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INSTITUTO DE ZOOTECNIA
MONOGRAFIA
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ZOOTECNIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
Seropédica, RJ
Julho de 2019
i
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Biblioteca Central / Seção de Processamento Técnico
Ficha catalográfica elaborada com dados fornecidos pelo autor
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ZOOTECNIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
APROVADA EM ____/_____/_____
________________________________________________
UFRRJ/IZ/DNAP
________________________________________________
Prof. Dr. João Carlos de Carvalho Almeida
UFRRJ/IZ/DNAP
________________________________________________
Prof. Dr. Pedro Antônio Muniz Malafaia
UFRRJ/IZ/DNAP
iii
DEDICO
A Deus.
Aos meus pais, Sônia Maria e Luiz Carlos (in memoriam).
Ao meu irmão Cláudio (in memoriam) e a minha irmã Cláudia.
Aos meus padrinhos e pais adotivos,
Carlos Henrique e Luzia.
A minhas tias, Maria Do Carmo e Maria Lúcia e
Maria José, Magali e Marilda (in memoriam).
Ao meu tio, Edison.
Aos meus sobrinhos, Danilo, Vinicius,
Luiza e Bernardo.
Aos meus verdadeiros amigos.
Pierre Corneille
iv
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, por ter trilhado meu caminho durante meus 25 anos de
vida, para que hoje, eu me tornasse um Zootecnista.
Agradeço à minha mãe, Sônia Maria, por ter feito tudo o que foi possível por mim. O
homem que me tornei é reflexo do seu amor, carinho e orientação.
Agradeço ao meu pai, Luiz Carlos (in memoriam), por todo o amor recebido até meus 17
anos de vida. O senhor me deixou, mas me deixou preparado para enfrentar o mundo na sua
ausência. Tudo o que faço procurar te dar orgulho, onde é que esteja.
Agradeço à minhas tias Maria Do Carmo e Maria de Lurdes, Maria José (in memoriam),
Marilda Helena (in memoriam) e Magali (in memoriam) por contribuírem desde o início de minha
vida para minha formação intelectual e profissional.
Agradeço ao meu tio Edison, por todo amor concedido na ausência de meu pai.
Agradeço à minha irmã Cláudia, por todo o amor e apoio.
Agradeço aos meus padrinhos, Carlos Henrique e Luzia, por todo amor, apoio, orientação
e confiança incondicionais. Vocês em muito contribuíram para que eu me tornasse este homem.
Agradeço aos meus sobrinhos Danilo, Vinicius, Luiza e Bernardo, por todo o carinho,
respeito, admiração e amor que vocês depositam em mim.
Agradeço aos meus amigos de infância, Felipe e Luis Fernando, pelo amor e irmandade por
toda minha vida.
Agradeço aos meus amigos, Luís Felipe, Eduardo Sardinha, André Zuccari, Nichollas
Trajano, Elon Candez, Diego Henrique, Leonardo Viana, Ismael Nacarati, Igor Monteiro, Matheus
Queiroz, Eduardo Vellozo, Caio Borba, Juan Pabllo, Fábio Costa, Lais Castro, Ana Flavia, Danielle
Pião, Brennda Paula, Silvia Vitória, Anna Clara Leite, Júlia Sarlo, Tamiris Lima, Marianna Severo,
Janisse Monteiro, Matheus Alves e Jefferson Chaves por terem feito da graduação a melhor fase
da minha vida. Os momentos vividos foram intensos, com muito amor, carinho e risadas.
Agradeço pela amizade dos professores João Batista Rodrigues (orientador), Thiago
Bernardes, Pedro Malafaia, João Carlos de Carvalho, Rondineli Pavezzi, Alexandre Herculano e
Nivaldo de Farias. Em especial ao meu orientador, sou grato pela amizade e orientação por toda
minha graduação, o que muito contribuiu para minha formação profissional e pessoal.
v
Agradeço à Vital Jr., Empresa Júnior de Zootecnia da UFFRJ, por ter sido o principal meio
para meu crescimento profissional. Obrigado pela família que formamos e pelas oportunidades
promovidas durante minha passagem pela empresa.
Agradeço a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e ao Instituto de Zootecnia, por
terem promovido condições para que eu me tornasse um Zootecnista. Amarei eternamente essas
instituições, que terão minha gratidão em toda minha vida, por tudo aquilo que me promoveram.
vi
RESUMO
Em função de diversos fatores, o Brasil apresenta grande vocação para produção de leite a pasto,
apesar disso, as produtividades por área e por animal observadas no campo são aquém do
potencialmente atingível, principalmente por haver sólidos conhecimentos e tecnologias sobre
esses sistemas de produção. A importância social e econômica da cadeia produtiva do leite é
amplamente reconhecida, que gera trabalho e renda para grande contingente de pessoas em toda
sua extensão, desde o campo até o consumidor final. Partindo desta notória relevância, o objetivo
com este trabalho foi realizar um estudo avaliativo e gerar recomendações técnicas para
intensificação da produção de leite a pasto em uma propriedade familiar em Além Paraíba-MG. A
propriedade apresenta 12,6 hectares de área total dividida em 0,5 hectare de sede, 0,8 de reserva
legal, 4,92 de pastagem bem manejada e produtividade mediana, 1,22 hectares de pastagem mal
manejada, 3,09 hectares de pastagem degradada, 1,08 hectare de área úmida e com invasoras, 0,56
hectare de área excessivamente úmida e com encosta de morro e 0,5 hectare com forrageira para
suplementação. O sistema de produção apresentou características comuns aquelas observadas em
grande maioria das propriedades brasileiras dedicadas à pecuária leiteira. No diagnóstico, foi
contabilizado 22 animais, dos quais 12 eram vacas, cinco novilhas, quatro bezerros e uma bezerra,
caracterizando um rebanho desestruturado. As vacas têm baixa especialização para produção de
leite, com média de 8,8 litros/dia. Não existe controle de dados do sistema, o que impossibilita a
geração de indicadores para sua avaliação. Em um hectare há um sistema de pastejo com lotação
rotacionada para sete vacas em lactação e no restante da propriedade o pastejo é contínuo para os
demais animais do rebanho. O produtor é adepto à ideias e tecnologias, além de apresentar vocação
para o trabalho na atividade, sendo a questão financeira a única limitação para implantação do
projeto. As instalações e equipamentos existentes não limitam a operação atual da propriedade e
não se configuram limitantes para intensificação do sistema de produção. Foram feitas orientações
quanto ao controle e gerenciamento de dados sobre o sistema, permitindo gestão dos indicadores
para tomada de decisões. Foi recomendado mudança do grupo genético do rebanho para animais
mestiços holandês-friesian x jersey, buscando animais especializados para produção de leite a
pasto. Realocação de áreas foi realizada para formação de novas pastagens e canavial, além de
infraestrutura e manejo de sistema de pastejo com lotação rotacionada em toda propriedade.
Recomendações para recria reduzida foi realizada visando uma estrutura mais econômica do
rebanho. Foi elaborado protocolo para formação de pastagens e lavoura de cana-de-açúcar, além
de planos de correção da acidez do solo e adubação de produção. As recomendações permitiram a
projeção de um rebanho com 56 animais (41 vacas e 15 novilhas).
Due to several factors, Brazil has a great vocation for milk production to pasture, despite that, the
productivity per area and per animal observed in the field are less than potentially attainable, mainly
due to the solid knowledge and technologies on these production systems. The social and economic
importance of the milk production chain is widely recognized, generating work and income for a
large number of people in its entirety, from the field to the consumer. Based on this remarkable
relevance, the aim of this work was to conduct an evaluative study and generate technical
recommendations for intensification of milk production to pasture in a familiar property in Além
Paraíba-MG. The property has 12.6 hectares of total area divided into 0.5 hectare of headquarters,
0.8 legal reserve, 4.92 grazing well managed and medium productivity, 1.22 hectares of poorly
managed pasture, 3.09 hectares of degraded pasture, 1.08 hectares of wetland and with invasives,
0.56 hectares of excessively humid area and with hillside and 0.5 hectare with forage for
supplementation. The production system presented common features to those observed in most of
the Brazilian properties dedicated to dairy cattle. In the diagnosis, 22 animals were counted, of
which 12 were cows, five heifers, four calves and one heifer, characterizing a unstructured herd.
Cows have low specialization for milk production, with a mean of 8.8 liters / day. There is no data
control of the system, which makes it impossible to generate indicators for its evaluation. There is
a grazing system in 1 hectare with rotational stocking for seven lactating cows and in the rest of
the property the grazing is continuous for the other animals of the herd. The producer is adept at
ideas and technologies, besides presenting vocation to work in the activity, being the financial issue
the only limitation for project implementation. Existing installations and equipment do not limit
the current operation of the property and are not limited to the intensification of the production
system. Guidance was given on the control and management of data on the system, allowing
management of the indicators for decision making. It was recommended to change the genetic
group of the herd to crossbred Holstein-Friesian x Jersey animals, looking for specialized animals
for milk production to pasture. Reallocation of areas was carried out for the formation of new
pastures and sugarcane fields, as well as infrastructure and grazing system management with
rotational stocking in the entire property. Recommendations for reduced rearing were undertaken
aiming at a more economical herd structure. A protocol for the formation of pasture and sugarcane
cultivation was elaborated, as well as plans for the correction of soil acidity and fertilization of
production. The recommendations allowed the projection of a herd with 56 animals (41 cows and
15 heifers).
Key words: intensive fertilization, data control, milking especialization, forage production,
grazing system.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Série histórica da produção total de leite no Brasil entre 1990 e 2017.................................3
Figura 2. Produção total de leite nas regiões brasileiras em 2017......................................................4
Figura 3. Produção total de leite nos principais estados produtores do país em 2017.........................4
Figura 4. Produção de leite inspecionado nas regiões brasileiras em 2017........................................5
Figura 5. Número de vacas ordenhas nas regiões brasileiras em 2017...............................................6
Figura 6. Número de vacas ordenhas nos principais estados produtores do país em 2017.................7
Figura 7. Produtividade das vacas nas regiões brasileiras em 2017...................................................8
Figura 8. Produtividade das vacas ordenhas nos principais estados produtores do país em 2017......9
Figura 9. Preço nominal pago por litro de leite aos produtores de Minas Gerais 2017.....................10
Figura 10. Balanço comercial de lácteos brasileira entre 2000 e 2018.............................................13
Figura 11. Análise de eficiência técnica (eixo y) e econômica (eixo x) nas fazendas leiteiras
avaliadas no estudo. Quadrante 1: alta eficiência técnica e econômica. Quadrante 2: alta eficiência
técnica e baixa eficiência econômica. Quadrante 3: baixa eficiência técnica e econômica. Quadrante
4: baixa eficiência técnica e alta eficiência econômica....................................................................27
Figura 12. Análise de probabilidade para o preço do leite pago ao produtor com base nos dados das
fazendas avaliadas. Existe 90% de chance de o valor no futuro estar entre R$ 0,82 e R$ 1,22…….28
Figura 13. Médias mensais de pluviosidade e temperatura minima e máxima do município de Além
Paraíba-MG………………………………………………………………………………………33
Figura 14. Mapa da propriedade estudada (Sítio Paraíso, 21º42’19.0”S e 42º45’15.6”W)..............35
LISTA DE TABELAS
xi
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1
2. REVISÃO DE LITERATURA ...........................................................................................................2
2.1. PANORAMA DA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE NO BRASIL ................................................................2
2.1.1 Produção e Produtividade .............................................................................................................2
2.1.2 Preço pago ao Produtor de Leite...................................................................................................9
2.1.3 Mercado Interno e Balança Comercial de Lácteos do Brasil......................................................11
2.2. GESTÃO TÉCNICA E ECONÔMICA NA PECUÁRIA DE LEITE ...............................................................15
2.2.1 Indicadores Zootécnicos em Fazendas de Produção de Leite.....................................................16
2.2.1.1 Período de Lactação ............................................................................................................................................. 16
2.2.1.2 Produção Diária .................................................................................................................................................... 17
2.2.1.3 Produção Total de Leite na Lactação e Produção Total de leite em 305 dias de lactação .................................... 17
2.2.1.4 Persistência de Lactação ....................................................................................................................................... 17
2.2.1.5 Produtividade na Lactação ................................................................................................................................... 17
2.2.1.6 Relação de Vacas em Lactação/Total de Vacas do Rebanho ................................................................................ 17
2.2.1.7 Produtividade da Terra ......................................................................................................................................... 18
2.2.1.8 Produção de Leite por Dia de Intervalo entre Partos (PL/IP) ............................................................................... 18
2.2.2 Indicadores Reprodutivos em Fazendas de Produção de Leite...................................................18
2.2.2.1 Idade ao Primeiro Parto ........................................................................................................................................ 18
2.2.2.2 Intervalo entre Partos............................................................................................................................................ 18
2.2.2.3 Intervalo entre o Parto e primeiro Cio .................................................................................................................. 19
2.2.2.4 Período de Serviço................................................................................................................................................ 19
2.2.2.5 Intervalo de Coberturas ........................................................................................................................................ 19
2.2.3 Componentes do Custo de Produção de Leite ............................................................................19
2.2.3.1 Custo Total ou Custo Econômico ......................................................................................................................... 20
2.2.4 Indicadores Econômicos em Fazendas de Produção de Leite ....................................................21
2.2.4.1 Receita ou Renda Bruta ........................................................................................................................................ 21
2.2.4.2 Margem Bruta ...................................................................................................................................................... 22
2.2.4.3 Margem Líquida ou Lucro Líquido ...................................................................................................................... 22
2.2.4.4 Lucratividade ........................................................................................................................................................ 22
2.2.4.5 Rentabilidade........................................................................................................................................................ 23
2.2.5 Ferramentas de Gestão para Fazendas Leiteiras .........................................................................23
2.2.5.1 Análise de Pareto .................................................................................................................................................. 24
2.2.5.2 Análises de Correlação ......................................................................................................................................... 24
2.2.5.3 Análises de Regressão .......................................................................................................................................... 25
2.2.5.4 Análise de Eficiência ............................................................................................................................................ 27
2.2.5.5 Análise de Probabilidade ...................................................................................................................................... 28
2.2.5.6 Análise de Risco ................................................................................................................................................... 29
2.3 AGRICULTURA FAMILIAR ...................................................................................................................31
3. DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ........................................................................33
3.1 LOCALIZAÇÃO DA PROPRIEDADE .......................................................................................................33
3.2 CLIMA DA REGIÃO .............................................................................................................................33
3.3 LEVANTAMENTO DAS INFORMAÇÕES ................................................................................................34
3.4 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ................................................................................34
3.4.1 Área de Pastagem bem Manejada ...............................................................................................35
3.4.2 Área de Pastagem em Degradação .............................................................................................36
3.4.3 Áreas Úmidas .............................................................................................................................36
3.4.4 Áreas de Forrageira para Suplementação ...................................................................................36
3.4.5 Composição do Rebanho, Nutrição dos Animais e Produção de Leite ......................................37
3.4.6 Equipamentos e Instalações ........................................................................................................37
3.4.7 Análise da Fertilidade do Solo....................................................................................................38
4. AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ............................................................................39
4.1 PERFIL DO PROPRIETÁRIO ..................................................................................................................39
xii
4.2 BANCO DE DADOS DO SISTEMA DE PRODUÇÃO .................................................................................39
4.3 ÁREA EFETIVAMENTE EMPASTADA E ÁREA POTENCIALMENTE EMPASTADA ..................................39
4.4 ÁREAS DE PRODUÇÃO DE FORRAGEM PARA SUPLEMENTAÇÃO ........................................................42
4.5 REBANHO E PRODUÇÃO DE LEITE ......................................................................................................42
4.6 INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS........................................................................................................46
5. PLANEJAMENTO PARA O SISTEMA DE PRODUÇÃO ..........................................................47
5.1 CONTROLE DE DADOS DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ...........................................................................47
5.2 CONTROLE ECONÔMICO DA ATIVIDADE ............................................................................................48
5.3 PLANEJAMENTO PRODUTIVO E FORRAGEIRO PARA O SISTEMA DE PRODUÇÃO ................................50
5.3.1 Grupo Genético para o Sistema de Produção .............................................................................50
5.3.2 Parâmetros e Fórmulas para Cálculos ........................................................................................52
5.3.3 Estrutura do Rebanho .................................................................................................................53
5.3.4 Direcionamento das Áreas ..........................................................................................................55
5.3.4.1 Área de Recria ...................................................................................................................................................... 56
5.3.4.2 Área para Vacas do Lote 2 ................................................................................................................................... 57
5.3.4.3 Área para Vacas do Lote 1 ................................................................................................................................... 57
5.3.4.4 Área para Maternidade e Bezerras em Aleitamento ............................................................................................. 57
5.3.4.5 Área de Canavial .................................................................................................................................................. 58
5.3.5 Sistemas de Pastejo.....................................................................................................................59
5.3.5.1 Sistema de Pastejo para Recria ............................................................................................................................. 59
5.3.5.2 Sistema de Pastejo para o Lote 2 .......................................................................................................................... 61
5.3.5.3 Sistemas de Pastejo para o Lote 1......................................................................................................................... 62
5.3.6. Balanço Forrageiro nos Sistemas de Pastejo .............................................................................63
5.3.6.1 Balanço Forrageiro no Sistema para Recria.......................................................................................................... 63
5.3.6.2 Balanço Forrageiro no Sistema para o Lote 2 ....................................................................................................... 65
5.3.6.3 Balanço Forrageiro no Sistema para o Lote 1 ....................................................................................................... 66
5.3.7. Plano de Suplementação Volumosa ..........................................................................................68
5.3.8 Protocolo de Formação de Pastagem e Canavial ........................................................................68
5.3.9 Plano de Correção e Adubação do Solo .....................................................................................72
5.3.9.1 Recomendações para Correção da Acidez do Solo ............................................................................................... 72
5.3.9.2 Recomendações para Adubação de Produção....................................................................................................... 74
5.3.9.3 Manejo da Adubação de Produção ....................................................................................................................... 77
6. CONCLUSÃO....................................................................................................................................79
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................80
8. ANEXOS ............................................................................................................................................90
xiii
1. INTRODUÇÃO
No cenário mundial de produção de alimentos o Brasil defende posição de destaque, com
grande representatividade, tanto na produção agrícola como pecuária. Além de garantir alimento
para considerável parcela da população mundial, o país promove segurança alimentar para sua
nação, garantindo consumo de alimento de qualidade e preço acessível, principalmente para
camadas da sociedade com renda inferior.
No agronegócio, a relevância da cadeia produtiva do leite é ressaltada pela alta
empregabilidade em toda sua extensão, desde a produção primária até o consumidor final. Além
disso, ela está presente em quase todos os municípios do país, participando em considerável parcela
do PIB das cidades. Esse cenário explica a gama de recursos públicos e privados que são investidos
no setor com a finalidade de aprimorar cada elo da cadeia, que ainda carece de estruturação mais
eficaz em diversas vertentes. Inserida nesse sistema, existe uma agricultura familiar representativa
em número de produtores, porém, quando o critério de avaliação é a eficiência produtiva, este
grupo se apresenta como pouco profissionalizado e aquém do seu potencial, visto o sucesso da
produção familiar de leite no Sul do país.
As condições climáticas brasileiras favorecem a produção de leite a pasto e, com base nisso,
foi intensificada a pesquisa nesta linha de trabalho, o que permitiu gerar amplo conhecimento sobre
esses sistemas de produção. Partindo dessa ciência, foram geradas e aprimoradas tecnologias de
baixo custo que, quando aplicadas com critério, promovem melhorias nos índices produtivos das
propriedades leiteiras e, consequentemente, na renda do produtor. Entretanto, avaliando os
números do agronegócio brasileiro do leite é claramente observado a disparidade entre o recurso
intelectual existente e o desempenho produtivo nas fazendas, o que reforça a ideia de que as
tecnologias geradas nos centros de pesquisa não chegam ao campo, para mudar a realidade do
produtor. Esse panorama permite concluir que é carente a assistência técnica na maior parcela dos
sistemas de produção do Brasil, se configurando como um limitante para o desenvolvimento deste
elo da cadeia, a produção primária.
Com base nisso, o objetivo com este trabalho foi elaborar um projeto técnico para
intensificação da produção de leite a pasto em uma propriedade familiar no município de Além
Paraíba, na Zona da Mata Mineira.
1
2. REVISÃO DE LITERATURA
40,00
35,00
30,00
25,00
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Figura 1. Série histórica da produção total de leite no Brasil entre 1990 e 2017 (bilhões de litro).
Fonte: adaptado de MilkPoint (2019).
3
14,00
-3,9%
12,00 -1,0%
10,00
8,00
11,96
11,44
6,00
0,4% 2,7%
4,00
16,6%
3,98
3,89
2,00
2,18
0,00
Sul Sudeste Centro-Oeste Nordeste Norte
Figura 2. Produção total de leite nas regiões brasileiras em 2017 (bilhões de litro).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).
Outra região de destaque quanto ao volume total de leite produzido é a região Norte, que
apresentou crescimento expressivo de 16% no último ano, com os estados de Rondônia e Roraima
crescendo 30 e 27%, respectivamente. Além destes, o estado de Alagoas destacou-se com 21% de
crescimento em 2017.
10,00
-0,6%
8,00
6,00
8,91
-1,3% -6,1%
4,00
1,9% -4,3%
4,43
4,55
2,00 -0,7%
2,97
2,98
1,69
0,00
MG RS PR GO SC SP
Figura 3. Produção total de leite dos principais estados produtores do país em 2017 (bilhões de
litro).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).
Para produção de leite sob inspeção, o cenário de queda foi semelhante em 2015 e 2016,
porém em 2017 o setor retomou o crescimento em 5,0% (CARVALHO et al., 2019), batendo o
valor de 24,2 bilhões de litros, 72% do volume total produzido. Na Figura 4 é apresentado a
produção de leite sob inspeção por região brasileira no último ano. Nos anos de 2015, 2016 e 2017
houve alto percentual de leite que não foi inspecionado na produção de leite do país com valores
4
de 31, 32 e 28%, respectivamente, números próximos aos observados em anos anteriores por
especialistas do setor (ZOCCAL, 2012). Avaliando os dados referentes, houve queda em todas as
regiões nos anos de 2015 e 2016, exceto para o Centro-Oeste em 2016. Já em 2017 retomamos o
crescimento nas cinco regiões brasileiras. Destaca-se nesse cenário a região Sudeste como líder,
com 84% de sua produção recebendo selo de inspeção, seguida da região Sul que teve 76% do seu
leite inspecionado.
12,00
10,00 2,4%
8,0%
8,00
9,69
6,00
9,10
1,12
1,24
3,11
2,00
0,00
Sudeste Sul Norte Nordeste Centro-Oeste
Figura 4. Produção de leite inspecionado das principais regiões produtoras do país em 2017
(bilhões de litro).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).
6,0
-23,8%
5,0
4,0 -13,1%
-6,1%
5,2
3,0 -10,6%
4,6%
3,6
2,0
3,3
2,7
2,2
1,0
0,0
Sudeste Sul Nordeste Centro-Oeste Norte
Figura 5. Número de vacas ordenhadas nas regiões brasileiras em 2017 (milhões de cabeças).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).
Em relação à produção das vacas, aumento da eficiência foi observado, uma vez que houve
redução no número de vacas ordenhadas e no número de fazendas leiteiras em atividade, no entanto,
no mesmo cenário, houve crescimento proporcional na produção total. Com a redução nas
propriedades dedicadas à produção do leite, a produção média diária por produtor passou de 42 kg
para 70 kg (IBGE, 2017). Quanto ao número de vacas ordenhadas, observamos redução em todos
os principais estados nos anos de 2016 e 2017, com destaque para Minas Gerais (-31,6%) e Santa
Catarina (-25,5%) no último ano. Em crescimento de rebanho, destaca-se o estado de Rondônia,
que apresentou em 2017 o maior aumento do país (15,5), o que certamente contribuiu para que a
região Norte fosse a única em crescimento no número de vacas ordenhadas naquele ano (4,6%).
6
4,0
3,5 -31,6%
3,0
2,5
2,0 -11,2%
3,4
-10,5%
1,5 -6,3%
-2,9%
1,0 1,9 -25,5%
1,4
1,3
1,1
0,5
0,8
0,0
MG GO PR RS SP SC
Figura 6. Número de vacas ordenhadas nos principais estados produtores do país em 2017
(milhões de cabeças).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).
Na Figura 7 é apresentada a maior eficiência produtiva das vacas leiteiras, de acordo com
cada região, e na Figura 8, para os principais estados produtores do país. Na avaliação regional, foi
observado crescimento em todas regiões em 2017, com destaque para o Sudeste (+30%), cenário
que se repetiu em 2016, exceto para região Centro-Oeste (-2,3%). Em valores absolutos, a região
Sul lidera em produtividade (3.285 kg/vaca/ano), seguida pelo Sudeste (2.209 kg/vaca/ano),
deixando, juntamente com as outras regiões, o Brasil com média de 1.963 litros/vaca/ano e
crescimento em 2017 de 14,7%.
7
3.500 10,6%
3.000
2.500
29,9%
3.285
2.000
12,3%
1.500
9,3%
2.209
11,4%
1.000
1.453
1.178
1.003
500
0
Sul Sudeste Centro-Oeste Nordeste Norte
Figura 7. Produtividade das vacas ordenhadas nas regiões brasileiras em 2017 (litros/vaca/ano).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).
Quando avaliamos os melhores estados para produtividade por vaca, Santa Catarina (3.580
litros/vaca/ano) e Rio Grande do Sul (3.326 kg/vaca/ano) assumem a ponta em valores absolutos,
porém, em crescimento o destaque fica para os estados de Minas Gerais (45,3%) e Santa Catarina
(28,4%). Em relação à produtividade estadual, também podemos destacar o estado de Roraima,
que, apesar da baixa produtividade absoluta, cresceu 187% em 2017, passando a produção anual
de suas vacas de 347 (2016) para 995 kg (2017). Esse cenário, certamente, foi promovido pela forte
redução do rebanho que ocorreu no estado em 2017 (-55,7%), o que evidencia um descarte seletivo
de vacas improdutivas, caminho que deve ser percorrido em qualquer fazenda leiteira que busca
melhorar sua eficiência técnica e econômica.
8
4.000
28,4%
3.500 5,4%
4,9%
3.000
45,3%
2.500
3.580
2.000
3.326
2,2%
3.075
14,9%
1.500
2.619
1.000
1.506
1.531
500
0
SC RS PR MG SP GO
Figura 8. Produtividade das vacas ordenhadas nos principais estados produtores do país em 2017
(litros/vaca/ano).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).
9
médio pago ao produtor foi de R$ 1,34/litro (CARVALHO et al., 2018) e já em 2017 os valores se
mantiveram elevados no primeiro semestre, porém, no segundo houve queda expressiva, em
função, principalmente, do maior volume de leite no mercado, que não foi acompanhado por maior
consumo da população, fechando o ano com média de R$ 1,27/litro. Assim, em 2017 os preços
praticados no primeiro semestre foram acima daqueles praticados no mesmo período de 2016 e no
segundo semestre o cenário se inverteu, com preços abaixo daqueles praticados no ano anterior.
Em 2018 o preço médio pago ao produtor no Brasil foi de R$ 1,38/litro, valorização de
9,0% em relação ao ano anterior. Em Minas Gerais a média para o período foi de R$ 1,42/litro,
sendo mostrado na Figura 9 a variação mensal do preço ao longo do ano neste estado. Em relação
ao valor do leite, observamos que no estado mineiro o preço foi valorizado 2,4% em relação à
média do país, além disso, também é perceptível as fortes pressões sofridas pelos estados da região
Sul, que operam a preço inferiores à média brasileira, buscando, de alguma forma, compensar a
facilidade com que as indústrias locais têm para importar leite de vizinhos tradicionais, como
Uruguai e Argentina. Esse cenário pressiona os produtores sulinos a serem eficientes e
competitivos via produção de leite com menor custo, condição que eles têm conseguido com êxito
(MARTINS et al., 2018).
4,59%
14,07% -6,21%
-2,91%
1,72
7,14%
2,34% 1,65 1,62 -6,09%
7,87%
1,57 -8,59%
6,29% 1,45 1,48
3,47% 1,41
-2,58% 1,32 1,35
1,22
1,11 1,15
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 9. Preço nominal pago por litro de leite aos produtores de Minas Gerais em 2017
(R$/litro).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2018).
A clássica sazonalidade no preço pago ao produtor (Figura 9), com valorização até o mês
de agosto, auge do período de estiagem, momento que a oferta e qualidade da forragem produzida
pelas pastagens é reduzida, reduzindo a produção de leite nas fazendas e consequentemente
10
diminuindo a oferta do produto no mercado. Já a partir de setembro, com o retorno das chuvas no
estado, há aumento da oferta de leite e com isso as indústrias de laticínios tendem a reduzir os
preços pagos aos produtores.
-0,50 -0,23
-0,34
-0,64 -0,55 -0,60
-1,00
-3,00
-2,98
-3,50
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Figura 10. Balança comercial de lácteos brasileira entre 2000 e 2018 (bilhões de litros).
Fonte: adaptado de Martins et al. (2018) e CEPEA (2019).
13
principalmente àqueles de população numerosa, vizinhos latino-americanos e com altos valores
para esse parâmetro. Apresentando alguma dessas características, podemos destacar a elasticidade-
renda da demanda de China (0,30), Índia (0,48), Egito (0,80), Peru (0,54) e Vietnam (0,98) (FOOD
AND AGRICULTURAL POLICY RESEARCH INSTITUTE, 2016), que são exemplos de países que
podem receber esforços de negociação. No entanto, segundo especialista do Centro Nacional de
Pesquisa de Gado de Leite do país (VILELA, 2016) “deveres de casa” devem ser cumpridos em
toda a cadeia produtiva para que o Brasil se insira e se mantenha no mercado internacional de
lácteos, de maneira competitiva. Dentre as lacunas que devem ser preenchidas, podem ser citadas
a produtividade por vaca e por hectare das fazendas leiteiras, melhoria da qualidade do leite (CCS,
CBT e teores de gordura, proteína e sólidos totais), disponibilidade de tecnologias simples e
extensão rural, logística adequada, remuneração por qualidade do leite e política governamental de
apoio às exportações (ALVES et al., 2016). Considerando o potencial de expansão das exportações
brasileiras e as arestas a serem aparadas para atingir essa meta, são discutidos a seguir os dados de
exportações recentes do país. A partir do ano de 2015 as exportações brasileiras de lácteos vieram
em desaceleração, registrando queda expressivas como em 2016, com 28,3% a menos de volume
exportado (MARTINS et al., 2018). Já em 2017 a queda foi de 75,2%, quando o país exportou
136,5 milhões de litros e em 2018 o volume exportado foi de 66,8 milhões de litros, 51% a menos
do registrado no ano anterior (CEPEA, 2019), tendo como principais países destino no último ano
Chile, Argentina e Paraguai e o leite em pó como principal produto exportado.
Em relação à empregabilidade da cadeia, os pesquisadores Martins e Guilhoto (2001)
analisaram dados econômicos e concluíram que a cada R$ 1.000.000,00 de demanda gerada, a
cadeia gera 197 postos de trabalho. Em comparação à outras atividades, o leite foi a que mais gerou
empregos, quando comparado à calçados (191), peças e veículos (129), construção civil (128),
máquinas e equipamentos (122), indústria têxtil (122), material elétrico (122) e siderurgia (116).
Considerando as 1,35 milhões de propriedades leiteiras no país estimados pelo último censo
agropecuário (IBGE, 2006) e assumindo dois trabalhadores por propriedade atuando
continuamente, o setor primário do segmento gerou 2,7 milhões de postos de trabalho permanente
(MARTINS et al., 2016). O cenário citado por este autor desconsidera a geração de empregos
oriunda do processamento em laticínios, produção e comercialização de produtos veterinários,
agronômicos e zootécnicos e a prestação de serviços (assistência técnica, logística, comercialização
do leite e etc), o que certamente aumentaria o número de empregos indiretos gerados pela cadeia.
14
Nos municípios menos dinâmicos e com alternativas econômicas restritas, o Produto Interno Bruto
(PIB) tem no leite uma importante atividade para geração de créditos fiscais (MARTINS et al.,
2016). Segundo especialista da Embrapa Gado de Leite (ZOCCAL, 2017) em 2017 a cadeia do
leite gerou 117 mil empregos formais, com destaque para Minas Gerais, Mato Grosso e
Pernambuco.
16
Período de lactação é definido como a duração média da lactação entre o parto e a secagem
da vaca (MASSIÈRE, 2009), sendo expresso em dias. Bovinos especializados apresentam período
de lactação de 305 dias, período ideal para se obter intervalo entre partos de 12 meses (LEITE et
al., 2001). Animais mestiços têm tendência a apresentarem lactações mais curtas, quão maior for a
proporção de genes de animais zebu na composição genética do indivíduo.
2.2.1.3 Produção Total de Leite na Lactação e Produção Total de leite em 305 dias de lactação
A produção total de leite na lactação indica o volume produzido ao longo de uma lactação
completa, sendo somatório da produção diária da vaca. A produção em 305 dias de lactação é um
valor padronizado, que permite comparar animais independente do período de sua lactação
(MASSIÈRE, 2009). Ambos são expressos em litros/lactação.
19
Os custos de produção são elementos que auxiliam na administração de qualquer
empreendimento, sendo indispensável obter e analisar esses dados para garantir uma eficiente
gestão da fazenda produtora de leite (ASSIS, 2013). Esse parâmetro é o somatório do valor
monetário de todos os recursos usados no processo de produção (insumos, serviços e instalações)
em certo período (REIS, 2002). De maneira geral, os produtores de leite apresentam maior
preocupação com o preço pago ao produto do que com seu custo unitário, porém, somente preço
não justifica o sucesso ou fracasso de uma atividade, sendo o custo em conjunto com o preço e
renda que determinará o lucro da atividade (FARIA, 2005). O custo de produção também permite
o cálculo de indicadores econômicos que possibilitam a avaliação econômica da atividade,
comparando-a com outra atividade qualquer, seja ela agropecuária ou não (AGUIAR, 2010). É
importante destacar ainda que na pecuária de leite ocorre constantemente a venda de animais, sendo
essencial separar o custo de produção do litro de leite do custo de produção da atividade leiteira
(ASSIS, 2013), evitando que a ineficiência de um comprometa a eficiência de outro. Em antigo
estudo (YAMAGUCHI et al., 2002) comparando a avaliação dos custos de produção na pecuária
de leite de forma segmentada em relação à maneira tradicional (atividade como um todo) esses
autores observaram que o fracionamento em custos de produção de leite, custos de produção de
volumoso e custos de produção de novilha apresentou vantagens, permitindo uma gestão mais
detalhada e possibilitando atacar os gargalos de maneira mais efetiva.
Na literatura são publicados alguns métodos de estimativa do custo de produção, sendo o
apresentando a seguir o método de custo total (fixos e variáveis) ou custo econômico.
Por convenção, a terra não é um bem que se deprecia, uma vez que ela não perde valor de
mercado, muitas das vezes se valorizando com o passar do tempo, principalmente em propriedades
que seu uso racional preserva sua qualidade (ASSIS, 2013).
Outro componente do custo total trata-se do custo variável, que representa o somatório dos
valores em dinheiro despendidos para custeio de um ciclo de produção ou menos, variando de
acordo com o volume produzido e sendo totalmente incorporado ao produto no curto prazo
(SANTOS, 2016). Segundo essa autora, componentes variáveis do custo de produção de leite que
podem ser exemplificados são produtos veterinários, produtos reprodutivos, alimentos
concentrados, fertilizantes, mão-de-obra temporária, combustíveis, energia elétrica e etc.
21
Matematicamente é o resultado do somatório da quantidade vendida multiplicada pelo custo
unitário de cada produto. A fórmula a seguir é referente à receita proveniente da venda de leite
2.2.4.4 Lucratividade
Esse indicador representa quanto o produto gera de resultado em relação ao seu preço de
venda e custo de produção, sendo apresentado em termos percentuais pela relação entre o lucro e
o total de receitas (ASSIS, 2013). A lucratividade da produção de leite está relacionada ao preço
pago ao produtor pelo litro do leite, bem como o preço dos insumos e fatores de produção (relação
de troca) e da escala de produção (OLIVEIRA et al., 2001). A lucratividade é um índice percentual
que representa o lucro obtido na atividade, calculado pela seguir fórmula:
22
𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
𝐿𝑢𝑐𝑟𝑎𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (%) = 𝑥 100
𝑟𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
2.2.4.5 Rentabilidade
Indicador que representa em quanto a atividade remunera o capital que nela foi investido,
ou seja, apresenta o retorno do investimento. Essa é a forma de avaliar o lucro obtido na atividade
produtiva em relação ao capital investido para o desenvolvimento dessa atividade (ASSIS, 2013).
𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
𝑅𝑒𝑛𝑡𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (%) = 𝑥 100
𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑑𝑜
23
Nos diagnósticos mais recentes sobre a pecuária de leite em vários estados do Brasil a
conclusão foi similar, indicando que a maioria dos produtores não tem informações sobre despesas,
receitas e dados zootécnicos, o que impede a formação de banco de dados consistente para avaliar
o desempenho das propriedades (NASCIF, 2015). Segundo o autor, existem fazendas que têm o
banco de dados, mas não os converte de forma adequada em indicadores que balizem às tomadas
de decisões e outras em que apresentam estes indicadores, mas os mesmos não são confiáveis.
A seguir serão discutidas algumas ferramentas de gestão para bovinocultura de leite,
apresentadas e indicadas por Nascif (2015) sobre amplo estudo oriundo da análise de dados
técnicos e econômicos de 411 fazendas de produção de leite no período de um ano (2014-2015).
A fazendas menos eficientes apresentaram produção média diária por vaca em lactação de
15,6 litros e 38,7% da renda bruta direcionada para concentrado, enquanto as superiores
produziram 19,2 litros/vaca/dia comprometendo 32% da renda bruta com o insumo.
Em relação à mão-de-obra, a forma de aumentar a eficiência é via aumento da produção
de leite sem aumentar o número de funcionários. O observado no estudo (Tabela 2) foi que as
fazendas mais eficientes são aquelas que operam com maior número de vacas em lactação por
funcionário e maior volume de leite produzido por mão-de-obra permanente, reduzindo a porção
25
da receita com este item do custo. As propriedades inferiores apresentaram valores de 13,7% da
receita comprometida com a mão-de-obra, 18 vacas em lactação por funcionário e 307
litros/dia/funcionário e as superiores destinou somente 8,2% da renda com esse item do custo, 26
vacas lactantes/homem e 535 litros/funcionário/dia.
Vacas em lactação/funcionário
18,27 20,98 26,0
(Cabeças/homem)
Produção/mão-de-obra permanente
307 361 535
(L/homem)
Gasto com mão-de-obra/renda bruta (%) 13,7 11,6 8,2
Fonte: adaptado de Nascif (2015).
Ao analisar o gasto com volumoso (Tabela 3), foi considerado a qualidade e quantidade do
alimento produzido, uma vez que a redução dos custos com esse componente da dieta está
relacionada com o aumento da capacidade de suporte da fazenda. A quantidade de vacas em
lactação por hectare e a produtividade média dessas vacas interfere diretamente na produtividade
por hectare da propriedade, item relacionado com o desempenho econômico da mesma.
26
Ao analisar o efeito da escala de produção (Tabela 4), observamos redução dos custos fixos
por litro produzido e consequentemente redução do custo total do litro de leite, ocorrendo o cenário
previsível, aumento da rentabilidade pautado pela melhoria nos indicadores técnicos.
Figura 11. Análise de eficiência técnica (eixo y) e econômica (eixo x) nas fazendas leiteiras avaliadas no
estudo. Quadrante 1: alta eficiência técnica e econômica. Quadrante 2: alta eficiência técnica e baixa
eficiência econômica. Quadrante 3: baixa eficiência técnica e econômica. Quadrante 4: baixa eficiência
técnica e alta eficiência econômica.
Fonte: Nascif (2015).
27
esses quatro grupos, fazendas situadas no quadrante 3 são aquelas que apresentam o pior cenário,
baixa eficiência técnica e econômica, e o segundo pior grupo seria o quadrante 2. Comparando
esses dois grupos, no quadrante 3 é possível melhorar os indicadores técnicos e com isso melhorar
os resultados econômicos, entretanto, produtores do quadrante 2 já são tecnicamente eficientes,
mas não são economicamente, cenário comum em fazendas que sustentam altas produções por vaca
com volumoso de baixa qualidade nutricional e elevado consumo de concentrado. Essa análise
reafirma o conceito de ótimo econômico e ótimo produtivo, deixando claro que alcançar altos
níveis de eficiência técnica sem equilíbrio dos custos não é ser eficiente na atividade, o que pode
ser observado na Figura 1, que apresenta grande número de propriedades com eficiência técnica
igual ou próxima a 100% mas se encontram abaixo da taxa mínima de atratividade de 6,0% de
rentabilidade.
Figura 12. Análise de probabilidade para o preço do leite pago ao produtor com base nos dados das
fazendas avaliadas. Existe 90% de chance de o valor no futuro estar entre R$ 0,82 e R$ 1,22.
Fonte: Nascif (2015).
Com base nos dados oriundos das fazendas avaliadas, havia somente 5% de probabilidade
dos preços nos dez anos seguintes à analise estarem acima de R$ 1,22/litro, bem como abaixo de
R$ 0,82/litro. A probabilidade de os preços estarem entre esses dois valores foi de 90%, permitindo,
28
dessa forma, que os gestores das fazendas leiteiras operassem com essa referência de valor mínimo
e máximo pago pelo litro do leite.
29
Tabela 5. Análise de eficiência das fazendas avaliadas.
Quadrantes
Indicadores
Unidade 1 2 3 4
Produção de leite L/dia 2.247 1.512 1.202 1.557
Produção de vacas em lactação L/dia 18,5 16,6 16,2 17,5
Vacas lactação/área Cab/hectare 1,21 1,16 1,15 0,92
Produção/área L/ha/ano 8.624 7.527 7.252 5.961
Vacas em lactação/rebanho % 41,97 40,07 38,44 43,45
Produção/mão-de-obra permanente L/Dh 459 342 329 478
Gasto com mão-de-obra/renda bruta % 7,44 11,69 12,78 7,12
Custo operacional efetivo R$/L 0,75 0,89 0,96 0,77
Custo total do leite R$/L 0,93 1,12 1,21 0,96
Estoque de capital médio por litro R$/L 1.179 1.436 1.583 1.297
Marquem líquida da atividade R$/ano 249.701 56.361 -1.508 160.947
Lucro total R$/ano 185.530 1.035 -47.302 109.272
Taxa de remuneração do capital com terra % 11,6 2,9 - 9,3
Fonte: Nascif (2015).
O primeiro quadrante avaliado foi o 3, que apresentou pior equilíbrio nos custos e menor
escala de produção, apesar de alguns bons indicadores técnicos. Para esse grupo de produtores
houve 93,4% de chances de operarem com lucro abaixo de zero nos dez anos projetados caso
mantivessem o grau de eficiência. Os produtores pertencentes ao quadrante 2 apresentaram ligeira
melhoria nos parâmetros técnicos em relação ao anterior, acompanhado em aumento na escala de
produção e redução significativa do custo de produção, o que reduziu os riscos de insucesso na
atividade para 78,1%, valor ainda elevado segundo o autor (NASCIF, 2015). O destaque para os
produtores do 4º quadrante está no baixo custo de produção, que permitiu com que eles operassem
com chances de 68% de obter lucro maior que zero na atividade e somente 32% de ter prejuízo. No
último quadrante analisado estiveram os produtores mais eficientes técnica e economicamente,
reflexo da maior escala de produção e custos mais equilibrados. Esse cenário gerou risco de 24,2%
de operação negativa, valor aceitável segundo o autor, e 75,8% de chances de lucro maior que zero,
condição que permite investimento na atividade a longo prazo, pois, mantendo a eficiência das
propriedades, elas conseguirão ser lucrativas nos dez anos projetados.
Por fim, todas as ferramentas apresentaram maior rentabilidade para produtores mais
eficientes, que converteram os recursos em maior escala de produção com custos equilibrados,
gastando menos por litro de leite produzido em suas fazendas.
30
2.3 Agricultura Familiar
A existência de agricultores familiares está diretamente relacionada a preservação do
patrimônio histórico e cultural do Brasil, sendo gerado empregos no comércio e serviços de
pequenas cidades do interior do país, como parte da cadeia de produção dos produtos gerados por
esses trabalhadores no campo (ZOCCAL et al., 2005). Sob o ponto de vista ambiental, segundo
esses autores, a agricultura familiar apresenta vantagens em função da sua maleabilidade, o que
possibilita uma integração produtiva sustentável ao meio ambiente, tornando ainda mais importante
a promoção social desse grupo de produtores rurais. Em relação ao conceito desse sistema
produtivo, a agricultura familiar tem por essência que o controle gerencial e operacional da
produção fica a cargo de membros da família, bem como as decisões e todo o capital da
propriedade, fortalecendo a unidade familiar como um núcleo responsável por todo o processo,
inclusive as vendas, em alguns casos. Em vistas a lei regulamentadora (nº 11.326), o agricultor
familiar é o indivíduo que não detém mais que quatro módulos fiscais em sua propriedade, utiliza
de mão-de-obra predominantemente familiar, vive com renda prevalecente de seu estabelecimento
rural e dirige ativamente o empreendimento (LANDAU et al., 2013).
Segundo Bittencourt (2018), para o fortalecimento da agricultura familiar é importante
desmitificar o conceito de ela ser uma atividade de subsistência, quebrando as barreiras que
impedem tais produtores de se transformarem em empreendedores rurais. A autora também destaca
a importância dos agricultores em estarem atentos em suas tomadas de decisões e serem
estratégicos ao organizarem seus processos produtivos, agregando valor em seus produtos e
maximizando sua inserção no mercado. A associação entre esse grupo também é apontada como
essencial para o crescimento da classe, que ganhará escala e consequentemente maior poder de
barganha no mercado.
Na Tabela 6 são apresentados dados efetivos do censo agropecuário de 2006 e dados
preliminares do censo agropecuário de 2017 que mostram a proporção de agricultores familiares
ativos no país, dos quais grande contingente são dedicados a bovinocultura leiteira, reafirmando a
importância tanto da agricultura familiar quanto da pecuária de leite para o agronegócio brasileiro.
31
Tabela 6. Número de produtores rurais e produtores de leite no Brasil, Minas Gerais, Zona da Mata
Mineira e Além Paraíba-MG.
Censo 2006 Censo 2017
Total Familiar % de Familiar Total Familiar
Propriedades rurais no Brasil 5.175.636 4.366.267 84% 5.072.152 -
Propriedades produtoras de leite no Brasil 1.350.809 1.089.336 81% 1.171.190 -
% de produtores de leite 26% 25% - 23% -
Propriedades rurais em Minas Gerais 551.621 437.320 79% 607.448 -
Propriedades produtoras de leite em Minas Gerais 223.073 167.112 75% 216.419 -
% de produtores de leite 40% 38% - 36% -
Propriedades rurais na Zona da Mata Mineira 86.437 70.912 82% - -
Propriedades produtoras de leite na Zona da Mata Mineira 28.448 21.248 75% - -
% de produtores de leite 33% 30% - - -
Propriedades rurais em Além Paraíba-MG 354 192 54% 366 -
Propriedades produtoras de leite em Além Paraíba-MG 203 109 54% 186 -
% de produtores de leite 57% 57% - 51% -
32
3. DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO
30
250
25
200
20
150
15
100
10
50
5
0 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
33
3.3 Levantamento das Informações
As informações referentes ao sistema de produção foram coletadas em visita-diagnóstico,
com entrevista do proprietário, coleta de amostras de terra e avaliação das pastagens, do rebanho e
das instalações. Durante a entrevista foi tratado dos objetivos do produtor na atividade, de maneira
que o projeto abordasse recomendações que atendessem seus propósitos para o sistema, a
intensificação da produção de leite a pasto. Além disso, foi realizado o mapeamento da propriedade
com o software Google Earth e validado pelo proprietário.
Não é realizado a coleta e registro de dados do sistema de produção, sendo todas as
informações prestadas oriundas do empirismo do produtor frente à atividade no dia-a-dia.
34
Figura 14. Mapa da propriedade estudada (Sítio Paraíso, 21º42’19.0”S e 42º45’15.6”W).
36
3.4.5 Composição do Rebanho, Nutrição dos Animais e Produção de Leite
Atualmente o rebanho da propriedade é composto por 22 animais, sendo 12 vacas, cinco
novilhas, quatro bezerros e uma bezerra, todos mestiços holandês-zebu sem grau genético definido.
Recentemente foi iniciada na propriedade o trabalho de inseminação artificial. A média de
produção diária durante o ano é 80 litros de leite por dia, que é direcionada integralmente para
fabricação de queijo frescal. Bezerros e bezerras são criados para retirada do leite, uma vez que
parte das vacas necessitam da presença dos mesmos para descida do leite. Eles permanecem o dia
todo em área de pasto anexa ao curral, instalação na qual acessam durante a noite. A recria das
novilhas é feita a pasto, sem plano nutricional para essa categoria, sendo três desses animais
mantidos na propriedade e dois em uma propriedade arrendada. Além desses, há um cavalo de
serviço para manejo do gado e trabalho carroça, que permanece em área separada do rebanho.
A fonte de volumoso durante o período das águas é somente as pastagens e no período de
estiagem, além do pastejo, os animais consomem forragem verde picada no cocho para
suplementação, por 120 dias (julho a outubro). Durante todo o ano as vacas de leite recebem
alimento concentrado no momento da ordenha, cujo a composição é formada por 50% de milho
moído, 20% de farelo de soja e 30% de farelo de trigo. A quantidade fornecida por animal
diariamente não é conhecida. Além de ingredientes energéticos e proteico, também é fornecido aos
animais sal mineral seletivo para atender as exigências de fósforo, sódio, cobalto e cobre, adquirido
pronto pelo produtor.
37
propriedade leiteira. Somado a isso, existe um recinto para fabricação dos queijos e a sede da
propriedade. Em relação às cercas, toda a propriedade é cercada por cerca de arame farpado.
38
4. AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO
39
manejo técnico, porém que pode ser substituído por outra metodologia que traz melhores resultados
produtivos, como o manejo baseado na interceptação luminosa, que permite a produção de
forragem de melhor qualidade e aumento da eficiência de colheita do alimento (Aguiar, 2015).
Nesse sistema de pastejo são lotadas, em média, sete vacas em lactação, o que permite atingir taxa
de lotação de 7,0 UA/hectare, valor adequado com a capacidade de suporte da área, tendo em vista
o excelente stand de plantas, ausência de invasoras, elevada cobertura vegetal do solo e correta
altura de resíduo pós-pastejo, evidências características de pastagem bem estabelecida e manejada.
A adubação de 135 kg de nitrogênio por ciclo de pastejo gera uma adubação anual de 1.080
kg/hectare de nitrogênio, valor que deve ser reduzido em função da responsividade da Urochloa
brizantha cv. Marandu, que não ocorre para doses elevadas como tal.
A área de 3,92 hectares restante não recebe nenhum acompanhamento da fertilidade do solo
bem como plano de adubação para potencializar a produção de forragem por hectare, o que
permitiria alcançar maior taxa de lotação na propriedade e consequentemente aumentar a produção
de leite por hectare. O pastejo realizado nesta pastagem é contínuo, o que também limita a
produtividade da área em determinado momento. Dessa maneira, por ser um setor que apresenta
bom stand de plantas, elevada cobertura de matéria orgânica do solo, pequena proporção de
invasoras e boa produtividade de matéria seca, recomenda-se sua exploração com um sistema de
pastejo adequado à fisiologia de crescimento da planta e que potencialize a eficiência do uso da
forragem, associado a um plano de adubação que máxime a produção da pastagem, permitindo uma
melhor exploração da terra (Aguiar, 2015). O cenário de grande potencial forrageiro desta área,
mesmo sem receber manejo intensivo, certamente é promovido pela baixa taxa lotação que se opera
na propriedade, associada a um correto processo de formação da pastagem nesse local, conforme
histórico descrito pelo proprietário, que teve a topografia de fácil operação como ponto
determinante.
Ainda de área empastada existem 1,22 hectares que têm produção de forragem satisfatória,
porém apresenta maior proporção de plantas invasoras e pequena área de solo descoberto. Apesar
de ser realizado a vedação como manejo da pastagem existente, não é o suficiente para melhorar a
cobertura vegetal dos pontos onde o solo é desprotegido. Esse diferimento permite que a pastagem
da área acumule forragem e a proteção do solo seja garantida em quase toda superfície, que
apresenta bom stand de plantas forrageiras. Atualmente o pastejo realizado nela é casual, baseado
na observação da altura do pasto pelo produtor. Recomenda-se que está área seja anexada ao
40
canavial, aumentando sua extensão para atender a demanda do rebanho quando o sistema estiver
sendo operado de maneira intensificada.
De área empastada em degradação existem 3,09 hectares. Dentro desse contexto, próximo
ao curral, existe 0,17 hectare com predominância de grama em toda extensão, com alguns pontos
de solo descoberto, sendo recomendado que está seja utilizada para formação de piquete para
bezerras em aleitamento e piquete-maternidade. No passado foi realizado análise química do solo
desta área e ele apresenta-se como de elevada fertilidade natural. Além deste, outro setor da
propriedade que apresentou características de pastagem degradada foram 2,92 hectares localizados
na extremidade oposta da fazenda em relação à sede. Esta área apresenta planta forrageira em sua
extensão, porém sem stand bem definido e estabelecido, intercalando entre pontos com
predominância de plantas daninhas e locais com pouca ou nenhuma cobertura vegetal sobre o solo.
Juntamente com o setor úmido, é o local que mais exige em tratos culturais e manejo de recuperação
de pastagem, por apresentar alta proporção de invasoras. No entanto, diferentemente do setor
supracitado, esta área é pastejada pelos animais, que colhem a forragem com frequência no local,
conforme observado pelo proprietário e diagnosticado pela morfologia das plantas forrageiras
presentes. Essa condição de pastejo intenso e sem controle reduz o vigor e capacidade de rebrota
da planta, que perde na competição com plantas invasoras no decorrer do tempo, intensificando o
processo de degradação da pastagem. Neste local, a roçada, plantio manual de sementes em pontos
específicos, vedação, calagem e adubação leve é o manejo recomendado para recuperação da
pastagem local.
A área da propriedade com maior potencial forrageiro e que permite operação com altas
taxas de lotação devido sua topografia plana tem 1,08 hectares. Esse setor não é acessado pelos
animais devido sua elevada umidade e, em função dessa característica, não existe planta forrageira
no local. A predominância é de plantas típicas de brejo. O primeiro trabalho que deve ser realizado
é a drenagem do local, para que em seguida seja formada pastagem por processo convencional. É
importante destacar que está é uma área não produtiva dentro da fazenda, se caracterizando como
área potencialmente empastada que, sendo trabalhada, permitiria aumentar substancialmente a
capacidade de suporte da propriedade. Além disso, sua proximidade com curral permitiria o pastejo
de vacas em pico de lactação, que apresentam maior exigência nutricional e manejo esmerado.
Como área que os animais também não acessam, existem mais 0,56 hectare de área de
úmida, que é acrescida de pequena encosta na transição entre a parte plana e levemente ondulada
41
da propriedade. Essa área não será trabalhada no projeto, permanecendo como área de preservação
permanente.
45
4.6 Instalações e Equipamentos
Todas as instalações da propriedade se apresentam em adequado estado de conservação e
não têm sua funcionalidade comprometida, condição que iria interferir nos resultados obtidos. As
cercas e porteiras mantêm seu poder de contenção, os cochos permitem acesso dos animais para
consumo adequado de sal mineral, os bebedouros têm capacidade de atender a necessidade de água
do rebanho, a queijeira promove espaço para ampla produção e armazenagem de queijo frescal e o
curral permite adequado manejo de ordenha dos animais, estocagem de insumos, suplementação
volumosa e concentrada no cocho, vacinação e inseminação dos animais e abrigo para os bezerros
durante a noite. Em relação aos equipamentos, todos apresentam adequada funcionalidade e não se
configuram como limitantes no desenvolvimento das atividades na propriedade. A carroça permite
adequado transporte de forragem das áreas de lavoura, a picadeira atende aos trabalhos durante o
período de estiagem, a ordenhadeira de balde ao pé funciona normalmente com todos os parâmetros
adequados para uma correta ordenha dos animais e o botijão de sêmen conserva o material
corretamente. Além dos equipamentos, ferramentas básicas utilizadas em uma propriedade leiteira
também apresentam bom estado para desempenharem suas funções.
Dessa maneira, as instalações e equipamentos existentes na propriedade são suficientes e
não limitariam a operação de um sistema mais intensificado.
46
5. PLANEJAMENTO PARA O SISTEMA DE PRODUÇÃO
A partir desses dados é possível gerar indicadores conclusivos para avaliação da eficiência
técnica e econômica da fazenda, como: produção anual total de leite, produção total de leite por
vaca, persistência de lactação das vacas, proporção de vacas em relação ao rebanho, proporção de
vacas em lactação em relação ao total de vacas, produção de leite por hectare por ano, idade dos
animais, taxa de lotação das pastagens, eficiência alimentar, produção de leite por intervalo entre
partos das vacas, eficiência na cria de bezerras e recria de novilhas e eficiência reprodutiva.
47
5.2 Controle Econômico da Atividade
De fundamental importância, o custo de produção também deve ser mensurado, uma vez
que sua correlação com o lucro é mais elevada do a correlação deste com o preço (NASCIF, 2015).
Para obtê-lo é importante que seja registrado pelo produtor todos os desembolsos realizados com
fatores de produção (Tabela 9), para conhecer os custos variáveis da atividade. De maneira geral,
os fatores de produção de uma unidade familiar de produção de leite são similares, havendo
pequena variação em função do manejo e tecnologias adotados. Em função disso, os itens
apresentados são generalizados e podem ser acrescentados pelo produtor. Somado aos fatores de
produção, outras despesas inerentes à produção de leite também são consideradas, formando os
custos variáveis da atividade.
Para estimar o custo fixo o produtor deverá considerar a depreciação de bens imobilizados
(Tabela 9), considerando seu custo inicial, tempo de vida útil e custo final. Com esse valor será
conhecido quanto deverá ser direcionado da receita para renovação ou substituição do bem no fim
de sua vida útil.
Acrescentando o custo fixo ao custo variável o proprietário terá o custo total por litro de
leite produzido e com ele conhecerá sua margem líquida, a partir da receita obtida. É essencial para
o sucesso na atividade leiteira a escala de produção como meio de diluir os custos fixos e assim
reduzir o custo total do produto. Como observado por Nascif (2015), o gerenciamento dos custos
na pecuária de leite brasileira é pouco praticado, sendo um ponto primordial que deve ser adotado
na propriedade estudada para gestão da atividade.
Para o controle da atividade, além do custo de produção outros indicadores podem ser
calculados para avaliar seu desempenho econômico, tais como marquem bruta, marquem líquida,
lucratividade e rentabilidade. Munido dessas informações, o produtor poderá realizar um
benchmark para avaliar sua eficiência econômica perante ao que ocorre no mercado em sistemas
de produção similares.
48
Tabela 9. Recomendação de componentes do custo de produção a serem monitorados no sistema
de produção estudado.
Fatores de produção Unidade
Bens imobilizados
Animais
Curral
Queijeira
Cochos
Cercas
Ordenhadeira R$/dia
Botijão de sêmen
Picadeira estática
Carroça
Latões de leite
Ferramentas
Outros
Fonte: elaborado pelo autor.
49
5.3 Planejamento Produtivo e Forrageiro para o Sistema de Produção
A seguir serão apresentadas as recomendações sobre a estrutura do rebanho projetado e à
alimentação dos animais a pasto.
50
maiores que os animais neozolandeses. Neste caso, os animais da Nova Zelândia são
excessivamente pequenos, com reduzida capacidade de ingestão de alimento e menor produção por
consequência (DAIRY_NZ, 2011), característica interessante para produção naquele país, que é
exclusivamente à pasto em maior parte do território (HOLMES, 1998). Como no Brasil existe a
possibilidade de suplementação concentrada, é possível a escolha de animais mais produtivos para
compor o rebanho, de maneira que exista um equilíbrio entre produção individual e produção por
hectare na propriedade (ALMEIDA, 2013).
É amplamente reconhecida capacidade do cruzamento em promover heterose e
complementariedade entre raças. No cruzamento Holandês-Friesian x Jersey é possível atingir
superioridade produtiva da raça holandesa e sólidos totais do leite, precocidade sexual, fertilidade,
saúde, longevidade e facilidade de parto da raça Jersey. Em trabalho avaliando F1 Holandês-
Friesian x Jersey em pastejo na Irlanda, Prendville et al. (2010) observaram 95% da produção das
vacas puras Holandês-Friesian nas vacas mestiças com Jersey (17,1 vs 18,0 kg/dia), com heterose
de 4,3% para os animais mestiços (0,69 kg/dia). Também com tendência de superioridade, foi
observada maior concentração de sólidos nas vacas mestiças em comparação às vacas puras
holandesas (NETO et al., 2013; PRENDVILLE et al., 2009). No consumo de alimento, os trabalhos
têm demonstrado consumo absoluto similar entre vacas puras holandesas e vacas mestiças, o que
gera maiores valores relativos ao peso corporal, devido as mestiças apresentarem menor peso. O
maior consumo relativo ao peso corporal das vacas mestiças é herdado da raça Jersey, que é
reconhecida por esta característica. Prendville et. al. (2009) observaram valores superiores para
consumo de alimento relativo ao peso corporal em vacas mestiças, próximos à 3,0%.
Em relação à eficiência reprodutiva, trabalhos têm demonstrado superioridade das vacas
mestiças Holandês x Jersey em relação à vacas holandesas puras, demonstrando que as F1
permanecem mais tempo em cio, o que facilita sua identificação e a inseminação no momento
correto, além de apresentarem menor taxa de reabsorção embrionária (RODRIGUES, 2009). A
condição de maior fertilidade aliada à sua alta persistência de lactação permite que vacas Jersolando
apresentem período de lactação de 305 dias e intervalo entre partos de 365 dias, caracterizando um
animal especializado para produção de leite.
Para o peso ao nascimento desse grupo genético foi identificado que as bezerras mestiças
nascem, em média, com peso 35,2 kg, condição que não promove dificuldade de parto nas vacas,
que apresentam baixas taxas de distocia e retenção de placenta (PIZZOL, 2012; DIAS, 2010),
51
vantagem importante para sistemas de produção a pasto, cujo as vacas ficam menos tempo sob
vigilância em comparação à sistemas de confinamento. Avaliando o desenvolvimento de bezerras
e novilhas Jersolando, Rodrigues (2009) observou que as melhores taxas de prenhez de novilhas
são obtidas quando as mesmas apresentam entre 310 e 320 kg de peso corporal, o que também
garante seu desenvolvimento ponderal durante a gestação e em sua primeira lactação, que segundo
o autor pode iniciar aos 24 meses, variando em função dos planos nutricionais para esses animais.
Com base nisso, justifica-se a recomendação do F1 Holandês x Jersey para o sistema de
produção, com linhagem Friesian da Nova Zelândia para raça Holandesa e linhagem norte-
americana para raça Jersey, buscando animais com média de 5.185 kg de leite por lactação, com
produção média de 17 kg. Esses valores produtivos concordam com valores recomendados por
Aguiar (2015) para sistemas intensivos de produção de leite a pasto economicamente viáveis no
Brasil. Com base nisso, todos os parâmetros estabelecidos a seguir para o rebanho serão embasados
nas informações anteriormente discutidas.
52
Tabela 10. Parâmetros estabelecidos para os cálculos do sistema de produção.
Parâmetro Referência
Período de estação chuvosa 215
Período de estação seca 150
Consumo diário de dieta (% peso corporal) 3,0
Consumo diário de forragem (% peso corporal) 2,1
Matéria seca de forragem em pastagem (%) 25
Estacionalidade produtiva Urochloa brizantha cv. Marandu (% chuvas / % seca) 70/30
Estacionalidade produtiva Panicum maximum cv. Mombaça (% chuvas / % seca) 80/20
Proporção de vacas em lactação no rebanho (%) 83
Proporção de vacas secas no rebanho (%) 17
Taxa de reposição no rebanho (%) 17
Peso ao nascimento de bezerras (kg) 35
Ganho de peso de bezerras entre o nascimento e 90 dias de idade (kg/dia) 0,7
Ganho de peso de bezerras e novilhas entre 90 dias e 15 meses de idade (kg/dia) 0,6
Ganho de peso de bezerras e novilhas entre 15 e 24 meses de idade (kg/dia) 0,5
Fonte: elaborado pelo autor.
53
Tabela 11. Estrutura do rebanho projetado.
Categoria Nº de animais UA/categoria Nº UA's
Vacas em lactação 24 1,000 24,0
Vacas secas 5 1,000 5,0
Bezerras e novilhas até 15
8 0,461 3,6
meses
Novilhas até 24 meses 7 0,852 6,0
Vacas primíparas 12 1,000 12,0
Total 56 51
Fonte: elaborado pelo autor.
55
5.3.4.1 Área de Recria
Antes da implantação do projeto a área destinada à recria deve ser roçada nas partes onde
há invasoras e em seguida ser vedada, para que o banco de sementes existente no solo germine e
ocorra o fechamento gradual da área com a Urochloa brizantha cv. Marandu. Esse setor da
propriedade dispensa reforma, pois a presença da forrageira é predominante em relação às plantas
daninhas locais. Apenas esse manejo é o suficiente para iniciar o processo de intensificação de
produção de forragem, sendo, no entanto, imprescindível que ele seja realizado antes que as
próximas etapas do projeto sejam executadas (formação da infraestrutura de piquetes, plano de
adubação e aquisição de animais).
A pastagem que será destinada à recria das bezerras e novilhas deverá operar com taxa de
lotação de 2,8 UA/há, estabelecendo-se para tal capacidade de suporte de 4,0 UA/ha. Essa diferença
entre capacidade de suporte e taxa de lotação permite que a produção de forragem pela pastagem
atenda à demanda dos animais também na estação seca do ano, dispensando suplementação
volumosa. Por ser uma área com menor teor de matéria orgânica no solo e acidentada, a capacidade
de suporte recomendada para essa pastagem foi menor em comparação ao outro setor da
propriedade que também apresenta a Urochloa brizantha cv. Marandu. O direcionamento desta
área para as categorias de recria foi em função da distância, buscando priorizar áreas mais próximas
para vacas em lactação. Devido a isso, será necessária a realocação de água de um local próximo
para bebedouros que deverão ser implantados na área de lazer do sistema de pastejo.
56
5.3.4.2 Área para Vacas do Lote 2
O grupo de vacas no 2º e 3º terços de lactação serão tratadas aqui como lote 2. Como no
diagnóstico, essa é a área da propriedade que atualmente apresenta o maior potencial forrageiro. A
reduzida proporção de invasoras deve ser roçada para o início do projeto, não havendo mais
recomendações. A capacidade de suporte estabelecida foi de 7,0 UA/ha, embasada pela taxa de
lotação já existente em um hectare dessa área, que opera em sistema de pastejo com lotação
rotacionada para sete vacas. Sendo possível alcançar tal produtividade para essa extensão do setor,
a recomendação da mesma capacidade de suporte para o restante da área é coerente, haja vista que
o manejo será, no mínimo, semelhante.
Recomenda-se que o canavial seja formado por três variedades complementares, que
permita o fornecimento de alimento durante todo o período de estiagem. Dessa maneira,
recomenda-se uma cultivar precoce (RB83-5486), média (SP80-3280) e tardia (RB86-7515), para
suplementação de 150 dias. Segundo Macêdo e Silva (2013) e Silva (2016a), essas variedades
apresentam características como alta produção agrícola, facilidade de despalha, ausência de
florescimento (exceto para prococe), alto teor de sacarose, baixa relação FDN/sacarose, bom
perfilhamento e pouco tombamento, além de serem complementares quanto ao período de safra. O
corte deve iniciar pela variedade precoce, em seguida a média e no fim do período seco deve utilizar
a variedade tardia.
58
Em relação à produtividade, Silva (2016a) encontrou valores bem acima dos recomendados
para este trabalho, logo, a recomendação de 70 toneladas por hectare de cana-de-açúcar é segura e
passível de ser alcançada no campo. Além disso, também será recomendado adubações mais
intensivas do que aquelas recomendadas para essa produtividade, buscando obter produções
maiores como meio para cobrir as perdas e obter reserva de forragem. Em relação ao teor de matéria
seca, Rodrigues et al. (2002) encontraram valores que corroboram ao recomendado neste trabalho,
de 30% de massa seca. Para esse parâmetro, Silva (2016a) encontrou valores bem acima ao
recomendado neste trabalho, o que assegura o valor estabelecido.
59
Tabela 14. Período de descanso (PD), período de permanência (PP), número de lotes (NL),
período de ocupação (PO), ciclo de pastejo (CP), área total em hectare (AT), área de piquete em
hectare (AT) e número de piquetes do sistema de pastejo para a recria.
Estação Duração (dias) Parâmetros do Sistema de Pastejo
PD PP NL PO CP AT AP NP
Chuvosa 215
25 1 2 2 27 3,47 0,129 27
PD PP L PO CP AT AP NP
Seca 150
38,5 1,5 2 3 42 3,47 0,129 27
Fonte: elaborado pelo autor.
Todos os sistemas de pastejo deverão ser manejados com dois lotes, desponte e repasse.
Essa filosofia de trabalho busca maior eficiência na alimentação dos animais, ajustando o pastejo
de acordo com as exigências nutricionais de cada grupo. Dessa maneira, o lote desponte será o de
maior exigência nutricional, que pastejará o extrato de forragem de maior qualidade, seguido do
lote repasse, que consumirá o restante de forragem até a altura de saída recomendada (Tabela 15).
O manejo do pastejo será embasado em alturas de entrada e saída dos animais e não nos dias fixos
de descanso e ocupação. Esses dias são estabelecidos como referência, apesar deles se sobreporem
com as alturas como medida de manejo, uma vez que, os dias de descanso recomendados para as
forrageiras no período chuvoso, têm como objetivo permitir o crescimento do pasto até determinada
altura para o pastejo dos animais. Como sabemos que as condições climáticas influenciam
diretamente na taxa de crescimento do capim, recomenda-se não fixar os dias e sim fixar as alturas,
de maneira que a rotação dos animais seja ditada pelo lote repasse, que irá pastejar no piquete até
ajustar o porte do dossel ao recomendado.
Tabela 15. Alturas recomendadas para entrada e saída dos animais no piquete.
O manejo baseado em alturas permite que o pastejo pelos animais ocorra no momento em
que o dossel esteja com estrutura ideal, promovendo melhor desempenho (SANTOS & FONSECA,
60
2016). Pastejo em alturas acima do recomendado reduzem o desempenho dos animais devido a
qualidade nutricional da forragem ser inferior, em razão da maior concentração de FDN, além do
maior acúmulo de material morto. O pastejo abaixo da altura preconizada compromete o
desenvolvimento vegetativo das plantas, por consequência, modifica seu padrão de crescimento, o
que afetada diretamente a estrutura do pasto. Sendo assim, é essencial que as alturas sejam
mensuradas antes, durante e após o pastejo dos animais, buscando atender à demanda dos dois
fatores envolvidos, os animais e a planta. É recomendado um ponto de medição para cada 50 m²
de piquete (OLIVEIRA et al., 2006). Com base nessa orientação, nos piquetes das bezerras e
novilhas a altura do pasto deve ser mensurada em 26 pontos para se ter precisão no manejo. É
importante que as touceiras escolhidas sejam representativas dentro do piquete, desconsiderando
touceiras excessivamente pastejadas bem como àquelas que não foram consumidas pelos animais.
Durante o manejo diário pode ser observado pelo produtor que o piquete que apresentará
altura ideal de pastejo não necessariamente será àquele logo em sequência no sistema, havendo,
em alguns casos, piquetes mais adiante que apresentam altura adequada em detrimento àquele
imediato na sucessão. Esse cenário é favorecido por condições climáticas, como acúmulo de água
no piquete, incidência maior ou menor de luz, fertilidade do solo e topografia. Porém, como o
manejo é estabelecido pela altura dos pastos e não pela sequência de pastejo, prevalece como
prioridade de entrada àquele piquete que apresentará seu pasto com altura próxima ao
recomendado. De maneira geral, o crescimento das plantas nos piquetes é escalonado e ocorre em
padrão sequencial, porém, caso ocorra a antecipação, é importante que o produtor fique atento para
não perder a ordem no manejo. Outro aspecto que pode ser observado pelo manejador é que, em
momentos de calor e chuvas intensos, o crescimento do capim fica acelerado ao ponto do lote de
repasse levar mais dias para rebaixar o pasto, fazendo com que os piquetes subsequentes
ultrapassem ligeiramente a altura recomendada de entrada. Nesta situação, pode ser reduzida a
quantidade de fertilizante distribuída, que será descrita adiante, buscando ajustar a altura para o
próximo ciclo de pastejo.
Tabela 16. Período de descanso (PD), período de permanência (PP), número de lotes (NL),
período de ocupação (PO), ciclo de pastejo (CP), área total em hectare (AT), área de piquete em
hectare (AT) e número de piquetes do sistema de pastejo para o lote 2.
62
Tabela 17. Período de descanso (PD), período de permanência (PP), número de lotes (NL),
período de ocupação (PO), ciclo de pastejo (CP), área total em hectare (AT), área de piquete em
hectare (AT) e número de piquetes do sistema de pastejo para o lote 1.
63
este grupo de animais será submetido é a concepção aos 15 meses de idade, que exige considerável
desempenho em ganho de peso, o que é mais facilmente atingível com forragem de melhor
qualidade. Considerando que o consumo do lote desponte será reduzido, devido ao menor porte
dos animais, certamente haverá oferta abundante de forragem para as novilhas do lote repasse, fator
importante ao se considerar que elas estarão em gestação e em desenvolvimento corporal
concomitantes.
Avaliando o balanço forrageiro no sistema para recria durante a estação chuvosa (Tabela
18), verificamos que a oferta de forragem pelas pastagens será suficiente, ao ponto de restar 60%
da necessidade de consumo dos animais após o pastejo, além do valor residual considerado na
capacidade de suporte da forrageira. Este balanço permite seleção dos animais, garantindo que a
forragem consumida em pastejo seja de excepcional qualidade.
Tabela 18. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para a recria na estação chuvosa.
Acúmulo de Balanço
Nº de Consumo diário
Lote Categoria forragem/piquete forrageiro
animais (kg/PP)
(kg) (kg)
Bezerras e novilhas entre
Desponte 8 34
3 e 15 meses de idade
144,3 53,6
Novilhas entre 15 e 24
Repasse 7 56,7
meses de idade
Total 15 90,7
Fonte: elaborado pelo autor.
O balanço forrageiro da estação seca (Tabela 19) mostra que a suplementação volumosa
desses animais será dispensada, no entanto, recomenda-se que a relação de volumoso e concentrado
da dieta passe de 70:30 para 65:35. Essa alteração reduz a necessidade de forragem dos animais,
permitindo que o alimento produzido pelas pastagens atenda a demanda dos lotes, com balanço
positivo de 10 kg.
64
Tabela 19. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para a recria na estação seca.
Acúmulo de Balanço
Nº de Consumo diário
Lote Categoria forragem/piquete forrageiro
animais (kg/PP)
(kg) (kg)
Bezerras e novilhas
Desponte entre 3 e 15 meses de 8 47,4
idade 137 10,6
Novilhas entre 15 e 24
Repasse 7 79,0
meses de idade
Total 15 126,4
Fonte: elaborado pelo autor.
Este cenário é possível devido a redução da recria recomendada para o sistema de produção.
Caso toda cria do sistema fosse mantida na propriedade, o balanço forrageiro para esses animais
seria de -67 kg/dia na estação seca e -2,2 kg/dia na chuvosa, mesmo com relação de volumoso e
concentrado de 65:35. Isso mostra a importância da manter uma recria enxuta para operação do
sistema com mais vacas.
65
Tabela 20. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para o lote 2 na estação chuvosa.
Acúmulo de Balanço
Nº de Consumo
Lote Categoria forragem/piquete forrageiro
animais diário (kg/PP)
(kg) (kg)
Vacas no 2º terço de
8 77,9
lactação
Desponte
Primíparas no 2º e 3º
8 71
terços de lactação 331,9 57,2
Vacas no 3º terço de
8 77,9
Repasse lactação
Vacas secas 5 47,9
Total 29 274,7
Fonte: elaborado pelo autor.
Para estação seca o balanço forrageiro (Tabela 21) para o sistema será -97 kg/dia, indicando
a necessidade de suplementação volumosa para esses animais (23% da demanda).
Tabela 21. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para o lote 2 na estação seca.
Consumo Balanço
Nº de Acúmulo de
Lote Categoria diário forrageiro
animais forragem/CP/piquete (kg)
(kg/PP) (kg)
Vacas no 2º terço de
8 116,8
lactação
Desponte
Primíparas no 2º e 3º terços
8 106,5
de lactação 314 -97,9
Vacas no 3º terço de
8 116,8
Repasse lactação
Vacas secas 5 71,8
Total 29 411,9
Fonte: elaborado pelo autor.
Tabela 22. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para o lote 1 na estação chuvosa.
Consumo Balanço
Nº de Acúmulo de
Lote Categoria diário forrageiro
animais forragem/CP/piquete (kg)
(kg/PP) (kg)
Vacas no 1º terço de
4 39
lactação antes do pico
Desponte
Primíparas no 1º terço de 144 30,5
4 35,5
lactação
Vacas no 1º terço de
Repasse 4 39
lactação após o pico
Total 12 113,5
Fonte: elaborado pelo autor.
Tabela 23. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para o lote 1 na estação seca.
Acúmulo de Balanço
Nº de Consumo
Lote Categoria forragem/CP/piquete forrageiro
animais diário (kg/PP)
(kg) (kg)
Vacas no 1º terço de
4 58,5
lactação antes do pico
Desponte
Primíparas no 1º terço
4 53,3 79 -91,2
de lactação
Vacas no 1º terço de
Repasse 4 58,4
lactação após o pico
Total 12 170,2
Fonte: elaborado pelo autor.
67
5.3.7. Plano de Suplementação Volumosa
De acordo com a necessidade de suplementação gerada pelos lotes 1 e 2, a seguir é
recomendado um plano de manejo (Tabela 24). A demanda dos animais apresentada pelo balanço
forrageiro é em matéria seca, enquanto a necessidade de fornecimento diário é apresentada em
matéria natural. A demanda dos dois lotes perfaz 189 kg de matéria seca diariamente, o que gera
necessidade de 630 kg/dia de matéria natural de cana-de-açúcar. As vacas do lote 1 exigem 25 kg
de cana por dia, enquanto as vacas do lote 2 exigem 11 kg diariamente. Essa diferença é explicada
pela maior estacionalidade produtiva do capim-mombaça em relação ao marandu, confirmada pela
diferença relativa entre acúmulo e demanda. Para o lote 1 cada piquete acumula 46% da demanda
diária dos animais, enquanto os piquetes do lote 2 acumulam 76%, durante a estação seca.
Tabela 24. Plano de suplementação volumosa para os lotes 1 e 2 durante a estação seca.
Área total
Balanço Nº de Necessidade de Consumo/ Consumo Área diária
de
Lote forrageiro animai suplementação cabeça/dia diário do lote de canavial
canavial
diário (kg MS) s total (kg MS) (kg MN) (kg MN) (m²)
(ha)
A demanda total dos dois lotes durante a estação chuvosa será de 28 toneladas de matéria
seca, demandando 1,35 hectares. Como manejo recomenda-se o corte de 90 m² de canavial
diariamente para atender a demanda dos animais.
68
Tabela 25. Cronograma de preparo das áreas para formação de pastagem e canavial.
Área Preparo do solo (momento)
69
baseando em parâmetros médios de produtos comerciais, fechando a necessidade total para área de
15 kg. Para as mudas de Tifton-85 foi usada como referência a recomendação de um hectare de
muda para formação de dez hectares de pastagem, chegando ao valor 2.600 kg/hectare, que gerou
a demanda de 650 kg para formação da área. Por fim, para formação de um hectare de cana-de-
açúcar a demanda é de 12 toneladas de colmo (MACÊDO & SILVA, 2013), necessitando de 16,8
toneladas para estabelecer o canavial na propriedade. Como serão utilizados três cultivares, serão
necessárias 5,6 toneladas de cada uma, para formar 0,46 hectare. É recomendado colocar 16 a 18
gemas por metro linear de sulco.
70
Tabela 27. Recomendações de nutrientes para formação de pastagem e canavial.
Recomendação (kg/ha)
Solo
N K2O P2O5
Sistema de Pastejo Lote 1
50 0 80
(cv. Mombaça)
Piquete maternidade e
50 40 80
bezerras (cv. Tifton-85)
Canavial
100 100 120
(os três acessos)
Recomendação (kg/ha)
Solo MAP
Ureia KCl
(50%
(45% N) (60% K2O)
P2O5)
Sistema de Pastejo Lote 1
120 0 160
(cv. Mombaça)
Piquete maternidade e
120 70 160
bezerras (cv. Tifton-85)
Canavial
230 170 240
(os três acessos)
Fonte: elaborado pelo autor.
71
5.3.9 Plano de Correção e Adubação do Solo
A seguir serão apresentadas recomendações de correção e adubações para as áreas de
pastagens e cana-de-açúcar, bem como o manejo que deve proceder e todos os insumos a serem
utilizados como fontes dos nutrientes recomendados.
72
Tabela 29. Recomendações de doses de corretivo e manejo da correção da acidez dos solos da
propriedade.
Recomendação Nº total de sacos
Solo Momento Distribuição Incorporação
(t/ha) de agrosilício
Sistema de
2,0 138
Pastejo Recria
Sistema de
2,3 209 A lanço em
Pastejo Lote 2
Agosto área total Não realizar
Canavial 1,0 28 manualmente
Pré-parto e
2,0 10
bezerras
Fonte: elaborado pelo autor.
Tabela 30. Recomendações de nutrientes para adubação de produção das pastagens e do canavial.
Recomendação (kg/ha/ano)
Solo
N K2O P2O5
Sistema de Pastejo
240 180 100
Recria (cv. Marandu)
Para o solo do sistema de pastejo do lote 1 a recomendação foi baseada na literatura que
indica 50 kg/UA/ano para a cv. Mombaça (SANTOS & FONSECA, 2016). Para essa área,
considerando a elevada concentração de potássio no solo, foi recomendado apenas 40 kg/ha/ano de
K2O. Caso a produtividade da forrageira fique abaixo do esperado, novas recomendações para esse
nutriente podem ser consideradas. O fósforo foi recomendado de acordo a fertilidade do solo.
Para a área destinada ao lote 2 o nitrogênio foi recomendado na ordem de 50 kg/UA/ano,
valor pouco abaixo daquele para área de recria, devido a topografia permitir maior eficiência na
adubação, reduzindo as perdas por lixiviação. Para o potássio foi considerada a relação de N:K2O
de 1:0,6, em função do solo, que apresentou níveis médios para este nutriente, o que reduz a
exigência de fertilizante externo para nutrição das plantas. A recomendação para fósforo seguiu o
mesmo padrão, em função da fertilidade para este nutriente.
Para o canavial as orientações objetivaram maior produtividade em relação aquelas
estabelecidas inicialmente para a forrageira (70 t/ha). Como a área destinada de lavoura (1,4 ha) é
praticamente semelhante à área necessária para suplementação dos animais (1,35 ha), buscou-se
margem produtiva via adubação, permitindo assegurar reserva de forragem e considerando as
75
perdas que haverá durante a colheita. A recomendação para o nitrogênio é de 1 kg/tonelada de
matéria natural produzida (DUARTE, 2009), sendo recomendado a adubação com 90 kg/ha/ano
desse nutriente. Para o potássio este autor recomenda a proporção de a relação N:K2O de 1:1 ou
1:1,5, considerando que a extração desse nutriente em lavouras é elevada. Como a concentração do
elemento no solo estão em níveis médios, a proporção adotada foi de 1:1, recomendando 90
kg/ha/ano de K2O. Para o fósforo, a recomendação é que o maior fornecimento seja feito no plantio,
considerando sua baixa mobilidade quando distribuído em superfície. De acordo com Duarte
(2009), para cada tonelada de matéria natural produzida deve ser reposto 700 g de P2O5 para o solo
anualmente, logo, para produção de 90 t/ha recomenda-se adubação de produção de 65 kg/ha/ano
de P2O5. Para este elemento a adubação intensiva ocorre na formação do canavial, momento que
permite sua incorporação ao solo. Os fertilizantes nitrogenados e potássicos (Tabela 31) foram os
mesmos daqueles recomendados para formação. A fonte de fósforo recomendada para adubação
de produção foi o fosfato natural reativo (28% de P2O5), que, apesar de apresentar menor
concentração, contém 14% de fósforo com maior mobilidade no solo, característica importante
para adubações em cobertura.
Tabela 31. Recomendações de doses de fertilizantes para adubação de produção das pastagens e
do canavial.
Recomendação (kg/ha/ano)
Solo Fosfato Natural
Ureia KCl
Reativo
(45%) (60% K2O)
(28% P2O5)
Sistema de Pastejo
540 300 360
Recria (cv. Marandu)
Sistema de Pastejo Lote 1
1.120 70 290
(cv. Mombaça)
Sistema de Pastejo Lote 2
780 470 360
(cv. Marandu)
Canavial
200 150 180
(todos as cultivares)
Fonte: elaborado pelo autor.
76
5.3.9.3 Manejo da Adubação de Produção
O procedimento para adubação de produção consiste na definição da estação de crescimento
das plantas forrageiras, que ocorre durante o período chuvoso, estabelecido no projeto como 215
dias. Com esse período definido, foi estabelecida a quantidade de fertilizante que deve ser
distribuída por piquete a cada ciclo de pastejo (Tabela 32). É importante que as adubações sejam
realizadas com o solo úmido, para evitar as perdas de nitrogênio por volatilização, sendo
recomendado ser feita no mesmo dia ou no dia seguinte a ocorrência de chuvas na propriedade.
Dessa maneira, fica evidente que a adubação não necessariamente deve ser realizada logo em após
a saída dos animais do piquete. Para se programar, é importante que o produtor acompanhe as
previsões de chuvas para região. Os fertilizantes devem ser pesados separadamente e
homogeneizados em seguida, para distribuição única e conjunta. Épocas de elevada precipitação e
calor intenso podem promover crescimento acelerado do capim, fazendo com que a altura de
entrada dos animais nos piquetes esteja acima do recomendado. Neste caso, deve ser distribuído
apenas 70% da dose dos fertilizantes e observado no ciclo de pastejo seguinte se a altura foi
ajustada, podendo o valor ser reduzido para 60 ou 50% ou retornado para dose integral, de acordo
com a altura mensurada.
A adubação do canavial (Tabela 33) deve ser parcelada para todos os nutrientes, com 50%
da dose sendo distribuída após o corte e os outros 50% quando as plantas apresentarem 50 cm de
altura. Cada quantidade por parcela deve ser dividida pelo número de linhas da lavoura e pelo
comprimento médio das linhas, de maneira que seja conhecida a dose por metro linear que deve
ser depositada no solo. A distribuição deve ser realizada ao pé da planta.
77
Tabela 33. Manejo da adubação de produção do canavial.
Recomendação total (kg/ano)
Ureia KCl Fosfato Natural Reativo
Cana-de-açúcar (45%) (60% K2O) (28% P2O5)
200 150 180
78
6. CONCLUSÃO
79
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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89
8. ANEXOS
Proporção de vacas em lactação VL Período de lactação ideal / Intervalo entre partos ideal
Proporção de vacas secas VS Período seco ideal / Intervalo entre partos ideal
Ciclo de pastejo CP PD + PO
90
Área diária de canavial ADC ATC / período da estação seca
91
Anexo 2. Resultados da análise de terra.
pH P K Ca Mg Al H+Al Na C MO SB T t m v
Solo
água mg dm³ cmolc dm³ % cmolc dm³ %
Sistema de Pastejo
4,8 2 22 0,2 0,1 1,16 3,4 0,03 1,49 2,57 0,4 3,8 1,5 75 10,2
Recria
Sistema de Pastejo
6,1 11 121 2,5 1,2 0 2,1 0,21 2,03 3,5 4,2 6,3 4,2 0 66,6
Lote 1
Sistema de Pastejo
4,8 3 74 0,3 0,2 1,14 4,66 0,06 2,18 3,76 0,7 5,4 1,9 60,3 13,9
Lote 2
Canavial 5,2 2 50 1,2 0,6 0,14 2,73 0,06 1,45 2,5 2,0 4,7 2,1 6,6 42,1
Pré-parto e bezerras 5,0 4 55 1,2 0,6 0,6 4,12 0,05 2,08 3,59 2,0 6,1 2,6 23,2 32,6