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Júlia Dias
(Bicho, 2006:362)
Os fitólitos (plantas de pedra) começaram a ser reconhecidos desde muito cedo,
em 1908 (Renfrew e Bahn, 1991:211) e se trata de “pequenos corpos siliciosos que se
formam dentro das células de determinadas plantas e que se caracterizam por morfologias
variadas que [...] permitem sua identificação” (Bicho, 2006:363). Quando ocorre a morte
da planta, somente os seus restos minerais sobrevivem, ou seja, o fitólito, que é resistente
a oxidação, mas destruído em ambientes ácidos. É raro a identificação da espécie dessas
plantas, principalmente porque a formação de fitóilitos se dá somente em certas famílias,
como as Poáceas, as Aráceas, Ciperáceas, Pináceas ou as Musáceas, assim como todo
tipo de gramíneas.
A amostra de sedimento passa por um processo de tratamento e extração, que
envolvem a remoção (através de tratamento térmico denominado oxidação seca ou
tratamento químico, como a oxidação por via úmida) de materiais orgânicos. Apesar de
vantajosos, principalmente por frequentemente aparecerem bem preservados em solos e
paleosolos (o que fornece uma melhor perspectiva local) (Delhon et al., 2003:58), por
algumas formas serem semelhantes à outras famílias, os fitólitos podem fornecer algumas
desvantagens com relação a identificação do tipo de plantas que se encontra presente no
depósito.
Pensando nos métodos de reconstrução paleobotânica (micro ou macrobotânicos)
para a reconstrução paleoecológica, o método da palinologia é um dos métodos que
permitem a reconstrução do tipo de oscilações diacrônicas de uma paisagem vegetal. É
assentado, principalmente, “no facto de os grãos de pólen apresentarem uma proteccção
exterior muito dura e rígida [...] permitindo-lhe a preservação em determinados
sedimentos” (Bicho, 2006:366). Ela aparece no início do século XX, com os trabalhos
das turfeiras de Escandináveia por Axel Blutt, Johan Rutger Sernander e Lannard von
Post. A análise polínica é baseada num conjunto básico, onde se deve destacar: I) todas
as plantas produzem pólen, portanto, é possível estabelecer uma relação entre a produção
e a paisagem vegetal; II) cada espécie produz quantidade diferente de polén (assim como
a sua morfologia) e III); é importante considerar a abundância absoluta de cada espécie.
(Rapp e Hill, 1998:91 in Bicho, 2006:366). É importante, sobretudo, considerar a forma
de dispersão desses grãos de pólen, que podem ser tanto feitas pelo vento, como a água,
animais, gravidade ou o próprio homem (Mateus, 1996:101; Mateus et al., 2003). Assim
como é também importante para o estudo polínico, conhecer o tamanho e a morfologia
do pólen para se entender a deslocação e o local da sua deposição. No caso dos sítios
arqueológicos, é importante a sua localização, assim como a sua orientação em relação
ao vento ou às águas, enquanto no caso das grutas e abrigos, além da localização, é
também importante conhecer a morfologia e a orientação da entrada (sabendo-se que esta
pode impedir a deposição de certos polens e consequentemente parando de modo efetivo
a diversidade e frequência de certas espécies no exterior da cavidade).
“A reconstrução paleoecológica faz-se com o recurso a analogias de situações
actuais, isto é, conhecendo-se conjuntos polínicos actuais de uma determinada região que
espelhem um ecossistema vegetal determinado presume-se que uma paleoamostra com
frequências polínicas semelhantes reflicta uma paisagem idêntica.” (Bicho, 2006:368).
(Bicho, 2006:368)
11.2. Os restos macrobotânicos
Sementes, caroços ou grandes fragmentos de madeiras, os restos macrobotânicos
são diversos. No caso de Portugal, esses casos são raros na Pré-História portuguesa.
Assim como no caso dos vestígios microbotânicos, os restos macrobotânicos também
sofrem com os problemas de nível tafonomico e da formação do registro arqueológico
que devem ser ponderados. Portanto, problemas como dispersão e deposição não são
encontrados nestes estudos. Alguns desses componentes podem ser encontrados, como
no caso dos grãos de cereal, na composição de cerâmicas pré-históricas ou no interior dos
recipientes. A dendrocronologia constitui também um valioso elemento para a
reconstrução paleoecológica. Em Portugal, por se tratar de uma metodologia não usada
no local, o registro mais importante para a reconstrução da cobertura vegetal é conhecido
como antracologia, desenvolvida recentemente na França na década de 70 com os
trabalhos de Vernet (1973; in Figueiral 1994:428 in Bicho, 2006:372), que se assenta na
análise de carvões dispersos associados a um nível arqueológico determinado. O
conhecimento do contexto de onde foram retiradas as amostras é imprescindível para a
reconstrução paleoecológica. Essas amostras exigem, portanto, uma outra coleção
comparativa para a sua análise minuciosa. Nos sítios arqueológicos a presença de
estruturas de combustão é comum, o que revela os carvões concentrados que podem ter
origem tanto de um tronco quanto de um lenhas recolhidas de uma só arvore, refletindo
somente uma parcela da ecologia vegetal local. Através da análise dessas escolhas, é
possível, sobretudo, identificar questões comportamentais do grupo humano local, que
pode indicar preferências.