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Silva et al., Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal (v.8, n.1) p.

37 – 53 jan - març (2014)

http://www.higieneanimal.ufc.br Artigo Cientifico

http://dx.doi.org10.5935/1981-2965.20140003

Estudo fitoquímico e atividades biológicas do limãozinho (Zanthoxylum syncarpum Tull.)


Phytochemical studies and biological activities little lemon (Zanthoxylum syncarpum Tull.)
Antonio Adailson de Sousa Silva*1, José Milton Ferreira Júnior2, Maria Goretti de
Vasconcelos Silva3, Selene Maia de Morais4.
1
Biólogo, Mestre em Ciências Veterinárias, Núcleo de Pesquisa em Sanidade Animal,
Faculdade de Veterinária, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil; e-mail:
adailsonbio@yahoo.com.br
2
Químico, Doutorando em Biotecnologia, Laboratório de Produtos Naturais, Universidade
Estadual do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil;
3
Professora Associada da Universidade Federal do Ceará.
4
Química Industrial, Doutora em Química Orgânica, Professora Titular da UECE, Laboratório
de Produtos Naturais, Fortaleza, CE, Brasil.
___________________________________________________________________________

Resumo: Algumas doenças consideradas negligenciadas, como o dengue e a


leishmaniose, ainda não têm medicamentos e/ou formas de controle eficazes. O gênero
Zanthoxylum apresenta vários metabólitos secundários como alcaloides, flavonoides,
cumarinas, lignanas e terpenos, e tem sido amplamente utilizado na medicina popular para
diversos fins. O objetivo deste estudo foi identificar os principais compostos do extrato
etanólico das folhas do limãozinho (EEFL), Zanthoxylum syncarpum Tull. e avaliar sua
atividade contra Artemia salina, Aedes aegypti e Leishmania infantum chagasi e inibição da
acetilcolinesterase (AChE). O teste de toxicidade frente à A. salina foi realizado nas
concentrações de 1.000, 100, 10 e 1 μg/mL com 10 larvas por tubo. A atividade contra A.
aegypti foi testada nas concentrações de 1000, 500, 250, 100 e 50 μg/mL com 25 larvas por
tubo. O ensaio leishmanicida foi realizado em placa de 96 poços, com 106 parasitos por poço
com EEFL nas concentrações de 100, 50, 25, 12,5 e 6,25 µg/mL. Para determinar a atividade
de inibição da AChE foram usadas soluções de ácido 5,5’-ditiobis-2nitrobenzóico e iodeto de
acetilcolina em tampão em cromatoplaca. A inibição foi verificada com base na medição da
espessura dos halos brancos em torno das amostras. Dicromato de potássio, pentamidina e
fisostigmina foram usados como droga padrão para os testes artemicida, leishmanicida e
anticolinesterásico respectivamente. Todos os ensaios foram realizados em triplicatas. O
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EEFL apresentou CL50 com valores de 17,73 e 49,39 µg/mL para A. salina e A. aegypti
respectivamente e contra L. infantum chagasi, apresentou CE50 semelhante à droga padrão,
com valores de 16,03 e 23,71 µg/mL respectivamente. A partir destes resultados, conclui-se
que o EEFL, Z. syncarpum Tull. apresenta alternativa para o desenvolvimento de drogas
leishmanicidas e larvicidas.
Palavra-chave: Atividade leishmanicida, Larvicida, Zanthoxylum syncarpum Tull.
Abstract: Some considered neglected diseases such as dengue and leishmaniasis, still
do not have drugs or forms of effective control. The genus Zanthoxylum presents various
secondary metabolites such as alkaloids, flavonoids, coumarins, lignans and terpenes, and has
been widely used in folk medicine for various purposes. The aim of this study was to identify
the main compounds of the ethanol extract of the leaves of the limãozinho (EEFL),
Zanthoxylum syncarpum Tull. and assess their activity against Artemia salina, Aedes aegypti
and Leishmania infantum chagasi and inhibition of acethylcholinesterase (AChE). The
toxicity test in A. Saline was performed at concentrations of 1000, 100, 10 and 1 µg/mL with
10 larvae per tube. The activity against A. aegypti were tested at concentrations of 1000, 500,
250, 100 and 50 µg/mL with 25 larvae per tube. The antileishmanial assay was performed in a
96 well plate with 106 parasites per well EEFL with concentrations of 100, 50, 25, 12.5 and
6.25 µg/mL. To determine the activity of AChE solutions were used 5,5'-dithiobis
2nitrobenzóico and acetylcholine iodide in buffer cromatoplaca. The inhibition was observed
based on the measurement of the thickness of the white halos around the samples. Potassium
dichromate, pentamidine and physostigmine were used as standard drug for artemicida tests,
leishmanicidal and anticholinesterase respectively. All assays were performed in triplicate.
The EEFL presented LC50 with values of 17.73 and 49.39 µg/mL for A. salina and A. aegypti
and respectively against L. infantum chagasi, showed a similar pattern to the drug, with values
of EC50 16.03 and 23.71 µg/mL, respectively. From these results, it is concluded that the
EEFL, Z. syncarpum Tull . shows an alternative for the development of antileishmanial drugs
and larvicides.
Key words: Leishmanicidal activity, Larvicidal, Zanthoxylum syncarpum Tull.
_____________________________
Autor para correspondência: e-mail: adailsonbio@yahoo.com.br
Recebido em 10.1.2014. Aceito em 30.3.2014.

Introdução farmacológicos de plantas medicinais que


Os estudos químicos e
visam obter novos compostos com
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propriedades terapêuticas têm obtido são descritas 25 espécies de Zanthoxylum,

grandes avanços nos últimos anos. A dentre estas, a espécie Z. syncarpum Tull.

utilização de plantas medicinais sempre foi conhecida popularmente por “limãozinho”,

um recurso terapêutico alternativo de têm sua ocorrência principalmente na

grande aceitação pela população e região nordeste, em especial nos estados do

ultimamente vem crescendo junto à Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e

comunidade médica, desde que sejam Pernambuco (ROSS et al., 2004; VIEIRA

utilizadas plantas cujas atividades et al., 2009). As plantas deste gênero

biológicas tenham sido investigadas apresentam uma grande variedade de

cientificamente, comprovando sua eficácia metabólitos secundários como alcaloides,

e segurança (CECHINEL FILHO, 1998). flavonoides, cumarinas, lignanas e

As plantas medicinais terpenos, e tem sido objeto de estudo

constituem a melhor fonte para obtenção devido principalmente às suas

de uma grande variedade de drogas propriedades febrífugas, sudoríferas e

(BERTINI et al., 2005). Portanto, o estudo diuréticas, além de serem amplamente

de princípios biologicamente ativos de utilizadas pela medicina popular no

plantas, é urgentemente necessário. tratamento de doenças cardiovasculares,

Gebhardt et al. (2000), reforçam que a tuberculose, malária, dor de dente e contra

elucidação destes compostos, bem como alguns tipos de mordidas de cobra

seus mecanismos de ação, vem sendo um (FACUNDO et al., 2005).

dos maiores desafios para a química Inúmeras doenças consideradas

farmacêutica, bioquímica e a farmacologia. negligenciadas, como o dengue e a

O gênero Zanthoxylum leishmaniose, não têm ainda medicamentos

(Rutaceae) compreende cerca de 200 e/ou vacinas eficazes. Portanto, as plantas

espécies de árvores, arbustos e lianas podem fornecer compostos bioativos para

distribuídas em todo o mundo. No Brasil o desenvolvimento de fármacos para o


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tratamento destas doenças. dengue. O controle do A. aegypti é feito

O dengue é uma infecção utilizando inseticidas organofosforados

reemergente que desperta preocupação nas como temephos, malathion e fenitrothion,

autoridades sanitárias de todo o mundo, constituindo a principal medida adotada

por ser uma arbovirose com circulação nos pelos Programas de Saúde Pública

cinco continentes e elevado potencial para (MACORIS et al., 2003). No entanto, o

assumir formas graves e letais uso contínuo de inseticidas sintéticos tem

(HALSTEAD, 1997). Considerada um dos elevado à resistência de muitas populações

principais problemas de saúde publica no de mosquito, além de causar poluição

mundo, a OMS estima que 2,5 bilhões de ambiental e toxicidade a organismo não

pessoas estão sob risco de contrair dengue alvo. Estes fatores têm estimulado a

e que ocorram anualmente cerca de 50 procura por métodos alternativos para o

milhões de casos. Desse total, cerca de 550 controle do mosquito (GARCEZ et al.,

mil necessitam de hospitalização e pelo 2013).

menos 20 mil morrem em consequência da Outro grupo de doenças

doença (BRASIL, 2009). consideradas negligenciadas é o das

Nesse contexto, o dengue leishmanioses, zoonoses causadas por

tornou-se um problema contemporâneo e protozoários Leishmania spp., endêmicas

urgente para o sistema sanitário mundial em 98 países, com uma estimativa de dois

(GARCEZ et al., 2013) e até o presente milhões de novos casos por ano, sendo que

momento, não foi desenvolvido nenhum 500 mil são de leishmaniose visceral (LV),

tratamento preventivo ou curativo do potencialmente fatal (WHO, 2010). No

Dengue. A principal estratégia adotada Brasil, a LV é causada pela L. infantum

para diminuir sua incidência consiste em chagasi (SILVA et al., 2007).

controlar a população de larvas de Aedes Atualmente, o arsenal

aegypti, vetor do arbovirus causador do terapêutico disponível para tratamento da


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leishmaniose é considerado precário, sendo 2. Material e métodos

restrito a duas classes de medicamentos: os 2.1 Planta utilizada

antimoniais e os não antimoniais (GIL et Foi utilizada neste estudo, a

al., 2008), ambos apresentam alta espécie Zanthoxylum syncarpum Tull.,

toxicidade e resistência (TEMPONE et al, popularmente conhecida como limãozinho.

2005). Outros fatores inconvenientes ao As folhas do limãozinho foram coletadas

tratamento convencional são as vias de no horto medicinal da Universidade

aplicação, que geralmente são dolorosas e Estadual do Ceará, Campus do Itaperi, em

desconfortáveis e o fármaco precisa ser Fortaleza, Ceará, em janeiro de 2013. A

administrado diariamente por longos exsicata foi confeccionada e depositada no

períodos, o que muitas vezes requer Herbário Prisco Bezerra da Universidade

hospitalização acarretando em desconforto Federal do Ceará, sob o número 51937.

ao paciente e alto custo aos cofres públicos 2.2 Preparação do extrato etanólico

(BRAGA et al, 2007). das folhas do limãozinho (EEFL)

Portanto, novos e melhores O extrato etanólico das folhas

medicamentos são urgentemente do limãozinho (EEFL) foi preparado com

necessários (OPPERDOES; MICHEL, base na metodologia proposta por

2008). Neste contexto, o objetivo deste PIZZOLATTI et al. (2003). As folhas do

trabalho foi qualificar os principais limãozinho foram coletadas, picadas e

constituintes químicos e avaliar o potencial colocadas para secar a 40 °C por uma

de atividade leishmanicida contra a L. semana. Subsequentemente, este material

infantum chagasi, larvicida contra Aedes foi moído e colocado em etanol comercial

aegypti e inibição da enzima (70%) por mais sete dias. Em seguida, a

acetilcolinesterase do limãozinho (Z. solução foi filtrada e o solvente etanol foi

syncarpum Tull.).
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removido num evaporador rotativo, obtendo-se o EEFL.

2.3 Testes fitoquímicos cada concentração testadas. Um grupo

Os testes fitoquímicos controle foi preparado contendo apenas o

qualitativos de fenóis, esteróides, DMSO, água salina e as larvas. O controle

triterpenos, alcalóides e flavonóides foram positivo usado foi o dicromato de potássio.

realizados com base em MATOS (2009). Os ensaios foram realizados em triplicata.

Esses testes foram baseados na observação A contagem do número de larvas mortas

visual das mudanças de cor ou a formação foi realizada após 24 horas e esse número,

de precipitado após a adição dos reagentes usado para o cálculo da CL50 utilizando o

específicos. programa Microcal Origin versão 4.1.

2.4 Toxicidade frente à Artemia salina 2.5 Testes larvicida contra Aedes

O teste de letalidade contra A. aegypti

salina foi realizado de acordo com o Os bioensaios para determinar

método proposto por MEYER et al. a atividade larvicida frente ao vetor da

(1982), com algumas modificações. Ovos dengue e da febre amarela, o A. aegypti,

de A. salina foram incubados em água do foram realizados no Laboratório de

mar artificial à temperatura ambiente por Química de Produtos Naturais da

48 horas em um pequeno aquário. Com a Universidade Estadual do Ceará. As larvas

ajuda de uma fonte de luz, as larvas foram de A. aegypti foram gentilmente cedidas

atraídas para o claro e coletadas com pipeta pelo Núcleo de Controle de Vetores

de Pasteur e transferidas para um becher (Nuvet). O teste foi realizado de acordo

com água salina. O EEFL foi dissolvido com SILVA e SILVA (1999). Os ovos

em DMSO e água do mar nas foram eclodidos em água isenta de cloro.

concentrações de 1.000, 100, 10 e 1 Em condições normais, os ovos maduros

μg/mL. 10 metanáuplios foram transferidos eclodem após alguns minutos quando

para tubos de ensaio contendo 5 mL de submersos em meio líquido e apresentam


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quatro estágios larvários. Foram dissolvidos em dimetilsulfoxido (DMSO) e

selecionadas as larvas no estágio 3. Para diluídos em meio Shneider (Sigma ®). A

tanto, o EEFL foi dissolvido em 0,3 mL de concentração final de DMSO não

DMSO e posteriormente diluído em 19,7 ultrapassou 1%. Os experimentos foram

mL de água para a preparação das realizados em placas de 96 poços com

concentrações do EEFL em recipientes de extratos nas concentrações de 100; 50; 25;

vidro transparentes. Posteriormente, 12,5 e 6,25 µg/mL. Os inóculos

colocou-se 25 larvas em cada frasco. Após constituíram-se de 106 parasitas por poço

24 horas realizou-se a contagem das larvas em fase logarítmica. O medicamento de

vivas, para determinar a concentração letal referência usado foi a pentamidina. Os

média (CL50), com o auxílio do programa controles negativos foram realizados com

estatístico Statplus 2009. 106 parasitas em meio Shneider (Sigma ®) e

2.6 Testes in vitro contra a forma 10% de PBS. As promastigotas foram

promastigota de Leishmania incubadas a 26°C por 48 horas.

infantum chagasi Posteriormente foi analisada a viabilidade

A metodologia utilizada para celular baseada na conversão do sal de

avaliar a atividade leishmanicida do EEFL terazólio MTT solúvel (3-[4,5-

sobre as formas promastigotas de L. dimetiltiazol-2-il]-brometo de 2,5-

infantum chagasi teve como base difeniltetrazólio (Sigma®) para dentro do

TEMPONE et al. (2001). Para isso, as formazan insolúvel por enzimas

leishmanias foram acondicionadas em mitocondriais. Vinte mL de MTT [5

meio Shneider (Sigma®) suplementado e mg/mL] por poço foram adicionados à

10% de PBS (tampão fosfato-salino) com cultura, mantida durante 4 horas a 26 °C.

diferentes concentrações do extrato e com Posteriormente foi adicionado 100 µL de

inóculo do parasito na ausência dos uma solução de dodecil sulfato de sódio

compostos (controle). Os extratos foram (SDS) a 10%: álcool isopropílico (1:1).


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Após 15 minutos sob agitação, foi feito a composto capaz de inibir 50% do parasita),

leitura da densidade óptica no com um intervalo de confiança de 95%

espectrofotômetro a 570 nm. Os ensaios foram calculados usando uma curva de

foram realizados em triplicatas. regressão não-linear com o auxílio do

2.7 Inibição da enzima software de estatística GraphPad Prism 5.0.

acetilcolinesterase (AChE) A CL50 contra A. salina e A. aegypti, foi

Esse ensaio foi realizado com determinada através da análise do Probit,

base em RHEE et al., (2001), com utilizando o programa SPSS.

pequenas modificações. Foram usadas 3 Resultados e discussão

soluções de ácido 5,5’- ditiobis- Na busca por novos compostos

2nitrobenzóico (DTNB) e iodeto de com atividade leishmanicida e larvicida, as

acetilcolina (ATCI) em tampão. As plantas tem sido a principal fonte de

amostras foram aplicadas na cromatoplaca. pesquisas, uma vez que apresentam grande

Após evaporação do solvente, pulverizou- diversidade de compostos químicos. Neste

se o substrato (ATCI, 1mM em tampão) e estudo, foram realizados teste

o reagente de Ellman (DTNB, 1 mM em fitoquímicos, artemicida, larvicida,

tampão). Após 3 a 5 minutos borrifou-se a leishmanicida e atividade de inibição da

enzima (3U/mL) e em 10 minutos a placa enzima acetilcolinesterase (AChE) do

desenvolveu cor amarela. Halos brancos EEFL. Nos testes prévios para verificar a

apareceram em torno das amostras presença fenóis e taninos, obteve-se uma

indicando a inibição. Os halos foram mudança na tonalidade do composto inicial

medidos e comparados com o padrão, o para um verde profundo, indicando a

alcaloide fisostigmina. presença de taninos condensados. O teste

2.8 Análises estatísticas de antocianinas, antocianidinas e

Para a atividade leishmanicida, flavonoides, ao ser regulada com pH 11,

os valores da CE50 (concentração do apresentou uma coloração amarela,


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sinalizando a presença de Flavonas, Na literatura há relatos de que

Flavonóis e Xantonas, que pertencem ao o limãozinho é boa fonte de alcaloides

grupo dos flavonoides. As antocianinas e (OLIVEIRA JÚNIOR et al., 2009).

antocianidinas não foram identificadas Confirmando esses achados, foi detectada

neste procedimento. A presença de a presença destes compostos (Tabela 1).

flavonóis foi confirmada através da Observou-se claramente a

metodologia de Barbosa (2004), ocorrendo formação de precipitado na presença de

o aparecimento e intensificação da cor reagentes de Mayer e Dragendorff. Os

vermelha, que é indicativo da presença de alcaloides, nas plantas e na pele de alguns

flavonoides. No teste de esteroides e anfíbios funcionam como mecanismo de

triterpenoides, surgiu coloração azul defesa contra seus predadores, sistema de

evanescente, passando posteriormente para armazenamento de energia e proteção

o verde profundo, indica a presença de contra a intensidade dos raios UV.

esteroides livre em solução. Enquanto que, Eles também correspondem aos

no teste para identificação de saponinas, principais terapêuticos naturais com ação:

não houve aparecimento de espuma anestésica, analgésica, psicoestimulantes,

consistente, indicando que não há neurodepressores etc.

saponinas na amostra estudada (Tabela 1).

Tabela 1 – Prospecção fitoquímica do EEFL

Componentes Presente Componentes Presente

Taninos Condensados X Xantonas X

Antocianinas - Esteroides X

Antocianidinas - Triterpenoides -

Flavonas X Saponinas -

Flavonóis X Alcaloides X
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Na Determinação do Teor de toxicidade contra A. salina mostrou alta

Fenóis Totais, onde o resultado expresso atividade do EEFL, o que demonstra que

por mg de ácido gálico (EAG)/g de extrato este extrato é rico em metabólitos com

bruto foi de 166,74 mg EAG/g, atividades biológicas (Tabela 2). A

demonstrando alto teor de fenóis totais, atividade larvicida contra A. aegypti do

sendo uma fonte natural de compostos EEFL foi testada em cinco concentrações

fenólicos e possíveis alternativas para diferentes: 1000, 500, 250, 100 e 50 μg/mL

atividades biológicas. A. salina (Tabela 2). Foram usadas 25 larvas por

(Artemiidae), também conhecida como a tubo. Os testes foram realizados em

larva do camarão salmoura, é um triplicata para cada concentração. No

microcrustáceo invertebrado, normalmente Brasil, o controle das larvas de A. aegypti é

usada em ensaios biológicos para feito principalmente à base de

determinar a atividade e/ou toxicidade de organofosforados como o temefós, que é

compostos naturais. O uso de A. salina aplicado á uma concentração de 100

para este fim é justificado por ser um teste μg/mL nos locais que servem de criadouros

seguro, prático e econômico e estudos têm para larvas do mosquito (BRASIL, 2009).

demonstrado que esses ensaios são eficazes O temefós utilizado como droga

na pesquisa de substâncias leishmanicidas padrão frente à larvas de A. aegypti em

(BARBOSA et al., 2009). Quanto a concentração única de 100 μg/mL obteve-

toxicidade de compostos, Meyer et al. se taxa de mortalidade de 100% (TELES,

(1982) consideram uma substância bioativa 2009). O EEFL apresentou CL50 com valor

com CL50 até 1.000 µg/mL. O ensaio de de 49,39 μg/mL (Tabela 2).

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Tabela 2: Toxicidade contra A. salina e atividade larvicida frente ao A. aegypti do EEFL

CL50 µg/mL (intervalo de confiança)


Composto
A. salina A. aegypti

EEFL 17,73 (10,33 – 30,63)a 49,39 (41,70 – 53,02)

Dicromato de potássio 11,01 (7,09 – 17,59)a -

Temefós - 100%*
*
percentagem de morte à 100 µg/mL (Teles, 2009).

A procura por larvicidas Quanto aos mecanismos de

naturais para combater o A. aegypti, tem ação de larvicidas naturais, existem

despertado pesquisadores do mundo inteiro trabalhos na literatura que fazem uma

a realizar diversos trabalhos voltados para correlação desta ação com a atividade de

este fim. Uma das principais vantagens inibição da enzima acetilcolinesterase

desta linha de pesquisa é que os larvicidas (SILVA, 2006; TELES, 2009). O EEFL

de origem natural reduzem de forma apresentou moderada atividade inibitória

significante o impacto que atualmente os da AChE (tabela 3) o que sugere que há

inseticidas sintéticos causam à saúde da outros mecanismos de ação envolvidos na

população e ao ambiente (TELES, 2009). atividade larvicida.

No entanto, além dos riscos à saúde e ao O tratamento da leishmaniose,

meio ambiente, larvicidas além de caro e doloroso, tem se tornado

organofosforados como o temefós cada vez mais ineficaz, o que evidencia a

apresenta-se de forma ineficaz e envolve urgente necessidade de novas drogas

enormes investimentos financeiros leishmanicidas (RATH et al., 2013). Neste

(AUGUSTO; FREITAS, 1998). Portanto o estudo, o EEFL apresentou atividade

EEFL constitui-se uma potencial fonte de contra L. infantum chagasi semelhante à

compostos com atividade larvicida. pentamidina (tabela 3), mostrando que a


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espécie Z. syncarpum Tull. compõe fonte desenvolvimento de fármacos

de compostos com potencial para o leishmanicidas.

Tabela 3: Atividade leishmanicida frente à L. infantum chagasi e inibição da

acetilcolinesterase do EEFL

Extrato / droga CE50 L. infantum chagasi Inibição da acetilcolinesterase (cm)

EEFL 16,03 (13,21 – 19,44)a 0,6

Pentamidina 23,71 (18,44 - 30,50)a -

Fisostigmina - 0,9

CE50 = µg/mL

De acordo com VILA-NOVA Conclusões

et al. (2013), um possível mecanismo de O EEFL apresenta metabólitos

ação de compostos leishmanicidas poderia secundários de grande relevância na

ser a inibição da enzima AChE, com farmacologia de plantas medicinais, como

redução do substrato colina, essencial para alcalóides, triterpenos, flavonoides,

a formação de lipídeos de membrana de xantonas e taninos condensados. Este

Leishmania spp. Como o EEFL apresentou extrato apresentou atividade larvicida,

baixa atividade de inibição da AChE, é artemicida e leishmanicida. Portanto, a

provável que a atividade leishmanicida espécie Zanthoxylum syncarpum Tull.

deste extrato apresente outro mecanismo apresenta fonte alternativa para o

de ação. A excelente atividade do EEFL desenvolvimento de drogas leishmanicidas

frente à L. infantum chagasi, pode ser e larvicidas.

justificada pela presença de taninos,

flavonoides, esteroides e alcalóides.


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