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Universidade do Sul de Santa Catarina
Instrumental
técnico-operativo
do Serviço Social
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Créditos
Instrumental
técnico-operativo
do Serviço Social
Livro didático
Designer instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2016 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Livro Didático
M27
Marcomim, Ivana
Instrumental técnico-operativo do serviço social: livro didático /
Ivana Marcomim, Walery Luci da Silva Maciel; design instrucional Marina
Melhado Gomes da Silva . – Palhoça: UnisulVirtual, 2016.
88 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-965-6
e-ISBN 978-85-7817-966-3
Introdução | 7
Capítulo 1
Prática social e profissional: o processo de
trabalho do assistente social e o referencial
contemporâneo | 9
Capítulo 2
Instrumentalidade e estratégias em Serviço Social: o
cotidiano profissional frente às múltiplas expressões
da questão social | 35
Capítulo 3
Metodologia e instrumental técnico-operativo da
prática profissional | 55
Considerações Finais | 85
Caro(a) estudante,
Este livro que estamos iniciando tem como objeto de estudo e pesquisa o
instrumental técnico-operativo do Serviço Social.
Bons estudos!
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Capítulo 1
Seção 1
A prática social e profissional
A compreensão acerca das práticas profissionais do Serviço Social na atualidade
requer um olhar crítico, inovador, consciente dos desafios contemporâneos
e dos avanços teóricos, metodológicos, técnico-operativos e ético-políticos
da profissão, que impõem ao fazer profissional uma configuração crítica e
mobilizadora de potenciais individuais e coletivos.
A exemplo de todas as profissões, o agir profissional não é dissociado da
dimensão sócio-histórica da sociedade em que nos colocamos, o que exige uma
clareza a respeito do processo técnico-profissional, pois esse não representa o
agir pelo agir, mas circunscreve-se como uma prática com especificidades que
lhes são próprias, muito embora seja coletivo e inter ou multiprofissional.
Nessa lógica, podemos dizer que temos os referenciais críticos e teóricos que
norteiam nossa prática, além do Código de Ética Profissional (1993), o qual tem
o papel de delinear a natureza da profissão no contexto do mundo do trabalho
e sua posição ético-política diante desse contexto. Ainda podemos reconhecer
os diferentes espaços sócio-ocupacionais nos quais as práticas dos assistentes
sociais se desenvolvem, e que, por sua vez, configuram-se a partir do manejo do
instrumental técnico do Serviço Social.
Nesse processo, corremos o risco de recair em uma simplificação que indica
quais instrumentos e técnicas devem ser aplicados para quais ações, seus
objetivos ou finalidades e suas devidas processualidades.
Todavia, ao fazermos tal leitura excluímos a subjetividade dos sujeitos
(profissionais e população), dos instrumentais (considerando a apropriação feita
dele e seu fim), e o contexto do processo de trabalho ao qual a intervenção se
vincula. Essa pode ser, por exemplo, mobilizadora de lutas coletivas em busca da
consolidação de direitos, ou ainda envolver o emprego de critérios seletivos para
verificar a ordem de prioridade de beneficiários de determinado programa social.
Como podemos observar, muito embora o tema desse livro nos leve a uma
primeira visão de objetividade e utilidade concreta de instrumentos e técnicas, o
fazer profissional requer um olhar crítico, com viés processual, inclusive para a
escolha e emprego desses instrumentais.
Façamos um exercício simples:
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
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Capítulo 1
Nessa lógica, a autora (ibidem) situa que mesmo os espaços com saúde,
assistência social e previdência social são permeados e sofrem os reveses
da dinâmica societária que perpassam a atualização de suas demandas, das
modalidades de intervenção e conteúdo dos trabalhos profissionais, entre
outros aspectos. Assim, podemos observar complexidades e abrangências
novas, próprias do processo de incorporação de novas dinâmicas ao contexto
do trabalho social e da espera de intervenção dos assistentes sociais, tais
como: as novas implicações do SUAS; as implicações na Previdência Social
das relações demandadas do contexto das questões urbanas e rurais; a
expansão da áreas sociojurídicas com os novos postos de trabalho criados;
o processo de mobilidade e moradia popular, grande desafio atual, efeito do
cenário contemporâneo; as questões de natureza socioambiental amplamente
apropriadas devida ou indevidamente pelas grandes empresas, sob a égide da
educação ambiental; além das políticas de acesso à inserção, que Moller (apud
MOTA, 2014, p. 698) afirma obedecerem à lógica da discriminação positiva e
definirem públicos e estratégias para suprir o que as políticas universais não
conseguem realizar.
Como se observa, a prática social hoje posta às profissões desse campo requer
das práticas profissionais uma capacidade de garantir avanços teórico-políticos,
técnico-operativos e metodológicos que incidam sobre a complexa dinâmica do
cenário atual e consolide movimentos (pontuais ou progressivos) que resinifiquem
a condição dos sujeitos da prática profissional, uma vez que essa não se faz
para alguém, mas com alguém.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Com isso, queremos refletir que não se pode pensar em modelos prontos, acabados,
aplicáveis e partir de outras referências não críticas dos instrumentais da profissão,
pois esses mesmos instrumentais se fazem e se renovam no porvir da dinâmica
cotidiana e complexa da realidade social onde se processa a prática profissional.
Talvez alguns possam julgar que esse é um desafio inglório, que seria mais prática
a reprodução de instrumentais ou processos técnico-operativos replicáveis
por décadas, dando-lhe certo domínio permanente e inquestionável sobre a
dinâmica interventiva. Vamos pensar de modo diferenciado: se cotidiano é
história construída no dia a dia, sem nem mesmo ser percebida desse modo,
quanta riqueza há na capacidade técnica em desvendar essa realidade, antever
as demandas por ela e consolidar respostas antecipadas aos possíveis e críticos
problemas os quais advêm, historicamente, de um modelo excludente, fundado
na divisão de classes e exploração deste processo? (IAMAMOTO, 2007). “É a
busca das relações entre o imediato e o mediato que pode permitir ao profissional
identificar nexos, relações e mediações que viabilizam tratar os atos e situações
singulares em relação à totalidade social” (GUERRA apud MOTA, 2014, p. 701).
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Capítulo 1
Dessa forma, podemos falar que o que fará a diferença entre a forma de conduzir
uma mesma intervenção entre dois sujeitos profissionais será incontestavelmente
sua posição ético-política e os domínios dessa posição derivados, noção de que
falamos em direitos a serem assegurados, de intersetorialidade entre políticas,
de potencialização dos sujeitos ou dos sujeitos, pois a demanda individual pode
traduzir uma demanda de direitos coletiva e, nesse processo, o emprego do
instrumental técnico-operativo adquire sua singularidade.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Para Netto (apud BARBOZA e FREIRE, 2006), não se pode duvidar que esse
período histórico foi marcado por transformações societárias aceleradas, que
afetam diretamente o conjunto da vida social e incidem sobre as profissões,
exigindo que se determinem mediações que conectem as profissões às
transformações.
Citamos Iamamoto (2005), muito embora aqui reduzindo sua ampla, detalhada
e complexa reflexão acerca das demandas profissionais das relações entre o
Estado e a sociedade:
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Capítulo 1
Muito embora dessa época para as políticas públicas atuais tenham acontecido
expressivas inovações, não se pode prescindir de destacar a atualidade dessa lógica.
Todavia, não podemos esquecer que tratamos do chão de trabalho sobre bases
capitalistas, ou seja, a prática social se revela por meio de mediações que
relacionam forma e essência, gestadas na própria sociedade. Disso se deriva
“a exigência metodológica de apreender a formação econômica-social desta
natureza capitalista em sua totalidade concreta com reprodução da realidade
aprendida com suas múltiplas influências e determinações, como unidade na
diversidade”. (MARX apud IAMAMOTO, 1997, p. 117).
Nesse contexto reflexivo, a autora destaca a relação entre prática com a teoria.
Citando Vazques (IAMAMOTO, 1997, p. 118), afirma que “se pode dizer que a
teoria assim concebida se torna necessária como crítica teórica das teorias que
justificam a transformação do mundo e como teoria das possibilidades de ação”.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Esse olhar implica cuidados para que não se desenvolva uma profissão de
natureza utilitarista, capaz de responder às demandas da sociedade em cada
tempo, mas considerando a ordem vigente e não ensejando para a transformação
social desejada em nosso projeto profissional. Por isso, teoria e método,
instrumental e elementos operativos devem consolidar-se como uma construção
imbuída da visão crítica e propositiva da profissão em seu tempo, mas ciente de
seu compromisso com o empoderamento, com os princípios da liberdade, da
democracia, da valorização da natureza humana em suas múltiplas e diversas
formas de construir e viver em sociedade, com a supremacia do direito à
dignidade de cada ser humano que a componha.
Há, portanto, um destaque a ser feito na lógica destacada por Iamamoto e que
manterá atual a natureza desta profissão:
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Capítulo 1
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Seção 2
O processo de trabalho do assistente social e o
referencial contemporâneo
Nesta seção, você será estimulado a compreender como se processa o trabalho
no Serviço Social, considerando a capacidade processual dessa profissão
de atualizar-se e interpretar a realidade a partir dos parâmetros das classes
populares e do movimento na construção histórica dos direitos humanos e
sociais, considerando as tendências teóricas contemporâneas que norteiam essa
compreensão.
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Capítulo 1
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Muito embora não se possa falar de formas, modelos, ou métodos fechados, apesar
de muitos o desejarem, falamos em processos de trabalho pelos quais há demandas
identificadas no contexto das múltiplas expressões da questão social, especialmente
envolvendo o olhar do sujeito para sua própria realidade e para sua ação consciente
e crítica diante dela (ao que chamamos por muito tempo objeto da prática).
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Capítulo 1
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
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Capítulo 1
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
No olhar crítico de Faleiros (2014), não se pode recair sobre um olhar simplista
de configuração da pratica profissional. Estamos falando de consciências,
relações socais, ideologias e sujeitos que se colocam em processo de convívio e
compreensão das várias manifestações e expressões dessas relações sociais.
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Capítulo 1
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
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Capítulo 1
Para Yasbek (2014), apesar da apropriação desses referenciais, é cada vez mais
evidente que diferentes projetos sociopolíticos societários e também projetos da
profissão se expressem no cotidiano do processo de trabalho profissional, os
quais muitas vezes se configuram como relações de poder.
Note o poder de crítica feito pela autora (2014, p. 687-688): “Você exerce em
seu processo de trabalho profissional uma dinâmica de poder que lhe representa
diante do projeto ético político da profissão. Neste âmbito, fica evidente a
dimensão cultural e política do exercício desta profissão”.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO EM SERVIÇO SOCIAL. Cadernos ABESS.
Ensino em Serviço Social: Pluralismo e Formação Profissional. São Paulo:
Cortez, 1995.
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Capítulo 1
FALEIROS, Vicente de Paula. Serviço Social: questões presentes para o futuro. In:
Serviço Social & Sociedade, nº 50. São Paulo: Cortez, 1996.
IAMAMOTO, Marilda V.; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social
no Brasil. Esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo:
Cortez, CELATS (Lima-Perú), 1982.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
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Capítulo 1
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do serviço social no
Brasil pós-64. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1998.
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do serviço social no
Brasil pós 64. 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2006.
NETTO, José Paulo. O Serviço Social e a tradição marxista. In: Serviço Social e
Sociedade. São Paulo: Cortez, ano 10, n. 30, p. 89-102, maio/ago. 1989.
NETTO, José Paulo. A conjuntura brasileira: o Serviço Social posto à prova. In:
Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, ano XXV, n. 79, Especial, 2004.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
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Capítulo 2
Instrumentalidade e estratégias
em Serviço Social: o cotidiano
profissional frente às múltiplas
expressões da questão social
Walery Luci da Silva Maciel
Seção 1
A questão social
Construção
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Capítulo 2
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
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Capítulo 2
A questão social emerge na Europa nos meados do século XIX como resultado
da nova configuração da sociedade a partir da Revolução Industrial, mais
precisamente das lutas dos operários e das repressões então sofridas. Surge
como resultado do embate entre a manutenção da propriedade privada por parte
da burguesia e o direito ao trabalho defendido pelos operários.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
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Capítulo 2
Robert Castel (2013) analisa a questão social a partir do contexto europeu, mais
precisamente da França, tendo como referência teórica de análise a visão de
Durkheim, em que a sociedade é entendida a partir de um conjunto de relações
de interdependência. Afirma o autor que a questão social desenha-se nas
condições de vida de milhares de pessoas que, diante das atualizações das
competências econômicas e sociais, veem-se à margem da vida social, por
conta da precarização das relações de trabalho e da fragilização dos sistemas de
proteção que acolhem os indivíduos ao longo de sua existência.
Para o autor, o “social” acontece nas relações não mercantis, sendo o hiato entre
a organização política e o sistema econômico, e tendo como centro a ideia da
sociedade salarial, em que a maioria dos sujeitos sociais tem sua inserção social
relacionada ao lugar que ocupa no salariado, o que envolve sua renda, seu status,
sua proteção e sua identidade. A sociedade salarial não é uma sociedade de
igualdades, abrigando diversos conflitos; no entanto, cada sujeito dispõe de um
mínimo de garantia e direitos, assegurados pelo Estado Social. Com a retirada
do Estado, o corporativismo ameaça os interesses gerais, e o vínculo social
pode se decompor. Para o autor, a questão social se agrava com a precarização
do trabalho e com a interinidade, que alimenta o desemprego. Dessa forma, os
indivíduos, vivendo o dia a dia, veem fragilizados seus vínculos, a noção de
pertencimento e a coesão social. Segundo Castel (2013), o enfrentamento da
questão social se dá mediante o fortalecimento das relações de trabalho, sua
garantia e a proteção do Estado.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Se antes a classe operária tinha uma identidade, dada por sua participação
na produção, e nela podia se apoiar e reivindicar de forma coletiva, agora,
dissociada da produção e identificada pelo consumo, luta pelo reconhecimento,
por sua dignidade. Dessa forma, numa ordem em que as categorias objetivas dos
dominantes definem a nova questão social, colocando em oposição a integração
à exclusão e o universal ao particular, resta ao excluído a luta por sua dignidade
e reconhecimento ao direito de viver a sua vida, sem a imposição de modelos
definidos pelo consumo. Isso constitui a nova questão social.
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Capítulo 2
Por outro lado, afirma a autora que a distinção atribuída à questão social exige
o aprofundamento e a apropriação da matriz teórica da tradição plural marxista,
relacionando-a com as demais correntes do pensamento contemporâneo e
aprofundando seu debate. Essa aproximação permite entender a sociedade civil
que explica o Estado, sendo que nas relações sociais podem ser compreendidas as
formas políticas, religiosas, artísticas, entre outras. A partir dessa visão, a questão
social tem prioridade sobre a política social na formação acadêmico-profissional
do assistente social, pois “a questão social explica a política social, mas a política
social não explica a questão social tout court” (IAMAMOTO, 2010, p. 185).
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Seção 2
Estratégias em Serviço Social
O processo de ação ou intervenção profissional não se modeliza
num conjunto de passos preestabelecidos (a chamada receita),
exigindo uma profunda capacidade teórica para estabelecer os
pressupostos da ação, uma capacidade analítica para entender
e explicar as particularidades das conjunturas e situações, uma
capacidade de propor alternativas com a participação dos sujeitos
na intrincada trama em que se relacionam as forças sociais, e em
que se situa, inclusive, o assistente social (FALEIROS, 2011, p. 65).
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Capítulo 2
Quanto aos patrimônios simbólicos, o autor afirma que eles são referências para
a constituição das identificações sociais. As representações que os indivíduos e
grupos fazem de si mesmos dependerão das crenças, valores e referências
culturais que adotam no cotidiano. As representações e ideologias dependem das
práticas sociais de classe, de discriminação, de resistência.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
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Capítulo 2
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Seção 3
Instrumentalidade do Serviço Social
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Capítulo 2
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Capítulo 2
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Capítulo 2
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
O entendimento dos assuntos até aqui abordados, quais sejam, a questão social,
as estratégias e a instrumentalidade do serviço social, servem de embasamento
para a compreensão das metodologias de intervenção e dos instrumentais
técnicos operativos, nossos próximos temas de estudo e pesquisa. Sugerimos um
estudo atencioso e empenhado, considerando que essa é nossa práxis, espaço
em que transformamos intenções em ações, intervimos; esse é nosso chão.
Referências
ABEPSS/CEDEPSS. Diretrizes gerais para o curso de Serviço Social. Rio de
Janeiro, 1996.
FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em serviço social. 10ª ed. São Paulo:
Cortez, 2011.
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Capítulo 2
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 8ª ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil,
2005.
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Capítulo 3
Metodologia e instrumental
técnico-operativo da prática
profissional
Walery Luci da Silva Maciel
Seção 1
Considerações em torno das abordagens
individual, grupal e coletiva
No momento em que detemos nosso estudo na dimensão técnico-operativa
do Serviço Social, fazemos isso lembrando, conforme até aqui estudado, da
complexidade dos contextos e demandas com as quais trabalhamos. Estamos
nos referindo à diversidade de espaços sócio-ocupacionais, seja na esfera
pública ou privada, nos diferentes níveis de ações nos quais somos demandados,
seja na proposição, planejamento e formulação de políticas públicas, na
articulação e ou gestão de programas, projetos, movimentos ou organizações
sociais, bem como no atendimento direto.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
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Capítulo 3
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Capítulo 3
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Capítulo 3
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Para Mioto e Lima (2009), no trabalho com a coletividade o Serviço Social tem
a oportunidade de atuar por meio dos processos político-organizativos, quando
as ações, ao serem articuladas, privilegiam e incrementam as discussões,
encaminhando-as para a esfera pública. Nesses processos, o foco consiste
em dinamizar e instrumentalizar a participação dos sujeitos, considerando seu
potencial político e seu tempo. Apesar de abarcarem as demandas imediatas,
a ação prospecta, a médio e longo prazo, a construção de novos padrões de
sociabilidade, de novas e diferenciadas soluções aos problemas que são comuns,
guiada pela ideia de democratização dos espaços coletivos.
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Capítulo 3
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Seção 2
Instrumental técnico-operativo e documentação
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Capítulo 3
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
2.1 Instrumentos
Entrevista
A entrevista é um dos instrumentos mais utilizados pelo Serviço Social, estando
presente ao longo da história da profissão desde as primeiras produções
acadêmicas, como O Diagnóstico Social, de Mary Richmond, de 1950. Passando
por diversas concepções e entendimentos no processo de elaboração teórico-
metodológica do Serviço Social, a entrevista manteve alguns preceitos que
continuam fazendo parte de seu arcabouço teórico-prático, tais como a
necessidade de conhecimento, a intencionalidade e o respeito pelos sujeitos,
dispositivos esses que a caracterizam dentro do modo de operacionalização do
trabalho pelo assistente social. Conforme Faermann (2014, p. 217), a entrevista,
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Capítulo 3
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Observação participante
A observação participante diz respeito à aquisição do conhecimento de uma
determinada realidade por meio da observação e interação. Observar compreende
o uso de todos os sentidos (visão, audição, tato e olfato); porém, em se tratando
da observação como um dos instrumentos de trabalho do Serviço Social, essa
adquire um caráter diferenciado. Isso ocorre pois, na medida em que o profissional
observa, ele também interage, estabelecendo uma relação social com os outros
sujeitos, os quais detêm expectativas quanto às intervenções que poderão
acontecer ou quanto aos resultados do processo de observação. Dessa forma, o
profissional observa e é observado (SOUZA, 2008). Ainda segundo o autor,
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Capítulo 3
Visita domiciliar
A visita domiciliar como instrumento técnico-operativo sempre esteve presente no
cotidiano da práxis do Serviço Social. Trata-se do momento em que o profissional
adentra o privado, ou seja, o domicilio do usuário, tendo como objetivo a obtenção
de um conhecimento mais aproximado da realidade então relatada e vivenciada. A
visita domiciliar tanto pode caracterizar um momento de aproximação, para uma
interação maior e o estabelecimento de laços de confiança, quanto pode significar
uma intrusão, ou ferramenta de verificação e controle.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Reunião
De acordo com Souza (2008), as reuniões são espaços coletivos, encontros grupais,
os quais têm como objetivo o estabelecimento de alguma espécie de reflexão ou
encaminhamento sobre determinado assunto, ou ainda a tomada de decisão.
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Capítulo 3
Para a realização da reunião muitas técnicas podem ser utilizadas, sendo que
a escolha deverá ser guiada levando em conta os participantes e os objetivos a
serem alcançados. Muito comum, a dinâmica de grupo é uma técnica na qual
são utilizados jogos, brincadeiras, simulações de determinadas situações, tendo
como alvo a reflexão acerca de uma determinada temática. O assistente social
como facilitador ou moderador atua como um agente que provoca situações que
levem o grupo à reflexão, o que requer dele tanto habilidades teóricas (a escolha
do tema e como ele será trabalhado), uma postura política democrática, assim
como a capacidade de controlar o processo da dinâmica de maneira que os
objetivos sejam alcançados (SOUZA, 2008).
Articulação
Quando nos referimos a articulação como um dos instrumentos de trabalho do
assistente social, estamos nos referindo a sua capacidade de trabalhar em rede.
De acordo com Bourguignon (2011, p. 4), o termo rede
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Mobilização
A mobilização como instrumento de ação do Serviço Social está intimamente ligada
ao trabalho coletivo, comunitário, conforme vimos anteriormente. De acordo com
Abreu e Cardoso (2009), os processos de mobilização e organização resgatam o
caráter socioeducativo da ação do Serviço Social. O que irá determinar o objetivo
dessa ação será o postura profissional embasada no compromisso ético-político de
atuar “tendo como horizonte a conquista da emancipação humana, passando pelas
lutas democráticas e pelo fortalecimento de processos emancipatórios das classes
subalternas e de toda a sociedade” (ABREU; CARDOSO, 2009, p. 9). Iamamoto
(2009, p. 6) corrobora com essa ideia quando afirma que
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Capítulo 3
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Estudo social
Sendo utilizado principalmente para contribuir com decisões judiciais, o estudo
social constitui um instrumento do Serviço Social que visa a analisar determinadas
conjunturas da realidade social a ser trabalhada, com o objetivo de apresentar
respostas às demandas postas. De acordo com CFESS (2004), o estudo social
consta de um procedimento metodológico específico do Serviço Social, que tem
como finalidade conhecer com profundidade e de forma crítica uma determinada
situação ou manifestação da questão social, objeto de intervenção profissional,
tendo como foco os aspectos socioeconômicos e culturais.
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Capítulo 3
2.2 Documentos
Para Souza (2008), o diário de campo consiste num documento que auxilia
bastante tanto o aluno quanto o profissional no trabalho cotidiano, pois permite
a sistematização das atividades e a posterior reflexão tão necessária ao
processo ação/reflexão.
O diário de campo deve conter inicialmente a descrição do que está sendo vivido,
observado, falado. Essa descrição deve ser feita em linguagem clara e objetiva,
porém, não prescindindo de detalhes que posteriormente poderão ser úteis à
análise e reflexão.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Ainda no que diz respeito à elaboração do relatório social, deve ser levado em
conta a quem ele se destina: se para profissionais da área, para outras categorias
profissionais; se para uso interno ou externo. Essas definições irão determinar
qual a linguagem mais adequada ou qual formato irá atender seu objetivo,
considerando que trata-se um relatório social, o que diz respeito à inserção do
Serviço Social na divisão do trabalho por meio de um profissional que atua nas
diferentes manifestações da questão social.
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Capítulo 3
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Por fim, Souza (2008) sugere que, além de uma avaliação referente ao passado,
o parecer social também deve realizar uma análise prospectiva, demonstrando
os possíveis desdobramentos que uma determinada situação poderá apresentar
e levantando hipóteses sobre possíveis consequências da situação. Salienta
o autor que deve ainda constar do parecer novas ações que poderão ser
desenvolvidas pelo próprio assistente social ou outros profissionais que estejam
envolvidos com a situação.
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Capítulo 3
Referências
ABREU, M. M.; CARDOSO, F. G. Mobilização social e práticas educativas.
In: ABEPSS; CFESS (Org.). Serviço Social: direitos sociais e competências
profissionais. Brasília: Cfess/Abepss,UnB, 2009, p. 593-608.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
AMARO, Sarita. Visita Domiciliar: Guia para uma abordagem complexa. 2ª ed.
Porto Alegre: Editora AGE, 2007.
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Capítulo 3
FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em serviço social. 10ª ed. São Paulo:
Cortez, 2011.
LEWGOY, Alzira M. B., ARRUDA Marina P. de. Da escrita linear à escrita digital:
atravessamentos profissionais. In: Revista Virtual Textos & Contextos, nº 2, dez.
2003. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/fass/ojs/index.php/fass/
article/view/955/735>. Acesso em: 09 nov. 2015.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
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Capítulo 3
84
Considerações Finais
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Sobre as professoras conteudistas
Ivana Marcomim
Graduada em Serviço Social pela Universidade do Sul de Santa Catarina
(UNISUL). Especialista em Desenvolvimento Sustentável e Questões de Gênero
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Engenharia de
Produção, área de concentração Ergonomia, pela Universidade Federal de Santa
Catarina. Docente do Curso de Serviço Social da UNISUL, campus Araranguá,
Tubarão e Florianópolis. Atualmente, é docente da UNISUL, do CapacitaSUAS
(MDS/Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social e Emprego/Unisul-2013),
com orientações de estágio, monografias; docente em metodologias de diagnóstico
e pesquisa social; atua com gestão de pessoas, planejamento e gestão de
planos, programas e projetos; avaliação de políticas e projetos sociais; direitos
humanos e cidadania, antropologia, ciência e metodologia científica e da pesquisa,
monitoramento, empreendedorismo, gestão de políticas sociais (SUAS, ECA, PNI,
PNPDE); desenvolvimento comunitário; economia solidária; gestão de organizações
sociais; responsabilidade socioambiental; ecologia social. Coordenadora da
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP – UNISUL). Assistente de
Projetos da Gerência de Ensino, Pesquisa e Extensão (GEPEX). Pesquisadora do
programa Ambientalização na Educação Superior na Fapesc.
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Instrumental técnico-operativo do Serviço
Universidade do Sul de Santa Catarina
Social
Este livro tem como tema o instrumental
técnico-operativo do Serviço Social, assunto tratado
em três capítulos nos quais você estará estudando
acerca da contemporaneidade da profissão e sua
Instrumental
relação com as novas manifestações da questão
social, as estratégias e a instrumentalidade para seu
enfretamento, e por fim o instrumental e os
documentos próprios e pertinentes à práxis
técnico-operativo
cotidiana do Serviço Social. Os textos aqui reunidos
têm como objetivo criar um ambiente de reflexão,
debate e entendimento do assunto abordado,
do Serviço Social
contribuindo para sua formação
acadêmica e profissional.
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