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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

RESENHA DO LIVRO DISCURSO SOBRE O COLONIALISMO, DE AIMÉ CÉSAIRE

CURITIBA
2018
JEFFERSON SLEDZ
RESENHA DO LIVRO DISCURSO SOBRE O COLONIALISMO, DE AIMÉ CÉSAIRE

Trabalho solicitado pelo professor Hector


Hernandez, como parte do processo avaliativo
da disciplina de História da África do curso de
História da Universidade Federal do Paraná.

CURITIBA
2018
Introdução
O que se pensa quando é apresentado o termo civilização? A definição,
segundo o dicionário é a de conjunto das características próprias da vida intelectual,
social, cultural, tecnológica etc., que são capazes de compor e definir o
desenvolvimento de uma sociedade ou de um país. Condição daquilo que se
encontra em avanço; desenvolvimento cultural; progresso. Bem, parece que não
apenas para Aimé Césaire este termo pode soar controverso dado os contextos em
que houve sua utilização. Em Discurso sobre o colonialismo, sua obra lançada em
1978, o autor discorre, entre outros temas e aspectos, algumas das oposições de
sentido ou a própria falta de sentido em tomar tal definição em relação aos
processos históricos tratados, em específico o empreendimento do colonialismo. O
livro que apresenta em partes uma atitude de escárnio, um “esculacho” a respeito
das violentas formas de exploração e dominação Européia que o colonialismo
exerceu sobre os povos não europeus por via de narrativas que tentavam justificar a
sede de acúmulo e controle e as consequências catastróficas e imensuráveis de tais
“medidas”. Assim, o livro que é dividido em 6 capítulos, logo de início apresenta um
dos seus tópicos centrais: o problema do proletariado e o problema colonial criados
e não resolvidos pela “civilização européia”.
Posteriormente, subtemas são colocados e nos quais se discorre, por
exemplo, sobre os impactos extremamente negativos da “falácia civilizatória” sobre
os povos e que geraram grandes catástrofes para o bem estar humano daqueles
tidos como “selvagens”; as narrativas que tentaram justificar a desigualdade entre os
povos por meio da hierarquia de raças - com base em inferioridades biológicas,
culturais, espirituais, a fim, ditar um tipo de natureza humana - e tudo isso na
empreitada de de progredir com o negócio colonial ao subjugar os chamados
“nativos”. Ele expõe diversos discursos de autores que perpetuavam e legitimava o
chamado “colonialismo saqueador” e os satiriza com muita sagacidade dado a
vontade destes em empurrar a força uma narrativa de forma descarada. Ainda, Aimé
retrata sua posição anti e ante-capitalista por conta das condições necessárias para
que esse sistema seja sustentado e o tipo de interação comunitária e cooperativa
que se oculta nesse; aborda a relação coisificada entre colonizador e colonizado, e
de forma geral a desumanização - e portanto, o fracasso - decorrente da iniciativa de
uma burguesia que buscou impor seus valores. Por fim, ele aponta a necessidade
de estabelecer novas formas de “civilidade” com base ao respeito aos povos e
culturas e esta tarefa está, segundo ele, nas mãos do proletariado, rumo a uma
sociedade sem classes. Isto posto, vamos a descrição da obra e posteriormente a
discussão e considerações finais.

Desenvolvimento
Logo de início, o autor diz que a Europa é indefensável e isso se deve ao
fato do tipo de sociedade e civilidade que a conforma. O problema do proletariado e
o problema colonial são “frutos” de um regime burguês que incitado aos acúmulos,
ao “saqueamento” se utiliza de uma narrativa que objetiva apenas em aparência a
salvação dos não europeus. Em outras palavras, não há mais como esconder; está
escancarado o que foi o colonialismo: não é uma boa intenção, pelo contrário, trata-
se da dominação e exploração violenta por recursos, da intenção de acúmulo a todo
custo, nem que isso custe sua dignidade. O autor fala em equações desonestas, tal
como a do cristianismo = civilização e paganismo = selvagerismo e que
exemplificam os tipos de valores polarizados e distorcidos do respectivo tipo de
sociedade. No mais, reforça que haviam melhores caminhos do que optar por
etnocentrismos - nos quais se ganha um ar de superioridade inata de determinados
grupos sobre outros - ou mesmo pelo relativismo moral. Aimé constata que o que se
considera por civilização está bem distante de uma colonização e se o intuito fosse
realmente resgatar um valor humano, foram tomadas decisões mais que
equivocadas por aqueles que se consideram “civilizados”.
Em seguida, Aimé reflete sobre os impactos extremamentes negativos da
“atitude civilizatória” sobre os povos - escravidão, chacinas, degradações, enfim,
punições em geral ao bem estar humano com o colonialismo e a sociedade de
mercado. Ele sustenta, que ao se tentar afirmar uma desigualdade entre as
pessoas, as culturas, ao estabelecer algum tipo de critério que justifique a
superioridade e a inferioridade inerente a natureza de grupos ou indivíduos em
detrimento de outros, se está legitimando essas formas de exploração e domínio e
mais, até figuras como a de Hitler. De acordo com o autor, ”somos cúmplices do
nazismo; o legitimamos pois só havia sido aplicado a povos não europeus e se
tornou algo preocupante ao se voltar a situação para o homem branco europeu”.
Segundo ele, Hitler almejava ampliar as desigualdades e fazer delas lei; Césaire
também afirma que “ao fim do capitalismo, desejoso de perpetuar-se, está hitler”.
Em resumo, a semente do nazismo foi plantada já tem um bom tempo ao se utilizar
de tais justificativas para colonizar outros povos, porém, ela retorna sobre quem as
plantou e agora toma a forma do absurdo por conta de sua inconveniência, da
incapacidade de um sistema de produção em sustentar direitos humanos e formar
uma moral individual, portanto um “efeito boomerang” daquilo que realizaram no
passado, o que ele chamou de negação da civilização.
Para ele, a colonização se define como “a cabeça de ponte da barbárie em
uma civilização, da qual pode chegar a qualquer momento a pura e simples negação
da civilização”. Por exemplo, ele faz crítica a Renan, um defensor do poligenismo,
em sua exposição tentando justificar e perpetuar a desigualdade, incluindo aquela
racial; inferioridade, incapacidade conforme “raças”. Mais um exemplo é quando cita
outros autores que em nome de deus, tentam justificar a expropriação de não
europeus; “já era hitler quem falava” afirma Aimé. Ademais, retrata a colonização
como um processo de coisificação. Sendo este processo um tipo de alienação que
desumaniza os homens, faz com que tanto colonizadores como colonizados tenham
seus comportamentos modelados; Nas palavras do autor, “a colonização
desumaniza o homem, mesmo o mais civilizado ao se desprezar os homens nativos
ao tratar o outro como besta, ele próprio se torna uma besta”.
Desse modo, conforme o autor, ocorre a tal coisificação do outro e de si e
portanto não se trata de uma relação de pessoas e sim de coisas, em particular, o
primeiro é o vigilante, que ordena e o segundo se torna apenas um mero
instrumento de produção, submisso, em função dos negócios que são pautados pela
brutalidade, violação, desprezo e pela cultura imposta. Complementa citando
aquelas civilizações que foram destruídas pela colonização, tal como a dos Astecas
e dos Maias. Sugaram todos os recursos dos nativos ou se os mantiveram foi para
dar sequência na exploração forçada dos instrumentos de produção; “como uma
doença que se espalha” quando não dizimaram civilizações inteiras como foi a dos
exemplos apontados acima e se para isso se utilizaram de tiranos a medida da
compensação do interesse; Como consequência, o autor se coloca em prol da
sociedades ante e anticapitalistas, dominadas pelo imperialismo. Para ele, “estas
eram comunitárias, cooperativas e apesar de seus defeitos contentavam-se em ser
(...) falam da civilização, eu falo da proletarização e mistificação” ao se referir ao
“grande sucesso dessas empreitadas ocidentais”.
Para mais, Aimé nos informa que os colonizadores levam esse “grande
sucesso ao pé da letra”, alegando que foram processos necessários ao avanço
material e os contrapõe afirmando que poderiam ser tomadas outras vias para um
avanço; questiona o que seria dos avanços se não fossem a mão européia e
conclui: “hoje é o colonizado que quer ir mais longe e o colonizador o atrasa” e
assim expondo as contradições em relação às justificativas dos colonizadores.
Adiante, ele faz menção e demonstra seu desprezo quanto àqueles autores ligados
ao racismo científico, as teorias de carência cultural, de caráter teológico e assim
por diante. Também aponta aqueles que fazem o serviço sujo de perpetuar e
legitimar a sociedade ocidental burguesa quando ocultam a realidade ou a
reproduzem de maneira reificada ou alegam a impossibilidade de progresso de
maneira seletiva, os chamados por ele de “cães de guarda do colonialismo e
envergonhados do colonialismo saqueador”.
Ainda, Césaire aponta que a burguesia vai carregar o fardo histórico como
consequência do impacto negativo sobre as configurações sociais - incluindo o
capitalismo. Por conceber a animalização de povos nativos e estabelecer a
consciência de espírito superior no capitalismo, de se considerar a detentora e única
capaz de ditar o que é científico, religioso, o moral, etc. Em oposição, o autor
destaca que muito antes outras civilizações - tal como a egípcia, assíria, o Islã, os
árabes - produziram conhecimento e estabeleceram éticas de grande valor, inclusive
sendo apropriadas pelos próprios Europeus. O fracasso da proposta de um
verdadeiro humanismo salta aos olhos e permanece no plano da retórica mal
intencionada.
Por fim, os valores burgueses com a empresa colonial, segundo ele, dada
suas consequências catastróficas, precisam ser alterados com objetivo de criar uma
política de respeito aos povos e as culturas. Nas palavras de Aimé, “a substituição
da tirania de uma burguesia desumanizada pela preponderância da única classe que
tem uma missão universal, porque sofre em sua própria carne todos os males
universais: o proletariado”. Em suma, dada a insuficiência desse modelo e proposta
de sociedade - o que está mais para um individualismo famigerado - é necessário
configurar um novo modelo no qual o bem estar humano, em uma sociedade sem
classes, seja o tomado como horizonte mas com os pés no chão - não explicitado na
obra mas se trata de um Socialismo que é um modelo social e econômico que se
caracteriza por objetivos como a emancipação e a libertação humana.
Discussão e considerações finais
Ao meu ver, o discurso de Aimé Césaire consegue sintetizar com certa
precisão as decorrências de períodos históricos marcados pela exploração e
dominação violenta de povos, as narrativas que sustentam essas práticas e quais
eram os objetivos, ao fundo, de todos esses períodos de luta. Como analogia, me
aparece a imagem de quadros e molduras cobertos de sangue, paisagens e seus
recursos sendo disputadas, a tela que grita episódios de pessoas aos gritos odiosos,
de choro, de lamento, de raiva, uma mistura de todo o potencial caótico, da cobiça,
do cúmulo do acúmulo, a falta de túmulos, cruzes no apoio dos corpos.
De certo que não posso criticar estes fatos cuspidos feito magma pelo autor.
A sociedade burguesa concretizou essa catástrofe e já está vencida como um
produto estragado. A segregação, a miséria, o individualismo, o acúmulo, as
opressões entre tantas outras condições são sombras de um monstro criado, que é
bem real e fora rememorado por Aimé. O que me sobra aqui, por outro lado, é
questionar a alternativa que autor sugere, por mais que me pareça ser o tipo de
prescrição adequado e que eu queria de coração. Questiono os caminhos de atingir
o bem estar humano… sei que não é uma tarefa simples. A proposta em questão,
que pareceu a de um Socialismo, ao meu ver esbarra em mais um tipo de
universalismo como tantos outros criados como formas de controle. Infelizmente me
soa como mais uma igreja. Acredito que a única saída é pela educação, o que a
respectiva visão considera como meio de submissão ao modelo social, de formação
de obra e assim por diante.
Referência

CÉSAIRE, A. (1978). Discurso sobre o colonialismo. Livraria Sá da Costa, Lisboa.

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