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O que se pode dizer do que foi dito Em geral, o desempenho do funcionário surdo em
relação ao ouvinte (Gráfico 3), foi considerado total-
Como fica claro, no Gráfico 1, as organizações en- mente satisfatório, e satisfatório em 66% do universo.
tendem ser de sua Responsabilidade Social, a entra- Apenas 1 (um) coordenador considerou como bom o
da do deficiente no mercado de trabalho, contrariando desempenho do funcionário; 26% dos coordenadores
nossa suposição de que as empresas contratam fun- não opinaram, e não houve considerações para os
cionários surdos por obrigações legais. Outros fato- requisitos pouco satisfatório e insatisfatório.
res, como processo de seleção e recrutamento espe-
cífico de cada empresa são igualmente importantes
para a contratação. Não houve nenhuma empresa que
justificasse a não contratação, alegando redução de
custos no que se refere aos gastos com salários.
ordenador em relação ao surdo é, em 42%, um desa- O que podemos dizer do que nos foi possí-
fio diário a conquistar, sendo que 25% apresentam fa- vel conhecer
cilidade para a comunicação e 8% possuem dificulda-
de. Os resultados obtidos levam a crer que existe
Machado, (1994, p. 15) destaca que: uma pré disposição das empresas para a inser-
ção de pessoas portadoras de deficiência auditi-
Com a flexibilização funcional um novo perfil de qua- va em suas organizações, conforme ficou eviden-
lificação de força de trabalho parece emergir e, em ciado nos resultados dos gráficos e também pe-
linhas gerais, pode-se dizer que estão sendo postas
las entrevistas com os coordenadores que apre-
exigências como: posse de escolaridade básica,de
capacidade de adaptação a novas situações, de com- sentam um nível de satisfação positivo nas orga-
preensão global de um conjunto de tarefas e das nizações.
funções conexas, o que demanda capacidade de Porém, quando se avalia as áreas em que es-
abstração e de seleção, trato e interpretação de in- tes deficientes se encontram dentro da empresa,
formações. [...] são requeridas também a atenção e os colaboradores surdos geralmente ocupam car-
a responsabilidade. Haveria também um certo estí-
gos: como zelador, empacotador ou repositor em
mulo á atitude de abertura para as novas aprendiza-
gens e criatividade para o enfrentamento de impre- supermercados, serviços gerais, e no máximo da
vistos. As formas de trabalho em equipe exigiriam sua função como digitador, que pode ser conside-
ainda a capacidade de comunicação grupal. rado como exceção pela instituição acolhedora.
Estas áreas não proporcionam conhecimento ou
Dito pelos coordenadores sobre o que precisa aperfeiçoamento profissional, restringindo a comu-
ser mudado no processo de inclusão: nicação entre a equipe; além de não propiciar qual-
“É preciso uma total responsabilidade da asso- quer desenvolvimento, restringe aos menores sa-
ciação de surdos para com a empresa, pois ela é lários.
a boca, a voz e o ouvido do deficiente.” (M. P.). Apesar dos esforços do Programa de Orienta-
“Incentivo do governo com estudo, com treina- ção Profissional do CEPRAF e auxilio da Associa-
mento em outras atividades, para que sejam inse- ção de Surdos, a integração entre a cultura ouvin-
ridos em maior número na sociedade.” (A.C.W. te e surda, ou, entre coordenador e coordenado
M.). dentro das organizações, ainda não se desenvol-
Sobre a posição da empresa em relação a veu de maneira eficaz para suprir a necessidade
contratação de surdos, temos que: de inserção ao mercado de trabalho. Acreditamos
“Oferecer oportunidade de trabalho a todos que que este programa seja eficiente em colocar o
possam executar o trabalho... considerar a vonta- surdo na empresa, mas devido à organização ser
de das pessoas em trabalhar.” (M. M. S.). pedagógica falte profissional de áreas administra-
“O CEPRAF através de sua equipe responsá- tivas ensinando métodos para o desenvolvimento
vel pelo Programa de Orientação Profissional profissional do surdo dentro da organização. Se-
acompanha e intermedia a inserção do surdo no gundo Caruso (1994, p. 133).
mercado de trabalho dando as primeiras orienta-
ções necessárias, a partir daí só se envolverá [...] para pensarmos a passagem de qualificação
quando for necessário. O objetivo é que o surdo como uma relação social, para a formação profissi-
não fique na dependência de alguém, em todo o onal (que se situa na esfera do como estruturar e
do como transmitir o conteúdo formativo), podemos
momento e sim de que ele se torne independen- nos valer do conceito de transferibilidade. De acor-
te.” (I. A.). do com este conceito, a estruturação do conteúdo
“falta intérprete na faculdade ou outros cursos formativo deve perceber a possibilidade do traba-
de especialização.” (T. K.) lhador percorrer vias profissionalizantes que condu-
Acreditamos, que a forma ideal para que se es- zam ao seu crescimento profissional, e a formação
tabeleça uma boa comunicação entre surdos e ou- profissional possuirá um maior grau de validação
social quanto maior for a probabilidade de o traba-
vintes se dá através da Libras, que utiliza o canal lhador percorrer este tipo de trajetória. Adaptando
gestual-visual. Não há necessidade de gritar nem este conceito ao quadro de transformações do regi-
exagerar na articulação. Porém, muitos coorde- me de acumulação podemos também entender
nadores ainda não possuem curso de Libras, e transferibilidade como a capacidade do trabalhador
33% da amostra nunca realizaram algum tipo de em adaptar o conteúdo formativo apreendido a con-
treinamento para trabalhar com deficientes. textos diversos, caracterizados atualmente pela ins-
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sos níveis de ensino, intérpretes contratados pela que, de fato, se está fazendo. As empresas que pos-
SEED-PR atuando em suas áreas de conhecimen- suem portadores de deficiência auditiva demonstram
to. possuir boa vontade, mas o mercado de trabalho exis-
Conclui-se que ainda são muitos os desafios a tente é bastante limitado. Observa-se ainda, que muito
serem enfrentados pelo profissional da comunida- pouco se tem feito em prol dos deficientes auditivos
de surda, em sua busca por uma oportunidade de no que se refere à educação e à especialização, em
emprego, nas empresas e que ainda existe uma seus diversos níveis, envolvendo o Estado, o MEC e
lacuna muito grande entre o que se deseja e o as próprias Instituições de Ensino.
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