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Lemos a Bíblia, mas não enxergamos algumas coisas para não desestruturar nosso

mundo íntimo.
Este livrinho nos ensina a enxergá-las e a reestruturar esse mundo sobre as bases
sólidas e firmes da realidade.
E essa realidade, além de bela e consoladora, nos liberta do medo.

Temor a Deus?

Esse termo “temor a Deus” tem sido muito utilizado nos meios cristãos, sem muita
preocupação com seu significado. Entretanto, ele colide com a doutrina de Jesus, porque o
Mestre ensinou que devemos amar a Deus e não temê-lo. Por que temer Deus, se Ele não é
mau, nem injusto, se é sábio, perfeito e bom?
Essas idéias de temor a Deus provêm do Antigo Testamento, escrito numa época e para
pessoas bastante primitivas. Era necessário acenar com o medo para que obedecessem aos
ditames das religiões.
Mas a História mostra que tudo está em permanente evolução.
Antigamente, faziam-se sacrifícios (até mesmo humanos) aos deuses. O povo israelita
oferecia animais em holocausto a Jeová. Era a mentalidade da época.
Jesus trouxe novas luzes ensinando amor, perdão e mansidão, e, aos poucos, tudo vai
mudando com o lento progresso da humanidade, cedendo lugar a idéias mais civilizadas.
Também o bom senso e a razão ganham terreno com o avanço das ciências, abrindo
espaço para inúmeros questionamentos, inclusive sobre temas tidos como tabus, como é o
caso da sacralidade da Bíblia.
Desses conflitos todos surge então uma pergunta importantíssima: qual das religiões
oriundas da Bíblia está com a verdade, já que todas possuem argumentos que entendem
serem os mais fortes?
Vamos raciocinar um pouco: se você estiver elaborando seu orçamento doméstico e
alguém afirmar que 5 mais 3 são 11, o que fará? Vai simplesmente aceitar esses valores
como certos, porque alguém em quem você acredita disse isto, ou irá fazer a conta para ver
se a afirmação está correta?

Se aceitar simplesmente o que lhe dizem, sem questionamentos, você se arrisca a


ter grandes problemas em sua vida.

O mesmo ocorre com relação às religiões. Cada uma diz que está com a verdade,
embora todas pensem diferentemente umas das outras.
Que fazer, então, para encontrar a verdade religiosa?
Você deve fazer o mesmo que faria a fim de encontrar os valores reais para o seu
orçamento: analisar, questionar, usar a razão, o bom senso.
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E nessa busca, certamente, a primeira questão, a mais importante, é a seguinte: será
que nós, seres humanos atrasados e imperfeitos, temos acesso pleno à verdade?
Se a verdade plena está com Deus, por certo nós só podemos ter dela vislumbres. E é
por isso que brigamos e até mesmo desencadeamos guerras sangrentas, porque cada qual
entende ser seu dono exclusivo, quando realmente só lhe detêm alguns fragmentos.

Talvez você diga:


“A verdade está na Bíblia”.

Vamos apelar novamente para o raciocínio.


Para que a verdade plena estivesse na Bíblia, esta teria de ser absolutamente coerente,
sem contradições e de acordo com o bom senso, porque as contradições no corpo de uma
doutrina, assim como acontece com a Bíblia, tiram-lhe as credibilidades.
A Bíblia, portanto, precisa ser vista em sua realidade, como obra de inspiração
superior, mas contendo enfoques pessoais daqueles que a escreveram e refletindo a
mentalidade e os conhecimentos peculiares à época em que foram registrados. Assim sendo,
não pode ser entendida “ao pé da letra”, mas no contexto de época, condições, cultura,
simbolismos etc.
Então você poderá dizer: “A Bíblia é a palavra de Deus e precisa ser obedecida e não
compreendida”.
Mas foi Deus quem nos deu o raciocínio e um pouco de sabedoria, para que possamos
discernir em nossa busca pela verdade. E lembramos que Jesus afirmou: “Conhecereis a
Verdade e ela vos libertará”, deixando claro que Ele veio ensinar uma ética de vida, como
realmente o fez, mas a Verdade viria mais tarde, quando o ser humano já estivesse
suficientemente amadurecido para entendê-la e poder, assim, libertar-se dos
condicionamentos milenares a que se encontra manietado.
Além disso, quem nos garante que a Bíblia seja a palavra direta de Deus? Mesmo que
isto fosse possível, para materializar aqueles escritos, Ele teria de contar com pessoas, que
sempre são falíveis. É muito mais lógico, então, entender que se trata de um livro escrito por
homens, embora sob inspiração superior. Assim, é mais prudente extrair dela os conteúdos
éticos que são os que mais importam, porque levam o ser humano a se tornar melhor. Não
deveria ser justamente esta evolução espiritual a finalidade de toda religião?

Gostaria de analisar tudo isto, sem preconceitos?

Inicialmente queremos enfatizar nosso respeito pela Bíblia, pelo que ela representa.
Mas nem por isso podemos ignorar as inúmeras contradições, incoerências e até mesmo
barbaridades que encontramos em seu corpo.

Comecemos então perguntando se tudo que a Bíblia diz pode ser aceito e praticado no
mundo moderno.
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 Você mandaria matar um filho, por este ter-lhe faltado com o devido respeito? (Êxodo
21:17)
 Alguma vez teve relações sexuais com outra pessoa que não o seu cônjuge? (Levítico
20:10)
 Já fez sexo com mulher menstruada, ou estando menstruada? (Levítico 20:18)
 Guarda o dia de sábado, não realizando nesse dia qualquer atividade? (Êxodo 20:8 a 11 e
Levítico 23:3).
O Antigo Testamento determina pena de morte para todos estes “crimes” e muitos
outros, considerados como graves infrações contra a lei de Deus.

Vejamos algumas de suas contradições.


1 - A primeira encontra-se logo no primeiro capítulo de Gênesis, com a criação das
noites e dias, a separação das águas, a produção de relva e árvores frutíferas que davam
frutos e sementes, para só depois, no quarto dia, serem criados o sol, a lua e as estrelas.
Como poderia haver noites e dias, plantas frutificando, sem o sol?
2 - A humanidade inteira, durante milênios e até hoje, estaria pagando pelos pecados de
Adão e Eva, embora Deus tenha afirmado em Ezeq. 18:20, Deut. 24:16, Jer. 31:29 e 30, que
os filhos não pagam pelos pecados dos pais, nem o justo pelo pecador. E se o justo não paga
pelo pecador, por que Jesus teria morrido na cruz para pagar pelos pecados da humanidade?
3 - Em Êxodo 9:1-7 vemos Deus mandando uma praga que matou todos os animais dos
egípcios, inclusive os seus cavalos, mas dias mais tarde a cavalaria egípcia é afogada no
Mar Vermelho. Que cavalaria, se todos os cavalos tinham sido mortos com a praga?
4 - Como conciliar a idéia expressa em “Os vivos sabem que hão de morrer, mas os
mortos não sabem de cousa alguma” (Ecles. 9:15) com a parábola sobre o rico e Lázaro (Lucas
16:23); ou com a cena em que Moisés e Elias (mortos há séculos) conversaram com Jesus
no monte, na presença de três apóstolos (Lucas 9:30) ou ainda, com a entrevista que teve Saul
com o espírito de Samuel, quando já estava morto (1 Samuel 28:11-20)?
5 - Em Oséas 6:6, Deus diz: “Misericórdia quero e não sacrifícios e o conhecimento
de Deus mais do que holocaustos”. No entanto, Ele próprio ordena oferendas, holocaustos e
sacrifícios pelos mais insignificantes delitos.
6 - Outra contradição entre o Velho e o Novo Testamento: “Deus nunca foi visto por
ninguém” (João 1:18) e “Ninguém jamais viu a Deus” (1 João 4:12); isso foi confirmado por
Paulo: “aquele a quem nenhum dos homens viu nem pode ver” (1 Timóteo 6:16); e pelo próprio
Jesus: “não que algum homem tenha visto o Pai” (João 6:46).
Mas lemos no Velho Testamento: “Eu apareci a Abraão, Isaac e Jacó” (Ex. 6:3). Lemos
também que Moisés, Arão, Nadib e Abiu e mais 70 anciãos viram Deus (Ex. 24:9-11). Além
disso “Deus falava a Moisés face a face, como qualquer homem fala a seu amigo” (Ex. 33:11),
e em Num. 12:18, afirma: “Eu falo com Moisés boca a boca e ele vê a forma do Senhor”, e
ainda, em 1 Reis 11:9, “Deus, por duas vezes apareceu a Salomão”.
7 - Como entender que Moisés, ao descer do monte com as tábuas da Lei, quando um
dos mandamentos dizia “Não matarás”, tivesse ordenado à tribo de Levi: “Assim diz o
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Senhor, o Deus de Israel: cada um cinja a espada sobre o lado; passai e tornai a passar
pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, cada um a seu amigo, e cada
um a seu vizinho”.
Naquele dia (Êxodo 32:28) foram executadas, por seus irmãos da tribo de Levi, mais de
três mil pessoas do povo de Israel. E o mais terrível é que em seguida Deus abençoou os
assassinos por haverem obedecido àquela ordem tão monstruosa quanto atroz.
8 - Em Deut. 24:16, Deus afirmou: “Os pais não morrerão pelos filhos e nem os filhos
pelos pais, mas cada qual morrerá pelo seu pecado”. Mas, em 2 Samuel 21:1-14, vamos
encontrá-lo tão enfurecido contra o ex-rei Saul, a ponto de assolar seu povo com uma fome
de três anos, só se aplacando sua ira quando Davi mandou executar, em oferta ao Senhor,
sete netos de Saul.
Neste caso, além da contradição, há ainda uma demonstração de furor da parte de
Jeová e o sacrifício de seres humanos, em sua intenção, o que lhe aplacou a ira. Que Deus é
esse que aceita e se compraz com sacrifícios humanos?
Certamente não é essa a imagem que se deve fazer do Criador do universo e da vida.
Se Ele não fosse justo e perfeito em tudo, sua obra seria o caos.

Se você ler o Antigo Testamento de forma racional, vai encontrar contradições ao


longo de todo o seu corpo.

E o Novo Testamento?

Nele também encontramos inúmeras incoerências e contradições:

1 - João afirma: “Se dissermos que não temos pecado, não existe verdade em nós” (1
João, 1:8), mas em 5:18 afirma que “quem é nascido de Deus não peca”.
2 - Não há como conciliar “Jesus é a propiciação pelos nossos pecados, e não
somente pelos nossos, mas ainda pelos pecados do mundo inteiro” (1 João 2:2) com “Sabemos
que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no maligno” (1 João 5:19).
3 - Também os apóstolos nunca se entenderam quanto ao instrumento da salvação, se
seria a graça, as obras ou a fé. E lembramos Jesus quando disse: “Não acabareis de
percorrer as cidades de Israel, sem que venha o Filho do Homem (Mateus 10:23), “alguns dos
que aqui estão não verão a morte sem que vejam o Filho do Homem no seu reino” (Mateus
16:28); e, falando sobre o que é interpretado como sua segunda vinda, afirmou que não
passaria aquela geração sem que tudo se cumprisse.
É bom lembrar que os evangelhos foram escritos muitos anos depois da morte de Jesus
e sofreram inúmeras traduções, interpretações e até mesmo modificações e enxertos em seus
textos. Isto ocorreu em parte para adequá-los às peculiaridades da Igreja Católica, como foi
o caso da santíssima trindade, e em parte por causa das centenas de cópias e traduções que
lhe foram alterando o conteúdo.
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4 - Outra contradição bíblica, e das mais gritantes, podemos encontrar entre o Velho
Testamento, os evangelhos e as epístolas. O conteúdo da mensagem de Jesus está
integralmente calcado na mais perfeita justiça, na mansuetude, no perdão e no amor: “A
cada um será dado de acordo com suas obras”, “Tudo que quiserdes que os homens vos
façam, fazei-o também vós”, “Olhai as aves do céu...”, “Vinde a mim, vós que estais
cansados e sobrecarregados, que eu vos aliviarei”, “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o
que fazem”, “Perdoa 70 vezes 7”...
Já o discurso de alguns dos fundadores do cristianismo difere essencialmente dos
ensinamentos de Jesus, por exemplo, o Mestre coloca o amor e a prática do bem, como
condições únicas para se alcançar o reino de Deus: “Ama a Deus sobre todas as coisas...
Ama o próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os
profetas” (Mat.22:37-40). Ainda em Mateus, cap. 25, fala sobre o grande julgamento, no qual
apenas as atitudes e ações irão pesar na decisão final, e, em inúmeras outras ocasiões, como
em Mat. 16:27, afirmou e reafirmou que a cada um Deus retribuirá segundo as suas obras.
Enquanto isso, Paulo afirma que a salvação vem apenas pela fé: “Concluímos, pois,
que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rom. 3: 28), ao passo
que outros dos apóstolos ensinam que é pela graça e outros, pelas obras; não há consenso
em seus ensinamentos.
Todos os ensinos de Jesus mostram Deus como o Pai justo e misericordioso,
enquanto, em franca oposição, o discurso de Paulo é todo calcado na mentalidade judaica,
cujo Deus é vingativo, parcial e injusto: “Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e
também endurece a quem lhe apraz” (Rom. 9:18), “Que diremos, pois, se Deus querendo
mostrar sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos
de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer os vasos de
misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também
chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?”.
Essas palavras de Paulo apresentam Deus como um grande ditador que rejeita e faz
sofrer a uns e beneficia a outros (dentre os seres criados por ele próprio), ao sabor de seus
caprichos. Onde está a justiça? Onde estão a misericórdia e o amor sempre presentes nas
palavras de Jesus, quando se referia a Deus, chamando-o de Pai?

Por esta pequena amostra já se pode observar que a elaboração da doutrina cristã
sofreu profunda influência da mentalidade judaica, desfigurando drasticamente a
mensagem do Cristo, mas sofreu também a influência do paganismo de Roma, como
aconteceu com a mudança da guarda do sábado para o domingo, a introdução de
rituais, imagens e tantas outras enxertias.

Características do Antigo Testamento

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O Antigo Testamento vibra, em inúmeros momentos, com a força do açoite, da espada
e da vingança, mostrando um Deus contraditório, quase sempre irado, às vezes furioso,
muitas vezes injusto, rancoroso, cruel e sem saber exatamente o que faz.
Em Deut. 10:18, diz-se que Deus “faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro,
dando-lhe pão e vestes”, concluindo: “Amai, pois o estrangeiro, porque fostes estrangeiros
na terra do Egito”. Entretanto, ainda em Deut. 20:16, orientando a forma como seu povo
deveria invadir e exterminar seis nações para apossar-se de suas terras, Jeová manda matar
tudo que tenha fôlego.
Em 1 Samuel 28:17-19, o espírito de Samuel, por intermédio da médium de Em-Dor,
diz a Saul que Jeová o castigaria, a ele e a seus filhos, com a morte, e entregaria o povo de
Israel nas mãos dos filisteus (o que aconteceu de fato), por ter ele desobedecido à ordem que
o Senhor, no furor da sua ira, lhe dera contra Amaleque: Saul teria de matar tudo que tivesse
fôlego, inclusive os bebês e até mesmo os animais. A desobediência estava no fato de ele ter
deixado de matar alguns animais que pretendia oferecer em holocausto a Jeová.

Como poderia ser analisada tal atitude da parte de Jeová?

Num momento de furor manda matar tudo e, porque Saul deixa com vida alguns
animais para oferecer-Lhe como holocausto, castiga-o com a morte, e não só a ele, mas a
toda a sua família, entregando ainda o povo de Israel nas mãos dos filisteus.
Em Num. 31:17 e 18, Moisés, que comandava o povo sob orientação direta de Jeová,
enfureceu-se com os oficiais do Exército porque, ao invadirem as terras dos midianitas,
mataram apenas os homens, deixando vivas as mulheres e as crianças. Ordenou-lhes então
que matassem todos os meninos e as mulheres, poupando apenas as virgens, para que
servissem de diversão aos soldados.
Nesses textos, além das contradições que apresentam, podemos observar, estarrecidos,
até onde chegaram a injustiça, o machismo, a perversidade e a crueldade patentes nas
orientações dadas por Jeová a Moisés.
Casos semelhantes estão ao longo de vários livros do Antigo Testamento, como, por
exemplo, em Jos.11:20, quando Israel invadia outros países, para tomar-lhes as terras:
“Porque do Senhor vinha que seus corações se endurecessem para saírem à guerra contra
Israel, a fim de que fossem totalmente destruídos e não lograssem piedade alguma, antes
fossem de todo destruídos, como o Senhor tinha ordenado a Moisés”. E é bom lembrar que
aqueles povos invadidos por Israel iam à guerra apenas para defender suas famílias, suas
vidas, seus bens, seus países.
Mas também alguns líderes da nação israelita (considerada pelo Senhor como o povo
santo) praticavam feitos desonrosos, pecaminosos e injustos (endossados e apoiados por
Jeová), que o Antigo Testamento narra com a maior simplicidade.
Em Gen. 12:10-20, vamos encontrar Abraão, no Egito, enganando o Faraó, dizendo
que Sara era sua irmã e não sua mulher. Com isso o Faraó tomou-a para si, recompensando

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Abraão com muitos bens. E por causa desta perfídia de Abraão, Jeová castigou o inocente
Faraó e toda a sua casa com terríveis pragas.
Além disso, o patriarca da nação israelita era incestuoso, porque em Gen. 20:12
confessa que Sara, sua mulher, era também sua irmã por parte de pai, e ainda aceitou
presentes riquíssimos que lhe foram dados pelo rei Abimeleque, que se havia encantado pela
beleza de Sara.
Acha que, pelo pouco que mostramos até agora, possam existir argumentos coerentes
para justificar “esse Deus?”.
Então, em virtude das suas inúmeras contradições e das barbaridades cometidas por
ordem de Jeová, como vimos até aqui, o bom senso nos diz que não se pode erguer a Bíblia
como bandeira ou roteiro absoluto, muito menos como palavra de Deus.

Deus x Jeová

Um aspecto importante de toda essa questão, que precisa ser analisado e enfrentado de
forma madura, é que o Deus ainda hoje adotado pela quase totalidade das religiões é aquele
que o homem criou à sua própria imagem, com todas as características e idiossincrasias
humanas.
O ser humano gosta de ser bajulado, presenteado, e até hoje se fazem oferendas a
Deus, ou àqueles que O representam, na forma de promessas, orações, atos os mais
diversos, e até em dinheiro. Muitos fiéis são capazes de doar-Lhe seu último vintém, através
da sua igreja, e o fazem com alegria, acreditando que o Ser Supremo, ficando satisfeito
com o presente, irá compensá-los de forma multiplicada.
Outra característica humana que conferiram ao Criador é entender que Ele gosta de
ser temido, tanto que se diz que devemos ser tementes a Deus.
Mas o pior é que fizeram do Supremo Arquiteto do Universo alguém sujeito às
paixões humanas; que odeia, é cruel, vingativo e não sabe exatamente o que quer, ou o que
faz, conforme mostrado.
Não acha, caro leitor, que já está na hora de começarmos a perceber Deus por enfoques
mais próximos da realidade?
Ocorre que uma percepção mais verdadeira sobre Ele e as leis que regem a vida
mudariam muitos paradigmas. Por isso, prefere-se continuar na mesmice, temendo-O e
tentando bajulá-Lo, quando não, ludibriá-Lo.
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Mas falemos sobre algumas hipóteses que explicariam tantas divergências e
contradições que são encontradas ao longo do corpo da Bíblia.
Jesus, em suas prédicas, mostrou um Deus bem diferente, associando sua imagem às
muitas parábolas em que fala no pai de família, justo e bom.
A Bíblia, em vários momentos, nos ensina que Deus é justo e a razão assegura que Ele
só pode ser perfeito em tudo o que faz, senão tudo seria o caos. Apesar disso, ao longo dos
textos bíblicos, a injustiça que lhe é atribuída fere até mesmo as almas mais rudes, como
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naquele episódio no Egito, em que Jeová endureceu o coração do Faraó para que não
libertasse os israelitas e pudesse assim ter um pretexto para massacrar aquele povo inocente
com dez terríveis pragas, inclusive com a morte de todos os primogênitos (até mesmo dos
animais) quando “nenhuma casa houve que não tivesse um morto” (Ex. 12:30).

Talvez aquele tipo de procedimento fosse até adequado àqueles povos rudes e
primitivos. Mas acredita que Deus seria capaz de ordenar tais atrocidades?

Vemos também que o Jeová do Antigo Testamento tinha profundas afinidades e


semelhanças com o povo israelita, apresentando, inclusive, os mesmos defeitos, paixões,
ambições e idiossincrasias. Tanto isto é verdadeiro que, dentre todos os povos da Terra só
cuidou, protegeu e comandou aquela raça, não com a sabedoria, justiça e amor do Criador
de todas as coisas, mas com as características que poderia ter o chefe de uma nação, no
comando do seu povo. Aliás, um dos títulos que lhe foram conferidos no Antigo Testamento
é “Senhor dos Exércitos”.
A razão nos diz que Deus, ou seja, a inteligência suprema, o soberano poder que
criou o universo, os mecanismos cósmicos, a vida, e que a tudo sustenta com equilíbrio e
perfeição por meios que não temos capacidade para entender, não poderia jamais estar
sujeito às paixões humanas. No entanto, o escritor e estudioso da Bíblia Jaime Andrade, no
livro O Espiritismo e as Igrejas Reformadas, contou mais de 60 acessos de cólera atribuídos
a Jeová, entre Êxodo e 2 Reis.

Em Gênesis 1:31, lemos que Deus, depois da criação, foi examinar se tudo estava
perfeito, como se o Criador do universo e da vida, inteligência suprema, pudesse fazer algo
imperfeito.
Em Gen. 6:6, vamos encontrá-lo arrependido por ter criado o homem.
Será que Deus, a infinita perfeição, poderia arrepender-se de ter feito algo, como se
não soubesse bem o que fazer e acabasse errando em seus atos?
Aliás, os arrependimentos de Jeová, estão ao longo da história bíblica, como, por
exemplo, em Ex. 32:14, por haver ameaçado o povo de Israel; em 1º Sam. 15:11 e 35, por
haver feito rei a Saul; em 2º Sam., por ter dizimado 70 mil pessoas do seu povo; em Jonas
3:10, arrependeu-se do mal que prometera fazer a Nínive, etc.
Entretanto, em 1 Sam. 15:29, este diz, referindo-se a Deus: “Também a Glória de
Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é homem para que se arrependa”.

Esses feitos todos, atribuídos a Deus, ou a Jeová, seriam muito naturais num espírito
protetor e guia do povo israelita, nunca no Criador de todas as coisas.

Quem foi Jeová?

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Podemos observar que muitas das passagens da Bíblia trazem realmente orientações
superiores, reflexos das leis de Deus. E há também profunda beleza e elevados sentimentos
de religiosidade ao longo de incontáveis dos seus textos, assim como também conselhos e
provérbios da mais elevada sabedoria.
Já em outros momentos fica patente a influência de espíritos identificados com o povo
israelita, ou seja, seus Guias ou Mentores.
Os cinco primeiros livros da Bíblia (Pentateuco) narram a gênese da Terra e da vida
que nela há, conforme entendimento de seu autor; historiam a saga do povo israelita até
chegar às portas de Canaã, a terra prometida; contém as leis ditadas por Moisés, assim
como, também, os 10 mandamentos que recebeu no Monte Sinai.
Com relação à gênese, é fácil perceber que foi narrada dentro de um simbolismo
iniciático, não podendo, portanto, ser entendida “ao pé da letra”.
Os outros livros, como Josué, Juízes, Samuel, Reis, Crônicas etc., são também
históricos, narrando detalhadamente a história da raça ao longo das gerações, contendo
também orientações dadas por Jeová, através dos profetas. O livro de Jó conta seu drama,
suas lamentações e ilações filosóficas, podendo-se observar que ele acreditava na
reencarnação, através de afirmações e indagações que fazia:
“Pergunta às gerações passadas e examina as memórias de nossos pais; pois somos
de ontem e o ignoramos” (Jó 8:8 e 9).
“Morrendo um homem tornará a viver?” (Jó 14:14)
“Quantas vezes se apagará a luzerna dos ímpios e lhes sobrevirá a destruição?” (Jó
21:17).
Essa luzerna refere-se à vida. As idéias sobre reencarnação, que são muito antigas,
diziam que os maus teriam de reencarnar tantas vezes quantas fossem necessárias para
tornarem-se bons ou puros.
O livro dos Salmos traz os cânticos de Davi, retratando a glória de Deus, sua justiça e a
beleza da sua obra, além de lamentos e petições. O livro dos Provérbios é do rei Salomão,
assim como os Cantares que refletem o amor entre marido e mulher. Depois vêm os profetas
com suas exortações, visões, narrativas e sentenças.

Para os judeus, certamente o Antigo Testamento deve ser um livro sagrado, por conter
toda a sua história e as bases de sua vida religiosa.
Mas para nós que somos de outras raças e estamos em outra época, não nos cabe
aceitá-lo como a palavra de Deus, imutável e inquestionável, nem a sua sacralidade, na
forma como é vista, pelos que a seguem.

Pelas citações feitas até agora, que representam uma ínfima parcela das incongruências
e absurdos encontrados no Antigo Testamento, podemos apresentar algumas hipóteses,
inclusive das que foram levantadas por Jayme Andrade no livro O Espiritismo e as Igrejas
Reformadas:

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a) visando infundir respeito naquele povo rude e orgulhoso, Moisés atribuía à
divindade todos aqueles rompantes de ira, ameaças e ordens cruéis de que o Antigo
Testamento está repleto;
b) as muitas leis e orientações, como as dos holocaustos, oferendas etc., refletiam a
mentalidade da época e a necessidade de se organizar um roteiro de obrigações e de
conduta, para o povo israelita;
c) é bem provável que os seres espirituais responsáveis pela evolução daquele povo se
fizessem representar por Jeová, uma deidade tribal, talvez até mais de uma, como se pode
inferir pela leitura de Gen. 3:22: “Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o
mal”;
d) o Protetor da nação israelita seria uma entidade mais ou menos identificada com a
índole guerreira da raça, pois cada homem e cada povo têm um guia espiritual compatível
com seu próprio grau evolutivo; talvez fosse algum dos seus antepassados, dotado da
autoridade necessária para impor-se e dominar.
Esta hipótese é confirmada em 2 Samuel 7:6, e em 1 Crôn. 17:5, quando Jeová disse
que habitava no tabernáculo, e “de tenda em tenda”; em Números os capítulos 28 e 29 são
dedicados às ofertas contínuas e às das festas solenes; essas ofertas eram constituídas de
sacrifícios de bodes, cordeiros, novilhos, carneiros, além de manjares e bebidas alcoólicas.
Em onze dessas orientações, quando se trata dos sacrifícios de animais, há a referência ao
aroma agradável ao Senhor, como em 28:27: “Então oferecereis ao Senhor por holocausto,
em aroma agradável, dois novilhos, um carneiro e sete cordeiros de um ano”.
Também havia bebidas alcoólicas, conforme se lê em 28:7: “A sua libação será a
quarta parte de um him para um cordeiro; no santuário oferecerás a libação de bebida
forte ao Senhor”. No Dicionário Aurélio se lê: “Libação: 1. Ato de libar. 2. Entre os pagãos,
ritual religioso que consistia em derramar um líquido de origem orgânica (vinho, leite, óleo
etc.) como oferenda a qualquer divindade. 3. Ato de libar ou beber, mais por prazer que por
necessidade.”
Pense um pouco no absurdo dessa idéia: o Criador e mantenedor do universo e da
vida, habitando nas tendas dos judeus e recebendo prazerosamente oferendas de álcool e de
sangue...
Esse tipo de procedimento pode ser encontrado, hoje, em terreiros de quimbanda que
praticam rituais com bebidas alcoólicas e sacrifício de animais. Esses rituais geralmente são
destinados a fazer o mal, ou a desmanchar um mal que já fora feito em formato semelhante.
E muitos perguntam: como pode um espírito beneficiar-se com esse tipo de coisas?
Muitos espíritos menos evoluídos, cujos corpos espirituais são mais adensados, por
sua maior proximidade com a matéria física, procuram nutrir-se com energias animalizadas,
a fim de poderem dar continuidade às sensações materiais, como se ainda tivessem o corpo
carnal. E eles sugam as energias do sangue que é derramado em sua intenção, assim como
de outros elementos que lhes são oferecidos, encontrando nisso mais vitalidade e grande
prazer.

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Vemos assim, com clareza, que a Bíblia realmente não pode ser a palavra de Deus,
sagrada, intocável, inquestionável, e que Jeová, certamente, não é um espírito tão
elevado quanto imaginam.

Esse enfoque de sacralidade, no entanto, tem sido usado ao longo dos séculos como
recurso para alienar consciências, manietando-as aos ditames das religiões.
Por quê?
1 - Muitos acreditam honestamente nessa sacralidade.
2 - Há interesses em jogo:
a) toda uma árvore hierárquica de membros atuantes tem nas religiões o seu meio de
vida;
b) há a busca do poder religioso, o mais extraordinário instrumento de domínio por que
se apodera das consciências, do psiquismo das pessoas, invadindo-as pelos seus pontos mais
fracos: o medo, as promessas de felicidade e até mesmo de bens materiais;
c) há ainda a ganância, com a possibilidade de enriquecimento para muitos dos seus
líderes.

Vamos refletir um pouco sobre Deus?

O temor a Deus é uma superstição que surgiu e se firmou no psiquismo dos homens
primitivos, ao presenciarem fenômenos da natureza, tais como relâmpagos, trovões,
tempestades, etc. Para eles, tratava-se da ira dos seres que governavam o mundo, ou seja, os
deuses. Então, para acalmá-los e angariar sua benevolência, cuidavam de dar-lhes
oferendas, inclusive de sacrifícios humanos.
Com a evolução, essa cultura foi tomando formas mais civilizadas, mas ainda persiste.
No mundo cristão, as oferendas a Deus são feitas principalmente em espécie.
Mas agora, no alvorecer do terceiro milênio, já é hora de se começar a usar a razão
também em questões de fé, passando-se a ver Deus por uma ótica mais adequada e coerente.
Vejamos, então.
Muitos O chamam de “O grande arquiteto do universo”; outros, “O Altíssimo”, outros
ainda, “O incognoscível”, etc.
Na codificação da Doutrina Espírita, a pergunta “Que é Deus?” foi assim respondida
pelos espíritos: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. E
falando sobre Seus atributos, disseram: “É eterno, imutável, imaterial, único, todo-
poderoso e soberanamente justo e bom”.
No prefácio do livro Favos de Luz o espírito Miramez, pela psicografia de João Nunes
Maia, diz:
“A causa primária de todas as coisas (Deus) não pensa, não medita, não se
arrepende, não ri, não chora e de nada tem necessidade. Partindo da premissa de que Ele é
todo perfeição não pode pensar, porque isso é ainda função dos homens; não tem
necessidade de meditar, porque tudo sabe; não tem arrependimento, por ser onisciente e
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por não errar; não ri, por ser dotado de qualidades superiores ao bem-estar humano; não
chora, por ser o equilíbrio de todas as emoções.”
Não acha, caro leitor, que essa forma de se perceber Deus é infinitamente mais
adequada e coerente com a realidade?
No livro Horizontes da Vida, cap. 18, o mesmo autor, diz:
“Deus é o supremo foco de luz, donde verte toda a sabedoria e, se podemos dizer, toda
a Vida para toda a criação. Se falamos que Deus é vida, é por não encontrar outra palavra
mais elevada; se Ele criou a Vida, a razão nos induz a dizer que Ele é maior que a Vida,
por ser o seu criador. Falamos que Deus é amor, mas se Ele criou o amor, é mais que o
amor. Se criou a verdade, indubitavelmente é superior à verdade. Se é o criador de todas as
leis universais, essa Luz Suprema é maior que todas as leis criadas. Em tudo que
raciocinarmos sobre Deus, estaremos diminuindo sua majestosa personalidade.”
Como se concebe, então, que no mundo atual se possa minimizar a grandeza do
Supremo Criador e Senhor do universo e da vida, a ponto de associá-Lo, ou confundi-Lo
com alguém que se locupleta com sacrifícios de animais, sente prazer no cheiro dos
holocaustos e vai à guerra, comandando um povo e ordenando atrocidades sem conta?
Pense nisso!

O papel de Jesus

Nossa humanidade pode ser comparada a uma criança. Quando pequena, os pais lhe
ensinam várias regras de conduta: não pode bater no irmãozinho, não deve tirar nada dos
outros, não deve quebrar as coisas, nem botar o dedo na tomada; não deve dizer nomes feios
etc. Se não obedece, os pais ralham com ela e até a castigam, caso necessário, a fim de
corrigi-la.
Ao crescer mais um pouco, já começa a seguir essas regras para fugir a censuras e
castigos, ou para agradar aos pais, por amor a eles.
Ao se aproximar da idade adulta, porém, já passa a guiar-se pelas leis comuns, não
mais por temer castigos ou para agradar aos pais, mas por compreender que esse é o seu
dever; que as leis existem para resguardar seus próprios direitos e preservar os alheios.
Também na infância da humanidade, vários líderes espirituais, sob inspiração divina,
criaram religiões com suas leis e preceitos, cada qual adequada à sua época e ao tipo
psicológico da raça.
O mesmo ocorreu com o povo israelita, cujo grande líder, Moisés, recebeu no monte
Sinai os Dez Mandamentos e criou uma série de leis complementares, muito severas,
próprias para educar aquele povo orgulhoso e indisciplinado. E nesse contexto havia sempre
o medo, porque toda desobediência era respondida com castigos.
Assim, com medo dos castigos, os israelitas cuidavam de obedecer às leis e, dessa
forma, iam acostumando-se à idéia de que não deviam matar nem roubar; que deviam
respeitar as coisas sagradas e adorar apenas a um Deus; que precisavam respeitar e honrar a
seus pais, não deviam mentir, nem prejudicar o próximo, e assim por diante.

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Quando aquele povo já havia assimilado as idéias de justiça e disciplina, veio Jesus
trazendo a lei do AMOR. E para que sua mensagem pudesse abrir caminho em meio à
mentalidade vigente, iniciando uma nova era para a humanidade, sua passagem pela Terra
foi marcada por fatos incomuns, culminando em seu sacrifício na cruz.
Esse sacrifício não teve o significado que lhe deram, o de resgatar com o seu sangue os
pecados do mundo. Isto não faz sentido, porque, sendo Deus onipotente, o máximo poder
do universo, autor das leis universais, poderia simplesmente perdoar os pecados do ser
humano, sem necessidade de sacrificar alguém, muito menos um inocente.
Essa idéia, a de sacrificar alguém em nosso lugar, é muito cômoda e injusta,
partida do egoísmo e hipocrisia humanos. Concorda?
Então, se lançarmos um olhar, sem qualquer preconceito, para a vida de Jesus na Terra,
analisando suas posturas e ensinamentos, perceberemos que realmente Ele não veio nos
salvar com seu sangue, mas nos ensinar uma ética de vida. Mas é importante observar que
os evangelhos sofreram ao longo do tempo inúmeras interpretações, interpolações,
enxertias, etc., sendo necessário buscar neles o espírito e não a letra.
E se adicionarmos a esse olhar os conceitos da reencarnação e da lei de causa e efeito,
perceberemos, com absoluta clareza, os caminhos do ser humano e os mecanismos da
evolução que o conduzem, no bojo dos milênios, rumo ao Pai.
Felizmente, hoje, com a humanidade entrando numa fase que poderia ser comparada à
sua adolescência espiritual, já começam a surgir conceitos mais coerentes em termos de
religiosidade. Esses conceitos vigoram como normas de conduta, praticadas livremente pela
criatura, mediante sua conscientização como ser cósmico que é, necessitado de conduzir-se
dentro de uma ética de vida superior.
São muitos os que já começam a entender que se pode buscar a verdade por vários
caminhos; que não há uma religião verdadeira, mas inúmeras facetas da verdade
apresentadas por filosofias e religiões, e que elas devem caminhar de mãos dadas,
trabalhando intensamente para que o homem melhore sua conduta, seus sentimentos,
tornando assim o mundo melhor.

Se as religiões prendem, a religiosidade liberta.

É muito difícil libertar-se de condicionamentos milenares, por mais incoerentes que


sejam.
Por isso estamos abordando essas questões com a coragem necessária, deixando
cristalinamente claro que já é hora de se colocar cada coisa em seu devido lugar; despir a
Bíblia dos véus de sacralidade e passar a vê-la em seus valores reais, aceitando o muito que
tem de bom e ignorando o que esteja ultrapassado ou não sirva como alavanca para o nosso
crescimento espiritual.
Nesse contexto, muitas pessoas que se guiam pela letra da Bíblia, crendo-a sagrada,
portanto infalível, fecham-se a novas, maravilhosas e libertadoras revelações oriundas da

13
espiritualidade superior. É o caso dos que se apegam a textos como aquele que diz que os
mortos nada sabem.
Ora, nesse ponto, como em tantos outros, a Bíblia contradiz a si mesma, porque em
inúmeras passagens eles aparecem, como no episódio da transfiguração (Mateus 17:3), no qual
Jesus conversa com os espíritos Moisés e Elias; também no caso da vidente de Em-dor, o
espírito de Samuel se apresenta para falar com Saul, e todos eles sabiam muito bem o que
diziam.
Outro texto a que se apegam para combater o Espiritismo está em Deut. 18:10, que
proíbe a consulta aos mortos.
Ocorre que os espíritas não consultam os mortos, mas realizam intercâmbio com
espíritos, não para consultá-los, mas para ajudar os que se encontram em sofrimento, tentar
aplacar o ódio ou a sanha dos que perseguem pessoas reencarnadas e receber
esclarecimentos, orientações e mensagens dos mentores espirituais.
Os apóstolos também faziam esse intercâmbio com espíritos conforme se vê na
epístola de João, cap. 4, quando diz: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes,
provai os espíritos, para saberdes se procedem de Deus”.
É fácil comprovar como a Bíblia contém inúmeras passagens em que são citadas
comunicações com espíritos, como, por exemplo, em 1 Pedro 3:18-20, quando este
apóstolo fala sobre o Cristo: “Morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, no qual
também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais noutro tempo foram desobedientes
quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé”. Ainda em 1 Pedro 4:6,
lemos: “pois, para este fim foi o evangelho pregado também a mortos, para que, mesmo
julgados na carne segundo os homens, vivam no espírito segundo Deus”.
Ainda sobre aquela ordem de Moisés proibindo a consulta aos mortos, que diria se lhe
apresentassem agora uma lei proibindo, sob pena de morte, pregar a independência do
Brasil? Veria logo que ela teria sido promulgada no tempo em que o Brasil era colônia de
Portugal. Seria absurdo alguém tentar cumpri-la hoje. O mesmo ocorre com a maior parte
das leis bíblicas.
Com relação ao Espiritismo, é o caso de se perguntar aos que o condenam, assentados
sobre textos bíblicos, o porquê de considerarem apenas aquela proibição e não todas as
demais. Dentre as centenas de determinações de Moisés, selecionaram apenas uma para
servir de bandeira às suas intenções.
Pela lógica, os que pugnam pelo cumprimento dessa lei que proíbe consultar os
“mortos” teriam de cumprir também todas as demais, dentre as quais podemos citar:
a) Quem não for circuncidado será morto (Gen. 17:14).
b) Quem fizer qualquer trabalho no dia de sábado será morto (Ex. 31:15).
c) O filho desobediente morrerá apedrejado (Deut. 21:18,21).
d) Quem se chegar a mulher casada, ambos morrerão (Deut. 22:22).
e) Mulher que se casa sem ser virgem morrerá apedrejada (Deut. 22:20/21).

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Então, acredita que alguém obedece a estas e a outras tantas leis do Antigo
Testamento?

O Consolador

Os conhecimentos que formam a Doutrina Espírita foram trazidos por uma plêiade de
espíritos superiores, sob orientação do Espírito da Verdade, aquele mesmo que foi
prometido por Jesus, quando disse, em João 16:12: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas
vós não o podeis suportar agora, mas quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará a
toda a verdade”. E em João 14:26, complementa: “... Ele vos ensinará todas as cousas e
vos fará lembrar de tudo que vos tenho dito”.
Que coisas eram aquelas que Jesus deixara de ensinar, porque “não poderiam
suportar?”.
É claro que naquela época Ele não poderia dar explicações mais diretas e claras sobre
reencarnação, lei de causa e efeito, vida após a morte etc., porque não O entenderiam, mas
prometeu enviar o Espírito da Verdade, no devido tempo, para dizer toda a verdade e
relembrar ao mundo os seus ensinamentos.
Dizem algumas religiões cristãs que o Consolador, o Espírito da Verdade, teria vindo
no Pentecostes. Mas no Pentecostes não se justificava alguém vir dizer toda a verdade,
posto que Jesus já havia dito tudo o que a humanidade daqueles tempos poderia suportar,
conforme Ele próprio afirmou. Além disso, naquele episódio não houve qualquer revelação.
Também não havia motivos para alguém vir relembrar os ensinamentos do Mestre, porque
estes estavam ainda muito vivos nas mentes e corações dos seus seguidores.
Mas no século XIX esses ensinamentos já estavam muito esquecidos pelos cristãos
quando o Espírito da Verdade veio, através da mediunidade, relembrá-los, trazendo ainda
todas aquelas informações e explicações que Jesus não pudera dar naquela época, quando
não poderiam entendê-Lo. Agora, porém, em outros níveis de conhecimento e depois de
tantos séculos de cristianismo, a humanidade já estava madura para receber mais
esclarecimentos sobre a vida, os mecanismos da evolução, o mundo espiritual, a
mediunidade etc.
Também o título, Consolador, ajusta-se como luva ao Espiritismo.
Há consolo maior do que saber:
a) que os nossos entes queridos que morreram não estão mortos, mas vivos,
continuando sua evolução numa outra dimensão de vida e que, eventualmente, poderão até
mesmo comunicar-se conosco através da mediunidade?
b) que ninguém irá para o inferno sofrer pela eternidade afora?
c) que os nossos entes mais caros, que “não aceitaram Jesus” nesta vida, não estão
perdidos por causa disso?
E aos que carregam terríveis pesos na consciência só pode haver consolo se informados
de que poderão um dia consertar o mal que fizeram, nem que seja numa futura encarnação.

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Quanto à reencarnação e à lei de causa e efeito (carma), elas explicam uma infinidade
de porquês, principalmente as diferenças existentes entre as pessoas, não só no que se refere
aos sofrimentos e oportunidades, mas também ao temperamento, natureza, grau de
inteligência etc.
Ora, se acreditamos que Deus é sábio, todo-poderoso, justo e bom, não dá para
entender porque faria uns nascerem com boa índole, sentimentos de religiosidade, conduta
firmada na ética etc., sendo candidatos naturais ao Céu, e outros com má índole, desonestos,
agressivos, perversos... Perfeitos candidatos ao Inferno.
Impossível entender como alguém justo e bom possa criar seres imperfeitos, com
tendências negativas, inclinações para o mal, para depois atirá-los a sofrimentos eternos;
arrancar dos braços das mães seus filhos pecadores para lançá-los no Inferno. Como essas
mães iriam sentir-se no céu, sabendo que aqueles a quem mais amam estão nos mais
tenebrosos sofrimentos, sem direito sequer a uma nova chance, e tudo isto pela eternidade
afora? Se um pai terreno jamais faria tão inconcebível atrocidade, como se pode imaginar
que Deus o fizesse?
Também é inconcebível acreditar que um Deus justo e bom pudesse criar seres,
fazendo-os nascerem, uns em condições míseras, limitados pela cegueira, surdez, paralisias,
deformações as mais diversas e outras tantas causas de sofrimentos atrozes, enquanto outros
nascem com saúde perfeita e em situações em tudo benéficas e favoráveis.

Não acha que realmente já está na hora de se começar a ver a questão religiosa
por ângulos mais sensatos e coerentes com esta época?

Por mais complexos e bem montados que sejam quaisquer arranjos teológicos, jamais
conseguirão explicar satisfatoriamente tantas diferenças no trato do Criador com suas
criaturas, sem a chave da reencarnação.
Mas o conhecimento das vidas sucessivas nos permite entender que somos hoje o
resultado do que fomos e fizemos em vivências passadas; que Deus não nos castiga por
nossos erros, mas os mecanismos das suas leis nos levam, através de situações adequadas,
ao resgate das nossas culpas e aos aprendizados de que estamos precisando.
É bom lembrar também que nossa consciência tem as leis divinas impressas em seus
registros, e é por isso que o ser humano traz em sua intimidade o conhecimento do bem e do
mal. Sendo assim, nenhum tipo de perdão, nem mesmo o divino, poderá acalmar uma
consciência pesada. Só mesmo o resgate poderá aliviá-la.
Uma consciência culpada – mesmo que essa culpa esteja arquivada no inconsciente,
tendo o fato gerador ocorrido em alguma vida passada – atua como um núcleo de energismo
específico que atrai situações de resgate. Então podemos entender por que tantas pessoas
são portadoras dos mais diversos problemas e sofrimentos, em muitos casos, desde o
nascimento. Podemos igualmente entender as questões afetivas, assim como, também, os
casos de ojerizas e ódios gratuitos entre pessoas próximas, até mesmo entre pais e filhos.
São espíritos endividados uns com os outros, em reencarnações de reajuste. E mesmo que
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não se lembrem desses porquês, eles estão presentes em seus inconscientes, e muitas vezes
se manifestam na forma de intuição.
Quanto às diferenças entre as pessoas, cada qual está vivenciando a realidade das suas
necessidades evolutivas.
Assim, podemos amar a Deus pela grandiosidade da sua sabedoria, pela justiça com
que rege a vida, e pelo amor cuja presença podemos sentir vibrando, desde a intimidade dos
nossos corações até a vida animal, e mesmo a vegetal.

Mas a reencarnação e a lei de causa e efeito também estão na Bíblia. Jesus deixou isto
muito claro, em algumas ocasiões.
No episódio da transfiguração, depois que conversou com Moisés e Elias na presença
de Pedro, Tiago e João, estes Lhe perguntaram: “Por que dizem os escribas ser necessário
que Elias venha primeiro?”. Ao que respondeu dizendo que Elias já viera, mas não o
reconheceram. Então os discípulos entenderam que Ele falava de João Batista. É claro, Elias
reencarnara como João Batista, cumprira sua missão e retornara ao mundo espiritual,
apresentando-se naquela ocasião em sua antiga forma, quando fora profeta do Antigo
Testamento.
“Se puderdes compreender, ele mesmo (João Batista) é Elias que devia vir (Mat.11:14)”.
Está claríssimo, João Batista era Elias reencarnado, o que ficou confirmado também em
outros textos:
“Mas eu vos declaro que Elias já veio e fizeram-lhe tudo o que quiseram. Então
compreenderam os discípulos que era de João Batista que lhes falava” (Mat. 17: 12 e 13).
“E Jesus perguntou aos seus discípulos: Quem dizem os homens que eu sou? E
responderam: uns, João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou algum dos profetas”
(Mat. 16:13 e 14).
Como poderia ser Jesus algum desses profetas do Antigo Testamento, a não ser pela
reencarnação?
Já com Nicodemus, doutor da lei, o Mestre foi mais explícito:
“O que é nascido da carne é carne; o que é nascido do espírito é espírito; não te
admires de eu dizer: Necessário vos é nascer de novo” (João 3:6).

Conforme Jayme Andrade, no já citado livro O Espiritismo e as Igrejas Reformadas,


também alguns “Pais da Igreja” acreditavam na reencarnação.
São Gerônimo afirmou que a “doutrina das transmigrações (reencarnações) era
ensinada secretamente a um pequeno número, desde os tempos antigos, como uma verdade
tradicional que não devia ser divulgada (Hyeron, Epístola ad Demeter)”.
Santo Agostinho escreveu: “Não teria eu vivido em outro corpo, ou em outra parte
qualquer, antes de entrar para o ventre de minha mãe?” (Confissões, I, cap. VI).
Orígenes chegou a tecer judiciosas considerações sobre certos trechos da Escritura,
dizendo que “atirariam o descrédito sobre a Justiça Divina, se não fossem justificadas
pelos atos bons ou maus praticados em existências passadas”.
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Também as pesquisas científicas sobre reencarnação têm avançado muito, deixando os
pesquisadores plenamente convencidos de que é ela uma lei natural.
Poderíamos apresentar ainda centenas de argumentos dos mais fortes, para legitimar o
conhecimento espírita, o que não caberia num trabalho como este. Mas podemos afirmar
que essa Doutrina, mediante as informações sobre reencarnação e lei de causa e efeito, nos
possibilita perder o temor a Deus, passando a amá-Lo conforme exortações de Jesus.

Futuro das religiões

Assim, se pensarmos a questão religiosa com mais liberdade mental, sem preconceitos,
podemos concluir que o futuro das religiões deverá estar na religiosidade e não nos formatos
religiosos, mesmo porque está muito claro que não existe uma religião certa, verdadeira ou
legítima, porque nas centenas que existem há sinceridade, há verdade, há Deus, mas com
interpretações distintas. Não se pode então dizer que tal ou qual é a verdadeira. Todas
representam parcelas da verdade e são de procedência divina, desde que sua meta seja a
busca do divino e, com ela, o crescimento interior do ser.
Essa diversidade de religiões é perfeitamente natural, porque atende a todos os tipos
psicológicos.

A humanidade vai ganhar muito quando entender que a verdade está um pouco
com todos e de forma plena, com ninguém, a não ser com o próprio Criador.

Caro leitor, já perguntou a si mesmo por que o mundo vem mudando tão rapidamente,
desde a metade do século XX?
Os espíritos dizem que é porque vamos mudar de grau. De mundo de provas e
expiações a Terra irá passar a mundo de regeneração, ou seja, um estágio mais avançado,
em que a felicidade verdadeira já começa a existir. É assim que as humanidades planetárias
evoluem, no curso do tempo, no bojo dos milênios.
Então, vai refletir sobre todas estas questões? Vai permitir a si mesmo esse passo
evolutivo que o libertará de tantos conceitos, preconceitos e amarras psicológicas?
Ou vai continuar atrelado a leis e costumes que foram válidos para tempos muito
antigos, mas que não servem mais, por se mostrarem incoerentes e absurdos para o
momento atual da humanidade, e se tornam nulos ante os embates com a razão e o bom
senso?
Vai continuar bloqueando sua razão para poder continuar na sua comodidade,
aceitando o inaceitável?
Esse “nascimento cósmico” para a verdade é um parto muito difícil, mas indispensável,
a não ser que queira continuar flutuando inerme e sem lucidez espiritual nesse útero da
natureza, até que o fluxo da vida, nas dobras do tempo infinito, o faça despertar. Esse “parto
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cósmico”, além de difícil, é também de longa duração porque, por muito tempo ainda, lhe
surgirá o medo de estar pecando contra Deus e, como conseqüência, de vir a sofrer castigos.
Para começar a libertar-se – caso ainda continue jungido às antigas leis e mentalidade
–, importa refletir em torno de todas estas questões, convencer-se de que Deus não castiga,
mas que as suas leis justas, sábias e amorosas conduzem o ser através dos evos; que Jesus
veio para atualizar as leis do Antigo Testamento (Dizem os antigos: “olho por olho, dente
por dente”; mas eu vos digo: não resistais ao mal, perdoai setenta vezes sete vezes; amai a
Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos), e que o Espírito Verdade
veio pôr todas as coisas em seus devidos lugares, conforme afirmou o Mestre, trazendo
novas informações e conceitos mais adequados ao entendimento do homem do século XXI.
E agora, caro leitor, depois de todas essas análises e reflexões, se você ainda não
conhece Espiritismo em sua essência, sugerimos que comece a fazê-lo. Mas faça-o de forma
correta, começando pela leitura de O Livro dos Espíritos, com suas 1.018 perguntas
elaboradas por Allan Kardec e as respostas que foram dadas pelos espíritos superiores.
Mas se você não é muito dado a leituras mais aprofundadas, poderá ter uma idéia
generalizada sobre o assunto no livrinho de nossa autoria Nós e o Mundo Espiritual, e pode
também visitar o site www.mundoespiritual.com.br .
Se, depois de tudo, você ainda não consegue desvincular-se de idéias estratificadas em
seu psiquismo, continue com suas crenças, sob as bênçãos de Deus, mas procure ser, acima
de tudo, uma pessoa de bem.

Quanto ao Espiritismo, sem ser propriamente uma religião, tem as seguintes


características:
a) apresenta um leque de informações e esclarecimentos que convergem para a
religiosidade, já que, pelo conhecimento das leis naturais, indica Deus como a inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas, e o que se possa entender como sendo a
perfeição absoluta em todos os seus aspectos;
b) tem Jesus como modelo, e suas atividades são inteiramente gratuitas e direcionadas
exclusivamente ao Bem;
c) pugna pela ética, pela alteridade e pelo amor nas atitudes e nas ações, ao entender
que nesses valores estão os fundamentos da própria Vida e a ciência do bem-viver;
d) ensina que não estamos precisando nos salvar, porque ninguém está perdido, mas
sim evoluir, conforme o Mestre exortou: “Sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai
Celestial”; lembrando que essa perfeição será alcançada através das lutas, dores e alegrias,
em incontáveis experiências ao longo das reencarnações;
e) informa que a pátria espiritual, para a qual retornamos pelas portas da morte,
representa um universo em outra dimensão de vida, tão vivo e tão dinâmico quanto o mundo
físico; que ali há zonas vibratórias inferiores, de muitos sofrimentos, habitadas pelos
espíritos mais atrasados ou mais endividados com as leis cósmicas, outras intermediárias e
ainda outras mais elevadas, verdadeiros paraísos de paz e felicidade; que a estadia dos
espíritos em zonas inferiores tem conotação purgativa, podendo eles ser de lá resgatados,
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em razão de arrependimento sincero, e que ali também habitam espíritos francamente
votados ao mal, seres endurecidos e perversos, mas que esses também um dia, arrependidos,
poderão retomar sua caminhada evolutiva em direção à Luz;
f) é o Consolador prometido por Jesus, mostrando que nossos entes queridos não se
extinguiram com a morte, mas passaram para outra dimensão de vida e que podem,
eventualmente, comunicar-se conosco através da mediunidade;
g) estuda e conhece a mediunidade, aplicando-a na ajuda a espíritos sofredores, a
pessoas necessitadas e para receber orientações e esclarecimentos dos espíritos benfeitores;
h) não usa rituais, paramentos, nem materiais como velas, defumadores, imagens... por
entender que o caminho para a Luz está em nossa vivência e não em atos exteriores;
i) não adota práticas divinatórias como “baralho”, “jogo de búzios” e assemelhados,
informando que os espíritos superiores não se prestam a solucionar problemas do cotidiano,
posto que não são nossos empregados nem babás, mas sábios educadores trabalhando pela
nossa evolução;
j) também não realiza “trabalhos” como “desmanchas”, “abertura de caminhos” e
assemelhados, mas ensina que a vivência no bem nos livra de inúmeros males;
l) foi codificado por Allan Kardec na metade do século XIX, através de perguntas
respondidas por espíritos superiores, e essas informações continuam sendo pesquisadas por
universidades, estudiosos e cientistas, assim como profissionais da saúde, em diversas
partes do planeta, os quais as vêm confirmando uma a uma.

Jesus ensinou e exemplificou um modelo de conduta adequada a toda a humanidade, e


a Doutrina Espírita esclarece quanto aos mecanismos da vida e da evolução. É a ciência
espiritual que se entrelaça com a material, tanto assim que esta última, apesar de pesquisá-
la, testá-la e experimentá-la há mais de século e meio, jamais conseguiu desmentir uma só
das suas teses.
Não há hierarquias no Espiritismo. Para que haver intermediários entre a criatura e o
Criador, intermediários tão imperfeitos quanto os demais seres humanos? Nos seus ensinos,
Jesus sempre situou cada qual como o único responsável por si mesmo, não por graças de
qualquer natureza, mas tão-somente pelas atitudes, omissões e ações vivenciadas no
cotidiano. Observe-se que Ele nem mesmo criou qualquer religião, mas ensinou uma ética
de vida e colocou a fraternidade, o amor posto em ação, como caminho único que leva o ser
de retorno ao seio do Pai.
O Espiritismo é a doutrina da lógica e do bom senso, e, através dos seus enfoques
podemos verdadeiramente amar a Deus, jamais temê-Lo.

Se você teme ou odeia o Espiritismo por causa das interpretações bíblicas que lhe
foram inoculadas na mente, leia ou volte a ler a Bíblia, mas sem preconceitos, sem medo de
estar ofendendo Deus com suas dúvidas e questionamentos, pois Ele não se ofende com os
nossos erros, muito menos com nossos esforços de crescimento.

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Agenda Mínima

Se você está desejoso de dar maiores passos em sua evolução espiritual, vamos
transcrever um resumo da Agenda Mínima para evoluir, de nossa autoria que, certamente
irá ajudá-lo bastante.

É fácil observar o quanto, em nosso esforço evolutivo, vimos desperdiçando forças em


ações esporádicas e dispersas que dificilmente conseguem promover um seguro crescimento
espiritual.
Além disso, há a questão da metodologia. Buscando nossa evolução espiritual,
geralmente trabalhamo-la na superfície, procurando controlar os efeitos, ou seja, nossos
pensamentos, palavras, sentimentos e ações, visando adequá-los aos modelos que elegemos.
Assim, cuidamos dos efeitos e não das causas. Daí, as grandes dificuldades que
encontramos, entravando nossos processos evolutivos.
Portanto, é necessário ir à raiz, às causas.
Foi dessas reflexões que surgiu a idéia de uma agenda mínima para resumir todo o
processo evolutivo em apenas poucos pontos, e de ir à raiz, ao alicerce, ou seja, priorizar a
ação evolutiva a partir dos estados de espírito que são o fundamento de todos os nossos
movimentos de vida.
Assim, cuidando desse “clima interior”, estaremos facilitando sobremaneira a vivência
de atitudes mais condizentes com o nosso momento evolutivo.
Podemos então resumir todo esse processo em apenas sete pontos, sendo quatro
essenciais e três complementares.

Os quatro pontos essências são estados de espírito.

O primeiro e mais importante de todos é a afetividade. É ela uma expressão do amor e


contempla grande número de ações e atitudes ensinadas pelos Grandes Mestres.
A afetividade nos predispõe à mansidão, ao perdão, e a ver o outro com um olhar mais
fraterno, mais solidário.
A presença de uma pessoa afetuosa tem o poder de transformar o ambiente onde
estagia, seja no lar, no local de trabalho, ou outro qualquer. Mas para isso a afetividade
precisa ser real, verdadeira, não simulada ou daquele tipo que é cultivado apenas em certos
momentos e situações.
Desenvolver afetividade nos estados de espírito é gerar transformação nas
profundezas do ser.

O segundo ponto é a alteridade. Pode-se dizer que ela reflete uma leitura mais clara de
uma realidade maior, nos informando que nunca somos os “donos da verdade”, porque esta
pertence ao Criador, e que sempre temos o que aprender, mesmo com aqueles que por
alguma razão poderíamos considerar inferiores a nós.
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Pode-se dizer que ela representa o respeito que devemos ter para com todos, além da
disposição para aceitar e aprender com os que são e pensam diferente de nós. É a elevada
compreensão de podermos olhar o outro como se estivéssemos em seu lugar. É também a
construção da fraternidade apesar das divergências, respeitando-as e procurando aprender
com as diferentes opiniões. Mas não significa deixar de discutir, debater, questionar. A
discussão, o debate e o questionamento são saudáveis quando se respeita o outro, a sua
maneira de ser e de pensar. É, sem dúvida, o veículo capaz de conduzir a humanidade para a
tão esperada nova era, uma era de paz.
Um estado de espírito alteritário nos ajuda a desenvolver humildade e tolerância.

O terceiro dos pontos essências é a humildade, ou seja, uma percepção clara da nossa
real condição espiritual, isto porque os bens terrenos não devem constar dessa avaliação, por
não nos pertencerem de fato. Somos verdadeiramente donos apenas das nossas construções
interiores.
Se essa percepção for para mais nos levará ao orgulho, porque a idéia de sermos mais
evoluídos do que nossa realidade, acarreta envaidecimento. Em razão da nossa pouca
evolução, estamos ainda muito predispostos a cair nessa ilusão.
Se a forçarmos para menos, isto nos levará a uma situação irreal e à diminuição da
nossa auto-estima, o que é prejudicial para nossa vida e evolução.

O quarto dos pontos essenciais é o contentamento.


É importante desenvolver os valores que nos tornam pessoas melhores, mais maduras,
presenças sempre benéficas. Mas quanto a nós? O que fica faltando para alcançarmos a
plenitude? Onde ela se encontra? Certamente está no coroamento dos valores da alma, o
contentamento, que é a nossa vibração de vida.
Pense numa pessoa afetuosa, alteritária, que já tenha adquirido os valores da
humildade, mas triste, desalentada, arrastando sua cruz vida afora. É como um pássaro de
uma só asa. Como levantar vôo para novas conquistas espirituais, se falta essa seiva de vida,
o contentamento?
Temos então quatro pontos essenciais, que são estados de espírito, para serem
desenvolvidos continuamente, memorizando-os, trazendo-os sempre à mente e cuidando de
senti-los vibrando na intimidade da alma.

Chegamos agora aos pontos complementares, que estão na mente e na vontade.

O primeiro é o equilíbrio, um dos mais importantes valores do ser, que possibilita


maior número de acertos e evita muitas quedas. É irmão gêmeo da sabedoria e deve estar
sempre presente em todas as nossas movimentações de vida.
Usando de equilíbrio saberemos como agir com afetividade, norteando os
envolvimentos de forma a não transformá-los em algemas, ou em dependência de qualquer
natureza.

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Na alteridade, o equilíbrio é fundamental para orientar nossas reflexões, debates ou
discussões com serenidade, isenção de ânimo e maturidade, possibilitando gerar as mais
acertadas conclusões.
Na humildade é o suporte necessário para não cairmos nos extremos, sempre
prejudiciais.
No contentamento evita exageros e falsas exibições.
Em todos os atos e passos do nosso existir o equilíbrio é valor fundamental, porque nos
proporciona um alicerce necessário ao correto entendimento de tudo. Representa a
maturidade despontando em quem o possui.

O segundo dos pontos complementares desta agenda mínima é sentirmo-nos


comprometidos com a coletividade em que nos inserimos, com seu bem-estar, com sua
evolução; comprometidos, e com maior empenho, com nossa própria evolução espiritual,
priorizando-a em todos os momentos e em quaisquer situações.

Mas para que nossos propósitos evolutivos não fiquem só na teoria, é preciso que se
transformem em atitudes, o último dos pontos complementares.

Assim, com estes sete pontos na mente, bem memorizados, é só começar a trazê-los
para o cotidiano, procurando desenvolver continuamente estados de espírito afetivos,
alteritários, de humildade e de contentamento; ter como diretriz o equilíbrio; sentir-se
comprometido com o bem-estar da coletividade em que está inserido e com a própria
evolução, procurando materializar esses propósitos em atitudes.

No final de tudo, porém, podemos entender que as nossas convicções em termos de fé


podem atrasar ou acelerar nossa evolução espiritual, mas elas começam a perder
importância diante da maior das realidades, o amor. Se procurarmos amar a Deus e se
amarmos o próximo como a nós mesmos, transformando esse amor em atitudes, seremos
verdadeiramente seguidores de Jesus.

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