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OCUPAÇÃO VERDE: UMA PRÁTICA AGROFLORESTAL NO AMBIENTE

UNIVERSITÁRIO.
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Gabriel Pereira da S. Teixeira , Henrique Seixas Barros , Maira Sagnori de Mattos Marcia
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Vargas Cortines Peixoto
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g.teixeira@biologia.ufrj.br, henrique_bio@ufrj.br, maiira021@yahoo.com.br,
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marciavpeixoto@hotmail.com

RESUMO
A Ocupação Verde é um sistema agroflorestal experimental, onde os alunos do curso de Biologia da
UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) têm a oportunidade de integrar o conhecimento
acadêmico, aprendido nas aulas, com a prática do trabalho de campo, originando ações que geram
reflexões, que embasam novas ações. A experimentação agroflorestal e a propagação dos ideais
agroecológicos são os principais objetivos do grupo.

Palavras chave: Ocupação verde, recuperação de áreas degradadas, agroecologia, SAF


experimental.

INTRODUÇÃO
O movimento das Ocupações Verdes surgiu no XIX ENEB (Encontro Nacional de Estudantes de
Biologia) realizado em 1998 na cidade de Porto Alegre, caracterizando-se pelo plantio de mudas nos
locais onde se realizaram os encontros. A partir desta primeira iniciativa, atividades semelhantes em
outros ENEB’s e EREB’s (Encontro Regional de Estudantes de Biologia) se tornaram constantes.
Influenciados pelos encontros dos estudantes, os alunos de Biologia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) decidiram, em 2006, intervir no espaço do Campus por meio da realização de um
trote ecológico com os calouros, através do plantio de espécies nativas.
O grupo conhecido como Capim-Limão, formado inicialmente por alunos de Biologia da UFRJ, se
organiza desde então, atuando de forma constante dentro do ambiente universitário, ampliando suas
parcerias e locais de atuação. Atualmente o grupo contém uma estrutura plástica, agregando
participantes e colaboradores de outros cursos e até mesmo de outras instituições. A agrofloresta
experimental manejada pelos alunos, chamada pelos próprios de “Ocupação Verde”, está localizada
na Universidade Federal do Rio de Janeiro, mais especificamente na Ilha do Fundão.
O local hoje conhecido como Ilha do Fundão era constituído, originalmente, por um conjunto de ilhas
que foram unidas artificialmente por aterros para a construção do Campus. Dessa forma, observa-se
um solo geralmente compactado, constituído de aterros de reduzida biodiversidade e
conseqüentemente, baixa fertilidade. (EMBRAPA, 2000)
A Ocupação Verde da UFRJ é resultado direto de diversas intervenções realizadas durante e após os
trotes do curso de biologia, através de mutirões onde calouros e veteranos colaboram, coletivamente,
na sua construção-manutenção. Hoje o grupo conta com outras parcerias, como o Horto da Prefeitura
da UFRJ que contribui com a doação de mudas e empréstimos de ferramentas, a DIOP (Divisão de
Operações) que disponibiliza pessoal para o corte de grama e cede caminhões para transporte de
materiais quando necessário, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que contribui com a doação de
mudas e de composto orgânico e com outras instituições e grupos afins.
O trabalho começou com o plantio de mudas de árvores nativas da Mata Atlântica em uma atividade
de trote. Após o plantio inicial verificou-se a necessidade de manejo da área de plantio, já que as
mudas não conseguiam competir com o capim invasor (Panicum maximum). No entanto, ainda
faltavam informações para execução das atividades de plantio, tais como diversidade de espécies,
tipos de técnicas empregadas etc. Foi quando os alunos sentiram a necessidade de buscar algo além
do conhecimento passado em sala de aula e foram ao encontro da Agroecologia. O tema logo
despertou o interesse dos alunos, que buscaram participar de encontros afins e iniciativas similares, o
que promoveu um acúmulo de conhecimentos e experiências.
O intuito do grupo Capim-Limão com a Ocupação Verde é criar um sistema agroflorestal dirigido pela
sucessão natural, tendo como base a experimentação de técnicas de manejo de plantas e solo,
formas de plantio, consórcio entre espécies vegetais, práticas de adubação verde, recuperação de
áreas degradadas e etc.

METODOLOGIA
A área total da Ocupação Verde ocupa cerca de 2500 m², e as atividades de manejo são executadas
sob a forma de mutirões semanais. Nas áreas já plantadas, as demandas de manejo são avaliadas e
discutidas, e assim o grupo chega a um consenso das intervenções a serem realizadas no local. O
manejo consiste basicamente em capina, plantio de mudas, sementes e estacas, poda e coleta de
sementes, frutos e outras partes úteis, quando estas já se encontram disponíveis.
A capina é feita de forma seletiva, utilizando-se foices-de-mão ou facão, nos locais onde ferramentas
maiores não conseguem acessar. Nas áreas onde há o predomínio de capim-colonião (Panicum
maximum), uma capina com roçadeiras elétricas é efetuada. Após o desbaste do mato, todo material
oriundo da poda e das roçadas é deixado no chão para servir como cobertura morta e, desta forma,
melhorar as condições do solo tais como umidade, temperatura, fertilidade, etc. (MOLLISSON, 1991).
As áreas a serem plantadas são escolhidas após a capina, utilizando-se a enxada para retirar
eventuais touceiras de capim. Em seguida, covas com cerca de 50x50x50 cm são abertas com o uso
de xibancas e cavadeiras. As mudas são então plantadas adicionando-se em média 2L de composto
orgânico em cada cova. Ao redor destas, são plantadas sementes e estacas variadas de acordo com
a disponibilidade. Planta-se, em consórcio, espécies que possam melhorar as condições e amenizar
os efeitos do sol, vento e ressecamento, além de competir com o capim. De início, algumas
leguminosas como o feijão guandu (Cajanus cajan) e o feijão de porco (Canavalia ensiformis) foram
utilizadas, devido a sua grande capacidade de fixação de nitrogênio e descompactação do solo
(EMBRAPA, 2004). Por final, espalha-se uma cobertura adicional de palha, que é doada pelos
funcionários da Prefeitura Universitária, a pedido dos alunos.
Essa técnica de plantio segue os princípios da nucleação, resultando no que se chama de “ilhas de
diversidade” que consistem no plantio adensado de diversas espécies vegetais, que nessa disposição
se tornam capazes de melhorar o microclima, favorecendo a chegada de novas espécies tanto
vegetais quanto animais, funcionando como um verdadeiro núcleo de irradiação de vida de onde
saem espécies para colonizar outras áreas adjacentes. (Bechara, 2006). Além disso, tanto as plantas
vivas como as que por vezes morrem servem como poleiros que facilitam a chegada de pássaros.
Estes, por sua vez, trazem consigo sementes ingeridas em outros locais que ao serem defecadas
estão em ótimas condições para germinação, incrementando dessa forma a biodiversidade local
(Bechara, 2006). O grupo também possui um viveiro de mudas onde são produzidas diversas
espécies nativas da mata atlântica, espécies frutíferas, espécies ornamentais e de outras utilidades,
todas pra utilização própria, troca com grupos afins e etc.

RESULTADOS E REFLEXÕES
Dentro das atividades em andamento utiliza-se um desenho que mapeia a área da Ocupação Verde,
com suas mudas e as “ilhas de diversidade”, incluindo nesse mapeamento as espécies espontâneas,
que surgiram com a ajuda de outros animais dispersores ou foram trazidas pelo vento. O grupo já
consegue, com relação a certas espécies vegetais, obter independência na produção de sementes.
Através do plantio, seguido da colheita, é possível recuperar e manter o estoque de sementes, o que
colabora para a manutenção da diversidade e ocasionais trocas com grupos afins e outros
interessados.
No ano de 2008, a Ocupação Verde foi utilizada como espaço didático para trabalhos do projeto de
extensão universitária “É A Vila“. O projeto, que trabalha com educação ambiental, levou um grupo de
jovens estudantes de jardinagem e uma turma de 4ª série de uma escola municipal do Rio de Janeiro
para desenvolver atividades no espaço da Ocupação Verde. Os participantes foram levados a discutir
questões referentes ao funcionamento de uma floresta, bem como do solo e seus organismos
associados, manejo ecológico do sistema, recuperação de áreas degradadas etc. Neste mesmo ano,
durante o último EREB, com o sistema mais desenvolvido e um acúmulo de experiência dos
participantes, foi promovida uma ”vivência agroecológica” no espaço da Ocupação Verde, o que
contribuiu pra manter um ciclo de trocas de experiência e promoção dos ideais agroecológicos.
O grupo cresce bastante a cada dia. Os participantes estão em constante atualização, através da
leitura de livros, troca de experiências, participação em vivências e assimilando novos conteúdos nas
disciplinas acadêmicas. O manejo da Ocupação Verde, por si só, já traz uma grande contribuição
teórica e prática, complementando a formação dos alunos participantes e fazendo-os conceber não
só a agricultura, mas também o manejo do ambiente, de uma forma mais humana e ecológica. Além
disso, o Projeto Capim-limão é reconhecido dentro do ambiente universitário e tem o respaldo do
instituto ao qual está vinculado, sendo reconhecido também por outros grupos fora da universidade
que estão associados ao movimento agroecológico.
No espaço da “Ocupação Verde” já se observa grande diversidade de plantas frutíferas, como a
jabuticaba, ingá, banana, alguns cítricos, pitanga, goiaba etc. Outras plantas ornamentais, que
sabidamente atraem diversos polinizadores, também estão espalhadas pela “ocupação”, como o
cosmos (Bidens sulphurea), e o hibisco (Hibiscus sp.). Entre as sementes, mudas e estacas, os
alunos plantam espécies de ciclos curtos, como milho (Zea mays ssp.), girassol (Helianthus annuus),
diversos tipos de feijões, mandioca (Manihot spp.), gliricídia (Gliricidia sepium), amora (Morus nigra),
taioba (Xanthosoma sagittifolium), abóbora (Cucurbita spp.), inhame (Colocasia esculenta), maracujá
(Passiflora edulis), cana (Saccharum spp.) e algumas outras plantas aromáticas. Diversas plantas
espontâneas também estão dispersas pelo espaço da Ocupação Verde, como albizias (Albizia
lebbeck), leucenas (Leucaena spp), sombreiros (Clitoria racemosa), dentre outras. O aparecimento de
tais plantas nos sugere que a área está em pleno processo de recuperação das funções
ecossistêmicas.
Tomando como indicativo da recuperação gerada pelo manejo constante da agrofloresta
experimental, a crescente diversidade vegetal também contribui para a aparição e manutenção de um
grande número de espécies animais, que por sua vez atuam em diferentes funções dentro do
sistema. O local que, anteriormente, possuía uma diversidade muito baixa de micro, meso e
macrofauna do solo, apresenta atualmente uma estrutura cada vez mais complexa. Pequenos
anfíbios e répteis já foram observados durante as atividades de manejo. A comunidade de aves torna-
se cada vez mais diversa, aliada a um grande número de espécies de insetos e outros animais. As
minhocas, pouco notadas no início do trabalho, hoje são encontradas em abundância, o que também
indica as melhorias na qualidade do solo. As mudas, que inicialmente, demoravam a se desenvolver,
hoje crescem com vigor em uma área que oferece condições favoráveis ao desenvolvimento vegetal.
Dessa forma, os alunos observam que a implantação da “Ocupação Verde” trouxe significativas
melhorias para o ambiente universitário. As melhorias físicas são evidentes, no que diz respeito à
estrutura e condições do solo, diversidade animal e vegetal, abundância e diversidade de plantas
espontâneas etc. Citamos também, como resultado, a criação de um espaço agradável dentro do
ambiente universitário, utilizado para encontros e reuniões, ou para simples contemplação da
paisagem. Alguns moradores de comunidades do entorno também se beneficiam na medida em que
coletam e utilizam os frutos comestíveis, além de outros produtos oriundos da Ocupação Verde.
O grupo está iniciando um estudo de acompanhamento do crescimento das mudas que poderá
contribuir para posteriores plantios e facilitar a seleção das espécies mais eficazes para recuperação
de áreas degradadas. Além disso, o local possui grande potencial para desenvolvimento de outros
estudos como análises da restauração da qualidade do solo, estudos de sucessão ecológica tanto
vegetal quanto animal, além de inúmeros outros assuntos tanto na área da biologia quanto em outras
áreas ligadas ao meio ambiente. Também é um dos objetivos do projeto ratificar as pontecialidades
didático-pedagógicas que a Ocupação Verde oferece, funcionando como um espaço para troca de
experiências, contribuindo para a divulgação de técnicas de agricultura sustentável no meio
acadêmico.

RELAÇÃO DO TRABALHO COM A SUSTENTABILIDADE


Acredita-se que a prática desenvolvida pelos integrantes do grupo contribui para a formação tanto
pessoal quanto profissional dos mesmos, já que estes irão atuar nas áreas relacionadas ao meio
ambiente, sempre em prol da conservação dos ecossistemas naturais, sem esquecer as relações
sociais envolvidas nesse processo. Além disso, vê-se a Ocupação Verde como um modelo de manejo
alternativo às praticas usualmente adotada por grandes latifundiários, onde os cultivos são baseados
na monocultura e no uso de insumos agroquímicos que contribuem para exaustão dos solos,
contaminação da água e degradação do ambiente.
Em menor escala, mas não com menos importância, destaca-se a busca do grupo em contribuir para
a diminuição do efeito estufa, neste caso através do plantio de espécies arbóreas capazes de
incrementar sua biomassa utilizando Carbono atmosférico.
Na medida em que atua como iniciativa discente dentro do ambiente acadêmico, o grupo e suas
atividades também servem como exemplo para iniciativas semelhantes. Dessa forma, o Projeto
Capim Limão e suas ações, dentre elas a Ocupação Verde, funcionam como veículo de propaganda
dos ideais permaculturais e agroecológicos emergentes. Portanto, o trabalho se relaciona com a
sustentabilidade na medida em que visa a preservação e conservação do ambiente, além de trazer
para a discussão o uso racional dos recursos naturais.

CONCLUSÕES
Para concluir, o grupo gostaria de ressaltar o caráter emancipatório das ações desenvolvidas.
Entendemos que falar em sistemas agroflorestais não diz respeito somente a uma técnica alternativa
de plantio, mas sim a um posicionamento crítico diante da realidade, que é complexa, apresentada
pelo mundo atual. Quando pensamos em SAF’s entendemos que trata-se de uma alternativa
metodológica que consegue perpassar diversas esferas sociais atuais bastante problemáticas, como
a social, a econômica e ambiental. Entendemos com isso, que formas diferentes às atuais no que diz
respeito à organização social para intervenção em um plano qualquer, soberania individual e coletiva
perante as barreiras impostas pelo quadro socioeconômico global, capacitação das classes menos
favorecidas para garantir uma independência e melhor qualidade de vida e formas de produção de
consumo diferentes das atuais são contempladas dentro dos ideais agroecológicos. Vemos, por estes
motivos, grande importância em trazer para dentro do ambiente acadêmico tais discussões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECHARA, F. C. Unidades demonstrativas de restauração ecológica através de técnicas
nucleadoras: Floresta Estacional Semidecidual, Cerrado e Restinga. São Paulo: ESALQ, 2006.
Dissertação de Doutorado.
DUBOIS, Jean C.L. (org.) - Manual Agroflorestal para a Amazônia. Rio de Janeiro, REBRAF /
Fundação Ford, 2ª ed 1998, 228 páginas.
ESPÍNDOLA, J. A. A, FEIDEN, A. Adubação Verde. Seropédica, RJ: 2006 Disponível em:
http://www.cnpab.embrapa.br/pesquisas/folders/folder_adubacao_verde.pdf
GLIESSMAN, Stephen R. Agroecologia – processos ecológicos em agricultura sustentável. 2 ed.
Porto Alegre: Ed. Universidade, UFRGS, 2001. 653p.
MOLLISON, Bill e SLAY, Reny M. - Introdução à Permacultura, Tagari Publications, 1991.
SANTOS et. al. Projeto Parque Frei Veloso: levantamento detalhado dos solos campus da Ilha
do Fundão – Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2000. 69 p. (Boletim de Pesquisa; n. 19).

REDE DE CONTATOS
Grupo Capim-Limão - UFRJ (projetocapimlimao@yahoogrupos.com.br) / Grupo de Agricultura
Ecológica - UFRRJ (gaerural@yahoo.com.br) / Mutirão de Agricultura Ecológica – UFF
(maeuff@yahoogrupos.com.br) / Grupo Geomata - UFRJ (geomataufrj@yahoogrupos.com.br) /
Ângelo e Marta (sitioabaetetuba@yahoo.com.br) / Divisão de Operações – Prefeitura UFRJ
(diop@pu.ufrj.br) / Horto UFRJ (horto@pu.ufrj.br)

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a todos os participantes do Projeto Capim-limão, bem como a todos os que
contribuíram e contribuem para sua existência e propagação de seus ideais.

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