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UFRRJ

INSTITUTO DE ZOOTECNIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

MONOGRAFIA

Intensificação da Produção de Leite a Pasto em uma Propriedade Familiar em


Além Paraíba-MG

Mateus de Paula Barcelos

2019
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ZOOTECNIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

INTENSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DE LEITE A PASTO EM UMA


PROPRIEDADE FAMILIAR EM ALÉM PARAÍBA-MG

MATEUS DE PAULA BARCELOS

Sob a orientação do professor


João Batista Rodrigues de Abreu

Sob a coorientação do professor


Rondineli Pavezzi Barbero

Monografia apresentada ao Instituto de


Zootecnia como requisito para obtenção do
título de Bacharel em Zootecnia.

Seropédica, RJ
Julho de 2019
i
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Biblioteca Central / Seção de Processamento Técnico
Ficha catalográfica elaborada com dados fornecidos pelo autor

ii
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ZOOTECNIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

MATEUS DE PAULA BARCELOS

MONOGRAFIA apresentada como requisito para a obtenção do título de Bacharel


em Zootecnia pela UFRRJ.

APROVADA EM ____/_____/_____

________________________________________________

Orientador Prof. Dr. João Batista Rodrigues de Abreu

UFRRJ/IZ/DNAP

________________________________________________
Prof. Dr. João Carlos de Carvalho Almeida
UFRRJ/IZ/DNAP

________________________________________________
Prof. Dr. Pedro Antônio Muniz Malafaia
UFRRJ/IZ/DNAP

iii
DEDICO
A Deus.
Aos meus pais, Sônia Maria e Luiz Carlos (in memoriam).
Ao meu irmão Cláudio (in memoriam) e a minha irmã Cláudia.
Aos meus padrinhos e pais adotivos,
Carlos Henrique e Luzia.
A minhas tias, Maria Do Carmo e Maria Lúcia e
Maria José, Magali e Marilda (in memoriam).
Ao meu tio, Edison.
Aos meus sobrinhos, Danilo, Vinicius,
Luiza e Bernardo.
Aos meus verdadeiros amigos.

“Vencer sem riscos, é triunfar sem glória”

Pierre Corneille

iv
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por ter trilhado meu caminho durante meus 25 anos de
vida, para que hoje, eu me tornasse um Zootecnista.
Agradeço à minha mãe, Sônia Maria, por ter feito tudo o que foi possível por mim. O
homem que me tornei é reflexo do seu amor, carinho e orientação.
Agradeço ao meu pai, Luiz Carlos (in memoriam), por todo o amor recebido até meus 17
anos de vida. O senhor me deixou, mas me deixou preparado para enfrentar o mundo na sua
ausência. Tudo o que faço procurar te dar orgulho, onde é que esteja.
Agradeço à minhas tias Maria Do Carmo e Maria de Lurdes, Maria José (in memoriam),
Marilda Helena (in memoriam) e Magali (in memoriam) por contribuírem desde o início de minha
vida para minha formação intelectual e profissional.
Agradeço ao meu tio Edison, por todo amor concedido na ausência de meu pai.
Agradeço à minha irmã Cláudia, por todo o amor e apoio.
Agradeço aos meus padrinhos, Carlos Henrique e Luzia, por todo amor, apoio, orientação
e confiança incondicionais. Vocês em muito contribuíram para que eu me tornasse este homem.
Agradeço aos meus sobrinhos Danilo, Vinicius, Luiza e Bernardo, por todo o carinho,
respeito, admiração e amor que vocês depositam em mim.
Agradeço aos meus amigos de infância, Felipe e Luis Fernando, pelo amor e irmandade por
toda minha vida.
Agradeço aos meus amigos, Luís Felipe, Eduardo Sardinha, André Zuccari, Nichollas
Trajano, Elon Candez, Diego Henrique, Leonardo Viana, Ismael Nacarati, Igor Monteiro, Matheus
Queiroz, Eduardo Vellozo, Caio Borba, Juan Pabllo, Fábio Costa, Lais Castro, Ana Flavia, Danielle
Pião, Brennda Paula, Silvia Vitória, Anna Clara Leite, Júlia Sarlo, Tamiris Lima, Marianna Severo,
Janisse Monteiro, Matheus Alves e Jefferson Chaves por terem feito da graduação a melhor fase
da minha vida. Os momentos vividos foram intensos, com muito amor, carinho e risadas.
Agradeço pela amizade dos professores João Batista Rodrigues (orientador), Thiago
Bernardes, Pedro Malafaia, João Carlos de Carvalho, Rondineli Pavezzi, Alexandre Herculano e
Nivaldo de Farias. Em especial ao meu orientador, sou grato pela amizade e orientação por toda
minha graduação, o que muito contribuiu para minha formação profissional e pessoal.

v
Agradeço à Vital Jr., Empresa Júnior de Zootecnia da UFFRJ, por ter sido o principal meio
para meu crescimento profissional. Obrigado pela família que formamos e pelas oportunidades
promovidas durante minha passagem pela empresa.
Agradeço a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e ao Instituto de Zootecnia, por
terem promovido condições para que eu me tornasse um Zootecnista. Amarei eternamente essas
instituições, que terão minha gratidão em toda minha vida, por tudo aquilo que me promoveram.

vi
RESUMO

BARCELOS, Mateus de Paula. Intensificação da Produção de Leite a Pasto em uma


Propriedade Familiar em Além Paraíba-MG. 2019. 92 p. Monografia (Graduação em
Zootecnia). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica.

Em função de diversos fatores, o Brasil apresenta grande vocação para produção de leite a pasto,
apesar disso, as produtividades por área e por animal observadas no campo são aquém do
potencialmente atingível, principalmente por haver sólidos conhecimentos e tecnologias sobre
esses sistemas de produção. A importância social e econômica da cadeia produtiva do leite é
amplamente reconhecida, que gera trabalho e renda para grande contingente de pessoas em toda
sua extensão, desde o campo até o consumidor final. Partindo desta notória relevância, o objetivo
com este trabalho foi realizar um estudo avaliativo e gerar recomendações técnicas para
intensificação da produção de leite a pasto em uma propriedade familiar em Além Paraíba-MG. A
propriedade apresenta 12,6 hectares de área total dividida em 0,5 hectare de sede, 0,8 de reserva
legal, 4,92 de pastagem bem manejada e produtividade mediana, 1,22 hectares de pastagem mal
manejada, 3,09 hectares de pastagem degradada, 1,08 hectare de área úmida e com invasoras, 0,56
hectare de área excessivamente úmida e com encosta de morro e 0,5 hectare com forrageira para
suplementação. O sistema de produção apresentou características comuns aquelas observadas em
grande maioria das propriedades brasileiras dedicadas à pecuária leiteira. No diagnóstico, foi
contabilizado 22 animais, dos quais 12 eram vacas, cinco novilhas, quatro bezerros e uma bezerra,
caracterizando um rebanho desestruturado. As vacas têm baixa especialização para produção de
leite, com média de 8,8 litros/dia. Não existe controle de dados do sistema, o que impossibilita a
geração de indicadores para sua avaliação. Em um hectare há um sistema de pastejo com lotação
rotacionada para sete vacas em lactação e no restante da propriedade o pastejo é contínuo para os
demais animais do rebanho. O produtor é adepto à ideias e tecnologias, além de apresentar vocação
para o trabalho na atividade, sendo a questão financeira a única limitação para implantação do
projeto. As instalações e equipamentos existentes não limitam a operação atual da propriedade e
não se configuram limitantes para intensificação do sistema de produção. Foram feitas orientações
quanto ao controle e gerenciamento de dados sobre o sistema, permitindo gestão dos indicadores
para tomada de decisões. Foi recomendado mudança do grupo genético do rebanho para animais
mestiços holandês-friesian x jersey, buscando animais especializados para produção de leite a
pasto. Realocação de áreas foi realizada para formação de novas pastagens e canavial, além de
infraestrutura e manejo de sistema de pastejo com lotação rotacionada em toda propriedade.
Recomendações para recria reduzida foi realizada visando uma estrutura mais econômica do
rebanho. Foi elaborado protocolo para formação de pastagens e lavoura de cana-de-açúcar, além
de planos de correção da acidez do solo e adubação de produção. As recomendações permitiram a
projeção de um rebanho com 56 animais (41 vacas e 15 novilhas).

Palavras-chave: adubação intensiva, controle de dados, especialização leiteira, produção de


forragem e sistema de pastejo.
vii
ABSTRACT

BARCELOS, Mateus de Paula. Intensification of Milk Production System based on pasture in


a Familiar Farm in Além Paraíba-MG. 2019. 92 p. Monography (Undergraduate in Animal
Science). Animal Science Institute, Animal Production Department, Federal Rural University of
Rio de Janeiro, Seropédica, Rio de Janeiro, 2019.

Due to several factors, Brazil has a great vocation for milk production to pasture, despite that, the
productivity per area and per animal observed in the field are less than potentially attainable, mainly
due to the solid knowledge and technologies on these production systems. The social and economic
importance of the milk production chain is widely recognized, generating work and income for a
large number of people in its entirety, from the field to the consumer. Based on this remarkable
relevance, the aim of this work was to conduct an evaluative study and generate technical
recommendations for intensification of milk production to pasture in a familiar property in Além
Paraíba-MG. The property has 12.6 hectares of total area divided into 0.5 hectare of headquarters,
0.8 legal reserve, 4.92 grazing well managed and medium productivity, 1.22 hectares of poorly
managed pasture, 3.09 hectares of degraded pasture, 1.08 hectares of wetland and with invasives,
0.56 hectares of excessively humid area and with hillside and 0.5 hectare with forage for
supplementation. The production system presented common features to those observed in most of
the Brazilian properties dedicated to dairy cattle. In the diagnosis, 22 animals were counted, of
which 12 were cows, five heifers, four calves and one heifer, characterizing a unstructured herd.
Cows have low specialization for milk production, with a mean of 8.8 liters / day. There is no data
control of the system, which makes it impossible to generate indicators for its evaluation. There is
a grazing system in 1 hectare with rotational stocking for seven lactating cows and in the rest of
the property the grazing is continuous for the other animals of the herd. The producer is adept at
ideas and technologies, besides presenting vocation to work in the activity, being the financial issue
the only limitation for project implementation. Existing installations and equipment do not limit
the current operation of the property and are not limited to the intensification of the production
system. Guidance was given on the control and management of data on the system, allowing
management of the indicators for decision making. It was recommended to change the genetic
group of the herd to crossbred Holstein-Friesian x Jersey animals, looking for specialized animals
for milk production to pasture. Reallocation of areas was carried out for the formation of new
pastures and sugarcane fields, as well as infrastructure and grazing system management with
rotational stocking in the entire property. Recommendations for reduced rearing were undertaken
aiming at a more economical herd structure. A protocol for the formation of pasture and sugarcane
cultivation was elaborated, as well as plans for the correction of soil acidity and fertilization of
production. The recommendations allowed the projection of a herd with 56 animals (41 cows and
15 heifers).

Key words: intensive fertilization, data control, milking especialization, forage production,
grazing system.

viii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Série histórica da produção total de leite no Brasil entre 1990 e 2017.................................3
Figura 2. Produção total de leite nas regiões brasileiras em 2017......................................................4
Figura 3. Produção total de leite nos principais estados produtores do país em 2017.........................4
Figura 4. Produção de leite inspecionado nas regiões brasileiras em 2017........................................5
Figura 5. Número de vacas ordenhas nas regiões brasileiras em 2017...............................................6
Figura 6. Número de vacas ordenhas nos principais estados produtores do país em 2017.................7
Figura 7. Produtividade das vacas nas regiões brasileiras em 2017...................................................8
Figura 8. Produtividade das vacas ordenhas nos principais estados produtores do país em 2017......9
Figura 9. Preço nominal pago por litro de leite aos produtores de Minas Gerais 2017.....................10
Figura 10. Balanço comercial de lácteos brasileira entre 2000 e 2018.............................................13
Figura 11. Análise de eficiência técnica (eixo y) e econômica (eixo x) nas fazendas leiteiras
avaliadas no estudo. Quadrante 1: alta eficiência técnica e econômica. Quadrante 2: alta eficiência
técnica e baixa eficiência econômica. Quadrante 3: baixa eficiência técnica e econômica. Quadrante
4: baixa eficiência técnica e alta eficiência econômica....................................................................27
Figura 12. Análise de probabilidade para o preço do leite pago ao produtor com base nos dados das
fazendas avaliadas. Existe 90% de chance de o valor no futuro estar entre R$ 0,82 e R$ 1,22…….28
Figura 13. Médias mensais de pluviosidade e temperatura minima e máxima do município de Além
Paraíba-MG………………………………………………………………………………………33
Figura 14. Mapa da propriedade estudada (Sítio Paraíso, 21º42’19.0”S e 42º45’15.6”W)..............35

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Eficiência do uso do concentrado nas fazendas leiteiras avaliadas...................................25


Tabela 2. Eficiência da mão-de-obra nas fazendas leiteiras avaliadas.............................................26
Tabela 3. Eficiência na produção de volumoso nas fazendas leiteiras avaliadas..............................26
Tabela 4. Influência da escala de produção na rentabilidade fazendas leiteiras avaliadas................27
Tabela 5. Análise de eficiência nas fazendas avaliadas...................................................................30
Tabela 6. Número de produtores rurais e produtores de leite no Brasil, Minas Gerais, Zona da Mata
Mineira e Além Paraíba-MG...........................................................................................................32
ix
Tabela 7. Divisão das áreas da propriedade estudada......................................................................34
Tabela 8. Recomendação de dados produtivos e reprodutivos a serem coletados no sistema de
produção.........................................................................................................................................47
Tabela 9. Recomendação de componentes do custo de produção a serem monitorados no sistema
de produção.....................................................................................................................................49
Tabela 10. Parâmetros estabelecidos para os cálculos do sistema de produção.............................. 53
Tabela 11. Estrutura do rebanho projetado......................................................................................54
Tabela 12. Direcionamento das áreas de pastagens.........................................................................56
Tabela 13. Direcionamento da área de canavial...............................................................................58
Tabela 14. Período de descanso (PD), período de permanência (PP), número de lotes (NL), período
de ocupação (PO), ciclo de pastejo (CP), área total em hectare (AT), área de piquete em hectare
(AT) e número de piquetes do sistema de pastejo para a recria........................................................59
Tabela 15. Alturas recomendadas para entrada e saída dos animais no piquete...............................60
Tabela 16. Período de descanso (PD), período de permanência (PP), número de lotes (NL), período
de ocupação (PO), ciclo de pastejo (CP), área total em hectare (AT), área de piquete em hectare
(AT) e número de piquetes do sistema de pastejo para o lote 2........................................................62
Tabela 17. Período de descanso (PD), período de permanência (PP), número de lotes (NL), período
de ocupação (PO), ciclo de pastejo (CP), área total em hectare (AT), área de piquete em hectare
(AT) e número de piquetes do sistema de pastejo para o lote 1........................................................63
Tabela 18. Balanço forrageiro para o sistema de pastejo para recria na estação chuvosa.................64
Tabela 19. Balanço forrageiro para o sistema de pastejo para recria na estação seca.......................65
Tabela 20. Balanço forrageiro para o sistema de pastejo para o lote 2 na estação chuvosa...............66
Tabela 21. Balanço forrageiro para o sistema de pastejo para o lote 2 na estação seca.....................66
Tabela 22. Balanço forrageiro para o sistema de pastejo para o lote 1 na estação chuvosa...............67
Tabela 23. Balanço forrageiro para o sistema de pastejo para o lote 1 na estação seca.....................67
Tabela 24. Plano de suplementação volumosa para os lotes 1 e 2 durante a estação seca.................68
Tabela 25. Cronograma de preparo das áreas para formação de pastagem e canavial......................69
Tabela 26. Recomendações de quantidades de sementes e mudas para formação de pastagem e
canavial...........................................................................................................................................70
Tabela 27. Recomendações de nutrientes para formação de pastagem e canavial...........................71
Tabela 28. Recomendações e doses de fertilizantes para formação de pastagem e canavial............72
x
Tabela 29. Recomendações de doses de corretivo e manejo da correção da acidez dos solos da
propriedade.....................................................................................................................................73
Tabela 30. Recomendações de nutrientes para adubação de produção das pastagens e do
canavial...........................................................................................................................................75
Tabela 31. Recomendações de doses de fertilizantes para adubação de produção das pastagens e do
canavial...........................................................................................................................................76
Tabela 32. Manejo da adubação de produção nos sistemas de pastejo.............................................77
Tabela 33. Manejo da adubação de produção no canavial...............................................................78

xi
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1
2. REVISÃO DE LITERATURA ...........................................................................................................2
2.1. PANORAMA DA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE NO BRASIL ................................................................2
2.1.1 Produção e Produtividade .............................................................................................................2
2.1.2 Preço pago ao Produtor de Leite...................................................................................................9
2.1.3 Mercado Interno e Balança Comercial de Lácteos do Brasil......................................................11
2.2. GESTÃO TÉCNICA E ECONÔMICA NA PECUÁRIA DE LEITE ...............................................................15
2.2.1 Indicadores Zootécnicos em Fazendas de Produção de Leite.....................................................16
2.2.1.1 Período de Lactação ............................................................................................................................................. 16
2.2.1.2 Produção Diária .................................................................................................................................................... 17
2.2.1.3 Produção Total de Leite na Lactação e Produção Total de leite em 305 dias de lactação .................................... 17
2.2.1.4 Persistência de Lactação ....................................................................................................................................... 17
2.2.1.5 Produtividade na Lactação ................................................................................................................................... 17
2.2.1.6 Relação de Vacas em Lactação/Total de Vacas do Rebanho ................................................................................ 17
2.2.1.7 Produtividade da Terra ......................................................................................................................................... 18
2.2.1.8 Produção de Leite por Dia de Intervalo entre Partos (PL/IP) ............................................................................... 18
2.2.2 Indicadores Reprodutivos em Fazendas de Produção de Leite...................................................18
2.2.2.1 Idade ao Primeiro Parto ........................................................................................................................................ 18
2.2.2.2 Intervalo entre Partos............................................................................................................................................ 18
2.2.2.3 Intervalo entre o Parto e primeiro Cio .................................................................................................................. 19
2.2.2.4 Período de Serviço................................................................................................................................................ 19
2.2.2.5 Intervalo de Coberturas ........................................................................................................................................ 19
2.2.3 Componentes do Custo de Produção de Leite ............................................................................19
2.2.3.1 Custo Total ou Custo Econômico ......................................................................................................................... 20
2.2.4 Indicadores Econômicos em Fazendas de Produção de Leite ....................................................21
2.2.4.1 Receita ou Renda Bruta ........................................................................................................................................ 21
2.2.4.2 Margem Bruta ...................................................................................................................................................... 22
2.2.4.3 Margem Líquida ou Lucro Líquido ...................................................................................................................... 22
2.2.4.4 Lucratividade ........................................................................................................................................................ 22
2.2.4.5 Rentabilidade........................................................................................................................................................ 23
2.2.5 Ferramentas de Gestão para Fazendas Leiteiras .........................................................................23
2.2.5.1 Análise de Pareto .................................................................................................................................................. 24
2.2.5.2 Análises de Correlação ......................................................................................................................................... 24
2.2.5.3 Análises de Regressão .......................................................................................................................................... 25
2.2.5.4 Análise de Eficiência ............................................................................................................................................ 27
2.2.5.5 Análise de Probabilidade ...................................................................................................................................... 28
2.2.5.6 Análise de Risco ................................................................................................................................................... 29
2.3 AGRICULTURA FAMILIAR ...................................................................................................................31
3. DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ........................................................................33
3.1 LOCALIZAÇÃO DA PROPRIEDADE .......................................................................................................33
3.2 CLIMA DA REGIÃO .............................................................................................................................33
3.3 LEVANTAMENTO DAS INFORMAÇÕES ................................................................................................34
3.4 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ................................................................................34
3.4.1 Área de Pastagem bem Manejada ...............................................................................................35
3.4.2 Área de Pastagem em Degradação .............................................................................................36
3.4.3 Áreas Úmidas .............................................................................................................................36
3.4.4 Áreas de Forrageira para Suplementação ...................................................................................36
3.4.5 Composição do Rebanho, Nutrição dos Animais e Produção de Leite ......................................37
3.4.6 Equipamentos e Instalações ........................................................................................................37
3.4.7 Análise da Fertilidade do Solo....................................................................................................38
4. AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ............................................................................39
4.1 PERFIL DO PROPRIETÁRIO ..................................................................................................................39
xii
4.2 BANCO DE DADOS DO SISTEMA DE PRODUÇÃO .................................................................................39
4.3 ÁREA EFETIVAMENTE EMPASTADA E ÁREA POTENCIALMENTE EMPASTADA ..................................39
4.4 ÁREAS DE PRODUÇÃO DE FORRAGEM PARA SUPLEMENTAÇÃO ........................................................42
4.5 REBANHO E PRODUÇÃO DE LEITE ......................................................................................................42
4.6 INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS........................................................................................................46
5. PLANEJAMENTO PARA O SISTEMA DE PRODUÇÃO ..........................................................47
5.1 CONTROLE DE DADOS DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ...........................................................................47
5.2 CONTROLE ECONÔMICO DA ATIVIDADE ............................................................................................48
5.3 PLANEJAMENTO PRODUTIVO E FORRAGEIRO PARA O SISTEMA DE PRODUÇÃO ................................50
5.3.1 Grupo Genético para o Sistema de Produção .............................................................................50
5.3.2 Parâmetros e Fórmulas para Cálculos ........................................................................................52
5.3.3 Estrutura do Rebanho .................................................................................................................53
5.3.4 Direcionamento das Áreas ..........................................................................................................55
5.3.4.1 Área de Recria ...................................................................................................................................................... 56
5.3.4.2 Área para Vacas do Lote 2 ................................................................................................................................... 57
5.3.4.3 Área para Vacas do Lote 1 ................................................................................................................................... 57
5.3.4.4 Área para Maternidade e Bezerras em Aleitamento ............................................................................................. 57
5.3.4.5 Área de Canavial .................................................................................................................................................. 58
5.3.5 Sistemas de Pastejo.....................................................................................................................59
5.3.5.1 Sistema de Pastejo para Recria ............................................................................................................................. 59
5.3.5.2 Sistema de Pastejo para o Lote 2 .......................................................................................................................... 61
5.3.5.3 Sistemas de Pastejo para o Lote 1......................................................................................................................... 62
5.3.6. Balanço Forrageiro nos Sistemas de Pastejo .............................................................................63
5.3.6.1 Balanço Forrageiro no Sistema para Recria.......................................................................................................... 63
5.3.6.2 Balanço Forrageiro no Sistema para o Lote 2 ....................................................................................................... 65
5.3.6.3 Balanço Forrageiro no Sistema para o Lote 1 ....................................................................................................... 66
5.3.7. Plano de Suplementação Volumosa ..........................................................................................68
5.3.8 Protocolo de Formação de Pastagem e Canavial ........................................................................68
5.3.9 Plano de Correção e Adubação do Solo .....................................................................................72
5.3.9.1 Recomendações para Correção da Acidez do Solo ............................................................................................... 72
5.3.9.2 Recomendações para Adubação de Produção....................................................................................................... 74
5.3.9.3 Manejo da Adubação de Produção ....................................................................................................................... 77

6. CONCLUSÃO....................................................................................................................................79
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................80
8. ANEXOS ............................................................................................................................................90

xiii
1. INTRODUÇÃO
No cenário mundial de produção de alimentos o Brasil defende posição de destaque, com
grande representatividade, tanto na produção agrícola como pecuária. Além de garantir alimento
para considerável parcela da população mundial, o país promove segurança alimentar para sua
nação, garantindo consumo de alimento de qualidade e preço acessível, principalmente para
camadas da sociedade com renda inferior.
No agronegócio, a relevância da cadeia produtiva do leite é ressaltada pela alta
empregabilidade em toda sua extensão, desde a produção primária até o consumidor final. Além
disso, ela está presente em quase todos os municípios do país, participando em considerável parcela
do PIB das cidades. Esse cenário explica a gama de recursos públicos e privados que são investidos
no setor com a finalidade de aprimorar cada elo da cadeia, que ainda carece de estruturação mais
eficaz em diversas vertentes. Inserida nesse sistema, existe uma agricultura familiar representativa
em número de produtores, porém, quando o critério de avaliação é a eficiência produtiva, este
grupo se apresenta como pouco profissionalizado e aquém do seu potencial, visto o sucesso da
produção familiar de leite no Sul do país.
As condições climáticas brasileiras favorecem a produção de leite a pasto e, com base nisso,
foi intensificada a pesquisa nesta linha de trabalho, o que permitiu gerar amplo conhecimento sobre
esses sistemas de produção. Partindo dessa ciência, foram geradas e aprimoradas tecnologias de
baixo custo que, quando aplicadas com critério, promovem melhorias nos índices produtivos das
propriedades leiteiras e, consequentemente, na renda do produtor. Entretanto, avaliando os
números do agronegócio brasileiro do leite é claramente observado a disparidade entre o recurso
intelectual existente e o desempenho produtivo nas fazendas, o que reforça a ideia de que as
tecnologias geradas nos centros de pesquisa não chegam ao campo, para mudar a realidade do
produtor. Esse panorama permite concluir que é carente a assistência técnica na maior parcela dos
sistemas de produção do Brasil, se configurando como um limitante para o desenvolvimento deste
elo da cadeia, a produção primária.
Com base nisso, o objetivo com este trabalho foi elaborar um projeto técnico para
intensificação da produção de leite a pasto em uma propriedade familiar no município de Além
Paraíba, na Zona da Mata Mineira.

1
2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Panorama da Cadeia Produtiva do Leite no Brasil


Entre as atividades agropecuárias desenvolvidas no Brasil, a pecuária de leite é uma das
mais visadas pelas políticas públicas governamentais (ALVIM et al., 2016). Segundo dados do
último Censo Agropecuário publicado no país em 2006 (IBGE, 2013), existiam 1,35 milhões de
estabelecimentos rurais no Brasil dedicados à produção de leite, representando 26% das
propriedades rurais do país naquela época. Desse total de estabelecimentos, 930 mil eram
comerciais e 420 produziam o alimento para consumo próprio. Sob o ponto de vista social, é uma
das principais atividades desenvolvidas por pequenos e médios produtores, sendo informado, pelo
Censo, que 58% do leite brasileiro da época advinha da agricultura familiar (Lei nº 11.326/2006).
No aspecto econômico, sabemos que a atividade está presente em 552 das 558 microrregiões
brasileiras (IBGE, 2013), emprega aproximadamente cinco milhões de pessoas somente no
segmento primário (ZOCCAL & STOCK, 2011) e apresentou R$ 31,9 bilhões de valor bruto da
produção em 2018, ficando em sexto lugar entre os principais produtos do agronegócio brasileiro
(BRASIL, 2019). A Figura 1 mostra a evolução da produção total de leite no país ao longo dos
anos, evidenciando a crescente presença desse produto no mercado nacional. Essa importância
singular é reforçada por dados (IBGE, 2019) que mostram que a pecuária de leite esteve presente,
em 2016, em 5.569 municípios brasileiros, se ausentando somente em 63 cidades (1,1%).

2.1.1 Produção e Produtividade


Dados do IBGE (2014) avaliando a produção total de leite entre 2002 e 2014 mostram que
o volume produzido aumentou 62,5% enquanto que o número de vacas ordenhadas aumentou
22,7%, indicando aumento de eficiência produtiva dentro das fazendas leiteiras no país. Em
cenários mais amplos, observamos que o volume produzido quase quintuplicou nas últimas quatro
décadas, passando de 7,1 bilhões de litros em 1974 para 35,1 bilhões em 2014 (MARTINS et al.
2018). A partir de 2015 a produção total apresentou queda por três anos consecutivos (-1,4, -2,7 e
-0,5%), fato inédito corrido na série histórica mostrada na Figura 1, chegando ao volume de 33,4
bilhões de litros em 2017 (MILKPOINT, 2019), condição que permitiu o Brasil ocupar o quarto
lugar do ranking mundial de produção de leite naquele ano. Especialistas propõem que em 2018 os
valores de produção total apresentarão estagnação ou crescimento incipiente, no entanto, as
2
projeções para 2019 serão de retomada de crescimento, alavancadas por melhor cenário econômico
e por safra recorde de grãos (EMBRAPA, 2019).

40,00

35,00

30,00

25,00

20,00

15,00

10,00

5,00

0,00
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Figura 1. Série histórica da produção total de leite no Brasil entre 1990 e 2017 (bilhões de litro).
Fonte: adaptado de MilkPoint (2019).

A produção total de leite por região é apresentada na Figura 2. Avaliando o cenário,


observamos que a região Sul é a maior produtora em volume, seguida das regiões Sudeste, Centro-
Oeste, Nordeste e Norte, respectivamente. A produção total dos principais estados produtores de
leite do país é apresentada na Figura 3, cujo volume representa 76% da produção nacional. Nessa
estratificação, observamos que Minas Gerais é o maior estado produtor de leite, com 26% do total
produzido nos últimos três anos (2015-2017), seguido por Rio Grande do Sul e Paraná, ambos com
13% do total produzido. Apesar da liderança mineira na produção total, nos últimos três anos os
valores foram de queda na produção (-2,3, -1,9 e 0,6). Avaliando o último triênio dos estados da
região Sul, verifica-se crescimento para os estados do Paraná e Santa Catarina em 2015 (2,6 e 2,3%,
respectivamente) e Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina em 2016 (0,4, 1,5 e 2,0%,
respectivamente). Já em 2017, a queda ocorreu para os três estados, com maior intensidade para
Paraná e Santa Catarina (-6,1 e -4,3%, respectivamente). Esse cenário de queda contínua na
produção de Minas Gerais e crescimento nos estados da região Sul em 2015 e 2016, somado a
queda nos últimos três anos no estado de São Paulo (-0,5, -3,4 e 0,7%), segundo maior produtor da
região Sudeste, culminaram no firmamento da região Sul como maior produtora do país, que
assumiu a ponta no ranking em 2014 (MILKPOINT, 2015).

3
14,00
-3,9%
12,00 -1,0%

10,00
8,00

11,96

11,44
6,00
0,4% 2,7%
4,00
16,6%

3,98

3,89
2,00

2,18
0,00
Sul Sudeste Centro-Oeste Nordeste Norte

Figura 2. Produção total de leite nas regiões brasileiras em 2017 (bilhões de litro).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).

Outra região de destaque quanto ao volume total de leite produzido é a região Norte, que
apresentou crescimento expressivo de 16% no último ano, com os estados de Rondônia e Roraima
crescendo 30 e 27%, respectivamente. Além destes, o estado de Alagoas destacou-se com 21% de
crescimento em 2017.

10,00
-0,6%

8,00

6,00
8,91

-1,3% -6,1%
4,00
1,9% -4,3%
4,43
4,55

2,00 -0,7%
2,97
2,98

1,69

0,00
MG RS PR GO SC SP

Figura 3. Produção total de leite dos principais estados produtores do país em 2017 (bilhões de
litro).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).

Para produção de leite sob inspeção, o cenário de queda foi semelhante em 2015 e 2016,
porém em 2017 o setor retomou o crescimento em 5,0% (CARVALHO et al., 2019), batendo o
valor de 24,2 bilhões de litros, 72% do volume total produzido. Na Figura 4 é apresentado a
produção de leite sob inspeção por região brasileira no último ano. Nos anos de 2015, 2016 e 2017
houve alto percentual de leite que não foi inspecionado na produção de leite do país com valores
4
de 31, 32 e 28%, respectivamente, números próximos aos observados em anos anteriores por
especialistas do setor (ZOCCAL, 2012). Avaliando os dados referentes, houve queda em todas as
regiões nos anos de 2015 e 2016, exceto para o Centro-Oeste em 2016. Já em 2017 retomamos o
crescimento nas cinco regiões brasileiras. Destaca-se nesse cenário a região Sudeste como líder,
com 84% de sua produção recebendo selo de inspeção, seguida da região Sul que teve 76% do seu
leite inspecionado.

12,00

10,00 2,4%
8,0%

8,00
9,69

6,00
9,10

4,00 5,9% 2,7%


4,0%

1,12
1,24
3,11

2,00

0,00
Sudeste Sul Norte Nordeste Centro-Oeste

Figura 4. Produção de leite inspecionado das principais regiões produtoras do país em 2017
(bilhões de litro).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).

Avaliando o número de vacas ordenhadas na Figura 5, observamos que houve queda em


todas as regiões, exceto na região Norte (+4,6%). No balanço do Brasil houve redução de -6,8 e -
13,3% nos anos de 2016 e 2017, com destaque para as regiões Sudeste (-23,7%) e Sul (-13,1%) em
2017, ano em que o país fechou com 17.060.117 vacas ordenhadas. Esses valores remetem à duas
questões, uma relacionada ao número de produtores em atividade e à eficiência produtiva nas
fazendas leiteiras que continuaram em operação. Em relação à primeira, dados preliminares do
IBGE, referentes ao Censo Agropecuário de 2017, mostram que houve redução de 1,35 milhões de
propriedades leiteiras para 1,17 milhões de estabelecimentos, o que equivale à 180 mil produtores
a menos na atividade (13%) (MILKPOINT, 2018). Esse valor reflete que 45 produtores de leite
saíram diariamente da atividade no período de 2006 e 2017. Comparando esse cenário com o
ocorrido entre os censos de 1996 e 2006, quando a redução foi de 25% (250 mil produtores), o
resultado é menos impactante, no entanto, ainda digno de atenção quanto a medidas cabíveis para
5
manutenção dos produtores na pecuária leiteira do país. Avaliando as regiões, temos que no Sudeste
se concentra 30% do rebanho nacional de vacas (5.183.215 cabeças), enquanto na região Sul o
valor corresponde à 21% (3.644.297 cabeças).

6,0
-23,8%
5,0

4,0 -13,1%
-6,1%
5,2

3,0 -10,6%

4,6%
3,6

2,0

3,3

2,7

2,2
1,0

0,0
Sudeste Sul Nordeste Centro-Oeste Norte

Figura 5. Número de vacas ordenhadas nas regiões brasileiras em 2017 (milhões de cabeças).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).

Em relação à produção das vacas, aumento da eficiência foi observado, uma vez que houve
redução no número de vacas ordenhadas e no número de fazendas leiteiras em atividade, no entanto,
no mesmo cenário, houve crescimento proporcional na produção total. Com a redução nas
propriedades dedicadas à produção do leite, a produção média diária por produtor passou de 42 kg
para 70 kg (IBGE, 2017). Quanto ao número de vacas ordenhadas, observamos redução em todos
os principais estados nos anos de 2016 e 2017, com destaque para Minas Gerais (-31,6%) e Santa
Catarina (-25,5%) no último ano. Em crescimento de rebanho, destaca-se o estado de Rondônia,
que apresentou em 2017 o maior aumento do país (15,5), o que certamente contribuiu para que a
região Norte fosse a única em crescimento no número de vacas ordenhadas naquele ano (4,6%).

6
4,0

3,5 -31,6%

3,0

2,5

2,0 -11,2%
3,4

-10,5%
1,5 -6,3%
-2,9%
1,0 1,9 -25,5%

1,4

1,3

1,1
0,5

0,8
0,0
MG GO PR RS SP SC

Figura 6. Número de vacas ordenhadas nos principais estados produtores do país em 2017
(milhões de cabeças).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).

Na Figura 7 é apresentada a maior eficiência produtiva das vacas leiteiras, de acordo com
cada região, e na Figura 8, para os principais estados produtores do país. Na avaliação regional, foi
observado crescimento em todas regiões em 2017, com destaque para o Sudeste (+30%), cenário
que se repetiu em 2016, exceto para região Centro-Oeste (-2,3%). Em valores absolutos, a região
Sul lidera em produtividade (3.285 kg/vaca/ano), seguida pelo Sudeste (2.209 kg/vaca/ano),
deixando, juntamente com as outras regiões, o Brasil com média de 1.963 litros/vaca/ano e
crescimento em 2017 de 14,7%.

7
3.500 10,6%

3.000

2.500
29,9%

3.285
2.000
12,3%
1.500
9,3%

2.209
11,4%
1.000

1.453

1.178

1.003
500

0
Sul Sudeste Centro-Oeste Nordeste Norte

Figura 7. Produtividade das vacas ordenhadas nas regiões brasileiras em 2017 (litros/vaca/ano).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).

Quando avaliamos os melhores estados para produtividade por vaca, Santa Catarina (3.580
litros/vaca/ano) e Rio Grande do Sul (3.326 kg/vaca/ano) assumem a ponta em valores absolutos,
porém, em crescimento o destaque fica para os estados de Minas Gerais (45,3%) e Santa Catarina
(28,4%). Em relação à produtividade estadual, também podemos destacar o estado de Roraima,
que, apesar da baixa produtividade absoluta, cresceu 187% em 2017, passando a produção anual
de suas vacas de 347 (2016) para 995 kg (2017). Esse cenário, certamente, foi promovido pela forte
redução do rebanho que ocorreu no estado em 2017 (-55,7%), o que evidencia um descarte seletivo
de vacas improdutivas, caminho que deve ser percorrido em qualquer fazenda leiteira que busca
melhorar sua eficiência técnica e econômica.

8
4.000
28,4%
3.500 5,4%
4,9%
3.000
45,3%
2.500
3.580

2.000

3.326
2,2%

3.075
14,9%
1.500

2.619
1.000

1.506
1.531
500

0
SC RS PR MG SP GO

Figura 8. Produtividade das vacas ordenhadas nos principais estados produtores do país em 2017
(litros/vaca/ano).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2019).

A partir de todos os dados analisados anteriormente e comparando-os com dados dos


principais países produtores de leite do mundo, conclui-se que o Brasil apresenta tendência
semelhante ao cenário mundial quanto ao crescimento em produção e produtividade e redução no
número de fazendas leiteiras, porém, o país apresenta redução também no número de vacas por
sistema de produção, contrário ao observado no mundo.

2.1.2 Preço pago ao Produtor de Leite


Segundo Martins et al. (2018), o preço médio pago ao produtor, entre 2010 e 2014, foi de
R$ 1,34/litro e em 2015 a queda foi quase 15% em relação ao ano anterior, atingindo R$ 1,14/litro.
Somado ao fator preço, houve aumento nos custos de produção de 9,8 e 15,3% em 2015 e 2016,
respectivamente. Esse aumento foi reflexo da quebra da safra 2015/2016 de grãos no país, levando
a uma valorização do preço do milho (64,3%) e do farelo de soja (14,3%) (CEPEA, 2017),
principais alimentos concentrados usados na nutrição de vacas leiteiras. Esse cenário confirma a
importância do acompanhamento das safras de grãos no país para o planejamento de produção das
propriedades dedicadas à produção de leite. O efeito reverso foi observado nos anos subsequentes,
com a safra recorde 2016/2017 e índice ICPLeite/Embrapa caindo 11,4%, reflexo, principalmente,
das quedas na cotação do milho (-31%) e do farelo de soja (-18%). Nesse cenário, em 2016 o preço

9
médio pago ao produtor foi de R$ 1,34/litro (CARVALHO et al., 2018) e já em 2017 os valores se
mantiveram elevados no primeiro semestre, porém, no segundo houve queda expressiva, em
função, principalmente, do maior volume de leite no mercado, que não foi acompanhado por maior
consumo da população, fechando o ano com média de R$ 1,27/litro. Assim, em 2017 os preços
praticados no primeiro semestre foram acima daqueles praticados no mesmo período de 2016 e no
segundo semestre o cenário se inverteu, com preços abaixo daqueles praticados no ano anterior.
Em 2018 o preço médio pago ao produtor no Brasil foi de R$ 1,38/litro, valorização de
9,0% em relação ao ano anterior. Em Minas Gerais a média para o período foi de R$ 1,42/litro,
sendo mostrado na Figura 9 a variação mensal do preço ao longo do ano neste estado. Em relação
ao valor do leite, observamos que no estado mineiro o preço foi valorizado 2,4% em relação à
média do país, além disso, também é perceptível as fortes pressões sofridas pelos estados da região
Sul, que operam a preço inferiores à média brasileira, buscando, de alguma forma, compensar a
facilidade com que as indústrias locais têm para importar leite de vizinhos tradicionais, como
Uruguai e Argentina. Esse cenário pressiona os produtores sulinos a serem eficientes e
competitivos via produção de leite com menor custo, condição que eles têm conseguido com êxito
(MARTINS et al., 2018).
4,59%
14,07% -6,21%
-2,91%
1,72
7,14%
2,34% 1,65 1,62 -6,09%

7,87%
1,57 -8,59%
6,29% 1,45 1,48
3,47% 1,41
-2,58% 1,32 1,35
1,22
1,11 1,15

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Figura 9. Preço nominal pago por litro de leite aos produtores de Minas Gerais em 2017
(R$/litro).
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2018).

A clássica sazonalidade no preço pago ao produtor (Figura 9), com valorização até o mês
de agosto, auge do período de estiagem, momento que a oferta e qualidade da forragem produzida
pelas pastagens é reduzida, reduzindo a produção de leite nas fazendas e consequentemente
10
diminuindo a oferta do produto no mercado. Já a partir de setembro, com o retorno das chuvas no
estado, há aumento da oferta de leite e com isso as indústrias de laticínios tendem a reduzir os
preços pagos aos produtores.

2.1.3 Mercado Interno e Balança Comercial de Lácteos do Brasil


Avaliando os pontos potenciais e limitantes para expansão do mercado interno de lácteos
no Brasil, observamos uma forte correlação com o aumento da renda ou redução dos preços
(ALVES et al., 2016). O parâmetro que mede o aumento da demanda em função do aumento da
renda é denominado “elasticidade-renda da demanda”. Para leite in natura o valor é baixo, ou seja,
para um aumento na renda o consequente aumento na demanda é reduzido quando comparado à
iogurtes e queijos, que são mais procurados pela população em um eventual aumento do poder
aquisitivo (CARVALHO et al., 2011). Esses autores observaram, também, que quando há
estratificação por renda as classes com menor poder de compra apresentam maiores valores de
elasticidade-renda da demanda, evidenciando que o leite é um alimento priorizado pelas classes
mais pobres do país. No Brasil, em torno de 60% do leite é consumido de forma in natura e 40%
via queijos e derivados, o que sugere que a elasticidade-média da demanda esteja entre 0,50-1,00.
(HOFFMAN, 2010). Tomando como base o valor médio de 0,75, a interpretação seria que em um
aumento de 10% da renda, a demanda por lácteos (a preços fixos) aumentaria em 7,5%. Como os
preços, normalmente, não são fixos, há uma redução nesse crescimento da demanda devido ao
aumento do preço dos produtos, que é explicado pela “elasticidade-preço da demanda” (ALVES et
al., 2016).
Como citado anteriormente, outro fator que interfere no consumo interno é o preço do
produto. Nesse caso, num cenário de aumento de produção cujo a renda seja constante, essa maior
oferta de leite no mercado só seria consumida pela população se os preços diminuíssem, fato que
normalmente ocorre quando há excesso de oferta. Neste cenário, os produtores poderiam ser
penalizados, pois a queda proporcional nos preços pode ser maior que o aumento na produção.
Segundo o Food and Agricultura Policy Research Institute (2016), a elasticidade-preço da
demanda no Brasil é de -0,20, o que significa que para a população absorver 1% de leite produzido
a mais pelas fazendas é necessário que os preços caiam 5%. (aumento de produção/elasticidade-
preço da demanda). Essa condição mostra a necessidade de estratégias para tornar o país um grande
produtor e exportador de leite, uma vez que o potencial aumento de produtividade atingível nas
11
fazendas leiteiras iria diminuir o preço pago ao produtor e, consequentemente, levar ao
enfraquecimento desse elo da cadeia produtiva do leite (CARVALHO et al., 2011). Sendo assim,
para que os preços não despenquem no mercado interno, a solução seria que o aumento de produção
primária deveria estar atrelado a uma inserção crescente, progressiva e constante no mercado
internacional (ALVES et al., 2016).
Os dados de consumo per capita de lácteos no Brasil mostram que entre 2008 e 2017 houve
aumento de 33% nesse indicador (MARTINS et al., 2018), fechando, no último ano de análise, o
valor de 173 litros/habitante. Esse volume é abaixo daquele encontrado em países desenvolvidos
(250 a 300 litros/habitante/ano) e do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (220
litros/habitante/ano), segundo Vilela et al. (2017). Entre os produtos que passaram a ser mais
consumidos destacam-se os queijos (56%), leite em pó (45%) e leite UHT (32%). Em Minas Gerais
o consumo anual per capita de lácteos é de 170 litros (MARTINS et al., 2018), já para o consumo
de leite esses autores apresentam valores de 60 litros/habitante/ano tanto para o Brasil quanto para
o estado mineiro.
Em relação ao mercado internacional o país tem participação marginal, com as importações
superando ligeiramente as exportações. No balanço entre 2000 a 2014 o país foi importador líquido
de 4,6 bilhões de litros de leite, principalmente da Argentina e Uruguai, na forma de leite em pó
(ALVES, et al., 2016). Esse cenário mostra que há espaço para ampliação da produção interna,
substituindo a importação, desde que sejamos competitivos na atividade. Nos anos de 2015 e 2016
observamos aumento considerável na importação de leite no país, mas já no ano de 2017, com a
expressiva valorização do leite no mercado internacional, houve queda de 32,5% no volume
importado, fechando o ano com importação de 1,27 bilhão de litros (MARTINS et al., 2018).
Analisando a Figura 10, que mostra a balança comercial brasileira de lácteos nos últimos anos,
observamos que somente entre os anos de 2004 e 2008 o país foi exportador líquido, sendo
deficitário nos demais anos, entre 2000 e 2018. Em 2018 o Brasil importou 1,19 bilhão de litros de
leite, recuo de 6,2% em relação à 2017 (CEPEA, 2019), sendo Argentina (59,6%) e Uruguai
(30,5%) os principais fornecedores de lácteos do país, tendo o leite em pó como principal produto
comercializado. Neste ano de 2018 a tonelada de produto importado custou, em média, US$
2.808,00. Considerando um câmbio médio anual de R$ 3,65 por dólar, a tonelada do produto no
mercado interno custou US$ 4.903,69, 31,4% acima do valor do produto importado (PILA, 2019).
Isso mostra a importância do país se tornar mais competitivo frente ao mercado internacional de
12
lácteos para reverter sua balança comercial, tornando-se um exportador. Para reforçar os desafios
desse cenário, dados do Dairy Research Center (IFCN), citados por Martins et al. (2018), sobre
pesquisa avaliando os preços internacionais pagos aos produtores de leite no período de 2010 a
2015, mostram que os preços brasileiros ficaram 4,9% acima da média mundial. Nova Zelândia,
que trabalha com sistemas de produção baseados em pastagens, apresentou valor de 9,7% abaixo
da média. Os vizinhos que exportam leite para o Brasil, Argentina e Uruguai, tiveram,
respectivamente, valores de 9,8 e 8,0% inferiores à média do mundo, reforçando a hipótese de
dificuldade brasileira em competir com esses países em cenários de menor oferta de leite no
mercado interno. A pesquisa ainda mostrou de forma comparativa que o Brasil, em relação aos
vizinhos sul-americanos, apresentou valores de 13 a quase 15% acima do preço praticado nesses
dois países, evidenciando, mais uma vez, a necessidade de mudanças estruturais em nossa cadeia
produtiva do leite.
1,00 0,70
0,39
0,50 0,21 0,13 0,04
0,00

-0,50 -0,23
-0,34
-0,64 -0,55 -0,60
-1,00

-1,50 -1,22 -1,17 -1,13 -1,12


-1,25
-1,38
-2,00 -1,75
-1,90
-2,50

-3,00
-2,98
-3,50
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Figura 10. Balança comercial de lácteos brasileira entre 2000 e 2018 (bilhões de litros).
Fonte: adaptado de Martins et al. (2018) e CEPEA (2019).

Analisando ainda o mercado internacional de lácteos, sob o ponto de vista de exportações


brasileiras, é evidente que o leite é um produto que não teve inserção adequada neste mercado,
diferentemente de outros produtos do agronegócio do país, ficando, seu consumo, limitado aos
brasileiros, o que gera fortes quedas no preço em cenários em que há aumento acentuado na oferta
de leite no mercado interno (ALVES et al., 2016). Essa condição de preço instável, de alguma
maneira, poder barrar a disseminação de tecnologia nas fazendas leiteiras no país. Pensando em
exportação, um fator importante a se considerar nas estratégias de inserção do Brasil no mercado
internacional de lácteos é a elasticidade-renda da demanda de potenciais países importadores,

13
principalmente àqueles de população numerosa, vizinhos latino-americanos e com altos valores
para esse parâmetro. Apresentando alguma dessas características, podemos destacar a elasticidade-
renda da demanda de China (0,30), Índia (0,48), Egito (0,80), Peru (0,54) e Vietnam (0,98) (FOOD
AND AGRICULTURAL POLICY RESEARCH INSTITUTE, 2016), que são exemplos de países que
podem receber esforços de negociação. No entanto, segundo especialista do Centro Nacional de
Pesquisa de Gado de Leite do país (VILELA, 2016) “deveres de casa” devem ser cumpridos em
toda a cadeia produtiva para que o Brasil se insira e se mantenha no mercado internacional de
lácteos, de maneira competitiva. Dentre as lacunas que devem ser preenchidas, podem ser citadas
a produtividade por vaca e por hectare das fazendas leiteiras, melhoria da qualidade do leite (CCS,
CBT e teores de gordura, proteína e sólidos totais), disponibilidade de tecnologias simples e
extensão rural, logística adequada, remuneração por qualidade do leite e política governamental de
apoio às exportações (ALVES et al., 2016). Considerando o potencial de expansão das exportações
brasileiras e as arestas a serem aparadas para atingir essa meta, são discutidos a seguir os dados de
exportações recentes do país. A partir do ano de 2015 as exportações brasileiras de lácteos vieram
em desaceleração, registrando queda expressivas como em 2016, com 28,3% a menos de volume
exportado (MARTINS et al., 2018). Já em 2017 a queda foi de 75,2%, quando o país exportou
136,5 milhões de litros e em 2018 o volume exportado foi de 66,8 milhões de litros, 51% a menos
do registrado no ano anterior (CEPEA, 2019), tendo como principais países destino no último ano
Chile, Argentina e Paraguai e o leite em pó como principal produto exportado.
Em relação à empregabilidade da cadeia, os pesquisadores Martins e Guilhoto (2001)
analisaram dados econômicos e concluíram que a cada R$ 1.000.000,00 de demanda gerada, a
cadeia gera 197 postos de trabalho. Em comparação à outras atividades, o leite foi a que mais gerou
empregos, quando comparado à calçados (191), peças e veículos (129), construção civil (128),
máquinas e equipamentos (122), indústria têxtil (122), material elétrico (122) e siderurgia (116).
Considerando as 1,35 milhões de propriedades leiteiras no país estimados pelo último censo
agropecuário (IBGE, 2006) e assumindo dois trabalhadores por propriedade atuando
continuamente, o setor primário do segmento gerou 2,7 milhões de postos de trabalho permanente
(MARTINS et al., 2016). O cenário citado por este autor desconsidera a geração de empregos
oriunda do processamento em laticínios, produção e comercialização de produtos veterinários,
agronômicos e zootécnicos e a prestação de serviços (assistência técnica, logística, comercialização
do leite e etc), o que certamente aumentaria o número de empregos indiretos gerados pela cadeia.
14
Nos municípios menos dinâmicos e com alternativas econômicas restritas, o Produto Interno Bruto
(PIB) tem no leite uma importante atividade para geração de créditos fiscais (MARTINS et al.,
2016). Segundo especialista da Embrapa Gado de Leite (ZOCCAL, 2017) em 2017 a cadeia do
leite gerou 117 mil empregos formais, com destaque para Minas Gerais, Mato Grosso e
Pernambuco.

2.2. Gestão Técnica e Econômica na Pecuária de Leite


Na produção de leite, como em qualquer outra atividade, existem diversos fatores de
produção que devem ser criteriosamente conduzidos para obtenção dos resultados, tais como
imovel, pessoas, insumos, tempo, equipamentos, energia elétrica, animais e outros capitais. Dentro
desses sistemas a orientação técnica e gerencial dos produtores para à tomada de decisões é
fundamental e indispensável para sua manutenção e crescimento na atividade (COSTA; BUENO,
2012), independentemente do nível tecnológico da propriedade. Essa interação entre assistência
técnica e produtor permite que novas tecnologias sejam incorporadas via um planejamento
sistêmico, que considere os benefícios e os desafios que virão juntamente com a técnica (SILVA
et al., 2018). Sendo assim, o diagnóstico para caracterização de um sistema de produção é
importante para promoção de melhorias na atividade leiteira (MOURA et al., 2013), permitindo
que as informações geradas sejam base para um planejamento estratégico eficiente e que as
recomendações técnicas subsequentes tragam resultados produtivos para a fazenda.
O grau de eficiência de uma fazenda leiteira está ligado aos seus indicadores zootécnicos e
econômicos, que consideram fatores como manejo operacional, alimentação, instalações, sanidade,
mão-de-obra, rebanho, logística e dentre outros (SILVA et al., 2018). Esses indicadores devem ser
coletados e analisados criteriosamente, permitindo a avaliação quanto ao desempenho da atividade,
elaboração do planejamento, estabelecimento de metas, identificação de desafios e oportunidades
e acompanhamento dos resultados (FERRAZA et al., 2015). O satisfatório desempenho econômico
na pecuária de leite depende invariavelmente do desempenho técnico da propriedade, sendo a
interação desses dois fatores intrínseca à atividade e sua gestão conjunta indispensável para que os
resultados apareçam (NASCIF, 2008). Para que essa gestão seja realizada adequadamente é
fundamental o conhecimento da integração de fatores biológicos e financeiros-matemáticos dentro
de uma fazenda, de maneira que as metas estabelecidas e recomendações realizadas sejam
coerentes, permitindo uma intervenção tecnológica que traga resultados factíveis ao produtor.
15
Assim sendo, além da correlação dos indicadores econômicos com os zootécnicos, é
importante considerar na gestão de fazendas leiteiras questões macroeconômicas, como preço do
leite pago ao produtor, produção total de leite no estado e macrorregião, formas de remuneração
das indústrias, importações, políticas de financiamento e dentre outros (SILVA et al., 2018). Todas
essas informações permitem o gestor da fazenda estabelecer prioridades e atacar gargalos de acordo
com critérios estabelecidos, que eventualmente são os que trazem resultados econômicos
imediatos, evitando o comprometimento do capital investido (GUIMARÃES FILHO, 2011).
Somado a isso, com posse desses dados é possível avaliar a viabilidade econômica da atividade e
ainda compará-la com outros sistemas de produção ou comparar tecnologias implantadas em
diferentes fazendas.
Portanto, em avaliações econômicas e projetos agropecuários é indispensável atrelar os
indicadores econômicos aos zootécnicos, pois uma ineficiência técnica pode tornar a atividade em
um negócio inviável, como por exemplo, maior intervalo entre partos, baixa produção de leite por
hectare, alta taxa de vacas secas no rebanho e baixa persistência de lactação das vacas (ASSIS,
2013). Considerando essa importância, a seguir serão apresentados indicadores zootécnicos,
reprodutivos e econômicos importantes na bovinocultura de leite e os componentes dos custos de
produção de leite.

2.2.1 Indicadores Zootécnicos em Fazendas de Produção de Leite


O controle zootécnico em fazendas é uma técnica de gerenciamento básica realizada com a
finalidade de levantar informações (produtivas e reprodutivas) do rebanho para avaliá-lo e propor
medidas de manejo que aumentem a produtividade na atividade. Os dados obtidos são organizados
e utilizados em cálculos para se obter indicadores zootécnicos, que serão a base para análise técnica
do sistema de produção em relação aos animais (ASSIS, 2013). Dentre as vantagens de se obter
esses indicadores, podemos citar o conhecimento individual dos animais quanto a produção e
reprodução que permite a categorização do rebanho; corrigir problemas no rebanho; otimizar o
manejo; aumentar a eficiência da nutrição dos animais; determinar épocas para manejo sanitário e
reprodutivo dos animais; identificar animais sensíveis à enfermidades (LEITE et al., 2006).

2.2.1.1 Período de Lactação

16
Período de lactação é definido como a duração média da lactação entre o parto e a secagem
da vaca (MASSIÈRE, 2009), sendo expresso em dias. Bovinos especializados apresentam período
de lactação de 305 dias, período ideal para se obter intervalo entre partos de 12 meses (LEITE et
al., 2001). Animais mestiços têm tendência a apresentarem lactações mais curtas, quão maior for a
proporção de genes de animais zebu na composição genética do indivíduo.

2.2.1.2 Produção Diária


A produção diária é a produção em 24 horas da vaca, podendo também ser obtida dividindo
sua produção total na lactação pelo período de lactação. É expressa em litros/vaca/dia para animais
individualmente e litros/dia para o rebanho (MASSIÈRE, 2009).

2.2.1.3 Produção Total de Leite na Lactação e Produção Total de leite em 305 dias de lactação
A produção total de leite na lactação indica o volume produzido ao longo de uma lactação
completa, sendo somatório da produção diária da vaca. A produção em 305 dias de lactação é um
valor padronizado, que permite comparar animais independente do período de sua lactação
(MASSIÈRE, 2009). Ambos são expressos em litros/lactação.

2.2.1.4 Persistência de Lactação


A persistência de lactação indica a capacidade da vaca de manter a produção após o pico
de lactação (MASSIÈRE, 2009), sendo expressa em valor percentual. Animais mestiços tendem a
apresentar menor persistência de lactação quando comparados à animais puros da raça holandesa.

2.2.1.5 Produtividade na Lactação


A produtividade da vaca em lactação está relacionada com sua persistência de lactação e
sua eficiência de conversão alimentar (MASSIÈRE, 2009), sendo expressa em produção de
leite/quilo de matéria seca ingerida.

2.2.1.6 Relação de Vacas em Lactação/Total de Vacas do Rebanho


Esse parâmetro, expresso em percentual, mostra o número de vacas em lactação em relação
ao total de vacas do rebanho. É possível aumentar esse valor reduzindo o intervalo entre partos das
vacas. A caracterização racial do rebanho influencia nesse indicador, pois vacas com maior grau
17
de genes zebu tendem a apresentar menor duração da lactação (MASSIÉRE, 2009), permanecendo
secas por maior período.

2.2.1.7 Produtividade da Terra


É a relação entre a produção anual de leite e a área destinada à pecuária, expressa em litros
por hectare ano (litros/hectare/ano).

2.2.1.8 Produção de Leite por Dia de Intervalo entre Partos (PL/IP)


Esse parâmetro permite conhecer a contribuição das vacas do rebanho na formação da renda
bruta da fazenda oriunda da venda do leite, permitindo calcular a produção de leite por dia de vida
útil do animal (MASSIÈRE, 2009) ou seja, calcular a produção de leite considerando a eficiência
reprodutiva das vacas. É expresso em litros/dia.

2.2.2 Indicadores Reprodutivos em Fazendas de Produção de Leite


A eficiência reprodutiva do rebanho é um indicador técnico diretamente relacionada ao
desempenho econômico de uma fazenda leiteira (ASSIS, 2013). Segundo Massière (2009), o ganho
potencial resultante da melhoria da eficiência reprodutiva do rebanho é cinco vezes maior que os
ganhos com aumento da qualidade do leite e três vezes maior que o obtido com o melhoramento
genético, sendo inferior somente com o incremento obtido via melhoria da nutrição.

2.2.2.1 Idade ao Primeiro Parto


A precocidade sexual das fêmeas bovinas é avaliada pela idade ao primeiro (meses), sendo
um dos principais indicadores da eficiência reprodutiva do rebanho. Quão antes ocorrer o primeiro
parto da vaca, maior será seu número de lactações na fazenda e sua vida útil produtiva, sendo a
situação contrária, um cenário antieconômico por aumentar o número de animais em recria e
consequentemente o número de animais improdutivos na fazenda (MASSIÈRE, 2009).

2.2.2.2 Intervalo entre Partos


O intervalo entre partos é o período, em dias ou meses, entre um parto e outro e está
relacionado diretamente com o desempenho do rebanho, influenciando na produção de leite,
número de vacas em lactação e receita da fazenda (MASSIÈRE, 2009). Para reduzir o intervalo
18
entre partos deve reduzir o período entre o parto e a nova concepção. Para atingir esse objetivo, a
alimentação, sanidade e padrão racial dos animais devem ser avaliados, pois interferem diretamente
nesses parâmetros. Considerando que as vacas estão aptas à conceberem 80 dias após o parto e que
a gestação das fêmeas bovinas dura 285 dias em média, o intervalo entre partos ideal é de 365 dias
(MASSIÈRE, 2009).

2.2.2.3 Intervalo entre o Parto e primeiro Cio


O primeiro cio pós-parto marca o retorno da vaca ao ciclo estral e essa condição é regida
por vários fatores, sendo um deles a condição corporal ao parto, fator importante para o reinício da
atividade ovariana (MASSIÈRE, 2009). Especialistas da área consideram ideal a primeira
cobertura entre 75 e 85 dias, para se alcançar o intervalo entre partos de 12 meses (LEITE et al.,
2001).

2.2.2.4 Período de Serviço


Esse período compreende o intervalo entre o parto e a nova concepção, momento que dará
início a nova gestação da vaca (MASSIÈRE, 2009). O período de serviço pode ser igual ao
intervalo entre o parto e o primeiro cio caso a vaca emprenhe na primeira cobertura, caso contrário,
o período de serviço será maior do que este indicador. Os fatores que afetam o período de serviço
são o período despendido para involução uterina (período para realizar a primeira inseminação),
taxa de detecção de cio e taxa de concepção. Especialistas da área apontam que período de serviço
curto tende a diminuir a produção na lactação corrente da vaca, devido a partição nutricional para
produção de leite e gestação (LEITE et al., 2001). Por outro lado, período de serviço longo tende a
diminuir o período de serviço por ano da vaca, encurtando o tempo para nova concepção na lactação
subsequente para manter o intervalo entre partos de 365 dias.

2.2.2.5 Intervalo de Coberturas


Esse indicador mostra a eficiência na detecção de cio na fazenda, quando a mesma adota
essa técnica (MASSIÈRE, 2009).

2.2.3 Componentes do Custo de Produção de Leite

19
Os custos de produção são elementos que auxiliam na administração de qualquer
empreendimento, sendo indispensável obter e analisar esses dados para garantir uma eficiente
gestão da fazenda produtora de leite (ASSIS, 2013). Esse parâmetro é o somatório do valor
monetário de todos os recursos usados no processo de produção (insumos, serviços e instalações)
em certo período (REIS, 2002). De maneira geral, os produtores de leite apresentam maior
preocupação com o preço pago ao produto do que com seu custo unitário, porém, somente preço
não justifica o sucesso ou fracasso de uma atividade, sendo o custo em conjunto com o preço e
renda que determinará o lucro da atividade (FARIA, 2005). O custo de produção também permite
o cálculo de indicadores econômicos que possibilitam a avaliação econômica da atividade,
comparando-a com outra atividade qualquer, seja ela agropecuária ou não (AGUIAR, 2010). É
importante destacar ainda que na pecuária de leite ocorre constantemente a venda de animais, sendo
essencial separar o custo de produção do litro de leite do custo de produção da atividade leiteira
(ASSIS, 2013), evitando que a ineficiência de um comprometa a eficiência de outro. Em antigo
estudo (YAMAGUCHI et al., 2002) comparando a avaliação dos custos de produção na pecuária
de leite de forma segmentada em relação à maneira tradicional (atividade como um todo) esses
autores observaram que o fracionamento em custos de produção de leite, custos de produção de
volumoso e custos de produção de novilha apresentou vantagens, permitindo uma gestão mais
detalhada e possibilitando atacar os gargalos de maneira mais efetiva.
Na literatura são publicados alguns métodos de estimativa do custo de produção, sendo o
apresentando a seguir o método de custo total (fixos e variáveis) ou custo econômico.

2.2.3.1 Custo Total ou Custo Econômico


O custo total de produção é o somatório dos custos fixos e custos variáveis, representando
todos os pagamentos em dinheiro, bem como as despesas que não demandam desembolso (ex.:
depreciações de bens) (REIS et al., 2001). Os custos fixos são aqueles que não variam com a
quantidade produzida e têm duração superior a um ciclo produtivo, com renovação ocorrendo a
longo prazo. Os recursos que irão compor o custo fixo são àqueles que compõem a infraestrutura
para se produzir, sendo que esses bens ou capital imobilizado são registrados como depreciações
(LOPES; SANTOS, 2012). Como itens do custo fixo de fazendas leiteiras podemos considerar
curral, sistema de ordenha e refrigeração, vacas, touros, calagem, sementes, sistemas de irrigação,
cochos, cercas e entre outros, sendo importante, para diluição dos custos fixos, a escala de
20
produção. A depreciação representa a desvalorização monetária dos bens durante os ciclos
produtivos, indicando o custo necessário para sua substituição quando se tornam inutilizáveis para
a atividade (LOPES; CARVALHO, 2000). Portanto, quando é realizado investimento na
propriedade, os custos do mesmo não devem ser considerados naquele ano, mas sim diluído ao
longo de sua vida útil, evitando superestimativa de custos em anos de investimento e subsestimativa
em anos que não ocorra (ASSIS, 2013). Lopes e Carvalho (2000) apresentam o método linear como
o mais simples para estimativa da depreciação, cuja a fórmula é apresentada abaixo.

𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 − 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙


𝐷𝑒𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎çã𝑜 =
𝑣𝑖𝑑𝑎 ú𝑡𝑖𝑙 𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑎𝑑𝑎 𝑑𝑜 𝑏𝑒𝑚

Por convenção, a terra não é um bem que se deprecia, uma vez que ela não perde valor de
mercado, muitas das vezes se valorizando com o passar do tempo, principalmente em propriedades
que seu uso racional preserva sua qualidade (ASSIS, 2013).
Outro componente do custo total trata-se do custo variável, que representa o somatório dos
valores em dinheiro despendidos para custeio de um ciclo de produção ou menos, variando de
acordo com o volume produzido e sendo totalmente incorporado ao produto no curto prazo
(SANTOS, 2016). Segundo essa autora, componentes variáveis do custo de produção de leite que
podem ser exemplificados são produtos veterinários, produtos reprodutivos, alimentos
concentrados, fertilizantes, mão-de-obra temporária, combustíveis, energia elétrica e etc.

2.2.4 Indicadores Econômicos em Fazendas de Produção de Leite


Como destacado anteriormente, os indicadores econômicos são informações importantes
dentro do processo de gestão em fazendas leiteiras, pois permitem a interação com parâmetros
técnicos, possibilitando a avaliação quanto a eficiência do processo produtivo. A seguir serão
apresentados alguns parâmetros econômicos importantes na gestão dessas fazendas.

2.2.4.1 Receita ou Renda Bruta


A receita ou renda bruta na pecuária de leite é o valor da venda de todos os produtos
oriundos da atividade leiteira, que, além do leite, apresentam outras fontes de renda, como bezerros
(as), novilhas, vacas descarte, touro descarte e composto oriundo de esterco (ASSIS, 2013).

21
Matematicamente é o resultado do somatório da quantidade vendida multiplicada pelo custo
unitário de cada produto. A fórmula a seguir é referente à receita proveniente da venda de leite

𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 (𝑅$) = 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑒 𝑙𝑒𝑖𝑡𝑒 𝑥 𝑝𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑜 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜

2.2.4.2 Margem Bruta


A margem bruta é obtida através da renda bruta, que é subtraída dos custos variáveis,
mostrando o que sobra da receita quando descontados somente os desembolsos durante o exercício
ou ciclo de produção (ASSIS, 2013). Sua fórmula em termos percentuais é apresentada abaixo.

𝑚𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎 𝑎𝑏𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑎


𝑀𝐵 (%) = 𝑥 100
𝑟𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

2.2.4.3 Margem Líquida ou Lucro Líquido


Representa o resultado econômico da atividade, sendo o resíduo obtido da renda bruta
quando se extrai o custo total (custos fixos e custos variáveis) (ASSIS, 2013). O lucro pode ser
analisado com base na área, permitindo comparação da pecuária de leite com outras atividades de
uso da terra, como lavouras anuais, culturas perenes, bovinocultura de corte ou arrendamento da
terra, entre outros.

𝑚𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 𝑎𝑏𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑎


𝑀𝐿 (%) = 𝑥 100
𝑟𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

2.2.4.4 Lucratividade
Esse indicador representa quanto o produto gera de resultado em relação ao seu preço de
venda e custo de produção, sendo apresentado em termos percentuais pela relação entre o lucro e
o total de receitas (ASSIS, 2013). A lucratividade da produção de leite está relacionada ao preço
pago ao produtor pelo litro do leite, bem como o preço dos insumos e fatores de produção (relação
de troca) e da escala de produção (OLIVEIRA et al., 2001). A lucratividade é um índice percentual
que representa o lucro obtido na atividade, calculado pela seguir fórmula:

22
𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
𝐿𝑢𝑐𝑟𝑎𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (%) = 𝑥 100
𝑟𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
2.2.4.5 Rentabilidade
Indicador que representa em quanto a atividade remunera o capital que nela foi investido,
ou seja, apresenta o retorno do investimento. Essa é a forma de avaliar o lucro obtido na atividade
produtiva em relação ao capital investido para o desenvolvimento dessa atividade (ASSIS, 2013).

𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
𝑅𝑒𝑛𝑡𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (%) = 𝑥 100
𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑑𝑜

A rentabilidade é uma relação entre o rendimento financeiro de um total de capital


imobilizado aplicado numa produção de bens, por isso, ela permite ser usada na análise financeira
de projetos agropecuários, avaliando a compensação do investimento em determinada atividade,
que pode ser comparada com outras opções de mercado. Por fim, a rentabilidade da pecuária de
leite está diretamente relacionada com os índices zootécnicos da atividade, sendo, por isso,
primordial a identificação dos índices que têm influência negativa no desempenho e que se
configuram gargalos que drenam o lucro do produtor.

2.2.5 Ferramentas de Gestão para Fazendas Leiteiras


De maneira histórica, a pecuária bovina brasileira apresenta características extrativistas,
com baixa eficiência no uso da terra e baixos índices produtivos por consequência, no entanto, em
cenário oposto, existe uma parcela de produtores altamente tecnológicos, que aplicam
conhecimento em seus sistemas de produção e extraem bons resultados da atividade. Na pecuária
de leite, a real necessidade de gestão pelos produtores ocorreu a partir 1990, quando o preço do
leite deixou de ser tabelado pelo governo e passou a obedecer às leis do mercado. Nessa conjuntura,
em que os produtores operavam sem previsibilidade quanto ao preço pago ao produto pelos
laticínios, surgiu a necessidade de controle do custo de produção, condição que demandou mudança
de postura do pecuarista frente à atividade. Buscando aumentar sua eficiência e se manter na na
cadeia, os produtores que se adaptaram ao novo cenário passaram a gerar dados em seus sistemas
de produção que permitiram uma gestão mais efetiva, com tomadas de decisões e correções de
gargalos criteriosas, o que promoveu maior sucesso no processo produtivo.

23
Nos diagnósticos mais recentes sobre a pecuária de leite em vários estados do Brasil a
conclusão foi similar, indicando que a maioria dos produtores não tem informações sobre despesas,
receitas e dados zootécnicos, o que impede a formação de banco de dados consistente para avaliar
o desempenho das propriedades (NASCIF, 2015). Segundo o autor, existem fazendas que têm o
banco de dados, mas não os converte de forma adequada em indicadores que balizem às tomadas
de decisões e outras em que apresentam estes indicadores, mas os mesmos não são confiáveis.
A seguir serão discutidas algumas ferramentas de gestão para bovinocultura de leite,
apresentadas e indicadas por Nascif (2015) sobre amplo estudo oriundo da análise de dados
técnicos e econômicos de 411 fazendas de produção de leite no período de um ano (2014-2015).

2.2.5.1 Análise de Pareto


Essa análise consiste em ranquear os fatores de produção na ordem de importância,
permitindo desenvolver prioritariamente aqueles que, juntos, representam maior impacto na
atividade. Nascif (2015) avaliando os componentes do custo de produção do leite, observou que os
itens com maior expressão no custo total foram: 1) alimentos concentrados; 2) mão-de-obra; 3)
produção de volumoso; 4) remuneração de capital e 5) depreciações, nesta ordem. Segundo o autor,
devemos aumentar a eficiência do uso de concentrados com dietas adequadamente formuladas,
reduzir os gastos com mão-de-obra (produzindo mais leite por mão-de-obra empregada), reduzir
os gastos com volumoso (aumentando a produção/hectare) e diluir os custos fixos com depreciação
e os juros sobre o capital via aumento da escala de produção. Nas fazendas analisadas, a média do
custo total do leite foi de R$ 1,10/litro, enquanto nas mais eficientes o custo foi de R$ 0,99/litro.

2.2.5.2 Análises de Correlação


Correlações permitem avaliar o quanto um indicador pode interferir no outro. Nascif (2015)
mostrou as correlações entre lucro da atividade (R$/litro) e o preço recebido pelo leite (R$/litro) e
entre o lucro e custo total do leite (R$/litro), buscando analisar qual perfil de propriedades tiveram
maior lucro, as que receberam maior preço ou as que operaram com menor custo. Em relação ao
preço, houve baixa correlação estatística (R² = 0,12), afirmando que ter maior preço não
necessariamente implicará em ter maior lucro na atividade. Quando a análise foi baseada no custo,
identificou-se que esse item interferiu seis vezes mais no lucro das propriedades do que o preço (R
= 0,74), mostrando a forte tendência de se ter lucro maior em propriedades com baixo custo. Assim
24
sendo, segundo o autor, no grupo de propriedades avaliadas foi mais viável buscar o aumento do
lucro operando com custos equilibrados do que esperar que somente o preço melhore o resultado
econômico da fazenda.

2.2.5.3 Análises de Regressão


As equações de regressão mostram quais indicadores mais interferem em um outro
indicador em específico. Considerando os cinco itens de maior expressão no custo total das
propriedades avaliadas (concentrado, mão-de-obra, volumoso, remuneração do capital e
depreciações), concluiu-se que operando de forma equilibrada esses cinco pontos é possível
interferir em até 88,6% na margem líquida anual, por exemplo, com destaque para a escala de
produção visando diluir os custos fixos.
Para completar a análise de regressão no estudo (NASCIF, 2015), houve estratificação dos
produtores entre os que tiveram melhores e piores resultados econômicos no período de análise,
avaliando, em seguida, os indicadores técnicos relacionados com cada um dos indicadores
econômicos apontados. Avaliando a eficiência no uso do concentrado, o autor apresentou que as
fazendas com os piores resultados econômicos comprometem uma maior proporção da renda bruta
com esse insumo, porém, não convertem essa energia despendida em produtividade, o que as torna
menos eficiente.

Tabela 1. Eficiência no uso do concentrado nas fazendas leiteiras avaliadas.


Inferiores Intermediárias Superiores
Produção/vaca em lactação/dia
15,6 16,5 19,2
(L/vaca/dia)
Gasto com concentrado/renda bruta (%) 38,7 34,6 32,0
Fonte: adaptado de Nascif (2015).

A fazendas menos eficientes apresentaram produção média diária por vaca em lactação de
15,6 litros e 38,7% da renda bruta direcionada para concentrado, enquanto as superiores
produziram 19,2 litros/vaca/dia comprometendo 32% da renda bruta com o insumo.
Em relação à mão-de-obra, a forma de aumentar a eficiência é via aumento da produção
de leite sem aumentar o número de funcionários. O observado no estudo (Tabela 2) foi que as
fazendas mais eficientes são aquelas que operam com maior número de vacas em lactação por
funcionário e maior volume de leite produzido por mão-de-obra permanente, reduzindo a porção

25
da receita com este item do custo. As propriedades inferiores apresentaram valores de 13,7% da
receita comprometida com a mão-de-obra, 18 vacas em lactação por funcionário e 307
litros/dia/funcionário e as superiores destinou somente 8,2% da renda com esse item do custo, 26
vacas lactantes/homem e 535 litros/funcionário/dia.

Tabela 2. Eficiência da mão-de-obra nas fazendas leiteiras avaliadas.


Inferiores Intermediárias Superiores

Vacas em lactação/funcionário
18,27 20,98 26,0
(Cabeças/homem)

Produção/mão-de-obra permanente
307 361 535
(L/homem)
Gasto com mão-de-obra/renda bruta (%) 13,7 11,6 8,2
Fonte: adaptado de Nascif (2015).

Ao analisar o gasto com volumoso (Tabela 3), foi considerado a qualidade e quantidade do
alimento produzido, uma vez que a redução dos custos com esse componente da dieta está
relacionada com o aumento da capacidade de suporte da fazenda. A quantidade de vacas em
lactação por hectare e a produtividade média dessas vacas interfere diretamente na produtividade
por hectare da propriedade, item relacionado com o desempenho econômico da mesma.

Tabela 3. Eficiência na produção de volumoso nas fazendas leiteiras avaliadas.


Inferiores Intermediárias Superiores
Produção/área (L/ha/ano) 5.029 5.041 9.032
Vacas em lactação/hectare 0,82 - 1,20
Gasto com volumoso/renda bruta (%) 17,7 10,7 10,0
Margem bruta (R$/ha/ano) 90,00 1.213,00 3.413,00
Fonte: adaptado de Nascif (2015).

No estrato de fazendas mais eficientes, os produtores colocaram 45% a mais de vacas em


lactação por hectare em comparação às fazendas inferiores, condição que, juntamente com uma
produtividade maior por vaca permitiu uma produção de 4.000 litros/hectare a mais, reduzindo o
custo de produção do volumoso de 17,7% para 10% da renda bruta. Esse cenário mais eficiente
converte para uma maior escala de produção, o que dilui os custos fixos da atividade.

26
Ao analisar o efeito da escala de produção (Tabela 4), observamos redução dos custos fixos
por litro produzido e consequentemente redução do custo total do litro de leite, ocorrendo o cenário
previsível, aumento da rentabilidade pautado pela melhoria nos indicadores técnicos.

Tabela 4. Influência da escala de produção na rentabilidade das fazendas leiteiras avaliadas.


Inferiores Intermediárias Superiores
Produção diária de leite (L/dia) 1.035 1.398 2.456
Custo fixo (R$/L) 0,23 0,19 0,14
Custo total (R$/L) 1,35 1,13 0,99
Rentabilidade (% a.a.) 0,00 3,30 12,58
Fonte: adaptado de Nascif (2015).

2.2.5.4 Análise de Eficiência


Com base no banco de dados de cada fazenda, a análise de eficiência tem por finalidade
mostrar a capacidade das fazendas de converter recursos em produto, sejam esses recursos insumos,
serviços e infraestrutura/capital imobilizado. Produtores mais eficientes são aqueles capazes de
gerar mais receita por unidade de recurso disponível. Após análise envoltória de dados (DEA) as
propriedades avaliadas no estudo (NASCIF, 2015) foram ranqueadas quanto à eficiência técnica e
econômica (rentabilidade), apresentadas na Figura 1.

Figura 11. Análise de eficiência técnica (eixo y) e econômica (eixo x) nas fazendas leiteiras avaliadas no
estudo. Quadrante 1: alta eficiência técnica e econômica. Quadrante 2: alta eficiência técnica e baixa
eficiência econômica. Quadrante 3: baixa eficiência técnica e econômica. Quadrante 4: baixa eficiência
técnica e alta eficiência econômica.
Fonte: Nascif (2015).

A figura acima divide as fazendas analisadas em quatro quadrantes: quadrante 1 (alta


eficiência e alta rentabilidade), quadrante 2 (alta eficiência e baixa rentabilidade), quadrante 3
(baixa eficiência e baixa rentabilidade) e quadrante 4 (baixa eficiência e alta rentabilidade). Dentre

27
esses quatro grupos, fazendas situadas no quadrante 3 são aquelas que apresentam o pior cenário,
baixa eficiência técnica e econômica, e o segundo pior grupo seria o quadrante 2. Comparando
esses dois grupos, no quadrante 3 é possível melhorar os indicadores técnicos e com isso melhorar
os resultados econômicos, entretanto, produtores do quadrante 2 já são tecnicamente eficientes,
mas não são economicamente, cenário comum em fazendas que sustentam altas produções por vaca
com volumoso de baixa qualidade nutricional e elevado consumo de concentrado. Essa análise
reafirma o conceito de ótimo econômico e ótimo produtivo, deixando claro que alcançar altos
níveis de eficiência técnica sem equilíbrio dos custos não é ser eficiente na atividade, o que pode
ser observado na Figura 1, que apresenta grande número de propriedades com eficiência técnica
igual ou próxima a 100% mas se encontram abaixo da taxa mínima de atratividade de 6,0% de
rentabilidade.

2.2.5.5 Análise de Probabilidade


Essa análise permite obter referências para balizar os custos na atividade. Com base na série
histórica de preços nos últimos dez anos, consegue-se estabelecer um cenário para próxima década
e assim conhecer valores com maior e menor probabilidade de ocorrência ao longo desse período.

Figura 12. Análise de probabilidade para o preço do leite pago ao produtor com base nos dados das
fazendas avaliadas. Existe 90% de chance de o valor no futuro estar entre R$ 0,82 e R$ 1,22.
Fonte: Nascif (2015).
Com base nos dados oriundos das fazendas avaliadas, havia somente 5% de probabilidade
dos preços nos dez anos seguintes à analise estarem acima de R$ 1,22/litro, bem como abaixo de
R$ 0,82/litro. A probabilidade de os preços estarem entre esses dois valores foi de 90%, permitindo,
28
dessa forma, que os gestores das fazendas leiteiras operassem com essa referência de valor mínimo
e máximo pago pelo litro do leite.

2.2.5.6 Análise de Risco


Juntamente com a análise de probabilidade, a análise de risco merece destaque, pois, assim
como todas as metodologias apresentadas até então, elas utilizam dados do passado para avaliar o
desempenho técnico e econômico das fazendas, no entanto, diferentemente das demais, elas
permitem projetar o futuro com base no histórico de dados, possibilitando fundamentar as tomadas
de decisões de longo prazo com mais segurança.
Nascif (2015) realizou análise de risco utilizando o software @RISK, com dados de custo
total de produção e volume de leite produzido das fazendas em estudo e valores de preços de dez
anos oriundos do CEPEA (ESALQ-USP). Com essas informações (preço, custo e produção) o
programa realiza simulações que geram resultados para a seguinte análise: se nos próximos dez
anos a fazenda manter a estrutura de custo e volume de produção e os preços mantiverem o
comportamento, qual a chance (risco) do produtor operar com lucro maior que zero? Com essa
informação, conclui-se sobre a validade de investir ou não na atividade com a eficiência atual da
fazenda, mostrando os caminhos que devem ser seguidos para reduzir os riscos de insucesso no
empreendimento.
É importante associar a análise de risco com a análise de eficiência, pois assim é possível
gerar cenários específicos para os diferentes estratos de eficiência técnica e econômica e mostrar
os riscos de permanecer na atividade com as características de cada estrato. Cada quadrante contem
um perfil de produtores com características e resultados que representam grande número de
produtores no cenário nacional, com base nisso, a análise de risco apresentada a seguir mediu os
riscos daqueles produtores de manterem o perfil e eficiência, apresentados na época, nos dez anos
subsequentes ao estudo.

29
Tabela 5. Análise de eficiência das fazendas avaliadas.

Quadrantes
Indicadores
Unidade 1 2 3 4
Produção de leite L/dia 2.247 1.512 1.202 1.557
Produção de vacas em lactação L/dia 18,5 16,6 16,2 17,5
Vacas lactação/área Cab/hectare 1,21 1,16 1,15 0,92
Produção/área L/ha/ano 8.624 7.527 7.252 5.961
Vacas em lactação/rebanho % 41,97 40,07 38,44 43,45
Produção/mão-de-obra permanente L/Dh 459 342 329 478
Gasto com mão-de-obra/renda bruta % 7,44 11,69 12,78 7,12
Custo operacional efetivo R$/L 0,75 0,89 0,96 0,77
Custo total do leite R$/L 0,93 1,12 1,21 0,96
Estoque de capital médio por litro R$/L 1.179 1.436 1.583 1.297
Marquem líquida da atividade R$/ano 249.701 56.361 -1.508 160.947
Lucro total R$/ano 185.530 1.035 -47.302 109.272
Taxa de remuneração do capital com terra % 11,6 2,9 - 9,3
Fonte: Nascif (2015).

O primeiro quadrante avaliado foi o 3, que apresentou pior equilíbrio nos custos e menor
escala de produção, apesar de alguns bons indicadores técnicos. Para esse grupo de produtores
houve 93,4% de chances de operarem com lucro abaixo de zero nos dez anos projetados caso
mantivessem o grau de eficiência. Os produtores pertencentes ao quadrante 2 apresentaram ligeira
melhoria nos parâmetros técnicos em relação ao anterior, acompanhado em aumento na escala de
produção e redução significativa do custo de produção, o que reduziu os riscos de insucesso na
atividade para 78,1%, valor ainda elevado segundo o autor (NASCIF, 2015). O destaque para os
produtores do 4º quadrante está no baixo custo de produção, que permitiu com que eles operassem
com chances de 68% de obter lucro maior que zero na atividade e somente 32% de ter prejuízo. No
último quadrante analisado estiveram os produtores mais eficientes técnica e economicamente,
reflexo da maior escala de produção e custos mais equilibrados. Esse cenário gerou risco de 24,2%
de operação negativa, valor aceitável segundo o autor, e 75,8% de chances de lucro maior que zero,
condição que permite investimento na atividade a longo prazo, pois, mantendo a eficiência das
propriedades, elas conseguirão ser lucrativas nos dez anos projetados.
Por fim, todas as ferramentas apresentaram maior rentabilidade para produtores mais
eficientes, que converteram os recursos em maior escala de produção com custos equilibrados,
gastando menos por litro de leite produzido em suas fazendas.

30
2.3 Agricultura Familiar
A existência de agricultores familiares está diretamente relacionada a preservação do
patrimônio histórico e cultural do Brasil, sendo gerado empregos no comércio e serviços de
pequenas cidades do interior do país, como parte da cadeia de produção dos produtos gerados por
esses trabalhadores no campo (ZOCCAL et al., 2005). Sob o ponto de vista ambiental, segundo
esses autores, a agricultura familiar apresenta vantagens em função da sua maleabilidade, o que
possibilita uma integração produtiva sustentável ao meio ambiente, tornando ainda mais importante
a promoção social desse grupo de produtores rurais. Em relação ao conceito desse sistema
produtivo, a agricultura familiar tem por essência que o controle gerencial e operacional da
produção fica a cargo de membros da família, bem como as decisões e todo o capital da
propriedade, fortalecendo a unidade familiar como um núcleo responsável por todo o processo,
inclusive as vendas, em alguns casos. Em vistas a lei regulamentadora (nº 11.326), o agricultor
familiar é o indivíduo que não detém mais que quatro módulos fiscais em sua propriedade, utiliza
de mão-de-obra predominantemente familiar, vive com renda prevalecente de seu estabelecimento
rural e dirige ativamente o empreendimento (LANDAU et al., 2013).
Segundo Bittencourt (2018), para o fortalecimento da agricultura familiar é importante
desmitificar o conceito de ela ser uma atividade de subsistência, quebrando as barreiras que
impedem tais produtores de se transformarem em empreendedores rurais. A autora também destaca
a importância dos agricultores em estarem atentos em suas tomadas de decisões e serem
estratégicos ao organizarem seus processos produtivos, agregando valor em seus produtos e
maximizando sua inserção no mercado. A associação entre esse grupo também é apontada como
essencial para o crescimento da classe, que ganhará escala e consequentemente maior poder de
barganha no mercado.
Na Tabela 6 são apresentados dados efetivos do censo agropecuário de 2006 e dados
preliminares do censo agropecuário de 2017 que mostram a proporção de agricultores familiares
ativos no país, dos quais grande contingente são dedicados a bovinocultura leiteira, reafirmando a
importância tanto da agricultura familiar quanto da pecuária de leite para o agronegócio brasileiro.

31
Tabela 6. Número de produtores rurais e produtores de leite no Brasil, Minas Gerais, Zona da Mata
Mineira e Além Paraíba-MG.
Censo 2006 Censo 2017
Total Familiar % de Familiar Total Familiar
Propriedades rurais no Brasil 5.175.636 4.366.267 84% 5.072.152 -
Propriedades produtoras de leite no Brasil 1.350.809 1.089.336 81% 1.171.190 -
% de produtores de leite 26% 25% - 23% -
Propriedades rurais em Minas Gerais 551.621 437.320 79% 607.448 -
Propriedades produtoras de leite em Minas Gerais 223.073 167.112 75% 216.419 -
% de produtores de leite 40% 38% - 36% -
Propriedades rurais na Zona da Mata Mineira 86.437 70.912 82% - -
Propriedades produtoras de leite na Zona da Mata Mineira 28.448 21.248 75% - -
% de produtores de leite 33% 30% - - -
Propriedades rurais em Além Paraíba-MG 354 192 54% 366 -
Propriedades produtoras de leite em Além Paraíba-MG 203 109 54% 186 -
% de produtores de leite 57% 57% - 51% -

Fonte: adaptado de IBGE (2006) e IBGE (2017).

No caso do município de Além Paraíba em específico, quando comparado com a tendência


nacional, estadual e regional (75 a 85%), a proporção de produtores de base familiar em relação ao
total de produtores rurais é menor (54%), com mesmo cenário para os produtores dedicados à
produção de leite (54%). Porém, quando comparados o número de produtores dedicados à
bovinocultura de leite em relação ao total de produtores do município, observamos valores de 57%,
acima dos encontrados nacional (25 a 26%), estadual (38 a 40%) e regionalmente (30 a 33%),
evidenciando a forte aptidão de Além Paraíba para a produção de leite. Comparando as informações
geradas pelos dois últimos levantamentos, observamos que houve queda em valores absolutos em
todos os pontos, exceto para o número de produtores rurais de Minas Gerais, no entanto, a redução
proporcional do número de produtores de leite em relação ao total de produtores foi menos intensa.
Com base nesta revisão de literatura, fica clara a importância da cadeia produtiva do leite
para o Brasil, sendo ela capaz de gerar impacto em diversos setores da economia em função do
efeito de encadeamento produtivo, tanto na aquisição de insumos como nas indústrias de
beneficiamento, além de sua importância social e ambiental, se configurando como uma atividade
desafiadora que exige profissionalismo, mas que traz benefícios ao país.

32
3. DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

3.1 Localização da Propriedade


A propriedade rural objeto desse estudo é localizada no município de Além Paraíba,
microrregião de Cataguases na Zona da Mata de Minas Gerais (21º42’19.0”S e 42º45’15.6”W), há
525 metros de altitude. A região apresenta cultura de produção de leite a pasto, com baixa
produtividade por vaca e por hectare, se caracterizando como não especializada para produção
leiteira.

3.2 Clima da Região


Segundo a classificação de Köppen-Geiger, o clima de Além Paraíba é tropical Aw, com
verão apresentando pluviosidade mais acentuada que o inverno. A pluviosidade média anual é de
1.303 mm, com mês de julho sendo o mais seco (19 mm) e dezembro o mais chuvoso (255 mm).
Em relação à temperatura, a média anual é de 23 ºC, com fevereiro o mês mais quente (26 ºC) e
julho o mais frio (19 ºC).

Figura 13. Médias de pluviosidade e temperatura mínima e máxima mensais do município de


Além Paraíba-MG.
35 300

30
250

25
200

20
150
15

100
10

50
5

0 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Pluviosidade média (mm) Temperatura mínima (°C) Temperatura máxima (°C)

Fonte: adaptado de climate-date.org.

33
3.3 Levantamento das Informações
As informações referentes ao sistema de produção foram coletadas em visita-diagnóstico,
com entrevista do proprietário, coleta de amostras de terra e avaliação das pastagens, do rebanho e
das instalações. Durante a entrevista foi tratado dos objetivos do produtor na atividade, de maneira
que o projeto abordasse recomendações que atendessem seus propósitos para o sistema, a
intensificação da produção de leite a pasto. Além disso, foi realizado o mapeamento da propriedade
com o software Google Earth e validado pelo proprietário.
Não é realizado a coleta e registro de dados do sistema de produção, sendo todas as
informações prestadas oriundas do empirismo do produtor frente à atividade no dia-a-dia.

3.4 Caracterização do Sistema de Produção


A propriedade é gerida por um casal de proprietários desde 2014, atuando nesse período na
bovinocultura de leite. Antes desta propriedade, a pecuária de leite era realizada por eles em outro
local. Sua área total é de 12,6 hectares, dos quais são divididos da seguinte maneira:

Tabela 7. Divisão das áreas da propriedade estudada.


Descrição Identificação Área (ha)
Sede 1 0,50

Reserva legal florestal 2 0,80


Pastagem corretamente manejada e produtividade 3
4,92
mediana
Pastagem mal manejada 4 1,22
Pastagem degradada 5 3,09
Área úmida com invasoras 6 1,08
Área excessivamente úmida + encosta de morro 7 0,56
Produção de forragem para suplementação 8 0,50
Fonte: elaborado pelo autor.

34
Figura 14. Mapa da propriedade estudada (Sítio Paraíso, 21º42’19.0”S e 42º45’15.6”W).

Fonte: Google Earth.

3.4.1 Área de Pastagem bem Manejada


Todas as áreas formadas por pastagens na propriedade são de Urochloa brizantha cv.
Marandu. Na área de pastagem que recebe bom manejo existe um sistema de pastejo com lotação
rotacionada para vacas em lactação com maior produção, cujo o tamanho é de um hectare
subdividido em 30 piquetes. As vacas são manejadas em lote único com período de permanência
de um dia durante o período chuvoso e com ajuste no número de animais de acordo com a altura
de resíduo pós-pastejo. Nenhuma altura referência de saída dos animais é utilizada como parâmetro
para esse manejo, sendo avaliação visual do pasto o único critério para aumentar ou diminuir o
número de vacas dentro desse sistema. Durante o período de estiagem o número de vacas é reduzido
para ajustar a taxa de lotação de acordo com a capacidade de suporte da pastagem, sendo também
definido de acordo com a avaliação visual do resíduo pós-pastejo. Em relação aos tratos culturais
a área recebeu calagem em março de 2017, sem dose reconhecida, durante a formação dos piquetes.
A cada ciclo de pastejo são distribuídos 300 kg/hectare de ureia no período das águas, fornecendo
a recomendação de 135 kg/hectare de nitrogênio. Durante o período seco não é realizada adubação
de produção. Fora desse sistema de pastejo, existem mais 3,92 hectares cujo o pastejo é contínuo,
com menor produção, porém, com produtividade de forragem ainda satisfatória, o que permite uma
35
adequada cobertura vegetal da área e deposição de matéria orgânica no solo. Nesta área, bem como
em quase todo o restante da propriedade, pastejam os demais animais do rebanho. Sua topografia
é levemente ondulada.

3.4.2 Área de Pastagem em Degradação


Existem 3,09 hectares de pastagens na propriedade que se encontram em estádio de
degradação, cujo a produção e qualidade da forragem são inferiores, alta proporção de invasoras e
baixa cobertura e matéria orgânica no solo, com algumas áreas já descobertas. Segundo o histórico
da área, a formação da pastagem na mesma foi mal executada, principalmente em função da
acentuada declividade. Em situação similar, há 1,22 hectares de pastagem em área de declividade
não acentuada, satisfatória oferta de forragem para pastejo e cobertura vegetal, no entanto, mesmo
com vedação, ocorrem pequenos pontos descobertos e pequeno número de invasoras.

3.4.3 Áreas Úmidas


De área totalmente plana existem 1,08 hectares na propriedade, sendo úmida e tomada por
invasoras típicas de brejo, local que os animais não acessam e não realizam pastejo. Além dessa,
existe uma área excessivamente úmida de 0,56 hectare próximo ao córrego que corta a propriedade,
local onde os animais também não acessam e, próximo à essa área, há uma pequena encosta pela
qual os animais não passam.

3.4.4 Áreas de Forrageira para Suplementação


Para suplementação volumosa no período de estiagem há na propriedade 0,19 hectare de
capineira formada com capim-elefante (Pennissetum purpureum), das cultivares Napier e
Cameron, e 0,31 hectare formado com cana-de-açúcar. O solo na capineira é plano e no canavial é
levemente ondulado, ambos sem receber adubação e correção da acidez. Esse material é cortado
manualmente e transportado em carroça até o curral, onde é picado em picadeira estática. O período
de suplementação das pastagens ocorre entre os meses de julho e outubro, com fornecimento de
capim-elefante ou cana-de-açúcar picados no cocho.

36
3.4.5 Composição do Rebanho, Nutrição dos Animais e Produção de Leite
Atualmente o rebanho da propriedade é composto por 22 animais, sendo 12 vacas, cinco
novilhas, quatro bezerros e uma bezerra, todos mestiços holandês-zebu sem grau genético definido.
Recentemente foi iniciada na propriedade o trabalho de inseminação artificial. A média de
produção diária durante o ano é 80 litros de leite por dia, que é direcionada integralmente para
fabricação de queijo frescal. Bezerros e bezerras são criados para retirada do leite, uma vez que
parte das vacas necessitam da presença dos mesmos para descida do leite. Eles permanecem o dia
todo em área de pasto anexa ao curral, instalação na qual acessam durante a noite. A recria das
novilhas é feita a pasto, sem plano nutricional para essa categoria, sendo três desses animais
mantidos na propriedade e dois em uma propriedade arrendada. Além desses, há um cavalo de
serviço para manejo do gado e trabalho carroça, que permanece em área separada do rebanho.
A fonte de volumoso durante o período das águas é somente as pastagens e no período de
estiagem, além do pastejo, os animais consomem forragem verde picada no cocho para
suplementação, por 120 dias (julho a outubro). Durante todo o ano as vacas de leite recebem
alimento concentrado no momento da ordenha, cujo a composição é formada por 50% de milho
moído, 20% de farelo de soja e 30% de farelo de trigo. A quantidade fornecida por animal
diariamente não é conhecida. Além de ingredientes energéticos e proteico, também é fornecido aos
animais sal mineral seletivo para atender as exigências de fósforo, sódio, cobalto e cobre, adquirido
pronto pelo produtor.

3.4.6 Equipamentos e Instalações


Em relação aos equipamentos existem na propriedade uma carroça usada para transporte de
forragem e qualquer outro trabalho de logística necessário na rotina; um conjunto de ordenhadeira
do tipo balde ao pé; botijão para armazenamento de sêmen; picadeira de forragem estática; latas de
50 litros usadas durante a ordenha e para o transporte do leite; um cocho coberto na área de
descanso dos animais para fornecimento de sal mineral.
Quanto às instalações, existe um curral para ordenha e manejo dos animais, no qual é
composto por uma sala de espera com cocho e bebedouro, área interna para ordenha das vacas com
cocho provido de canzil e um brete. Dentro do curral também há um estoque de ingredientes
concentrados, fertilizantes e produtos veterinários, além de outros itens usados na rotina de uma

37
propriedade leiteira. Somado a isso, existe um recinto para fabricação dos queijos e a sede da
propriedade. Em relação às cercas, toda a propriedade é cercada por cerca de arame farpado.

3.4.7 Análise da Fertilidade do Solo


A análise da fertilidade dos solos (Anexo 2) da propriedade foi realizada com a finalidade
de obter informações para as recomendações de calagem e adubação das pastagens, visando a
intensificação da produção de forragem no sistema. O processo de amostragem foi realizado de
acordo com as orientações de Arruda et al. (2014).

38
4. AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

4.1 Perfil do Proprietário


A propriedade se enquadra na categoria de agricultura familiar, com gestão e operação de
todo o processo realizada pelo casal. O proprietário detém anos de experiência na pecuária de leite
e tem duas características como suas principais: objetivo de evoluir na atividade e ser pessoa adepta
à ideias e tecnologias. Esses dois valores, juntamente com sua vocação para o trabalho rural,
favorecem o sucesso na produção de leite a pasto. A principal limitação para implantação do projeto
é a financeira. Atualmente, parte da receita da atividade é destinada para abater dívida com
Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), do governo federal, referente ao
financiamento solicitado para aquisição da propriedade em 2014. Existem linhas do PRONAF para
custear aquisição de insumos, infraestrutura e animais para aumento de produção nas propriedades,
condição pela qual o produtor pode solicitar recurso para executar o projeto.

4.2 Banco de Dados do Sistema de Produção


É essencial a implantação da cultura de controle de dados do sistema de produção, uma vez
que ela não existe dentro da propriedade. Em virtude disso, o primeiro ponto observado foi a
carência de coleta de dados. A falta de gerenciamento dos números não permite que informações
sejam geradas para avaliação técnica e econômica da atividade, cenário descrito por Nascif (2015)
como comum na pecuária de leite brasileira. Dessa maneira, para uma análise da conjuntura do
sistema torna-se importante que a cultura de controle seja implantada na rotina, para que esses
dados sejam gerados e a partir deles os indicadores zootécnicos, reprodutivos e econômicos sejam
obtidos, bem como os custos de produção.

4.3 Área Efetivamente Empastada e Área Potencialmente Empastada


Da área total de 12,6 hectares da propriedade, 0,5 são destinados a produção de forragem
para suplementação, 1,3 hectares são de reserva legal florestal e área de benfeitorias, 9,23 hectares
são efetivamente usados para pastejo e 1,64 hectares de área que os animais não acessam.
Na área efetivamente empastada da propriedade 4,92 hectares recebem manejo adequado,
com um hectare implantado de sistema de pastejo com lotação rotacionada e adubações periódicas.
O manejo do pastejo dos animais é realizado em dias fixos de permanência e descanso, sendo um

39
manejo técnico, porém que pode ser substituído por outra metodologia que traz melhores resultados
produtivos, como o manejo baseado na interceptação luminosa, que permite a produção de
forragem de melhor qualidade e aumento da eficiência de colheita do alimento (Aguiar, 2015).
Nesse sistema de pastejo são lotadas, em média, sete vacas em lactação, o que permite atingir taxa
de lotação de 7,0 UA/hectare, valor adequado com a capacidade de suporte da área, tendo em vista
o excelente stand de plantas, ausência de invasoras, elevada cobertura vegetal do solo e correta
altura de resíduo pós-pastejo, evidências características de pastagem bem estabelecida e manejada.
A adubação de 135 kg de nitrogênio por ciclo de pastejo gera uma adubação anual de 1.080
kg/hectare de nitrogênio, valor que deve ser reduzido em função da responsividade da Urochloa
brizantha cv. Marandu, que não ocorre para doses elevadas como tal.
A área de 3,92 hectares restante não recebe nenhum acompanhamento da fertilidade do solo
bem como plano de adubação para potencializar a produção de forragem por hectare, o que
permitiria alcançar maior taxa de lotação na propriedade e consequentemente aumentar a produção
de leite por hectare. O pastejo realizado nesta pastagem é contínuo, o que também limita a
produtividade da área em determinado momento. Dessa maneira, por ser um setor que apresenta
bom stand de plantas, elevada cobertura de matéria orgânica do solo, pequena proporção de
invasoras e boa produtividade de matéria seca, recomenda-se sua exploração com um sistema de
pastejo adequado à fisiologia de crescimento da planta e que potencialize a eficiência do uso da
forragem, associado a um plano de adubação que máxime a produção da pastagem, permitindo uma
melhor exploração da terra (Aguiar, 2015). O cenário de grande potencial forrageiro desta área,
mesmo sem receber manejo intensivo, certamente é promovido pela baixa taxa lotação que se opera
na propriedade, associada a um correto processo de formação da pastagem nesse local, conforme
histórico descrito pelo proprietário, que teve a topografia de fácil operação como ponto
determinante.
Ainda de área empastada existem 1,22 hectares que têm produção de forragem satisfatória,
porém apresenta maior proporção de plantas invasoras e pequena área de solo descoberto. Apesar
de ser realizado a vedação como manejo da pastagem existente, não é o suficiente para melhorar a
cobertura vegetal dos pontos onde o solo é desprotegido. Esse diferimento permite que a pastagem
da área acumule forragem e a proteção do solo seja garantida em quase toda superfície, que
apresenta bom stand de plantas forrageiras. Atualmente o pastejo realizado nela é casual, baseado
na observação da altura do pasto pelo produtor. Recomenda-se que está área seja anexada ao
40
canavial, aumentando sua extensão para atender a demanda do rebanho quando o sistema estiver
sendo operado de maneira intensificada.
De área empastada em degradação existem 3,09 hectares. Dentro desse contexto, próximo
ao curral, existe 0,17 hectare com predominância de grama em toda extensão, com alguns pontos
de solo descoberto, sendo recomendado que está seja utilizada para formação de piquete para
bezerras em aleitamento e piquete-maternidade. No passado foi realizado análise química do solo
desta área e ele apresenta-se como de elevada fertilidade natural. Além deste, outro setor da
propriedade que apresentou características de pastagem degradada foram 2,92 hectares localizados
na extremidade oposta da fazenda em relação à sede. Esta área apresenta planta forrageira em sua
extensão, porém sem stand bem definido e estabelecido, intercalando entre pontos com
predominância de plantas daninhas e locais com pouca ou nenhuma cobertura vegetal sobre o solo.
Juntamente com o setor úmido, é o local que mais exige em tratos culturais e manejo de recuperação
de pastagem, por apresentar alta proporção de invasoras. No entanto, diferentemente do setor
supracitado, esta área é pastejada pelos animais, que colhem a forragem com frequência no local,
conforme observado pelo proprietário e diagnosticado pela morfologia das plantas forrageiras
presentes. Essa condição de pastejo intenso e sem controle reduz o vigor e capacidade de rebrota
da planta, que perde na competição com plantas invasoras no decorrer do tempo, intensificando o
processo de degradação da pastagem. Neste local, a roçada, plantio manual de sementes em pontos
específicos, vedação, calagem e adubação leve é o manejo recomendado para recuperação da
pastagem local.
A área da propriedade com maior potencial forrageiro e que permite operação com altas
taxas de lotação devido sua topografia plana tem 1,08 hectares. Esse setor não é acessado pelos
animais devido sua elevada umidade e, em função dessa característica, não existe planta forrageira
no local. A predominância é de plantas típicas de brejo. O primeiro trabalho que deve ser realizado
é a drenagem do local, para que em seguida seja formada pastagem por processo convencional. É
importante destacar que está é uma área não produtiva dentro da fazenda, se caracterizando como
área potencialmente empastada que, sendo trabalhada, permitiria aumentar substancialmente a
capacidade de suporte da propriedade. Além disso, sua proximidade com curral permitiria o pastejo
de vacas em pico de lactação, que apresentam maior exigência nutricional e manejo esmerado.
Como área que os animais também não acessam, existem mais 0,56 hectare de área de
úmida, que é acrescida de pequena encosta na transição entre a parte plana e levemente ondulada
41
da propriedade. Essa área não será trabalhada no projeto, permanecendo como área de preservação
permanente.

4.4 Áreas de Produção de Forragem para Suplementação


Para produção de alimento volumoso para suplementação da dieta são direcionados 0,5
hectares, dos quais 0,19 hectare de capineira e 0,31 hectare de canavial, ambos usados no período
seco do ano, que se estende entre julho e outubro.
Como manejo, a área de cana-de-açúcar recebe capinas sem frequência definida, o que
aumenta a presença de plantas invasoras no local e reduz a produtividade da cultura. Além disso,
assim como a área de capim-elefante, o canavial não recebe adubação de cobertura, o que também
contribui para menor produção de matéria seca por hectare da área. De modo semelhante, as duas
áreas não são bem formadas, o que demanda como recomendação inicial replantio de mudas, para
se obter melhor stand de plantas. A área de capineira recebe esterco oriundo do curral, em doses
desconhecidas, o que certamente contribui para aumento da matéria orgânica e fertilidade desse
solo.
A dimensão dessas áreas será adequada à necessidade de consumo do rebanho estabilizado
no período seco, considerando adubações intensivas para o aumento da produtividade das culturas.
É recomendada a utilização de somente cana-de-açúcar, com finalidade de dispensar a ensilagem
de forragem na propriedade. É importante frisar que a produção intensiva de volumoso para
suplementação será primordial para intensificação da produção de leite a pasto, buscando reduzir
a área de lavoura e expandir ao máximo as áreas de pastagens da propriedade, de maneira que
alimentação dos animais durante todo o ano seja cuidadosamente atendida.

4.5 Rebanho e Produção de Leite


Considerando a produção média diária de 80 litros na propriedade, conforme informado
pelo produtor, tem-se como produção total anual 29.200 litros de leite e produtividade da terra de
2.317 litros/hectare/ano. Esses valores são considerados aquém em relação ao potencialmente
atingível em sistemas intensivos (AGUIAR, 2015), que podem chegar à 20.000 litros/hectare/ano.
É importante destacar que a intensificação da produção de leite a pasto não está atrelada somente
ao uso de produtos tecnológicos e tecnologias de alto custo. Existem técnicas de processo que
permitem obter resultados satisfatórios sem a utilização de insumos, como o ajuste do pastejo dos
animais para uma colheita mais eficiente da forragem, seleção e descarte de animais, agrupamento
42
adequado dos animais em lotes, promoção de conforto às vacas, aleitamento artificial das bezerras,
ajuste no manejo de ordenha e entre outros procedimentos. Quando se trabalha com sistemas de
produção extensivos, a intervenção técnica, inicialmente, deve buscar tecnologias de processo
simples, para ajustar a atividade, então somente depois aplicar tecnologias de processo avançadas
e de insumos. Esse procedimento permite que o produtor melhore a produção de leite sem altos
investimentos, o que incentiva sua aderência à assistência técnica e à tecnologia, uma vez que esses
ajustes iniciais permitem incrementos expressivos na produção de leite, quando se trabalha com
esse modelo de sistema.
Em relação ao rebanho, o produtor trabalha durante o ano, em média, com nove vacas em
lactação e três vacas secas, atingindo a relação entre vacas em lactação e total de vacas no rebanho
de 75%. Segundo Nascif (2015), essa relação em sistemas de produção técnica e economicamente
eficientes é de 83%, valor recomendado como benchmark para fazendas leiteiras. Já a
recomendação para relação entre vacas em lactação e número total de animais do rebanho é de, no
mínimo, 42% do plantel. Na propriedade estudada o valor é de 40%. A importância do número de
vacas em lactação no rebanho reside no fato de serem esses animais a principal fonte de renda de
fazendas leiteiras, sustentando a maioria das despesas com os demais animais. Por isso, é ideal que
essa proporção seja a maior possível para que se tenha um equilíbrio de receitas e custos na
atividade. É importante destacar que os três principais fatores que afetam o número de vacas em
lactação da fazenda são eficiência reprodutiva, o período de lactação e a persistência de lactação
das vacas.
Ao avaliar a produção das vacas durante o ano, observamos a baixa especialização leiteira
dos animais, que apresentam produção de 8,8 litros por dia. A produção corrigida para 305 dias de
lactação não é conhecida devido à falta de informações do sistema. Apesar da baixa produção por
vaca, os valores encontrados na propriedade estão acima da média brasileira, que em 2017 foi de
5,3 litros/vaca/dia (CARVALHO et al., 2019), porém, muito abaixo do potencial atingível em
sistemas com maior aplicação de tecnologia (AGUIAR, 2015). Apesar disso, sob a ótica do
conceito de intensificação apresentado por Silva (2016b), o sistema de produção estudado pode ser
considerado intensivo. Segundo esse autor, intensificar é obter o máximo rendimento possível por
unidade de recurso disponível. Assim, para uma situação com limitação de fertilidade do solo,
baixa eficiência de pastejo, baixa produção de forragem por hectare e baixa especialização das
vacas para produção de leite, por exemplo, a produção de 8,8 litros/vaca/dia pode corresponder ao
43
maior nível possível de intensificação. No entanto, pode ser que, o máximo nessas condições esteja
aquém do potencial técnico da área se corrigidas as limitações, fato que realmente ocorre
considerando o potencial produtivo em sistemas tecnológicos (AGUIAR, 2015). O conceito de
máximo rendimento por unidade de recurso disponível é validado pela alta taxa de lotação (7
UA/hectare) obtida na área da propriedade que opera com sistema de pastejo com lotação
rotacionada associado à adubação nitrogenada, mostrando que para as diferentes condições dentro
do sistema obtêm-se diferentes rendimentos, de acordo com os recursos aplicados. Dentro desse
enredo, de limitações existentes e margem produtiva atingível, que se enquadra o objetivo do
presente estudo e das recomendações que virão em sequência.
Avaliando a eficiência reprodutiva do rebanho com base nas informações existentes,
observamos que o número de vacas em lactação em relação ao total de vacas do plantel encontra-
se próximo ao recomendado, mostrando que o intervalo entre parto das vacas se aproxima do ideal
(365 dias). Essa condição também mostra que a alimentação das vacas de leite é feita de maneira
correta, garantindo que os animais não entrem em anestro por questões nutricionais. Além disso, a
monta natural é o manejo reprodutivo que sempre foi adotado na propriedade, condição que
também garante maior taxa de prenhez no rebanho. Atualmente a inseminação artificial começou
a ser adotada, podendo ser essa uma fonte de variação no intervalo entre partos das vacas, ao passo
que esse manejo requer maior precisão.
Além da eficiência reprodutiva, o período de lactação e a persistência de lactação também
interferem no contingente de vacas que estarão produzindo leite na propriedade. Em relação ao
primeiro parâmetro, pode ser concluído que as vacas apresentam lactação por um período próximo
aos 305 dias, pois, apesar de não mensurado, é indicado pelo aceitável percentual de vacas em
lactação no rebanho. Já a persistência de lactação não pode ser avaliada devido não ser conhecida
a produção leiteira das vacas nas diferentes fases da lactação, condição que permite duas teorias.
A primeira considera que as vacas têm alta persistência e por isso apresentam elevado período de
lactação. Já a segunda propõe que as vacas apresentam baixa persistência, porém são mantidas em
lactação por longo período, sendo secas com baixa produção de leite.
Em relação à suplementação concentrada dos animais, para os baixos níveis de produção
operados no sistema ela se torna dispensável em boa parte da lactação das vacas. Segundo dados
apresentados por Aguiar (2015), produções entre 10 e 12 litros/vaca/dia são alcançadas
exclusivamente à pasto, sem inclusão de alimento concentrado na dieta, somente com adubação
44
das pastagens. Já para sistemas que não recebem adubações, o autor apresenta que a produção de
leite atingível somente à pasto é de 8 litros/vaca/dia, no máximo. Essa condição permite concluir
que, desde que a oferta de forragem continue constante, o fornecimento de concentrado seria
necessário somente em momentos específicos, quando as vacas estivessem produzindo acima de
12 e 8 litros/dia, para animais mantidos nos piquetes e na área de pastejo contínuo, respectivamente.
Considerando que sete das nove vacas em lactação são manejadas nos piquetes, a suplementação
da dieta da maioria dos animais seria dispensável em boa parte do ano, tendo em vista a melhor
qualidade nutricional desse volumoso. Nos momentos que a suplementação fosse necessária, a
margem nutricional para suplementar seria menor, em função da qualidade do volumoso. Esse
cenário permite concluir que a eficiência no uso de concentrado no sistema de produção é baixa,
haja vista o fornecimento excessivo em grande parte da lactação das vacas e a baixa capacidade
delas em converterem esse insumo em maior produção de leite, evidenciando a baixa
especialização desses animais.
Nessa condição, é importante que um programa de melhoramento genético seja implantado
na fazenda buscando obter animais especializados para produção de leite, considerando o sistema
de produção, condições climáticas da região e o comprometimento do produtor com manejo desses
animais, que será mais exigente e criterioso. A implantação da inseminação artificial na
propriedade é um importante passo para melhoria genética dos animais. Essa mudança permite que
seja recomendado um cruzamento entre raças buscando aumentar a produção individual das vacas.
Esse avanço, associada a ampliação das áreas de pastagens e melhoria no manejo da pastagem e
do pastejo, permitem intensificar a produção de leite a pasto.
Baseado no conceito de Silva (2016b), que a intensificação possui um caráter relativo em
que se deve considerar todo o contexto e as condições vigentes, é importante destacar que existem
implicações no processo de intensificação, como a intensiva demanda operacional atrelada à
intensiva produção de leite. Em outras palavras, a intensificação demandará do produtor mais horas
dedicadas ao trabalho e a necessidade de um trabalho mais refinado. Para isso, basta considerar o
número de animais que irá aumentar na propriedade, o número de piquetes que demandará
adubação, maior período de ordenha diária, maior risco na atividade e etc. Em função dessa
premissa, é essencial que a assistência técnica esclareça essas nuances ao produtor que tem por
objetivo intensificar seu sistema de produção.

45
4.6 Instalações e Equipamentos
Todas as instalações da propriedade se apresentam em adequado estado de conservação e
não têm sua funcionalidade comprometida, condição que iria interferir nos resultados obtidos. As
cercas e porteiras mantêm seu poder de contenção, os cochos permitem acesso dos animais para
consumo adequado de sal mineral, os bebedouros têm capacidade de atender a necessidade de água
do rebanho, a queijeira promove espaço para ampla produção e armazenagem de queijo frescal e o
curral permite adequado manejo de ordenha dos animais, estocagem de insumos, suplementação
volumosa e concentrada no cocho, vacinação e inseminação dos animais e abrigo para os bezerros
durante a noite. Em relação aos equipamentos, todos apresentam adequada funcionalidade e não se
configuram como limitantes no desenvolvimento das atividades na propriedade. A carroça permite
adequado transporte de forragem das áreas de lavoura, a picadeira atende aos trabalhos durante o
período de estiagem, a ordenhadeira de balde ao pé funciona normalmente com todos os parâmetros
adequados para uma correta ordenha dos animais e o botijão de sêmen conserva o material
corretamente. Além dos equipamentos, ferramentas básicas utilizadas em uma propriedade leiteira
também apresentam bom estado para desempenharem suas funções.
Dessa maneira, as instalações e equipamentos existentes na propriedade são suficientes e
não limitariam a operação de um sistema mais intensificado.

46
5. PLANEJAMENTO PARA O SISTEMA DE PRODUÇÃO

5.1 Controle de Dados do Sistema de Produção


Como discutido, é primordial a coleta de dados para geração de informações sobre o
sistema. Dessa forma, é recomendado ao produtor que as informações (Tabela 8) sejam mensuradas
e registradas em um banco dinâmico.

Tabela 8. Recomendação de dados produtivos e reprodutivos a serem coletados no sistema de


produção.
Natureza Dado Unidade Como coletar Frequência/Momento

Número total de animais Unidade Contagem A cada renovação


Número de vacas Unidade Contagem A cada renovação
Número de vacas em lactação Unidade Contagem A cada renovação
Número de novilhas Unidade Contagem A cada renovação
Número de bezerras e bezerros Unidade Contagem A cada renovação
Número de animais de serviço Unidade Contagem A cada renovação
Idade de todos os animais Meses Registro A cada renovação
Produtivo Produção de leite Produção/vaca Controle leiteiro Semanalmente
Período de lactação Dias Registro Em toda lactação
Número de lactações Unidade Registro Em cada renovação
Peso de todos animais adultos Kg Pesagem Anualmente
Peso de bezerras e novilhas Kg Pesagem Mensalmente
Área total da propriedade Hectare GPS/satélite Única vez
Área de pastagem da propriedade Hectare GPS/satélite Única vez
Peso na concepção de novilhas Kg Pesagem Na concepção
Idade ao primeiro parto Meses Registro No parto
Peso ao primeiro parto Kg Pesagem No parto
Intervalo entre partos Dias Registro Em cada parto
Reprodutivo Intervalo entre o parto e primeiro cio Dias Registro Em cada cio pós-parto
Intervalo entre o parto e primeira cobertura Dias Registro Em cada cobertura pós-parto
Período de serviço Dias Registro Em cada concepção
Serviços por concepção Unidade Contagem Em cada concepção
Intervalo entre coberturas Dias Registro Em cada cobertura
Fonte: elaborado pelo autor.

A partir desses dados é possível gerar indicadores conclusivos para avaliação da eficiência
técnica e econômica da fazenda, como: produção anual total de leite, produção total de leite por
vaca, persistência de lactação das vacas, proporção de vacas em relação ao rebanho, proporção de
vacas em lactação em relação ao total de vacas, produção de leite por hectare por ano, idade dos
animais, taxa de lotação das pastagens, eficiência alimentar, produção de leite por intervalo entre
partos das vacas, eficiência na cria de bezerras e recria de novilhas e eficiência reprodutiva.

47
5.2 Controle Econômico da Atividade
De fundamental importância, o custo de produção também deve ser mensurado, uma vez
que sua correlação com o lucro é mais elevada do a correlação deste com o preço (NASCIF, 2015).
Para obtê-lo é importante que seja registrado pelo produtor todos os desembolsos realizados com
fatores de produção (Tabela 9), para conhecer os custos variáveis da atividade. De maneira geral,
os fatores de produção de uma unidade familiar de produção de leite são similares, havendo
pequena variação em função do manejo e tecnologias adotados. Em função disso, os itens
apresentados são generalizados e podem ser acrescentados pelo produtor. Somado aos fatores de
produção, outras despesas inerentes à produção de leite também são consideradas, formando os
custos variáveis da atividade.
Para estimar o custo fixo o produtor deverá considerar a depreciação de bens imobilizados
(Tabela 9), considerando seu custo inicial, tempo de vida útil e custo final. Com esse valor será
conhecido quanto deverá ser direcionado da receita para renovação ou substituição do bem no fim
de sua vida útil.
Acrescentando o custo fixo ao custo variável o proprietário terá o custo total por litro de
leite produzido e com ele conhecerá sua margem líquida, a partir da receita obtida. É essencial para
o sucesso na atividade leiteira a escala de produção como meio de diluir os custos fixos e assim
reduzir o custo total do produto. Como observado por Nascif (2015), o gerenciamento dos custos
na pecuária de leite brasileira é pouco praticado, sendo um ponto primordial que deve ser adotado
na propriedade estudada para gestão da atividade.
Para o controle da atividade, além do custo de produção outros indicadores podem ser
calculados para avaliar seu desempenho econômico, tais como marquem bruta, marquem líquida,
lucratividade e rentabilidade. Munido dessas informações, o produtor poderá realizar um
benchmark para avaliar sua eficiência econômica perante ao que ocorre no mercado em sistemas
de produção similares.

48
Tabela 9. Recomendação de componentes do custo de produção a serem monitorados no sistema
de produção estudado.
Fatores de produção Unidade

Ingredientes concentrados R$/tonelada


Fertilizantes R$/tonelada
Mão-de-obra temporária R$/mês
Material de ordenha R$/mês
Energia e combustível R$/mês
Insumos para fabricação de queijos R$/mês
Outros R$/mês

Outras despesas Unidade

Custos administrativos R$/mês


Impostos e taxas R$/ano
Mão-de-obra permanente R$/mês
Combustível de veículos R$/mês
Manutenção de equipamentos e instalações R$/ano
Vacinas R$/ano
Medicamentos e produtos sanitários R$/ano
Assistência técnica R$/mês
Sêmen e hormônios reprodutivos R$/ano
Outros R$/ano

Bens imobilizados

Animais
Curral
Queijeira
Cochos
Cercas
Ordenhadeira R$/dia
Botijão de sêmen
Picadeira estática
Carroça
Latões de leite
Ferramentas
Outros
Fonte: elaborado pelo autor.

49
5.3 Planejamento Produtivo e Forrageiro para o Sistema de Produção
A seguir serão apresentadas as recomendações sobre a estrutura do rebanho projetado e à
alimentação dos animais a pasto.

5.3.1 Grupo Genético para o Sistema de Produção


Segundo Aguiar (2015) e Silva (2016b) o processo de intensificação da produção de leite a
pasto envolve a interrelação de fatores do clima, solo, planta e animal, o que propicia dinamismo
neste sistema de produção. Para esses autores a eficiência de colheita da forragem é o ponto chave
para o sucesso dos sistemas intensificados e para que a excelência nesse quesito seja alcançada o
manejo do pastejo dos animais deve ser criteriosamente ajustado. Aliado ao manejo do pastejo, a
intensificação da produção de forragem por hectare é outro ponto essencial para maximização da
produção leiteira a pasto e ela é alcançada por meio de plantas forrageiras mais produtivas e
responsivas à altos níveis de adubação, desde que cultivadas em condições climáticas que permitam
seu desenvolvimento vegetativo. Fechando a relação entre esses fatores, o animal para esse sistema
de produção deve apresentar características específicas, pois toda energia despendida na formação
e no manejo das pastagens e do pastejo pode ser em vão, ou aquém do potencial, quando são
destinados animais de baixa especialização para converter em leite a forragem produzida pelas
pastagens (Aguiar, 2015). Para esse autor o conjunto de atributos das vacas leiteiras à pasto são
aparelho locomotor que permite capacidade de pastejar (caminhar para colheita de forragem),
resistência à parasitos, menor porte, elevada persistência e período de lactação e intervalo entre
partos próximo a 12 meses.
Com base nesse contexto, o grupo genético recomendado para o sistema de produção do
presente estudo é o F1 Holandês-Friesian de origem neozolandesa e Jersey norte-americano. A
escolha pelo Holandês-Friesian foi embasada pela sua seleção na Nova Zelândia, que buscou
animais mais adequados para produção a pasto naquele país, com menor porte e maior capacidade
de locomoção, garantindo a produção de leite de baixo custo (AGUIAR, 2015; LOPEZ-
VILLALOBOS et al., 2000a; LOPEZ-VILLALOBOS et al., 2000b; HOLMES, 1998, 2007). A
linhagem Holandês-Holstein, amplamente utilizada em confinamentos norte-americanos e no
Brasil, apresenta animais de maior porte e elevada produção de leite à custa do seu desempenho
reprodutivo, saúde e longevidade, características indesejáveis para produção à pasto. Já a raça
Jersey, é recomendada a utilização de linhagem norte-americana, que apresentam porte e produção

50
maiores que os animais neozolandeses. Neste caso, os animais da Nova Zelândia são
excessivamente pequenos, com reduzida capacidade de ingestão de alimento e menor produção por
consequência (DAIRY_NZ, 2011), característica interessante para produção naquele país, que é
exclusivamente à pasto em maior parte do território (HOLMES, 1998). Como no Brasil existe a
possibilidade de suplementação concentrada, é possível a escolha de animais mais produtivos para
compor o rebanho, de maneira que exista um equilíbrio entre produção individual e produção por
hectare na propriedade (ALMEIDA, 2013).
É amplamente reconhecida capacidade do cruzamento em promover heterose e
complementariedade entre raças. No cruzamento Holandês-Friesian x Jersey é possível atingir
superioridade produtiva da raça holandesa e sólidos totais do leite, precocidade sexual, fertilidade,
saúde, longevidade e facilidade de parto da raça Jersey. Em trabalho avaliando F1 Holandês-
Friesian x Jersey em pastejo na Irlanda, Prendville et al. (2010) observaram 95% da produção das
vacas puras Holandês-Friesian nas vacas mestiças com Jersey (17,1 vs 18,0 kg/dia), com heterose
de 4,3% para os animais mestiços (0,69 kg/dia). Também com tendência de superioridade, foi
observada maior concentração de sólidos nas vacas mestiças em comparação às vacas puras
holandesas (NETO et al., 2013; PRENDVILLE et al., 2009). No consumo de alimento, os trabalhos
têm demonstrado consumo absoluto similar entre vacas puras holandesas e vacas mestiças, o que
gera maiores valores relativos ao peso corporal, devido as mestiças apresentarem menor peso. O
maior consumo relativo ao peso corporal das vacas mestiças é herdado da raça Jersey, que é
reconhecida por esta característica. Prendville et. al. (2009) observaram valores superiores para
consumo de alimento relativo ao peso corporal em vacas mestiças, próximos à 3,0%.
Em relação à eficiência reprodutiva, trabalhos têm demonstrado superioridade das vacas
mestiças Holandês x Jersey em relação à vacas holandesas puras, demonstrando que as F1
permanecem mais tempo em cio, o que facilita sua identificação e a inseminação no momento
correto, além de apresentarem menor taxa de reabsorção embrionária (RODRIGUES, 2009). A
condição de maior fertilidade aliada à sua alta persistência de lactação permite que vacas Jersolando
apresentem período de lactação de 305 dias e intervalo entre partos de 365 dias, caracterizando um
animal especializado para produção de leite.
Para o peso ao nascimento desse grupo genético foi identificado que as bezerras mestiças
nascem, em média, com peso 35,2 kg, condição que não promove dificuldade de parto nas vacas,
que apresentam baixas taxas de distocia e retenção de placenta (PIZZOL, 2012; DIAS, 2010),
51
vantagem importante para sistemas de produção a pasto, cujo as vacas ficam menos tempo sob
vigilância em comparação à sistemas de confinamento. Avaliando o desenvolvimento de bezerras
e novilhas Jersolando, Rodrigues (2009) observou que as melhores taxas de prenhez de novilhas
são obtidas quando as mesmas apresentam entre 310 e 320 kg de peso corporal, o que também
garante seu desenvolvimento ponderal durante a gestação e em sua primeira lactação, que segundo
o autor pode iniciar aos 24 meses, variando em função dos planos nutricionais para esses animais.
Com base nisso, justifica-se a recomendação do F1 Holandês x Jersey para o sistema de
produção, com linhagem Friesian da Nova Zelândia para raça Holandesa e linhagem norte-
americana para raça Jersey, buscando animais com média de 5.185 kg de leite por lactação, com
produção média de 17 kg. Esses valores produtivos concordam com valores recomendados por
Aguiar (2015) para sistemas intensivos de produção de leite a pasto economicamente viáveis no
Brasil. Com base nisso, todos os parâmetros estabelecidos a seguir para o rebanho serão embasados
nas informações anteriormente discutidas.

5.3.2 Parâmetros e Fórmulas para Cálculos


As fórmulas utilizadas para os cálculos do sistema de produção e as siglas são apresentadas
no Anexo 1. Nos parâmetros estabelecidos para os cálculos (Tabela 10), foi determinado que o
período da estação chuvosa na propriedade será de 215 dias e 150 dias de período seco do ano,
momento que será necessária suplementação volumosa da dieta dos animais. Para o consumo diário
de forragem foi definido valor de 2,1% do peso corporal, o que corresponde à 70% do consumo de
dieta para animais mestiços Holândes-Friesian x Jersey (3,0%). O teor de matéria seca de forragem
produzida pelas pastagens foi estabelecido como 25%, conforme recomendado por Fukumoto et
al. (2010) para forrageiras tropicais e encontrado por Silva (2008). Em relação à estacionalidade
de produção forrageira, os valores estabelecidos para a Urochloa brizanta cv. Marandu (70:30)
foram em concordância com àqueles observados por autores (CARVALHO et al. 2016;
ANTUNES, 2016; GIMENES et al., 2011) avaliando a produção dessa planta nas diferentes
estações do ano sob adubação intensiva. Com mesma finalidade, Drumond et al. (2005) e Silva
(2008) também avaliaram essa característica e observaram valores próximos aos estabelecidos para
Panicum maximum cv. Mombaça (80:20).

52
Tabela 10. Parâmetros estabelecidos para os cálculos do sistema de produção.
Parâmetro Referência
Período de estação chuvosa 215
Período de estação seca 150
Consumo diário de dieta (% peso corporal) 3,0
Consumo diário de forragem (% peso corporal) 2,1
Matéria seca de forragem em pastagem (%) 25
Estacionalidade produtiva Urochloa brizantha cv. Marandu (% chuvas / % seca) 70/30
Estacionalidade produtiva Panicum maximum cv. Mombaça (% chuvas / % seca) 80/20
Proporção de vacas em lactação no rebanho (%) 83
Proporção de vacas secas no rebanho (%) 17
Taxa de reposição no rebanho (%) 17
Peso ao nascimento de bezerras (kg) 35
Ganho de peso de bezerras entre o nascimento e 90 dias de idade (kg/dia) 0,7
Ganho de peso de bezerras e novilhas entre 90 dias e 15 meses de idade (kg/dia) 0,6
Ganho de peso de bezerras e novilhas entre 15 e 24 meses de idade (kg/dia) 0,5
Fonte: elaborado pelo autor.

5.3.3 Estrutura do Rebanho


A estrutura do rebanho (Tabela 11) foi estabelecida baseada no cálculo do “Fator N” que
retorna ao número de vacas que a propriedade é capaz de comportar de acordo com a capacidade
de suporte das pastagens. Considerando que as demais categorias do rebanho são originadas das
vacas, a partir do “Fator N” é possível conhecer quantos animais de cada categoria é possível
manter no sistema de produção, naquelas condições de pastagem. Para chegar ao valor do número
de vacas em lactação e vacas secas no rebanho foi estabelecida a proporção de 83 e 17%, sendo
importante ressaltar que somente as 29 vacas multíparas do rebanho são consideradas no“Fator
N”, uma vez que as primíparas são oriundas dessas vacas. Esses valores percentuais foram
estabelecidos de acordo com as características do grupo genético recomendado para o sistema (F1
Holandês-Friesian x Jersey).

53
Tabela 11. Estrutura do rebanho projetado.
Categoria Nº de animais UA/categoria Nº UA's
Vacas em lactação 24 1,000 24,0
Vacas secas 5 1,000 5,0
Bezerras e novilhas até 15
8 0,461 3,6
meses
Novilhas até 24 meses 7 0,852 6,0
Vacas primíparas 12 1,000 12,0
Total 56 51
Fonte: elaborado pelo autor.

Em relação ao número de bezerras e novilhas, é recomendado recriar na propriedade


somente o número de animais que permita a reposição do rebanho, que será de 17%, valor próximo
ao estabelecido por Holmes (2007) como àquele que promove maior rentabilidade no sistema.
Considerando que existirão 41 vacas na propriedade (29 multíparas e 12 primíparas), será
necessária a recria de oito bezerras/novilhas até 15 meses para obtenção de sete novilhas com 24
meses, para reposição anual do rebanho, considerando mortalidades. A recomendação para
manutenção de menos animais jovens na propriedade visa manter a recria “enxuta”, permitindo
maior número de animais que produzem leite no sistema, ou seja, maior proporção de vacas em
lactação no rebanho, maximizando a receita na propriedade e reduzindo os custos. A título de
conhecimento, caso todos as fêmeas fossem recriadas, haveriam 12 bezerras/novilhas até 15 meses
e 12 novilhas com até 24 meses no sistema, aumentando o número de animais em recria e
consequentemente os custos, ao passo que reduziria o número de número de vacas no rebanho e a
receita da propriedade oriunda da venda do leite. Nesse cenário, o lucro do produtor seria drenado
tanto pelo aumento do custo de produção quanto pela redução da receita. Assim sendo, o número
de 15 animais em recria (8 bezerras/novilhas até 15 meses e 7 novilhas até 24 meses) projeta a
manutenção de 62% de animais jovens na propriedade, semelhante ao recomendado em literatura
(60%) para rebanhos estruturados e rentáveis (BARBOSA et al., 2009). É importante ressaltar que
nesse panorama não haverá venda de bezerras e novilhas, somente de animais descarte,
promovendo o leite como principal fonte de receita do sistema. Nesse planejamento, devem ser
criadas 10 bezerras em aleitamento, permitindo margem de mortalidade de dois animais para
obtenção de oito bezerras desaleitadas, que serão recriadas à pasto.
Outra recomendação relacionada à estrutura do rebanho é quanto aos planos nutricionais
para cria e recria, que devem ser formulados para os desempenhos preditos (Tabela 10).
54
Considerando que as bezerras F1 Holandês-Friesian x Jersey nascem com 35 kg e que elas devem
ser desaleitadas com 98 kg após 90 dias, o ganho médio diário de peso deverá ser de 700 g/dia. Já
para as novilhas conceberem com 15 meses de idade, Rodrigues (2009) recomendou peso entre
310 e 320 kg para esse grupo genético, logo, o desempenho recomendado para bezerras/novilhas
entre 3 e 15 meses é de 600 g/dia para atingirem 317 kg no primeiro serviço. Já para o peso aos 24
meses de idade, início da lactação das primíparas, recomenda-se desempenho de 500 g/dia, de
maneira que os animais atinjam valor próximo aos 450 kg ao parto, evitando comprometimento na
primeira lactação devido a partição de nutrientes para seu desenvolvimento e produção de leite. O
desempenho ponderal decrescente busca aproveitar a maior eficiência de conversão alimentar dos
animais jovens, principalmente daqueles em aleitamento. A performance menor no período entre
15 e 24 meses busca desafiar menos a novilha que estará em gestação pela primeira vez.
Existe atualmente no mercado brasileiro a comercialização de sêmen de touros F1
Holandês-Friesian x Jersey no Brasil (MILKPOINT, 2011; 2013), o que permite a manutenção do
grau genético do rebanho de 50% de genes de Holandês-Friesian e 50% de genes de Jersey. Apesar
da reconhecida variância fenotípica observada na progênie de touros F1, os sistemas de cruzamento
da Nova Zelândia veem apresentando êxito na utilização de sêmen de animais desse grupo genético
(ZONNEVELD, 2010), por isso recomendamos a utilização de sêmen desses animais nas vacas do
rebanho.
Devido à baixa especialização leiteira do rebanho atual da propriedade, é recomendada a
sua liquidação e a compra de vacas no mercado. Essa orientação parte do princípio que esses
animais não têm potencial mínimo para converter todo o investimento feito em produção de leite,
aumentando o risco da atividade caso eles sejam mantidos. Essa decisão cabe ao produtor, caso ele
venha executar o projeto, mas fica a orientação de liquidação do rebanho para levantamento de
capital que pode ser investido na formação e manejo de pastagens e infraestrutura de pastejo,
associada a compra de vacas com dinheiro de programas bancários de financiamento.

5.3.4 Direcionamento das Áreas


A lotação das áreas da propriedade é apresentada na Tabela 12. Esse arranjo foi estabelecido
a partir do panorama apresentado nos itens 3 e 4 deste trabalho, sendo discutido a seguir as
recomendações para as áreas definitivas, de acordo com realocação criteriosa.

55
5.3.4.1 Área de Recria
Antes da implantação do projeto a área destinada à recria deve ser roçada nas partes onde
há invasoras e em seguida ser vedada, para que o banco de sementes existente no solo germine e
ocorra o fechamento gradual da área com a Urochloa brizantha cv. Marandu. Esse setor da
propriedade dispensa reforma, pois a presença da forrageira é predominante em relação às plantas
daninhas locais. Apenas esse manejo é o suficiente para iniciar o processo de intensificação de
produção de forragem, sendo, no entanto, imprescindível que ele seja realizado antes que as
próximas etapas do projeto sejam executadas (formação da infraestrutura de piquetes, plano de
adubação e aquisição de animais).

Tabela 12. Direcionamento das áreas de pastagens.


Área Capacidade de Taxa de lotação
Categoria Planta Forrageira
(ha) suporte (UA/ha) (UA/ha)
Bezerras e novilhas até 15 meses Urochloa brizantha cv.
3,47 4,0 2,8
Novilhas até 24 meses Marandu
Vacas no 2º e 3º terços de
lactação Urochloa brizantha cv.
4,56 7,0 6,4
Marandu
Vacas secas
Panicum maxium cv.
Vacas no 1º terço de lactação 1,2 10,0
Mombaça 10,0
Vacas no pré-parto e bezerras em Cynodon dactylon cv.
0,25 - -
aleitamento Tifton-85
Total 9,48
Fonte: elaborado pelo autor.

A pastagem que será destinada à recria das bezerras e novilhas deverá operar com taxa de
lotação de 2,8 UA/há, estabelecendo-se para tal capacidade de suporte de 4,0 UA/ha. Essa diferença
entre capacidade de suporte e taxa de lotação permite que a produção de forragem pela pastagem
atenda à demanda dos animais também na estação seca do ano, dispensando suplementação
volumosa. Por ser uma área com menor teor de matéria orgânica no solo e acidentada, a capacidade
de suporte recomendada para essa pastagem foi menor em comparação ao outro setor da
propriedade que também apresenta a Urochloa brizantha cv. Marandu. O direcionamento desta
área para as categorias de recria foi em função da distância, buscando priorizar áreas mais próximas
para vacas em lactação. Devido a isso, será necessária a realocação de água de um local próximo
para bebedouros que deverão ser implantados na área de lazer do sistema de pastejo.
56
5.3.4.2 Área para Vacas do Lote 2
O grupo de vacas no 2º e 3º terços de lactação serão tratadas aqui como lote 2. Como no
diagnóstico, essa é a área da propriedade que atualmente apresenta o maior potencial forrageiro. A
reduzida proporção de invasoras deve ser roçada para o início do projeto, não havendo mais
recomendações. A capacidade de suporte estabelecida foi de 7,0 UA/ha, embasada pela taxa de
lotação já existente em um hectare dessa área, que opera em sistema de pastejo com lotação
rotacionada para sete vacas. Sendo possível alcançar tal produtividade para essa extensão do setor,
a recomendação da mesma capacidade de suporte para o restante da área é coerente, haja vista que
o manejo será, no mínimo, semelhante.

5.3.4.3 Área para Vacas do Lote 1


O lote 1 será composto por vacas no 1º terço de lactação. A área destinada para esse grupo
não apresenta presença de forrageira e é caracterizada por ser úmida. Dessa maneira, recomenda-
se a drenagem da área por meio de valetas até o córrego principal que corta a propriedade. Esse
trabalho será suficiente para remoção da umidade solo. Dentro desse perímetro existe a capineira
de 0,19 hectare que deve ser removida do local e sua área incorporada à área de pastagem. Em
seguida, deve ser feito o processo de formação de pastagem, com o Panicum maximum cv.
Mombaça, que será descrito adiante.
A capacidade de suporte estabelecida para a pastagem nessa área será de 10 UA/hectare, de
acordo com o alto potencial produtivo da forrageira (DRUMOND et al., 2005) e devido a
topografia plana do local, que favorece a eficiência da adubação. A destinação dessa pastagem para
as vacas no 1º terço de lactação é devido ao seu elevador valor nutricional (SILVA, 2008),
principalmente na estação chuvosa, o que reduz a necessidade de concentrado para suplementar a
dieta do grupo de vacas com maior produção no sistema. Além disso, a topografia plana e a
proximidade são fatores considerados para o direcionamento desse setor para essa categoria.

5.3.4.4 Área para Maternidade e Bezerras em Aleitamento


Para esses animais recomenda-se a formação da pastagem com a forrageira Cynodon
dactylon cv. Tifton-85, por apresentar alto valor nutricional (QUARESMA et al., 2011), atributo
importante para as bezerras, que têm elevada taxa de passagem gastrointestinal. Para as vacas em
57
pré-parto, o hábito de crescimento prostrado da planta facilita o trabalho de parto, por permitir que
os animais deitem com mais facilidade. Além disso, a massa de forragem de tifton-85 forma uma
cobertura mais adequada para o contato inicial da bezerra com o solo durante sua expulsão do útero,
bem como facilita a locomoção para mamada do colostro. É importante que a área das vacas em
pré-parto seja separada da área de criação das bezerras. Não foi estipulada capacidade de suporte e
taxa de lotação para essa pastagem devido ao uso pontual pelas vacas em pré-parto e ao uso
complementar para o desenvolvimento ruminal das bezerras, que devem ter sua dieta a base de leite
e concentrado.

5.3.4.5 Área de Canavial


A cana-de-açúcar foi escolhida para suplementação volumosa na estação seca do ano
(Tabela 13). Dentre seus atributos forrageiros, pode-se destacar na cana seu alto potencial
produtivo, fácil cultivo, coincidência de safra durante o período de escassez de forragem verde nos
pastos, alto poder energético devido seu conteúdo de açúcares, aceitação pelos animais,
manutenção do valor nutritivo após o ponto de maturação e possibilidade de redução do custo da
alimentação volumosa (PEREIRA, 2013).

Tabela 13. Direcionamento da área de canavial.


Teor de Cultivares
Área Produtividade Produção total da
matéria seca
(ha) (t/ha) área (t de MS) Precoce Média Tardia
(%)
1,4 70 30,0 2940,0 RB83-5486 SP80-3280 RB36-7515
Fonte: elaborado pelo autor.

Recomenda-se que o canavial seja formado por três variedades complementares, que
permita o fornecimento de alimento durante todo o período de estiagem. Dessa maneira,
recomenda-se uma cultivar precoce (RB83-5486), média (SP80-3280) e tardia (RB86-7515), para
suplementação de 150 dias. Segundo Macêdo e Silva (2013) e Silva (2016a), essas variedades
apresentam características como alta produção agrícola, facilidade de despalha, ausência de
florescimento (exceto para prococe), alto teor de sacarose, baixa relação FDN/sacarose, bom
perfilhamento e pouco tombamento, além de serem complementares quanto ao período de safra. O
corte deve iniciar pela variedade precoce, em seguida a média e no fim do período seco deve utilizar
a variedade tardia.
58
Em relação à produtividade, Silva (2016a) encontrou valores bem acima dos recomendados
para este trabalho, logo, a recomendação de 70 toneladas por hectare de cana-de-açúcar é segura e
passível de ser alcançada no campo. Além disso, também será recomendado adubações mais
intensivas do que aquelas recomendadas para essa produtividade, buscando obter produções
maiores como meio para cobrir as perdas e obter reserva de forragem. Em relação ao teor de matéria
seca, Rodrigues et al. (2002) encontraram valores que corroboram ao recomendado neste trabalho,
de 30% de massa seca. Para esse parâmetro, Silva (2016a) encontrou valores bem acima ao
recomendado neste trabalho, o que assegura o valor estabelecido.

5.3.5 Sistemas de Pastejo


Conforme a destinação das áreas, foram estabelecidos três sistemas de pastejo com lotação
rotacionada para o rebanho. Esse sistema é recomendado devido, principalmente, ele respeitar a
fisiologia de crescimento das plantas e aumentar a eficiência de colheita da forragem pelos animais
(Aguiar, 2015), permitindo maior taxa de lotação na pastagem.

5.3.5.1 Sistema de Pastejo para Recria


O sistema de pastejo para a recria (Tabela 14), composto pelo capim-marandu, terá,
aproximadamente, 25 dias de período de descanso durante a estação chuvosa e 38,5 dias durante a
seca (JÚNIOR et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2006). O cálculo do número de piquetes para a época
chuvosa é feito estabelecendo o período de descanso dos piquetes e para estação seca, com o
número de piquetes já definidos, é modificado o período de permanência dos lotes de maneira que
aumente o período de descanso. Essa condição permite mais tempo de crescimento para as plantas,
que estarão em condições ambientais restritivas. Dessa maneira, o período de permanência dos
lotes na estação chuvosa será de um dia e na seca de um dia e meio, aproximadamente. Como será
manejado dois lotes no sistema (desponte e repasse), o período de ocupação do piquete será de dois
dias, completando ciclo de pastejo de 27 dias na estação chuvosa e período de ocupação de três
dias e ciclo de pastejo de 42 dias na estação seca. A área de cada piquete será de 1.290 m².

59
Tabela 14. Período de descanso (PD), período de permanência (PP), número de lotes (NL),
período de ocupação (PO), ciclo de pastejo (CP), área total em hectare (AT), área de piquete em
hectare (AT) e número de piquetes do sistema de pastejo para a recria.
Estação Duração (dias) Parâmetros do Sistema de Pastejo
PD PP NL PO CP AT AP NP
Chuvosa 215
25 1 2 2 27 3,47 0,129 27
PD PP L PO CP AT AP NP
Seca 150
38,5 1,5 2 3 42 3,47 0,129 27
Fonte: elaborado pelo autor.

Todos os sistemas de pastejo deverão ser manejados com dois lotes, desponte e repasse.
Essa filosofia de trabalho busca maior eficiência na alimentação dos animais, ajustando o pastejo
de acordo com as exigências nutricionais de cada grupo. Dessa maneira, o lote desponte será o de
maior exigência nutricional, que pastejará o extrato de forragem de maior qualidade, seguido do
lote repasse, que consumirá o restante de forragem até a altura de saída recomendada (Tabela 15).
O manejo do pastejo será embasado em alturas de entrada e saída dos animais e não nos dias fixos
de descanso e ocupação. Esses dias são estabelecidos como referência, apesar deles se sobreporem
com as alturas como medida de manejo, uma vez que, os dias de descanso recomendados para as
forrageiras no período chuvoso, têm como objetivo permitir o crescimento do pasto até determinada
altura para o pastejo dos animais. Como sabemos que as condições climáticas influenciam
diretamente na taxa de crescimento do capim, recomenda-se não fixar os dias e sim fixar as alturas,
de maneira que a rotação dos animais seja ditada pelo lote repasse, que irá pastejar no piquete até
ajustar o porte do dossel ao recomendado.

Tabela 15. Alturas recomendadas para entrada e saída dos animais no piquete.

Altura do pasto (cm)


Forrageira
Pré-pastejo Pós-pastejo
cv. Marandu 25 10 a 15
cv. Mombaça 90 30 a 50
Fonte: adaptado de Santos e Fonseca (2016).

O manejo baseado em alturas permite que o pastejo pelos animais ocorra no momento em
que o dossel esteja com estrutura ideal, promovendo melhor desempenho (SANTOS & FONSECA,

60
2016). Pastejo em alturas acima do recomendado reduzem o desempenho dos animais devido a
qualidade nutricional da forragem ser inferior, em razão da maior concentração de FDN, além do
maior acúmulo de material morto. O pastejo abaixo da altura preconizada compromete o
desenvolvimento vegetativo das plantas, por consequência, modifica seu padrão de crescimento, o
que afetada diretamente a estrutura do pasto. Sendo assim, é essencial que as alturas sejam
mensuradas antes, durante e após o pastejo dos animais, buscando atender à demanda dos dois
fatores envolvidos, os animais e a planta. É recomendado um ponto de medição para cada 50 m²
de piquete (OLIVEIRA et al., 2006). Com base nessa orientação, nos piquetes das bezerras e
novilhas a altura do pasto deve ser mensurada em 26 pontos para se ter precisão no manejo. É
importante que as touceiras escolhidas sejam representativas dentro do piquete, desconsiderando
touceiras excessivamente pastejadas bem como àquelas que não foram consumidas pelos animais.
Durante o manejo diário pode ser observado pelo produtor que o piquete que apresentará
altura ideal de pastejo não necessariamente será àquele logo em sequência no sistema, havendo,
em alguns casos, piquetes mais adiante que apresentam altura adequada em detrimento àquele
imediato na sucessão. Esse cenário é favorecido por condições climáticas, como acúmulo de água
no piquete, incidência maior ou menor de luz, fertilidade do solo e topografia. Porém, como o
manejo é estabelecido pela altura dos pastos e não pela sequência de pastejo, prevalece como
prioridade de entrada àquele piquete que apresentará seu pasto com altura próxima ao
recomendado. De maneira geral, o crescimento das plantas nos piquetes é escalonado e ocorre em
padrão sequencial, porém, caso ocorra a antecipação, é importante que o produtor fique atento para
não perder a ordem no manejo. Outro aspecto que pode ser observado pelo manejador é que, em
momentos de calor e chuvas intensos, o crescimento do capim fica acelerado ao ponto do lote de
repasse levar mais dias para rebaixar o pasto, fazendo com que os piquetes subsequentes
ultrapassem ligeiramente a altura recomendada de entrada. Nesta situação, pode ser reduzida a
quantidade de fertilizante distribuída, que será descrita adiante, buscando ajustar a altura para o
próximo ciclo de pastejo.

5.3.5.2 Sistema de Pastejo para o Lote 2


O sistema de pastejo para essas vacas (Tabela 16) terá o mesmo manejo daquele
recomendado para as bezerras e novilhas (item 5.4.5.1) devido a planta forrageira ser a mesma, o
capim-marandu. A diferença desse sistema é o tamanho de cada piquete, que será de 1.690 m². O
61
estabelecimento dos dias de descanso e permanência, bem como os dias de ocupação e ciclo de
pastejo seguem as mesmas metodologias e referências (JÚNIOR et al., 2003; OLIVEIRA et al.,
2006). O manejo do pastejo dos animais também será baseado na altura de entrada e saída nos
piquetes, sendo recomendado a mensuração em 34 pontos dentro do perímetro.

Tabela 16. Período de descanso (PD), período de permanência (PP), número de lotes (NL),
período de ocupação (PO), ciclo de pastejo (CP), área total em hectare (AT), área de piquete em
hectare (AT) e número de piquetes do sistema de pastejo para o lote 2.

Estação Duração (dias) Parâmetros do Sistema de Pastejo


PD PP NL PO CP AT AP NP
Chuvosa 215
25 1 2 2 27 4,56 0,169 27
PD PP L PO CP AT AP NP
Seca 150
38,5 1,5 2 3 42 4,56 0,169 27
Fonte: elaborado pelo autor.

As demais considerações e orientações descritas para o sistema de pastejo da recria também


servem para esse sistema.

5.3.5.3 Sistemas de Pastejo para o Lote 1


Para este grupo de vacas a pastagem que formará o sistema (Tabela 17) será composta pelo
capim-mombaça. O período de descanso exigido por essa planta é maior (Tabela 15) em função do
seu porte elevado. Dessa maneira, as alturas de entrada e saída dos animais no piquete serão
diferentes daquelas estabelecidas capim-marandu. No período chuvoso o descanso dos piquetes
será de 30 dias, com período de permanência dos lotes, período de ocupação dos piquetes e número
de lotes semelhante aos descritos para os dois sistemas anteriores (itens 5.4.5.1 e 5.4.5.2), fazendo
com que o ciclo de pastejo fique em 32 dias. Já na estação seca o descanso do piquete será de 46
dias, valor elevado devido a exacerbada estacionalidade da planta. Para obter esse período de
descanso, o período de permanência dos lotes foi ajustado para um dia e meio em cada piquete,
que passará a ter três dias de período de ocupação. Somando o período de ocupação ao período de
descanso, o ciclo de pastejo terá 49 dias. Os piquetes desse sistema terão 375 m², demandando 8
pontos para medição de altura.

62
Tabela 17. Período de descanso (PD), período de permanência (PP), número de lotes (NL),
período de ocupação (PO), ciclo de pastejo (CP), área total em hectare (AT), área de piquete em
hectare (AT) e número de piquetes do sistema de pastejo para o lote 1.

Estação Duração (dias) Parâmetros do Sistema de Pastejo


PD PP NL PO CP AT AP NP
Chuvosa 215
30 1 2 2 32 1,2 0,0375 32
PD PP L PO CP AT AP NP
Seca 150
46 1,5 2 3 49 1,2 0,0375 32
Fonte: elaborado pelo autor.

As demais considerações e orientações descritas para o sistema de pastejo da recria também


devem ser seguidas para o sistema deste grupo de animais.

5.3.6. Balanço Forrageiro nos Sistemas de Pastejo


Neste item será tratado sobre a produção de forragem por cada sistema de pastejo e a
demanda dos grupos de animais que iram consumir o alimento nestas pastagens. No final de cada
tópico será discutida a necessidade de suplementação volumosa para àqueles sistemas que
apresentarem tal demanda.

5.3.6.1 Balanço Forrageiro no Sistema para Recria


Os animais de recria foram divididos nos lotes desponte e repasse considerando o critério
estabelecido (exigências nutricionais), conciliando a qualidade da forragem à fase de vida do
animal. As bezerras e novilhas com idade entre três e 15 meses deverão pastejar no lote de desponte,
enquanto as novilhas acima de 15 meses formarão o lote repasse. A escolha pela categoria mais
jovem como desponte consiste, primeiramente, na dificuldade de animais recém-desaleitados em
adaptar-se a uma dieta exclusivamente sólida. Apesar da recomendação para as bezerras serem
criadas em piquete de capim-tifton85, o contato inicial em nova forrageira tende a ser severo para
esses animais, o que agrava quando a qualidade nutricional da forragem consumida durante o
aleitamento é maior que àquela que será consumida na fase de recria. Assim sendo, fornecendo
forragem de melhor qualidade a esses animais, reduz-se o impacto inicial. Somado a isso, animais
jovens apresentam maior taxa de passagem, logo, o alimento fornecido deve ter a melhor qualidade
possível para que a absorção intestinal de nutrientes seja em aporte adequado. Outro desafio que

63
este grupo de animais será submetido é a concepção aos 15 meses de idade, que exige considerável
desempenho em ganho de peso, o que é mais facilmente atingível com forragem de melhor
qualidade. Considerando que o consumo do lote desponte será reduzido, devido ao menor porte
dos animais, certamente haverá oferta abundante de forragem para as novilhas do lote repasse, fator
importante ao se considerar que elas estarão em gestação e em desenvolvimento corporal
concomitantes.
Avaliando o balanço forrageiro no sistema para recria durante a estação chuvosa (Tabela
18), verificamos que a oferta de forragem pelas pastagens será suficiente, ao ponto de restar 60%
da necessidade de consumo dos animais após o pastejo, além do valor residual considerado na
capacidade de suporte da forrageira. Este balanço permite seleção dos animais, garantindo que a
forragem consumida em pastejo seja de excepcional qualidade.

Tabela 18. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para a recria na estação chuvosa.
Acúmulo de Balanço
Nº de Consumo diário
Lote Categoria forragem/piquete forrageiro
animais (kg/PP)
(kg) (kg)
Bezerras e novilhas entre
Desponte 8 34
3 e 15 meses de idade
144,3 53,6
Novilhas entre 15 e 24
Repasse 7 56,7
meses de idade
Total 15 90,7
Fonte: elaborado pelo autor.

O balanço forrageiro da estação seca (Tabela 19) mostra que a suplementação volumosa
desses animais será dispensada, no entanto, recomenda-se que a relação de volumoso e concentrado
da dieta passe de 70:30 para 65:35. Essa alteração reduz a necessidade de forragem dos animais,
permitindo que o alimento produzido pelas pastagens atenda a demanda dos lotes, com balanço
positivo de 10 kg.

64
Tabela 19. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para a recria na estação seca.
Acúmulo de Balanço
Nº de Consumo diário
Lote Categoria forragem/piquete forrageiro
animais (kg/PP)
(kg) (kg)
Bezerras e novilhas
Desponte entre 3 e 15 meses de 8 47,4
idade 137 10,6
Novilhas entre 15 e 24
Repasse 7 79,0
meses de idade
Total 15 126,4
Fonte: elaborado pelo autor.

Este cenário é possível devido a redução da recria recomendada para o sistema de produção.
Caso toda cria do sistema fosse mantida na propriedade, o balanço forrageiro para esses animais
seria de -67 kg/dia na estação seca e -2,2 kg/dia na chuvosa, mesmo com relação de volumoso e
concentrado de 65:35. Isso mostra a importância da manter uma recria enxuta para operação do
sistema com mais vacas.

5.3.6.2 Balanço Forrageiro no Sistema para o Lote 2


Neste sistema, o lote desponte será composto pelas vacas no 2º terço de lactação e
primíparas no 2º e 3º terços de lactação e o lote repasse pelas vacas no 3º terço de lactação e vacas
secas. O mesmo critério foi estabelecido para esse grupo de animais, considerando que vacas no 2º
terço de lactação apresentam exigência nutricional maior do que àquelas no 3º terço. Fechando o
lote de desponte estão as novilhas no 2º e 3º terços de lactação, que, por serem animais ainda em
desenvolvimento corporal, devem ser priorizados quanto a qualidade da forragem ofertada. Por
fim, as vacas secas irão compor o lote repasse juntamente com as vacas no último terço de lactação.
O balanço forrageiro desse sistema mostra que na estação chuvosa (Tabela 20) haverá
balanço positivo de 57 kg, entre demanda e oferta de alimento, permitindo margem de 20% da
demanda para seleção dos animais, valor considerado bom.

65
Tabela 20. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para o lote 2 na estação chuvosa.
Acúmulo de Balanço
Nº de Consumo
Lote Categoria forragem/piquete forrageiro
animais diário (kg/PP)
(kg) (kg)
Vacas no 2º terço de
8 77,9
lactação
Desponte
Primíparas no 2º e 3º
8 71
terços de lactação 331,9 57,2
Vacas no 3º terço de
8 77,9
Repasse lactação
Vacas secas 5 47,9
Total 29 274,7
Fonte: elaborado pelo autor.

Para estação seca o balanço forrageiro (Tabela 21) para o sistema será -97 kg/dia, indicando
a necessidade de suplementação volumosa para esses animais (23% da demanda).

Tabela 21. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para o lote 2 na estação seca.
Consumo Balanço
Nº de Acúmulo de
Lote Categoria diário forrageiro
animais forragem/CP/piquete (kg)
(kg/PP) (kg)
Vacas no 2º terço de
8 116,8
lactação
Desponte
Primíparas no 2º e 3º terços
8 106,5
de lactação 314 -97,9
Vacas no 3º terço de
8 116,8
Repasse lactação
Vacas secas 5 71,8
Total 29 411,9
Fonte: elaborado pelo autor.

5.3.6.3 Balanço Forrageiro no Sistema para o Lote 1


As vacas do lote 1 são todas àquelas no 1º terço da lactação, sendo os animais de maior
exigência nutricional do sistema de produção. O lote desponte será composto pelas vacas que
estarão antes do pico de lactação e por todas primíparas no terço inicial de lactação,
independentemente de estarem antes ou após o pico. O lote repasse será formado pelas vacas
multíparas que estão no primeiro terço de lactação, porém após o pico. A separação das vacas em
função do pico está relacionada ao balanço energético negativo, que é mais severo nos primeiros
dias de lactação, quando a produção dos animais está crescente. A manutenção de todas as
66
primíparas no lote de desponte foi pautada no desenvolvimento ponderal desses animais, que,
mesmo estando após o pico de lactação e com balanço energético menos severo, se assemelham
em exigência a vacas multíparas que ainda não atingiram o pico.
Para este sistema, o balaço forrageiro durante a estação chuvosa (Tabela 22) se apresenta
positivo com 30 kg/dia a mais de forragem acumulada no piquete além da demanda dos animais, o
que corresponde a 26%, valor que permite melhor seleção pelas vacas durante o pastejo.

Tabela 22. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para o lote 1 na estação chuvosa.
Consumo Balanço
Nº de Acúmulo de
Lote Categoria diário forrageiro
animais forragem/CP/piquete (kg)
(kg/PP) (kg)
Vacas no 1º terço de
4 39
lactação antes do pico
Desponte
Primíparas no 1º terço de 144 30,5
4 35,5
lactação
Vacas no 1º terço de
Repasse 4 39
lactação após o pico
Total 12 113,5
Fonte: elaborado pelo autor.

Já na estação seca (Tabela 23) a necessidade de suplementação se faz necessária, com


demanda diária de 91 kg para todo o lote (53% da demanda total).

Tabela 23. Balanço forrageiro do sistema de pastejo para o lote 1 na estação seca.
Acúmulo de Balanço
Nº de Consumo
Lote Categoria forragem/CP/piquete forrageiro
animais diário (kg/PP)
(kg) (kg)
Vacas no 1º terço de
4 58,5
lactação antes do pico
Desponte
Primíparas no 1º terço
4 53,3 79 -91,2
de lactação

Vacas no 1º terço de
Repasse 4 58,4
lactação após o pico
Total 12 170,2
Fonte: elaborado pelo autor.

67
5.3.7. Plano de Suplementação Volumosa
De acordo com a necessidade de suplementação gerada pelos lotes 1 e 2, a seguir é
recomendado um plano de manejo (Tabela 24). A demanda dos animais apresentada pelo balanço
forrageiro é em matéria seca, enquanto a necessidade de fornecimento diário é apresentada em
matéria natural. A demanda dos dois lotes perfaz 189 kg de matéria seca diariamente, o que gera
necessidade de 630 kg/dia de matéria natural de cana-de-açúcar. As vacas do lote 1 exigem 25 kg
de cana por dia, enquanto as vacas do lote 2 exigem 11 kg diariamente. Essa diferença é explicada
pela maior estacionalidade produtiva do capim-mombaça em relação ao marandu, confirmada pela
diferença relativa entre acúmulo e demanda. Para o lote 1 cada piquete acumula 46% da demanda
diária dos animais, enquanto os piquetes do lote 2 acumulam 76%, durante a estação seca.

Tabela 24. Plano de suplementação volumosa para os lotes 1 e 2 durante a estação seca.
Área total
Balanço Nº de Necessidade de Consumo/ Consumo Área diária
de
Lote forrageiro animai suplementação cabeça/dia diário do lote de canavial
canavial
diário (kg MS) s total (kg MS) (kg MN) (kg MN) (m²)
(ha)

1 -91,2 12 13.624 25,2 303 0,65 43,3

2 -98,2 29 14.724 11,3 327 0,7 46,7

Total -189,4 41 28.348 630 1,35 90


Fonte: elaborado pelo autor.

A demanda total dos dois lotes durante a estação chuvosa será de 28 toneladas de matéria
seca, demandando 1,35 hectares. Como manejo recomenda-se o corte de 90 m² de canavial
diariamente para atender a demanda dos animais.

5.3.8 Protocolo de Formação de Pastagem e Canavial


As orientações básicas para o processo de formação das pastagens e do canavial (Tabela
25) tem por objetivo direcionar as etapas que devem ser cumpridas. As três áreas destinadas para
formação apresentam topografia favorável à mecanização, podendo todo o trabalho ser terceirizado
para o uso de trator e implementos agrícolas, acelerando o processo devido a agilidade alcançada
e área reduzida.

68
Tabela 25. Cronograma de preparo das áreas para formação de pastagem e canavial.
Área Preparo do solo (momento)

Drenagem Aração Gradagem Semeio Gradagem leve


Lote 1
(julho) (agosto) (agosto) (novembro) (novembro)
Distribuição dos
Maternidade Aração Gradagem estolões em área Gradagem leve
-
e Bezerras (agosto) (agosto) total (novembro)
(novembro)
Distribuição dos
Aração Gradagem Formação de sulcos colmos e fechamento
Canavial -
(agosto) (agosto) (novembro) dos sulcos
(novembro)
Fonte: elaborado pelo autor.

Para a área do capim-mombaça é recomendada a drenagem via valetas até o córrego da


propriedade, para remoção de toda umidade da superfície. Este trabalho deve ser realizado durante
a estação seca (julho) por ocasião do menor volume de água no local, usando retroescavadeira para
alcançar profundidades abaixo de um metro. Em agosto deve ser feita aração seguida de gradagem
em todas as áreas. Uma segunda gradagem só deve ser realizada caso o destorroamento não seja
efetivo. Em novembro o semeio na área de capim-mombaça deve ser realizado e distribuição das
mudas de tifton-85 a lanço em área total, seguida por gradagem leve e destravada para incorporação
superficial do material de propagação ao solo, em ambas áreas. No mesmo mês, na área de
formação do canavial, deve ser feita a abertura dos sulcos em profundidade de 40 cm e espaçamento
entre linhas de 1,2 metro (DUARTE, 2009). É indispensável que a profundidade recomendada seja
atingida para evitar o tombamento do canavial e consequentemente reduzir sua longevidade. Além
disso, as linhas devem ser formadas de maneira bem definidas, permitindo sua contagem,
procedimento que facilitará a adubação do canavial. Em seguida deve ser feita a adubação (descrita
adiante) e fechamento dos sulcos.
A propagação vegetativa das plantas (Tabela 26) será feita com sementes (capim-
mombaça), estolões (capim-tifton85) e colmos (cana-de-açúcar). Para as sementes os cálculos
foram realizados considerando os parâmetros pureza, germinação, valor cultural, número de
sementes por quilo de sementes puras, número de sementes puras viáveis por quilo e em relação
ao stand forrageiro foi considerado número de plântulas por hectare (200.000), percentual de
sobrevivência e fator de correção (condições de semeadura). O valor estimado foi de 12 kg/ha

69
baseando em parâmetros médios de produtos comerciais, fechando a necessidade total para área de
15 kg. Para as mudas de Tifton-85 foi usada como referência a recomendação de um hectare de
muda para formação de dez hectares de pastagem, chegando ao valor 2.600 kg/hectare, que gerou
a demanda de 650 kg para formação da área. Por fim, para formação de um hectare de cana-de-
açúcar a demanda é de 12 toneladas de colmo (MACÊDO & SILVA, 2013), necessitando de 16,8
toneladas para estabelecer o canavial na propriedade. Como serão utilizados três cultivares, serão
necessárias 5,6 toneladas de cada uma, para formar 0,46 hectare. É recomendado colocar 16 a 18
gemas por metro linear de sulco.

Tabela 26. Recomendações de quantidades de sementes e mudas para formação de pastagem e


canavial.

Forma de Recomendação Quantidade


Forrageira
propagação (kg/ha) total (kg)

cv. Mombaça Sementes 12 15


cv. Tifton-85 Mudas (estolões) 2.600 650
Cana-de-açúcar Mudas (colmos) 12.000 16.800
Fonte: elaborado pelo autor.

A adubação de formação tem por finalidade fornecer os nutrientes para desenvolvimento


inicial e estabelecimento das plantas forrageiras no ambiente da pastagem ou da lavoura. Para tanto,
as doses recomendadas (Tabela 27) devem ser utilizadas somente para este momento, de formação.
Para obtenção das elevadas produtividades sugeridas neste projeto, será recomendado um plano de
adubação de produção, descrito adiante. Para os capins mombaça e tifton-85 as recomendações
para nitrogênio, fósforo e potássio foram baseadas em Macedo (2004) para formação de pastagens
com essas plantas em solos do estado de Minas Gerais. O potássio para a área de capim-mombaça
não foi recomendado devido a elevada concentração desse nutriente no solo (121 mg/dm³). Nas
duas áreas o fósforo deve ser distribuído no momento do semeio/plantio e o nitrogênio e potássio
30 dias após a germinação. Caso o semeio do capim-mombaça seja feito em linhas, o adubo
fosfatado deve ser inserido abaixo e ao lado da semente, porém, sendo a lanço em área total, similar
às mudas de tifton-85, o fósforo deve ser distribuído da mesma maneira.

70
Tabela 27. Recomendações de nutrientes para formação de pastagem e canavial.

Recomendação (kg/ha)
Solo
N K2O P2O5
Sistema de Pastejo Lote 1
50 0 80
(cv. Mombaça)

Piquete maternidade e
50 40 80
bezerras (cv. Tifton-85)

Canavial
100 100 120
(os três acessos)

Fonte: adaptado de Macedo (2004) e Duarte (2009).

Para cana-de-açúcar as doses e o manejo foram recomendados em concordância com Duarte


(2009). Para as doses de nitrogênio e potássio foi considerada a alta exigência da planta durante
seu perfilhamento, momento que é definido o stand do canavial, parâmetro diretamente relacionado
ao desempenho produtivo da lavoura. A adubação fosfatada foi orientada baseada na fertilidade do
solo, na importância do elemento para o desenvolvimento radicular da planta e possibilidade de
incorporação do adubo ao solo durante o plantio. Os três adubos devem ser distribuídos no fundo
do sulco antes da inserção dos colmos. Os fertilizantes adotados para adubação de formação foram
ureia (45% N), cloreto de potássio (60% K2O) e monoamônio fosfato (50% P2O5), cujo as doses
(Tabela 28) foram estabelecidas de acordo com a concentração de nutrientes de cada um. O plano
de correção da acidez do solo será apresentado adiante.

Tabela 28. Recomendações de doses de fertilizantes para formação de pastagem e canavial.

Recomendação (kg/ha)
Solo MAP
Ureia KCl
(50%
(45% N) (60% K2O)
P2O5)
Sistema de Pastejo Lote 1
120 0 160
(cv. Mombaça)
Piquete maternidade e
120 70 160
bezerras (cv. Tifton-85)
Canavial
230 170 240
(os três acessos)
Fonte: elaborado pelo autor.
71
5.3.9 Plano de Correção e Adubação do Solo
A seguir serão apresentadas recomendações de correção e adubações para as áreas de
pastagens e cana-de-açúcar, bem como o manejo que deve proceder e todos os insumos a serem
utilizados como fontes dos nutrientes recomendados.

5.3.9.1 Recomendações para Correção da Acidez do Solo


Com base nos resultados da análise de solo (Anexo 2) e considerando a intensificação da
produção de forragem por hectare, as recomendações para correção da acidez do solo são
apresentadas a seguir (Tabela 29). O solo da área que será formada pastagem de capim-mombaça
não demanda correção da acidez e nem fertilização para reposição de cálcio e magnésio,
apresentando atributos que permitem classifica-lo como um solo de elevada fertilidade natural. Os
solos das áreas que receberão o sistema de pastejo da recria e do lote 2 apresentaram baixos valores
para saturação por bases, pH, cálcio, magnésio e elevada saturação por alumínio, se caracterizando
como solos pobres em fertilidade. Por fim, os solos das áreas de canavial e piquete maternidade
apresentaram atributos que permitem classifica-lo como solos de média fertilidade. Apesar da
média fertilidade da área de pré-parto, a recomendação de corretivo foi elevada devido a maior
exigência da planta forrageira recomendada para o local (Tifton-85). Para esta área e para as áreas
de canavial e lote 2 a recomendação foi pautada na elevação da saturação por bases e para área de
recria o parâmetro foi a neutralização do alumínio, sendo adotada, em todos os casos, aquela
metodologia que retornasse à maior dose recomendada. Foi adotado como recomendação 50% de
saturação por bases para o capim-marandu e 60% para o capim-tifton85 e cana-de-açúcar. O PRNT
(poder relativo de neutralização total) estabelecido foi de 85%.

72
Tabela 29. Recomendações de doses de corretivo e manejo da correção da acidez dos solos da
propriedade.
Recomendação Nº total de sacos
Solo Momento Distribuição Incorporação
(t/ha) de agrosilício
Sistema de
2,0 138
Pastejo Recria
Sistema de
2,3 209 A lanço em
Pastejo Lote 2
Agosto área total Não realizar
Canavial 1,0 28 manualmente

Pré-parto e
2,0 10
bezerras
Fonte: elaborado pelo autor.

A distribuição do material manual a lanço e em área total, no mês de agosto. Existe a


possibilidade de distribuição mecanizada apenas nas áreas do canavial e piquete maternidade. O
momento ideal para realizar esse trabalho é aquele quando não há incidência excessiva de ventos,
para evitar deriva.
O produto recomendado para correção é o agrosilício (silicato de cálcio e magnésio), tendo
em vista sua maior solubilidade (6x) em comparação ao calcário (FELIPE, 2012; CASTRO, 2009),
o que promove a neutralização do alumínio e elevação do pH, saturação por bases, cálcio e
magnésio em camadas subsuperficiais do perfil do solo (até 20 cm). Nesses estudos foram
verificados melhores efeitos desse corretivo na camada de 10 a 20 cm do solo sem sua
incorporação, quando comparado a situações em que ele foi incorporado. Esses benefícios
permitem reduzir a mão-de-obra e os custos com operação neste processo, além da menor
mortandade de plantas em casos em que a incorporação é realizada. Em comparação ao calcário,
produto mais usual para correção da acidez, o agrosilício também se mostrou mais eficiente, tanto
quando se adotou o manejo de incorporação quando foi realizada somente distribuição superficial
(CASTRO, 2009).
Além dessas características, a presença silício garante fornecimento desse elemento para a
planta que, apesar de não ser considerado um nutriente, apresenta função importante na sua
proteção fitossanitária. Ao se acumular na epiderme, o silício confere resistência à parede celular
e, consequentemente, evita a penetração de insetos-praga, nematoides e microrganismos
patogênicos, diminuindo a incidência de fitomoléstias. Somado a isso, a maior resistência da parede
73
celular permite menor perda de água por evapotranspiração e a presença do silício também
promove maior eficiência fotossintética (CASTRO, 2009).
Considerando sua característica de maior mobilidade, a recomendação para aplicação de
agrosilício foi feita para 20 cm de profundidade. Especialistas (FONSECA et al., 2012; LUZ, 2007)
têm mostrado que os efeitos da incorporação de corretivo (calcário) a curto prazo são interessantes,
no entanto, a médio e longo prazo os mesmos efeitos são observados em solos sob pastagens. Além
disso, os autores somam como vantagem da aplicação superficial a não alteração da estrutura física
do solo, não mineralização da matéria orgânica e manutenção da integridade física das plantas.
Dessa forma, associando as vantagens da aplicação superficial de corretivo com as qualidades
inerentes ao agrosilício, a aplicação desse material em toda a propriedade será realizada à lanço,
em área total e sem incorporação, inclusive para as áreas que receberão formação de pastagem.
Essa medida torna o processo mais simples e menos oneroso, sem comprometer a eficiência da
correção da acidez (FONSECA et al., 2012).
Para correção da acidez recomenda-se análises de solo a cada 42 meses (3,5 anos) para
verificar os parâmetros (alumínio, pH, saturação por bases, cálcio e magnésio) que interferem
diretamente na produtividade das pastagens. Considerando que se trata de um sistema intensificado
de produção de leite a pasto, é importante que a reposição de corretivo não seja retardada e ocorra
em doses tecnicamente recomendadas, acompanhando o plano descrito, para garantir valores de
acidez ativa em intervalos aceitáveis e o fornecimento de cálcio e magnésio.
É importante que esse processo seja realizado no início a estação seca, quando são sessadas
às adubações nitrogenadas. O efeito de elevação do pH na superfície do solo potencializa as perdas
de nitrogênio por volatilização (FONSECA et al., 2012). Realizando este trabalho nesta época
garante período de 150 dias para reação do calcário até a próxima estação de crescimento, quando
são reiniciadas as adubações.

5.3.9.2 Recomendações para Adubação de Produção


A recomendação de nutrientes para as pastagens e para o canavial (Tabela 30) seguiu
critérios técnicos para garantir alta produtividade de forragem no sistema, promovendo oferta de
alimento constante durante todo o ano. Para área de recria a recomendação de nitrogênio foi
baseada na recomendação de 60 kg/UA/ano (SANTOS & FONSECA, 2016), considerando
capacidade de suporte de 4,0 UA/ha neste sistema de pastejo. Os níveis de potássio foram
74
estabelecidos segundo Freire et al. (2013) para sistemas de alto nível tecnológico, que recomenda
relação N:K2O de 1:0,75 para níveis de saturação por bases entre 46 e 60%. Já o fósforo foi
recomendado segundo Macedo (2004) para solos de Minas Gerais, com níveis do elemento
semelhantes ao encontrado nesta área.

Tabela 30. Recomendações de nutrientes para adubação de produção das pastagens e do canavial.
Recomendação (kg/ha/ano)
Solo
N K2O P2O5
Sistema de Pastejo
240 180 100
Recria (cv. Marandu)

Sistema de Pastejo Lote 1


500 40 80
(cv. Mombaça)

Sistema de Pastejo Lote 2


350 210 100
(cv. Marandu)
Canavial
90 90 50
(todos as cultivares)
Fonte: adaptado de Macedo (2004) e Santos e Fonseca (2016).

Para o solo do sistema de pastejo do lote 1 a recomendação foi baseada na literatura que
indica 50 kg/UA/ano para a cv. Mombaça (SANTOS & FONSECA, 2016). Para essa área,
considerando a elevada concentração de potássio no solo, foi recomendado apenas 40 kg/ha/ano de
K2O. Caso a produtividade da forrageira fique abaixo do esperado, novas recomendações para esse
nutriente podem ser consideradas. O fósforo foi recomendado de acordo a fertilidade do solo.
Para a área destinada ao lote 2 o nitrogênio foi recomendado na ordem de 50 kg/UA/ano,
valor pouco abaixo daquele para área de recria, devido a topografia permitir maior eficiência na
adubação, reduzindo as perdas por lixiviação. Para o potássio foi considerada a relação de N:K2O
de 1:0,6, em função do solo, que apresentou níveis médios para este nutriente, o que reduz a
exigência de fertilizante externo para nutrição das plantas. A recomendação para fósforo seguiu o
mesmo padrão, em função da fertilidade para este nutriente.
Para o canavial as orientações objetivaram maior produtividade em relação aquelas
estabelecidas inicialmente para a forrageira (70 t/ha). Como a área destinada de lavoura (1,4 ha) é
praticamente semelhante à área necessária para suplementação dos animais (1,35 ha), buscou-se
margem produtiva via adubação, permitindo assegurar reserva de forragem e considerando as

75
perdas que haverá durante a colheita. A recomendação para o nitrogênio é de 1 kg/tonelada de
matéria natural produzida (DUARTE, 2009), sendo recomendado a adubação com 90 kg/ha/ano
desse nutriente. Para o potássio este autor recomenda a proporção de a relação N:K2O de 1:1 ou
1:1,5, considerando que a extração desse nutriente em lavouras é elevada. Como a concentração do
elemento no solo estão em níveis médios, a proporção adotada foi de 1:1, recomendando 90
kg/ha/ano de K2O. Para o fósforo, a recomendação é que o maior fornecimento seja feito no plantio,
considerando sua baixa mobilidade quando distribuído em superfície. De acordo com Duarte
(2009), para cada tonelada de matéria natural produzida deve ser reposto 700 g de P2O5 para o solo
anualmente, logo, para produção de 90 t/ha recomenda-se adubação de produção de 65 kg/ha/ano
de P2O5. Para este elemento a adubação intensiva ocorre na formação do canavial, momento que
permite sua incorporação ao solo. Os fertilizantes nitrogenados e potássicos (Tabela 31) foram os
mesmos daqueles recomendados para formação. A fonte de fósforo recomendada para adubação
de produção foi o fosfato natural reativo (28% de P2O5), que, apesar de apresentar menor
concentração, contém 14% de fósforo com maior mobilidade no solo, característica importante
para adubações em cobertura.

Tabela 31. Recomendações de doses de fertilizantes para adubação de produção das pastagens e
do canavial.

Recomendação (kg/ha/ano)
Solo Fosfato Natural
Ureia KCl
Reativo
(45%) (60% K2O)
(28% P2O5)
Sistema de Pastejo
540 300 360
Recria (cv. Marandu)
Sistema de Pastejo Lote 1
1.120 70 290
(cv. Mombaça)
Sistema de Pastejo Lote 2
780 470 360
(cv. Marandu)
Canavial
200 150 180
(todos as cultivares)
Fonte: elaborado pelo autor.

76
5.3.9.3 Manejo da Adubação de Produção
O procedimento para adubação de produção consiste na definição da estação de crescimento
das plantas forrageiras, que ocorre durante o período chuvoso, estabelecido no projeto como 215
dias. Com esse período definido, foi estabelecida a quantidade de fertilizante que deve ser
distribuída por piquete a cada ciclo de pastejo (Tabela 32). É importante que as adubações sejam
realizadas com o solo úmido, para evitar as perdas de nitrogênio por volatilização, sendo
recomendado ser feita no mesmo dia ou no dia seguinte a ocorrência de chuvas na propriedade.
Dessa maneira, fica evidente que a adubação não necessariamente deve ser realizada logo em após
a saída dos animais do piquete. Para se programar, é importante que o produtor acompanhe as
previsões de chuvas para região. Os fertilizantes devem ser pesados separadamente e
homogeneizados em seguida, para distribuição única e conjunta. Épocas de elevada precipitação e
calor intenso podem promover crescimento acelerado do capim, fazendo com que a altura de
entrada dos animais nos piquetes esteja acima do recomendado. Neste caso, deve ser distribuído
apenas 70% da dose dos fertilizantes e observado no ciclo de pastejo seguinte se a altura foi
ajustada, podendo o valor ser reduzido para 60 ou 50% ou retornado para dose integral, de acordo
com a altura mensurada.

Tabela 32. Manejo da adubação de produção nos sistemas de pastejo.


Ciclo Recomendação (kg/piquete/ciclo de pastejo)
Sistema Estação de
Área Nº de de Fosfato Natural
de crescimento Ureia KCl
(ha) piquetes pastejo Reativo
Pastejo (dias) (45%) (60% K2O)
(dias) (28% P2O5)
Recria 3,47 27 27 8,7 4,8 5,8

Lote 1 1,2 32 32 215 6,3 0,4 1,6

Lote 2 4,56 27 27 16,5 10,0 7,6

Fonte: elaborado pelo autor.

A adubação do canavial (Tabela 33) deve ser parcelada para todos os nutrientes, com 50%
da dose sendo distribuída após o corte e os outros 50% quando as plantas apresentarem 50 cm de
altura. Cada quantidade por parcela deve ser dividida pelo número de linhas da lavoura e pelo
comprimento médio das linhas, de maneira que seja conhecida a dose por metro linear que deve
ser depositada no solo. A distribuição deve ser realizada ao pé da planta.
77
Tabela 33. Manejo da adubação de produção do canavial.
Recomendação total (kg/ano)
Ureia KCl Fosfato Natural Reativo
Cana-de-açúcar (45%) (60% K2O) (28% P2O5)
200 150 180

Recomendação parcelada (kg/parcela)


Após o corte 100 75 90
Plantas com 50 cm de
100 75 90
altura
Fonte: elaborado pelo autor.

78
6. CONCLUSÃO

A intensificação da produção de leite a pasto é o resultado da equação entre o potencial


produtivo da planta forrageira, planos de adubação para aumento de produção, manejo do pastejo
pelos animais, valor genético para produção de leite das vacas e gestão dos processos do sistema
de produção.
As recomendações técnicas realizadas para o sistema de produção potencializam cada fator
desta equação, permitindo alcançar o resultado almejado de intensificação da produção de leite por
hectare.
Caso o projeto venha a ser executado pelo produtor, recomenda-se uma avaliação
econômica associada à uma evolução de rebanho em cinco anos, o que não foi objetivo deste
projeto.
A execução do projeto deve ser acompanhada de assistência técnica especializada de um
Zootecnista.

79
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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88
ZONNEVELD, L. The use of crossbred sires (Holstein-Friesian/Jersey) in the New Zealand dairy
industry. A Farmers Perspective. 2010.

89
8. ANEXOS

Anexo 1. Fórmulas utilizadas nos cálculos do sistema de produção.

Parâmetro Abreviação Fórmula

Proporção de vacas em lactação VL Período de lactação ideal / Intervalo entre partos ideal

Proporção de vacas secas VS Período seco ideal / Intervalo entre partos ideal

Unidade animal (UA)/cabeça UA/cabeça Peso do animal/450

Número de unidades animais (UA) Nº UA Nº animais * UA/cabeça

Consumo diário de forragem dos animais CD Nº UA * 450 * 2,1%

Produção anual de matéria seca (MS) da


PT Capacidade de suporte * 450 * 2,1% * 365
forrageira

Produção estacional de MS da forrageira PE Produção anual * estacionalidade produtiva

Produtividade de MS da cana-de-açúcar PMSCA Produtividade de matéria natural (MN) * teor de MS

Número de piquetes NP NP = PD/PP + NL

Período de ocupação PO Período de permanência (PP) * número de lotes (NL)

Período de descanso na seca PD (NL * PP) - NL

Ciclo de pastejo CP PD + PO

Área do piquete AP Área total (AT) / NP

Consumo dos animais no PP CPP CD * Nº de animais do lote * PP


(Produção estacional da forrageira / período da estação) * PD *
Acúmulo de forragem/piquete AFP
AP
Balanço forrageiro BF CPP - AFP

Necessidade de suplementação total NST BF * período da estação seca

Consumo/cabeça/dia de MN CCDMN (BF/nº animais no lote) / teor de MS da forragem

Consumo diário do lote de MN CLDMN CCDMN * Nº de animais do lote

Área total de canavial ATC NST / PMSCA

90
Área diária de canavial ADC ATC / período da estação seca

Nº de sacos de corretivo/fertilizante NSCF (Recomendação em kg / 50) * área em hectare

kg de fertilizante/piquete/ciclo de pastejo `FPCP (((Recomendação/ha * área) / NP) / dias de estação seca) * CP

Fonte: elaborado pelo autor.

91
Anexo 2. Resultados da análise de terra.

pH P K Ca Mg Al H+Al Na C MO SB T t m v
Solo
água mg dm³ cmolc dm³ % cmolc dm³ %
Sistema de Pastejo
4,8 2 22 0,2 0,1 1,16 3,4 0,03 1,49 2,57 0,4 3,8 1,5 75 10,2
Recria

Sistema de Pastejo
6,1 11 121 2,5 1,2 0 2,1 0,21 2,03 3,5 4,2 6,3 4,2 0 66,6
Lote 1

Sistema de Pastejo
4,8 3 74 0,3 0,2 1,14 4,66 0,06 2,18 3,76 0,7 5,4 1,9 60,3 13,9
Lote 2

Canavial 5,2 2 50 1,2 0,6 0,14 2,73 0,06 1,45 2,5 2,0 4,7 2,1 6,6 42,1

Pré-parto e bezerras 5,0 4 55 1,2 0,6 0,6 4,12 0,05 2,08 3,59 2,0 6,1 2,6 23,2 32,6

Fonte: elaborado pelo autor.

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