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Uma conversa com S.

Tomas de Aquino: A
obediência a lei injusta.
Jeferson Nicolau, 6112, subturma 1

1. O Problema.

Coloca-se, no contexto do direito da idade média e dos escritos de S. Tomás de Aquino sobre qual a
postura a assumir perante a lei injusta. Muito mais do que falar sobre uma ou outra postura, quero
focar-me em entender porque esse problema é relevante. Para isso em quatro capítulos, pretendo
procurar entender porque a lei tem tanta importância e quais as consequências de termos leis injustas
e se existem, de facto, leis injustas. Enquanto faço isso quero também procurar refletir em outras
problemáticas que partem daqui e se prolongam pela história porque penso que essa é uma fase
decisiva para o direito e para ordem social pois trata-se da fundação das ordens sociais e jurídicas
como as conhecemos e é muito interessante perceber que muito dos problemas que não foram
resolvidos aqui ainda hoje continuam em problemática.

2. O Fundamento.

O que é a lei? De onde ela vem? Porque ela existe? Em primeiro lugar, penso que a lei é
necessariamente inevitável, isto é, considero que seja impossível vivermos sem lei, sem sentirmos a
necessidade de legislação. Mas também se diz (e bem, na minha opinião) que a lei só existe porque
vivemos em sociedade. E não é difícil imaginar o caos que seria a vida em sociedade sem a existência
de regras, normas, enfim, de leis que orientem e coordenem a coexistência entre os vários membros
da mesma sociedade. Mas conseguimos ir mais fundo do que isso visto que assim nos permite a
consulta da sua SUMA TEOLOGICA: podemos perguntar porque existe sociedade?

A obra Tomista sustenta que, no fundo, a sociedade existe porque o Homem existe – e mais
concretamente porque existem necessidades desse Homem que ele por si só não consegue assegurar
– pois o Homem é um animal social e consequentemente é por natureza é parte de uma multidão de
outros homens dos quais ¨se lhe provém o auxilio para viver bem¨. A sociedade, como todo o resto,
tem uma um fim instrumental na prossecução da justiça para a salvação da alma

E por falar em Homem, por falar em lei, em sociedade, em justiça e em salvação da alma – a sua obra
cria uma ponte muito interessante entre a ideia aristotélica e a ideia cristã, criando um lugar onde a
razão dos filósofos gregos e a fé dos teólogos medievos coexistem. Sendo que em Aristóteles vimos a
génese de uma sociedade baseada no Direito. Sociedade essa que também é compromissada com um
fim, a saber: que os homens vivam bem segundo critérios de justiça e igualdade. E ¨o bem é o fim
último de toda ciência e arte; o maior bem, o fim da política¨ encontra-se na felicidade. Tal como no
próprio S. Tomás de Aquino que contempla uma sociedade compromissada com a justiça e busca o
fim último, o bem maior, a salvação da alma. Para isso, Aristóteles instrumentaliza a lei na prossecução
desse fim pois acredita que ela, sendo desprovida de paixões, seria a melhor mediadora da justiça e o
melhor coordenador dos homens e o melhor orientador para o caminho da felicidade, e por último,
seria a melhor guardiã do direito dos homens pois limita não só os subordinados mas também os
titulares do poder e até mesmo o próprio poder.

3. A lei injusta.

Posto isto, abre-se uma questão: Se a lei é tão útil (até essencial) na prossecução da justiça e da
salvação da alma o que torna uma lei injusta?

Do estudo das estruturas medievais constatamos que existem dois tipos de leis: Uma que vem
diretamente do poder popular (sugerido pelas doutrinas tomistas) e outra que vem do titular do
temporal aceite pela mesma comunidade.

A primeira via de criação de leis, e por lei, entenda-se norma de conduta, chamamos costume. O
costume que é uma criação simples e espontânea que não provem de nenhum processo legislativo tal
como a formação da virtude defendida pela esteira de Santo Agostinho pois provem também da
repetição de atos livres praticados a partir de propensões nobre ou mesmo pela correção das
características menos boas. Essas normas que ao serem praticadas repetidamente por um membro,
ganha caracter de antiguidade, ao ser reproduzida por vários membros da comunidade que se
apercebem do mérito dessa pratica como meio de atingir a justiça ganha caracter de consensualidade
e de uma certa racionalidade que lhe dá uma convicção de obrigatoriedade. Parece ser uma forma de
revelação normativa muito aproximada do Direito Natura. Todavia, há na perspetiva medieval uma
espécie de contradição nesse sentido que abre a porta para o positivismo, a saber: os teólogos
medievos definiram a justiça como um rio que flui de dentro para fora pois via-se a justiça como uma
virtude e já vimos anteriormente como se forma a virtude na perspetiva medieval enunciada por Santo
Agostinho. Pelo que o Homem acata a lei divina e natural porque ela foi inscrita por Deus no seu
coração. E o S. Tomás de Aquino também entra nessa linha de pensamento. Todavia, tal como falamos
anteriormente a razão pela qual o Homem se ajunta socialmente é o facto de haver necessidades que
só podem ser satisfeitas na comunidade e uma dessas necessidades enunciadas por S. Tomás de
Aquino é a da correção social. É o que se entende da ideia de que se os pais falham e os jovens se
tornam rebeldes quem os corrige? A comunidade. Com base no que? No costume ou na lei – mas sem
dúvida no Direito. Mas a correção pressupõe a necessidade de uma autoridade – os pais só corrigem
os filhos porque têm autoridade sobre eles, não é verdade? E de quem é essa autoridade? De onde
ela vem? Para responder a isso ou viajamos no tempo até as ideias contratualistas ou então admitimos
que essa ideia na verdade surgiu aqui mesmo nas problemáticas de S. Tomás de Aquino.

Esse assunto é de suma importância porque é, no fundo, o que justifica a origem da autoridade do
governo tanto para legislar como para fazer cumprir na média via tomista é o que justifica o monarca
como cabeça do poder temporal. Deus o entrega a comunidade e a comunidade o entrega ao monarca
através do consentimento. Sendo que a lei que vem do monarca é a segunda via de revelação
normativa de falávamos no início deste capítulo.

E posto isto, faço a minha tentativa de reposta à pergunta que estrutura esse capítulo: o que o torna
uma lei injusta?

A axiologia Tomista pinta a sociedade e o poder e tudo mais que incida nesse prisma como sendo
fortemente compromissados com uma missão ética de governar no sentido de conduzir o que é
governado para o seu devido fim identificado como uma vida justa possibilitadora da salvação da alma.
Por isso, o governo justo é o governo que governa tendo em vista o bem comum porém sem esquecer
que há uma justiça particular que vem de dar a cada um o seu – sabendo que algo que é
inevitavelmente de cada um é a sua liberdade e a sua consciência – coligando o sentido de uma vida
material com a existência de um mundo espiritual que também tem as suas necessidades e que só
assegurando essas necessidades pode-se assegurar os desenvolvimento pleno do Homem.

Entendendo o que é um governo justo, podemos entender também, a contrário, o que é um governo
injusto: Será um governo que despreza o bem comum e todo o resto já enunciado a fim de tirar
vantagens privadas a favor do governante e da sua cúpula. Essa conduta por parte do titular vai contra
o estabelecido tanto pela ordem divina, pela ordem natural e pela ordem popular – o costume. E a lei
injusta é a lei que surge desse contexto e que visa beneficiar o monarca em detrimento do bem
comum e, portanto, é contra todas aquelas ordens que referi.

Quando surge essa lei injusta torna-se-nos imperioso assumir uma conduta diante delas: Obedecer ou
Resistir.

4. A obediência.

O monarca, titular do poder temporal, recebe-o de Deus através do consentimento da comunidade.


Poderíamos admitir, à semelhança de Platão, que há um motivo pelo qual o monarca é o titular desse
poder e aqui poderíamos falar sobre a força, a sabedoria e por aí vai. Pelo que há um mérito que leva
o monarca a ter esse poder e que há um motivo pelo qual é ele o titular do poder e não nós;
poderíamos admitir que a lei pode até ser justa e nós não sabemos porque não estamos no nível de
iluminação dele. Admitir tudo isso tão passivamente facilmente levaria a situações em que o monarca
teria um poder absoluto, divino e inquestionável e portanto ir contra o monarca é o mesmo que ir
contra Deus, a comunidade e contra a própria lei divina. Então será que a desobediência é mesmo um
direito natural. Por outro lado, mesmo que a lei seja mesmo injusta pode dar-se que a circunstância
de que a desobediência cause mais prejuízo a comunidade e ao bem comum do que a obediência.
Portanto, será que a desobediência é mesmo o melhor caminho.

5. A resistência.

Desobedecer a uma lei, em particular uma lei injusta, pode muitas vezes ser um dever. Mais do que
um direito, mais do que uma ação política, desobedecer a uma lei injusta pode se tornar um dever.
Um dever ético, moral, religioso ou mesmo natural. Isso porque a lei injusta muitas vezes nos põe em
um dilema: pois se não é possível obedecer a essa lei e prosseguir a justiça temos que admitir que
torna-se necessário escolher uma ação em detrimento de outra.

Pegando nas ideias que utilizamos para estabelecer os critérios que fazem com que uma lei se torne
injusta, podemos fazer surgir três princípios da lei, a saber: a prossecução do bem comum; a não-
exclusão da responsabilidade do titular do poder que a institui e o equilíbrio proporcional entre peso
dos sacrifícios dos súbditos e o ganho em bem comum( o avanço na prossecução da justiça e da
salvação da alma). Como já foi dito, a lei é uma coisa boa, pois ajuda na aquisição do bem comum.
Mas há uma questão que me afere colocar: Se a lei não contemplar esses princípios, ela pode sequer
ser chamada de lei? Sinceramente, do meu ponto de vista, a lei de que aqui falamos é uma força
imperiosa da razão derivada da lei eterna e da lei natural que é assim porque o bem comum exige o
seu cumprimento, pelo que se não estivermos diante disso não estamos também diante de uma lei.
Trata-se muito mais de um capricho, um desígnio, uma vontade do príncipe.

Tudo fica pior quando, para além de não estarmos diante de uma lei que surge dessa forma, estamos
diante de uma lei que os contraria. Uma lei que é um entrave a prossecução da justiça e confronta
com a virtude que leva a salvação da alma. Eu penso que deve haver uma distinção entre essas duas
pois face a primeira situação a sociedade tem, sem dúvida, o direito natural de não obedecer; porém
na segunda a sociedade tem o dever de resistir.

Não se pode aceitar que não haja limitações ao poder. Essa é uma ideia que já vem muito de trás pois
na antiguidade clássica Sófocles já falava sobre quatro ideias nucleares do poder político: A
heterolimitação do poder, A extensão do Direito a ordens que são hierarquicamente superiores a lei
escrita; a invalidade da lei gerada pelo desrespeito dos seus hétero limites e, por ultimo, o ser humano
sendo cetro e fim de toda a sociedade tem sempre o direito e a liberdade de escolher a desobediência
- tudo isto ilustrado na estória de Antígona.

6. A Conclusão

Agora que pude viajar sobre tantos séculos de ideias e pensamentos de homens geniais como
Platão, Aristóteles, Sófocles, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino e entender os fundamentos
e as bases de todo esse problema que aqui discutimos deixo a minha consideração final. Não
consigo conceber que a lei existe só porque sim. E que devemos obedecer qualquer comando
como sendo lei. Assumir isso até pode parecer uma recusa ao positivismo e um abraçar o jus
naturalismo, mas não é só isso. É uma recusa do poder pelo poder, e da vida e da sociedade
fundadas e coisas vãs e passageiras. Uma vida sem compromisso. E uma sociedade sem princípios
que acima de tudo se funda na prossecução de interesses privados de alguém que não entende e
não respeita a natureza dos poderes que lhe foram entregues. É ainda mais difícil aceitar que
andamos a deriva e legislamos só para tentar conter ou não maximizar os danos. Nessa fase, a
idade medieval, trata-se da construção, do fundamento sob o qual se construirá o futuro pelo que
temos imperiosamente que traçar um curso e navegar em direção ao destino no qual queremos
chegar amanhã. Portanto há que resistir. Há que resistir a toda a Tirania, a toda tentativa de
usurpação e acatar a razão. Devemos acima de tudo acatar a razão nos liga a lei natural e
consequente à lei natural. E é esse o motivo pelo qual não desprezo a lei nem um positivismo,
porque a lei quando acata a razão nos traz um mandamento imperioso para a prossecução do
nosso fim enquanto pessoas humanas e nos orientam na nossa caminhada. Penso que o que se
apartar disso nem sequer deve ser considerado lei. Quando vimos as coisas dessa forma a
resistência deixa de ser um direito e passa ser um dever.

BIBLIOGRAFIA:
AQUINO, Tomás de, Comentário à ética de Nicômano de Aristóteles
ALBUQUERQUE, Ruy e Martin Barbosa de, Manual de HDP
OTERO, Paulo, Instituições Políticas e Constitucionais
Apontamentos das aulas praticas com o Mestre Pedro Miguel S.M Rodrigues

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