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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/FAL PROCESSO Nº 30.509/16


ACÓRDÃO

N/M “NORD TREASURE”. Embarque de clandestino. Falha no sistema de


proteção do navio, descumprindo o Código Internacional para Proteção de
Navios e Instalações Portuárias, “ISPS Code”, permitindo o acesso de
clandestino a bordo, que embarcou pelo costado, lado de mar, e se escondeu
na baleeira, e, em especial, falha nas buscas por clandestino. Negligência.
Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


Tratam os autos do transporte de um clandestino, encontrado a bordo cerca
das 11h40min do dia 21 de maio de 2015, em viagem do porto de Dakar, Senegal, para o
porto de Vila do Conde, PA, envolvendo o N/M “NORD TREASURE” (bandeira
panamenha, indicativo de chamada 3ES17, nº IMO 9566459, tipo graneleiro, de 189,99m
de comprimento e 32,25m de boca, 31.882 AB, classificado para navegação de longo
curso, de propriedade e armação da empresa Tradewind Navigation S/A), sob o comando
de Rey Nobleza Limas, filipino, sem registro de avarias no navio, sem danos pessoais ou
ambientais.
No Inquérito instaurado pela Capitania dos Portos da Amazônia Oriental
foram ouvidas três testemunhas, o Comandante do navio, o marinheiro de Máquinas e o
Clandestino, e anexados aos autos os documentos de praxe.
No Laudo de Exame Pericial, fls. 9 a 11 verso, os Peritos apresentaram a
seguinte sequência de acontecimentos: o navio navegava em lastro, procedente do porto
de Dakar, Senegal, com destino ao porto de Vila do Conde, PA, quando, cerca das
11h40min do dia 21 de maio de 2015, nas coordenadas de Latitude 05º 26' N e Longitude
036º 20’ W, o Marinheiro de Máquinas Lara Gereco avistou um clandestino na praça de
máquinas, próximo do incinerador, e informou imediatamente ao Chefe de Máquinas e ao
Comandante. O clandestino foi levado para uma área aberta, no convés, para revista
física, mas nenhum documento foi encontrado, apenas alguns biscoitos e um rádio MP3.
O clandestino falava somente na língua francesa e através de sinais, explicou detalhes da
sua entrada a bordo. Recebeu roupas, alimentação, roupa de cama e foi alojado na sala
dos estivadores, por ser fechado por fora das acomodações, com cadeado.
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Os Peritos concluíram que o fator operacional contribuiu e concluíram que a
causa determinante foi a falha no cumprimento do Plano de Proteção de bordo, pois o
clandestino teria embarcado pela parte de vante do navio, pela amura, caminhou para ré,
ficou escondido na baleeira e não foi encontrado durante as buscas.
Nas fls. 116 a 125 constam as listas de verificação de clandestino (checklist)
e as Declarações de Segurança preenchidas. No checklist efetuado entre 22h30min e
23h30min do dia 16 de maio de 2015, quando o navio largou de Dakar, onde consta que
todos os compartimentos a bordo foram verificados, inclusive as baleeiras.
Rey Nobleza Limas, fls. 16 a 20, declarou que era o Comandante do N/M
“NORD TREASURE”; que era o Oficial de Proteção do navio e o Imediato era o seu
substituto; o navio possui um checklist de procedimentos para a prevenção de passageiros
clandestinos previstos dentro do Sistema de Gestão de Segurança exigido pelo Código
ISM, Plano de Proteção, conforme previsto no art. 9.1 do Código Internacional para
Proteção de Navios e Instalações Portuárias (Código ISPS) e também o Plano de Proteção
para prevenir o acesso não autorizado ao navio; o navio estava atracado no porto e o
único meio de ingressar para bordo era através da escada de portaló, a qual era
guarnecida por um tripulante de serviço; eram feitos registros de embarque e
desembarque de pessoas a bordo, registrando no livro no portaló, entregado um Cartão de
Visitante que era devolvido na saída e lançado no livro com o horário e a assinatura do
visitante, exceto para os estivadores que já ingressavam a bordo com suas respectivas
identificações.
Mamadisalioso, clandestino, fls. 40 a 42, em síntese, declarou que era
nacional da Guiné; ingressou a bordo à noite, de um barco de pesca de um amigo no
porto de Dakar, jogando um cabo sobre a amura do navio, mas não se recorda a data nem
a hora; primeiro se escondeu no interior da baleeira, depois foi mudando de lugar e,
finalmente, procurou a sala de máquinas onde foi descoberto; que, de onde estava, não
dava para saber se realizaram buscas antes da saída do navio, mas ouvia passos de
pessoas transitando pelo local; foi sua primeira vez como clandestino; resolveu deixar seu
país a fim de conseguir emprego.
O Encarregado do Inquérito, fls. 142 a 146, discordando dos Peritos, concluiu
que “apesar de haver notícia nos autos no sentido de que o clandestino tenha ingressado
para bordo do N/M ‘NORD TREASURE’ pela amura do navio, a verdadeira causa não
pode ser determinada acima de qualquer dúvida”, não apontando possível responsável.
A D. Procuradoria Especial da Marinha, fls. 154 a 157, representou em face

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de Rey Nobleza Limas, na qualidade de Comandante do N/M “NORD TREASURE”,
com fulcro no art. 15, alínea “e” (exposição a risco) da Lei nº 2.180/54.
Alegou que, na qualidade de responsável pelo zelo da embarcação, deve ser
responsabilizado pelo incidente em exame eis que agiu de forma negligente ao permitir
que pessoa estranha à tripulação ingressasse clandestinamente a bordo do navio quando
ainda estava atracado no porto de Dakar, requerendo a sua condenação.
Por determinação do então Juiz Relator, Nelson Cavalcante, foi publicado
Nota de Arquivamento em 16 de outubro de 2017, e notificada a PEM, tendo o prazo
para manifestação de possíveis interessados expirado em 18 de dezembro de 2017 sem
manifestações, conforme Certidão de fl. 162.
Na sessão ordinária nº 7.232ª, do dia 24/04/2018, por maioria, nos termo do
voto do Sr. Juiz Revisor, Fernando Alves Ladeiras, o Tribunal Marítimo recebeu a
Representação da D. Procuradoria Especial da Marinha, para que prosseguisse na forma
da lei, sendo acompanhado pelos Srs. Juízes Geraldo de Almeida Padilha e Sergio Bezera
de Matos e pela Sra. Juíza Maria Cristina de Oliveira Padilha. Vencidos o Sr. Juiz
Relator, Nelson Cavalcante e Silva Filho, que não recebia a Representação, nos seguintes
termos: “Não receber a representação e mandar arquivar os autos, pois o fato da
navegação que dá ensejo à ação foi perpetrado por pessoa diversa daquela representada,
mandando arquivar os autos”, e que foi acompanhado pelo Sr. Juiz Marcelo David
Gonçalves.
O Representado, Rey Nobleza Limas, que não consta do rol de culpados
neste E. Tribunal foi regularmente citado, via Edital, fls. 179 e 180 (publicado nos e-
DTM nºs 98, 99 e 100, de 27/07/18, 30/07/18 e 31/07/18), em cumprimento ao
estabelecido na Lei nº 2.180/54, artigos 53 e 55, c/c o previsto no RIPTM, artigos 68,
inciso III e 73, letra “b”, fls. 181 e 182, foi defendido pela D. Defensoria Pública da
União, fls. 188 a 193, que, além da Negativa Geral (prerrogativa da Defensoria Pública,
parágrafo único do art. 341, do CPC), alegou “ausência de comprovação do fato
imputado ao Representado”, que, pelo simples fato de ter ocorrido a entrada e
permanência de clandestino a bordo não é comprovação de negligência do Comandante,
sendo-lhe imputada a responsabilidade unicamente por ser o comandante do N/M
“NORD TREASURE”. Em seu depoimento, o Representado afirmou que realizou todos
os procedimentos necessários de inspeção do navio; que há um “check list” de
procedimentos para a prevenção de passageiros clandestinos no Sistema de Gestão de
Segurança exigido pelo ISM; as amarras do navio estavam equipadas com protetores para

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evitar intrusos; as escadas, quando não estavam em uso, eram “dobradas”, amarradas e
estivadas no convés; as portas de acesso aos compartimentos habitáveis ficavam
fechadas; as tampas de escotilha fechadas internamente; e com rondas 24 horas por três
tripulantes, em sistema de patrulha no convés, mas, muito embora todas as medidas de
prevenção tenham sido devidamente tomadas, estando a tripulação bem orientada, ainda
assim, o clandestino conseguiu entrar e se manter escondido no navio.
Alegou que o depoimento do Marinheiro de Máquinas Gereco Lovernei
Mandigal Lara, fls. 26/28, confirma as declarações do seu Comandante.
O clandestino, Mamadisalioso, fls. 40/42, em seu depoimento, declarou que
se utilizou de uma pequena embarcação para adentrar ao navio, pelo lado de mar, sem
ajuda de qualquer tripulante ou de estivadores do porto; que esperou anoitecer e jogou
um cabo sobre a amura e, desta forma, logrou êxito em embarcar no navio; ficou
escondido na baleeira e, posteriormente, se direcionou à praça de máquinas, onde foi
descoberto, já em águas internacionais; os locais de acesso eram iluminados; e que, de
onde estava, não conseguia visualizar se estavam fazendo buscas à clandestinos no navio,
mas ouviu passos constantes de pessoas transitando no local.
Alegou que o próprio Encarregado do IAFN concluiu que, embora a notícia
do ingresso do clandestino, a verdadeira causa não pode ser determinada acima de
qualquer dúvida.
Após descoberto, o clandestino recebeu alimentação, água, vestuário e foi
vigiado durante a viagem, evitando possível fuga, aguardando a chegada ao porto
brasileiro, dignamente; e que não ofereceu risco à segurança da embarcação, bem como
das vidas e fazendas de bordo.
Finalizou requerendo a improcedência da Representação.
Aberta a Instrução, fl. 194 (publicado no e-DTM nº 159, de 07/11/18), a PEM
se manifestou, fl. 195 verso, por se louvar nas provas dos autos, e a DPU, no patrocínio
do Representado, fl. 196 verso, declarou que não tinha provas a produzir.
Encerrada a Instrução, em Alegações Finais, fl. 197 (publicado no e-DTM nº
50, de 29/04/19), a PEM, fl. 198 verso, reiterou os termos de sua inicial e que os
sustentaria em plenário, e a DPU, fl. 199 verso, reiterou os termos de sua Defesa de fls.
188 e seguintes.
É o Relatório.
Decide-se:
De tudo o que consta dos presentes autos, temos que a D. Procuradoria

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representou em face de Rey Nobleza Limas, na qualidade de Comandante do N/M
“NORD TREASURE”, com fulcro no art. 15, alínea “e” (exposição a risco) da Lei nº
2.180/54, por ser o responsável pelo zelo da embarcação, Oficial de Proteção do navio,
por sua negligência ao permitir que pessoa estranha à tripulação ingressasse
clandestinamente a bordo do navio quando ainda estava atracado no porto de Dakar,
requerendo a sua condenação.
O Representado, Rey Nobleza Limas, que não consta do rol de culpados
neste E. Tribunal foi defendido pela D. Defensoria Pública da União, que, além da
Negativa Geral alegou “ausência de comprovação do fato imputado ao Representado”,
que, o Representado afirmou que realizou todos os procedimentos necessários de
inspeção do navio e que o próprio Encarregado do IAFN concluiu que, embora a notícia
do ingresso do clandestino, a verdadeira causa não pode ser determinada acima de
qualquer dúvida, requerendo a improcedência da Representação.
Aberta a Instrução, nenhuma prova adicional foi produzida e em Alegações
Finais falaram as partes reforçando suas teses de acusação e de defesa.
Não pode ser aceita a tese da Defesa.
Dos depoimentos ficou claro que houve falha tanto nos procedimentos para
evitar o ingresso de clandestinos a bordo como e principalmente quanto às inspeções
realizadas a bordo, haja vista que o clandestino se escondeu na baleeira e, mesmo assim,
estando em um esconderijo tão fácil de ser descoberto, não foi localizado, evidenciando
que os procedimentos eram falhos e que a tripulação não estava devidamente treinada e
motivada a executar as tarefas previstas no “check list”, da responsabilidade do Oficial de
Proteção do navio que era o próprio Comandante, como declarado em seu depoimento.
Por todo o exposto, com base no conjunto probatório dos autos, não havendo
qualquer prova em contrário, devem ser acolhidos os termos da Representação da PEM
para responsabilizar o Representado, por sua conduta imprudente e negligente, que
resultou no ingresso e permanência a bordo de um clandestino, fato da navegação,
tipificado no art. 15, letra “e” (exposição a risco), da Lei nº 2.180/54.
Na aplicação da pena, dever ser considerado o fato de não ter antecedentes
neste E. Tribunal.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do fato da navegação: clandestino estrangeiro embarcado em navio
estrangeiro, no porto de Dakar, que foi encontrado em viagem para o porto de Vila do

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Conde, PA, sem registro de avarias ao navio, sem danos pessoais ou ambientais; b)
quanto à causa determinante: falha no sistema de proteção do navio, descumprindo o
Código Internacional para Proteção de Navios e Instalações Portuárias, “ISPS Code”,
permitindo o acesso de clandestino a bordo, que embarcou pelo costado, lado de mar, e se
escondeu na baleeira, e, em especial, falha nas buscas por clandestinos; e c) decisão:
julgar o fato da navegação, tipificado no art. 15, alínea “e” (exposição a risco), da Lei n°
2.180/54, como decorrente de negligência do Representado, Rey Nobleza Limas, filipino,
Comandante e Oficial de Proteção do N/M “NORD TREASURE”, acolhendo os termos
da Representação da Douta Procuradoria Especial da Marinha, e, considerando as
circunstâncias e consequências dos fatos apurados, com fulcro nos artigos 58, 121,
incisos I e VII, 124, inciso IX e 127, todos os artigos da Lei n° 2.180/54, aplicar-lhe a
pena de multa de R$ 500,00 (quinhentos reais), cumulativamente com a pena de
repreensão, isento das custas processuais, conforme requerido pela Douta Defensoria
Pública da União.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 15 de agosto de 2019.

FERNANDO ALVES LADEIRAS


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.

Rio de Janeiro, RJ, em 15 de outubro de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA


DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2019.10.29 16:47:42 -03'00'

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