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FACULDADE DE DIREITO
FICHA DE LEITURA Nº 1
Por sua vez, Ander-Egg define a ciência como “um conjunto de conhecimentos racionais, certos
ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis que fazem referência a
objectos de uma mesma natureza”. (Introducción a las técnicas de investigación, 1978:15).
a) Racional – exige método e está constituído por uma série de elementos básicos:
conceitos, hipóteses e definições;
e) Verificável – as afirmações que não podem ser comprovadas não fazem parte da ciência.
Quanto ao vocábulo “política”, este admite diversos significados, dos quais se pode destacar os
seguintes:
Política como gestão – busca das escolhas possíveis para resolver um problema face aos
meios existentes (ex. “política da educação”, “política da saúde”, “política do
trabalho”, “política do ambiente”).
Política como estratégia – escolhas efectuadas por certos sujeitos para resolver um
problemas (ex. "política do partido”, “política do governo”).
Política como conjunto de factos específicos do domínio político.
Estes significados aparecem com maior clareza na língua inglesa através dos seguintes vocábulos:
“policy” – para designar a política como gestão ou como estratégia.
“politics” – para exprimir a ideia de campo ou sector da realidade onde diversas
concepções ou programas se entrechocam, se combatem ou se destroem ou se
compatibilizam.
O sentido de política (politcs) é o que interessa à Ciência Política e pressupõe a existência de
factos com certas características que integram o universo político.
Duas acepções de Ciência Política.
O facto político é um evento social, porque produz-se como consequência da interacção dos
homens vivendo em sociedade.
“ (...) a actividade social que tem como objectivo garantir, pela força, geralmente
apoiada no direito, a segurança exterior e a concórdia interna de uma unidade política
particular, salvaguardando a ordem no meio de lutas que têm origem na diversidade e
divergência das opiniões e interesses”. (Freud).
“Actividade humana de tipo competitivo, que tem por objecto a conquista e o exercício
do poder”. (Diogo Freitas do Amaral).
Nota-se nestas definições que a luta pelo poder constitui a essência da política. Luta
para conquistar, exercer, controlar e manter o poder.
A política tem a ver essencialmente com o Estado, ou seja, com a conquista e o exercício
do poder político no Estado. (Marcel Prélot).
o Mas nega que tais fenómenos sejam, por sua natureza, políticos.
Política vem de Polis, palavra que, na Grécia antiga, queria dizer cidade.
A exacerbação dos conflitos de interesses sem qualquer controlo social poderia colocar
em risco a sobrevivência da própria sociedade. Por isso se torna necessário encontrar mecanismos
de regulação desses conflitos, reduzindo-os a níveis que permitam uma certa harmonia social.
Vai daí a necessidade de instituir uma instância de arbitragem com a missão de definir os
rumos da colectividade e garantir uma distribuição equilibrada dos bens escassos.
Assim, existe poder sempre que alguém tem a possibilidade de fazer acatar pelos outros
a sua própria vontade, afastando qualquer resistência exterior àquilo que quer fazer ou
obrigando os outros a fazer o que ele queira.
Portanto a função do poder político é resolver os conflitos de interesses que podem surgir
entre aqueles que concorrem na utilização de bens finitos.
O poder político não se exerce apenas pelo uso da força. Os que exercem o poder político
necessitam de obter consentimento, pelo menos passivo, dos destinatários do poder. O poder tem
de se revestir em autoridade.
Em geral entende-se por método “o caminho pelo qual se chega a determinado resultado,
ainda que esse caminho não tenha sido fixado de antemão de modo reflectido e deliberado”
(Hegenberg).
Método científico é o “conjunto das actividades sistemáticas e racionais que, com maior
segurança e economia, permite alcançar o objectivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –
, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista
(Maria de Andrade Marconi).
Colocação do problema:
A Ciência Política tem métodos próprios, diferentes dos métodos de outras ciências
sociais, ou emprega apenas as perspectivas e as técnicas destas ciências?
Diversidade de respostas:
Primeira tese: a Ciência Política utiliza exclusivamente os métodos das outras ciências
sociais.
Marcel Prélot (1974): o politicólogo não tem de recorrer a outros
métodos senão aos comummente utilizados pelas ciências sociais.
Segunda tese: a Ciência Política pode desenvolver métodos próprios para uma análise
aprofundada do seu objecto de investigação.
Posição adoptada
A Ciência Política, como ciência social que estuda os factos e os acontecimentos
políticos que ocorrem num determinado contexto social e, ainda, os fenómenos políticos
das conjunturas nacionais e internacionais, não pode dispensar os métodos
desenvolvidos e aplicados por outras ciências sociais.
Porém, a autonomia de que goza a Ciência Política em relação às demais ciências sociais
exige que ela desenvolva métodos próprios que lhe permitam aperfeiçoar e aprofundar o
estudo do seu objecto.
As Perspectivas básicas:
a das tendências individuais
a racionalista
a funcionalista, e
a sistémica
A perspectiva racionalista
A perspectiva das tendências defende que pelo menos grande parte do comportamento
político é emociaonal (instintivo)
Ou seja, não se baseia numa escolha consciente dos objectivos a alcançar através da
acção política.
Lock explicou a passagem do Estado da natureza (sociedade civil) ao estado político pelo
objectivo de encontrar protecção para os direitos naturais.
Bentham entendeu o processo político como o resultado de um cálculo utilitário sobre os
melhores meios para alcançar a satisfação dos objectivos prioritários dos indivíduos.
A perspectiva racionalista:
Não exclui a importância das tendências individuais ou dos grupos;
Inclui estas tendências na definição dos motivos (todos os factores que entram na
ponderação da escolha do comportamento político);
É totalizante – toma em consideração a personalidade básica do indivíduo (ou
dos grupos) e os objectivos conscientemente seleccionados (Futurologia a
curto, médio e longo prazos).
Pressuposto básico
O processo político se analisa em decisões que finalmente alguém toma.
Exemplos:
A situação geográfica
A composição étnica do grupo
As fronteiras físicas
pirâmide etária
O peso da história
As decisões tomadas por centros de poder diferentes
A decisão tomada será, nestes termos, a que for mais adequada a atingir os
objectivos que forem projectados, tendo em consideração os constrangimentos
existentes no momento em que se decide.
Pressuposto :
Numa situação de jogo ou conflito, os intervenientes procurarão maximizar os
ganhos e minimizar as perdas e tomarão decisões que correspondam a essa
economia.
Daqui resulta que a decisão tomada deve ponderar as reacções de todos aqueles
que podem ser relevantes para a sua concretização e a possibilidade relativa de as
poder enquadrar em padrões de comportamentos típicos.
Perspectiva funcionalista
Procura explicar a função desempenhada por uma entidade ou órgão numa determinada
estrutura social e os termos em que essa entidade ou órgão correspondem às expectativas e às
necessidades fundamentais do respectivo grupo humano organizado.
Perspectiva sistémica
Procura explicar o fenómeno político tendo por base o conceito de sistema, isto é, um
conjunto de elementos inter-relacionados e em interacção, e põe em destaque:
a) Análise documental
É feita com base em documentos: escritos, filmes, fotografias, gravações, material usado
na vida política e na propaganda política e partidária.
Os documentos podem ser:
Directos – quando emitidos por intervenientes no processo de decisão do poder político.
Indirectos – quando, não sendo emitidos por intervenientes no processo de decisão,
testemunham a actividade do poder político de forma intencional ou acidental.
b) Observação directa
Extensiva – estudo de um grupo humano numeroso através de métodos como as
sondagens de opinião.
Intensiva – apuramento de uma forma mais aprofundada das atitudes e os
comportamentos e determinadas pessoas ou de determinados grupos de pessoas, usando
a entrevista, os testes, e a observação participada.
d) História Política ou História dos Factos Políticos – ramo da História que estuda os
factos políticos no passado. Estuda, por exemplo, o que foi a evolução política de um
determinado país – as suas instituições, os seus dirigentes, os problemas que teve de enfrentar e
como os resolveu.
e) História das Ideias Políticas – ramo da história política que estuda a evolução das
ideias políticas no passado, isto é, estuda a política na perspectiva não dos factos ou
acontecimentos, mas na perspectiva das ideias, doutrinas e teorias que foram sendo expostas por
pensadores ou preconizadas por homens de acção e que exerceram ou ainda exercem uma
determinada influência no modo de entender e aplicar a política, de organizar o Estado, de
encarar ou exercer o poder, etc.
Os homens não se movem apenas por interesses ou ambições e as sociedades não
evoluem apenas em virtude de factores geográficos ou económicos.
A força das ideias é um dos elementos mais poderosos motores da vida humana e uma
das causas mais intensas e frequentes dos fenómenos políticos.