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RIO DE JANEIRO
NOVEMBRO/2009
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RIO DE JANEIRO
NOVEMBRO/2009
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Dedico este trabalho à minha avó e amiga, Hilda, e ao meu filho, razão
pela qual este trabalho foi realizado.
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RESUMO
Este trabalho se dedica a abordar como o suporte tátil recebido desde cedo, e
a sua continuidade nas etapas futuras do desenvolvimento, contribui para a
saúde física, psicológica e social do indivíduo.
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Sumário
INTRODUÇÃO
A mãe atua como ego auxiliar de seu filho, e dessa forma ele tem um
ego desde o primeiro instante, um ego muito frágil e pessoal, mas
impulsionado pela adaptação sensível da mãe, e pela capacidade
desta em identificar-se com seu bebê no que diz respeito às suas
necessidades básicas. (WINNICOTT, 1988, p.31)
investimento por parte dos pais para que esta criança se torne civilizada e
inserida no universo social.
Para que a inserção psicossomática se estabeleça, o bebê precisa de uma
mãe capaz de se envolver emocionalmente com seu corpo e suas funções,
apresentando e reapresentando o corpo e a psique um do outro, envolvendo-os
em um processo de inter-relação, essa função materna, denominada de
holding (manejo adequado) por Winnicott é essencial para o desenvolvimento
do bebê (CELERI, 2009, p.32).
A função da sustentação materna associa-se à confiabilidade e
responsabilidade. O holding satisfatório não pode ser ensinado, uma vez que
se assenta na capacidade de a mãe se identificar com o bebê.
Um holding adequado consiste em que a mãe:
Sua boa adaptação às necessidades dele o fazem crer que é capaz de criar
tudo de que precisa para sobreviver (caso contrário o mundo não fará sentido
para ele), para seu bem estar e para sua satisfação; dessa forma terá uma
experiência de potência e de capacidade criativa, inventiva, produtiva, que
serão essenciais para o desenvolvimento da confiança em si e no mundo.
O bebê então fica com a ilusão de que o mundo pode ser criado e de que o
que é criado é o mundo; mas isso não quer dizer que ele seja regido pelo
princípio do prazer. Ilusão de onipotência não significa satisfação de seus
desejos, mas atendimento a sua necessidade de ser e ter experiências reais.
Porém, mais tarde, a mãe de acordo com sua sensibilidade irá lhe retirar
os cuidados quase que perfeitos para que o bebê seja desiludido em sua
onipotência, pois, do contrário ele não descobrirá os cuidados ambientais e o
mundo exterior.
mundo através da mãe e dessa forma vai nascendo para ele aos poucos. E na
devida hora, ambos irão poder olhar para frente e seguir adiante.
1.1 Amamentação
Para isso, mãe e filho têm que estar envolvidos e confortáveis neste
processo para que essa experiência seja rica e agradável para ambos. Neste
momento o bebê está desperto e sua personalidade em formação está
envolvida no processo. Grande parte da vida de vigília do bebê está voltada
para a alimentação (WINNICOTT, 1988, p.24).
Embora os benefícios do aleitamento materno sejam verificáveis em
inúmeras pesquisas, a mãe necessita ter mais do que o leite para garantir uma
amamentação satisfatória. O seio materno vai além da função de alimentar; ele
é uma das possibilidades de formar um vínculo inestimável com o bebê; porém,
esta não é a única forma com a qual este vínculo poderá ser formado, não
fosse assim, as crianças alimentadas artificialmente ficariam na desvantagem.
É necessário que haja a vontade e segurança da mãe para alimentar seu filho.
O ato de amamentar não deveria ser uma obrigação, mas um prazer.
Muitas crianças penam com suas mães tentando fazer com que o seio
desempenhe suas funções, embora sejam incapazes de fazê-lo, talvez por
motivos anteriores que lhe escapam à consciência. Ambos sofrem com isso, e
encontram grande alívio quando a alimentação artificial é introduzida.
A amamentação é apenas um dos importantes pilares no desenvolvimento
infantil, tendo igual ou maior importância a manipulação e o ato de segurar
(WINNICOTT, 1988, p. 21). Na verdade é todo um conjunto de cuidados que a
mãe devotada comum irá proporcionar através de um ambiente facilitador.
Trata-se então da intimidade dessa mãe com seu filho, intimidade essa
que se desenvolve quando existem recursos ambientais para estimular sua
confiança em reconhecer nessa relação às necessidades e possibilidades de
cada um. Tornar-se mãe é algo que vai acontecendo paulatinamente, embora
ela, mesmo sem alguma experiência prática ou aprendizado intelectual, seja
capaz de “saber” de seu filho como ninguém, devido a seu estado naturalmente
regredido de “preocupação materna primária” relacionado à gravidez.
É através do contato corporal com a mãe que a criança faz seu primeiro
contato com o mundo; através deste, passa a participar de uma nova dimensão
da experiência, a do mundo do outro. É este contato corporal com o outro que
fornece a fonte essencial de conforto, segurança, calor e crescente aptidão
para novas experiências, e a base disso tudo está na amamentação, da qual
fluem todas as bênçãos e promessas de boas coisas que ainda estão por vir.
(MONTAGU, 1988, p.102)
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Ser tocado á uma necessidade primária, a qual deve ser satisfeita para
que crianças possam se desenvolver como seres humanos saudáveis. “E o que
é um ser humano saudável? É aquele que é capaz de amar, trabalhar, brincar
e pensar de modo crítico e livre de preconceitos” (MONTAGU,1988, p. 193).
ou que foram mantidos em quarto escuro com uma mãe surda-muda. Se não
fosse pela estimulação cutânea, a relação com o mundo ficaria muito
comprometida, mas graças ao alfabeto digital é possível uma maior
socialização com o mundo.
Toda forma de carinho, abraço, beijo, embalo, contribui para o aumento da
resistência ao estresse, diminuição do nível de ansiedade, aumento do
comportamento exploratório das crianças, entre outros benefícios já citados.
Estes efeitos contribuem de forma positiva para o desenvolvimento de
habilidades sociais, para o aprendizado, para o ajustamento sexual, prevenindo
comportamentos anti-sociais (HAYDU, 2005).
O Toque acompanha o ser humano por toda vida, porém em cada fase
dela ele cumpre uma função distinta. Veremos a seguir a importância do Toque
em cada fase do desenvolvimento do ser humano.
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3.1 Infância
através da interação do bebê com o ambiente interno e externo que ele irá
amadurecer e desenvolver-se.
Dependendo das impressões percebidas pelo bebê, principalmente pelas
impressões da pele, ele poderá desenvolver uma sensação de confiança ou
desconfiança. Como o bebê nasce destituído de estrutura psíquica e de limites
corporais, é através do contato com a pele, principalmente com o ato de ser
carregado, que ele irá desenvolver uma consciência de si. E através da
constância das experiências, que lhe propiciarão um ritmo definido, o bebê terá
a impressão de que as coisas acontecem sempre da mesma forma e de acordo
com suas vontades.
Inicialmente, suas identificações primárias são dirigidas para suas
necessidades de gratificação enquanto parte de seu corpo; para que isso
ocorra satisfatoriamente, faz-se necessário que a mãe atue como facilitadora
deste processo permitindo a gratificação das necessidades inerentes do bebê
ao ser tocado.
foram vítimas de maus tratos não apresentaram tal quadro quando separadas
da mesma (SPITZ apud NASCIMENTO et al, p. 5).
por isso que a volta ao lar deveria representar a volta ao paraíso, onde o amor
é seguro.
Nesta fase onde estão mais crescidos, a necessidade de carinho continua,
porém de forma diferente de antes. Eles podem agora preferir um contato
através de brincadeiras e passeios, em vez de abraços e beijos, principalmente
com relação aos meninos, que demonstram preferência a contatos mais
vigorosos como brincadeiras de luta (que é um esporte de contato).
Mas é necessário saber falar a língua emocional da criança. Para muitas, o
contato físico através do toque, do carinho, do abraço, da massagem, dos
beijos, fala muito mais alto que palavras de afirmação, presentes, tempo de
qualidade. Os pais precisam prestar atenção em como fazer para encher o
“tanque emocional” de seus filhos (CHAPMAN, 1997, p. 45).
Uma ótima forma de demonstrar carinho nesta fase é levar o filho ao colo
quanto for contar histórias, ou lhe oferecer um aconchego quando está doente
ou cansado. Agora o contato depende também da vontade da criança, e é
necessário que os pais aprendam a entender os momentos de seus filhos para
que não se tornem invasores de seu mundo social em construção.
Assim como na adolescência, acontece que com o crescimento e a
inserção no meio social, a criança desenvolve outras necessidades além das
que os pais já conheciam. É necessário então uma adaptação por parte deles
para essa nova etapa do desenvolvimento.
Winnicott diz que: “A base para a saúde mental adulta é construída na infância
[...]” (WINNICOTT apud CARETA e MOTTA, 2007, p.142). Com esta afirmativa
podemos pensar que ao fornecer à criança bases sólidas onde ela possa se
constituir estaremos atestando um desenvolvimento sadio nos próximos
estágios do seu desenvolvimento.
3.2 Adolescência
[...] Os pais, por sua vez, devem também enfrentar o luto e elaborar a
perda com relação ao submetimento do filho. Esta relação dialética
de duplo luto torna ainda mais difícil a passagem pela adolescência.
(MARTINEZ, 1998, p.38)
Com tantas mudanças, é comum que os pais se frustrem por seus filhos
não aceitarem mais os carinhos que costumavam gostar quando crianças, e
chegam a pensar que eles estão com algum problema, porém é normal que em
uma época de transformações, os gostos mudem. É necessário por parte dos
pais entenderem que neste momento uma conversa franca, um apoio em um
momento de dificuldades, um olho no olho passam a ter tanta importância
como costumava ter o aconchego do colo dos pais e um afago. Se antes o
Toque era de afirmação, nesta fase ele pode ter o valor de “sabotamento da
independência” (CHAPMAN, 2000, p. 81).
Então, de qual forma podemos demonstrar o amor através do Toque? Para
um adolescente do sexo masculino, uns tapinhas nas costas, ou brincadeiras
de luta, como queda de braço podem ser muito bem aceitos. Esta é uma nova
linguagem a qual os pais têm que aprender a falar. Mesmo na relação entre
adolescentes do sexo feminino, o contato através do Toque é tão essencial
quanto à fala. Em nossa cultura é normal vermos meninas andando de mãos
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[...] É neste momento que se torna oportuno aos pais e aos jovens, o
diálogo franco e a orientação esclarecedora. Reforçar a confiança em
relação aos valores que foram cultivados pela família, desde a
infância, é fundamental. Compreender e aceitar –por mais que possa
doer- que a conduta pessoal a partir de agora é uma opção do jovem
em processo de evolução, e que a escolha não mais cabem aos pais,
torna-se básico para a harmonia nas relações entre pais e filhos.
(FERREIRA et al, 2003, p. 46)
3.3 Maturidade
Visto isto, podemos entender que o anseio pelo abraço é uma resposta a
uma necessidade que não foi suprida nos primeiros anos de vida. O abraço,
nesta configuração, é o desencadeador do sentimento de segurança.
Mesmo sendo o abraço considerado distinto ao sexo, para muitos ele é o
elemento principal da necessidade do mesmo.
O sexo pode exercer muitas funções na vida de uma pessoa: através dele
pode se dizer coisas que são incomunicáveis de outra forma; é uma troca de
amor; um meio de explorar ou magoar os outros; um meio de defesa, enfim,
todas as formas são influenciadas, em maior ou menor grau, pelas primeiras
experiências táteis.
Acontece que muitas das primeiras experiências são desagradáveis e
transmitem uma idéia errônea sobre a sexualidade. Uma criança que sente
prazer em chupar seu dedo pode ser castigada por fazê-lo, ou a criança que
descobre as agradáveis sensações de manipular partes do seu corpo, pode ser
igualmente desestimulada e levada a crer que tem algo de errado com ele.
Com a passagem do tempo, a pele muda a sua textura, mas o espírito que
existe em nosso interior, como o bom vinho, é capaz de aperfeiçoar-se ano
após ano (MONTAGU, 1988, p. 370).
É por ela que verificamos a evidência do envelhecimento: a pele fica
enrugada, manchada, com pouca elasticidade. Aos poucos perde a acuidade
do sentido do tato, a capacidade de localizar com precisão um estímulo, perde
a velocidade de reação aos estímulos táteis, e a velocidade em relação aos
estímulos da dor.
No entanto, as necessidades táteis não mudam com a idade, em vez
disso, parecem aumentar. Infelizmente, em algumas culturas, a comunicação
tátil muda a partir da adolescência por questões preconceituosas e insensatas.
Para um homem é aceito o carinho e o abraço com a mãe, porém não o é com
o pai. Diariamente ele é encorajado a viver uma vida não-tátil, faminto por
experiências táteis e buscando satisfazê-las através de contatos sexuais. Com
a chegada da velhice, a capacidade sexual do homem diminui, e sua fome tátil
aumenta. É neste momento, onde depende tanto da ajuda alheia, que aumenta
sua necessidade por um abraço, por uma mão o ajudando, por um carinho.
As necessidades táteis no idoso são severamente negligenciadas. As
respostas físicas que os idosos nos dão ao receberem um afago, um abraço,
um tapinha de leve nas mãos, podem contribuir para a melhora em quadros
clínicos (MONTAGU, 1988, p. 371)
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A pele enrugada com o passar dos anos necessita de todo tipo de carícia,
em especial a carícia erótica. Através do contato físico entramos em contato
com o mais íntimo do nosso ser, e através dele damos vazão ao medo da
solidão. A relação sexual abre-nos ao encontro e à relação com o outro.
A sexualidade e as funções sexuais são elementos contíguos à vida das
pessoas idosas, e abrange todos os componentes e aspectos da pessoa, e não
apenas a função genital reprodutora. A sexualidade e a afetividade são de
grande importância para a vida do idoso tal como o é para o jovem.
Butler e Lewis descrevem em seu livro “Sexo e Amor na terceira idade”
(1976) a rotina de um casal com mais de oitenta anos:
CONCLUSÃO