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Sobre Kant com Sade

Apontamentos de leitura do texto de J-A Miller – Lacan Elucidado


Por Socorro Soares – 10/08/09

Miller inicia o texto dizendo que tentará distinguir os dois termos sintoma e fantasia e
que por meio deles pode-se dizer que o estatuto, a posição do analista, diante de cada
um, é fundamentalmente diversa.

Lacan toma a questão da fantasia a partir da obra literária de Sade e não como Freud, a
partir da prática clínica, embora para Lacan devamos considerar também a prática
analítica. O que ele estuda no K-S é praticante Sade e a fantasia, isto é, a literatura de
Sade na reconstrução de sua fantasia. Esse texto é dos anos 60-62; Jean-Jaques Pauvert,
editor, publicou a obra de Sade nos anos 50; em 60 outro editor a faz de excelente
qualidade. O texto de Lacan foi recusado pelo próprio editor, quis publicá-lo na
Nouvelle Revue Française – revista de literatura da França – também recusado;
finalmente conseguiu na revista Critique, graças a relações familiares.

Sobre Kant: Sua obra é uma ruptura na história da filosofia; o limite de dois mundos;
São três livros complementares: Crítica da razão pura (sobre as condições do juízos
sintéticos – a priori), a Crítica da razão pratica ( sobre o juízo moral) e a Crítica da
faculdade de julgar ( a mais misteriosa – a Crítica do gosto; é sobre as condições de
possibilidades do juízo estético).

Sobre o analista: a prática da análise tem uma finalidade distinta das outras práticas
sociais; o texto diz que não se trata de produzir um sujeito suscetível, não se trata de
curar o paciente, porque o nível de experiência é onde há uma dimensão do que não se
cura, o impossível de curar; é isso a análise. Freud usou o nome “castração”; na
medicina há cada vez mais algo que não se cura, da ordem do impossível – uma forma
do Real. Quando se distingue sintoma e fantasia, vê-se que o sintoma produz a
dimensão da terapêutica; qt às fantasias, não se trata de curá-las, estas estão no nível da
análise e é no nível da fantasia que Lacan situa o final de análise, ou seja, pela travessia
da fantasia; se fosse pelo sintoma, analistas teriam que se curar completamente para
serem como tais. Atravessar a fantasia significa não curar.

No K-S Lacan diz uma frase fundamental: “Na ética da psicanálise não se deve
ceder de seu desejo”- não significa fazer o que se quer, a qualquer momento, ao gosto
do momento, mas “ não ceder de seu desejo” tem relação com “fazer seu dever”.

“Ceder de seu desejo”? – J-A M: A busca ética é a pergunta kantiana em Crítica da


razão pratica ( juízo moral – desejo como regra de ação) se existe uma regra de ações
no mundo, uma regra universal do que se deve fazer. A primeira Crítica (a priori) é uma
pergunta sobre as possibilidades de conhecimento.

“...Objeto escondido”? J-A M: A vinculação de Kant com Sade tem por finalidade
permitir que o objeto escondido na Crítica da razão prática possa aparecer através de
Sade. A característica da ética kantiana é que não há objeto, pois quando se trata de
objeto não se pode dar uma regra universal à ação humana. . E Lacan diz: “bem se trata
de um certo objeto nessa Crítica. E se pode ver qual através da fantasia sadeana”. Ness
e parágrafo, Lacan contesta o cume da moralidade no sentido habitual e o cume da
imoralidade. Foi um escândalo filosófico vincular os dois e dizer que Sade pode
manifestar a verdade que há em Kant. De um lado, o cume da moralidade filosófica, do
outro esse perverso e imundo, Sade dizendo a verdade. O cume da moralidade é a
perversão sadeana.

E a definição de Lacan do gozo como direito? J-A M: É como um direito de gozo. Na


vida se tem o direito de gozar do corpo de outra pessoa somente com sua permissão.
Usar o direito de gozar, sem a permissão, do corpo do outro dá muitos problemas
sociais. A possibilidade de gozar de seu próprio corpo tem um lugar importante na
psicanálise. Na Filosofia da Alcova, Sade expõe a idéia de que cada um tem direito de
gozar do corpo do outro sem sua permissão; a problemática do direito de gozar é
também kantiana e tais paradoxos aparecem em Lacan na fórmula do chamado
“imperativo sadeano” que é o “direito de cada um gozar do corpo de outro sem sua
permissão e até o limite que quiser”. Na Filosofia da Alcova vê-se a demonstração de
que numa sociedade cada um vai fazer as coisas assim, com direito. Como há o direito à
liberdade, há o direito ao gozo. O outro pode dizer o mesmo a mim! Cada um tem esse
direito, sem exceção. De tal modo que na fórmula feita por Lacan desse “imperativo
sadeano” não se diz: “Eu tenho o direito de gozar” ( para não implicar que o outro não
tenha o mesmo direito, se a frase se diz com o “eu” como sujeito). Assim Lacan prefere
formular: “Eu tenho de gozar do corpo de qualquer um” (assim cada um pode dizer a
mim: “Eu tenho o direito de gozar de teu corpo”-ou seja, eu mesmo sou submetido –
sou o outro desse outro). E, Lacan chama isso de o “paradoxo sadeano”, porque o limite
do seu capricho no uso do corpo do outro é morrer. É difícil pensar uma sociedade com
essa lei. A construção é lacaniana: o “imperativo sadeano” em contraste com o
“imperativo kantiano”; este último é moral. A fantasia que interessa a Lacan neste texto
é a “fantasia perversa”. Bem, as fantasia neuróticas são perversas , são também fantasias
em relação ao gozo ( ex: pcte cuja fantasia é ser espancada por vários homens que ,
contra a sua vontade, gozam do seu corpo; essa fantasia não faz dela uma masoquista; é
muito raro nas mulheres , a perversão; esta é um traço masculino, a acentuação do
desejo está do lado masculino; portanto não é suficiente chorar para se ser masoquista).
Ainda, as fantasias neuróticas são fantasias perversas, porém são distintas da fantasia de
um perverso; primeiro porque um perverso está mais próximo de realizar sua fantasia
que um neurótico; para o neurótico sua fantasia é uma espécie de espetáculo privado
dele, conserva uma distância respeitável da fantasia como lugar de elaboração, como
meio de gozar. ; já o perverso demonstra de maneira aberta (ex: Copacabana: tipos que
parecem mulheres, atributos femininos destacados etc – demonstração de que a fantasia
se realiza; não só pensar, mas fazê-lo). Essas pessoas são difíceis de serem vistas em
análise; seria aqui a vontade de gozo de que Lacan trata? Uma vontade decidida de
gozar, realizando a fantasia.

O desejo neurótico está longe da vontade de gozo. Quando Lacan diz: “aqui se pode
falar de desejo como vontade de gozo” – é uma forma possível do desejo perverso. È
interessante tratar da fantasia a partir da perversão, as fantasias neuróticas são perversas,
as da perversão são abertas e as vezes vemos alguns perversos tomarem o caminho pela
literatura porque essas pessoas nunca vêm à análise ( Ex: Jean Genet). É fundamental
para entender porque, nesse texto, a entrada na clínica é uma entrada cultural ou
literária.
Freud em “Bate-se numa criança”, traz seis casos, porém não são casos de perversos;
são casos de neuróticos com a mesma fantasia perversa, não sádicos, não são
masoquistas, mas neuróticos.

Há perversos que podem vir aos consultórios, alguns entrarem em análise, mas nesses
casos há traços neuróticos. E quando a relação deles com o gozar é, às vezes, perturbada
sobrevêm sintomas para eles.

A perversão é uma demonstração – é a nobreza dela – de que há coisas que alguém


pode querer mais do que bem-estar, que o bem-estar não é o valor supremo.

Qual a vinculação que há entre o cume da moralidade e a perversão? Há uma


característica comum, algo mais do que bem-estar. A moralidade implica, por exemplo,
o sacrifício: quando alguém se sacrifica por um valor, é um testemunho moral, que pode
se aceitar morrer por uma causa. Na perversão também vemos uma causa – a causa do
desejo – que, precisamente, pode permitir abrir uma dimensão mais além do bem-estar.

A partir da Crítica da razão prática Lacan introduz a questão da perversão. Essa Crítica
é uma tentativa de um sistema de moralidade pura, uma ética mais além da experiência;
por exemplo o princípio egoísta, o princípio de que cada um deve obter seu prazer; Kant
diz que não é um princípio a priori porque o prazer de cada um é diferente. Não se
pode formular uma regra universal da ação a partir dos objetos; podemos fazê-la sem
objetos, sem referência aos bens e ao prazer; então tudo desaparece, sem podermos nos
apoiar sobre qualquer coisa do mundo para obter uma regra da ação; então nesse
momento do desaparecimento, da anulação de tudo, surge o “imperativo kantiano”
( “Devemos escutar a voz da consciência”) – a regra da ação tomada como máxima de
cada um. Lacan no texto diz que no momento em que esse sujeito já não tem frente a ele
nenhum objeto, quando encontra uma lei, a qual não outro fenômeno senão algo já
significante e que se obtém de uma voz da consciência.... daí surge a máxima, uma
frase, uma articulação de significantes que vem de uma lei da consciência. É por isso
que se trata da ética sem objeto. A tese de Lacan é que através da fantasia sadeana,
podemos saber que há também um objeto na ética kantiana, porém, um objeto que não é
o da experiência. É a partir desse objeto escondido que podemos conseguir o
desaparecimento da experiência. Que há um objeto, é o objeto a. Ele fará aparecer a
contradição com todos os objetos da experiência. É o que se dá também na experiência
da perversão. Kant disse que não há objeto absoluto; os objetos são modificáveis,
diversos. Na perversão temos a idéia de que há um objeto absoluto para um sujeito; um
sujeito que não desejar sem sapatos. O fetichismo é a demonstração disso.

Ainda sobre “Não ceder de seu desejo é uma segurança para a infelicidade, de certo
modo” - frase de Lacan - é quando ele quer dizer que é o princípio essencial da ética
analítica, e também que a felicidade não é uma promessa analítica. Lacan diz que o
analista pode vender a destituição subjetiva, mas não o desenvolvimento da
personalidade.

Por que Kant com Sade? J-A M : para se descobrir o objeto escondido de Kant é
preciso agregar Sade a Kant. Kant com Sade é isto: O objeto se vê com a ajuda de
Sade. Sade é o instrumento que permite ver o escondido de Kant. E Lacan diz: por nós
Sade é utilizado como instrumento. O estatuto de instrumento convém a Sade porque
em sua própria fantasia Sade nada mais é do que um instrumento. Com Sade tem um
sentido de instrumento para ver o escondido de Kant. . A fórmula de Kant com Sade:
primeiro há um certo acordo entre os dois e , num segundo momento, Sade completa a
Crítica da razão prática porque nos dá o objeto escondido, e assim, a verdade, o
verdadeiro dessa Crítica.

“ O direito de gozar o corpo do outro, exercê-lo-ei sem nenhum limite...” Sade


figura esse direito como o de matar o outro, sumir com ele... – J-A M : Em Sade há
a idéia de que não podemos pretender do corpo completo, mas devemos reparti-lo...as
vítimas já não têm mais o corpo inteiro. Lacan pergunta: “Como gozar do corpo do
outro?” Tocá-lo, penetrá-lo é uma atividade de apreensão. O limite é destruí-lo. Há algo
impensável em gozar do corpo do outro. Goza-se somente dentro de seu próprio corpo
de maneira física, ninguém goza dentro do corpo do outro. Há uma distinção em
psicanálise: gozar de seu próprio corpo e gozar do corpo do outro.

Lacan, no Seminário sobre a Angústia, diz que não é o sofrimento do outro que Sade
busca, mas sua angústia. O que significa a busca da angústia do outro? Quando se
trata da fragmentação do corpo do outro, não podemos dizer que Sade busca isso,
embora saia um braço, olhos etc, mas a busca da angústia que se faz é através de
ameaças; é muito importante para os verdugos, em Sade, dizer antes à vítima o que vai
se passar, demonstrar o que fazem com outras vítimas, e isso produz angústia. Nas
novelas de Sade tudo termina em fragmentação; as vítimas têm uma resistência enorme,
necessária em sua fantasia, para o crescimento da angústia. A operação da fantasia
sadeana se dá desde o comunicar de algo que será feito ao sujeito, obtendo que sua
angústia cia em todo o corpo. Em Kant há um infortúnio necessário da virtude moral; se
alguém se dá a regra moral, encontrará seu bem-estar.

O ápice do texto K-S é a estrutura da fantasia sadeana. O paradigma lacaniano da


fantasia é uma fantasia não descoberta na experiência analítica, mas através da
literatura; é uma fantasia na perversão. A estrutura sadeana é o primeiro esquema
proposto por Lacan. Duas máximas éticas que têm muito em comum. Há primeiro a
análise da máxima de Kant e depois da máxima de Sade e o terceiro ponto, a introdução
da fantasia sadeana (trata-se da enunciação que se esconde na voz de consciência, uma
metáfora, portanto) assim se compõe a entrada do texto K-S; logo após vem o segundo
esquema e depois o fim do texto. Na articulação das duas máximas, surge a diferença da
enunciação. A kantiana é enunciada pela voz da consciência, como metáfora à voz da
consciência para dizer que se impõe ao sujeito; é uma necessidade lógica quando
alguém busca universalidade e necessidade na moralidade sem referência a nenhum
objeto, ou seja, para Lacan não concerne a nenhum objeto preciso, mas a lei que carece
de reciprocidade e a uma lei fora da dimensão infinito. A Sadeana faz surgir o
problema da enunciação porque diz: “eu tenho o direito , pode dizer-me quem quer que
seja”. ; assim a sadeana é mais honesta que a kantiana porque faz surgir o enunciador
que jaz escondido na máxima kantiana (voz de algum lugar); na sadeana o outro é
encarnado, é a voz da função chamada “quem quer que seja”, por isso Lacan diz: “É,
pois, sem dúvida o Outro enquanto liberdade (o discurso sadeano, é o discurso “eu
tenho o direito de gozar do seu corpo...”) é a liberdade do Outro que o discurso do
direito ao gozo põe como sujeito de sua enunciação”. A máxima sadeana não diz: “eu
tenho direito de gozar do seu corpo”, mas “eu tenho direito – pode dizer-me quem quer
que seja – de gozar de seu corpo”; é uma máxima que se impõe a qualquer sujeito a
partir do Outro, que não é a voz de nenhum lugar, mas a voz do Outro presentificada,
manifestada. A Kantiana visa uma lei da compatibilidade entre os homens, sempre o
outro fazendo o mesmo, enquanto que a Sadeana é sem limite de capricho; porém, esta
também, de certo modo, é como lei universal (Sade dizia ser compatível com a
sociedade).

O que há de um mesmo nas duas máximas? Em Kant há uma recusa – para fundar a
ética – de toda evidência que Kant chama de patológica. Patológica não é enfermidade;
é tudo aquilo que pertence à afetividade , sensibilidade, prazer ou desprazer; O
fundamental da ética kantiana é dizer que nenhum elemento dessa dimensão – do
patológico – dá regra geral, universalidade constante à conduta humana; o princípio do
prazer não pode funcionar como um princípio moral ou de conduta. A máxima sadean
também é fundada sobre a recusa do patológico; então Lacan diz: “...a máxima
kantiana não aparece senão para excluir , pulsão ou sentimento, tudo aquilo que pode
padecer o sujeito em seu interesse por um objeto...”; Em Sade há também uma recusa
ao patológico.

De que modo se localiza o raciocínio da instância externa que formulam essas


máximas? A instância que formula a lei moral chama-se Supereu no clássico da
psicanálise; muitos psicanalistas pós-freudianos têm a idéia de uma instância de censura
confundindo com a lei social. O supereu a partir de K-S aparece como ponto exterior,
ponto que manifesta a divisão do sujeito, que impõe uma lei – devemos dizer – uma lei
absurda, que abarca a alma e o corpo humano.

Outro motivo que leva Lacan dizer que a máxima sadeana é mais honesta que a
kantiana é pelo fato de se tratar do gozo; não se trata tanto do desejo; é uma
tempestade o momento do gozo nos personagens de Sade quando dizem: “estou
gozando”; é o cume do gozo que produz – às vezes – a morte do parceiro; a dor é um
momento do gozar do corpo do outro; trata-se de obter a dor do outro.

O que é esse outro? O valor da dor na fantasia sadeana, Lacan compara com o
estoicismo (O estoicismo é uma doutrina filosófica que propõe viver de acordo com a
lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é
externo ao ser; O estoicismo se opõe ao epicurismo - O epicurismo é essencialmente
hedonista. Para os estóicos, o fim supremo, o único bem do homem, não é o prazer, a
felicidade, mas a virtude; Estoicismo: Sistema filosófico, cujo fundador foi Zenão de
Cício (Chipre), filósofo grego, que aconselha a indiferença e o desprezo pelos males
físicos e morais). Imagine se a vítima sadeana fosse um estóico”. O estóico recusa a
subjetivação da dor, sua posição ética é de retirar-se do que se passa em frente do seu
próprio corpo um ponto de vista do espectador frente ao próprio corpo. Independência
do sujeito com respeito ao próprio corpo. Exemplo: Epíteto, com a perna cortada pelo
sadeano, por Sade, diz: “veja, cortou-a”, isto é, “é assim que eu sou”. O gozo sadeano é
dependente da subjetivação que se produz do outro lado, do lado da vítima. ( por isso
Lacan faz a inversão na fantasia perversa – nota minha ).

Na fantasia sadeana, onde está o sujeito? Quem é o sujeito? Onde se produz a


divisão do sujeito? A subjetivação? A experiência da falta? O sujeito é a vítima, não
é o verdugo. Para Lacan o sujeito não aquele que tem a fantasia; na fantasia perversa
quando é sujeito, é sujeito como barrado – que seja o parceiro; produzir a angústia no
parceiro, é produzir nele a manifestação de sua falta da barra, é a vacilação completa
que se mantém no maior tempo possível.; quer dizer que é produzir do exterior uma
divisão do sujeito ou a emergência do sujeito no parceiro, a emergência da função do
sujeito como função barrada.
Do lado dos verdugos, ao contrário, não há nada disso: não há nada de angústia, não há
nada de vacilação; são inalterados, sempre perseguindo o gozo de maneira dura, como
uma encarnação de força e de vontade frente às vítimas. Os verdugos na fantasia
sadeana não são sujeitos, não têm a falta; como perversos recusam a castração, porém,
temos que ver isso encarnado na fantasia. Porém, não é somente recusar a castração,
pois a subjetivação está do lado do parceiro e o verdugo está como representação de
Sade – encarnação do perverso. Nessa fantasia, o perverso tem o lugar do objeto e não o
lugar do sujeito.

Se a vítima for estóica não se produz o gozo sadeano.


O ponto do sujeito representa como um real no sentido lacaniano, como um
pedaço. Uma ponta de real, isto é, inalterável na lei, nas regras que se impõe ao sujeito
e obtém que o sujeito surja, manifeste-se além do patológico; fazer dor ao sujeito é a sua
maneira de obter o ponto puro do sujeito, nesse mais além. Persegue essa aparição pura
do sujeito através da dor, destacando-o do patológico para manter sua vacilação.

O campo da fantasia sadeana é o objeto como encarnação do verdadeiro ( o


verdugo é como objeto , o a; não é sujeito, não tem falta, recusa a castração; é vontade
de gozo; e do outro lado surge a vítima ( $, sujeito), como sujeito barrado em sua
diferença com o que é o sujeito patológico.

Como se manifesta a vontade do verdugo em Sade? Manifesta-se de modo


privilegiado: como vontade de gozo; é assim que se manifesta, apesar dos
inconvenientes que isso possa significar para ele e para a sociedade, para a vítima.

Não há diferença entre o sádico e o masoquista. O masoquista não é uma vítima


fantasística do sadismo, não há uma reversão no mecanismo masoquista; o masoquista
também recusa a castração e é ele que tem todos os fios da situação ( o nome sadismo é
tomado do Marquês de Sade e masoquismo é tomado do escritor Sacher-Masoch que
descreve que para se gozar deve-se colocar como escravo da mulher e esta deve ter uma
posição de autoridade frente a ele ( ele como vítima e a mulher como verdugo).

A respeito da mulher com a perversão, por que ela se coloca na condição de ser
objeto de um desejo do Outro? J-A M: Freud chama de masoquismo moral como
maneira de falar do gosto pelo sofrer, do sentimento de culpa que podemos encontrar
nos neuróticos, diferente da perversão masoquista ou da sadeana. Quando fala do
masoquismo feminino é como propensão das mulheres se colocarem em situações nas
quase devem sofrer. Lacan discorda e fala do suposto masoquismo feminino, não como
uma categoria ou estrutura clínica. Há ou não masoquismo feminino? Lacan dirá que
não, quando as mulheres aceitam o papel proposto na fantasia masculina não é
masoquismo. O suposto masoquismo feminino é mais uma aceitação (eventual) da
docilidade (eventual) da mulher de aceitar o papel preparado por ela na fantasia do
homem. Porém não é porque uma mulher chora que é masoquista, isto pode ser uma
maneira de mandar; para Lacan o sexo débil é o masculino.

Qual é o objeto escondido? J-A M: A tese de Lacan do objeto escondido na Crítica da


razão prática – o cúmulo da moralidade - é o verdugo sadeano; essa Crítica própria faz
uma operação de separação entre sujeito e sua dimensão patológica para obter o campo
da ética sem objeto, da ética pura, e Lacan basea-se nisso; o objeto escondido é o objeto
a da fantasia perversa. É somente com tal objeto que podemos separar esses dois
elementos: o sujeito puro, como sujeito da falta, como sujeito de uma vacilação
essencial, e do outro lado, toda a dimensão patológica.

Sobre sintoma e fantasia: Na experiência analítica ao contrário do sintoma, a fantasia


não muda. O que Lacan chamou de a “selva da fantasia” ou a “selva fantasística” com a
diversidade dos personagens possíveis pode reduzir-se durante uma análise, porém a
base permanece a mesma, isto é , no matema da fantasia a selva pode ser reduzida num
fundamental; a fantasia fundamental não muda, é estática.

Há uma nota de Lacan onde diz que as vítimas sadeanas são do mesmo tipo sempre e,
quando Sade as representa, o faz sempre paradoxalmente: a jovem mulher, das mais
lindas e às vezes não há os afetivos. De um lado a monotonia das vítimas e do outro a
diversidade, a variedade dos atormentadores.

A fantasia freudiana “Bate-se numa criança” tem uma diversidade possível da vítima,
da criança, há uma anotação de Freud de que há muitas, diversas crianças, porém uma
certa unidade dos ‘verdugos” e podemos propor como inversos o paradigma lacaniano e
o paradigma freudiano.

No texto K-S Lacan divide o esquema em dois campos, de um lado o campo do sujeito
da fantasia e do outro lado o campo do outro. Antes de esboçar o primeiro esquema,
Lacan diz: “o que apenas se obtém é que seu agente aparente se coagula na rigidez do
objeto...”e esse agente é o verdugo que se coagula nessa rigidez com vista em que sua
divisão de sujeito lhe seja retornada, devolvida a partir do Outro; essa formulação
distinta da perversão consiste na unilateralização do sujeito do lado do Outro; então, a
perversão é unilateralizar a divisão do sujeito no Outro. ; temos que ler essa questão
cada vez na estrutura significante: como se situa a relação ao Outro? Aí está a
manobra da fantasia perversa, do sujeito perverso de recusar a divisão do sujeito em si
para fazê-la surgir no Outro.

Qual seria a função do desejo na fantasia sadeana? Igualar-se-ia à vontade de


gozo? J-A M: O estatuto do desejo na perversão não é semelhante ao do desejo na
neurose; é na perversão que merece a nomeação de vontade de gozo; há aí uma
semelhança entre os dois. O desejo em Lacan tem a fórmula: “ o que queres?” ou “Che
vuoi?” “Que quero?”; o desejo é a vontade mais além do que podemos conhecer
conscientemente; na neurose o desejo é como que articulado à felicidade, constituindo-
a; o neurótico é um sujeito que se coloca a pergunta de seu desejo e ela constitui este
desejo. Enquanto que o desejo perverso não é pergunta, mas resposta. O perverso sabe o
que quer e isso deve ser a base da arrogância perversa que o faz convencido de saber a
verdade escondida. Lacan disse que para o perverso não existe o significante do Outro
barrado, mas não–barrado; não há falta para ele, que podemos ver, também, no esforço
para liberar-se da falta... Vontade gozo é uma denominação que parece a J-A Miller , o
desejo perverso. Há um obstáculo para qualquer estrutura, neurótica ou perversa,
no caminho até o gozo: o prazer. Então, o gozo não é da dimensão do prazer, é
excesso, uma infração do princípio do prazer; está mais do lado da pulsão de morte
Freud do que do lado da vida. O prazer leva ao mais baixo nível de tensão, enquanto o
gozo propulsa o vivente ao mais alta nível de tensão; o gozo produz mudança; mudança
de um extremo ao outro.
A fantasia sadeana permite ir mais além, até ao gozo; permite atravessar o obstáculo – o
prazer – e seus limites; o primeiro privilégio da fantasia sadeana é ir mais além graças à
dor, porque é um fato orgânico: a dor começa quando o prazer termina; a dor é a
primeira maneira de atravessar os limites do prazer, de produzir um excesso. Às vezes
não sabemos se é dor ou prazer. O gozo mistura e pode explodir através da dor.

A fórmula lacaniana da fantasia nesse texto: a fantasia faz o prazer próprio para o
desejo; porém, desejo não é a melhor palavra para este lugar, é melhor dizermos a
fantasia faz prazer próprio para o gozo ou para o desejo como vontade de gozo (Miller).

Sobre o a e o discurso analítico J-A M: Não podemos dizer que o discurso analítico
tenha a mesma estrutura da fantasia da perversão porque os matemas permitem
significações diferentes. Porém é verdade que o discurso analítico é fundado sobre a
fantasia. A questão de que o analista tem o lugar do objeto a e o analisante é o sujeito,
de uma maneira cega, podemos dizer que ela é fundada sobre a estrutura da fantasia. É
esclarecedor comparar os dois. Um verdadeiro perverso, um perverso decidido não
entra em análise, porque ele já está na posição do a e ao mesmo tempo, por si
mesmo, na posição de sujeito suposto saber. O perverso considera-se como um
sujeito que sabe a verdade do gozo; considera o neurótico débil que não sabe o que
quer; há um desprezo pelas depressões neuróticas; o neurótico pode tornar-se analista
ao fim de análise porque aceita ser um instrumento do desejo do outro recusando a
fantasia. Para o perverso, ao contrário, é muito dificil a constituição do sujeito suposto
saber, pela convicção de que já sabe o que deseja; o fetichista sabe o que deseja; para
ele o desejo não é uma pergunta, já é uma resposta. A análise é possível para o
neurótico porque ele, o analisante, faz a experiência de destituição – através da
linguagem, da perda que há em todo uso livre da palavra. O analista quando funciona,
não é um sujeito; funciona mais como causa da palavra do analisante como objeto que
produz a divisão do $ no analisante; o analista lacaniano não é um perverso, é um
neurótico analisado; há alguns psicóticos, porém que podem suprir esse lugar, às
vezes com certas dificuldades.

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