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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 29-43 OUT.

2009

“POLITICS 2.0”
1
A CAMPANHA ON-LINE DE BARACK OBAMA EM 2008

Wilson Gomes Breno Fernandes Lucas Reis Tarcizio Silva

RESUMO

O artigo examina o estágio mais recente do padrão das campanhas políticas on-line em eleições presiden-
ciais do ponto de vista dos recursos e instrumentos empregados como parte das operações de comunicação
política em redes digitais. Como as eleições americanas de 2008, em geral, e a campanha on-line de Barack
Obama, em particular, representam a face mais recente e, até o momento, mais exitosa desse tipo de opera-
ção política, os recursos e instrumentos empregados na campanha de Obama serão tomados como um
estudo de caso. Trata-se, portanto, de uma prospecção sobre uma experiência de emprego de recursos
digitais e on-line em campanhas políticas com o objetivo de reconhecer o patamar a que foram levadas as
campanhas on-line e de estabelecer generalizações sobre tendências e possibilidades desse tipo de campa-
nha política. Concluímos que, embora o uso dos recursos de comunicação digital não seja a causa do
sucesso da campanha de Obama ou mesmo da mobilização gerada e da popularidade que teve entre o
eleitorado jovem, eles certamente fazem parte do ambiente social e político que determinou esses fenômenos.
PALAVRAS-CHAVE: campanhas on-line; Barack Obama; internet; comunicação política.

I. INTRODUÇÃO: “NO INTERNET, NO Obama arrecadou on-line, os vídeos que Obama


OBAMA!” postou on-line e, acima de tudo, os milhões de
pessoas que aderiram on-line à campanha de
Numa mensagem postada em 4 de junho de
Obama, em seus tempos e termos próprios”
2008 no blog Media & Politics, ainda durante as
(CORNFIELD, 2008).
primárias do Partido Democrata, Michael
Cornfield, cientista político americano e diretor Esta citação não é um endosso, nem para afi-
de pesquisa do Projeto Democracia On-line da ançar a veracidade do que nela afirma-se nem para
Universidade George Washington, declarou o se- firmar o seu caráter profético, uma vez que
guinte: “Sem internet não haveria Obama. A dife- Obama, de fato, não apenas ganhou a indicação
rença de compreensão, entre as campanhas de do Partido Democrático, mas acaba de ser con-
Obama e Clinton, sobre o que se pode realizar por firmado o 44º Presidente americano. Importa bem
meio da política on-line tem sido um fator decisi- mais o seu caráter como testemunha de uma im-
vo nessa que é a maior reviravolta na história das pressão dominante nos ambientes relacionados à
primárias presidenciais. Há, naturalmente, outras política – espanto quase – sobre o sucesso da
diferenças importantes: a estratégia empregada no campanha on-line de Barack Obama em 2008.
“caucus”, o glamour, a oratória, os discursos Mesmo no ambiente da pesquisa científica, as
enfocando diretamente o preconceito. Mas nenhu- posições parecem ter rapidamente se alterado. Com
ma delas teria sido decisiva sem o dinheiro que efeito, aquele que até então é o mais consistente
livro baseado em pesquisa empírica sobre cam-
1 A pesquisa que sustenta este artigo faz parte do Projeto panhas on-line, que trata das eleições presidenci-
Novas Tendências da Publicidade nos Meios Digitais, do ais de 2000, chega à conclusão de que há parca
Observatório de Publicidade em Tecnologias Digitais da efetividade política das campanhas on-line, mes-
UFBA, laboratório no modelo Universidade-Empresa que mo naquela que é considerada o ponto de virada
faz prospecção e análise de publicidade em comunicações das campanhas para a fase baseada em páginas
on-line e é coordenado por W. Gomes. B. Fernandes, L.
de internet: a campanha-web não mudaria o voto
Reis e T. Silva são estudantes de graduação e bolsistas do
Observatório. Os autores agradecem a Camilo Aggio pela dos que já têm uma posição política, teria um “efei-
cuidadosa leitura e pelas generosas sugestões apresenta- to mínimo” sobre os indecisos e mesmo no que
das. se refere aos militantes teria apenas uma “modes-

Recebido em 2 de fevereiro de 2009.


Aprovado em 25 de fevereiro de 2009.
Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 17, n. 34, p. 29-43, out. 2009
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“POLITICS 2.0”: A CAMPANHA ON-LINE DE BARACK OBAMA EM 2008

ta tendência” para reforçar as suas predisposições tar e baixar/assistir vídeos on-line, de um lado, e
(cf. BIMBER & DAVIS, 2003, p.144-145). Que o uso de sítios de redes sociais on-line, de outro
não se deixe de registrar que entre o minimalismo (fenômeno já anotado, aliás, em relatório de Kohut
de Bruce Bimber e Richard Davis e o aforismo de e Keeter, 2008). Correndo por fora, mas apare-
Michael Cornfield “no internet, no Obama!” há o cendo também pela primeira vez nas sondagens,
intervalo de apenas uma eleição presidencial. registra-se o fenômeno da recepção, do repasse e
do envio de mensagens de texto por telefonia ce-
De todo modo, as características apontadas
lular.
por Cornfield como diferenças relacionadas à cam-
panha de Obama também foram identificadas no Em junho registrava-se que 35% de todos os
relatório “The Internet and the 2008 Election” do cidadãos com idade eleitoral nos Estados Unidos
Pew Research Center (2008)2 , de junho de 2008 tinham assistido a algum vídeo on-line relaciona-
(SMITH & RAINIE, 2008, p. 13). De fato, em do às campanhas. Talvez mais importante, dezoi-
meados de 2008, quando as artilharias mobiliza- to por cento dos adultos e 25% dos usuários de
das nas campanhas on-line americanas estavam internet relatavam ter entrado na internet para bai-
ainda centradas na contraposição entre Hillary xar e/ou assistir vídeos de natureza política que
Clinton e Barack Obama, anotava-se: a) a campa- não eram provenientes das campanhas ou das
nha eleitoral de 2008 despertava interesses sem empresas de jornalismo, enquanto 29% dos adul-
precedentes na história eleitoral recente america- tos e 39% dos usuários de internet conectaram-
na, que vinha sendo marcada por crescente apatia se para ver debates políticos, discursos e declara-
civil e decrescente índice de participação e ções de candidatos (cf. SMITH & RAINIE 2008,
engajamento; b) uma das maiores novidades da p. 7-8). No que se refere ao uso de mídias soci-
disputa consistia no modo como vinham sendo ais, que veremos mais adiante para o caso da cam-
empregadas as comunicações on-line nas funções panha de Obama, registrava-se que, em junho,
fundamentais de uma campanha política e c) o surpreendentes 10% dos adultos e 14% dos
surpreendente desempenho de Barack Obama es- internautas americanos estavam usando sítios
tava em grande parte associado à incomum habi- como Facebook ou MySpace para atividades po-
lidade de emprego das ferramentas de comunica- líticas. Destacava-se, ademais, que “66% dos usu-
ções on-line por sua campanha, tendo ela alcan- ários de internet com idade abaixo de 30 anos ti-
çado e estabelecido novos padrões de campanha nham um perfil em algum tipo de sítio e de rede
on-line. social on-line e que metade desses usavam tais
sítios para obter ou compartilhar informação po-
Com relação especificamente à campanha on-
lítica” (SMITH & RAINIE, 2008, p. ii). Por fim,
line de 2008, notava-se àquela altura que: a) sur-
constatava-se que a comunicação política civil on-
preendentemente, mais de 1/4¼ dos internautas
line crescia em intensidade e variedade. Além da
acessavam a internet para fazer alguma coisa re-
ferramenta de internet mais usada em campanhas
lacionada à campanha pelo menos uma vez por
desde sempre, o e-mail, agora entrava em cena
semana; 8% fazia isso todos os dias; b) duas ati-
também as mensagens de texto por celular. Em-
vidades on-line estavam tornando-se as novas
bora uma prática menos importante do que os re-
vedetes das operações políticas na internet: pos-
cursos de WWW3 e o e-mail, o fato de que 8%
dos que mandam mensagem por celular enviaram
ou receberam mensagens de campanhas e outros
2 O Pew Research Center, cujos relatórios e documentos
materiais políticos pelo menos uma vez por se-
mana não é banal.
de trabalho serão muitas vezes citados nesta pesquisa, é
um centro de pesquisa, sustentado por uma fundação, que
estuda comportamentos e atitudes da sociedade americana.
Desenvolve várias linhas de pesquisa, dentre as quais o
Pew Internet & American Life Project (disponível em http:/ 3 World Wide Web; abreviação: Web. Trata-se de um siste-
/www.pewinternet.org; acesso em 22.jul.2009), que publi- ma de documentos (geralmente em formato HTML) inter-
ca relatórios sobre o impacto da internet sobre crianças, ligados por meio de hiperlinks. Ordinariamente, reconhe-
famílias, escolas, saúde pública e a vida política. Seus rela- cemos esses documentos como websites; em português,
tórios e memorandos, muito respeitados esperados, apói- sítios ou páginas de internet. A internet é a “rede mundial
am-se em sondagens regulares de opinião realizadas pela de computadores” que conecta computadores pessoais e
Princeton Survey Research Associates International. corporativos. A principal função da internet é a WWW.

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Para que se possa avaliar corretamente o sig- tando principalmente o ano eleitoral de 2000, con-
nificado desses valores, vejamos, no quadro abai- siderada a primeira eleição wired americana, com
xo, a evolução da importância atribuída à internet o quadro pré-eleitoral de 2008.
nas campanhas eleitorais presidenciais, contras-

QUADRO 1 – O CRESCIMENTO DO CONSUMO DE NOTÍCIAS POLÍTICAS


Percentual de americanos adultos que procuram notícias e informações sobre a campanha na internet
Primavera Outono Primavera Outono Primavera
2000 2000 2004 2004 2008
Dentre todos os adultos (usuários e não-usuários da internet)
Total 16% 23% 31% 34% 40%
Em um dia típico 3% 8% 8% 10% 7%
Dentre os usuários da internet
Total 34% 43% 49% 58% 55%
Em um dia típico 7% 16% 13% 18% 23%
FONTE: Pew Internet & American Life Project Surveys.
NOTAS: 1. O survey mais recente é o da primavera de 2008.
N = 2.251. Margem de erro: +ou- 2%.

Em um relatório intermediário, publicado a dos: “Neste ano, a campanha presidencial teste-


duas semanas das eleições americanas, a sonda- munhou níveis sem precedente de engajamento
gem de opinião do Pew Research Center anotou no processo político, na medida em que milhões
que 59% dos eleitores registrados afirmaram que de cidadãos comuns empregaram a internet para
se serviram de conteúdos eleitorais on-line ou ti- manter-se informados sobre a política, dar dinheiro
veram algum tipo de comunicação on-line sobre às campanhas, compartilhar pontos de vista e ade-
a campanha; 44% dos eleitores (cerca de metade rir a comunidades on-line constituídas em torno
em todas as faixas etárias, exceto naquela acima de interesses e objetivos comuns” (SMITH, 2008,
de 64 anos) enviaram ou receberam e-mails so- p. 1).
bre a eleição; 39% disseram terem visto algum
II. TIPOLOGIA DE CAMPANHAS ON-LINE E
vídeo on-line relacionado à campanha eleitoral;
A LITERATURA ESPECIALIZADA
28% assistiram discursos em vídeos on-line; 27%
leram blogs políticos; 26% receberam algum e- Tanto as campanhas on-line quanto a pesqui-
mail de uma das campanhas ou de grupos ou or- sa sobre as campanhas on-line, como não pode-
ganizações políticas e 23% visitaram algum sítio ria deixar de ser, são, em primeiro lugar, profun-
de internet de algum candidato (cf. KOHUT, 2008, damente dependentes do desenvolvimento da
p. 4 e 6). E já se apontava que a efetividade da internet e, em segundo, do universo geral das
campanha on-line era ainda mais forte no caso tecnologias digitais que nos colocam em rede, tanto
dos eleitores com idade abaixo de 30 anos: quase no que tange à sua horizontalidade (o aumento
2/3 tinham assistido vídeos on-line e quase o dos cidadãos que dispõem de recursos para o
mesmo tanto (59%) tinham lido blogs, visitado emprego da tecnologia) quanto ao incremento da
websites dos candidatos ou usado sítios de redes própria tecnologia (novos dispositivos, linguagens,
sociais (principalmente MySpace e Facebook) com aparelhos, recursos etc.). O aumento no número
objetivos políticos. Quase a metade deles assisti- de usuários é, naturalmente, um fator que conspi-
ram discursos (48%), entrevistas (47%) ou de- ra a favor da importância do universo on-line para
bates (47%) on-line e 36% assistiram até comer- a política, assim como para qualquer outro setor
ciais de campanha na internet (idem, p. 6). social. Afinal, uma coisa é considerar o uso da
internet quando apenas 3,5 milhões de adultos têm
Por fim, o relatório do Pew Research Center
acesso a ela, como nos Estados Unidos em 1994,
publicado em 30 de dezembro resumia o senti-
quando se começa a empregar alguns recursos
mento resultante do ano eleitoral nos Estados Uni-

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“POLITICS 2.0”: A CAMPANHA ON-LINE DE BARACK OBAMA EM 2008

on-line em campanhas, e outra quando já são 200 para sítios de compartilhamento de atualização on-
milhões de pessoas (73% da população) com aces- line, dentre outras ferramentas on-line, e o modus
so à rede mundial de computadores. Por outro operandi da campanha é cooperativo, ao par com
lado, o universo relacionado à internet e às redes o espírito da internet 2.0 no que se refere a con-
digitais mudou tanto e tão velozmente em tão pou- vocar e pressupor a participação dos internautas
co tempo que devemos ser a primeira geração da na produção dos conteúdos e nos procedimentos
história a ter visto tantas metamorfoses e revolu- de difusão viral de informações e de mobilização.
ções de um mesmo sistema tecnológico: vimos Em 2004 e 2006 (para ficarmos nos ciclos elei-
computadores sem internet no início dos anos torais americanos, em coerência com o caso de
1980; vimos internet sem web no final daquela estudo) as campanhas eleitorais pareciam ter es-
década; vimos a web colocar os computadores ao tacionado no (e aperfeiçoado o) estágio website-
alcance de qualquer um nos anos 1990 e vemos e-mail, tirando-se daí o máximo proveito possí-
internet e web sem computadores menos de duas vel. Em 2008, aparece no vocabulário de campa-
décadas depois. nha nomes e termos, como social networking sites,
Da mesma forma, vimos em um intervalo de video-sharing sites, microblogging, feeds, Flickr,
no máximo quinze anos campanhas que, grosso SMS etc. que só eram comuns dentre os usuários
modo, podem ser designadas de proto-web, web, entusiastas do mundinho wired. Mas como pode-
e pós-web. As primeiras começam com um uso ria ser diferente? O MySpace foi criado em 2003,
tímido da internet no início dos anos 1990, em o Facebook é de 2004 e o YouTube e o Twitter
que basicamente reconhecia-se uma importante foram criados no longínquo ano de 2006. Dada
ferramenta da internet: o e-mail. A dimensão on- esta premissa, como saber como será a próxima
line dessas campanhas, claramente de natureza campanha on-line? E como pesquisá-la?
off-line, consistia em empregar computadores em Isso explica, a nosso ver, as características
rede como se fossem uma combinação de máqui- fundamentais da literatura científica internacional
na de escrever e aparelho de fax, servindo basica- sobre campanhas on-line. Ela é, antes de tudo,
mente para correspondência a distância. Depois pouco extensa, e a razão principal disso é o fato
vieram as campanhas baseadas na web em que o de que campanhas realmente desenhadas para o
centro da atividade eram os sítios de internet vin- ciberespaço não existiram antes de 2000 (BIMBER
culadas, no máximo, a bancos de dados empre- & DAVIS, 2003). Ela é pouco sustentada
gados para o arquivo e acesso a discursos, pan- empiricamente porque a velocidade das transfor-
fletos e outros materiais de campanha. A partir mações técnicas das campanhas on-line
dessas páginas e dos seus recursos, confirma- desencoraja os altos investimentos em pesquisas
vam-se os militantes, comunicava-se com a im- empíricas consistentes. Naturalmente, essa carac-
prensa, abriam-se canais de feedback com o elei- terística não é exclusiva da pesquisa sobre cam-
tor e arrecadavam-se fundos. Num primeiro mo- panhas on-line; antes, parece-nos uma caracte-
mento, o material on-line era em geral uma cópia rística comum a toda pesquisa sobre efeitos soci-
eletrônica do mesmo material empregado off-line; ais de tecnologias que mudam muito rapidamen-
só posteriormente características específicas do te. Antes, portanto, que se atinja alguma estabili-
padrão tecnológico do meio (hipertexto, recursos dade na própria tecnologia – nos casos em que
multimídia, convergência de aplicativos ou de dis- haja possibilidade disso acontecer –, a pesquisa
positivos, banco de dados etc.) são incorporadas. vale mais pelo seu valor de prospecção, registro e
Esse modelo foi sendo estabelecido na segunda documento de um estágio do fenômeno e de aná-
metade da década de 1990, atingindo um padrão lise de tendências a ele relacionadas do que por
definitivo provavelmente apenas nas eleições pre- algum possível poder de generalização dos acha-
sidenciais americanas de 2000. Por fim, acaba- dos em leis e normas.
mos de assistir e documentar uma campanha pós-
web, isto é, em que os conteúdos em páginas web Um exemplo do ponto de vista que aqui defen-
já não são o centro das operações de persuasão e demos é Campaigning On-line, um livro de Bimber
mobilização. Nesse novo padrão, as páginas são e Davis sobre as campanhas presidenciais ameri-
principalmente centros distribuidores de tráfego canas on-line de 2000, publicado pela primeira
que remetem para sítios de compartilhamento de vez em 2003. Os autores empreenderam conside-
vídeo ou de fotos, para sítios de relacionamento e rável esforço e recursos para agregar duas son-

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dagens de opinião a uma análise de conteúdo dos pré-candidatos democratas, do artigo de


sítios das campanhas e às clássicas entrevistas Georguieva (2008) sobre o uso do YouTube e do
com os gestores e projetistas das campanhas on- MySpace nas eleições de 2006 e do paper de
line: uma em nível nacional e outra em nível esta- Williams e Gulatti (2008) sobre o emprego do
dual. As sondagens tinham como fim estabelecer Facebook nas primárias presidenciais de 2008.
o nível real de efetividade das campanhas on-line,
III. O CASO DA CAMPANHA ON-LINE DE
retirando os pesquisadores da fase da mera opi-
BARACK OBAMA
nião a respeito disso. O resultado é muito interes-
sante e consistente, mas o conjunto dos achados Em coerência com todas as premissas apre-
resultantes de tanto esforço mal pode ser empre- sentadas até aqui, reforçamos que nosso propósi-
gado para compreender as eleições de 2004, ape- to ao apresentar este caso não é de descobrir prin-
nas um ano depois da publicação do livro, e prati- cípios gerais nem fazer prognósticos sobre o fu-
camente não possui valor explicativo para o fun- turo das campanhas on-line, mas fazer uma
cionamento e o efeito das campanhas on-line de prospecção, a mais abrangente e cuidadosa pos-
2008. Ou seja, a velocidade da alteração dos efei- sível, sobre recursos, meios, modos e instrumen-
tos sociais da tecnologia transformou uma pes- tos de um padrão de campanha digital recém-es-
quisa com justificada pretensão nomotética (vol- tabelecido, à luz de um juízo sobre novas tendên-
tada para o estabelecimento de leis gerais dos fe- cias de campanhas on-line. Nem mesmo quere-
nômenos), como convém a qualquer pesquisa mos inferir que esse padrão modelará as campa-
empírica, em um documento e em palpites sobre nhas on-line, nem mesmo num futuro próximo,
tendências de campanhas on-line. não apenas porque a prudência obriga a ter consi-
derável modéstia profética no que tange aos efei-
De todo modo, a literatura especializada inter-
tos sociais da internet, mas porque sabemos que
nacional documenta e analisa campanhas on-line
campanhas eleitorais precisam lidar com legisla-
desde o início da década de 1990, e inclui vários
ções eleitorais e com circunstâncias políticas. No
tipos de campanhas (presidenciais, para Gover-
Brasil, como vimos nas eleições deste ano, a Jus-
nador, Senador e Deputado Parlamentar) em al-
tiça Eleitoral seguiu a tendência já estabelecida de
guns países. Tomando como base o ano da elei-
equivaler paridade de oportunidades com pobreza
ção de referência e de tipologia de campanhas, o
de oportunidades. Algo assim havia já sido tenta-
trabalho mais remoto é o de Myers (1993), que se
do nas eleições de 1994, quando foi proibido o
refere às campanhas eleitorais americanas de 1992,
uso de gravações externas na propaganda eleito-
ainda numa fase proto-web. O interstício plena-
ral (Lei n. 8 713/93, art. 76, § 1º) e diminuído o
mente Web é documentado nos estudos sobre as
tempo de propaganda em geral, para igualar as
campanhas entre 1996 e 2000: D’Alessio (1997),
chances entre os que tinham recursos e experiên-
Margolis et alii (1997), Klotz (1998) e Braima e
cia para tanto e os que não sabiam ou podiam
Sothirajah (1999) estudaram as campanhas ame-
fazer um uso fecundo desses instrumentos. Ora,
ricanas de 1996, Tops et alii (2000) estudaram a
esse mesmo princípio congelou oficialmente, na
campanha de 1998 nos Países Baixos e Fernandez
nossa eleição mais recente, o padrão brasileiro de
(2005) escreveu uma dissertação de mestrado
campanhas on-line em um disciplinadíssimo mo-
sobre o ciclo eleitoral brasileiro de 1998 a 2002.
delo-Web, bem distante das possibilidades técni-
As eleições, em alguns países, de 2000 e 2001
cas e sociais dos recursos digitais disponíveis para
foram as mais e melhor documentadas do mode-
comunicações em rede. Essa é a razão de, para se
lo-web: Coleman (2001), Stromer-Galley et alii
compreender o estado da arte das campanhas on-
(2001), Puopolo (2001), Foot e Schneider (2002),
line, fora preciso fazer uma prospecção e análise
Kaid (2002; 2003), Bimber e Davis (2003),
de tendências de uma campanha estadunidense e
Johnson e Kaye (2003), Gibson et alii (2003),
não de uma brasileira.
Kluver (2004), além do próprio Fernandez, já men-
cionado. O período de consolidação e saturação III.1. My.Barack.Obama e redes sociais on-line
do modelo-Web também é documentado em Kaid
No início de 2007, a equipe do então senador
(2006), Schneider e Foot (2006), Albrecht (2007),
Barack Obama contratou Chris Hughes, um dos
e Klotz (2007). Para o período pós-web, ainda há,
fundadores da rede social on-line Facebook, para
naturalmente, poucos registros, com exceção da
chefiar sua campanha on-line ainda nas primá-
tese de Mulhall (2007) sobre o uso de blogs pelos

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rias. A coordenação da campanha por um dos cri- dutos podem optar por ter uma ““página”” em
adores da maior rede social on-line dos Estados vez de um ““perfil”” como os usuários comuns.
Unidos e segunda maior no mundo levou, natural- Hoje já são mais de 4,6 milhões os usuários do
mente, a um emprego sem precedentes das cha- Facebook que o adicionaram. O maior grupo de
madas mídias sociais. apoio a Obama, dentre os mais de 500 que exis-
tem, possui quase um milhão de membros.
Com isso, o sítio de Obama (disponível em
http://www.barackobama.com, acesso em No MySpace, a equipe usou bem as
26.jul.2009) contemplou todas as requisições que especificidades dessa rede, como a possibilidade
a cultura política norte-americana exige: página de personalização e edição do leiaute e inserção de
para doações à campanha, biografia dos candida- diversos tipos de conteúdo multimídia. Dessa for-
tos e de suas mulheres e posições políticas sobre ma, no próprio perfil havia widgets com atualiza-
as diversas esferas nas quais um Presidente exer- ções de Twitter, vídeos do YouTube e do próprio
ce influência. Além disso, porém, foi criada uma canal de vídeo do MySpace. Também possuía uma
rede social própria, chamada de lista de links externos chamada de ““Obama
My.Barack.Obama, ou simplesmente MyBO. À Everywhere””, como existe no sítio principal.
diferença de um sítio de relacionamento comum, Dessa vez eram apenas seis links: YouTube,
as características destacadas nos perfis dos usu- Facebook, LinkedIn, Flickr, Digg e (uma novida-
ários são relacionadas ao engajamento político: de) para conteúdo no iTunes. A inserção desse
eventos produzidos, presença a eventos, ligações link deve-se ao fato de que o MySpace é uma
feitas, visitas de porta em porta, número de rede social fortemente utilizada por grupos musi-
postagens no blog, doações para a campanha, cais, e as experiências que os usuários procuram
montante levantado e grupos inscritos. O usuário geralmente envolvem música.
também podia convidar amigos do Facebook para
No perfil também estavam disponíveis os có-
participar do MyBO; a contagem de amigos con-
digos de incorporação de alguns aplicativos em
vidados também é exibida no perfil.
flash e imagens que podem ser inseridos por qual-
A interação entre os usuários é, portanto, quer usuário do MySpace no seu próprio perfil.
direcionada à mobilização. Em redes como Orkut, Esse apuro na criação e atualização do perfil re-
MySpace e Facebook, os usuários podem exibir sultou em 1,1 milhões de amigos e mais de 140
o volume do seu capital social em virtude da di- mil comentários, quase todos positivos.
mensão de sua rede de amigos exibida, das co-
Obama esteve ainda nas redes BlackPlanet,
munidades de que participa, de formas de reco-
MiGente, AsianAve, Glee e Faithbase, todos de
nhecimento produzidas pelos participantes da sua
responsabilidade da Community Connect. Esses
rede em indicações que estabelecem, por exem-
cinco sítios são redes sociais de nicho. As três
plo, quão ““sexy, cool e confiável”” cada um é,
primeiras são para ““etnias”” minoritárias.
ou ainda em função dos diferentes tipos de
BlackPlanet para afroamericanos; MiGente é vol-
aplicativos sociais hoje existentes. No MyBO, por
tada para hispânicos e AsianAve para asiáticos.
sua vez, é o engajamento político o aferidor máxi-
Glee é sigla para Gay, Lesbian and Everyone Else.
mo de capital.
FaithBase é voltada para norte-americanos católi-
Mas a máxima da publicidade on-line que diz cos. Os cinco sítios mantêm várias semelhanças
““vá onde seus clientes estão; não tente trazê-los”” estruturais, especialmente no leiaute.
é respeitada. Por isso, o sítio do candidato pos-
III.2. Compartilhadores de conteúdo: YouTube e
suía uma lista de links chamada ““Obama
Flickr
Everywhere””. São links para outras 16 mídias
sociais: Facebook, BlackPlanet, MySpace, No sítio de armazenamento de vídeos YouTube,
Faithbase, YouTube, Eons, Flickr, Glee, Digg, o terceiro sítio mais visitado da internet (ALEXA,
MiGente, Twitter, MyBatanga, Eventful, AsianAve 2009), Obama tinha três canais de vídeo. O pri-
e LinkedIn. meiro (YOUTUBE, 2009) funcionou desde setem-
bro de 2006, e conta, em fevereiro de 2009, com
Tanto pelo histórico de Chris Hughes quanto
mais de 1 800 vídeos postados – entre cobertura
pela dimensão da rede social on-line, a equipe de
de eventos, debates, material da televisão e vídeos
Obama investiu U$ 643 000 apenas no Facebook.
específicos feitos para a internet. Impossível di-
Nessa rede social, personalidades, marcas e pro-

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zer com precisão o número de vezes que todos priamente dita, foram 20 mil. Muitas dessas foto-
esses vídeos foram vistos, mas é perfeitamente grafias mostram o Presidente em bastidores e em
possível estimar-se a casa das dezenas de milhões. momentos mais íntimos.
Esse canal foi atualizado pela última vez em de-
III.3. Social bookmarking
zembro de 2008.
Os sítios em que os internautas classificam as
Durante a transição, Obama lançou o portal
informações que encontram na internet, os cha-
www.change.gov e o YouTube ganhou um novo
mados sítios de social bookmarking, atingiram
canal, específico para assuntos da transição.
bastante popularidade. Dentre esses sítios, o Digg
Destacam-se os discursos semanais que iam ao
consolidou-se como o sítio colaborativo de notí-
ar aos sábados. O canal teve cerca de 300 mil
cias mais popular dos Estados Unidos. Nele é pos-
visualizações. Além disso, a equipe de Obama ar-
sível enviar notícias, escolher as matérias mais
mazenou seus discursos em vários sítios, como
relevantes e comentar o que interessar ao usuá-
AOL, Yahoo, Brightcove e Vimeo, mas, no
rio. Com cerca de 6,8 milhões (MICROSOFT
www.change.gov, os vídeos que apareciam eram
ADVERTISING, 2009) de visitantes únicos a cada
provenientes do YouTube. Essa foi uma decisão
mês, o Digg também integrou os esforços da cam-
óbvia em termos econômicos: a hospedagem é
panha digital democrata. Ainda no período das
gratuita.
primárias foi criada a seção “Digg the Candidates”
Deve-se destacar, no que diz respeito à cam- (DIGG, 2009), área em que era possível acompa-
panha no YouTube, o fato de simpatizantes torna- nhar a atividade de cada candidato no Digg. Obama
rem-se eles mesmos produtores de conteúdos – o criou o seu espaço dentro dessa seção: durante o
que é uma das maiores novidades dessa campa- intervalo entre primárias e eleição, ele enviou 100
nha. O YouTube é pleno de vídeos de pessoas que notícias e votou em outras 148. Seu perfil foi vis-
fazem campanhas a seu favor. Fala-se aqui tanto to 185 mil vezes.
de anônimos quanto de personalidades da esfera
Outro sítio de social bookmarking bastante po-
cultural norte-americana. O vídeo que o líder da
pular no Estados Unidos é o Delicious. Aí, os mais
banda pop Black Eyed Peas, Will.i.am, publicou
de cinco milhões de usuários cadastrados podem
na internet, musicando um discurso de Obama,
enviar e armazenar os links de suas páginas favo-
chegou a faturar o Webby Awards, o chamado
ritas, etiquetá-las e fazer os comentários deseja-
“Oscar da internet”, promovido anualmente pela
dos. São mais de 150 milhões de links marcados
International Academy of Digital Arts and
no Delicious. Nesse sítio pode ser percebido o
Sciences (ROLLING STONE, 2008). Somente no
“interesse” dos usuários pelo conteúdo ligado a
canal oficial em que foi armazenado, o vídeo teve
Obama, pois mais de 210 mil internautas
16 003 152 visualizações (sem contar o fato de
etiquetaram com a palavra “Obama” links envia-
outras pessoas terem-no reproduzido em suas
dos ao Delicious. Apenas o sítio oficial do demo-
próprias contas do YouTube). Valendo-se das fer-
crata, o www.barackobama.com.br (acesso em
ramentas do YouTube, por exemplo, os internautas
27.jul.2009), foi selecionado como favorito por 3
ainda criaram o Youbama (disponível em: http://
132 internautas.
www.youbama.com; acesso em 27.jul.2009), um
canal no qual as pessoas poderiam enviar vídeos III.4. Blogosfera
de si próprias dando motivos para votar ou não
É difícil fazer uma análise da influência do
votar em Barack Obama.
conteúdo gerado por ‘blogueiros’ na campanha
Já no Flickr, o maior compartilhante de foto- democrata. O relatório de junho de 2008 da Pew
grafias na internet, o perfil do candidato possuía Internet & American Life Project (PEW
nada menos que 2 635 álbuns cobrindo eventos RESEARCH CENTER, 2008) traz alguns exem-
em que a dupla democrata e suas esposas partici- plos dos acontecimentos mais marcantes da
param, além de manifestações de apoio realizadas blogosfera, como o infeliz comentário de Obama
por terceiros. Em média, cada álbum possuía cerca para um arrecadador de São Francisco a respeito
de duas dezenas de fotos. Foram mais de 53 mil dos eleitores das pequenas cidades, sobre eles
fotografias postadas desde fevereiro de 2007 até estarem tornando-se “amargos” com o nível de
dezembro de 2008. Entre setembro e início de desemprego e sobre serem do tipo que “se agarra
novembro de 2008, na corrida presidencial pro- às armas, ou religião, ou antipatia”. O áudio dessa

35
“POLITICS 2.0”: A CAMPANHA ON-LINE DE BARACK OBAMA EM 2008

fala foi gravado em arquivo de áudio em formato de Obama; informando onde estava e o que faria
mp3 e publicado por Mayhill Fowler, ‘blogueira’ em determinado dia. Todos os eventos e encon-
do The Huffington Post (FOWLER, 2008). Se- tros anunciados podiam ser assistidos, via internet,
gundo a Pew, esse evento tornou-se uma questão em seu sítio. Pelo Twitter também era possível
central nas primárias da Pensilvânia. saber, de antemão, quando Obama iria aparecer
na TV ou outra novidade lançada em sua campa-
Todos os candidatos mantiveram blogs na
nha. Na véspera e no dia da eleição, Obama en-
internet, alimentando o desejo dos 39% de usuári-
viou apenas duas mensagens pedindo votos; em
os da internet mencionados pela Pew Internet que
ambas, havia indicações de como descobrir, via
buscavam material não-filtrado pela mídia sobre
telefone, SMS ou internet, um local para votar.
seus posicionamentos, agendas, discursos etc. A
Em 5 de novembro, após os resultados das elei-
contribuição de Barack Obama para a blogosfera
ções serem divulgados, escreveu: “Nós fizemos
contou com os seguintes itens: a) Em seu sítio,
história. Tudo isso aconteceu porque você deu
www.barackobama.com, existe um blog oficial,
seu tempo, talento e paixão. Tudo isso aconteceu
ainda em atividade em maio de 2009, assinado por
por sua causa. Obrigado”. Aproximadamente 144
seus assessores; b) em sua rede social, a
mil usuários do Twitter tiveram a conta de Barack
MyBarackObama, os usuários cadastrados podi-
Obama em sua lista de ‘seguidos’, já Obama ‘se-
am ter blogs. Não há um dado sobre o número de
guiu’ mais de 168 mil. Ao fazer isso, produziu-se
associados a essa rede, mas o banco de dados
a mensagem de que ele queria ouvir as pessoas e
dessa comunidade de blogs conta, desde agosto
que estava disposto a conversar. O perfil de Hillary
de 2006, com mais de 400 mil postagens; c) se-
Clinton, que foi apagado logo após as primárias,
gundo a Agência Clickz, embora o Federal Election
pelo contrário, não fazia questão de seguir nin-
Comission não tenha reportado, US$ 149 000 fo-
guém.
ram pagos por Obama ao Blogads, da Pressflex,
um serviço de propaganda em blogs, por anúnci- III.5. Buscadores de sítios de internet: busca paga
os incentivando a votação nas últimas semanas e busca orgânica
anteriores à eleição (KAYE, 2009).
Genericamente falando, a campanha democrata
Nenhuma dessas postagens ou blogs específi- gastou mais de US$ 16 milhões em publicidade
cos, contudo, chamaram a atenção dos analistas on-line. O candidato republicano gastou cerca de
de mídia e marketing. De fato, as atenções volta- US$ 3,6 milhões. De todo o dinheiro investido por
ram-se para o microblogging, uma nova catego- Obama no meio on-line, o Google faturou a maior
ria que nasceu em março de 2006, no Facebook, fatia de bolo, US$ 7,5 milhões, ou seja, por volta
mas que só começou a consolidar-se em agosto de 45% do total – parte disso pelos anúncios e
daquele ano, com o lançamento de uma ferramenta links patrocinados em sua rede de afiliados e ou-
chamada Twitter, que é uma mídia social em que tra parte pelos anúncios que apareciam nas pági-
os usuários têm um espaço de 140 caracteres para nas de resultados do buscador. O Yahoo!, em se-
escrever, inclusive comunicando-se com outros gundo lugar, ficou apenas com US$ 1,5 milhões.
usuários. Foi lançado em agosto de 2006 pela
Dentre as diversas formas de fazer-se publi-
Obvious Corp., uma pequena empresa californiana
cidade on-line, uma das mais populares é o link
de produtos de internet. Um ano depois, o Twitter
patrocinado, prática que consiste em exibir anún-
crescia a ponto de ter dado luz à holding Twitter,
cios em páginas dos buscadores. Esses anúncios
Inc., ter entre 4 e 5 milhões de usuários e ganhar
são relacionados à busca realizada pelo internauta,
de cinco a dez mil contas novas por dia.
de modo que a publicidade exibida é coerente com
O perfil de Obama no Twitter foi criado em 29 o assunto buscado pelo usuário. A campanha de
de abril de 2007 e segue ativo pelo menos até maio Obama investiu maciçamente nessa forma de co-
de 2009, embora quase não tenha sido utilizado municação on-line.
após o fim das eleições. Sua primeira mensagem
A experiência da equipe de Obama com os
diz: “Pensando que só nos falta uma assinatura
links patrocinados, porém, começou bem antes
para pôr fim à guerra no Iraque”, seguida de um
da campanha eleitoral propriamente dita. Ainda
link para o seu sítio pessoal. Tem menos de 300
no período das prévias partidárias, a equipe do
mensagens escritas até agora, a maior parte de-
pré-candidato foi uma das primeiras a alocar re-
las, contudo, diz respeito à agenda da campanha
cursos nos buscadores. O objetivo, nessa fase,

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 29-43 OUT. 2009

era criar uma lista de simpatizantes e de contri- Esses anúncios eram exibidos junto aos resulta-
buintes para a campanha. Passado esse período dos das buscas por palavras como “Joe Biden”,
e tendo Obama ganhado as primárias de seu par- “Obama Vice President” etc. A idéia de “comprar”
tido, a equipe responsável pelo marketing digital essas palavras nos buscadores veio da certeza de
do democrata já possuía um grande conhecimen- que aumentaria a busca pelo nome do candidato
to sobre o uso dos buscadores, podendo execu- democrata a vice com o anúncio de sua indica-
tar uma estratégia ainda mais ousada durante a ção. Isso de fato ocorreu. Entre os dias 18 de
campanha. agosto e 23 de agosto de 2008, as buscas por
“Joe Biden” aumentaram 125 vezes (GOOGLE
Ao decorrer do pleito eleitoral, a equipe do
TRENDS LAB, 2008).
democrata decidiu anunciar em várias possibili-
dades de buscas relacionadas aos principais pro- Todo o esforço para atrair tráfego por meio de
blemas do país. Essa estratégia deveu-se ao fato links patrocinados gerou resultados bastante inte-
de que por volta de 44% (MARKETING ressantes para a campanha democrata. Por volta
CHARTS, 2008) dos internautas usaram de 14% de toda a visitação do sítio de Barack
buscadores para achar mais informações sobre Obama porviu de links patrocinados. A estratégia
os candidatos à Presidência, enquanto 85% de segmentação e de diferenciação das páginas de
(STERLING, 2008) buscaram saber qual a pla- destino também levou a resultados significativos.
taforma dos candidatos para determinados as- Por volta de 83% dos internautas que clicavam
suntos. Entre os assuntos mais buscados, saúde nos links patrocinados do democrata viam mais
pública, economia e guerra no Iraque lideravam de uma página do seu sítio.
as pesquisas dos usuários. Juntas, as buscas por
Apesar disso, o potencial dos buscadores não
esses temas no principal buscador americano, o
se esgota em links patrocinados porque apenas
Google, que possui 64% do mercado (BUSINESS
26% dos internautas clicam nos anúncios; res-
2.0 PRESS, 2009), somam em média cerca de
tam, pois, 74% dos que clicam nos resultados
13,5 milhões ao mês. Como 26% dos internautas
orgânicos. Ao utilizar um buscador, o resultado
afirmavam clicar nos anúncios dos candidatos,
de uma pesquisa realizada pelo usuário é exibido
isso significava que os links patrocinados podi-
de forma dividida em dois grupos: os anúncios
am atrair um fluxo de visitação de cerca de 3,5
contextuais e o resultado propriamente dito. Este
milhões de pessoas.
último forma o chamado resultado orgânico da
Para conseguir o máximo de resultados des- busca, ou seja, é uma classificação dos sítios
sas visitações, a equipe de Obama criou páginas que atendem a uma pesquisa do internauta. A
de destino especiais para cada tema. Assim, uma maior parte dos usuários da web clica nesses resul-
pessoa que buscava por “public health” era tados orgânicos, e não nos links patrocinados.
direcionada para uma área do sítio de Barack Obama Como os buscadores são o segundo serviço on-
dedicada às propostas democratas para a saúde line mais popular (EMARKETER, 2008), estar
pública. Além de segmentar por interesse, houve bem posicionado nas buscas orgânicas é uma for-
uma segmentação geográfica. Essa prática consis- ma bastante interessante de estabelecer contato
te em direcionar anúncios específicos para cada com os internautas. Esse fato não ficou fora do
região do país. Dessa forma, o candidato pôde radar da campanha de Barack Obama. Principal-
direcionar maior verba para anúncios exibidos nas mente, porque 46% dos eleitores afirmam ter a
buscas de internautas em que o pleito estava mais internet como fonte de informações sobre os can-
acirrado ou em que a vitória era mais aguardada. didatos, e cerca de 85% dos internautas empre-
Além disso, Obama exibia publicidade que tratava gam buscadores para saber o que os candidatos
do problema especifico de uma localidade. pensam sobre determinados assuntos.
Links patrocinados também foram usados pe- Ainda durante as primárias, o sítio de Obama
los adversários do democrata. Num dos casos, era o mais bem posicionado entre os concorren-
assim que Joe Biden foi anunciado como candi- tes. Nesse período, o sítio do democrata apare-
dato a vice-Presidente, os republicanos iniciaram cia na frente em 60% (STERLING, 2008) das
uma agressiva série de anúncios cujo objetivo era buscas relacionadas aos temas em voga na cam-
levar os internautas a ver o vídeo em que ele, ain- panha. Para conseguir esse bom posicionamento,
da nas primárias, chama Obama de inexperiente. a equipe de Obama incentivou a criação de blogs

37
“POLITICS 2.0”: A CAMPANHA ON-LINE DE BARACK OBAMA EM 2008

por parte dos simpatizantes como forma de criar Na última semana antes da eleição americana,
uma rede de links que apontassem para o sítio o volume de buscas relacionadas ao candidato de-
do candidato, os chamados inbound links. Tais mocrata era duas vezes maior que as buscas por
links são um dos principais critérios para se atri- McCain. Nesse período, os termos mais busca-
buir uma classificação a um sítio de internet. Ao dos pelos internautas estavam relacionados à bio-
final do pleito eleitoral, o sítio de Obama possuía grafia de Obama, sua origem natal, à sua avó e às
cerca de dois milhões de inbound link (LEWIS, suas propostas para o controle de armas. Outro
2008), o que lhe fazia figurar entre os primeiros dado importante é que, nos estados em que a dis-
colocados para uma enorme quantidade de bus- puta estava mais acirrada, Obama liderava no
cas. Ainda assim, o sítio do candidato não apa- ranking de buscas.
recia para 83% das buscas relacionadas aos gran-
III.6. Jogos eletrônicos e mensagens de texto
des assuntos da campanha.
As últimas ferramentas on-line dignas de
Para conseguir um alcance maior nas buscas
menção são os jogos eletrônicos e as mensagens
orgânicas, a estratégia de Obama de usar as mídias
de texto. Nesse quadro, é digno de registro, em
sociais foi fundamental. Ao incentivar que parti-
primeiro lugar, o uso de anúncios em jogos ele-
dários criassem blogs e participassem de fóruns,
trônicos on-line. Por quase um mês (de 6 de
a equipe da campanha garantia que a produção de
outubro a 3 de novembro de 2008), em dez
conteúdo pró-democrata disponível na web espa-
estados norte-americanos, os jogadores de jo-
lhasse-se. Essa tática também teve utilidade na
gos eletrônicos da empresa Eletronic Arts, no
defesa da imagem do candidato de ataques de ad-
serviço on-line Xbox Live, da plataforma de jo-
versários. Por exemplo, durante a campanha elei-
gos Xbox 360, da Microsoft, puderam visualizar
toral surgiu o boato de que o candidato democra-
anúncios do candidato democrata. Destaque-se
ta não era nascido em território americano. Como
que o Xbox 360 foi o segundo console mais ven-
parte da estratégia de defesa de Obama, a equipe
dido no mundo, com 28 milhões de unidades
da campanha on-line incentivou que partidários
vendidas até o fim de 2008 (GRAFT, 2009), per-
democratas gerassem conteúdo negando e expli-
dendo somente para o Wii, da Nintendo, com
cando a situação. Assim, em pouco tempo, qual-
44,9 milhões (NINTENDO, 2009). Ademais, os
quer busca sobre a certidão de nascimento de
videogames, ao menos nos Estados Unidos, não
Barack Obama encontrava, entre os primeiros re-
são um produto associado somente aos jovens.
sultados, conteúdo escrito por democratas que
Segundo informações da Entertainment Software
desmentia o boato. Também no caso da estratégia
Association (ESA), a idade média dos jogadores
dos republicanos de divulgar o vídeo em que Biden
estadunidenses é de 35 anos. Do universo de jo-
critica Obama, a equipe democrata agiu pronta-
gadores, 49% têm entre 18 e 49 anos, 26% tem
mente ao incentivar e produzir vídeos dando sua
50 anos ou mais e apenas 25% têm menos de 18
versão da história, de modo que em pouco tempo
anos (ESA, 2008). Segundo a agência ClickZ,
as buscas por esse vídeo encontravam principal-
foram gastos U$ 94 mil (KAYE, 2009) em anún-
mente as explicações democratas da situação.
cios em jogos eletrônicos.

FIGURA 1 – PUBLICIDADE DE OBAMA NO JOGO BURNOUT: PARADISE

FONTE: Finalboss.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 29-43 OUT. 2009

Por fim, vale destacar o uso do chamado campanha de Barack Obama não se destacou exa-
marketing móvel. Ao público, foram oferecidas tamente pelo pioneirismo em geral, apenas pelo
mensagens de texto (SMS), um sítio específico pioneirismo político. Todas as práticas usadas por
para navegadores de celular, vídeos, banners e cha- sua equipe já haviam sido testadas com sucesso
madas interativas por voz. Tudo isso por meio de por anunciantes via publicidade digital. O grande
apenas duas plataformas: o código 62262 (a cor- diferencial da campanha democrata, entretanto,
respondência numérica para “obama” no teclado foi a amplitude das ações e o fato de todas as
dos celulares) e o sítio mybarackobama.com. Houve possibilidades da comunicação digital terem sido
também um aplicativo gratuito para o iPhone (ce- exploradas de maneira eficiente. Os democratas
lular da empresa Apple ícone da tecnologia móvel) criaram um conjunto de mecanismos de comuni-
que permitia acessar informações disponíveis no cação on-line que dialogavam entre si e forma-
principal sítio da campanha, descobrir os eventos ram um sistema bem articulado: com o banner
políticos do entorno e valer-se da agenda telefôni- exposto num jogo eletrônico, ele poderia levar o
ca armazenada no aparelho para destacar os ami- internauta a seu sítio, que poderia levá-lo ao seu
gos para os quais o usuário ainda não havia ligado canal de vídeos no Youtube ou à rede Facebook,
para pedir voto ou apoio. onde poderia acabar encontrando as fotos do Flickr
e, por aí vai. Obama compreendeu que o forte do
Para Mickey Khan, do sítio
uso da internet e das tecnologias de comunicação
www.mobilemarket.com (acesso em 28.jul.2009),
on-line gira em torno de duas dezenas de ferra-
o caráter simples e convidativo das mensagens de
mentas, e, assim, ao utilizar todas, conseguiu o
texto, vídeo ou das chamadas gravadas davam
máximo de visibilidade possível.
um caráter pessoal à publicidade, declarando que
“os apoiadores sentiam que estavam conectados Em uma campanha on-line, vê-se que a visibi-
e que o candidato falava com eles” (KHAN, 2009). lidade não se resume a exibir conteúdo, como no
modelo web clássico. A equipe de Barack Obama
O dia 4 de novembro de 2008, aliás, foi
demonstrou grande sensibilidade à cultura de co-
marcante pelo recorde de 803 milhões de SMS
nexão eletrônica ao criar meios e ferramentas de
enviados entre os norte-americanos, número que
fomento à colaboração. Respeitando a
pode ter sido superado pelo dia da posse, 20 de
especificidade de cada sítio e da cada dispositivo,
janeiro de 2009, para o qual a estimativa de men-
foi lançado conteúdo para que os internautas pu-
sagens trocadas pela empresa de infra-estrutura
dessem exibir suas preferências políticas, com-
para telefonia móvel VeriSign era cerca de 1,4 bi-
partilhar produtos e incentivar a votação. O lança-
lhão; estimativa esta ainda não confirmada (FO-
mento do My.Barack.Obama foi crucial por esta-
LHA ONLINE, 2009).
belecer um sítio de relacionamento social de apoio
Às vésperas de anunciar seu vice-Presidente, ao candidato exclusivamente voltada à discussão
os marqueteiros de Obama fizeram a campanha política. Não é por acaso que a maior parte da
“Seja o primeiro a saber”, na qual, cadastrando- arrecadação de Obama deu-se pela internet
se pelo código 62262, o eleitor receberia em pri- (OBAMA SETS RECORD, 2008).
meira-mão o nome do escolhido. Houve vazamento
Qual teria sido, finalmente, a novidade repre-
da informação para a imprensa poucas horas an-
sentada pela campanha on-line de Obama? Em
tes, mas, ainda assim, os 2,9 milhões de SMS que
nossa opinião, consistiu em transformar uma rota
foram enviadas, anunciando a entrada de Joe Biden
considerada acessória em campanhas políticas –
na chapa, tornaram-se, para Mickey Khan, “a
o universo das trocas de informações digitais e
maior ação de marketing móvel via mensagem de
on-line – numa via alternativa à campanha media-
texto da história até então” (KHAN, 2008).
da pelos meios de massa. Em geral, as campa-
IV. CONCLUSÕES nhas contemporâneas (inclusive as campanhas
políticas) vêm adotando três rotas de produção
Vimos até aqui quão variada foi a ação de Barack
de informação, imagem e persuasão: primeiro, as
Obama no uso das tecnologias digitais. Dos tra-
redes de comunicação de massa, principalmente
dicionais banners em sítios de grande visibilidade
a TV, como rota principal; depois, as redes soci-
à criação da sua própria rede social, passando pela
ais (que também são redes de comunicação,
mobilidade dos celulares e até mesmo uma incur-
interpessoal), como rota secundária e complemen-
são nos jogos on-line. Mas, a bem da verdade, a
tar; por último, as redes sociais digitais, as redes

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“POLITICS 2.0”: A CAMPANHA ON-LINE DE BARACK OBAMA EM 2008

de comunicação e relacionamento baseadas no Não há, contudo, como desconhecer que for-
universo digital, grande parte on-line, emprega- mam parte importante do ambiente social e político
das em geral como rotas acessórias. A campanha que a explicam: a) uma cultura de conexão ao re-
de Obama estabelece um novo padrão quando dor de computadores e de mais alguns aparelhos
dedica considerável quantidade de energia, perí- eletrônicos, todos baseados ou relacionados à
cia e recursos à terceira rede, ao par com sua internet, como característica social contemporâ-
crescente importância social. Com isso, conse- nea; b) uma experiência de conexão, disseminada
gue gerar uma sofisticada alternativa de comuni- principalmente entre os mais jovens, que recorre a
cação e relacionamento às outras duas rotas tra- cerca de duas dezenas de ferramentas e práticas de
dicionais, alcançar e comprometer um considerá- comunicação. Desse modo, ao configurar uma
vel universo de eleitores engajados na cultura da campanha capaz de lidar de maneira eficaz com os
conexão digital e, por fim, transformar duas dúzi- sujeitos envolvidos nessa nova cultura de conexão,
as de ferramentas e recursos das redes digitais e alcançando-os por meio de praticamente todas as
os seus muitos milhares de usuários em partici- ferramentas disponíveis, para mobilizá-lo ou
pantes da sua campanha. convidá-lo a participar, a candidatura Obama au-
mentou as suas chances eleitorais (numa propor-
Ao fazer toda essa parafernália tecnológica tra-
ção ainda a ser estabelecida) e levou o patamar das
balhar a seu favor, por fim, Obama atingiu da
campanhas políticas on-line a outro nível.
maneira mais direta os seus eleitores. E, com muita
eficácia – como se pôde ver aqui, sobretudo no A compreensão de uma campanha on-line es-
conteúdo das mensagens SMS e em sua rede so- tende-se para além da investigação das ferramen-
cial – ele aproximou-se das pessoas produzindo a tas e dispositivos empregados e da prospecção do
idéia de que era alguém à distância apenas de um padrão de habilidade e familiaridade empregado
clique do seu eleitor. A impressão resultante desta no seu manejo. Embora estejamos perfeitamente
análise é a de que, para o eleitor-internauta ameri- convencidos de que o estudo de campanhas on-
cano, ao estabelecer esse ambiente de diálogo line venha pecando por excessivo “conteudismo”
durante a campanha, Barack Obama não estava (concentrando-se principalmente no que se diz nos
fazendo apenas publicidade. sítios de internet, blogs etc.), a compreensão das
ferramentas empregadas e da sua importância
Nunca é demais reiterar que esta pesquisa nem
político-eleitoral precisa ser complementada por
de longe autoriza-nos a estabelecer uma relação de
uma investigação sobre a mensagem que por meio
causa e efeito entre uma campanha on-line eficien-
delas circulou e, por fim, por uma avaliação sobre
te e o êxito eleitoral de Obama. Nem mesmo entre
a qualidade das ferramentas e dos dispositivos
o emprego, pela sua campanha on-line, de ferra-
utilizados durante a campanha do ponto de vista
mentas que fazem parte do universo dos eleitores
do fortalecimento da democracia. Como nosso
mais jovens e a enorme mobilização e engajamento
propósito neste estudo consistiu numa prospecção
destes (aliás, em absoluto contraste com o que sus-
e numa análise de tendências relacionadas aos re-
tentam os defensores da decadência inevitável, nes-
cursos de comunicação on-line empregados, só
sas eleições, do capital social americano justamen-
resta-nos esperar que outros estudos venham lan-
te dos eleitores abaixo dos trinta anos). Muitos ou-
çar luz sobre outros aspectos envolvidos nesta
tros fatores fazem parte do ambiente social e polí-
campanha.
tico dessa inusitada eleição presidencial americana,
e serão devidamente apreciados com o tempo.

Wilson Gomes (wilsonsg@ufba.br) é Doutor em Filosofia pela Pontificia Università San Tommaso
D’Aquino e Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Breno Fernandes (brenofernandes@gmail.com) é Graduando em Jornalismo na Universidade Federal
da Bahia (UFBA).
Lucas Reis (lucca0306@gmail.com) é Graduando em Comunicação Social na Universidade Federal da
Bahia (UFBA).
Tarcizio Silva (tarushijo@gmail.com) é Graduando em Comunicação Social na Universidade Federal da
Bahia (UFBA).

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 29-43 OUT. 2009

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34: 347-354 OUT. 2009
ABSTRACTS

“POLITICS 2.0”: BARACK OBAMA’S ON- LINE 2008 CAMPAIGN


Wilson Gomes, Breno Fernandes, Lucas Reis and Tarcizio Silva
This article examines the most recent stage in patterns of on-line presidential political campaigning,
from the point of view of the resources employed in operations of political campaigning through
digital networks. Since the 2008 American elections in general, and Barack Obama’s on-line campaign
in particular, represent the most recent and to date most successful facet of this type of political
operation, the resources and instruments used in his campaign will be taken as a case study. Thus,
we inquire into an experience in the use of digital and on-line resources in political campaigning,
attempting to detect which levels this on–line campaigning occurred at and to arrive at some
generalizations on the tendencies and possibilities for this type of political campaign. We conclude
that, although the use of digital communications resources should not be seen as the cause of
Obama’s success, nor even of the mobilization it generated or his popularity among young voters, it
does nonetheless make up a part of the social and political environment that determined these
phenomena.
KEYWORDS: On-line campaigns; Barack Obama; Internet; political communication.
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34: 357-365 OUT. 2009
RÉSUMÉS

“POLITICS 2.0”: LA CAMPAGNE ON LINE DE BARACK OBAMA EN 2008


Wilson Gomes, Breno Fernandes, Lucas Reis et Tarcizio Silva
Cet article examine le stage le plus récent du modèle des campagnes politiques on line pendant les
élections présidentielles en prenant en compte des ressources et des outils utilisés et intégrés aux
opérations de communication politiques des réseaux numériques. Comme les élections américaines de
2008, en général, et la campagne on line de Barack Obama, en particulier, en représentent la face la
plus récente et jusqu’à présent la plus réussie de ce type d’opération politique, les ressources et les
outils utilisés pendant la campagne d’Obama seront pris comme une étude de cas. Il s’agit, donc, d’une
prospection sur une expérience d’emploi de ressources numériques et on line dans des campagnes
politiques dont l’objectif est de reconnaitre le niveau que les campagnes on line ont atteint et d’établir
les conséquences sur les tendances et les possibilités de ce type de campagne politique. Nous concluons
que, bien que l’emploi de ressources de communication numérique ne soit pas la cause de la réussite de
la campagne d’Obama ou de la mobilisation et de la popularité parmi l’électorat jeune, ces ressources
sans doute intègrent le cadre social et politique qui a défini ces phénomènes.
MOTS-CLÉS : campagnes on line ; Barack Obama ; Internet ; communication politique.

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