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AARTIGO

lves RJR de
& Nrevisão
akano TC

A dupla-excepcionalidade: relações entre


altas habilidades/superdotação com a
síndrome de Asperger, transtorno de
déficit de atenção e hiperatividade e
transtornos de aprendizagem
Rauni Jandé Roama Alves; Tatiana de Cássia Nakano

RESUMO – A “dupla-excepcionalidade” pode ser definida como a


presença de capacidades superiores em uma ou mais áreas, que ocorre
conjuntamente a deficiências ou condições tidas como incompatíveis a
essas capacidades. O presente estudo objetivou apresentar e discutir a
presença das Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) na Síndrome de
Asperger (SA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
e nos Transtornos de Aprendizagem (TA). Comportamentos sociais e
criatividade mostraram-se características fundamentais para diferencia­
ção ou diagnóstico concomitante da SA e AH/SD. Em relação ao TDAH,
verificou-se que comportamentos característicos a esse transtorno também
podem ser observados nas AH/SD. Os TA representam o diagnóstico mais
incomum de ser realizado em conjunto às AH/SD, pois corriqueiramente o
bom desempenho acadêmico é atrelado à superdotação.

UNITERMOS: Inteligência. Criatividade. Síndrome de Asperger. Trans­


torno do deficit de atenção com hiperatividade. Transtornos de apren­dizagem.

Rauni Jandé Roama Alves – Psicólogo, doutorando em Correspondência


Psicologia, Pontifícia Universidade Católica (PUC) – Rauni Jandé Roama Alves
Campinas, Campinas, SP, Brasil. PUC-Campinas – Programa de Pós-Graduação em
Tatiana de Cássia Nakano – Psicóloga, professora dou­ Psicologia
tora do programa de pós-graduação em Psicologia, Av. John Boyd Dunlop, s/n – Jardim Ipaussurama –
Pontifícia Universidade Católica (PUC) – Campinas, Campinas, SP, Brasil – CEP: 13060-904.
Cam­pinas, SP, Brasil. E-mail: rauniroama@gmail.com

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A dupla-excepcionalidade

INTRODUÇÃO Faz-se notar que uma grande parcela de pro­


A “dupla-excepcionalidade” pode ser definida fissionais das mais diversas áreas, desde a edu-
como a presença de alta performance, talento, cação até a saúde, corriqueiramente não possui
habilidade ou potencial, ocorrendo em conjunto preparo teórico e/ou clínico para o reconhe­ci­
com uma desordem psiquiátrica, educacional, mento de que sujeitos com algum tipo de dé­
sensorial e física1. Envolve, também, a ideia de fi­cit possam possuir melhores habilidades do
que pessoas que demonstram capacidades supe- que aqueles com desenvolvimento considerado
riores em uma ou mais áreas poderiam apresen- normal9. Os educandos continuam sendo “cate-
tar ao mesmo tempo deficiências ou condições gorizados” e atendidos, em sua grande maioria,
incompatíveis com essas características2. Como apenas por suas dificuldades10. Os modelos
exemplo, na área cognitiva, pode-se citar casos prevalentes de avaliação cognitiva, principal-
em que crianças possuem Altas Habilidades/Su- mente em âmbito nacional, frequentemente
perdotação (AH/SD) juntamente com transtornos também apresentam foco em características de­
do neurodesenvolvimento, como a Síndrome de ficitárias (como, por exemplo, em expectativas
Asperger (SA), Transtorno de Déficit de Atenção estereotipadas de baixo desempenho, em atrasos
e Hiperatividade (TDAH), Transtornos de Apren- desenvolvimentais, nos déficits em oportunida­
dizagem (TA), dentre outros3. des e experiências, nas visões restritas de su­
A literatura aponta que o reconhecimento perdotação e nas preocupações específicas com
dessa dupla condição é, sobretudo, resultado a deficiência), mesmo quando realizados inter-
de observações clínicas, muito mais do que de disciplinarmente3. Pouca atenção tem sido dada
estudos teóricos e empíricos, haja vista também ao quadro oposto, marcado pela alta habilidade
que até o momento nenhuma teoria específica em alguma área ou mesmo para uma possível
tenha sido elaborada para explicá-la 4. Esse dupla-excepcionalidade.
tema vem se constituindo cada vez mais em Além disso, nota-se um despreparo na ope­
uma área de grande interesse científico, mesmo ra­­cionalização das práticas previstas nas le-
com a escassez de estudos no Brasil, e tem sido gislações, somadas à grande quantidade de
tomado como detentor de grande potencial para con­cepções equivocadas acerca do fenômeno e
a compreensão mais global da população com problemas na formação docente, de modo que
necessidade educacional especializada5. prejuízos podem ser notados não somente no re-
Especificamente em relação às AH/SD, ainda conhecimento, mas também na forma como rea­
é comum em práticas institucionais observar-se bilitar e estimular esses quadros11. Justifica-se,
o mito de que os indivíduos que as possuem não assim, a importância do trabalho com todos os
apresentam dificuldades educativas, emocionais, pro­fissionais que lidam direta e principalmente
comportamentais ou especiais6,7, mesmo estando com crianças, os quais devem ser incentivados
inclusas pela lei brasileira como uma condição com o objetivo de ampliar seu papel na indicação
que necessita de atendimento educacional espe- e atuação em relação àqueles que possuam a
cializado8. De acordo com material disponibiliza- dupla-excepcionalidade12.
do pela Organização dos Estados Ibero America- Neihart13 afirma que é possível se observar
nos (www.oei.es/quipu/brasil/educ_especial.pdf), a existência de três grandes grupos de crianças
de 2012, é papel da educação especial ser “uma duplamente-excepcionais com AH/SD, os quais
modalidade de ensino destinada a educandos exigem características diferentes para identifi-
portadores de necessidades educativas especiais cação e formas de intervenção. O primeiro gru-
no campo da aprendizagem, originadas quer de po engloba aqueles em que a alta capacidade
deficiência física, sensorial, mental ou múltipla, linguística possibilita bons desempenhos no
quer de características como altas habilidades, ensino infantil, mas os níveis de desempenho e
superdo­tação ou talentos”. realização diminuem conforme a elevação das

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exigências do currículo escolar, principalmente sença de critérios indicativos da dupla excepcio­


quando relacionadas à área da dificuldade, nalidade, já que muitas vezes os testes podem
tornando os déficits mais evidentes. O segundo não apresentar claramente esse perfil, exigindo
grupo é referente a crianças que apresentam experiência dos que estiverem envolvidos na
dificuldades percebidas precocemente, as quais, avaliação. Entretanto, Kerr & Sodano17 chamam
muitas vezes, acabam mascarando seus talentos. a atenção para o fato de que, muitas vezes, in-
Tais crianças são encaminhadas frequentemente felizmente, após todo o processo avaliativo, os
para salas de reforços, mas não para as de acele- resultados da avaliação das AH/SD mostram-se
ração de suas potencialidades e talentos. Por fim, inconclusivos, apontando que alterações devem
há crianças cujos talentos mascaram as dificul- ser feitas também na própria estrutura dos ins-
dades, atuando de forma a impedir a percepção trumentos, cujos processos de validade preditiva
e estimulação do seu potencial, as quais podem, e de normatização deveriam ser realizados de
inclusive, nunca serem identificadas. Ainda de modo a contemplar essa população específica,
acordo com o autor, de forma geral, os compor- considerando-se suas especificidades18.
tamentos, atitudes e realizações de crianças com Na segunda área, da intervenção, há algumas
essas características não se assemelham com as modalidades de programas que vêm sendo im-
comumente atribuídas a pessoas com habilida- plementados e estudados em diferentes países
des cognitivas desenvolvidas, pelo contrário, são no atendimento às necessidades de pessoas
comuns aspectos como: resistência e comporta- com AH/SD, dentre eles: programas de enri-
mentos perturbadores em sala, hiperatividade, quecimento curricular, programas de aceleração
negativismo, desempenho abaixo da média em e pro­gramas de treinamento19-21. No caso da
leitura, escrita e matemática, imaturidade social, dupla-excepcionalidade, independentemente do
etc. McEachern & Bornot14 verificaram que esse programa, a literatura tem reforçado a necessida-
último seria o grupo mais prevalente desse tipo de de se investigar como realizar a estimulação
de dupla-excepcionalidade, e atingiria cerca de das habilidades e a superação das dificuldades,
41% da população com esse quadro. Reconhe­ ambas ocorrendo concomitantemente. Estra-
ce-se, assim, a possibilidade de existência de tégias que possam envolver as habilidades na
diferentes modos da superdotação, bem como a superação das deficiências são uma das táticas
heterogeneidade dos indivíduos que compõem que devem ser abordadas. Infelizmente, na prá-
esse grupo15. tica, essas ações não atingiram todas as escolas
Nesse sentido, Kalbfleisch & Iguchi5 propõem ou cidades do Brasil, pois há ainda problemas
que três grandes áreas devem permear o aten- na identificação desses alunos2.
dimento e pesquisa sobre essa dupla-excepcio­ Em relação ao suporte emocional, deve-se
nalidade: (a) identificação apropriada, (b) in- tomar um grande cuidado em relação a esses in­­
tervenção e (c) suporte emocional e social. Na divíduos duplamente excepcionais. A literatu­ra
primeira estariam os cuidados a serem tomados tem apontado que grandes dificuldades emo­
na identificação do quadro, considerando-se cionais, comportamentais e sociais podem apa­
principalmente que o processo de identificação recer em comorbidade a esses casos, mas que
é complexo e envolve, além de dados psicomé- frequentemente somente aspectos cognitivos
tricos, a utilização de uma variedade de recur- são levados em consideração em processos
sos11,16, os quais contemplam análises clínicas de avaliação e intervenção8,13,20,22-24. Por outro
do histórico do indivíduo, resultados de uma lado, pesquisas vêm investigando como a forte
bateria de conhecimentos, teste de inteligência motivação, aliada à utilização de es­tratégias de
e de criatividade, indicadores de processamento coping, permite a compensação das dificuldades
cognitivo e observações comportamentais, assim em muitos casos5,25.
como avaliação de pais e professores. Tais infor- Considerando-se as características gerais que
mações podem auxiliar na decisão acerca da pre- foram expostas até o momento sobre a dupla-ex­

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cepcionalidade envolvendo as AH/SD, o pre- os mais evidentes: prejuízo grave e persistente


sente estudo, teórico, foi proposto. Dessa forma, na interação social; desenvolvimento de pa-
objetivou-se apresentar e discutir a presença das drões restritos e repetitivos de comportamento,
AH/SD em transtornos que mais comumente aco- interesses e atividades; alto poder de memo-
metem a infância, especificamente a SA, TDAH e rização e velocidade de raciocínio relaciona-
nos TA3,18, a partir de uma revisão da literatura. dos às ati­vidades repetitivas; nenhum atraso
signi­ficativo no desenvolvimento da linguagem;
MÉTODO não há atrasos clinicamente significativos no
Foi realizada revisão da literatura de estudos de­­senvolvimento cognitivo (inteligência) ou no
teóricos e empíricos sobre a dupla-excepciona­ desenvolvimento de habilidades de autoajuda
lidade. Investigaram-se livros (presentes na apropriadas à idade26. Atualmente, está inclusa
bi­­­blioteca da Pontifícia Universidade Católica dentro do Transtorno do Espectro Autista, sendo
de Campinas), bases de dados eletrônicas na- sua nomenclatura considerada em desuso pelo
cionais (Scientific Electronic Library Online e a Diagnostic and Statistical Manual of Mental
base de teses e dissertações da Coordenação de Disorders (DSM-V)27.
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) Tendo como foco estudos sobre a SA e a
e internacionais (American Psychological Asso-
dupla-excepcionalidade, primeiramente aqueles
ciation, Education Resources Information Center,
teóricos e de levantamento bibliográfico, pode-se
PubMed e Scopus).
citar o estudo realizado por Neihart28. A autora
Nas bases de dados foram utilizados e cruza­
destaca a alta frequência de relações feitas entre
dos os seguintes descritores na busca das publi-
essa síndrome e as AH/SD, muitas vezes sem
cações: dupla-excepcionalidade, inteligência,
base científica, tanto na própria literatura como
autismo, Síndrome de Asperger, Transtorno de
Dé­ficit de Atenção e Hiperatividade, TDAH, no senso comum, provavelmente em razão de
transtornos de aprendizagem, dificuldades de que, em alguns casos, os indivíduos que apre-
aprendizagem, superdotação, altas habilidades; sentam SA também apresentam inteligência
nas bases internacionais foram utilizadas suas acima da média. A autora aponta, também, que
respectivas traduções em inglês. Foi delimi- clinicamente são verificadas dificuldades na rea­
tado tempo de busca de 2000 a 2015. Foram lização do diagnóstico das AH/SD em crianças
selecionadas as investigações que possuíssem com SA, pois esse tipo de autismo muitas vezes
no título os descritores citados, bem como seus está relacionado à dificuldade de aprendizagem,
objetivos de análise tivessem sido a ocorrência ao contrário do que é frequentemente pensado,
da dupla-excepcionalidade nesses casos. Os sendo tal dificuldade usualmente focada na
aspectos metodológicos e resultados que com- ava­liação e no diagnóstico, não havendo a preo­
punham essas produções foram brevemente cupação em identificar as AH/SD. Nesse sentido,
descritos e formaram o corpo das três principais a autora propõe que algumas observações mais
seções desse artigo: discussões sobre a dupla- centrais sejam realizadas para que haja o correto
-excepcionalidade na (1) SA, no (2) TDAH e nos diagnóstico da dupla-excepcionalidade entre a
(3) TA. Ao final de cada seção, foi realizado um SA e as AH/SD (SA/AH/SD): unidos a critérios
resumo dos achados encontrados considerados diagnósticos para AH/SD, devem ser observadas
mais relevantes sobre cada temática. também maiores dificuldades de mudança de
rotina e de contato social, ausência de compreen-
DUPLA-EXCEPCIONALIDADE EM TRANS- são de abstrações (considerando tudo “ao pé da
TORNOS DA INFÂNCIA letra”), maiores complicações de ordem motora
Síndrome de Asperger e estereotipias.
A SA diferencia-se do autismo clássico e Outras características que podem ser obser-
possui critérios diagnósticos próprios, sendo vadas em sujeitos com essa dupla-excepcionali-

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dade são apontadas por Alencar & Guimarães29, assim como originalidade para resolver proble-
Horn30 e Norris & Dixon31: discurso fluente alia- mas, e, consequentemente, criatividade - sendo
do a um pensamento original e analítico (na SA essa última uma das principais características
pura haveria um discurso mais pedante e menos que os diferenciam32.
coeso); assim como somente ocorre na SA, nesses Em relação à área da interação social, as au-
indivíduos haveria uma maior dificuldade em toras destacam que, ao contrário de sujeitos que
comportamentos que envolvam empatia e ex- possuem AH/SD, os sujeitos com SA apresentam
pressão da afetividade; são criativos com jogos comprometimento grave e persistente nesse
de palavras e em trocadilhos, mas o humor estará quesito, com dificuldades em se colocar no lugar
alterado, não entendendo piadas e situações que do outro, rigidez de pensamento, dificuldade
exigiam maior abstração (comumente isso não em discernir a ficção da realidade e dificuldade
ocorre em crianças com AH/SD puramente); as em perceber o perigo. Em relação ao comporta-
dificuldades no contato social serão frequentes, mento adaptativo, enquanto sujeitos com AH/SD
corriqueiramente esses sujeitos falarão incessan­ mostram-se independentes, autônomos, perfec-
temente sobre um tema de interesse sem perce- cionistas, persistentes, contrários a atividades
ber a reação do outro (o que não acontece com curriculares regulares e questionares de regras,
aqueles que possuem somente AH/SD). os sujeitos com SA usualmente mostram compor-
Dentro desse quadro duplamente-excepcio- tamentos restritos e estereotipados, área única de
nal, importante estudo foi conduzido por Vieira interesse intenso, movimento repetitivo, contato
& Simon32, tendo como objetivo o levantamento visual mínimo, respostas afetivas inadequadas,
das publicações científicas sobre a temática, entre passividade, agressividade, apego a rotina32.
os anos de 2000 a 2011, em livros, artigos e teses Por fim, dentre as características de comuni-
pertencentes a diversas bases de dados nacio- cação mais comumente observadas nos indiví-
nais e internacionais. A partir desse estudo, as duos com SA, e que não se fazem presentes nas
au­toras pretendiam conhecer as características AH/SD, estariam as dificuldades para iniciar ou
comuns e diferentes dos sujeitos com SA e AH/ manter conversa, o discernimento de um assunto
SD. Para tanto, agruparam as características em como adequado, a falta de linguagem corporal
quatro categorias: cognição, interação social, adequada, a incapacidade de interpretar a lin-
comportamento adaptativo e comunicação. Cate­ guagem corporal e expressões faciais alheias,
gorias semelhantes também foram apontadas a fala pedante e exagerada, as dificuldades em
por Simões et al.33. identificar diferenças e variedade de sons da lin-
Sobre a primeira categoria, a cognição, as se­ guagem (prosódia)32. Apesar disso, costumam-se
melhanças compartilhadas entre SA e AH/SD diferenciar-se do autismo clássico, quando há a
seriam a ausência de atrasos significativos na dupla-excepcionalidade em ambos os diagnósti-
linguagem e desenvolvimento cognitivo, assim cos, por melhores desempenhos em habilidades
como presença de fluência, precocidade em lin­ verbais do que em matemática (essa última seria
guagem falada e escrita (hiperlexia), vocabulário mais desenvolvida no autismo clássico)34.
sofisticado, linguagem sofisticada e formal, de­ Em relação aos estudos especificamente em-
senvolvimento superior em determinada área píricos, primeiramente pode-se citar o conduzi­do
de interesse e desenvolvimento não equiparado por Mettrau et al.35, que teve como objetivo ava­liar
entre cognitivo e social/afetivo. Em indivíduos o Quociente de Inteligência (QI) de 100 crian-
com AH/SD, diferentemente daqueles que apre- ças diagnosticadas com SA, por meio da Escala
sentam SA, encontrar-se-ia um maior desenvol- Wechsler de Inteligência para Crianças – 3a
vimento das seguintes habilidades: alto grau de Edição (WISC-III). Os resultados demonstraram
curiosidade, atenção concentrada, interesse por que 5 crianças obtiveram classificação muito
problemas filosóficos, morais, políticos e sociais, superior (QI acima de 130), tanto no QI verbal

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como no de execução (com exceção de um sujeito dade se mostrou como um indicativo cognitivo
classificado como superior nesse último, com 129 importante de ser observada em um processo
pontos de QI), assim como nos índices fatoriais avaliativo, pois corriqueiramente não estará de­
de velocidade de processamento, resistência à senvolvida em casos puros de SA, ao contrário
distração, organização perceptual e compreensão do que ocorreria nos casos de AH/SD.
verbal, todos com classificação muito superior.
As autoras concluíram que, dentre algumas Transtorno de Déficit de Atenção e Hipera­
poucas crianças diagnosticadas com SA, pôde-se tividade
verificar a dupla-excepcionalidade. O TDAH caracteriza-se por um padrão persis­
Em estudo desenvolvido por Guimarães36, foi tente de desatenção e/ou hiperatividade, mais
investigado o desenvolvimento, características frequente e grave do que aquele tipicamente
cognitivas e socioemocionais de um indivíduo obser­vado em indivíduos em nível equivalente
com SA (sexo masculino, 11 anos, estudante do de desenvolvimento. Pode-se apresentar em
5o ano do Ensino Fundamental na escola regular três grupos: predominantemente desatento,
e frequentador de sala de recursos para AH/SD). pre­dominantemente hiperativo/impulsivo e com-
Os dados coletados por meio de entrevistas e binado. Esses sintomas interferem diretamente
documentos, assim como acompanhamento das em atividades da vida diária, sendo um dos
atividades realizadas pelo sujeito, apontaram transtornos mais comuns da infância27.
para uma inteligência superior, habilidades em Em relação aos estudos teóricos e de revisão
diferentes áreas (português, língua estrangeira, bi­­bliográfica que envolveram a dupla-excepcio-
ciências, matemática, informática e desenho), nalidade entre o TDAH e as AH/SD (TDAH/AH/
concomitantemente à presença de dificuldades SD), pode-se citar primeiramente o realizado por
emocionais e sociais, claramente con­cluído Kaufmann et al.37, que verificaram que, apesar
como um caso de dupla-excepciona­lidade. A de condições diferentes, apresentam inúmeras
au­tora finaliza argumentando que, quando há a habilidades semelhantes, tais como uma fala rá-
dupla-excepcionalidade, pode haver benefícios pida, impulsividade, alta sensibilidade à estimu-
significativos para a melhora do nível adaptati- lação ambiental, intensa curiosidade, tendência
vo do transtorno, principalmente por as AH/SD a misturar realidade e ficção, comportamentos
fornecerem bases importantes para a superação exacerbados, constantes queixas comportamen-
das dificuldades apontadas. tais por parte de seus cuidadores, e dificuldades
Verificou-se, de forma geral, que em relação de ajustamento a novos ambientes.
à SA e às AH/SD, os estudos visaram diferenciar Hosda et al.38 também afirmaram que os sujei-
e entender a integração desses diagnósticos que tos com AH/SD ou TDAH apresentam compor-
são frequentemente considerados altamente tamentos aparentemente semelhantes, fato que
correlacionados, desmistificando essa afirmação, causa equívocos na caracterização e na identi-
assim como a de que todo SA apresentaria in- ficação de ambos os quadros. Muitos compor-
teligência superior. O comportamento social foi tamentos típicos do TDAH (tais como agitação
um dos indicadores mais marcantes e importante constante, problemas em permanecer sentado,
de ser investigado mais detalhadamente, assim distração, respostas impulsivas, dificuldade em
como também comportamentos de comunicação terminar tarefas, desorganização e exposição a
e emocionais, para que o diagnóstico diferencial riscos) também podem ser apresentados por alu-
de ambos os diagnósticos, principalmente quan- nos com AH/SD, devido principalmente a fatores
do houver suspeita de dupla-excepcionalidade, como frustração, atividades pouco desafiadoras,
seja bem realizado. Esse comportamento se currículo escolar insuficiente e procedimentos
mostrou em prejuízo sempre quando há a SA, inadequados de ensino-aprendizagem. Como
mesmo acompanhada das AH/SD. Já a criativi- exemplo, a agitação, principal característica do

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TDAH, costuma se manifestar nas AH/SD quan­ e deverão ser detalhadamente observados no
do o conteúdo que está sendo desenvolvido em processo avaliativo. Outro cuidado apontado
sala de aula já é de conhecimento, ou quando o re­fere-se à avaliação da inteligência, visto que
indivíduo conclui suas tarefas em sala de aula e alguns autores44 observaram que os testes comu-
está em período ocioso. A diferença situar-se-ia mente aplicados no grupo com TDAH tendem
no fato de que nas crianças com TDAH a agita- a não demonstrar seus verdadeiros potenciais
ção está presente na maioria dos ambientes que intelectuais, de modo que o aspecto clínico
frequenta e naquelas com AH/SD somente em deve prevalecer sobre o raciocínio nos testes
contextos que fujam da área do seu interesse, a serem utilizados, sem desconsiderar como
sendo comum serem observados questionamen- os comportamentos característicos do TDAH
tos relacionados a uma curiosidade ou conheci- podem influenciá-los e, dessa forma, facilitar a
mento fora do que está sendo debatido. Tem-se, identificação das AH/SD.
então, que a impulsividade e hiperatividade Em termos de resultados empíricos, Germa-
possam ser características de ambos os quadros, ni45 estudou crianças que apresentavam AH/
mas se diferenciam principalmente em relação à SD, TDAH e TDAH/AH/SD. O objetivo de sua
frequência e intensidade, assim como as ocasiões pesquisa foi investigar quais padrões de compor-
em que acontecem8. tamento seriam semelhantes e diferentes entre
Ainda que semelhanças possam ser encontra- os três grupos. A metodologia utilizada foi a qua-
das entre ambos os quadros, Hosda & Romano- litativa, baseada em análise de entrevistas reali-
wski39 e Antshel et al.40 defendem a existência de zadas com os professores, pais e com as próprias
características específicas para quando estive- crianças. Após análise de tais entrevistas, foram
rem associados. O sujeito que apresentar TDAH/ organizadas oito categorias de comportamento:
AH/SD poderá ter um desempenho acadêmico (1) aprendizagem; (2) relacionamento social
inconstante, o que corriqueiramente não acon- entre seus pares; (3) motivação e persistência;
tece com aqueles que possuem somente AH/SD, (4) criatividade; (5) organização e planejamento;
além de prejuízos em habilidades motoras finas (6) atenção e memória; (7) regras e comunicação
e, consequentemente, na escrita, como em indi- e (8) interesses e/ou habilidades. Foram verifi-
víduos somente com TDAH. Poderá ser obser­ cadas muitas diferenças entre os diagnósticos
vada também área de interesse relacionada a de AH/SD e TDAH em praticamente todas as
conhecimentos não acadêmicos41. Esses sujeitos categorias. Entre os quadros de TDAH/AH/SD e
apresentarão maior facilidade na aquisição de AH/SD foram verificadas maiores diferenças nas
um conhecimento, mais rapidamente que um su- categorias 1, 5, 6 e 7, com melhor desempenho
jeito com apenas o TDAH37. Interessantemente, do último grupo. Entre os quadros de TDAH/
em estudo exploratório realizado por Silva42, foi AH/SD e TDAH foram vistas poucas diferenças,
encontrada a prevalência de 37,8% de sintomas mais em relação às categorias 4 e 7, com piores
de TDAH em crianças com alta inteligência. desempenhos das crianças com TDAH, a autora
Os sujeitos que possuem ambas as condições afirma que a observação de tais categorias po-
podem ser reconhecidos somente por um padrão derá ser decisiva em um processo de avaliação.
de comportamento durante o processo de avalia- Também Ourofino & Fleith8 desenvolveram
ção, o que será prejudicial para um bom prognós- estudo com o objetivo de comparar alunos com
tico. Budding & Chidekel43 apontam que um dos AH/SD, TDAH e TDAH/AH/SD em relação a
grandes diferenciais de uma criança que possui criatividade, inteligência, autoconceito, déficit
apenas TDAH ou apenas AH/SD para uma crian- de atenção e hiperatividade/impulsividade,
ça que possua o TDAH/AH/SD é o desempenho com­portamento antissocial e dificuldades de
criativo e o pensamento divergente, que tendem aprendizagem. Participaram do estudo 114
a estar mais desenvolvidos nesse último quadro crianças, sendo 52 com AH/SD, 43 com TDAH e

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A dupla-excepcionalidade

19 com TDAH/AH/SD. Os resultados indicaram crianças com AH/SD, TDAH/AH/SD e TDAH; 125
diferenças significativas entre as crianças dos participantes foram avaliados por meio da Escala
três grupos em favor dos que possuíam AH/SD de Inteligência Wechsler para Crianças (4a Ed.)
em praticamente todas as habilidades investi- e o California Verbal Learning Test para crianças
gadas, com diferença estatística significativa (CVLT-C). Os resultados revelaram diferenças
nas medidas de inteligência, autoconceito e significativas entre os grupos, com as crianças
criativi­dade (originalidade verbal). As crianças TDAH/AH/SD obtendo pontuações mais baixas
com TDAH apresentaram um escore mais ele- no CVLT-C em comparação às crian­ças que pos-
vado nas me­didas de desatenção, hiperatividade/ suíam somente AH/SD, mas escores mais altos
im­pulsividade, comportamento antissocial e do que aqueles que possuíam somente TDAH.
dificuldades de aprendizagem, em comparação Verificou-se que o TDAH e AH/SD, muitas
aos outros grupos. Especificamente em relação vezes, compartilham comportamentos seme-
ao grupo com dupla-excepcionalidade quando lhantes e que, corriqueiramente, são atribuíveis
comparado ao grupo com TDAH houve somente somente ao TDAH. A presença contextual de com­
uma diferença: apresentaram resultado maior portamentos de desatenção, impulsividade e hi-
em inteligência. peratividade se mostrou como um dos principais
Por outro lado, em estudo realizado por Fugate focos de investigação no diagnóstico, tanto para
et al.46, foi encontrado um outro perfil de di­ diferenciá-los como para considerá-los conco-
ferença em criatividade. Os autores realizaram mitantes. No TDAH, eles tenderiam a ser mais
uma investigação que teve por objetivo avaliar e generalizados, nas AH/SD se apresentariam
comparar a memória de trabalho e criatividade quando os sujeitos são expostos a situações já
de alunos com AH/SD (n=20) e TDAH/AH/SD conhecidas (como, por exemplo, uma atividade
(n=17). Foram encontradas diferenças signifi- escolar) e, consequentemente, não motivadoras.
cativas em memória de trabalho, com os alunos A criatividade também se mostrou como um foco
TDAH/AH/SD apresentando pior desempenho. rico de investigação quando ocorre a dupla-ex­
Foram encontradas diferenças significativas em cepcionalidade, uma vez que, em alguns estu-
criatividade também, porém com o grupo TDAH/ dos, a identificaram como desenvolvida e outros
AH/SD apresentando melhores desempenhos, ao não, quando comparada a casos de AH/SD puros.
contrário do que visto no estudo anterior. De modo geral, tal habilidade encontrou-se mais
Foley-Nicpon et al.47 buscaram examinar a desenvolvida em casos de TDAH/AH/SD do que
autoestima e autoconceito de crianças e adoles­ em casos puros de TDAH. Além disso, foi en-
centes com TDAH/AH/SD. Os dados foram co- contrado um estudo sobre memória verbal, que
letados em 112 sujeitos, com idade entre 6 e 18 apontou piores desempenhos de crianças com
anos, identificadas como tendo alta capacidade TDAH/AH/SD quando comparadas a crianças
cognitiva (QI de 120, percentil 91, ou superior), com AH/SD.
sendo que 54 também preenchiam critérios
diagnósticos para TDAH. Os autores verifica- Transtornos de aprendizagem
ram que os alunos TDAH/AH/SD apresentaram Os TA caracterizam-se como dificuldades na
menores escores em medidas de autoestima e aprendizagem e no uso de habilidades acadê-
autoconceito do que os que possuíam somente micas, com substancial desempenho abaixo
AH/SD. Além disso, as crianças relataram maior do esperado para idade cronológica, que não
felicidade geral do que os adolescentes, em devem ser explicadas por deficiências intelec-
ambos os grupos. tuais, acuidade visual ou auditiva não corrigida,
Whitaker et al.48 realizaram uma investigação outros transtornos mentais ou neurológicos,
que buscou identificar possíveis diferenças entre adversidades psicossociais, falta de proficiência
processos estratégicos de memória verbal entre na língua de instrução acadêmica ou instrução

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educacional inadequada. Podem ser encontrados a presença de ambos os quadros, pois suas ha­
também sob as nomenclaturas de “distúrbios bilidades mascarariam suas dificuldades e
de aprendizagem”, “dislexia” (para transtorno proporcionariam um desempenho acadêmico
específico de leitura), “discalculia” (para trans- mediano; (3) aquelas que possuem claramente
torno específico de matemática) e “disgrafia” ambas as características, desde o início de seu
(para transtorno específico de escrita)27. desenvolvimento e vida escolar.
Em estudos teóricos e de levantamento biblio- O primeiro grupo seria facilmente diagnosti-
gráficos relacionados à dupla-excepcionalidade cado, em razão de seu alto desempenho, princi-
nos TA, pode-se citar primeiramente os reali- palmente em testes de QI. No entanto, conforme
zados por Fetzer49, Lovett50 e Silverman51, que os sujeitos se desenvolvem, as discrepâncias
verificaram que os TA constituem diagnósticos entre o desempenho acadêmico e inteligência
que mais raramente são reconhecidos como começam a ficar mais evidentes. Nos anos es-
passíveis de acompanhar um quadro de AH/SD. colares iniciais, nos quais há um maior tempo
Atualmente, os modelos mais atuais na área das para realização das atividades, maior ênfase na
AH/SD permitem que sujeitos com dificulda­ independência e na compreensão daquilo que
des acadêmicas também possam receber esse está sendo trabalhado, esses estudantes, muitas
diagnóstico15,52-54. vezes já possuidores do diagnóstico de AH/
De forma geral, autores apontam os seguintes SD, apresentariam também bom desempenho
comportamentos como característicos de crian- escolar. No entanto, com o passar do tempo, por
ças TA/AH/SD55-57: ao contrário do que é fre- exemplo, costumariam impressionar seus pro-
quentemente visto em crianças que possuiriam fessores por suas altas habilidades em lingua-
somente AH/SD, costumam ser consideradas gem oral, enquanto que, na linguagem escrita
crianças desleixadas, desorganizadas e com (especificamente leitura, escrita e soletração),
dificuldades em memória, dentro do ambiente o desempenho ficaria cada vez mais rebaixado
escolar; frequentemente fracassam em ativida- (quando houver um transtorno com dislexia ou
des que exijam atividades de leitura, escrita e/ disgrafia). Seus cuidadores e educadores, fre-
ou aritmética, esperadas para sua série e idade quentemente, acreditam que, caso as crianças
escolar; apresentariam maior disposição à de- se desempenhem individualmente em superar
pressão e ansiedade que crianças que somente as dificuldades, as farão sem maiores problemas.
possuam TA; necessitam de um tempo maior Porém, se realmente possuírem algum TA, isso
para realização de atividades acadêmicas do que não irá ocorrer, e causará confusão e muitas
uma criança somente com AH/SD; possuem alta demandas emocionais para todos os envolvidos,
produção criativa; possuem facilidade em ativi- principalmente para as crianças58,59.
dades que envolvam processamento visual, como No segundo grupo estariam aquelas crianças
quebra-cabeças; apresentam facilidade em ativi- que não costumam ser diagnosticadas nem com
dades que envolvam pensamento abstrato; bom TA nem com AH/SD. Suas altas capacidades
vocabulário; boa percepção de condutas sociais; estariam constantemente trabalhando de forma
são observadoras; apresentam-se moti­vados em a superar as dificuldades acadêmicas, no caso
tarefas que exijam a resolução de pro­blemas não o TA mascararia a AH/SD e vice-versa. Seus
acadêmicos; autoconceito mais rebaixado que talentos e habilidades costumariam aparecer
uma criança com AH/SD. em alta demanda em forma de criatividade
De acordo com Baum58 e Baum et al.59, as para diversos modos de aprender, ao contrário
crian­ças com TA/AH/SD podem ser divididas de crianças sem dificuldades de aprendizagem
em três grupos: (1) que apresentam claramente com AH/SD, que investiriam seu potencial em
um determinado talento e sutis dificuldades de desempenhos que estariam além do esperado
aprendizagem; (2) aquelas em que não fica clara para seu nível de desenvolvimento. De acordo

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A dupla-excepcionalidade

com Lovett & Sparks60, deve-se ainda tomar como um despreparo pedagógico para lidar
cuidado com a análise dos testes psicométricos com esse diagnóstico, problemas emocionais e
utilizados na avaliação, pois essas habilidades sociais, ou mesmo a existência de TA. Cada um
também podem mascarar desempenhos em ins- ne­cessitará de intervenções específicas, sendo
trumentos de medida de habilidades escolares. dessa forma essencial para profissionais que as
Esses estudantes são os mais difíceis de serem acompanharão (e não menos importante para
diagnosticados, pois não necessitam tão clara- aqueles que as avaliarão) o conhecimento de que
mente de atendimento especializado (sejam por todos esses fatores possam coexistir concomi­
suas habilidades, quanto por suas dificuldades). tantemente65.
Os TA frequentemente serão descobertos no en- Em relação a estudos empíricos, pode-se citar
sino médio ou quando adultos, quando ao acaso primeiramente o realizado por Foley-Nicpon et
têm contato com informações do que seria um al.66. Os autores buscaram identificar o conhe-
TA, identificando-se58,59,61. cimento sobre a dupla-excepcionalidade dentro
As crianças pertencentes ao último grupo da comunidade educacional e psicológica, mais
fre­quentemente são identificadas em grupos de especificamente de profissionais que trabalham
atendimento a TA. Os profissionais que lidarão diretamente com a população de alunos com
com crianças com TA/AH/SD ainda não identi- necessidades educacionais especializadas. Para
ficadas com AH/SD poderão observar inúmeras isso, um questionário on-line, com 14 pergun-
habilidades antes nunca observadas, como na tas, foi respondido por 317 profissionais. Os re-
resolução de problemas cotidianos (inter e in- sultados indicaram que os educadores estavam
trapessoais), habilidades musicais, científicas, mais familiarizados com as legislações dentro
fi­losóficas, entre outras. Em contextos fora do da sua área de especialização (por exemplo,
am­biente escolar, elas costumam ser bem mais educação de superdotados ou de deficientes),
evidenciadas. Durante um processo diagnóstico, assim como demonstraram mais conhecimento
a investigação dessa diferença de desempenho empírico que teórico sobre o tema. Por sua vez,
em diferentes contextos deverá ser criteriosa- os profissionais da Psicologia estavam mais
mente realizada, já que, muitas vezes, na escola fa­miliarizados com o uso de programas de ava­
não há oportunidade para que haja expressão liação e intervenção, como os do modelo de
desses potenciais. De forma geral, esse seria o Res­ponse to Intervention (RtI).
grupo mais afetado em aspectos emocionais, Interessantemente, por meio de programas de
pois convivem constantemente com a percepção Rti, McCallum et al.67 verificaram que esse mo-
de suas dificuldades desde o início de sua vida delo de avaliação/intervenção seria uma ferra­
escolar. Sentimentos mais introspectivos até menta importante na identificação de crianças
comportamentos inadequados no contexto escolar com TA/AH/SD. Para isso, aplicaram RtI em 1242
podem ser observados58,62,63. crianças com alta inteligência. Os resultados
Infelizmente, ainda é senso comum a ideia de indicaram a prevalência de 5,48% das crianças
que quando há AH/SD dificuldades acadêmicas com dificuldades em matemática e 4,83% em
não existirão64. Salienta-se que o acompanha- leitura. De modo geral, concluíram, por meio de
mento realizado por profissionais especializados análises de discrepância, que 10% da amostra
em aprendizagem é recomendado também para necessitariam de uma avaliação mais aprofun-
crianças com AH/SD, por se tratar de crianças dada sobre suas dificuldades, a fim de verificar
em pleno desenvolvimento e que, consequente­ um possível transtorno de aprendizagem.
mente, possam vir a apresentar desempenhos Gilger et al.68 compararam exames de imagem
incompatíveis com o que seja o esperado. As difi­ de ressonância magnética funcional (fMRI)
culdades de aprendizagem num quadro de AH/ durante a realização de tarefas de rima, leitu-
SD poderão ser decorrentes de inúmeros fatores, ra e processamento espacial em adultos com

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dislexia, com AH/SD, com AH/SD e dislexia e com caráter avaliativo sejam realizados longitu­
controle. Os resultados evidenciaram que o gru- dinalmente, tanto para aquelas crianças com
po duplamente-excepcional apresentou redes diagnósticos realizados transversalmente de um
neurais semelhantes às do grupo que somente quadro ou outro. Verificou-se que, quando houver
possuía dislexia durante a realização de todas TA/AH/SD, a criatividade provavelmente estará
as tarefas, assim como encontrado em outro es- desenvolvida. Estudos de caso, com especula-
tudo realizado Gilger & Olulade69. Por sua vez, ções teóricas sobre grandes pensadores tidos
o grupo com AH/SD apenas apresentou redes como superdotados, apontaram a criatividade
neurais semelhantes ao do grupo controle. Os frequentemente como desenvolvida quando há
autores concluíram que as AH/SD, quando em a dupla-excepcionalidade TA/AH/SD, mais do
conjunto com a dislexia, não modificam as redes que em um quadro puro de AH/SD.
de leitura corriqueiramente alteradas nesse
transtorno. Berninger & Abbott70 e Viersen et al.57 CONCLUSÕES
verificaram que, muitas vezes, as AH/SD podem Os estudos apresentados aqui apontaram
mascarar o baixo desempenho em habilidades para diferentes padrões de comportamentos ca-
escolares de crianças com dislexia, mas que, racterísticos das AH/SD quando concomitantes
no entanto, quando avaliadas habilidades cog­ a SA, TDAH e TA. Percebeu-se que as pesquisas
nitivo-linguística, como de processamento fo­ buscaram investigar padrões cognitivos espera-
nológico, são encontrados prejuízos. dos, que possam ser semelhantes ou diferentes,
Foram ainda encontrados trabalhos de es­ em cada quadro duplamente-excepcional, sendo
tudos de caso. Chakravarty 71 e Kim & Ko 72 dado maior foco à comparação com casos puros
apon­taram para o fato de que, de modo geral, de AH/SD. Fez-se notar que essa dupla-condição
indivíduos com TA/AH/SD apresentariam como é passível de existência em termos probabilísti-
característica desempenho criativo acima do cos, e que as avaliações devem possuir extrema
que é observado em casos puros de AH/SD. Es- atenção a detalhes, como respostas maquiadas
pecificamente em relação à dislexia, os autores em testes psicométricos, verificar possíveis habi-
afirmam que, provavelmente, esse padrão seria lidades em diversos ambientes, assim como ser
explicado por condições cerebrais: o hemisfério proposta uma investigação mais longitudinal,
direito seria mais desenvolvido, principalmente sendo realizada uma intervenção com carac-
o lobo parietal, sendo tal condição responsável terísticas também avaliativas, como ocorre em
pelo talento e por produções criativas. Chakra- programas de RtI.
varty73 cita alguns casos famosos de AH/SD, Observou-se que a criatividade foi uma das
como o de Leonardo Da Vinci e de Albert Einstein, habilidades mais frequentemente investigadas
que provavelmente possuíam dislexia, e argu- quando houve a comparação entre grupos, com
menta que tal diferença anatômica cerebral po­ resultados apontando que ela deve ser conside-
deria estar presente. rada um foco de extrema importância durante o
Por fim, dentre os achados mais interessantes, processo avaliativo. Principalmente quando se
verificou-se que o quadro de TA/AH/SD seria um comparou grupos puros com AH/SD com grupo
dos diagnósticos mais incomuns de ocorrência, de indivíduos duplamente-excepcionais, a criati-
pois a AH/SD está comumente atrelada a um vidade mostrou-se estar desenvolvida em ambos,
bom desempenho acadêmico, relação essa des- com algumas vezes melhores desempenhos no
mistificada por estudos mais atuais na área da segundo grupo. Esse dado se torna importante
superdotação. Como visto, em razão da AH/SD, devido ao fato de que crianças são encaminha­
os TA podem se manifestar de diversos modos das, avaliadas e passam por intervenções so­
quando em conjunto e mascarar um ao outro, mente por suas dificuldades, e que mesmo com
é preciso que muitas vezes acompanhamentos testes indicando alto QI, suas habilidades ficam

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A dupla-excepcionalidade

em segundo plano ou, muitas vezes, não são abor­dados. Outros transtornos e deficiências são
iden­­tificadas, em todos esses procedimentos. Vale pas­­­síveis de serem estudados dentro da proposta
lembrar que, tanto a criatividade como a inteli- da dupla-excepcionalidade, além de também ser
gência são consideradas elementos constituintes possível abordar outras características desenvol-
das AH/SD dentro dos modelos explicativos mais
vidas, não somente as AH/SD.
atuais desse fenômeno15,53,54,74, e ambas devem ser
De qualquer forma, acredita-se que o presente
analisadas para que haja um diagnóstico mais
completo, como o da identificação da dupla-ex­ estudo atingiu seus objetivos, e, além disso, espe-
cepcionalidade. ra-se que promova ainda mais o reconhecimento
Como limitação do presente estudo tem-se de que habilidades possam estar desenvol­vidas
o número limitado de estudos e transtornos em quadros considerados debilitantes.

SUMMARY
The twice-exceptionality: relations between giftedness
with Asperger’s syndrome, attention deficit hyperactivity
disorder and learning disorders

The “twice-exceptionality” can be defined as a presence of high capacity


in one or more areas occurring along deficiencies or conditions incompatible
with these capabilities. This study aimed to present and discuss the presence
of the Giftedness (GF) taking place concurrently in Asperger Syndrome (AS),
Attention Deficit Disorder and Hyperactivity Disorder (ADHD) and Learning
Disorders (LD). Social behavior and creativity proved to be as fundamental
characteristics for differentiation or concomitant diagnosis of AS and GF.
In relation to ADHD, it was found that this characteristic behavior disorder
may also be observed in GF. The LD was the most unusual diagnosis to be
held in conjunction with GF, commonly due to academic performance be
linked giftedness.

KEY WORDS: Intelligence. Creativity. Asperger syndrome. Attention


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