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Faculdade de Direito
Niterói
2017
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Trabalho para a disciplina de Acesso à Justiça na América Latina: Análise Crítica da
Jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Professores: Eduardo Val e Cláudio Souza Neto
Alunos: Emanuel Borges, Manoel Orlando, Valentina Copque, Camila Antunes e Fernanda
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Sumário
Introdução
1. Resumo dos fatos
1.1. Fatos da morte
1.2. Fatos posteriores a morte e sua investigação
2.Objeto de litígio
2.1. Posição dos peticionários
2.2. Posição do Estado
3. Decisão
4. Justificativa
5. Posicionamento ideológico
Conclusão
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Introdução
No presente trabalho, faremos a análise do caso Sétimo Garibaldi vs. Brasil, apresentado
pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos a Corte Interamericana de Direitos
Humanos. Trata-se de emblemático julgamento relacionado a concentração de terras no
Brasil, sobretudo no Estado do Paraná e como isso gera malefícios para a população mais
carente e sem terra. Nesse caso, observa-se que ainda existe uma forte violação aos direitos
humanos e em especial no campo. Pode-se afimar que tal quadro contribuiu para o
posicionamento do sistema jurídico brasileiro a respeito do episódio retratado em questão.
Esse estudo, todavia, não pode ser feito sem adequada metodologia, uma vez que, do
contrário, correríamos sério risco de perder de vista diversas características as quais são
determinantes ao caso analisado. Usaremos, portanto, o método apresentado por Luly Fischer,
por meio do qual a compreensão do objeto se sustenta em cinco pontos: o resumo dos fatos; o
objeto de litígio; a decisão; a justificativa da mesma, assim como o posicionamento
ideológico por trás desta.
Começaremos, desse modo, com a apresentação dos fatos e seguimos pela ordem na qual os
pontos supracitados foram apresentados, de modo que consigamos entender todos os
desdobramentos do caso.
Novembro de 1998, gerando uma investigação policial (nº179/98). Testemunhas oculares do crime
identificaram no despejo forçado as figuras de Morival Favoretto, co-proprietário da fazenda
e Ailton Lobato, capataz do primeiro.
A polícia compareceu a fazenda trinta minutos após a denúncia. As únicas provas obtidas pela
polícia na ceda do crime foram duas cápsulas de projétil calibre 12, além de vestígios de
sangue. Nesse mesmo dia, a polícia prende Ailton Lobato, por considerar que estava em
delito flagrante por posse ilegal de arma e formação de quadrilha.
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Favoretto em suas declarações, dizendo que a única prova que remetia a ambos seria o
reconhecimento de um caminhão branco constantemente dirigido por Lobato.
Em 09 de março de 1999, Morival Favoretto faz sua primeira declaração. Ele nega as
acusações contra ele, afirmando que na data do crime estaria na casa de um primo em São
Bernardo do Campo, para um consulta médica cm o Dr. Flair Carrilho. Além disso, ele
apresenta um recibo do pagamento da consulta, assinado pelo médico, com data de 25 de
novembro de 1998. No dia 28 de setembro de 2000, Eduardo Minutoli, o primo citado, presta
declaração e afirma que o Favoretto realmente esteve hospedado em sua casa, porém não diz
a data da visita. Apenas em 25 de julho de 2002 o médico Flair Carrilho apresenta-se para
depor. Em sua declaração, ratifica a autenticidade do documento apresentado, porém diz que
não pode afirmar qual foi a data da consulta.
Em 2007, o caso é julgado pelo Corte Interamericana de Direito Humanos, sob a acusação do
Estado Brasileiro por negligência e incapacidade na investigação. O Estado é considerado
culpado, e paga uma indenização à viúva, Iracema Garibaldi, de oitenta mil reais por danos
morais e materiais, além de uma multa de vinte mil reais para cada um dos seis filhos de
Sétimo Garibaldi.
2. OBJETO DE LITÍGIO
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do Brasil. A seguir, identificar-se-ão os objetos da lide, tanto os argumentos apresentados na
petição enviada em 10 de julho de 2009 à Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
quanto as considerações a seu respeito expostas pelo Estado brasileiro.
As organizações Justiça Global, RENAP, Terra de Direitos, Comissão Pastoral da Terra (CPT)
e MST requereram à Corte, em 11 de abril de 2008, que declarasse a violação dos direitos à
vida e à integridade pessoal, em prejuízo de Sétimo Garibaldi, e dos direitos às garantias
judiciais e à proteção judicial, em prejuízo de Iracema Garibaldi, viúva, e de seus seis filhos.
Requereram, ainda, diversas medidas de reparação.
3. DECISÃO
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- Artigo 8 da Convenção Americana:
Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo
razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou
para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou
qualquer outra natureza.
Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo,
perante os juízes ou tribunais competentes que a proteja contra atos que violem seus direitos
fundamentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo
quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas
funções oficiais.
Com base nestes artigos, a Corte decidiu que o Estado “tem o dever de investigar as violações
de direitos humanos, processar os responsáveis e evitar a impunidade.” Ela considera que os
fatos não foram investigados nem esclarecidos diligentemente e, em consequência, os
responsáveis não foram identificados, gerando o arquivamento do caso sem a devida
investigação necessária.
Após concluir sua decisão, a Corte fez algumas recomendações ao Brasil, ao qual devem ser
observadas:
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ocorrido em relação a despejos forçados em assentamentos de trabalhadores sem terra,
com consequências de morte, de maneira a ajustarem-se aos parâmetros impostos
pelos Sistema Interamericano.
Adoção e implementação das medidas necessárias para que sejam observados os
direitos humanos nas políticas governamentais que tratam sobre o assunto da
ocupação de terras, levando em consideração a obrigação que o artigo 28, em relação
com o artigo 1.1 da Convenção Americana, lhe impõe, de acordo com o que
determina a Cláusula Federal.
Adoção e implementação de medidas adequadas dirigidas aos funcionários de justiça
e da polícia, a fim de evitar a proliferação de grupos armados que levem a cabo
despejos arbitrários e violentos.
4. JUSTIFICATIVA
Por meio dessa análise, a Comissão entende que o Brasil violou os artigos 8 (direito
às garantias judiciais) e 25 (direito à proteção judicial) da Convenção Americana, com
relação às obrigações gerais de respeito e garantia estabelecidas no artigo 1.1 do
mesmo instrumento, bem como o dever de adotar medidas legislativas e de outra
natureza no âmbito interno estabelecido no artigo 2 do tratado, em consideração
também das diretivas emergentes da cláusula federal constante do artigo 28 do
tratado, em prejuízo das vítimas.
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2. Realizar uma investigação completa, imparcial e eficaz da situação, com o objetivo de
estabelecer a responsabilidade no tocante aos fatos relacionados com o assassínio de
Sétimo Garibaldi, punir os responsáveis e determinar os impedimentos que vedaram
proceder tanto a uma investigação como a um julgamento efetivos;
3. Adotar e implementar as medidas necessárias para uma implementação efetiva da
disposição constante do artigo 10 do Código Processual Penal Brasileiro referente a
toda investigação policial, bem como o julgamento dos fatos puníveis que tenham
ocorrido com relação a despejos forçados em assentamentos de trabalhadores sem
terra com conseqüências de morte, de maneira a ajustarem-se aos parâmetros
impostos pelo Sistema Interamericano;
4. Adotar e implementar as medidas necessárias para que sejam observados os direitos
humanos nas políticas governamentais que tratam sobre o assunto da ocupação de
terras, levando em consideração a obrigação que o artigo 28, em relação com o artigo
1.1 da Convenção Americana, lhe impõe, de acordo com o que determina a Cláusula
Federal;
5. Adotar e implementar medidas adequadas dirigidas aos funcionários da justiça e da
polícia, a fim de evitar a proliferação de grupos armados que façam despejos
arbitrários e violentos;
6. Reparar plenamente os familiares de Sétimo Garibaldi, incluindo tanto o aspecto
moral como o material, pelas violações de direitos humanos determinadas no presente
caso; e
7. Pagar as custas e gastos processuais incorridos na tramitação do caso tanto no nível
nacional como os oriundos da tramitação deste caso no âmbito do Sistema
Interamericano.
Com bane nessa análise, entende-se que uma série de omissões e a falta de devida diligência
na investigação instaurada pelo homicídio do Senhor Sétimo Garibaldi, as quais foram
posteriores a 10 de dezembro de 1998 e violatórias dos artigos 8 e 25 da Convenção, em
prejuízo de seus familiares foram fatores determinantes para a justificativa da Comissão a
respeito da decisão do caso em questão.
5. POSICIONAMENTO IDEOLÓGICO
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Em relação a esse aspecto, é importante ressaltar a concentração de terras, sobretudo
latifúndios, no Brasil. Observa-se que tal característica é crucial para que os grandes
proprietários de terras tenham vantagens sobre a população pobre a respeito dos conflitos
relacionados a terra. Com base nessa análise, nota-se que o Estado e o próprio Poder
Judiciário realizam medidas que tendem a beneficiar os senhores latifundiários em detrimento
do bem coletivo daqueles que não possuem moradia. Desse modo, os impactos gerados pela
questão econômica são significativos para a abordagem do caso Sétimo Garibaldi vs. Brasil.
Em decorrência disso, a violência rural tende a ser uma situação emblemática no meio rural.
A Comissão Pastoral da Terra e o Instituto Carioca de Criminologia afirmam que o Estado do
Paraná, local da morte de Garibaldi, pode ser considerado um dos que apresentam maior
incidência de violações de Direitos Humanos contra trabalhadores rurais. Tal situação foi
agravada devido a política com uso da força contra esses trabalhadores realizada pelo
governo estadual que atuou de 1995 a 2002.
Além disso, a impunidade também está associada a essa enorme violência contra os
trabalhadores rurais. Percebe-se que muitos assassinos, materiais e intelectuais, de pessoas
carentes sem moradia no campo não são investigados, julgados, e por conseguinte, não são
classificados como culpados dos seus atos. Essa ausência de punição provoca o temor em
muitos daqueles que lutam em prol de uma melhoria nas distribuições de terras no Brasil.
Entretanto, poucas medidas foram feitas pelas autoridades para alterar esse quadro.
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Humanos devido ao seu poder econômico e político na América Latina. Portanto, torna-se
difícil solucionar casos como o do Sétimo Garibaldi no país.
6. CONCLUSÃO
Portanto, situações como a vivenciada pela família do Senhor Sétimo Garibaldi são
compartilhadas entre vários grupos familiares que são formados por pessoas com poucos
recursos financeiros que trabalham no campo. Logo, essa espécie é comum no meio rural
brasileiro. Outrossim, pode-se dizer também que a violação aos direitos humanos dos
trabalhadores rurais tende a ser perpetuda ao longo da história do país marcado pela
concentração fundiária. Dessa forma, o episódio dramático de Sétimo Garibaldi não é um fato
isolado.
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