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Joana Abreu
Joana Abreu é atriz, educadora, mestre em Arte Contemporânea pela Universidade de Brasília, professora
da licenciatura em Artes Cênicas da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes e professora autora da disciplina
Estágio Supervisionado em Artes Cênicas 1, na UAB/UnB.
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Para maiores informações sobre as proposições de Japiassu, ler o texto do capítulo mencionado,
que está disponível na pasta de leituras complementares da semana 5 da disciplina ESAC1.
conferindo a mesma dimensão à assimilação. O que se vê com freqüência é
que enquanto as funções intelectuais têm um progresso contínuo, na
expressão artística, ao contrário, a impressão que se tem é a de um
retrocesso [...] A atividade artística é periférica ao sistema escolar e lhe é atribuída
a característica de “recreação”, quando não é submetida a exercícios de
coordenação motora[...] (Koudela, 1984, 29).
Considerando tudo isso, pensemos agora na situação da maior parte das salas de
aula no Ensino Médio brasileiro. Em primeiro lugar, é importante considerar que, segundo
uma análise da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), feita pelo Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2007, 82,1% dos adolescentes entre 15 e
17 anos, no Brasil, freqüentam a escola. Entretanto, 44% desses adolescentes ainda não
concluíram o Ensino Fundamental e apenas 48% cursam o Ensino Médio dentro da faixa
etária adequada para esse nível. No Nordeste, apenas 34% dos adolescentes de 15 a 17
anos freqüentam o Ensino Médio. No Norte, 36% dos meninos e meninas de 15 a 17 anos
cursam o Ensino Médio. A média nacional, de acordo com a Pnad, é de 48%. Na Região
Sudeste, esse percentual fica em 58,8% e, no Sul, 55% (Pnad, 2007 in www.unicef.org).
A realidade do Ensino Médio nas várias regiões do país apresenta uma enorme
diversidade, não somente em relação aos dados estatísticos de freqüência escolar, mas
também ao tipo de realidades que é possível encontrar em cada região dentro do próprio
Ensino Médio. A situação da escola varia de acordo com fatores como se é rede federal,
estadual ou municipal; se está localizada em zona urbana ou rural; se é pública ou
privada; se a política educacional do estado ou município está ligada ao partido político A
ou B; e assim por diante.
Se essa é a situação do Ensino Médio de um modo geral, o que dizer da presença
do teatro-educação nesse seguimento do ensino? Embora o MEC não disponibilize dados
estatísticos a respeito, sabemos que são pouquíssimas as escolas de Ensino Médio que
oferecem, dentro de sua grade curricular, a disciplina Teatro. Esse número cresce um
pouco nas grandes capitais.
Em Brasília (DF), desde 1995, a aprovação da resolução que instituiu o PAS
(Programa de Avaliação Seriada) para ingresso dos alunos na Universidade de Brasília
modificou um pouco esse panorama. Isso se deu, porque, as provas de avaliação do PAS
– que são realizadas anualmente pelos alunos, ao longo de todo o Ensino Médio,
reduzindo assim o acúmulo de conteúdos e a pressão do vestibular – incluem a disciplina
de artes cênicas. Isso fez com que as escolas de Ensino Médio da cidade tivessem que
inserir essa disciplina em seus currículos. No entanto, essa é uma situação isolada,
havendo, de modo geral, um número reduzido de escolas que oferecem essa disciplina
em nosso país.
Em alguns casos, encontramos professores de outras disciplinas que utilizam o
teatro como estratégia metodológica para trabalhar conteúdos de história, português,
filosofia etc. Embora, muitas vezes, uma situação como essa seja o primeiro contato de
vários alunos com a linguagem teatral, está muito longe de ser um estudo de teatro.
Tudo isso se dá, em grande parte, pela desvalorização da educação nas áreas de
artes, como bem mencionou a professora Ingrid Koudela. Preocupamo-nos pouquíssimo
com o desenvolvimento artístico de nossos cidadãos. Mais ainda, nós professores, em
grande maioria, investimos pouco em nossas próprias oportunidades de apreciar e
produzir arte.
Em nossas escolas, não só não oferecemos a disciplina teatro para os alunos,
como não criamos oportunidades para que esses mesmos alunos assistam obras teatrais.
Uma vez que, raramente, em seus contextos familiares e comunitários, os alunos têm
acesso à produção teatral, se essa lacuna fosse, pelo menos em parte, suprida pela
escola, teríamos uma situação diferente.
Entretanto, consideremos a exceção. Tomemos como referência para nossa
reflexão o pequeno grupo de escolas que oferecem a disciplina de teatro no Ensino
Médio. Ainda que ofereça a disciplina, a grande maioria delas não dispõe de instalações
adequadas para o ensino de teatro. As aulas são, não raro, ministradas nas próprias salas
de aula das outras disciplinas ou no pátio da escola. Nelas, o professor de teatro e seus
alunos terão, antes de tudo que ‘escavar’ seu espaço, lutando contra cadeiras, mesas,
chão sujo que dificulta qualquer proposta de trabalho corporal, entre outros detalhes.
Como a aula de teatro tem a mesma duração que as outras aulas (às vezes 45, 50
minutos), parte dela se foi nesse ‘aquecimento’ de preparação do espaço de trabalho.
Esse último exemplo talvez simbolize uma necessidade um pouco mais ampla que
se apresenta ao professor de teatro no contexto do Ensino Médio. A necessidade de criar
espaços para sua disciplina. Essa criação de espaço abrange desde negociações
relacionadas ao tempo de aula e às instalações em que essa será ministrada, até o
equilíbrio entre aulas teóricas e práticas, ou ainda o estabelecimento de relações e
parcerias com os outros sujeitos do contexto escolar.
Além de negociar com a direção/coordenação da escola e com a equipe de
professores, o professor de teatro terá melhores resultados se conseguir estabelecer
comunicação também com os pais dos alunos. Justamente pelo mencionado
desconhecimento da linguagem teatral pela comunidade escolar e pela falta de
consciência da importância das áreas artísticas na educação, numa situação em que
atividades com a disciplina de teatro demandem tempo extra-classe dos alunos, por
exemplo, é comum os pais considerarem esse tempo extra dedicado ao teatro como um
‘prejuízo’ para os estudos das outras disciplinas.
Ou seja, o trabalho de educação no e para o teatro que o professor propõe na
escola será mais eficiente à medida que for inclusivo, abrangendo, dentro de suas
possibilidades, uma parte mais ampla da comunidade escolar. Isso significa que a
atuação desse professor talvez precise de mais de um bimestre, um semestre ou mesmo
um ano para que os primeiros frutos possam ser colhidos. Dificilmente um professor
chega a um escola impondo mudanças na estrutura. Essa possibilidade vem com o tempo
e o trabalho, desde que se estabeleça confiança, por parte da comunidade escolar, em
relação ao que está sendo desenvolvido pelo professor. Dar aula de teatro no ensino
formal no Brasil ainda é um exercício de abertura de caminhos. No Ensino Médio, o fato
de haver a pressão do vestibular ou da inserção no mercado de trabalho, agrava essa
situação.
Sabemos que, em nossas trajetórias como educadores, sempre teremos que nos
adaptar e adaptar nossas propostas à realidade de cada comunidade, cada escola, cada
turma e, em última instância, de cada um de nossos alunos para que nosso trabalho seja
efetivo. Um professor cuidadoso está aberto a essas adaptações independente da
disciplina que ministra. No caso do teatro, a disposição para esses ajustes, sem ter que
fazer concessões que prejudiquem a integridade da proposta de ensino, talvez se
apresente mais fortemente.
É importante considerar ainda que, muitas vezes, as turmas do Ensino Médio têm
um número grande de alunos, chegando, em alguns casos, a 50 adolescentes e jovens.
Além disso, sabemos que, como cada etapa do desenvolvimento do ser humano, a
adolescência tem suas características próprias, que incluem intensas mudanças físicas,
emocionais e sociais.
Devido a essas mudanças, a consciência que o adolescente desenvolve do próprio
corpo, os vínculos que estabelece dentro de seu grupo de amigos na escola e o papel que
desempenha nesse grupo assumem enorme importância.
Se voltarmos às reflexões de Japiassu, veremos que:
No dia a dia, nós nos comunicamos usando variados gestos, múltiplos olhares e
produzindo diferentes sons e entonações, inclusive ao pronunciarmos as palavras.
Usamos a comunicação corporal. Tanto no faz-de-conta como nos jogos teatrais e,
ainda, na representação teatral de aspecto cênico invariante (nos espetáculos
teatrais propriamente ditos), também nos relacionamos pela comunicação corporal.
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Para Ricardo Japiassu, “A fruição deve ser entendida como atividade prazerosa de interação do sujeito com
diferentes manifestações espetaculares, algo que se apóia exclusivamente na percepção atualizada
(instantânea) dos fenômenos observados/vivenciados; já a apreciação refere-se à apercepção, ou seja, à
atividade metacognitiva (reflexiva) do sujeito sobre suas percepções (atuais e/ou recordadas e/ou
imaginadas)” (Japiassu, 2007, 94).
Referências Bibliográficas e sites consultados
Japiassu, Ricardo. A linguagem Teatral na Escola: pesquisa, docência e prática
pedagógica. Campinas: Papirus Editora, 2007.
http://www.unicef.org/brazil/pt/media_14931.htm