Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Eduardo Braga
VICE-GOVERNADOR DO AMAZONAS
Omar Aziz
ASSESSOR DE EDIÇÕES
Antônio Auzier
336 p.
ISSN: 1679-931 (Semestral)
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .07
PARTE 01
TRIBUTAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS: O ICMS ECOLÓGICO
Fernando Facury Scaff - Lise Vieira da Costa Tupiassu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
PARTE 02
A “CIDADANIA ATIVA” COMO NOVO CONCEITO PARA REGER AS RELAÇÕES DIALÓGICAS ENTRE AS
SOCIEDADES INDÍGENAS E O ESTADO MULTICULTURAL BRASILEIRO
Fernando Antonio de Carvalho Dantas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .215
PARTE 03
O RISCO ACERCA DA UTILIZAÇÃO DA TRANSGENIA (ORGANISMOS GENETICAMENTE
MODIFICADOS) NA AGRICULTURA MODERNA
Bruno Gasparini . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .251
Hiléia
Revista de Direito
Ambiental da Amazônia 7
harmônica constante para o desenvolvimento dos temas
plurais e diversos. Assim, questões como o desenvolvimento
sustentável de Ignacy Sachs, o espaço na condução do
desenvolvimento de José Aldemir de Oliveira e a discussão
sobre os projetos de desenvolvimento de Ana Carolina
Cambeses Pareschi, são políticas que se constroem sobre bases
jurídicas, as quais facilitarão ou reterão a sua efetividade.
O tema natureza e cultura, constância necessária ao
nosso programa de Pós-graduação em Direito Ambiental,
emerge com matizes ricos e variados. Por Joaquin Herrera
Flores somos conduzidos ao universo complexo que revela a
simplicidade do fato que jamais se afasta: somos matéria
forjada nas mãos da natureza e cultura. Neste tom
desenvolvem-se as composições de Juan Antonio Senent de
Frutos, Fernando Antonio de Carvalho Dantas, Julio Gasparini
e Paulo Fernando de Britto Feitoza.
Estamos aqui, não seria demasiado afirmar, no realizar
da ciência, pelos passos esclarecedores de Mario de Andrade
em relação à música erudita no Brasil: trazemos "o
universalismo no homem, evidenciando as diferenças
existentes entre as raças e legitimando em todos os
agrupamentos humanos a consciência racial". (Pequena
História da Música, ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1987, p. 155).
Cria-se o particular no universal, sem dele se depreender, e
ainda, pelo universal valorizado, no que o particular é diverso.
Esta é a música da terra para o poeta, esta é a percepção
aportada pela Hiléia em sua segunda edição.
E o direito continua sua melodia, permeando os referidos
textos e ganhando predominância nos textos de Fernando
Facury Scaff e Lise Vieira da Costa Tupiassu, assim como nos
textos de Sandro Nahmias Melo e de Edson Ricardo Saleme.
Honrando a memória de Alexandre Ferreira, o segundo
número de Hiléia mostra que conhecimento sobre a Amazônia
é polifônico, não se limitando a espaços artificiais de "ramos"
do saber. Ainda, como o precursor baiano, nas palavras de
Arthur Reis, "sob a paixão e os impulsos de sua vocação" e
"vendo com olhos de ver", segue a busca pela compreensão da
Amazônia, seu espaço no mundo das relações humanas e a
importância do seu reconhecimento para o fazer e sentir.
Hiléia
Revista de Direito
8 Ambiental da Amazônia
Retenhamos a musicalidade nacional na produção
acadêmica e teremos, sem dúvida, o vigor da produção
inspirada que revela os tons da melodia do próprio, do local;
que se harmoniza com os sons polifônicos das contribuições
diversas e resulta na construção de um pensamento atento e
revelador. Recebamos esta nova publicação da Hiléia com o
entusiasmo de quem sabe as notas musicais e se impressiona
com seus arranjos e combinações.
Foram muitas as mãos e mentes que dedilharam este
segundo número da Hiléia. Devemos agradecer aos autores; ao
nosso magnífico reitor professor Lourenço dos Santos Pereira
Braga e ao secretario de estado da cultura Robério dos Santos
Pereira Braga. Aos professores do Programa de Pós-graduação
em Direito Ambiental, em especial a Andréa Borghi Moreira
Jacinto que resumiu os textos e as nossas, sempre diligentes,
secretárias Silvana e Clarissa. Por fim, aos mestrandos do
Programa, estímulo e esperança por um futuro possível.
Hiléia
Revista de Direito
Ambiental da Amazônia 9
– PARTE 01 –
O
mundo passa por grandes transformações
econômicas, políticas e sociais.
No âmbito econômico, a tônica é a intensificação do processo de
globalização, fenômeno marcado pela quebra do paradigma
socialista, fruto da falência3 do socialismo real,4 que tornou o
capitalismo um processo ideologicamente totalitário.5 A revolução
tecnológica, especialmente nos meios de comunicação, vem
transformando a sociedade, através da intensificação da relação de
trocas econômicas.
Existem paradoxos neste processo de globalização, pois ao
mesmo tempo em que se trata de um fenômeno real, palpável, deve-
se registrar a explosão de nacionalismos em várias partes do globo,
sendo intensa nos países do leste europeu,6 e também existente na
1 Doutor em Direito pela USP, Professor dos Cursos de Graduação, Mestrado e Doutorado da Universidade Federal do
Pará e Advogado.
2 Mestre em Direito pela Universidade Federal do Pará, doutoranda em Direito Publico pela Université des Sciences
Sociales de Toulouse.
3 A falência do paradigma apenas acelerou o processo de globalização, e não o fez surgir, pois a consolidação e a
expansão do capital para além das fronteiras nacionais têm origens remotas.
4 Não do ideal socialista, mas da tentativa de colocá-lo em prática através dos modelos de Estado autodenominados
de socialistas.
5 Pois monopoliza todos os poderes componentes da sociedade, mesmo os politicamente mais periféricos; é baseado
na educação e massificação de propaganda em seu próprio favor e desconsidera a exposição de idéias divergentes
como “fora de padrão”, entre outras características.
6 A questão dos Bálcãs envolvendo a Iugoslávia é um exemplo.
Tributação e Políticas
Públicas: O ICMS Ecológico 15
África.7 Outro paradoxo diz respeito ao papel deste processo de
globalização quase exclusivamente à livre circulação do capital
financeiro, e muito pouco à circulação de pessoas e bens. Neste
aspecto, as barreiras alfandegárias e de imigração8 estão presentes e
se intensificando.
No âmbito político estamos frente a uma transformação do
modelo de Estado, que antes era de Bem-Estar e hoje é marcado pelo
neoliberalismo. A declarada intenção é reduzir o tamanho do Estado,
a fim de que sua participação econômica ocorra muito mais pela
atuação sobre o domínio econômico, como agente normatizador de
mercados, do que como agente de produção/comercialização de bens
ou serviços, ao atuar no domínio econômico.9 O neoliberalismo,
portanto, necessita de manutenção do Estado fiscalizador, a fim de
que as regras do jogo econômico sejam asseguradas e o “livre
mercado”10 possa atuar. Resta saber, atuar em prol de quem?
No âmbito social, vemos um processo marcado por amplas
transformações, seja pela maior complexidade dos sistemas sociais,
seja pela mais ampla participação ativa dos agentes sociais no
cenário econômico.11 Novas formas de organização da sociedade como
as organizações não-governamentais, estão mudando o perfil da
sociedade.
Dentro deste prisma é que está em processamento uma
alteração dos conceitos de soberania, território e povo. E, por
conseguinte, a concepção e o papel do Direito na sociedade.
O conceito de povo, por exemplo: de singela massa de manobra
nos discursos políticos,12 passa a ser considerado também como um
mero e descartável índice econômico, uma simples variável dos
grandes movimentos de capital em disparada pela melhor posição
econômica global. Daí surge o fenômeno do desemprego estrutural, e
a colocação em cheque do modelo anteriormente existente na
sociedade. Do pleno emprego passamos ao desemprego estrutural e à
13 Ver, sob o aspecto econômico, Viviane Forrester, O Horror Econômico. São Paulo: Unesp, 1997. Sob o aspecto
jurídico, Rosita de Nazaré Sidrin Nassar, Flexibilização do Direito do Trabalho. São Paulo: LTR, 1991; Arion Sayão
Romita, “A Globalização da Economia e o Poder dos Sindicatos”. In: Ordem Econômica e Social – Estudos em
homenagem a Ary Brandão de Oliveira. São Paulo: LTR, 1999, coord. Fernando Facury Scaff.
14 Fundamental sobre este tema é a coletânea Direitos Humanos no Século XXI, organizada por Paulo Sérgio Pinheiro
e Samuel Pinheiro Guimarães, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais e Fundação Alexandre de Gusmão,
2 vols., bem como o excelente livro de Fábio Konder Comparato, A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São
Paulo: Saraiva, 1999.
Tributação e Políticas
Públicas: O ICMS Ecológico 17
privados de outras cidadanias, sem nenhuma responsabilidade social
com o que se desenvolve naquele país e, muitas das vezes, afastado da
possibilidade de ser alcançado pelas decisões dos Poderes locais.
Um país não é mais soberano com antes, cotejado com a época
em que Jean Bodin cunhou o conceito. A soberania encontra-se mais
relativizada do que nunca.
Por conseguinte, a delimitação do Direito como objeto de aplicação
de normas estatais (soberania), sobre determinada área geográfica
(território), a fim de regular as relações entre as pessoas (povo) encontra-
se colocada em cheque, sendo necessário pensarmos o Direito
globalmente, como um instrumento de desenvolvimento entre as
nações, centrado na dimensão humana global.
E daí surge todo um novo âmbito de discussão, uma vez que o
Direito que temos utilizado é um Direito pensado e criado para funcionar
dentro de uma matriz determinada pelos conceitos de soberania, território
e povo que hoje não mais existem como dantes, amplamente modificados
pela tecnologia e pelo incremento do sistema de trocas.
Tudo que acima foi exposto afeta profundamente o Direito
Tributário, que é um Direito centrado fortemente na noção de
território. A extraterritorialidade do Direito Tributário é uma
excepcionalidade decorrente dos tratados internacionais para evitar a
bitributação. Ou ainda, quando inserido no contexto de uma união
aduaneira ou mercado comum, sempre visando a equilíbrio tributário
dentre os países envolvidos.
É ainda um Direito centrado fortemente no formalismo das
concepções, onde as relações sempre ocorrem dentro de um prisma
que envolve apenas a função de arrecadar, e não visando a obtenção
de resultados extrafiscais, que alcançam objetivos para além da
singela fórmula de disponibilizar dinheiro privado para a consecução
das necessidades públicas, fazendo-o através do Estado.
Desta forma, as modificações ocasionadas pela interseção entre
o rígido territorialismo do Direito Tributário e o mundo globalizado
vem gerando diversas perplexidades que deixam muito mais dúvidas
do que certezas dentre os estudiosos do Direito.
As respostas para estas perplexidades entre a teoria tradicional
e a realidade multifacetada e dinâmica hoje encontrada devem ser
buscadas dentro dos grandes pilares do Direito, que são os Princípios
Jurídicos, e não nas regras que os implementam. Daí ser necessário
falar das distintas dimensões do Direito para se poder pensar em
soluções globais para problemas locais.
Tributação e Políticas
Públicas: O ICMS Ecológico 19
A solução individual e a coletiva não conseguiram dar solução
a este tipo de questão resses difusos o conceito de futuras gerações.
E aí surge uma nova compreensão dos direitos fundamentais.
Passam a ser considerados também os direitos dos que ainda
não nasceram. A dimensão da pessoa humana é projetada no futuro,
não mais apenas como a dimensão civilista do nascituro, mas de toda
uma futura (e ainda nem mesmo gestada) geração de pessoas
humanas.
É dentro deste preceito que se encontra o Direito ao
Desenvolvimento Econômico, que é “um direito humano inalienável e que
a igualdade de oportunidade para o desenvolvimento é uma prerrogativa
tanto das nações quanto dos indivíduos que compõem as nações”.15
O interesse protegido não é o da atual geração, mas sua
preservação para as futuras gerações. Não é mais um interesse do
indivíduo contra o Estado, ou inerente apenas a certa coletividade,
mas um interesse difuso e que abrange não apenas as atuais, mas as
futuras gerações, que deve ser interpretado de comum acordo com a
idéia de globalização, de forma a abranger toda a espécie humana,
atualmente existente e a ser futuramente gerada.
É esta nova dimensão dos direitos fundamentais que deve estar
presente em nossa mente ao interpretar vários dos Princípios
Jurídicos dispostos em nosso ordenamento.
É antiga a expressão que enquadrava o mundo como uma
aldeia global. Contudo, apenas hoje, com o progresso dos meios de
comunicação é que se passa a ter uma pálida idéia do que representa
esta afirmação. Qualquer alteração das condições econômicas em
uma parte do globo terrestre acarreta influências imediatas em
outros países.
Verifica-se desta forma que a compreensão jurídico-tributária
deve estar inserida em toda a problemática acima exposta, pois é
necessário que o Estado exerça sua soberania para arrecadar os
recursos gerados pelo povo localizado em um determinado território.
Mas não se pode perder de vista que tais conceitos vêm sendo
colocados em cheque, como acima exposto. Desta forma, não se deve
pensar o Direito Tributário apenas como um instrumento de
arrecadação, mas também como um instrumento para a consecução
de políticas públicas em diversas outras áreas do conhecimento
humano, como, por exemplo, a área ambiental.
Por enquanto – e espero que este prazo seja curto –, nos
encontraremos frente a um conflito entre o caráter eminentemente
Tributação e Políticas
Públicas: O ICMS Ecológico 21
sociedade livre, justa e solidária, que garanta o desenvolvimento
nacional, erradicando a pobreza e a marginalização, e reduzindo as
desigualdades sociais e regionais, abolindo qualquer espécie de
discriminação (art. 3.º).
Ou ainda, entre aqueles que mencionam ser a Ordem Econômica
ser fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
visando assegurar a todos, existência digna, de conformidade com a
Justiça social, observados vários princípios, dentre eles, o da defesa do
meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental (art. 170, Constituição).
O direito tributário possui destacada atuação nestas atividades,
o que permite sua utilização como um instrumento para a
consecução daquelas finalidades. Diante deste prisma, a conexão
entre a tributação e a questão ambiental assume, a cada momento,
uma importância mais destacada em todo o mundo globalizado.
Daí ser bastante curioso este entrelaçamento entre uma
atividade com forte caráter globalizante, pois uma emissão poluente
ocorrida no Peru pode ter influências no Marajó, fruto da via natural
do rio Amazonas, e um direito fortemente territorializado, como o
tributário.
A preservação de um meio ambiente saudável e a manutenção do
desenvolvimento sustentável são metas incontestáveis, fundamentos
de nossa sobrevivência, que devem ser privilegiadas diuturnamente.
Assumindo seu papel de gestor das políticas de interesse
coletivo, deve o Estado buscar meios para atender à necessidade de
proteção dos recursos naturais para a presente e para as futuras
gerações, inscrita no artigo 225 de nossa Constituição Federal e no
art. 252 de nossa Carta Constitucional Estadual, aliando o interesse
público ao desenvolvimento sustentável, com auxílio dos entes
municipais, que também exercem papel fundamental na Federação.
A interpretação sistemática da estrutura normativa nacional,
partindo-se dos princípios fundamentais da Constituição Federal,
obriga-nos a observar todos os mandamentos por ela impostos e,
além de compatibilizá-los entre si, assegurar a sua satisfação através
das normas infraconstitucionais e das orientações políticas seguida
pelos poderes públicos.
Em face dessa realidade, não se pode excluir a relevância do
Direito Tributário que, como parte do sistema, deve ter explorada sua
finalidade social, ressaltando a função extrafiscal dos tributos, que
podem ser amplamente utilizados em benefício dos interesses
coletivos administrados pelo Estado. De fato, os tributos, em função
18 Os detalhes sobre o cálculo do Valor Adicionado Fiscal encontram-se nos parágrafos do Art. 3º, da Lei Complementar
63, de 11 de janeiro de 1990.
Tributação e Políticas
Públicas: O ICMS Ecológico 23
administração estadual no processo de desenvolvimento municipal,19
tendo em vista que os critérios de repasse de verbas influem
fundamentalmente sobre as políticas públicas adotadas, podendo, se
bem planejados, constituir-se em um amplo fator de indução
econômica.
Tradicionalmente, porém, os Estados pouco se utilizam o poder
economicamente indutivo contido no permissivo constitucional,
repetindo normalmente o mesmo critério adotado para os demais ¾20,
utilizando-se de fatores demográficos ou conferindo partes iguais a
todos os entes municipais.21
Na realidade atual, entretanto, os municípios mais populosos
ou que mais geram circulação de mercadorias são os que têm, em seu
território, mais condições de desenvolver atividades economicamente
produtivas, que culminam, no mais das vezes, em externalidades
negativas através do desenvolvimento de uma estrutura predatória
em relação aos bens ambientais.
Assim, incluindo este quadro no raciocínio da repartição de
receitas do ICMS, verificamos que os municípios que se dedicam ao
desenvolvimento econômico em detrimento da preservação ambien-
tal, são aquilatados com maior quantidade de repasses financeiros,
pois têm mais possibilidade de gerar receitas em função da circulação
de mercadorias. Por outro lado, aqueles que arcam com a
responsabilidade de preservar o bem natural, trazendo externa-
lidades positivas que beneficiam a todos, têm restrições em sua
capacidade de desenvolvimento econômico e, conseqüentemente,
recebem menos repasses financeiros por contarem com uma menor
circulação de mercadorias e serviços. Esta lógica necessariamente
deve ser alterada, pois não dá conta da dinâmica da realidade e,
principalmente, não se conforma com a proteção constitucional
conferida ao meio ambiente, tampouco com o instrumento
principiológico do poluidor-pagador.
A intervenção do Estado sobre domínio econômico-ambiental
surge, então, buscando corrigir as falhas trazidas pelas exter-
nalidades ecológicas, por ele também sofridas quando tem de
responsabilizar-se perante a sociedade para com políticas de proteção
19 Notadamente daqueles que não são fortemente beneficiados pelo critério do Valor Adicionado Fiscal.
20 Conforme explica WILSON LOUREIRO, “...em 8 Estados o critério do repasse pelo Valor Adicionado Fiscal está acima
dos 75% determinados pela Constituição Federal...” (LOUREIRO, Wilson. O ICMS ecológico na biodiversidade, p. 8). Isso
demonstra que muitos Estados privilegiam mais ainda os municípios mais ricos, não se utilizando, de forma plena, do
permissivo que lhes é constitucionalmente concedido, para a definição de outros critérios de repasse de ICMS.
21 Escapa dos objetivos deste texto a discussão acerca da legitimidade ou não do dispositivo constitucional definidor
dos critérios de repartição de receitas, tampouco dos critérios complementares estipulados pelos Estados, os quais,
por certo, têm base em fortes razões políticas e econômicas. Assim, não nos preocuparemos em julgar até que
ponto são justos, convenientes, ou se estão em harmonia com os demais princípios constitucionais.
4. O ICMS ECOLÓGICO
22 Conforme ficou conhecido este critério de repartição, buscando a divulgação e popularização do termo, embora
reconheçamos que é utilizado com certa impropriedade, uma vez que não se trata exatamente de enquadrar a
própria figura tributária (ICMS) na questão ambiental, e sim os recursos financeiros dela provenientes através de
um mecanismo de federalismo fiscal.
Tributação e Políticas
Públicas: O ICMS Ecológico 25
Note-se que a política do ICMS Ecológico representa uma clara in-
tervenção positiva do Estado, como um fator de regulação não coercitiva,23
através da utilização de uma forma de subsídio, tal como um incentivo
fiscal intergovernamental.24 Tal incentivo representa um instrumento
econômico extrafiscal com vistas à consecução de uma finalidade
constitucional de preservação, promovendo justiça fiscal, e influenciando
na ação voluntária dos municípios que buscam um aumento de receita, e
uma melhor qualidade de vida para suas populações.
Aliás, mister ressaltar que o intuito inicialmente compensatório
conferido ao instituto logo se viu substituído por uma franca conse-
qüência incrementadora, tendo em vista que um número crescente de
municípios passou a implementar políticas públicas ambientais,
almejando receber uma parte dos valores distribuídos segundo tais
critérios, conforme se verá a seguir. A política obteve muito sucesso
porque redimensiona e valoriza todos os aspectos fundamentais para
um meio ambiente saudável, incentivando os municípios a investirem
na qualidade de vida de sua população.
Pioneiramente o instituto foi concebido no Estado do Paraná,
em 1991, e hoje já se encontra efetivamente implantado também em
Estados como Minas Gerais, Rondônia, São Paulo, Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Tocantins e Pernambuco. Além
disso, inúmeros outros Estados, dentre os quais o Pará, Rio de
Janeiro, Goiás, Santa Catarina e Ceará têm projetos do gênero em
fase de discussão legislativa.25
A concretização do ICMS Ecológico não exige complexas alterações
legislativas.26 Esquivando-se das longas discussões no Congresso Nacio-
nal, responsáveis por anos de tramitação das propostas que visam alterar
a legislação tributária ou emendar a Constituição,27 a implementação do
ICMS Ecológico normalmente depende apenas de lei estadual, uma vez
que os princípios basilares da repartição financeira já se encontram na
Constituição Federal e na maioria das Constituições Estaduais, muitas
esperando há mais de 10 anos pela devida regulamentação.28
29 Neste sentido é possível observar exemplificativamente que os Estados do Paraná e Rondônia adotam critérios
ecológicos para o repasse aos municípios de 5% do valor total do ICMS arrecadado, enquanto que São Paulo afeta
0,5% e Minas Gerais 1%. Embora todos os Estados privilegiem o critério unidades de conservação, outros fatores
somam-se a este, como no caso de Minas Gerais, que incentiva também o desenvolvimento de redes de saneamento;
ou Paraná, que traz como critério adicional os municípios que dispõem de mananciais de água servindo a
municípios vizinhos. Para quadro detalhado dos critérios utilizados por cada um dos municípios ver BACHA, Carlos
José Caetano & SHIKIDA, Pery Francisco Assis. Experiências brasileiras na implementação do ICMS Ecológico, p. 189;
Grieg-Gran, Maryanne. Fiscal Incentives for Biodiversity Conservation: The ICMS Ecológico in Brazil; CAMPOS, Léo
Pompeu de Rezende. ICMS Ecológico: Experiências nos Estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e alternativas na
Amazônia.
30 Alguns critérios adotados pelos Estados necessitam de uma análise um pouco mais complexa do que a simples
quantificação aritmética. No caso do Paraná, por exemplo, realiza-se também uma análise qualitativa das unidades
de conservação. Em Minas Gerais, o critério relativo à implementação de sistemas de saneamento toma em
consideração a porcentagem da população beneficiada com a estrutura sanitária.
31 “Na verdade não se trata de uma nova modalidade de tributo ou uma espécie de ICMS, parecendo mesmo que a
denominação é imprópria a identificar o seu verdadeiro significado, de vez que não há qualquer vinculação do fato
gerador do ICMS a atividades de cunho ambiental. Da mesma forma, como não poderia deixar de ser, não há
vinculação específica da receita do tributo para financiar atividades ambientais. Não obstante, a expressão já
popularizada ICMS ECOLÓGICO está a indicar uma maior destinação de parcela do ICMS aos municípios em razão de
sua adequação a níveis legalmente estabelecidos de preservação ambiental e de melhoria da qualidade de vida,
observados os limites constitucionais de distribuição de receitas tributárias e os critérios técnicos definidos em
lei”. Pires, Éderson. ICMS Ecológico – Aspectos Pontuais – Legislação Comparada.
32 “Na prática, o que aconteceu foi uma reciclagem do dinheiro que antes já era distribuído por outro critério, o valor
adicionado”. LOUREIRO, Wilson. ICMS Ecológico: incentivo econômico à conservação da biodiversidade, uma
experiência exitosa no Brasil, p. 56.
33 LOUREIRO comenta a respeito, de acordo com os dados do Paraná, onde “o custo total para a execução do Programa
para o IAP, em 1995, foi de aproximadamente R$ 56.000,00 (cinqüenta e seis mil reais), considerando salário de
técnicos, encargos sociais, combustível, depreciação de veículos, etc.” LOUREIRO, Wilson. ICMS Ecológico: incentivo
econômico à conservação da biodiversidade, uma experiência exitosa no Brasil, p. 56.
Tributação e Políticas
Públicas: O ICMS Ecológico 27
Ao fim, caberá aos Tribunais de Contas (também no exercício de
suas funções constitucionalmente definidas), e principalmente, à
população – utilizando-se dos inúmeros meios de pressão e controle
que lhe são legalmente disponibilizados – o acompanhamento e
fiscalização dos repasses financeiros, da utilização dos valores
recebidos e da busca pelo seu incremento, bem como o exame da
veracidade das informações prestadas, que basearam a distribuição.
Ressalte-se que tal atitude pode ser estimulada e otimizada pela
própria ação dos Estados, os quais arcam com a tarefa de informar
não só as administrações municipais, mas também a população,
dando transparência à execução da política fiscal-ecológica.
Desta forma, mais facilmente será construída uma consciência
ecológico-social que, numa cadeia positiva, incentivará a otimização das
ações ambientais realizadas pelos municípios com vista ao aumento do
repasse financeiro e também ao bem-estar da sociedade como um todo.
Tributação e Políticas
Públicas: O ICMS Ecológico 29
No que tange ao objetivo redistributivo, o resultado do ICMS
Ecológico mineiro foi imediato. Logo no primeiro ano – quando ainda
não estavam em vigor os índices definitivos – quase 500 municípios
obtiveram aumentos de receita maiores que 100%, sendo que em 38
deles, o aumento superou 1.000%. A parcela per capita mínima, que
era de R$ 0,88, elevou-se para R$ 15,12, enquanto que a parcela per
capita máxima de R$ 684,53, diminuiu para R$ 587,99.42
A introdução do federalismo fiscal ecológico na região
amazônica foi realizada pelo Estado de Rondônia,43 através da
redução de 5% do valor anteriormente repassado aos municípios de
forma igualitária – que somava 19%, e ficou com 14% –, o qual
passou a ser redistribuído aos municípios que detém áreas de
conservação ambiental.
Os resultados obtidos com o novo sistema já são visíveis. A
partir de 1997, municípios obtiveram um aumento em seus repasses
de ICMS.44 Um exemplo é o município de Jamari, que abriga em seu
território um total de 55,31% de áreas ambientalmente protegidas,
tendo experimentado um acréscimo de 217,65% em suas quotas de
ICMS. Guarajá-Mirim, com 88% da sua área dedicadas a unidades de
conservação obteve um aumento médio por habitante no cálculo do
ICMS municipal.45
Ao lado dos benefícios trazidos aos municípios, o ICMS
Ecológico de Rondônia serve a derrubar o argumento de parte de
políticos e empresários da Amazônia que defendem a exploração sem
critérios de preservação da floresta como única forma de obtenção de
recursos na região.46
A ampliação do debate sobre a utilização de instrumentos
econômicos e tributários nas políticas públicas ambientais, o
aprimoramento institucional das entidades públicas no que tange ao
trato do meio ambiente e a influência no desenvolvimento estadual e
nacional de políticas semelhantes, são fatores que, ao lado do
incremento da qualidade de vida das populações e das áreas de
proteção ambiental, representam de modo especial o sucesso do
ICMS Ecológico.47
42 RIANI, Flávio. O novo critério de repartição do ICMS aos municípios mineiros: avaliação dos resultados e sugestões,
p. 221.
43 Experiência que, infelizmente, permanece isolada na região.
44 Grieg-Gran, Maryanne. Fiscal Incentives for Biodiversity Conservation: The ICMS Ecológico in Brazil, p. 7.
45 GARCIA, Roseli. Cidades Descobrem Nova Moeda.
46 GARCIA, Roseli. Cidades Descobrem Nova Moeda.
47 Para detalhes específicos sobre os resultados positivos do ICMS Ecológico em todos os âmbitos citados, consultar
LOUREIRO, Wilson. Incentivos fiscais para conservação da biodiversidade no Brasil, p. 35 e s.s.
48 Cf. Ata da Sessão do Plenário do Senado Federal referente a 72.ª Sessão Não Deliberativa de 19/06/1998.
49 A respeito, consultar PLS 00053/2000, no Senado; e PLP 00351/2002, na Câmara dos Deputados.
50 Cumpre ressaltar, contudo, que de tempos em tempos surgem propostas de alteração do sistema tributário que
podem vir a modificar a sistemática de federalismo participativo inviabilizando a manutenção da atual sistemática
de ICMS Ecológico adotada pelos Estados.
Tributação e Políticas
Públicas: O ICMS Ecológico 31
O modelo de crescimento ainda em vigor, acopla-se a uma
necessidade de exploração desregrada dos recursos naturais, o que
leva muitos administradores à irresistível tentação de relegar o valor
estático do meio ambiente preservado, em nome da suposta riqueza
dinâmica da sua destruição.
No entanto, o ponto mais relevante deste desenvolvimento
insustentável na Amazônia é a desvalorização do homem que lá vive.
Muito pouco dos resultados econômicos obtidos na região retornam
em benefícios à população local.
A repartição de receitas estaduais aos municípios paraenses,
contudo, ainda não teve condições de considerar esta realidade,
mantendo-se substancialmente vinculada a critérios materiais de
produtividade, população e território, cujo aspecto formalista não permite
ter em conta sua reversão qualitativa em reais benefícios à população.
Todavia, de acordo com os mandamentos básicos de nossa Carta
Constitucional, a dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos
da República Federativa brasileira e princípio da ordem econômica e
social, não havendo desenvolvimento sem que isso seja observado.51
Portanto, o Estado, enquanto idealizador de políticas públicas,
deve atuar de modo positivo, visando realizar substancialmente tal
princípio, fornecendo meios para a sua concretização. A repartição de
receitas tributárias presta-se a este objetivo, sendo o ICMS Ecológico,
uma tentativa de estabelecer uma função social e ambiental à
arrecadação tributária dos municípios.
Tal consciência permeou o texto da Constituição Estadual do
Pará, que em seu Art. 225, § 2.º assegurou o privilégio de tratamento
para os municípios que abrigam unidades de conservação em relação
à parcela de repasse de ICMS de que trata o Art. 158, parágrafo
único, II da Constituição Federal. Contudo, tal dispositivo aguarda há
12 anos sua regulamentação.
Buscando suprir esta lacuna, estudos realizados pelos autores
deste, tendo por base as diferentes experiências nacionais,
culminaram pela elaboração de um Anteprojeto de Lei, voltado para
o estabelecimento de novos critérios de distribuição da parcela
municipal disponível do ICMS.52
A proposta em discussão no Estado do Pará busca adequar-se à
realidade da região e inova, estipulando critérios sócio-ambientais de
51 A respeito consultar TUPIASSU, Lise V. da Costa. Tributação Ambiental: a utilização de instrumentos econômicos e
fiscais na implementação do Direito ao Meio Ambiente saudável, p. 48 e s.s.
52 O resultado de tal estudo, que sugeria a implementação do ICMS Ecológico no Estado do Pará, foi apresentado à
Assembléia Legislativa do Estado pela então deputada Maria do Carmo Martins de Lima – PT (Projeto de Lei n.º
131/2001), sendo objeto de discussão desde o 2.º semestre de 1999.
Tributação e Políticas
Públicas: O ICMS Ecológico 33
Desta forma, o montante total de repasse aos municípios segue
a seguinte proporção:
53 Cálculo baseado na repartição municipal de outubro/2000, conforme noticiado na Gazeta Mercantil Pará de
22/11/2000. Ver FIJIYOSHI, Silvia. ICMS Ecológico pode ser implantado.
54 Exemplos claros são Belterra, Aveiro – localizados no meio da Floresta Nacional do Tapajós – e Santarém – ocupado
pela Reserva Extrativista Arapiuns – Tapajós –, conforme comentário da deputada Maria do Carmo Martins, noticiado
em FIJIYOSHI, Silvia. ICMS Ecológico pode ser implantado.
7. CONCLUSÕES
55 Expressão utilizada por MARYANNE GRIEG-GRAN, que analisa cuidadosamente a questão. A respeito consultar Grieg-
Gran, Maryanne. Fiscal Incentives for Biodiversity Conservation: The ICMS Ecológico in Brazil.
56 Aliás, as disputas políticas envolvendo a proposta resultaram no trancamento da tramitação do projeto que, após
audiência pública, manteve-se parado e atualmente encontra-se em vias de arquivamento.
Tributação e Políticas
Públicas: O ICMS Ecológico 35
redimensionamento de valores, nos dois sentidos que o termo pode
adquirir. De um lado, porque tal política realmente altera o montante
de verbas orçamentárias a ser recebido pelos municípios,
beneficiando os que contribuem com a melhoria da qualidade de vida
da população. Por outro lado, e principalmente, porque a
implementação de tal política resulta, naturalmente, numa nova
forma de compreender os valores que pautam o desenvolvimento
local. Doravante, não apenas a implementação de indústrias
poluentes traz ganhos financeiros para os municípios; a preservação
de áreas verdes, a construção de redes de esgoto, escolas e hospitais
também passam a ser sinônimo de aumento da receita e
desenvolvimento.
Dessa forma, pensa-se contribuir para a imposição de um
conteúdo verdadeiramente substancial à tributação, dela fazendo um
instrumento forte para a promoção de uma vida mais digna aos
brasileiros.
Constata-se, então, que a tributação – em seu amplo sentido –
pode e deve ser utilizada como instrumento de política pública
ambiental. Indo um pouco mais além, verifica-se que, diante do
aparato jurídico hoje existente no Brasil, despicienda é a realização
de radicais reformas constitucionais e tributárias para o alcance de
tal propósito. A tributação ambiental já se encontra albergada pela
Constituição Federal. Cabe-nos dar a ela uma nova leitura e,
principalmente, colocar em prática os princípios que compõem seu
sistema, sem criar necessariamente um novo tributo. Esta é a lição
maior a nos ser dada pela prática do ICMS Ecológico.
3 Como hemos visto ya, un entorno es el espacio construido por nuestra actividad relacional con respecto a los otros,
a nosotros mismos y a la naturaleza. En ese sentido, es una concepción mucho más amplia que la meramente
“ecológica” o “medio-ambiental”. De ahí, que hablemos de imaginario ambiental bio(socio)diverso. Un texto muy
interesante para discernir entre ambas formas de entender las relaciones cultura-naturaleza es el de Kate Soper
What is Nature?. Culture, Politics and the non-Human, Blackwell, Oxford, 1991. Asimismo, puede consultarse la
siguiente bibliografía sobre el concepto amplio de entorno: Uexkull, J., von, Ideas para una concepción biológica
del mundo, Espasa Calpe, Buenos Aires, 1945; Malpartida, A. R., “La noción de entorno en etología (Una discusión
etimo-epistemológica), en Ecognition, 2(1), 1991, p. 39-46; Malpartida, A. R., y Lavanderos, L. “Una aproximación
sociedad-naturaleza. El Ecotomo” Revista Chilena de Historia Natural, 68, 1995, p. 419-427; Malpartida A. R., y
Lavanderos L. “Ecosystem and Ecotomo: a nature or society-nature relationship”, en Acta Biotheoretica, 48 (2),
2000, p. 85-94. Asimismo, aunque su idea de entorno “enactivo”, que pone en marcha los procesos de
diferenciación sistémicos, no sea el elemento teórico que guía estas páginas, es interesante la lectura de Maturana,
H. “Reality: The search for objectivity or the quest for a compelling argument”, en Irish Journal of Psychology, 9
(1), 1988, p. 25-82; y el ya clásico texto de 1982 de Maturana, H., y Varela, F. “Teoría de la autopoiesis” publicado
en Cuadernos del Grupo de Estudio sobre Sistemas Integrados (GESI), 4, 1982.
5 Umusi Parokumu –Firmiano Arantes Lana- y Toramu Kehíri –Luis Gomes Lana, Antes o mundo nao existia; mitología
dos antigos Desana-Kehíripora, 2.ª ed., Sao Gabriel da Cachoeira, UNIRT/FOIRN, 1995; Marcos Frederico Krüger,
Amazônia. Mito e Literatura, Valer Editora, Manaus, 2003.
6 Escohotado, A. Historia de las drogas, Alianza Edit., Madrid, 1992, Vol. 1, p. 64.
7 Para comenzar a entender estos procesos, ver Amicucci, C., “De Rabat a Barcelona. Un largo recorrido para acercar
el Mediterráneo” en Mediodía. Desde el Mundo Mediterráneo, Número de presentación, Otoño 2003,
mediodia@servicesmail.com, p. 20.
8 Cfr., Eagleton, T., La idea de cultura. Una mirada política sobre los conflictos culturales, Paidós, Barcelona-Buenos
Aires, 2001, esp. p. 155 y 147-148.
9 Cfr., Paris, C. “De la técnica zoologica a la humana” en El animal cultural. Biología y cultura en la realidad humana,
Crítica, Barcelona, 2000, esp. p. 102-113.
10 En este sentido, debe consultarse A Natureza do Espaço, obra de 1997 de Milton Santos (traducción al castellano
bajo el título La naturaleza del espacio. Técnica y tiempo. Razón y emoción, Ariel, Barcelona, 2000).
11 Para una mayor profundización en este tema acudir al texto de Carlos Paris “De la ideología a la concepción
biocultural del ser humano” en El animal cultural, op. cit., p. 17-31.
13 Gouldner, A., “From Plato to Parsons: The Infraestructure of Conservative Social Theory” en The Coming Crisis of
Western Sociology, Basic Books, NY, 1970.
14 Cfr., Geertz, C., “Anti-Anti-Relativism” en American Anthropologist, 86, 1984, pp. 263-278; y Kuper, A., Cultura: la
versión de los antropólogos, Paidós Básica, Barcelona, 2001, p. 144.
15 Permítasenos una larga cita del texto de Kuper, donde se ve la estrecha relación que existió entre el método
parsoniano y las nuevas políticas coloniales ejercidas por Estados Unidos después de quedar como el gran vencedor
tras la II Guerra Mundial: “El Comité para las Nuevas Naciones –establecido por Edward Shils, el líder de los
parsonianos en la Universidad de Chicago- estaba adaptando el programa de Parsons al estudio de los estados que
habían alcanzado recientemente la independencia. Comentando la postura del grupo de Chicago, David Apter
explicaba que sus miembros rechazaban el determinismo de la época, tanto en la forma ortodoxa como en la
marxista....la meta de la política en los nuevos estados debería ser la de fomentar un orden social e intelectual
moderno. Era cosa de los antropólogos especificar los problemas culturales involucrados...que ayudarían a explicar
tanto la capacidad o la predisposición al cambio como las inhibiciones que en tal sentido podía mostrar una
comunidad”. Nada de contexto económico, nada de imperialismo, nada de condicionantes naturales, “sólo cultura”.
Cfr. David A. Apter, Political Change: Collected Essays, Cass, , London, 1973, p. 160, y, sobre todo, A. Kuper Cultura.
La visión de los antropólogos, op. cit., p. 104.
16 K. Tester, Animals and Society: The humanity of animal rights, Routledge, London, 1991; K. Thomas, Man and the
Natural World: Changing attitudes in England, 1500-1800, Allan Lane, London, 1983.
17 El fenónemo de apropiación del conocimiento ambiental no es algo nuevo, sino que hunde sus profundas raíces en
el progresivo despliegue de la institución burguesa de la propiedad privada; cfr, el libro de Murray Raff, Private
Property and Environmental Responsibility. A Comparative Study of German Real Property Law, Kluwer Law
International, The Hague/London/New York, 2003.
tienen el poder de obligar a dichas gentes a entregarles lo único que
les ha ido quedando desde los inicios de las políticas depredadoras
colonialistas e imperialistas: el conocimiento de su entorno. Todo un
entramado institucional-financiero -como es el caso del llamado
Orden Económico Global: Fondo Monetario Internacional, Banco
Mundial y la Organización Mundial del Comercio-, ha comenzado a
funcionar para legitimar esa apropiación de la biodiversidad ecológica
y humana, justificando sus prácticas depredadoras desde el
presupuesto que el conocimiento tradicional es un recurso natural,
no cultural, y, por tanto, susceptible de apropiación por parte de las
grandes corporaciones transnacionales. Todo como consecuencia del
ancestral desprecio que la civilización occidental ha proyectado
secularmente sobre lo que se considera la naturaleza. El abandono de
lo natural no es, por tanto, inocente. Tiene y oculta graves
consecuencias naturales y humanas que hoy en día, con el avance de
la conciencia ambiental, están siendo puestas en evidencia.
18 Arnold, D., La naturaleza como problema histórico. El medio, la cultura y la expansión de Europa, F.C.E. México, 2000.
20 En su afán por controlar el mercado de especias, los holandeses introdujeron medidas que favorecieron enorme-
mente el despliegue del capitalismo por todo el orbe conocido: por un lado, el sistema de propiedad de la empresa
por acciones (que desvinculaba la propiedad de la empresa de los actos criminales y depredatorios que se realizaban
en su nombre a lo largo de las colonias); por otro, el control de las haciendas locales de los países colonizados, a
partir del cual se imponían impuestos a todos los intercambios comerciales que se hacían en las lejanías de Asia
y la Polinesia (y que tiene mucho que ver con los actuales procesos de exigencia del pago de la deuda externa a
países endeudados gracias a la propia intervención de Occidente en sus economías); y, por último, la tendencia a
esterilizar los productos naturales, como fue el caso de la nuez moscada, tratándola con mercurio para impedir que
fuera replantada en otro lugar del controlado por las empresas holandesas (nadie –dice Ritchie- podía utilizar esas
nueces para plantarlas y obtener nuevos árboles de nuez moscada. Con lo cual, las actuales prácticas de
esterilización de las espigas de trigo por las corporaciones multinacionales, con el terrible objetivo de hacer pagar
a los campesinos pobres de todo el mundo de royalties a las corporaciones multinacionales no sea algo nuevo en
el siglo XXI).
26 Lotman, I., Cultura y explosión. Lo previsible y lo imprevisible en los procesos de cambio social, Gedisa, Barcelona,
1999, p. 44.
27 Maturana, H., y Varela, F., El Árbol del Conocimiento: Las bases biológicas del conocer humano. Editorial
Universitaria, Santiago de Chile, 1984.
28 Morin, E.,”Por la ciencia” artículos aparecidos en Le Monde durante el mes de Enero de 1982 e incluidos en Ciencia
con conciencia, Anthropos, Barcelona, 1984.
29 Freitas, Marcílio de, “Nuanças da sustentabilidades: visoes fantásticas da Amazônia”, en Marcílio de Freitas (org.),
Marilene Corrêa da Silva Freitas e Louis Marmoz, A Ilusao da Sustentabilidade, Governo do Estado do
Amazonas/Editora da Universidade Federal do Amazonas/UEA, Manaus, 2003.
30 Harris, M., Antropología cultural, Alianza, Madrid, 2002.
31 Arnold, D., op. cit.
32 Elias, N., Teoría del símbolo: un ensayo de antropología cultural, Península, Barcelona, 2000.
33 Deleuze, G., y Guattari, F., “Tratado de Nomadología” en Mil Mesetas. Capitalismo y esquizofrenia, Pre-Textos,
Valencia, 2002, p. 359-432.
35 Freitas, Marcílio de, Fragmentos de utopias do século XXI: projeçoes e controvérsias, en Freitas, M., (org.) et. al.,
op. cit. p. 275 y ss.
36 Corrêa da Silva Freitas, M., Fundamentos da cultura solidária e sustentabilidade na Amazônia, en Freitas, M., (org.),
et. al., op. cit. pp. 205 y ss. Cfr., asimismo, el trabajo de Marcos Frederico Krüger, Amazônia. Mito e Literatura,
Valer Editora, Manaus, 2003.
37 Perrow, Ch., Normal Accidents: Living with High-Risk Technologies, Princeton University Press, Princeton, New Jersey,
1999
38 Riechmann, J., “Bromas Aparte: lo sencillo es hermoso” en Riechmann, J., y Tickner, J., (edit.), El principio de
precaución. En medio ambiente y salud pública: de las definiciones a la práctica, Icaria, Barcelona, 2002, p. 150;
“el caso del insecticida DDT llama fuertemente la atención sobre el hecho de que para cada solución, a menudo,
hay un problema (lo cual debería refrenar nuestro optimismo). Esto no tendría que detener la búsqueda de mejoras,
pero sí que debería reforzar la humildad en lo que se refiere a certidumbres científicas, sociales y económicas” en
Green, R., y Kohler, B., “Judging the danger – Citizens and control Risk assessment and the Precautionary
Principle”, manuscrito citado por Riechman y Tickner, op. cit, p. 151.
39 Jonas, H., El principio de responsabilidad: Ensayo de una ética para la civilización tecnológica, Herder, Barcelona,
1975 (para Jonas, “la ética hoy debe tener en cuenta las condiciones globales de la vida humana y de la misma
supervivencia de la especie”, con lo que su famoso principio de responsabilidad podría denominarse como
“principio Anti-Nemrod”) En 1985, Hans Jonas publicó la segunda parte de El principio de responsabilidad, bajo el
título Técnica, medicina y ética. La práctica del principio de responsabilidad (publicado en castellano por Paidós,
Barcelona, 1997) y en cuyo desarrollo aparecen tres elementos básicos de la teoría de Jonas: las virtudes de la
cautela, de la moderación en la acción y el pensar en las consecuencias. A partir de estos elementos, Jonas define
la “heurística del temor” como el medio por el cual podremos adquirir una mayor “conciencia del peligro y, así,
tener el deber de actuar siguiendo una ética de la responsabilidad. Nuestro deber –afirma Jonas- es saber que hemos
ido demasiado lejos, y aprender nuevamente que existe un demasiado lejos, en Técnica, medicina y ética, op. cit.,
p. 143.
41 Luchas sociales contra los procesos de apropiación de los conocimientos tradicionales y contra la explotación de
los recursos naturales autóctonos por parte de las grandes transnacionales. Cfr. Freitas, M., (org.), op. cit, p. 181.
42 Cfr. Antonio Elizalde Hevia, “Desde el ‘Desarrollo Sustentable’ hacia Sociedades Sustentables” en Polis. Revista de la
Universidad Bolivariana,4, 2003, (monográfico dedicado a Sustentabilidad y Sociedades Sustentables) pp. 290 y ss.
43 Colocar en último lugar la “sustentabilidad eco-ambiental” no es algo gratuito, pues tiene que ver con la
superación de un ecologismo de reserva natural y un paisajismo orientado hacia el turismo. Lo eco-ambiental
supone el reconocimiento de la necesidad de las otras “sustentabilidades”. Es recomendable la lectura del trabajo
de Enrique Leff, “Racionalidad ambiental y diálogo de saberes: significancia y sentido en la construcción de un
futuro sustentable” publicado en Polis. Revista de la Universidad Bolivariana, 7, 2004 (cuyo monográfico está
dedicado al interesantísimo tema Saber(es). Ciencia(s) y Tecnología(s)
44 Cfr., Adam, B., “Radiated Identities: In Pursuit of the Temporal of Conceptual Cultural Practices” en Featherstone,
M., and Lash, S., Spaces of Culture. City, Nation, World, Sage, London, 1999.
45 Chua, A., World on Fire: How exporting Free Market Democracy Breeds Ethnic Hatred and Global Instability, Random
House, Inc., NY, 2002 (hay traducción castellana bajo el título El mundo en llamas. Los males de la globallización,
Ediciones B, Barcelona, 2003 ; asimismo, Zakaria, F., The Future of Freedom Illiberal Democracy at Home and Abroad,
Norton & Co., 2003; y Mandelbaum, M., The Ideas that conquered the World: Peace, Democracy, and Free Markets in
the Twenty-first Century, PublicAffairs Edit., 2004
46 A. Weale, The New Politics of Pollution, Manchester Univ. Press, London, 1992-, y A. Weale, “Ecological
Modernisation and the Integrarion of European Environmental Policy”, Weale, A., Liefferink (eds.) European
Integration and Environmental Policy, Belhaven Press, London, 1993; Pearce, D., Economics Values and the Natural
World, Earthscan, London, 1993; Pearce D., “The precautionary principle in economic analysis” en O’Riordan, T., et.
al .,(Eds.) Interpreting the precautionary principle, Earthscan, London, 1994; Wynne, B., “Uncertainty and
Environmental Learning: Reconceiving Science in the Preventive Principle” Gloval Environmental Change, 2 (Junio
de 1992), pp. 111-127.
47 Timothy O’Riordan “El principio de precaución en la política ambiental contemporánea”, publicado originalmente
en Environmental Values, Vol. 4, N.º 3, 1995; asimismo consultable en WWW.ISTAS.NET/MA/AREAS/RESIDUOS/
ESCORIAL/ APORTA/APORTA10.PDF.
48 Celebrada en Racine, Wisconsin, del 23 al 25 de Enero de 1998.
49 Celebrada en Lowell, Massachusetts, del 20 al 22 de Septiembre de 2001.
50 En este sentido, destaca el importante estudio de la AEMA (Agencia Europea de Medio Ambiente) titulado Late
Lessons from Early Warnings: the Precautionary Principle 1896-2000, en European Environment Agency,
Environmental Issue Report 22, Copenhague, 2001.
(http://reports.eea.eu.int/environmental_issue_report_2001_22/en -cfr. Riechmann y Tickner (coords.), El
principio de precaución. En medio ambiente y salud pública: de las definiciones a la práctica, op. cit., p. 20.
51 celebrado en la provincia de Yunnan, República Popular de China, del 20 al 30 de Junio del año 2000.
52 R.D.Kaplan The Coming Anarchy, Random House, NY, 2000, pp. 63-78 (Ed. Esp. Ediciones B, Barcelona, 2000;
argumentos defendidos también en los años cincuenta y sesenta por Seymour M. Lipset “Some Social Requisites of
Democracy: Economic Development and Political Legitimacy”, American Political Science Review, 53, 1959, pp. 69-
77; y por Samuel Huntington en Political Order in Changing Societies, Yale University Press, New Haven and London,
1968 (version castellana, El orden politico en las sociedades en cambio, Paidós, Barcelona, 1997); cfr., asimismo,
Chua, A., El mundo en llamas. Los males de la globalización, op. cit. p. 280.
53 Chua, A., op. cit. p. 16.
54 Nair, S., El Imperio frente a la diversidad del mundo, Areté, Barcelona, 2003, p. 231.
55 celebrada durante los días 17 al 19 de Julio de 1998 en St. Louis, Missouri, EEUU.
1 Diretor de Pesquisa Emérito da Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales e co-diretor da CRBC – Centre de
Recherches sur le Brésil Contemporain, Paris-França.
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannaah. Da violência. Brasília: Editora da UnB, 1985.
BECKER, Bertha K. “Novos rumos da política regional: por um desenvolvimento
sustentável da fronteira amazônica”. In: A Geografia Política do desenvolvimento
sustentável. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1997, p. 421-443.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 6.ª ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1986.
HAESBAERT, Rogério. “Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de exclusão”.
In: Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p. 165-206.
LEFEBVRE, Henri. De L'État: Les contraditions de l'État moderne dialectíque et de l'État.
Paris: União Générale D'éditions, 1978.
MARTINS, José de Souza. Não há terra para plantar neste verão. 2.ª ed. Petrópolis/RJ:
Vozes, 1988.
SEEGER, Anthony & CASTRO, Eduardo Viveiros de. “Terras e territórios indígenas”.
Encontros com a Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 12: p. 101-14, 1979.
SILVA, Marilene Corrêa da. Processos de Globalização na Amazônia. Manaus: Universidade
Federal do Amazonas, 1996.
SOUZA, Marcelo José Lopes de. “O território: sobre espaço e poder, autonomia e
desenvolvimento”. In: Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995,
p. 77-116.
D
esde el origen de la era moderna, se desarrolla
junto a otros procesos, el proceso de colonización
de otras tierras, otros pueblos y otras culturas. Hoy existen otras
formas más complejas y más sutiles de colonización. Durante siglos
se han menospreciado las formas de conocimiento y de acción sobre
el medio ambiente de los pueblos colonizados por occidente. En
cambio, aunque la actitud cultural de fondo no ha cambiado, hoy se
considera un valioso recurso económico para la explotación comercial
la “biodiversidad”2 que albergan los territorios tradicionales de los
pueblos atrasados, las llamadas reservas naturales de la humanidad.
En un mundo cada vez más uniformado, monocultural y donde los
productos disponibles para el consumo están estandarizados, resulta
atractivo para las empresas transnacionales acudir a las fuentes de
la diversidad para la obtención y comercialización de nuevos produc-
tos para el consumo, nuevas medicinas, o incluso para la ampliación
del mercado de procesos industriales con la exportación de
tecnologías y recursos para producción de bienes a esos pueblos que
secularmente han sido autónomos y que originariamente no han
necesitado la transferencia de tecnología para su sostenimiento.
3 En el preámbulo del Convenio sobre la Diversidad Biológica se reconoce “la estrecha y tradicional dependencia de
muchas comunidades locales y poblaciones indígenas que tienen de sistemas de vida tradicionales basados en los
recursos biológicos, y la conveniencia de compartir equitativamente los beneficios que se derivan de la utilización
de los conocimientos tradicionales” (par. 12º).
4 Biopiratería. El saqueo de la naturaleza y del conocimiento, Icaria, Barcelona, 2001 (traducción del original inglés
Biopiracy). También sobre esta cuestión de Vandana Shiva, ¿Proteger o expoliar? Los derechos de propiedad
intelectual, Intermon Oxfam, Barcelona, 2003.
5 El saqueo del conocimiento. Propiedad intelectual, biodiversidad, tecnología y desarrollo sostenible, Icaria-Intermon
Oxfam, Barcelona, 2003 (traducción del original inglés Intellectual property, biodiversity and sustainable
development).
6 “La biotecnología, doncella del capital en la era postindustrial, hace posible la colonización de lo autónomo, lo
libre, y lo autorregenerativo. Mediante la ciencia reduccionista el capital puede alcanzar espacios a los nunca había
accedido”, Biopiratería, op. cit., p. 67.
7 A pesar de que la literatura habitual presenta a John Locke como un defensor de la libertad y de una racionalidad
humana universalista que fundamentaría el paradigma moderno de los derechos humanos universales, no se debe
pasar por alto que para él, este planteamiento era perfectamente compatible con prácticas que hoy entendemos que
violan la dignidad humana. De este modo, su defensa de la libertad y de la igualdad básica entre los seres humanos,
implicará igualmente la defensa y justificación de la ejecución capital (§8, 11, 18, 19, 20), los trabajos forzados o
la esclavitud (§11, 22-24). Esto es algo que no es marginal en su obra, sino que ocupa un lugar central, y que
atraviesa toda la obra de su Segundo Tratado sobre el gobierno Civil. En el comienzo de la misma, intitula su capítulo
4: De la esclavitud. La legalidad y legitimidad de esta práctica es absoluta para Locke, quien en el capítulo 7 (De la
sociedad política o civil), considera compatible la existencia de una sociedad política constituida con la esclavitud:
“(...) hay otra clase de siervos a los que damos el nombre de esclavos. Estos, al haber sido capturados en una guerra
justa, están por derecho de naturaleza sometidos al dominio absoluto y arbitrario de sus amos. Como digo, estos
hombres, habiendo renunciado a sus vidas y, junto con ellas, a sus libertades; y habiendo perdido sus posesiones al
pasar a un estado de esclavitud que no los capacita para tener propiedad alguna, no pueden ser considerados como
parte de la sociedad civil del país, cuyo fin es la preservación de la propiedad” (§85). De este modo, un estado de
derecho “civilizado” es compatible con la exclusión legalizada que despoja de los derechos fundamentales de las
personas como la vida, la libertad o la integridad física a quienes ha situado fuera del “género humano”.
Sobre estas cuestiones, resulta muy esclarecedor el trabajo de F. Hinkelammert, “La inversión de los derechos
humanos: el caso de John Locke”, en El vuelo de Anteo. Derechos Humanos y crítica de la razón liberal, J. Herrera,
ed., Desclée de Brouwer, Bilbao, 2000, pp. 79-113.
8 Sobre la continuidad geoestratégica entre la era moderna y la postmoderna, puede verse entre otros, E. Dussel,
Hacia una filosofía política crítica, Desclée de Brouwer, Bilbao, 2001, pp. 403-407; 423-433.
9 Sobre esto un clásico de nuestro tiempo es la trilogía de Manuel Castells La era de la información (Alianza editorial,
Madrid, 3ª edición, 2001).
10 Castells en este sentido habla de un “capitalismo informacional”: “la globalización avanza de forma selectiva,
incluyendo y excluyendo a segmentos de economías y sociedades dentro y fuera de las redes de información,
riqueza y poder que caracteriza al nuevo sistema dominante (...) Pero en este proceso de reestructuración social
hay más que desigualdad y pobreza. También hay exclusión de pueblos y territorios que, desde la perspectiva de
los intereses dominantes en el capitalismo informacional global, pasan a una posición de irrelevancia estructural”,
La era de la información, Vol. 3, Fin de milenio, op. cit., p. 195.
11 Cf. “Biotecnología: negocio del futuro” de Rubén Urtuzuástegui: “El biólogo Crade Benson descubrió hace poco la forma
de codificar electrónicamente archivos genéticos. Con este avance la biología pasará de la era experimental a la digital.
Por eso, en el futuro cercano el lenguaje biotecnológico representará la nueva manera de visualizar los negocios”. En
este sentido, como señala este autor, “se puede considerar al ser vivo como un programa ejecutable, como pieza de
software. Algunos científicos aceptan que se pueden manipular las células del maíz o de una persona como si fueran
programas ejecutables. Por lo pronto, se trata tan sólo de un nuevo lenguaje, falta entender su gramática y sintaxis
para manipular al ser vivo a nuestro antojo.” (http://www.istmoenlinea.com.mx/ articulos/25906.html)
12 Como señala Castells, con el desarrollo de las tecnologías de la vida sobre todo a partir de mediados de los años
setenta, se inició una carrera para fundar firmas comerciales, la mayoría surgidas de las principales universidades
y centros de investigación hospitalarios ante las posibilidades que inauguraba la capacidad de desarrollar la
ingeniería de la vida, incluida la humana. Desde las empresas biomédicas a las empresas agrícolas se lanzaron a
desarrollar y aplicar esos recursos a sus campos productivos (La era de la información. Vol 1. La sociedad red, op.
cit., p. 85 y ss.).
13 Al que sólo tendrán acceso los que tengan capacidad de pago (demanda solvente), y por ello, aun siendo
“formalmente” todos iguales, no todos podrán operar en el mercado.
14 También conocidos como Acuerdo TRIPS (TRIPS Agreement) por sus siglas en inglés (Trade-related Aspects of
Intellectual Property Rights.
15 Citaré esta obra por la traducción de Carlos Mellizo para la edición de Alianza editorial, Madrid, 1990, del original
inglés The Second Treatise of Civil Goverment. An Essay Concerning the Original, Extend and End of Civil Goverment
(1690).
16 Cf. Ildefoso Camacho Laraña, Doctrina Social de la Iglesia. Quince claves para su comprensión, Desclée de Brouwer,
Bilbao, 2000, p. 73-95.
17 Como muestra Ignacio Ellacuría, hay una profunda divergencia en la concepción sobre la relación debida entre bien
común y bien personal en el esquema liberal y en la tradición escolástica cristiana, por ejemplo, con Santo Tomás.
De este punto de vista, señala Ellacuría que no hay “bien particular sin referencia al bien común y sin la existencia
real de un bien común no puede hablarse de un bien particular, sino tan sólo de una ventaja interesada e injusta.
Por lo pronto es imposible que ningún individuo alcance su bien, si no es aprovechándose de lo que ofrece el bien
común; tal como se da en una sociedad política; se requiere, en efecto, algo que el particular no produce para que
pueda llegar a ser lo que tiene que ser y pueda hacer lo que necesita hacer. Pero ese algo es, en sí mismo,
supraindividual y, por su propia naturaleza, niega aquella apropiación privada que fuerce al bien común a dejar de
ser común; el pecado fundamental consistiría aquí en la apropiación privada de lo que es común, la negación de
lo común en beneficio de lo que es particular, la anulación del todo estructural en beneficio de algunas partes
disgregadoras de ese todo. La apropiación privada de lo que es por su naturaleza social y, por consiguiente, común,
es una injusticia fundamental, que hace injustos todos sus efectos. No hay, por lo tanto, posibilidad ética de
apropiación privada de un bien común con menoscabo de la comunidad de ese bien. Cuando predomina lo privado
y los intereses privados o de grupo en la distribución del bien común y, antes, en la producción explotada de lo
que es el bien común, cuando unos pocos se apropian de aquello que no puede ser suyo más que haciendo que
no sea de los otros e impidiendo que los otros puedan servirse de lo que tienen derecho, estamos ante la negación
misma del bien común y ante la ruptura del orden social justo” (“Historización del bien común y de los derechos
humanos” [1978] en Escritos filosóficos, III, Uca editores, San Salvador, 2001).
18 Para explicitar esta igualdad formal, aunque como después veremos no haya una igualdad en la racionalidad,
señala: “El fruto o la carne del venado que alimentan al indio salvaje, el cual no ha oído hablar de cotos de caza
y es todavía un usuario de la tierra en común con los demás, tienen que ser suyos; y tan suyos, es decir, tan parte
de sí mismo, que ningún otro tendrá derecho a ellos antes que su propietario haya derivado algún beneficio que
dé sustento a su vida” (§26).
19 La cual surge, como no deja de recalcar a lo largo de su Segundo Tratado, para preservar la propiedad como derecho
natural central.
20 Lo cual también se proyecta frente a los recursos biológicos de los mares, dado que este espacio constituye “un
gran bien comunal” (cf. §30). Sobre las leyes consuetudinarias y los orígenes de la apropiabilidad, puede verse de
José Manuel Pureza El patrimonio común de la humanidad ¿Hacia un Derecho internacional de la solidaridad?
(traducción de J. Alcaide Fernández), Trotta, Madrid, 2002, p. 169 y ss.
21 Sólo queda algún reducto ya meramente anecdótico: “entre nosotros, la liebre que alguien está cazando, se
considera propiedad de aquél que la persigue durante la caza” (§30).
22 Como destaca Vandana Shiva, para este proyecto colonizador europeo la tierra se presentaba como terra nullius, a
pesar de que estuviera habitada por pueblos indígenas, en ¿Proteger o expoliar? Los derechos de propiedad
intelectual, op. cit., .18-19.
23 “Es cierto que en las tierras comunales de Inglaterra o de cualquier otro país en el que mucha gente con dinero y
con comercio vive bajo un gobierno, nadie puede cercar o apropiarse parcela alguna sin el consentimiento de todos
los co-propietarios. Pues esas tierras llegaron a ser comunales mediante pacto, es decir, por la ley de la tierra, la
cual no debe ser violada. Y aunque estos terrenos sean comunales con respecto a algunos hombres, no lo son
respecto de la humanidad; sólo son propiedad común dentro de un país determinado, o de una parroquia” (§35).
24 Por tanto se realiza una reducción etnocéntrica de los mecanismos de regulación jurídica, que justifica todo su
planteamiento de regulación a partir de la “Ley natural”.
25 Lo cual ha propiciado en los últimos siglos una importación “erosión ecológica”, El patrimonio común de la
humanidad, op. cit., p. 361.
26 Cf. El patrimonio común de la humanidad, op. cit., p. 361.
27 Ib., p. 363.
28 Como después veremos, aunque esos recursos genéticos se han empleado y desarrollado antes por comunidades
tradicionales en sus propios procesos de producción, ello no dejará “ninguna huella de propiedad”.
29 Biopiratería, op. cit., pp. 68 y ss.
30 “En reconocimiento de los derechos soberanos de los Estados sobre sus recursos naturales, la facultad de regular el
acceso a los recursos genéticos incumbe a los gobiernos nacionales y está sometida a la legislación nacional”.
31 Se da así una nacionalización, siendo los estados los únicos con personalidad jurídica reconocida para dar el
consentimiento, que con ello tiene una dimensión nacional-estatal pero no local, pudiendo por ello perfectamente
prescindir de las comunidad locales en el “consentimiento de los comuneros” locales o de “la parroquia”, como
señalaba Locke.
32 Art. 15. 4. Cuando se conceda acceso, éste será en condiciones mutuamente convenidas y estará sometido a lo
dispuesto en el presente artículo.
15.5. El acceso a los recursos genéticos estará sometido al consentimiento fundamentado previo de la Parte Contratante
que proporciona los recursos, a menos que esa Parte decida otra cosa.
33 Después de haber reconocido la legitimidad y las condiciones de legalidad para acceder a los recursos genéticos de
los países atrasados por el juego del mecanismo expresado, se indica en el artículo 16. 4. que frente al “sector
privado” (art. 16.4.) podrán tomarse medidas públicas para que se facilite la transferencia de tecnología prevista
en el art. 15.1., pero no se les puede obligar a compartir “la tecnología sujeta a patentes y otros derechos de
propiedad intelectual” (cf. art. 15.2).
34 Organización Mundial del Comercio.
35 Antes de la Ronda Uruguay, el GATT no cubría los derechos de propiedad intelectual que cada país regulaba según
sus condiciones culturales y económicas.
36 Pues llegará a permitir patentar formas de vida que tradicionalmente siempre se han excluido de los sistemas de
patentes conocidos. Este camino se inició la década anterior, a comienzos de los 80 en Estados Unidos cuando se
autorizó por primera vez la patente de un microorganismo. Después se ha ido ampliando el campo de la
patentabilidad a otras formas de vida. En buena medida, el modelo normativo que se pretende implantar con el
Acuerdo ADPIC, tiene su antecedente en el sistema de patentes norteamericano.
37 Se argumenta en la tradición liberal la “inutilidad” de la naturaleza mientras esta permanezca siendo patrimonio
común, e igualmente las formas comunales de propiedad que eran propias de las formas “premodernas” de
propiedad y persistentes todavía en otras culturas jurídicas. Se niega la utilidad para la vida individual, cuando
precisamente estas formas de aprovechamiento han permitido una utilidad para las sociedades y sus miembros, lo
que no sólo ha producido el “sustento de la vida” de otros pueblos, sino un enriquecimiento del patrimonio
genético de los recursos disponibles para la humanidad.
38 El patrimonio común de la humanidad, op. cit., p. 352-354.
39 Ello basándose en referencias tales como humanidad, género humano, naturaleza humana, o racionalidad humana.
54 Hay muchas definiciones para describir la biotecnología. Como se señala en artículo sobre “biotecnología
moderna” (http//:www.infoagro.com/semillas_vivero/semillas/biotecnología.asp, 2003). En términos generales
biotecnología es el uso de organismos vivos o de compuestos obtenidos de organismos vivos para obtener
productos de valor para el hombre. Como tal, la biotecnología ha sido utilizada por desde los comienzos de la
historia en actividades tales como la preparación del pan y de bebidas alcohólicas o el mejoramiento de cultivos
y de animales domésticos. Históricamente, biotecnología implicaba el uso de organismos para realizar una tarea o
función. Si se acepta esta definición, la biotecnología ha estado presente por mucho tiempo. Procesos como la
producción de cerveza, vino, queso y yogurt implican el uso de bacterias o levaduras con el fin de convertir un
producto natural como leche o jugo de uvas, en un producto de fermentación más apetecible como el yogurt o el
vino. Tradicionalmente la biotecnología tiene muchas aplicaciones. Un ejemplo sencillo es el compostaje, el cual
aumenta la fertilidad del suelo permitiendo que microorganismos del suelo descompongan residuos orgánicos.
La biotecnología moderna está compuesta por una variedad de técnicas derivadas de la investigación en biología
celular y molecular, las cuales pueden ser utilizadas en cualquier industria que utilice microorganismos o células
vegetales y animales. Una definición más exacta y específica de la biotecnología “moderna” es “la aplicación
comercial de organismos vivos o sus productos, la cual involucra la manipulación deliberada de sus moléculas de
DNA. Esta definición implica una serie de desarrollos en técnicas de laboratorio que, durante las últimas décadas,
han sido responsables del tremendo interés científico y comercial en biotecnología, la creación de nuevas empresas
y la reorientación de investigaciones y de inversiones en compañías ya establecidas y en Universidades (cf. ib.)
55 Cf. V. Shiva, Biopitarería, p. 74-75.
56 David Hume también se hace cuestión de la distinción entre lo natural y lo artificial, lo cual se diferencia para
Hume en que aunque la especie humana es de suyo es inventiva, aún relativos a productos o hallazgos humanos,
no siempre esa actividad está diferencia del mero hallazgo de lo obvio, que por ello sigue siendo “natural”: “utilizo
la palabra natural en cuanto exclusivamente opuesta a artificial. Pero en otro sentido de la palabra, así como no
hay principio de la mente humana que sea más natural que el sentimiento de la virtud, del mismo modo no hay
virtud más natural que la justicia. La humanidad es una especie inventiva; y cuando una invención es obvia y
absolutamente necesaria puede decirse con propiedad que es natural, igual que lo es cualquier cosa procedente
directamente de principios originarios, sin intervención de pensamiento o reflexión” (Tratado de la naturaleza
humana, Editora Nacional, Madrid, 1977, p. 708).
58 Sobre la racionalidad reproductiva, véase F. Hinkelammert, Crítica de la razón utópica, Desclée de Brouwer, Bilbao,
2ª ed. ampliada y revisada, 2002; F. Hinkelammert y H. Mora, Coordinación social de trabajo, mercado y reproducción
de la vida humana, DEI, San José, 2002.
59 Es la provocadora propuesta de Peter Sloterdijk, frente al para él, stablishmen conservador y bienpensante de la
academia anclada en posiciones humanistas superables (de ahí su polémica con J. Habermas). Dada la incapacidad
de la educación, del “pastoreo”, para la evitación de fenómenos socialmente indeseables, se plantea el reto
progresista de acudir al potencial tecnológico para reconfigurar la naturaleza humana, indomable por medios
tradicionales. “También en la cultura actual está teniendo lugar la lucha de titanes entre los impulsos
domesticadores y los embrutecedores y entre sus medios respectivos. Y ya serían sorprendentes unos éxitos
domesticadores grandes, a la vista de este proceso civilizador en el que está avanzando, de forma según parece
imparable, una ola de desenfreno sin igual (Remito en este punto a la ola de violencia que irrumpe estos momentos
en las escuelas de todo el mundo occidental, y especialmente en EE. UU, donde los profesores empiezan a instalar
sistemas de protección contra los alumnos)”. Frente a ese escenario, “el desarrollo a largo plazo también conducirá
a una reforma genética de las propiedades del género; si se abre paso a una futura antropotécnica orientada a la
planificación explícita de las características; o si se podrá realizar y extender por todo el género humano el paso
del fatalismo natal al nacimiento opcional y a la selección prenatal” (Normas para el parque humano. Una respuesta
a la Carta sobre el humanismo de Heidegger, trad. de T. Rocha, Siruela, Madrid, 2000, p. 72-73). La posición correcta
ante las opciones tecnológicas, ya está prefigurada por el autor, o elegimos entre “fatalismo” o “planificación
explícita”: Lo “verdaderamente” humano sería superar ese supuesto “fatalismo”.
60 Entiendo por esta ilusión, una pretensión no justificada que distorsiona la capacidad del ser humano de actuar sobre
el medio, incluso sobre sí mismo, y que pone en peligro la supervivencia del actor, o en su caso extremo, de la
humanidad; y que surge de la confianza ciega en ciertas estrategias para alcanzar ideales de perfección postulados
por la mente humana.
67 En la formulación lockeana el despota es el poder absoluto que gobierna “sin leyes establecidas” (cf. Segundo
Tratado del Gobierno Civil, op. cit, §137 ).
68 Sydney Brenner, premio nobel de medicina de 1992, expresa esta ilusión de omnisciencia a propósito del Proyecto
Genoma Humano: “Todo el mundo creyó que una vez que conociéramos la secuencia completa del genoma
entenderíamos todo, pero no entendemos básicamente nada. El problema principal sigue ahí” (entrevista en el diario
El País, 18 de Septiembre, p. 30). Esa ilusión por tener un conocimiento perfecto, y por consiguiente un dominio
perfecto está implícita en el propio proyecto científico. Ahora bien, el científico, en este caso, no es ingenuo respecto
a esta utopía del conocimiento perfecto y control perfecto del cuerpo humano. A la pregunta siguiente a esta respuesta
contesta (P: ¿Usted sabía que esto iba a pasar?): “Claro que sí, claro que sí. Cada movimiento tiene que tener sus
publicistas para venderlo(...) Lo que pasa es que ahora hay una conciencia mayor en los países desarrollados sobre la
salud y la posibilidad de vivir más años. Hay una gran preocupación por la calidad de vida y la gente es más consciente
de las repercusiones de las ciencias de la vida en su salud individual” (Ib.). Sin embargo, no es sólo cuestión de
“marketing”, de presentación social o de la forma de vender el proyecto, sino que es algo implícito en su propio
desarrollo el alcanzar ese conocimiento perfecto, y que por ello, permite tal presentación. Cuando habla de que “todo
el mundo creyó”, también están implicados los propios científicos, y no sólo el público ansioso de nuevas promesas.
72 Ante cuya extinción, como el probable fin del lince ibérico, el alma del sujeto del conocimiento (res cogitans) solo
puede exclamar: “me entristeceré” (cf. ib.).
73 Como señala lúcidamente Franz Hinkelammert, “Que algo sea útil, no implica que un cálculo de utilidad mostrar su
utilidad. Por eso hay una utilidad que se opone al cálculo de utilidad. Es útil limitar el cálculo de utilidad. También
es útil que determinados valores sean respetados, sin ser derivables de un cálculo de utilidad. Una ética que no
sea útil, sería inútil. Ese es el terreno de la ética. En consecuencia, no se pueden tratar la ética y la utilidad como
contrarios. La ética no es inútil. La contradicción se da entre el cálculo de utilidad y la ética. Luego, hay una ética
que nace de argumentos de utilidad sin ser “utilitarismo”. Por ser útil puede ser objeto de las ciencias empíricas.
Respetar la naturaleza, fomentar la paz, luchar en contra de la explotación es útil para todos, pero se halla siempre
en conflicto con una acción que se orienta por el cálculo de utilidad.”; Determinismo, caos, sujeto. El mapa del
emperador, op. cit.,p. 119.
74 Ib.
75 Es el problema radical del antropocentrismo vid. CRU. Sin embargo este problema pasa completamente
desapercibido por Pureza, aun cuando muestra los límites de tal posición.
76 Ib.
77 Entre los diversos ejemplos que se pueden ofrecer de esta ingenuidad, se presenta hoy la inmortalidad como un
objetivo alcanzable. Como indica Hille Haker, la American Academy of Anti-Aging Medicine, lanza en su
propaganda la idea de “una `nueva´ sociedad, a saber, una sociedad sin senectud, con una duración de vida de
hasta 150 años y con el clon reproductivo como un sillar para conseguir la inmortalidad”, en “El cuerpo perfecto:
utopías de la biomedicina”, Concilium, n.º 295, 2002, p. 167. En este mismo sentido, Rubén Urtuzuástegui señala
que las promesas de la biotecnología se enfocan hacia el “perfeccionamiento del ser humano, garantizando su salud
y prolongando su juventud, incluso se habla ya de inmortalidad” (“Biotecnología: negocio del futuro”, op.cit.).
1. INTRODUÇÃO
3 Este Fundo foi criado pelo Banco Mundial para abrigar os recursos doados pelos países integrantes do Grupo dos Sete
(G7) – Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Japão, Itália e Reino Unido – destinados ao PP-G7. O Banco
Mundial foi eleito pelo G7 como fiel depositário destes recursos e, portanto, era ele que os administrava.
4 Um Fundo parecido ao PP-G7 se constituiu em 1990 chamado Fundo para o Meio Ambiente Mundial, ou Global
Environmental Facility (GEF). Porém, diferentemente do PP-G7, o GEF conta com o financiamento de mais de 25
países, não só do Primeiro Mundo, e destina-se ao financiamento projetos de conservação e desenvolvimento
sustentável em quatro áreas principais (biodiversidade, aquecimento global, águas internacionais e camada de
ozônio) em todos os continentes.
Fonte: Adaptado de MMA/SCA/PP-G7/BIRD, Pilot Program Annual Report 1999-2000, 2000: 26.
Obs. 1: A tabela não inclui a renda de investimento não desembolsada pelo RFT que está disponível
ao Programa e somava US$ 18,06 milhões em 30 de junho de 2000.
Obs. 2: Os recursos para projetos incluem o valor estimado das cooperações técnicas dos doadores
informadas por estes.
5 De 1995 a 2001. Entre 2002 e 2003 houve renegociação para a Segunda Fase que terá início em 2004.
7 É interessante lembrar o subtítulo do livro: “Um estudo de economia que leva em conta as pessoas”.
15 Em Santa Maria do Tocantins o termo fazenda aplica-se a terra de qualquer tamanho que fique distante da sede
municipal. O termo chácara, em oposição, refere-se a terras localizadas nas proximidades da cidade.
16 Trata-se do Programa de Pequenos Projetos do Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Environmental Facility),
fundo multilateral de doações de diversos países criado em novembro de 1990, administrado pelos Programas de
Desenvolvimento e de Meio Ambiente das Nações Unidas, respectivamente, PNUD e PNUMA, e pelo Banco Mundial.
O Programa de Pequenos Projetos é administrado por ONG’s nacionais (Cf. ROS FILHO, 1994).
17 Segundo relatos colhidos, três foram os problemas do pequeno projeto. Primeiro, não houve consulta às mulheres
– que fariam os doces e a cajuína – quanto às especificações técnicas dos tachos necessários à confecção dos
doces, resultando em tachos muito grandes e difíceis de serem operados. Em segundo lugar, as mulheres não se
entendiam quanto à melhor receita de doce a ser feita, cada uma tendo as sua e havendo muita diferença na
qualidade da produção. Por fim, um dos principais produtos – o doce de caju e a cajuína – eram facilmente feitos
de forma artesanal em Carolina por quaisquer pessoas, dada a abundância desta fruta e a tradição de sua utilização.
Assim, o mercado teria que ser regional, o que ainda não era possível de se alcançar.
18 Inicialmente a CPT cedia todo o material necessário para a criação de abelhas e a assessoria técnica permanente,
totalizando um custo de R$ 94,00 que podia ser pago em litros de mel em três anos. Todos que se aventuraram
pela apicultura conseguiram pagar todo o material e ter lucro com a venda dos litros de mel. Em função desta
atividade bem-sucedida, o Projeto Frutos do Cerrado era complementar, pois ao propor a manutenção de áreas de
mata e o consorciamento de culturas agrícolas com espécies frutíferas nativas do cerrado além de outras
ornamentais ou simplesmente adubadeiras, possibilitava também a manutenção das floradas necessárias à
produção de mel.
21 A existência das categorias “proponente” e “executor” foi uma estratégia do PD/A para possibilitar que as entidades
que realmente fossem executar o projeto, mas que não tivessem no mínimo um ano de existência, pudessem
também apresentar projetos através da figura de um “proponente”, outra entidade, que cumpria tais exigências e
que repassaria todos os recursos e bens para a “executora”.
22 Ressaltamos aqui que Santa Maria do Tocantins foi emancipada como município em 1992 e segundo o Censo de
2000 do IBGE, continha uma população de 2.226 habitantes, sendo 1.034 na “zona urbana” e 1.192 na “zona rural”.
23 A Secretaria Executiva de Carolina ficou encarregada de assessorar a Associação Vyty-Cati das Comunidades
Indígenas do Maranhão e Tocantins e suas dez aldeias associadas, além das associações de Carolina (MA), Santa
Maria do Tocantins (TO) e das cooperativas de Loreto, Riachão e São Raimundo das Mangabeiras (todas no MA). O
Centru, por sua vez, assessorava as cooperativas de Imperatriz, Amarante, Montes Altos, João Lisboa e Estreito,
todas no Maranhão.
24 Entre os Timbira há um mito que justifica a posição dos brancos (kupen) como eternos devedores dos índios
(mehin), tendo que lhes presentear periodicamente com seus bens. É o mito do Aukê, uma espécie de demiurgo das
relações interétnicas. Há várias versões deste mito, mas todas elas enfatizam que Aukê seria uma figura intermediária
– meio homem e meio animal ou meio indígena e meio não-indígena. De qualquer forma, este ser tinha propriedades
mágicas, dentre as quais, a de se transformar. Aukê teria dado a possibilidade dos mehin e dos “cristãos” (kupen)
escolherem entre o arco ou a espingarda. Como os mehin escolheram o arco, permaneceram mehin com toda a cultura
material e simbólica dos mehin. Já os “cristãos”, escolheram a espingarda e, portanto, ficaram com toda a cultura
material do kupen. Como isso foi considerado injusto pelos mehin, os kupen são obrigados a compensá-los com alguns
de seus próprios bens. Nas relações sociais reais entre os Timbira e a sociedade envolvente, tal ideologia transparece,
inclusive através da ocorrência de mais de um movimento messiânico, entre os Krahó (por volta de 1951) e entre os
Kanela-Ramkókamekra (por volta de 1963), para corrigir tal “injustiça”. Os profetas de tais movimentos messiânicos
anunciavam que os mehin iam se transformar em kupen e, assim, ter acesso a todo tipo de bens da sociedade industrial
que passaram a desejar com o contato (Cf. MELATTI, 1972; CROCKER, 1976; CUNHA, 1973).
25 As autoras se referem especificamente a casos de personalidades indígenas que ganharam espaço na mídia nacional
e internacional em função sua atuação em defesa da Amazônia ou dos direitos indígenas, tais como o Xavante Mário
Juruna no final dos anos 70 e vários Kayapó nos anos 80 e 90 do século XX: Paulo Payakan, Raoni e Cube-i.
26 Não tive acesso a dois relatórios de consultoria, mas soube de sua existência pela citação deles em outros
relatórios. Pelo título é possível classificar uma delas como econômica (GIORDANO, Samuel R. Estudo de Viabilidade
Econômica, janeiro de 1997) mas a outra não é possível dizer (CARVALHO, Valter. Análise da Situação Atual e
Proposta de Medidas de Aperfeiçoamento, junho de 1997). Por isso, esta última não pode ser “classificada” por mim
em nenhuma das categorias que me interessavam.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
FONTES PRIMÁRIAS
Documentos
BIRD (1992). Pilot Program to Conserve the Brazilian Rain Forest (PP-G7) –
Resolution of the Board of Executive Directors of the World Bank (March 1992) –
Establishment of the Rain Forest Trust Fund. BIRD.
LEROY, Jean-Pierre e TOLEDO, Grayton T. (2000). Avaliação do Projeto Rede Frutos do
Cerrado (Maranhão/Tocantins). Relatório de Consultoria. Rio de Janeiro/Belém. 12 de
maio de 2000.
MMA/PPG-7/BIRD (S/d.) Pilot Program to Conserve the Brazilian Forests. Portifólio
de apresentação do Programa.
MMA/SCA/PPG-7 (1998). PD/A: Uma contribuição para o uso inteligente das florestas
tropicais. Portifólio de apresentação do Subprograma. Brasília.
MMA/SCA/PPG-7/BIRD (2000). Pilot Program to Conserve the Brazilian Rain Forest
Annual Report – 1999-2000. Brasília. June.
MMA/SCA/PP-G7/PD/A (2001). PD/A Cinco Anos. Uma Trajetória Pioneira. Fevereiro
de 2001. Brasília.
PD/A (1993). Documento de Projeto. Projeto PNUD BRA/93/044.
PD/A (1998). Projetos Demonstrativos – PD/A. Manual de Operações. Instruções
Gerais. MMA/SCA/PP-G7. Brasília.
PD/A/PP-G7/GTZ/BIRD (2000). PD/A. Subsídios para Avaliação de 5 Anos do
Subprograma.
Decretos Governamentais
Decreto N.º 563, de 5 de junho de 1992. Institui o Programa Piloto para a Proteção
das Florestas Tropicais do Brasil e cria a Comissão de Coordenação. [Revogado pelo
Decreto N.º 2.119, de 13/01/1997].
Decreto N.º 2.119, de 13 de janeiro de 1997. Dispõe sobre o Programa Piloto para
a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil e sobre sua Comissão de Coordenação, e
dá outras providências.
FONTES SECUNDÁRIAS
ADAMS, Richard (1974) [1965]. “Brokers and career mobility systems in the structure of
complex societies”. In: HEATH, Dwight B. (ed.). Contemporary Cultures and Societies of
Latin America. 2nd. Edition. New York: Random House.
ALMEIDA, Mauro (1992). “Desenvolvimento e responsabilidade dos antropólogos”. In:
ARANTES, Antônio A.; RUBEN, Guilhermo & DEBERT, Guita (orgs.). Desenvolvimento e
Direitos Humanos. A Responsabilidade do Antropólogo. Campinas: Editora da Unicamp.
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .228
2 MOREIRA, Adriano. Teoria das relações internacionais. Coimbra: Livraria Almedina, 1997, p. 339-394.
3 CANÇADO TRINDADE, Antonio Augusto, in apresentação à obra Direitos Humanos e o Direito Constitucional
Internacional, de PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. São Paulo: Max
Limonad, 1996, p. 20.
4 PECK, Connie; LEE Roy .in Increasing the effectiveness of The International Court of Justice., Nederlands: Martin Nijhoff
Publishers/Unitar, 1997, p. 404.
5 JELLINEK, Georg. Teoría general del estado. Buenos Aires: Albatroz, 1954, 356.
3. A AGENDA 21
6 DERANI, Cristiane. “Aspectos jurídicos da Agenda 21”. In Direito Ambiental Internacional. Santos: Leopoldianum,
2001, p. 71 e 72.
5. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
DERANI, Cristiane e COSTA, José Augusto Fontoura (organizadores). “Aspectos jurídicos
da Agenda 21”. In: Direito Ambiental Internacional. Santos: Leopoldianum, 2001.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. http//www.mma.gov.br.
MOREIRA, Adriano. Teoria das relações internacionais. Coimbra: Livraria Almedina, 1997.
OHMAE, Kenichi. O fim do Estado-Nação. Rio de Janeiro: Campus, 1996, p. XVIII.
PECK, Connie; LEE Roy. In: Increasing the effectiveness of The International Court of
Justice. Nederlands: Martin Nijhoff Publishers/Unitar, 1997, p. 404.
ROUSSEAU, Ch. Droit international public. Pris: Sirey, 1953.
WOOD, Ellen Meiksins. Democracy against capitalism. Cambridge: Cambidge University
Press, 1999.
A
cidadania, tradicionalmente concebida como sinô-
nimo de nacionalidade, decorrente do título legal
concedido pelos Estados aos indivíduos que integram seu corpo
social com igualdade, homogeneidade, identidade e aspirações
comuns, reduzida ao espaço nacional, requer transformações no
atual contexto mundial.2
Esse contexto é caracterizado externamente pela construção
política de espaços transnacionais com evidente predomínio do
interesse econômico e, no âmbito interno dos Estados, pela
diversidade sociocultural e étnica historicamente invisibilizada pelo
violento processo de homogeneização social e cultural. Pugnar por
uma nova cidadania significa romper limites. Os clássicos limites
conceituais à própria cidadania, ao Estado e ao direito.
Os limites do Estado monocultural, assim como do direito
monístico, provocou a exclusão das diferenças étnicas e culturais, de
modo velado pela suposta universalidade do princípio da igualdade e
pelo difundido conceito de cidadania legal, igualitária e
indiferenciada, baseada na dialética interno/externo e, em termos
3 FARIÑAS DULCE, Maria José. Globalización, ciudananía y derechos humanos. Madrid: Dinkinson/Instituto de
Derechos Humanos Bartolomé de las Casas/Universidad Carlos III de Madrid, 2000, p. 35-36.
4 FARIÑAS DULCE, M. J., op. cit., p. 36-44.
5 PAOLI, Maria Célia Pinheiro Machado. O sentido histórico da noção de cidadania no Brasil: onde ficam os índios? In:
COMISSÃO PRÓ-INDIO. O índio e a cidadania. São Paulo: Brasiliense, 1983, p. 21.
6 Atualmente, apenas três representantes indígenas ocupam assento em órgãos consultivos federais da administração
pública: Francisca Novantino-Paresi no Conselho Nacional de Educação, Escrawen Sompré-Xerente no Conselho
Nacional do Meio Ambiente e Azelene Kring Inácio-Kaingang no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional e no Conselho Nacional de Combate à Discriminação. A Comissão intersetorial da saúde indígena do
Conselho Nacional de Saúde tem, entre seus membros, os seguintes indígenas: Euclides Pereira, Clovis Ambrózio,
Francisco Avelino Batista e Wilson Jesus de Souza. Participa, como convidado para assistência das reuniões do
Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, Edilson Martins Melgueiro-Baniwa.
7 RIBEIRO, Berta. O índio na história do Brasil. São Paulo: Global Editora, 1987.
8 Para o autor, “O privilégio epistemológico que a ciência moderna se concede a si própria é, pois, o resultado da
destruição de todos os conhecimentos alternativos que poderiam vir a pôr em causa esse privilégio. Por outras
palavras, o privilégio epistemológico da ciência moderna é produto de um epistemicídio. A destruição de
conhecimento não é um artefato epistemológico sem conseqüências, antes implica a destruição de práticas sociais
e a desqualificação de agentes sociais que operam de acordo com o conhecimento em causa”. SOUSA SANTOS, B.,
op. cit., p. 242.
9 Através de projetos institucionais no âmbito do “Programa de Desenvolvimento de Comunidades Indígenas”,
administrativamente conhecidos como “Programas de Desenvolvimento Comunitário”. Na prática, esses programas
desenvolveram uma desastrosa sistemática de substituição dos sistemas de produção de subsistência baseados na
policultura tradicional dos povos indígenas, pelo sistema de agricultura capitalista intensiva e monocultora,
principalmente, no sul do país. Segundo o discurso oficial “Estes programas de desenvolvimento comunitário são
elaborados de acordo com as aspirações das comunidades indígenas, e têm como objetivo a estruturação dos
setores da economia de subsistência e de comercialização, desenhando ações concretas para o engajamento das
comunidades indígenas com grau de aculturação mais elevado, no processo de desenvolvimento econômico e
social”. Funai – Fundação Nacional do Índio. Legislação, Jurisprudência Indígenas. [s.l.]: 1983, p. 3.
10 MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1963, p. 67.
11 SOUZA, Maria Tereza Sadek R. de. Os índios e os “custos” da cidadania. In: COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO. O índio e a
cidadania. São Paulo: Brasiliense, 1983, p. 41-42.
12 SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. A cidadania e os índios. In: COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO. O índio e a cidadania.
São Paulo: Brasiliense, 1983, p. 44-51. Muito embora a publicação do artigo tenha ocorrido em momento anterior
ao do atual regime constitucional, tanto do ponto de vista do critério legal de aquisição da cidadania, como em
relação ao problema da cidadania indígena, o pensamento do autor continua atual. No mesmo sentido, DALLARI,
Dalmo de Abreu. Índios, cidadania e direitos. In: COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO. O índio e a cidadania. São Paulo:
Brasiliense, 1983, p. 52-58.
13 FARIÑAS DULCE, M. J., op. cit., p. 39.
14 A “reformulação” da idéia de cidadania. Esse o entendimento de Antonio Enrique Pérez Luño, ao analisar o atual
contexto político de integração dos Estados nacionais da Europa à União Européia. Propõe, para tanto, a noção de
“cidadania multilateral”. PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Diez tesis sobre la titularidad de los derechos humanos. In:
ROIG, Francisco Javier Ansuátegui (org.). Una discusión sobre derechos colectivos. Madrid: Instituto de Derechos
Humanos Bartolomé de las Casas/Universidad Carlos III, 2002, p. 267.
15 HERRERA FLORES, Joaquín e RODRÍGUEZ PRIETO, Rafael. Hacía la nueva ciudadanía: consecuencias del uso de una
metodología relacional en la reflexión sobre la democracia. Crítica Jurídica: Revista Latinoamericana de Política,
filosofia e direito, n.º 17, agosto/ 2000, p. 302-303. Texto original: En primer lugar la ciudadanía tiene que ver con
algo más que la pertenencia a un Estado Nación y su legalidad correspondiente, En el mundo contemporáneo existen
múltiples espacios y legalidades que hacen de la ciudadanía algo más complejo que la simple nacionalidad. En
segundo lugar, la ciudadanía no otorga algún tipo de status ontológico. No se es ciudadano. Se tiene ciudadanía.
Nadie puede, al estilo de Kane de Orson Welles, arrogar-se el título de Ciudadano frente a los que no los poseen. Por
ello y en tercer lugar, afirmamos que la ciudadanía no es un status. Es una técnica, un instrumento que usado
correctamente puede permitirnos ejercer la búsqueda y la consolidación de otros instrumentos o medios que acerquen
al objetivo/proyecto del autogobierno (tradução livre).
16 A autora propõe como princípio, que o âmbito público democrático deveria prover de mecanismos para o efetivo
reconhecimento e representação das vozes e perspectivas particulares daqueles grupos constitutivos do ambiente
público que estão oprimidos e em desvantagem. Tal representação de grupo implica a existência de mecanismos
institucionais e recursos públicos que apóiem: a) a auto-organização dos membros do grupo de modo que estes
alcancem uma autoridade coletiva e um entendimento reflexivo de suas experiências e interesses coletivos no
contexto social; b) a análise de grupo e as iniciativas grupais para a proposta de políticas em contextos
institucionalizados, nos quais os que tomam decisões estão obrigados a mostrar que suas deliberações levaram em
conta as perspectivas de grupo; e c) o poder de veto para os grupos a políticas específicas que afetem diretamente
a um grupo, tais como, política sobre direitos reprodutivos para as mulheres e política sobre o uso da terra para os
povos indígenas. YOUNG, Iris Marion. La justicia y la política de la diferencia. Madrid: Ediciones Cátedra, 2000, p. 310.
17 Sobre os múltiplos níveis das relações de subordinação, ver: MOUFFE, Chantal. The return of the political. Londres:
Verso, 1993.
18 PANIKKAR, Raimundo. Sobre el dialogo intercultural. Salamanca: Editorial San Esteban, 1990, p. 50-53. Sobre o
modo dialógico de tratar as posições conflitivas o autor faz as seguintes considerações: uma sociedade pluralista
somente pode subsistir se reconhece, em um momento dado, um centro que transcende a compreensão dela mesma
por qualquer membro ou pela sua totalidade; o reconhecimento desse centro é algo dado que implica um certo grau
de consciência que difere segundo o espaço e o tempo; o modo de manejar um conflito pluralista não é uma das
partes tentando discursivamente convencer a outra, nem pelo procedimento dialético, senão pelo diálogo
dialógico; discussão, oração, palavras, silêncio, decisões, acomodações, autoridade, obediência, exegese de regras
e constituições, liberdade de iniciativa, rupturas, são atitudes próprias de tratar o conflito pluralista; há um
contínuo entre multiformidade e pluralismo e a linha divisória situa-se em função do tempo, lugar, cultura,
sociedade, resistência espiritual e flexibilidade; o problema do pluralismo não pode ser resolvido pela manutenção
de uma postura unitária; o trânsito da pluralidade para a multiformidade e, desta ao pluralismo pertence às dores
crescentes da criação e ao verdadeiro dinamismo do universo.
19 OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Sobre o diálogo intolerante. In: GRUPIONI, Luís Donizete Benzi. Povos indígenas e
tolerância: construindo práticas de respeito e solidariedade. São Paulo: Edusp, 2001, p. 252.
20 Conforme SOUZA, comentando o imaginário europeu sobre o Brasil, a partir dos relatos de Fernão Cardim. SOUZA,
Laura de Mello e. O diabo e a terra de Sta. Cruz. Feitiçaria e religiosidade no Brasil colonial. São Paulo: Companhia
das Letras, 1986, p. 30/33.
21 HERRERA FLORES, Joaquín. Las lagunas de la ideología liberal. In: HERRERA FLORES, Joaquín (org.). El vuelo de
Anteo: derechos humanos y crítica de la razón liberal. Bilbao: Desclée de Brouwer, 2000, p. 158.
22 Conforme problematização sobre as tensões dialéticas da modernidade ocidental, identificadas por Boaventura de
Sousa Santos: tensão entre a regulação social e a emancipação social e a tensão entre Estado e sociedade civil.
SOUSA SANTOS, Boaventura de. “Una concepción multicultural de los Derechos Humanos”. Revista Memória, Bogota,
n.º 101, julio de 1997, p. 42.
23 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5.ª ed. São Paulo: Max Limonad, 2002,
p. 253-273.
26 SÁNCHEZ RUBIO, David. Universalismo de confluencia, derechos humanos y inversión. In: HERRERA FLORES, Joaquín.
(org.). El vuelo de Anteo: derechos humanos y crítica de la razón liberal. Bilbao: Desclée de Brouwer, 2000, p. 216-
219.
27 Id. Ibid., p. 235.
28 SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. O renascer dos povos para o Direito. Curitiba: Juruá, 1998, p. 130.
29 TOMASINO, Kimiye. Os Kaingang da Bacia do Tibagi e suas relações com as terras baixas. Relatório parcial de pesquisa
sem maiores dados. Londrina: [s. n.] 1998, p. 6.
30 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Texto integral: “Art. 231 [...] § 1.º São terras
tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas
atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as
necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”.
31 A Constituição de 1988 reconhece a ocupação tradicional, ou seja, as formas de uso que cada cultura indígena
emprega ao definir o território como construção social, base física para a realização da cultura, da maneira como,
para citar um exemplo, o povo Guarani-M’byá, habitante de vasta região do Brasil meridional o concebe: espaço,
lugar, possibilitador da vida social, com características ecológicas, históricas e míticas, relacionadas ao modo de
ser guarani. DANTAS, Fernando Antonio de Carvalho. Relatório de Identificação da terra indígena Guarani-Mbyá da
Ilha da Cotinga. Curitiba: Funai, 1989.
32 Pode-se dizer, a partir da exegese dos pressupostos constitucionais, que terras indígenas são aquelas habitadas pelos
povos indígenas, enquanto espaço de vida, adequado às suas peculiaridades culturais e imprescindíveis para sua
reprodução física e cultural. Simbolizadas pela cultura, essas terras constituem verdadeiros territórios indígenas,
porque orientados pelo evidente princípio que encerra a disposição constitucional, qual seja: a ocupação indígena é
definida a partir dos usos costumes e tradições de cada povo. Nesse sentido, afirma SOUZA FILHO que usos, costumes
e tradições “quer dizer direito, e, mais, direito consuetudinário indígena”. SOUZA FILHO, C. F. M., op. cit., p. 134.
33 HERRERA FLORES, J., op. cit., p. 158. Texto original: “[...] durante décadas las reivindicaciones culturales de las
minorías estuvieron absorbidas por estructuras más generales que a medida que las protegían las homogeneizaban”
(Tradução livre).
34 HÄBERLE, Peter. Pluralismo y Constitución: estudios de Teoría Constitucional de la sociedad abierta. Madrid: Tecnos,
2002, p. 123.
35 No sentido de transformação e renovação da filosofia que propõe Raúl Fornet-Betancourt, por meio da mudança de
perspectiva, provocada pela necessidade de substituir os métodos de análise monoculturais, característicos da
filosofia ocidental que geram problemas de relacionamento com outras formas culturais de pensar, no caso, as
culturas das sociedades indígenas. O autor chama a atenção para a necessidade de a filosofia refletir o “desafio do
imaginário indígena” como ponto básico de discussão sobre uma mudança de racionalidade, fundada na
interculturalidade. FORNET-BETANCOURT, Raúl. Transformación intercultural de la filosofía. Bilbao: Desclée de
Brouwer, 2001, p. 235-236.
36 No sentido gadameriano de compreensão da alteridade, reconhecimento e aceitação do “outro”. GADAMER, Hans
George. Verdad y Método. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1977, p. 476.
37 DE LUCAS, Javier. La sociedad multicultural: problemas jurídicos y políticos. In: AÑON, María José et al. Derecho y
sociedad. Valencia: Tirant de Blanch, 1998, p. 19-20. Veja-se, na nota 37 deste mesmo capítulo, a posição de
HERRERA FLORES, para quem as reivindicações das minorias étnicas e culturais, durante muito tempo, estiveram
represadas em função da absorção homogeneizadora dos Estados nacionais.
REFERÊNCIAS
BENHABIB, Seyla. Situating the self: gender, community and postmodernism in
contemporary Ethics. London/New York: Routledge, 1992.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Índios, cidadania e direitos. In: COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO. O índio
e a cidadania. São Paulo: Brasiliense, 1983.
DANTAS, Fernando Antonio de Carvalho. Relatório de Identificação da terra indígena
Guarani-Mbyá da Ilha da Cotinga. Curitiba: Funai, 1989.
DE LUCAS, Javier. La sociedad multicultural: problemas jurídicos y políticos. In: AÑON,
María José et al. Derecho y sociedad. Valencia: Tirant de Blanch, 1998.
FARIÑAS DULCE, Maria José. Globalización, ciudananía y derechos humanos. Madrid:
Dinkinson/Instituto de Derechos Humanos Bartolomé de las Casas/Universidad Carlos III
de Madrid, 2000.
FORNET-BETANCOURT, Raúl. Transformación intercultural de la filosofía. Bilbao: Desclée de
Brouwer, 2001.
FUNAI – Fundação Nacional do Índio. Legislação, Jurisprudência Indígenas. [s.l.], 1983.
GADAMER, Hans George. Verdad y Método. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1977.
HÄBERLE, Peter. Pluralismo y Constitución: estudios de Teoría Constitucional de la
sociedad abierta. Madrid: Tecnos, 2002.
HERRERA FLORES, Joaquín e RODRÍGUEZ PRIETO, Rafael. “Hacía la nueva ciudadanía:
consecuencias del uso de una metodología relacional en la reflexión sobre la democracia”.
Crítica Jurídica: Revista Latinoamericana de Política, Filosofia e Direito, n.º 17, agosto/
2000.
38 Como, por exemplo, Giovanni Sartori. Para este autor, há uma incompatibilidade entre pluralismo democrático e
multiculturalismo porque entende que as diferenças culturais configuram comunidades fechadas e homogêneas.
SARTORI, Giovanni. La sociedad multiétnica. Pluralismo, multiculturalismo e extranjeros. Madrid: Taurus, 2001.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
C
omo observa Brandão Cavalcanti, “a idéia de que o
ser humano, como tal tem direitos elementares à
vida e àquilo que é indispensável, no campo material, físico e
espiritual, constitui, assim, uma conquista da civilização e que aos
poucos se foi firmando na filosofia política no século XVIII”.2
Fruto da chamada multiplicação dos direitos, como menciona
Norberto Bobbio,3 surgem, após a Segunda Guerra Mundial, duas
tendências marcantes que, cada vez mais, ganham espaço no mundo
atual:4 a preocupação com o meio ambiente e a busca de uma melhor
qualidade de vida.
Bobbio, ao analisar a evolução histórica dos direitos
fundamentais, especificamente os de terceira geração,5 é peremptório ao
14 “I – Há uma íntima relação entre desenvolvimento e meio ambiente, desenvolvimento e direitos humanos. Possíveis
ligações podem ser encontradas, por exemplo, nos direitos à vida e à saúde em suas largas dimensões, as quais
requerem tanto medidas negativas quanto positivas da parte dos Estados. De fato, esta relação íntima é
demonstrada pela maioria dos direitos, econômicos, sociais e culturais e pela maioria dos direitos civis e políticos.
Além de tudo, há um paralelo entre as evoluções da proteção dos direitos humanos e proteção ambiental, tendo
ambos passado por um processo de internacionalização e globalização. II – A ligação entre meio ambiente e
direitos humanos é mais claramente demonstrada pelo fato que degradação ambiental pode agravar as violações
dos direitos humanos, e, por outro lado, as violações dos direitos humanos podem conduzir a grande degradação
ambiental ou dificultar a proteção do meio ambiente”. In: “Conclusions of the Inter-American Seminar on Humam
Rights and Environment, Human Rights, Sustainable Development and the Environment”, Seminário de Brasília,
1992, p. 293, Apud Karina Houat Harb. Direitos Humanos e Meio Ambiente, p. 78-79.
15 Cristiane Derani. Meio Ambiente ecologicamente equilibrado: Direito Fundamental e Princípio da Atividade
Econômica. In: “Temas de Direito Ambiental e Urbanístico”, p. 97.
16 Direito Ambiental Constitucional, p. 8.
21 Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues. Manual de Direito Ambiental e Legislação Aplicável, p. 29.
22 Direito Ambiental Econômico, p. 32-34.
23 O tema proposto, inclusive, é marcado pela relevância na medida em que vez ou outra, no Brasil, vivencia-se uma
crise institucional entre os Poderes Judiciário e Legislativo, na qual este ameaça aquele com a limitação de
poderes. Neste sentido temos a declaração do presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, em entrevista ao
Jornal Folha de S. Paulo (18, junho, 99), no qual comenta decisão do Supremo que restringia a atuação das CPI’s:
“É de se esperar que esse assunto vá logo para o plenário do Supremo e que seja reformado, para que nós não
tenhamos que fazer uma legislação tirando até algumas das atribuições do Supremo” (Grifamos). Em resposta a
referida declaração, o presidente do STF, Carlos Velloso, em entrevista ao mesmo Jornal (18, jun., 99), asseverou
que: “O presidente do Senado, tenho certeza, há de refletir que ele deve cumprir uma Constituição que é
democrática e uma Constituição que impõe limites” (Grifamos).
24 Martin-Retortillo Baquer, op. cit., p. 125.
25 Idem, ibidem, p. 125-135.
26 Martin-Retortillo Baquer, op. cit, p. 126.
27 Vieira de Andrade, José Carlos Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976. Coimbra: Almedina,
1987, p. 233.
28 Dantas, San Tiago, “Igualdade perante a lei e due process of law” (contribuição ao estudo da limitação
constitucional do Poder Legislativo), Revista Forense, vol. 116, 1948, p. 357, apud Barros, Suzana de Toledo. O
princípio da proporcionalidade e o controle de constitucionalidade das leis restritivas de direitos fundamentais.
Brasília, DF: Livraria e Editora Brasília Jurídica, 1996, p. 21.
29 Mendes. Controle de Constitucionalidade (Aspectos jurídicos e políticos). São Paulo: Saraiva, 1990, p. 38-39.
7. CONCLUSÃO
35 Bobbio. A Era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho, 8.ª ed. Rio de Janeiro, Campus, 1992.
36 Barros, op. cit., p. 96.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Luiz Alberto David & NUNES JR., Vidal Serrano. Curso de Direito
Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1998.
BARROSO, Luiz Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas.
Rio de Janeiro: Renovar, 1993.
______________. Interpretação e aplicação da Constituição. São Paulo: Saraiva,
1986, p. 259.
BASTOS, Celso Ribeiro. Necessidade de regulamentação constitucional. In:
Cadernos de Direito Constitucional e Ciências Políticas, n.º 18.
BARROS, Suzana de Toledo. O princípio da proporcionalidade e o controle de
constitucionalidade das leis restritivas de direitos fundamentais. Brasília, DF:
Livraria e Editora Brasília Jurídica, 1996.
BATALHA, Wilson de Souza Campos. Sindicatos, sindicalismo. São Paulo: LTr
Editora, 1994.
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .299
2. A memória entre a Lenda e a Mitologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .301
3. As fases da memória coletiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .302
3.1 Memória Étnica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .302
3.2 Entre a Pré-História e a Antigüidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .303
3.3 A Fase Medieval . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .304
3.4 O avanço do século XVI até o presente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .304
3.5 A memória na atualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .305
4. A cultura e a memória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .306
5. A importância dos bens culturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .307
6. O patrimônio histórico e artístico na ordem constitucional . . . . . . . . . . . . . . . . . .308
7. O desenvolvimento da proteção jurídica das lembranças culturais . . . . . . . . . . . . .310
7.1 A proteção da memória do patrimônio cultural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .310
7.2 O patrimônio cultural brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .312
7.3 Do patrimônio material ao imaterial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .314
8. Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .316
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .317
O Risco Acerca da Utilização
da Transgenia (Organismos
Geneticamente Modificados) na
Agricultura Moderna
Bruno Gasparini1
1. INTRODUÇÃO
A
sociedade moderna sustenta-se sobre os princípios
da globalização e do neoliberalismo, primando por
um viés econômico para solucionar os problemas a ela inerentes. O
desenvolvimento tecnológico e o conhecimento científico inabalável,
marcado pela racionalidade, proporcionou a criação da sociedade de
risco, firmada na globalização e marcada pelo utilitarismo. Sob estes
parâmetros, visualizamos ser o risco fruto da modernidade, sendo
conseqüência da globalização e do progresso da ciência, tendo-se
desenvolvido sem a sustentabilidade necessária. O autor português
Boaventura de Sousa Santos explicita essa situação:
3 DE GIORGI, Raffaele. “O risco na sociedade contemporânea”, in Revista Seqüência. Revista do Curso de Pós-
Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, jun., 1994, n.º 28, p. 47.
4 Op. cit, p. 47.
4. TRANSGÊNICOS – ASPECTOS
CONTROVERSOS DA POLÊMICA
20 BIOTECNOLOGIA CIÊNCIA & DESENVOLVIMENTO, 12/2000, p. 4-8, entrevista concedida a Maria Fernanda Diniz
Avidos e Lucas Tadeu Ferreira, veiculada na matéria Os transgênicos e o futuro da agricultura.
21 INFORME AGROPECUÁRIO, v. 21, n.º 204, maio/junho de 2000, p. 14-19, Empresa de Pesquisa Agropecuária de MG.
22 In: http:www.nal.usda.gov/bic site do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Acesso em 22.08.2002.
O fato de que esta mesma soja tenha sido liberada em outros países
não é garantia que ela é segura e não causa danos à saúde. Esta opinião
é compartilhada por inúmeros cientistas, políticos e organizações não-
governamentais. Recentemente, o Secretário de Meio Ambiente do Estado
Scheleswig-Holstein, Alemanha, afirmou que os padrões dos testes atuais
não são rigorosos o suficiente. Experiências anteriores com agrotóxicos
comprovam isto. A morte de 37 pessoas e seqüelas em outras 1.500
causada pelo consumo do triptofano fabricado por um organismo
transgênico, oficialmente testado e liberado nos Estados Unidos, também
ilustra que os testes não são eficientes para assegurar o nível de risco para
a saúde humana. Atualmente, poucos países liberaram plantas
transgênicas para cultivo. Além disso, nem todos os testes necessários para
garantir uma decisão segura foram feitos com a soja transgênica, mesmo
nos países onde foi desregulamentada.25
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
APINCO’2000, Conferência de Ciência e Tecnologia Avícolas, Anais, volume 2, p. 198-200.
BIOTECNOLOGIA, CI NCIA & DESENVOLVIMENTO, 12/2000, p. 4-8, entrevista concedida a
Maria Fernanda Diniz Avidos e Lucas Tadeu Ferreira, veiculada na matéria Os transgênicos
e o futuro da agricultura.
CARVALHO SILVA, Jorge Alberto Quadros. “Alimentos Transgênicos: Aspectos Ideológicos,
Ambientais, Econômicos, Políticos e Jurídicos”, In: Revista Biodireito, p. 326-346.
DE GIORGI, Raffaele. “O risco na sociedade contemporânea”. In: Revista Seqüência. Revista
do Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, jun.,
1994, n.º 28.
INFORME AGROPECUÁRIO, v. 21, n.º 204, maio/junho de 2000, p. 14-19, Empresa de
Pesquisa Agropecuária de MG.
JONAS H. The imperative of responsability. Chicago: University of Chicago Press, 1984.
REISS, M. J.; STRAUGHAN R. Improving nature? The science and ethics of genetic
engineering. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1996.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da
experiência. Porto: Afrontamento, 2000.
SEED NEWS, n.º 1, set., 1997, p. 30-39, Biotecnologia cria a nova agricultura, com a
colaboração de Roberto Rissi, da Cargill; Jorge de Souza, da Zêneca; Alberto Leonardo, da
Josapar; Lineu Rodrigues, da Agroceres; e Rodrigo L. Almeida, da Monsanto.
SOUZA, Ernesto de. “A Nova Fronteira Agrícola”. Revista Globo Rural. [Internet]
http://globorural.globo.com/mensal/materias/repvio2.htm [Acesso em 15.Abr.2002].
4 “Sob o pretexto de ‘progresso industrial’, sucederam-se, nos últimos anos, catástrofes ecológicas em todo o planeta,
tais como as de Three Miles Island (200.000 pessoas evacuadas), Seveso (37.000 pessoas contaminadas), Bophal
(2.800 mortos, 20.000 feridos), Tchernobil (300 mortos, 50.000 expostos à radioatividade), Guadalajara (200
mortos, 20.000 sem-teto), a do sangue contaminado, do hormônio do crescimento, do amianto, da ‘vaca louca’,
do tabaco, do diesel...” RAMONET, Ignácio. Geopolítica do caos. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. 4.ª
ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, p. 81.
5 Na passagem citada, Huxley descreve o condicionamento sofrido pelos personagens do seu livro para despertarem
indiferença e repúdio ao meio natural e ao conhecimento, retratando a separação cartesiana entre homem e
natureza. HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. 18.ª ed. São Paulo: Globo, 1992, p. 24.
8
Os avanços científicos e tecnológicos operados pela ciência
9
moderna, a partir da revolução científica dos séculos XVI e XVII –
pelas mãos de Copérnico, Descartes, Bacon, Galileu e Newton –
serviram, e ainda servem, de instrumento de dominação e degradação
dos recursos naturais. O conhecimento tecnológico e científico, que
deveria ter o desenvolvimento, o bem-estar social e a qualidade e a
dignidade da vida humana como suas finalidades maiores, passa a
ser, com todo o seu poder de criação e destruição, a principal ameaça
à manutenção e à sobrevivência da espécie humana, assim como de
todo ecossistema planetário.10
6 HOBBES, Thomas. Leviatã – ou, Matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
7 ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976. 2.ª ed. Coimbra:
Almedina, 2001, p. 61.
8 O geógrafo brasileiro Milton Santos leciona que “o desenvolvimento da história vai de par com o desenvolvimento
das técnicas. Kant dizia que a história é um progresso sem fim das técnicas. A cada evolução técnica, uma nova
etapa histórica se torna possível”. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização – Do pensamento único à consciência
universal. 6ª. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 24.
9 “Nos séculos XVI e XVII, a visão de mundo medieval, baseada na filosofia aristotélica e na teologia cristã, mudou
radicalmente. A noção de um universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela noção do mundo como uma
máquina, e a máquina do mundo tornou-se a metáfora dominante da era moderna. Essa mudança radical foi
realizada pelas novas descobertas em física, astronomia e matemática, conhecidas como Revolução Científica e
associadas aos nomes de Copérnico, Galileu, Descartes, Bacon e Newton”. CAPRA, op. cit., p. 34.
10 “O senso comum e a ciência são expressões da mesma necessidade básica, a necessidade de compreender o mundo,
a fim de viver melhor e sobreviver. Para aqueles que teriam a tendência de achar que o senso comum é inferior à
ciência, eu só gostaria de lembrar que, por dezenas de milhares de anos, os homens sobreviveram sem coisa alguma
que se assemelhasse à nossa ciência. Depois de cerca de quatro séculos, desde que surgiu com seus fundadores,
curiosamente a ciência está apresentando sérias ameaças à nossa sobrevivência”. ALVES, Rubem. Filosofia da
Ciência: introdução ao jogo e suas regras. 3.ª ed. São Paulo: Loyola, 2001, p. 21.
11 Para uma melhor compreensão crítica do método científico cartesiano, ver CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo:
Cultrix, 1996; CREMA, Roberto. Introdução à Visão Holística. São Paulo: Summus, 1989; ALVES, Rubem. Filosofia da
Ciência: introdução ao jogo e a suas regras. São Paulo: Loyola, 2001; SANTOS, Boaventura de Sousa. A Crítica da
Razão Indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2001.
12 MORIN, Edgar; KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria. 3.ª ed. Porto Alegre: Sulina, 2002, p. 158.
13 LEITE e AYALA apontam para a teoria da sociedade de risco, sob a ótica do direito ambiental. “A sociedade
capitalista e o modelo de exploração capitalista dos recursos economicamente apreciáveis se organizam em torno
das práticas e comportamentos potencialmente produtores de situações de risco. Esse modelo de organização
econômica, política e social submete e expõe o ambiente, progressiva e constantemente, ao risco”. LEITE, José
Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito Ambiental na Sociedade de Risco. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2002, p. 103.
14 ALBUQUERQUE, Letícia. Os dilemas da sociedade biotecnológica: o impacto da biotecnologia na condição humana.
Anais do 3.º Congresso Brasileiro do Ministério Público de Meio Ambiente e do 2.º Seminário Regional do Instituto
“O Direito por um Planeta Verde”. Porto Alegre: Corag, 2003, p. 65.
15 JONAS, Hans. El Principio de Responsabilidad: ensayo de una ética para la civilización tecnológica. Barcelona: Herder,
1995, p. 229.
16 Preâmbulo da Agenda 21, Capítulo 1, Subitem 1.1. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. 3.ª ed. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2001, p. 9.
17 NOSSO FUTURO COMUM (Brundtland Report) – Relatório da Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento
da ONU, 1987. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1991.
18 O princípio da precaução está expresso no Princípio 15 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. “Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente
observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis,
a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas
economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (RIO DE JANEIRO: 1992). Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições
Técnicas, 2001. No direito brasileiro, o princípio da prevenção pode ser verificado no art. 225, § 1.°, V, da
Constituição Federal de 1988, bem como através do Art. 54, § 3.°, da Lei 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais).
19 É importante frisar a autonomia conceitual que guardam entre si os princípios da precaução e da prevenção. “O
traço essencial que afasta e delimita os dois conceitos é o da identificação ou não de um dado risco. A prevenção
exige claramente a adoção de medidas contra riscos já identificados. Já o vorsorgeprinzip alerta para a necessidade
de agir contra a emergência de riscos cuja existência ou dimensão ainda não foi demonstrada, ou mesmo a
necessidade de agir na ausência de riscos, designadamente postulando a não perturbação de um dado recurso
ambiental como forma de gestão cautelosa do futuro”. MARTINS, Ana Gouveia e Freitas. O princípio da precaução
no direito do ambiente. Lisboa: Associação Acadêmica da Faculdade de Direito de Lisboa, 2002, p. 25.
20 Nesse sentido, a evidenciar o princípio da precaução no cenário jurídico brasileiro, a paradigmática decisão do Juiz
Federal Antônio Souza Prudente verificada na ação civil pública ajuizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor – IDEC contra a UNIÃO FEDERAL, a MONSANTO DO BRASIL LTDA. e a MONSOY LTDA., que condenou a
União Federal a exigir a realização de prévio Estudo de Impacto Ambiental da MONSANTO DO BRASIL LTDA. para
liberação de espécies geneticamente modificadas e de todos os outros pedidos formulados à CTNBio, declarando a
inconstitucionalidade do inciso XIV do Art. 2, do Decreto n.º 1.752/95, bem assim das Instruções Normativas n.OS
03 e 10 – CTNBio, no que possibilitam a dispensa do EIA/RIMA (PROCESSO N.º 1998.34.00.027682-0, CLASSE 7100,
6.ª Vara da Justiça Federal, DF).
21 LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2000, p. 50-51.
22 “No Art. 5.º do projeto de Código ambiental alemão, o princípio da precaução vem definido nos seguintes termos:
1. Os riscos para o ambiente e para os seres humanos devem, na medida do possível, ser excluídos ou minimizados,
em particular, através do planejamento em longo prazo e da adoção das precauções técnicas adequadas; 2. A
abordagem assente na precaução visa igualmente a proteção de grupos sensíveis e de elementos sensíveis dos
ecossistemas. Deve ser preservada uma margem para usos futuros e ecologicamente apropriados; 3. A qualidade do
ambiente deve ser melhorada em áreas afetadas e preservada em áreas não afetadas”. MARTINS, op. cit., p. 26-27.
23 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização – Do pensamento único à consciência universal. 6.ª ed. Rio de Janeiro:
Record, 2001, p. 118.
24 GALEANO, Eduardo. Úselo y tírelo: el mundo del fin del milenio visto desde una ecología latinoamericana. 5.ª ed.
Buenos Aires: Planeta, 2001, p. 9-10.
25 CAUBET, Christian Guy. A irresistível ascensão do comércio internacional: o meio ambiente fora da lei? Revista de
Direito Ambiental, n.º 22, abril-junho. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 81.
26 HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. 18.ª ed. São Paulo: Globo, 1992.
27 GÓMEZ, José Maria. Política e democracia em tempos de globalização. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 9.
32 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 10.ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992,
p. 41.
33 FERRAJOLI, Luigi. A soberania no mundo moderno: nascimento e crise do Estado nacional. São Paulo: Martins Fontes,
2002, p. 51.
34 Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948.
35 ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976. 2.ª ed. Coimbra:
Almedina, 2001, p. 34.
36 , SANTOS, Milton. Por uma outra globalização – Do pensamento único à consciência universal. 6.ª ed. Rio de Janeiro:
Record, 2001, p. 116.
37 CATTANI. Antonia David (Org.). Fórum Social Mundial: a construção de um mundo melhor. Porto Alegre/Petrópolis:
Editora da Universidade/UFRGS/Vozes/Unitrabalho/Corag/Veraz Comunicação, 2001.
38 DIAS, José Eduardo Figueiredo. Direito constitucional e administrativo do ambiente. Cadernos do Centro de Estudos
de Direito do Ordenamento, do Urbanismo e do Ambiente. Coimbra: Almedina, 2002, p. 20.
39 No Brasil, há o exemplo da Lei de Informação Ambiental, enquanto espaço aberto para o exercício democrático.
40 GÓMEZ, José Maria. Política e democracia em tempos de globalização. Petrópolis/RJ: Vozes; Buenos Aires: CLACSO;
Rio de Janeiro: LPP – Laboratório de Políticas Públicas, 2000, p. 72.
41 Ver sites: www.greenpeace.org, www.greenpeace.org.br.
42 RAMONET, Ignácio. Geopolítica do caos. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. 4.ª ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1998, p. 32.
44 CARVALHO, Isabel. Sustentabilidad democrática y ciudadanía. In: Mujeres y Sustentabilidad – Intercambio y debates
entre el movimiento de mujeres y el movimiento ecologista. Santiago de Chile: Fundación Heinrich Böell, 2001, p. 86.
45 AGUIAR, Roberto Armando Ramos de. Direito do Meio Ambiente e participação popular. Brasília: Edições Ibama,
1998, p. 42-43.
46 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. 3.ª ed. Brasília: Senado Federal,
Subsecretaria de Edições Técnicas, 2001, p. 595.
47 Elaborada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, no Rio de Janeiro.
48 Nesse sentido, destaca-se a promulgação recente da Lei 10.650, de 16 de abril de 2003, que dispõe sobre o acesso
à informação ambiental.
49 GÓMEZ, José Maria. Política e democracia em tempos de globalização. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 10-11.
50 “A qualificação de um Estado como Estado Ambiental aponta para duas dimensões jurídicas-políticas
particularmente relevantes. A primeira é a obrigação de o Estado em cooperação com outros Estados e cidadãos ou
grupos da sociedade civil, promover políticas públicas (econômicas, educativas, de ordenamento) pautadas pelas
exigências da sustentabilidade ecológica. A segunda relaciona-se com o dever de adoção de comportamentos
públicos e provados amigos do ambiente de forma a dar expressão concreta à Assumpção da responsabilidade dos
poderes públicos perante as gerações futuras”. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estado de Direito. Cadernos
Democráticos, nº. 7. Fundação Mário Soares. Lisboa: Gradiva, 1998, p. 44.
51 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estado Constitucional Ecológico e Democracia Sustentada. In: Direitos
Fundamentais Sociais. Ingo Wolfgang Sarlet (Org.). Rio de Janeiro: Renovar, 2003. (No prelo)
52 AGUIAR, Roberto Armando Ramos de. Direito do Meio Ambiente e participação popular. Brasília: Edições Ibama,
1998, p. 46.
53 UNGER, Nancy Mangabeira. O encantamento do humano – ecologia e espiritualidade. 2.ª ed. São Paulo: Loyola,
2000, p. 63.
5. CONCLUSÕES ARTICULADAS
54 LEFF, Enrique. Ecologia, capital e cultura: racionalidade ambiental, democracia participativa e desenvolvimento
sustentável. Blumenau: Editora da Furb, 2000, p. 359.
AGUIAR, Roberto Armando Ramos de. Direito do Meio Ambiente e participação popular.
Brasília: Edições Ibama, 1998.
ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e a suas regras. São Paulo: Loyola,
2001.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
______________. O futuro da democracia. 7.ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar. Petrópolis: Vozes, 1999.
______________. Nova era: a civilização planetária. São Paulo: Ática, 1994.
BONAVIDES, Paulo. Teoria Constitucional da Democracia Participativa: por um Direito
Constitucional de luta e resistência, por uma Nova Hermenêutica, por uma repolitização da
legitimidade. São Paulo: Malheiros, 2001.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estado de Direito. Cadernos Democráticos n.º 7.
Fundação Mário Soares. Lisboa: Gradiva, 1998.
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São
Paulo: Cultrix, 1996.
______________. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo:
Cultrix, 2002.
CREMA, Roberto. Introdução à visão holística. Breve relato de viagem do velho ao novo
paradigma. São Paulo: Summus, 1989.
CAUBET, Christian Guy. A irresistível ascensão do comércio internacional: o meio ambiente
fora da lei? In: Revista de Direito Ambiental, n.º 22, abril-junho. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2001, p. 81.
FERRAJOLI, Luigi. A soberania no mundo moderno. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
FUKUYAMA, Francis. El fin del hombre: consecuencias de la revolución biotecnológica.
Buenos Aires: Sine Qua Non, 2002.
GABEIRA, Fernando. Greenpeace: verde guerrilha da paz. São Paulo: Clube do Livro, 1988.
GALEANO, Eduardo. Úselo y tírelo: el mundo del fin del milenio visto desde una ecología
latinoamericana. 5.ª ed. Buenos Aires: Planeta, 2001.
GOLDBLATT, David. Teoria social e ambiente. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.
GÓMEZ, José Maria. Política e democracia em tempos de globalização. Petrópolis/RJ:
Vozes; Buenos Aires: CLACSO; Rio de Janeiro: LPP – Laboratório de Políticas Públicas,
2000.
GORBACHEV, Mikhail. Meu manifesto pela Terra. São Paulo: Planeta do Brasil, 2003.
JONAS, Hans. El Principio de Responsabilidad: ensayo de una ética para la civilización
tecnológica. Barcelona: Herder, 1995.
KANT, Immanuel. À paz perpétua. Porto Alegre: L&PM, 1989.
LEFF, Enrique. Ecologia, capital e cultura: racionalidade ambiental, democracia
participativa e desenvolvimento sustentável. Blumenau: Editora da Furb, 2000, p. 359.
1. INTRODUÇÃO
O
ser humano é memorialista, tanto que a visão que
se faça de qualquer cidade mostrará o quanto o
homem produz lembranças. Os nomes das ruas evocam antepassados
ilustres; os monumentos, acontecimentos históricos; as praças
lembram eventos significativos e as construções reproduzem a época
marcante que passou ou o presente que transcorre.
Afora estas evocações, existem os museus, outrora dedicados
às musas, que na atualidade apresentam coleções sobre raridades e
de interesse geral, como, por exemplo, as pinacotecas, as
numismáticas, os sacros, de história natural, além das exposições
temporárias de arte e de peças antigas que movem multidões para
visitá-las. Em tudo pontua a memória, pois ir a uma exposição de
raridades ou visitar um museu é estimular lembranças passadas.
Na sua individualidade, o homem também se volve para o
passado, documentando sempre no presente as recordações de
amanhã. A memória biológica sempre desempenhou esta função de
preservar o passado para ser lembrado no presente. Na atualidade,
outros meios modernos, fabricados com a melhor eletrônica, auxiliam
na tarefa de registrar acontecimentos pessoais, familiares e até
1 Juiz de Direito. Professor de Direito Processual Civil. Mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do
Amazonas. Especialista em Direito Público e Privado pela Fundação Getulio Vargas – Amazonas.
3 AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Nova Cultura, 1996, p. 266/268 CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São
Paulo, Ática, 1994, p. 126.
4. A CULTURA E A MEMÓRIA
9 SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Bens Culturais e Proteção Jurídica. 2.ª ed. Porto Alegre: UE/Porto Alegre,
1999, p. 11.
10 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 7.ª ed. ver. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1991.
11 SANT’ANNA, Márcia. A face imperial do patrimônio cultural: os novos instrumentos de reconhecimento e valorização. In:
ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (Orgs.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 49.
8. CONCLUSÃO
13 ABREU, Regina; CHAGAS, Mário. Introdução. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (orgs.). Memória e patrimônio:
ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 11.
REFERÊNCIAS
ABREU, Regina; CHAGAS, Mário. Introdução. In: ______________. Memória e patrimônio:
ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos; S. J.; A. Ambrósio de Pina
S. J. São Paulo: Nova Cultural Ltda., 1996.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
DUARTE, Luiz Fernando Dias. Memória e reflexividade na cultura ocidental. In: ABREU,
Regina; CHAGAS, Mário. Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro:
DP&A, 2003.
LE GOFF, Jacques. Memória. In: Enciclopédia Einaudi. [S.l.]: Edição Portuguesa Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 1984, v. 1.
SANT’ANNA, Márcia. A face imperial do patrimônio cultural: os novos instrumentos de
reconhecimento e valorização. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (Orgs.). Memória e
patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 7.ª ed. rev. e ampl. de
acordo com a nova Constituição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1991.
SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Bens culturais e proteção jurídica. 2.ª ed. Porto
Alegre: UE/Porto Alegre, 1999.
Banca Examinadora:
RESUMO DA DISSERTAÇÃO
O Instituto do Tombamento
na Proteção do Bem Cultural 321
dações técnicas e de política cultural dos fóruns de nações e de seus
organismos científicos e sociais, de maneira recorrente no apoio aos
conceitos da doutrina expedida. Considerou que o bem protegido se
insere também nas cidades e que estas, conforme a evolução
assinalada, se configuram sem pré-ordenamento espacial, sendo
objetivo da contemporaneidade que passem a cumprir função social,
de bem-estar social, inclusive nos centros ou sítios antigos nos quais
o uso do bem tombado pode representar papel preponderante na
valorização urbana e expressão da cultura das populações.
Banca Examinadora:
Prof. Dr. José Augusto Fontoura Costa (Orientador)
Profa. Dra. Marilene Corrêa da Silva Freitas (UFAM)
Prof. Dr. David Sánchez Rubio (Universidade de Sevilha-Espanha)
RESUMO DA DISSERTAÇÃO:
Banca Examinadora:
Profa. Dra. Cristiane Derani (Orientadora)
Prof. Dr. José dos Santos Pereira Braga (UFAM)
Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas (UEA)
RESUMO DA DISSERTAÇÃO
Responsabilidade Objetiva na
Proteção o Patrimônio Cultural 325
atenção na dissertação elaborada. Para o fim determinado, o texto
principia com uma análise da memória (individual e coletiva), seguida
de um estudo particularizado do patrimônio cultural. Depois, são
abordados o Direito, a sociedade e o Estado, porquanto representam
elementos culturais.
Na segunda parte, trata-se da proteção jurídica do patrimônio
cultural, oportunidade em que se discorre sobre o percurso que o
patrimônio histórico trilhou até receber a devida proteção estatal. Do
mesmo modo, faz-se uma retrospectiva da responsabilidade civil, com
início na Antigüidade romana e o seu desenvolvimento até dias
atuais.
Na terceira parte, mostra-se a responsabilidade de todos –
Estado e sociedade – na proteção do patrimônio cultural, bem como
o aprimoramento desta mesma proteção com a aplicação da
responsabilidade objetiva.