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20/05/2019 Renúncia ou impeachment?

- 20/05/2019 - Tabata Amaral - Folha

Tabata Amaral (/colunas/tabata-amaral/)

Renúncia ou impeachment?
Vivemos impactos de guerra ideológica que destrói o que há de mais sólido no país

20.mai.2019 às 2h00

Após o segundo turno da última eleição, muitas vezes externalizei o temor


que tinha da guerra ideológica sem fim que desde o início Jair Bolsonaro
dava mostras de querer empreender. Porque se ele não conseguisse
responder aos anseios daqueles que o elegeram —que não queriam
propostas mas sim dar vazão à repulsa que sentiam da política e dos
políticos—, essas mesmas pessoas, inflamadas pelas teorias conspiratórias de
Olavo de Carvalho e seus seguidores, passariam a questionar a própria
democracia e suas instituições.

Foi o que aconteceu. Mesmo depois de eleito, o governo continuou em


campanha e, mostrando não ter a nobreza dos vencedores, nunca estendeu a
mão aos seus opositores. Nos primeiros meses de governo, redes
bolsonaristas começaram uma série de ataques ao Supremo Tribunal
Federal, conclamando pessoas a ocuparem as ruas contra o STF. 

Os filhos do presidente, acompanhados e liderados por Olavo, iniciaram uma


batalha de intrigas, inclusive, e, para preocupação de todos, contra os
militares, a coluna mestra de apoio. Os notórios confrontos com o presidente

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da Câmara, Rodrigo Maia, a insatisfação da base do governo no Congresso e


o recuo do recuo que desmentiu o anúncio feito por deputados do PSL de
que Bolsonaro retrocederia nos cortes da educação não melhoraram a
situação.

Essa última semana foi a prova cabal da dimensão da inabilidade política.


Contrariando a maior aposta dos eleitores, a economia do Brasil está
próxima de uma depressão, que se concretizará caso 2019 repita a
estagnação da renda per capita dos últimos dois anos, conforme avaliou o ex-
presidente do Banco Central Celso Pastore no relatório “A depressão depois
da recessão (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/05/brasil-oscila-entre-a-estagnacao-e-a-depressao-
avaliam-economistas.shtml)”, manchete de domingo desta Folha.

Foi a gota final do período mais duro já enfrentado por Bolsonaro em seus
poucos meses de governo. As investigações
(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/investigacoes-na-assembleia-do-rio-vao-de-flavio-a-deputados-de-pt-pdt-e-

contra seu filho Flávio estão avançando, milhares de pessoas foram às


psc.shtml)

ruas em defesa da educação, e o governo parece cada vez mais longe não
apenas de dialogar com o Congresso mas também com sua base. O
presidente chegou a compartilhar nas redes uma carta
(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/bolsonaro-distribui-texto-que-fala-em-brasil-ingovernavel-fora-de-

conchavos.shtml),
de autor desconhecido, afirmando que estaria de mãos atadas
porque o Brasil só poderia ser governado por quem pedisse “benção” às
corporações.

Estaria preparando a população para uma renúncia à la Jânio Quadros?


Pedindo apoio às ruas contra o avanço das investigações, como fez Collor de
Mello? Ou inflando a população contra a democracia, pela notória
incapacidade de governar? Não podemos ignorar essa última hipótese, não
por sua probabilidade mas por sua gravidade.

Como disse a jornalista Eliane Brum, esse é o resultado de se transformar um


homem ordinário em “mito” e dar a ele o poder. Em quase 30 anos no
Congresso, Bolsonaro teve apenas um projeto de sua autoria aprovado e
nunca pareceu se incomodar com o que chama hoje de “velha política”: ele e

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seus filhos empregaram familiares em seus gabinetes e as investigações hoje


procuram verificar se ficavam com parte dos salários, para dizer o mínimo.

A verdade é que nós, brasileiros, precisamos de mais e não de menos


democracia, de mais e não de menos pensamento crítico, de instituições
mais e não menos fortes. Estamos vivendo os impactos reais de uma guerra
ideológica que destrói o que há de mais sólido no nosso país, como é o caso
na educação.

Em um Brasil tão machucado social e economicamente, já não há espaço


para fantasiosas teorias da conspiração. Se Bolsonaro persistir nesse
caminho, a história só aponta dois resultados possíveis: renúncia ou
impeachment.

Tabata Amaral
Cientista política, astrofísica e deputada federal pelo PDT-SP. Formada em Harvard, criou o
Mapa educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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