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13/05/2019 Por uma produção de conhecimento que espelhe as diversidades - 12/05/2019 - Ilustríssima - Folha

Por uma produção de conhecimento que espelhe as


diversidades
Especialistas apresentam o Mecila, centro de pesquisa cooperativa que se afasta de
hierarquias

12.mai.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/05/12/)

Marcos Nobre
Sérgio Costa

[RESUMO]  O texto apresenta o tema da mesa 7 ("Debates políticos do


espaço público") do seminário de 50 anos do Cebrap
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/05/pressao-sobre-pesquisa-e-inedita-para-minha-geracao-diz-

alonso.shtml) (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

A convivência em sociedades complexas


(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/03/governo-bolsonaro-renova-temor-de-conflito-em-tribo-da-

e plurais é mote fundante e recorrente das ciências humanas e


amazonia.shtml)

sociais modernas. O tema, que na verdade nunca saiu da agenda política,


tornou-se ainda mais urgente e crucial neste momento em que a direita
radical é levada ao poder em alguns países não por propor formas mais
adequadas de convivência plural, mas por alimentar sua impossibilidade. 

O repertório de conceitos mobilizados para discutir a questão é vastíssimo:


coesão social, solidariedade, coexistência, “buen vivir” servem aqui de
exemplo. Nos debates atuais, o termo convivialidade (conviviality) é cada vez

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mais presente. Foi introduzido nas ciências humanas por Ivan Illich, em
1973.

Na ocasião, Illich dirigia o Centro Intercultural de Documentación, no


México, um espaço ecumênico e plural para o qual convergiam os ideais de
solidariedade global da esquerda latino-americana e os valores libertários do
então pensamento crítico europeu.

Desde então, os estudos sobre convivialidade disseminaram-se por várias


disciplinas e campos temáticos. Isto explica a atual compreensão polissêmica
do termo. Podem ser identificados quatro campos no âmbito dos quais os
estudos sobre o tema vêm se desenvolvendo de forma particularmente
profícua.

O primeiro é a crítica ao antropocentrismo


(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/233613-sem-medo-de-fazer-genero.shtml) e ao
sociocentrismo: nestes estudos, convivialidade substitui o conceito
sociológico de sociedade, de forma a integrar na análise, além de pessoas,
também atores não humanos como animais, plantas, espíritos e artefatos.

Esta abordagem encontra-se bem desenvolvida nos estudos sobre a


sociabilidade indígena na Amazônia e, no campo legal, já passou ao direito
positivo, ao menos no Equador, cuja Constituição assegura direitos à
natureza.

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Ilustração - Daniel Bueno

A seguir, a crítica ao utilitarismo: convivialidade, aliás convivialismo,


expressa aqui a compreensão de que as relações sociais, mesmo as mais
competitivas, encontram-se fundadas na cooperação e na dádiva.
Desenvolvida na França por sociólogos antiutilitaristas e por economistas
vinculados ao movimento anticrescimento décroissance, essa interpretação
encontra-se, hoje, já bastante difundida no Brasil.

Depois, a crítica à identidade cultural: convivialidade alude aqui a um


conceito relacional de cultura, segundo o qual culturas não se definem por
repertórios, mas pela negociação dinâmica de diferenças. No contexto
europeu, têm-se insistido no potencial da convivialidade como antídoto
analítico e político à reificação da identidade cultural promovida tanto por
nacionalistas quanto pelo multiculturalismo liberal. 

 
Na América Latina, esta noção dinâmica de cultura que desarma a dicotomia
“nós versus o outro” encontra-se desenvolvida na sólida antropologia da
região e em parte importante da literatura e da crítica literária,
particularmente do Caribe francês, como testemunham conceitos como
“identité-relation” e “créolisation”, cunhados por Édouard Glissant.
 

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Por fim, a crítica à colonialidade: esta vertente explora o papel da


convivialidade, entendida aqui no âmbito das relações de proximidade física
e/ou afetiva, para a manutenção das hierarquias (pós)coloniais.
Desenvolvida pelo cientista político camaronês Achille Mbembe
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/03/intelectual-busca-oferecer-visao-afrocentrica-da-modernidade.shtml),

esta abordagem já se reflete em estudos sobre trabalho doméstico e na


historiografia sobre a escravidão.

Desenvolvidos nesses vários campos temáticos, os estudos sobre


convivialidade oferecem uma plataforma promissora para a cooperação
interdisciplinar no campo das humanidades, dos estudos culturais e das
ciências sociais.

Isto é, na medida em que as disciplinas convencionais, com seus


nacionalismos institucionais e metodológicos e suas distinções rígidas entre
cultura e natureza, virtual e real, humano e não humano, mostram limites
óbvios para analisar relações de interdependência mais complexas, os
estudos sobre convivialidade emergem como aposta em teorias menos
reducionistas e em métodos relacionais.

Ao menos é essa a expectativa alimentada pelos pesquisadores reunidos em


torno da criação do Maria Sibylla Merian International Centre
Conviviality‑Inequality in Latin America (ou, mais abreviadamente, Mecila),
sediado em São Paulo. 

Financiado principalmente pelo governo alemão e reunindo pesquisadores


de quatro instituições latino-americanas e três alemãs —a saber,
Universidade de São Paulo, Cebrap, Colégio de México, Universidade
Nacional de La Plata, FU Berlin, Universidade de Colônia e Instituto Ibero-
Americano—, o projeto visa criar um ambiente intelectual privilegiado para a
reflexão interdisciplinar, a partir da América Latina.

Essa iniciativa do governo alemão inclui a criação de Centros Merian em


diferentes cidades do sul global, entre elas Acra (Gana), Déli (Índia),
Guadalajara (México) e Pequim (China).

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Ilustração - Daniel Bueno

Não há muitos exemplos de instituições que estudaram, de forma integrada,


experiências sociais latino-americanas, traduzindo-as em termos teóricos. O
caso mais conhecido é o da Cepal, Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe, criada em 1948 e que, por várias décadas, articulou a
reflexão teórica sobre desenvolvimento na região. 

Hoje, é mais provável que esforço semelhante seja mais exitoso quando
empreendido não por uma única instituição, mas por uma rede internacional
de pesquisa capaz de refletir a multiplicidade das experiências sociais e da
reflexão intelectual presente na América Latina. 

Deve incluir também novos formatos de cooperação capazes de mitigar as


hierarquias regionais, geracionais, étnicas, de classe e de gênero que marcam
a produção e circulação do conhecimento.

É o que pretende o novo centro em construção, o Mecila. Para seus


propósitos muito abertos, convivialidade é o nome das constelações
estruturadas por desigualdade e diferenças. Isto significa que cooperação,
conflito, violência e dominação estruturam padrões de convivialidade.

No projeto Mecila, convivialidade nomeia menos o ponto de partida e muito


mais os achados de pesquisa que podem emergir quando se vislumbra a

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realidade a partir dessas constelações. Menos que um conceito e longe de ser


uma teoria ou um método, convivialidade refere-se à abordagem em
permanente estado de construção.

Marcos Nobre é professor de filosofia na Unicamp e pesquisador sênior do Cebrap .

Sérgio Costa é professor de sociologia e diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos


da FU Berlin (Alemanha). Ambos dirigem a implementação do Centro Mecila em São Paulo.
Aqui apresentam o tema da Mesa 7 do seminário de 50 anos do Cebrap.

Seminário sobre democracia celebra 50 anos do Cebrap 

Fundado em 3 de maio de 1969, o Cebrap promove o seminário internacional


Democracia à Brasileira para comemorar suas cinco décadas
de atividade. Pesquisadores renomados que passaram ou ainda integram
o instituto discutirão as turbulências políticas atuais. Os debates ocorrerão
no auditório do Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141). Inscrições podem ser
realizadas pelo site (https://m.sescsp.org.br/#/programacao/189620) do Sesc. Ingressos custam
de R$ 9 a R$ 30. 

14.mai (terça)
 

19h - Abertura
Danilo Miranda (diretor do Sesc/SP) e Angela Alonso (presidente do Cebrap)

19h20 - Vídeo Cebrap – 50 anos pensando o Brasil

19h45 - Mesa 1 - Democracia em crise?


Mediação: Maria Hermínia Tavares de Almeida (Cebrap/USP)
Conferencista: Adam Przeworski (NYU)

15.mai (quarta)
 

10h - Mesa 2 - Instituições políticas brasileiras


Mediação? Miriam Dolhnikoff (Cebrap/USP)

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Debatedores: Fernando Limongi (Cebrap/USP/FGV), Argelina Figueiredo


(Cebrap/IESP) e Maria Hermínia Tavares de Almeida (Cebrap/USP)

14h - Mesa 3 - Mobilizações sociais


Mediação: Arilson Favareto (Cebrap/UFABC)
Debatedores: Daniel Cefaï (EHESS), Angela Alonso (Cebrap/USP)
e Adrian Lavalle (Cebrap/USP)

16h30 - Mesa 4 - Desenvolvimento, trabalho e políticas públicas


Mediação: Carlos Torres Freire (Cebrap)
Debatedores: Elisabeth Reynolds (MIT), Glauco Arbix (Cebrap/USP)
e Alvaro Comin (Cebrap/USP)

16.mai (quinta)
 

10h - Mesa 5 - Desigualdades
Mediação: Marcia Lima (Cebrap/USP)
Debatedores: Pablo Beramendi (Duke University),
Marta Arretche (Cebrap/USP) e Marcelo Medeiros (Ipea)

14h - Mesa 6 - Religião, política e espaço público


Mediação: Mauricio Fiore (Cebrap)
Debatedores: Juan Vaggione (Conicet), Paula Montero (Cebrap/USP) e
Ronaldo Almeida (Cebrap/Unicamp)

16h30 - Mesa 7 - Debates políticos do espaço público


Mediação: Marta Machado (Cebrap/FGV)
Debatedores: Magali Bessone (Paris I), Marcos Nobre (Cebrap/Unicamp)
e Sergio Costa (Cebrap/Universidade Livre de Berlim/Mecila)

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