Em primeiro lugar, quero agradecer ao Tibério o convite que me
endereçou para me associar, com a elaboração deste pequeno texto relativo ao primeiro ano de mandato do Partido Socialista no Governo da República, às comemorações do terceiro aniversário do In Concreto, fórum que assumiu preponderância no debate de ideias no arquipélago açoriano e a que desejo longa vida. José Sócrates fez um primeiro mandato, com maioria absoluta, que, grosso modo, se poderia dividir em duas metades, não necessariamente de duração similar. Uma primeira fase, mais reduzida, de “lua-de-mel” após uma vitória histórica para o Partido Socialista, de estado graça para o executivo liderado por Sócrates. Uma segunda fase, de período mais amplo, que evidenciou dissonâncias sectoriais, crispações pouco habituais para o nosso país, como a querela que após o executivo socialista aos Professores, com uma protagonista principal: Maria de Lurdes Rodrigues. Na Saúde, as coisas também não correram bem, e ainda durante o primeiro mandato, Correia de Campos foi substituído por Ana Jorge. A realidade é que o PS chega desgastadissimo às eleições legislativas, poucos meses depois de uma derrota surpreendente nas Eleições Europeias, onde, Vital Moreira, erro de casting de José Sócrates, foi derrotado pelo PSD, nesse acto eleitoral liderado por Paulo Rangel, que ainda não granjeava do conhecimento público que goza na actualidade. Assim, podemos dizer que, “não era suposto” o Partido Socialista ter ganho as eleições legislativas. Mais, o Partido Socialista apenas conseguiu vencer esse acto eleitoral, por uma campanha desastrosa do PSD, com declarações infelizes (algumas), pelo episódio das listas, e por outras declarações, que embora fossem assertivas, foram mal interpretadas pela opinião pública, muito por via, do Partido Socialista de então, “pintar” o País de cor-de-rosa, num discurso contrastante com o actual. Perante os resultados eleitorais, o Partido Socialista era obrigado a fazer uma coligação eleitoral que fosse garantia de um mandato dotado da estabilidade que o país necessitava. Não o tentou. Fez apenas um simulacro de tentativa, já que ninguém, com o mínimo de seriedade, poderia pensar que CDS/PP e BE poderiam estar juntos na mesma coligação, realidade que foi admitida por Sócrates, ao ter convidado todas as forças políticas a fazerem coligação com o PS, o mesmo é dizer, que o Partido Socialista não queria coligação. Esse facto, foi evidenciado com o ridículo episódio da Lei das Finanças Regionais, em que o Partido Socialista provocou uma crise política ou, pelo menos, teve essa intenção. Na realidade, o PS quis fazer, o que Cavaco conseguiu antes da sua primeira maioria absoluta. Passar de uma situação minoritária para uma maioria absoluta, pedindo o voto de confiança aos portugueses, que lhe assegurasse uma estabilidade governativa. Simplesmente, o PS já tinha tido essa maioria absoluta e não a aproveitou, não mereceu a confiança dos Portugueses, segundo o próprio julgamento dos cidadãos do nosso país, no acto eleitoral do Outono de 2009. A queda do governo é hoje previsível. Não se sabe se é em 2010 se será em 2011, mas ninguém acredita que o governo faça todo o mandato. As medidas de austeridade que agora se anunciam, contrastam, por exemplo, com o abaixamento do IVA em um ponto percentual, em vésperas de eleições. Contrastam com o país em super crescimento e absolutamente fantástico do ano passado. O Governo dá sinais de cansaço, de caminhar mais ou menos sem rumo, para o seu final, mergulhado num pântano de dimensão superior àquele que nos alvores desta década circundava o governo de Guterres. Fica a sensação, que este é um mandato condenado à partida, uma espécie de governo de transição, à espera que o PSD apresente uma alternativa séria de Governo. Nota final, precisamente, para o PSD, que tem estado mal em todo este processo, tenho que, infelizmente admitir. Falar de Revisão Constitucional, referindo o despedimento por razão atendível, quando os níveis de desemprego crescem, é de uma insensatez política assinalável. E quanto a este orçamento, quem está no Governo é que tem que Governar, o orçamento tem que ser assumido exclusivamente pelo Partido Socialista. Passos Coelho, deveria, simplesmente, anunciar que deixava passar o orçamento pela conjuntura económica e pelo facto de não podermos ter eleições até Maio, que dava um novo voto de confiança ao Partido Socialista, deixando críticas duríssimas ao Orçamento, apresentando as suas soluções, mas sem se envolver nesta negociação orçamental. Espera Portugal, digo eu, ansiosamente, que o PSD se organize e apresente uma alternativa de governo sólida e capaz de dar ao país a estabilidade que necessita.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Crise Da Ditadura Militar e o Processo de Abertura Política No Brasil, 1974-1985. in - O Brasil Republicano - o Tempo Da Ditadura