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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

A IMPORTÂNCIA DO TOQUE E DO AFETO PARA O


DESENVOLVIMENTO GLOBAL DO INDIVÍDUO

TALITA FONTINHAS RASEL

RIO DE JANEIRO

NOVEMBRO/2009
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TALITA FONTINHAS RASEL

A IMPORTÂNCIA DO TOQUE E DO AFETO PARA O DESENVOLVIMENTO


GLOBAL DO INDIVÍDUO

TRABALHO DE CONCLUSÃO PARA O CURSO DE PSICOLOGIA

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

ORIENTADORA: PROFESSORA EUNICE DO VALE MADEIRA

RIO DE JANEIRO

NOVEMBRO/2009
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Dedico este trabalho à minha avó e amiga, Hilda, e ao meu filho, razão
pela qual este trabalho foi realizado.
4

Agradeço, sobretudo a Deus, por ter me dado forças para transpor os


obstáculos que se transpuseram frente a minha caminhada.
Aos familiares, amigos e corpo docente, agradeço pelo incentivo, confiança e
conhecimento.
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RESUMO

Este trabalho se dedica a abordar como o suporte tátil recebido desde cedo, e
a sua continuidade nas etapas futuras do desenvolvimento, contribui para a
saúde física, psicológica e social do indivíduo.
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Sumário

Capítulo 1 Relação Mãe Bebê


1.1 Amamentação
Capítulo 2 O Toque como meio de perceber o mundo e a si mesmo
2.1 O valor da massagem
2.1.1 Massagem Energética
2.1.2 Massagem Toque de Borboleta
2.1.3 Massagem Shantala
2.2 Método Mãe- Canguru (MMC)
2.2.1 Benefícios Afetivos do MMC
Capítulo 3 O Toque em diferentes estágios da vida humana
3.1 Infância
3.1.1 Consequências da Privação de Contato/ Afeto na Infância
3.1.2 Crianças em Idade Escolar
3.2 Adolescência
3.2.1 A Descoberta da Sexualidade
3.3 Maturidade
3.4 Terceira Idade
3.4.1 A importância dos contatos sociais para os idosos
3.4.2 Sexualidade e Afetividade na Terceira Idade
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INTRODUÇÃO

Este trabalho se propõe a abordar a relevância do Toque para a constituição


psicológica, física e social do ser humano. De forma pontual irei percorrer as
etapas do desenvolvimento me detendo mais particularmente na primeira
infância, dada a oferta de conteúdo literário, e a importância que se verifica
nesta fase para a constituição individual.
A teoria de Donald Woods Winnicott permeia o corpo desta monografia, a
engrandecendo com conceitos tão paralelos ao objetivo do trabalho.
Especialmente no capítulo um, onde discorro sobre a relação mãe-bebê, sua
obra fala tão bem da importância deste contato inicial que culmina em uma
simbiose inicial sadia. Esta intimidade que decorre da relação mãe-bebê
propicia ao neonato a oportunidade de ser através da mãe, de seu seio, e
atesta a ele uma existência para além da sua, configurando um sentimento de
tranqüilidade através do manejo e da segurança que sua mãe lhe propicia
através da sustentação física e emocional.
Desde tão tenra idade o ser humano aprende a linguagem do tato, e é
através dela que, primeiramente irá se comunicar, e também será comunicado
sobre um mundo que pode lhe fazer se sentir amado ou odiado, protegido ou
desamparado. Tamanha é essa percepção do mundo através do tato, que sem
o mesmo o indivíduo pode sofrer atraso no desenvolvimento da fala, do
crescimento, cognitivo e social.
Não seria de se espantar a importância que verificamos no contato físico
se pensarmos que o maior órgão do corpo humano é justamente a pele. Esta
receptora de estímulos comunica ao cérebro tudo o que ocorre fora dela, e é
capaz de traduzir intenções, sentimentos, emoções e medos. Por tudo isso que
o toque é um comunicador de emoções capaz de levar a vida e de sentenciar à
morte.
O contato pele-a-pele é vital para a sobrevivência física e emocional. Neste
contexto abordarei o Método Mãe-Canguru como um meio de garantir a
sobrevivência de bebês nascidos a pré-termo e como agente facilitador da
criação de laços afetivos entre mãe-bebê.
A relação dos pais com este novo bebê vai sendo construída através dos
cuidados dispensados à ele, do contato pele com pele, do alimentar, do
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embalar. A maternidade, assim como a paternidade, não se instala no indivíduo


quando o bebê nasce, mas vai tomando forma a cada vez que ambos são
capazes de perceber em seu filho suas necessidades e particularidades. Aos
poucos, aquele bebê antes idealizado pelos pais, consegue conquistar seu
espaço, tal como ele é. Porém só com a interação entre os pais e o bebê que
esse reconhecimento pode ser instituído, possibilitando a segurança, afeição,
respeito e amor entre todos os participantes desta relação.
Como podemos perceber muito do desenvolvimento na esfera social,
cognitiva e afetiva se assenta nos primeiros anos de vida. Embora a
importância desta etapa seja verificada em inúmeros estudos, os quais são
apontados no decorrer do trabalho, ela não extingue a contribuição que as
demais etapas proporcionam ao ser humano. A cada fase da vida a maneira do
tocar se configura de acordo com a necessidade momentânea. No decorrer do
terceiro capítulo, o Toque é abordado em cada etapa do desenvolvimento
humano, levando em consideração a sua importância e necessidade para cada
indivíduo.
O ser humano é dotado de inúmeros sentidos, que com o tempo tendem a
sofrer uma queda em sua acuidade, no entanto, a sensibilidade da pele é algo
que permanece independente da idade. Seja na infância, adolescência,
maturidade ou terceira idade, a necessidade da troca com o outro se faz
presente. O ser humano sozinho não existe; a condição de mamíferos nos faz
preferir o convívio em grupos, e é exatamente através do contato físico que ele
pode se sentir incluído neste grupo ou não.
Mas quando falo de Toque e de sua importância, falo também de tudo que
nos toca de alguma forma. Verificamos isso quando abordo a questão do olhar
na relação mãe-bebê. Inicialmente, o bebê sem conhecimento de si como
outro, encontra no olhar materno (ou de quem cuide dele) a possibilidade de se
conceber como indivíduo. A forma como ele é olhado desperta nele uma idéia
de quem ele é; dessa forma podemos dizer que uma mãe que não empresta
seu olhar como espelho para seu filho se ver, estará contribuindo
possivelmente para que ele tenha problemas na sua identidade enquanto
sujeito.
Existem inúmeras formas de tocar, seja fisicamente quanto
emocionalmente. O carinho em um idoso é capaz de aplacar a sede afetiva que
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o consome; a brincadeira para uma criança doente é capaz de afastar os


fantasmas da dor. Seja no olhar afetuoso que toca o outro, no Toque
propriamente dito através de carinhos e massagens, ou na relação sexual, o
Toque acompanha o ser humano por toda sua vida.
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CAPÍTULO 1 RELAÇÃO MÃE-BEBÊ

A criança já pertence ao mundo dos pais antes de seu nascimento


biológico; ele já possui um nome, um quarto e um rosto imaginado por seus
pais. Segundo Cavalcanti (2008), o bebê é revestido pelo imaginário que povoa
o ideal de criança dos pais e familiares, mas também é abrigado por um lugar
simbólico que antecipa o terreno em que poderá nascer um sujeito sempre
oscilante entre vontades conscientes e seus desejos inconscientes.
Este lugar é um espaço psíquico criado pelo desejo dos pais, que recebem
este filho não como um pedaço de carne, mas como a extensão da vida deles.
Durante a gravidez, em especial no final, a mãe desenvolve uma espécie
de “loucura normal” onde se identifica com o bebê que cresce em seu ventre e
tece uma relação íntima e forte com ele. Este estado encontra seu ápice com o
nascimento da criança, e neste momento a mãe desenvolve uma capacidade
surpreendente de identificação com o bebê, o que lhe possibilita ir ao encontro
das necessidades básicas do recém-nascido, de uma forma que nenhuma
máquina pode imitar, e que não pode ser ensinada; A partir daí apresenta um
quadro de relativo esquecimento de si e do que a interessava e passa a se
dedicar às demandas do bebê; “ela é o bebê e o bebê é ela”.
A mãe suficientemente boa de Winnicott (1983) é aquela capaz de se
adaptar de forma suficiente e consistente as necessidades psicobiológicas de
seu filho, de protegê-lo em um grau satisfatório nessa primeira etapa de sua
constituição. O bebê ainda não tem noção de si nem de que aquilo que o
alimenta, toca sua pele ou que emite som está do “lado de fora”. Ainda não há
um fora e um dentro, um si e um outro.

A mãe atua como ego auxiliar de seu filho, e dessa forma ele tem um
ego desde o primeiro instante, um ego muito frágil e pessoal, mas
impulsionado pela adaptação sensível da mãe, e pela capacidade
desta em identificar-se com seu bebê no que diz respeito às suas
necessidades básicas. (WINNICOTT, 1988, p.31)

O bebê humano nasce totalmente dependente. Os cuidados que inspira


em seus pais vão além de suas necessidades biológicas. É necessário um
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investimento por parte dos pais para que esta criança se torne civilizada e
inserida no universo social.
Para que a inserção psicossomática se estabeleça, o bebê precisa de uma
mãe capaz de se envolver emocionalmente com seu corpo e suas funções,
apresentando e reapresentando o corpo e a psique um do outro, envolvendo-os
em um processo de inter-relação, essa função materna, denominada de
holding (manejo adequado) por Winnicott é essencial para o desenvolvimento
do bebê (CELERI, 2009, p.32).
A função da sustentação materna associa-se à confiabilidade e
responsabilidade. O holding satisfatório não pode ser ensinado, uma vez que
se assenta na capacidade de a mãe se identificar com o bebê.
Um holding adequado consiste em que a mãe:

 Proteja o bebê de agressões fisiológicas, levando em conta a


sensibilidade cutânea, auditiva, visual e do órgão vestíbulo-coclear da
criança;
 Defenda-o de invasões ambientais, uma vez que ela “sabe” da falta de
conhecimento de qualquer coisa que não seja ele mesmo;
 Socorra-o de coincidências e choques capazes de levá-lo a um
sentimento de confusão e angústia;
 Possibilite a ele uma transição gradativa entre o estado calmo e o
excitado, entre o sono e o estado desperto, etc.;
 Crie-lhe uma rotina específica, modificando-a a cada dia à medida que
ele cresce e se desenvolve física e psiquicamente.

Em 1920 um reverendo encontrou em Calcutá duas meninas com idade


entre oito anos e um ano meio, que viviam em uma matilha de lobos; elas
foram recolhidas e levadas para viver em um orfanato. Ambas tinham
incorporado comportamentos animais, como se alimentar de quatro, por
exemplo; não demonstravam emoções, não estabeleciam relações afetivas e
não desenvolveram senso de humor. Após algum tempo as irmãs morreram
por problema de saúde (CAVALCANTI, 2008).
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Psique e Soma são de início indiferenciados, sua coesão é fruto de um


processo de amadurecimento e depende dos cuidados primários que o bebê
recebe do outro. Estes, para que sejam efetivos do ponto de vista
psicossomático precisam ser realizados por um adulto que cumpra a função
materna, sob forma unificadora do apoio e do olhar, caso contrário, diz
Winnicott, “o bebê se desmancha aos pedaços a não ser que alguém o
mantenha inteiro” (PITLIUK, 2009, p.28).
O Psicanalista Inglês Winnicott (1896-1971) costumava afirmar não haver
algo como “bebê”, e sim um bebê com cuidado materno. Segundo ele, não só a
mãe se coloca como um lugar para seu filho, mas por seu lado, o filho se aloja
nela; e ele terá que co-produzir este lugar onde se alojar, o qual mais tarde
chamará de mãe.
E é no olhar reconhecedor da mãe, que cumpre o papel de espelho, que a
criança pode chegar a se conceber como alguém. Winnicott (1975) diz que:” A
mãe está olhando para o bebê, e aquilo com o que ela se parece se acha
relacionado com o que ela vê ali”, isto é, esta mãe enxerga o ser do bebê,
aquilo que ele vai podendo ser. Noutro momento Winnicott vai dizer que: “o
precursor do espelho é o rosto da mãe”
É exatamente neste olhar que o bebê pode ou não se alojar. Uma mãe
muito temerosa da agressividade ou da sexualidade, somente reconhecerá e
amará uma criança dócil e assexuada, negando sua espontaneidade. De outra
forma, uma mãe insatisfeita com sua vida não terá lugar para um filho se este
não se dedicar principalmente a gratificá-la. São dois elementos constitutivos
então, a proteção e sustentação de um lado, e imagem de si “não distorcida
demais” com que o bebê pode se identificar do outro. Winnicott ainda ressaltará
um outro elemento igualmente importante: a ilusão (PITLIUK, 2008, p.34)
Esta ilusão de onipotência, com auxílio da função materna na fase
denominada dependência absoluta, ou dupla dependência (Por que depende e
desconhece esse fato), a ilusão proporcionada pela mãe dá ao bebê a
possibilidade de ser o seio, emprestando o próprio ser para que o bebê “seja”.
(PARENTE, 2009)
A mãe suficientemente boa irá cumprir o papel de mãe-ambiente, evitando
que o bebê seja surpreendido com um sentido de realidade para o qual ainda
não está preparado, e dessa forma garantirá a continuidade do ser do bebê.
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Sua boa adaptação às necessidades dele o fazem crer que é capaz de criar
tudo de que precisa para sobreviver (caso contrário o mundo não fará sentido
para ele), para seu bem estar e para sua satisfação; dessa forma terá uma
experiência de potência e de capacidade criativa, inventiva, produtiva, que
serão essenciais para o desenvolvimento da confiança em si e no mundo.
O bebê então fica com a ilusão de que o mundo pode ser criado e de que o
que é criado é o mundo; mas isso não quer dizer que ele seja regido pelo
princípio do prazer. Ilusão de onipotência não significa satisfação de seus
desejos, mas atendimento a sua necessidade de ser e ter experiências reais.
Porém, mais tarde, a mãe de acordo com sua sensibilidade irá lhe retirar
os cuidados quase que perfeitos para que o bebê seja desiludido em sua
onipotência, pois, do contrário ele não descobrirá os cuidados ambientais e o
mundo exterior.

Com o tempo, o bebê começa a precisar da mãe para ser


malsucedido em sua adaptação, e esta falha também é um processo
gradual [...] Para uma criança, seria muito aborrecido continuar
vivenciando uma situação de onipotência quando ela já dispõe dos
mecanismos que lhe permitem conviver com as frustrações e as
dificuldades de seu meio ambiente. Viver um sentimento de raiva, que
não se transforma em desespero, pode trazer muita satisfação.
(WINNICOTT, 1988, p.6)

No devido tempo o bebê terá de aceitar o fato da existência externa do mundo,


sobre o qual não tem controle, e esse processo de desilusão é fundamental. Este é
um processo que não depende da insistência da mãe quanto à natureza externa e
objetiva das coisas do mundo, mas sim de uma bem fundamentada capacidade para
a ilusão. “A adaptação ao princípio da realidade deriva espontaneamente da
experiência de onipotência dentro da área que faz parte do relacionamento com
objetos subjetivos” (WINNICOTT, 1988 apud DIAS, 2009, p. 44).
A mãe se empresta para o bebê desde a sua concepção. É em seu útero que
ele se desenvolve e recebe os primeiros cuidados. Ao nascer, o bebê, que antes era
provido ininterruptamente de proteção, alimentação, temperatura ideal, experimenta
as primeiras sensações de frio, fome, barulho, luzes em excesso. Sem o cordão
umbilical ele se reconforta nos seios da mãe, que sabiamente a natureza preparou
para continuar a nutrir e reconfortar o seu bebê, e é em seu colo que ele irá se
reconhecer pelos olhos da mãe. Ao longo dos meses esse bebê irá experenciar o
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mundo através da mãe e dessa forma vai nascendo para ele aos poucos. E na
devida hora, ambos irão poder olhar para frente e seguir adiante.

1.1 Amamentação

Nos primeiros meses de vida o leite materno é o melhor alimento que o


bebê pode receber por ser natural, rico em nutrientes responsáveis pelo
crescimento e desenvolvimento; além disso, o movimento necessário para a
sucção auxilia no desenvolvimento motor-oral do recém nascido.
São muitos os benefícios adquiridos com esta forma de alimentação; além
de fortalecer o vínculo entre mãe e filho, ela diminui a incidência de infecções e
re-hospitalização, contribui para um melhor desenvolvimento psicomotor e
cognitivo, e para o aumento no desempenho neuro-comportamental. Os
benefícios psicofisiológicos que mãe e criança, a dupla de amamentação,
confere reciprocamente um ao outro, no prosseguimento de um relacionamento
simbiótico, são de importância vital para seu futuro desenvolvimento.
Fisiologicamente, amamentar seu bebê ao seio produz, na mãe, uma
intensificação de sua “maternidade”, de seu prazer de cuidar do filho.
Psicologicamente, essa intensificação serve para consolidar o vínculo
simbiótico entre ela e sua criança. Para essa vinculação entre mãe e filho, são
importantes os primeiros minutos após o parto. Começa aí o período em que
mãe e bebê estão literalmente entrando em contato um com o outro. Entre
outras coisas, para o recém-nascido o seio é um substituto do cordão umbilical
e da placenta e funciona fazendo às vezes dessa estrutura. (MONTAGU, 1988,
p. 84)
O bebê é intensamente estimulado neste momento. A estimulação cutânea
recebida pelo bebê através das carícias da mãe, do contato com seu corpo, o
calor que vem deste, e especialmente as estimulações periorais, quer dizer, as
estimulações que durante a sucção incidem sobre a face, lábios, nariz, língua,
boca, são importantes para melhorar as funções respiratórias e, por intermédio
destas, a oxigenação do sangue:
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Ilustraremos a seguir um caso de condicionamento cutâneo resultante em


uma tricotilomania (ato de puxar o cabelo) em uma criança com menos de três
anos:

Uma menina branca, com dois anos e meio de idade, foi


encaminhada para estudo psiquiátrico por um dermatologista em
virtude de uma perda de cabelo que já durava há um ano [...] Durante
a entrevista inicial, observou-se que a criança se aninhava nos braços
da mãe e sugava leite da mamadeira que segurava com a mão
esquerda. Enquanto isso procurava com a direita algum fio
remanescente de cabelo no lado direito de seu coro cabeludo.
Quando encontrava um cabelo ou um chumaço, ela os arrancava
com um movimento dos dedos. Os cabelos eram então levados,
enrolados nos dedos como estavam, até o lábio superior, onde ela os
esfregava contra o lábio e o nariz. Este processo prosseguia
enquanto ela mamava, mas, assim que o bico da mamadeira era
retirado de sua boca, cessava de imediato. A mãe comentou que a
criança arrancava os cabelos somente quando mamava na
mamadeira e que invariavelmente isto era acompanhado pelo ato de
arrancar os cabelos e esfrega-los no nariz [...] A menina havia
nascido a termo, e o parto não tinha registrado nada de anormal.
Durante as primeiras duas semanas a mãe havia dado seu leite para
a filha, mas havia abruptamente cessado de fazê-lo na terceira
semana porque achava que a quantidade não estava sendo
suficiente. O crescimento e o desenvolvimento da menina em seu
primeiro ano e meio pareceu normal [...] Foi desmamada da
mamadeira com um ano, após o que começou a comer alimentos
sólidos e a beber na xícara [...] Quando a criança estava com dezoito
meses foi instituído um programa punitivo de treinamento à toalete,
que incluía reprimendas e tapas toda vez que se sujava [...] A mãe
percebeu que foi logo após o início deste treino de higiene que a
criança começou a recusar alimentos sólidos, insistindo em tomar
leite na mamadeira, e começou também a arrancar o cabelo e a
esfregá-lo no nariz enquanto mamava [...] Chorava muito, não se
importava consigo mesma e demonstrava desejo de jogar água em
cima do corpo [...] As condutas de puxar o cabelo e esfrega-lo no
nariz Sugeriam que, de alguma maneira, ela desejava reproduzir a
situação de aleitamento original [...] Foram examinados os seios da
mãe; viu-se então que um “anel de pelos longos e ásperos rodeavam
o bico” [...] Foi fabricado um bico para a mamadeira cercado por pelos
humanos ásperos, que se salientavam da base para cima [...]
Enquanto sugava o bico da mamadeira, ela a virava devagar,
esfregando assim os pelos eriçados no nariz e no lábio superior. Ela
não arrancou mais os cabelos. O roçar automático do nariz
aparentemente satisfez a necessidade de regredir à experiência
original do seio (MONTAGU, 1988, p.115).

Podemos então observar que o ato de amamentar abarca inúmeras


sensações por parte do bebê; neste momento ele é tocado, olhado, segurado,
e é envolvido pelo calor do colo da mãe, pelo seu cheiro. Há muito mais nesta
relação que a satisfação fisiológica do bebê.
Ao mamar, o bebê se nutre do leite para satisfazer uma necessidade
orgânica, mas em especial para se alimentar do olhar, da voz, e do amor. Por
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estar em um momento muito precoce em sua vida, a forma de relação


estabelecida entre bebê e mãe é de incorporação, já que ele se “nutre” dela
(ZORNING, 2008, p.49)
A mãe e o bebê têm a oportunidade de vivenciarem uma experiência
única, diz Winnicott (1988):

[...] Estamos preocupados com a riqueza da personalidade, com a


força do caráter e com a capacidade de ser feliz, bem como a
capacidade de revolucionar-se e rebelar-se. É provável que a
verdadeira força tenha origem numa experiência do processo do
desenvolvimento que siga uma trajetória natural, e é o que desejamos
para as pessoas [...]

Para isso, mãe e filho têm que estar envolvidos e confortáveis neste
processo para que essa experiência seja rica e agradável para ambos. Neste
momento o bebê está desperto e sua personalidade em formação está
envolvida no processo. Grande parte da vida de vigília do bebê está voltada
para a alimentação (WINNICOTT, 1988, p.24).
Embora os benefícios do aleitamento materno sejam verificáveis em
inúmeras pesquisas, a mãe necessita ter mais do que o leite para garantir uma
amamentação satisfatória. O seio materno vai além da função de alimentar; ele
é uma das possibilidades de formar um vínculo inestimável com o bebê; porém,
esta não é a única forma com a qual este vínculo poderá ser formado, não
fosse assim, as crianças alimentadas artificialmente ficariam na desvantagem.
É necessário que haja a vontade e segurança da mãe para alimentar seu filho.
O ato de amamentar não deveria ser uma obrigação, mas um prazer.
Muitas crianças penam com suas mães tentando fazer com que o seio
desempenhe suas funções, embora sejam incapazes de fazê-lo, talvez por
motivos anteriores que lhe escapam à consciência. Ambos sofrem com isso, e
encontram grande alívio quando a alimentação artificial é introduzida.
A amamentação é apenas um dos importantes pilares no desenvolvimento
infantil, tendo igual ou maior importância a manipulação e o ato de segurar
(WINNICOTT, 1988, p. 21). Na verdade é todo um conjunto de cuidados que a
mãe devotada comum irá proporcionar através de um ambiente facilitador.

É também um fato bem conhecido que muitos bebês passam


pelo que parece ser uma experiência bem-sucedida de amamentação
e, no entanto, são insatisfatórios, no sentido de que se apresenta
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uma deficiência observável em seu processo de desenvolvimento,


bem como em sua capacidade de relacionamento com as pessoas e
utilização de objetos – uma deficiência resultante do fato de terem
sido segurados e manipulados de forma insatisfatória. (WINNICOTT,
1988, p. 21)

Trata-se então da intimidade dessa mãe com seu filho, intimidade essa
que se desenvolve quando existem recursos ambientais para estimular sua
confiança em reconhecer nessa relação às necessidades e possibilidades de
cada um. Tornar-se mãe é algo que vai acontecendo paulatinamente, embora
ela, mesmo sem alguma experiência prática ou aprendizado intelectual, seja
capaz de “saber” de seu filho como ninguém, devido a seu estado naturalmente
regredido de “preocupação materna primária” relacionado à gravidez.
É através do contato corporal com a mãe que a criança faz seu primeiro
contato com o mundo; através deste, passa a participar de uma nova dimensão
da experiência, a do mundo do outro. É este contato corporal com o outro que
fornece a fonte essencial de conforto, segurança, calor e crescente aptidão
para novas experiências, e a base disso tudo está na amamentação, da qual
fluem todas as bênçãos e promessas de boas coisas que ainda estão por vir.
(MONTAGU, 1988, p.102)
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CAPÍTULO 2 O TOQUE COMO MEIO DE PERCEBER A SI E O MUNDO.

Ser tocado á uma necessidade primária, a qual deve ser satisfeita para
que crianças possam se desenvolver como seres humanos saudáveis. “E o que
é um ser humano saudável? É aquele que é capaz de amar, trabalhar, brincar
e pensar de modo crítico e livre de preconceitos” (MONTAGU,1988, p. 193).

O Toque é uma das necessidades básicas do ser humano. Os bebês


morrem se não forem tocados. Nos anos de formação, o conforto do
toque de mãos humanas nos é tão necessário quanto o alimento e o
abrigo. O toque é vital para a sobrevivência de crianças novas.
Mesmo mais adiante a necessidade continua. O adulto que não é
tocado por ninguém, e também não busca tocar os outros, tende a
sofrer uma lenta e agonizante morte emocional. Sem o toque nós
endurecemos. Construímos ao nosso redor uma casca dura, uma
armadura protetora [...]. (HORAN, p. 146)

Existem inúmeras formas de tocar, e cada uma dessas formas provoca


uma resposta em nosso organismo. Se formos tocados de forma agressiva,
liberamos uma quantidade maior de adrenalina e nos colocamos em posição
de ataque; porém se o toque for de carinho, repleto de afeto, o nosso
organismo libera uma quantidade maior de endorfinas, como por exemplo, a
dopamina, aumentando a sensação de bem estar em nosso corpo e
sentimentos de felicidade.
A pele é o maior órgão do nosso corpo, e através dela percebemos o
mundo de forma hostil ou amena. Segundo Montagu (1988), para o bebê o
mais importante são as sensações da pele e a sensação cinestésica
(sensibilidade aos movimentos), pois se acalmam prontamente ao receberem
palmadinhas leves e com o calor, e choram ao sentir dor e frio. Ainda no útero
materno o bebê já responde a estímulos táteis e após o nascimento,
principalmente no primeiro ano de vida, é a forma mais importante de
comunicação com o bebê (HAYDU,2005).
É através do toque que confirmamos a existência de uma realidade
objetiva, algo além de nós mesmos. As pontas dos dedos do bebê permitem
que ele tome consciência do mundo, de seu próprio corpo e do corpo da mãe;
é o meio com o qual primeiramente se comunica e entra em contato com outro
ser humano, estabelecendo neste momento a gênese do toque humano.
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É através dos cuidados diários que recebe da mãe através do banho, da


troca de fraldas, e no embalo do sono que o bebê irá formar sua imagem
corporal reconhecendo-se amado ou não.
Os bebês sempre emitem um comportamento com o propósito de manter
contato com sua mãe; no caso deste movimento ser frustrado, ele se valerá de
outros recursos, como chupar o dedo e se embalar. Esta é uma forma de
regressão aos movimentos vivenciados na vida intra-uterina.

O toque físico não é apenas agradável. Ele é necessário. A


pesquisa científica respalda a teoria de que a estimulação pelo toque
é absolutamente necessária para o nosso bem-estar tanto físico
quanto emocional ( KEATING, 1993 apud COSTA, 2006, p. 33).

Ashley Montagu afirma em seu livro “Tocar: O significado humano da pele”.


[...] bebês privados do seu contato corporal costumeiro com a mãe podem
acabar desenvolvendo profunda depressão com falta de apetite, definhamento
e marasmum, levando-os até a morte.”
A autora ainda afirma que no século XIX muitos bebês morriam de
marasmum antes do primeiro ano de vida, e que na década de vinte a taxa de
mortalidade em bebês com menos de um ano em orfanatos dos EUA era muito
próxima a cem por cento. Atualmente o toque com efeito terapêutico está
sendo disseminado na área hospitalar devido à constatação de uma melhora
por parte dos pacientes. Nota-se modificação em pacientes que apresentam
quadros depressivos e ansiosos, e em bebês que foram privados do contato
materno pela necessidade da incubadora.
Porém esses resultados já haviam sido observados pelo Dr. Fritz Talbot,
(1988) de Boston; ele constatou que crianças com menos de dois anos de
idade apresentavam melhora em quadros de enfermidade ao serem entregues
a enfermeiras que os colocavam bem perto do corpo e os tratavam com
carinho. De posse dessas informações ele trouxe a idéia do “Cuidado Terno,
Amoroso”. Se após receber todos os cuidados médicos o bebê não
melhorasse, ele era entregue a uma ama ou enfermeira que o levaria junto ao
corpo fornecendo-lhe calor e aconchego.
Podemos entender a importância do contato físico para o desenvolvimento
global do indivíduo se pensarmos em indivíduos que nasceram cegos e surdos
21

ou que foram mantidos em quarto escuro com uma mãe surda-muda. Se não
fosse pela estimulação cutânea, a relação com o mundo ficaria muito
comprometida, mas graças ao alfabeto digital é possível uma maior
socialização com o mundo.
Toda forma de carinho, abraço, beijo, embalo, contribui para o aumento da
resistência ao estresse, diminuição do nível de ansiedade, aumento do
comportamento exploratório das crianças, entre outros benefícios já citados.
Estes efeitos contribuem de forma positiva para o desenvolvimento de
habilidades sociais, para o aprendizado, para o ajustamento sexual, prevenindo
comportamentos anti-sociais (HAYDU, 2005).

2.1. O valor da massagem

O momento da massagem ou carinho é de grande intimidade entre mãe e


filho, e deve acontecer ao som de uma cantiga de ninar, de maneira calma e a
mãe deve direcionar ao seu filho o seu olhar; dessa forma o bebê se tranqüiliza
e relaxa. Este contato é prazeroso para pais e filhos, e proporciona segurança,
felicidade e afeto entre ambos.
Quando o afeto e o envolvimento são transmitidos pelo tato, são com estes
significados, além de segurança através das satisfações, que o tato passa a
estar associado.
A massagem melhora a comunicação entre pais e filhos, além de favorecer
a circulação sanguínea, tonificar os músculos, alongar as articulações, e
reforçar as defesas imunológicas do bebê. No caso da mãe, este contato
auxilia na produção da prolactina (hormônio que auxilia a produção do leite
materno e ajuda a relaxar), e na segurança por poder oferecer cuidados que
trazem benefícios para seu filho, obtendo dele boas respostas. (COSTA, 2006,
p. 48)
O toque quente das mãos da mãe transmite ao bebê a sensação de calma,
harmonia e amor; inconscientemente ele recorda os sentimentos
experenciados na vida intra-uterina e acalma-se. A massagem recebida desde
o início de vida ajuda a evitar cólicas e problemas respiratórios como bronquite
e renites, além de contribuir para que este bebê se torne uma pessoa tranqüila
no futuro.
22

Existem inúmeros tipos de massagens propícias para o bebê, porém


destacaremos apenas três, a saber: Massagem “Energética” (desde o
nascimento); Massagem “Toque de Borboleta” (a partir do 1º mês); e
Massagem “Shantala” (a partir do 2º mês)

2.1.1 Massagem Energética

A Massagem Energética significa em simples palavras fazer carícias


delicadas e sem compressão. Seu início pode ser dado ainda na barriga da
mãe com leves toques para estimular o feto. O toque por meio da massagem é
de extremo valor logo após o nascimento viabilizando o contato entre mãe e
filho.

Algumas atitudes devem ser tomadas antes do início da massagem:

 Na maternidade a massagem pode ser feita no colo da mãe;


 O bebê deve permanecer sem roupas, porém com as fraldas, pois é
comum o bebê fazer xixi durante a massagem;
 Em casa é recomendável que a massagem seja feita ao ar livre, durante
o horário em que o sol esteja fraco;
 Para que as mãos deslizem melhor um óleo próprio para massagem
pode ser usado;
 O melhor horário para massagem é após a mamada para não provocar
vômitos;
 Por último, dê um banho relaxante no bebê.

2.1.2 Massagem Toque de Borboleta

Eva Reich pensou na importância da massagem para o recém nascido e


criou a massagem Toque de Borboleta ou Toque Energético. A idéia desta
massagem provém da Vegetoterapia (Psicoterapia Corporal a qual incide sobre
o sistema nervoso vegetativo), que visa fluir a energia através dos blocos
musculares até a periferia (mundo externo).
23

A pulsão energético-plasmática através da comunicação mãe-criança se


harmoniza de tal modo que, muitas mulheres, com profundos problemas
emocionais, podem ser tratadas da depressão pós – parto recebendo uma
quantidade suficiente de massagem antes, durante e após o nascimento do
bebê.
O prazer funcional que se renova com a massagem irá harmonizar a ação
do sistema neurovegetativo, simpático-parassimpático e tem um efeito positivo
sobre todas as funções do organismo, promovendo saúde.
Da mesma forma ocorre no mundo animal, onde as mães “massageiam”
sua cria através da lambida, e com isso ajudam o filhote a crescer e se manter
vivo. O bebê quando não acariciado tem a sua qualidade de sobrevivência
extremamente comprometida; no entanto, quando estimulado através do Toque
de Borboleta, apresenta melhora no desenvolvimento neurológico.
Crianças desnutridas também saem ganhando por que muitas vezes a
desnutrição é falta de carinho e afeto. A partir do estabelecimento de vínculos
afetivos, ela começa a comer. Consequentemente desenvolve-se fisicamente e
aceita melhor o carinho (COSTA, 2006)
A Massagem Toque de Borboleta tem vantagens sobre a Massagem
Shantala; ela não precisa do uso de óleo para a sua execução e pode ser feita
desde os primeiros dias de vida por ser executada de forma muito suave.
Nesta massagem, o olhar é de igual importância ao toque. Segundo
Gianotti, um estudo comparou bebês prematuros em que a mãe ficava um
longo período olhando para a criança e bebês que não recebiam esse tipo de
atenção; os primeiros desenvolveram um Q.I bem maior que os demais.
(COSTA apud GIANOTTI, 1981, p.10).
A execução da massagem é feita sempre de forma muito suave, (com
exceção das palmas das mãos e das solas dos pés, onde é feita certa pressão
sempre em direção aos dedos); se inicia na cabeça e se estende até os pés,
primeiro na parte da frente e depois na parte de trás. Ao final o bebê é
embalado por um minuto. Segundo o cientista americano Ashley Montagu este
gesto melhora a digestão.

Os benefícios relacionados à massagem são inúmeros, sendo eles:


 Ajuda a fortalecer o vínculo mãe-pai-bebê;
24

 Ajuda a aliviar cólicas;


 Proporciona um sono tranqüilo;
 Ajuda a aliviar o estresse da fase de dentição;
 Tonifica os músculos do bebê;
 Aumenta a percepção corporal do bebê;
 Ajuda a relaxar e alivia a tensão e ansiedade;
 Melhora a digestão, circulação e fortalece o sistema imunológico;
 Ajuda no crescimento de relacionamentos emocionais saudáveis;

Quem se beneficia com esta massagem?

 Bebês adotados, pois através da massagem estreitam o vínculo com


seus pais;
 Bebês prematuros se desenvolvem de forma fantástica através do
benefício do toque e do afeto;
 Bebês que não puderam ser amamentados se sentem acolhidos;
 Bebês cujas mães retornam ao trabalho ao término da licença
maternidade, pois dessa forma a relação mãe-bebê não se perde.

2.1.3 Massagem Shantalla

Esta massagem hindu foi introduzida na realidade de muitas mães através


do médico francês Frédérick Leboyer. Ela consiste em equilibrar as partes
físicas, emocionais, mentais e energéticas através da massagem que é
realizada em todo corpo do bebê com óleos naturais.
Ela recebeu este nome pelo próprio doutor, que ao observar uma mulher
paralítica massagear seu filho diariamente sob o sol, tamanho foi o seu
encantamento que decidiu batizar esta seqüência de movimentos com o nome
da mulher que a realizava, ou seja, Shantalla. Esta técnica pode ser aplicada a
partir dos três meses até os cinco anos de idade; não é aconselhada a sua
realização antes dessa idade por seus movimentos serem vigorosos Qualquer
criança pode fazer esta massagem e se beneficiar com seus resultados.
25

O princípio da Shantalla é o contato da mão da mãe com a pele do bebê, é


a troca de afeto entre ambos que resulta na melhor comunicação entre eles. A
criança se sente mais segura e o vínculo é fortalecido.
O melhor horário para realizar os movimentos é pela manhã com o sol bem
fraco, e logo após dar um banho para o bebê relaxar e dormir.
O toque humano é como se fosse o alimento vital para um bebê; se não for
alimentado de maneira correta, o seu desenvolvimento poderá ser
comprometido. O mesmo acontece com o toque carinhoso, pois com a falta
desse o desenvolvimento emocional e também físico será prejudicada. A
massagem é uma ótima forma de construir vínculos não só com bebês, mas
em qualquer idade e por toda vida.

2.2 Método Mãe-Canguru

O Método Mãe-Canguru - MMC, também conhecido como “Cuidado Mãe-


Canguru” ou “Cuidado Pele-a Pele” tem sido proposto como uma alternativa ao
cuidado neonatal convencional para bebês de baixo peso ao nascer. Foi
implantado de forma pioneira em 1979 por Edgar Rey Sanabria e Hector
Martinez no Instituto Materno-Infantil, em Bogotá, Colômbia. Recebeu este
nome pela forma com que as mães carregavam seus bebês após o nascimento
de forma semelhante aos marsupiais, (cuja fêmea leva seu filhote em suas
bolsa até completar o tempo da gestação, o mantendo aquecido e alimentado
até amadurecer e ficar forte). Seu objetivo era dar alta precoce a recém
nascidos de baixo peso, frente a uma realidade de falta de incubadoras,
infecções cruzadas, ausência de recursos tecnológicos, desmame precoce,
altas taxas de mortalidade neonatal e abandono materno. (VENÂNCIO;
ALMEIDA, 2004).
Esta técnica tem sido utilizada em diversos países, adaptando-se para
cada um e adequando-se às necessidades locais e condições culturais. No
Brasil começou a ser aplicada em 1992 no hospital Guilherme Álvaro, em
Santos (SP), e posteriormente no Instituto Materno-Infantil de Pernambuco -
IMIP em 1993. A partir deste momento a prática se expandiu no País e passou
a ser reconhecida como uma política pública. Em 2000 o MMC passou a ser
26

implementado nas unidades médico-assistenciais integrantes do Sistema único


de Saúde - SUS.
O método é disposto em três etapas:
 Unidades Neonatais, UTIN e Unidades de Cuidado Intermediário: Nestes
dispositivos de atendimento os pais têm acesso livre e precoce ao filho;
é incentivada a amamentação, o contato pele e pele e participação nos
cuidados do bebê;
 Unidades Canguru (Alojamento Canguru): Mãe e bebê permanecem em
enfermaria conjunta e a posição canguru deve ser mantida pelo maior
tempo possível;
 Ambulatórios de Atendimento (Canguru Domiciliar): O momento da alta
acontece mediante algumas condições específicas mãe-bebê, sendo
elas:
a) Segurança materna quanto aos cuidados do bebê;
b) Motivação e compromisso para a realização do método 24 horas por dia;
c) Garantia de retorno freqüente à unidade de saúde;
d) Peso mínimo de 1.500 g;
e) Criança com sucção exclusiva do seio;
f) Ganho de peso adequado nos três dias que antecedem a alta hospitalar;
g) Condição de recorrer à unidade hospitalar de origem caso necessário.

2.2.1 Benefícios afetivos do MMC

A separação do bebê de sua família imposta pela sua condição clínica e


por normas da UTIN pode levar a uma interferência negativa quanto à
formação de laços afetivos, o que pode afetar posteriormente o
desenvolvimento psicoemocional do bebê. (VENÂNCIO; ALMEIDA, 1994)
Segundo Winnicott (1999), inicialmente a mãe está fusionada ao bebê;
portanto, em crianças que nasceram a pré-termo, esta relação que se constitui
no primeiro momento fica prejudicada, sofrendo alterações. Devido ao choque
do nascimento e da separação que se faz necessária em caso de necessidade
de internação em UTIN, estão fusão pode não ocorrer e os pais podem perder
o interesse por seus filhos.
27

Somente a partir da década de 60 ficou mais clara a importância do


contato parental logo que o bebê nasce; medida esta que visa evitar o retorno
do bebê antes do tempo ao hospital com problemas no desenvolvimento, como
a síndrome failure to thrive, na qual o neonato sem nenhuma causa orgânica
não ganha peso e não se alimenta; ou por ser vítima de maus tratos, abandono
e abusos. (SCOCHI et al, 2003).
Existem evidências que preconizam que o contato íntimo da mãe com o
bebê prematuro pode interferir positivamente na relação deste bebê com o
mundo, e na relação da mãe com ele, pois esta sente-se mais segura,
competente e capaz de compreender e atender as suas necessidades. Este
contato promove várias mudanças no organismo tanto de um quanto de outro
(VENÂNCIO; ALMEIDA, 1994).

Uma pesquisa feita com 16 recém nascidos a pré-termo


(2005) que ficaram inseridos no alojamento Mãe-Canguru da
Maternidade Escola Assis Chateaubriand demonstrou melhora
significativa em relação ao estado comportamental, sinais de
estresse, coordenação e ritmo de sucção. O tempo de permanência
hospitalar foi consideravelmente menor.

É através da relação com os pais que o bebê descobre seu corpo e as


emoções que esse corpo lhe proporciona; é também através dela que o bebê
irá se apegar aos pais. Este processo envolve uma troca visual, olfativa, tátil,
proprioceptiva, auditiva, e vestibular produzindo segurança e tranqüilidade para
ambos. (PAIM, 2005; p. 107).
É através da relação com os pais que o bebê descobrirá seu
corpo e as emoções que esse corpo lhe proporciona. Capturado em
seu olhar, ele se olhará, e carregado por suas palavras que pensará
aos pais está totalmente sujeitado e se humanizará ao preço dessa
alienação. Durante um tempo terá a sensação de que ambos formam
apena um (PAIM, 2005, p. 107)

Através da posição necessária para realizar o MMC, os pais


gradativamente se ligam ao seu filho. Começando a se relacionar com o filho
no contato pele-a-pele, dão libido a ele através da linguagem, do olhar, das
palavras, do toque e dos gestos. Dessa forma vão dando significado e sentido
àquilo que o bebê consegue dizer com seu corpo, suas expressões corporais.
28

Um bebê que não recebe visita, que não é segurado física e


emocionalmente, que não tem o apoio do olhar dos pais, como pode se
constituir? Como poderá ele saber de si sem um outro que lhe dê contorno?
O vínculo é o mais importante resultado deste método, pois à medida que
a relação parental é fortalecida, os pais se tornam mais assíduos, tranqüilos e
seguros para cuidar de seus filhos.
O MMC vai de encontro ao bem estar físico, emocional e psicológico dos
pais e do bebê. De nada adiantaria olhar somente para o lado orgânico se o
emocional não for cuidado. Os laços afetivos que se formam através do método
descrito contribuem para o desenvolvimento sadio deste bebê no âmbito físico
quanto familiar.
29

CAPÍTULO 3 O TOQUE EM DIFERENTES ESTÁGIOS DA VIDA HUMANA

Qual o papel que eventualmente teria a experiência tátil no crescimento e


no desenvolvimento do organismo? Tanto para animais em geral quanto para
os humanos em particular, as evidências são inequivocamente claras: as
experiências táteis desempenham um papel fundamentalmente importante no
crescimento e no desenvolvimento de todos os mamíferos estudados até o
momento, assim como provavelmente para os não-mamíferos
O organismo vivo depende, em grande medida, da estimulação do mundo
externo para seu crescimento e desenvolvimento. Estes estímulos precisam,
em sua maioria, ser de natureza agradável, como também a aprendizagem.

[...] Os efeitos são salutares para o organismo em geral, tanto a nível


fisiológico quanto psicológico. Por tais motivos, tem-se demonstrado
que a manipulação estimula a capacidade futura do organismo de
resistir a estresses, seu nível geral de atividades e sua capacidade de
aprendizagem [...] (MONTAGU, 1988, p.233)

A nível orgânico, o crescimento e o desenvolvimento são controlados por


fatores endócrinos e neurais. Sabe-se que os fatores emocionais são capazes
de influir no crescimento e no desenvolvimento do organismo, principalmente
através da ação diferencial dos hormônios. Portanto, uma pessoa
inadequadamente acariciada é uma criatura emocionalmente insatisfeita.
(MONTAGU, 1988)
A qualidade do ambiente no qual a pessoa nasce e a quantidade de
contato que ela recebe são cruciais para a sua saúde e equilíbrio.

[...] A s privações do toque interpessoal, do contato e do movimento


são as causas básicas de diversos distúrbios emocionais, entre os
quais o comportamento depressivo e autista, a hiperatividade, as
aberrações sexuais, o uso abusivo de drogas, a violência, e a
agressividade. (HORAN, p. 152)

O Toque acompanha o ser humano por toda vida, porém em cada fase
dela ele cumpre uma função distinta. Veremos a seguir a importância do Toque
em cada fase do desenvolvimento do ser humano.
30

3.1 Infância

É através do tato que nasce a nossa consciência. A partir das seis


semanas de vida, este sentido já está presente no feto. A partir de então,
ele é capaz de acompanhar os movimentos maternos, de se sentir
massageado pelas paredes intra-uterinas. À medida que o corpo da mãe se
move, chama seu filho à existência, e desde tão tenra idade, o toque se
constitui a primeira forma de comunicação e interação com o mundo.
(HORAN, p. 151)
É através da pele, um órgão sensorial primário para o bebê, que
durante o período de ligação afetiva reflexa propicia a experiência tátil que
se constitui no elemento crítico para o prosseguimento do crescimento e do
desenvolvimento.
Para que ocorra o desenvolvimento, inclusive o relativo aos processos
de aprendizagem, é fundamental que as crianças tenham desde as
primeiras semanas de vida experiências somestésicas, ou seja,
experiências relativas ao tato e a temperatura; sensoriais e motoras
adequadas.
O contorno, a forma, e o espaço do mundo exterior da realidade,
suas figuras e fundos dos quais elas emergem, são gradualmente
construídos pelo bebê a partir dos elementos básicos de sua
experiência, que entra por todos os seus sentidos, sempre
contingentes, correlacionados, mensurados e avaliados pelo critério
do tato. (MONTAGU, 1988, p.240)

O processo de constituição psíquica passa necessariamente pelo corpo.


Assim que a criança nasce, seus atos reflexos ou biológicos passam a ser
recobertos de sentido. São palavras, gestos e nomeações que inserem o
pequeno ser no mundo e transformam para sempre seu organismo em um
palco de desejos e representações.
Segundo Winnicott, todos nós nascemos para nos desenvolvermos
(potencial herdado), e por meio da interação, do encontro com um ambiente
circundante favorável, essas potencialidades podem ser desenvolvidas, e
assim favorecer o desenvolvimento emocional saudável ; como também há a
possibilidade das potencialidades para a saúde não se desenvolverem
provavelmente pelo encontro com um ambiente desfavorável.Portanto, é
31

através da interação do bebê com o ambiente interno e externo que ele irá
amadurecer e desenvolver-se.
Dependendo das impressões percebidas pelo bebê, principalmente pelas
impressões da pele, ele poderá desenvolver uma sensação de confiança ou
desconfiança. Como o bebê nasce destituído de estrutura psíquica e de limites
corporais, é através do contato com a pele, principalmente com o ato de ser
carregado, que ele irá desenvolver uma consciência de si. E através da
constância das experiências, que lhe propiciarão um ritmo definido, o bebê terá
a impressão de que as coisas acontecem sempre da mesma forma e de acordo
com suas vontades.
Inicialmente, suas identificações primárias são dirigidas para suas
necessidades de gratificação enquanto parte de seu corpo; para que isso
ocorra satisfatoriamente, faz-se necessário que a mãe atue como facilitadora
deste processo permitindo a gratificação das necessidades inerentes do bebê
ao ser tocado.

[...] Contudo, para que o bebê possa diferenciar-se de sua mãe,


essas identificações primárias, de natureza tátil e outras, precisam
ser enfrentadas, separadas, e dominadas. Primeiro, a motilidade
dirigida a ações. E logo depois a locomoção são as providências que
a criança toma para abordar a identificação primária e alcançar sua
diferenciação. Quando tiver sido completada essa diferenciação em
relação à mãe, o bebê pode formar as identificações secundárias que
consolidarão seu caminho para a autonomia e a independência.
(MONTAGU, 1988, p.244)

Visto que a comunicação tátil é fundamentalmente um processo de


interação entre aqueles que primeiramente tocam o corpo do bebê, até o
momento que ele entra em contato com o corpo da mãe, qualquer
comprometimento importante nessa experiência pode desencadear um
distúrbio ou fracasso profundo nos relacionamentos interativos, que
eventualmente pode se manifestar como autismo, esquizofrenia, ou
inúmeros problemas de comportamento. (MONTAGU, 1988, p.248)
32

3.1.1 Conseqüências da privação de contato / afeto na infância.

É de suma importância a necessidade que os bebês têm do toque. Mesmo


que todas as demais necessidades sejam supridas, sem o contato do toque ele
possivelmente sofrerá.

Um bebê privado de algumas coisas correntes, mas necessárias,


como um contato afetivo, está votado, até certo ponto, a perturbações
no seu desenvolvimento emocional que se revelará através de
dificuldades pessoais, à medida que crescer (WINNICOTT, 1971,
p.95).

Em 1946, René Spitz observou um quadro sindrômico em 123 crianças de


uma creche, o qual denominou de Depressão Anaclítica. Essas crianças, em
um dado momento experimentaram a separação de suas mães por um período
ininterrupto de três meses. Excluindo poucas diferenças individuais, as crianças
apresentavam os seguintes sintomas:

 No primeiro mês as crianças tornaram-se chorosas, exigentes e com


tendência a se apegar ao observador caso um contato tivesse sido
estabelecido;
 No segundo mês o choro transformou-se em gemido, houve a perda de
peso e baixa no quociente do desenvolvimento;
 No terceiro mês as crianças passaram a recusar contato, a ficar a maior
parte do tempo deitadas de bruços, a apresentar insônia, a perda de
peso continuou, e apresentaram tendência a contrair moléstias. Iniciou-
se o início da rigidez facial e o atraso motor tornou-se generalizado.
 Após o terceiro mês a rigidez facial consolidou-se, o choro foi substituído
por lamúria, o atraso motor foi substituído por letargia e o quociente do
desenvolvimento diminuiu. (SPITZ apud NASCIMENTO et al, p. 4)

Trata-se então de um estado de privação materna, um estado reacional à


perda de um laço privilegiado com a mãe e do suporte que esta representa
para eles. Neste caso, o fator desencadeante é a perda do objeto de amor.
Porém para que esse estado seja instalado é necessário que a criança tenha
estado em boas condições com a mãe, pois observou-se que crianças que
33

foram vítimas de maus tratos não apresentaram tal quadro quando separadas
da mesma (SPITZ apud NASCIMENTO et al, p. 5).

O estado de Depressão Anaclítica cessa rapidamente quando a mãe ou


um substituto aceitável retorna para o bebê. Porém caso isso não ocorra, o
quadro pode desenvolver-se para um estado de marasmo cada vez mais
inquietante, tanto no plano físico quanto no plano psíquico; quadro este que
SPITZ (1991) nomeou como Hospitalismo.

A Síndrome do Hospitalismo consiste em uma grave depressão e


isolamento afetivo, principalmente em lactentes.

Em uma pesquisa feita (1988) comparando 75 bebês


institucionalizados com 75 bebês criados em família demonstrou que
àqueles reagiram de modo esquisito quando foram levados ao colo,
empregando muito tempo em se balançar, ficando quietos e dormindo
bastante. Não adaptavam bem seus corpos aos braços dos adultos,
não se aninhavam e era visível uma ausência de maleabilidade.
(SPITZ apud YUNES p. 3)

As experiências infantis, mesmo as mais precoces, tem papel importante


na formação da personalidade. Essas experiências são frutos da interação de
aspectos constitucionais e ambientais. A mãe, seu corpo e sua mente é o
primeiro ambiente da criança.

3.1.2 Crianças em idade escolar

Este é um momento onde as crianças se deparam com novas e


desafiantes experiências, por isso, a necessidade do carinho, do reconforto e
do afeto se faz tão necessária como antes. Um abraço antes de iniciarem suas
atividades pode ser o elemento que irá garantir uma atitude emocional segura
ou insegura durante o dia. E um abraço ao final do dia fará a diferença entre
uma criança que fará de tudo para chamar nossa atenção ou uma criança que
conseguirá desenvolver atividades físicas e mentais positivas.
A criança se depara com diversas experiências durante o dia e sentem
emoções positivas e negativas quanto aos professores e colegas. Justamente
34

por isso que a volta ao lar deveria representar a volta ao paraíso, onde o amor
é seguro.
Nesta fase onde estão mais crescidos, a necessidade de carinho continua,
porém de forma diferente de antes. Eles podem agora preferir um contato
através de brincadeiras e passeios, em vez de abraços e beijos, principalmente
com relação aos meninos, que demonstram preferência a contatos mais
vigorosos como brincadeiras de luta (que é um esporte de contato).
Mas é necessário saber falar a língua emocional da criança. Para muitas, o
contato físico através do toque, do carinho, do abraço, da massagem, dos
beijos, fala muito mais alto que palavras de afirmação, presentes, tempo de
qualidade. Os pais precisam prestar atenção em como fazer para encher o
“tanque emocional” de seus filhos (CHAPMAN, 1997, p. 45).
Uma ótima forma de demonstrar carinho nesta fase é levar o filho ao colo
quanto for contar histórias, ou lhe oferecer um aconchego quando está doente
ou cansado. Agora o contato depende também da vontade da criança, e é
necessário que os pais aprendam a entender os momentos de seus filhos para
que não se tornem invasores de seu mundo social em construção.
Assim como na adolescência, acontece que com o crescimento e a
inserção no meio social, a criança desenvolve outras necessidades além das
que os pais já conheciam. É necessário então uma adaptação por parte deles
para essa nova etapa do desenvolvimento.
Winnicott diz que: “A base para a saúde mental adulta é construída na infância
[...]” (WINNICOTT apud CARETA e MOTTA, 2007, p.142). Com esta afirmativa
podemos pensar que ao fornecer à criança bases sólidas onde ela possa se
constituir estaremos atestando um desenvolvimento sadio nos próximos
estágios do seu desenvolvimento.

3.2 Adolescência

O Toque físico é comunicador de emoções independente da idade do


indivíduo, porém ele vai de encontro às necessidades específicas em cada
época ou momento de nossas vidas.
Um abraço para um adolescente pode ser motivo de vergonha perante os
amigos, o que pode levá-lo a recusá-lo. Nesta época ele busca a
35

independência e a própria identidade, busca também o rompimento com esta


rede inicial e tenta tecer uma nova rede fora do ambiente familiar. Ele continua
necessitando de amor, porém agora a forma de demonstrá-lo para este
adolescente tem que ser diferente.

Toque físico é uma das cinco principais linguagens do amor. Mas


você precisa falar a linguagem do amor por meio do contato físico na
hora, da maneira e no lugar apropriado. Se a primeira linguagem do
amor de seu filho, quando criança, era o Toque físico, essa
linguagem não vai mudar quando for um adolescente. Porém, o
dialeto por meio do qual você fala essa linguagem deve mudar se
deseja que se sinta amado. (p. 74)

Portanto, é necessário que os pais e familiares saibam expressar este


sentimento no momento adequado, dessa forma, o jovem irá se sentir
respeitado pois sua identidade estará sendo respeitada.
Reconhecer o momento certo para demonstrar o amor através do Toque
exige dos pais cautela e sensibilidade. Normalmente percebe-se a
disponibilidade ao outro através de sua linguagem corporal, por exemplo. Se o
adolescente não quer ser tocado, ele provavelmente ficará afastado.
As razões pelas quais porventura se recusa um Toque podem ser
diversas; o mais importante é respeitar as vontades do adolescente. Em um
momento em que ele não esteja aberto para o contato, um toque físico pode
dar idéia de controle. No entanto, ao conquistar alguma vitória, por exemplo, a
expressão de carinho através do abraço, do beijo, será muito bem vinda; da
mesma forma que em momentos difíceis, o toque pode levar reconforto e
apoio.
Em certo momento da vida (a literatura diverge a respeito do início da
adolescência; a Organização Mundial da Saúde – OMS considera o início da
adolescência a partir dos dez anos e o término aos dezenove anos; já o
Estatuto da Criança, considera que este período tem início aos doze anos e
término aos dezoito anos) o jovem adolescente estará em busca de sua
identidade a qual está atrelada aos amigos (pois é dessa forma que ele tomará
ciência de quem ele é fora do âmbito familiar). A entrada dos pais nesta relação
pode representar uma ameaça à independência e identidade dele.

[...] A adolescência pode ser compreendida como uma etapa no


desenvolvimento na qual o indivíduo se desprende dos seus laços
36

infantis e adquiri uma identidade adulta. Partindo-se dessa


perspectiva, os comportamentos típicos do adolescente, tais como
ambigüidade, contradições, emsimesmamentos, crises religiosas,
etc..,são consideradas perfeitamente normais.(MARTINEZ, 1998, p.
36)

Esta etapa do processo evolutivo é permeada por mudanças físicas e


psíquicas, o que leva ao adolescente a reformular os conceitos que tem de si e
abandonar a sua auto-imagem infantil, projetando-se para o futuro que irá
assumir após a conclusão do processo de identificação que o conduzirá a
idade adulta. (MARTINEZ, 1998, p.35)
Nesta transição, nem sempre os pais estão preparados para “perder” o
lugar de referencial. Comumente continuam atribuindo a esta relação à mesma
forma de agir para com o filho, porém ele já não é mais aquela criança que
outrora conheceram, dessa forma, continuar agindo como se fazia na infância
despertará nele sentimentos de vulnerabilidade e dependência. É necessário
que os carinhos e brincadeiras acompanhem o crescimento do adolescente;
desta forma a relação permanecerá próxima e sadia.

[...] Os pais, por sua vez, devem também enfrentar o luto e elaborar a
perda com relação ao submetimento do filho. Esta relação dialética
de duplo luto torna ainda mais difícil a passagem pela adolescência.
(MARTINEZ, 1998, p.38)

Com tantas mudanças, é comum que os pais se frustrem por seus filhos
não aceitarem mais os carinhos que costumavam gostar quando crianças, e
chegam a pensar que eles estão com algum problema, porém é normal que em
uma época de transformações, os gostos mudem. É necessário por parte dos
pais entenderem que neste momento uma conversa franca, um apoio em um
momento de dificuldades, um olho no olho passam a ter tanta importância
como costumava ter o aconchego do colo dos pais e um afago. Se antes o
Toque era de afirmação, nesta fase ele pode ter o valor de “sabotamento da
independência” (CHAPMAN, 2000, p. 81).
Então, de qual forma podemos demonstrar o amor através do Toque? Para
um adolescente do sexo masculino, uns tapinhas nas costas, ou brincadeiras
de luta, como queda de braço podem ser muito bem aceitos. Esta é uma nova
linguagem a qual os pais têm que aprender a falar. Mesmo na relação entre
adolescentes do sexo feminino, o contato através do Toque é tão essencial
quanto à fala. Em nossa cultura é normal vermos meninas andando de mãos
37

ou braços dados; da mesma forma os meninos sempre estão em contato,


mesmo que seja através de brincadeiras abrutalhadas.

3.2.1 A descoberta da sexualidade

As mudanças típicas são assinaladas pelas transformações físicas, bem


como por inúmeras outras modificações. O despertar para a sexualidade não é
caráter exclusivo da puberdade, pois, a mesma não surge de modo abrupto
neste momento da vida, mas existe desde o início dela.
A sexualidade neste período tem o caráter exploratório, de investigação. O
adolescente nesta fase está reconhecendo o próprio corpo e descobrindo suas
possibilidades. Tanto a descoberta sexual como as relações afetivas se
constituem no grande marco desta etapa, e passam a ser socialmente aceitos
desde então (dependendo da cultura).

Diz BRANDÃO (2004):

A iniciação sexual e/ou amorosa franqueia aos adolescentes a


possibilidade de aprendizado da dimensão relacional íntima no
tocante às diferenças do gênero, além de encarnar a conquista
gradativa da autonomia pessoal nesta fase da vida. Ela se faz em
duas direções, marcadamente condicionada pelo gênero do sujeito, e
é resultante do relacionamento travado com os pais e com os pares
[...]

Dentre a construção de uma identidade, o adolescente estará também


formando sua identidade sexual a qual foi delineada desde a infância. Esta, por
sua vez, recebe influência direta dos acontecimentos do meio social e das
vivências do adolescente. Diz Martinez; “O estabelecimento de uma identidade
sexual também depende fundamentalmente da qualidade da relação com os
pais desde a infância e de que quão harmoniosa seja a vida sexual dos pais”.
(BUONCOPAGNO e SARMENTO apud MARTINEZ, 1998, p. 39)
A partir de agora, o adolescente pode vir a buscar um par, com o qual irá
percorrer uma jornada nova e desvelará o próprio corpo e o do parceiro. Essa
busca vem acompanhada de fantasias, desejos e pulsões de forma
exacerbada. Porém o jovem na sua realização afetivo-sexual alicerça-se na
inversão do processo vivido pelos pais: o relacionamento com os de sua idade
38

começa pelo corpo, e não pela exploração da índole, das preferências e


tendências da personalidade do parceiro (FERREIRA et al, 2003, p. 45) .
Essa mudança não deve ser relegada pelos pais; ignorar a evolução
sexual do adolescente e descartar o diálogo pode ser perigoso, pois o jovem
corre o risco de desorientar-se de supervalorizar o sexo fazendo dele seu
principal objetivo e uma atividade rotineira desprovida de respeito e afeto
(FERREIRA et al, 2003, p. 46).

[...] É neste momento que se torna oportuno aos pais e aos jovens, o
diálogo franco e a orientação esclarecedora. Reforçar a confiança em
relação aos valores que foram cultivados pela família, desde a
infância, é fundamental. Compreender e aceitar –por mais que possa
doer- que a conduta pessoal a partir de agora é uma opção do jovem
em processo de evolução, e que a escolha não mais cabem aos pais,
torna-se básico para a harmonia nas relações entre pais e filhos.
(FERREIRA et al, 2003, p. 46)

A cura da adolescência pertence à passagem do tempo e aos processos


gradativos do amadurecimento, estes dois fatores juntos resultam, no final, no
surgimento de uma pessoa adulta (WINNICOTT apud FILHO, 2003, p. 140)

3.3 Maturidade

O sexo tem sido considerado a mais completa forma de toque. Em


Nenhuma outra relação à pele é tão envolvida como no momento da relação
sexual (MONTAGU, 1988, p.200).
Por esta totalidade que envolve o corpo que o sexo é usado como
substituto para inúmeras “faltas” existentes na vida indivíduo. Existem estudos
(1988) que preconizam que pessoas que tiveram um bom atendimento por
parte de suas mães são notoriamente superiores em seus relacionamentos
táteis às que não o tiveram.

Atendimento materno adequado significa um complexo de


estimulações cutâneas que, entre outras coisas, ativam os sistemas
de respostas táteis do bebê e, desde cedo em sua vida, preparam-no
com essas experiências para um posterior funcionamento adequado
em todas as situações que envolvam a tatilidade (MONTAGU, 1988,
p. 202).

As relações afetivas vivenciadas desde o início do desenvolvimento,


quando positivas, contribuem de forma ímpar para as relações amorosas
39

futuras do indivíduo. Se quando criança o indivíduo recebeu carinho, e através


de um abraço foi aconchegado, é provável que ele queira reproduzir o mesmo
com aquele a quem amar. Do contrário, se não foi acariciado e levado ao colo
adequadamente é possível que venha a desenvolver uma carência afetiva
profunda desse tipo de atenção.
Estudos revelaram que algumas mulheres usam o ato sexual como forma
de ter o contato físico (1988). É nesta configuração que elas conseguem o que
tanto desejam, o abraço, o acolhimento. Uma mulher descreveu o seu desejo
de ser abraçada como “[...] uma espécie de dor [...] uma sensação física”.
HOLLENDER (apud MONTAGU) comenta que:

“O desejo de ser abraçado e segurado é aceitável a maioria das


pessoas, desde que seja considerado como parte componente da
sexualidade adulta. O desejo de ser aconchegado e abraçado de
modo maternal é considerado infantil demais; e para evitar embaraço
ou vergonha, as mulheres encobrem-no pelo desejo de serem
abraçadas por um homem como parte da atividade adulta da relação
sexual”.

Visto isto, podemos entender que o anseio pelo abraço é uma resposta a
uma necessidade que não foi suprida nos primeiros anos de vida. O abraço,
nesta configuração, é o desencadeador do sentimento de segurança.
Mesmo sendo o abraço considerado distinto ao sexo, para muitos ele é o
elemento principal da necessidade do mesmo.
O sexo pode exercer muitas funções na vida de uma pessoa: através dele
pode se dizer coisas que são incomunicáveis de outra forma; é uma troca de
amor; um meio de explorar ou magoar os outros; um meio de defesa, enfim,
todas as formas são influenciadas, em maior ou menor grau, pelas primeiras
experiências táteis.
Acontece que muitas das primeiras experiências são desagradáveis e
transmitem uma idéia errônea sobre a sexualidade. Uma criança que sente
prazer em chupar seu dedo pode ser castigada por fazê-lo, ou a criança que
descobre as agradáveis sensações de manipular partes do seu corpo, pode ser
igualmente desestimulada e levada a crer que tem algo de errado com ele.

A qualidade da intimidade física entre mãe e filho reflete os


sentimentos da mãe a respeito da intimidade sexual. Se o ato sexual
é por ela encarado com nojo, todo contato corporal vem tingido por
40

essa nuança de sentimento. Se a mulher tem vergonha de seu corpo,


ela não pode ofertá-lo generosamente ao bebê de peito. Se sente
repugnância diante da metade inferior de seu corpo, sentirá uma
certa repulsa quando tocar nessa parte do corpo do filho. Cada
contato com a criança é uma oportunidade para que esta experimente
aos prazeres da intimidade ou para que seja repelida pela vergonha e
pelo medo da mesma. Quando a mãe tem medo da intimidade, a
criança sentirá esse medo e o interpretará como rejeição. A criança
que é filha de uma mulher temerosa da intimidade desenvolverá uma
sensação de vergonha a respeito de seu próprio corpo (MONTAGU,
1988, p. 214)

Podemos dizer que carências de experiências tátil sofridas no início da vida


podem provocar comportamentos calculados para obtenção de substitutos
capazes de satisfazer tais privações táteis, como já discorrido acima.

4.4 Terceira Idade

Com a passagem do tempo, a pele muda a sua textura, mas o espírito que
existe em nosso interior, como o bom vinho, é capaz de aperfeiçoar-se ano
após ano (MONTAGU, 1988, p. 370).
É por ela que verificamos a evidência do envelhecimento: a pele fica
enrugada, manchada, com pouca elasticidade. Aos poucos perde a acuidade
do sentido do tato, a capacidade de localizar com precisão um estímulo, perde
a velocidade de reação aos estímulos táteis, e a velocidade em relação aos
estímulos da dor.
No entanto, as necessidades táteis não mudam com a idade, em vez
disso, parecem aumentar. Infelizmente, em algumas culturas, a comunicação
tátil muda a partir da adolescência por questões preconceituosas e insensatas.
Para um homem é aceito o carinho e o abraço com a mãe, porém não o é com
o pai. Diariamente ele é encorajado a viver uma vida não-tátil, faminto por
experiências táteis e buscando satisfazê-las através de contatos sexuais. Com
a chegada da velhice, a capacidade sexual do homem diminui, e sua fome tátil
aumenta. É neste momento, onde depende tanto da ajuda alheia, que aumenta
sua necessidade por um abraço, por uma mão o ajudando, por um carinho.
As necessidades táteis no idoso são severamente negligenciadas. As
respostas físicas que os idosos nos dão ao receberem um afago, um abraço,
um tapinha de leve nas mãos, podem contribuir para a melhora em quadros
clínicos (MONTAGU, 1988, p. 371)
41

Os idosos geralmente apresentam quadros de dificuldade auditiva,


acuidade visual, mobilidade e vitalidade. Por conta disso eles podem ter a
sensação de desamparo e vulnerabilidade. Diz MONTAGU (1988): “É por meio
do envolvimento emocional do tato que se consegue atravessar a distância até
o isolado ancião e comunicar-lhe amor, confiança, afeto e calor humano” (p.
372)

4.4.1 A importância dos contatos sociais para os idosos

A senescência diz respeito ao envelhecimento primário e inevitável, que


corresponde à deterioração corporal de forma gradual. A senilidade, a qual
iremos nos deter no momento, é resultante de doenças, abusos, afastamento
de atividades sociais, falta de atividade física e estimulação cognitiva.
Sabe-se que um dos grandes problemas do envelhecimento é a
aposentadoria, isto porque, dentre inúmeros fatores, ocorre o afastamento
social. Nesta fase, o indivíduo perde muito dos seus contatos sociais, o que
pode desencadear sentimentos de exclusão e inutilidade (Falcão e Dias, 2006,
p. 159).
A perda da função social está estreitamente ligada à perda da identidade
social; por isso, o idoso deve manter suas redes sociais, pois dessa forma ele
estará reduzindo a possibilidade de institucionalização e mortalidade. Além do
mais, pesquisas (2006) demonstram que a manutenção dos laços sociais
contribui para a redução da sintomatologia da depressão, isto independente da
idade e do sexo do indivíduo.
O envelhecimento modifica o status da pessoa e os seus relacionamentos
em função da perda de papéis sociais até então bem estabelecidos. Esta
situação pode provocar crise de identidade, mudança de papéis na família e na
sociedade, restrições à independência e a autonomia, e diminuição das
oportunidades de interagir com outras pessoas (ZIMERMAN apud FALCÃO e
DIAS, 2006, p. 22).
Manter-se em atividades sociais, como contato com amigos e familiares,
constitui-se em um fator importante para a qualidade de vida do idoso.
O isolamento é fator pontual para o comprometimento do desenvolvimento
qualitativo humano; seja em qualquer idade, o contato com o outro atesta ao
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indivíduo uma consciência de si e do mundo. Se privar dos contatos sociais


equivale a abandonar o seu desenvolvimento nos âmbitos sociais, psíquicos e
afetivos.

4.4.2 Sexualidade e afetividade na terceira idade

O sexo acompanha o ser humano por toda sua vida, e só o abandona


quando ele morre. Infelizmente é comum ouvirmos que existe idade para se
praticar o ato sexual, e que a pessoa idosa que pratica o sexo é “sem
vergonha” ou “assanhada”. A sociedade encara o encontro sexual como
privilégio dos jovens, e estabelecem verdadeiros tabus ao que se refere ao
sexo na terceira idade. A verdade é que quando o idoso aceita as mudanças
oriundas da idade, no que diz respeito ao seu corpo, ou a possíveis limitações
físicas, ele é capaz de vivenciar uma experiência plena e vital para este
momento se sua vida.
Pascual diz:
Não existem limites de idade para amar e ser amado. O amor
pleno inclui o sexual, não reduzido ao genital, uma vez que não se
limita a genitalidade. O amor busca a fusão com o outro, e por isso
também a união, a carícia, tanto corporal, quanto psíquica. A
afetividade e o prazer sexual andam unidos, para criar uma vivência
plena e feliz. (PASCUAL, 2000, p. 80)

A pele enrugada com o passar dos anos necessita de todo tipo de carícia,
em especial a carícia erótica. Através do contato físico entramos em contato
com o mais íntimo do nosso ser, e através dele damos vazão ao medo da
solidão. A relação sexual abre-nos ao encontro e à relação com o outro.
A sexualidade e as funções sexuais são elementos contíguos à vida das
pessoas idosas, e abrange todos os componentes e aspectos da pessoa, e não
apenas a função genital reprodutora. A sexualidade e a afetividade são de
grande importância para a vida do idoso tal como o é para o jovem.
Butler e Lewis descrevem em seu livro “Sexo e Amor na terceira idade”
(1976) a rotina de um casal com mais de oitenta anos:

Geralmente tomam banho e se vestem para o jantar, ela coloca


um vestido longo, e ele terno e gravata. Jantam à luz de velas e
música suave, e deixam os pratos para serem lavados na manhã
seguinte.Continuam a ouvir música, tocando os seus discos, de mãos
dadas, conversando e aproveitando a companhia do outro. Na hora
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de dormir dizem boa noite e dormem abraçados. Muitas vezes


acordam no meio da noite e têm conversas longas e íntimas,
dormindo até mais tarde no dia seguinte. O Senhor Confessou: “Eu
me apaixono pela minha esposa todas as noites. Meus sentimentos
aumentam quando penso que só temos mais um pouco de vida”(p.
119)

A história acima corrobora a afirmação já feita neste capítulo. A


sexualidade vai além do ato físico, mas envolve o romance, o carinho, a
conversa, e principalmente a intimidade que decorre de uma relação pautada
no amor.
O sexo expressa alegria e uma contínua afirmação da vida. A qualidade da
relação mais íntima de alguém é uma importante medida para se saber se sua
vida vale à pena. Uma pessoa bem-sucedida pode sentir fracasso se não tiver
sido capaz de conseguir uma intimidade significativa com outras pessoas,
porque nunca se sentiu plenamente querida ou aceita. Por outro lado, pessoas
com modestas realizações podem se sentir muito satisfeitas consigo mesmas
por terem se afirmado através de relações íntimas. O sexo é apenas uma das
maneiras de conseguir intimidade, evidentemente, mas é uma afirmação
especialmente profunda da vontade de viver (BUTLER e LEWIS, 1976, p.
119).
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CONCLUSÃO

Com base nas informações contidas neste trabalho de monografia,


podemos dizer, entre outras coisas, que o Toque vai além do contato físico; ele
penetra a pele e chega até a alma.
Em todas as etapas do desenvolvimento humano, a relação com o outro
está imbuída de demonstrações afetivas através do Toque. Seja para falar do
amor ou do ódio, o contato físico é o melhor tradutor das emoções.
Tudo o que ocorre em nosso corpo, dentro e fora, é sentido pela pele.
Desde uma febre que nos provoca calafrios, até um carinho que nos arrepia, a
pele demonstra as reações desencadeadas por estímulos de dor e prazer.
E não se trata somente da pele, do Toque como comunicador e receptor
de emoções; o olhar e o afeto transmitido por um carinho, por uma palavra, por
uma atenção dispensada a quem necessita, proporciona ao receptor tantos
benefícios quanto os verificados através do contato físico. Porque quando
falamos de Toque, estamos falando também de tocar e ser tocado, na pele e
no coração.
Existe em nós, seres humanos, uma necessidade de amar e ser amado;
de pertencer a algum círculo social, de nos sentirmos incluídos em algo. Essa
necessidade nos acompanha até o final de nossas vidas, e quando não é
suprida, o indivíduo sofre uma morte emocional. Ele passa a ter uma couraça
no lugar da pele.

E não há forma melhor de pensarmos em como o Toque é um veículo para


o mundo externo, se nos atermos nos casos de deficiências visuais e auditivas.
Tamanho é o isolamento resultante de tais deficiências que o indivíduo só é
capaz de se inserir no mundo através do toque, e se comunicar através da
vibração das cordas vocais, e mesmo para isso é necessário senti-las com as
mãos. Esse é um tema abrangente e muito interessante, por isso pretendo
desenvolvê-lo em algum trabalho futuro.
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