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Ética

Cap. 5 - A ética Britânica no início da modernidade

Ética antiga: teleológica ou dos fins, onde a CONSEQUÊNCIA em ser


ético é o BEM.- pergunta QUAL A MELHOR FORMA DE VIVER?
Ética moderna: deontológica ou das normas, onde ter-se-á que se
CORRETO para fazer o bem.- pergunta O QUE DEVO FAZER?
Antigos se guiavam pela noção de BEM.
Modernos pela noção de CORRETO (apoiada na autonomia do
indivíduo). –sem um Deus, ou ergon (pensamento metafísico, que nada mais é
que uma função específica do ser humano)
Utilitarismo volta aos antigos e estabelece que o correto é aquilo que é
bom.
Na ética antiga apenas um racionalismo, e na moderna dois- o egoísta e
o universal.
Na ética moderna, a racionalidade está coaptada à moral. Ver Dilema do
Prisioneiro.
Ética antiga era inseparável da politica.
Com Maquiavel, inicia-se a ética moderna e a cisão entre política e
ética. Este filósofo relembra Protágoras e sua máxima em dizer que mesmo
sendo injusto pareça justo. A vitú de Maquiavel está longe do ideal clássico de
moral.
Segundo John Rawls, os antigos se nortevam por noções práticas como
virtude e felicidade, enquanto os modernos e os modernos centralizaram mais
suas investigações éticas na justiça, no direito, nas obrigações.
Hobbes é um dos primeiros eticistas modernos.
No Brasil, no projeto de libertação de Portugal, os brancos, os negros e
os índios perderam, devido a combinação entre si, sua identidade, levando-os
assim a perder sua própria individualidade como povo/cultura únicas.
Isto fez com que os colonos, principalmente europeus e asiáticos, que
vieram posteriormente a conviver com estes brancos, negros e índios,
aceitassem resignadamente a degradação dos costumes que havia sido imposta
pela anterior quebra de identidade destes povos brancos, negros e índios. E esta
aceitação se dá porque estes colonos não se enxergavam como brasileiros.
Viam-se apenas como em trânsito pelo Brasil.
Isto gerou uma contradição performática na sociedade, quando esta se
consolida como nação, onde o indivíduo pratica exatamente o que critica na
sociedae em que vive.
Gera-se assim uma consciência cético-pessimista, onde o mundo
resultante é avaliado em uma maneira negativa e a saída buscada é sempre sob
a perspectiva salvacionista.
A formação do Ethos brasileiro iniciou-se em um ambiente moral
específico com elementos céticos, estóicos e salavacionistas: cético quando se
pensa na moral; estóico, principalmente de Sêneca, dando uma atitude de
abnegação diante do sofrimento humano; salvacionismo onde se renunciará ao
mundo real e se buscará um mundo transcendente.
O Brasil do Período colonial, apesar de a Europa estar na fase moderna
da filosofia, aqui ainda era escolástica tomista dos jesuítas-era medieval. Até a
expulsão dos jesuítas (1759).

Cap. 5.1 – Hobbes e as bases éticas do contratualismo

Tido como primeiro filósofo moral do modernismo.


Muitos elementos éticos que o distinguem dos filósofos morais antigos.
Na época de Hobbes, pôs-se em xeque a autoridade dos filósofos
clássicos e da igreja, os propostos teleológicos da natureza e corroborados pela
física aristotélica e o apelo às leis naturais na moral e na política.
Nesta altura surge a primeira teoria ética subjetivista e naturalista:
comparado com os esclarecimentos dados pelas descobertas da física, onde se
estabelece que as cores são secundárias a quem as vê e não primárias aos
objetos, também as propriedades morais como a bondade ou o correto das
coisas não seria uma propriedade primária destas coisas.
Em Leviatã, Hobbes apresenta um quadro das ciências divididas em
dois grandes grupos: a) Filosofia Natural, que trata dos acidentes dos corpos
naturais, tal como a Física, e b) Filosofia Civil e Política, que trata das
instituições do estado e suas conseqüências sobre os direitos e deveres.
Para Hobbes, a Ética seria um estudo das paixões humanas e uma
subdisciplina da Filosofia natural.
À época de Hobbes, tendo a Física assumido o papel de ciência mestra e
portanto influenciar todo o arcabouço científico, a ética hobbesiana foi marcada
pelo mecanicismo.
Neste altura da história, frente aos desenvolvimentos e descobertas
científicas, a velha idéia grega de episteme, onde, antes de mudar, dever-se-ia
contemplar o mundo, Francis Bacon proclama que saber é poder, defendendo
assim que se domine a natureza. O conhecimento deveria estabelecer o
imperium hominis sobre o mundo natural.
O primeiro pressuposto ético hobbesiano seja o rompimento com a
possibilidade de um bem supremo. Não há fim último nem bem maior, como
era defendido por filósofos antigos.
Apesar de não haver a idéia de summum bonum em Hobbes, ele detecta
a morte como summum malum.
Sua negação do summum bonun se bseava na idéia que não deveria
haver um bem último, mas dever-se-ia buscar um bem contínuo.
Hobbes via a felicidade como a realização dos desejos, de um objeto a
outro. E aqui, o homem seria levado a agir por suas paixões.
O homem, na busca da sua autopreservação, buscando preservar sua
vida com Ações egoístas. O medo é autopreservativo e uma das paixões mais
fortes.
No estado civil, a lei do estado é a medida do bom e do correto.
ESTADO DA NATUREZA: experimento mental de Hobbes, onde se
apreende uma sociedade sem estado, pré-moral, pré-social. A humanidade vivia
em igualdade tanto mental como fisicamente. E a medida para esta afirmação
de Hobbes se baseia no fato de que todos nós podemos tirar a vida uns dos
outros.
E assim, no estado de natureza reinaria o medo de ser morto
violentamente. Competindo um homem contra o outro, todos contra todos.
Aqui nada poderia ser tido como injusto ou fora-da-lei.
Neste Estado da Natureza, porém, existe o direito natural, onde cada
indivíduo tem o poder e o direito de se auto-preservar. Impera o egoísmo
psicológico.
Porém, por Hobbes, não haveria indústria, comércio, relações sociais.
Apenas o medo de morte violenta. O homem seria embrutecido, teria uma vida
solitária e curta. A vida focaria comandada pelas paixões, maiormente o medo
da morte.
A primeira lei fundamental da natureza seria “procurar a paz e mantê-
la”.
A segunda lei é em querendo-se a paz, um homem e os outros, abrir-se-
á mão ao direito a todas as coisas e só terás direito à liberdade que permitires
que os outros também a tenha, ou a regra de ouro – “não faças ao outro o que
não desejas a ti”; e esta regra de ouro, para Hobbes, leva ao CONTRATO.
CONTRATO: A transferência mútua de direitos, ou PACTO. Esta
especulação hobbesiana justifica, no escopo de suas idéias, a formação de um
estado. Todos viveriam melhor e mais se compactuassem do estado.
A terceira lei ordena que, em fazendo o PACTO, que os homens o
sigam. JUSTO é manter-se os pactos feitos. E cabe ao estado supervisionar e
manter os pactos.
Deve-se restringir a tendência humana a inveja, desconfiança e reforçar
a gratitude, obedi6encia à autoridade. Aqui percebe-se que a ética de Hobbes é
DEONTOLÓGICA, ou seja, norteada por regras.
Dilema do preso: LER
Filósofos antigos usavam metáforas dos contratos com fins políticos,
justificando a existência do estado, enquanto os filósofos contratualistas atuais
utilizam estas metáforas com fins éticos, para justificar a adoção de princípios
de justiça.

Cap. 5.2 – Locke e a Ética baseada nos direitos naturais (humanos)

Locke, um utilitarista, não justifica sempre as regras morais por sua


tendência geral de produzir felicidade, mas sustenta, sim, que são “intuições”
autoevidentes. Seria aqui um antecessor do INTUICIONISMO. O
intuicionismo onde se coloca a ética como uma ciência em que, existindo em
nós uma faculdade moral, podemos apreender as verdades morais que não
podem ser empiricamente verificadas. E a estas verdades corresponderiam fatos
morais, matematicamente falando.
Enquanto Hobbes fundava seu contratualismo em leis naturais, Locke o
fazia em termos de direitos naturais. Direitos naturais são direitos morais e não
legais.
Ética, em Locke, consiste na “procura de regras e medidas das ações
humanas que levam à felicidade e aos meios de praticá-las. O fim disto não é
especulação e conhecimento de verdade, mas o correto e a conduta que lhe é
adequada.” Deste modo, a ética poderia ter regras de conduta a partir de
proposições autoevidentes por suas consequências, sendo estas proposições tão
autoevidentes quanto aquelas da matemática.
Locke, como empirista, critica frontalmente Descartes, e defende que
todo conhecimento é fruto de experiência.
Defende ainda que não há poder inato ou de origem divina, o que
conduz a uma visão díspar do absolutismo hobbesiano (defensor do
absolutismo estatal do Rei, Thomas Hobbes criou uma teoria que fundamenta a
necessidade de um Estado soberano como forma de manter a paz civil).
Diferente do estado de natureza aventado por Hobbes, em Locke, os
homens neste estado já vivem em família e com certo ordenamento social, mas
sem poder central. Estavam em estado de perfeita liberdade para ordenar suas
Ações e regular as posses e as pessoas conforme os fosse apropriado, dentro
dos limites das leis da natureza e sem ter que pedir permissão ou depender da
vontade de qualquer homem. E estavam em estado de igualdade na medida em
que o poder e as posses de um é a mesma da de outro.
E os direitos naturais deste estado de natureza lockeano têm uma idéia
de que, embora o homem no estado de natureza tenha liberdade de dispor de
sua própria pessoa e de suas posses, não pode se destruir ou destruir qualquer
outra criatura em sua posse. Portanto liberdade sem licenciosidade.
Neste estado de natureza deve se auto preservar e preservar a
humanidade (os outros), e este último como dever moral e ético.
A lei natural, a razão (DIREITO NATURAL), para Locke, apregoa que
nenhum homem deve causar dano a outro, tanto em relação à vida, liberdade
ou posses. E obviamente ter os deveres correspondentes.
Locke, em sua obra, tem dois significados para propriedade: a) o
triângulo tem a propriedade de ter TRÊS lados e b) o sentido de posse. E Locke
acha que a pessoa possui a propriedade -a)- dos direitos naturais (intrínseca de
forma natural). O direito à propriedade no segundo sentido -b)- por exemplo, só
o é garantido de forma derivada. Portanto as pessoas possuem, de natural, os
direitos naturais.
Locke define “pessoa” como um ser inteligente, pensante que tem razão
e pensamentos e pode considerar a si mesmo, a mesma criatura pensante mas
em diferentes situações e lugares. Poder-se-ia concluir, a partir desta, que
Locke considera “pessoa” e “ser humano” como categorias diferentes.
E neste estado de natureza lockeana, inexoravelmente surgirão
imbróglios, como indivíduos querendo se beneficiar ou beneficiar amigos. E aí
Locke sugere invocar outro direito natural, qual seja, cada ser humano tem o
direito de punir seu ofensor e ser o executor do direito de natureza.
Em Locke, todo ser humano em quando ser humano (MAS NÃO
MEMBRO DE UMA SOCIEDADE), tem o direito de castigar um crime e
reivindicar reparação.
E ao passar do estado de natureza ao estado civil, diferente de Hobbes
onde estes, e outrs, direitos haviam que ser suprimidos em prol dos direitos
coletivos, em Locke estes devem ser legitimados em contrato perante os outros
e o governo. O contrato NÃO CRIA DIREITOS NOVOS.
Assim, entrar para uma sociedade civil é ter alguém que julgue as
violações dos direitos, de um ponto de vista IMPARCIAL, e puna a quem os
viola.
Daí a divisão dos poderes, presente em Locke, de legislativo, executivo
e judiciário.
E os governantes podem ser depostos caso violem as leis que protegem
a vida, a liberdade e a propriedade individual.

Hobbes: ESTADO DE NATUREZA - igualdade e liberdade dos


indivíduos, mas medo constante de morte violenta, de guerra de todos contra
todos e por conseguinte uma vida solitária.
Locke: ESTADO DE NATUREZA - igualdade e liberdade dos
indivíduos, de forma a haver sociabilidade entre os indivíduos.
Hobbes: CONTRATO - transferência completa dos direitos ao
soberano.
Locke: CONTRATO - pacto a fim de garantir os direitos pré
existentes, em relação aos outros indivíduos da sociedade e ao governo.
Hobbes: ESTADO CIVIL - Estado e soberano com poderes absolutos a
fim de garantir a segurança, inibindo assim o egoísmo de cada indivíduo com a
mão forte do estado.
Locke: ESTADO CIVIL – O estado garante os direitos naturais e cria
regras para assegurar a felicidade.
A igualdade de Locke, diferente da de Hobbes, não é social e mental
mas moral (direitos e obrigações). A todos, em Locke, e diferente de Hobbes, é
garantido o direito de não interferência, ou seja, de inviolabilidade individual.

Direitos positivos (Ações benevolentes): direito a vida, a alimentação,


em se vestir, não passar frio, ser ajudado quando em apuros, etc.
Direitos negativos (Não interferência): Direitos ativos- de se fazer
aquilo que se escolha, direito de ir e vir, de não ser preso. Direitos passivos-
direito a ser deixado em paz, não ser incomodado.
Nas palavras de Locke, “embora a terra e as criaturas seja comuns a
todas as pessoas, cada homem tem uma propriedade em sua própria pessoa”.
Disto dito, se extrai que cada indivíduo tem um talento só seu e de onde ele
pode, por exemplo, extrair seu sustento.
Dentro dos direitos (tanto positivos quanto negativos), elencados por
Locke, o direito à propriedade é o mais discutido, por buscar se definir se é
um direito absoluto, relativo, universal.
O direito à propriedade não é o direito à exclusão de outra pessoa ou de
seu uso por ela? Do direito de propriedade deve, necessariamente, resultar
algum trabalho. O trabalho é a origem e o fundamento da propriedade. E é pelo
trabalho sobre, por exemplo uma macieira na busca de colher as maçãs, é que o
homem passa a ser proprietário daquela maçã que antes era do comum. Não é
roubo colher para si, a fim de aplacar sua fome, o que antes fazia parte da
coletividade.
O homem pode apenas se apossar do coletivo enquanto para satisfazer a
sua necessidade. O restante ainda pertence ao coletivo. E nisto se baseia o
direito à propriedade: o necessário à sobrevivência. Assim se justifica
eticamente a propriedade privada. - Aqui temos um Locke tanto socialista
quanto capitalista -.
Na declaração dos direitos americana, seguindo Locke, numa primeira
versão desta, Thomas Jefferson citava os direitos naturais lockeanos: direito à
vida, à liberdade e à propriedade. Posteriormente ele reconhece que a
propriedade é um meio à felicidade, e se substitui o último dos termos de Locke
por justiça para todos e direitos inalienáveis.
Os direitos humanos (ou naturais) são a base inspiradora da Declaração
Universal dos Direitos Humanos. É mérito de Locke ter articulado, a partir de
princípios do direito natural, um conjunto de direitos fundamentais, tais como a
vida, a liberdade e a felicidade.
Uma ética deontológica em que os direitos dos outros devem ser
respeitados sempre, difere da ética utilitarista de Locke onde a defesa aos
direitos naturais se deve ao fato de eles gerarem felicidade.
Por Locke: “O homem, nascendo... igual a todo outro... tem o poder de
não só preservar a sua propriedade - vida, liberdade, bens -... mas também de
julgar e castigar as infrações destas leis por outros, conforme estiver persuadido
da gravidade da ofensa, punindo mesmo com a morte para os crimes mais
horrendos e que assim venha a se exigir, conforme sua opinião. Contudo, como
qualquer sociedade política... deve preservar a propriedade e, para isto,... haverá
sociedade política somente quando cada um dos membros renunciar ao próprio
poder natural, passando às mãos da comunidade em todos os casos em que não
lhe impeçam de recorrer às leis por ela estabelecidas.”.
Assim Locke legitima o ESTADO através dos direitos naturais e seus
deveres.

Cap. 5.3 – Hume e a Ética baseada em Sentimentos Morais

Hume criticou fortemente a idéia lockeana de contrato e a classificou


como ficção filosófica. De fato, critica todos os contratualistas por se basearem
em nenhuma realidade.
Hume dá muito valor aos sentimentos morais, às emoções, sendo visto
como um eticista das virtudes, contrariamente a outros filósofos mais modernos
que buscaram fundar a moral em normas, como o Princípio da Utilidade ou o
Imperativo Categórico.
Baseava sua filosofia num “sentimentalismo moral”, do que se entende
qualidades apreendidas nas Ações que geram aprovação e felicidade do agente
do ato moral. Aquilo que leva à desaprovação é o mal moral.
Aprovação e Desaprovação brotam ou não dos interesses, das
vantagens, da felicidade do agente, onde a sensação de prazer é a fundação de
todos.
Neste escopo, a benevolência é por todos encarada como um bem
natural a ser aprovado. E a benevolência universal, ou querer o bem de outros,
pode ser objeto de aprovação de todos.
Hume usa, então, a aprovação para considerar algo bom no sentido
moral. Diz: “aprovar um caráter é sentir um contentamento original diante dele,
enquanto desaprová-lo é sentir um desprezo.”. Deste modo é porque
aprovamos, por exemplo, o caráter honesto de uma pessoa íntegra, é que nós
mesmos sentimos um tipo especial de satisfação em agir moralmente.
Gostamos de distribuir algo de maneira igualitária ao recebido, justa.
Hume certamente foi um projetivista, afirmando que nada é bom ou
mau, mas a mente que assim os classifica. Por Hume: “a razão descobre como
os objetos realmente são, mas o gosto os enfeita sob a nossa ótica
individual.”. Portanto, para Hume, conceitos morais são projeções da mente
sobre o mundo.
Usando como exemplo o assassinato por exemplo, ao analisá-lo, Hume
é capaz de definir paixões envolvidas, bem como motivos, vontades e
pensamentos. Nada mais há neste caso. Não encontraremos um vicio sequer até
dirigirmos nossa reflexão ao nosso íntimo e darmos um sentimento de
desaprovação que se forma em nós contra esta Ação. E por ser isto mediado
pelo sentimento, apreende-se não haver razão envolvida. E portanto a moral
não se refere ao ato ou objeto, mas está em nós mesmos. O vício e a virtude,
tal como as cores, o calor, não são qualidades do objeto em si, mas estão dentro
da nossa mente.
Para Hume, a razão, então, é inativa. Ele recusa qualquer racionalismo
moral, qualquer fundamento moral da razão: “a razão é a descoberta da verdade
ou falsidade, o que consiste no acordo ou desacordo com a relação real das
ideias ou com a existência real dos fatos”. E este argumento de Hume se
entende frente às seguintes explicações:
i) Hume segue a tradição empirista, onde todo conhecimento deriva
das experiências.
ii) Hume nega a educação como método a se atingir as verdades
morais.
iii) A psicologia humeana se baseia no par desejo/crença, onde sendo
nossas crenças verdadeiras ou falsas, sendo elas adequadas, nós
buscamos adequar o mundo aos nossos desejos. A crença deve se
adequar ao mundo enquanto o mundo adéqua-se aos desejos. As
crenças almejam a verdade e os desejos sua realização, e portanto as
crenças se adéquam ao mundo e o mundo se adéqua aos desejos.
iv) Com relação ao papel da razão no domínio prático, para Hume, esta
é vista como instrumento para se calcular como se atinge aquilo que
é dado pelos desejos ou interesses do agente.
O Argumento da Praticalidade diz: “a moral excita as paixões e produz
ou previne Ações. Já a razão é completamente impotente neste particular. Daí
se apreende que as regras da razão são impotentes frente a moral.”.
Podemos sintetizar tal argumento:

p1) a moral influi sobre a Ação


p2) a razão, em sendo inativa, não tem nenhuma influência sobre
a Ação.
c) as regras da moralidade não são frutos da nossa razão.

Com este argumento, apesar de demonstrarmos que as Ações não


derivam da razão, elas não são contrárias. Mas demonstra que a razão não
estabelece aquilo que é moralmente relevante. E Razão é escrava da paixão.
Portanto agir imoralmente não é agir irracionalmente.
Não sendo derivadas da razão, para Hume, as distinções morais são
derivadas do senso moral. Aqui, os sentimentos são tão mais importantes na
vida moral que a razão. E outros termos, a moral é sentida e não julgada.
Para Hume, a origem da moralidade é a sympathy. Em sendo as mentes
de todos os homens similares, o movimento de uma carrega as outras. Assim,
quando se percebe os efeitos de uma paixão na voz de uma pessoa, passa
imediatamente a sentir esta mesma paixão. Nós somos sensíveis aos efeitos da
paixão, e elas dão, assim, origem à simpatia (sympathy).
A simpatia é uma espécie de contágio natural entre as paixões dos seres
humanos. Quando se percebe tristeza na expressão de uma pessoa afim,
imediatamente se sente o mesmo, por compaixão ou empatia (outra tradução
para sympathy). Para Hume, a simpatia é a mais notável de nossas qualidades.
A simpatia, portanto, antes de ser um sentimento moral particular, é a
capacidade de sentir o que os outros sentem. Poder-se-ia chamar a isto de
PRINCÍPIO DA SIMPATIA.
A simpatia pode ser tida como a fundação da moralidade na medida em
que é a partir dela que se fundaram todos os outros fenômenos morais.
“Adam Smith entende sympathy como um tipo de simulação onde a
compaixão que sentimos pela miséria alheia está presente em todos e por meio
da imaginação podemos simular a situação com nós mesmos.”
Voltando a Hume, ele diz que as impressões derivadas das virtudes são
agradáveis e as derivadas dos vícios são desgradáveis.
O senso moral é o próprio sentimento de aprovação do caráter virtuoso:
nada há aquém ou além disto.
A benevolência, ou o interesse de promoção da felicidade humana,
embasa a harmonia das famílias, a ordem social, as amizades. É uma virtude
natural.
Já a virtude artificial (justiça) é útil em outra via, pois seu benefício está
em garantir a segurança das pessoas e da propriedade.
A justiça, como virtude artificial se baseia em:
i) uma Ação virtuosa só o é por ter um motivo virtuoso;
ii) haveria uma circularidade viciosa se a motivação à virtude fosse
o senso de dever;
iii) portanto, deve existir um motivo independente a cada Ação
virtuosa. E qual seria o motivo à honestidade?
iv) À honestidade não pode ser o amor próprio;
v) Nem o interesse público ou a benevolência universal;
vi) Muito menos a benevolência privada ou a boa vontade em
relação ao respeito aos direitos de propriedade de outrem;
vii) Assim, não há um motivo para Ações honestas que não a própria
honestidade;
viii) A solução reside em que o senso de justiça ou injustiça não
deriva da natureza, mas surge artificialmente, através da
educação e convenção humanas.
Por conseguinte, dizer que a justiça não é natural é dizer que ela á fruto
de educação e da socialização.
Hume é tido como um filósofo da ÉTICA DAS VIRTUDES, onde
virtude seria uma Ação mental que gera um sentimento agradável de aprovação
no executor desta Ação.
Para Hume, virtudes sociais são benevolência, justiça, honestidade,
generosidade, fidelidade, etc. Estas virtudes proporcionam bem estar geral e
geram felicidade (portanto estas virtudes se justificam de forma utilitarista).
Existem virtudes tidas como qualidades pessoais, como a paciência,
sobriedade, prudência. Outras virtudes agradáveis a nós mesmos, como o
humor, coragem, tranqüilidade.
A justiça, enquanto virtude artificial, surge da necessidade de respeito
pelo interesse público.
Quanto ao problema do ser/dever ser levantado por Hume, onde,
basicamente ele levanta como problemático o paralelo que outros filósofos
fizeram ao tentar solucionar o problema ético é/não é através do dever/não
dever (is/ought question), poder-se-iam extrair duas leituras:
a) trata-se da Lei de Hume, onde o abismo lógico entre ser e
dever ser torna a proposição inconcebível
b) não há necessidade de se inferir um dever a partir do que é,
pois os juízos que expressam deveres podem ser analisados
em termos de proposições que expressam o que é o caso.

Existem sentimentos morais negativos mas relevantes na vida da


pessoas:
a) sentimentos morais positivos- simpatia, compaixão, amor.
b) Sentimentos morais negativos- vergonha, culpa, remorso,
ressentimento.

FUNDAMENTAL : O direito natural parte do pressuposto do que é correto,


do que é justo e traduz um direito fundado na natureza das coisas. Seu princípio
básico é a existência de um direito comum a todos os homens, daí o seu caráter
ser universal. É também imutável, pela imutabilidade da natureza humana e o
seu conhecimento ocorria pela própria razão do homem. Foi imaginado como
um direito natural cujo papel era o de regular o convívio dos seres humanos.
Essa era a ideia básica e objetiva de Locke e que depois caracterizou o
pensamento jusnaturalista.

O direito natural é constituído por princípios inerentes à própria essência


humana e por isso responde por princípios como: “dar a cada um o que é seu”,
“o bem deve ser buscado sempre”, “respeitar a personalidade do próximo”,
"respeitar a vida e a propriedade", entre outros.

O direito legal, não hipotético, de Bentham, posteriormente denominado de


direito positivo, era fruto de atos voluntários da vontade dos homens e da
instituição de ideias com regras e princípios, a maior parte escritas, emanadas
do Estado.

Algumas diferenças entre esses dois direitos são dignas de nota: enquanto que o
natural nasce da razão, sendo supostamente superior ao positivo, este tem
origem em decisões voluntárias e o Estado como agente, o qual passa a tomar
as decisões; o natural é universal e imutável ao passo que o positivo é mutável
com a mudança das leis, é temporal e tem uma base territorial, o que não ocorre
com o direito natural; finalmente, a estabilidade e a ordem na sociedade são o
fundamento do direito positivo, enquanto que o natural se liga a princípios
abstratos e que correspondem à ideia de justiça.

Interessante observar que o direito natural busca estabelecer o que é bom


fundamentando-se em um critério moral enquanto que o direito legal (positivo,
civil) procura estabelecer o que é útil baseando-se em um critério utilitário.
O direito natural é considerado superior ao direito positivo, particularmente
pelos jusnaturalistas, a ponto de entenderem que um direito positivo só se
transforma em direito se obedecerem a um preceito natural. Esse conceito de
superioridade teria nascido pela inspiração cristã do direito natural na idade
média, particularmente após Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino.

É conveniente lembrar que a ideia de direito natural ocorre desde a Grécia


antiga, tendo esse direito sido várias vezes abordado por Aristóteles, pelos
estoicos de Zenão e por vários outros filósofos, um deles Heráclito de Éfeso
com sua célebre frase: “Todas as leis humanas se alimentam de uma, qual seja,
a divina; esta manda quando quer, basta a todos e as supera”.

Também a célebre e poeticamente atraente passagem de “Antígona”, na


tragédia de Sófocles, na qual o tirano Creonte tenta proibir o sepultamento de
Polinices, irmão de Antígona, cobrando obediência a uma determinação do
tirano. Antígona se insurge contra Creonte alegando que tal determinação não
havia sido promulgada por Zeus e reivindicando a superioridade do direito
natural sobre o direito legal. Mulher forte que era, lança terra sobre o cadáver, o
que significava, à época, o início do sepultamento.

Cap. 5.4 – O utilitarismo hedonista de Bentham

O utilitarismo atingiu inúmeras formulações, sendo a mais clássica


conhecida a chamada utilitarismo hedonista.
Esta se pautava na máxima de que o maior prazer Possível é sinônimo de
felicidade e para ela nossas Ações são direcionadas.
Nesta linha, Jeremy Bentham a natureza nos colocou entre dois mestres: o
prazer e a dor. Tudo o que fazemos seria direcionado à busca do prazer e a fim
de evitar a dor.
Na ética utilitarista, então, não se coloca a razão (Aristóteles) ou a
autonomia (Kant) como determinante da moral, pois assim se restringiria as
considerações morais ao ser humano.
Além disto, o utilitarismo é uma ética consequencialista, ou seja, julga as
Ações por seu resultado (se positivo, a Ação deve ser mantida, se negativo não
mais deve ser praticada).
Bertham criticou sobremaneira as tentativas de fundar, como em Locke, a
moral nos direitos naturais. Para ele, os direitos sempre são os direitos legais,
os únicos reais, são as regras emanadas das leis e de um governante que garanta
que estas leis sejam respeitadas.
E nesta linha, trabalha com o Princípio da Utilidade a fim de estabelecer
os direitos legais (ou positivos). Este princípio se funda em considerar uma
Ação correta se esta aumenta a felicidade, isto é, o PRAZER. Este princípio,
então, se funda em aprovar uma Ação que aumente a felicidade da parte
interessada e em desaprovar aquela que diminui esta felicidade. Assim se testa
legitimidade das leis positivas, das instituições públicas, das formas de governo
e de suas políticas sociais e econômicas.
Apesar de Bentham ter sustentado que a Utilidade é o princípio da
SUPREMA MORAL, negou que fosse possível uma prova para isto. Disse:
“aquilo que se usa para provar algo não pode, ele, mesmo, ser provado. Entra-
se assim numa espiral onde a cadeia de provas não se conhece o começo”. E
este conceito, desde Aristóteles era defendido para muitas coisas das quais se
exigia prova.
Então Bentham entendia como Utilidade aquela propriedade que qualquer
objeto ou coisa tem de produzir benefícios, vantagens, prazer, bondade ou
felicidade (tudo a mesma coisa para Bentham) para um indivíduo ou uma
comunidade.
* Os princípios contrários ao Utilitarismo era o da Simpatia (Hume) e
do Ascentismo (hindu).
Bentham considera a Simpatia, de Hume, contrária ao Utilitarismo pois
ela é apenas a tendência de uma pessoa em aprovar ou desaprovar uma Ação,
sem considerar as consequências desta Ação. E o Asceticismo é absolutamente
contrario ao prazer.
Com relação à Simpatia, poder-se-ia aventar que o Utilitarismo também
aprova ou desaprova uma Ação frente à possibilidade de só aprová-la quando
se vislumbram as melhores consequências. Bentham, porém, reforçou a idéia de
que o prazer é a única forma de se medir o sucesso de uma Ação. Inclusive
criou formas de se medir isto quantitativamente.
Estabeleceu que o prazer pode ser medido por seis critérios: 1)
intensidade; 2) duração; 3) certeza ou incerteza, 4) proximidade ou não; 5)
fecundidade; 6) pureza.
E colocando as Ações nesta escala e frente ao resultado, a maior
pontuação nortearia a Ação a ser seguida.
Pensava na ética Utilitarista como base às reformas sociais e
institucionais.
Desenvolveu o conceito da prisão circular panopticon.
Surgiram complicadores à aplicação do Utilitarismo em níveis
complexos, e surgiram por exemplo, o paradoxo de hedonismo, em que
estabelece-se que, muitas vezes o prazer buscado nos escapa, e, se quisermos
nos manter à caça deste, muitas vezes devemos nos afastar do cálculo proposto
pelos seis critérios, pois estes nos atrapalharão na busca deste prazer.
Bentham, por ter escrito sobre princípios morais de humanos e não
humanos, muitas vezes está encabeçando as ideias dos defensores dos direitos
dos animais. A SENSCIÊNCIA animal foi claramente defendida por Bentham.
sen·ci·ên·ci·a
(senci[ente] + -ência)
1. Qualidade do que é senciente.
2. Capacidade para ter sensações ou impressões.
sen·ci·en·te
(latim sentiens,entis, particípio presente de sentio, -ire, sentir)
1. Que sente. = SENSÍVEL
2. Que tem sensações ou impressões (ex.: um animal é um ser senciente).
Senciência é a "capacidade de sofrer ou sentir prazer ou felicidade".
Pode ser entendido como consciência animal
5.5 - O utilitarismo eudaimonista de Mill

Mill reconhece que além do prazer, as virtudes, o conhecimento, todos


têm valor intrínsceco. Daí poder-se-ia classificá-lo como um filósofo
utilitarista eudaimonista hedonista. Reconhece no dialogo chamado Protágoras
que Sócrates, ali, se coloca contrário à doutrina ética utilitarista. Afirma que
“saúde, força, riqueza, conhecimento, virtude são não apenas bens em si, mas
facilitam e promovem em se atingir o bem, tanto um bem igual a estas virtudes
quanto a outros bens”. Assim, para evitar-se inconsistências em sua obra,
melhor seria simplificar a sua classificação para utilitarismo eudaimonista.
Critica severamente a máxima da Ética das Virtudes, que afirma que um
ato é bom se for feito por alguém bom (ética estóica), afirmando que a virtude
em si não é suficiente para uma vida feliz. Afirma que a Ética das Virtudes erra
ao avaliar a Ação pelo caráter do agente.
Para um utilitarista, seguindo este raciocínio, o objetivo da virtude seria
maximizar a felicidade, e só se analisando os resultados das Ações é que se
pode julgar que um caráter é bom.
Para o Utilitarismo ou o Princípio da Maior Felicidade, sustenta que a
medida das Ações serem corretas é dada ao se analisar a felicidade que ela gera,
onde Ações erradas produzem o contrário da felicidade.
Mill fala na Maior Felicidade, e Bentham não tem esta preocupação visto
considerar que é a felicidade da parte que está em questão. E aqui Mill
claramente defende que o Utilitarismo não defende a conveniência do próprio
agente.
O Utilitarismo, em sendo teleológico, sustenta que o summum bonum ou
maior bem (felicidade) é a felicidade, e que este bem final deva ser atingido
através de Ações moralmente corretas, mas que a medida a ser considerada uma
Ação moralmente correta é o resultado a ser atingido (o fim), pois se gerart
felicidade é moralmente correta.
Mill demonstra forte influência de Epicuro e o defende de ser classificado
como Hedonista Vulgar.
Reforça também o conceito de consideração qualitativa dos prazeres e da
superioridade dos prazeres intelectuais sobre os sensíveis. “É melhor ser
Sócrates não satisfeito que um tolo satisfeito.”
Mudanças na teoria hedonista de Bentham:
1) ressalta a importância do caráter e das virtudes;
2) introduziu o elemento qualitativo no valor dos prazeres;
3) sustentou a compatibilidade entre os direitos morais e o Utilitarismo.
Mill reconhece as virtudes morais no Utilitarismo, afirmando que
Utilitarismo só atingirá seus fins frente à nobreza de caráter. Isto é um elemento
estóico incorporado por Mill ao utilitarismo, e se deve ao fato de ele ter
reconhecido as virtudes morais como importantes ao Utilitarismo.
Os seres humanos podem procurar a perfeição própria como um fim em
si. Reconhece que além de prazer, procuramos excelência moral. E devido a
isto, as virtudes podem ser desejadas por si mesmas e têm um valor intrínseco.
As virtudes são parte da felicidade, e a mais importante para isto é a virtude
intelectual. Sustenta Mill que as qualidades do caráter, antes de serem boas em
si, contribuem em se atingir um prazer. Mas não nega que as virtudes possam
ser desejadas em si mesmas.
E isto se deve que a felicidade em si é um TODO composto de vários
elementos, e estes elementos, às vezes muitos, podem ser desejáveis em si.
O Utilitarismo está longe de ser um egoísmo ético, pois ser Utilitarista
foge da idéia do Egoísmo em se buscar apenas a maximização da própria
felicidade, indo o utilitarista a uma busca que seja considerada a partir de um
espectador benevolente, imparcial e desinteressado.
Mill procurou hierarquizar os prazeres. Os prazeres intelectuais seriam
qualitativamente melhores que os prazeres sensíveis.
E o padrão por Mill utilizado para avaliar qualitativamente os prazeres se
pauta em que os prazeres são tão melhores quanto mais forem preferidos pelas
pessoas intelectuais, bem informadas e bem educadas.
A despeito de Bentham, Mill provou o utilitarismo por analogia: o som é
Audível porque se pode ouvi-lo, as cores são visíveis porque se pode vê-las, e
assim a felicidade é o fim último das Ações pois as pessoas desejam-na como
tal.
O não cumprimento das prescrições do Princípio da Utilidade recebe uma
punição interna, e cuja intensidade se atrela à violação do dever: se somos
descobertos em uma mentira, sentimos vergonha e depois culpa. Aqui, este
problema da consciência, para Mill, não é inato, mas inculcado através da
educação moral.
Mais importante que uma sanção externa, para Mill seria uma sanção
interna, pois seria garantido, através desta, o cumprimento do dever moral.
Pois, em sendo todos iguais sob a ótica dos interesses e na busca da felicidade,
o bem de um indivíduo não está em conflito com o bem de outros, com a
maximização da felicidade para o maior numero de pessoas Possível. A
cooperação entre todos leva a um cuidado recíproco, à felicidade. E esta
convicção de que se está em uma sociedade, leva ao cumprimento dos deveres.
O Utilitarismo de Mill é acusado de não possuir critérios claros à
distribuição dos bens porém a justiça, estando a serviço dos interesses da
sociedade e nenhuma outra explicação poder ser aceita como fundamento da
justiça, deve-se adequar as nossas condutas em regras que permitam a que
todos os seres racionais possam assumir estas condutas como beneficiarias de
seus interesses coletivos.
Os deveres jurídicos não são nada mais do que exigências do princípio
supremo da moralidade. Fazem a distinção entre deveres perfeitos- que se
fundam nos direitos de outras pessoas- e os deveres imperfeitos- cujo
cumprimento fica a critério do agente escolher a circunstância mais apropriada.
Justiça é o nome técnico do conjunto de deveres perfeitos que seguem o
Princípio da Utilidade.
A primeira ideia, então, associada a justiça e de que seja qual for o
significado da palavra justiça, sempre será compatível com o critério de maior
felicidade. Uma das primeiras noções evocadas pela justiça é a de legalidade,
onde justo é sinônimo de legal.
A segunda ideia associada a justiça diz respeito aos direitos morais das
vida, à segurança, à liberdade, ou seja, algum direito a que a sociedade deve
defender.
A terceira ideia seria a noção de mérito que, de acordo com Mil, é a
forma mais clara e relevante de justiça. Mas como mensurar merecimento?
Segundo Mill, fazer o bem mereça-se o bem e o mal, o mal.
A quarta noção se atrelaria à violação de promessas ou de palavra dada.
Uma quinta seria a noção de a imparcialidade estar sempre atrelada à
justiça. Deve-se julgar as pessoas da mesma forma, sem se privilegiar uma das
partes. Já Bentham afirmava que CADA UM VALE POR APENAS UM.
Mill mostra que justiça está intimamente atrelada à ideia de bem comum.
Mas não basta tratar equitativamente a todos, mas é necessário pensar no bem
de todas as pessoas, pois isto é muito mais importante do que a soma de todos
os bens particulares.
O utilitarismo de atos defende que um ato é correto se este ato
magnífica os resultados; já o utilitarismo de regras defende uma regra é
moralmente aceita se traz os melhores resultados para a sociedade, ou uma
Ação deve ser permitida ou até obrigatória se ela traz mais consequências boas
que más.
Ainda sobre o utilitarismo de regras, regras morais tais quais não
roubarás, ou não mentirás, não matarás, entre outras, precisam sempre ser
adotadas pois sempre trazem os melhores resultados.
Mill afirma não haver incompatibilidade entre no princípio da utilidade e
os direitos individuais: “...que o único fim a que se justificará... interferir na
liberdade individual é a autoproteção e que o único propósito pelo qual o poder
pode ser corretamente exercido sobre qualquer membro de uma comunidade
civilizada, contra a sua vontade, é no sentido de prevenir danos aos outros. No
que diz respeito a si mesmo, a independência do indivíduo é absoluta por si
mesmo. Sobre seu corpo e mente, o indivíduo é soberano.”. Aqui observa-se
que Mill não é um defensor do individualismo extremo.
Defendeu a igualdade de homens e mulheres: foi um feminista.
Insiste em se manter distinção entre as ciências que tratam de o que é
(ciências naturais e história) e as que tratam de o que deve ser (artes, moral e
política). E este é o espírito de “Lei de Hume”.
Hume, em relação ao “bom selvagem” de Rousseau, detecta uma
idealização, pois Mill aponta que selvagens não apresentam nenhum traço de
bondade natural. E a natureza não é um reino idílico, e apresenta suas próprias
maldades.

Cap. 6 – A Metafísica dos Costumes de Kant e o idealismo Alemão

Aristóteles e Kant, sem sombra de dúvida, foram os pensadores que mais


contribuíram para o pensamento filosófico da moral.

6.1 – A Filosofia Transcendental: a Ética entre o Empirismo e o


Racionalismo

Kant, em seu Fundamento da Metafísica dos Costumes tem por objetivo


encontrar o princípio supremo da moral.
Hume e seus sentimentos morais baseados na simpatia, foi um dos
filósofos que mais influenciaram Kant. E este constrói sua filosofia superando
tanto o empirismo quanto o racionalismo, inaugurando uma escola chamada de
criticismo ou filosofia transcendental.
Conhecimentos que independem da experiência, Kant chama de a priori e
os empíricos são os a posteriori. Os a priori seriam uma regra geral, são
absolutamente independentes de qualquer experiência. Os puros são a priori.
Kant aceita parcialmente as teses empiristas e racionalistas.
O termo transcendental, diferente do conceito de “além da experiência”,
se refere, em filosofia, a uma mudança no eixo de discussão desta filosofia,
onde o importante não mais é conhecer o ser, mas como conhecer o ser.
Transcendental se refere ao modo como conhecer algo, e
não em simplesmente conhecer este algo.
*Kant definiu três tipos de juízo:
O juízo analítico a priori : Aquele que explica uma definição.
O juízo sintético a posterior : Aquele juízo que resume uma experiência
científica ou empírica.
O juízo sintético a priori: Aquele que é formada independentemente de
qualquer experiência e por uma espécie de intuição intelectual

Como são Possíveis juízos sintéticos a priori? – Primeiramente Kant se


ateve em definir se há tais juízos na metafísica. No caso da ética, constatado um
imperativo categórico, poder-se-ia compará-lo com um juízo aritmético?
Todo conhecimento moral começa com a experiência moral, o que não
necessariamente se segue de observações empíricas. Por ex., todos nós sabemos
que existem coisas boas e más. Mas podemos saber, a priori, que sofrer dois
danos morais é pior que sofrer apenas um? Não é Possível ter esta noção sem
empiria? Para Kant, além de ser possível, este é o conhecimento sintético a
priori e trata-se de um Imperativo Categórico.
Muito influenciou Kant o holandês Benedito Espinosa. Na obra ética
deste autor, Espinosa, intitulada Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras,
através de demonstrações matemáticos, ele define o fim último do homem: a
beatitude. Na parte I, “De Deus”, Spinoza trata da substância (Deus ou a
Natureza). Daí o famoso panteísmo spinoziano: “Deus é uma coisa extensa,
Deus não é transcendente ao mundo, mas imanente. Na parte II, “Da natureza e
da origem das almas”, o pensamento é um atributo divino e as ideias são
conceitos da alma. Na parte III, “Da origem e da natureza das afecções”, trata
de ética; na parte IV, “Da servidão humana ou das forças das afecções”,
Spinoza examina a liberdade. Finalmente na parte V, “Da potência da
inteligência ou da liberdade humana”, Spinoza defende a ética racionalista. A
beatitude é uma participação da mente individual na mente divina.
A influência da ética estóica é clara em Spinoza, inclusive com
referências diretas a Sêneca. Porém há discrepâncias quanto ao suicídio, por ex.
O fim último, o bem supremo, a BEATITUDE, consiste, para Spinoza,
na contemplação humana da mente divina.
Não é a estrutura formal da ética de Spinoza que influenciou Kant. Na
verdade ele procurou refutar o panteísmo spinoziano para viabilizar seu projeto
ético da metafísica dos costumes.
Kant criticando Spinoza, reforça a ideia de que ser algo não significa
que este algo é. Como pode Spinoza saber que Deus é igual à natureza ou ao
mundo como um todo? Ou como pode Descartes saber que Deus judaico cristão
transcende o mundo como sendo um Ser Supremo, criador de tudo? Kant dizia
que não há como se saber. Apenas se pode postular por razão pura ou razões
morais.
Ao delimitar todo o conhecimento à experimentação, Kant corta todo o
panteísmo de Spinoza, quanto o dogmatismo metafísico de Descartes, que
pretende provar tanto Deus quanto a imortalidade da alma.
Kant não é empirista. Faz critica à ética que se fundamenta em
sentimentos morais, como a simpatia defendida como central à moral, por
Hume. Kant define que os sentimentos morais, antes de serem fundamentos
morais, são apenas receptividades para o prazer ou desprazer. Ou não podemos
ter o DEVER de amar aos outros. E ainda Kant diz que a filantropia, por ex.,
existe mesmo que existisse pouca simpatia no coração deste ou daquele.
Rousseau estabeleceu a liberdade como bem supremo, radicalizando o
contratualismo (de Locke, Hobbes). O pacto social, onde o povo é povo mesmo
antes de um soberano, é um pacto que garante a liberdade de cada um e de
todos igualmente. A fórmula é “cada um coloca sua própria pessoa e seu poder
sob a direção da vontade geral, e recebe, enquanto corpo cada membro como
parte indivisível.”. A liberdade natural, limitada às forças do próprio indivíduo,
encontra então sua expressão na liberdade civil garantida pela vontade geral. A
base do estado é formada pelas relações morais entre pessoas livres e iguais. “O
pacto fundamental, antes de destruir a igualdade natural, a substitui por
igualdade moral e legitima aquilo que a natureza poderia trazer de desigualdade
física entre os homens, que, podendo ser desiguais na força ou no gênio, todos
se tornam iguais por convenção e direito”.
A passagem da liberdade natural para liberdade moral é momento capaz
de tornar um homem realmente senhor de si, pois o impulso do puro apetite é
escravidão, e a obediência à lei que se estatuiu a si mesma é liberdade.

Kant definiu três tipos de juízo:


O juízo analítico a priori :
Aquele que explica uma definição3. Definição
• definição é o enunciado das características que permitem
delimitar ou reconhecer um conjunto qualquer de coisas, de
seres, ou de qualidades. A definição de uma coisa estabelece a
noção dessa coisa.
• Segundo Aristóteles (Tópicos 1, S, 101 a), uma definição é o
enunciado que formula a essência de um ser ou de uma coisa.
O juízo sintético a posterior :
Aquele juízo que resume uma experiência científica ou empírica.
O juízo sintético a priori:
Aquele que é formado independentemente de qualquer experiência e
por
uma espécie de intuição intelectual obrigatória.
O juízo sintético a priori coincide com a noção de postulado que
institui um paradigma científico e cultural4. Postulado
Do Latim postulare (particípio passado: postulatum), “pedir”.
• Sentido comum: posição declarada ou não, que constitui a base de
partida de um raciocínio.
• Em matemática, postulado é uma proposição não demonstrável
que o matemático “pede” para se aceitar como necessariamente
verdadeira, e da qual precisa para construir uma demonstração. Por
exemplo, o conceito de “espaço absoluto” de Newton foi um
postulado para a sua teoria da Dinâmica. Em Einstein, existem
vários postulados na teoria da relatividade.
• Moral: em Kant, os postulados da razão prática são as proposições
relativas à liberdade, à imortalidade da alma e da existência de
Deus – porque tanto a liberdade, como a imortalidade da alma e a
existência de Deus são proposições axiomáticas –, que a razão não
pode demonstrar, mas que baseiam ou fundamentam a
possibilidade moral.
Por exemplo, a mecânica de Newton foi resultado de um juízo
sintético a
priori, na medida em que foi um postulado — sujeito a contraditório
científico e de acordo com o princípio de falsificabilidade de Karl
Popper. O mesmo se passa com a teoria do Big Bang ou com a
idade
calculada do universo em 13,7 mil milhões anos-luz: são ambos
postulados que são contraditáveis e podem ser alterados a qualquer
momento.
A priori, a posteriori
O conhecimento a priori é o conhecimento absolutamente
independente
da experiência e opõe-se ao conhecimento a posteriori ou empírico.
Para Kant, as regras formais da lógica não são as únicas a serem
conhecidas a priori: o conhecimento que temos do mundo baseia-se
igualmente sobre elementos “puros” a priori, ou seja, sobre as
formas a
priori de sensibilidade1 nas quais os objectos nos são dados; e sobre
os
conceitos a priori do entendimento, graças aos quais os objectos são
pensados e a experiência é
Kant definiu três tipos de juízo:
O juízo analítico a priori : Aquele que explica uma definição3.
O juízo sintético a posterior : Aquele juízo que resume uma
experiência
científica ou empírica.
O juízo sintético a priori: Aquele que é formado independentemente
de
qualquer experiência e por uma espécie de intuição intelectual
Juízo analítico é aquele que atribui ao sujeito um predicado contido
formalmente no referido sujeito. A simples análise encontra no
sujeito
aquele predicado, podendo ser afirmado a seguir, judicativamente .
Juízo sintético, do grego syn thesis (= apôsto), é aquele que afirma
um
predicado que não está contido no sujeito, e que lhe é atribuído por
uma
outra razão qualquer.
- Juízo Analítico a priori (universal e necessário) – esta forma de
juízo
não amplia o conhecimento, só explica e é baseado no princípio da
identidade, ou seja, o predicado não é nada mais que a explicitação
do
conteúdo do sujeito. Ex: um triângulo tem três lados.
- Juízo Sintético a posteriori (não é universal, nem necessário) – esta
forma de julgamento amplia o conhecimento, pois realiza uma
síntese,
fundamentada na experiência.
- Juízo Sintético a priori (universal e necessário) – esta forma de
julgamento amplia o conhecimento e é formulado
independentemente da
experiência empírica. A experiência pressupõe o sujeito como
condição
de possibilidade, pois a forma do que sente ou pensa é o
fundamento do
Juízo Sintético a priori.

6.2 - A Filosofia Moral de Kant: a Metafísica dos Costumes

O projeto da metafísica dos costumes pretende apresentar os supostos


princípios a priori do direito e da ética, entendendo esta última como doutrina
das verdades.
Metafísica, para Kant: primeiro, ele pensa na Metafísica Dogmática
como aquela que procura provar a existência de Deus, a imortalidade da alma, a
liberdade. Descartes e Espinosa seriam metafísicos dogmáticos. Metafísica, em
Kant, também designa o a priori, onde uma dedução a priori é ma dedução
metafísica, ou que não pode ser apreendida por uma experiência empírica.
Espaço e tempo são formas a priori da nossa sensibilidade.
Kant sustenta, diferente de Locke e Hume, que nem todo conhecimento
advém da experiência. Para termos conhecimento são necessárias
representações dos objetos em nossa mente (intuição empíricas – objetos – ou
puras – tempo). São as formas puras do entendimento que organizam nossas
intuições dadas pela sensibilidade e as formas puras da sensibilidade e do
entendimento que possibilitam os juízos sintéticos a priori.
Algo é a priori, se for independente da experiência necessária e
universal.
O método analítico consiste em retroceder a partir da moral comum até
a busca do princípio deste saber. O método sintético usa a ideia de a partir do
saber filosófico aplica-se o princípio em casos particulares. Kant é um filósofo
analítico. Pensa que uma vez encontrado um principio geral da moral, quais
leis, virtudes, seguem dele.
Juízo analítico: quando o predicado está contido no sujeito
Juízo sintético: o predicado, por não estar contido no sujeito, este
deve ser informativo (quando aumenta nosso conhecimento) ou sua prova
depende de experiência.
Todos os juízos analíticos são a priori e não expressam conhecimento
no sentido estrito.
Já os juízos sintéticos podem ser a posteriori (aquele fruto da empiria) e
a priori (onde se pode saber o valor de verdade sem experiência prévia).
Para Kant, o princípio supremo da moralidade é um juízo sintético a
priori.
Compreendendo a Metafísica dos Costumes:
a) Na Critica da Razão Pura, Kant define fenômeno como a
maneira como o objeto se apresenta à realidade (sensibilidade
e entendimento) e noumeno que é a coisa em si (pensada
pela razão). Os fenômenos (objetos) estão conectados por
conexões causais. Kant não considerava a CAUSALIDADE
puramente, mas enxergava leis da natureza nas ocorrências.
b) Kant afirma que nós homens sabemos, a priori, que somos
livres e agimos a partir disto. Porém, isto não afirma que
exista moralidade nem seus Imperativos Categóricos.
É obrigado manter promessas Op=p
É possível manter promessas &p=p
OP=&p, ou se é obrigado a se manter promessas, é possível
as manter. Em termos kantianos: “se devo, então posso”.
c) Sendo a liberdade real, a moralidade não é mera ficção. Em
Kant, há apenas uma razão pura, mas com dois usos: teórico
e prático. A diferença está no domínio das leis naturais,
descritivas, e das leis morais, imperativas ou que prescrevem.
A prova efetiva da liberdade é a consciência da moralidade,
que é meio fundamental para se conhecer a liberdade.

Temos consciência da moralidade e por ela somos obrigados a nos


guiar.
Assim, a metafísica da moral se centra em estabelecer o princípio
supremo da moralidade, que está justificada a priori e dele deduzimos as
obrigações morais.

6.3 – As Criticas às Éticas Antigas Baseadas na Virtude e ás Éticas


Utilitaristas

Kant supera tanto o empirismo quanto o racionalismo, iniciando o


projeto de uma Metafísica dos Costumes.
Sobre a Ética das Virtudes (como a ética Teleológica de Aristóteles,
cujo fim direcionado pelas atitudes virtuosas é a felicidade – eudaimonia), Kant
declara que algumas das virtudes podem ser positivamente más, por exemplo
um assassino virtuosamente corajoso é pior.
Além disto, não admite que a felicidade possa ser o fim último que
justifica a moral. Kant aponta que por felicidade é algo natural empírico
baseado numa pluralidade de concepções. Por ex. um pedófilo sente-se feliz
realizando seu ato imoral.
Assim, em Kant, a prioridade de um ato para ser tido como moral é o
correto e não o bom, estabelecendo um novo paradigma: o dos modelos
deontológicos (ética direcionada pelos deveres e não pelas virtudes).
Kant critica o “célebre” método de Aristóteles de colocar a virtude
como a mediana de dois vícios. Mas considera esta mediana como algum valor
matemático, o que Aristóteles nunca afirmou. Inclusive Aristóteles que a
mediana, enquanto central em relação aos vícios, deve ser tomada
exclusivamente para uma virtude nossa, mas não à virtudes dos outros.
Quanto ao utilitarismo, ainda nos seus primórdios, Kant baseia sua
critica na afirmação de que uma Ação não pode ser tida como absolutamente
boa somente a partir de seus resultados, se, por exemplo, trouxer prazer ao
maior numero de pessoas; pois muitas Ações imorais tem este papel. Kant
afirma que o que é essencialmente bom nas Ações reside na atitude, seja
qual for o resultado. Existem regras morais que devem ser seguidas, seja qual
for o resultado ou as consequências.

6.4 – A Fundamentação do Princípio Moral: o Imperativo Categórico

Tentando estabelecer o princípio supremo da moralidade, Kant mostra


TRÊS proposições fundamentais:

1- a moral da Ação está em seu cumprimento por dever;


2- uma Ação desempenhada pelo dever não tem seu valor no
propósito a ser atingido, mas na máxima que o determina;
3- dever é a necessidade de uma ação executada por respeito à lei.

A ética kantiana sofreu influência do Pietismo, o que coloca em questão


se sua filosofia moral era completamente a priori.
“...nunca devo proceder de outra maneira senão de tal sorte que eu
também possa querer que minha máxima se torne uma lei universal.”. Ou seja,
para Kant, uma máxima deve valer a mim e a todos os outros seres
racionais. Este é o princípio supremo da moralidade, juízo sintético a
priori. (ser um juízo a priori, como Kant queria, é um problema pois é mais
uma regra que um juízo).
A investigação do valor moral de uma Ação passa por 3 passos:
1) estabelecer máximas, ou regras do agir;
2) testar estas máximas através do imperativo Categórico;
3) cumprir as normas que passarem no teste do Imperativo Categórico,
e através destes, adquirirem o caráter de leis práticas, às quais se
deva agir por puro respeito ao dever.

Uma lei prática deve ter o caráter universal, no sentido de que em


qualquer situação a lei deva ser cumprida. E podemos cumpri-la por dever ou
conformidade com o dever.
Kant define que agir moralmente é seguir a lei moral. Ele define como
uma máxima um princípio subjetivo do querer.
Uma ação praticada por dever não tem seu valor no seu propósito, mas na
máxima que a determina.
Kant testas as máximas frente aos Imperativos Categóricos. Os
Imperativos são mandamentos da razão, e devem ser exprimidos pelo verbo
dever. Estes Imperativos estão divididos em duas subclasses: a) Hipotéticos,
que representa uma Ação como necessária a se atingir um fim. Por exemplo, se
quiseres uma vida saudável pratique exercícios. b) Categóricos, onde a Ação
ordenada pelo imperativo é válida por si mesma, por exemplo não deves
cometer suicídio. É um imperativo (o categórico) válido por si mesmo, sem
referência a interações, fins ou consequências.
É através destes Imperativos Categóricos que se estabelece se as máximas
de Ação (princípios subjetivos do querer), que são regras subjetivas do agir,
podem ser consideradas leis práticas. O Imperativo Categórico é a metarregra (e
um metaprincípio), ou a regra das regras. Através destes é que se decide quais
máximas tornar-se-ão leis.
O princípio moral supremo de Kant é “Age apenas sob uma máxima tal
que possas querer que ela se torne uma lei universal.”. E este, segundo Kant,
é a regra que devemos testar nossas regras subjetivas de agir, ou seja, que
passem a valer a todos os racionais. Esta formulação geral do Imperativo
Categórico é um axioma, seguida dos teoremas práticos que citarei.
“Age como se a máxima de sua Ação devesse se tornar, pela sua vontade,
uma lei universal da natureza”. Chamado este Imperativo Categórico de
“Fórmula da Natureza”. Aqui se percebe que a universalidade de uma máxima
é a exigência maior da moral de Kant, e por isto, neste caso, a universalização
desta máxima a faz valer moralmente.
Em Kant, todas as lutas da natureza são válidas, e através desta luta é que
a vida prospera. Daí a objeção kantiana ao suicídio como moralmente proibido,
pois significa uma desistência à luta.
Outro teorema: “Age de modo a usares a humanidade, sua e do outro,
sempre e simultaneamente como fim e não como meio”. Este Imperativo,
chamado “Fórmula da Humanidade”. Uma pessoa não pode ser manipulada ao
nosso bel-prazer. Aqui também, analisando o suicídio, a pessoa que o comete
usa seu corpo apenas como via para atingir a um fim, e portanto age
imoralmente.
Um terceiro teorema: “Age de tal maneira que a tua vontade pela sua
máxima se possa considerar a si mesma ao mesmo tempo legisladora
universal”. Chamada de “Fórmula da Autonomia”, em outros termos, significa
que uma vontade racional é autolegisladora.
Cada uma das máximas pode ser testada pelas diferentes formulações do
Imperativo Categórico. Usaremos como exemplo o suicídio: uma pessoa com
dor excruciante aventa a possibilidade de se suicidar. Para Kant, esta máxima
não pode valer como lei universal da natureza. Ela não está de acordo com a
exigência positiva da humanidade como fim em si mesma. E por fim tal máxima
nunca poderia fazer parte da legislação universal. Assim Kant acha ser Possível
testar qualquer máxima frente ao Imperativo Categórico na busca de se decidir
se é uma lei moral ou não.
A formulação geral do Imperativo Categórico (“Age apenas sob uma
máxima tal que possas querer que ela se torne uma lei universal.”), tida como
axioma é seguida das fórmulas da humanidade, da autonomia, que são.
teoremas práticos.
Assim, a fórmula geral do Imperativo categórico é um metaprincípio
onde a autonomia, ou a auto-imposição daquelas regras de conduta que podem
ser universalizadas é o princípio supremo da moralidade. “Age segundo uma
máxima que possa fazer de si mesma uma lei universal.”
Seguir uma lei moral, todavia, é uma condição para se agir moralmente,
mas não suficiente. Por Kant, deve se agir por puro respeito ao dever moral.
Assim, faz-se fundamental distinguir-se entre agir por dever e agir conforme o
dever. Por exemplo, o suicídio: “fulano está cometendo suicídio mas reconheço
que é moralmente correto os outros tentarem o salvar. Segundo Kant, ou se
tenta salvar alguém que está a cometer suicídio na esperança de ser por ela
recompensado, ou porque uma equipe de TV está filmando tudo e o salvador
será um herói ou qualquer outro motivo baseado na finalidade. Neste caso se
estaria agindo em conformidade com o dever e isto não possui valor moral.
Mas se agires como sendo o salvamento um dever seu, por respeito à lei moral,
por senso de obrigatoriedade, a Ação terá valor moral. Ter uma vontade
boa é cumprir o dever pelo dever.
Assim, temos os 3 elementos centrais da ética de Kant: a) as máximas de
Ações, b) o modo de testá-los sob o Imperativo Categórica, c) seguir as regras
que passarem no teste e forem tidas como leis morais, ou por puro respeito ao
dever.
Kant acusa a ética antiga de tentar, antes, estabelecer a existência do
sumo bem e depois estabelecer os conceitos de dever. O mesmo Kant aponta no
utilitarismo e no consequencialismo.
“... o conceito de bem e mau não podem ser definidos antes da lei moral,
mas somente depois delas.”

6.5 – A Ética Enquanto Doutrina da Virtude

Duas ideias centrais em Metafísica dos Costumes que são a Doutrina do


Direito e a Doutrina das Virtudes.
O princípio universal do direito sustenta que uma “Ação é correta se ela
co-existir com a liberdade de todos de acordo com uma lei universal ou se sob
sua máxima, a liberdade de escolha pode co-existir com a liberdade de todos de
acordo com uma lei universal”. Ou seja, um ato pode ser praticado sob o ponto
de vista legal, se levar em consideração apenas o fato de não infringir a
liberdade alheia.
Mas sob o ponto de vista ético isto não é suficiente. Por ex. Kant valida
o direito à propriedade como a priori, por este decorrer do direito à liberdade.
Ele diz ser a liberdade o único direito inato, ou moral, natural, que temos em
virtude de nossa própria humanidade, e a partir dele Kant justifica o direito à
propriedade.
Sobre a doutrina das virtudes, Kant estabelece como máxima nos termos
de virtude: age de acordo com uma máxima de fins que possa ser uma lei
universal válida a todos.
Kant define como o princípio do direito como analítico e o das virtudes
como sintético.
Lembremos sempre que para Kant, nessa esfera da Ação humana, que
deve-se agir de acordo com uma máxima onde o fim possa ser norma para
todos. Há fins que são ao mesmo tempo deveres: 1) dever de buscar a própria
perfeição; 2) dever de fomentar a felicidade dos outros.
O ser humano tem o dever de cultivar a natureza, superar a própria
animalidade, de instruir-se, de corrigir seus erros, de manter a própria vida, não
mentir, ser sincero, não ser avarento. Deve ser VIRTUOSO.
Kant não nega que a moralidade humana, em seu grau máximo, seja a
VIRTUDE, desde que esta não seja interpretada como habilidade, como em
Aristóteles e Platão, mas como força, autodeterminação no cumprimento do
dever. Kant tem a virtude como a força no cumprimento do dever. Neste
sentido, centrando-se a ética kantiana numa ética das virtudes, só há uma
virtude: a conformidade da vontade com o dever.
Os deveres para consigo próprio, Kant divide em deveres perfeitos e
imperfeitos.
- Os perfeitos seriam busca-se a perfeição maior do que a fornecida pela
própria natureza. Também são deveres perfeitos para consigo, opor-se à
mentira, à avareza, à falsa humildade, de se auto-julgar (baseado em
Sócrates e o conhece-te a ti mesmo) baseado na busca do auto
conhecimento moral.
- Os imperfeitos para consigo próprio seriam o cultivo das faculdades da
alma (memória, imaginação) e do espírito (conhecimento teórico), ou do
corpo através da Ginástica.

Quanto ao dever de buscar a felicidade dos outros, Kant sustenta que


buscar a felicidade é algo natural e que a diversidade e a dor são grandes
impedimentos na realização da moralidade. Por isto, o amor, o respeito, a
benevolência, a gratidão, a simpatia, a amizade são deveres que temos para
fomentar a felicidade dos outros.
O respeito ocupa um lugar central na ética de Kant: reverentia, além de
respeito deve-se manter em devida distância, é um respeito mútuo onde não se
invade o espaço alheio; observantia, um respeito que possui conotação moral é
um tipo de reconhecimento de uma dignidade nos outros homens, dignidade
esta não sendo um valor objetivo.
A verdadeira forma de mostrar respeito para com os outros é o respeito
à lei moral. Trata-se de um sentimento ímpar: a consciência do próprio dever.
Cumprir deveres motivado pela vontade boa é agir virtuosamente e,
como tal, ser digno de felicidade. O contrário do respeito é o desprezo.
O bem supremo, todavia, só é alcançável sob a postulação da
imortalidade da lama – doutrina religiosa.
Os principais estados de direito (liberdade, igualdade e autossuficiência)
permitem aos cidadãos serem membros de um Estado, mas não esgotam a vida
moral. Assim, a publicidade (tornar-se público) das máximas são concordantes
na política e na moralidade.
Em termos de filosofia política, Kant pode ser considerado um
contratualista, em termos de filosofia política, mas não em filosofia moral. Ele
afirma que o soberano deve formular leis as quais os cidadãos devam
concordar, pois do contrário, as leis serão ilegítimas.
Diferença entre conformidade com um dever e agir por dever:
6.6 – As Críticas de Hegel à Ética kantiana: Moralidade e Eticidade

Hegel, juntamente com Fichte, Schelling e Kant formam o chamado


Idealismo Alemão.
Embora se discuta se Hegel possui uma ética estabelecida, seus
pensamentos nesta linha foram expressos em Filosofia do Direito.
A dialética hegeliana é descrita como lógica em movimento, com
momentos de afirmação, negação e negação da negação. Assim, Hegel estaria
se colocando em oposição à lógica formal, iniciando uma lógica do devir, ou
como em constante movimento de transformação. E isto é ilustrado no livro
“Fenomenologia do Espírito”. O escravo é o indivíduo que abdicou da sua
autoconsciência para manter-se vivo e ficou preso ao trabalho, enquanto o
senhor arriscou a própria vida para conseguir o que desejava: dominar.
Porém, o escravo, no momento em que produz para o seu senhor, adquire, de
certa forma, sua independência, pois conquista a sua autonomia através da
sua relação com o trabalho. Aqui reside a contradição: o senhor, que,
aparentemente mostra-se como dominador, na verdade, coloca-se como
dependente do escravo, já que precisa deste para atender suas necessidades
básicas. Portanto, teme a “morte” do escravo, da mesma forma que o escravo
temeu a sua própria morte anteriormente. Em suma, o sujeito não consegue
reduzir o outro ao nada, pelo menos não no nível “formal”, sem o auxílio de
um combate concreto. A luta pelo reconhecimento entre o senhor e o servo, tal
como é apresentada na Fenomenologia do espírito, talvez seja a forma mais
simples de ilustrar esse ponto. Hegel refere-se (cf. HEGEL, 1985, p. 117s.) a
dois homens que lutam entre si e um deles é vencedor, podendo, por
conseguinte, matar o vencido, mas antes poupa sua vida e, para ser
reconhecido, conserva o outro como servo. Digamos que esse seja o momento
da afirmação. Assim, o servo passa a fazer tudo para o senhor: trabalha para lhe
dar comida, roupa, proteção etc. Todavia, depois de algum tempo, o senho
descobre que não sabe fazer nada mais, pois entre ele e o mundo há o servo à
procura de novo reconhecimento. Esse seria o momento da negação. O senhor
torna-se, assim, dependente do servo, que, tendo aprendido a vencer a natureza
pelo trabalho, nega sua dependência ao senhor e, assim, vence-o e recupera sua
liberdade. Temos, desse modo, a negação da negação e uma superação,
originando uma nova relação. E assim indefinidamente.
Três conceitos ajudam a compreender o pensamento de Hegel:
i) Direito Abstrato: um ser é livre e deve exigir respeito por isto,
transformando esta liberdade em uma propriedade, dominando
seu corpo e sua vida, e portanto com direito à vida e a liberdade.
Sê uma pessoa e respeita aos outros como tal. Hegel considera
que, iniciado no império romano e maturado com os conceitos
do cristianismo é que surge o sujeito moral e a noção de
indivíduo. Isto é a IMAGEM DA MODERNIDADE e com esta
é que de fato surge a moralidade.
ii) A Moralidade está ocupada com a liberdade subjetiva, ou seja,
aquelas ações que os agentes aprovam a partir de suas
consciências e pensamento individual. A Moralidade, que trata
do bem-estar do indivíduo e de sua felicidade, tal como
enfatizada por Kant, é fortemente criticada por Hegel, pois,
segundo ele, esta postura moral se dá somente frente ao
esquecimento das Raízes sociais do indivíduo, e portanto,
levando à alienação.
iii) A vida ética se enraíza na família, na sociedade civil e no
Estado. A família é o objetivo imediato ou natural do espírito
moral. É a primeira forma de associação e que responde a uma
necessidade básica de amor e preservação. Mas nela o indivíduo
não é uma necessidade de si para si, mas um membro de um
grupo. A Sociedade Civil, que se caracteriza por uma
associação de membros oriundos de diversas famílias,
apresentam uma constituição jurídica a proteger seu direito a
propriedade e a dar-lhes segurança e, maiormente à buscar
satisfazer as exigências particulares e coletivas. Na sociedade
civil é que o indivíduo, se relacionando com os outros, se realiza
como pessoa. Hegel considera as pessoas, na sociedade civil,
como privadas, egoísta e que buscam seus próprios interesses,
mas que, para isto, dependem umas das outras. O BURGO (e
seus burgueses) são a sociedade civil.
O Estado é a realização maior da liberdade individual. Somente
quando cidadãos do Estado é que os indivíduos tornam-se plenos
cidadãos. É no Estado que a liberdade suprema é atingida.

Uma forte critica à moralidade kantiana, em Hegel, se dá em acusar a


ética do dever como puramente formal ou do “dever por dever” pois, por meio
desta doutrina, nunca se chegaria a uma ideia imanente de dever. Além disto,
o universalismo abstrato afasta a moralidade kantiana dos casos que devem ter
uma apreciação particular, bem como a impotência do dever, ou deve ser feito a
despeito de se levar em consideração o dever e o ser. Neste escopo, o
terrorismo da pura intenção advém da forma não consequencialista da ética
kantiana.
Hegel, ao atrelar a ética ao Estado, tem sido acusado de fomentar a
manutenção do status quo dos Estados existentes e suas tradições.

6.7 - As Criticas Schopenhauereanas a Kant

Schpenahauer foi critico de Kant e Hegel.


“pois no de conceito de dever existe absoluta e essencialmente a
referência a um castigo ou a uma recompensa, não se podendo separar-se isto
pois assim tiraríamos o significado: por isto DEVE é uma contradição.”
Mas ele reconhece que Kant foi importante ao ter priorizado o correto e
estabelecido o obrigatório sem apelar à noção de felicidade. Mas Schopenhauer
observa quer Kant não foi o primeiro, e Platão, já em A República, mostra que
a virtude deve ser escolhida por si própria, mesmo que infelicidade e vergonha
a ela estejam atreladas.
Acusa Kant de ter vinculado o alcance o bem soberano apenas em outra
vida, e que esta esperança deve ter para darmos sentido ao cumprimento de
nossos deveres. Nisto, Schopenhauer se atrela fortemente às éticas orientais, e
constata que na ética indiana, a virtude é a própria recompensa.
Ainda falando em ética oriental, a filosofia hinduísta defende o
conhecimento, onde este tem valor intrínseco.
O budismo é menos uma religião e mais um sistema ético. E tanto para
o budismo como para Schopenhauer, o remédio é deixar de querer.
Para Schopenhauer, a afirmação da vontade é um desejo cego,
incessante e conciente.
A negação da vontade seria a única forma do sujeito viver bem.
“cessando a vontade, as aparências individuais deixam de ser molas capazes de
fazer querer, deixando no seu lugar apenas a noção de universo na sua
totalidade...”. Para Schopenhauer, deixar de querer é o próprio nirvana.
Mas ele não nega a vontade: “... a vontade é absolutamente livre e se
determina a si mesma, sem lei alguma.”
Para ele, somente a compaixão é uma manifestação genuína da
moralidade, uma mora não racionalizada, mas que não pode ser confundida
com altruísmo. Trata-se de se compadecer, de sofrer com a dor do outro.
A negação da vontade, então, é a única forma de diminuir ou anular a
dor e o sofrimento. Isto é o nada querer. Assim, o ideal ético de Schopenhauer é
NADA.

Cap. 7 – Ética Pós-Moderna

Na modernidade a ética se questiona na pergunta “O que devo fazer” e


não mais na questão “Qual a melhor forma de viver”, pertinente à ética antiga.
Outra mudança importante, na modernidade, foi a dissociação, inicialmente
perpretada por Maquiavel, entre moral e política. E por fim, as éticas modernas
não baseiam sua moralidade em uma verdade superior (Deus, as tradição, o
ergon de ser humano).
A pós-modernidade é marcada pela fragmentação da razão: infalível,
universal, objetiva, imparcial, etc. Por Lyotard, a pós-modernidade se
caracteriza pela cultura pós transformações científicas, literárias e artísticas a
partir do fim do séc XIX.
Para a ética, se abandona o ponto central de se descobrir a moral eterna,
universal e imutável, buscando-se entender as moralidades como existem em
diferentes sociedades e grupos.
Darwin constata, empiricamente, diferentes sistemas morais. Já
Nietzsche aponta para a moral dos fracos e a dos fortes como estando em
permanente conflito e Marx desmascara a roupagem ideológica dos diferentes
discursos morais, que se diz universal, mas na verdade disfarça interesses de de
classes particulares.

7.1 – Darwin e a Ética Evolucionista

Charles Darwin deslocou o homem do centro da vida, mostrando que o


homem é apenas mais uma espécie que evoluiu de um ancestral comum, e não
o “ápice da criação”.
Em relação à Ética, Darwin se aproxima ao sofista Trasímaco e sua
concepção de a ética ser o direito do mais forte.
Mas a aplicação das ideias darwinistas de sucesso do mais apto, quando
emprestada à política (gerando o darwinismo social), abre oportunidades para o
florescimento de ideias como a eugenia, postertiormente a serem aplicadas no
fascismo/nazismo, e a apoiarem ideias políticas como laissez-faire; ideia esta
em que o Estado sendo mínimo, deixando de apoiar os pobres (menos
favorecidos), e deixando os ricos (mais favorecidos) e o mercado livres.
Mas Darwin e sua teoria não corroboravam em nada com este tipo de
visão.
Darwin, após seus estudos, conclui que cada espécie não foi criada
independentemente de outras. A SELEÇÃO NATURAL é o mecanismo
fomentador da evolução e conseqüente diferenciação das espécies. Esta
SELEÇÃO NATURAL se dá pela geração de um progresso à medida em que
as espécies vão surgindo e sobrevivendo melhor por meio de pequenas
variações adaptativas.
Para Darwin, o senso moral é a característica mais importante a
distinguir o humano de outros animais, e concorda com Kant, dizendo que o
imperativo categórico – dever - apóia o senso moral humano.
A evolução moral humana, dentro da ótica do evolucionismo, inicia,
para Darwin, com a constatação de que qualquer forma de vida que tem como
base a sociabilidade deve necessariamente desenvolver algum senso moral.
Animais sociais possuem sentimentos como simpatia e amor, o que não é
compartilhado por animais não sociais, por exemplo. Ainda pode-se perceber
um senso de cooperação em alguns bandos de animais.
Darwin, concordando com Adam Smith, concorda que a simpatia (para
A.S. a palavra era simulação), se dá pela capacidade se memorizar-se certos
estados de dor e prazer. Assim, ver o sofrimento alheio revive em nós
lembranças que fomenta aliviar o sofrimento do outro.
No ser humano a simpatia é fortalecida pelo hábito, pela repetição de
certos atos, mas é sempre mais fortemente direcionada aos que amamos.
Então, aplicando o conceito de simpatia à Evolução, Darwin afirma que
a espécie que tem mais membros agindo por simpatia, tem maior chance de
sobreviver e portanto maior vantagem evolutiva.
Assim ele definiu como um ser moral aquele que é capaz de comparar
suas Ações passadas com as futuras, aprovando-as ou não. E nesta ótica,
somente o ser humano é um animal moral. Porém, mesmo o ser humano pode
se deixar levar pelos instintos, agindo assim com motivação egoísta. Mas o
homem pode, ao analisar suas Ações pregressas, sentir remorso, o que a levará
a agir diferentemente no futuro. E isto Darwin chama consciência moral.
Darwin achava que o uso do imperativo dever, se deve simplesmente ao
hábito parcialmente inato, parcialmente adquirido, de expressar obediência ao
instinto mais forte, que na nossa espécie, é o altruísmo. O desejo de
aprovação, ou não se deixar levar pelo egoísmo a fim de nunca ser reprovado
pelos seus pares, é outro fomento ao comportamento moral, isto é, um
comportamento altruísta.
Alguns grupos humanos evoluiriam mais referente à moral que outros.
À medida que a humanidade avança em civilizações e raças, tudo
através da seleção sexual, os pequenos grupos humanos se unem a outros
grupos na expectativa de formar uma nação, e suas barreiras sociais/morais, por
meio do entendimento dos diferentes extintos sociais e as simpatias, superam
todas as barreiras entre si.
Sob esta ótica, para Darwin, normas como “o princípio maior da
felicidade” (Mill), assim como a simpatia (Hume, Smith), tornar-se-ão um
princípio secundário mas importante para o surgimento da moral.
Aqui, temos a constatação empírica de diversas morais. Também
Darwin fala de uma simpatia por todos os seres sensciêntes, ao que Darwin
chama como última aquisição moral.
Na medida em que os sentimentos de simpatia e amor são fortalecidos
pelo hábito, o ser humano pode mais apreciar a justiça nas Ações de outros, ou
até condená-las. E assim, independente de um prazer ou uma dor, o homem
poderá se tornar senhor de sua própria conduta. Assim, A pessoa será autônoma
e não violará a sua ou a alheia dignidade humana. O ser humano é um fim em
si mesmo, sem preço, mas sim dignidade.
Os instintos sociais, no futuro, tornar-se-ão mais fracos, os hábitos mais
virtuosos e fortes, e a virtude triunfará. Darwin acredita na evolução da
moralidade, na ideia de que nós humanos buscamos padrões de conduta mais
altos de maneira continuada.
Resumindo, guiados, pela simpatia, o hábito e pelas faculdades
intelectuais, somos naturalmente levados à regra de ouro “só faça aos outros
aquilo que gostaria que lhe fizesse”.
O desenvolvimento do mais apto, no darwinismo, está atrelado ao
indivíduo que mais coopera, ao mais altruísta.
O conceito egoísta mau interpretado como darwinismo, e que remete à
ideia de salve-se quem puder não tem relação com as ideias de Darwin.
A natureza (biológica do homem) pode ser para justificar ora o
egoísmo, ora o altruísmo, ora o interesse-próprio, ora a cooperação. Esta
polarização se faz patente na atual discussão entre os defensores do gene
egoísta (Dawkins) e os da era da simpatia ou empatia (Franz Waal). Pela tese
do gene egoísta, existe algo não racional que nos move. Já pela tese da
simpatia/empatia, “a natureza pode nos oferecer informações e inspirações, mas
não oferece prescrições. Waal recusa a moral do gene egoísta por esta fazer
uma transposição inadequada de um conceito biológico (gene) e um
psicológico (egoísmo) para conceito comportamental (ganância valorizada).
Estudando Darwin, abre-se a pergunta: por que o Cérebro foi pela
natureza modelado de forma a nos sintonizar com outro seres humanos,
sentindo sofrimento com o sofrimento de outrém, ou prazer com o prazer de
outros?

7.2 – Nietzsche: a Transvalorização e Perfeccionismo

Para importantes eticistas atuais, Nietzsche é o filósofo moral da


presente era. É tido com um dos primeiros grandes críticos da modernidade,
inaugurando uma ética pós-moderna, a qual parte do princípio que qualquer
tese central na busca de explicar a moralidade falha, e que a moralidade precisa
ser explicada, sim, de forma a serem excluídas as vontades não-racionais.
Deus está morto e nós o matamos, como Nietzsche afirma, então tudo
seria Possível.
Nietzsche faz uma investigação sobre a Gênese da moral, e a partir daí
abre-se a pergunta: desde quando e por que as pessoas empregam o conceito de
bom e de mau? (em quais condições nasceram e se modificaram tais
conceitos?)
Nietzsche analisa a justiça como um acordo entre poderosos semelhante
ao acordo de um contrato e portanto de todo o direito. Para Nietzsche, a
vontade de potencia é um simples fato da vida.
Ele, em Genealogia da Moral, inverte a explicação fornecida pelos
psicólogos ingleses: “Todo o respeito a estes historiadores da moral, mas certo
é que lhes falta o espírito histórico. Como é costume entre filósofos, todos
pensam de maneira a-histórica, mas erradamente. ... as Ações não egoístas
foram louvadas e tidas como boas por aqueles que delas se beneficiavam, para
os que estas Ações eram úteis. Daí, mais tarde esta origem foi esquecida, e
estas Ações não-egoístas, pelo simples fato de serem costumeiramente tidas
como boas, foram também sentidas como boas. Para mim, esta teoria busca
estabelecer o conceito de bom no lugar errado: o juízo bom não provém
daqueles a que se fez o bem. Foram estes bons mesmos (nobres, poderosos,
superiores em posição e pensamento) que estabeleceram seus atos como bons,
em oposição ao que era oriundo da plebe, o mau. ... de uma elevada estirpe
senhorial em sua relação com uma estirpebaixa- eis a origem da oposição
bom/ruim. E o direito senhorial vai tão longe que nos permite conceber a
própria origem da linguagemcomo expressão de poder... já em princípio, a
palavra bom não é ligada, necessariamente ao não-egoísta. Na gênese do
conceito bom, como dito, estão as ações não egoístas. E estas ações foram
sempre aceitas devido à sua utilidade. Mas esta utilidade, à medida que passam
a se transformar, as ações, em costumes, deixou de existir? Ao contrario, essa
utilidade foi experiência cotidiana em todas as épocas e portanto
continuadamente enfatizado, e portanto firmando-se na consciência de maneira
sempre mais forte. ... conceito de bom como essencialmente igual a útil,
conveniente, de modo que bom e ruim a humanidade teria sancionado em suas
experiências inesquecidas acerca do útil/conveniente e do
nocivo/inconveniente. ... nobre, aristocrático, no sentido social, é o conceito
Basico a partir do quual necessariamente se desenvolveu o bom no sentido de
espiritualmente nobre, aristocrático, bem nascido... outro que faz plebeu,
comum, baixo transmuta-se em ruim... bom/nobre significa, segundo sua raiz,
alguém que é, que tem realidade, que é real, já o homem comum se diferencia
por mentiroso.
É uma questão aberta se o argumento genealógico, baseado na filologia,
de Nietzsche, faz-se possível.
No Darwinismo, como vimos, o Evolucionismo, em relação à moral,
apóia que o altruísmo e a simpatia são necessários à luta pela vida e o sucesso
evolutivo. E Spencer, ainda, sintetiza isto com o utilitarismo. Já Nietzsche
considera esta explicação equivocada, apesar de ter um apelo psicológico, pois
nela se desconsidera a vontade de potência. Para ele, a explicação darwinista da
luta pela vida está errada, pois os juízos sobre o bom não provém daqueles aos
quais se faz o bem, e nada têm a ver com utilidade. Ao contrario, o juízo sobre
o bom provém daqueles que tomara a si o direito de criar valores.
1) a moral dos fracos baseada no bem/mal.
2) A moral dos forte baseada no bom/ruim.
Os primeiros (oprimidos), ou os cristãos, judeus, socialistas,
democratas, feministas, ressentem de sua fraqueza pois não podem revidar, e
isto, o ressentimento, baseia seus discursos (que afirmam que bom é que não
fere, não acerta contas, remete tudo a Deus). Para Nietzsche, então, a moral dos
fracos, aquela do indivíduo que não pode revidar, é a moral que preza por não
lutar contra quem o ofende. Ë o ressentimento que leva ao surgimento da ética
cristã.
Contra a moral de Schopenhauer, baseada na compaixão, um tipo de
budismo europeu, Nietzsche afirma, que, assim, como a moral cristã, esta deve
ser superada.
Assim como o sofista Trasímaco, ele defende a moral dos fortes.
Os fortes cultivam o bom/ruim.
A história humana é o embate das duas morais, segundo Nistzsche, a
batalha de Roma versus a Judéia, com a vitória temporária da Judéia, mesmo
ele afirmando que Deus está morto.
Nietzsche tem sido apontado como antecipador do nazismo. Ele foi
certamente um critico do judaísmo como moral, mas também o foi do
cristianismo. O racismo germânico foi por ele criticado e o supra-homem é
alguém que cria seus próprios valores, e portanto louvável.
A pesquisa história de Nietzsche sobre a origem da moral, o levou a
concluir que a moral é uma ideologia baseada numa ilusão: um conjunto de
conceitos explicáveis não porque é válido pela racionalidade (Kant), mas sim
porque serve a diferentes interesses práticos. Modernamente, com a
democracia, serve para que os fracos e inferiores racionalizem seu ódio
reprimido e inconsciente contra os mais fortes. É portanto um defensor de uma
moral aristocrática, e que vê na moral democrática um obstáculo às realizações
das excelências humanas.
Muito além do bem e do mal (a moral dos fracos), mas não além do
bom e do ruim (mau) (a moral dos fortes). Este é o sentido de sua
TRANSVALORIZAÇÃO.
Com isto define-se que a ética nitzscheniana é uma ética das
excelências, das virtudes. Ele sempre rejeitou que a felicidade atrelado
teleologicamente à felicidade. Afirma que é a excelência humana que possui
valor intrínsceco (apreciar uma boa poesia não ocorre por ela nos deixar felizes
ou pro ser uma experiência prazerosa, mas por isto ser uma experiência valiosa
em si mesma.

7.2 – Marx: a critica à Moral Burguesa

Marxismo Analítico é um grupo recente de seus estudos sobre a obra de


Marx.
Um marxista analítico está disposto a abandonar a abandonar algumas
ideias do próprio Marx caso exista conflito com evidências empíricas ou
princípios lógicos.
Em Marx, como apontado em Manifesto, deve-se vencer a “batalha da
democracia” e buscar uma forma de autogoverno baseada nos princípios éticos
da liberdade, igualdade e autointeresse. E estes princípios são valiosos
intrinsecamente e pelas suas conseqüências deles advindas. Nesta ideia
apreende-se quão longe do marxismo estava o stalinismo.
Na produção social de suas vidas, os homens entram em certas relações
definidas que são indispensáveis e independentes de suas vontades, relações
estas de produção que correspondem a um estágio definitivo de
desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A soma total dessas
relações de produção que correspondem a um estágio definitivo de
desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A soma total destas
relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a
fundação real, da qual surge a superestrutura legal e política e a qual
corresponde formas definidas de consciência social. O modo de produção da
vida material condiciona os processos gerais da vida social, política e
intelectual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas seu
ser social determina sua consciência. Num certo estágio de seu
desenvolvimento, as forças produtivas da sociedade entram em conflito com as
relações existentes de produção ou – o que nada é senão a expressão da
mesma ideia... Com a mudança dos fundamentos econômicos a estrutura
inteira é mais ou menos mudada... Assim, como a opinião de um indivíduo não
é baseada no que ele pensa de si mesmo, assim também não podemos julgar tal
período de transformação pela sua própria consciência. Pelo contrário, esta
consciência deve ser explicada a partir das contradições do ponto de vista do
material, a partir do conflito social existente entre as formas de vida produtiva
e as relações de produção. ... novas relações mais altas de produção nunca
aparecem antes que as condições materiais de existência tenham amadurecido
no seio da própria comunidade velha. Portanto a humanidade somente se
coloca aquelas tarefas que ela pode resolver, pois vendo a questão mais de
perto, se,pré se verá que as próprias tarefas sempre surgem quando as
condições materiais quando as condições para seu surgimento já tenham
existido ou então em processo de formação... As relações burguesas são a
forma antagônica mais recente do processo social de produção – antagonismo
não no sentido do antagonismo individual, mas antes resultado das condições
sociais da vida dos indivíduos. Ao mesmo tempo as forças produtivas se
desenvolvendo no ventre da sociedade burguesa criam condições materiais
para a solução desse antagonismo. Essa formação traz, portanto, a pré-
história da sociedade humana a um fechamento.
Segundo alguns comentadores, há quatro interpretações Possível da
visão de Marx, sobre a ética: 1) Marx procuraria descobrir as leis da história,
excluindo sobre dever, afirmando que materialismo histórico é determinismo;
2) permite discussões éticas, mas sem respostas morais a legitimar o socialismo
e o comunismo; 3) defende uma moral que apóia a revolução, uma moral do
proletariado x burguês, na luta do primeiro à chegar ao comunismo; 4) ele
aplica princípios éticos para chegar ao comunismo.
O pensamento de Kant e seu Imperativo Categórico está no pensamento
marxista quando, em Kant, o ser humano não pode ser usado como um meio a
se atingir um fim, e portanto usar um ser humano como mão-de-obra, aliená-lo,
resume-se ao uso do outro como um fim. E é isto que o capitalismo faz. Uma
moral nietzscheniana levaria à defesa da alienação capitalista.
“A sociedade deve ser transformada a fim de superar a alienação e
atingir o pleno desenvolvimento do indivíduo.” Assim uma vida boa como
definida por Aristóteles, seria atingida. Marx via nisso a realização de uma
essência humana.
Podemos ver a moral de Marx de duas maneiras, então: primeiro uma
critica a uma moral burguesa, como especificadas em o Manifesto Comunista.
Critica a moral burguesa onde interesses particulares são transformados em
públicos. Neste contexto se coloca: a história tem sido até agora a história da
luta de classes. E Marx coloca que Darwin e sua seleção natural apóiam
cientificamente seu conceito de luta de classes. Marx explica a luta de classes
como o embate entre moralidades diferentes.
É importante observar que Max Weber também procurou mostrar que o
capitalismo é, de fato, um produto de uma moral particular. Para o autor de
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, essa moral seria um legado da
Reforma de Lutero e principalmente Calvino. Nesta moral, haveria uma
valorização do trabalho como forma de salvação pessoal, havendo assim um
contraste com o catolicismo, onde, ao protestantismo, a riqueza quando oriunda
do trabalho e da poupança, seria sinal que aquela pessoa seria um predestinado
à salvação. Para Weber, porém, o afã de lucro desmedido nada tem a ver com o
capitalismo. Para ele, o capitalismo identifica-se com a busca do lucro, do lucro
sempre renovado por meio da empresa permanentemente capitalista e racional.
O que Marx chama de “mais valia”, para Weber é o uso racional do trabalho do
capitalista e dos empregados por ele empregados, na busca de um balan,co
contábil em que o capital final da empresa exceda o capital investido
inicialmente.
Para Marx esta visão está incorreta pois a moral moderna e sua defesa
aos direitos individuais nada mais é que uma expressão do sistema capitalista,
pois para Marx, a insistência numa igualdade de direitos individual não é nada
mais que a insistência de uma igualdade formal e portanto compatível com a
máxima desigualdade material. Ou seja, a moral burguesa é ideologicamente
igualitária, mas a realidade da sociedade capitalista é desigual. E a recuperação
disto se dá através do comunismo. Esta fase de transição capitalista/comunista
manteria, nos momentos iniciais, manteria as marcas intelectuais do
capitalismo, de onde emergiu.
Em fase posterior, quando o trabalho se tornar não apenas um meio de
vida, mas a primeira vontade desta vida, as força produtivas, em detrimento do
desenvolvimento individual, crescerem, cruzar-se-á o horizonte estreito da
burguesia e poder-se-á cravar a bandeira: a cada homem, segundo sua
habilidade e a cada homem segundo sua necessidade.
Tem-se assim um critério de justiça com uma igualdade não de direitos,
mas uma igualdade de segundo nível, baseada na proporcionalidade. Este
critério, justiça distributivas, é, segundo Marx, a única maneira de distribuir os
bens de forma verdadeira e igualitária: distribuir os bens desigualmente de
acordo com as necessidades individuais.
Sobre este conceito de distribuição, o pensamento de Marx pode ser
dividido em TRÊS fases:
i) o jovem Marx que compatibiliza com a noção de Aristóteles, e
estebelecendo que a essência humana deve se compatibilizar
com os Imperativos Categóricos. Em outros termos, ele quis
mostrar que a noção aristotélica de essência humana realiza-se
no cumprimento das exigências da moral como vista por Kant.
Assim, a moral não se atrelaria à eudaimonia, ou pela
maximização utilitarista da felicidade, mas por exogências
racionais universais.
ii) Marx intermediário que insiste na abolição da moral burguesa
baseada em direitos individuais e o fortalecimento da ética
ideológica marxista. Nesta fase é que Marx percebe que a
obrigação moral é apenas um manifesto ideológico de certo tipo
de sociedade (burguesa), e sendo a moralidade uma ideologia,
deve ser uma ilusão.
iii) Marx maduro afirmando as condições para se construir uma
moral equitativa na segunda fase da sociedade comunista. Aqui,
Marx defende uma forma mais alta de moralidade que supera os
aspectos alienantes da sociedade capitalista burguesa, e
manifesta-se na justiça equitativa.
Nas TRÊS fases pode-se identificar como elemento comum a
distribuição segundo as necessidades básicas. O ser humano é um ser social
repleto de necessidades. Estas necessidades, mesmo as básicas, podem variar.
Estas necessidades são contingentes às diferentes sociedades e
invariantes aos seres humanos:
i) necessidades universais, como a de comer; CRÊNCIAS
BÁSICAS. – podem variar de acordo com o clima, geografia,
etc.
ii) necessidade de grupos particulares, mas necessidades estas que
gerariam frustração à necessidade de outrem, por exemplo a
necessidade de exploração econômica;
iii) necessidades singulares que não faz sentido universalizar.
Justiça distributiva: a cada homem, segundo sua habilidade e a cada
homem segundo sua necessidade. Por Aristóteles e reforçado por Marx, trata-
se de um critério de igualdade de segundo nível, ou aristotelicamente falando,
trata-se de um critério de distribuição geométrico. Uma comunidade pode
satisfazer as necessidades de seus cidadãos, segundo a ética marxista,
distribuindo segundo o grau de maior ou menor necessidade das pessoas.
Importante esclarecer que para Marx, existem necessidades reais
(básicas) e falsas (não-básicas, do burguês).
O que se apresentou no mundo (URSS, China), antes de um
comunismo, é o socialismo real que nada mais é que um “capitalismo de
estado” onde a classe dominante passa a ser os políticos e burocratas.

7.4 – A Moral Repressora e a Ética Psicoanalítica

Freud mudou para sempre a compreensão da vida sexual e sua relação


com a moralidade. Em suas relações com os pacientes, ele percebe que muitos
deles apresentam algum distúrbio sexual, geralmente originado na infância.
Freud estabelece que um sonho é a realização de um desejo reprimido.
Cria, como arma terapêutico investigativa, a técnica da livre associação, que
posteriormente é chamada de psicanálise, o que era, em linhas gerais, a busca
da resolução de conflitos entre a atração da criança pela mãe e a inveja do pai, o
que estava na raiz de uma vida psíquica sadia ou não.
Temos então, uma explicação para a formação de conceitos morais, tais
como culpa: estes problemas resultariam do processo repressivo de certas
emoções, gerando comportamentos neuróticos e até psicóticos. Assim, Freud
descobre que a origem da moral está na repressão, principalmente, de emoções
que temos nos primeiros Períodos de nossa infância e de nossas experiências
nas diferentes fases de nosso desenvolvimento sexual (oral, anal, fálico e
genital). “O que descrevemos como caráter de uma pessoa está em grande
medida construído a partir das excitações sexuais e é composto por instintos
que se fixaram desde a infância, de construções que são formadas através de
sublimação e de outras construções que são empregadas para efetivamente
reprimir impulsos perversos que foram reconhecidos como não utilizáveis.
A formação do caráter, então, dá-se a partir da atuação de duas forças, a
partir do princípio prazer/dor e do princípio da realidade.
O id é composto dos impulsos instintivos. O ego é a porção do id que é
mudada pelo mundo externo, sendo então uma construção mental feira a partir
do conflito entre prazer/dor e a realidade. O superego se desenvolve a partir do
id, domina o ego e representa as inibições do instinto característicos de ser. Por
conseguinte, o superego consiste na internalização das demandas morais da
sociedade.
O superego é o agente psíquico a partir do qual nos damos conta dele
como agente judiciário, a consciência.
Em paralelo com que disseram muitos filósofos, Freud afirma que “o
senso moral não é instalado nos homens pela educação ou por eles adquirida
na vida social, mas lhes é implantado de uma fonte mais alta”.
O superego, o “agente moral”, é, então, parcialmente formado por
fatores externos e parcialmente pelas forças do mundo interno do indivíduo. A
moral social é apenas um reflexo do mesmo conflito psíquico: a relação do
indivíduo com seu pai.
E foi assim, baseado no sentimento filial da culpa, que surgiram normas
como “não matarás”, que estão na base das nossas instituições culturais: a
religião, a moralidade, a justiça e a filosofia.
Porém, esta explicação da origem da moral não pode ser confundida
com os pressupostos éticos da psicanálise: a ética da psicanálise pretende
substituir as outras “moralidades” repressivas. “O médico analista e o ego
enfraquecido do paciente têm de se reunir contra as exigências do id e do
superego. O ego enfermo nos promete completa sinceridade, colocando-nos
sua auto-proteção de maneira franca, e a partir daí podemos garantir ao
paciente discrição e auxiliá-lo através da a interpretação de seu inconsciente.
O auto-conhecimento compensaria a ignorância do paciente sobre si e a
ajudar a desenvolver o ego dominante sobre regiões perdidas de sua vida
mental. Este é o pacto do psicanalista e o paciente.”
Este encontro analista/paciente é ético onde se apreende sinceridade
completa de um lado e discrição de outro. “O legado de Freud inclui a
obrigação moral do medico de tornar o paciente uma pessoa melhor
conhecendo-se a si mesmo, e esta melhora se refletir em seu comportar-se de
forma mais autêntica e responsável”.
Em permanente dialogo com Aristóteles, Bentham e Kant, Freud
sustenta que os princípios éticos, `medida que se impõem à consciência como
mandamentos, tem relação estreita com a realidade como por este Freud foi
descrita.
Por Lacan: “É a lei a coisa? De modo algum. Mas eu não conheci a
coisa senão através da lei. Pois foi a lei que disse ‘não matarás’ e sem esta eu
não teria concupiscência (ou desejo libertino) sobre o tema. Ou seja, o
mandamento estimulou-me a concupiscência. Sem a lei a coisa estaria
morta.”
Deixando de lado a explicação psicanalítica da origem da moral,
pergunta-se então, qual a ética que move o psicanalista? Para Lacan, como
claro no Parágrafo anterior, a ética, antes de uma especulação vazia, é uma
expressão trágica da vida onde se apreende o domínio da Ação humana.
Então, em Lacan, o que pode o analista? Medir valores? Lacan tem
metas morais condensadas em suas ideias:
i) “o primeiro é o ideal do amor humano.”
ii) “o segundo, espantoso na experiência psicanalítica, é o ideal da
autenticidade.”
iii) “o terceiro, do qual Lacan não está certo se realmente pertence à
psicanálise, seria o ideal da não depend6encia, ou melhor, a
profilaxia à dependência.

7.5 – A Ética do filósofo brasileiro Farias Brito

A filosofia de Brito está baseada numa teleologia do cosmos e talvez e


talvez não possa nem mesmo ser considerada moderna.
Farias Brito fazia parte da “Escola de Recife”, que se influenciava por
Augusto Comte e seu positivismo, Kant e outros autores. Porém, Brito logo
procurou um caminho próprio, construindo uma filosofia oposta ao positivismo.
Nenhuma linha filosófica influenciou mais o pensamento brasileiro que
o positivismo comteano, presente inclusive no “Ordem e Progresso” de nossa
bandeira.
A tese fundamental do positivismo comteano é a chamada lei dos TRÊS
estados pelos quais a humanidade passou:
a) Estágio Teológico onde a explicação da realidade se dá a partir de
entidades sobrenaturais, e, através destas se procura responder às
grandes questões “quem somos” e “para onde vamos”.
b) Estágio Metafísico onde esta explicação se dá a partir de conceitos
abstratos (ideia eternas), buscando-se assim compreender as questões
essenciais do existir humano.
c) Estágio Positivo onde a explicação não dar-se-ia através do por quê,
mas apenas do que efetivamente existe, do positivo, de como é o
mundo, contrapostos ao sobrenatural; este estágio é exemplificado pela
ciência natural moderna.
Esta Tese, juntamente com outras ideias européias, principalmente as
advindas da Revolução Francesa, consolidou um forte movimento intelectual
que supera o Brasil colônia.
Esta lei dos TRÊS estágios é uma filosofia da história em direção a um
estado positivo, tal como o preconizado nas ciências (por Galileu, Bacon e
Descartes).
Comte sustenta que este progresso em estágios não acontece somente no
nível da espécie humana, mas também no nível individual: infância teológica,
juventude metafísica e virilidade física.
Apos a revolução de 30, com o surgimento do positivismo em sua
versão autoritária, consolidou-se esta escola filosófica como a “filosofia
oficial”. ... manter-se posto em circulação pelo positivismo, segundo o qual o
poder vem do saber, contrapondo-se ao tema liberal no qual o poder vem da
representação.
Sílvio Romero, o primeiro a escrever um livro sobre Filosofia no Brasil
em 1878 escreve: “um bando de ideias novas esvoaçam do horizonte, em
especial as ideias liberais vindas da Europa, levam ao questionamento da
monarquia e exigem mais liberdade da indústria e do comércio, mais autonomia
das províncias, etc. Formou-se um agressivo espírito critico que levou a dois
movimentos: a Escola de Recife e ao positivismo.
Coube a Tobias Barreto questionar se a metafísica está morta. Ele
pretende reinstituí-la sem dar um passo atrás no positivismo. Sua contribuição
ao pensamento filosófico brasileiro se divide em duas seções: a) sua obra critica
e b) a tentativa de restaurar a metafísica.
Uma defesa à metafísica, entretanto, não poderia significar uma volta à
espiritualidade anterior, que o positivismo criticara, mas sim a formação de um
novo momento surgido a partir de reflexões sobre natureza e cultura. Barreto
pode ser tido como um antecessor do culturalismo: “o processo da cultura
geral deve desbastar o homem da natureza, adaptando-o à sociedade. ... a
sociedade não tem organização, estando organizada em espécies e subespécies,
que se arrogam o direito de representar e subordinar esta sociedade ou grupo
social a que pertencem. Isto explica a inexistência de uma cultura
propriamente humana, mas sim a existência de raças dentro de raças dentro de
outras raças, dentro de classes, lutando sempre pelo predomínio,
encarregando seu trabalho cultural e imprimido seu caráter.” No século
seguinte, o culturalismo será um dos principais movimentos filosóficos
nacionais.
Farias Brito dedica-se a elaborar um sistema filosófico. Sofre influência
do cristianismo, Spinoza, Kant, Schopenhauer, Mill e Spencer.
Em sua obra Finalidades do Mundo tem como subtítulos Estudos de
Filosofia e Teleologia Naturalista. Seu sistema foi chamado de panpsiquismo
panteísta ou existencialismo racionalista. Mais recentemente interpreta-se seu
sistema como uma expressão de uma metafísica estóica. Existem realmente
muitos elementos socráticos e estóicos na filosofia de Farias Brito. Ele própria
não era especializado em filosofia antiga, e se dizia influenciado por Spinoza e
Schopenhauer, mas este foram fortemente influenciados pelos estóicos.
O pensamento fundamenta de Farias Brito, expresso em sua obra A
Verdade como regra das Ações é a finalidade do mundo é o conhecimento. É
como se a evolução universal fosse um esforço permanente do cosmo para
adquirir consciência de si mesmo. Ora, o conhecimento tem por objetivo a
verdade. Por conseguinte é a verdade que se apresenta como aspiração
suprema de toda a existência. Em outros termos, o conhecimento é o ideal
ético, a regar suprema das Ações humanas, a ideia moral capaz de regenerar o
mundo. Assim, Brito nega o positifismo de Comte, o comunismo de Marx, o
organicismo de Spencer. Postula, então, a verdade como regra das Ações: “mas
para que sejamos verdadeiros, devemos reconhecer em todos como
pertencentes a um órgão de uma consciência, o mesmo ser, o mesmo princípio
que nos anima, a mesma essência eterna a respeitar neles o que queremos seja
respeitados em nós. Isto quer dizer: devemos ser solidários uns com os outros e
solidários com o todo. A Ética da Verdade de Brito é permeada por respeito
recíproco e solidariedade.
A Moral e a Filosofia (do primeiro volume de Finalidades do Mundo)

A filosofia se dá em resultado a moral, do mesmo modo que a política


se dá em resultado ao direito. ... Tomando somente em consideração a teoria, a
função da filosofia é criar a ciência. De fato a função da filosofia é dupla:
teoricamente criar ciência e praticamente criar moral.
Consideremos o fim prático desta, a moral. ...a moral é o conjunto dos
princípios pelos quais deve o homem regul;ar sua conduta. De dois modos o
homem pode proceder em sociedade: com suas convicções ou conforme as
conveniências. Pode-se pois estabelecer como regra que o grau da moralidade
está na razão inversa do sacrifício das convicções a conveniências. Assim,
aquele que nunca precisa sacrificar suas convicções e preferências é um
homem perfeito.
Temos pois uma regra segura para ajudar os atos humanos e sabemos
como é que se deve proceder, tendo em vista a moralidade. ...devemos proceder
sempre e em todas as coisas conforme nossas convicções. Daí a ideia que
defendo: a moral é o fim da filosofia.

Da distinção entre Moral e Direito (do segundo volume de Finalidades do


Mundo)

Se os homens fossem todos bons, a lei moral seria, por si só, suficiente
para assegurar a ordem social. Mas a tendência natural do homem é ser mau.
Daí as divergências, as lutas. Então a lei, para ter valor de verdade, precisa de
sanção, que consiste na condenação da própria consciência e na execração da
consciência dos outros. A sanção moral é: se o homem pratica o mal, em face
da própria consciência se rebaixa, sendo também condenado pela consciência
pública. Porém isto não basta, pois a maior parte dos homens não se atemoriza
com o rebaixamento na própria consciência e nem deixarão de praticar o mal
por saber serão execrados pelos outros homens. É preciso pois que venha em
auxílio da lei uma sanção material; é a significação do direito.
Define-se então o direito nos termos de a norma de conduta
estabelecida pelo poder público e assegurada coativamente por uma snção
material.
Há uma norma de conduta consagrada pela própria consciência: a
moral. E há uma norma de conduta estabelecida pelo poder público: o direito.
Não são dois sistemas diferentes de leis, pois a lei que o direito estabelece é a
lei moral.
A diferença essencial entre direito e moral: no direito, a lei moral é
assegurada coativamente pelo emprego da força: direito é força. A moral é a
ideia e o direito também é a mesma ideia mas que se manifesta externamente e
reagindo como força contra a violação da lei. Nem toda a lei moral deve ser
reduzida a direito, somente aquelas cuja violação põe em perigo a ordem
social. O direito está para a moral como a parte está para o todo.
No direto, a lei moral é assegurada coativamente pelo poder público. A
moral é um todo em que o direito é uma parte. É a parte das leis morais que o
poder público constitui a ordem jurídica, reduzindo-as a leis positivas.
Dedução do critério supremo da Conduta.

A necessidade produz a inclinação, a inclinação o desejo, o desejo gera


a paixão, e é neste conjunto de fatos que está o que se pode chamar a causa
originária das ações. Mas há uma causa diretora, fornecida pela razão: os
princípios que a razão estabelece a norma de conduta, a lei. Enquanto se move
pelas paixões, necessidades orgânicas, o homem se move como animal. Não é
livre. Começa a liberdade e por conseguinte a moral quando o homem se move
por determinação de sua própria consciência. Pela doutrina de Spinoza: o
homem dominado pelas paixões é escravo, e o homem que domina as paixões é
livre. As inclinações de um homem são dirigidas pela razão, enquanto seus
desejos são dirigidos por suas paixões... é pela razão que o homem é livre.
Viver conforme a moral é viver conforme a razão. O homem deve
proceder sempre em conformidade com a verdade: ser verdadeira é a regra
suprema das Ações.
Temos pois que o conhecimento é o fim da evolução universal. Todo
conhecimento tem por objetivo final a verdade. ...ser verdadeiro, eis o critério
supremo da conduta.
Este princípio (ser verdadeiro) tem o valor de um axioma. É da noção
do conhecimento que resulta, como vimos, o conceito de liberdade, e é também
da mesma noção que resulta o princípio da moral. A verdade na ordem é o
bem. Duas formas fundamentais de moral: 1) fazer o bem; 2) não fazer o mal.

Atitude do Positivismo em face da atual Anarquia dos Espíritos

As ciências estudam apenas aspectos particulares dos fenômenos,


modalidades exteriores da força. Por isto jamais poderão se elevar a uma
concepção do todo.
Para se deduzir as leis morais é preciso: 1) que o homem conheça a
natureza; qual a significação racional da natureza? 2) que o homem conheça a
si mesmo; qual seu papel no mundo?
Em uma palavra, a moral só pode ser deduzida por uma concepção de
todo universal, isto é, por uma filosofia.
A moral é a parte fraca, a parte nula do positivismo.

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