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País é lider na América Latina em direitos das mulheres, trans e na descriminalização de drogas
Ariel Palacios
20/10/2018 - 12:30
1 – PIONEIRO EM DIVÓRCIO
Em 1907 o Uruguai aprovou a lei de divórcio (sete décadas antes da maior parte da região). E em
1913 avançou novamente, autorizando as mulheres a divorciarem-se de acordo com a sua
própria vontade (deixando de ser um divórcio que exigia o consenso com o marido).
Em 1915, quando era comum que pessoas em todo o planeta trabalhassem a maior parte do dia,
o Uruguai implementou a jornada de 8 horas de trabalho.
No dia 3 de julho de 1927, no vilarejo de Cerro Chato as mulheres votaram formalmente pela
primeira vez na História da América Latina. Nessa ocasião foi um plebiscito local, para definir
uma mudança nas fronteiras municipais. A Corte Eleitoral determinou que as pessoas ali
residentes, sem distinção de nacionalidade ou sexo, podiam votar. Desta forma, a primeira
mulher a votar foi Rita Ribeiro, uma afrodescendente de 90 anos de idade. Além disso, ela foi
também a primeira mulher em toda América Latina em votar. Em 1932 o Parlamento aprovou a
lei de voto para as mulheres em todo o território do Uruguai.
O Uruguai foi primeiro país do continente a legalizar o aborto, em 1934. Mas a lei durou até
1937, quando foi revogada pelo ditador Gabriel Terra. Décadas depois o assunto voltou ao
Parlamento e, em 2012, com respaldo da opinião pública, foi aprovada novamente a
despenalização, que entrou em vigência em 2013. De lá para cá a mortalidade materna caiu e é a
segunda menor do continente, depois do Canadá. Antes da lei, o Uruguai era o local de 33 mil
abortos clandestinos por ano. Após a implementação da lei, os abortos (quase todos realizados
de forma legalizada) despencaram para uma média de 9.500 por ano.
Em 2007, o Uruguai se tornou o primeiro Estado latino-americano a contar com uma lei de união
civil entre pessoas do mesmo sexo em todo seu território. E, em 2013, foi um passo além
aprovando o casamento entre pessoas do mesmo sexo (neste quesito, três anos depois da
Argentina).
Em 2009 o Parlamento aprovou a lei de eutanásia. Com ela, os doentes terminais podem
expressar sua vontade de interromper tratamentos médicos para não prolongar a vida. A lei
ficou popularmente conhecida como "lei da vontade antecipada" ou "lei do bom morrer". No
entanto, vários setores criticam o fato de que um paciente em estado vegetativo não é
contemplado pela lei (já que não pode expressar sua vontade).
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Atenção: aqueles que acham que Montevidéu virou uma Amsterdã sobre o rio da Prata devem
colocar as barbas de molho. Não há turismo canábico, pois apenas os uruguaios residentes (e
estrangeiros residentes) podem comprar a cannabis. Estrangeiros e uruguaios residentes no
exterior, necas.
Há poucos dias o governo concedeu licenças para 17 empresas que desejam investir US$ 80
milhões no país para produzir cannabis medicinal.
E, falando em "ervas" e business canábico, o Uruguai tem pole-position no consumo mundial per
capita da “ilex paraguariensis”, mais conhecida como a “erva-mate”, insumo sine qua non do
chimarrão. Mas, desde julho, os uruguaios podem ver nas gôndolas dos comércios a erva-mate
com cannabis.
Uma das marcas é a "Abuelita" ("Avózinha", em espanhol), que na embalagem exibe a foto de
uma senhora de terceira idade com amplo sorriso, rodeada das folhas em formato estrelado da
planta da cannabis. Além disso o governo autorizará em breve spaghetti com cannabis. Mas será
um macarrão sem princípios psicoativos. Isto é, se no almoço dominical a vovó preparar um
prato de macarronada de maconha, ninguém vai delirar na mesa.
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A lei (que dias antes havia sido aprovada no Senado) determina que toda pessoa maior de 18
anos de idade poderá ter acesso a cirurgias totais ou parciais e/ou tratamentos integrais
hormonais para adequar seu corpo, incluída sua genitália, a sua identidade de gênero auto-
percebida. Não é mais necessária a autorização judiciária ou administrativa.
Para reverter esta situação, a lei determina que o Estado reserve 1% das vagas na administração
pública a pessoas transgênero, e as empresas privadas que contratem pessoas trans terão
benefícios fiscais. Além disso, serão feitos cursos para inclusão no mercado de trabalho. A lei não
permite operações de troca de sexo de jovens com menos de dezoito anos mas permite que
pessoas entre 16 e 18 anos solicitem um tratamento hormonal sem consentimento dos pais, em
sintonia com legislações europeias.
9 – O MENOS CORRUPTO
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Para se ter uma ideia de como a corrupção irrita os uruguaios, no ano passado uma série de
ações do então vice-presidente, Raúl Sendic, provocaram indignação na opinião pública, já que
ele havia usado o cartão de crédito do governo para algumas compras pessoais. Além disso, ele
havia falsificado seu currículo, inventando que havia se formado em Genética Humana, pago US$
5 mil a uma rádio de Paysandú que não estava funcionando e gasto de US$ 350 mil na festa de
inauguração de uma fábrica.
Perto de outros escândalos da região, pareceria algo pequeno. Mas no Uruguai isso levou seu
próprio partido a considerar que ele havia violado os princípios éticos. Sendic teve que
renunciar.
O Uruguai também tem a pole position do índice de liberdade de imprensa na América segundo
a organização “Jornalistas sem fronteiras”.
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O Centro Regional para a Promoção do Livro na América Latins e Caribe (Cerlac), patrocindo pela
Unesco, indicou em 2017 que o Uruguai é o país da América Latina que mais publica novos livros
per capita. O país publicas 6,5 títulos por cada 100 mil habitantes. Atrás do Uruguai ficam a
Argentina (6,3), o Chile (4,4) e o Brasil (4,2).
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O Uruguai é considerado o país mais laico das Américas. O juramento de posse do presidente
uruguaio exclui qualquer referência a Deus já que os lideres do Poder Executivo juram por sua
honra pessoal e a Constituição (dois elementos que nesse país, de fortes sentimentos liberais,
consideram mais fundamentais do que qualquer credo religioso).
Não há crucifixos no Parlamento, sequer nas repartições, hospitais públicos e escolas públicas
desde 1906. Há 98 anos o dia 25 de dezembro é feriado, mas não de caráter religioso (é
chamado "O Dia da Familia") e a Semana Santa é "Semana do Turismo").
Os católicos “formais” (batizados, embora a maioria não seja praticante) restringem-se a 47,1%
da população. Outros 40,4% não possuem religião alguma. Ao redor de 11% dos uruguaios são
protestantes. A umbanda conta com adeptos entre 3% da população.