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Determinismo e Responsabilidade

Gordon Haddon Clark

Tradução: Jazanias de Assis Oliveira


Revisão: Felipe Sabino

A menos que alguém tenha estado recentemente desgostoso com a


abundância de discussão sobre esse tópico algumas vezes estéril, um pensador
religioso, quase que invariavelmente, será levado a um argumento inflamado.
Isso é melhor do que denominar a questão de estéril, pois tal atitude é
agnóstica, e estar desgostoso é meramente estar exausto. Todo cristão precisa
enfrentar esse problema com sinceridade, e especialmente deve fazê-lo o
calvinista, visto crer que muito do desrespeito ao Cristianismo é devido ao
pensamento insensato de católicos e arminianos.
Contudo, por medo que alguém possa esperar muito desse escrito com
um título tão amplo, é estritamente necessário estabelecer o escopo desse
artigo. Primeiramente, ele não é uma discussão sobre a liberdade da vontade
tal como é encontrado na tão bem conhecida obra de Jonathan Edwards. Os
argumentos daquele grande homem abrangem muitos detalhes que, não
obstante importantes e interessantes, podem ser omitidos da presente matéria.
Naturalmente há algumas coincidências, mas o direcionamento da
investigação é diferente. A investigação de inúmeras complexidades corre o
risco de perder todo o senso de proporção, de ficar emaranhado num labirinto
incompreensível, e assim requerer uma mente excepcional como foi a de
Edwards. A direção da investigação aqui, pelo contrário, ficará distante das
complexidades e tenderá a esboços bem gerais, devendo dessa forma correr o
risco de ser superficial. Todavia, parece valer à pena correr o risco. Agora
definiremos exatamente o escopo da matéria. Recentemente, em livros e
revistas de valores intelectuais diversificados tem aparecido, em defesa do
cristianismo histórico como oposto aos desvios modernos, ataques à
“psicologia mecanicista”, ao “determinismo em todas as suas formas”, e
outras frases de significado similar. Este escritor teme que, não importa
quantos pontos cardinais da ortodoxia alguém possa sustentar, nem sempre é
claro quais teorias filosóficas são ou não consistentes com tal ortodoxia.
Alguém poderia pensar que apenas uma revista superficial poderia condenar
indiscriminadamente todas as formas de determinismo; poderia haver mais
justificativas para um ataque à psicologia mecanicista. O objetivo desse artigo
é, portanto, mostrar que o determinismo é consistente com a

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responsabilidade, e que na verdade a responsabilidade requer o determinismo.

Os argumentos de ambos os lados são claramente bem conhecidos.


Eles carecem tanto de originalidade que desencorajam novas tentativas,
incluindo esta aqui. A posição determinista é expressa, tão bem como em
nenhum outro lugar, no artigo de George Stuart Fullerton, intitulado
“Liberdade e Livre-Arbítrio”. Seu objetivo foi mostrar que sobre as bases do
indeterminismo, a conduta moral em geral, na medida em que é livre ou
indeterminada, perderia todo o valor ético. O indeterminista mantém que
certas ações não são explicadas adequadamente, i.e., determinadas por causas
precedentes. Então, se a benevolência, por exemplo, é uma ação livre, ela não
é determinada por uma personalidade benevolente, mas ocorre
incessantemente. Se a vontade fosse absolutamente livre, então o
conhecimento do caráter respeitável de alguém no passado não traria
esperança nem consolo. Comumente consideramos um fator determinante, e
um homem moral não é imoral, exceto por algum outro fator determinante.
Mas o livre-arbítrio permite ao homem tornar-se um criminoso sem qualquer
motivo. A ilustração de Fullerton foi a do pequeno Tommy que roubou a
geléia de sua mãe. A punição não prevenirá a recorrência da invasão à
despensa, nem uma persuasão mais gentil. Estas não podem ter algum poder
determinante sobre ações livres. Mas na teoria determinista, punição,
persuasão e elogios são todos justificados. “Parece, então, que a mãe do
Tommy, e suas tias e todos os seus pastores e mestres espirituais têm por anos
se aproximado de Tommy sobre uma base estritamente determinista.
Consideram que vale à pena conversar, e conversar bastante. Eles têm feito
tudo o que os pedagogos fazem – têm ajustado os meios aos fins e têm
procurado por resultados, não tendo qualquer consideração à liberdade.”
Por outro lado, se não há responsabilidade para o partidário do livre-
arbítrio, há alguma para o determinista? Este artigo objetiva harmonizar
determinismo e responsabilidade sobre a base do cristianismo calvinista. E se
isso não foi feito antes é porque os calvinistas de hoje são apenas seguidores
indiferentes do príncipe dos teólogos, João Calvino.

Se precisamos deixar de lado muitos dos detalhes nas discussões sobre


o livre-arbítrio, é ainda mais necessário evitar que embarquemos no assunto
geral do teísmo. Apesar de ser a fundação necessária da visão a ser explanada,
ninguém poderia racionalmente esperar que isso fosse tratado aqui, mesmo
que de forma abreviada. Poderíamos ter a permissão de sugerir, entretanto,
que uma razão, mesmo que apenas confirmatória, para assumir a existência de
Deus é precisamente o mundo mais unificado que resulta da aplicação do
conceito de soberania a problemas tais como esses.

Para retornar a discussão ao título do artigo e para fazer a posição


presente mais inteligível, mesmo que por contraste, uma passagem de um

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autor antigo relativa à soberania e onipotência serve admiravelmente bem.
Platão, no segundo livro da República, diz: “Deus, por ser bom, não pode ser a
causa de todas as coisas. Ao contrário, ele é o autor apenas de uma pequena
parte dos negócios humanos; da maior parte ele não é o autor. Porque nossas
coisas más de longe superam as nossas boas coisas: e as boas coisas devem ser
creditadas a ninguém mais que a Deus, enquanto devemos buscar em outro
lugar, e não nele, as causas das coisas más.” E como Platão nega aqui a
onipotência de Deus, nega que Ele é a causa primeira de tudo, assim como
Aristóteles nega sua onisciência.

Agora seria bom voltar da antigüidade para algumas literaturas


contemporâneas, não porque as mais recentes sejam melhores ou mais
originais que as antigas, mas porque essas têm defensores vivos daquilo que
atacamos.

The Mind of St. Paul [A Mente de S. Paulo], do Dr. Arthur Holmes,


provê um parágrafo típico. Essa obra é parcialmente uma descrição da
natureza emocional de Paulo, e parcialmente uma crítica de várias explicações
psicológicas da conversão de Paulo. Teorias do subconsciente e inconsciente e
teorias de múltiplas personalidades ocupam uma boa porção dos capítulos.
Enquanto o livro como um todo não se ocupa do presente assunto, o Dr.
Holmes sente que deve mencionar brevemente liberdade e responsabilidade.
O parágrafo apresenta uma visão bem familiar:
“O sistema de moralidade de S. Paulo evita muitas armadilhas dos
sistemas de ética feitos pelo homem, mas isso não elimina um dos
grandes problemas envolvidos em toda moralidade e religião. Esse
é o problema da liberdade, o poder do homem escolher qualquer
coisa, seja qual for. Uma liberdade tal tem sido negada por
teólogos da predestinação e cientistas mecanicistas. Ambos
argumentam que a aparência de liberdade que o homem tem é
ilusória. Nenhuma teoria é baseada sobre fatos observados, mas
deduzidas de teorias prévias – a primeira, da absoluta soberania de
um Deus onipotente, a segunda vem do suposto poder da ciência
indutiva para predizer a ocorrência de eventos futuros. Por outro
lado, o senso comum da humanidade, voltado à preservação da
responsabilidade moral dos homens, tem sempre favorecido, no
mínimo, uma liberdade para escolher entre o bem e o mal por
parte do homem. S. Paulo foi até aqui e não mais que isso. Ele
nunca mudou sua posição, nesse ponto, da doutrina dos fariseus
(Rm 9:14-18, 23). Ele parece bastante claro ao insistir sobre a
soberania de Deus e Sua perfeita liberdade para moldar os
homens do modo que Ele assim queira. Todavia, ao mesmo
tempo, os homens aparecem livres para escolherem tanto os fins
como os meios, e o evangelista exorta homens e mulheres a agir

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assim, sem qualquer alusão a uma incapacidade deles fazerem tais
escolhas. Provavelmente ele teria, com indignação, negado as
doutrinas modernas de determinismo e necessidade física.”

Antes de citarmos um segundo contemporâneo, é bom notar e


enfatizar que a razão – e alguém já encontrou alguma outra razão realmente
básica? – para introduzir o conceito de liberdade, seja na sua forma mais
extrema de poder de escolha contrária ou em alguma forma mais modificada,
é para manter o homem responsável. Pudesse ser mostrado que a
responsabilidade do homem não necessariamente depende da liberdade, a
teologia estaria livre de um problema irritante. Poderíamos imaginar os
gemidos que não podem ser exprimidos, se as gerações de jovens teólogos
fossem reunidas diante de nós para descrever as torturas que suportaram ao
tentar reconciliar a onisciência de Deus com o livre-arbítrio? As igrejas
Presbiterianas e Reformadas não crêem no livre-arbítrio. Elas substituem o
conceito por livre-agência, significando que o homem é um agente moral livre
quando age em conformidade à sua própria natureza. Mesmo assim, alguns
têm declarado que a reconciliação da livre-agência do homem com a soberania
de Deus é um mistério inescrutável. Na verdade, o mistério é – reconhecendo
que Deus é a causa última da natureza do homem – como a solução calvinista
pode ter sido por tanto tempo negligenciada.
Mas antes de tornarmos a solução explícita, permito uma palavra final
da parte dos oponentes. A senhorita Harkness, professora de Filosofia no
Elmira College, no livor Conflict in Religious Thought [Conflitos no Pensamento
Religioso], oferece o seguinte:

“Por toda a história da filosofia e teologia, pessoas têm disputado


sobre a questão do livre-arbítrio. Em geral, filosofias idealísticas
têm afirmado que o espírito humano deve ser em algum sentido
livre, enquanto filosofias materialistas têm negado essa liberdade.
A teologia tem tenazmente aderido à crença de que o homem é
um ‘agente moral livre’ enquanto, ao mesmo tempo,
freqüentemente afirma uma doutrina da predestinação que,
tomada em seu sentido real, limitaria rigidamente os atos do
homem. O problema, apesar de complexo, é muito fundamental
para ser evitado.
“Temos visto que a possibilidade da ação moral ou imoral
depende do poder de escolha. Se todos os atos de alguém são
fixos e predeterminados (seja por estrutura do mundo material
ou pela vontade de Deus), de tal forma que seja impossível agir
diferente de como alguém age, é óbvio que a liberdade
desaparece. Com o poder da escolha voluntária, a

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responsabilidade moral se vai. Alguém não pode
conscientemente escolher ser bom, nem escolher buscar a Deus,
a menos que tenha o poder de não escolher fazer tal coisa.
Nenhuma qualidade moral está ligada à minha falha em roubar
um milhão de dólares que está fora do meu alcance, mas roubar
torna-se uma questão moral para mim, quando tenho que decidir
se conto ou não ao atendente da loja que ele me deu o troco
muito além do devido. Do mesmo modo, se eu sou “pré-
ordenado” a ser salvo ou condenado ao inferno, não há muita
utilidade em fazer algo sobre meu destino. Se não tenho
liberdade, não sou responsável por meus atos.
“Determinismo teológico, ou predestinação, é uma doutrina
cardinal do maometismo. Islamismo significa ‘submissão’ (à
vontade de Alá) e mulçumano é ‘aquele que se submete’ – aos
decretos fatalistas de uma deidade arbitrária. A teologia cristã, em
suas formas mais primitivas, considerava Deus como igualmente
dogmático (apesar de mais ético) em Seus decretos. Através da
influência de ilustres teólogos cristãos, notavelmente Paulo,
Agostinho e Calvino, a doutrina da predestinação tem
influenciado profundamente o pensamento cristão. Enquanto a
onipotência de Deus tem sido assim enfatizada, a liberdade de
Deus tem sido exaltada à custa da do homem, e os atos mais
desumanos têm sido tratados superficialmente como oriundos da
vontade de Deus. Mas felizmente a doutrina da predestinação
está desaparecendo, pelo menos em suas aplicações aos males
que são obviamente evitáveis.
“Alguns ainda mantém que quando uma vítima de tifóide morre
por falta de um saneamento adequado, isso aconteceu porque era
‘prá ser’. Há uma boa quantidade de conforto ilógico em tal
visão. Mas não muitos, mesmo entre os calvinistas mais
rigorosos, diria agora que se um homem se embriaga e atira em
sua família, era a vontade de Deus que ele assim deveria fazer!”

Embora forçados a sorrir um pouco à medida que autores permitem


que suas animosidades dêem origem a circunlóquios depreciativos, em vez de
argumento apropriado, alguém deve confessar ficar um pouco irritado pela
insinuação. Se a predestinação absoluta está felizmente sendo esquecida ou
não, é algo completamente irrelevante. A presente questão é: a predestinação e
o determinismo podem ser reconciliados e formar a base das distinções
morais e responsabilidade humana? A senhorita Harkness pensa que não.

Primeiramente, ela afirma que uma ação moral requer escolha e escolha
requer habilidade de fazer o contrário. Essa é a primeira coisa a ser negada.

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Escolha é aquele ato mental, aquela volição deliberada – eu não pretendo uma
definição ampla – que inicia uma ação humana. A habilidade de ter escolhido
outra coisa é uma consideração irrelevante e não tem lugar na definição. Ela
ainda é uma volição deliberada, mesmo que não pudesse ter sido diferente. É
verdade que nem sempre estamos conscientes da nossa limitação. Aqueles que
apelam à própria percepção de liberdade e consideram que tal apelo fecha a
questão, usam a escolha entre uma torta de cereja ou maçã como ilustrações.
Se ilustrações são necessárias, podemos nos referir aos sentimentos de Lutero:
“Aqui eu permaneço, então ajuda-me Deus, pois não posso fazer outra coisa.”
Quanto mais importante a decisão, menor poder de escolha contrária
sentimos. E arrisco-me a supor que a experiência de Lutero é bem comum
com pessoas sóbrias e responsáveis.

Mas não há nada no ditado de Kant, “se devo, eu posso”? Como


declarado por Kant e os católicos, isso leva imediatamente à salvação pelas
obras. O motivo que estimulou esse princípio incorreto pode, entretanto, ser
melhor declarado e então salvar a verdade que ele contém. Se todos devemos,
pelo menos alguém pode. Se todos devemos ser honestos, então alguns
podem e são. Se todos devemos perfeitamente satisfazer a justiça divina, no
mínimo Alguém o fez. De qualquer modo precisamos lembrar que a escolha
deve ser definida como uma função psicológica, distinta do desejo ou
julgamento, por exemplo, e em nenhum lugar na definição pode ser
encontrado um lugar para o poder de ter escolhido diferentemente.
Do mesmo modo, a senhorita Harkness declara: “Se eu sou pré-
ordenado para ser salvo ou condenado ao inferno, não há muita utilidade em
fazer algo sobre meu destino.” É estranho que ninguém senão um novato
deveria usar esse assim chamado “argumento preguiçoso”, após os estóicos há
muito tempo mostraram sua falácia. É útil fazer algo precisamente porque é o
meio de fazer outra coisa. A idéia maometana ou fatalista que o fim está
fixado, independentemente dos meios, é apenas uma caricatura do calvinismo,
usada maliciosamente algumas vezes. O fim está pré-ordenado a ser alcançado
por meio dos meios, e o valor dos meios é obter-se o fim. De qualquer modo,
ela ilustra bem que o motivo para afirmar a liberdade do homem é a
responsabilidade.

Após relegar o determinismo teológico à obscuridade passada, a


senhorita Harkness descarta o determinismo mecânico ou científico numa
nota de rodapé sobre teoria quântica. Isso foi mencionado aqui apenas para
sinalizar que o determinismo calvinista pode ser mecânico ou não. A
racionalidade do ideal mecânico está fora do presente propósito. O
determinismo teológico não requer nem exclui isso. Tudo o que alguém
precisa manter é que todo evento é determinado para ocorrer como ocorre e
não poderia ser de outro modo. Deus pré-ordenou tudo o que acontece.

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A última autora citada aparenta, numa página anterior, ter se desviado
do ponto principal. Discutindo a questão “Deus é limitado?”, ela conclui que
a onipotência não é inconsistente com a liberdade. Deus pode livremente
limitar a Si mesmo e onipotentemente criar pessoas dotadas com o livre-
arbítrio. Isso ignora um fator essencial, ou seja, a onisciência de Deus. Se Deus
sabe o que irá acontecer, o que Ele sabe irá acontecer e nada mais. Os
calvinistas crêem que Deus sabe o que acontecerá porque Ele ordenou tudo.
Mas deixando isso de lado, o pré-conhecimento indica que o futuro é definido.
E se não é Deus quem tornou o futuro definido, devemos retornar ao
dualismo de Platão. Mas ignoremos isso; se há um Deus onisciente, o futuro é
certo. A professora do Elmira College ignorou o fator decisivo.
Agora, então, se todo evento é certo, pode o homem ser responsável
por ações que ele não poderia ter escapado de praticar? Ou o determinismo
faz dos homens bons e “pequenos autômatos piedosos”, como a senhorita
Harkness diz? Tudo o que é requerido para definir escolha ou volição é aquela
combinação necessária e suficiente de fatores que a distinguem de outras
funções psicológicas. A declaração de Charles Hodge (op. cit., 285), então, será
vista como sendo uma inferência inválida, porque uma vontade inevitável é
tão vontade quanto uma evitável. De novo, negligenciando observar aquilo
que toma o lugar do argumento racional, alguém pode corretamente replicar
que tudo depende do que é entendido por autômato, ou mais precisamente, o
que significa responsabilidade.
Parece estranho que obras de teologia geralmente não façam nenhuma
tentativa energética de definir responsabilidade. Mas se isso é de tamanha
importância, alguém não deveria se omitir de torná-la tão precisa quanto
possível. Todavia, essa tentativa está notoriamente ausente entre os
deterministas e igualmente entre os partidários do livre-arbítrio. Nem todas as
declarações verdadeiras são definições. O teorema de Pitágoras especifica uma
verdade quanto a um triângulo retângulo, mas não é a definição de um.
Algums vezes Charles Hodge faz certas declarações sobre responsabilidade,
mas não está claro se ele as pretendia como definições ou simplesmente como
declarações verdadeiras. Por exemplo: “Nós somos responsáveis por nossos
sentimentos, porque eles, em sua própria natureza, são certos ou errados.” No
próximo parágrafo ele faz da natureza humana a base da responsabilidade. O
que se segue parece mais com uma definição: “Onde quer que a razão e o
poder da auto-determinação ou espontaneidade são combinados em um
agente, ele é livre e responsável por seus atos externos e suas volições.”
Definição não é uma tarefa fácil, e uma incorreta pode nos enganar
assustadoramente. O cuidado daquele que não admitiria que dois mais dois é
igual a quatro, até que ele soubesse como a admissão seria usada, é nada
menos que uma breve exemplificação. Todavia, aqueles que criticam a posição
a ser oferecida, no máximo, dizem que a concepção de responsabilidade

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envolvida é incompleta ou restrita. Talvez eles estejam certos; tudo o que é
necessário é que as características mencionadas sejam elementos essenciais da
definição. Chamemos um homem responsável, então, quando ele pode ser
justamente recompensado ou punido por suas obras. Isto é, o homem deve
prestar contas a alguém, a Deus, porque responsabilidade implica numa
autoridade superior que pune ou recompensa. Agora, visto que na teologia a
dificuldade da questão está na punição eterna para alguns pecadores, podemos
omitir outros elementos na definição e enfatizar que ao chamarmos o homem
de responsável, queremos dizer que ele pode ser justamente punido por Deus.
Essa verdade, que é uma definição, é a chave para a explicação do motivo pelo
qual o homem é responsável pelo ato que Deus o determinou fazer.
Várias pessoas, com o cuidado provindo da experiência, têm
questionado nesse ponto, que apesar de não verem a armadilha, eles poderiam
sempre escapar das desagradáveis conclusões calvinistas apegando-se ao
advérbio salvador “justamente”1. Isso, sem dúvida, é apenas o que é desejado.
Pois, ou o advérbio é um escape do calvinismo, ou a própria essência do
calvinismo depende do significado de justiça. Pois não podemos continuar
pelos ecos da República de Platão, até que tenhamos apreendido a própria
Justiça.
Isso leva a uma ilustração nos escritos de Leibniz, Descartes e Calvino.
Leibniz sustentava que esse era o melhor de todos os mundos possíveis,
provocando assim a observação de que ele teria sido um pessimista. Ele havia
dito que Deus poderia ter escolhido qualquer um entre o número de mundos
possíveis, cada um quase bom, mas o importante foi que Deus escolheu o
melhor deles. Ele nega expressamente que este mundo é o melhor porque
Deus o escolheu. Esta última proposição, o mundo é bom porque Deus o
escolheu, era a opinião de Descartes.
Nesse ponto devemos nos referir e questionar Jonathan Edwards.
Embora tente evitar colocar Deus debaixo de mandamentos, ele ainda parece
implicar o dualismo platônico ao representar Deus como influenciado por
estímulos. Depois, quando chega ao nosso presente ponto, ele chama a
questão que dividiu Descartes e Leibniz de absurdo e sem sentido.
João Calvino não era da mesma opinião. Ele antecipou a posição de
Descartes, e em As Institutas deu a chave para a solução:

“Primeiro eles exigem que se explique com que propósito Deus


se enfurece contra as suas criaturas que não lhe fizeram nenhuma
ofensa. Porque, pôr a perder e arruinar a quem bem lhe parece é
coisa mais própria da crueldade de um tirano que da sentença
justa dada por um juiz. Assim lhes parece que os homens têm
1
No sentido de “com justiça”. (N. do R.)

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bom motivo para queixar-se de Deus, se por seu puro querer,
sem o próprio mérito deles, foram predestinados à morte eterna.
Se tais cogitações subirem alguma vez ao entendimento dos
crentes, eles estarão suficientemente armados para as repelir,
bastando que considerem que tremenda temeridade é sequer
inquirir as causas da vontades de Deus. Pois a vontade de Deus é
(com todo o direito) a causa de todas as coisas que se fazem.
Porque, se ela tivesse alguma causa, esta necessariamente a
precederia, e seria como se estivesse atada a ela, o que não é lícito
nem imaginar. Porque a vontade de Deus é de tal modo a regra
suprema e soberana da justiça que tudo o que Deus quer,
necessariamente o tem como justo, simplesmente porque o quer.
Por isso, se for feita a pergunta: por que Deus agiu assim? Deve-
se responder: porque ele o quis. Se ainda se perguntar: por que
ele o quis? É querer conhecer uma coisa maior e mais alta que a
vontade de Deus; o que não se pode encontrar.”2

Deus é Soberano; o que quer que Ele faça é justo, por essa mesma
razão, porque Ele o fez. Se Ele pune o homem, o homem é punido
justamente, e assim, o homem é responsável. Isso responde à forma de
argumento que se segue: O que Deus faz é justo, a punição eterna não é justa,
portanto Deus não pune. Se o objetor quer dizer que ele recebeu uma
revelação especial de que não existe punição eterna, não poderemos tratar
com ele nesse ponto. Se, contudo, ele não estiver reivindicando uma revelação
especial da história futura, mas apenas um princípio filosófico pelo qual
pretende mostrar que a condenação eterna é injusta, a distinção entre nossas
posições torna-se imediatamente óbvia. Calvino tinha rejeitado essa visão do
universo faz uma lei, quer de justiça ou de evolução, no lugar do legislador
supremo. Tal visão é o dualismo platônico que põe um Mundo das Idéias
superior ao Artífice. Deus em tal sistema é finito ou limitado, confinado a
seguir ou obedecer ao modelo. Mas aqueles que proclamam a Soberania de
Deus determinam o que é a justiça observando o que Deus realmente faz. O
que Deus fizer é justo. O que Ele manda os homens fazerem, ou não, é
similarmente justo ou injusto.
Esse montante é suficiente para a nossa solução. Admito que resta dizer
muitas outras coisas. A necessidade dos meios ou causas secundárias,
imediatas, poderia ser mencionada; o pecado como base judicial da punição
divina, porque Deus determinou que assim fosse, poderia ser mencionado;
apêndices e réplicas adicionais poderiam ser agregados. Apenas uma precisa
ser examinada. A visão aqui proposta faz de Deus o Autor do pecado? O
2
CALVINO, João – As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa. [tradução Odayr Olivetti].
São Paulo: Cultura Cristã, 2006. v. 3, p. 48.

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motivo pelo qual os teólogos eruditos que formularam tão uniformemente
vários credos permitiram tal expressão metafórica obscurecer a questão é um
enigma. Essa visão, certamente, faz de Deus a Primeira e Última Causa de
todas as coisas. Mas uma breve reflexão sobre a definição de responsabilidade
e sua implicação em uma autoridade superior mostra que Deus não é
responsável pelo pecado.
Segue-se disso que o determinismo é consistente com a
responsabilidade, e que o conceito de liberdade que foi introduzido apenas
para garantir a responsabilidade não tem utilidade. É claro que o homem ainda
é um “agente-livre”, pois isso simplesmente significa, como Hodge diz, que o
homem tem o poder de tomar uma decisão. Assim, é difícil entender a razão
pela qual tanto esforço deva ser gasto na tentativa de fazer o poder de decisão
consistente com a inevitabilidade da decisão. Se há algum mistério sobre isso,
como diz o Breve Catecismo, é algo da escolha própria do teólogo. Pois Deus
tanto dá o poder como determina o modo que ele deve ser usado. Deus é
Soberano.
Parece-me que um grande número de objeções à doutrinas cristãs
específicas, objeções à expiação propiciatória ou encarnação, surgem de uma
visão não-cristã sobre a natureza de Deus. Os modernistas objetam ao
sacrifício vicário porque eles não pensam que Deus é aquele tipo de pessoa. O
deus deles não é o Deus dos primeiros cristãos. E minha sincera convicção é
que, se haveremos de manter a Satisfação, se vamos promulgar um cristianismo
consistente, devemos, entre outras coisas, rejeitar e combater o semi-
arminianismo prevalecente nas supostas igrejas calvinistas, e retornar à
predestinação, à perseverança dos santos, ao nono capítulo de Romanos, e ao
melhor intérprete de Paulo, João Calvino.

Fonte: http://www.trinityfoundation.org/journal.php?id=75

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