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13/05/2019 A improvável morte das democracias - 13/08/2018 - Marcus Melo - Folha

Marcus André Melo (/colunas/marcus-melo/)

A improvável morte das democracias


O iliberalismo à esquerda e à direita é o perigo real

13.ago.2018 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2018/08/13/)

No livro “Como as Democracias Morrem”, Steven Levitsky


(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/brasil-precisa-sair-da-tormenta-sem-eleger-um-autoritario-diz-professor-de-

e Daniel Ziblatt (professores de Harvard) discutem uma ameaça


harvard.shtml)

que provavelmente nunca se concretizará: a morte da democracia nos EUA,


ou em qualquer outro país da primeira ou segunda onda da democracia.

A primeira delas (1820- 1922) envolveu 29 nações; a segunda (1945- 1962), 36.
A terceira onda começa com a Revolução dos Cravos (1974) e se estendeu à
América Latina e ao Leste Europeu. Nesse grupo de cerca de 60 democracias,
várias são atualmente vulneráveis.

“A democracia é um bem de luxo”: a demanda por esse tipo de regime


aumenta com a renda. A conclusão é de Adam Przeworski, baseada em
evidências para o período 1950- 2000. 

Embora existam países ricos autocráticos, a resiliência democrática é tanto


maior quanto maior a renda (pelo efeito sobre educação, formação de classe
média robusta, redução da desigualdade etc.). 

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A probabilidade estimada de colapso da democracia em um país com renda


per capita superior a US$ 6.055 (paridade do poder compra), equivalente a
da Argentina em 1975 (cerca de US$ 26 mil hoje), é zero.

Afora a renda, o melhor preditor de resiliência democrática é a experiência


prévia com oligarquias competitivas, nas quais a participação é limitada, mas
os resultados eleitorais são respeitados e há um regime de liberdades —por
exemplo, França, Inglaterra e Austrália na segunda metade do século 19 e
início do 20.

Pode-se contra-argumentar que o passado não determina o presente. Mas o


subtítulo do livro de Levitsky e Ziblatt, “o que a história ensina sobre nosso
futuro”, afirma o contrário.

Difícil falar de um padrão, pois há um claro viés de seleção nos casos


heterogêneos discutidos no livro: EUA, Rússia, Turquia, Polônia, Hungria,
Tailândia, Venezuela, Nicarágua. 

Antes da década de 1990, a Polônia, por exemplo, nunca havia tido oligarquia
competitiva. Mas como sua renda per capita multiplicou-se por sete desde a
década de 1990 e o país está integrado à União Europeia, as chances de sua
democracia “morrer” são muito baixas. 

A democracia na Nicarágua (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/08/folha-passa-a-designar-


nicaragua-como-ditadura.shtml) deveria surpreender por razões opostas: afinal, como

poderia prosperar em um país com US$ 2.000 de renda per capita e com
história de autocracias predadoras? Da Venezuela
(https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/08/1907421-folha-passa-a-tratar-venezuela-como-ditadura.shtml)tratei

em outra coluna.

Em nenhum país similar aos EUA a democracia se deteriorou marcadamente:


e mesmo lá os freios e contrapesos estão ativos. É inegável, entretanto, que
nos EUA a vida pública tem sofrido uma deterioração que se reflete na erosão
de normas sociais.

O livro não é sobre a morte da democracia, mas sobre os perigos do


iliberalismo, à esquerda e à direita. Difícil exagerar sua importância para

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nosso debate público.

Marcus André Melo


Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da
Universidade Yale (EUA).

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