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HOMEM DOS MEUS LIVROS, e na noveleta O HOMEM DA MINHA VIDA! Quem leu os livros, sabe que
há uma pequena participação de Hani e Zayn, já como um casal. Quem ainda não leu,
saiba que não há problema algum, pois isso não interfere no enredo de nenhuma das
histórias. Eles podem ser lidos separadamente e também fora de ordem. Porém, ESSE
HOMEM É MEU é um prequel de O HOMEM DOS MEUS LIVROS, ou seja, a história de Hani e Zayn,
aconteceu antes da história do casal J&J.
Se este é o primeiro livro que você está lendo desta série, convido você a ler O
HOMEM DOS MEUS LIVROS depois. Você conhecerá Javier Stanton e ainda terá um gostinho a
mais de Hani Mitchell e Zayn El Safy.
Olá! Eu sou a Evy Maciel.
Escrevo romances contemporâneos para mulheres apaixonadas por histórias de
amor, intensas e de tirar o fôlego! E sobre mulheres que buscam encontrar o caminho
para a verdadeira felicidade!
Minha missão como escritora é proporcionar o lazer através da leitura, incentivando
o amor próprio, motivando a autoestima e evidenciando a importância da independência
emocional.
Acredito que não devemos ter medo de nos reinventar, aprendendo com os erros e
persistindo em nossos ideais sempre!
Nasci em 5 de abril de 1989. Sou gaúcha de Osório-RS, mas moro quase a vida
toda em um município de Santa Catarina, chamado Içara!
Comecei a escrever romances em 2012, por hobby, publicando no site Nyah
Fanfiction.
Em 2014, lancei meu primeiro livro na Amazon: O HOMEM DOS MEUS LIVROS!
Ele é o primeiro de uma série que intitulei de HOMENS QUE AMAMOS!
Em 2015, decidi me arriscar a viver exclusivamente da escrita e abandonei minha
profissão de fotógrafa, fechando meu estúdio. E desde então tenho me dedicado a
escrever livros e interagir com meus leitores!
Em 2016, lancei meu primeiro livro por editora: O QUE ACONTECE EM VEGAS
FICA EM VEGAS, lançado na Bienal de São Paulo, com o selo da Editora Qualis.
Ainda assim, continuei lançando meus e-books na Amazon de forma independente.
Em 2018, lancei meu segundo livro com a Qualis, na Bienal de São Paulo: VLAD –
SEDUZIDA POR UM IMORTAL! Além dele, lancei no mesmo evento outro romance,
através da Editora Pandorga: RUDE – Encontros & Confrontos.
Atualmente, tenho mais de 15 títulos publicados, entre contos, novelas e romances,
seja por editora ou de forma independente. Também atingi a marca de 24 milhões de
páginas lidas pelo sistema Kindle Unlimited da Amazon, e o número cresce a cada dia.
Ao final deste livro, vou te recomendar algumas de minhas histórias, caso você
goste do meu estilo de escrita e queira conhecer mais do meu trabalho! Espero de
coração que essa seja uma boa leitura e se você quiser entrar em contato comigo, basta
acessar meu site e deixar um recado. Respondo com frequência, não se preocupe!
Obrigada pela oportunidade!
Um grande abraço!
Viste o site:
www.evymaciel.com.br
A série HOMENS QUE AMAMOS surgiu da ideia de reunir meus três primeiros livros,
inicialmente contos publicados no Nyah Fanfiction, em 2012, quando eu era apenas uma
leitora que tinha como hobby se aventurar em escrever minhas próprias histórias. Em
2014, eu reescrevi, incrementei e acrescentei mais conteúdo, tornando aquele pequeno
conto em um livro mais extenso. Foi então que surgiu o primeiro livro da série: O HOMEM
DOS MEUS LIVROS, e em seguida, o LIVRO 1.5: O HOMEM DA MINHA VIDA.
Cada livro da série conta a história de um casal diferente, podem ser lidos
separadamente e fora da ordem de lançamento, com exceção das noveletas respectivas
a cada livro. Contudo, no livro 4, onde o casal do livro 1 é novamente o protagonista, é
importante que já tenha lido os anteriores, pois os outros dois casais voltam a aparecer
para um fim definitivo.
HOMENS QUE AMAMOS é uma série de romances que aborda as questões das
mulheres modernas, independentes e audaciosas, com uma pegada leve, divertida e
charmosa, somada a uma dose extra de sensualidade.
Tenham uma boa leitura!
- Evy Maciel
PREFÁCIO
PRÓLOGO
PARTE UM
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
PARTE DOIS
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO CATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
EPÍLOGO
“Era uma vez um casal que se amava muito. Um príncipe e uma
princesa, que viviam felizes em um lindo Qasr no deserto… Para que a
alegria do casal fosse ainda mais completa, a princesa descobriu que
esperava um bebê, deixando o príncipe imensamente feliz. Toda a família
foi reunida naquele dia, para uma grande comemoração. Meses depois,
quando saíra para caçar com um grupo de amigos, o príncipe quase fora
picado por uma cobra venenosa. Por sorte, o único filho de seu melhor
amigo arriscou a própria vida para salvá-lo, agarrando a serpente com
uma das mãos e matando-a com um punhal. O príncipe ficou
imensamente grato, graças à coragem do garoto, poderia voltar ao
castelo, onde sua esposa estava prestes a dar à luz. Como
agradecimento, o príncipe mandou preparar uma festa em homenagem ao
jovenzinho que o salvara. Convidou todo o reino, para que conhecessem e
prestigiassem o mais novo herói.
Além da festa, o menino foi presenteado com uma corrente de ouro
branco, nela havia um pingente, com a metade de um coração. O garoto
não entendera o porquê de o príncipe tê-lo presenteado com a metade de
um coração, ficou confuso, mas vossa majestade explicou, mostrando-lhe
outro cordão, como o seu, que possuía a outra metade do coração. A
partir daquele dia, o príncipe estaria colocando nas mãos do menino o seu
bem mais precioso: sua pequena filha, que estava perto de nascer.
Quando a menina completasse a idade de vinte e um anos, eles se
casariam e tornariam aquelas metades em um só coração. O garoto, de
apenas quinze anos, aceitou de bom grado o presente do príncipe, afinal,
que homem no mundo não gostaria de se casar com uma princesa? O pai
do garoto era grande amigo do príncipe. Ambos achavam conveniente o
casamento entre seus únicos herdeiros. Assim que a pequena princesinha
nasceu, seu pai ofereceu um jantar em seu castelo, para celebrar o
nascimento de sua herdeira. Foi um dia de muita festa por todo o reino,
todos queriam conhecer a criança e presenteá-la com perfumes, tecidos
finos e pedras preciosas. O garoto, prometido à pequena menina, também
participou das festividades, presenteando-a com uma delicada coroa de
brilhantes para ser usada no dia do seu baile de debutante. Assim, iniciou-
se um novo conto de fadas, onde um jovem rapaz e uma bela princesa se
apaixonariam perdidamente um pelo outro, cumprindo seus destinos e
unindo-se em matrimônio...”
Em pensar que eu adorava ouvir essa história, contada por minha
mãe todos os dias, antes de eu dormir... Era um lindo conto de fadas,
quando eu tinha cinco anos e noção alguma de que casamento arranjado
era uma ideia ultrapassada. Minha mãe sabia contar uma boa história,
mas esta era sua favorita. Hoje eu entendo o porquê. Foi sua maneira de
me contar que eu estava prometida a um homem desde que nasci. Foi a
estratégia que usou para me fazer acostumar à ideia de que uma escolha
foi feita para mim, antes que eu tivesse idade suficiente e poder de
decisão. Noiva aos catorze anos, de um homem com o dobro da minha
idade. Um desconhecido.
Não foi este o presente que pedi de aniversário. Quem, em sã
consciência, ainda mais se tratando de um adolescente, aceitaria se casar
com uma mulher que sequer havia nascido?
Até onde eu havia entendido, tratava-se do filho do melhor amigo de
meu pai, um rapaz que tinha apenas quinze anos quando lhe salvou a
vida. Meu pai ficou tão agradecido que, em vez de dar uma moto ou um
carro do ano, deu ao garoto a própria filha, para que eles se casassem
quando fossem mais velhos. Esta filha, por acaso, sou eu. Foi assim que
aconteceu essa coisa toda de noivado, que, para minha sorte ou não, fez
com que eu já nascesse com o destino traçado.
Como uma promoção relâmpago de supermercado, do tipo: mate a
cobra e ganhe uma noiva!
Se eu me incomodo com isso? Mas é claro que sim! Tenho catorze
anos, nunca estive a fim de um garoto, nunca beijei na boca, nunca pensei
em me casar. Quando chegasse o momento, eu gostaria de poder
escolher.
Não estamos mais nos tempos feudais, onde os casamentos
arranjados eram uma negociação entre famílias. Mesmo vivendo nos
Emirados Árabes, onde essa prática é comum, não me conformo com
essa decisão que me roubou o livre arbítrio. Não sei o que passou pela
cabeça de meu pai quando propôs que o rapaz se casasse comigo. Penso
eu que, o fato de ele e minha mãe não serem tão jovens, contribuiu para
esse tipo de acerto entre as duas famílias.
Meu pai, aos quarenta anos, queria um herdeiro. Minha mãe, aos
trinta e sete, tinha problemas para engravidar. Brigando contra o tempo,
fizeram uma série de tratamentos de fertilização, até que fui concebida.
Quando soube que minha mãe esperava uma menina, meu pai ficou
tenso. É claro que ele me amava, mas acreditava que um filho homem o
sucederia nos negócios da família. Sendo filho único e tendo herdado de
seu pai, que herdou de seu avô, a fortuna Mitchell, meu pai temia o fim de
seu legado. A perpetuação do nome de nossa família se encerrou quando
minha mãe não pôde lhe dar o tão sonhado varão. Quando eu me
casasse, levaria o sobrenome do meu esposo e perpetuaria o nome de
sua família, através de nossos filhos.
Não se tratava de um aspecto religioso, pois não éramos adeptos ao
Islã. Mas meu pai sempre admirou a cultura do povo árabe e tinha grande
respeito pelos seus costumes. Muitos dos conceitos mulçumanos eram os
mesmos que a tradicional família Mitchell possuía e passava de geração
para geração.
Desde que colocou os pés na Cidade de Dubai pela primeira vez, há
vinte anos, para expandir os negócios da família nos Emirados Árabes,
Phillip Mitchell, meu pai, se apaixonou perdidamente pelos incríveis
arranha-céus e avenidas largas. Mas nada se comparou à beleza de Falak
Bannout, a estrela que iluminou sua vida, hoje conhecida como Falak
Mitchell, a esposa do estrangeiro que caiu de amores pelo Golfo Pérsico.
Minha mãe.
Sempre considerei a história de meus pais um lindo conto de fadas
moderno. Sonhava em viver algo semelhante. Poder me apaixonar por
alguém, ser correspondida e feliz para sempre. O fato de minha mãe
pertencer a uma família cristã facilitou o casamento, que ocorreu poucos
meses após se conhecerem. Meu pai optou por mudar-se definitivamente
para Dubai e construiu seu próprio império, pelo emirado homônimo,
triplicando a fortuna de nossa família. Foi nesse ponto que, imagino eu,
ele havia pensado em um casamento por conveniência. Esperava que seu
genro assumisse a frente dos negócios, administrando com mãos
competentes tudo o que meu pai e suas duas gerações passadas
construíram. Acho que ele nunca pensou na hipótese de uma mulher
assumir o controle de tudo. Mas Phillip não colocaria o legado Mitchell nas
mãos de qualquer homem por quem eu viesse a me apaixonar. Por este
motivo, papai traçou meu destino por conta própria. Escolheu a dedo o
homem com quem eu deveria me casar, pois este seria seu sucessor e
daria continuidade ao seu trabalho.
Para meu pai, apenas um sobrenome seria digno de substituir o
Mitchell que eu carregava em minha certidão de nascimento: El Safy.
Ibrahim El Safy era o melhor amigo de meu pai. Estudaram juntos
em Oxford e a amizade continuou após se formarem. Ibrahim, além de
grande amigo, tornou-se braço direito de meu pai. Eram sócios em alguns
empreendimentos e papai confiava nele cegamente. Sua esposa, Zahara,
tornou-se amiga de minha mãe. Havia um grande carinho e respeito entre
as duas famílias.
Ibrahim e Zahara tinham um único filho: Zayn. E foi no jovem garoto
que meu pai depositou suas esperanças. Não havia ninguém melhor que o
filho do seu mais fiel amigo, para ser o esposo de sua filha. Um
adolescente de quinze anos, que seria devidamente preparado para
assumir os negócios de ambas as famílias. Duas fortunas se tornariam
uma só. Era o plano perfeito. Um diamante bruto que seria lapidado para
um propósito já definido.
O tempo passou. Zayn tornou-se um homem, e eu, uma adolescente
magrela com aparelho nos dentes. Ele se formou com louvor em gestão e
administração, na Universidade de Cambridge. Mas não retornou a Dubai
como meu pai esperava. Investiu no ramo do entretenimento e tornou-se
dono de uma rede de casas noturnas espalhadas pela Europa. Eu não o
conhecia pessoalmente, mas graças à internet, acompanhava seus
passos desde que me dei conta de que teria que me casar com ele.
Zayn era tão bonito. Seus olhos negros quase me hipnotizavam
através das fotografias. A cabeça raspada e barba bem desenhada
deixavam-no com uma aparência exótica, mas extremamente atraente. Eu
não o conhecia além da aparência e isso me assustava. Não sabia o que
fazer, nem se queria me casar com um estranho, por mais bonito que ele
fosse.
Restavam-me seis anos antes que eu me tornasse sua esposa ou
assumisse o controle de minha vida e fugisse, para escrever meu próprio
destino. Nunca contrariei meu pai, sempre fui tratada como uma princesa.
Eu amava minha vida. Cresci cercada de luxo, morava em uma mansão
em Palm Jumeirah, estudava em casa, tinha um motorista só para mim,
empregados que estavam à minha disposição e dinheiro para comprar o
que quisesse.
Muitos diziam que eu era uma menina mimada, nunca discordei.
Meu aniversário de quinze anos estava próximo e papai deu total
liberdade para minha mãe organizar o mais perfeito baile de debutante,
seguindo uma antiga tradição europeia onde a família apresentava sua
filha, oficialmente, à sociedade.
Pois seria neste baile que eu conheceria meu noivo: Zayn El Safy.
Eu não devia ter criado expectativas.
Nunca diga tudo o que sabe
Nunca faça tudo o que pode
Nunca acredite em tudo o que ouve
Nunca gaste tudo o que tem
Porque:
Quem diz tudo o que sabe
Quem faz tudo o que pode
Quem acredita em tudo o que ouve
Quem gasta tudo o que tem
Muitas vezes:
Diz o que não convém
Faz o que não deve
Julga o que não conhece
Gasta o que não pode
Provérbio Árabe
Esta parte da história se passa em:
“Deve ter me confundido com uma otária
Pensando que eu
Seria mais uma vítima
Diga, jogue como você quiser
Mas de jeito nenhum vou cair na sua, nunca você, baby.”
WOMANIZER – BRITNEY SPEARS
A palavra é prata, o silêncio é ouro.
Provérbio Árabe
— O que você vai fazer em Dubai?
Elena estava me irritando com seu questionário patético. Era o que
acontecia quando eu tentava ser um cavalheiro, elas alimentavam algum
tipo de ilusão sobre estar em um relacionamento comigo, se achando no
direito de pedir algum tipo de satisfação. Ledo engano. Eu não dava
satisfação a ninguém. A não ser na cama.
— Não estou pedindo autorização para ir a Dubai — respondi
secamente, enquanto vestia minha boxer. Exausto demais para perder
meu tempo discutindo com uma mulher. — Estou comunicando.
Vesti meu jeans, camiseta branca e jaqueta de couro. Não tornei a
olhar para a linda ruiva em minha cama. Calcei as botas e juntei o boné do
chão, cobrindo minha cabeça raspada. Os óculos escuros estavam em
cima da cômoda, ao lado de Elena.
Ela me observava em silêncio, analisando minuciosamente cada
gesto meu.
— Espere — pediu, ficando de pé em cima da cama, apenas de
lingerie. O seu sorriso sedutor era uma das características que me
atraíram nela à primeira vista. Mas eu era possuidor de um autocontrole
invejável.
Eu ditava as regras, não ela.
Eu decidia o momento de tê-la em minha cama, não ela.
Eu quem a convencia a ficar mais um pouco, para repetir a dose.
Nunca o contrário.
Franzi a testa, mas não disse nada. Esperei que ela dissesse o que
queria.
— Não precisa falar comigo deste jeito. — Fez beicinho.
Por mais que seus lábios fossem malditamente perfeitos, eu não iria
ceder ao tesão que ela despertava em mim. Uma das regras que eu
costumava não quebrar era que todo envolvimento íntimo possuía um
prazo de validade. E o de Elena havia acabado de expirar.
— Antes de ir, quero deixar alguns pontos esclarecidos — comecei,
suavizando o tom de voz.
Meu discurso de “encerramento” consistia em três pontos.
Primeiro ponto: Levantar o ego.
— Você fode gostoso, Elena. Jamais duvide disso. Eu me diverti
muito.
Ela sorriu satisfeita, enrolando uma mecha de cabelo com os dedos.
Segundo ponto: Esclarecer os fatos.
— Somos adultos, solteiros e livres para ficarmos com quem
quisermos. Compromisso nunca foi uma exigência neste envolvimento
temporário entre nós dois.
O sorriso se desfez e o olhar de desejo começou a ser substituído
por indignação.
Terceiro ponto: Um sutil e definitivo adeus.
— A suíte está paga, você pode passar o restante do dia se quiser.
Apreciei muito os nossos momentos, mas não tornarão a se repetir. Sei
que você pensou que estivéssemos evoluindo para algo mais, não te julgo
por este erro. Mas se procura por alguém para lhe ser fiel e manter um
relacionamento, esse homem, definitivamente, não sou eu.
Elena foi a mulher com quem permaneci monogâmico por mais
tempo que de costume. Talvez por este motivo ela criou a ilusão de que
estivéssemos nos aproximando de um namoro. Mas eu não namorava,
não me envolvia, não me apaixonava. Sexo era necessário, mas amor era
pedir demais.
— Você está terminando comigo? — perguntou alterada, descendo
da cama e ficando à minha frente.
Eu era muito mais alto do que ela, em seus 1.60 m., mas a mulher
ruiva, de curvas perigosas e seios fartos, não abaixou sua cabeça.
Manteve o olhar firme e exigente, como se fosse uma igual. Mas ela não
era.
— Não posso terminar algo que nunca começou — respondi,
sustentando o olhar.
Ela segurou o choro, mas os cristais de lágrimas estavam quase
deslizando sobre o seu lindo rosto.
— Como você consegue ser tão quente na cama, mas tão frio fora
dela? — perguntou com raiva, cedendo às lágrimas. — Espero que um dia
se apaixone e sinta na pele a dor de ser rejeitado! Talvez você aprenda a
lição.
Mas que caralho!
Mulheres e suas malditas pragas.
— Apaixonar-me? — perguntei entre meu acesso de riso. — Não
diga besteiras, El. Você me conhece há quanto tempo? Com quantas
mulheres eu estive por mais de uma vez?
— Apenas comigo.
Elena Simpson era uma arquiteta renomada. Ela foi responsável por
desenvolver e coordenar todos os projetos de minhas casas noturnas, na
Europa. Antes de tudo, uma amiga. Talvez a única mulher que me
conhecia além da imagem que eu me preocupava em manter para a
mídia. O jovem árabe, que adotou Londres como sua segunda casa. O
empresário do entretenimento que mantinha uma vida reservada e longe
dos holofotes. Um dos solteiros mais cobiçados, mas que nunca era visto
em companhia feminina, sendo questionado por alguns tabloides
sensacionalistas sobre sua sexualidade.
Era necessário que Zayn El Safy tivesse uma reputação intacta. Aos
olhos da imprensa, pelo menos. Nos bastidores, a história era outra. Eu
continuava sendo o empresário, o solteiro cobiçado, mas companhia
feminina nunca me faltava. Muitas vezes, até mais de uma. Eu só não
podia correr o risco de me expor. Tinha uma reputação a zelar.
Elena sabia e havia presenciado, muitas vezes, o meu lado soberbo
e libertino. Participou de algumas festas secretas proporcionadas por mim
ou alguns de meus amigos, onde o sexo era o objetivo principal.
Compartilhávamos gostos semelhantes. E foi assim que, naturalmente,
acabamos na cama, onde éramos cem por cento compatíveis.
Talvez por nutrirmos uma amizade, o caso tenha sido mais
duradouro que os demais. Mas, de minha parte, jamais houve a intenção
de algo sério. Eu deveria ter cortado o mal pela raiz. Dificilmente
manteríamos uma relação amigável. Ela se deixou envolver, eu nunca me
permiti sentir algo mais do que tesão. Minha busca sempre foi pelo prazer
físico.
— Nunca te dei esperanças de algo duradouro — continuei,
impassível. — Não seja imatura, por favor. Não dificulte as coisas.
Elena me empurrou bruscamente e caminhou pelo quarto em busca
de suas roupas. Não sei se voltaria a falar comigo e, sinceramente, não
me importava. Eu não devia ter me envolvido com ela, mas o que estava
feito, estava feito. Sem arrependimentos, como sempre.
Fiquei parado, observando-a se vestir. Ela secou as lágrimas, pegou
sua bolsa e foi até a porta do quarto, segurando o par de salto alto na
mão, enquanto a abria.
— Tudo bem, Zayn. Não perderei mais meu tempo com você. Nem
sei por que me iludi achando que comigo seria diferente. Eu desejo, de
coração, que seu jatinho tenha um problema mecânico e caia no Golfo
Pérsico. Seu cretino! — Bateu a porta atrás de si, me deixando sozinho
na suíte mais cara do Hilton London Metropole.
Coloquei meus óculos de lente espelhada, verifiquei meu celular e
carteira no bolso do jeans e saí do quarto. Escorei-me na parede do
corredor, esperando que Elena descesse sozinha pelo elevador, antes de
me dirigir até a recepção do hotel. Meu celular tocou e sorri ao verificar o
identificador de chamadas.
— Allo![1] Como está a mulher mais importante da minha vida? —
Atendi com um sorriso no rosto.
— A mulher mais importante da sua vida? Às vésperas de completar
quinze anos. A idade que você tinha quando ficou noivo dela. — A voz
delicada de minha mãe era apenas uma camuflagem.
Revirei os olhos e meu sorriso desvaneceu. Foda-se! Eu precisava
acabar com aquela palhaçada.
— Eu era um garoto imbecil quando concordei com essa loucura —
revidei, com a voz tão suave e camuflada quanto a dela. Eu aprendi com a
melhor. — Sabe que me refiro a você, a única mulher que tem um lugar no
meu coração.
— Meu bebê, pode até ser. Mas isso não te livra do seu dever com a
família de Hani. Lembro-me, como se fosse ontem, do dia em que você
prometeu que cuidaria dela para sempre. Não pode simplesmente virar as
costas e fingir que nunca aconteceu.
Sabia que mais dia ou menos dia meu passado voltaria para me
assombrar. Mas estava decidido e não seria uma promessa idiota de
adolescente que faria com que eu me casasse com uma garota
desconhecida.
— Tenho trinta anos, não vou me casar por obrigação.
— Meu filho…
— Fora de cogitação — interrompi bruscamente. — Aliás, pretendo
continuar na Inglaterra. Voltar para Dubai não está nos meus planos,
mãe. Irei apenas para o baile de debutante de Hani. E será nessa
porcaria de baile que contarei aos pais dela e ao meu pai sobre minha
decisão.
— Não é assim que funciona, Zayn El Safy. — O tom de voz de
minha mãe era duro. E o fato de ouvi-la mencionar o meu sobrenome me
fazia temê-la. — Lembre-se de quem você é filho. Não é porque vive no
ocidente que irá desonrar o nome da sua família, rapazinho. Eu não criei
você para ser um playboy em Londres. Jamais se esqueça de onde você
veio. Não engordei trinta quilos em nove meses nem vomitei o Mar Negro
inteirinho para ter que presenciar a criança que eu gerei se voltando
contra o próprio pai.
Pressionei meus olhos, ainda fechados. Aquela conversa estava me
desgastando mentalmente.
— Tenho certeza de que meu pai e Phillip entenderão que o peso da
palavra de um adolescente não pode ser levado em consideração —
argumentei, pacientemente. — Hoje eu sou um homem, com uma
mentalidade completamente diferente de quando tinha quinze anos. Não
posso me amarrar a uma mulher apenas porque a ganhei de presente.
Ela soltou uma risada amarga.
— Eu não sei quem é você. Mas trate de trazer meu filho de volta
quando colocar os pés em Dubai.
Senti a tristeza na voz de minha mãe. Ela era uma boa mulher, mas
estava parada no tempo, e eu não era mais seu pequeno filho, havia me
tornado um homem que não precisava mais se esconder embaixo de suas
vestes.
— Mãe, sinto muito por decepcionar a senhora. Não me tornei outra
pessoa, apenas amadureci. Desculpe não ter me tornado quem gostaria
que eu fosse.
— Você é parte de mim, meu amor. Só quero que seja feliz, eu vi a
felicidade para sua vida no momento em que você pegou aquela criança
no colo. Pode não entender o que isso significa agora, mas acredito que
mudará de ideia.
— A vida segue rumos diferentes, veremos o que ela tem guardada
para mim — desconversei. — Agora preciso me organizar para a viagem.
— Até breve, filho.
Ao finalizar a ligação, escorei minha cabeça na parede e fechei meus
olhos por alguns instantes.
Droga!
Todos esses anos longe de minha terra natal me fizeram esquecer o
quanto a obediência aos meus pais era um princípio sagrado. Eu devia
minha existência a eles, meu respeito e amor deviam prevalecer. Para
todos, eu poderia ser Zayn El Safy, o magnata do entretenimento. Mas
nada disso importava para Ibrahim e Zahara, eu era o filho único, aquele
que perpetuaria o nome da família e deveria honrar minha palavra.
Teria que usar de bons argumentos para convencer Phillip Mitchell
de que eu não era o homem certo para se casar com sua filha. Eu fiz uma
promessa há quinze anos, quando ainda era um adolescente. Naquele
tempo, foi uma honra e não pestanejei ao aceitar. Jamais me passou pela
cabeça que minha vida tomaria um rumo diferente, que meus ideais
seriam outros. Constituir uma família não estava nos planos. Gostava de
minha vida atual, não havia por que mudar meu status de relacionamento.
Só espero consertar essa merda.
“Então não tente dizer que você sente muito
Ou não tente arrumar isso
E não perca seu fôlego
Porque é tarde demais, é tarde demais.”
YOUR LOVE IS A LIE – SIMPLE PLAN
Não declares que as estrelas estão mortas
só porque o céu está nublado.
Provérbio Árabe
— Ele está aqui com os pais! — gritou Samira entrando em meu
quarto, eufórica.
Tirei os fones do ouvido e disfarcei meu nervosismo.
— Ele quem? — Fiz-me de desentendida.
Deitada em minha cama, eu desenhava alguns croquis enquanto
ouvia música.
— Prima! — Samira sabia que eu estava atuando. Ela me conhecia
melhor do que qualquer outra pessoa, até mesmo minha mãe. — Zayn.
Quem mais você estava esperando?
Dei de ombros e sorri cinicamente.
— Johnny Depp, talvez? Eu tenho esperanças…
Samira se aproximou e se deitou ao meu lado na cama.
Minha prima era minha melhor amiga. Éramos praticamente irmãs,
tínhamos a mesma idade e nossa semelhança poderia ser considerada
um laço fraternal. Filha da irmã mais velha de minha mãe, Samira ficou
órfã tão logo nasceu, pois sua mãe faleceu no parto. Ela não conheceu o
pai, pois minha tia recusou-se a contar com quem esteve. Foi um
momento de vergonha para a família, mas eles a acolheram de braços
abertos e meus pais adotaram Samira. Ela insistia em me chamar de
prima, pois sempre soube que não era filha biológica de Phillip e Falak,
mas nós a amávamos como se fosse.
— Vai sonhando, prima. Se bem que Zayn é ainda mais lindo
pessoalmente. Você esquecerá sua paixonite por Johnny assim que
colocar os olhos sobre ele.
— Acho que não — desdenhei.
Eu não queria me iludir quanto a Zayn El Safy. O homem tinha o
dobro da minha idade, era incrivelmente lindo e aqueles olhos negros me
faziam esquecer qualquer coisa, quando mirava suas fotografias pela
internet. Mas eu seria ingênua se acreditasse que ele se manteria fiel à
promessa que fizera de se casar comigo. Poderia até cumpri-la, mas
éramos dois estranhos, ele era um homem e eu uma menina, não existia
amor entre nós. Além disso, duvidava muito que ele tivesse se mantido fiel
ao compromisso. Um homem bonito daqueles? Seria pedir demais que
ainda fosse virgem. Eu podia ser inexperiente, mas não era burra.
Sentei-me na cama e encarei Samira.
— Tudo bem, confesso: estou morrendo de curiosidade — revelei.
— Sua mãe me pediu para chamá-la! — Levantou-se rapidamente,
se lembrando do que veio fazer em meu quarto. — Se apresse! Vamos!
Levantei-me devagar, eu gostava de provocar Samira.
— Não estou com pressa. — Bocejei.
— Não vai se arrumar? — perguntou, repreendendo minhas
vestimentas.
Eu não estava mal vestida. Usava um vestido longo, sem mangas,
na cor preta. Era quente em Dubai, a temperatura em meados de março
era entre 40° durante o dia e 30° à noite. Estávamos na primavera,
raramente chovia. Nossa família não era muçulmana (praticantes do islã),
mesmo assim, respeitávamos a cultura local e nossas roupas cobriam as
pernas completamente, porém eu gostava de deixar meus braços à
mostra, dentro de casa. Quando saía para a rua, cobria-me com um lenço
de seda, para não chamar atenção. Com 1.60m de altura e meus 45kg, eu
não era exatamente uma modelo curvilínea. Aos catorze anos, meu corpo
ainda não estava desenvolvido por completo, e eu tinha grandes
esperanças de um dia me tornar algo próximo de uma Jennifer Aniston
morena. Minha pele bronzeada e cabelos negros eram algo do qual eu me
orgulhava, mas não havia nada volumoso. Sem peitos, sem bunda, sem
pernas grossas. E, para piorar, eu usava aparelho nos dentes. Como
qualquer adolescente, estava na fase de me sentir o patinho feio. E Zayn
poderia ser comparado a um ídolo teen.
— Não tem conserto, Samira. Nem milhares de dirhans[2] me
deixariam estupenda para conhecer El Safy Filho.
— Você é linda, Hani.
Dei de ombros.
— Para um garoto de minha idade? Talvez. Para um homem que
mais parece um artista de cinema, vive em Londres e conhece mulheres
lindíssimas? Acho que não.
— Ele é seu noivo!
— Isso não significa nada.
— Samira! Eu não pedi que chamasse Hani? — Minha mãe entrou
no quarto com expressão séria.
— A culpa é minha, mamãe. Eu que estava procrastinando.
— Por quê? — perguntou, surpresa.
— Porque estou nervosa!
Samira segurou o riso.
— Oh, minha querida. Não precisa ficar nervosa. É apenas um
encontro informal. Você e Zayn precisam se conhecer antes da festa, além
de ensaiar a valsa.
Fiz um grande esforço para não revirar meus olhos. Tudo bem, eu
amava a ideia do baile, mas a parte da valsa era a que mais me
desagradava. Porém, era tradição e concordei com um tradicional baile de
debutante.
O que Zayn pensará disso tudo?
Sorri, tomando coragem, e segurei o braço de minha mãe.
— Tudo bem, vamos lá! — Sorri, fingindo uma segurança que eu
estava longe de sentir.
Samira segurou o outro braço de minha mãe e juntas fomos
caminhando pelos corredores da mansão, até chegarmos a uma das salas
de visita. Ouvi o som de vozes e apertei, sem querer, o braço de mamãe.
Eu podia ser geniosa, mas era uma garota de catorze anos, afinal. A
insegurança era praticamente um requisito da adolescência.
Todos se calaram assim que entramos. Reconheci de imediato o
senhor e senhora El Safy. Os pais de Zayn eram presença constante em
nossa casa. Papai sorriu para mim, como se estivesse diante de seu bem
mais precioso. Sempre carinhoso comigo e Samira, não fazia distinção
alguma entre nós. Éramos suas filhas amadas.
O homem de costas, sentado em uma das poltronas, presumi que
fosse Zayn. Vestia blazer preto, de corte perfeito, e usava um turbante
vermelho na cabeça. Assim que Ibrahim e Zahara levantaram-se para nos
receber, ele se virou.
A sala ficou em completo silêncio, o que foi muito constrangedor e
me deixou quase em pânico. Sempre idealizei o momento em que
ficaríamos frente a frente, mas em momento algum calculei que fosse
travar completamente. Acho que devia estar parecendo uma garota
assustada, e eu não era assim. Seus olhos estavam focados nos meus,
intimidante, e senti como se estivesse sendo analisada por um falcão
prestes a dar o bote em um rato do deserto. Eu parecia um rato do
deserto, se ele visse minhas pernas finas por baixo do vestido, poderia ter
certeza do fato.
— Zayn, esta é minha preciosa Hani. — Mamãe tomou a frente, me
segurando pelos ombros, fazendo com que eu caminhasse a passos
lentos em direção ao “meu noivo”.
Zayn suavizou sua expressão e sorriu. Meu coração palpitou um
pouco mais que o normal, confesso, mas ele era muito mais bonito
pessoalmente do que nas fotografias. Fiquei impressionada.
— Salam[3].
Que voz é essa, Senhor?, pensei.
O homem não tinha defeito. Nem a voz era feia.
— Ahlan[4]… — murmurei, dando-lhe boas-vindas. Em nosso
cotidiano usávamos bastante o idioma inglês e desde pequena eu era
fluente nas duas línguas.
— Ahlan Wa Sahlan[5]! — Aproximou-se, estendendo sua mão para
me cumprimentar. — É um prazer imenso conhecê-la, Hani — disse em
inglês.
Não fazia parte da tradição árabe que um homem tocasse uma
mulher em cumprimento, apenas palavras podiam ser trocadas. Zayn El
Safy tinha hábitos de estrangeiro, portanto, fitei meu pai em busca de
aprovação e ele assentiu. Aceitei o cumprimento e sorri. O nervosismo se
esvaindo aos poucos.
— A recíproca é verdadeira, Zayn.
Passado o primeiro momento, meu pai tomou a rédea da conversa.
Cumprimentei os pais de Zayn e meu pai, e logo estávamos todos
sentados, conversando amenidades. Zayn contou um pouco de sua rotina
em Londres, papai e Ibrahim o atualizaram sobre os negócios da família,
com a expansão da rede de Hotéis Mitchell por todo o mundo. Samira e eu
nos mantivemos em silêncio, observando, ouvindo, enfeitando o ambiente.
Já estávamos acostumadas. Volta e meia eu me pegava observando
Zayn, com demasiada atenção. Reparei em sua barba bem desenhada,
algo que ele devia prezar com muito afinco. Era perceptivelmente,
vaidoso. O sorriso raro em sua expressão, mas tive a oportunidade de me
deleitar com um ou dois. Quando espontâneos, eram incríveis. Mas na
maioria das vezes, reparei seu maxilar tenso, forçando a expressão. Ele
estava ali contra sua vontade. Não que estivesse sendo obrigado pelos
pais, mas, talvez, se pudesse escolher, não era ali que ele gostaria de
estar.
Levantei-me, sentindo a necessidade de sair dali.
— Com licença, eu volto em alguns instantes — comuniquei, sorrindo
e acenando minha cabeça, saindo logo em seguida.
— Hani, espere! — Samira me chamou, fazendo eu desacelerar o
passo.
Escorei-me na parede do corredor, a bons metros de distância da
sala em que eles estavam.
— O que aconteceu? — perguntou-me, visivelmente preocupada.
Antes de responder, puxei Samira pela mão, caminhando para um
dos jardins que minha mãe cultivava em uma das varandas da mansão.
— Ele também não quer se casar comigo — revelei.
— Como você tem tanta certeza? — A testa enrugada denotava
dúvida.
— Ele está desconfortável.
— E você percebeu isso porque não conseguia tirar os olhos dele.
— Sim. — Percebi o que ela estava insinuando e pestanejei. — Não!
Samira, pare com isso. Quero dizer que ele está forçando o sorriso,
tentando pacientemente suportar o momento.
— E o que isso significa? Você também não estava nem um pouco
animada em se casar com ele. Não é verdade?
— Devo me sentir ofendido?
Samira e eu arregalamos os olhos, assustadas. A voz de Zayn nos
fez pular, e encaramos a imagem da perfeição parado à porta, de braços
cruzados e um sorriso enigmático nos lábios.
— Alma'derah[6]. — Abaixei meu olhar, sentindo-me constrangida.
— Você pode usar o inglês sempre que falar comigo, Hani — disse
ele, com a voz serena. — Samira, poderia nos dar licença por alguns
instantes? Law samaht[7].
— Na'am[8]. — Acatou seu pedido.
Não havia problemas em ficarmos sozinhos. Não éramos
namorados, teoricamente, éramos noivos, mas nossos costumes não
eram tão rígidos quanto aos dos adeptos ao Islã. Enquanto estivéssemos
dentro de casa, tínhamos liberdade, mas na rua, mantínhamos o respeito
pela tradição local.
Zayn se aproximou e me mantive quieta, encarando o chão. Senti
sua mão quente e macia tocar meu queixo com ternura. Foi impossível
não olhar para ele naquele momento.
— Tem medo de mim ou algo assim? — perguntou-me, sem desviar
o olhar.
Neguei com a cabeça.
— Responda, gosto de ouvir sua voz.
— Não, eu não tenho medo de você. Só fiquei envergonhada —
confessei, recuperando minha coragem.
— Por quê?
— Pelo que você ouviu. Pelo que Samira disse.
— Você não querer se casar comigo? — Arqueou as sobrancelhas,
um gesto que o deixava ainda mais bonito.
— Eu tenho catorze anos…
— Quase quinze. — Sorriu.
— Quase quinze. — Devolvi o sorriso. — Pensar que sou noiva não
é algo convencional. Quero dizer, não fomos criados nesse tipo de cultura.
Pode ser comum para outros esse tipo de arranjo, mas para mim não é.
Ele assentiu.
— Você é uma menina esperta, Hani. Gostei de você.
— Chuckran[9]! — Soltei uma risadinha.
— Ainda faltam alguns anos para nos casarmos. Seis anos, para ser
exato.
— Mas pensei que você não quisesse…
— Por quê?
Dei de ombros.
— Sua vida não é aqui, não nos conhecemos e existe uma grande
diferença de idade entre nós.
— Você tem razão, eu não quero me casar com você.
Naquele momento, uma pontada de tristeza me invadiu. Eu
realmente não queria me casar com um homem que mal conhecia, que
não amava. Mas ouvir isso da boca dele, de certa forma me magoou.
Minha autoestima já não era das melhores, então ela realmente atingiu um
número negativo. Tipo uns menos cem.
— Eu não quero me casar com ninguém, na verdade.
Talvez ele tivesse tentando consertar as coisas, tão visível era o meu
descontentamento com o que acabara de dizer. Mas minha autoestima se
elevou gradativamente, indo parar no menos quarenta e cinco.
— Entendi — falei, recuperando-me da surpresa inicial.
— Minha intenção é conversar com nossos pais, tentar desfazer
esse acordo ou seja lá o nome que isso tenha. Você não pode ser refém
desta situação, Hani. Deveria poder escolher com quem se casar. Não
quero ser o motivo da sua infelicidade.
— Isso é nobre de sua parte, Zayn. — Sorri, sentindo-me
agradecida.
Ele riu, e aquela sim foi uma risada espontânea.
— A palavra nobre não se encaixa ao meu perfil, menina. Mas você
não precisa saber disso.
Não entendi o que ele quis dizer. Deixou-me intrigada a seu respeito.
— De todo modo, agradeço sua preocupação com meu livre arbítrio.
Eu acredito que meu pai não me forçará a me casar, caso eu não o queira
fazer. Mas minha mãe e ele têm esperanças de que me apaixone por
você.
— Quer um conselho? Não cometa esse erro.
— Que erro? — Eu queria que ele me dissesse em voz alta.
Masoquista? Só um pouquinho.
— Não se apaixone por mim.
Foi minha vez de rir, ele pareceu surpreso.
— Eu não o conheço, mas tenha certeza de que não corro esse
risco. Meu coração pertence a outro homem.
A expressão de espanto em sua face me deixou imensamente
satisfeita.
Toma, babaca! Está pensando que é quem? A última Coca-Cola no
Saara?
— Sou completamente apaixonada por Johnny Depp. Então fique
tranquilo, você não tem chances contra o Johnny.
— Você é engraçada. — Soltou uma risadinha, enquanto balançava
a cabeça em negativa.
— Eu sou uma adolescente de quase quinze anos, Zayn. Não tenho
idade para me apaixonar.
— Venha, vamos voltar para a sala. Devem estar nos esperando.
Assenti em silêncio.
Zayn se aproximou e depositou um beijo em minha testa, fazendo
meu coração palpitar novamente e minha autoestima elevar para menos
vinte e cinco.
“E eu não suporto você
Tudo o que você faz, me faz querer sorrir
Será que eu posso não gostar disso por um instante?
Não... mas você não me deixa
Você me chateia garota, e depois me beija
De repente eu esqueço que estava chateado
Nem me lembro do que você fez.”
HATE THAT I LOVE YOU – RIHANNA FT. NE-YO
A coisa mais difícil para o homem
é o conhecimento próprio.
Provérbio Árabe
O primeiro passo foi dado. Senti-me aliviado ao ter aquela conversa
com Hani. Ela era uma menina legal, não merecia passar por uma
situação como a que nos encontrávamos. Aparentemente, uma garota
desengonçada, mas para sua idade fazia todo sentido. Talvez, no futuro,
pudesse se tornar uma linda mulher. Mas naquele momento, tudo o que
eu conseguia enxergar era uma menina magricela, com olhos de
azeviche[10] e sorriso metalizado pelo aparelho nos dentes. Nada atraente.
Tudo o que eu precisava era ter um tempo a sós com Phillip e meu
pai, para esclarecer a mudança de planos devido às circunstâncias atuais.
Eu estava confiante. Não era como se estivéssemos violando alguma
tradição. Foi um acordo entre partes, mas havia chegado o momento de
uma revisão e alteração, ou melhor: uma rescisão. Nada de casamento,
nada de assumir o conglomerado. Nada de fixar residência em Dubai.
Hani tinha razão, minha vida era em Londres.
Entretanto, estava difícil conseguir a ocasião perfeita para uma
conversa tensa. Sabia que seria inevitável, enfrentaria a fúria dos dois
homens que mais respeitava no mundo. Mas eu não era mais um garoto
manipulável, tinha tomado as rédeas de minha vida há muito tempo. Eles
teriam que entender e aceitar. Eu teria que escutar alguns sermões e me
demover das tentativas de coação. Sabia que pegariam pesado, mas
aprendi com os melhores, eu mesmo praticava os métodos de
argumentação nos quais eles eram especialistas.
Hani e eu voltamos para a sala, logo novos assuntos surgiram,
referentes ao aniversário. Assim que a promoter chegou, fomos
encaminhados para outra sala, onde havia um banquete preparado.
Foram acertados diversos detalhes do baile de debutante, que ignorei
discretamente. Hani parecia animada, mas em alguns momentos nossos
olhares se cruzavam e ela suspirava desanimadamente, como se
estivesse pedindo desculpas por ter que me submeter àquilo. Após o
lanche, nos encaminhamos ao salão vazio, para o ensaio da valsa.
Um tédio total.
Observei atento enquanto ela dançou com Phillip e depois com meu
pai, que era seu padrinho. Quando chegou minha vez, me aproximei e
assumimos nossa postura.
— Você não precisa fazer isso, se não quiser — disse ela, em uma
voz quase inaudível.
A música ressonava em volume alto, dando-nos a liberdade de
conversar sem que fôssemos ouvidos por nossos pais, a promoter e
Samira.
— Eu quero. Vim especialmente para o seu aniversário, Hani.
Ela balançou a cabeça e revirou os olhos.
— Veio para desfazer nosso noivado. Não precisa mentir pra mim,
Zayn.
— Certo, vim por isso também. Mas quis conhecê-la e participar
deste momento especial em sua vida. A décima quinta primavera, dizem
que é a fase em que uma menina se torna mulher. Algo assim.
Ela riu e, desajeitadamente, pisou no meu pé.
— Desculpe!
Paramos e a promoter abaixou a música.
— Continuem! Vocês precisam acertar o passo, vamos lá! Mais uma
vez!
— Está desculpada. — Sorri para tranquilizá-la. — Mas não erre
outra vez, ou essa mulher não nos deixará em paz nunca.
A música continuou e nos concentramos nos passos, acertando a
coreografia. Seriam apenas cinco minutos de dança, mas parecia uma
eternidade. Eu não via a hora de ir embora e esquecer toda a sessão de
tortura. Amava meus pais, tinha um carinho imenso por Phillip e Falak,
achava Hani uma menina querida, Samira também. Mas precisava me
distanciar daquelas pessoas, ficar em um ambiente escuro e silencioso,
tomar coragem para fazer o que precisava e ir embora para Londres,
seguir com minha vida.
Ouvi o barulho de palmas e a música parou. Hani e eu nos
afastamos, como se tivéssemos levado um choque.
— Vocês são tão lindos juntos! Imaginem quando for a valsa de
casamento?
Aquela era minha mãe, implicitamente me mandando um recado. Eu
podia ouvir sua voz dizendo: “Você não vai se livrar dessa, rapazinho.”
Hani revirou os olhos, mas segurou o sorriso.
— Boa sorte, Zayn. Acho que irá precisar — falou enquanto passava
por mim, para ir ao encontro dos pais.
Estou fodido.
— O que tinha em mente quando planejou vir até aqui essa noite?
Retornei ao terceiro andar, segurando Hani pelo braço. Após alguns
minutos de conversa com sua prima, ela finalmente aceitou conversar
comigo. Não que tivesse opção, pois estava falando muito sério quando
disse que ela só iria embora quando eu permitisse.
Meu escritório ficava à última porta do corredor. Entramos e só após
trancar a porta e retirar a chave, colocando-a no bolso traseiro de minha
calça, liberei Hani.
— Me divertir. Sou jovem, solteira, estou de férias em Londres. Essa
é a casa noturna mais badalada, eu quis conhecer. — Deu de ombros.
— Poderia ter ido ao Cirque Le Soir.
— Não gosto de circo, prefiro o deserto.
Respirei fundo, controlando meu humor. Ela estava claramente me
desafiando, mas eu não cederia. Fui até minha mesa e me escorei contra
ela, cruzando os braços.
— Tudo bem, chega de enrolação. — Fui categórico. — O que faz
em Londres? Já não terminou os estudos?
Hani estava escorada na porta de saída, imitando o meu gesto de
cruzar os braços.
— Como disse, estou de férias. Meus pais me presentearam com
alguns dias de liberdade, antes do meu retorno a Dubai. Voltarei para
casa antes do meu aniversário.
Praticamente um milagre que ela tenha me revelado a verdade sem
fazer jogo duro. Outro milagre era Phillip deixar sua filha e sobrinha
sozinhas em Londres.
— Há quanto tempo está solta pela cidade?
— Cinco dias.
— Quando é seu aniversário?
— Tá de brincadeira? — A indignação em seu tom de voz me fez
perceber a gafe que havia acabado de cometer.
Como é que eu saberia o dia do aniversário dela? Não era algo
importante a ponto de me lembrar por conta própria.
Porra!
— Deixa pra lá. — Eu não ia me desculpar. — Não vamos nos
dispersar do assunto principal, Hani. Quero saber a verdade.
Considerando a última vez em que estivemos juntos, eu não diria que
você veio me visitar para matarmos a saudade um do outro.
Ela sorriu abertamente, algo que antes não fazia por ter vergonha do
aparelho nos dentes. Hani se tornou uma mulher muito bonita, mesmo
jovem e imatura demais para se dar conta disso.
— Na última vez em que estivemos juntos, você deixou muito claro
quais eram as suas intenções comigo. — Seu tom severo me deixou em
alerta. — Passar os anos que lhe restavam antes de se casar,
aproveitando a vida na companhia de outras mulheres enquanto eu
permaneceria isolada na casa de meus pais. Depois disso, continuaria a
levar sua vida, me mantendo em Dubai enquanto viajasse pelo mundo.
Sorri com sarcasmo.
Eu não me recordava de ter falado aquelas sandices, embora não
tivesse dúvidas de que ela dizia a verdade. Estava alterado pelo efeito do
álcool, sabia que tinha cometido um erro ao quase transar com uma
mulher em um depósito de bebidas e tinha certeza de que consegui
desmanchar a imagem do príncipe encantado que Hani pintou ao me
conhecer. Mas não tinha plena consciência de que fui ainda mais
cafajeste do que pensei ter sido. Sabendo o quanto ela desejava ser livre,
insinuar que a manteria isolada era sádico demais, até mesmo para mim.
Talvez eu devesse esclarecer a ela que não pretendia fazer nada
daquilo, embora a ideia de me casar realmente estava sendo
considerada. Os anos se passaram e nenhuma mulher me despertou o
desejo de constituir família. Se eu tivesse que me unir a alguém para
elevar minha credibilidade com meus pais e também no mundo dos
negócios, que fosse com Hani. A filha de Phillip Mitchell se encaixava nos
padrões sociais e minha mãe tinha verdadeira adoração pela garota. Mas
depois do que ela aprontou, beijando outro enquanto sabia que eu era o
principal espectador, perdurar a mentira até que ela desempinasse o nariz
arrogante, era minha nova estratégia.
Hani era como uma égua selvagem: arisca e rebelde. Mas eu estava
mais do que disposto a domá-la.
— Isso significa que ainda tenho três anos para continuar
aproveitando — falei, dirigindo-lhe um sorriso desafiador.
Para minha surpresa e desagrado, Hani retribuiu o sorriso e me fitou
com malícia.
— Certamente saberá como fazê-lo — proferiu com indiferença. —
Mas não se apresse, não iremos nos casar. Você pode ir com calma para
não enfartar antes dos quarenta.
— Você sabe que reconsiderei o acordo, não mudei de ideia sobre
nos casarmos. Acha que estou blefando?
— Não, acho que fala muito sério. Pelo visto, ainda é o covarde que
tem medo de desapontar os pais. Mas reconsiderei meu receio de ser a
filha desobediente, quem não quer esse casamento e quem irá desfazer
essa porcaria de acordo, sou eu.
— Como é? — Afastei-me bruscamente da mesa, indo até ela. Hani
não tinha para onde fugir, estava contra a porta e a chave estava sob
minha custódia.
Mas ela não parecia preocupada, manteve-se impassível e me fitava
com uma altivez inabalável.
— Você se divertiu esses anos todos e, mesmo assim, não criou
coragem para expor a sua vontade aos seus pais. Eu precisei de cinco
dias de liberdade para saber o que quero para minha vida, e não é você.
Não quero me casar com um homem por quem não sou apaixonada, um
homem arrogante e machista, que pensa que é dono do mundo e que
todos devem acatar seus comandos. Não vou ser a sombra de alguém
que não me permite caminhar em direção ao horizonte ensolarado. Prefiro
viver o resto da minha vida na casa dos meus pais.
— Hani…
— Acha que só você pode aproveitar a vida do jeito que quer? —
Deu um passo à frente, me enfrentando. — São quinze dias, Zayn El Safy.
Cada um equivalente a um ano. Restam-me mais dez, e pode apostar,
serão muito bem aproveitados. Precisarei de lembranças inesquecíveis
para quando retornar à minha casa, dizer ao meu pai que não vou me
casar com você e estou pronta para viver isolada, se for preciso. Mas
nunca serei sua.
Pela primeira vez em meus trinta e três anos, não sabia o que dizer
para uma mulher.
— Me dê a chave, quero ir embora.
Sem argumentos, tudo o que consegui fazer foi pegar a chave no
bolso de minha calça e estender em sua direção. Observar Hani Mitchell
virar-me as costas e sair pela porta do meu escritório sem olhar para trás
deixou um rombo enorme em meu peito.
“Sim, iremos contra estas probabilidades invencíveis
É assim, você não pode colocar um preço na vida
Fazemos por amor
Então lutamos e nos sacrificamos todas as noites
Portanto, não vamos tropeçar e cair nunca
Esperando para ver um sinal de derrota.”
PRICE TAG – JESSIE J
Só sacia sua sede
quem bebe pela própria mão.
Provérbio Árabe
— É sábado. Vai ficar na cama o dia todo?
Era a terceira vez que Samira entrava em meu quarto tentando me
fazer levantar. Minha desculpa era o sono, por não estar habituada a sair
à noite. Mas ela sabia que a mudança em meu estado de espírito se devia
ao encontro com Zayn.
Depois que saí do seu escritório, retornei ao bar da área VIP, onde
Samira e Christopher estavam me aguardando. Pedi para que fôssemos
embora e nada disse durante o trajeto até o hotel. Minha prima e melhor
amiga sabia quando não devia insistir para que eu me abrisse.
— Estamos de férias, Samira. Posso dormir até mais tarde, não
posso?
Cobri meu rosto com o travesseiro, ignorando a garota. Não tardou
para que ela se jogasse em minha cama, fazendo um estardalhaço.
Teimosa como só eu conseguia ser, fingi que estava dormindo e não me
importei com sua provocação infantil.
— Sabe que cedo ou tarde terá que se levantar e encarar a
realidade — disse, aconchegando-se ao meu lado. — Você queria tanto
reencontrá-lo, Hani. O que pretende, agora?
Bufei, sentindo minha paciência se esvair. Arremessei meu
travesseiro para longe e me sentei no colchão.
— Pronto, acordei. Está satisfeita?
— Ainda não, você não respondeu minha pergunta.
Tornei a me deitar, apoiando a cabeça em minhas mãos, fitando o
teto.
— Não quero me casar, Samira. Nem irei. Depois de ontem, sei que
não posso contar com o apoio de Zayn. Ele quer uma esposa para
agradar seus pais e eu sou a melhor opção. Casar-se comigo não o
impedirá de continuar com sua vida, a única pessoa que sairá
prejudicada, neste acordo, serei eu.
— Vai conversar com o tio Phillip?
— Sim. Finalmente tomei coragem, prima. É da minha vida que
estamos falando, e da sua também. Sei que gostaria de cursar faculdade.
Foi aceita em Cambridge, não foi?
— Como sabe? — Ela estava realmente surpresa.
— Li a carta — revelei sem culpa. — Você não pode ser afetada
pelas decisões que o meu pai tomou em relação ao meu futuro. Se nem
eu aceito o que ele quer para mim, por que você tem que assentir calada?
A tristeza nos olhos de minha prima partiu o meu coração. Ela se
levantou abruptamente, ficando de costas para mim.
— Sou apenas uma sobrinha órfã, Hani. Tudo o que tenho vem da
caridade dos seus pais. Como eu pagaria minha faculdade? Mesmo que
conseguisse uma bolsa, me manter em Londres seria impossível.
— Que porra você está dizendo? — Levantei-me, indo ao seu
encontro e tocando seu ombro para fazê-la se virar para mim.
Samira não retribuiu meu olhar, permaneceu de cabeça baixa, seu
semblante apático.
— Nunca diga uma besteira dessas na frente dos meus pais, você
entendeu? — perguntei com rispidez. — Eles a amam como filha e,
apesar de eu te chamar de prima, você é minha irmã. Alguma vez na sua
vida te fizemos se sentir órfã?
— Não, mas…
— Jamais repita isso, Samira. Estou falando muito sério. — Puxei-a
para um abraço. — Você perguntou o que eu pretendo, pois bem,
pretendo antecipar nosso retorno a Dubai. Falarei com meu pai sobre o
rompimento do noivado com Zayn. Essa história já foi longe demais, ele
não pode e nem irá me obrigar. Também conversarei a respeito dos seus
estudos, se minha punição por ir contra a vontade dele de me casar com
o seu escolhido para a sucessão dos negócios da família é não poder
realizar meu sonho de estudar moda, você não faz parte disso.
— Desculpe-me — murmurou chorosa. — Você é que tem
problemas e eu fico me lamentando à toa…
— Não se desculpe, prima. Preciso de você mais do que nunca,
uma de nós precisa ser a forte.
— Você sempre foi a forte, Hani.
— Nada disso, sempre fui a que escondeu melhor as fraquezas,
só isso.
Já era noite quando abri meus olhos, a música ainda tocava, mas a
ausência de Zayn me fez sobressaltar entre os lençóis, buscando
encontrá-lo com o olhar pela tenda. Não o encontrei. Sentindo um nó em
minha garganta, levantei-me e procurei meu vestido entre as almofadas.
Vesti-me sem me preocupar com a lingerie ou meus cabelos
desgrenhados, caminhei para fora e finalmente avistei Zayn, sentado na
areia, perto do mar.
— Ei — chamei, me aproximando e me sentando ao seu lado. —
Está tudo bem?
Fitando o golfo pérsico, ele sorriu, mas não olhou para mim.
— Mais que bem, eu diria. Talvez eu não mereça sentir a felicidade
que estou sentindo, mas sou egoísta o bastante para te pedir que fique
comigo, que me ame e perdoe as minhas falhas. Que deixe o passado
para trás.
Toquei seu ombro, acariciando com suavidade.
— Eu já deixei, no instante em que saí do meu quarto e corri até
aqui para te encontrar.
Finalmente ele se voltou para mim.
— Quer se envolver com outros homens? Saber se o que te ofereço
é suficiente ou se outro é capaz de te amar mais do que eu?
— Mas é claro que não! — alterei minha voz, sentindo-me confusa
com a direção que aquela conversa estava tomando. — Eu não quero
mais ninguém além de você.
— Posso colocar o mundo aos seus pés…
Segurei seu rosto entre minhas mãos.
— Eu não quero o mundo! Só quero você do meu lado, não abaixo e
nem acima de mim.
Ele sorriu com malícia e somente então percebi a dubiedade de
minhas palavras. Dei um tapinha em seu ombro e o empurrei para trás,
caindo na gargalhada.
— Você entendeu o que eu quis dizer, seu safado!
— Completamente! — Levantou-se e estendeu a mão para me
ajudar a fazer o mesmo. — Venha, tenho um presente para você.
De mãos dadas, voltamos para dentro da tenda, e Zayn parou diante
de uma mesa posicionada em um dos cantos, onde havia frutas, uma
jarra de água, duas taças de cristal e um balde de gelo com uma garrafa
de champanhe.
— Está com sede? — Sem esperar pela minha resposta, serviu-me
de uma taça com água, colocando duas pedras de gelo.
Aceitei a gentileza e bebi.
— Certamente você já ouviu falar sobre o Instituto Marangoni.
— Sim. Uma escola de ensino em moda e design em Milão, Paris,
Londres, Florença e Xangai.
Ele sorriu, satisfeito com minha resposta.
— Eles oferecem excelentes cursos de férias — complementou. —
Seja para quem já é da área ou para quem ainda não possuí nenhuma
formação. Duram em torno de três semanas. Há uma grande variedade
de opções para você escolher e se identificar com a área que deseja
atuar.
— Não estou entendendo aonde você quer chegar… — Na verdade
eu estava.
Ele se aproximou e tocou meu rosto.
— Vá para Milão, viva o seu sonho.
Recuei um passo, assustada.
— Está desistindo de mim? De nós? — Senti minha voz embargar.
— Hani, eu te amo — Quebrou a distância que nos separava e
envolveu seus braços em torno da minha cintura. — Se para ver você feliz
eu tiver que te esperar, eu espero. Seria muito egoísmo da minha parte te
isolar em uma bolha novamente, só porque descobri tarde demais o
quanto você é importante para mim. Realize seus objetivos, conquiste
aquilo que tanto almejou. Terei o maior orgulho de você, na verdade, já
tenho, porque é muito mais corajosa do que eu.
Hesitei antes de perguntar:
— Mas e você?
— Não se preocupe comigo. Eu ajeito a minha vida para ela se
encaixar na sua.
Me diga, sou só eu
Ou você também sente o mesmo?
Você me conhece bem o bastante para saber que não é brincadeira
Juro que não vou mudar de ideia e não vou te decepcionar
Pode acreditar que nunca me senti assim antes
Baby, não há nada, não há nada que a gente não possa encarar.”
I DO – COLBIE CAILLAT
A humildade é a rede com que se apanha a glória.
Provérbio Árabe
Você pode ter tudo, dinheiro, fama, mulheres. Porém, quando você
ultrapassa algumas barreiras que não deveriam ser ultrapassadas, nem
sempre sairá da maneira que esperava ou planejava.
Eu me considerava um homem afortunado por nascer em uma
família de posses, que me proporcionou oportunidades para que eu me
tornasse quem me tornei. Contudo, escolhi meu próprio caminho, cometi
alguns erros e aprendi que, mais cedo ou mais tarde, chega um momento
na vida em que você acaba se arrependendo das merdas que fez ao
longo do tempo.
Quando eu finalmente descobri que meu sentimento por Hani era
amor, a dor de não tê-la mais ao meu lado me fez repensar tudo o que eu
já tinha feito sem me dar conta do poder que minhas palavras e ações
exerciam sobre outras pessoas. A dor que assolou meu coração, ao vê-la
indo embora, poderia ser o mesmo tipo de dor que eu já havia causado ao
virar as costas para as mulheres que passaram pela minha vida antes
dela.
Quando se está do lado fodido, aquele que sofre, que chora a perda,
você se dá conta de que não é o centro do universo, de que não é a
melhor pessoa do mundo e que existe outras coisas e pessoas mais
importantes que você. Colocar-se no lugar de alguém, às vezes pode te
resgatar do fundo do poço, quando você enxerga o babaca que é e sente
a necessidade de consertar isso, talvez o universo decida conspirar ao
seu favor.
Três meses se passaram desde que Hani e eu assumimos um
compromisso de namoro perante os nossos familiares. A noite do seu
aniversário de dezoito anos ficou marcada para muitos como o início de
um relacionamento, mas, para nós, significava o início de uma vida juntos.
Entreguei o meu coração para aquela garota naquela mesma noite e
não pretendia recebê-lo de volta jamais. Eu nunca acreditei que amaria
alguém com tamanha intensidade, e por este mesmo motivo, estava
convicto de que um sentimento assim não era coisa de momento.
Maktub nunca fez tanto sentido em minha crença.
Parafraseando um autor americano, Richard Bach:
“É um processo lento mudar de princípios, e nunca saberás que eles
mudaram até que alguma coisa que era certa para ti, simplesmente deixe
de o ser.”
E novamente o Richard:
“Não dê as costas a possíveis futuros, antes de ter certeza de que
não tem nada a aprender com eles.”
Por último, mas não menos importante, aquilo que me fez refletir e
repensar a maneira como eu enxergava o meu relacionamento com Hani
Mitchell, ao final de tudo:
“Quando amas alguém e sabes que ele está pronto para aprender e
crescer, tu o deixas em liberdade.”
“Se você ama alguém, deixe-o livre. Se ele voltar, é seu. Se não,
nunca foi.”
Sábio Richard Bach.
Hani era minha. Sempre foi. Porque, por mais que nos
afastássemos, ela sempre voltava para mim. Eu aprendi a deixá-la livre
para que fosse atrás dos seus sonhos, mas a recebia de braços abertos
quando ela ancorava em seu porto seguro.
E ali estava eu, há mais de trinta minutos, sentado em uma poltrona
dourada, no centro de uma pista de dança vazia, em minha nova casa
noturna em Milão. A inauguração seria no sábado, dentro de dois dias, e
Omar exigiu que eu assistisse a um show particular, com o grupo de
dança que faria a estreia do palco principal no evento de abertura oficial
da Hani.
Sim, eu finalmente havia escolhido o nome para a nova boate.
Milão foi a cidade que ela escolheu para estudar moda e iniciar sua
carreira profissional. Mesmo havendo uma escola do Instituto Marangoni,
em Londres, não a pressionei para que optasse pelo que me era mais
conveniente. Ajeitei minha vida para que se encaixasse à dela. E
estávamos indo muito bem.
— Dez minutos atrasados… — murmurei irritado, até que o arranjo
musical iniciou.
As luzes se apagaram e somente um refletor direcionado ao palco
iluminava o local.
O vulto no palco logo se revelou uma mulher, ao se posicionar na
parte iluminada. Mesmo que usasse um véu de seda, na cor azul,
cobrindo seu rosto, deixando em destaque os olhos bem marcados pela
maquiagem, eu conhecia aquele corpo como ninguém.
— Princesa Jasmine? — perguntei em tom de malícia, ao reconhecer
sua fantasia.
Hani me contou que quando nos beijamos pela primeira vez, no seu
aniversário de quinze anos, ela se imaginou sendo a princesa Jasmine e
eu, o seu Aladdin. Mas ali, diante daquele palco, eu agradeci mentalmente
ao djinn que transformou minha Hani na versão adulta e sexy da princesa
da Disney.
Remexi-me na poltrona, sentindo meu pau ganhar vida dentro das
calças. Mas quando Hani começou a balançar os quadris, iniciando sua
dança e dublando a voz da cantora, eu me dei conta de que não
conseguiria controlar minha libido. Ela sabia exatamente como me deixar
louco de tesão e usava todas as suas armas de sedução para que eu me
rendesse aos seus pés.
“Quando você estiver pronto, venha e pegue
Você não tem que se preocupar, é um convite aberto
Ficarei sentada bem aqui pacientemente
O dia todo, a noite toda, aguardando
Não posso parar porque eu adoro
Odeio o jeito que eu amo você
O dia todo, a noite toda…”
“Talvez esteja viciada para sempre, sem mentira
Não sou tão tímida pra mostrar que amo você
Não tenho arrependimentos
Amo você demais, demais pra esconder
Esse amor ainda não acabou
Então, amor, quando estiver pronto
Quando você estiver pronto, venha e pegue…”
Esse amor será a minha morte
Mas sei que morrerei feliz
Eu saberei, eu saberei, eu saberei
Porque você me ama…”
Come Get It - Selena Gomes
A cada movimento seu, meu desejo se intensificava cada vez mais.
Eu tinha plena consciência de que Hani estava me enviando um recado
explícito.
Ela queria que eu tomasse posse, e seus desejos eram como uma ordem
para mim.
Todo pedido de autorização será negado…[21]
Provérbio Árabe
— Acho que Javier está apaixonado — comentei, enquanto
penteava meus cabelos em frente à penteadeira, fitando o reflexo de
Zayn pelo espelho.
— Por que diz isso?
— Ele me enviou mensagem esses dias, me perguntando quem
era Gideon Cross.
Observei enquanto meu homem se levantava da cama,
completamente nu.
— E por que você saberia quem é esse cara? — resmungou, de
mau humor. — Stanton não sabe o que é internet? Por acaso está
apaixonado por esse tal de Gideon?
— Relaxe, Habib. Gideon Cross é personagem de um livro
erótico. Ele perguntou para mim porque sabe que gosto de ler
romances contemporâneos, e acertou em cheio, pois a série
Crossfire, escrita por Sylvia Day, é uma das minhas favoritas. —
Levantei-me e caminhei até ele, envolvendo meus braços em torno
do seu pescoço. — Além disso, você sabe que Javier não é gay.
— Eu sei… — sussurrou em meu ouvido, descendo suas mãos
por minhas costas nuas, agarrando minha bunda com
possessividade. — Por que acha que ele está apaixonado?
— Porque tem uma garota no prédio das Indústrias Stanton,
que, aparentemente, adoraria ter um Gideon Cross em sua vida. —
Mordi seu queixo, de leve.
— O personagem de um livro?
— Uhum.
— Que maluca! — Riu, divertindo-se.
— Pois é exatamente assim que ele a chama: maluquinha.
Zayn continuava acariciando o meu traseiro. Senti seu pau
roçando em minha perna, a ponto de bala.
— E qual foi o conselho que a melhor amiga de Javier Stanton
lhe deu? — perguntou, escorregando uma das mãos para minha
pélvis, tateando preguiçosamente até encontrar o que tanto
procurava.
— Eu disse para ele não perder tempo e ser o homem dos livros
que ela tanto gosta — gemi ao sentir o estímulo em meu clitóris.
Fechei meus olhos, antecipando o prazer que viria a seguir. — Pare
de me provocar, Habib. Que tal me fazer gozar, hum?
— Só mais uma pergunta. — Mordeu o lóbulo da minha orelha.
— Quando é que você vai aceitar se casar comigo?
Desci uma de minhas mãos pelo seu corpo até chegar ao seu
pau, começando a masturbá-lo sem pressa.
— Não se preocupe, amor. Quando chegar a hora certa, você
será o primeiro a ficar sabendo.
O momento certo estava mais próximo do que ele poderia
imaginar.
Para encontrar meus outros livros, acesse:
https://linktr.ee/autora.evymaciel
[1] Esta saudação é usada quase exclusivamente para conversas telefônicas. Traduz-se “alô”.
[3] Maneira bastante casual, fácil e rápida de se dizer a alguém "oi ", em árabe.
[4] Esta saudação traduz-se em "seja bem-vindo(a)!". Se alguém se encontra com você em sua casa, trabalho ou em
outro local, você deve usar esta saudação de acolhimento.
[5] Se alguém recebe e acolhe-o com "Ahlan" em primeiro lugar, esta é a forma mais adequada para cumprimentar
aquela pessoa em resposta. Em essência, você está dizendo "muito obrigado por ser bem-vindo".
[6] Me desculpe.
[7] Por favor (homem).
[8] Sim.
[9] Obrigada.
[10] Uma gema orgânica, variedade compacta de linhito, substância mineral de cor muito negra, com que são feitos
objetos de adorno.
[11] É uma espécie de cachimbo de água de origem oriental, utilizado para fumar tabaco aromatizado. Também
chamado de narguilé.
[12] Boarder é como são chamados os alunos que moram na escola, não retornando aos finais de semana para casa.
Tratando-se de colégio interno.
[13] Djinn: Traduzido como “gênio”, trata-se de uma entidade sobrenatural do mundo intermediário entre o angélico e o
humano, que pode ser associada ao bem ou ao mal, que rege o destino de alguém ou de um lugar; embora sejam
também descritos de um modo inteiramente virtuoso e protetor.
[14] Desculpe (por cometer um erro).
[15] Maktub é uma palavra em árabe que significa "já estava escrito" ou "tinha que acontecer".
[17] O “vestido” tradicional usado por homens árabes. Sempre com manga longa e comprimento até o tornozelo, pode
ser encontrado em diversas cores e materiais.
[18] O tradicional lenço árabe usado na cabeça pelos homens.
[19]“Cordinha” preta de duas voltas, feita de lã de camelo ou de ovelha, tramada para formar uma corda.
[20] Palavra em árabe que significa "amado" ou "querido"