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Universidade do Sul de Santa Catarina

Polícia Comunitária
e Segurança Pública
Tópicos Emergentes em
Segurança Pública III

UnisulVirtual
Palhoça, 2013

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Créditos

Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul


Reitor
Sebastião Salésio Herdt
Vice-Reitor
Mauri Luiz Heerdt

Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão


Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional
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Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis
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Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual
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Campus Universitário UnisulVirtual


Diretor
Fabiano Ceretta

Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) - Educação, Humanidades e Artes


Marciel Evangelista Cataneo (articulador)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e
Serviços
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Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria
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Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social
Aureo dos Santos (articulador)

Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos


Moacir Heerdt
Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão
Roberto Iunskovski
Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos
Márcia Loch
Gerente de Prospecção Mercadológica
Eliza Bianchini Dallanhol

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Giovanni Cardoso Pacheco
Nazareno Marcineiro

Polícia Comunitária
e Segurança Pública
Tópicos Emergentes em
Segurança Pública III

Livro didático

Designer instrucional
Carmen Maria Cipriane Pandini
Isabel Rambo

UnisulVirtual
Palhoça, 2013

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Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2013 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Livro Didático

Professor conteudista Diagramador(a)


Giovanni Cardoso Pacheco Noemia Mesquita
Nazareno Marcineiro
Revisor(a)
Designer instrucional Diane Dal Mago
Carmen Maria Cipriane Pandini
ISBN
Isabel Rambo
978-85-7817-573-3
Projeto gráfico e capa
Equipe UnisulVirtual

363.2
P11 Pacheco, Giovanni Cardoso
Polícia comunitária e segurança pública: tópicos emergentes em
segurança pública III: livro didático / Giovanni Cardoso Pacheco,
Nazareno Marcineiro; design instrucional Carmen Maria Cipriani
Pandini, Isabel Rambo. – Palhoça: UnisulVirtual, 2013.
106 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-573-3

1. Segurança pública – Brasil. 2. Policiamento comunitário. 3.


Relações policiais- comunidade. I. Marcineiro, Nazareno. II. Pandini,
Carmen Maria Cipriani. III. Rambo, Isabel. IV. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

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Sumário

Introdução  |  7

Capítulo 1
Polícia Comunitária: filosofia de polícia e
uma estratégia de preservação da ordem
pública  |  9

Capítulo 2
Comunitarização e resolução de
problemas: as colunas básicas da Polícia
Comunitária.  |  39

Capítulo 3
A gestão orientada ao problema sob a ótica da
Polícia Comunitária  |  61

Considerações Finais  |  101

Referências  |  103

Sobre o Professor Conteudista  |  105

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Introdução

Ao longo dos últimos anos, a preocupação da sociedade com as questões


relacionadas à segurança pública tem sido cada vez maior. As discussões sobre
segurança pública nunca estiveram tão em evidência como hoje. O que antes era
uma questão preocupante, apenas nas grandes metrópoles brasileiras passou a
fazer parte do nosso cotidiano.

Podemos afirmar que a solução do problema passa pelo envolvimento da


sociedade nessas questões, em parceria com o aparato estatal de prevenção
e persecução criminal, objetivando identificar os problemas que afetam cada
comunidade e encontrar soluções criativas para esses problemas, a fim de gerar
qualidade de vida e comunidades mais seguras.

Mostraremos a você a conceituação sobre a filosofia de Polícia Comunitária e a


metodologia de análise e solução de problemas de segurança pública, no sentido
de capacitá-los a atuar como gestores de ações de preservação da ordem
pública, engajando-se na construção de uma sociedade mais segura.

Aproveite esta oportunidade ímpar para expor suas ideias, realizar pesquisas,
socializar conhecimentos, interagir com seus colegas e participar dessa
importante caminhada.

Então, caro aluno, ingresse em mais uma etapa, com entusiasmo, na busca de
novos horizontes do conhecimento.

Bom estudo!

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Capítulo 1

Polícia Comunitária: filosofia


de polícia e uma estratégia de
preservação da ordem pública

Habilidades Atuar com senso crítico, ético e responsável


respeitando as principais características,
princípios e conceitos da filosofia de preservação
da ordem pública denominada de Polícia
Comunitária, bem como identificar as diferenças
entre esta filosofia e o modelo tradicionalmente
praticado pelas polícias brasileiras.

Seções de estudo Seção 1:  Polícia Comunitária: filosofia e história

Seção 2:  Polícia Tradicional e Polícia Comunitária

Seção 3:  A Polícia Comunitária e a relação entre as


polícias militar e civil

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Capítulo 1

Seção 1
Polícia Comunitária: filosofia e história
A preservação da ordem pública vai muito além de fazer leis rigorosas e
aplicá-las severamente. A segurança não se impõe. Ela é construída a cada
instante da convivência social, numa participação proativa de todos e de
cada um dos integrantes de uma comunidade. É sábio o espírito da nossa
Lei maior do Brasil, quando diz que “segurança é dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos”.

Embora isso seja muito bonito, é bastante difícil passar de uma orientação
contida num texto legal, mesmo que seja a Constituição Federal, para uma
prática condizente, contrapondo a cultura instalada, principalmente logo
depois de um período em que o objetivo do Estado era impor a Lei e a Ordem,
independentemente dos meios usados e das consequências sobre o povo.

Para migrar de uma prática para outra, é preciso uma metodologia bem
elaborada, sustentada por princípios e valores legitimados pelas pessoas que
viessem a ser impactadas ao longo da sua operacionalização. Essa metodologia
é consubstanciada na filosofia da Polícia Comunitária. A ideia central da filosofia
da Polícia Comunitária reside na possibilidade de propiciar uma aproximação
dos profissionais de segurança com a comunidade onde atua, como um
médico ou outro prestador de serviço qualquer. O propósito principal é o de
identificar as necessidades dos usuários dos serviços das organizações estatais
de preservação da ordem pública e, em parceria com os demais entes que
compõem a comunidade, executar ações que visem a gerar paz e harmonia na
vida em sociedade.

Para melhor compreender a filosofia da Polícia Comunitária é preciso, inicialmente,


conhecer as duas escolas que deram origem ao estudo do procedimento dos
profissionais de Segurança Pública: a Escola Anglo-saxônica e a Escola Oriental.

A escola de polícia Anglo-Saxônica propugna pela grande especialização em


realizar suas tarefas associadas à vigilância do cumprimento da Lei, perseguindo
e punindo o criminoso. Firma-se como agência de administração pública,
com mais autoridade legal que moral, limitando-se a atender as situações de
emergência, quando for chamada para atender uma ocorrência. Seus agentes
até podem participar na vida diária da comunidade, mas isso não é o objeto
da organização; não existe uma interação, permitindo detectar sinais de
anormalidade e agir com antecipação.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

É o modelo que mais se encontra nas democracias liberais. O foco dessa escola
de polícia é a identificação da autoria do crime para punir o criminoso. Em assim
sendo, busca especializar-se na investigação criminal, no combate ao criminoso e
na severa sanção a quem tenha cometido uma infração à legislação vigente.

A Escola de Polícia Oriental enfatiza as ações dos órgãos de segurança pública


orientados para o serviço à comunidade. A polícia faz parte da vida diária da
comunidade, existindo uma interação: Polícia X Comunidade. A vida em sociedade
é mantida sob controle, por meio da persuasão, aconselhamento e ajuda. Tal
estratégia permite que a polícia faça parte do contexto social e não um agente
estranho ao processo, de modo que todo serviço é relevante, e nenhum assunto
é tratado com indiferença. Alguns defensores da escola anglo-saxônica passam a
denominar essa tarefa como “competência residual” da polícia contemporânea.

Enquanto na escola de polícia anglo-saxônica o fogo de atuação é centrado no

combate ao criminoso, na escola oriental o trabalho das agências de preservação


da ordem pública é centrado no tratamento proativo do crime, agindo sobre
os elementos que possibilitam a prática do crime, quais sejam: um ambiente
apropriado para a prática do crime, um agente disposto a praticar tal crime e uma
vítima em potencial, ficando claro que a Polícia Comunitária se filia à filosofia da
escola de polícia oriental.

A figura abaixo demonstra que o crime possui, a exemplo do fogo, que necessita
a interação do combustível, comburente e uma fonte de calor para existir,
também um triângulo de elementos imprescindíveis para que ocorra.

AMBIENTE

CRIME

É necessário que se diga desde logo que na escola oriental não há omissão em
usar da força necessária para restaurar o estado de normalidade da vida em
sociedade, e sim uma permanente busca de legitimação do uso dessa força.

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Capítulo 1

Segundo Monet (2001), o processo de legitimação obrigaria a respeitar os


seguintes princípios.

•• Enquanto instituição coerciva, a polícia deve ser capaz de fazer


aceitar, se não mesmo aprovar, a autoridade que exerce.
•• Como prestadora de serviços, a polícia só será legitimada se
responder a adequadamente às expectativas dos seus utilizadores.
•• Uma vez que as sociedades, cada vez mais, desejam reduzir a
distância entre os que detêm autoridade e os que dela se beneficiam,
praticar a proximidade social aos cidadãos Legitima a polícia.
A escola oriental entende que a segurança não é a inexistência do delito ou a
ausência absoluta do delinquente, mas a certeza de que, ocorrendo um delito, o
cidadão terá apoio e a ação efetiva de proteção oferecida pelo Estado.

Para que isso aconteça é preciso uma ação pró-ativa, isto significa participar,
influir no processo social, ser instrumento de ajuste das relações sociais
e comunitárias – ir ao encontro do cidadão; estender a mão antes que lhe
solicitem; ensinar técnicas de defesa social mesmo não sendo solicitado. Em
poucas palavras, ser pró-ativo é ser parte integrante da comunidade onde
presta seu serviço.

A maior prevenção ao crime deve resultar de uma cooperação dos ambientes


institucionais de desenvolvimento humano e da vida diária. Essas instituições
incluem comunidades, famílias, escolas, comércio e locais de trabalho, além das
instituições legais de policiamento e justiça criminal.

É bom repetir, por tratar-se de preceito fundamental da filosofia da Polícia


Comunitária, a fala de Marcineiro & Pacheco (2005), que dizem que a escola
oriental enfatiza o atendimento à comunidade. A polícia mantém o controle social,
pela persuasão, aconselhamento e ajuda. Tal estratégia permite que a polícia faça
parte do contexto social e não seja um agente estranho ao processo. Essa forma
de preservação da ordem pública é comum no Japão, na Malásia, na Coréia, na
China, em Singapura e no Canadá, entre outros.

Com o passar do tempo, as organizações de preservação da ordem pública


foram sendo influenciadas por ambas as escolas, conduzidas pelo permanente
intercâmbio cultural que existe entre os países. Hoje não há mais a prática pura
dos princípios de uma ou outra escola. Há a constatação de que a segurança
pública é um desejo humano complexo e que, por isso, deve haver a participação
de todos para a construção interativa dessa segurança, sendo os órgãos de
persecução criminal apenas parte dos atores que deverão agir para obter os
resultados desejados.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

As escolas de polícia podem ser divididas em duas classes distintas,


portanto, aquela que se preocupa em reagir aos fatos criminosos depois
que alguém já foi vitimado e aquela que, além de uma eficiente reação,
possua como principal preocupação evitar que esses fatos ocorram. Foi
essa segunda que deu origem à Polícia Comunitária.

Também é importante relembrar sobre os modelos de polícia, porquanto em


reconhecendo o modelo praticado no Brasil, ficará evidente a necessidade de
evoluir para uma filosofia de trabalho de preservação da ordem pública, vinculada
aos preceitos do respeito aos direitos humanos e de cidadania.

Diferentemente das escolas de polícia, que define o objeto primário de atuação


policial, os modelos de polícia tratam da estruturação organizacional e da sua
relação com o Regime de Governo do Estado.

Para bem compreender os modelos de polícia é preciso retornar à análise


histórica das organizações de polícia. A história da atividade policial, portanto,
num formato similar ao existente ainda hoje, remonta ao século XIII, quando na
França, com o fim do período feudal, reorganiza a polícia a partir da investidura
militar, sendo criada a Gendarmerie, voltada às missões militares e também de
segurança pública.

Alguns séculos depois, Napoleão Bonaparte, durante suas conquistas pela


Europa, disseminou o modelo Gendarmerie francês por todas as nações
conquistas, modelo esse que perdura até os dias de hoje, tendo atingido também
outros continentes.

As instituições policiais oriundas do modelo francês, fardadas, organizadas


militarmente e responsáveis pela ordem pública, possuem entre as mais
tradicionais a: Gendarmeries austríacos, os Carabineri italianos, a Guarda Civil
espanhola, o Koninklijke Marechausse holandês, as forças policiais da Grécia,
Marrocos, Argélia, a Real Policia Montada do Canadá, os Carabineros do Chile,
as Polícias Militares do Brasil e demais polícias da América Latina.

Como sabemos, a evolução da maioria das coisas dá-se de maneira incremental, ou


seja, parte-se de um modelo já existente e se faz os acréscimos e/ou supressões
necessárias para a adequação do objeto às necessidades atuais e locais.

Com a ideia de segurança pública aconteceu da mesma forma. A forma originária


de fazer segurança, decorrente da experiência francesa, foi se modificando, na
medida em que foi sendo adotada por outras nações.

A maioria dos autores afirma que a origem da polícia moderna se deu em 1829,
quando Sir Robert Peel, então Primeiro Ministro Inglês, criou a Real Polícia
Metropolitana de Londres, para a garantia da paz e tranquilidade do povo londrino.

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Capítulo 1

É curioso perceber que nos princípios fundamentais dessa polícia constam


orientações que levam a crer que o desejo do seu fundador era fazer uma
polícia focada na prestação de serviço à comunidade e não de imposição de
vontade de governo.

A seguir veremos os princípios de Peel, que deram origem à polícia moderna e


que orienta para o pensamento da Polícia Comunitária.

Princípios da Polícia Moderna

1º Princípio - A polícia deve ser estável, eficaz e organizada, debaixo do controle


do governo;

2º Princípio - A missão básica para a polícia existir é prevenir o crime e a desordem;

3º Princípio - A capacidade da polícia em realizar suas obrigações depende da


aprovação pública de sua ações;

4º Princípio - A polícia necessita realizar segurança com o desejo e cooperação


da comunidade, na observância da lei, para ser capaz de realizar seu trabalho com
confiança e respeito do público;

5º Princípio - O nível de cooperação do público para desenvolver a segurança


pode contribuir na diminuição proporcional do uso da força;

6º Princípio - O uso da força pela polícia é necessário para manutenção da


segurança, devendo agir em obediência à lei, para a restauração da ordem, e só
usá-la quando a persuasão, conselho e advertência forem insuficientes;

7º Princípio - A polícia visa à preservação da ordem pública em benefício do bem


comum, fornecendo informações à opinião pública e demonstrando ser imparcial no
cumprimento da lei;

8º Princípio - A polícia sempre agirá com cuidado e jamais demonstrará que se


usurpa do poder para fazer justiça;

9º Princípio - O teste da eficiência da polícia será pela ausência do crime e da


desordem, e não pela capacidade de força de reprimir esses problemas;

10º Princípio - A polícia deve esforçar-se para manter constantemente com o povo,
um relacionamento que dê realidade à tradição de que a polícia é o povo e o povo é
a polícia.

Sir Robert Peel - 1º Primeiro Ministro Inglês - fundador da Policia Londrina em 1829

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Essa polícia, por sua vez, é formada em decorrência da necessidade que os


Marechais de Campo tinham de cuidar da sua tropa, estacionada nas periferias
das cidades, nos intervalos de guerra. Nessa ocasião, os soldados de folga iam
às cidades e praticavam as mais variadas e abusivas atitudes contra o patrimônio
e as pessoas que ali viviam. Os Marechais, então, passaram a escolher entre os
seus comandados aqueles que, pela sua conduta exemplar e correção de atitude,
pudessem policiar os seus colegas para evitar que eles cometessem abusos
comportamentais e, se cometessem, fossem devidamente sancionados. Esses
militares policiais passaram a se constituir a tropa pessoal dos Marechais. Daí a
expressão Marechausse, que denominou a polícia na sua origem e serve, ainda
hoje, de nome para algumas polícias do mundo.

Com o tempo, as Marechausse passaram a ser denominadas gendarmerie,


porquanto, aquelas organizações eram compostas por gendarmes ou, homens
gentis das armas (tropa).

A preservação da ordem pública praticada hoje, portanto, teve forte influência


da referência francesa, cuja origem remonta a necessidade dos comandantes
militares de guardar a cidade da agressão dos próprios militares.

As polícias do mundo, portanto, filiam-se a dois grandes grupos que são as do


tipo latino e as do tipo anglo-saxônico.

As do primeiro grupo são mais observadas nos países unitários e as suas


unidades uniformizadas são conhecidas como Gendamerias, Polícias Nacionais,
Guardas Nacionais e Carabineiros.

O modelo francês é considerado o principal modelo mundial, pois como vimos,


desenvolveu-se e organizou-se de forma integrada ao exército, constituindo
unidades de elite, as quais, a partir da Revolução Francesa e no Primeiro Império,
já no século XIX, foram introduzidas nos países conquistados por Napoleão
Bonaparte durante suas campanhas.

Por serem nacionais, integram as Forças Armadas do país, com todos os direitos,
regalias e obrigações dessas. Via de regra, fazem o policiamento de choque
nas cidades, o policiamento rodoviário nas estradas, a polícia Judiciária no
interior, o serviço de polícia militar em todas as Forças Armadas, o policiamento
e segurança dos Portos e Aeroportos e mantém uma esquadrilha de helicópteros
para transporte de autoridades.

As polícias e demais órgãos de preservação da ordem pública do segundo grupo


fundamentam-se na moderna administração de empresas, e procuram prestar
um melhor serviço com o menor número de encargos. Típicas de Repúblicas
Federativas variam em meios e eficiência em razão do estado a que pertencem.

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Capítulo 1

Assim, dentro de uma lógica, um estado rico tem uma polícia melhor selecionada,
equipada e paga, ao passo que um estado de menor arrecadação utiliza um serviço
policial menos moderno. São completamente desligadas das Forças Armadas e
exercem, efetivamente, todos os serviços de polícia, tais como patrulhamentos
diversos, polícia judiciária, fiscalização rodoviária e policiamento de choque.

Perceba que essas polícias são, entretanto, hierarquizadas pautando sua conduta
por estatutos. Sua eficiência é decorrente da adoção de uma estrutura adequada
e uma departamentalização criteriosa.

Utilizam desde armamentos leves, até viaturas ajustadas ao tipo de serviço que
será executado. Esse tipo de polícia, normalmente, remunera bem seus policiais
e servidores, em contraprestação eficiente deles, depois de aferido recrutamento
criterioso. Nesse sistema, não existe distinção entre polícia de investigação e
polícia ostensiva, porque o policial se uniformiza ou não, em razão do serviço que
a ele é atribuído, pertencendo todos eles a mesma organização policial.

Tendo a parte executiva apoiada no tripé “Polícia Ostensiva, Polícia Judiciária e


Polícia Técnica”, permitem a especialização e oferecem aos seus integrantes a
possibilidade de progresso na profissão, sem pressões de uma estrutura vertical.

Seus dirigentes são normalmente eleitos pela comunidade, exigindo a prestação


de conta da autoridade delegada. Se a criminalidade aumenta, o xerife ou chefe
de polícia é convocado pelos grupos comunitários e interpelado quanto às razões
da incidência e quanto às providências tomadas.

Essas polícias desenvolvem a técnica e se apoiam no avanço da ciência,


desenvolvendo métodos de trabalho, ampliando arquivos, aperfeiçoando estatísticas
e fazendo dos computadores os centros de decisão da organização policial.

É comum, ainda, a existência, nesses países que possuem força policial do


segundo grupo, de uma polícia de caráter nacional, eminentemente civil, com
competência definida em Lei, para determinados crimes, e que nas Repúblicas
Federativas lembram pelo menos sua condição de Polícia Federal.

Diante do que foi dito acima, e fazendo um paralelo com a prática policial
brasileira, fica evidenciado que no Brasil a polícia se filia ao modelo Latino e
pratica, prioritariamente, os postulados da escola de polícia anglo-saxônica.

Entretanto, desde o início da década de 90, alguns policiais brasileiros, entre


os quais se destaca o saudoso Coronel da Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro, Carlos Magno Nazareth Cerqueira, buscam introduzir no Brasil uma
prática policial que se caracterize pelo respeito ao ser humano e a proatividade
na preservação da ordem pública.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Essas pessoas perceberam que o futuro da preservação da ordem


pública seguia a uma tendência diversa daquela que vinha ocorrendo,
cujo pressuposto básico era impor a lei de forma arbitrária e implacável,
esperando que disso resultasse a ordem pública.

Esses inovadores, diante das primeiras manifestações de democratização do


país, ousaram perguntar qual a orientação da atividade policial no mundo e
no Brasil, especificamente, posto que não há possibilidade da inexistência de
um organismo policial para intervir nos conflitos entre os interesses coletivos e
individuais do cidadão, ao tempo em que a vida humana em sociedade é cada
vez mais orientada pelos parâmetros da pluralidade e da democracia.

Mas, não obstante a necessidade de tomar como referencial a prática policial nos
outros Estados Democráticos de Direito, era preciso adequar a polícia brasileira
às peculiaridades do Brasil e do povo brasileiro.

Couselo (2000) considera que a polícia não pode ser vista pelo conceito
metafísico de “um ente político”, pois, a seu juízo, mais do que se referir a um
ente do Estado é preciso se referir a uma polícia de um “determinado Estado”.
Com isso, ele busca clarear a ideia de que a polícia possui características
organizacionais e comportamentais legitimadas para cada Estado, resultando
em modelos diferentes para cada local. Por isso, para compreender bem uma
polícia é preciso compreender as características sociopolíticas e culturais da
comunidade em que ela atua.

Parafraseando J. Maria Rico, citado em Couselo (2000) e evidenciando a


característica poliglota desse tópico emergente (riso), a polícia é:

[...] además de una de las formas más antiguas deprotección


social, el principal modo de expresión de la autoridad” – nótese
cómo se destaca tanto su función social como la vinculación
com el poder político -, de ahí que, al estar íntimamente ligada a
la sociedad, su filosofia geral, forma de organización y funciones
específica que tenga que cumplir depend fundamentalmente de
“las características socio-políticas y culturales de la comunidad a
la que sirve

Por essa razão é preciso considerar a evolução histórica de um país nos seus
parâmetros sociais, políticos e culturais, para definir o modelo de sua polícia e a
tendência de mudança e adequações que tem. Não há que se discutir a estética
da organização neste momento, mas sim a natureza da sua função social e as
possibilidades de aplicação. O objeto de preocupação deve vincular-se ao fim a
que se destina e ao modo de atuação.

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Capítulo 1

No Brasil, as condições sociais, políticas e econômicas exigem um postura policial


diferente de todos os outros países. Não é possível, portanto, querer importar
modelo que tenha dado certo em qualquer outro lugar. No máximo é possível colher
experiência para que sirva de referência para o desenvolvimento da nossa maneira
de preservar a ordem pública e garantir o pleno exercício da cidadania.

A Constituição Federal de 1988, denominada de Constituição Cidadã, oferece


orientação de procedimento, para quem queira ver.

No Art. 144 da referida Constituição Federal, vê-se inaugurada uma nova era,
alertando a todos os cidadãos brasileiros quanto à responsabilidade comum na
geração de espaços de vida humana em sociedade, calcados no respeito à moral
e aos bons costumes, à integridade física das pessoas e ao patrimônio alheio.

Entretanto, muito ainda é preciso fazer e dizer para que tal orientação seja bem
compreendida e praticada no Brasil. Poucos buscam entender a expressão
insculpida naquele dispositivo legal que diz que “é dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, a preservação da ordem pública”. Certamente, o
legislador não visava a sugerir que o cidadão devesse concorrer com os agentes
públicos, na reação à conduta típica. O que é racional inferir é que todos os cidadãos
brasileiros devam agir orientados pelos preceitos éticos e legais, reguladores de uma
convivência social pacífica e ordeira, para que disso resulte a desejada ordem pública.

A ordem pública, como leciona o Desembargador Lazzarini (1999), é gênero cujas


espécies são:

Segurança Pública, que é o “estado antidelitual que resulta da observância dos


preceitos tutelados pelos códigos penais comuns e pela lei de contravenções
penais, com ações de polícia repressiva ou preventiva típicas (...)”;

a. Tranquilidade pública que “exprime o estado de ânimo tranquilo,


sossegado, sem preocupações nem incômodos, que traz às
pessoas uma serenidade, ou uma paz de espírito.”;
b. Salubridade pública, cuja “expressão designa também o estado de
sanidade e de higiene de um lugar, em razão do qual se mostram
propícias as condições de vida de seus habitantes”;

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

O assunto é abordado c. Dignidade da pessoa humana, que vem aflorando em


em artigo de Joaquim
recentes debates internacionais, visa a atribuir ao Estado,
B. Barbosa Gomes, o
qual analisa um julgado no uso do seu poder de polícia, restringir a possibilidade de
na França, avaliando o alguém se sujeitar ou sujeitar alguém à situação aviltante ou
procedimento de uma constrangedora, em nome da preservação da dignidade da
conhecida empresa do
ramo de entretenimento
pessoa humana.
para jovens, que decidiu Diogo de Figueiredo Moreira Neto (apud MENDES 2001),
lançar, em algumas
discotecas de cidades
por sua vez, diz que ordem pública é a “disposição pacífica
da região metropolitana e harmoniosa da convivência pública”, cujo referencial
de Paris e do interior, obrigatório não se restringe apenas à lei. Diz ele que ordem
um inusitado certame
pública tem uma “dimensão moral”, diretamente referida às
conhecido como
“arremesso de anão” vigências sociais, aos princípios éticos vigentes na sociedade,
(lancer de nain). próprios de cada grupo social. Sintetiza, então, dizendo que
a ordem pública deve ser“ legal, legítima e moral”.

Como se vê, o arcabouço legal vigente no país deve ser a baliza pela qual se
orientará toda a ação dos agentes de preservação da ordem pública. Entretanto,
a conduta deverá levar em consideração os usos e costumes da cultura vigente
em cada espaço/tempo e legitimada pela comunidade para que a ordem pública
seja construída de forma justa e perfeita.

A ordem pública, portanto, não é algo que se impõe. Ela deve ser construída
numa parceria Sinérgica de todos os atores sociais, onde os agentes públicos
de segurança participam como catalisadores do sistema, valendo-se do
conhecimento técnico-profissional que dispõe e das informações do ambiente em
que está inserido e onde deve agir.

Aqui convém realçar os indicativos de uma tendência flagrante para a


preservação da ordem pública no mundo e no Brasil, especificamente. Há
evidências de que as organizações policiais de excelência haverão de buscar
parcerias nas comunidades, respeitando-lhes as peculiaridades, crenças e
valores, para identificar, priorizar e agir criativamente sobre os problemas locais,
envolvendo a todos os atores sociais na construção da ausência de medo
almejada por todos.

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Capítulo 1

Essas tendências conduzem, inexoravelmente, à filosofia da Polícia Comunitária

Imperativo, também, que no futuro os organismos encarregados de preservar a


ordem pública saibam agir sistemicamente.

Segundo Capra (1996), O pensamento sistêmico é “contextual”, o que é o


oposto do pensamento analítico. A análise significa isolar alguma coisa, a fim de
entendê-la; o pensamento sistêmico significa colocá-la no contexto de um todo
mais amplo.

É assim que se entende que a Ordem Pública deva ser analisada para ser bem
compreendida. É preciso colocar no contexto social as diversas organizações
públicas encarregadas de fazer a preservação da ordem pública e, assim,
compreender como funciona o sistema de garantia da ordem pública.

Como já vimos noutro lugar, mas por ser relevante para a compreensão da
filosofia da polícia comunitária, de acordo com a visão sistêmica, as propriedades
essenciais de um organismo, ou sistema vivo, são propriedades do todo,
que nenhuma das partes possui. Em outras palavras, as propriedades do
relacionamento de todos os órgãos que compõem o sistema de preservação da
ordem pública não podem ser encontradas em nenhum órgão isoladamente.

Fritjof Capra, ainda, diz que a ênfase nas partes tem sido chamada de
mecanicista, reducionista ou atomística, ao passo que a ênfase no todo, de
holística, organísmica ou ecológica. O sistema de segurança pública somente
será sistema se tiver suas partes interligadas num único propósito, assim como
ele próprio deve ser interligado com as demais funções do Estado e com a
sociedade civil, formando tudo um grande sistema.

Não é possível compreender a filosofia da Polícia Comunitária se não ficar bem


entendido que essas propriedades surgem das “relações de organização” das
partes, isto é, de uma configuração de relações ordenadas que é característica
dessa determinada classe de organismos ou sistemas. As propriedades
sistêmicas são destruídas quando um sistema é dissecado em elementos
isolados, ou seja, não encontraremos as propriedades do Sistema de Preservação
da Ordem Pública nos diversos órgãos que o compõem, isoladamente. Por outro
lado, não haverá sistema de ordem pública se os órgãos que deveriam compô-lo
estiverem agindo isoladamente, sem a necessária inter-relação. Há, portanto, a
perda da propriedade do sistema, cujos benéficos efeitos são pretendidos na
preservação da ordem pública.

20

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

As definições acima apresentadas nos conduzem, invariavelmente, a algumas


reflexões. A primeira delas é relacionada à necessidade dos diversos órgãos do
sistema de persecução criminal de estarem agindo de maneira interligada, tal qual
um sistema, para obterem os resultados desejados. Como vimos anteriormente, os
resultados alcançados em decorrência da atuação sinérgica das partes não será
alcançado de maneira nenhuma se os órgãos estiverem atuando isoladamente,
mesmo que cada uma das partes faça o melhor desempenho possível.

Outra reflexão fica por conta da diversidade de status que cada órgão do sistema
possui. Todos deveriam possuir igual status, posto que o sistema só funcionará
com a inter-relação de todos os seus componentes, não podendo faltar nenhuma
das partes para que o resultado seja obtido. Entretanto, o que temos no Brasil
são políticas públicas que tratam cada elemento como parte estanque do sistema
de preservação da ordem pública e, por isso, recebem estímulos particularizados
de crescimento e desenvolvimento, independentes e, muitas vezes, em
detrimento dos demais órgãos que com eles devem atuar e, por isso, precisam
ser contemplados de maneira isonômica pelas políticas públicas.

Ainda, pode ser refletido sobre o fato de que o sistema de preservação da ordem
pública parte do sistema de vida humana em sociedade, é um sistema aberto e,
portanto, influencia e é influenciado pelo meio onde está inserido. A compreensão
do que seja um sistema aberto levaria, certamente, os dirigentes públicos a
pensarem com um pouco mais de vagar quando fossem gerar as políticas
públicas de segurança, pois um estímulo inadequado poderá resultar em graves
consequências, seja para o sistema, seja para o ambiente onde ele estiver agindo.
O resultado, enfim, acaba atingindo a todos pelas consequências do efeito
estímulo-reação.

Outra questão relevante para a compreensão e prática da filosofia da Polícia


Comunitária é o aproveitamento de toda a extensão do poder de polícia de que
dispões o Estado e que delega a ela para a preservação da ordem pública. Esse
conceito abrange a possibilidade de dar ordens de polícia, fazer consentimentos
de polícia, fazer a fiscalização de polícia e aplicar a sanção de polícia. Essas
possibilidades, infelizmente, carecem de ser melhor compreendidas pelos
policiais e, então, serem praticadas em toda a sua plenitude conceitual, para a
construção da segurança e da ordem nos espaços de vida humana em sociedade.

Essas e outras questões deveriam ser detalhadamente estudadas cientificamente


e, então, aplicadas no seio da sociedade. Entretanto, conforme é reconhecido
por diversos autores, o estudo do trabalho policial é muito recente e restrito a
poucos interessados.

21

topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 21 05/09/13 10:41


Capítulo 1

Aproveitando para fazer a segunda parte do treinamento da leitura do Espanhol e


evidenciar a importância deste curso, caro aluno do Curso de Gestão da Segurança
Pública, Couselo (2000), fazendo referência ao desinteresse da sociedade
acadêmica pelo estudo dos assuntos relativos ao trabalho policial, diz que:

“Em ese sentido, quizás siguen siendo válidas las razones


expuesta por Bayley, en 1985, para justificar tal situación a nivel
mundial. La primera es que, a diferencia de otras instituciones
como el ejército, la policía noha sido considerada, a lo largo
de la historia, como un actor decisivo de los eventos más
transcendentales para la humanidad. A la hora de estudiar lo
modelos latinoamericanos de policía, Waldmann atribuye ese
papel más bien secundario de la policía al prolongado dominio
que las Fuerzas Armadas (FAS) han ejercido en la corta historia
de esos países, da ahí el escaso interés que la misma ha
despertado tanto en el ámbito político como científico.”

O resultado é que a falta de uma ciência que defina postulados e leis científicas
para orientar pensamentos e ações dos profissionais de polícia, permite que
todos se achem aptos a tratar da temática, donde advêm os especuladores e
demagogos especialistas em segurança pública.

Em verdade, caros alunos, a segurança pública tem sido tema recorrente


nos mais variados espaços de debate do mundo todo. O crime e a violência
praticados por motivos religiosos, políticos, socioeconômico ou outro qualquer,
têm causado os mais calorosos posicionamentos e as mais controvertidas
propostas de enfrentamento da problemática.

Perceba que no Brasil, especificamente, o tema tem ocupado o primeiro lugar


na agenda dos debates na mídia, nas Academias Universitárias e no Congresso
Nacional, além de ocupar espaço de grande relevância no dia a dia do cidadão
comum. Basta a ocorrência de um episódio violento ou criminoso, cuja
repercussão interesse à grande mídia nacional, para iniciar uma avalanche de
críticas ao modelo de preservação da ordem pública praticado no país e o retorno
aos argumentos de que a polícia é ineficiente e precisa mudar.

O Congresso Nacional, por sua vez, com intenções não identificadas, entra
em ebulição nessas ocasiões, fazendo verter um sem número de soluções
mirabolantes em forma de emendas constitucionais, que vai de medidas de
mudanças insignificantes e inócuas até drásticas propostas de extinção das atuais
polícias estaduais e a criação de outras para substituir as existentes. Entre esses
dois extremos, é oferecido um leque de soluções que passa pela municipalização
do poder de polícia, da atribuição do ciclo completo de polícia para as duas
polícias estaduais, da criação de uma polícia nacional e da participação das
Forças Armadas na garantia da Lei e da Ordem como tarefa rotineira.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Entretanto, tudo leva a crer que não há, verdadeiramente, intenção de resolver
o problema e, sim, dar resposta momentânea à opinião pública, que clama
por medidas do governo para reagir ao fato. Senão, porque tais projetos, que
são apresentados como a solução final para o problema, são lançados ao
esquecimento quando a atenção pública se volta para outro interesse?

Em todos esses episódios, o que fica evidente é a importância do papel social


das organizações de polícia, que deve buscar legitimidade na parceria com os
cidadãos, para a construção da Ordem Pública e da ausência de medo.

Salta aos olhos os princípios e objetivos da Polícia Comunitária, como alternativa


contemporânea de prestação de um serviço público cada vez mais solicitado pelo
cidadão brasileiro.

É preciso construir segurança em parceria com a comunidade, e a filosofia


da polícia comunitária se presta perfeitamente para tal objetivo.

Trojanowicz e Bucqueroux (1999, p. 39) fazem a seguinte definição: “O


policiamento comunitário é ao mesmo tempo uma filosofia e uma estratégia
organizacional - uma nova missão para a polícia, exigindo novas políticas e
procedimentos para atingir esses novos objetivos”. Tal conceituação se baseia no
fato de que juntas, comunidade e polícia, terão maior facilidade de identificar os
problemas que mais afligem ou têm maior urgência em serem resolvidos, ou seja,
aqueles de maior gravidade.

O policiamento deve ser proativo, baseado na comunidade, e capaz de


adequação às mudanças que a sociedade vem sofrendo ao longo das últimas
décadas, como: valores morais, tecnologias, desemprego e violência.

Seção 2
Polícia tradicional e Polícia Comunitária

2.1 Polícia tradicional


A forma tradicional de se fazer policiamento é embasada no modelo punitivo
e médico-terapêutico, que tem sua fundamentação na imposição da pena e
na suposta reeducação ou ressocialização do indivíduo infrator. Esse modelo
tem como característica básica o atendimento de ocorrências e a ação reativa
às ações criminosas. Basicamente, concentra seus esforços nos efeitos e não
propriamente nas causas geradoras da criminalidade.

23

topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 23 05/09/13 10:41


Capítulo 1

A forma punitiva e médico-terapêutica de fazer policiamento, por si só, não supre


todas as necessidades existentes nos mais diversos aspectos da segurança
pública. Inúmeras situações podem e devem ser evitadas pela prevenção, e
medidas cautelares que visem a mudar a probabilidade da ocorrência do fato
antissocial. Faz-se necessário que as políticas de segurança pública visem a
não somente punir após o cometimento do delito ou tentar corrigir problemas
já existentes, é preciso antecipar-se aos fatos, deixando o atendimento reativo
apenas para os casos que não puderem ser evitados.

A finalidade básica do policiamento tradicional sempre foi fazer com que a


lei fosse respeitada. Já a filosofia de Polícia Comunitária não só prima pelo
cumprimento à lei, mas também, procura envolver os indivíduos na busca
constante de se conseguir a segurança do espaço que ocupa.

As organizações policiais viveram e vivem ainda, na maioria dos lugares, um


período em que o serviço baseava-se unicamente em dar uma resposta à
demanda de chamadas para o atendimento de ocorrências, fruto de uma doutrina
fundamentada no modelo de polícia punitivo, que teve seu auge no início da
idade moderna, quando o poder punitivo centralizava-se na ideia de que a
solução mais viável para a resolução de problemas seria a punição das infrações
cometidas, sem maior comprometimento com as possíveis causas responsáveis
por essas infrações como: miséria; falta de estrutura social; desagregação familiar
e negação de valores imprescindíveis à construção de uma sociedade mais justa
e menos violenta.

Os métodos de policiamento tradicional, comprovadamente, não têm sido eficazes


da redução da criminalidade. Diversos aspectos utilizados pelo policiamento
tradicional para a redução do crime não têm surtido os efeitos desejados.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos e Canadá comprovam que:

•• O aumento do contingente policial não diminui os índices do crime.


Em vários casos, o número de crimes não resolvido tem aumentado
consideravelmente.
•• O modelo tradicional de patrulhamento motorizado não é garantia
de aumento ou diminuição da prisão de suspeitos.
•• As radiopatrulhas que atuam com dois policiais, não são mais
eficazes do que os carros com somente um policial. Também não
ficou comprovado que sejam mais seguras.

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topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 24 05/09/13 10:41


Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

•• A saturação de um determinado local com o policiamento não


reduz a criminalidade, apenas a desloca para locais onde não
haja policiamento.
•• Os crimes que mais atemorizam as pessoas, como roubo, furto,
estupro e homicídio, dificilmente são encontrados pelos policiais
durante o patrulhamento.
•• A diminuição no tempo efetivo de resposta não inf luencia na
probabilidade de prender o delinquente ou na satisfação dos
cidadãos envolvidos.
Na maioria das vezes, os crimes são resolvidos, ou porque o criminoso é preso
imediatamente, ou porque algum membro da comunidade repassa alguma
informação, tais como nome, número da placa de veículo, etc. Raramente, por
meio da investigação criminal por si mesma.

Uma das maneiras mais tendente de se obter sucesso no serviço policial é


se conscientizar e conscientizar a população de que todos são, em parte,
responsáveis pelo bem estar geral e que este fator somente poderá ser alcançado
mediante a responsabilidade conjunta na consecução dos objetivos.

Os modelos tradicionais sempre foram vinculados ao cumprimento e fiscalização


da lei, por meio do ciclo conhecido de patrulhamento, prisões de delinquentes
e encaminhamento desses à Justiça. Nesse tipo de policiamento o que importa
é a prisão do criminoso, que tem que ser “caçado” e detido a qualquer custo.
Essa forma de manutenção da ordem pública já não atende às expectativas
da sociedade, além de, como abordado anteriormente, não diminuir os índices
de criminalidade. Por isso, mundialmente, as ações da polícia vêm sendo
constantemente questionadas, buscando-se estabelecer novos modelos,
objetivando a efetivação de uma atividade mais apropriada, participativa e
próxima do dia a dia da sociedade.

Veja que no Brasil não é diferente. Essa preocupação surgiu já no início da


década de 80, quando alguns municípios, estabeleceram modelos distintos
de Polícia Comunitária, que, de forma anônima e voluntária, apontavam para
indicativos de necessidade de mudança.

Assim, percebe-se que o estabelecimento da filosofia de Polícia Comunitária,


atualmente, é um acontecimento mundial e de substancial importância para a
proteção da comunidade. Obviamente que esse fenômeno globalizado tem que
respeitar as características particulares de cada região ou localidade, devido às
realidades e necessidades sociais distintas de cada comunidade.

25

topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 25 05/09/13 10:41


Capítulo 1

Um dos maiores problemas da sociedade contemporânea é a falta


de interação das pessoas, umas com as outras. Percebe-se que,
principalmente nas grandes cidades falta o relacionamento entre as
pessoas que pouco, ou nada, organizam-se socialmente, devido ao
individualismo reinante.

As experiências vivenciadas no dia a dia mostram que os índices de criminalidade


de uma determinada área estão intimamente relacionados com o grau de
interação social que ela possui. Nas comunidades em que as pessoas estão mais
preocupadas com o bem-estar uma das outras, diminuem as possibilidades e a
margem de segurança que os criminosos têm para atuar.

A falta de organização social de uma comunidade propicia que os criminosos


possam agir livremente, aproveitando-se da desconfiança, do anonimato, e
da insegurança coletiva. Daí a necessidade de se pôr em prática o resgate de
valores como o companheirismo e a solidariedade entre as pessoas, fazendo uma
reavaliação da maneira de se conceber o policiamento, pois o serviço policial deve
abranger muito mais que a simples concepção de lidar com condutas criminosas.

Grande parte do trabalho do policial brasileiro está em lidar com questões


relacionadas a conflitos interpessoais e subjetivos, que o obrigam a agir como
conselheiro, ouvidor ou ombro amigo, em diversas situações que, muitas vezes,
extrapolam a sua competência profissional, pois é o único profissional que está
disponível para atender em domicílio 24 horas por dia, sete dias por semana.

2.2 Polícia Comunitária


Muitos estudiosos pesquisam as razões do sucesso da policia comunitária e suas
origens. Há explicações de que seu surgimento foi em virtude do comprovado
fracasso do modelo tradicional de policiamento, sendo que tal surgimento foi
marcado pelas crises ocorridas nos Estados Unidos nos anos oitenta, a quais
influenciaram a administração do policiamento, e é fruto das três eras de
policiamento norte-americano.

Nos Estados Unidos, pelos idos de 1900, iniciou-se o movimento da Reforma, que
surgiu como uma reação aos problemas que a polícia local teve com a comunidade,
em função da forte influência política e intensa corrupção dos policiais.
O controle do crime foi pautado no afastamento da comunidade, neutralidade
política e controles rígidos internos. Nascia, dessa forma, o modelo tradicional de
policiamento. Mas em pouco tempo esse modelo começou a se mostrar ineficaz na
resolução do crime, ocasionando uma crise que resultou em um modelo inspirado
na Polícia de Londres. Muitos acreditam que não surgiu um novo paradigma, mas
sim o reaparecimento do policiamento comunitário (CERQUEIRA, 1999).

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

2.2.1 Os 10 princípios da Polícia Comunitária


Para a adoção da filosofia da polícia comunitária é necessário que todos os
interessados conheçam os seus princípios, praticando-os permanentemente
e com total honestidade de propósitos. São eles, segundo Trojanowicz &
bucqueroux (1999):

Filosofia e estratégia organizacional: A base dessa filosofia é a comunidade.


Para direcionar seus esforços, a polícia, ao invés de buscar ideias pré-concebidas,
deve buscar, junto às comunidades, os anseios e as preocupações desses locais,
a fim de traduzi-los em procedimentos de segurança.

Comprometimento da organização com a concessão de poder à


comunidade: Dentro da comunidade, os cidadãos devem participar como
plenos parceiros da polícia, dos direitos e das responsabilidades envolvidas na
identificação, priorização e solução dos problemas.

Policiamento descentralizado e personalizado: É necessário um policial


plenamente envolvido com a comunidade, conhecido por ela e conhecedor de
suas realidades;

Resolução preventiva de problemas a curto e a longo prazo: A ideia

é que o policial não seja acionado pelo rádio, mas que se antecipe à ocorrência.
Com isso, o número de chamadas à Central de Emergência deve diminuir;

Ética, legalidade, responsabilidade e confiança: O policiamento

comunitário pressupõe um novo contrato entre a polícia e os cidadãos aos quais


ela atende, com base no rigor do respeito à ética policial, da legalidade dos
procedimentos, da responsabilidade e da confiança mútua que devem existir;

Extensão do mandato policial: Cada policial passa a atuar como um chefe


de polícia local, com autonomia e liberdade para tomar iniciativa, dentro de
parâmetros rígidos de responsabilidade.

O propósito, para que o policial comunitário possua o poder, é perguntar-se:

•• Isto está correto para a comunidade?


•• Isto está correto para a segurança da minha região?
•• Isto é ético e legal?
•• Isto é algo que estou disposto a me responsabilizar?

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topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 27 05/09/13 10:41


Capítulo 1

•• Isto é condizente com os valores da Corporação?


Caso a resposta seja sim a todas essas perguntas, não peça permissão. Faça-o!

•• Ajuda às pessoas com necessidades específicas: valorizar as


vidas de pessoas mais vulneráveis: jovens, idosos, minorias, pobres,
deficientes, sem teto etc. Isso deve ser um compromisso inalienável
do policial comunitário.
•• Criatividade e apoio básico: ter confiança nas pessoas que estão
na linha de frente da atuação policial, confiar no seu discernimento,
sabedoria, experiência e, sobretudo, na formação que recebeu.
Isso propiciará abordagens mais criativas para os problemas
contemporâneos da comunidade.
•• Mudança interna: o policiamento comunitário exige uma
abordagem plenamente integrada, envolvendo toda a organização.
É fundamental a reciclagem de seus cursos e respectivos currículos,
bem como de todos os seus quadros de pessoal. É uma mudança
que se projeta para 10 ou 15 anos.
•• Construção do futuro: deve-se oferecer à comunidade um
serviço policial descentralizado e personalizado, com endereço
certo. A ordem não deve ser imposta de fora para dentro, mas
as pessoas devem ser encorajadas a pensar na polícia como um
recurso a ser utilizado para ajudá-las a resolver problemas atuais
de sua comunidade.

Quais as diferenças entre os modelos?

Um dos aspectos fundamentais da filosofia da Polícia Comunitária é que a


comunidade passa a fazer uma avaliação mais próxima e real das potencialidades
e fronteiras legais da sua polícia, e passa a conscientizar-se de suas
responsabilidades no processo que envolve o serviço de Segurança Pública.

Como está previsto na Carta Magna, a Segurança Pública passa a ser


responsabilidade de todos e não somente de uma agência governamental.

Enquanto no policiamento tradicional, a polícia é uma agência governamental, um


órgão cumpridor de normas que visa, principalmente, ao cumprimento dessas, na
Polícia Comunitária, a polícia é o público, e o público é a polícia: os policiais são
membros da comunidade, os quais são pagos para dar atendimento em tempo
integral, na garantia da ordem social.

28

topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 28 05/09/13 10:41


Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

No policiamento tradicional, a relação entre a polícia e as outras instituições


é conflitante. Não existe concordância na ordem de prioridades. No
comunitário a polícia é apenas mais uma das instituições governamentais
responsáveis pelo bem estar e qualidade de vida da população.

O modelo tradicional traz, como preocupação, a resolução dos crimes cometidos. Já


no comunitário, existe um enfoque maior e mais amplo da resolução dos problemas,
evitando que o crime venha a acontecer, primordialmente, pela prevenção.

A eficácia, no modelo tradicional, é medida pelo número de ocorrências atendidas


e de detenções realizadas, caracterizando-se como policiamento essencialmente
repressivo. No comunitário, a eficácia é sempre medida pela ausência de crime e
de desordem.

As prioridades mais altas do primeiro são os crimes que envolvam violência,


tais como, assaltos a bancos e assassinatos. No segundo, as prioridades são
qualquer problema que perturbe o sossego da comunidade. O policiamento
tradicional se ocupa mais de incidentes. O comunitário dirige sua atenção aos
problemas e as preocupações da comunidade.

A eficiência do tradicional é medida por meio do tempo de resposta, dado à


ocorrência, no comunitário, pelo apoio e pela cooperação recebidos do público
em geral.

O profissionalismo, no primeiro, consiste na resposta rápida dada aos crimes


sérios; no segundo, estar em estreito contato com a comunidade.

A prestação de contas no modelo tradicional é feita ao governo, que é centralizado


e está distante do convívio da comunidade, às leis e aos regulamentos.

A função do comando no policiamento tradicional é prover os preceitos e as


determinações que devem ser cumpridas pelos profissionais de polícia. O
comunitário preocupa-se em incutir valores institucionais.

O papel do setor de relações públicas, no primeiro modelo, é manter a pressão


longe dos policiais de operações, para que possam desempenhar suas funções
satisfatoriamente. No segundo, consiste em coordenar um canal de comunicação
eficaz com a comunidade.

Finalmente, no modelo tradicional as informações mais importantes são


aquelas relacionadas a certos crimes, em particular. No modelo comunitário,
são informações sobre as atividades delituosas de indivíduos ou grupos que
ameacem a tranquilidade pública.

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topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 29 05/09/13 10:41


Capítulo 1

Os bons resultados, obtidos no trabalho de aproximação com a comunidade, só


poderão ser em decorrência da relação de confiança e respeito mútuo que o
policial comunitário desenvolve com a comunidade onde atua. Por conseguinte,
é impossível se conceber polícia comunitária onde não há disciplina e preparo
profissional por parte do policial que irá representar, de maneira bastante pessoal,
a figura do Estado e do órgão de segurança pública a que serve.

Apresentado em forma de itens o que foi dito acima, abaixo estão as principais
diferenças básicas entre polícia tradicional e comunitária.

2.2.2 Polícia tradicional definida em alguns tópicos


•• A polícia é uma agência governamental responsável, principalmente,
pelo cumprimento da lei;
•• Na relação entre a polícia e as demais instituições de serviço
público, as prioridades são muitas vezes conflitantes;
•• O papel da polícia é preocupar-se com a resolução do crime;
•• As prioridades são, por exemplo, roubo a banco, homicídios e
todos aqueles envolvendo violência;
•• A polícia se ocupa mais com os incidentes;
•• O que determina a eficiência da polícia é o tempo de resposta;
•• O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas rápidas
aos crimes sérios;
•• A função do comando é prover os regulamentos e as determinações
que devam ser cumpridas pelos policiais;
•• As informações mais importantes são aquelas relacionadas a certos
crimes em particular;
•• O policial trabalha voltado unicamente para a marginalidade de sua
área, que representa, no máximo;
•• 2 % da população residente ali onde “todos são inimigos, marginais
ou paisano folgado, até prova em contrário”
•• O policial é o do serviço;
•• Emprego da força como técnica de resolução de problemas;
•• Presta contas somente ao seu superior;
•• As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrências.

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topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 30 05/09/13 10:41


Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

2.3 Polícia comunitária definida em alguns tópicos


•• O policial é da área. A polícia é o público e o público é a polícia: os
policiais são aqueles membros da população que são pagos para
dar atenção em tempo integral às obrigações dos cidadãos;
•• Na relação com as demais instituições de serviço público, a polícia
é apenas uma das instituições governamentais responsáveis pela
qualidade de vida da comunidade;
•• O papel da polícia é dar um enfoque mais amplo, visando à
resolução de problemas, principalmente por meio da prevenção;
•• A eficácia da polícia é medida pela ausência de crime e de
desordem;
•• As prioridades são quaisquer problemas que estejam afligindo a
comunidade;
•• A polícia se ocupa mais com os problemas e as preocupações dos
cidadãos;
•• O que determina a eficácia da polícia é o apoio e a cooperação do
público;
•• O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito
relacionamento com a comunidade;
•• A função do comando é incutir valores institucionais;
•• As informações mais importantes são aquelas relacionadas com as
atividades delituosas de indivíduos ou grupos;
•• O policial trabalha voltado para os 98% da população de sua área,
que são pessoas de bem e trabalhadoras;
•• O policial emprega energia e eficiência, dentro da lei, na solução
dos problemas com a marginalidade, que no máximo chegam a 2%
dos moradores de sua localidade de trabalho;
•• Os 98% da comunidade devem ser tratados como cidadãos e
clientes da organização policial;
•• O policial presta contas de seu trabalho ao superior e à
comunidade;
•• As patrulhas são distribuídas conforme a necessidade de segurança
da comunidade, ou seja, 24 horas por dia.

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topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 31 05/09/13 10:41


Capítulo 1

2.4 O que não é Polícia Comunitária?


Bem, agora que você viu quais são as principais diferenças entre essas polícias,
e diante da constatação de que muitos policiais antigos dizem frequentemente
que sempre fizeram Polícia Comunitária ou, eventualmente, dizem estar fazendo
Polícia Comunitária, é preciso deixar claro o que não é Polícia Comunitária.
Para isso, mais uma vez, é preciso buscar socorro em TROJANOWICZ &
BUCQUEROUX (1999).

Quando não se conhece ou não se pratica polícia comunitária é comum se afirmar


que essa nova forma ou filosofia de atuação é de uma “polícia light”, ou uma
“polícia frouxa”, ou mesmo uma “polícia que não pode mais agir”.

Na verdade, polícia comunitária é uma forma técnica e profissional de atuação


perante a sociedade, numa época em que a tecnologia, qualidade no serviço e o
adequado preparo são exigidos em qualquer profissão. Mas no nosso caso existe
ainda muita confusão, que passaremos a esclarecer:

1. Polícia Comunitária não é uma tática, nem um programa e nem


uma técnica – não é um esforço limitado para ser tentado e depois
abandonado, e sim um novo modo de oferecer o serviço policial à
comunidade.
2. Polícia Comunitária não é apenas relações públicas – a
melhoria das relações com a comunidade é necessária, porém,
não é o objetivo principal, pois apenas o contato amistoso não
é suficiente para demonstrar à comunidade seriedade, técnica e
profissionalismo. Com o tempo, os interesseiros ou os contatos
amistosos falsos são desmascarados e passam a ser criticados
fortemente pela sociedade. É preciso, portanto, ser honesto,
transparente e sincero nos seus atos.
3. Polícia Comunitária não é antitecnologia – a polícia comunitária
pode se beneficiar de novas tecnologias, as quais podem auxiliar
a melhora do serviço e a segurança dos policiais. Computadores,
celulares, sistemas de monitoramento, veículos com computadores,
além de armamento moderno (inclusive não letal) e coletes
protetores fazem parte da relação de equipamentos disponíveis
e utilizáveis pelo policial comunitário. Aquela ideia do policial
comunitário “desarmado” é pura mentira, pois até no Japão e no
Canadá os policiais andam armados com equipamentos de ponta.
No caso brasileiro, a nossa tecnologia muitas vezes é adaptada, ou
seja, trabalha-se muito mais com criatividade do que com tecnologia.
Isso, com certeza, favorece o reconhecimento da comunidade local.

32

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

4. Polícia Comunitária não é condescendente com o crime – os


policiais comunitários respondem às chamadas e fazem prisões
como quaisquer outros, pois são enérgicos e agem dentro da
lei com os marginais e os agressores da sociedade. Contudo,
atuam próximo à sociedade, orientando o cidadão de bem, os
jovens, estabelecendo ações preventivas, que busquem melhorar
a qualidade de vida no local onde trabalham. Parece utópico, mas
inúmeros policiais já vêm adotando o comportamento preventivo
com resultados excepcionais. Outro ponto importante é que como
está próximo da comunidade, o policial comunitário também é uma
fonte de informações para a polícia de investigação (Polícia Civil) e
para as forças táticas, quando forem necessárias ações repressivas
ou de estabelecimento da ordem pública.
5. Polícia Comunitária não é espalhafatosa e nem camisa “10” – as
ações dramáticas narradas na mídia não podem fazer parte do dia a
dia do policial comunitário. Ele deve ser humilde e sincero nos seus
propósitos. Nada pode ser feito para aparecer ou se sobressair
sobre seus colegas de profissão. Ao contrário, ele deve contribuir
com o trabalho de seus companheiros, seja ele do motorizado, a
pé, trânsito, bombeiro, civil etc. A polícia comunitária deve ser uma
referência a todos, polícia ou comunidade. Afinal, ninguém gosta de
ser tratado por um médico desconhecido, ou levar seu carro em um
mecânico estranho.
6. Polícia Comunitária não é paternalista – não privilegia os mais
ricos ou os “mais amigos da polícia”, mas procura dar um senso
de justiça e transparência à ação policial. Nas situações impróprias
deverá estar sempre ao lado da justiça, da lei e dos interesses da
comunidade. Deve sempre priorizar o coletivo em detrimento dos
interesses pessoais de alguns membros da comunidade local.
7. Polícia Comunitária não é uma modalidade ou uma ação
especializada isolada dentro da instituição – os policiais
comunitários não devem ser exceção dentro da organização
policial, mas integrados e participantes de todos os processos
desenvolvidos na unidade. São partes, sim, de uma grande estratégia
organizacional, sendo uma importante referência para todas as ações
desenvolvidas pela polícia. O perfil desse profissional é também o
de aproximação e paciência, com capacidade de ouvir, orientar e
participar das decisões comunitárias, sem perder a qualidade de
policial forjado para servir e proteger a sociedade.

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Capítulo 1

8. Polícia Comunitária não é uma perfumaria – o policial


comunitário lida com os principais problemas locais: drogas, roubos
e crimes graves que afetam diretamente a sensação de segurança.
Portanto, seu principal papel, além de melhorar a imagem da polícia,
é o de ser um interlocutor da solução de problemas, inclusive
participando do encaminhamento de problemas que podem
interferir diretamente na melhoria do serviço policial (uma rua mal
iluminada, horário de saída de estudantes diferenciado etc.).
9. Polícia Comunitária não pode ser um enfoque de cima para
baixo – as iniciativas da polícia comunitária começam com
o policial de serviço. Assim admite-se compartilhar poder e
autoridade com o subordinado, pois no seu ambiente de trabalho
ele deve ser respeitado pela sua competência e conhecimento.
Contudo, o policial comunitário também adquire mais
responsabilidade, já que seus atos serão prestigiados ou cobrados
pela comunidade e seus superiores.
10. Polícia Comunitária não é uma fórmula mágica ou panaceia
– ela não pode ser vista como a solução para os problemas de
insegurança pública, mas uma forma de facilitar a aproximação
da comunidade, favorecendo a participação e demonstrando
à sociedade que grande parte da solução dos problemas de
insegurança depende da própria sociedade. Sabemos que a
filosofia da polícia comunitária não pode ser imediatista, pois
depende da reeducação da polícia e dos próprios cidadãos, que
devem vê-la como uma instituição que participa do dia a dia
coletivo e não simples guardas patrimoniais ou “cães de guarda”.
11. Polícia Comunitária não deve favorecer ricos e poderosos – a
participação social da polícia deve ser em qualquer nível social: os
mais carentes, os mais humildes, que residem em periferia ou em
áreas menos nobres. Talvez nessas localidades esteja o grande
desafio, pois, com certeza, os mais ricos e poderosos têm mais
facilidades em ter segurança particular.
12. Polícia Comunitária não é uma simples edificação – construir
ou reformar prédios da polícia não significa implantação de
polícia comunitária, pois ela depende diretamente do profissional
que acredita e pratica essa filosofia, muitas vezes com recursos
mínimos e em comunidades carentes.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

13. Polícia Comunitária não pode ser interpretada como um


instrumento político-partidário, mas uma estratégia da
corporação - muitos acham que acabou o Governo, “acabou a
moda”, pois vem outro governante e cria outra coisa. Talvez isso
seja próprio de organizações não tradicionais ou temporárias.
A polícia comunitária, além de filosofia, é também um tipo de
ideologia policial aplicada em todo o mundo, inclusive em países
pobres, com características semelhantes às do Brasil. Portanto,
talvez seja uma roupagem para práticas positivas antigas.

Seção 3
Polícia Comunitária e a relação entre as Polícias
Militar e Civil
Para uma melhor compreensão da relação da Polícia Comunitária com a
existência de duas polícias no Brasil, vamos nos valer das ideias do Coronel da
PMSP Miguel Libório Cavalcante Neto. Diz ele que tradicionalmente se discute a
existência de duas polícias, uma Civil e outra Militar, como se fossem entidades
estanques e que contêm estruturas “impossíveis” de se adequar ou se integrar.

As polícias brasileiras têm as a suas atribuições definidas na Constituição


Federal. Portanto, um segmento policial é responsável pela polícia ostensiva
e o outro a polícia judiciária (investigativa). Dentro de uma visão técnica, uma
completa a outra, pois devem, constantemente, atuar integradas.

Portanto, não existe policiamento militar nem investigação civil no seio social:
existe sim um trabalho único de polícia previsto em lei, pois uma busca prevenir
o crime, o delito, a desordem, e quando isso não é possível, a outra age,
completando o chamado Ciclo de Polícia, buscando instituir e fazer cumprir a lei,
responsabilizando aqueles que prejudicam a paz pública e o bem-estar social.

O policiamento ostensivo (PM) é uma ação policial em cujo emprego o homem


ou a fração de tropa engajados sejam identificados de relance, quer pela farda,
quer pelo equipamento. É exercido visando a preservar o interesse da segurança
pública nas comunidades ,resguardando o bem comum em sua maior amplitude.

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Capítulo 1

Às Polícias Civis competem o exercício de atividade de polícia judiciária, ou seja,


as que se desenvolvem após a prática do ilícito penal, após a repressão imediata
por parte da Polícia Ostensiva, que transmitirá à Polícia Civil, cabendo-lhe a tarefa
de sua formalização legal e investigatória de polícia judiciária, na apuração, ainda
administrativa, da infração penal.

Por ser uma filosofia e estratégia organizacional, não é peculiar a um tipo ou outro
de polícia (ostensiva ou investigatória). É pertinente à organização policial como
um todo, quando ela se volta ao bom atendimento do cidadão.

Dentro desse novo enfoque passamos a perceber o seguinte: a polícia


ostensiva deve atuar na preservação (ou na proatividade). Busca atuar na
diminuição do delito, na orientação imediata, transmitindo a sensação de
segurança ao cidadão. Mas essa atividade deve ser realizada com que
base técnica-científica, ou seja, onde é preciso patrulhar para evitar ou
minimizar o delito? Qual a incidência criminal na minha área de atribuição?

Então, verificamos a outra quebra de paradigma: realizar o policiamento ostensivo


sem informações ou critérios, sem base nas incidências e investigações criminais
(produto da polícia de investigação), talvez seja apenas guarda patrimonial e não
policiamento comunitário.

Ao falarmos em Polícia Comunitária (ou policiamento comunitário), o


Departamento (ou a polícia) de Investigação (Polícia Civil) ganha uma importância
excepcional, pois o seu trabalho ganha valores fundamentados em três pontos:

•• Valor jurídico - é peça imprescindível para o desenvolvimento do


rito processual complementando assim o ciclo de polícia, iniciando-
se o ciclo de persecução criminal;
•• Valor científico - possibilita a troca de informações com a polícia
ostensiva, visando a direcionar e planejar as ações policiais de
forma pró-ativa e, quando necessário, repressiva;
•• Valor social - pelo seu resultado possibilita orientar o cidadão a
respeito dos acontecimentos de seu bairro, de sua comunidade.
É um tipo de prestação de contas, pois demonstra que o sistema
policial é dinâmico.

Como a polícia de investigação pode agir como Polícia Comunitária ?

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

3.1 Ações peculiares junto à comunidade


1. Bom atendimento ao público no registro de ocorrências;
2. Auxílio às vítimas (assistência, acompanhamento etc.);
3. Resposta à comunidade de problemas complexos;
4. Orientações quanto a problemas nocivos que prejudicam a
comunidade local;
5. Ações preventivas e de orientação na comunidade;
6. Apoio e participação das lideranças em orientações e informações
à comunidade;
7. Estímulo à iniciativa que promova a integração social.

3.1.1 Ações Integradas: Polícia Investigativa Polícia Ostensiva


1. Planejamento Estratégico com base na incidência criminal e na
complexidade dos problemas locais;
2. Planejamento Tático como forma de dissuasão;
3. Planejamento Operacional como força repressiva, objetivando
atingir problemas específicos;
4. Ações com a participação de outros órgãos públicos, que não
os de segurança pública.

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Capítulo 1

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Capítulo 2

Comunitarização e resolução
de problemas: as colunas
básicas da Polícia Comunitária.

Habilidades Compreender a importância da formulação de


parcerias e da resolução de problemas no contexto
da Polícia Comunitária, bem como as características
e a importância dos Conselhos Comunitários como
mecanismo de implantação da filosofia de Polícia
Comunitária.

Seções de estudo Seção 1:  : Implantação do modelo de Polícia


Comunitária: condições básicas

Seção 2:  A parceria: qual a importância?

Seção 3:  A resolução dos problemas

Seção 4:  Conselho Comunitário de Segurança


(CONSEG)

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Capítulo 2

Seção 1
Implantação do modelo de Polícia Comunitária:
condições básicas
Falar em polícia comunitária implica falar dos seus elementos centrais: a parceria
com a comunidade e a resolução de problemas. Esses dois componentes são
fundamentais para entender o que é polícia comunitária. São a base para a atuação
de qualquer instituição que queira evoluir para o modelo de Polícia Comunitária.

Sem a participação comunitária, a polícia continua a atuar de acordo com o


modelo tradicional. Perde a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o
dia a dia da comunidade onde atua e de identificar as causas reais que estão
gerando os problemas de segurança pública.

Sem utilizar uma metodologia de análise e solução de problemas, a polícia


continua a dar respostas tradicionais, quais sejam, o patrulhamento aleatório
e o foco no atendimento de crimes, quando esses já ocorreram. Com o foco
na resolução de problemas, a polícia passa a agir preventivamente, inclusive
passando algumas ações a serem executadas pela própria população. É sobre
esses dois pilares da Polícia Comunitária que nós vamos conversar neste estudo.

Antes de conhecer mais profundamente as duas bases principais que regem o


modelo de Polícia Comunitária, é importante saber que existem certas condições,
essas precisam estar presentes para que o modelo possa ser implantado.

1.1 Quanto à organização policial


1) A polícia deve reconhecer que é parte integrante do conjunto do sistema
penal e aceitar as consequências de tal princípio. Isso supõe:

a. a existência de uma filosofia geral mínima, aceita e aplicada pelo


conjunto do sistema penal;
b. a cooperação efetiva entre os policiais e os demais membros de
tal sistema penal em relação ao problema do tratamento judicial da
delinquência.
2) A polícia deve estar a serviço da comunidade, sendo a sua razão de existir
garantir ao cidadão o exercício livre e pacífico dos direitos que a lei lhe
reconhece. Isso implica:

a. uma adaptação dos serviços policiais às necessidades reais da


comunidade;

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

b. a ausência de qualquer tipo de ingerência política indevida nas


atuações policiais;
c. a colaboração do público no cumprimento de certas funções
policiais.
3) A polícia deve ser, nas suas estruturas básicas e em seu funcionamento,
um serviço democrático. Isso pressupõe:

a. a civilidade no atendimento ao serviço;


b. um respeito total aos direitos fundamentais dos cidadãos;
c. a participação de todos os integrantes do serviço e do conjunto da
população na elaboração das políticas policiais;
d. a aceitação da obrigação de prestar contas, periodicamente, das
suas atividades.
4) A polícia deve ser um serviço profissional. São critérios necessários para
um verdadeiro profissionalismo policial:

a. a limitação da ação da polícia a funções específicas;


b. a formação especializada de seu pessoal;
c. a aceitação de profissionais civis;
d. a criação e implantação de um plano de carreira;
e. a prioridade dada à competência na atribuição de promoções,
critério que deve prevalecer sobre o da antiguidade na escala;
f. a existência de um código de ética profissional.
5) A polícia deve reconhecer a necessidade do planejamento, da
coordenação e da avaliação de suas atividades, assim como da pesquisa, e
pô-los em prática. Como consequência:

a. o planejamento administrativo e operacional da polícia, a


coordenação e avaliação das suas atividades, assim como a
pesquisa, devem ser funções permanentes do serviço;
b. as principais etapas do processo de planejamento policial
devem ser: identificação de necessidades, análise e pesquisa,
determinação de objetivos a curto, médio e longo prazos,
elaboração de uma estratégia para a sua implantação, consulta
regular dentro e fora do serviço e avaliação periódica de tais
objetivos e estratégias;

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Capítulo 2

b. os objetivos da polícia devem corresponder às necessidades da


comunidade, ser f elexíveis, realizáveis e mensuráveis;
c. a polícia deve participar de planejamento conjunto com os demais
serviços policiais do país e com as instituições governamentais
implicadas ou interessadas nos problemas relacionados às
atividades das forças da ordem.

1.2 Quanto à comunidade:


1. A polícia comunitária transfere o poder à comunidade para auxiliar o
planejamento, objetivando melhorar a qualidade de vida e as ações
policiais.
2. A polícia comunitária requer que a comunidade forneça insumos
para as gestões que afetam a sua finalidade de vida.
3. A comunidade, com poder, compartilha a responsabilidade de
melhorar.
4. O senso de parceria com a polícia é criado e fortalecido.
5. Uma comunidade com mais poder, trabalhando em conjunto com
uma polícia com mais poder, resulta numa situação em que o todo
é maior do que a soma das partes.

1.3 Quanto aos policiais:


1. Permitir ao policial “resolver” os problemas ao invés de
simplesmente se “desvencilhar” deles.
2. Dar o poder de analisar os problemas e arquitetar soluções,
delegando responsabilidade e autoridades reais.
3. Os recursos da instituição devem ter como foco de atenção auxiliar
este policial.
4. Os executivos de polícia devem entender que seu papel é dar
assistência aos policiais na resolução de problemas.

Como deve ser o trabalho de Polícia Comunitária?


Quais os princípios devem norteá-lo?

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

O trabalho da Polícia Comunitária deve desenvolver-se dentro desses


princípios e critérios:

•• Deve ser apartidário, apolítico.


•• Necessita envolver a Polícia ,Militar, direcionando à prevenção e,
quando necessário, intensificação do ostensivo.
•• Deve envolver a Polícia Civil, para aproximação, e a familiarização
com a comunidade, esclarecendo questões pertinentes e bom
atendimento do cidadão no Distrito Policial, bem como dar o caráter
social e preventivo à investigação criminal.
•• Deve procurar sensibilizar e manter contatos com autoridades de
vários organismos públicos, para a garantia do desenvolvimento
do projeto.
•• Deve ser desvinculado de qualquer interesse particular, religioso e
ideológico.
•• Os objetivos precisam ser claros e definidos, sempre prestando
contas à comunidade.
•• As ações devem estar voltadas à reeducação da comunidade.
•• Em qualquer das situações, deve procurar mostrar sempre o lado
educativo, para evitar confrontos.
•• Há necessidade de preocupação constante com a integridade física
e moral dos participantes.
•• Deve sempre esquematizar a viabilização de formas de proteção
aos participantes do projeto.
•• A qualquer indício de exposição de qualquer um dos participantes,
precisa providenciar apoio às autoridades competentes.
•• Deve ter desenvolvido priorizando o respeito à dignidade humana.
•• Precisa priorizar os mais carentes e necessitados.
•• Deve ser f lexível e constantemente reavaliado.

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Capítulo 2

Seção 2
A parceria: qual a importância?
Segundo Livramento (2002), para desenvolver a parceria com a comunidade,
a polícia precisa desenvolver relações positivas com os cidadãos, de forma
a envolvê-los nas questões para melhorar o controle do crime, articulando os
recursos da comunidade com os da polícia, empregando-os no enfrentamento
dos problemas mais urgentes da comunidade (CERQUEIRA, 1999).

Trojanowics e Bucqueroux (1999, p.15) lembram que polícia e comunidade devem


trabalhar juntas:

O policiamento comunitário reconhece que a polícia não pode


impor ordem na comunidade de fora para dentro, mas que as
pessoas devem ser encorajadas a pensar na polícia como um
recurso a ser utilizado para ajudá-las a resolver os problemas
atuais da comunidade.

Dessa forma, pode se perceber que o policiamento comunitário sugere que


polícia e comunidade devem se familiarizar para, de forma conjunta, aumentarem
a qualidade de vida das pessoas.

Para Cerqueira (1999, p. 57) a confiança mútua é o grande fundamento da


parceria:

Fica claro que para construir confiança haverá necessidade


de um esforço contínuo. Para construir esta confiança para
numa efetiva parceria com da comunidade a polícia deve
tratar as pessoas com respeito e sensibilidade. O uso de força
desnecessária, a arrogância, a distância ou rudeza, a qualquer
nível, diminuirá a vontade dos membros da comunidade de se
aliarem à polícia.

Segundo Trojanowics e Bucqueroux (1999, p. 11), “dentro da comunidade, os


cidadãos devem participar, como plenos parceiros da polícia, dos direitos e
das responsabilidades envolvidas na identificação, priorização e solução dos
problemas”.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Sobre a experiência brasileira de parceria com a comunidade, Cerqueira (1999, p.


88) diz que:

Não é muito profícua a experiência brasileira de parceria da


administração pública com a população; se, por um lado,
se credita isto a uma prolongada convivência com regimes
autoritários, por outro lado pode-se creditar, também, a uma
tradicional prática política, de feição paternalista, que prefere
tutelar a população a tê-la como verdadeira parceira nas
questões da administração pública.

Embora ainda haja algumas dificuldades, já se inicia um processo de formação


de parceria entre polícia e comunidade, por meio dos Conselhos Comunitários
de Segurança (CONSEG), fortalecendo os laços de relação entre essas partes,
facilitando o desenvolvimento e a difusão da filosofia de polícia comunitária.

Quem deve ser envolvido na parceria para a Polícia Comunitária?

Os parceiros na identificação e solução dos problemas de segurança da


comunidade são denominados de “Seis Grandes” da Polícia Comunitária. São eles:

•• a unidade policial - desde o nível estratégico ao operacional;


•• a comunidade - desde os líderes comunitários ao cidadão comum
de rua;
•• autoridades públicas eleitas - prefeito, vereadores etc.;
•• a comunidade de negócios - desde as grandes empresas até a
pequena mercearia;
•• outras instituições - instituições públicas, instituições sem fins
lucrativos, grupos de voluntários etc.;
•• a mídia - tanto a eletrônica quanto a escrita.

2.1 A comunidade
A palavra comunidade é usada em vários sentidos. O aspecto material dos
lugares em que se fixou o homem é o mais evidente, mas nunca será o único
aspecto do que seja comunidade. A comunidade possui seu foco principal nas
relações entre seres humanos, incluindo a diversidade de reações individuais
e a forma pela qual se manifesta a interação social. Assim, a definição de
comunidade deve abranger tanto a variedade de formas físicas quanto sociais.

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Capítulo 2

Uma comunidade seria um grupo de pessoas que vive juntamente e participa


de uma ampla bagagem de interesses comuns. A característica marcante de
uma comunidade é o fato de ser possível viver dentro dela e poder vivenciar as
relações sociais.

Para Cerqueira (1999, p. 113), o termo comunidade pode referir- se:

...a uma área específica, definida politicamente ou segundo


outros critérios. Pode, igualmente, referir-se a grupos informais,
organizações formais, “redes” que representam indivíduos,
organizações, instituições profissionais ou grupos ligados por um
interesse comum, como, por exemplo, o de combater abusos
contra idosos e crianças.

Assim, pode-se compreender a comunidade como um grupo de pessoas


que, interagindo, busca soluções para problemas comuns, sendo que o fator
segurança, como já foi abordado anteriormente, é uma questão que envolve o
interesse de todo ser humano, visto a importância atribuída à tranquilidade de
cada um. Assim, pode-se identificar a segurança como um elemento de vital
importância dentro das prioridades de uma comunidade.

2.2 A comunidade de interesse e a comunidade geográfica


A comunidade geográfica é a área de atuação dos policiais, é onde habitam as
pessoas e existem as escolas, igrejas, hospitais, grupos sociais, empresas etc.,
interagindo com os aspectos imateriais, tais como cultura, valores, crenças e
tradições que podem se apresentar de diversas formas.

A ideia de aspectos imateriais dentro da comunidade sugere a ideia de


“comunidades de interesse”, dentro da comunidade geográfica, em que as
preocupações e os interesses variarão dentro e entre as comunidades de interesse.

Dessa forma, esses aspectos têm estabelecido a diferença entre a comunidade


geográfica e a comunidade de interesse, havendo a possibilidade da coexistência
de várias comunidades de interesse em uma determinada comunidade geográfica
(Cerqueira, 1999).

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Dentro desse prisma, Trojanowics e Bucqueroux (1999, p. 86) expõem:

Existe agora uma diferença bastante acentuada entre a


comunidade geográfica e a comunidade de interesse (...). Este
fato é extremamente relevante para o uso de “comunidade”
no policiamento comunitário porque o crime, a desordem, e
o medo do crime podem criar uma comunidade de interesse
dentro de uma comunidade geográfica. Incentivar e enfatizar
esta comunidade de interesse dentro de uma área geográfica,
pode contribuir para que os residentes trabalhem juntamente
com o policial comunitário, para criar um sentimento positivo de
comunidade..

Algumas comunidades de interesse são tradicionais, de longa duração;


outras, não tradicionais, podem ser formadas de acordo com o surgimento
de novos problemas.

Um ponto importante a ser lembrado é quando grupos de interesse estão em


oposição a outros dentro da comunidade. Muitas vezes essa oposição é violenta,
exigindo dos policiais uma habilidade decisiva: a de mediadores (Cerqueira, 1999).

Para reforçar o entendimento acerca da comunidade de interesse e


comunidade geográfica, Cerqueira (1999, p. 112) lembra Trojanowics, e faz
menção aos “seis grandes”:

Ao destacar a comunidade como uma categoria específica, e


não como categoria geral, que incluísse todos os outros setores,
parece-nos que mostra a sua posição; ao caracterizá-la inclui
todos os cidadãos: desde os líderes comunitários formais e
informais até os organizadores de atividades comunitárias e os
cidadãos da rua. Vimos que fala também de uma comunidade
de negócios, deixando-nos a certeza que a sua posição trabalha
com aquela noção de várias comunidades de interesse em uma
determinada comunidade geográfica.

Dessa forma, pode-se perceber que os policiais poderão se deparar, na área


geográfica de atuação, com diversas comunidades, com valores, culturas e
interesses completamente diferentes, fruto da possibilidade de existência de
várias comunidades de interesse dentro de uma única comunidade geográfica.

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Capítulo 2

Seção 3
A resolução de problemas
A resolução de problemas é um processo em que são detectadas as
preocupações e problemas específicos da comunidade, buscando, de forma
integrada, os instrumentos mais adequados para seu enfrentamento.

A resolução de problemas fica evidenciada no próprio conceito, ao prever que a


Polícia Comunitária deve trabalhar para “identificar, priorizar e resolver problemas”.

Porém, têm sido raras as iniciativas de desenvolver essa vertente, concentrando-


se mais as iniciativas brasileiras na organização comunitária.

Segundo o Cel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira (1999), “enquanto o tema da


participação da comunidade teve realce no quadro da democratização da polícia
brasileira, o mesmo não se pode dizer da metodologia de solução de problemas”.

Salienta ainda que esse tema não é desconhecido das polícias brasileiras, posto
que é comum de ser encontrado nos textos sobre planejamento nas áreas de
administração, militar, de qualidade total e no que se refere aos processos de
tomada de decisão.

A reavaliação da relação polícia-comunidade pressupõe uma reavaliação da própria


natureza da função policial: ao invés de limitar-se à repressão ao crime (crime-
fighting approach) a polícia passa a atuar no sentido de solucionar problemas
(problem-solving approach).

A adoção de uma metodologia de solução de problemas à atividade de segurança


pública redefine a missão policial. O sucesso e o fracasso das ações policiais
passam a depender mais da qualidade dos resultados (problemas resolvidos)
do que dos resultados quantitativos (ocorrências atendidas, número de prisões
efetuadas, quantidade de multas aplicadas etc.).

O entendimento é que, ao buscar soluções para os problemas da área – incluindo


problemas referentes à desordem – e ao envolver os cidadãos no processo,
a polícia pode contribuir para fortalecer laços comunitários e restaurar a
capacidade da própria sociedade de enfrentar seus problemas e prevenir crimes.

É importante envolver os cidadãos no processo. A participação da


comunidade é fundamental dentro da filosofia de polícia comunitária.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Convém, entretanto, não confundir a adoção de uma metodologia de solução de


problemas, sob a ótica da Polícia Comunitária, com Policiamento Orientado à
Solução de Problemas (POSP). No POSP o policial assume o papel de “perito”,
ou seja, é ele quem conhece a “realidade” da criminalidade na sua área de
atuação, enquanto que na Polícia Comunitária essa “realidade” será construída
não só a partir das informações policiais, mas, principalmente, das informações
repassadas pela própria comunidade.

3.1 Definindo o que é problema sob a ótica da Polícia


Comunitária
Segundo Kelly (apud Cerqueira, 1999, p. 93) problema é

qualquer situação que cause alarme, dano, ameaça ou medo,


ou que possa evoluir para um distúrbio na comunidade,
principalmente incidentes que possam parecer isolados, mas que
possuem certas características comuns, tais como um padrão,
uma vítima ou uma localização geográfica comum.

Já para Wilson (apud Cerqueira, 1999, p. 93), a polícia atua em função dos riscos,
que é

toda situação que possa produzir um incidente que vai requerer


a ação da polícia. Os riscos que podem causar incidentes são:
crimes, contravenções, acidentes e congestionamentos de
trânsito, perdas de pessoas e extravios de propriedades e outros
incidentes que podem requerer a atuação policial.

Comparando as definições, pode-se dizer que a situação que causa alarme,


dano, ameaça ou medo, definida como problema por Kelly, é o risco, definido por
Wilson; pode-se ainda considerar na conceituação de problema tanto a noção de
risco quanto a de incidentes. Ambas as definições, entretanto, são unânimes em
afirmar que deve haver uma atuação sobre os fatores causais dos problemas.

O papel da polícia é tratar de todos os tipos de problemas humanos quando, e


na medida em que, sua solução necessita, ou pode necessitar, do uso da força,
no lugar e no momento em que eles surgem. É isso que dá uma homogeneidade
a atividades tão variadas quanto conduzir o prefeito ao aeroporto, deter um
malfeitor, expulsar um bêbado de um bar, regular a circulação, conter uma
multidão, cuidar de crianças perdidas, administrar os primeiros cuidados e
separar casais que brigam.

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Capítulo 2

Por problemas, Goldstein entende a vasta gama de situações que levam o


cidadão a entrar em contato com a polícia, situações como ocorrência de
assaltos, roubo de residências e de carros, atos de vandalismo ou de terrorismo,
crianças desaparecidas e, frequentemente, o medo subjetivo do crime. Esses
e outros problemas similares constituem a essência do trabalho policial e não
apresentam uma homogeneidade de características, daí sua complexidade.

As organizações policiais enfrentam uma variedade cada vez mais complexa de


situações e problemas a cada dia. Três características são marcantes na forma
como lidam com esses problemas:

•• o uso restrito de informações;


•• o caráter reativo das estratégias de resolução de problemas;
•• a ausência de mecanismos de avaliação.
O uso de informações por parte das organizações é bastante restrito, e quando
ocorre limita-se à produção de dados agregados, consolidados pelo setor de
estatísticas, sem maior preocupação com a qualificação das informações, ou
contextualização dos dados. Nenhum esforço é feito no sentido de produzir
outras fontes de informação que não os dados da própria corporação, por meio
de pesquisas para a identificação de problemas e vitimização.

Consequentemente, as estratégias para a solução de problemas adotada são


de caráter reativo, orientando-se pela resposta orientada para cada incidente
tomado isoladamente. Sabemos que um grande número de incidentes, tais como
assaltos em ônibus ou caminhões de carga, por exemplo, são o resultado da
ação de poucas pessoas. Nesse sentido específico, a não articulação das ações
da Polícia Civil com a Polícia Militar dificulta ainda mais a identificação, análise e
o planejamento de respostas para esses problemas.

Finalmente, uma das carências recorrentes nas ações, não só das ações
da polícia em particular, mas de políticas de segurança de uma forma geral,
relaciona-se à total ausência de quaisquer mecanismos de avaliação, tanto
da implementação, como dos resultados de ações, programas, estratégias ou
políticas. Não se procura dimensionar o público atingido, o grau de mudanças de
comportamento requerido tanto da polícia como do público atingido, quais outras
organizações que podem ser envolvidas na solução dos problemas; bem como
das fontes de recursos necessários. Além disso, não se tem noção exata dos
resultados a serem alcançados: eliminação total ou parcial do problema, ou sua
simples eliminação da agenda.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Seção 4
O Conselho Comunitário de Segurança
(CONSEG)
Para que se possa ter um melhor entendimento do que seja um Conselho
Comunitário de Segurança é fundamental, primeiramente, compreender o que é
um Conselho Comunitário.

O que é um conselho comunitário?

Hillman (1974, p. 150) ensina que o Conselho Comunitário é:

...uma entidade particular, que representa as organizações


de uma determinada zona, podendo também a ele se filiarem
membros individuais. É um órgão criado para facilitar o
intercâmbio entre grupos, organizando-se em Conselho para que
as obras participantes sejam veículo de uma participação mais
ampla da comunidade.

Dessa forma, os Conselhos Comunitários são organizados para fins gerais,


estudando as condições existentes e buscando mecanismos no sentindo de
melhorar o bem-estar da comunidade. Representam, de certa forma, uma grande
expressão de ideais democráticas.

Não é demais observar que os Conselhos Comunitários não funcionam como


órgãos executivos, mas sim de coordenação, consulta e planejamento. É por
meio de cooperação, planejamento, troca de ideias e de recursos que será
possível atingir os objetivos e metas estabelecidos.

Hillman (1974, p. 155) elenca resumidamente as funções dos Conselhos Comunitários:

1. Coordenar os serviços existentes e planejar aqueles que se


tornaram uma necessidade para a zona.
2. Criar novas bases para as relações sociais na zona, por meio de
contatos e debates entre os indivíduos e os grupos representativos
do local, evitando que continuem a agir isoladamente ou em regime
de hostilidade. Essa função pode ser uma decorrência de alguma
atividade principal, mas é digna de nota, em face da existência de
conflitos e tensões, frequentemente observados entre as obras
sociais de uma comunidade.

51

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Capítulo 2

3. Representar os interesses da zona no quadro geral do planejamento


urbano ou metropolitano. Os órgãos planejadores, por seu lado,
podem auxiliar a formação de unidades locais que descentralizem
sua tarefa e possam melhor fomentar a participação da
comunidade.
Dessa forma, pode-se perceber que os Conselhos Comunitários funcionam
como um mecanismo de organização da comunidade, detectando quais os
problemas e obstáculos que dificultam o desenvolvimento da comunidade,
impulsionando o planejamento de fórmulas que promovam soluções para o bem
estar geral das pessoas.

Percebe-se, então, que quando as pessoas passam a relacionar- se com


outros cidadãos, seus problemas comuns passam a ser compreendidos entre
si, impulsionando fórmulas e soluções pertinentes às suas necessidades, pois o
grupo acredita na sua própria capacidade de ação. Neste sentido, Arruda (1997,
p. 61), com propriedade, ressalta:

Em geral, não conhecemos o incrível potencial humano que se


acumula por nossa vizinhança. E ficamos surpresos ao encontrarmos
tantas pessoas competentes, com uma rica história de vida, um
sólido estofo de conhecimento e, o que é mais importante, uma
incomensurável vontade de trabalhar voluntariamente por sua
comunidade. Basta que se lhes dê a chance.

Assim, percebe-se o quanto as pessoas podem fazer pelo bem- estar de sua
comunidade, não sendo diferente, em se tratando de segurança, quando a polícia
busca na comunidade as informações e mecanismos de interação mútua, visando
a oferecer segurança, buscando fazer parte da recuperação das condições de
vida do bairro.

Nesse sentido, ressaltando a importância da comunidade para a polícia, Arruda


(1997, p. 52) diz que:

Antes, é preciso que a Polícia se aproxime dos cidadãos,


estabeleça bases de sólida e recíproca confiança e, assim, se
faça digna de receber informações, oriundas da comunidade,
as quais, devidamente processadas, permitirão ações mais
orientadas, que não iguale a todos, delinquentes e cidadãos de
bem, como “suspeitos”.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Cabe ressaltar que este trabalho está centrado no estudo dos Conselhos
Comunitários de Segurança, sendo que esse procura resolver e buscar soluções
para os problemas de segurança da comunidade. Assim, os Conselhos
Comunitários de Segurança são instituições que buscam soluções específicas
para o problema de segurança, diferindo de um Conselho Comunitário tradicional,
que busca soluções para problemas gerais da comunidade.

O que é o Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG)?

O Regulamento dos Conselhos Comunitários de Segurança (Santa Catarina,


2001) assim define os Conselhos Comunitários de Segurança:

(...) são entidades de apoio às Polícias Estaduais nas relações


com a comunidade para a solução integrada dos problemas
de segurança pública com base na filosofia de Polícia
Comunitária, vinculados, por adesão, às diretrizes emanadas
da Secretaria de Estado da Segurança Pública, por intermédio
da Comissão Coordenadora dos Assuntos dos Conselhos
Comunitários de Segurança.

No mesmo sentido, Arruda (1997, p. 61) diz que os CONSEGs”

(...) são grupos de pessoas do mesmo bairro ou município que se


reúnem para discutir e analisar, planejar e acompanhar a solução
de seus problemas comunitários de segurança, desenvolver
campanhas educativas e estreitar laços de entendimento e
cooperação entre as várias lideranças locais.

Dessa forma, percebe-se que os CONSEGs são um grupo de pessoas


interessadas em fazer algo em prol da segurança pública, em prol da comunidade
e em apoio à polícia, discutindo e analisando os problemas de segurança do
bairro, propondo soluções e acompanhando sua aplicação.

53

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Capítulo 2

Arruda (1997, p. 50) expõe a importância da comunidade para a polícia:

(...) uma polícia que não conte com a compreensão, aceitação e


apoio da comunidade será uma coroa desfalcada de suas cinco
joias principais: o respeito institucional ( que conduz a polícia a ser
reconhecida como parceira em qualquer discussão relevante, por
parte da sociedade civil, inclusive na formulação do ordenamento
jurídico); dotação de verbas governamentais; voluntários seletos
disputando ingresso em seus quadros, atraídos pelo prestígio
auferido pelos membros da força; autoestima, a funcionar
como poderoso instrumento de comprometimento e inclusão
dos profissionais aos elevados princípios éticos que norteiam
a Instituição e, finalmente, a joia mais preciosa - a produção
de informações, oriundas da comunidade, sem as quais o
enfrentamento da criminalidade jamais poderá prosperar.

Assim, pode-se destacar a importância da participação popular no combate


ao crime, pois as pessoas possuem informações de extremo valor e relevância,
sendo que conhecem as minúcias e as particularidades do local onde residem.
Admite-se, também, que a canalização de tais informações à polícia criará
condições de respostas mais satisfatórias pelo órgão policial. Porém, é
importante frisar que além de prestar informações úteis para a polícia, o CONSEG
resolve, sem combater ao criminoso, alguns problemas da comunidade os quais
têm repercussão sobre a segurança pública.

Cabe ressaltar que o CONSEG não é um órgão que a polícia utiliza para colher
informações de forma distante e com caráter meramente consultivo. A polícia faz
parte do CONSEG. Dessa forma, polícia e comunidade devem explorar maneiras
criativas de enfrentar as preocupações de segurança do bairro.

Pode-se afirmar que o CONSEG contribui para a materialização do artigo 144 da


Constituição Federal (Brasil, 1988): “A segurança pública, dever do Estado, direito
e responsabilidade de todos (...)”.

O CONSEG apresenta-se como uma importante forma de expressão da cidadania,


possibilitando ao povo influenciar de forma concreta nas decisões do Estado, nos
assuntos atinentes à segurança pública.

Qual a finalidade dos CONSEGS?

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Objetivamente, os CONSEGs têm a seguinte finalidade:

•• constituir-se em canal privilegiado pelo qual a Secretaria de Estado


da Segurança Pública procurará conhecer as reivindicações e
anseios da comunidade;
•• congregar as lideranças comunitárias da área, a fim de que
planejem ações integradas de segurança;
•• propor a definição de prioridades de segurança da comunidade;
•• articular a comunidade para a solução de problemas ambientais
e sociais;
•• desenvolver o espírito cívico e comunitário na comunidade;
•• desenvolver campanhas educativas de interesse da segurança pública;
•• promover eventos que fortaleçam os vínculos da comunidade com
sua polícia;
•• colaborar com outros órgãos que visem ao bem-estar da comunidade;
•• planejar ações comunitárias de segurança que visem a avaliar
resultados;
•• levar à Secretaria de Estado da Segurança Pública as reivindicações
e queixas da comunidade;
•• propor às autoridades melhores condições de vida e trabalho
aos policiais e aos que prestam serviço à causa da segurança
da comunidade;
•• estimular treinamentos aos policiais;
•• elaborar propostas de melhoria de instalações, equipamentos,
armamentos e viaturas policiais;
•• planejar programas motivacionais para os policiais;
•• propor à Secretaria de Estado da Segurança Pública subsídios para
elaboração legislativa;
•• estreitar a interação entre as unidades operacionais das polícias.
Essas finalidades só terão êxito com o pleno envolvimento das autoridades
policiais, bem como o engajamento maciço da comunidade, pois a presença de
maus líderes, aventureiros ou pessoas que buscam auferir vantagens pessoais
prejudicam sensivelmente a pureza dos objetivos que norteiam o CONSEG.

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Capítulo 2

A respeito do envolvimento da comunidade na questão da segurança, Arruda


(1997, p. 70) nos ensina que solucionar problemas de maneira econômica, rápida
e racional, sem onerar mais policiais ou viaturas é um esforço possível, desde que
a comunidade seja treinada para uma visão ampla da questão da segurança.

Dessa forma, uma comunidade engajada, sentindo intensamente a presença


do Estado, sentido-se à vontade para acessar as autoridades policiais, tenderá
a gerar informações, auxiliando a polícia a detectar com mais precisão os
problemas de segurança local. Porém, não se pode esquecer de que polícia
e cidadãos deverão compartilhar responsabilidades para juntos encontrarem
maneiras de melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Quem participa dos CONSEGs?

Os CONSEGs são compostos por:

•• Membros Natos, que são os representantes das Polícias Civil e


Militar das circunscrições dos conselhos.
•• Membros Efetivos, são integrantes da comunidade que atendem
aos requisitos de integridade moral e podem gerenciar as atividades
do conselho, exigidos na legislação.
•• Membros Participantes que são todas as pessoas idôneas, não
enquadradas como membros e que participam das reuniões.
•• Membros Visitantes, que são integrantes de outros CONSEGs, os
quais queiram participar eventualmente de uma reunião.
Porém, de fato, as pessoas que doam seu trabalho, seu tempo para os
CONSEGs, são aquelas preocupadas com a segurança e a qualidade de vida da
sua comunidade, por serem visionários o suficiente e devotados à causa social,
não se furtam em participar ativamente de reuniões, muitas vezes exaustivas,
para identificar e priorizar ações que resultem em segurança para o local.

Qual a estrutura do CONSEG?

Cada estado possui uma legislação específica, que regula a composição e


atuação dessa assembleia preocupada com a Segurança Pública da sua
comunidade. Todas, porém, são estruturadas de maneira a formalizar o trabalho
do grupo e gerenciar as ações deliberadas. Em assim sendo, por menor que seja
a diretoria de um Conseg, ela deverá contar com: Presidente, Vice-Presidente, 1º
Secretário, 2º Secretário, Diretor Social e de Assuntos Comunitários.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Para o caso de Santa Catarina, os cargos exercidos no CONSEG não serão


remunerados, e os membros policiais não poderão exercer cargo de Diretoria,
bem como não poderão ocupar cargo na Comissão de Ética e Disciplina.

A área de atuação do CONSEG será a do Distrito Policial e a da Organização


Policial Militar (OPM) correspondente. Excepcionalmente a área geográfica
poderá ser a resultante do desmembramento ou fusão da área do Distrito Policial
ou OPM, ou do desmembramento ou fusão da área do respectivo município.

As eleições pertinentes ao CONSEG se realizam bienalmente, no mês de março,


sob a presidência e responsabilidade solidária de uma Comissão Eleitoral,
composta por três membros efetivos do CONSEG.

As reuniões do CONSEG são de cunho público e são abertas, devendo realizar-


se em local de fácil acesso à comunidade, preferencialmente em imóveis de uso
comunitário e que não sediem órgão policial.

Denúncias que acarretem risco de vida ao autor deverão ser realizadas de forma
sigilosa ao Presidente do CONSEG ou aos membros policiais, em local reservado.

Cada CONSEG deverá adotar os livros de controle e de registro das operações


decorrentes de suas atividades: Livro de atas de reuniões de Diretoria; Livro de
registro de Ética e Disciplina; Livro de presenças às reuniões.

No caso de Santa Catarina, as demandas por recursos financeiros ou matérias


não poderão recair sobre outros CONSEG ou à Secretaria de Estado da
Segurança Pública.

Vale lembrar que não é da competência dos participantes do


CONSEG interferir em escalas de serviço, transferências de
policiais e outros assuntos técnicos exclusivo do administrador
policial.

Realizar as reuniões mensais é o exercício necessário à formação do hábito para


se discutir segurança, buscando, de forma criativa, soluções que promovam
qualidade de vida para as pessoas. Dessa forma, a comunidade deve ser
articulada constantemente a se manifestar sobre segurança, pois é um problema
que faz parte das preocupações cotidianas de todos.

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Capítulo 2

4.1 Obstáculos para a criação de um CONSEG


A princípio, não existem obstáculos, bastando apenas os chamados “Seis Grandes”
de polícia comunitária estarem dispostos para se reunirem e praticarem os trabalhos
que os CONSEGs permitem que sejam praticados. Essa reunião se dá pela
iniciativa dos dirigentes policiais locais, a qual vai em busca dos “Seis Grandes” (
a própria polícia, a comunidade como um todo, os dirigentes públicos eleitos, as
lideranças formais e informais da comunidade, as organizações não governamentais
e a mídia). Esses “Seis Grandes”, aglutinados pelos dirigentes policiais, devem
buscar se reunir para resolver criativamente os problemas de segurança.

Cabe destacar que o CONSEG não deve ser um palco indiscriminado de queixas e
reclamações, sem oferecer alternativas e soluções. O CONSEG deve buscar medidas
criativas que visem a solucionar os problemas de segurança da comunidade.

O que motivou a criação dos CONSEGs?

Num passado não muito distante, acreditava-se que quem deveria se preocupar
com segurança pública eram, de forma exclusiva, os próprios órgãos de
Segurança Pública. Quando o cidadão, outras empresas públicas ou privadas
opinavam sobre segurança pública, era uma verdadeira ofensa aos órgãos oficiais.

Hoje podemos viver outro paradigma, entendendo-se que a palavra do cidadão


é de substancial importância para melhor gerir o trabalho de segurança pública,
pois se passou a entender que quem deveria dizer que estava inseguro e trazer as
informações era o próprio cidadão, não a polícia, por meio de atitudes impostas
de fora para dentro. Assim, começou-se a verificar como era realizado o trabalho
em outros países e observou-se que dava certo, como caso do Japão, que tem a
polícia comunitária há várias décadas, assim como o Canadá, muitos países da
Europa e a maioria dos estados dos Estados Unidos.

Pode-se dizer que o motivo da criação dos CONSEGs é oportunizar ao cidadão


uma participação mais ativa na construção da segurança de sua comunidade,
reforçando as instâncias formais de preservação da ordem pública.

O modelo tradicional de polícia não mais supera expectativas e à demanda social


por segurança, pois na luta do “bem” contra o “mal” observa-se um aumento
vertiginoso do chamado “mal”. Cabe ressaltar que esse “mal” é o próprio
cidadão que, de alguma forma, se indispõe com o sistema legal, praticando atos
contra este sistema.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Dessa forma, uma ação que permite fugir do modelo tradicional passou a ser a
adoção da filosofia de polícia comunitária, a qual propõe o aspecto de consulta
à comunidade para estabelecer as prioridades. Assim, a polícia procura dar as
respostas de acordo com as necessidades e a natureza do problema, buscando
medidas que se antecipem à ocorrência do fato delituoso. Assim, surge a
estratégia de organizar as pessoas dentro da comunidade para entenderem qual
é o seu papel na dimensão da vida em sociedade, relacionada à segurança, e
fornecerem a sua contribuição.

Percebe-se, então, que por meio da informação do cidadão pode-se planejar


da melhor forma o serviço de segurança pública, pois a consulta à comunidade
permite estabelecer prioridades e meios à polícia para equacionar metas e obter
a aprovação das pessoas, para que as respostas da polícia sejam adequadas à
necessidade e à natureza do problema. E é exatamente neste contexto que entra
o papel do Conselho Comunitário de Segurança, responsável por organizar a
comunidade para identificar e detectar as causas dos problemas e prioridades
relacionados à segurança, apresentando o que a comunidade espera da polícia.

Não é demais observar que a própria Carta Magna proclama que a segurança
pública é responsabilidade de todos os cidadãos. Assim, o cidadão também
precisa se mobilizar e contribuir. Naturalmente, o cidadão não irá se armar e
portar equipamentos inerentes à atividade policial; os cidadãos irão se reunir
para buscar uma atuação na sociedade que permita realizar outras atividades
que não sejam de polícia, mas que possam instar a polícia a fazer o que seja de
polícia. É facilmente perceptível que a polícia, muitas vezes, realiza serviços que
não são inerentes ou próprios do papel dela. Mas realiza tais serviços por um
espaço criado na sociedade, por falta de uma organização social adequada, em
que o cidadão precisa se orientar. O cidadão precisa de um lugar para poder
se organizar, esse lugar é denominado de Conselho Comunitário de Segurança,
onde o cidadão vai se organizar para atuar sobre os aspectos do desconforto
relacionados à segurança que, a princípio, não é do Estado, mas sim da
organização social local.

Existem duas colunas mestras para a implantação da Polícia Comunitária: a


parceria com a comunidade e a resolução de problemas. O modelo de Polícia
Comunitária pressupõe que as polícias firmem uma parceria com a comunidade,
a fim de identificar, priorizar e resolver os problemas de segurança pública que
a afetam. Para que isso ocorra, ambas, polícia e comunidade, precisam alterar
a forma como atuam frente aos problemas de crime, violência e desordem. A
atuação passa a se pautar pela colaboração entre polícia e comunidade, com
foco na prevenção dos problemas, em uma estratégia de caráter proativo.

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Capítulo 3

A gestão orientada ao
problema sob a ótica da Polícia
Comunitária

Habilidades Conhecer os principais pressupostos teóricos,


os métodos e as ferramentas da gestão baseada
na solução de problemas, a fim de identificar a
importância do emprego dessas metodologias na
área de segurança pública, especialmente as etapas
e as ferramentas que compõem o ciclo de análise e
solução de problemas de segurança pública.

Seções de estudo Seção 1:  Fundamentos da gestão orientada ao


problema

Seção 2:  A relação entre solução de problemas e a


Polícia Comunitária

Seção 3:  O Ciclo de Análise e Solução de


Problemas de Segurança Pública (CASPSP)

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Capítulo 3

Seção 1
Fundamentos da gestão orientada ao problema
Ao longo da história da administração, seja ela pública ou privada, as
organizações têm buscado aprimorar métodos, técnicas e ferramentas gerenciais
que permitam melhorar a qualidade dos serviços prestados, ampliar sua
capacidade de atendimento, racionalizando o emprego dos recursos financeiros e
materiais e do capital humano.

1.1 A gestão baseada na solução de problemas


Vários desses métodos, técnicas e ferramentas foram desenvolvidos com o foco
de atuar sobre os problemas existentes nas organizações, buscando preveni-los
ou, caso isso não seja possível, minimizar os seus efeitos sobre os resultados. A
utilização dos métodos de solução de problemas não visa apenas a resolvê-los
após terem ocorrido mas, principalmente, evitar que ocorram novamente.

Você irá conhecer os principais métodos, técnicas e ferramentas gerenciais


desenvolvidos e utilizados na atividade gerencial, principalmente no que se refere
à Análise e Solução de Problemas.

Antes de iniciar a abordagem sobre a solução de problemas, é necessário


definir, de modo claro, a conceituação sobre o que é PROBLEMA.

Um problema pode ser entendido como “qualquer resultado indesejável de uma


atividade ou processo”, e relaciona-se com os resultados insatisfatórios de um
processo. Assim, se um produto ou serviço não atingir o desempenho desejado,
pode-se dizer que tem um problema. Para garantir a conformidade dos serviços
prestados, torna-se necessário que os problemas sejam corrigidos a tempo.

De acordo com Juran (apud CAMPOS, 1992, 257, “problema é um desvio da


característica de qualidade de seu nível ou que ocorre estado pretendido com
gravidade suficiente para fazer com que um produto associado não satisfaça às
exigências de uso, normal ou razoavelmente possível”. O problema existe quando
há diferença entre o resultado desejado e o resultado real de um trabalho.

Assim, um problema é visto como o resultado indesejável de uma rotina, sendo


que vários conceitos estão envolvidos. Inicialmente, um problema é um efeito
ou uma consequência de que algo não está sendo realizado conforme o
esperado. Na resolução de problemas, deve-se atacar a causa. Para resolver
um problema é preciso identificar as suas causas e agir sobre elas, a fim de
eliminá-las ou minimizá-las.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Existem dois tipos de problemas que devem ser identificados e que precisam ser
analisados de forma diferente. Os problemas de rotina são aqueles que surgem
de repente e que são facilmente percebidos quando a rotina foge de controle. Já
os problemas de melhoria, acontecem quando o que antes era indesejável passa
a ser visto como inaceitável. A existência de problemas normalmente acarreta
custos para as organizações.

A maioria das organizações tem problemas e cada um deles é uma oportunidade


para melhoria. Para cada problema identificado deve ser estabelecido um projeto
de análise e solução. E a solução de problemas não deve ser um processo
empírico ou baseado em achismos.

A solução sistemática de problemas é uma maneira de aperfeiçoar a capacidade


de aprendizagem dos grupos de trabalho e, dessa forma, melhorar continuamente
os resultados de suas atividades. Na existência de um problema são verificadas
suas causas e implementada a solução.

Definido e reconhecido o problema, torna-se necessário atuar sobre as causas.


As causas dos problemas podem ser divididas em dois tipos: as especiais e as
comuns.

A solução de problemas pode ser entendida como todo e qualquer esforço feito
para eliminar os problemas, sendo dividida em três tipos:

•• Sintomática: Este tipo de solução é a mais comum e visa a apagar


o incêndio, atuando sobre as causas do primeiro nível do problema.
Contudo, esse tipo de solução normalmente não é efetiva do
problema impedindo enxergar as causas reais do problema.
•• Processual: Este tipo de solução ataca as causas de terceiro e
quarto níveis, escondidas no processo do qual o problema faz parte.
Apesar de ser aconselhável o uso deste tipo de solução, raramente
é encontrada, pois demanda muito tempo.
•• Sistêmica: É o tipo mais profundo de solução de problema, pois
mexe com o sistema gerencial da organização como um todo, além
de envolver mais pessoas para ser aprovado. A demora na análise,
contudo, dificulta a implementação.

Os seis estágios da solução de problemas


O primeiro estágio da solução de problemas normalmente envolve a busca por um
consenso sobre – em termos muito genéricos – qual é o problema e que tipos de
soluções gerais poderão ser apropriados. Esse é o período de definição e análise
do problema, no qual a definição do problema é consideravelmente limitada.

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Capítulo 3

O segundo estágio é o entendimento do problema, onde são feitas coletas de


dados e mais análises, com o objetivo de melhor entender o problema.

A seguir vem o terceiro estágio, de tomada de decisão, onde se escolhe a


melhor opção entre as soluções apresentadas.

Uma vez identificadas as opções e escolhidas as soluções viáveis, inicia-se o


quarto estágio, onde são projetadas as ações que irão bloquear as causas
do problema.

No quinto estágio, é iniciada a implementação das soluções, “durante o qual os


projetos e conceitos teóricos são testados no mundo real” (SILVA, 2002, p. 195).

Finalmente, no sexto estágio deve-se proceder a avaliação dos resultados


obtidos com a implementação da solução escolhida, com o objetivo de melhorar
o desempenho da empresa.

Entende-se que a resolução de problemas é vital para a melhoria contínua da


produção de bens ou da prestação dos serviços, independente do tipo de solução
empregada, as pessoas devem estar preparadas para trabalhar em equipe, pois
um método de solução de problemas eficaz está centrado nas pessoas.

Veja, a seguir, os principais métodos e ferramentas utilizados para analisar e


solucionar problemas.

Convém, antes de entrar na abordagem sobre os principais métodos de análise e


solução de problemas, definir o significado da palavra Método.

Método é uma palavra de origem grega e é a soma das palavras META


(que significa “além de”) e HODOS (que significa “caminho”). Portanto,
método significa “caminho para se chegar a um ponto além do caminho”.

Método é uma sequência determinada de procedimentos, em que ferramentas


são usadas com rigor científico. Cada ferramenta tem uma utilidade, e deve ser
usada numa determinada sequência.

Existem várias ferramentas para uma mesma finalidade, mas é a sequência de


etapas na sua utilização que garante a eficácia dos resultados. Não se pode pular
ou trocar a ordem de certas etapas.

Na literatura sobre administração, engenharia de produção, gestão da qualidade,


pode-se encontrar inúmeros métodos de solução de problemas, entre os quais
vamos destacar os seguintes: o Ciclo PDCA e o MASP.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

1.2 O Ciclo PDCA

Entendendo a sigla: o nome PDCA é composto pelas primeiras letras dos verbos
em inglês Plan (que significa planejar), Do (que significa fazer, executar), Check (que
significa checar, conferir) e Action (que significa agir, no caso, agir corretivamente).
Esses verbos são a sequência do método PDCA.

O ciclo PDCA é um método gerencial de tomada de decisões para garantir o


alcance das metas necessárias à sobrevivência de uma organização. Pelo ciclo
PDCA consegue-se estabelecer uma estratégia de melhoria contínua, que ao
longo do tempo trará vantagens substanciais para a organização. Esse método
visa a controlar e atingir resultados eficazes e confiáveis nas atividades de uma
organização.

Figura 3.1 – Ciclo PDCA

A
P
(ACTION)
(PLAN)
Definir as
Metas
Atuar Os métodos
que permitirão
corretamente
atingir as metas
propostas

educar e
Resultados treinar
da Tarefa
Tarefa
Executada
(coletar
(CHEC) Dados)
(DO)
C D

Fonte: CAMPOS (1992).

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Capítulo 3

1.2.1 As etapas que compõem o ciclo PDCA

Plan – Planejamento
Consiste no estabelecimento de metas e do método para alcançar essas metas.
Três pontos importantes devem ser considerados:

•• Estabelecer os objetivos sobre os itens de controle


•• Definir o caminho para atingi-los
•• Decidir quais os métodos a serem usados para atingir os objetivos

Do- Execução
Compreende a execução das tarefas previstas na etapa anterior e na coleta dos
dados a serem utilizados na próxima etapa. Deve-se considerar também três
pontos importantes:

•• Treinar no trabalho o método a ser empregado;


•• Executar o método;
•• Coletar os dados para verificação do processo.

Check – Controle
Etapa onde se compara o resultado alcançado com a meta planejada,
considerando-se os pontos a seguir:

•• Verificar se o trabalho está sendo realizado conforme o padrão;


•• Verificar se os resultados medidos variam e comparar com o padrão;
•• Verificar se os itens de controle correspondem com as metas.

Action - Atuação Corretiva


Consiste em atuar no processo de função dos resultados obtidos, verificando os
três passos a seguir:

•• Se o trabalho desviar do padrão, tomar ações para corrigi-lo;


•• Se um resultado estiver fora do padrão, investigar as causas e
tomar ações para prevenir e corrigi-lo;
•• Melhorar o sistema de trabalho e método.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

MASP (QC STORY)


O Método de Análise e Solução de Problemas (MASP), também chamado pelos
japoneses de QC STORY, é peça fundamental para a melhoria na produção de
bens ou prestação de serviços.

A vasta maioria das decisões que são tomadas nas empresas, sejam elas
de cunho estratégico, tático ou operacional, são baseadas no bom-senso,
experiência, feeling etc. Vale ressaltar que qualquer decisão gerencial, em qualquer
nível, deve ser conduzida para solucionar um problema (resultado indesejável de
uma atividade). Se isso for entendido, fica claro que qualquer decisão gerencial
deve ser precedida de uma análise da atividade, conduzida de maneira sistemática
e sequencial pelo Método de Análise e Solução de Problemas.

As empresas possuem problemas que as privam de obter melhor


produtividade e qualidade de seus produtos, além de prejudicar sua
posição competitiva. Nós temos a tendência de achar que sabemos a
solução desses problemas somente baseados na experiência ou naquilo
que julgamos ser o conhecimento certo. No entanto, o verdadeiro expert
é aquele que alimenta seu conhecimento e experiência com fatos e dados,
dessa maneira, assegura-se de usar esse conhecimento, experiência e,
principalmente, o seu tempo na direção correta. (CAMPOS, 1992, p.208).

O MASP é uma sequência de procedimentos lógicos, baseada em fatos e dados,


que objetiva:

1. localizar a causa fundamental dos problemas;


2. mapear as soluções possíveis;
3. implantar as soluções;
4. avaliar os resultados das mudanças ocorridas com a implantação;
5. padronização (no caso da mudança ter sido efetiva) ou a revisão
das ações (caso a mudança não tenha surtido o efeito desejado).

67

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Capítulo 3

Veja, a seguir, o quadro detalhando as etapas do MASP, correlacionadas com o PDCA.

Figura: 3.2– MASP

A FLUXOGRAMA FASE OBJETIVO

Definir claramente o problema e


1 Identificação do problema
reconhecer sua importância.

Investigar as características específicas


2 Observação do problema com uma visão ampla e
P sob vários pontos de vista.

3 Análise Descobrir as causas fundamentais.

Conceber um plano para bloquear as


4 Plano de Ação
causas fundamentais.

D 5 Ação Bloquear as causas fundamentais.

6 Verificação Verificar se o bloqueio foi efetivo.

C Não foi efetivo? Retorna à fase 2.


BLOQUEIO
Foi efetivo? Continua na fase 7.

Prevenir contra o reaparecimento do


7 Padronização
problema.
A
Recapitular todo o processo de solução
8 Conclusão
de problema para trabalho futuro.

Fonte: Campos (1992).

1.3 As principais ferramentas de gestão


Após a identificação do problema é necessário implementar a solução. No
entanto, devido à variedade e complexidades dos elementos envolvidos, essa
tarefa nem sempre é fácil. Torna-se necessário, portanto, sustentar esse esforço
com técnicas que possam facilitar a análise e o processo de tomada de decisão.

Dessa forma, as ferramentas são utilizadas como meio de facilitar o trabalho dos
responsáveis pela condução de um processo de análise e solução de problemas.

68

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Convém, entretanto, não confundir ferramentas com métodos. O método


é a sequência lógica para se atingir o objetivo desejado. A ferramenta
é o recurso a ser utilizado no método. De nada adianta conhecer as
ferramentas se o método não é dominado.

As ferramentas são elementos fundamentais na análise e solução dos problemas.


Desse modo, a melhoria na prestação dos serviços e na produção de bens
não pode estar separada das ferramentas estatísticas e lógicas usadas no
planejamento, controle e melhoria. As pessoas na organização devem estar
habilitadas para sua utilização, quando isso não ocorre, cabe ao líder buscar os
meios para prover os treinamentos que habilitem os membros de sua equipe a
utilizarem as ferramentas de forma certa.

Ishikawa, em 1968, organizou um conjunto de sete ferramentas de natureza


gráfica e estatística, denominando-as de 7 Ferramentas do Controle da
Qualidade. Nos últimos anos, a elas foram incorporadas outras, já utilizadas em
outras áreas do conhecimento, que se mostraram eficientes quando aplicadas às
questões relacionadas à qualidade.

Entre as várias ferramentas existentes, apresentaremos a você, a seguir, as seguintes:

•• Folhas de verificação
•• Brainstorming (Tempestade de Ideias)
•• Benchmarking
•• Formulários de conferência
•• Gráficos
•• Diagrama de causa e efeito
•• Plano de Ação – 5W2H
•• Diagrama de árvore
•• Técnica de avaliação e priorização de problemas (GUT)
As ferramentas da qualidade são inseparáveis do processo de melhoria contínua e
foram largamente difundidas, porque elas fazem com que as pessoas envolvidas
no controle da qualidade vejam, por meio de seus dados, compreendam a razão
dos seus problemas e implantem as soluções para eliminá-los.

O que são folhas de verificação?

69

topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 69 05/09/13 10:41


Capítulo 3

A folha de verificação é a ferramenta utilizada para facilitar e organizar o processo


de coleta e registro de dados, de forma a contribuir para otimizar a posterior
análise dos dados obtidos. Uma folha de verificação bem elaborada é o ponto de
partida de todo procedimento de transformação de opiniões em fatos e dados.

São formulários nos quais os dados, dos itens a serem verificados, são registrados.
Com as folhas de verificação, permite-se uma rápida percepção da realidade e
uma imediata interpretação da situação, ajudando a diminuir erros e confusões.

As folhas de verificação podem apresentar-se de vários tipos, como os


mostrados a seguir:

a. Folha de verificação para distribuição de um item de controle


Este tipo de folha de verificação é geralmente usado quando se
deseja coletar dados de amostra de produção. Lançam-se os
dados em um histograma para analisar a distribuição do processo
de produção, coleta-se dos dados, calcula-se a média e a partir daí
uma tabela de distribuição de frequência é elaborada. À medida que
os dados são coletados, são comparados com as especificações. É
utilizado esse tipo de folha de verificação quando se quer conhecer
a variação nas dimensões de um certo tipo de peça.
b. Folha de verificação para classificação
É o tipo de folha de verificação mais adequado para subdividir uma
determinada característica em diversas categorias. É utilizado esse
tipo de folha de verificação quando se quer saber quais os tipos de
defeitos mais frequentes.
c. Folha de verificação para localização de defeitos
É usada para localizar defeitos externos, geralmente tem um
formato semelhante ao ao item anterior, onde é assinalado o
local e a forma de ocorrência dos defeitos. Esse tipo de folha de
verificação é uma ferramenta importante para a análise do processo,
pois nos conduz para onde e como o defeito ocorre.
d. Folha de verificação para identificação de causas de defeitos
É usada normalmente para investigar as causas dos defeitos. Os
dados relativos à causa e aos defeitos são colocados de tal forma
que se torna clara a relação entre as causas e os efeitos. A seguir,
os dados são analisados pela estratificação de causas ou do
diagrama de dispersão.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

O que é Brainstorming?

O brainstorming é uma rodada de ideias, destinada à busca de sugestões por


meio do trabalho de grupo, para inferências sobre causas e efeitos de problemas
e sobre tomada de decisão (Costa, 1991). É uma técnica usada para gerar ideias
rapidamente e em quantidade que pode ser empregada em várias situações
(OAKLAND, 1994).

No dia a dia das empresas, os profissionais se colocam frente a um problema,


muitas vezes fica difícil sair de situações inusitadas. “Por mais bem treinados
que estejam, surge o impasse. Isso se deve, muitas vezes, à própria base
de conhecimento, recebida em treinamentos, ou mesmo durante a formação
acadêmica, que privilegia um enfoque rígido de pensamento” (OLIVEIRA, 1996).

Pelo brainstorming, pretende-se romper com o pensamento rígido, incorporando


ideias criativas e aumentando a possibilidade de identificação e soluções para a
resolução de problemas.

Essa técnica é muito flexível em termos de possibilidade de aplicação e os


resultados dependem, em grande parte, da capacidade de conduzir e empolgar a
equipe, tornando-a comprometida com o sucesso da organização. Na resolução
de problemas, o brainstorming pode ser aplicado tanto na listagem das causas
prováveis como na listagem das possíveis soluções.

Curioso sobre como aplicar esta ferramenta? É só seguir os passos abaixo:

Para o bom desempenho do brainstorming, devem ser seguidas algumas regras


importantes:

a. É proibido criticar: todas as ideias são válidas, mesmo quando


parecerem impraticáveis. Limitações quanto a custo, possibilidade
de implementação, política gerencial, tempo, entre outras, devem
ser discutidas em uma fase posterior.
b. A forma de se expressar é livre: o bloqueio quanto à participação
dos envolvidos não deve ser permitido em nenhuma circunstância,
as ideias devem ser anotadas da forma em que são sugeridas, de
modo a não haver interpretação das palavras dos participantes.
c. Todas as ideias pertencem ao grupo: se um dos membros sugerir
algo, todos devem se sentir livres para adaptar aquela ideia, pois se
deve registrar apenas sugestões e não os autores.

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Capítulo 3

O que é Benchmarking?

Método sistemático de procurar os melhores processos, as ideias inovadoras e os


procedimentos de operação mais eficazes que conduzem a um desempenho superior.

A limitação humana é um fato real, é de bom senso levar em conta experiências


dos outros. As organizações que permanecem isoladas estão condenadas ao
fracasso, visto que elas não aprendem nem tiram proveito do progresso das
demais. Ao contrário, estudando sistematicamente os melhores procedimentos
empresariais, táticas operacionais e estratégias vencedoras dos outros, uma
pessoa, equipe ou organização pode acelerar seu próprio progresso.

“Um homem inteligente aprende com seus próprios erros e acertos. Um homem
sábio aprende com os erros e acertos dos outros.”

É tão velha quanto o mundo, a história da adaptação inovadora, em que as


pessoas têm observado as boas ideias ao seu redor e a adaptação àquelas que
atendem a suas necessidades e situações. Aprender tirando o melhor dos outros
e adaptar suas tentativas para encaixá-las às nossas próprias necessidades é a
essência do benchmarking.

Na resolução de problemas, o benchmarking tem seu valor no processo, mas muitos


processos de resolução de problemas nas empresas não buscam sistematicamente
soluções fora da própria equipe ou da organização. Os processos normais de
solução de problemas definem uma estrutura que torna os grupos de trabalho mais
eficazes; esses processos também induzem as equipes a basear suas análises
em dados empíricos, que fornecem à gerência fatos, em vez de suposições. O
benchmarking frequentemente dá respostas a espinhosos problemas operacionais.

Benchmarking é a procura contínua dos melhores métodos que produzam um


maior desempenho, quando adaptados e implementados na própria organização,
deve ser destacado seu aspecto de atividade de expansão contínua.

O que são formulários de conferência?

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

São documentos/formulários simples, para coletar e organizar dados. É usado


mais frequentemente para na compilação de dados, vez ou outra, para análise de
dados. Os tipos básicos de formulários utilizados são:

•• Dados;
•• lista de conferência (checklist);
•• localização.

Gráficos
Gráficos são apresentações visuais de dados coletados ,que sintetizam um
conjunto de dados facilitando o trabalho de análise e apresentação. A relação
entre diferentes conjuntos pode ser facilmente identificada com a ajuda de
alguns gráficos bem desenhados. Os diversos tipos de gráficos são ferramentas
poderosas na disseminação das informações, gerando soluções gráficas que
sintetizam um conjunto amplo de dados com objetividade. O uso eficiente dos
gráficos favorece não apenas a compreensão daqueles que estão acompanhando
de longe, mas de todos aqueles que estão diretamente envolvidos no processo
de solução de problemas.

Para utilização plena de sua potencialidade, os gráficos devem ter objetivos


bem definidos, revelar a substância dos fatos, mostrar os dados sem distorção,
apresentar muitos dados em pouco espaço, permitir a comparação entre dados
diferentes, revelar os dados com vários níveis de detalhes e estar integrado à
linguagem estatística e verbal.

Os oito tipos básicos de gráficos são:

a. Gráficos de linhas: é o tipo mais simples de gráfico, normalmente


é usado quando há necessidade de mostrar a evolução temporal de
um ou mais processos, ou comparar grande quantidade de dados.
b. Gráficos de barras e colunas: tipicamente usados para comparar
duas ou mais categorias e apresentar dados estratificados em
diversas categorias.
c. Gráficos de setores: são utilizados para mostrar a contribuição
relativa de diversos itens que compõem a totalidade dos dados.
d. Gráficos de marcos e de planejamento: ajudam a organizar e a
coordenar projetos e atividades.

73

topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 73 05/09/13 10:41


Capítulo 3

e. Gráficos pictográficos e pictograma: utilizam-se de imagens ou


símbolos para representar os dados.
f. Gráfico de Pareto: é outro tipo especial de gráfico de colunas e de
linhas, usado para estabelecer os dados em ordem de prioridade. Ele
apresenta os itens e a classe na ordem dos números de ocorrência,
apresentando a soma total acumulada. Com o gráfico de Pareto,
pode-se visualizar diversos elementos de um problema e auxiliar na
determinação de sua prioridade. É representado por barras dispostas
em ordem crescente, com a causa principal vista do lado esquerdo do
diagrama, e as causas menores são mostradas em ordem decrescente,
ao lado direito. Cada barra representa uma causa exibindo a causa
relevante, com a contribuição de cada uma em relação ao total. O
gráfico de Pareto descreve as causas que ocorrem na natureza e no
comportamento humano, podendo ser uma poderosa ferramenta para
focalizar esforços pessoais em problemas. Por ser uma das ferramentas
mais eficientes para encontrar problemas, o seu uso deve ser repetido
várias vezes, para cada um dos problemas levantados, tomando os
itens prioritários como problemas novos.
O Princípio de Pareto estabelece que os problemas podem ser
classificados em duas categorias: os POUCOS VITAIS e os MUITOS
TRIVIAIS. Os POUCOS VITAIS representam um pequeno número
de problemas, mas resultam em grandes perdas para a empresa.
Já os MUITOS TRIVIAIS são uma extensa lista de problemas, mas
apesar de seu grande número, convertem-se em perdas pouco
significativas. Em outras palavras, o Princípio de Pareto estabelece
que se forem identificados, por exemplo, cinquenta problemas,
a solução de apenas cinco ou seis já poderá representar uma
redução de 80 ou 90% das perdas que a empresa vem sofrendo,
devido à ocorrência de todos os problemas existentes.

O Princípio de Pareto também estabelece que um problema


pode ser atribuído a um pequeno número de causas. Logo, se
forem identificadas as POUCAS CAUSAS VITAIS dos POUCOS
PROBLEMAS VITAIS enfrentados pela empresa, será possível eliminar
quase todas as perdas por meio de um pequeno número de ações.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Figura 3.3 – Gráfico de Pareto

Número de Ocorrências de Defeitos

Quantidade

Percentagem Acumulada
100 80

60

50 40

20

0 0

  B   D   E
Quantidade    33    29     18     16 10 10
Percentagem   31,3    27,4     17,0     15,1 9,4
Percent. Acum.  31,3    58,5     75,5     90,6 100,0
Fonte: WERKEMA(1995).

h. Gráficos de controle: os gráficos de controle são ferramentas para


o monitoramento da variabilidade e para avaliação da estabilidade
de um processo.
Todo problema pode possuir dois tipos de causas: comuns (aleatórias) ou
especiais (assinaláveis).

Qual a diferença entre estes dois tipos de causa?

A variação provocada por causas comuns, também conhecidas como


variabilidade natural do processo, é inerente ao processo considerado e estará
presente mesmo que todas as operações sejam executadas empregando
métodos padronizados. Quando apenas as causas comuns estão atuando em um
processo, a quantidade de variabilidade se mantém em uma faixa estável.

Já as causas especiais de variação surgem esporadicamente, devido a uma


situação particular que faz com que o processo se comporte de um modo
completamente diferente do usual. Quando o processo está operando sob a
atuação de causas especiais de variação, sua variabilidade é bem maior do que a
variabilidade natural.

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Capítulo 3

Um gráfico de controle permite a distinção entre os dois tipos de causas de


variação, ou seja, ele informa se o processo está ou não sob controle estatístico.

Figura 3.4 – Gráfico de controle

Fonte: WERKEMA (1995).

Diagrama de causa e efeito


Diagrama de causa e efeito, ou Ishikawa, ou diagrama espinha de peixe, são
imagens gráficas que mostram a relação entre o efeito (o problema) e suas
causas em potencial.

Pode ser entendido como uma representação gráfica que permite “sumarizar e
apresentar as possíveis causas do problema considerado, atuando como um guia
para a identificação da causa fundamental deste problema e para a determinação
das medidas corretivas que deverão ser adotadas”(WERKEMA, 1995).

Esses diagramas ajudam a analisar os problemas, ao organizarem as causas,


de forma que elas possam ser sistematicamente investigadas, uma vez que o
passo que mais frequentemente se deixa de fora no processo de resolução de
problemas é o da análise de causa. Quando se define um problema, muitos
acham difícil classificar todas as causas possíveis.

O diagrama de causa-efeito é empregado normalmente quando se quer ampliar o


universo das possíveis causas em relação a efeitos identificados. Geralmente, toma-
se como referência os 6Ms: Mão de obra, Métodos, Materiais, Máquinas, Medições
e Meio ambiente.

Na resolução de problemas, é fundamental que se identifique qual é a sua raiz. O


objetivo é corrigir as coisas que causaram o problema, isto é eliminar as causas
fundamentais e, consequentemente, o problema. O diagrama de causa-efeito permite
identificar, com razoável clareza, a relação entre o efeito e suas possíveis causas.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Posteriormente, identificam-se as mais prováveis e as que merecem mais atenção.


A identificação das causas exige a realização de uma sequência de perguntas que
evidenciem a ligação entre os fatos, normalmente, retrocedendo- se a partir do
efeito estudado, da direita (cabeça do peixe) para a esquerda (espinhas).

Figura 3. 5 – Diagrama de Ishikawa (causa efeito)

Fonte WERKEMA (1995).

1.4 O que é Plano de ação – 5W2H?


O plano de ação é um produto de um planejamento capaz de orientar as diversas
ações a serem implementadas. Pela utilização de um plano de ação, pode-se
identificar as ações e as responsabilidades pela sua execução, entre outros aspectos.

Todo plano de ação deve estar estruturado para permitir a rápida identificação
dos elementos necessários à implementação do projeto. Esses elementos
básicos podem ser descritos pelo que se convencionou-se chamar de 5W2H.

Você sabe o que significa 5W2H?

Why – Por que deve ser executada a tarefa? (justificativa)


What – O que será feito (etapas)?
How – Como deverá ser realizada cada tarefa? (método)
Where – Onde cada tarefa será executada (local)?
When – Quem realizará as tarefas (responsabilidade)?
Who – Quem realizará as tarefas (responsabilidade)?
How much – Quanto custará cada etapa do projeto? (custo)

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Capítulo 3

Diagrama de árvore
É uma ferramenta gráfica, que permite identificar, detalhadamente, todos os
passos necessários para a obtenção de um certo objetivo. Seu uso permite que
se chegue ao nível de maior detalhamento de um planejamento. Esse diagrama
funciona como um mapa onde são indicados todos os passos para a execução
de um projeto, ou atividade.

Técnica de avaliação e priorização de problemas (GUT)?

É uma ferramenta que visa a orientar a tomada de decisões, estabelecer


prioridades na solução dos problemas detectados e facilitar a identificação de
processos críticos. GUT significa GRAVIDADE, URGÊNCIA E TENDÊNCIA. São
parâmetros tomados para estabelecer prioridades na eliminação de problemas.

Consiste em listar os problemas ou causas a serem analisados, sendo atribuída a


cada item listado uma nota, que varia de 1 a 3, para cada uma das características
analisadas (GUT).

Quadro 3.1 – Escala de valores da Ferramenta GUT

VALOR GRAVIDADE URGÊNCIA TENDÊNCIA

1 Irrelevante Irrelevante Tende a Melhorar

3 Pouco grave Pode esperar um pouco Vai piorar a longo prazo

5 Grave O mais cedo possível Vai piorar a médio prazo

Prejuízos extremamente Situação pode piorar


7 É necessária ação imediata
graves rapidamente
Fonte: RADOS (2000).

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Seção 2
A relação entre solução de problemas e Polícia
Comunitária
Segundo Trojanowicz e Bucqueroux, a Polícia Comunitária é uma filosofia e
uma estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a
população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a
comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas
contemporâneos, tais como: crime, drogas, medo do crime, desordens físicas
e morais, e, em geral, a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a
qualidade geral da vida na área.

A Polícia Comunitária surgiu de uma reação dos movimentos civis americanos ao


modelo profissional de Polícia, adotado nos Estados Unidos da América, no final
dos anos 60.

No modelo de policiamento burocrático-profissional, o policiamento volta-se mais


enfaticamente para procedimentos destinados a diminuir o tempo de resposta às
chamadas (meios) do que para a detecção dos problemas com os quais a polícia
se defronta (fins).

O movimento de reforma com vistas à profissionalização rompe com um dos


princípios do policiamento inglês de Sir Robert Peel, segundo o qual, a polícia
deve manter estreita relação com a comunidade.

“A polícia é o público e o público é a polícia”.

A polícia perdeu a visão dessa relação com a comunidade em função de um


movimento de profissionalização que aposta em uma administração centralizada,
resultando na separação dos policiais das lideranças comunitárias.

Nos Estados Unidos, o agravamento dos conflitos sociais estimulou uma onda
de reflexões, envolvendo a função policial e, especialmente, o relacionamento
entre polícia e sociedade. Foi observado que, além da lei e do profissionalismo, a
comunidade também podia ser fonte de autoridade.

Notou-e que a Polícia, apesar de possuir legalidade (agir dentro da lei),


necessita ter legitimidade (confiança) para poder atuar na solução dos
problemas de segurança pública.

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Capítulo 3

O modelo de Polícia Comunitária pode ser visto como uma forma de adaptação
da organização policial, no sentido de mantê- la compatível com o ambiente das
sociedades liberal-democráticas contemporâneas.

No Brasil, em face do agravamento das questões de segurança pública ao


longo dos últimos anos, diversas Polícias Militares, em todo o país, passaram
a implantar programas de Polícia Comunitária, buscando alterar sua filosofia e
estratégia de atuação, no sentido de se aproximar da comunidade para identificar,
priorizar e buscar soluções para os problemas de segurança pública.

As tentativas brasileiras iniciaram pelo Espírito Santo e Rio de Janeiro, tendo


se expandido para São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, em um primeiro
momento, sendo que mais tarde, o Programa de Polícia Comunitária foi adotado
pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, como
padrão para todo o país.

As dificuldades em torno da implementação dessa estratégia de policiamento


partem tanto da estrutura da comunidade quanto da própria organização
policial. Trata-se da inexistência de indicadores de desempenho compatíveis
com atividades proativas, da falta de cultura participativa nas comunidades
e preventiva nas polícias, do desconhecimento acerca dos elementos dessa
estratégia de policiamento, dependência do policiamento comunitário às
associações de bairro e rodízio de policiais.

2.1 Alguns exemplos de metodologia de solução de problemas


na área de segurança pública
Para que você possa conhecer um pouco mais da prática de solução de problemas
na área de segurança pública, apresentaremos nesta seção duas metodologias
empregadas para resolver problemas, propostas por Kelly e Goldstein.

A metodologia de solução de problemas proposta por Kelly Raymond W. Kelly


propõe uma metodologia de solução de problemas composta de cinco passos:

•• Identifique o problema;
•• Analise o problema;
•• Planeje uma providência;
•• Implemente a providência;
•• Avalie a providência.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Vamos analisar mais detalhadamente cada um dos passos:

Etapa 1: Identifique o problema


Nesta etapa, o policial e os setores envolvidos da comunidade determinam quais
são os incidentes, as situações, ou as condições que causam problemas ou
desconforto para as pessoas que vivem e trabalham na comunidade. Novamente
é citada a parceria entre policial e comunidade.

Nesta etapa, é crucial a correta identificação do problema, providência que, se


adotada erroneamente, pode levar ao desperdício de recursos, pois as ações
planejadas podem não surtir os efeitos desejados, não eliminando as condições
que causaram os problemas.

É comum que as preocupações da comunidade estejam relacionadas com o


crime, porém, muitas vezes, os problemas relacionados com a qualidade de vida
são muito mais importantes e relacionados com as causas da criminalidade, as
quais devem ser atacadas para a efetiva solução do problema.

Essa etapa pressupõe que o policial conheça o seu setor de patrulhamento, seus
riscos e áreas críticas, a fim de identificar, em conjunto com a população, os
problemas que afligem a comunidade.

Etapa 2: Analise o problema


É necessário que os policiais conheçam todas as características do problema; para
que isso ocorra, é necessário um exame de todos os componentes da situação em
questão; esses componentes são os seguintes: os atores, as ações e as respostas
de todas as pessoas envolvidas na problemática. E aqui, como atores, devem ser
considerados as vítimas, os transgressores e terceiros (testemunhas).

Etapa 3 Planejamento de uma providência


Aqui serão exigidas três tarefas:

•• o estabelecimento de metas;
•• o desenvolvimento de estratégias ;
•• a avaliação dos recursos disponíveis.
Vale observar que não encontramos nos planejamentos das formas tradicionais
de polícia as exigências que aqui serão analisadas. Essa nos parece ser a grande
e profunda transformação proposta pelos teóricos do policiamento comunitário.

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Capítulo 3

No estabelecimento de metas, os planejadores detalharão por escrito a faixa


de valores desejada ou os resultados que esperam alcançar com as estratégias
adotadas. Isso permite verificar, pelos indicadores, o sucesso ou insucesso das
providências adotadas.

Existem dois tipos de metas: de curto e de longo prazo.

O modelo de Polícia Comunitária preconiza quatro tipos de soluções possíveis:

•• redução da frequência de ocorrência;


•• eliminação do problema;
•• mudança nas percepções sobre o problema;
•• esclarecimento de responsabilidades.
De acordo com o modelo preconizado por Kelly, podem ser adotados dois tipos
de estratégias: as táticas tradicionais (policiamento e investigação criminal) e as
não tradicionais (que se utilizam de diferentes tipos de recursos comunitários).

Propõe ainda algumas estratégias importantes para a solução de problemas:

•• alteração do comportamento dos atores (vítimas, transgressores e


terceiros);
•• alteração do contexto físico;
•• mudança do contexto social;
•• mudança na sequência de eventos;
•• mudança nos resultados dos eventos.
Importante ainda é a captação ou alocação dos recursos disponíveis nas
comunidades e nas corporações policiais, dentro de uma perfeita coordenação,
visando à economia de esforços.

Etapa 4: Implantação da providência.


Nessa etapa, são tomadas todas as providências necessárias para o engajamento
de todos os participantes nas ações planejadas.

É nesta etapa que serão, finalmente, executadas a ação planejada para


eliminar as causas dos problemas. Consiste em capacitar as pessoas que irão
implantar as melhorias, realizar as ações planejadas e coletar dados durante a
implementação, para posterior avaliação do resultado das ações.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

As pessoas que vão participar da implantação das ações devem estar


cientes de qual seu papel dentro do planejamento, assim, devem ser
capacitadas e instrumentalizadas para que possa atingir os resultados
esperados.

Etapa 5: Avaliação da providência.


Essa etapa é importante para verificar o sucesso ou o insucesso das estratégias
adotadas para a consecução das metas estabelecidas. A avaliação é necessária
por vários motivos:

•• mede a eficácia da providência planejada;


•• fornece mais informações sobre o problema;
•• oferece uma oportunidade para obter um retorno por parte dos
moradores da comunidade.
Salienta ainda que o processo de resolução de problemas não estará
completamente terminado, enquanto não estiver adequadamente avaliado. A
avaliação é fundamental para a solução de problemas.

A metodologia de solução de problemas proposta por Goldstein


Para Goldstein, o processo de solução de problemas implica 4 etapas:

•• a identificação do problema;
•• a análise de sua natureza, no sentido de compreender suas causas,
efeitos e esfera de atuação;
•• a implementação de ações sobre as causas identificadas - etapa da
resposta -;
•• a avaliação dessa resposta.
Goldstein defende que uma maior especificidade na definição dos problemas
com os quais a polícia se defronta é de suma importância para a implementação
de estratégias mais efetivas de policiamento, bem como o conhecimento
detalhado da natureza desses problemas.

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Capítulo 3

Etapa 1 - Identificação do problema


O trabalho policial muito comumente implica formas variadas de comportamentos.
Assim, inclui incidentes, como delitos - em suas várias manifestações -, atos
de vandalismo, desaparecimento de coisas e pessoas, necessidade de
encaminhamento de indigentes e deficientes mentais, auxílio na organização do
trânsito etc. Cada tipo distinto de incidente representa um problema diferente
para a organização policial. Se o trabalho policial for definido a partir de
categorias estritamente relativas à criminalidade, comportamentos e eventos não
criminosos não serão da alçada da atividade policial.

Entretanto, a população constrói expectativas quanto à atuação da polícia.


Espera-se que seus agentes, por exemplo, controlem atitudes e comportamentos
ofensivos à população de modo geral, ou que possam gerar alterações
significativas na rotina das cidades ou ainda contribuir para a deterioração de
suas vizinhanças. Esses são, assim, problemas de polícia, ainda que nem sempre
possam ser definidos como eventos criminosos.

Goldstein destaca que, por exemplo, no caso de roubos, a polícia não apenas
deve atuar sobre o criminoso, mas também incentivando o cidadão a se
comportar de maneiras mais seguras, de modo a eliminar algumas das condições
que possam vir a gerar esse tipo de evento. Ou seja, se até recentemente o
trabalho policial poderia se restringir às respostas realizadas o mais rápido
possível às chamadas dos cidadãos, com o intuito de identificar e deter o ofensor,
agora ele deve ser redefinido de modo a incluir medidas preventivas, que se
refiram ao cidadão e aos ambientes em que transitam.

Mas tal definição do trabalho de polícia exige que se identifiquem os problemas


que geram situações de desordem ou delito. Se o policiamento profissional
enfatiza o evento ocorrido:

•• por isso comumente chamado de policiamento orientado para o


evento;
•• as reformulações da atividade policial sugeridas por Goldstein
exigem a ênfase sobre o problema que gera o evento;
•• policiamento orientado para o problema.
Assim, à polícia cabe distinguir diferentes formas de comportamentos e situações
que possam motivar eventos de desordem ou eventos delituosos, como locais
e períodos do dia em que mais comumente se dão os incidentes, bem como
características das pessoas envolvidas e vitimadas.

Diferentes combinações de variáveis podem gerar diferentes problemas, o que


demandam formas variadas de políticas de segurança e tipos de solução.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Os problemas de segurança pública se apresentam de forma diferente em cada


local, embora seja comum receberem o mesmo “apelido”. Os homicídios, por
exemplo, podem ter diferentes causas, dependendo do bairro da cidade onde
ocorram. Em um local são motivados por brigas de bar, em outro são fruto da luta
por pontos de venda de drogas. As ações para resolver o problema em um dos
locais serão diferentes daquelas a serem aplicadas no outro, porque as causas e
as circunstâncias são diferentes.

A identificação de problemas passíveis de gerar delito e desordem, assim,


implica o tratamento distinto dado a casos diferentes. Ainda que, eventualmente,
problemas similares possam vir a exigir respostas similares, podendo, com isso,
ser agrupados, não haverá a certeza de que de fato exista tal similaridade, até
que haja uma análise consistente do evento. Desse modo, a primeira etapa do
trabalho policial será a identificação das características do evento que gerou a
chamada policial, bem como do problema que motivou a sua ocorrência. A partir
daí, a polícia deverá analisar o problema, de modo a detectar suas características
principais e particularidades, o que constitui a etapa seguinte da atividade policial.

Etapa 2 - Análise do problema


Para Goldstein, a variabilidade de eventos que constituem objeto do trabalho
policial, bem como a extensa gama de problemas passíveis de gerar tais
eventos, faz com que seja necessária a coleta de informações básicas acerca
de cada problema específico. Assim, a fase de análise consiste na busca por
conhecer, o mais detalhadamente possível, as situações com as quais a polícia
se defronta, de modo a evitar a tomada de decisões baseadas em conjecturas ou
estimativas a priori, o que deve fazer com que as respostas organizacionais sejam
consistentes com as informações obtidas acerca dos problemas.

As práticas policiais individuais e a vasta gama de conhecimentos adquiridos


acerca de diferentes situações constituem rico recurso para o conhecimento.

Não se pode desconsiderar aqui que tal abordagem sobre a função ou o espaço
da atuação policial seja problemática na medida em que a sociedade delegaria
para uma instituição burocrática, no caso a polícia, o poder de definir o que
deveria ser tratado, como atividade desviante dos diversos problemas com os
quais a polícia se defronta.

No entanto, o modelo policial de solução de problemas requer não apenas uma


nova estratégia de policiamento, mas um novo arranjo organizacional, de modo
que os policiais passam a obter maior autonomia para a consecução de suas
atividades de trabalho, sendo também incentivados a conhecer as causas dos
problemas, no intuito de encontrar soluções mais criativas.

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topicos_emergentes_seguranca_publica.indb 85 05/09/13 10:41


Capítulo 3

Você deve estar percebendo o quanto a atividade de inteligência é


importante para a solução de problemas. Mas é bom ressaltar que não
são apenas ações de inteligência com o objetivo de apurar uma infração
penal. O escopo aqui é mais amplo. Todos os policiais e os integrantes da
comunidade envolvidos com a solução dos problemas, nas suas atividades
normais do dia a dia, devem buscar informações que ajudem a identificar
as causas e permitam eliminar o problema.

Assim, conhecer o tipo de vítima e ofensor envolvidos em determinada categoria


de evento, a sequência em que se deu o incidente, bem como o contexto social
e o ambiente físico onde esse se desenvolve com maior frequência, constituem
mecanismos por meio dos quais a função preventiva da atividade policial emerge.
Nessa fase, a percepção que o público constrói acerca do problema também
deve ser levada em conta, uma vez que esse tipo de abordagem policial exige
apoio da comunidade, no sentido de fornecer informações quanto a esses
mecanismos. Tais conhecimentos serão de fundamental importância para a
implementação de respostas cunhadas pela organização policial, próxima fase do
método descrito por Goldstein.

Etapa 3 - Resposta ao problema


Depois que as informações acerca de problemas específicos são analisadas, faz-se
necessária a busca por respostas alternativas, capazes de minimizar sua atuação.

Goldstein menciona várias alternativas que podem ser exploradas para cada
problema específico. Uma delas refere-se às mudanças físicas e técnicas
e baseia-se na ideia segundo a qual a redução de oportunidades para o
cometimento de delitos constitui um fator para a atenuação de ocorrência desse
tipo de incidente. Assim, a redução de determinados fatores e características
ambientais pode significar uma resposta eficaz. Esse tipo de iniciativa implica
esforços como incentivar a população a adotar mecanismos de segurança em
suas residências, por exemplo.

Outra das alternativas mencionadas por Goldstein resulta no desenvolvimento de


recursos da própria comunidade. Desse modo, a resposta não se esgota na ação
estritamente policial. As soluções são fruto de planos de ação estratégica que
envolvam outras instituições e organizações. Daí a importância conferida por este
tipo de policiamento às relações estabelecidas com a comunidade, uma vez que,
de modo distinto do policiamento profissional, a responsabilidade da segurança
local é compartilhada entre polícia e população.

Note que, novamente, é ressaltada a importância da participação da comunidade


na resolução dos seus problemas.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Etapa 4 - Avaliação dos resultados


O objetivo desta fase está na avaliação do funcionamento e da efetividade das
respostas implementadas pela polícia, a partir de indicadores construídos por
meio dos objetivos a serem alcançados pelo plano estratégico.

Desde a análise dos resultados obtidos pelas iniciativas policiais, pode-se


alterar sua implementação ou, até mesmo, a definição do problema, realizada
anteriormente. A avaliação dos resultados visa também a fornecer conhecimentos
acerca do impacto das medidas policiais sobre a população ou comunidade
diretamente envolvida.

“Potência não é nada sem controle” (Slogan da marca de pneus Pirelli)

Seção 3
O Ciclo de Análise e Solução de Problemas de
Segurança Pública (CASPSP)

3.1 A 1ª fase do CASPSP – Planejamento


As crescentes cobranças por mais segurança, por parte da população, têm
levado as organizações de polícia a adotarem medidas, nos campos da
prevenção e do atendimento emergencial, no sentido de melhorar os serviços
prestados, procurando, dessa forma, dar uma resposta aos anseios populares.

Analisando as várias ações adotadas, nota-se que em bem poucos casos ocorreu
um processo de tomada de decisão racional, o que, via de regra, acarreta
desperdício dos já parcos recursos. Entre as ações adotadas, a que melhores
resultados vêm obtendo no sentido de aproximar polícia e comunidade é a
adoção da filosofia de trabalho policial denominada de Polícia Comunitária. Por
meio dessa filosofia, a polícia busca obter, além da legalidade que lhe é conferida
pela Lei, a legitimidade do apoio e confiança populares.

Entretanto, embora bem sucedida no que se refere à aproximação entre Polícia


e comunidade, essa iniciativa ainda não conseguiu atingir os seus objetivos no
que concerne à solução efetiva dos problemas de segurança pública. A interação
comunitária ainda não consegue gerar os resultados pretendidos. A implantação
de técnicas de solução de problemas ainda é incipiente.

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Capítulo 3

O ciclo de análise e solução de problemas de segurança pública, apresentado


a seguir, é uma metodologia que permite identificar as causas dos problemas
de segurança pública, bem como desenvolver estratégias de tratamento
dessas causas e avaliar a efetividade dos resultados obtidos com a
implantação dessas estratégias.

Essa metodologia tem por base os métodos e ferramentas em uso na


administração empresarial, apresentados anteriormente, e será composta por
3 fases (Planejamento, Execução e Avaliação) e 10 etapas, conforme o modelo
apresentado a seguir.

A 1ª fase, a do Planejamento, é de extrema importância para o sucesso


da metodologia, pois é nela que se define o problema e onde se realiza o
diagnóstico, sobre o qual serão definidas as estratégias a serem implantadas.

Essa fase é composta por seis etapas: Identificação do problema; Detalhamento do


problema; Priorização; Definição de estratégias; Definição de indicadores; Planificação.

Etapa 1 – Identificação do problema – diagnóstico


A primeira etapa da metodologia é, sem sombra de dúvida, a mais importante,
posto que a identificação correta ou incorreta do problema irá influenciar
diretamente no resultado da aplicação da metodologia.

Identificar incorretamente um problema ou deixar de identificar algum problema


existente, pode criar dificuldades ou até mesmo impedir que se obtenham os
resultados esperados, visando a sua solução. Um problema mal identificado
prejudica todo o desenvolvimento da metodologia e leva a obter resultados
diversos daqueles esperados.

Imagine quando você vai ao médico com algum sintoma: dor, febre etc. Qual a
primeira coisa que ele faz? Exames, ultrassom, radiografia, ou seja, diagnóstico
para localizar as causas do problema, a fim de poder prescrever o tratamento
adequado. Isso também vale para os problemas de segurança pública.

Ao identificarmos o(s) problema(s) estaremos respondendo ao questionamento


O quê? Qual o problema que afeta a comunidade? O que está acontecendo que
influencia a segurança pública na comunidade?

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Deve-se procurar identificar quais os problemas que afetam a segurança pública


dentro de uma determinada área geográfica. Este imperativo territorial, ou seja,
a delimitação de uma determinada área geográfica, é extremamente importante,
pois evita que, na hora de estratificar os problemas, sejam misturadas variáveis
que influenciam de forma diferente o problema, dependendo da área geográfica
em que o mesmo ocorre. Lembre-se: um mesmo tipo de problema, um crime, por
exemplo, pode ter causas di ferentes, dependendo do local onde ocorre.

A área geográfica deve, na medida do possível, estar relacionada à área de


circunscrição de uma unidade policial ou de um CONSEG.

Esse imperativo territorial já nos responde a uma questão básica muito


importante no conhecimento do problema: ONDE ele ocorre? Este ONDE será
estratificado na etapa 2 do CASPSP.

Convém salientar que “problemas” na área de Segurança Pública não se


restringem apenas àqueles relativos à ação policial ou que dela necessitem.
Deve-se levar em conta as definições de “problema” sob a ótica da Segurança
Pública, já tratadas no presente trabalho.

Via de regra, a deficiência de recursos (materiais e financeiros) e de capital


humano não se constituem em problemas, mas em causas de problemas, na
medida em que interferem na consecução da missão policial.

Outro aspecto que deve ser levado em conta na identificação do problema é a


necessidade de se eliminar o “achismo”, ou seja, deve-se trabalhar com fatos
concretos e dados coletados em fontes de informações confiáveis. A experiência
pessoal de cada um que participa na identificação do problema é importante,
porém, para se evitar desperdício de tempo e recursos na busca de soluções por
um problema erroneamente identificado ou pouco importante no contexto geral,
deve-se procurar, sempre que possível, comprovar a experiência pessoal, por
meio de dados estatísticos.

Atualmente, as organizações policiais costumam basear a identificação


de problemas apenas e tão somente nos dados coletados nos Centros de
Operação Policial Militar (COPOM) e nos Centros de Operação da Polícia Civil
(CEPOL), ou ainda nos registros de ocorrências lavrados nas Delegacias de
Polícia. Para agravar ainda mais a situação, são raras as experiências que
dão conta da unificação dos dados policiais registrados nas Polícias Civil e
Militar, não existindo ainda um sistema corporativo que possibilite a inclusão de
todos os registros em um único banco de dados, eliminando a duplicidade de
informações e possibilitando o compartilhamento dos dados, por conseguinte,
um conhecimento maior acerca da realidade criminal.

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Capítulo 3

É importante que este leque de fontes de informações seja ampliado, incluindo


entre essas fontes as informações levantadas pela comunidade pelos Conselhos
Comunitários de Segurança (CONSEG), as informações divulgadas pelos órgãos
de imprensa e as anotações pessoais dos policiais, registradas durante seu turno
de serviço na comunidade. É fundamental a participação da comunidade.

Grande parte das informações sobre o dia a dia da comunidade está nas mãos
das pessoas que nela vivem, e muitas vezes essas informações não chegam ao
conhecimento da polícia.

Dessa forma, pode-se ter uma visão bem mais abrangente da realidade social e
de segurança pública existente em uma determinada comunidade. Essa visão é
fundamental para a identificação correta dos problemas.

Nessa etapa podem ser utilizadas como ferramentas:

•• entrevistas com membros da comunidade;


•• análises estatísticas de registros de ocorrências;
•• análise comparativa de dados históricos;
•• gráficos para visualização da frequência com que ocorre o problema;
•• resenhas jornalísticas.

Etapa 2: Detalhamento do diagnóstico – estratificação


Nesta etapa, deve-se buscar fragmentar o problema identificado, relacionando as
variáveis que nele interferem, permitindo que se entenda um pouco mais sobre
como isso ocorre.

Em suma, devem-se buscar as causas que geram os problemas de Segurança


Pública, para então planejar ações, visando a eliminá-las. Além disso, a
estratificação tem por objetivo agrupar os mesmos dados de maneira diferente, a
fim de possibilitar uma melhor avaliação da situação.

Um bom detalhamento do problema permite observá-lo sob diversos ângulos


(variáveis), possibilitando o planejamento de ações mais eficazes. Evita-se, com
isso, que sejam planejadas ações meramente paliativas ou pouco eficazes,
na medida em que atuam sobre o problema em si e não sobre as causas
fundamentais que geram o problema.

É importante que se tenha em mente que devem ser identificados todo o tipo
de causas que podem gerar o problema e não apenas aquelas relacionadas à
atividade de polícia. As causas sociais, econômicas, culturais, estruturais, entre
outras, influem diretamente para a existência de problemas de Segurança Pública.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Além disso, deve-se ainda traçar perfis sobre os diversos atores sociais que
são afetados pelo problema. As informações sobre as vítimas, os agentes, as
características do ambiente e o modo como ocorre o problema são informações
importantes dentro da definição das ações a serem tomadas para eliminar as causas.

Por meio dessa etapa se consegue responder a mais alguns questionamentos:

•• Onde ocorre o problema?


•• Quando ocorre o problema?
•• Quem participou do problema (agente, vítima, testemunhas)?
Novamente cabe salientar, a exemplo da etapa anterior, a importância de se ter
fontes de informação fidedignas, confiáveis.

Uma boa estratificação começa com a coleta correta dos dados, passa pela
inserção correta deles nos sistemas, que os irão processar, além da correta
tabulação e apresentação desses dados.

Quanto mais detalhado for o registro das ocorrências, ou o preenchimento das


fichas de observação do policial no seu dia a dia, ou ainda as informações geradas
nas reuniões dos CONSEG´s, maior será o grau de estratificação das informações,
e melhor será a visão e a compreensão sobre o problema a ser solucionado.

Na situação atual, este é o maior óbice encontrado pelas polícias brasileiras de


modo geral.

As estatísticas policiais apresentam pouca confiabilidade nos dados sobre


ocorrências atendidas, em parte em função da utilização de instrumentos de
coleta inadequados, em parte por causa da fragmentação no registro desses
fatos, sendo uma parte registrada na Polícia Civil, outra parte registrada na
Polícia Militar, alguns fatos registrados em ambas as Corporações e outros não
registrados em nenhuma delas.

Nessa etapa podem ser utilizadas as seguintes ferramentas:

•• gráfico de Pareto;
•• ferramentas de análise estatística;
•• diagramas de dispersão e correlação;
•• fichas de verificação;
•• diagrama de causa e efeito;
•• histogramas.

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Capítulo 3

Etapa 3 – Priorização dos problemas


Depois de terem sido identificados na etapa 1 do CASPSP, os problemas precisam
ser priorizados, a fim de que se possa tentar solucioná-los de modo organizado.
A quantidade de problemas identificados costuma ser muito maior do que os
recursos que se dispõe para solucioná-los, necessitando, assim, que se elejam
prioridades, permitindo aplicar melhor os recursos, a fim de atingir os resultados
esperados, isto é, a eliminação das causas fundamentais que geram o problema.
As empresas públicas nem sempre dispõem de recursos suficientes para atender
a todos os problemas identificados pela comunidade, até porque a demanda
reprimida de problemas não solucionados ao longo dos tempos é muito grande.
Por isso, faz-se necessário que nesta etapa da metodologia, a comunidade, em
conjunto com a polícia, decida que tipos de problemas são prioritários, incluindo
os atendimentos realizados pela polícia, os quais acabam se constituindo em
desvios de finalidade da função policial, tais como auxílios de saúde.
Na análise dos problemas, deve-se buscar identificar as variáveis mais críticas,
a fim de atuar sobre elas prioritariamente, eliminando as principais causas dos
problemas. Parte-se da premissa que grande parte do problema é causada por
um pequeno número de causas importantes.
É importante salientar que, à medida que os problemas vão sendo solucionados
e com as alterações das condições socioeconômicas que afetam a comunidade,
novos problemas podem aparecer ou outros podem ser solucionados, sendo
necessária uma reavaliação permanente das prioridades.
Nesta etapa, podem ser utilizadas como ferramentas:

•• Matriz GUT (gravidade, urgência e tendência);


•• Relatórios de observação de problemas;
•• Gráficos e tabelas resultantes da etapa de estratificação (Etapa 2);
•• Diagrama de priorização.

Etapa 4 – Definição das estratégias (ações)


Nesta etapa, deve-se buscar definir quais as ações que a polícia, em parceria
com a comunidade, deve adotar para solucionar o problema, agindo de forma
a eliminar as suas causas fundamentais. É nesta etapa que se define a resposta
para a questão:

O que fazer? Essas ações deverão sempre ser traçadas visando a agir sobre
as causas e não sobre o problema em si (efeito). Devem ser traçadas ações
preferencialmente de natureza preventiva, ou seja, que permitam atuar antes do
problema ocorrer, podendo ser também definidas, eventualmente, ações repressivas.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

Deve-se ainda tomar cuidado em não definir apenas ações policiais, posto que
essas, em sua maioria, atuam apenas sobre as consequências do problema, ou
seja, são eminentemente reativas. As ações definidas não devem se restringir
apenas ao policiamento ostensivo ou às operações policiais, mas sim abranger
ações de diversas áreas, dentro de um princípio de multidisciplinariedade.

Atualmente, as polícias costumam enfrentar os problemas utilizando-se de um


pequeno leque de ações, onde, invariavelmente, são escolhidas as relacionadas
com o patrulhamento, ou seja, colocação do capital humano e de recursos
materiais em áreas críticas, visando dissuadir a ação dos criminosos.

As ações devem ser definidas buscando atingir os três vértices do triângulo do


crime: Agente, Vítima e Ambiente.

Esses três elementos compõem o que se convencionou chamar o “triângulo do


crime”. Para que ocorra um crime, há necessidade de termos três elementos:
um agente que tenha vontade de cometer o delito, uma vítima ou alvo que é
objeto do desejo do agente, e um ambiente que propicie o cometimento do
delito. A eliminação de um dos três elementos, por si só, já basta para eliminar a
ocorrência do delito.

Na definição das ações, deve-se levar em consideração os perfis desses três


elementos componentes do crime gerados na etapa de estratificação.

É importante nesta etapa ter uma boa definição dos recursos materiais e
financeiros e do capital humano disponíveis, posto que a definição das
estratégias deve ser baseada na sua capacidade de atuar sobre os problemas.
Um estudo detalhado dos meios que você tem a sua disposição irá permitir uma
melhor adequação das estratégias à sua realidade, evitando a subutilização dos
recursos (ociosidade), a utilização dos recursos acima do necessário (desperdício)
ou ainda, que sejam definidas estratégias “utópicas” cuja necessidade de
recursos suplante o que você tem disponível.

Você pode ainda utilizar, nesta etapa, um manual de procedimentos, que pode ser
construído com experiências anteriores, relatadas ao lidar com o mesmo tipo de
problemas ou tenha sido elaborado por especialistas na área, a fim de nortear a
definição das estratégias, buscando atingir a máxima eficiência com um mínimo
de recursos.

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Capítulo 3

Nesta etapa, podem ser utilizadas as seguintes ferramentas:

•• Gráficos e planilhas geradas nas etapas anteriores;


•• Brainstorming;
•• Diagrama de árvore.

Etapa 5 – Definição de indicadores


Para que a aplicação das ações definidas na etapa anterior seja efetiva, há
necessidade de se monitorar o andamento das ações, a fim de saber se os
resultados esperados foram alcançados.

Assim, devem ser definidos indicadores quantitativos para cada uma das ações,
que possam ser mensurados ao longo da aplicação das ações, vinculados ao
detalhamento do diagnóstico, realizado na etapa 2.

Ao se definir os indicadores de avaliação, deve-se definir também as metas a


serem atingidas, evitando-se o estabelecimento de metas globais, como por
exemplo: reduzir 10% dos crimes de homicídio. Nem sempre será possível que
se atinja a meta como um todo, sendo preferível definir as metas e os indicadores,
tendo por base o diagnóstico realizado na etapa 2, permitindo, assim, que as
metas sejam definidas com bases mais realistas.

Deve-se evitar, ainda, confundir metas baseadas em resultados a serem atingidos


com metas de produtividade (por exemplo: realizar um mínimo de 20 notificações
de trânsito por dia).

Ferramenta a ser utilizada nesta etapa:

•• Planilhas geradas pela etapa 2.

Etapa 6 – Planificação
Após serem definidas as ações a serem implantadas, essas devem ser
consolidadas em um plano, a fim de que se dê conhecimento a todos os que
devem participar de sua implementação, evitando a informalidade e o diminuindo
o risco de interpretações dúbias quanto ao que fazer e aos resultados esperados.

Deve-se então formalizar o planejamento, constando do plano as respostas aos


quesitos, levantadas durante todo o processo de planejamento (Etapas 1 a 5). Do
plano devem constar as respostas para as seguintes questões:

O QUE FAZER? – qual a ação a ser implementada;

ONDE? – em que local deve ser realizada, qual a área onde está ocorrendo o
problema.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

QUANDO? – em que período de tempo deve ser realizada, qual o prazo para
implementação.

COMO? – de que forma a ação deve ser desenvolvida.

QUEM? – quais as pessoas ou grupos envolvidos no problema, quais as pessoas


que serão empregadas na ação, quem é o responsável pela implementação.

QUANTO? – quais as metas quantitativas a serem atingidas;

QUANTO CUSTA? – quais os recursos a serem empregados (capital humano,


recursos materiais e financeiros).

A resposta a essas questões, que irão compor o plano, ajuda a definir os


responsáveis pela implementação de cada meta, o prazo para que ela seja
implementada, os recursos a serem utilizados e os parâmetros de avaliação da
eficácia de implementação da ação. Com a planificação está encerrada a fase de
planejamento da metodologia.

Nesta etapa deve ser utilizada a seguinte ferramenta:

Matriz 5W2H.

Etapa 7 – Capacitação do pessoal


Iniciando a fase de Execução da metodologia, a primeira etapa a ser
realizada diz respeito à capacitação do capital humano que será envolvido na
implementação das ações.

Nesta etapa, deve-se explicar a cada pessoa envolvida na execução da ação as


peculiaridades das atividades que ele irá desenvolver, bem como a importância
daquela atividade para a solução do problema e para a comunidade.

Deve-se ainda orientar sobre a forma correta de proceder, sobre a responsabilidade


na execução da ação, sobre os parâmetros segundo os quais ele será avaliado
(indicadores) e, finalmente, sobre os resultados esperados (metas).

Essa etapa não se trata, necessariamente, de cursos, estágios ou outras formas


de educação formal. Está mais relacionada às orientações diárias repassadas no
início e durante a execução das atividades de rotina.

É preciso que se tenha em mente a importância dessa etapa para o sucesso da


metodologia de solução de problemas. As pessoas envolvidas na implementação
das ações deve estar informada e orientada sobre a sua participação dentro
do processo de solução do problema, correndo-se o risco de, se assim não for
procedido, prejudicar a implementação das ações e, consequentemente, não se
obter sucesso na eliminação das causas e na solução dos problemas.

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Capítulo 3

Ferramentas a serem utilizadas nesta ação:

•• Plano de Ação
•• Métodos didáticos

Etapa 8: Implementação das ações


Esta etapa consiste basicamente em duas atividades: colocar em prática as ações
e coletar os dados sobre o problema ao longo do processo de implementação.

Deve-se procurar colocar em prática as ações definidas durante a etapa 4,


cumprindo rigorosamente o previsto no Plano de Ação, permitindo, assim, uma
melhor avaliação do processo de implementação.

Durante a implementação das ações, deve-se coletar dados sobre o problema


e suas causas, comparando-os com os indicadores, a fim de, já no próprio
processo de implementação, realizar correções de rumo. Com essa etapa,
encerra-se a fase de execução da metodologia.

Ferramentas a serem utilizadas:

•• Fichas de verificação
•• Gráficos de Controle

Etapa 9 – Controle e avaliação


Na fase de avaliação serão comparados os indicadores que apresentam os
resultados obtidos pela implementação das ações com os indicadores definidos no
plano de ação, sendo verificado se foram ou não obtidos os resultados esperados.

Deve-se analisar se houve mudanças no quadro identificado quando do


diagnóstico do problema e o quadro encontrado após a implementação das ações.

Ao final dessa etapa, tem-se uma nova realidade, que serve como base para o
planejamento das estratégias para um próximo período de tempo, podendo gerar
as seguintes ações:

•• Ação de melhoria: ocorre quando os resultados obtidos na


implementação das ações estiverem em conformidade com os
indicadores previstos no plano de ação. Nesse caso, o resultado da
etapa de avaliação servirá como um novo diagnóstico a ser utilizado no
planejamento de novas ações, visando a reduzir ainda mais as causas
que geram os problemas identificados ou até mesmo eliminá-los.

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

•• Ação corretiva: ocorre quando os resultados obtidos na


implementação das ações não estiverem em conformidade com os
indicadores previstos no plano de ação. Nesse caso, o resultado da
etapa de avaliação servirá como parâmetro para o planejamento no
sentido de identificar falhas no próprio processo de planejamento,
ou corrigir eventuais ações que se mostraram inócuas, ou ainda
redimensionar os indicadores de avaliação propostos.

Etapa 10: Consolidação


Encerrada a etapa de avaliação, e tendo sido efetivo o bloqueio das causas do
problema, deve ser lavrado relatório contendo o detalhamento dos procedimentos
adotados em todas as 9 etapas anteriores, a fim de que fique registrado o
processo de tomada de decisão para solução do problema.

Esta consolidação deve servir para orientar os operadores da Segurança Pública


que se depararem com problemas semelhantes, evitando, com isso, retrabalho
e o cometimento de erros que já ocorreram em vezes anteriores, tornando mais
racional o processo de tomada de decisão e solução de problemas.

Como se pode observar, a aplicação da metodologia não se encerra com a etapa


de avaliação. Na verdade, com essa etapa apenas fecha-se um ciclo, ao mesmo
tempo em que se inicia um novo ciclo de planejamento, execução e avaliação,
com base em informações já alteradas pela implantação das ações previstas no
plano de ação.

A aplicação dessa metodologia se baseia em um processo contínuo de busca


de melhoria, não se restringindo a apenas um ciclo de planejamento, execução
e avaliação. Esse se ciclo se repete inúmeras vezes até que o problema tenha
sido solucionado, podendo ainda extrapolar essa situação, quando busca novos
desafios e identifica novos problemas, até então inexistentes.

Assim, com a repetição sucessiva das fases e etapas da metodologia, será


possível identificar as causas que geram os problemas de segurança pública,
priorizar as mais importantes ou urgentes e encontrar soluções adequadas para
eliminá-las, melhorando a segurança da população e, consequentemente, a
qualidade de vida, conforme preconiza a filosofia da polícia comunitária.

Veja, a seguir, o resumo que sintetiza toda a metodologia de análise e solução de


problema de segurança pública:

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Capítulo 3

Metodologia de Solução de Problemas

FASE ETAPA FERRAMENTAS

- formulários de entrevistas

- análises estatísticas

1. Identificação do Problema - análises comparativas

- resenhas jornalísticas

- gráficos e planilhas

- Gráfico de Paretto

- Análise estatística

- Diagramas de dispersão e correlação


2. Detalhamento do Problema
- Fichas de verificação

- Diagrama de causa e efeito


1. Planejamento
- Histogramas

- Matriz GUT

- Relatórios de observação
3. Priorização
- Gráficos e tabelas estatísticas

- Diagrama de priorização

- Gráficos e planilhas estatísticas

4. Definição de Estratégias - Brainstorming

- Diagrama de árvore

5. Definição de Indicadores - Planilhas geradas na etapa 2

6. Planificação - Matriz 5W2H

98

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Polícia Comunitária e Segurança Pública - Tópicos Emergentes em Segurança Pública III

7. Capacitação de pessoal - Plano de Ação

2. Execução - Fichas de verificação


8. Implementação das Ações
- Gráficos de controle

- Gráficos de controle

9. Controle e Avaliação - Fichas de verificação


3. Avaliação
- Histogramas

10. Consolidação - Relatório com detalhamento das 9 etapas anteriores

Você conheceu os fundamentos teóricos da gestão baseada na solução de


problemas, tendo tomado contato com os principais métodos e ferramentas que
são utilizados neste modelo de gestão. Foram apresentados o método PDCA e o
MASP (QC History), que se constituem de etapas de diagnóstico, planejamento,
execução e avaliação, ressaltando-se a importância do conceito de problema,
pois uma boa definição do problema é fundamental para o êxito da aplicação do
método. Ressaltou-se, ainda, a importância da etapa de avaliação, permitindo
assim conferir se foram obtidos os resultados planejados.

Além da teoria acerca da solução de problemas, você conheceu também


a importância desta forma de gestão para a Polícia Comunitária, pois esta
filosofia de prestação do serviço de segurança pública tem em seu objetivo “a
identificação, priorização e solução dos problemas de segurança pública”, em
parceria com a comunidade. Foram apresentadas a você duas metodologias de
gestão orientada ao problema, utilizadas no mundo todo: a Metodologia de Kelly
e a Metodologia de Goldstein. E por fim, foi-lhe apresentado o Ciclo de Análise e
Solução de Problemas de Segurança Pública (CASPSP).

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Considerações Finais

Caro(a) aluno(a),

Ao chegar ao final de nossos estudos, fizemos algumas reflexões sobre o


contexto social e jurídico em que vivemos, notadamente no que se refere à (in)
segurança pública, à violência e à criminalidade.

A segurança pública é um assunto sempre atual e o direito de alguns não pode


prejudicar o direito de outros, servindo as leis para limitar as condutas das
pessoas e possibilitar a vida em comum. Foram apresentados os princípios e
conceitos que norteiam a filosofia de preservação da ordem pública, denominada
de Polícia Comunitária. Você teve a oportunidade de conhecer a evolução
histórica dos modelos de polícia, desde sua criação, em 1829, até o surgimento
do modelo de Polícia Comunitária. Identificou as principais diferenças entre o
modelo tradicional de polícia, adotado pelas polícias brasileiras e a filosofia de
Polícia Comunitária. Foram apresentadas, ainda, quais as condições básicas para
a implantação do modelo de Polícia Comunitária.

Como você teve a oportunidade de ver, a filosofia de Polícia Comunitária tem duas
colunas mestras que a sustentam, a parceria com a comunidade e a resolução de
problemas de segurança pública. Em relação à parceria com a comunidade, foram
apresentadas as características e a importância dos Conselhos Comunitários de
Segurança (CONSEG´s), para a efetivação dessa parceria entre a comunidade e o
aparato estatal de preservação da ordem pública.

Em relação à solução de problemas, foram apresentados alguns aspectos


teóricos importantes sobre a gestão orientada ao problema, bem como, traçado
um paralelo entre Polícia Comunitária e gestão orientada ao problema, buscando
evidenciar a importância dessa forma de gestão para a implantação da filosofia
de Polícia Comunitária.

Por derradeiro, você conheceu as fases e etapas que compõem a metodologia


de análise e solução de problemas de segurança pública, elaborada para permitir
a identificação e detalhamento dos problemas, a definição de estratégias de
solução, a implantação das estratégias definidas e a avaliação dos resultados
obtidos após a implantação das estratégias.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Certamente, esse conteúdo será de fundamental importância para sua vida,


tanto profissional quanto pessoal, na medida em que você poderá fazer uso
dele enquanto operador do sistema de segurança pública ou como membro de
sua comunidade, para gerar uma melhor qualidade de vida e uma sociedade
mais segura.

De modo geral, esperamos que, tendo aproveitado a oportunidade para


expor suas ideias, realizar pesquisas, socializar conhecimentos, interagir com
seus colegas e participar dessa importante caminhada, você tenha adquirido
novos conhecimentos.

Continue seus estudos visando ao constante aperfeiçoamento, seja profissional


ou pessoal, com entusiasmo, o que constitui um passo importante para sua
autorrealização pessoal e a conquista da felicidade, que é objetivo permanente
de todo ser humano.

Abraços!

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Referências

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de outubro de 1988. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

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Presidente da República de 10.8.2001. Publicado no Diário Oficial de 13.8.2001.
Brasília. 2001.

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aperfeiçoar o desempenho. Tradução de Adalberto Guedes Pereira. São Paulo:
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Escola de Engenharia da UFMG, 1995.

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Sobre o Professor Conteudista

Giovanni Cardoso Pacheco


Graduado em Segurança Pública pelo Curso de Formação de Oficiais da
Academia de Polícia Militar do Estado de Santa Catarina. Pós Graduado (lato
senso) em Gerência da Qualidade no Serviço Público pela Universidade do
Estado de Santa Catarina - UDESC. Pós Graduado (lato senso) em Segurança
Pública pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, em parceria com
a Polícia Militar de Santa Catarina. Pós Graduado (lato senso) em Prevenção ao
Crime pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Professor do Curso
Superior de Polícia Militar, do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais e do Curso
de Formação de Soldados da PMSC, nas disciplinas Planejamento Operacional e
Sistema Brasileiro de Segurança Pública. Desempenha funções na Polícia Militar
de Santa Catarina no posto de Major PM.

Nazareno Marcineiro
Formado no Curso de Formação de Oficiais em 1982, na Academia da Polícia
Militar de Santa Catarina. Mestre em Engenharia de Produção e Sistema,pela
Universidade Federal de Santa Catarina em 2001. É Tenente Coronel da Polícia
Militar de Santa Catarina. Foi Coordenador Estadual de Polícia Comunitária do
início do projeto até dezembro de 2002. Professor dos cursos nacionais de Polícia
Comunitária, além de professor da Disciplina Sistema de Segurança Pública no
Curso de Formação de Oficiais da PMSC.

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