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Universidade do Sul de Santa Catarina

Instrumental
técnico-operativo
do Serviço Social

UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Créditos

Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul


Reitor
Sebastião Salésio Herdt
Vice-Reitor
Mauri Luiz Heerdt

Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão


Mauri Luiz Heerdt
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Diretor
Fabiano Ceretta

Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços


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Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos
Márcia Loch
Gerente de Prospecção Mercadológica
Eliza Bianchini Dallanhol
Ivana Marcomim
Walery Luci da Silva Maciel

Instrumental
técnico-operativo
do Serviço Social

Livro didático

Designer instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva

UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2016 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Livro Didático

Professoras Conteudistas Diagramadora


Ivana Marcomim Noemia Mesquita
Walery Luci da Silva Maciel
Revisor(a)
Designer instrucional Diane Dal Mago
Marina Melhado Gomes da Silva
ISBN
Projeto gráfico e capa 978-85-7817-965-6
Equipe UnisulVirtual
e-ISBN
978-85-7817-966-3

M27
Marcomim, Ivana
Instrumental técnico-operativo do serviço social: livro didático /
Ivana Marcomim, Walery Luci da Silva Maciel; design instrucional Marina
Melhado Gomes da Silva . – Palhoça: UnisulVirtual, 2016.
88 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-965-6
e-ISBN 978-85-7817-966-3

1. Serviço social. I. Maciel, Walery Luci da Silva. II. Silva, Marina


Melhado Gomes da. III. Título.

CDD (21. ed.) 361

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul


Sumário

Introdução | 7

Capítulo 1
Prática social e profissional: o processo de
trabalho do assistente social e o referencial
contemporâneo  | 9

Capítulo 2
Instrumentalidade e estratégias em Serviço Social: o
cotidiano profissional frente às múltiplas expressões
da questão social | 35

Capítulo 3
Metodologia e instrumental técnico-operativo da
prática profissional | 55

Considerações Finais | 85

Sobre as professoras conteudistas | 87


Introdução

Caro(a) estudante,

Este livro que estamos iniciando tem como objeto de estudo e pesquisa o
instrumental técnico-operativo do Serviço Social.

A complexidade das diversas manifestações da questão social com as quais


trabalhamos constituem um desafio permanente, tanto para seu entendimento
quanto para a busca de soluções. Sabemos que a compreensão do tema só é
possível por meio do cruzamento de diferentes olhares, perspectivas, saberes;
o que envolve a pesquisa, estudo e ação multidisciplinar. Dentro dessa mesma
perspectiva, estaremos abordando com você o instrumental técnico-operativo,
entendendo que estamos tratando de instrumentos, técnicas e documentos que,
utilizados pelo Serviço Social, mas não sendo exclusivos, para sua aplicação
necessitam de uma rigorosa revisão teórica e metodológica, de forma que
resultem pertinentes à intervenção que corrobore com uma práxis fundamentada
no Código de Ética e no projeto ético-político da categoria.

Iniciamos o primeiro capítulo abordando a contemporaneidade do Serviço Social e


os desafios de atuar nesta área frente às novas manifestações da questão social.

Avançamos nosso estudo no segundo capítulo fazendo uma breve reflexão em


torno da instrumentalidade e das estratégias em Serviço Social, abordando
também a questão social no cotidiano profissional.

Concluiremos nosso estudo, no capítulo três, quando estaremos discutindo


de forma detalhada os instrumentos, técnicas e documentos com os quais
trabalhamos cotidianamente e que nos diferenciam e identificam como uma
profissão de caráter interventivo dentro das ciências sociais.

Deixamos como sugestão que você estude com empenho, considerando a


extrema relevância do assunto para sua formação profissional. Para tanto, leia
o texto com atenção, reflita, questione, critique, vamos construir juntos(as) mais
esta etapa em direção à consecução de seu projeto profissional.

Bons estudos!

Professoras Ivana e Walery.


Capítulo 1

Prática social e profissional:


o processo de trabalho do
assistente social e o referencial
contemporâneo
Ivana Marcomim

Neste capítulo, você será convidado a fazer inúmeras reflexões acerca da


configuração da prática profissional do assistente social na contemporaneidade,
considerando a caracterização dessa prática a partir do processo de trabalho que
lhe é específico.

Falaremos de como os diferentes espaços sócio-ocupacionais e as dimensões da


prática profissional imprimem a ela uma identidade política e, ao mesmo tempo,
mediadora.

Muito embora se forme e desenvolva a partir dos diferentes momentos sócio-


históricos e conjunturais que lhe imprimem identidade e caracterizam a evolução
de seus domínios teórico, metodológicos, ético, políticos e técnico operativos,
há, no contexto capitalista, uma complexa dinâmica que exige dos profissionais
a capacidade crítica e propositiva no sentido da implantação do projeto ético
político profissional. Nesse sentido, muitos são os desafios, mas grandes já
somam as conquistas.

Consideramos que, a partir dessa leitura e suas proposições de trabalho


complementares, você se aproxime da compreensão sócio-histórica sobre o
trabalho, a questão social e o trabalho profissional em Serviço Social.

9
Capítulo 1

Seção 1
A prática social e profissional
A compreensão acerca das práticas profissionais do Serviço Social na atualidade
requer um olhar crítico, inovador, consciente dos desafios contemporâneos
e dos avanços teóricos, metodológicos, técnico-operativos e ético-políticos
da profissão, que impõem ao fazer profissional uma configuração crítica e
mobilizadora de potenciais individuais e coletivos.
A exemplo de todas as profissões, o agir profissional não é dissociado da
dimensão sócio-histórica da sociedade em que nos colocamos, o que exige uma
clareza a respeito do processo técnico-profissional, pois esse não representa o
agir pelo agir, mas circunscreve-se como uma prática com especificidades que
lhes são próprias, muito embora seja coletivo e inter ou multiprofissional.
Nessa lógica, podemos dizer que temos os referenciais críticos e teóricos que
norteiam nossa prática, além do Código de Ética Profissional (1993), o qual tem
o papel de delinear a natureza da profissão no contexto do mundo do trabalho
e sua posição ético-política diante desse contexto. Ainda podemos reconhecer
os diferentes espaços sócio-ocupacionais nos quais as práticas dos assistentes
sociais se desenvolvem, e que, por sua vez, configuram-se a partir do manejo do
instrumental técnico do Serviço Social.
Nesse processo, corremos o risco de recair em uma simplificação que indica
quais instrumentos e técnicas devem ser aplicados para quais ações, seus
objetivos ou finalidades e suas devidas processualidades.
Todavia, ao fazermos tal leitura excluímos a subjetividade dos sujeitos
(profissionais e população), dos instrumentais (considerando a apropriação feita
dele e seu fim), e o contexto do processo de trabalho ao qual a intervenção se
vincula. Essa pode ser, por exemplo, mobilizadora de lutas coletivas em busca da
consolidação de direitos, ou ainda envolver o emprego de critérios seletivos para
verificar a ordem de prioridade de beneficiários de determinado programa social.
Como podemos observar, muito embora o tema desse livro nos leve a uma
primeira visão de objetividade e utilidade concreta de instrumentos e técnicas, o
fazer profissional requer um olhar crítico, com viés processual, inclusive para a
escolha e emprego desses instrumentais.
Façamos um exercício simples:

Pense em qualquer profissão que, para você, tenha instrumentos e


técnicas claros, pontuais e evidentes quanto ao seu uso. Provavelmente
você já partiu não do instrumental em si, mas do problema a ser “resolvido”
com o uso desse instrumental.

10
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Para algumas profissões isso é possível e seria o ideal.

Agora pense nas demandas que se apresentam no cotidiano das práticas


profissionais em Serviço Social e tente identificar alguns instrumentos e técnicas
para o uso no atendimento dessa demanda.

Há mais opções? Há clareza do processo interventivo: compreender/


diagnosticar/ refletir/analisar junto aos sujeitos sobre as demandas
e suas formas de enfrentamento e superação individual e coletiva; e
encontrar possíveis respostas mediadas pelas políticas de direitos e
seus desdobramentos? Podemos pensar que há certa complexidade na
escolha, no uso, na atribuição e na processualidade dada ao emprego
do instrumental?

Desse modo, precisamos compreender as dimensões de atendimento individual e


coletivo, o uso de entrevistas, cadernos de campo e outros, como instrumentais e
técnicas permeados de um significado maior que seu uso isolado e pontual.

O campo sobre o qual se desenvolve a prática dos assistentes sociais é


território de complexas relações de poder, de históricas evoluções coletivas; é
espaço da consolidação das relações societárias, o que inclui seus organismos
representativos, como famílias, organizações, o Estado, além de segmentos
sociais, políticos, entre outros.

Há que se refletir, primeiramente, sobre a prática social como prática de


contextos profissionais, políticos, segmentários e, eminentemente, sócio-
históricos, ou seja, sobre práticas sociais como retratos das relações entre
agentes individuais e coletivos, públicos e privados, no tempo presente e no
espaço onde se desenvolvem. Portanto, não são estáticos e exigem um olhar
dinâmico para que possamos nos inserir no âmbito da prática profissional com
nossas competências e domínios privativos, conforme expressa o Código de
Ética Profissional (1993).

Mota (2014) reflete sobre as dimensões políticas da prática dos assistentes


sociais. A autora indica que:

O leque dos fenômenos-objeto trabalhados e pesquisados


no âmbito do Serviço Social se amplia, requerendo novas
problematizações e aportes de conhecimento que se refletem
nas práticas profissionais, no ensino e nos campos de estágios
curriculares. (MOTA, 2014, p. 695-696).

11
Capítulo 1

Nessa lógica, a autora (ibidem) situa que mesmo os espaços com saúde,
assistência social e previdência social são permeados e sofrem os reveses
da dinâmica societária que perpassam a atualização de suas demandas, das
modalidades de intervenção e conteúdo dos trabalhos profissionais, entre
outros aspectos. Assim, podemos observar complexidades e abrangências
novas, próprias do processo de incorporação de novas dinâmicas ao contexto
do trabalho social e da espera de intervenção dos assistentes sociais, tais
como: as novas implicações do SUAS; as implicações na Previdência Social
das relações demandadas do contexto das questões urbanas e rurais; a
expansão da áreas sociojurídicas com os novos postos de trabalho criados;
o processo de mobilidade e moradia popular, grande desafio atual, efeito do
cenário contemporâneo; as questões de natureza socioambiental amplamente
apropriadas devida ou indevidamente pelas grandes empresas, sob a égide da
educação ambiental; além das políticas de acesso à inserção, que Moller (apud
MOTA, 2014, p. 698) afirma obedecerem à lógica da discriminação positiva e
definirem públicos e estratégias para suprir o que as políticas universais não
conseguem realizar.

As mudanças ocorridas na relação entre a profissão e os movimentos sociais,


sindicatos de cunho mais tradicional e o que hoje vem sendo posto diante do que
se denomina “novos movimentos sociais”, o envolvimento e a inserção política
da categoria em novas requisições de lutas por direitos ainda não assegurados,
entre outros, desafiam a consolidação de projetos de transformação social de
modo sustentável.

Os destaques dados por Mota (2014) reforçam o entendimento de que a


expansão do mercado de trabalho e a ampliação das demandas feitas à profissão
revelam o espraiamento das manifestações da questão social (dando ênfase à
criação de práticas e mecanismos institucionais dirigidos pela atuação do Estado
e política de classes), mas também revela as inegáveis exigências técnico-
administrativas e políticas. “Boa parte dessas demandas exige o desenvolvimento
de estudos e pesquisas, sendo seus resultados subsidiem e instrumentalizem o
exercício profissional”. (IAMAMOTO apud MOTA, 2014, p. 699).

Como se observa, a prática social hoje posta às profissões desse campo requer
das práticas profissionais uma capacidade de garantir avanços teórico-políticos,
técnico-operativos e metodológicos que incidam sobre a complexa dinâmica do
cenário atual e consolide movimentos (pontuais ou progressivos) que resinifiquem
a condição dos sujeitos da prática profissional, uma vez que essa não se faz
para alguém, mas com alguém.

Nesse ambiente, o exercício da sempre relativa autonomia profissional


(IAMAMOTO et al apud MOTA, 2014) exige um esforço contínuo e inesgotável,
evidenciador dos limites e das possibilidades da intervenção profissional.

12
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Com isso, queremos refletir que não se pode pensar em modelos prontos, acabados,
aplicáveis e partir de outras referências não críticas dos instrumentais da profissão,
pois esses mesmos instrumentais se fazem e se renovam no porvir da dinâmica
cotidiana e complexa da realidade social onde se processa a prática profissional.

Somente problematizando as expressões cotidianas e imediatas da


realidade e que se constituem em demandas às instituições e ao
Serviço Social pode o profissional exercitar uma relativa autonomia
intelectual que oriente suas propostas de intervenção com base
nas condições objetivas existentes. (MOTA, 2014, p. 700).

Talvez alguns possam julgar que esse é um desafio inglório, que seria mais prática
a reprodução de instrumentais ou processos técnico-operativos replicáveis
por décadas, dando-lhe certo domínio permanente e inquestionável sobre a
dinâmica interventiva. Vamos pensar de modo diferenciado: se cotidiano é
história construída no dia a dia, sem nem mesmo ser percebida desse modo,
quanta riqueza há na capacidade técnica em desvendar essa realidade, antever
as demandas por ela e consolidar respostas antecipadas aos possíveis e críticos
problemas os quais advêm, historicamente, de um modelo excludente, fundado
na divisão de classes e exploração deste processo? (IAMAMOTO, 2007). “É a
busca das relações entre o imediato e o mediato que pode permitir ao profissional
identificar nexos, relações e mediações que viabilizam tratar os atos e situações
singulares em relação à totalidade social” (GUERRA apud MOTA, 2014, p. 701).

Falamos, portanto, de domínio intelectual ou competência reflexiva, domínio


sobre a realidade, pois ausência dessa competência, na visão de Mota (ibidem),
incide sobre impossibilidade de utilização da teoria social crítica, que pode
sustentar a compreensão dos fenômenos singulares e contemporâneos.

A prática profissional dos assistentes sociais se faz sobre a relação de domínio


teórico critico que norteia a capacidade investigativa e, portanto, diagnóstica da
realidade social, e suas formulações individuais e coletivas de respostas efetivas
as demandas compreendidas no bojo de sua complexidade e na gênese das
intencionalidades que as formulam e conduzem.

Vamos a um exemplo bastante simplista:

Podemos pensar em mediar demandas de saúde, como por exemplo,


um caso recorrente de problema pulmonar que se apresenta em uma
Unidade Básica de Saúde, se sua origem advém de uma habitação
imprópria ao convívio humano? Podemos mediar a condição de habitação
se esse sujeito se coloca à margem do processo inclusivo de trabalho e
desenvolvimento por meio da educação e da educação para o trabalho?

13
Capítulo 1

Dessa forma, podemos falar que o que fará a diferença entre a forma de conduzir
uma mesma intervenção entre dois sujeitos profissionais será incontestavelmente
sua posição ético-política e os domínios dessa posição derivados, noção de que
falamos em direitos a serem assegurados, de intersetorialidade entre políticas,
de potencialização dos sujeitos ou dos sujeitos, pois a demanda individual pode
traduzir uma demanda de direitos coletiva e, nesse processo, o emprego do
instrumental técnico-operativo adquire sua singularidade.

Nesse viés, apropriamo-nos das reflexões de Mota (2014, p. 701-702), que


defende a necessidade de exercitar a capacidade de análise da prática e
experiência profissional cotidiana, por meio da identificação de:

a. iniciativas que evidenciem posturas anticapitalistas;


b. processos de democratização de decisões;
c. conquistas e possibilidades do exercício de direitos;
d. mediações pedagógicas, éticas e formativas que contribuam
para a formação de consciência crítica da população usuária.

Há, portanto, na natureza da prática profissional em Serviço Social, a


necessidade de um olhar constante e crítico sobre a dinâmica na qual se
processa o exercício profissional. Os laudos, pareceres, entrevistas, reuniões,
entre outros elementos operativos da prática profissional, não são empregados
sem que se tenha a clareza de:

•• quais contextos e demandas requerem tal instrumental, pois cada


uma dessas expressam diferentes exigências e direcionamentos
diferenciados das práticas profissionais;
•• a intencionalidade de uso, ou seja, para que o instrumental será
utilizado, considerando ser ele um meio para que se atinja a
objetivos maiores. Isto é o mesmo que dizer que fazer entrevistas
e registrá-las em um programa computadorizado ou mesmo em
fichários não é o fim da prática profissional. Muito pelo contrário;
ela é o meio pelo qual as demandas serão mediadas e poderão
ser consideradas no âmbito das políticas de direitos em acessos
coletivos ou em lutas coletivas para direitos ainda não assegurados,
além, obviamente, de serem elementos da mediação dos processos
de trabalho individual e coletivo;

14
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

•• a efetividade e continuidade do processo desenvolvido, uma vez


que não falamos, necessária ou exclusivamente, de resoluções
pontuais, mas de processos que requerem a ação continuada das
mediações profissionais face aos movimentos coletivos críticos ou
potencializadores dos sujeitos que se deseja deflagrar, sob risco de
que tenhamos uma lógica bastante conhecida pelos profissionais:
a reincidência de famílias e suas demandas aos mesmos serviços,
com os mesmos vícios de neoliberalismo.
Desse modo, estamos falando de uma prática profissional que não se faz “per
si”, ou seja, ela é fruto de todo processo evolutivo das transformações societárias
e das reflexões críticas da profissão e, portanto, a aprendizagem do fazer
profissional não pode ser dissociada de um projeto de profissional que dirige,
inclusive, o uso do instrumental técnico-operativo dessa profissão.

Não se pode negar que há dependência dos projetos políticos de Estado


em vigor no cotidiano da prática profissional por parte dos profissionais que
atuam em diferentes espaços sócio-ocupacionais e se veem desafiados. E um
desses desafios é não limitar o rico processo de trabalho profissional no campo
social, com o viés da transformação social e consolidação de direitos para o
tarefismo ou o emprego de instrumentais para efeitos burocráticos que em nada
representam a capacidade e intencionalidade desta profissão.

Para Netto (apud BARBOZA e FREIRE, 2006), não se pode duvidar que esse
período histórico foi marcado por transformações societárias aceleradas, que
afetam diretamente o conjunto da vida social e incidem sobre as profissões,
exigindo que se determinem mediações que conectem as profissões às
transformações.

Citamos Iamamoto (2005), muito embora aqui reduzindo sua ampla, detalhada
e complexa reflexão acerca das demandas profissionais das relações entre o
Estado e a sociedade:

[...] se a assistência fosse tratada de forma ‘satisfatória’ pelo


Estado, por meio de uma gestão racional e eficiente de verbas,
poder-se-ia dar conta medianamente da administração da
miséria. O ardil está posto: um conjunto de medidas burocrático-
administrativas não é capaz de conduzir, por si só, à realização
da cidadania e apenas as políticas sociais não são suficientes
para efetiva-la. (IAMAMOTO, 2005, p. 163).

15
Capítulo 1

Muito embora dessa época para as políticas públicas atuais tenham acontecido
expressivas inovações, não se pode prescindir de destacar a atualidade dessa lógica.

Já em 1997, Iamamoto reflete sobre os desafios de se considerar a prática


profissional sobre o viés do fatalismo e messianismo utópico.

No primeiro caso, a autora (ibidem) reflete que se naturaliza a vida social, em


que a ordem do capital é tida como natural e perene, mesmo diante das
desigualdades. Nesse caso, a profissão se enreda nessa complexa relação, não
lhe cabendo mais do que o aperfeiçoamento burocrático de tarefas atribuídas
pela ordem vigente. Já no segundo caso se privilegiam as intenções, os
propósitos das pessoas no campo individual, não sendo capazes de se traduzir
em lutas coletivas; “[...] ambos prisioneiros de uma análise da prática social que
não dá conta da historicidade do ser social gestado na sociedade capitalista”.
(IAMAMOTO, 1997, 116).

Nessa lógica, é relevante abrirmos um parêntese para compreender que a


dinâmica sobre a qual o instrumental técnico operativo do Serviço Social se
processa é a mesma que forma o ser social, ou seja, é também a dinâmica
de construção das identidades sociais individuais e coletivas onde atuamos e,
portanto, temos expressiva capacidade de influência sobre ela.

Sobre as ideias de Marx, Iamamoto (1997, p. 116) reflete que:

O fundamento da prática social é, pois, o trabalho social;


atividade criadora, produtiva por excelência, condição da
existência do homem e das formas de sociedade, mediatizando
o intercâmbio entre o homem e a natureza, através do qual o
homem realiza seus próprios fins.

Todavia, não podemos esquecer que tratamos do chão de trabalho sobre bases
capitalistas, ou seja, a prática social se revela por meio de mediações que
relacionam forma e essência, gestadas na própria sociedade. Disso se deriva
“a exigência metodológica de apreender a formação econômica-social desta
natureza capitalista em sua totalidade concreta com reprodução da realidade
aprendida com suas múltiplas influências e determinações, como unidade na
diversidade”. (MARX apud IAMAMOTO, 1997, p. 117).

Nesse contexto reflexivo, a autora destaca a relação entre prática com a teoria.
Citando Vazques (IAMAMOTO, 1997, p. 118), afirma que “se pode dizer que a
teoria assim concebida se torna necessária como crítica teórica das teorias que
justificam a transformação do mundo e como teoria das possibilidades de ação”.

16
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Esse olhar implica cuidados para que não se desenvolva uma profissão de
natureza utilitarista, capaz de responder às demandas da sociedade em cada
tempo, mas considerando a ordem vigente e não ensejando para a transformação
social desejada em nosso projeto profissional. Por isso, teoria e método,
instrumental e elementos operativos devem consolidar-se como uma construção
imbuída da visão crítica e propositiva da profissão em seu tempo, mas ciente de
seu compromisso com o empoderamento, com os princípios da liberdade, da
democracia, da valorização da natureza humana em suas múltiplas e diversas
formas de construir e viver em sociedade, com a supremacia do direito à
dignidade de cada ser humano que a componha.

Como construir e utilizar instrumentais profissionais capazes de reproduzir, no


contexto complexo e processual da prática profissional, a potencialização
de sujeitos, grupos, comunidades e sociedades em face de uma construção
societária desejada e pretendida por todos, qualificando os assistentes sociais
em suas formações para responder à realidade do mercado com o qual, como
categoria assalariada, irá se relacionar? Incluo aqui os desafios de mercado e das
políticas de Estado e diferentes fontes empregadoras dessa profissão que é dada,
forjada e dirigida, em sua essência, à transformação social.

Há, portanto, um destaque a ser feito na lógica destacada por Iamamoto e que
manterá atual a natureza desta profissão:

O que está em questão não é a subordinação utilitária da


qualificação profissional às oscilações do mercado, mas
uma sintonia necessária entre a formação e as demandas
sociais objetivas apresentadas à profissão, salvaguardando
aliança entre a análise histórica do Estado e da sociedade
contemporâneas – o que permite decifrar as demandas
profissionais e as tendências de mercado profissional – e a
construção teórico-prática de respostas profissionais críticas
em face desse mercado. Respostas solidamente elaboradas no
campo teórico e das estratégias técnico-politicas, capazes de
reconhecer e atender àquelas demandantes para transcendê-las,
reencontrando e recriando o Serviço Social no tempo histórico.
(IAMAMOTO, 1997, p. 192).

Como se observa, falamos de uma prática profissional que se constrói no


cotidiano da formação da própria história da humanidade.

Façamos um breve exercício e você verá o quanto essa compreensão


se expressa nas mudanças societárias. Inserimos nossa contribuição e
redirecionamento à própria profissão neste movimento histórico. Observe uma
simples lógica:

17
Capítulo 1

A caridade/filantropia e a proteção aos pobres/igreja, seguindo-se da


atenção aos assalariados/preservação das conquistas de mercado/
Estado/igreja, evolui para a formalização ao processo de incentivo ao
desenvolvimento econômico capitalista industrial; ao que se segue
a incorporação transcontinental e interamericana de incentivos ao
desenvolvimento do mercado e proteção do Estado em recusa à entrada
do comunismo. Nessa lógica, há a reprodução do Estado de atenção
social e, a partir dele, a revisão por parte da categoria quanto aos modelos
reproduzidos pela profissão e os movimentos de intenção de ruptura
por meio de encontros e processos de construção de uma identidade
profissional brasileira, com seu posicionamento teórico-metodológico,
ético-político e técnico operativo. O posicionamento a favor das lutas de
classe em face da construção de uma sociedade igualitária, democrática
e inclusiva evolui para a consolidação de um Projeto Ético Político e de um
Código de Ética profissional, que posicionam a profissão e seus domínios
na direção da dignidade humana e da transformação social, consolidando
direitos por meio das políticas públicas.

Não se pode negar que o trabalho social, campo da ação interdisciplinar e


espaço onde a comunicação entre os saberes e os domínios se consolidam e
integram, ou apenas se complementam, é o campo da prática profissional que se
traduz em evolução histórica a partir dos domínios teórico-críticos do conjunto de
esforços analisados, investigados, criticados em sua essência para consolidação
de processos mais próprios a uma dimensão de exercício profissional eficaz,
eficiente e efetivo ao seu tempo, aos seus sujeitos, à coletividade e às demandas
que se refazem no agir cotidiano.

Portanto, ao pensar a prática profissional não se pode deixar de compreender


que o conjunto de domínios utilizados de natureza teórica, metodológica, ética,
politica, técnica e instrumental são resultados desse processo histórico e por
sua natureza devem ser devidamente dominados, empregados, considerando a
subjetividade que dirige seu emprego no contexto da prática profissional. Há que
se analisá-los constantemente sobre o prisma da crítica construtiva e inovadora,
considerando o que Iamamoto destaca (2005) sobre a capacidade de antever as
demandas que se apresentam e construir as respostas efetivas em âmbito de
políticas públicas e privadas de direitos a serem assegurados e evoluídos, dada a
dimensão de evolução da própria natureza humana cujas demandas estão muito
além dos processos de inclusão e enfrentamento de riscos e vulnerabilidades
sociais. Tais demandas transcendem a gênese dos sujeitos que se desejam
autores de suas próprias histórias de vida, podendo ou não ser concernentes
com o modelo capitalista em vigor.

18
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Citamos o exemplo das experiências de Economia Solidária, de Permacultura,


entre outras, que constroem um novo lócus de convívio social coletivo, o
qual, embora intrínseco ao modelo capitalista, não depende dele. Esse será
objeto de seus estudos, mas se entende que o emprego da prática profissional
se apresenta para além das fronteiras da consolidação dos direitos sociais,
embora essa centralidade no tempo atual deva ser correspondida, pois ainda
é o mecanismo de acesso a direitos para a maior parte dos demandantes das
práticas profissionais.

Portanto, a prática profissional hoje pretendida e defendida se sustenta em um


arcabouço de domínios que traduzem os objetivos profissionais, considerando
os diferentes espaços sócio-ocupacionais onde essa prática se insere, e onde
o emprego do instrumental técnico operativo ou técnico profissional é essencial
para que se concretize toda e qualquer intervenção.

Muito embora o profissional os domine e empregue seu uso, esses instrumentais


podem e devem se traduzir em meios pelos quais comunicações se consolidam,
reflexões se produzam, criticas se estabeleçam, construções individuais e
coletivas se mobilizem; ou seja, esses são elementos pelos quais a relação entre
profissional e sujeitos se estabelece numa direção que deve ser concernente
ao campo da consolidação dos direitos desejados ou a serem inexoravelmente
assegurados.

Falamos, então, que o instrumental que sustenta a prática profissional é, em


essência, um elo pelo qual as relações podem se estabelecer, reconstruir e (re)
direcionar em face da transformação social pretendida.

Perceba, então, a importância de você compreender, dominar e bem mediar o


emprego do instrumental técnico operativo profissional, pois, em última instância,
ele consolida o seu fazer cotidiano como assistente social.

Seção 2
O processo de trabalho do assistente social e o
referencial contemporâneo
Nesta seção, você será estimulado a compreender como se processa o trabalho
no Serviço Social, considerando a capacidade processual dessa profissão
de atualizar-se e interpretar a realidade a partir dos parâmetros das classes
populares e do movimento na construção histórica dos direitos humanos e
sociais, considerando as tendências teóricas contemporâneas que norteiam essa
compreensão.

19
Capítulo 1

A discussão acerca do processo de trabalho do assistente social requer grande


cuidado para que se formule uma leitura simplista ou deveras complexa para
situar como se processa a questão da prática profissional.

A prática profissional não se desloca em um mundo à parte do contexto


societário; antes disso, ela mesma é parte integrante e intrigante das reflexões
produzidas na atualidade sobre o trabalho e suas formas de realização.

Inicialmente, faz-se necessário compreender que o próprio termo processo


de trabalho se torna objeto de reflexão, dada a natureza interpretativa que lhe
damos. Há quem consolide uma reflexão profunda segundo a qual não falamos
de processo de trabalho, mas de processos, e de que não há como consolidar
processos hegemônicos ou igualitários para contextos de uma sociedade
capitalista tão complexa com múltiplas expressões da questão social que se
configuram em transformações constantes em função das mudanças de cenário
de mundo globalizado.

Há elementos estruturantes do fazer profissional que hoje são objeto de estudo e


reflexão por parte das ciências sociais. Antunes (2008), por sua vez, nos instiga
a refletir sobre uma sociedade cuja centralidade dada ao mundo do trabalho se
vê ameaçada pelo contexto global de crise. Fala-se de uma nova fase do capital
na qual embora se processe em moldes de diferentes naturezas, há grande
apropriação do trabalho intelectual das capacidades cognitivas, procurando
envolver intensamente a subjetividade operária. Falamos de processos
absorvidos por máquinas e pela tecnologia, mas também do que a tecnologia não
supre e exige o trabalho humano.

Portanto, ao invés de da substituição do trabalho pela ciência,


ou ainda da substituição da produção de valores pela esfera
comunicacional, da substituição da produção pela informação, o
que se pode presenciar no mundo contemporâneo é uma maior
inter-relação, uma maior interpenetração entre as atividades
produtivas e as improdutivas, entre as atividades fabris e
de serviços, entre atividades laborativas e as atividades de
concepção , que se expandem no contexto da reestruturação
produtiva do capital. O que remete ao desenvolvimento de uma
concepção ampliada para se estender sua forma de ser no
trabalho no capitalismo contemporâneo, e não à sua negação.
(ANTUNES, 2008, p. 178).

Nesse contexto, Antunes (2008) fala sobre as metamorfoses do mundo do trabalho


e suas implicações sobre diferentes elementos, como a crise do movimento
operário e sindical, a desregulamentação, flexibilização, terceirização, o desmonte
de direitos trabalhistas, entre outros aspectos que imprimem uma nova lógica a ser
ainda compreendida no contexto das relações produtivas no capitalismo.

20
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

O cenário contemporâneo se apresenta com inúmeras reflexões a serem feitas no


âmbito das ciências de modo geral, e no campo das ciências sociais não é diferente.

Essa lógica atinge a dinâmica do processo de trabalho profissional em Serviço


Social, na medida em que nos inserimos no contexto das classes que vivem do
trabalho e fazem a dinâmica do trabalho acontecer não somente para si, mas
para o contexto coletivo em suas influências técnico-operativas vinculadas às
políticas de direitos vigentes.

Desse modo, há conceitos que permeiam a prática profissional e dirigem o


processo de trabalho os quais não podem ser negligenciados. Mesmo diante
de cenários complexos, a prática profissional se desenvolve a partir de uma
processualidade, o que pode ser criticado ou problematizado. No entanto,
há de fato uma lógica norteadora do agir profissional que caracteriza a sua
especificidade e a cientificidade necessárias a sua qualificação.

Passando por um olhar genérico sobre as reflexões de Baptista (1995), podemos


considerar que, se tratamos como objeto da prática profissional as múltiplas
expressões da questão social, não se pode prescindir uma lógica compreensiva
desses fenômenos, de uma capacidade mediadora ou resolutiva das demandas
que se apresentem nesse processo; tão pouco se pode desconsiderar uma
processualidade que monitore ou avalie se, de fato, há resultados obtidos com
os processos teórico-metodológicos e técnico operativos empregados. Qualquer
profissão ou ciência tem por natureza questionar-se como mecanismo de
evolução e desenvolvimento.

Nesse contexto, conceitos como comunicação, conscientização, ação e


sujeitos são expressões refletidas por grandes teóricos da profissão, a exemplo
de Faleiros (1997). Nesse sentido, inclui-se um conceito importante – a práxis
profissional, partindo-se da ideia de que a discussão das questões metodológicas
não pode ser feita isolada da complexidade social, das relações de poder e dos
atores profissionais na instituição. Essa capacidade de fazer a prática profissional
refletindo sobre ela e, preferencialmente, recriando-a a partir do processo
reflexivo, reconstrói o fazer a partir do olhar crítico.

Muito embora não se possa falar de formas, modelos, ou métodos fechados, apesar
de muitos o desejarem, falamos em processos de trabalho pelos quais há demandas
identificadas no contexto das múltiplas expressões da questão social, especialmente
envolvendo o olhar do sujeito para sua própria realidade e para sua ação consciente
e crítica diante dela (ao que chamamos por muito tempo objeto da prática).

Há, portanto, sujeitos a serem compreendidos em suas singularidades e


particularidades sócio-históricas e culturais. Esses sujeitos podem apresentar
objetivos a serem construídos em face das demandas evidenciadas ou direitos a
serem a assegurados em face dos direitos violados em sua realidade.

21
Capítulo 1

Por outro lado, há uma lógica de planejamento do processo interventivo que, a


depender de contextos institucionais diferenciados (Estado, mercado, sociedade
civil organizada), pode adquirir dinâmicas organizativas próprias, por vezes até
mesmo burocratizadas, mas que não podem se eximir de consolidar respostas
e mecanismos de medicação, controle e análise de resultados das demandas
apresentadas, apesar de seus processos burocratizados e que podem se
processar de diferentes formas institucionais.

Pode-se dizer que há um desafio comum a qualquer espaço sócio-ocupacional


pelo qual se processa a intervenção, é a análise de impacto social, uma vez que
há dimensões materiais e imateriais do processo de trabalho as quais só podem
ser observadas em longo prazo.

De modo geral, podemos considerar a existência de instrumentais técnico


operativos profissionais capazes de contribuir ou dirigir a construção
de diagnósticos sociais; outros capazes de consolidar processos de
planejamento individuais ou coletivos, para os sujeitos da prática. Da
mesma forma, instrumentais norteiam o processo de monitoramento
do processo desenvolvido, preferencialmente trazendo o sujeito para o
centro do processo de análise, de consideração de resultados e para
consolidação de novos movimentos individuais e coletivos, em face dos
objetivos a serem atingidos.

Esse processo não se consolida sem uma dimensão essencial ao processo


de trabalho profissional, que é a dimensão política. Todavia, essa dimensão é
intrinsicamente ligada ao contexto societário contemporâneo, onde o processo
de trabalho se desenvolve.
Como citado por Yabek (2014), lidamos com um tempo caracterizado por
mudanças aceleradas que se configuram em diferentes dimensões da vida social,
repercutindo em uma nova sociabilidade e uma nova política, processo esse a ser
refletido e conduzido de modo consistente e crítico.

Nesse sentido, são reflexões que vêm sendo construídas tendo


como referência a análise do contexto resultante da complexa e
multifacetada crise do capital com seu mundo de mercado, sua
ênfase no neoliberalismo (...) e seus processos de privatização
multiplicadores dos mecanismos a favor do capital , suas
perspectivas de monetarização de políticas sociais residuais
que evidenciam a orgânica relação entre as mudanças em
andamento na esfera da economia política e as políticas sociais
contemporâneas, que se tornam cada vez menos universais e
mais focalizadoras. Âmbito privilegiado do exercício profissional
e lugar onde a profissão participa de processos de resistência
e constrói alianças estratégicas na direção de outro projeto
societário. (YASBEK, 2014, p. 678).

22
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Como citamos a partir do olhar de Antunes (2008), as condições estruturais sobre


as quais se coloca o mundo do trabalho cria um cenário de crises e desafios sobre
o qual vão se redefinir as bases entre proteção social e as intervenções do Estado
no âmbito das políticas sociais e nos espaços onde se verifica sua atuação.

Nesse viés, não se pretende apontar um cenário de crises, mas de


transformações que devem ser percebidas, pois indicam novas configurações do
processo de trabalho profissional, uma vez que “também o Serviço Social tem
na prestação dos serviços sociais seu campo de intervenção privilegiado e nas
instituições sociais públicas e privadas seu espaço ocupacional” (RAICHELIS
apud YASBEK, 2014, p. 679).

Esse contexto de transformações imprime uma lógica ao processo de trabalho


que exige, por parte do profissional, a compreensão de algumas questões que
Yasbek (2014) destaca:

•• As novas expressões da questão social manifestas no cotidiano


profissional. Para citar apenas alguns exemplos dados pela autora:
mudanças vêm ocorrendo nas periferias das cidades, a circulação
e distribuição das riquezas também estão impactadas, a economia
informal, o crescimento da violência, das drogas e seu poder
instituído ilegalmente, os programas sociais multiplicados pelas
periferias, entre outros aspectos. A exclusão social envolve bens
materiais, culturais, de identidade e interação sociocomunitária.
•• O estabelecimento de uma compreensão crítica sobre as
reconfigurações dos sistemas de proteção social e política social,
onde se focalizam políticas contra a pobreza, muitas vezes focadas a
segmentos, o que contradiz o olhar da Política Nacional de Assistência
Social, a qual determina a atenção pela centralidade na família e seu
conjunto de demandas articuladas a uma rede de políticas de direitos.
•• A necessidade de a profissão construir mediações políticas e
ideológicas, o que deve perpassar o contexto das organizações
onde se processam as práticas, isto porque sabemos que “questão
social é luta, é disputa pela riqueza socialmente construída”.
(YASBEK, 2014, p. 686).

Ao contextualizar esses desafios que envolvem o processo de trabalho profissional,


a autora nos alerta para o fato de que a prática profissional é polarizada pelos
interesses de classes, em uma relação que é historicamente contraditória, pois ao
mesmo tempo que permite ao exercício profissional a reprodução e a continuidade
da sociedade de classes, também permite sua transformação.

23
Capítulo 1

Nesse âmbito, há uma nítida dimensão política da prática profissional, na medida


em que o processo de trabalho desenvolvido pode colocar-se em uma ou
outra posição desse processo contraditório. Isso representa tratar das disputas
políticas no espaço das políticas sociais, mediações centrais no exercício da
profissão (YASBEK, 2014).

Desse modo, o processo de trabalho consolida-se por sua dimensão teórica,


metodológica, técnico-operativa e ético política, considerando as contradições
manifestas nos espaços públicos e privados onde tal trabalho se consolida.
Isso requer que os profissionais sejam capazes de compreender as tendências
contemporâneas do processo, mas se apropriem das críticas as quais recriam a
dinâmica interventiva, na medida em que a dimensão política, por exemplo, exigir
novos contornos ao exercício profissional.

Naturalmente, não se pode evidenciar um processo de trabalho metódico, em


seu sentido mais restritivo, pois a sociedade não pode ser entendida de modo
hegemônico, embora globalizado, com dimensões interventivas que considerem
particularidades e singularidades não presentes em outras realidades de trabalho.

Essas reflexões colocam o processo de trabalho e a dinâmica interventiva diante


do realismo do mundo do trabalho, onde a profissão se processa pela existência
de um contexto ou de uma política de direitos normativa (em esfera pública ou
privada), de um contexto institucional que adquire características específicas
e pela natureza e perfil do sujeito profissional, que se apropria do saber
historicamente construído e o transforma em processos interventivos, com maior
ou menor condição de mediação de demandas priorizadas.

Não se pode ignorar o que destaca Faleiros (2014, p. 709): “a prestação de


serviços sociais está assim, condicionada pela legislação, pelo orçamento e pela
gestão dos serviços num processo de trabalho dependente de uma subordinação
gerencial, e por relações trabalhistas de um contrato salarial (...)”.

Por outro lado,

Os sujeitos demandantes de serviços sociais são confrontados


com um cotidiano de relações de exclusão e ao mesmo tempo
de aceitação ou rejeição de suas exclusões e os profissionais
têm o desafio de contribuir para mudanças de trajetórias no
processo de empoderamento dos sujeitos em relações de direito,
de acesso ao estado de direito e a condições de sobrevivência.
(FALEIROS, 2014, p. 710).

24
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

No olhar crítico de Faleiros (2014), não se pode recair sobre um olhar simplista
de configuração da pratica profissional. Estamos falando de consciências,
relações socais, ideologias e sujeitos que se colocam em processo de convívio e
compreensão das várias manifestações e expressões dessas relações sociais.

O Serviço Social, nas diversas expressões da desigualdade com


que trabalha, depara-se com a consciência que as pessoas têm
dessa desigualdade e, ao mesmo tempo, de seus direitos nessa
sociedade desigual. As lutas pelos direitos, pelo poder do bloco
dominado, é um processo de hegemonia e de contra hegemonia
na perspectiva gramsciana. A construção de um projeto de
sociedade é um processo multidimensional, que envolve
relações políticas e organizativas e a relação de identificação
entre intelectual, profissional, em geral com maior poder de
conhecimento e mesmo de salário, com público demandante
pobre, excluído. (FALEIROS, 2014, p. 713).

Já o olhar de Simionatto (2009) reflete a busca pela construção de uma


nova hegemonia que possa parecer mais equânime no pensar libertário e
potencializador que tendemos a ter como assistentes socais, envolvendo
transformações não somente nas esferas político-econômica, mas nas dimensões
culturais, intelectuais e morais. Sob essa perspectiva, essas relações contra-
hegemônicas se traduzem igualmente na articulação do cotidiano com o contexto
das violências, do descaso, das insatisfações, entre outros aspectos de mesma
natureza e manifestos no processo cotidiano do trabalho profissional.

Faleiros (2014) revela que, mesmo os processos de atenção e provisão de


serviços sociais sendo disponibilizados de modo desigual e em velocidades
diferentes entre as classes, há a necessidade de crítica ao processo fragmentado
de atenção aos direitos. Nesse âmbito, há a necessidade de pesquisa crítica,
sistematizações de reivindicações e mudança na cultura da população, para
entender a realidade concreta de forma crítica, transformando-a em realidade
pensada e compartilhada. Isso, para o autor, exige uma análise dialética de forças,
visando a implementar a “proteção social da vida”. (FALEIROS, 2014, p. 714-715).

Na complexidade desse contexto de relações sociais, o processo de trabalho


se desenvolve na luta por um projeto ético político voltado à defesa de direitos
sociais, que para Faleiros (2014, p. 715) deve se voltar a um “de pactos políticos
revolucionários da ordem dominante, no sentido da igualdade e equidade”.

25
Capítulo 1

A prática profissional é um enfrentamento enquanto relação


complexa de contraditória de poder, recursos, valores, linguagem,
dispositivos, estratégias, operações, visões de mundo, situações
sociais de desigualdade, sofrimento, exclusão. Enfrentamento
relacional de determinações econômicas, políticas, sociais,
culturais, entre outras, com dinâmica histórica e política da
contestação e da expressão de si e da própria sociedade.
(FALEIROS, 2014, p. 717).

Neste contexto, há que se reconhecer que o processo de trabalho profissional


deve ser capaz, ao problematizar tais questões, de consolidar maneiras de
assegurar os direitos humanos nas formas de direitos sociais, políticos, culturais,
econômicos concretos, o que Faleiros (2014) alerta como dilema ético do
exercício profissional.

Como se observa, o trabalho profissional requer uma apropriação das reflexões


críticas e propositivas que se fazem rotineiramente no processo de trabalho
profissional; não como forma de destituição do valor dessa prática, mas, ao
contrário, como capacidade instalada na profissão de olhar-se, de olhar a
realidade, os sujeitos de sua prática, suas demandas e expressões da questão
social. É preciso considerar, assim, os aportes políticos, institucionais, teóricos,
metodológicos, operativos e éticos, ao mesmo tempo da dimensão da profissão,
da coletividade e das políticas de direitos (sejam públicas ou privadas) instituídas.

Sob o risco de o exercício profissional reduzir-se à reprodução das relações


de poder e perpetuação do ciclo de exclusão, vulnerabilidade e alienação dos
sujeitos, o processo de trabalho profissional requer que se atente, no cotidiano
das práticas institucionais, para os caminhos que se pretende projetar com o
sujeito, sua família e a coletividade.

Desse modo, não falamos em aplicações pontuais de um instrumental


técnico operativo profissional, mas de processos de trabalho em que esses
instrumentais estão imbuídos de intencionalidades, de razão e de caminhos
futuros sendo construídos.

Esta dinâmica traz a aprendizagem do próprio assistente social


numa comunicação fecunda com o público e no exercício político
da profissão, o exercício esse que supõe a abertura fundamental
a crítica da estrutura (...) que supõe sujeitos em ação no confronto
ou mediação de ideias e representação de sociedade, de seu
grupo, de si mesmo e da profissão. (FALEIROS, 2014, p. 721).

Na atualidade, pode-se dizer que os processos profissionais, de modo geral,


exigem suas próprias reflexões, fundadas em pesquisas científicas ou no
contexto das relações produtivas e de trabalho.

26
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

No entanto, não existem mais dinâmicas profissionais sem que se olhe em um


movimento contínuo para dentro e para fora do fazer profissional, considerando a
complexidade da vida contemporânea e suas descobertas.

Não se pode falar em processo de trabalho sem bases teóricas, metodológicas,


ético políticas e técnico-operativas que delineiem tal prática.

Sobre este contexto atual, Simionatto (2009, p. 102) destaca que:

O Serviço Social defronta-se, portanto, com duas grandes


tendências teóricas: uma vinculada ao fortalecimento do
neoconservadorismo inspirado nas tendências pós- modernas,
que compreende a ação profissional como um campo de
fragmentos, restrita às demandas do mercado de trabalho, cuja
apreensão requer a mobilização de um corpo de conhecimentos e
técnicas que não permite extrapolar a aparência dos fenômenos
sociais; e outra relacionada à tradição marxista, que compreende
o exercício profissional a partir de uma perspectiva de totalidade,
de caráter histórico-ontológico, remetendo o particular ao
universal e incluindo as determinações objetivas e subjetivas
dos processos sociais. O fortalecimento de uma ou outra dessas
perspectivas depende, entre outros fatores, da qualificação
teórico-metodológica e prático-operativa dos profissionais e
de suas opções ético-políticas, no sentido de compreender o
significado e as implicações dessas propostas para o futuro da
profissão diante dos complexos desafios postos pelo século XXI.

Portanto, o cenário no qual se processam as direções da prática profissional


que requerem um posicionamento crítico, como citado acima, configura-se,
eminentemente, na consolidação das políticas de direitos, destacando-se
as políticas públicas de assistência social, saúde, educação, meio ambiente,
sem desconsiderar as dimensões dos espaços institucionais privados e de
organizações da sociedade civil, no âmbito da geração do empreendedorismo
autônomo, entre outros. Notadamente, há especificidades político organizativas
nestas diferentes esferas, mas que requerem o domínio das dimensões já citadas
(teórico, metodológicas, ético, politicas, técnico-operativas).

Pode-se afirmar que estamos diante de um processo de apropriação de bases


teóricas, com a construção de um perfil do contexto inter e transdisciplinar,
que aponta para bases reflexivas e busca a construção de novos paradigmas
construídos e em desenvolvimento por autores contemporâneos citados por
Panceri e Merigo (2014), sejam eles: Anthony Giddens, Hannah Arendt, Pierre
Bourdieu, Michel Foucault, Juergen Habermas, Edgard Morin, Boaventura Souza
Santos, Eric Hobsbawm, E.P. Thompson e tantos outros.

27
Capítulo 1

Para Yasbek (2014), apesar da apropriação desses referenciais, é cada vez mais
evidente que diferentes projetos sociopolíticos societários e também projetos da
profissão se expressem no cotidiano do processo de trabalho profissional, os
quais muitas vezes se configuram como relações de poder.

É quando nos referimos às relações de poder, não podemos


excluir as relações dos profissionais com a população. É o
poder das triagens das elegibilidades, das governabilidades, das
concessões dos laudos, das visitas controladoras, das definições
de quem fica e quem não fica, de quem pode participar de
programa, etc. (YASBEK, 2014, p. 687).

Note o poder de crítica feito pela autora (2014, p. 687-688): “Você exerce em
seu processo de trabalho profissional uma dinâmica de poder que lhe representa
diante do projeto ético político da profissão. Neste âmbito, fica evidente a
dimensão cultural e política do exercício desta profissão”.

Nesse viés, devemos ter presente, no processo de trabalho profissional, a


construção de parâmetros de negociação de interesses e direitos dos usuários
que devem trazer a marca do debate ampliado e da deliberação pública da
cidadania, da democracia, da justiça social, da liberdade, da igualdade e da
transformação social desejada pelos sujeitos cônscios de seu projeto de vida e
de sociedade. (YASBEK, 2014).

No contexto da prática profissional e do invariável desafio à inovação do


processo de trabalho, há uma riqueza de transformação de saberes, fazeres e
seres que se constroem na relação complexa histórica dos tempos atuais, mas,
no olhar dos assistentes sociais, voltam-se à transformação da realidade em
direção à construção da sociedade desejada. Nossa história revela o quanto isso
é possível e, ao mesmo tempo, quanto domínio é exigido dos profissionais para
se obter avanços em seus processos de trabalho, destacando o instrumental
técnico operativo como indispensável à realização cotidiana do trabalho social.

28
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

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32
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

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33
Capítulo 2

Instrumentalidade e estratégias
em Serviço Social: o cotidiano
profissional frente às múltiplas
expressões da questão social
Walery Luci da Silva Maciel

Neste capítulo, estaremos abordando a questão social como realidade onde


acontece a ação prática do Serviço Social, as estratégias e a instrumentalidade
necessárias e presentes ao cotidiano profissional. Ao finalizar este estudo, o (a)
estudante estará apto para analisar a realidade, compreendendo suas atribuições
profissionais a partir do desenvolvimento de competências éticas, teóricas e
metodológicas.

Seção 1
A questão social

Construção

Chico Buarque de Holanda

Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido

35
Capítulo 2

Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último

Beijou sua mulher como se fosse a única

E cada filho seu como se fosse o pródigo

E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido

Ergueu no patamar quatro paredes mágicas

Tijolo com tijolo num desenho lógico

Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe

Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo

Bebeu e soluçou como se fosse máquina

Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música

36
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

E flutuou no ar como se fosse sábado

E se acabou no chão feito um pacote tímido

Agonizou no meio do passeio náufrago

Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina

Beijou sua mulher como se fosse lógico

Ergueu no patamar quatro paredes flácidas

Sentou pra descansar como se fosse um pássaro

E flutuou no ar como se fosse um príncipe

E se acabou no chão feito um pacote bêbado

Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir

A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir

Por me deixar respirar, por me deixar existir

Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir

Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir

Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair

Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir

E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir

E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir

Deus lhe pague.

Fonte: Nova Editora Musical Ltda., 1971.

37
Capítulo 2

O texto acima, de forma rimada e sonora, esboça a realidade da vida humana


no modelo de sociedade na qual vivemos, onde cada um de nós ocupa e
desempenha um papel, “tijolo com tijolo num desenho lógico”. O entendimento
dessa lógica, como ela se constrói, como acontece, leva-nos ao entendimento da
questão social, matéria-prima de nossa vida e ação profissional.

Ao longo da história da formação do Serviço Social como profissão, vemos


que a questão social é concebida de diferentes formas, tendo como referencial
o conteúdo epistemológico que em cada período embasou a sua teorização
e, consequentemente, sua prática. Não cabe, nesta altura de nosso estudo,
uma abordagem aprofundada desse tema; porém, para fins de entendimento
de alguns conteúdos que precisamos abordar quando do estudo da
instrumentalidade e do instrumental técnico-operativo, faremos uma rápida
inserção no assunto. Nossa abordagem compreenderá o estudo a partir de
diferentes referenciais teóricos, buscando, assim, construir o conhecimento do
tema de forma abrangente e plural, “é preciso revalorizar a diversidade de visões,
a tolerância, sem confundi-la com ecletismo, considerando-se a diversidade e a
pluralidade num processo interativo, conflituoso” (FALEIROS, 2011, p. 87).

A questão social emerge na Europa nos meados do século XIX como resultado
da nova configuração da sociedade a partir da Revolução Industrial, mais
precisamente das lutas dos operários e das repressões então sofridas. Surge
como resultado do embate entre a manutenção da propriedade privada por parte
da burguesia e o direito ao trabalho defendido pelos operários.

Partindo da teoria social crítica, Santos (2004), Iamamoto (2010) e Montaño


(2012) entendem a questão social como fenômeno próprio do modo de produção
capitalista, parte constitutiva das relações capital-trabalho, a partir do processo
produtivo e das contradições que ele encerra, constituindo-se como uma
expressão ampliada da exploração do trabalho, das desigualdades e lutas
sociais que delas decorrem. A questão social se expressa nas desigualdades
econômicas políticas e culturais das classes sociais, sendo permeada pelas
discrepâncias nas relações de gênero, etnias e formações regionais.

Para Iamamoto (2003), a produção da questão social na contemporaneidade se


desenha a partir de quatro aspectos centrais:

•• Primeiramente, destaca-se a lógica financeira do regime de


acumulação, que gera maior concentração de renda e aumento da
pobreza, ampliando as desigualdades distribuídas territorialmente,
aumentando a distância entre as rendas do trabalho e do capital,
como também a distância entre o rendimento dos trabalhadores
qualificados e dos não qualificados.

38
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Favorece, ainda, a especulação financeira em detrimento da


produção, gerando um aumento dos níveis de desemprego, o
recrudescimento dos investimentos nas políticas sociais e,
consequentemente, o agravamento da questão social.
•• Num segundo aspecto, a autora destaca a especialização e a
acumulação flexível, caracterizadas por movimentos que alteram
radicalmente os processos e as formas de gestão do trabalho,
alterando as regras do mercado, os direitos sociais e trabalhistas e
os padrões de consumo. A redução dos custos do capital obriga o
trabalhador a se tornar polivalente, além de gerar o enxugamento
do quadro de pessoal e favorecer, assim, as terceirizações. A
introdução de novas tecnologias, como a robótica, a microeletrônica
e a informática, altera as formas e relações de trabalho. “Reduz-
se, assim, a demanda de trabalho vivo ante o trabalho passado,
incorporado nos meios de produção com elevação da composição
técnica e de valor do capital” (IAMAMOTO, 2003, p. 69).
•• A diminuição do papel do estado na questão social constitui o
terceiro aspecto para o entendimento do fenômeno na atualidade.
A relação Estado/sociedade civil sofre mudanças radicais a partir
da ótica neoliberal, passando o Estado a intervir a serviço de
interesses privados, reduzindo sua atuação na questão social,
por meio de restrições dos gastos públicos e da privatização da
coisa pública. Passa a predominar um Estado submetido aos
interesses econômicos e políticos dominantes no cenário nacional e
internacional, em detrimento do atendimento e atenção às causas e
afeitos do agravamento da questão social.
•• Como último aspecto, Iamamoto (2003) destaca as alterações nas
formas de sociabilidade, quando o mercado passa a dominar a
sociedade, tornando-se regulador da vida social, invadindo todas
as suas esferas. A partir de uma lógica pragmática e produtivista,
passa-se a viver sob a égide da competitividade, da eficácia e
eficiência, que, adotadas como critérios, passam a referenciar
e determinar a vida em sociedade. Segundo a autora, forja-se
uma mentalidade utilitária que reforça o individualismo, naturaliza
a sociedade e a degradação das condições de vida da grande
maioria. Essa visão atinge as formas culturais, as subjetividades e as
identidades coletivas, destruindo projetos e utopias.

39
Capítulo 2

Para a autora, o enfrentamento da questão social e de suas manifestações se


dá pela priorização das necessidades da classe trabalhadora, vistas de forma
coletiva, bem como pela responsabilização do Estado por meio da afirmação das
políticas sociais de caráter universal, voltadas aos interesses das grandes maiorias,
“condensando um processo histórico de lutas pela democratização da economia,
da política, da cultura na construção da esfera pública” (IAMAMOTO, 2010, p. 162).

Robert Castel (2013) analisa a questão social a partir do contexto europeu, mais
precisamente da França, tendo como referência teórica de análise a visão de
Durkheim, em que a sociedade é entendida a partir de um conjunto de relações
de interdependência. Afirma o autor que a questão social desenha-se nas
condições de vida de milhares de pessoas que, diante das atualizações das
competências econômicas e sociais, veem-se à margem da vida social, por
conta da precarização das relações de trabalho e da fragilização dos sistemas de
proteção que acolhem os indivíduos ao longo de sua existência.

Para o autor, o “social” acontece nas relações não mercantis, sendo o hiato entre
a organização política e o sistema econômico, e tendo como centro a ideia da
sociedade salarial, em que a maioria dos sujeitos sociais tem sua inserção social
relacionada ao lugar que ocupa no salariado, o que envolve sua renda, seu status,
sua proteção e sua identidade. A sociedade salarial não é uma sociedade de
igualdades, abrigando diversos conflitos; no entanto, cada sujeito dispõe de um
mínimo de garantia e direitos, assegurados pelo Estado Social. Com a retirada
do Estado, o corporativismo ameaça os interesses gerais, e o vínculo social
pode se decompor. Para o autor, a questão social se agrava com a precarização
do trabalho e com a interinidade, que alimenta o desemprego. Dessa forma, os
indivíduos, vivendo o dia a dia, veem fragilizados seus vínculos, a noção de
pertencimento e a coesão social. Segundo Castel (2013), o enfrentamento da
questão social se dá mediante o fortalecimento das relações de trabalho, sua
garantia e a proteção do Estado.

Para Didier Lapeyronnie (2003), o ponto de partida para o debate acerca


da questão social vem do pressuposto que os problemas elencados como
questões de integração social não são consequências naturais de uma
evolução da sociedade, mas configuram como uma solução construída social
e simbolicamente, fazendo com que as classes populares sejam excluídas por
mecanismos sociais e anuladas por mecanismos políticos e simbólicos. Dessa
forma, o entendimento da questão social na atualidade demonstra que o indivíduo
não está mais submetido às normas e à racionalização da produção, mas sim a
imagens e signos que lhe são impostos pelo consumo e por sua participação na
vida social. Para o autor, os indivíduos não se identificam mais pelo trabalho e pela
posição social, pois sua identificação está no tipo e nível de consumo.

40
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

O sentimento de pertencimento a uma determinada situação social, foi, portanto,


substituído pela busca de mobilidade em torno de acesso ao consumo.

Segundo o autor, nesse cenário em que o consumo está acima da produção e


determina a posição do indivíduo na sociedade, o discurso da luta de classes e
de integração foi substituído pela ideia da dualização e da exclusão. De um lado,
posicionam-se as classes médias definidas pelo status, capacidade de consumo
e de participação na vida urbana; de outro, as classes populares, identificadas
pelos níveis de violência, miséria e patologias: os excluídos.

Se antes a classe operária tinha uma identidade, dada por sua participação
na produção, e nela podia se apoiar e reivindicar de forma coletiva, agora,
dissociada da produção e identificada pelo consumo, luta pelo reconhecimento,
por sua dignidade. Dessa forma, numa ordem em que as categorias objetivas dos
dominantes definem a nova questão social, colocando em oposição a integração
à exclusão e o universal ao particular, resta ao excluído a luta por sua dignidade
e reconhecimento ao direito de viver a sua vida, sem a imposição de modelos
definidos pelo consumo. Isso constitui a nova questão social.

Para o autor, seu enfrentamento se dá por meio de três questões consideradas


cruciais:

•• fazer aparecer, por trás da lógica objetiva de integração-exclusão, a


veracidade das relações de classes e das relações de poder;
•• fazer do direito de cada um viver sua vida o objetivo de toda política;
•• colocar no centro da ação a reivindicação pela democracia.

A relação da questão social com a prática e ação do Serviço Social reside no


fato de que a formação profissional no Brasil tem nessa sua sustentação de
fundação sócio-histórica. Assim, a questão social torna-se um elemento central e
constitutivo da relação entre o Serviço Social e realidade social.

O processo de trabalho do Serviço Social é determinado pelas


configurações estruturais e conjunturais da questão social e
pelas formas históricas de seu enfrentamento, permeadas pela
ação dos trabalhadores, do capital e do Estado, através das
políticas e lutas sociais. (ABEPSS, 1996, p. 5).

41
Capítulo 2

De acordo com Iamamoto (2010), a identificação da questão social como


elemento transversal à formação e ao exercício profissional no Serviço Social
decorre da necessidade de situar a profissão no contexto histórico da sociedade,
e mais especificamente da história da sociedade brasileira como uma forma de
romper com o dualismo e a defasagem entre a teoria e a prática, e de qualificar
a ação profissional no enfrentamento cotidiano da questão social. Segundo a
autora (2010, p. 163):

O Serviço Social, tem na questão social a base de sua


fundação enquanto especialização do trabalho. Os assistentes
sociais, por meio da prestação de serviços sócio-assistenciais
– indissociáveis de uma dimensão educativa (ou político-
ideológica) – realizados nas instituições públicas ou organizações
privadas, interferem nas relações socais cotidianas, no
atendimento às variadas expressões da questão social, tais como
experimentadas pelos indivíduos sociais no trabalho, na família,
na luta pela moradia e pela terra, na saúde, na assistência social
pública, entre outras dimensões.

Por outro lado, afirma a autora que a distinção atribuída à questão social exige
o aprofundamento e a apropriação da matriz teórica da tradição plural marxista,
relacionando-a com as demais correntes do pensamento contemporâneo e
aprofundando seu debate. Essa aproximação permite entender a sociedade civil
que explica o Estado, sendo que nas relações sociais podem ser compreendidas as
formas políticas, religiosas, artísticas, entre outras. A partir dessa visão, a questão
social tem prioridade sobre a política social na formação acadêmico-profissional
do assistente social, pois “a questão social explica a política social, mas a política
social não explica a questão social tout court” (IAMAMOTO, 2010, p. 185).

Salientamos, ainda, que, calçadas na teoria social crítica, as referências à


questão social são totalmente distintas das abordagens que envolvem o
entendimento da situação social problema ou dos problemas sociais, ou ainda
de situações que envolvam solidariedade ou integração social, cujas raízes
teóricas fundamentadas na sociologia clássica durkeineana diferem da matriz
teórica a partir da qual se desdobra o debate da questão social no âmbito do
Serviço Social no Brasil, conforme anteriormente estudado.

Mantendo nosso estudo de forma universal e plural, passamos a abordar


as estratégias em Serviço Social, tema de grande relevância e central no
enfrentamento das manifestações da questão social.

42
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Seção 2
Estratégias em Serviço Social
O processo de ação ou intervenção profissional não se modeliza
num conjunto de passos preestabelecidos (a chamada receita),
exigindo uma profunda capacidade teórica para estabelecer os
pressupostos da ação, uma capacidade analítica para entender
e explicar as particularidades das conjunturas e situações, uma
capacidade de propor alternativas com a participação dos sujeitos
na intrincada trama em que se relacionam as forças sociais, e em
que se situa, inclusive, o assistente social (FALEIROS, 2011, p. 65).

Ao avançarmos em nosso estudo, passamos para o debate acerca das


estratégias necessárias ao assistente social para atuar frente à questão social,
sendo essa entendida como elemento constitutivo da relação entre o profissional
e a realidade social, conforme vimos na seção anterior.

Quando falamos de estratégias, estamos nos referindo a categorias amplas de


ação, de como converter intenção em prática, de como fazer para que objetivos
antes definidos sejam alcançados. Portanto, estamos falando de caminhos,
procedimentos, do “como” (TENÓRIO, 1999; DRUCKER,1997; HUDSON 1999;
MACIEL, 2014). Estamos falando da relação teoria/prática em Serviço Social.

De acordo com Rodrigues (2003), considerando a complexidade da ação do


Serviço Social, as estratégias não configuram apenas como a mera realização
de decisões preestabelecidas para atender objetivos em contextos já definidos;
antes, as estratégias podem ser compreendidas a partir da tomada de decisão
em torno de uma intervenção, sendo consideradas as possibilidades de
imprevistos, acasos, novas informações e conhecimentos que se constroem ao
longo do processo. Trata-se de lutar contra o acaso, buscando informações para
dirimir incertezas e ao mesmo tempo tirar partido dele.

Para Iamamoto (2003), o enfrentamento da questão social acontece a partir da


construção de duas estratégias:

•• A primeira diz respeito à politização da participação dos profissionais


nos espaços de gestão, entendendo essa como arena de interesses
que devem ser reconhecidos e negociados. Trata-se da participação
efetiva da categoria nos espaços criados a partir da Constituição
Federativa de 1988, os conselhos, fóruns, que atualmente
configuram espaços públicos que devem viabilizar a representação
e negociação, a vivência da democracia representativa e direta, a
construção de políticas públicas e sociais que atendam a maioria.

43
Capítulo 2

•• Como segunda estratégia, e coadjuvante da primeira, a autora


propõe o resgate da ação pedagógica do Serviço Social por meio
do trabalho de base na mobilização e organização popular, ações
que, segundo a autora, foram absorvidas pelos movimentos sociais
nos últimos anos, e para as quais os assistentes sociais precisam
dedicar tempo, estudo e atenção.

De acordo com Faleiros (2011), as categorias e estratégias em Serviço Social


são elaborações teórico-metodológicas que emergem da reprodução da teoria
pela prática e da prática pela teoria, constituindo um repertório que permite
a intervenção profissional, proveniente não de uma teoria abstrata, mas do
acúmulo de experimentações controladas; uma combinação de saber sistemático
alimentado pela pesquisa e análises críticas.

Ao analisar as estratégias em Serviço Social, Faleiros (2011) o faz interceptando


seu conceito com o entendimento de trajetórias e patrimônios simbólicos. Desta
forma, entende trajetórias como a construção e desconstrução de poderes, numa
dinâmica relacional em que se cruzam os ciclos curtos de vida dos indivíduos e
os ciclos longos da história, os tempos históricos e sociais, os tempos familiares
e individuais. Não sendo linear, essa trajetória envolve um processo de mudanças
de relações que implicam rupturas, manifestando-se em revoltas, desavenças,
resistências e deslocamentos, como também em continuidades que se
identificam nas acomodações, integrações e repetições.

Quanto aos patrimônios simbólicos, o autor afirma que eles são referências para
a constituição das identificações sociais. As representações que os indivíduos e
grupos fazem de si mesmos dependerão das crenças, valores e referências
culturais que adotam no cotidiano. As representações e ideologias dependem das
práticas sociais de classe, de discriminação, de resistência.

Ainda segundo o autor, as trajetórias sociais são processos que envolvem


estruturação e desestruturação de referências e patrimônios pela articulação ou
desarticulação de relações sociais, num determinado tempo e espaço, onde se
reproduzem mudanças tanto nas formas de reprodução quanto de identificação
social. Nessa perspectiva, as estratégias para o Serviço Social constituem
Re-produzir-se é
processos que articulam e mediam poderes e mudanças
atender às necessidades nas relações de interesses, referências e patrimônios em
de sobrevivência nas jogo, implicam investimentos em projetos individuais e
relações sociais dadas
coletivos, resultando na rearticulação dos patrimônios,
historicamente, e re-
presentar-se implica referências e interesses, tendo como intenção a re-
o processo de re- produção e a re-presentação dos sujeitos históricos.
construção da identidade
(FALEIROS, 2011).

44
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

A partir desses conceitos, o autor elabora o que denomina de paradigma de


correlação de forças, propondo o fortalecimento do dominado (empowerment)
e sua defesa (advocacy) como objetivos estratégicos da intervenção do Serviço
Social. Nessa perspectiva, “o assistente social passa a ser um aliado do cliente/
usuário em vez de um gerenciador de recursos da instituição em função dos
critérios, normas e itinerários por ela estabelecidos” (FALEIROS, 2011, p.78).

Não se trata da aplicação aleatória de dispositivos estratégicos, mas de um


processo contínuo de percepção de condições concretas para intervenção, para
o que o autor propõe algumas estratégias, a saber: estratégia de rearticulação
das referências sociais, de rearticulação de patrimônios, de contextualização e de
articulação institucional, as quais explicaremos a seguir:

•• Estratégia de rearticulação de referências sociais: trata-se


da compreensão dos problemas vivenciados pelo sujeito a partir
de suas trajetórias, e envolve a implementação de seus direitos
de cidadania, a participação na tomada de decisão do que lhe
diz respeito, o acesso às informações sobre a possibilidade de
alteração de sua condição, o reconhecimento das redes em que
convive, das condições de opressão, da discriminação a que está
exposto, bem como o entendimento do processo de identificação
social desse sujeito.
•• Estratégia de rearticulação de patrimônios: implica o acesso
aos recursos, equipamentos e benefícios, o que resultará no
fortalecimento das condições de reprodução dos sujeitos e no
consequente atendimento de suas necessidades. Para tal, o
assistente social deverá ter amplo conhecimento das políticas
sociais e sua operacionalização, revertendo, dessa forma, o
processo de exclusão.
•• Estratégia de contextualização: no processo de análise e
entendimento dos problemas, essa estratégia busca retirar os
excluídos de um visão limitada, passando a considerá-los de forma
contextualizada a partir das relações de forças, de dominação, tanto
em aspectos mais gerais quanto no específicos e particulares.
•• Estratégia de articulação institucional: a combinação das
estratégias acima relacionadas implica um plano estratégico
institucional, no qual são reforçados os compromissos com o sujeito,
definidos os níveis e o ritmo das intervenções, os recursos e as
oportunidades, bem como o envolvimento de diferentes setores
institucionais, da sociedade e da família.

45
Capítulo 2

Ao abordar o que se denomina de articulação estratégica no Serviço Social,


Faleiros (2011, p. 86) inicia defendendo a proposta de que “é possível e viável
a construção com outros agentes, de uma estratégia de ação profissional sem
se perder a força e o conhecimento específico”. Continua, afirmando que é
necessário assumir a particularidade do Serviço Social no contexto das relações
sociais. Fugindo das dicotomias, sugere que se entenda a divisão da sociedade
em classes, numa concepção mais abrangente de classes sociais, tendo
com referencial as relações de produção, mas não reduzindo a essa todo o
entendimento da dinâmica social, considerando as diferenças culturais, regionais,
níveis de desenvolvimento e de trajetória histórica de cada sociedade.

A articulação estratégica parte do entendimento de que a sociedade não se


constitui como uma soma de indivíduos e como uma totalidade abstrata, pois
se constitui como uma relação de forças estruturais/conjunturais, isso implica
na correlação entre a conjuntura e a estrutura social. Na conjuntura, as forças se
constroem e desconstroem em relações de poder, de exploração, nas relações
de disponibilidade de recursos. Essa relação envolve dominantes e dominados, e
a construção de uma hegemonia que se altera entre avanços e recuos. Trata-se
da relação de forças, resultando em uma relação de classes na qual acontece um
aumento ou diminuição do patrimônio político, cultural, afetivo, familiar.

A articulação estratégica em Serviço Social se dá no momento em que se


busca o fortalecimento do sujeito frente às situações de fragilização, de
perda de patrimônio, das condições de autonomia. O profissional age a
partir do entendimento da relação força/recurso/problemas, buscando a
superação da situação por meio da articulação dos sujeitos, dos direitos,
da cidadania, dos dispositivos que irão refazer essa relação.

A compreensão da questão social, bem como das estratégias necessárias


ao seu enfrentamento, são estudos que corroboram para o entendimento da
instrumentalidade do Serviço Social, assunto que passamos a abordar em nossa
próxima seção.

46
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Seção 3
Instrumentalidade do Serviço Social

É parte da instrumentalidade o ato de responder às diversas e


heterogêneas demandas que nos chegam (...), de onde se faz
necessário buscar seus fundamentos sócio-históricos e políticos,
seu modo de ser e discerni-los do seu modo de aparecer, das
suas expressões, evidenciar seus contornos, determinações e
peculiaridades, para daí captar como esta demanda é respondida
e com que tipo de respostas, bem como qual a racionalidade
que o assistente social está acionando para responder a ela.
(GUERRA, 2014, p. 37).

Com o texto acima introduzimos nosso estudo acerca da instrumentalidade


do Serviço Social, fazendo uma breve reflexão sobre o papel e a relevância da
racionalidade para nossa práxis. Do destaque, depreendemos que, por meio da
racionalidade, o assistente social constrói respostas às demandas. O que vem a
ser esta racionalidade?

Ao entrar em contato com determinada realidade social e suas demandas, o


assistente social utiliza o principio da racionalidade, tendo na razão o guia para a
execução de sua ação. Assim, busca apreender a totalidade de forma consciente
e racional, sendo responsável por sua ação, sabendo que seu trabalho, por sua
dimensão prático-concreta, irá operar mudanças tanto no objeto quanto no
sujeito, bem como na subjetividade dos indivíduos (IAMAMOTO, 2003).

De acordo com Guerra (2014), pela instrumentalidade do Serviço Social se


expressam as racionalidades as quais possibilitam a materialização das diversas
formas de intervenção ideopolítica e socioprofissional do assistente social. Para
tanto, a autora destaca dois tipos de racionalidades:

•• Racionalidade instrumental: Trata-se de uma racionalidade


voltada para prática formal-abstrata, manipuladora e instrumental,
manifestando-se de forma segmentada e descontextualizada. Por
meio de uma concepção unidimensional, é uma racionalidade
ditatorial e totalitária (MORIN, 2005, p. 163). De acordo com Ramos
(1989), a racionalidade instrumental é aquela que orienta a conduta
humana como um meio para se atingir os objetivos, não detendo-se
na qualidade das ações. É, portanto, determinada pela expectativa
de resultados ou fins calculados, sendo utilitária, técnica, econômica.

47
Capítulo 2

•• Racionalidade substantiva: Tendo como referencial a teoria social


crítica, Guerra (2014) afirma que a razão substantiva é sinônimo
da razão dialética, pois incorpora a contradição, o movimento, a
negatividade, a totalidade, as mediações, procurando entender a
lógica pela qual os fenômenos se constituem, sua essência. Já para
Ramos (1989), a racionalidade substantiva é um atributo natural do
ser humano, visto que reside na psique humana e é a partir dela
que os indivíduos buscam conduzir sua vida pessoal, na direção
da auto-realização. De caráter emancipatório, a racionalidade
substantiva está voltada para valores, independente de expectativas
de sucesso, busca a autorrealização, contrabalanceada com o
alcance da satisfação e bem-estar social, a partir do julgamento
ético-valorativo das ações.

De acordo com Guerra (2014), a racionalidade instrumental tem predominado ao


longo da história e da formação do Serviço Social no Brasil, e isso decorre de
dois fatores:

1. Primeiramente, por seu caráter interventivo, dela são esperadas


respostas que alterem as mais diversas situações que chegam ao
profissional;
2. Pela peculiaridade presente nas demandas para a profissão,
demandas essas que exigem soluções na maioria das vezes
imediatas, paliativas, pontuais, que por fim se convertem em
objetos da profissão, pelas quais passa a ser identificada.

Conclui a autora, “assim, ir além da imediaticidade da prática profissional e da


racionalidade instrumental não é nada fácil”. (GUERRA, 2014, p. 32).

Para transpor essa situação, sugere mudanças na forma de ler e interpretar a


realidade, indo além da consciência comum, da aparência que recobre os fatos
da realidade social; buscando; na razão histórica e dialética, o entendimento
dos movimentos da própria realidade, identificando suas contradições e
superando-as. Essa mudança de leitura e interpretação interfere diretamente na
concepção e no entendimento da instrumentalidade e do instrumental técnico-
operativo do Serviço Social.

Os assistentes sociais trabalham com as mais diversas expressões da questão


social, seja na esfera pública ou privada, no contexto das organizações e
movimentos sociais. Esse trabalho constitui um desafio diário e permanente, à
medida que exige do profissional o uso de diferentes instrumentos pelos quais
exerce sua ação, ao mesmo tempo em que adquire novos conhecimentos
produzindo sua objetivação.

48
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

As demandas são diversas e variadas, o que tem exigido do profissional o


estabelecimento de critérios na escolha de técnicas que melhor atendam
às necessidades, gerem resultados positivos e ultrapassem o curto prazo,
resultando em soluções de caráter contínuo e consequente na vida dos
indivíduos, comunidades, movimentos e organizações.

Sarmento (2013), analisando o tema em estudo, afirma que mudanças em


curso têm gerado novas necessidades, as quais, incorporadas pelos interesses
de classe e expressas em exigências socioinstitucionais e técnico-operativas,
materializam-se no mercado de trabalho e atingem diretamente a ação cotidiana
do assistente social. Para fazer frente a essa investida, o autor sugere:

•• Colocar-se nos processos de trabalho de forma crítica e criativa,


sabendo que sua ação e o uso de técnicas e instrumentos não
acontecem de forma neutra; antes, demandam de racionalidade e
intencionalidade que permitam a realização das ações projetadas.
•• Considerar que novas formas de gestão de trabalho têm surgido
nos espaços de atuação, seja na esfera pública ou privada, trazendo
em seu escopo diferentes concepções de mundos, estratégias e
objetivos bem definidos, diferenciados por novas racionalidades e
conhecimentos que se referem à gestão e execução de políticas,
programas e projetos.
•• Considerar que essas formas e espaços de gestão geram novas
configurações instrumentais, em que instrumentos e técnicas
são concebidos por meio de um conjunto de intenções éticas e
políticas, não sendo neutros. Isso exige, por parte dos profissionais,
atitude crítica e o esforço competente de gerar um conjunto de
procedimentos articulados entre si, técnicos, políticos, teóricos,
éticos, e que venham nortear e qualificar a ação, no sentido de dar
concretude ao projeto ético político da profissão.
•• Observar as dimensões objetivas que compõem os processos de
trabalho dos assistentes sociais: a dimensão concreta (tecnologias
e condições materiais e ambientais); a dimensão gerencial (como
o trabalho é gerido e as funções de planejar, executar e controlar);
a dimensão socioeconômica (que articula os modos de realizar o
trabalho e as estruturas econômicas, sociais e políticas); a dimensão
ideológica (que entrelaça todas a demais dimensões e envolve o
discurso sobre o trabalho e as relações de poder); a dimensão
simbólica (que diz respeito aos aspectos subjetivos da relação do
indivíduo com o trabalho e com os demais sujeitos).

49
Capítulo 2

De acordo com Iamamoto (2010), nesse contexto, novas funções e competências


têm sido demandadas do assistente social, o que tem gerado novas exigências
de qualificação, tais como:

Um perfil profissional culto, crítico e capaz de formular,


recriar e avaliar propostas que apontem para a progressiva
democratização das relações sociais. Exige-se, para tanto,
compromisso ético-político com os valores democráticos e
competência teórico-metodológica na teoria crítica em sua
lógica de explicação da vida social. Esses elementos, aliados à
pesquisa da realidade, possibilitam decifrar situações particulares
com que se defronta o assistente social no seu trabalho, de
modo a conectá-las aos processos sociais macroscópicos
que as geram e as modificam. Mas, requisita, também, um
profissional versado no instrumental técnico- operativo, capaz
de potencializar as ações nos níveis de assessoria, planejamento,
negociação, pesquisa e ação direta, estimuladora da participação
dos sujeitos sociais nas decisões que lhes dizem respeito, na
defesa de seus direitos e no acesso aos meios de exercê-los
(IAMAMOTO, 2010, p. 208).

As ações desenvolvidas pelo assistente social envolvem um arcabouço


de conhecimentos, competências e habilidades, além do domínio de um
vasto arsenal de técnicas e instrumentos, por meio dos quais acontecem as
intervenções. De acordo com Guerra (2014), os instrumentos se revestem de
uma intencionalidade profissional. A partir de então, são criados, utilizados,
mobilizados de acordo com a finalidade da intervenção profissional, da
racionalidade que permeia a ação, contribuindo para a passagem da teoria
à prática e permitindo a materialização dos objetivos profissionais em ações
concretas. Dessa forma, a instrumentalidade está referindo-se à capacidade
que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos e permite
que o assistente social objetive sua intencionalidade em respostas profissionais,
modificando, transformando, alterando condições objetivas e subjetivas, relações
interpessoais e sociais, no nível da realidade social e de seu cotidiano.

O sufixo “idade” tem a ver com a capacidade, qualidade


ou propriedade de algo. Com isso podemos afirmar que
a instrumentalidade no exercício profissional refere-se, não
ao conjunto de instrumentos e técnicas (neste caso, a
instrumentação técnica), mas a uma determinada capacidade ou
propriedade constitutiva da profissão, construída e reconstruída
no processo sócio-histórico. (GUERRA, 2007, p. 1)

50
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

A autora defende a ideia de que falar da instrumentalidade, como a capacidade


de criar e recriar os meios para o alcance de objetivos, é falar em projeto
profissional. Esse projeto deve buscar e elaborar as respostas sobre o que, por
quê, para quê, quando, onde, com que meios e como fazer, sendo que:

•• Como fazer e com que meios: diz respeito às habilidades e


competências a serem desenvolvidas ao longo de uma formação
contínua;
•• Por quê: está relacionado à leitura da realidade social e do aporte
teórico sobre o qual se assenta a visão de homem e mundo do
profissional;
•• Para quê: Está vinculado aos valores e compromissos profissionais;
•• Quando e onde: Diz respeito à dimensão do espaço e tempo,
estando relacionados com a concepção social do sujeito, exigindo a
permanente análise da conjuntura.

Quanto mais enriquecida for a instrumentalidade, maior sua contribuição para a


consecução do projeto ético-político profissional. De acordo com Guerra (2014),
essa instrumentalidade é rica quando:

•• Vamos além das estratégias individuais e buscamos responder às


demandas coletivas;
•• Quando lutamos contra a individualização dos problemas,
enfrentando os processos de culpabilização do sujeito;
•• Quando estimulamos a participação do sujeito nas instituições e na
tomada de decisão do que lhe diz respeito;
•• Quando criamos instrumentos que gerem a emancipação, em
oposição aos que manipulam, subordinam e controlam;
•• Quando desenvolvemos capacidade e argumentos de negociação
com sistemas e organizações em prol dos interesses dos usuários,
questionando e buscando ampliar os critérios de elegibilidade;
•• Quando lutamos contra a precarização das condições de trabalho
da categoria, buscando conquistar espaço e tempo para a pesquisa,
estudo, discussão, num processo interdisciplinar e com vistas à
melhoria da qualidade dos serviços prestados;
•• Quando atuamos para além das situações imediatas e construímos
espaços para investigação, reflexão e superação do emergencial e
momentâneo;

51
Capítulo 2

•• Quando atuamos de forma articulada com organizações, sindicatos


e movimentos sociais, afirmando os princípios do Código de Ética,
observando as atribuições e competências da Lei que regulamenta
nossa profissão.

É claro que uma instrumentalidade, para ser rica, necessita


encontrar as condições objetivas para tal, tanto quanto necessita
de um sujeito preparado, atento, com sólida formação intelectual,
claras convicções políticas, sem esquecer que a dimensão
político-profissional se faz com certezas, com princípios claros
e firmes, com compromissos assumidos e honrados. (GUERRA,
2014, p. 41).

No atual contexto, apenas o entendimento e domínio da instrumentalidade e


dos instrumentais técnico-operativos não é suficiente para o enfrentamento das
diversas manifestações da questão social. De acordo com Iamamoto (2003), é
necessário que o profissional do Serviço Social tenha clareza de três requisitos
relativos a sua competência profissional, presentes em três dimensões das quais
o profissional precisa ter domínio:

•• Competência ético-política: Segundo a autora, o profissional deve


ter conhecimento político necessário a sua prática, considerando
que estará lidando com as relações de poder e forças sociais da e
na sociedade. O assistente social necessita apresentar uma posição
política frente às situações que envolvam conflitos, articulando sua
intervenção em direção dos interesses da sociedade.
•• Competência técnica-operativa: Esta competência diz respeito
à série de conhecimentos e competências necessários para a
utilização de instrumentos operativos com vistas à ação. Deve
ter habilidades que permitam uma atuação crítica e eficaz nas
intervenções junto à população, às organizações; enfim, em seu
ambiente de trabalho.
•• Competência teórico-metodológica: De acordo com a autora, as
grandes fontes do pensamento social devem constituir material
de busca e pesquisa, que estarão contribuindo para o exercício
profissional. Torna-se imprescindível uma fundamentação teórico-
metodológica como um caminho necessário para a inovação do
exercício profissional. Sugere a autora o domínio da teoria social
crítica, a aproximação à realidade, a participação política e um
embasamento técnico-operativo que permita o alcance de novos
rumos na atuação profissional.

52
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

O entendimento dos assuntos até aqui abordados, quais sejam, a questão social,
as estratégias e a instrumentalidade do serviço social, servem de embasamento
para a compreensão das metodologias de intervenção e dos instrumentais
técnicos operativos, nossos próximos temas de estudo e pesquisa. Sugerimos um
estudo atencioso e empenhado, considerando que essa é nossa práxis, espaço
em que transformamos intenções em ações, intervimos; esse é nosso chão.

Referências
ABEPSS/CEDEPSS. Diretrizes gerais para o curso de Serviço Social. Rio de
Janeiro, 1996.

CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário.


11ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

DRUCKER, P. F. Administração em organizações sem fins lucrativos:


princípios e Práticas.4ª ed. São Paulo. Pioneira, 1997.

FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em serviço social. 10ª ed. São Paulo:
Cortez, 2011.

GUERRA, Yolanda. A instrumentalidade em serviço social. 10ª ed. São Paulo:


Cortez, 2014.

GUERRA, Yolanda. A instrumentalidade no trabalho do assistente social. 2007.


Disponível em: <http://www.cedeps.com.br/wp-content/uploads/2009/06/Yolanda-
Guerra.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2015.

HUDSON, M. Administrando organizações do terceiro setor: o desafio de


administrar sem receita. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 1999.

IAMAMOTO, Marilda Villela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e


formação profissional. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.

IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço social em tempo de capital fetiche: capital


financeiro, trabalho e questão social. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2010.

IAMAMOTO, Marilda Villela. A questão social no capitalismo. In: Revista Praia


Vermelha. Estudos de política e teoria social, Rio de Janeiro. UFRJ, nº 8, 2003,
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LAPEYRONNIE, Didier. A questão social ontem e hoje. In: Revista Praia


Vermelha. Estudos de política e teoria social, Rio de Janeiro. UFRJ, nº 8, 2003,
p.12-31.

53
Capítulo 2

MACIEL, Walery Luci da Silva. Gestão social: planejamento e avaliação: livro


didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2014.

MONTAÑO, Carlos. Pobreza, “questão social”, e seu enfrentamento. In: Serviço


Social e Sociedade. São Paulo, nº 10, p. 270-287, abr./jun. 2012.

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 8ª ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil,
2005.

NOVA EDITORA MUSICAL LTDA. Construção. 1971. Disponível em: <http://letras.


mus.br/chico-buarque/45124/>. Acesso em: 28 out. 2015.

RAMOS, A. G. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da


riqueza das nações. 2ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1989.

RODRIGUES, Maria Lúcia. Ações e interlocuções: estudos sobre a prática


profissional do assistente social. 2ª ed. corr. São Paulo: Veras, 2003.

SANTOS, Edlene Pimentel. A questão social em debate. In: Revista Praia


Vermelha. Estudos de política e teoria social, Rio de Janeiro. UFRJ, nº 10, 2004,
p.62-83.

TENÓRIO, Fernando (organizador). Gestão de ONGs: principais funções


gerenciais. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999.

54
Capítulo 3

Metodologia e instrumental
técnico-operativo da prática
profissional
Walery Luci da Silva Maciel

Neste capítulo, estaremos abordando as metodologias de intervenção e o


instrumental técnico-operativo da prática do Serviço Social. Ao finalizar a leitura, o
(a) estudante estará apto (a) para analisar e intervir na realidade, compreendendo
suas atribuições profissionais a partir do desenvolvimento de competências éticas,
teóricas e metodológicas, bem como para atuar contribuindo com alterações
qualitativas nas interações sociais nos espaços sócio-ocupacionais, interagindo
junto a equipes interdisciplinares nos mais diversos espaços profissionais.

Seção 1
Considerações em torno das abordagens
individual, grupal e coletiva
No momento em que detemos nosso estudo na dimensão técnico-operativa
do Serviço Social, fazemos isso lembrando, conforme até aqui estudado, da
complexidade dos contextos e demandas com as quais trabalhamos. Estamos
nos referindo à diversidade de espaços sócio-ocupacionais, seja na esfera
pública ou privada, nos diferentes níveis de ações nos quais somos demandados,
seja na proposição, planejamento e formulação de políticas públicas, na
articulação e ou gestão de programas, projetos, movimentos ou organizações
sociais, bem como no atendimento direto.

55
Capítulo 3

De acordo com Toso (apud MIOTO e LIMA, 2009), a complexidade da ação do


assistente social pode ser compreendida a partir de um conjunto de fatores que
as tornam altamente variáveis e sujeitas a contínuas transformações, quais sejam:
os tipos de demandas que exigem formas de operação flexíveis e personalizadas,
a quantidade e multidimensionalidade dos problemas e demandas sociais, a
multiplicidade de contextos institucionais com as peculiaridades das relações
no ambientes de trabalho, as incertezas quanto à disponibilidade de recursos, e,
por fim, a complexidade das respostas somada à incerteza sobre seus efeitos,
considerando o grande número de variáveis intervenientes e a dificuldade em
controlá-las. A esses fatores, podemos acrescentar o desafio da atuação em
equipes multidisciplinares e a interação que se faz necessária com outras áreas
de conhecimento e na ação profissional.

A dimensão técnico-operativa tem seu desenho a partir do projeto ético-


político da profissão, que, construído de forma coletiva, consiste, de acordo
com Iamamoto (2003), na articulação entre a realidade sócio-histórica na qual
a profissão se movimenta, considerando seus limites e possibilidades, e a
dimensão profissional, que compreende as respostas técnico-profissionais dos
assistentes sociais. Essas respostas envolvem metodologias e instrumentais
que, no cotidiano da ação profissional, permitem a concretização dos projetos,
bem como a intervenção, constituindo-se em elementos fundamentalmente
necessários à objetivação da ação profissional, sendo parte da direção teórico-
política da profissão. (TRINDADE, 2001).

De acordo com Santos (2013), na dimensão técnico-operativa podemos encontrar


os objetivos e sua efetivação, as condições objetivas e subjetivas para o alcance
das finalidades. Por outro lado, exige o conhecimento de quem são os usuários,
seu modo e estratégias de vida, suas demandas, os sujeitos e as relações de
poder. Conclui a autora:

É com essa compreensão que oferecemos destaque, aqui, à


dimensão técnico-operativa, enquanto dimensão que em sua
especificidade é a mais aproximada da prática profissional, e,
que por ser assim, propriamente dita, necessariamente, expressa
e contém as demais dimensões. Ou seja, as ações expressam as
concepções teórico-metodológica e ético-política do profissional,
mesmo que ele não tenha clareza de suas concepções e de seus
valores. Nesta direção, a dimensão técnico-operativa envolve um
conjunto de estratégias, táticas e técnicas instrumentalizadoras
da ação, que efetivam o trabalho profissional, e que expressam
uma determinada teoria, um método, uma posição política e ética.
(SANTOS, 2013, p. 26).

56
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

As intervenções no cotidiano do assistente social podem acontecer a partir de


três abordagens, a saber: de forma individualizada, grupal ou coletiva. Não é
nossa intenção neste estudo ressuscitar as antigas abordagens de “caso, grupo e
comunidade”, comuns à formação e prática profissional até a década de 1980, e
que após revisão e vigoroso debate teórico-metodológico, aprofundado nos anos
1990, passaram a ser abordadas a partir da teoria social crítica, incorporadas
numa visão contextualizada e ampla da sociedade, das relações sociais e das
manifestações da questão social.

Observe que a Lei 8.662/93, que regulamenta a profissão do assistente social,


estabelece, em seus artigos 4º e IXº, ao tratar da atuação desses profissionais
sobre a prestação de serviços diretos, os quais são de sua competência: a) a
orientação social a indivíduos, grupos e à população; b) a assessoria e o apoio
aos movimentos sociais em relação às políticas sociais, no exercício e na defesa
dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade.

Dessa forma, o interesse, neste momento de estudo, é discutir e refletir


as possibilidades de atuação do assistente social em cada uma dessas
modalidades de intervenção, considerando que podem acontecer de forma
isolada ou concomitantemente e, ainda, que essas não se dão de maneira
estanque nem descontextualizada; antes, configuram espaços e formas de
exercício profissional, e estarão sempre imbricadas na conjuntura maior da
sociedade, nas relações de classe e de poder, nos contextos de trabalho, de
consumo, de realização da vida.

Com esse pensamento corroboram Mioto e Lima (2009), ao afirmarem


que a operacionalização da ação deve ocorrer a partir da articulação dos
conhecimentos entre o universal, o particular e o singular, estabelecendo relações
entre o indivíduo e a sociedade. Sobre isso, complementam as autoras:

É a partir das demandas postas pelos sujeitos, sejam elas de


caráter coletivo ou singular, que o Assistente Social, a partir da
finalidade assumida como horizonte para suas ações, define
tanto o objetivo como o caráter da ação a ser empreendida,
localizando-a dentro dos limites e possibilidades colocados
pela natureza dos espaços sócio- ocupacionais. Essa definição
é realizada através da investigação e do conhecimento das
necessidades da população, expressas pelas suas demandas
e pela realidade particular de suas condições de vida, e em
diálogo com o corpo de conhecimentos já produzidos sobre as
particularidades das situações e coerentes com a matriz teórico-
metodológica que direciona determinado projeto profissional.
(MIOTO e LIMA, 2009, p. 39).

57
Capítulo 3

Ainda de acordo com Iamamato,

o assistente social lida, no seu trabalho cotidiano, com


situações singulares vividas por indivíduos e suas famílias,
grupos e segmentos populacionais, que são atravessadas
por determinações de classes. São desafiados a desentranhar
da vida dos sujeitos singulares que atendem as dimensões
universais e particulares, que aí se concretizam, como condição
de transitar suas necessidades sociais da esfera privada para
a luta por direitos na cena pública, potenciando-a em fóruns
e espaços coletivos. Isso requer tanto competência teórico-
metodológica para ler a realidade e atribuir visibilidade aos fios
que integram o singular no coletivo quanto à incorporação da
pesquisa e do conhecimento do modo de vida, de trabalho e
expressões culturais desses sujeitos sociais, como requisitos
essenciais do desempenho profissional, além da sensibilidade e
vontade políticas que movem a ação. (IAMAMOTO, 2009, p. 33).

1.1 Abordagem individual


A abordagem individual se dá quando o assistente social se encontra diretamente
com indivíduos ou usuários, ou cidadãos beneficiários, nas mais diversas situações
que materializam a questão social e e manifestam-se na situação problematizada
por meio da queixa, da reivindicação do direito, serviço ou benefício. Mioto (2014)
apreende esse momento a partir do que denomina de processos socioassistenciais,
o que corresponde ao “conjunto de ações profissionais desenvolvidas, a partir
de demandas singulares, no âmbito da intervenção direta com os usuários em
contextos institucionais” (MIOTO, 2014, p. 3).

O olhar atento e criterioso, pautado pelo compromisso ético-político e


teoricamente embasado, permitirá uma abordagem que resulte significativa e
consequente. É necessário que o profissional esteja atento à condição de quem
procura o atendimento, em situação marcada pela fragilidade, pela perda de
patrimônios (FALEIROS, 2011), pela necessidade de se fazer ouvir de forma
atenta e qualificada, de obter respostas claras e objetivas numa linguagem que,
sem abrir mão da terminologia própria da área de atuação, seja acessível e
inteligível ao público a que se dirige (SOUZA, 2008). Mioto e Lima (2009, p. 42)
afirmam que a abordagem individual corresponde

ao conjunto de ações profissionais desenvolvidas diretamente


com usuários nos diferentes campos de intervenção a partir
de demandas singulares. Sua lógica reside em atender o
usuário como sujeito, visando responder a essas demandas/
necessidades numa perspectiva de construção da autonomia
do indivíduo nas relações institucionais e sociais, remetendo-o à
participação política em diferentes espaços.

58
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

A intervenção, nesse momento, respalda-se na ideia do acolhimento. De acordo


com o Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa (2015) e o Michaelis Moderno
Dicionário da Língua Portuguesa (2009), o termo acolhimento relaciona-se ao
ato ou efeito de acolher; à recepção, atenção, consideração, refúgio, abrigo e
a agasalho. Acolher significa dar acolhida ou agasalho a; hospedar; receber;
atender; dar crédito a; dar ouvidos a; admitir, aceitar; tomar em consideração;
atender a. Dentro dessa perspectiva, Chupel e Mioto (2010) afirmam que o
acolhimento compreende ações sobre o fornecimento de informações, o
conhecimento da demanda e a escuta do usuário. Vejamos:

a. Fornecimento de informações: De acordo com Cepik (2000), o


direito à informação é um direito civil, político e social ao mesmo
tempo. Há informações que se caracterizam como extremamente
relevantes e precisam ser repassadas ao usuário, considerando que
se trabalha a partir de uma visão pautada pelo compromisso ético-
político de estabelecer condições que levem ao empoderamento e
autonomia (FALEIROS, 2011). São informações de natureza diversa,
circunscrita ao âmbito no qual se dá o atendimento, ou ainda
referentes a outras instituições, políticas, programas ou serviços
sociais essenciais à resolução da situação vivenciada.

Conforme Mioto (2014, p. 6):

Ressalta-se, nessas considerações, que o direito à informação não


está restrito apenas ao conhecimento dos direitos e do legalmente
instituído nas políticas sociais. Inclui-se o direito dos usuários
de usufruírem de todo conhecimento socialmente produzido,
especialmente daqueles gerados no campo da ciência e da
tecnologia, necessário para a melhoria das condições e qualidade
de vida ou para que os usuários possam acessar determinados
bens ou serviços em situações específicas. Acresce-se ainda que
o direito à informação não se restringe ao acesso à informação. Ele
pressupõe também a compreensão das informações, pois é ela
que vai possibilitar seu uso na vida cotidiana.

De acordo com Silva (apud Mioto, 2014), a socialização das informações é


fundamental para a viabilização de direitos, constituindo-se como uma ação de
fortalecimento do usuário no acesso a essas e como uma oportunidade de mudar
sua realidade. Sustenta a autora que a perspectiva do direito nessas ações se dá
por meio de dois aspectos: o compromisso com a cidadania, entendida como um
processo de politização, e o entendimento do usuário como um sujeito de valores,
com interesses e demandas legítimas que, mesmo referenciadas numa realidade
imediata, estão conectadas a uma realidade mais ampla e globalizada.

59
Capítulo 3

b. Conhecimento da demanda do usuário: O acolhimento


caracterizado como conhecimento da demanda do usuário refere-
se ao momento em que o profissional busca entender e conhecer
o que motiva a busca do serviço, da informação ou do benefício.
Nesse momento, é necessário que o profissional esteja atento,
pois essa situação, apesar de estar sendo vivida pelo sujeito de
forma particular – portanto, carregada de uma singularidade -,
não é exclusiva desse sujeito. Considerando que, como seres
essencialmente sociais, vivemos em sociedade, os problemas
carregam em si a característica de serem universais, portanto, eles
não ocorrem de forma isolada, estão interligados com contextos
que lhe dão conteúdo e causalidade, constituindo sua essência.
É preciso ter consciência desse fato para não cair no ardil do
censo comum e considerar o problema de forma individualizada e
descontextualizada.

Portanto, é necessário que o Assistente Social tenha um


conhecimento teórico profundo sobre as relações sociais
fundamentais de uma determinada sociedade (universalidade), e
como elas se organizam naquele determinado momento histórico,
para que possa superar essas “armadilhas” que o senso comum
do cotidiano prega – e que muitas vezes mascaram as reais
causas e determinações dos fenômenos sociais. É na relação
entre a universalidade e a singularidade que se torna possível
apreender as particularidades de uma determinada situação.
(SOUZA, 2008, p. 123).

c. Escuta: Inicialmente, o ato de “parar para ouvir” significa atender


ao desejo do usuário: ser ouvido. Ao longo da história do Serviço
Social como profissão e como área de construção de conhecimento
teórico-metodológico e técnico-operacional, a escuta do usuário
aparece como prática no relacionamento, passando inicialmente
pela afetividade, mas que, no avanço do debate, adentra ao campo
da mediação e passa a incluir a totalidade das relações sociais, na
qual estão envolvidas dimensões políticas e problematizadoras.
(CHUPEL e MIOTO, 2010). Ser ouvido, de acordo com Souza (2008),
não significa concordar com tudo o que o usuário diz; porém,
implica estabelecer uma relação de respeito,

pois se o usuário não é respeitado nesse direito básico, não


apenas estaremos desrespeitando-o, como prejudicando o
próprio processo de construção de um conhecimento sólido
sobre a realidade social que ele está trazendo, comprometendo
toda a intervenção. (SOUZA, 2008, p. 127).

60
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

No processo de acolhimento, trabalha-se com a visão da escuta qualificada


como ferramenta essencial para que o usuário seja atendido e entendido numa
perspectiva integral, possibilitando a construção de vínculos, o respeito à
diversidade e à singularidade no encontro entre esse usuário e o assistente social
enquanto profissional. A escuta qualificada abre espaço para o estabelecimento
de um processo reflexivo, por meio do qual o profissional, embasado em seu
compromisso ético-político, atua dentro de uma visão socioeducativa, tendo
como objetivo a formação da consciência crítica. Para o alcance desse objetivo,
faz-se necessário que sejam criadas as condições que irão permitir ao usuário a
elaboração de forma consciente e crítica da sua própria concepção de mundo,
fazendo-se sujeito do processo de construção de sua história, da história dos
serviços e das instituições e da história da sociedade (MIOTO, 2014). A escuta e
o diálogo que se estabelecem nesta relação criam as condições necessárias para
a formação dessa consciência crítica.

1.2 Abordagem grupal


Os grupos fazem parte dos movimentos da sociedade, compondo seu próprio
movimento. Vamos encontrá-los nas comunidades, famílias, ambientes de
trabalho e lazer. O trabalho com grupos acompanha a história do Serviço
Social, constituindo, nos primórdios da profissão, um dos métodos de trabalho.
O trabalho com grupos, ou a “dinâmica de grupos”, como era chamada
inicialmente, surgiu como instrumento de pesquisa do comportamento humano
em pequenos grupos, passando em seguida a ser largamente utilizado na área
social e empresas como forma de garantir controle coletivo e a manipulação dos
comportamentos por meio das relações grupais então estabelecidas (SOUZA,
2008).

No entanto, o trabalho com grupos pode se constituir em um importante aliado à


práxis do assistente social. Tendo como base e referencial o compromisso ético-
político, o trabalho com grupos deve estar centrado na análise e compreensão
crítica da dinâmica e complexidade das diversas expressões da questão social e
de como essas se manifestam no cotidiano do grupo. A partir da reflexão crítica,
o assistente social pode levantar debates, discussões, construir coletivamente
estratégias de enfrentamento a situações que exijam algum tipo de intervenção,
sendo espaço privilegiado de mobilização e conscientização.

No contexto do trabalho com grupos, o assistente social age como um facilitador,


um agente que provoca situações que levam à reflexão. Para tal, são necessárias
habilidades teóricas, o que envolve o domínio do tema em debate ou da situação
para qual busca-se uma intervenção, de técnicas e instrumentos, bem como uma
postura política democrática, que permitirá o desenvolvimento do grupo e de
seus membros de forma particular.

61
Capítulo 3

Nessa perspectiva, o trabalho com grupos é um grande aliado para o


desenvolvimento de um processo participativo, pois permite uma interação
interdisciplinar e multisetorial, as quais facilitam o surgimento de soluções
criativas e coerentes à realidade. De acordo com Cordioli (2001, p. 27), “um
processo participativo visa não somente à elaboração de propostas mais
ajustadas à realidade. Pretende mudar comportamentos e atitudes onde os
indivíduos passam a ser sujeitos ativos no processo e não objetos do trabalho
dos outros”. Conclui o autor afirmando que o processo participativo possibilita
uma aprendizagem mútua, envolvendo todos, conceitualmente ou pela
experiência, além de propiciar um ambiente estimulante onde os membros do
grupo sentem-se mais seguros, mais confiantes pelo trabalho em equipe.

De acordo com Eiras (2005), o trabalho com grupos depreende alguns


entendimentos, entre os quais a autora destaca:

a. Nos grupos e nas práticas grupais são constantes os movimentos


e tensões, os quais envolvem relações de poder, numa unidade
clivada pela diversidade;
b. Os grupos tendem a assumir formas socioinstitucionais próprias,
que embora relacionadas, tendem a ser autônomas, influenciando
os horizontes éticos políticos que os constituíram;
c. Os grupos e as práticas grupais, como manifestações coletivas,
criam espaços de diferentes processos, passíveis de conhecimento
e intervenção, constituindo área profícua de produção teórico-
operativa específica para esse tipo de trabalho, qualificando-o
como trabalho profissional;
d. O trabalho profissional com grupos necessita da compreensão
sobre grupos e sobre as práticas grupais, apreendendo as
singularidades e as particularidades de cada intervenção,
considerando os espaços socioinstitucionais e sócio-ocupacionais
existentes e pertinentes às diferentes profissões.

Para finalizar, trazemos a reflexão de Ana Maria Vasconcelos que, analisando a


interação no trabalho social em sua obra de 1985, faz uma afirmação pertinente
quando tratamos do trabalho com grupos, a despeito do tempo:

62
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Assim, a nosso ver, as relações grupais e o trabalho com


grupos são por excelência o instrumento de trabalho coletivo
e instrumento de organização. É através dessa relação e da
força que ela representa que os dominados podem explicitar
suas reivindicações e seus interesses. Poderíamos dizer que o
grupo e as relações grupais são um dos instrumentos sociais.
Dessa forma, qualquer assistente social, que faça uma opção
pelo trabalho voltado para os interesses das classes populares
utilizará relações grupais, mas para isso tem de entender o que
são estas relações grupais e como se dão tendo em vista um
trabalho coletivo (VASCONCELOS, 1985, p. 27).

1.3 Abordagem coletiva


A ação coletiva do Serviço Social com comunidades ou movimentos sociais fez
parte da constituição histórica da profissão, como também serviu de elemento
por meio do qual foram e são realizadas pesquisas e estudos que, ao longo do
tempo, têm constituído seu arcabouço teórico e metodológico. Na abordagem
coletiva, os problemas ultrapassam os limites da singularidade, saem do
particular e ganham terreno no coletivo, passam a ser vistos de forma global e
abrangente, considerando a complexidade das relações sociais, de classe e de
poder. Há uma coletivização das demandas particulares.

Para Mioto e Lima (2009), no trabalho com a coletividade o Serviço Social tem
a oportunidade de atuar por meio dos processos político-organizativos, quando
as ações, ao serem articuladas, privilegiam e incrementam as discussões,
encaminhando-as para a esfera pública. Nesses processos, o foco consiste
em dinamizar e instrumentalizar a participação dos sujeitos, considerando seu
potencial político e seu tempo. Apesar de abarcarem as demandas imediatas,
a ação prospecta, a médio e longo prazo, a construção de novos padrões de
sociabilidade, de novas e diferenciadas soluções aos problemas que são comuns,
guiada pela ideia de democratização dos espaços coletivos.

A abordagem coletiva se dá de forma muito frequente em comunidades, mas


o que vem a ser comunidade? De acordo com Souza, uma definição de
comunidade seria a de um

Conjunto de grupos e subgrupos de uma mesma classe social,


que têm interesses e preocupações comuns sobre condições de
vivência no espaço de moradia e que, dadas as suas condições
fundamentais de existência, tendem a ampliar continuamente
o âmbito de repercussão dos seus interesses, preocupações e
enfrentamentos comuns (SOUZA, 1999, p. 68).

63
Capítulo 3

De acordo com a autora, o que dá concretude e substância a uma comunidade


não são as fronteiras ou aspectos físicos das moradias, mas o conjunto de
relações e inter-relações de poderes e contra poderes que se estruturam a partir
da infraestrutura física da área, a qual é definida nas estruturas fundamentais
da sociedade. É justamente nesse ambiente de relações e inter-relações que
acontece a ação do Serviço Social, compreendendo seu contexto econômico,
político e cultural, tendo como pano de fundo uma sociedade dividida em classes
sociais, da qual ela não está descolada.

Tendo como referencial a perspectiva ético-politica, a atuação do assistente


social em projetos comunitários deve estar voltada para a criação de estratégias
que busquem a mobilização e o envolvimento dos membros da comunidade
nas decisões e ações a serem desenvolvidas, num processo de mobilização
comunitária. A atuação do profissional se dá a partir de um profundo
conhecimento da comunidade, seus aspectos sociais, culturais, físicos e
econômicos, suas lideranças e agentes políticos, suas organizações, a forma
como se constrói sua estrutura interna e externa de poder, bem como suas
demandas e necessidades. A partir desse conhecimento, terá o profissional
condições de, junto e com a comunidade, esboçar e construir proposições e
projetos de enfrentamento aos problemas e demandas identificados.

Há que se considerar que, no atual contexto social em nosso país, e frente às


diversas manifestações da questão social, novos espaços sócio-ocupacionais
e novas demandas têm surgido ao Serviço Social, espaços esses de cunho
notadamente coletivo, como é o caso dos Conselhos de Direitos, dos Fóruns, dos
orçamentos participativos, das agendas que trazem em seu conteúdo problemas
e desafios coletivos, para os quais os assistentes sociais têm sido demandados.
Há que se resgatar, também, a atuação profissional junto aos movimentos sociais,
os quais nos últimos anos passaram por um processo de institucionalização,
perdendo seu caráter reivindicatório e contestador, necessário a todo processo
democrático e de construção de uma sociedade justa e cidadã. Esses são
ambientes e espaços, por excelência, que se constituem campo de atuação do
Serviço Social.

64
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Seção 2
Instrumental técnico-operativo e documentação

São as finalidades que determinam o modo de atuar e a escolha


por alternativas. Mas há condições objetivas com as quais os
homens defrontam-se, escolhem, criam e aperfeiçoam os meios
de trabalho, dentre eles as propriedades naturais de que esses
meios são portadores. Através do trabalho e do processo de
objetivação o homem realiza no elemento natural a sua finalidade.
Em outras palavras: as necessidades são sempre sociais e as
finalidades são socialmente construídas. São as finalidades que
orientam a busca, a seleção e a construção dos meios.
(GUERRA, 2007, p. 11).

As finalidades profissionais estão inscritas num quadro


valorativo e somente podem ser pensadas no interior desse
quadro, entendido como acervo cultural de que o profissional
dispõe e que o orienta nas escolhas teórico-metodológicas
e ético-políticas, que, por sua vez, implicam projetar não
apenas os meios/instrumentos de realização, mas também as
consequências. (GUERRA, 2007, p. 30).

Nesta seção de estudo, estaremos refletindo acerca do instrumental técnico-


operativo e da documentação, uma das partes constitutivas da instrumentalidade
do Serviço Social em sua práxis cotidiana. Voltamos a enfatizar, chamando a
atenção para as citações acima, que as finalidades e a racionalidade com as quais
trabalhamos irão condicionar e determinar as escolhas que fazemos no que diz
respeito aos instrumentos e técnicas que estaremos utilizando em nosso trabalho
cotidiano. Não há neutralidade nesta escolha, já que ela vem imbuída de um conjunto
de intenções éticas e políticas: Para o que trabalhamos? Com quais objetivos?
Para quem? Qual a racionalidade que permeia nossas ações? As respostas a essas
questões irão orientar o modo como nos utilizamos dos instrumentos e técnicas e
como geramos os documentos em nosso fazer profissional.

De acordo com Santos (2013), os instrumentos e técnicas são elementos que


compõem os meios de trabalho, a dimensão técnico-operativa do Serviço Social,
ou seja, dizem respeito à operacionalização do trabalho. Neste mesmo sentido,
Trindade (2001, p. 3) afirma que o instrumental técnico-operativo compreende

a articulação entre instrumentos e técnicas, pois expressam


a conexão entre um elemento ontológico do processo de
trabalho (os instrumentos de trabalho) e o seu desdobramento
– qualitativamente diferenciado – ocorrido ao longo do
desenvolvimento das forças produtivas (as técnicas).

65
Capítulo 3

Para Trindade (2001), Guerra (2007) e Santos (2013), os instrumentos e técnicas


formam um conjunto dialeticamente articulados. Os instrumentos, como
produtos da ação humana, são os elementos mediadores e potencializadores do
trabalho, isto é, os meios pelo qual se alcança uma finalidade. As técnicas dizem
respeito à qualidade no uso dos instrumentos, isto é, ao quanto esses tornam-se
mais “utilizáveis” diante das exigências de adequação das transformações da
realidade, tendo em vista o atendimento das mais diversas necessidades sociais,
historicamente determinadas. As técnicas se desenham a partir do modo como o
profissional articula os instrumentos, considerando a sua prática e o contexto em
que atua, imprimindo sua subjetividade, com a qual vai moldando os instrumentos.

Quando tratamos da documentação, estamos nos referindo a uma parte da


sistematização da prática do Serviço Social, isto é, do exercício que compreende
o registro da ação. De acordo com Azevedo (2013), a sistematização possibilita
a obtenção de subsídios para a análise e intervenção, constituindo uma postura
metodológica que contribui para atribuir significado à práxis.

A sistematização é uma forma metodológica de elaboração do


conhecimento. É mais do que a organização de dados, é um
conjunto de práticas e conceitos que propiciam a reflexão e
a reelaboração do pensamento, a partir do conhecimento da
realidade (AZEVEDO, 2013, p. 173).

A sistematização que acontece por meio da documentação permite a reflexão


da prática de forma ordenada e crítica, problematizando e identificando conflitos,
contradições e as relações entre as diversas situações vividas e registradas.
Mais do que uma mera obrigação, a elaboração de documentos permite que as
informações sejam recolhidas, ordenadas e posteriormente refletidas, permitindo
que se aprenda com o processo vivido, retirando lições e experiências.

Almeida (2006), analisando o caráter relevante da sistematização, assinala os


seguintes aspectos:

•• A sistematização configura etapa fundamental das elaborações teóricas


dentro da profissão, possibilitando uma postura crítica e investigativa;
•• Realimenta a condução do trabalho à medida que possibilita o
reordenamento da experiência profissional por meio do processo
ação-reflexão;
•• Possibilita maior autonomia do Serviço Social nos espaços onde
atua, auxiliando na identificação dos limites e avanços alcançados,
bem como a identificação da contribuição efetiva de sua atuação;
constando, dessa forma, como componente importante de
visibilidade para o trabalho.

66
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Por fim, enfatiza o autor que a sistematização se inscreve no trabalho do


assistente social e nos processos de trabalho institucional, como parte da
dinâmica da profissão e dos espaços sócio-ocupacionais, não sendo uma
atividade esporádica. Consolida, também, uma nova dimensão em relação às
tradicionais formas de registro, permitindo a socialização num nível de debate
que contribua para o amadurecimento da profissão.

Sobre isso, alertam Mioto e Lima (2009, p. 37):

A documentação não pode ser negligenciada na ação profissional,


pois ela é essencial, tanto para o processo de conhecimento/
investigação da realidade, como para a sua sistematização
e seu planejamento. Pelo fato de as ações dos Assistentes
Sociais estarem calcadas, basicamente, no uso da linguagem,
a visibilidade da intervenção realizada só é obtida quando
ocorre o registro eficiente da ação. Além disso, os registros
permitem congregar dados que podem resultar em avanços,
tanto no momento em que se analisa a intervenção, procurando
estabelecer novas prioridades, reconhecer as demandas, dentre
outros, quanto no momento de reflexão crítica da realidade, dos
espaços sócio-ocupacionais e de seus processos de trabalho, no
intuito de ampliar o escopo de conhecimentos sobre a profissão
e a sociedade.

2.1 Instrumentos

Entrevista
A entrevista é um dos instrumentos mais utilizados pelo Serviço Social, estando
presente ao longo da história da profissão desde as primeiras produções
acadêmicas, como O Diagnóstico Social, de Mary Richmond, de 1950. Passando
por diversas concepções e entendimentos no processo de elaboração teórico-
metodológica do Serviço Social, a entrevista manteve alguns preceitos que
continuam fazendo parte de seu arcabouço teórico-prático, tais como a
necessidade de conhecimento, a intencionalidade e o respeito pelos sujeitos,
dispositivos esses que a caracterizam dentro do modo de operacionalização do
trabalho pelo assistente social. Conforme Faermann (2014, p. 217), a entrevista,

considerando as suas potencialidades, constitui-se numa


importante mediação profissional, na medida em que possibilita
ao assistente social direcionar o seu acervo de conhecimentos
em favor das demandas dos usuários, contribuindo para o
acesso aos seus direitos e para estimular processos de reflexão,
de organização e mobilização sociopolítica.

67
Capítulo 3

Podendo acontecer de forma individual ou coletiva, a entrevista possibilita a


tomada de consciência por parte do assistente social, das relações e interações
que se estabelecem entre a realidade e os sujeitos (LEWGOY e SILVEIRA, 2007).
Permite, também, um levantamento de dados e informações que possibilitarão o
conhecimento de uma determinada realidade, corroborando para a futura intervenção.

De acordo com Souza (2008), para que se alcance os objetivos traçados, a


realização da entrevista requer rigoroso conhecimento teórico-metodológico,
como também planejamento.

Segundo Lewgoy e Silveira (2007), a realização da entrevista envolve três etapas:

•• Planejamento: Segundo as autoras, planejar significa organizar, dar


clareza e precisão à própria ação, ou ainda, alterar a realidade numa
direção escolhida, agir de forma racional e com intencionalidade,
ter clareza dos princípios e realizar um conjunto orgânico de ações.
Dentro dessa perspectiva, é necessário que o assistente social
tenha conhecimento e domínio dos pressupostos teórico, ético,
político e técnico que envolvem a ação e o contexto onde essa
ocorre, a fim de que dê agilidade e consequência ao seu trabalho,
tendo também clareza a respeito da finalidade da entrevista, onde
se deseja chegar e quais os objetivos neste processo.
•• Execução: A segunda etapa diz respeito à execução da entrevista,
que se inicia pelo estabelecimento de um acordo de vontades entre
o usuário e o assistente social, no sentido de, juntos, trabalharem
em torno da demanda, do cerne da entrevista. Nessa etapa, o
foco para o profissional está em ouvir, coletar dados, aprofundar
as informações, tendo como referencial os objetivos traçados
inicialmente. Busca perceber as necessidades, demandas,
expectativas, manifestadas no decorrer do processo.

Isso diz respeito à habilidade de escuta, questionamento e


observação do que não é dito, mas que se configura no sujeito
para quem se dirige o trabalho do assistente social. A observação
permitirá muitas vezes a decodificação de uma mensagem, de
um gesto, do silêncio, da pausa. Os questionamentos devem
levar em consideração a relevância e a validade da questão; a
especificidade e a clareza. (LEWGOY e SILVEIRA, 2007, p. 237).

•• Registro: A terceira etapa diz respeito aos apontamentos feitos ao


longo da entrevista. Segundo as autoras, trata-se de um documento
intransferível, pois diz respeito ao direito do usuário de ter a
evolução de seu atendimento documentado, bem como o acesso
aos dados registrados.

68
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

O registro da entrevista tem também como objetivo colaborar


com o atendimento, à medida que as informações podem ser
partilhadas por outros profissionais, tendo como alvo um trabalho
integral e multidisciplinar (resguardadas as situações que envolvam
a necessidade de sigilo profissional). Para isso, a linguagem deve
ser clara, objetiva, gramaticalmente correta, não contendo adjetivos
que expressem juízo de valor. O registro das entrevistas faz parte
da documentação e sistematização da prática do Serviço Social,
conforme vimos anteriormente, portanto, deve ser feito de forma
cuidadosa, sendo observados os preceitos do Código de Ética da
profissão, no que tange a esse tema.

Quanto a sua tipologia, a entrevista pode ser estruturada,


semiestruturada ou aberta, e sua escolha será definida a partir da
necessidade do momento, verificando-se qual contribui melhor para o
alcance dos objetivos. (BELEI et al., 2008; CHIZZOTTI, 2005).

A entrevista estruturada é aquela que contem perguntas fechadas, tais como as


que são comuns nos formulários, sendo inflexíveis. A entrevista semiestruturada
acontece tendo um roteiro previamente elaborado, em que as questões são
abertas, permitindo certa flexibilidade no processo. Esse é o modelo mais utilizado,
pois, guiada por um roteiro de questões, permite uma organização flexível e a
ampliação dos questionamentos, à medida que isso se faça necessário. Já na
entrevista aberta é possível uma liberdade maior, estando baseada no discurso
livre do entrevistado, a partir das questões levantadas. Tanto o entrevistado quanto
o entrevistador tem ampla liberdade nas perguntas e respostas.

Observação participante
A observação participante diz respeito à aquisição do conhecimento de uma
determinada realidade por meio da observação e interação. Observar compreende
o uso de todos os sentidos (visão, audição, tato e olfato); porém, em se tratando
da observação como um dos instrumentos de trabalho do Serviço Social, essa
adquire um caráter diferenciado. Isso ocorre pois, na medida em que o profissional
observa, ele também interage, estabelecendo uma relação social com os outros
sujeitos, os quais detêm expectativas quanto às intervenções que poderão
acontecer ou quanto aos resultados do processo de observação. Dessa forma, o
profissional observa e é observado (SOUZA, 2008). Ainda segundo o autor,

na medida em que o Assistente Social realiza intervenções, ele


participa diretamente do processo de conhecimento acerca da
realidade que está sendo investigada.

69
Capítulo 3

Por isso, não se trata de uma observação fria, ou como querem


alguns, “neutra”, em que o profissional pensa estar em uma
posição de não-envolvimento com a situação. Por isso, trata-se
de uma observação participante, o profissional, além de observar,
interage com o outro, e participa ativamente do processo de
observação. (SOUZA, 2008, p. 126).

Chamamos sua atenção para o fato que a observação está presente


em todo o processo de trabalho do assistente social, seja na entrevista,
na condução de uma reunião, em uma visita domiciliar. O olhar atento,
intencional, baseado na visão de homem e mundo, construído a partir dos
referenciais teórico-metodológico e ético-político, constitui o diferencial da
atuação desse profissional e possibilitará o alcance dos objetivos propostos
e desejados por ele.

Visita domiciliar
A visita domiciliar como instrumento técnico-operativo sempre esteve presente no
cotidiano da práxis do Serviço Social. Trata-se do momento em que o profissional
adentra o privado, ou seja, o domicilio do usuário, tendo como objetivo a obtenção
de um conhecimento mais aproximado da realidade então relatada e vivenciada. A
visita domiciliar tanto pode caracterizar um momento de aproximação, para uma
interação maior e o estabelecimento de laços de confiança, quanto pode significar
uma intrusão, ou ferramenta de verificação e controle.

De acordo com Souza (2008, p. 128),

a visita domiciliar sempre foi um dos principais instrumentos de


controle das classes populares que as instituições utilizavam.
Uma vez que o usuário está sendo atendido na instituição, ele
está acionando um espaço público: quando a instituição se
propõe a ir até a casa do usuário, ela está adentrando no terreno
do privado. A residência é o espaço privado da família que lá vive.
Ter essa dimensão é fundamental para que o Assistente Social
rompa com uma postura autoritária, controladora e fiscalizadora.

Para que a visita domiciliar resulte em um momento de interação e que propicie


a mediação, são necessários alguns cuidados. De acordo com Amaro (2007), a
ética e o respeito são princípios que devem embasar a visita domiciliar. Para tal, o
compromisso ético-político do assistente social estará pautando a atuação nesse
tipo de intervenção, criando as condições necessárias a um trabalho diferenciado
e profissional.

70
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Conforme Amaro (2007), alguns cuidados devem estar presentes na realização da


visita domiciliar:

•• O que fazer na visita? O assistente social precisa entender seu


trabalho como um processo educativo e não moralizador, de forma
que as perguntas, questões e observações devem estar guiadas por
reflexões associadas ao objetivo da visita, e não por julgamentos ou
comentários proibitivos e punitivos.
•• Por que visitar? De acordo com a autora, a visita domiciliar deve
ter um objetivo definido, e partindo desse, deve ser realizada
de forma racional e planejada, tendo um roteiro que respeite o
tempo e o assunto programado, ao mesmo tempo que permita o
estabelecimento de uma relação respeitosa e atenda as expectativas
do usuário em suas dúvidas e questionamentos.
•• Quando visitar? O profissional deve lembrar-se que seu objetivo
é atender o usuário, portanto, a visita domiciliar deve interferir o
mínimo possível em sua vida e rotina diária. Dessa forma, estão
descartadas as visitas “surpresa”, sem um agendamento prévio,
pois, além de carregarem um caráter investigativo e controlador,
podem ser interpretadas como uma invasão. Visitas domiciliares
devem ser agendadas em dias e horários que sejam propícios tanto
ao profissional quanto ao usuário.
•• Com quem visitar? Em algumas situações, a intervenção ou assunto
a ser tratado necessitará da ação de mais profissionais, daí a
necessidade do assistente social se fazer acompanhar de outros
técnicos da equipe de trabalho, o que deve ser acordado antes com
o usuário. Mais que “companhia”, a presença de outro profissional
deve oferecer a oportunidade de mais um olhar, uma observação
que estará contribuindo para o trabalho a ser realizado.

Reunião
De acordo com Souza (2008), as reuniões são espaços coletivos, encontros grupais,
os quais têm como objetivo o estabelecimento de alguma espécie de reflexão ou
encaminhamento sobre determinado assunto, ou ainda a tomada de decisão.

As reuniões podem acontecer com a participação de diferentes sujeitos,


população usuária ou equipe profissional. O que a caracteriza é o fato de que o
assunto ou a tomada de decisão prescindem de um coletivo, não podendo ser
tratado por uma só pessoa. Para Souza (2008, p. 127), “essa postura já indica
que, ao coletivizar a decisão, o coordenador de uma reunião se coloca em uma
posição democrática.

71
Capítulo 3

Ao liderar uma reunião, o profissional precisa estar consciente de seu papel, o


que significa adotar uma postura que privilegie:

•• Ter firmeza quanto ao cumprimento dos objetivos da reunião;


•• Reconhecer que o espaço da reunião é um espaço político de tomada
de decisão, o que envolve a negociação, o jogo de forças e interesses;
•• Como moderador, conduzir as discussões de forma que todos
tenham tempo e espaço para uma discussão objetiva, uma
participação equilibrada, promovendo a aprendizagem e o
estabelecimento de relações horizontais em prol da elaboração
criativa de soluções para os problemas abordados, ou em torno da
tomada de decisões que se façam necessárias (COLETTE, 2001).

Para a realização da reunião muitas técnicas podem ser utilizadas, sendo que
a escolha deverá ser guiada levando em conta os participantes e os objetivos a
serem alcançados. Muito comum, a dinâmica de grupo é uma técnica na qual
são utilizados jogos, brincadeiras, simulações de determinadas situações, tendo
como alvo a reflexão acerca de uma determinada temática. O assistente social
como facilitador ou moderador atua como um agente que provoca situações que
levem o grupo à reflexão, o que requer dele tanto habilidades teóricas (a escolha
do tema e como ele será trabalhado), uma postura política democrática, assim
como a capacidade de controlar o processo da dinâmica de maneira que os
objetivos sejam alcançados (SOUZA, 2008).

Articulação
Quando nos referimos a articulação como um dos instrumentos de trabalho do
assistente social, estamos nos referindo a sua capacidade de trabalhar em rede.
De acordo com Bourguignon (2011, p. 4), o termo rede

sugere a ideia de articulação, conexão, vínculos, ações


complementares, relações horizontais entre parceiros,
interdependência de serviços para garantir a integralidade da
atenção aos segmentos sociais vulnerabilizados ou em situação
de risco social e pessoal.

Nesse sentido, a articulação compreende a ação do conjunto integrado de


profissionais de diversas áreas, que partilham informações, ideias, na gestão
e execução de serviços e programas que priorizam o atendimento integral ao
usuário ou populações em situação de risco e vulnerabilidade social, na visão da
garantia e vivência de direitos. O trabalho articulado nas redes permite a criação
de espaços onde as práticas de cooperação constituem um meio para encontrar
saídas e soluções para a intervenção na realidade social complexa.

72
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

As redes sociais, nesta perspectiva, são consideradas


alternativas no enfrentamento das expressões da questão social.
São igualmente vinculadas ao conhecimento da realidade local e
de cultura. Pressupõe, portanto, o fortalecimento da sociedade
civil organizada, preparada para uma ação participativa frente a
administração pública. (MIOTO e SCHÜTZ, 2011, p. 64).

Dentro dessa perspectiva, a ideia do trabalho em rede exige grande sintonia


com a realidade local, com uma sociedade civil fortalecida e organizada, com
uma cultura de organização social e de profissionais capazes de mobilizarem-se
e atuarem participativamente da e na administração pública. Do profissional do
Serviço Social se demanda a capacidade de trabalhar de forma interdisciplinar,
articulando-se com outros profissionais e outras áreas do conhecimento, tendo
consciência da complexidade das diversas manifestações da questão social.

A questão social, do campo de trabalho e da atuação do


assistente social tem seu desenho a partir de uma mescla
de situações historicamente construídas com nuances
sociais, econômicas, políticas e culturais. Assimilá-las é tarefa
interdisciplinar. A compreensão da complexidade da questão
social e de seus reflexos na vida humana e na sociedade exige
uma visão ampliada a partir do cruzamento de ideias, estudos e
pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas do conhecimento.
Consequentemente, a ação em torno da questão social também
deve acontecer por meio de um trabalho que precisa envolver a
ação coletiva de diferentes profissionais. Trata-se de uma nova
inteligibilidade no tratamento deste fenômeno que atinge a todos
e a sociedade. (MORAES e MACIEL, 2015, p. 76).

Mobilização
A mobilização como instrumento de ação do Serviço Social está intimamente ligada
ao trabalho coletivo, comunitário, conforme vimos anteriormente. De acordo com
Abreu e Cardoso (2009), os processos de mobilização e organização resgatam o
caráter socioeducativo da ação do Serviço Social. O que irá determinar o objetivo
dessa ação será o postura profissional embasada no compromisso ético-político de
atuar “tendo como horizonte a conquista da emancipação humana, passando pelas
lutas democráticas e pelo fortalecimento de processos emancipatórios das classes
subalternas e de toda a sociedade” (ABREU; CARDOSO, 2009, p. 9). Iamamoto
(2009, p. 6) corrobora com essa ideia quando afirma que

73
Capítulo 3

Os assistentes sociais realizam assim uma ação de cunho


socioeducativo na prestação de serviços sociais, viabilizando
o acesso aos direitos e aos meios de exercê-los, contribuindo
para que necessidades e interesses dos sujeitos sociais
adquiram visibilidade na cena pública e possam ser
reconhecidos, estimulando a organização dos diferentes
segmentos dos trabalhadores na defesa e ampliação dos
seus direitos, especialmente os direitos sociais. Afirma o
compromisso com os direitos e interesses dos usuários, na
defesa da qualidade dos serviços sociais.

O desempenho da função do assistente social nos processos de mobilização


social, na atual conjuntura, tem passado por transformações condicionadas pela
reestruturação produtiva e pelas reformas institucionais, as quais, sob orientação
neoliberal, têm determinado alterações no campo profissional, isso se caracteriza
por novas demandas e novos espaços sócio-ocupacionais. Dessa forma,
destacam-se como demandas, espaços e estratégias de e para a mobilização e
organização social:

•• Fóruns e conselhos de direitos e de políticas: para que o processo


de mobilização ocorra de forma coerente com o projeto ético-político
da categoria, a atuação do profissional deve acontecer por meio
de uma inserção crítica e de um compromisso político, buscando
a inscrição dos interesses imediatos dos usuários na agenda das
políticas públicas e sociais, mantendo os espaços de luta e de
conquista no interesse das necessidades e demandas da população.
•• Comunicação social: como estratégia de mobilização, a
comunicação social pode ser amplamente utilizada pelo assistente
social, por meio da linguagem escrita e audiovisual, divulgada
pela mídia, tendo como objetivo a construção de uma consciência
crítica capaz de desenvolver ações coletivas que façam frente
à ação dominadora. Desenvolve-se, também, na produção de
material e de pesquisa que traga novas visões acerca da questão
social, enriquecendo e dinamizando o debate no meio profissional,
bem como inovando práticas no sentido de propiciar o efetivo
atendimento dos usuários e da população.
•• Movimentos sociais: Com relação aos movimentos sociais,
destacamos que a Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993, que
regulamenta a profissão, estabelece, respectivamente, nos seus
artigos 4º e 5º, as competências e atribuições privativas do
assistente social. Nesse sentido, em seu Art. 4. V. preconiza “prestar
assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada
às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis,
políticos e sociais da coletividade”.

74
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Dessa forma, salientamos o importante papel do Serviço Social


neste contexto onde são gestadas e construídas reivindicações,
lutas sob as mais diversas bandeiras e temas, nas quais o
profissional tem a oportunidade de atuar movido pela perspectiva de
defesa e ampliação dos direitos da coletividade.

Abreu e Cardoso (2009) ainda destacam como espaços e formas de mobilização


social a participação do Serviço Social no âmbito da formação e capacitação de
mão de obra, na formação de grupos de produção, nos convênios entre entidades
públicas e privadas, com vistas à inserção do trabalhador no mercado de trabalho,
bem como a atuação em sindicatos e outros espaços de mediação política.

Em todos esses espaços, demandas e estratégias de atuação, lembramos que


é imprescindível conhecer os sujeitos, a população com a qual trabalhamos,
explicitar a complexidade e a totalidade das dificuldades que perpassam
suas expectativas e necessidades para garantir um processo que resulte em
autonomia e efetiva participação.

Estudo social
Sendo utilizado principalmente para contribuir com decisões judiciais, o estudo
social constitui um instrumento do Serviço Social que visa a analisar determinadas
conjunturas da realidade social a ser trabalhada, com o objetivo de apresentar
respostas às demandas postas. De acordo com CFESS (2004), o estudo social
consta de um procedimento metodológico específico do Serviço Social, que tem
como finalidade conhecer com profundidade e de forma crítica uma determinada
situação ou manifestação da questão social, objeto de intervenção profissional,
tendo como foco os aspectos socioeconômicos e culturais.

Apesar de ser utilizado nas mais diversas áreas de intervenção profissional, o


estudo social na contemporaneidade se apresenta como suporte fundamental
para a aplicação de medidas junto à Justiça da Infância e da Juventude, à justiça
da família, à justiça criminal e às ações judiciárias relacionadas à seguridade e
previdência social. A solicitação do estudo social pode ser feita ao assistente
social tanto na condição de funcionário do sistema judiciário quanto na situação
de perito ou assistente técnico.

De acordo com CFESS (2004), para a realização do trabalho o assistente social


estuda a situação, realiza uma avaliação e emite um parecer, por meio do qual
pode apontar medidas sociais e legais a serem tomadas. O profissional dialoga,
observa, registra, emite pareceres, podendo reconstituir acontecimentos que
geraram situações, objeto de seu estudo e análise.

75
Capítulo 3

Como fonte para coleta de dados, dispõe de observações, entrevistas, pesquisas


documentais e bibliográficas a partir dos quais vai elaborando o estudo social,
do qual poderão derivar laudos, pareceres, relatórios e outros documentos.
Lembramos que “de sua fundamentação rigorosa, teórica, ética e técnica, com
base no projeto da profissão, depende a sua devida utilização para a garantia e
ampliação de direitos dos sujeitos usuários dos serviços sociais e do sistema de
justiça” (CFESS, 2004, p. 43).

2.2 Documentos

Diário de campo: sistematizando o estudo e a prática profissional


De acordo com Lima et al (2007) e Souza (2008), o diário de campo consiste
no documento onde são registradas as observações, comentários e reflexões
referentes ao cotidiano tanto do aluno em processo de formação em seu estágio
quanto do profissional em sua atuação, podendo conter dados referentes a
processos de pesquisa e dados do trabalho propriamente dito.

Já Lewgoy e Arruda (2003, p. 6) afirmam que “o diário constitui um instrumento


capaz de possibilitar o exercício acadêmico na busca da identidade profissional.”
O diário de campo se apresenta, portanto, como uma ligação entre teoria e
prática, academia, campo de estágio e supervisão. Dessa forma, é recomendável
que seja usado diariamente, garantindo a maior sistematização e detalhamento
possível de todas as situações ocorridas no dia, além das entrelinhas nas falas
dos sujeitos durante a intervenção (LIMA et al., 2007).

Para Souza (2008), o diário de campo consiste num documento que auxilia
bastante tanto o aluno quanto o profissional no trabalho cotidiano, pois permite
a sistematização das atividades e a posterior reflexão tão necessária ao
processo ação/reflexão.

O diário de campo é importante porque o Assistente Social, na


medida em que vai refletindo sobre o processo, pode perceber
onde houve avanços, recuos, melhorias na qualidade dos serviços,
aperfeiçoamento nas intervenções realizadas – além de ser um
instrumento bastante interessante para a realização de futuras
pesquisas. Ele é de extrema utilidade nos processos de análise
institucional, o que é fundamental para localizar qualquer proposta
de inserção interventiva do Serviço Social. (SOUZA, 2008, p. 130).

O diário de campo deve conter inicialmente a descrição do que está sendo vivido,
observado, falado. Essa descrição deve ser feita em linguagem clara e objetiva,
porém, não prescindindo de detalhes que posteriormente poderão ser úteis à
análise e reflexão.

76
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

Numa segunda etapa, o diário de campo deve prever um espaço para a


interpretação do que foi observado, o que ocorre à luz dos referenciais teórico-
metodológicos e da racionalidade/intencionalidade que embasam a prática. Por
fim, há que se prover um espaço para as conclusões preliminares, bem como o
registro de dúvidas, situações imprevistas e desafios.

Dessa forma, o diário de campo adquire um cunho descritivo-analítico, além


de um caráter investigativo e de síntese, consistindo em um referencial para
construção, desconstrução e reconstrução do conhecimento profissional e do agir
por meio de registros quantitativos e qualitativos. Com esse conteúdo, estudante
e ou profissional estarão munidos de material que permitirá a análise crítica e
reflexiva e a sistematização da práxis.

Além da relevância que o diário de campo encerra para o estudante ou


profissional de forma particular, ele constitui, ainda, um instrumento muito útil
para a padronização, que ultrapassará o nível do profissional e dos serviços e irá
subsidiar a avaliação e o planejamento de políticas, programas em níveis mais
abrangentes, o que Lewgoy e Arruda (2003) chamam de “inteligência coletiva”
como espaço de troca de saberes e de geração de novos conhecimentos.

Relatório social: a descrição da intervenção do assistente social


De acordo com o CFESS (2004), o relatório social como documento específico
elaborado por assistente social consta da apresentação descritiva e interpretativa
de uma determinada situação ou manifestação da questão social enquanto objeto
de sua intervenção profissional. Portanto, é um documento que tem em seu
conteúdo descrições e interpretações das intervenções e ações desenvolvidas
pelo assistente social no seu cotidiano de trabalho.

Para Souza (2008), o relatório social é uma exposição do trabalho e das


informações adquiridas ao longo da execução de uma determinada intervenção
pelo assistente social, sendo instrumento privilegiado para a sistematização de
sua prática. Como qualquer outro documento no âmbito da atuação profissional, a
elaboração do relatório social deve ser conduzida pelos princípios éticos, os quais
deverão guiar a escolha do que deve ser registrado, considerando que alguns
documentos são de uso exclusivo do Serviço Social e outros poderão ser expostos
à análise de outros profissionais, ou mesmo poderão vir a público (CFESS, 2004).

Ainda no que diz respeito à elaboração do relatório social, deve ser levado em
conta a quem ele se destina: se para profissionais da área, para outras categorias
profissionais; se para uso interno ou externo. Essas definições irão determinar
qual a linguagem mais adequada ou qual formato irá atender seu objetivo,
considerando que trata-se um relatório social, o que diz respeito à inserção do
Serviço Social na divisão do trabalho por meio de um profissional que atua nas
diferentes manifestações da questão social.

77
Capítulo 3

Sendo assim, os dados e fatos relatados estão carregados de significados e são


de natureza social (SOUZA, 2008).

Perícia social: a contribuição do assistente social na tomada de decisão


É recorrente no meio acadêmico entre alguns autores, que se considere o estudo
social e a perícia social como tratando-se da mesma matéria, no entanto, com base
no CFESS (2004), vamos identificar a Perícia Social como a avaliação, exame ou
vistoria solicitada ou determinada no âmbito do judiciário, e que pode ser realizada
por um conjunto de profissionais de diversas áreas do conhecimento científico, os
quais são designados para auxiliar a justiça na elucidação da questão demanda.
Em se tratando da atuação específica do assistente social, é identificada como
Perícia Social, sendo realizada por meio do estudo social e, indo além desse, pois
implica na elaboração de uma laudo e na emissão de um parecer.

Para sua elaboração, o profissional se utiliza de técnicas e instrumentos


pertinentes ao exercício da profissão, o que envolve a realização de entrevistas,
contatos, visitas, além de pesquisa documental e bibliográfica, que venham
e ser necessárias para o estudo, análise e interpretação da situação, e para
a elaboração do parecer. Novamente o estudo requer todo o conhecimento
acerca dos aspectos concernentes às diversas manifestações da questão social,
além do domínio das competências profissionais: competência ético-política,
competência teórico-metodológica e competência técnica-operativa, conforme
vimos anteriormente, e que irão habilitar o profissional do Serviço Social a realizar
a perícia social.

A realização da perícia social, possibilita ao assistente social a


emissão de um estudo e um parecer social referentes a demanda
apresentada, o que resultará no laudo social. O laudo, de fato,
é o resultado documental da perícia social, como veremos na
sequência de nosso estudo.

Parecer social: a opinião fundamentada e profissional do assistente social


O parecer social, de acordo com CFESS (2004), diz respeito a esclarecimentos e
análises, tendo como base o conhecimento específico do Serviço Social acerca
de uma determinada questão ou de questões para as quais alguma decisão
precisa ser tomada. Trata-se de uma avaliação técnica e teórica elaborada pelo
assistente social, tendo como base dados então coletados.

78
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social

O parecer social, segundo Souza (2008), dá ao assistente social uma identidade


profissional. Sem o parecer, o relatório elaborado torna-se uma simples
descrição de fatos, visto que é por meio do parecer que o profissional se
identifica, posicionando-se diante das situações verificadas na realidade social,
posicionamento que se dá a partir do Código de Ética profissional, os pilares
básicos para sua avaliação.

Trata-se de exposição e manifestação sucinta, enfocando-


se objetivamente a questão ou situação social analisada, e
os objetivos do trabalho solicitado e apresentado; a análise
da situação, referenciada em fundamentos teóricos, éticos e
técnicos, inerentes ao Serviço Social – portanto com base em
estudo rigoroso e fundamentado – e uma finalização, de caráter
conclusivo ou indicativo. (CFESS, 2004, p. 47).

Por fim, Souza (2008) sugere que, além de uma avaliação referente ao passado,
o parecer social também deve realizar uma análise prospectiva, demonstrando
os possíveis desdobramentos que uma determinada situação poderá apresentar
e levantando hipóteses sobre possíveis consequências da situação. Salienta
o autor que deve ainda constar do parecer novas ações que poderão ser
desenvolvidas pelo próprio assistente social ou outros profissionais que estejam
envolvidos com a situação.

Laudo social: o resultado da perícia social


O laudo social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de prova, que
vem subsidiar a decisão judicial a partir do conhecimento específico do Serviço
Social acerca da situação em julgamento. Sendo o documento resultante da perícia
social, ele apresenta o registro das informações mais significativas do estudo e da
análise realizada e o parecer social (CFESS, 2004). Chamamos sua atenção para
o fato que a terminologia laudo é universalmente utilizada por todas as categorias
profissionais que atuam na área de perícia, no entanto, o termo laudo social é
prerrogativa do assistente social, que para tal foi contratado como perito social.

O laudo social possui a seguinte estrutura:

1. Introdução: texto onde consta a demanda judicial e o objetivo;


2. Identificação: relação dos sujeitos envolvidos;
3. Metodologia: descrição da metodologia utilizada para sua
elaboração, esclarecendo a especificidade da profissão e os
objetivos do estudo;
4. Relato analítico: esclarecimento da construção histórica da questão
estudada e do estado social atual dela;

79
Capítulo 3

5. Conclusão ou parecer social: trata-se de uma síntese da situação,


com uma breve análise crítica e o apontamento de conclusões ou
indicações de alternativas do ponto de vista do Serviço Social, no
qual estará expresso o posicionamento profissional referente à
questão em estudo.

Ainda no que se refere a sua elaboração, recomenda o CFESS (2004) que o


laudo social não precisa apresentar todo o detalhamento do estudo realizado (o
qual deve ficar registrado por meio dos documentos adequados, permanecendo
arquivados no espaço de trabalho do profissional e disponíveis para consulta
quando for necessário), excetuando-se as situações em que for julgado
necessário uma apresentação mais detalhada, que resulte em maior clareza e
entendimento, atendendo as diretrizes e princípios éticos da profissão.

Finalizando, lembramos a você mais uma vez a importância da documentação


tanto neste momento de sua formação quanto no futuro em sua atuação
profissional, pois é no processo que envolve a prática e a reflexão que iremos
construindo o arcabouço teórico e metodológico que nos referencia e nos
diferencia em nosso fazer profissional.

O princípio do qual se parte considera que a marca da


contemporaneidade está no papel desempenhado pelo
conhecimento e, particularmente, naquele referente ao
direcionamento e à sobrevivência das profissões, uma vez
que estas repousam, entre outros fatores, no “corpus teórico”
que funda a habilidade e a autoridade profissional. Assim, é
fundamental a documentação do exercício profissional de uma
profissão que se define por seu caráter interventivo.
(LIMA et al., 2007, p. 95).

Pesquise, reflita, questione, escreva, anote, publique, seja curioso, inquiridor,


construa e reelabore sua vida, sua formação e sua prática acadêmica e profissional.

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83
Capítulo 3

84
Considerações Finais

Ao finalizarmos nosso estudo e reflexão acerca do instrumental técnico-operativo


do Serviço Social, é nosso desejo que você tenha apreendido o quanto o tema
é relevante e fundamental para a prática profissional do assistente social, e
o quanto ainda temos de avançar em estudos e pesquisas para contribuir no
aprimoramento dos instrumentos, técnicas e documentos, de forma que resultem
eficientes e eficazes para o enfrentamento diário das diversas manifestações da
questão social.

Esse enfrentamento é nosso objeto de trabalho e desafio profissional, por isso


estudar, pesquisar, refletir sobre o tema e nossa intervenção como profissionais é
mais que necessário: é uma obrigação se quisermos atuar de forma diferenciada
e condizente com o projeto ético-político e com as demandas que nos desafiam
cotidianamente. É a partir dessa perspectiva que entendemos o estudo em
torno do instrumental técnico-operativo como um movimento constante de
ação, reflexão, um processo dialético que resulta na revisão, desconstrução e
construção do que está posto.

A elaboração deste material foi acompanhada da certeza de que as discussões


e reflexões não esgotaram o tema; ao contrário, temos muito ainda para
estudar, debater e construir, no sentido de aperfeiçoarmos nossas elaborações
teórico-metodológicas, conquistando uma ação profissional eficaz e efetiva na
construção de uma sociedade justa, cidadã e democrática. Esperamos que esses
sejam seus desafios e metas tanto em seu processo de formação quanto em sua
futura atuação como assistente social. Que os resultados alcançados em seus
estudos possam impulsioná-lo a novos desafios e novos aprendizados.

Professoras Ivana e Walery.

85
Sobre as professoras conteudistas

Ivana Marcomim
Graduada em Serviço Social pela Universidade do Sul de Santa Catarina
(UNISUL). Especialista em Desenvolvimento Sustentável e Questões de Gênero
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Engenharia de
Produção, área de concentração Ergonomia, pela Universidade Federal de Santa
Catarina. Docente do Curso de Serviço Social da UNISUL, campus Araranguá,
Tubarão e Florianópolis. Atualmente, é docente da UNISUL, do CapacitaSUAS
(MDS/Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social e Emprego/Unisul-2013),
com orientações de estágio, monografias; docente em metodologias de diagnóstico
e pesquisa social; atua com gestão de pessoas, planejamento e gestão de
planos, programas e projetos; avaliação de políticas e projetos sociais; direitos
humanos e cidadania, antropologia, ciência e metodologia científica e da pesquisa,
monitoramento, empreendedorismo, gestão de políticas sociais (SUAS, ECA, PNI,
PNPDE); desenvolvimento comunitário; economia solidária; gestão de organizações
sociais; responsabilidade socioambiental; ecologia social. Coordenadora da
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP – UNISUL). Assistente de
Projetos da Gerência de Ensino, Pesquisa e Extensão (GEPEX). Pesquisadora do
programa Ambientalização na Educação Superior na Fapesc.

Walery Luci da Silva Maciel


Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC, (1985), e Mestrado em Gestão Estratégica de Organizações
pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, Escola Superior
de Administração e Gerência – ESAG (2005). Atuou como assistente social e
secretária executiva em organizações do terceiro setor, durante 25 anos, onde
acumulou experiências na supervisão de projetos na área da assistência social,
educação e saúde, criação, implantação e coordenação de projetos e serviços
na área de recursos humanos, financeiro e de mobilização de recursos, bem
como na elaboração, execução e acompanhamento de planejamento estratégico
organizacional. Autora dos livros Gestão Social: Planejamento e Avaliação, 2014
e Projetos Sociais, 2015, também é coautora do Livro Política de Habitação e
Educação, 2015; todos publicados pela UnisulVirtual.

87
Instrumental técnico-operativo do Serviço
Universidade do Sul de Santa Catarina
Social
Este livro tem como tema o instrumental
técnico-operativo do Serviço Social, assunto tratado
em três capítulos nos quais você estará estudando
acerca da contemporaneidade da profissão e sua

Instrumental
relação com as novas manifestações da questão
social, as estratégias e a instrumentalidade para seu
enfretamento, e por fim o instrumental e os
documentos próprios e pertinentes à práxis

técnico-operativo
cotidiana do Serviço Social. Os textos aqui reunidos
têm como objetivo criar um ambiente de reflexão,
debate e entendimento do assunto abordado,

do Serviço Social
contribuindo para sua formação
acadêmica e profissional.

w w w. u n i s u l . b r

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