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(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.509/2016........................................)
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de Rey Nobleza Limas, na qualidade de Comandante do N/M “NORD TREASURE”,
com fulcro no art. 15, alínea “e” (exposição a risco) da Lei nº 2.180/54.
Alegou que, na qualidade de responsável pelo zelo da embarcação, deve ser
responsabilizado pelo incidente em exame eis que agiu de forma negligente ao permitir
que pessoa estranha à tripulação ingressasse clandestinamente a bordo do navio quando
ainda estava atracado no porto de Dakar, requerendo a sua condenação.
Por determinação do então Juiz Relator, Nelson Cavalcante, foi publicado
Nota de Arquivamento em 16 de outubro de 2017, e notificada a PEM, tendo o prazo
para manifestação de possíveis interessados expirado em 18 de dezembro de 2017 sem
manifestações, conforme Certidão de fl. 162.
Na sessão ordinária nº 7.232ª, do dia 24/04/2018, por maioria, nos termo do
voto do Sr. Juiz Revisor, Fernando Alves Ladeiras, o Tribunal Marítimo recebeu a
Representação da D. Procuradoria Especial da Marinha, para que prosseguisse na forma
da lei, sendo acompanhado pelos Srs. Juízes Geraldo de Almeida Padilha e Sergio Bezera
de Matos e pela Sra. Juíza Maria Cristina de Oliveira Padilha. Vencidos o Sr. Juiz
Relator, Nelson Cavalcante e Silva Filho, que não recebia a Representação, nos seguintes
termos: “Não receber a representação e mandar arquivar os autos, pois o fato da
navegação que dá ensejo à ação foi perpetrado por pessoa diversa daquela representada,
mandando arquivar os autos”, e que foi acompanhado pelo Sr. Juiz Marcelo David
Gonçalves.
O Representado, Rey Nobleza Limas, que não consta do rol de culpados
neste E. Tribunal foi regularmente citado, via Edital, fls. 179 e 180 (publicado nos e-
DTM nºs 98, 99 e 100, de 27/07/18, 30/07/18 e 31/07/18), em cumprimento ao
estabelecido na Lei nº 2.180/54, artigos 53 e 55, c/c o previsto no RIPTM, artigos 68,
inciso III e 73, letra “b”, fls. 181 e 182, foi defendido pela D. Defensoria Pública da
União, fls. 188 a 193, que, além da Negativa Geral (prerrogativa da Defensoria Pública,
parágrafo único do art. 341, do CPC), alegou “ausência de comprovação do fato
imputado ao Representado”, que, pelo simples fato de ter ocorrido a entrada e
permanência de clandestino a bordo não é comprovação de negligência do Comandante,
sendo-lhe imputada a responsabilidade unicamente por ser o comandante do N/M
“NORD TREASURE”. Em seu depoimento, o Representado afirmou que realizou todos
os procedimentos necessários de inspeção do navio; que há um “check list” de
procedimentos para a prevenção de passageiros clandestinos no Sistema de Gestão de
Segurança exigido pelo ISM; as amarras do navio estavam equipadas com protetores para
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evitar intrusos; as escadas, quando não estavam em uso, eram “dobradas”, amarradas e
estivadas no convés; as portas de acesso aos compartimentos habitáveis ficavam
fechadas; as tampas de escotilha fechadas internamente; e com rondas 24 horas por três
tripulantes, em sistema de patrulha no convés, mas, muito embora todas as medidas de
prevenção tenham sido devidamente tomadas, estando a tripulação bem orientada, ainda
assim, o clandestino conseguiu entrar e se manter escondido no navio.
Alegou que o depoimento do Marinheiro de Máquinas Gereco Lovernei
Mandigal Lara, fls. 26/28, confirma as declarações do seu Comandante.
O clandestino, Mamadisalioso, fls. 40/42, em seu depoimento, declarou que
se utilizou de uma pequena embarcação para adentrar ao navio, pelo lado de mar, sem
ajuda de qualquer tripulante ou de estivadores do porto; que esperou anoitecer e jogou
um cabo sobre a amura e, desta forma, logrou êxito em embarcar no navio; ficou
escondido na baleeira e, posteriormente, se direcionou à praça de máquinas, onde foi
descoberto, já em águas internacionais; os locais de acesso eram iluminados; e que, de
onde estava, não conseguia visualizar se estavam fazendo buscas à clandestinos no navio,
mas ouviu passos constantes de pessoas transitando no local.
Alegou que o próprio Encarregado do IAFN concluiu que, embora a notícia
do ingresso do clandestino, a verdadeira causa não pode ser determinada acima de
qualquer dúvida.
Após descoberto, o clandestino recebeu alimentação, água, vestuário e foi
vigiado durante a viagem, evitando possível fuga, aguardando a chegada ao porto
brasileiro, dignamente; e que não ofereceu risco à segurança da embarcação, bem como
das vidas e fazendas de bordo.
Finalizou requerendo a improcedência da Representação.
Aberta a Instrução, fl. 194 (publicado no e-DTM nº 159, de 07/11/18), a PEM
se manifestou, fl. 195 verso, por se louvar nas provas dos autos, e a DPU, no patrocínio
do Representado, fl. 196 verso, declarou que não tinha provas a produzir.
Encerrada a Instrução, em Alegações Finais, fl. 197 (publicado no e-DTM nº
50, de 29/04/19), a PEM, fl. 198 verso, reiterou os termos de sua inicial e que os
sustentaria em plenário, e a DPU, fl. 199 verso, reiterou os termos de sua Defesa de fls.
188 e seguintes.
É o Relatório.
Decide-se:
De tudo o que consta dos presentes autos, temos que a D. Procuradoria
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representou em face de Rey Nobleza Limas, na qualidade de Comandante do N/M
“NORD TREASURE”, com fulcro no art. 15, alínea “e” (exposição a risco) da Lei nº
2.180/54, por ser o responsável pelo zelo da embarcação, Oficial de Proteção do navio,
por sua negligência ao permitir que pessoa estranha à tripulação ingressasse
clandestinamente a bordo do navio quando ainda estava atracado no porto de Dakar,
requerendo a sua condenação.
O Representado, Rey Nobleza Limas, que não consta do rol de culpados
neste E. Tribunal foi defendido pela D. Defensoria Pública da União, que, além da
Negativa Geral alegou “ausência de comprovação do fato imputado ao Representado”,
que, o Representado afirmou que realizou todos os procedimentos necessários de
inspeção do navio e que o próprio Encarregado do IAFN concluiu que, embora a notícia
do ingresso do clandestino, a verdadeira causa não pode ser determinada acima de
qualquer dúvida, requerendo a improcedência da Representação.
Aberta a Instrução, nenhuma prova adicional foi produzida e em Alegações
Finais falaram as partes reforçando suas teses de acusação e de defesa.
Não pode ser aceita a tese da Defesa.
Dos depoimentos ficou claro que houve falha tanto nos procedimentos para
evitar o ingresso de clandestinos a bordo como e principalmente quanto às inspeções
realizadas a bordo, haja vista que o clandestino se escondeu na baleeira e, mesmo assim,
estando em um esconderijo tão fácil de ser descoberto, não foi localizado, evidenciando
que os procedimentos eram falhos e que a tripulação não estava devidamente treinada e
motivada a executar as tarefas previstas no “check list”, da responsabilidade do Oficial de
Proteção do navio que era o próprio Comandante, como declarado em seu depoimento.
Por todo o exposto, com base no conjunto probatório dos autos, não havendo
qualquer prova em contrário, devem ser acolhidos os termos da Representação da PEM
para responsabilizar o Representado, por sua conduta imprudente e negligente, que
resultou no ingresso e permanência a bordo de um clandestino, fato da navegação,
tipificado no art. 15, letra “e” (exposição a risco), da Lei nº 2.180/54.
Na aplicação da pena, dever ser considerado o fato de não ter antecedentes
neste E. Tribunal.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do fato da navegação: clandestino estrangeiro embarcado em navio
estrangeiro, no porto de Dakar, que foi encontrado em viagem para o porto de Vila do
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Conde, PA, sem registro de avarias ao navio, sem danos pessoais ou ambientais; b)
quanto à causa determinante: falha no sistema de proteção do navio, descumprindo o
Código Internacional para Proteção de Navios e Instalações Portuárias, “ISPS Code”,
permitindo o acesso de clandestino a bordo, que embarcou pelo costado, lado de mar, e se
escondeu na baleeira, e, em especial, falha nas buscas por clandestinos; e c) decisão:
julgar o fato da navegação, tipificado no art. 15, alínea “e” (exposição a risco), da Lei n°
2.180/54, como decorrente de negligência do Representado, Rey Nobleza Limas, filipino,
Comandante e Oficial de Proteção do N/M “NORD TREASURE”, acolhendo os termos
da Representação da Douta Procuradoria Especial da Marinha, e, considerando as
circunstâncias e consequências dos fatos apurados, com fulcro nos artigos 58, 121,
incisos I e VII, 124, inciso IX e 127, todos os artigos da Lei n° 2.180/54, aplicar-lhe a
pena de multa de R$ 500,00 (quinhentos reais), cumulativamente com a pena de
repreensão, isento das custas processuais, conforme requerido pela Douta Defensoria
Pública da União.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 15 de agosto de 2019.
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