, que permitam atuar antes do
problema ocorrer, podendo ser também definidas, eventualmente, ações repressivas.
92
Deve-se ainda tomar cuidado em não definir apenas ações policiais, posto que
essas, em sua maioria, atuam apenas sobre as consequências do problema, ou
seja, são eminentemente reativas. As ações definidas não devem se restringir
apenas ao policiamento ostensivo ou às operações policiais, mas sim abranger
ações de diversas áreas, dentro de um princípio de multidisciplinariedade.
É importante nesta etapa ter uma boa definição dos recursos materiais e
financeiros e do capital humano disponíveis, posto que a definição das
estratégias deve ser baseada na sua capacidade de atuar sobre os problemas.
Um estudo detalhado dos meios que você tem a sua disposição irá permitir uma
melhor adequação das estratégias à sua realidade, evitando a subutilização dos
recursos (ociosidade), a utilização dos recursos acima do necessário (desperdício)
ou ainda, que sejam definidas estratégias “utópicas” cuja necessidade de
recursos suplante o que você tem disponível.
Você pode ainda utilizar, nesta etapa, um manual de procedimentos, que pode ser
construído com experiências anteriores, relatadas ao lidar com o mesmo tipo de
problemas ou tenha sido elaborado por especialistas na área, a fim de nortear a
definição das estratégias, buscando atingir a máxima eficiência com um mínimo
de recursos.
93
Assim, devem ser definidos indicadores quantitativos para cada uma das ações,
que possam ser mensurados ao longo da aplicação das ações, vinculados ao
detalhamento do diagnóstico, realizado na etapa 2.
Etapa 6 – Planificação
Após serem definidas as ações a serem implantadas, essas devem ser
consolidadas em um plano, a fim de que se dê conhecimento a todos os que
devem participar de sua implementação, evitando a informalidade e o diminuindo
o risco de interpretações dúbias quanto ao que fazer e aos resultados esperados.
ONDE? – em que local deve ser realizada, qual a área onde está ocorrendo o
problema.
94
QUANDO? – em que período de tempo deve ser realizada, qual o prazo para
implementação.
Matriz 5W2H.
95
•• Plano de Ação
•• Métodos didáticos
•• Fichas de verificação
•• Gráficos de Controle
Ao final dessa etapa, tem-se uma nova realidade, que serve como base para o
planejamento das estratégias para um próximo período de tempo, podendo gerar
as seguintes ações:
96
97
- formulários de entrevistas
- análises estatísticas
- resenhas jornalísticas
- gráficos e planilhas
- Gráfico de Paretto
- Análise estatística
- Matriz GUT
- Relatórios de observação
3. Priorização
- Gráficos e tabelas estatísticas
- Diagrama de priorização
- Diagrama de árvore
98
- Gráficos de controle
99
Caro(a) aluno(a),
Como você teve a oportunidade de ver, a filosofia de Polícia Comunitária tem duas
colunas mestras que a sustentam, a parceria com a comunidade e a resolução de
problemas de segurança pública. Em relação à parceria com a comunidade, foram
apresentadas as características e a importância dos Conselhos Comunitários de
Segurança (CONSEG´s), para a efetivação dessa parceria entre a comunidade e o
aparato estatal de preservação da ordem pública.
101
Abraços!
102
ARRUDA, Luiz Eduardo Pesce de. O líder policial e suas relações com os
conselhos comunitários de segurança em São Paulo. A Força Policial, n. 16,
out./dez 1997. São Paulo.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas
vivos. Trad. Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix. 1996.
103
104
Nazareno Marcineiro
Formado no Curso de Formação de Oficiais em 1982, na Academia da Polícia
Militar de Santa Catarina. Mestre em Engenharia de Produção e Sistema,pela
Universidade Federal de Santa Catarina em 2001. É Tenente Coronel da Polícia
Militar de Santa Catarina. Foi Coordenador Estadual de Polícia Comunitária do
início do projeto até dezembro de 2002. Professor dos cursos nacionais de Polícia
Comunitária, além de professor da Disciplina Sistema de Segurança Pública no
Curso de Formação de Oficiais da PMSC.
105