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Recorrências Lineares Não Homogêneas

de Segunda Ordem
Mariana Ferreira
Orientador: José Koiller
Outubro de 2019

1 Introdução
Uma relação de recorrência linear de segunda ordem com coeficientes constantes
é uma relação que pode ser escrita na forma

an+2 + αan+1 + βan = gn , n ∈ N ou n ∈ Z, (1)

onde α e β são constantes reais, com β 6= 0, e gn é uma sequência dada. A


sequência gn é dita o termo independente da recorrência. Observe que podemos
reescrever essa relação na forma an+2 = −αan+1 − βan + gn ou ainda, fazendo uma
translação nos ı́ndices, na forma an = −αan−1 − βan−2 + gn−2 . Assim, fica claro que
cada termo an da sequência é determinado pelos dois termos anteriores (an−1 e an−2 ).
Se β = 0 (e α 6= 0), a recorrência passa a ser de primeira ordem, por isso impusemos
a condição β 6= 0.
Relações como essa têm importantes aplicações em engenharia, ciência da com-
putação, economia, e até mesmo em biologia (em problemas de dinâmica populacio-
nal, por exemplo). Em particular, no curso de ciência da computação, os algoritmos
recursivos podem ser escritos na forma de uma recorrência que, quando resolvida,
possibilita analisar sua complexidade.
Um dos tópicos de estudo na disciplina de Matemática Discreta consiste na
resolução de relações de recorrência de segunda ordem. Vários dos livros utilizados
na disciplina, no entanto, abordam apenas o caso homogêneo (ver próxima seção) ou
tratam o caso não homogêneo de forma superficial (ver [3], [4] e [5], por exemplo).
Livros que oferecem um tratamento mais completo, por outro lado, tendem a ser
mais avançados, e, com frequência, abordam o assunto usando funções geradoras
(ver [2]). Este método, em geral, foge ao escopo de um curso básico de Matemática
Discreta.
Não é difı́cil, no entanto, resolver uma relação não homogênea do tipo (1) nos
seguintes casos:

(i) quando o termo independente gn é um polinômio em n;


(ii) quando gn é da forma sn (ou seja, quando é uma sequência exponencial);
(iii) quando gn é um produto de uma exponencial por um polinômio.

1
Nestes casos, pode-se aplicar um método de “coeficientes a determinar”, análogo ao
utilizado para resolver equações diferenciais lineares de segunda ordem (ver [1]). É
possı́vel considerar, ainda, o caso em que gn é uma combinação linear de sequências
dos tipos (i), (ii) ou (iii), utilizando o Princı́pio da Superposição (ver seção 3.4).
Essa apostila tem por objetivo propôr e exemplificar a resolução de recorrências
lineares não homogêneas, nos casos citados acima, usando o método de coeficientes a
determinar. Este texto poderá ser utilizado como material auxiliar na disciplina de
Matemática Discreta, complementando o tratamento superficial dado a esse assunto
na bibliografia básica.

2 Recorrências homogêneas
Dizemos que a recorrência linear (1) é homogênea quando o termo gn é nulo,
ou seja, quando gn = 0 para todo n. Assim, uma recorrência linear homogênea de
segunda ordem com coeficientes constantes é uma recorrência que pode ser escrita
na forma
an+2 + αan+1 + βan = 0. (2)
O conjunto de todas as soluções dessa equação é a sua solução geral. Um objeto
útil na obtenção de soluções gerais de recorrências lineares homogêneas é o polinômio
caracterı́stico. O polinômio caracterı́stico da recorrência (2) é definido por
p(x) = x2 + αx + β.
Observe que, como estamos tratando de recorrências de segunda ordem, p(x) é
um polinômio de grau dois, logo poderá ter duas raı́zes reais simples, uma raiz real
dupla ou raı́zes complexas. Apesar de ser possı́vel tratar o caso complexo, nessa
apostila só consideraremos os dois primeiros casos.

2.1 Raı́zes simples


Reproduzimos abaixo o Teorema 23.5 do livro-texto de Scheinerman [4].
Teorema 1. Se o polinômio caracterı́stico da recorrência homogênea (2) tiver duas
raı́zes r1 e r2 reais e distintas, então sua solução geral será dada por
a(H) n n
n = c1 · r1 + c2 · r2 ,

onde c1 e c2 são constantes.


A demonstração do teorema encontra-se no livro-texto citado.
Exemplo 1. Obter a solução geral da recorrência
an = an−1 + 6an−2 .
Para achar a solução geral de uma equação homogênea, precisamos encontrar o
polinômio caracterı́stico. Para facilitar, vamos reescrever a equação como
an+2 − an+1 − 6an = 0.
O polinômio caracterı́stico é p(x) = x2 − x − 6 e suas raı́zes são −2 e 3. Pelo
Teorema 1, a solução geral da equação homogênea é
a(H) n
n = c1 · (−2) + c2 · 3
n

onde c1 e c2 são constantes. 

2
2.2 Raiz dupla
Reproduzimos, agora, o Teorema 23.9 de Scheinerman [4]. A demonstração é
dada nessa referência.

Teorema 2. Se o polinômio caracterı́stico da recorrência homogênea (2) tiver uma


única raiz real r, então sua solução geral será dada por

a(H) n n
n = c1 · r + c2 · nr ,

onde c1 e c2 são constantes.

Exemplo 2. Obter a solução geral da recorrência

an = 6an−1 − 9an−2 .

Novamente, podemos reescrever a equação como

an+2 − 6an+1 + 9an = 0.

Assim, temos o polinômio caracterı́stico p(x) = x2 − 6x + 9, cuja raiz é 3. Como 3


é raiz dupla, pelo Teorema 2,

an = c1 · 3n + c2 n · 3n

é a solução geral da equação homogênea, onde c1 e c2 são constantes. 

3 Recorrências não homogêneas


Nesta seção, vamos considerar recorrências da forma (1), onde gn não é uma
sequência nula. Por conveniência, reproduzimos aqui as equações (1) e (2):

an+2 + αan+1 + βan = gn (1)


an+2 + αan+1 + βan = 0 (2)

A seguinte terminologia será útil: dizemos que (2) é a recorrência homogênea asso-
ciada a (1). (Para obter a recorrência homogênea associada a uma recorrência não
homogênea, basta “zerar” o termo independente gn .)
Para encontrar a solução geral da recorrência não homogênea (1), propomos o
seguinte roteiro:
(H)
1. Primeiro, vamos encontrar a solução geral an da recorrência homogênea as-
sociada (2). Na seção anterior, já vimos como fazer isso.
(P)
2. Em seguida, vamos encontrar uma solução particular an da equação não
homogênea (1). Veremos como fazer isso, para certos casos especiais, mais
adiante.
(H) (P)
3. Uma vez que as sequências an e an foram encontradas, a solução geral do
problema não homogêneo (1) é dada pela soma dessas sequências, conforme o
teorema a seguir.

3
(H)
Teorema 3. Suponha que an seja a solução geral da equação homogênea (2) e que
(P)
an seja uma solução particular da equação não homogênea (1). Então, a solução
(H) (P)
geral de (1) é dada pela soma an = an + an .
Esse teorema para recorrências é análogo a um teorema para equações diferenciais
lineares (ver enunciado e prova em [1], seção 3.5).
(P) (H)
Vale enfatizar que an é uma solução particular do problema (1), enquanto an
representa o conjunto de todas as soluções de (2), como definido na seção 2. A soma
(H) (P)
an = an + an é a solução geral da recorrência (1), ou seja, representa o conjunto
de todas as soluções dessa recorrência não homogênea, e não apenas uma solução.
Como dito na introdução, iremos considerar a recorrência (1) apenas nos seguin-
tes casos: quando gn é um polinômio em n; quando gn é da forma sn (exponencial);
quando gn é um produto de uma exponencial por um polinômio; e, por fim, quando
g(n) é uma combinação linear destes casos. O método que discutiremos para encon-
trar uma solução particular é baseado em “chutes”, de acordo com cada um destes
casos. Vamos começar com o caso do polinômio.

3.1 Polinômio
Para achar uma solução particular de uma recorrência não homogênea da forma

an+2 + αan+1 + βan = P (n), (3)

onde P (n) é um polinômio em n, faria sentido usar, como chute, um polinômio Q(n)
do mesmo grau que P (n). Assim, se

P (n) = bk nk + bk−1 nk−1 + · · · + b2 n2 + b1 n + b0 ,

o chute seria

Q(n) = dk nk + dk−1 nk−1 + · · · + d2 n2 + d1 n + d0 , (4)

onde k representa o grau do polinômio P (n), supondo bk 6= 0.


No entanto, quando 1 é raiz do polinômio caracterı́stico p(x) = x2 + αx + β, este
chute não funciona. A regra para encontrar uma solução particular da equação (3)
é a seguinte:
(P)
• A solução particular será da forma an = Q(n), se 1 não for raiz de p(x).
(P)
• A solução particular será da forma an = n · Q(n), se 1 for uma raiz simples
de p(x).
(P)
• A solução particular será da forma an = n2 · Q(n), se 1 for uma raiz dupla
de p(x).
Em todos os itens acima, Q(n) representa um polinômio de grau k (mesmo grau
de P (n)), como apresentado na equação (4), onde d0 , d1 , . . . , dk são constantes a
determinar.
Veremos que essa regra é um caso particular de uma regra mais abrangente. A
razão de o número 1 como raiz causar uma “exceção” para o chute ficará mais clara
à luz da regra geral (ver seção 4).

4
Exemplo 3. Obter a solução geral da recorrência

an+2 − 5an+1 + 6an = n + 3. (5)

A equação homogênea associada ao problema acima é an+2 − 5an+1 + 6an = 0.


Seu polinômio caracterı́stico é p(x) = x2 − 5x + 6, cujas raı́zes são 2 e 3. A solução
(H)
geral da equação homogênea é an = c1 · 2n + c2 · 3n , portanto.
Para achar uma solução particular da equação não homogênea (5), vamos usar
como “chute” um polinômio “genérico” do mesmo grau que n + 3, ou seja, de grau 1.
Mais precisamente, nosso chute é

an = An + B.

Assim, an+1 = A(n + 1) + B e an+2 = A(n + 2) + B. Substituindo na equação (5),


temos 
A(n + 2) + B − 5 A(n + 1) + B + 6(An + B) = n + 3.
Simplificando o lado esquerdo dessa equação, temos

2An − 3A + 2B = n + 3.

Igualando os coeficientes dos termos de mesmo grau, obtemos o sistema



2A = 1
−3A + 2B = 3

cuja solução é A = 1/2 e B = 9/4. Uma solução particular da equação (5), dessa
forma, é
n 9
a(P)
n = + .
2 4
A solução geral da equação (5), pelo Teorema 3, é dada pela soma da solução
geral da equação homogênea associada com uma solução particular da equação não
(H) (P)
homogênea (5), isto é, an + an . Assim, a solução geral que procuramos é
n 9
an = c1 · 2n + c2 · 3n + + . 
2 4
Exemplo 4. Obter a solução geral da recorrência

an+2 + an+1 − 2an = 12n + 1. (6)

A equação homogênea associada à recorrência acima é an+2 + an+1 − 2an = 0.


Seu polinômio caracterı́stico é p(x) = x2 + x − 2, e suas raı́zes são −2 e 1. A
(H)
solução geral da equação homogênea é, portanto, an = c1 (−2)n + c2 · 1n , isto é,
(H)
an = c1 (−2)n + c2 .
Para achar uma solução particular da equação não homogênea (6), poderı́amos
tentar como “chute” um polinômio “genérico” An + B de grau 1, que é o grau que
12n+1. Porém, neste caso, este chute não irá funcionar, já que 1 é raiz do polinômio
p(x). Então, vamos multiplicar nosso chute por n:

an = An2 + Bn

5
Assim, an+1 = A(n + 1)2 + B(n + 1) e an+2 = A(n + 2)2 + B(n + 2). Substituindo
na equação (6), temos
A(n + 2)2 + B(n + 2) + A(n + 1)2 + B(n + 1) − 2(An2 + Bn) = 12n + 1.
Simplificando o lado esquerdo dessa equação, temos
6An + 5A + 3B = 12n + 1.
Igualando os coeficientes dos termos de mesmo grau, obtemos o sistema

6A = 12
5A + 3B = 1
cuja solução é A = 2 e B = −3. Uma solução particular da equação (6), dessa
forma, é
a(P) 2
n = 2n − 3n.
A solução geral da equação (6) é dada pela soma da solução geral da equação ho-
mogênea com uma solução particular da equação não homogênea. Assim, a solução
(H) (P)
geral encontrada é an + an , mais precisamente
an = c1 (−2)n + c2 + 2n2 − 3n. 
Exemplo 5. Obter a solução geral da recorrência
an+2 − 2an+1 + an = 6n. (7)
A equação homogênea associada ao problema acima é an+2 − 2an+1 + an = 0.
Seu polinômio caracterı́stico é p(x) = x2 − 2x + 1, que é o produto notável (x − 1)2 ,
(H)
então 1 é sua raiz dupla. A solução geral da equação homogênea é, portanto, an =
(H)
c1 · 1n + c2 · n · 1n , isto é, an = c1 + c2 n.
Para achar uma solução particular da equação não homogênea (7), simplesmente
tentar um polinômio genérico An + B como chute não irá funcionar, assim como
no exemplo anterior, porque 1 é raiz do polinômio caracterı́stico p(x). Aliás, 1 é
raiz dupla de p(x). Então, ao invés de multiplicar o chute por n, como no exemplo
anterior (em que 1 era raiz simples), agora vamos multiplicar por n2 , porque 1 é raiz
dupla. Mais especificamente, nosso chute é
an = An3 + Bn2 .
Assim, an+1 = A(n + 1)3 + B(n + 1)2 e an+2 = A(n + 2)3 + B(n + 2)2 . Substituindo
na equação (7), temos
A(n + 2)3 + B(n + 2)2 − 2 A(n + 1)3 + B(n + 1)2 + An3 + Bn2 = 6n.


Simplificando o lado esquerdo dessa equação, temos


6An + 6A + 2B = 6n.
Igualando os coeficientes dos termos de mesmo grau, obtemos o sistema

6A = 6
6A + 2B = 0
cuja solução é A = 1 e B = −3. Uma solução particular da equação (7), dessa
forma, é
a(P) 3
n = n − 3n .
2

(H) (P)
A solução geral da equação (7), então, é dada pela soma an + an , isto é, por
an = c1 + c2 n + n3 − 3n2 . 

6
3.2 Exponencial
Quando s é uma constante real, sn é dita uma sequência exponencial em n (ou
uma progressão geométrica). Vamos considerar, agora, recorrências não homogêneas
em que o termo independente é um múltiplo de sn , ou seja, recorrências da forma

an+2 + αan+1 + βan = b · sn , (8)

onde b e s são constantes reais. Para achar uma solução particular desta recorrência,
faria sentido usar, como chute, alguma sequência múltipla de sn , também. Assim,
o chute seria A · sn , onde A é um coeficiente a determinar.
No entanto, quando s é raiz do polinômio caracterı́stico p(x) = x2 + αx + β, esse
chute não funciona. A regra para encontrar uma solução particular da equação (8)
é a seguinte:
(P)
• A solução particular será da forma an = A · sn , se s não for raiz de p(x).
(P)
• A solução particular será da forma an = An · sn , se s for uma raiz simples de
p(x).
(P)
• A solução particular será da forma an = An2 · sn , se s for uma raiz dupla de
p(x).
Em todos os itens acima, A é uma constante a determinar.
Veremos que essa regra é, também, um caso particular de uma regra mais abran-
gente.
Exemplo 6. Encontrar a solução geral da recorrência

an+2 − an+1 − 6an = 2n . (9)

O polinômio caracterı́stico da equação homogênea associada ao problema acima


é p(x) = x2 − x − 6, cujas raı́zes são −2 e 3. Então, a solução geral da equação
(H)
homogênea é, portanto, an = c1 · (−2)n + c2 · 3n .
Nesse caso, para achar uma solução particular da equação não homogênea (9),
vamos usar como “chute” um múltiplo de 2n . Então, nosso chute é

an = A · 2n .

Assim, an+1 = A · 2n+1 e an+2 = A · 2n+2 . Substituindo em (9), temos

A · 2n+2 − A · 2n+1 − 6A · 2n = 2n

Colocando A e 2n em evidência, temos

A · 2n (22 − 2 − 6) = 2n

logo, A = −1/4. Então, uma solução particular da forma an = A · 2n é


1
an = − · 2n ,
4
que podemos reescrever como
a(P)
n = −2
n−2
.

7
Para a solução geral da equação não homogênea, vamos somar a solução geral
(H) (P)
an da equação homogênea associada com a solução particular an que obtivemos
para a equação não homogênea. Então, temos, como solução geral de (9),

an = c1 · (−2)n + c2 · 3n − 2n−2 . 

Exemplo 7. Obter a solução geral da recorrência

an+2 − an+1 − 6an = 3n . (10)

O polinômio caracterı́stico da equação homogênea associada é p(x) = x2 − x − 6,


o mesmo do exemplo anterior, então a solução geral da equação homogênea também
(H)
é a mesma: an = c1 (−2)n + c2 · 3n .
No entanto, tentar um chute do mesmo tipo (ou seja, um múltiplo de 3n ) para
achar uma solução particular da equação não homogênea não irá funcionar, porque
3 é uma das raı́zes de p(x). Então, vamos multiplicar nosso chute por n:

an = An · 3n .

Assim, an+1 = A(n + 1) · 3n+1 e an+2 = A(n + 2) · 3n+2 . Substituindo em (10),


nós temos
A(n + 2) · 3n+2 − A(n + 1) · 3n+1 − 6An · 3n = 3n .
Colocando A e 3n em evidência,

A · 3n 32 (n + 2) − 3(n + 1) − 6n = 3n .


Logo, A = 1/15. Então, uma solução particular de (10) da forma An · 3n é


n
a(P)
n = · 3n
15
Portanto, pelo Teorema 3, a solução geral da equação não homogênea é dada por
(H) (P)
an + an , ou seja
n
an = c1 (−2)n + c2 · 3n + · 3n . 
15
Exemplo 8. Encontrar a solução geral da recorrência

an+2 + an+1 − 2an = 12(−2)n . (11)

O polinômio caracterı́stico da equação homogênea associada é p(x) = x2 − x − 6,


(H)
e suas raı́zes são −2 e 1, então a solução geral da homogênea: an = c1 (−2)n +c2 ·1n ,
(H)
ou melhor, an = c1 (−2)n + c2 .
Como −2 é uma das raı́zes de p(x), nosso chute, que seria A(−2)n , vai ser
multiplicado por n:
an = An(−2)n .
Assim, an+1 = A(n+1)(−2)n+1 e an+2 = A(n+2)(−2)n+2 . Substituindo em (11),
nós temos

A(n + 2) · (−2)n+2 + A(n + 1) · (−2)n+1 − 2An · (−2)n = 12(−2)n

Simplificando o lado esquerdo, obtemos

6A(−2)n = 12(−2)n .

8
Logo, A = 2. Então, uma solução particular da forma an = An(−2)n é

a(P) n
n = 2n(−2) .

(H) (P)
Portanto, somando an com an , temos a solução geral da equação (11):

an = c1 (−2)n + c2 + 2n(−2)n . 

Exemplo 9. Obter a solução geral da recorrência

an+2 − 4an+1 + 4an = 2n . (12)

O polinômio caracterı́stico da equação homogênea associada é p(x) = x2 −4x+4,


e sua raiz é 2. Como 2 é uma raiz dupla, a solução geral da equação homogênea é
(H)
an = c1 · 2n + c2 n · 2n .
Assim como no exemplo anterior, um chute da forma an = A·2n não irá funcionar,
porque 2 é raiz do polinômio caracterı́stico. Neste caso, 2 não apenas é raiz, como
é raiz dupla, então teremos que multiplicar nosso chute por n2 :

an = An2 · 2n .

Substituindo em (12), temos

A(n + 2)2 · 2n+2 − 4A(n + 1)2 · 2n+1 + 4An · 2n = 2n .

Colocando A e 2n em evidência, temos

A · 2n 22 (n + 2)2 − 4 · 2(n + 1)2 + 4An2 = 2n .




Logo, A = 1/8. Então, uma solução particular da forma A · n2 · 2n é

n2 n
a(P)
n = ·2
8
(H) (P)
Portanto, an + an é a solução geral da equação não homogênea (12):

n2 n
an = c1 · 2n + c2 · n · 2n + ·2 . 
8

3.3 Polinômio exponencial


Agora, consideramos a recorrência

an+2 + αan+1 + βan = sn · P (n), (13)

onde s é uma constante real e P (n) é um polinômio em n. Uma sequência da forma


sn P (n), a propósito, é dita um polinômio exponencial na variável n.
Lembre que p(x) = x2 + αx + β é o polinômio caracterı́stico da recorrência
homogênea associada ao problema acima. Para obter uma solução particular da
recorrência (13), a regra é a seguinte:
(P)
• A solução particular será da forma an = sn Q(n), se s não for raiz de p(x).

9
(P)
• A solução particular será da forma an = n · sn Q(n), se s for uma raiz simples
de p(x).
(P)
• A solução particular será da forma an = n2 · sn Q(n), se s for uma raiz dupla
de p(x).

Em todos os itens acima, Q(n) representa um polinômio do mesmo grau que P (x),
com coeficientes a determinar. Assim, se P (n) tiver grau k, o polinômio Q(x) será
da forma (4) (ver página 4), e restará determinar os coeficientes d0 , d1 , . . . , dk .

Exemplo 10. Obter a solução geral da recorrência

an+2 − 2an+1 + an = 2n · n. (14)

O polinômio caracterı́stico da equação homogênea associada é p(x) = x2 −2x+1,


e sua raiz é 1. Como 1 é uma raiz dupla, então a solução geral da homogênea é
(H)
an = c1 · 1n + c2 n · 1n , ou melhor, an = c1 + c2 n.
Para o chute, vamos usar 2n multiplicado por um polinômio genérico de mesmo
grau que n, então nosso chute é

an = 2n · (An + B).
 
Assim, an+1 = 2n+1 A(n + 1) + B e an+2 = 2n+2 A(n + 2) + B . Substituindo
em (14), temos

2n+2 A(n + 2) + B − 2 · 2n+1 A(n + 1) + B + 2n (An + B) = 2n · n.


 

Colocando 2n em evidência,

2n (4An + 8A + 4B) − 2n (4An + 4A + 4B) + 2n (An + B) = 2n · n.

Simplificando, temos
An + 4A + B = n.
Logo, obtemos o sistema 
A=1
4A + B = 0
cuja solução é A = 1 e B = −4. Assim, uma solução particular de (14) é

a(P) n
n = 2 (n − 4).

(H) (P)
Portanto, somando an + an , a solução geral da equação (14) é

an = c1 + c2 n + 2n (n − 4). 

Exemplo 11. Obter a solução geral da recorrência

an+2 − 5an+1 + 6an = 2n · 8n. (15)

O polinômio caracterı́stico da equação homogênea associada é p(x) = x2 −5x+6,


cujas raı́zes são 2 e 3. Como são raı́zes simples, a solução geral da equação homogênea
(H)
é an = c1 · 2n + c2 · 3n .

10
Como 2 é uma raiz (simples) de p(x), nosso chute não poderá ser 2n (An + B),
ele deverá ser
an = 2n · (An2 + Bn).
 
Assim, an+1 = 2n+1 A(n + 1)2 + B(n + 1) e an+2 = 2n+2 A(n + 2)2 + B(n + 2) .
Substituindo em (15), temos

2n+2 A(n+2)2 +B(n+2) −5·2n+1 A(n+1)2 +B(n+1) +6·2n (An2 +Bn) = 2n ·8n.
 

Simplificando, ficamos com

−4An + 6A − 2B = 8n.

Logo, obtemos o sistema 


−4A = 8
6A − 2B = 0
cuja solução é A = −2 e B = −6. Assim, uma solução particular de (15) na forma
2n (An2 + Bn) é
a(P) n 2
n = 2 (−2n − 6n).
(H) (P)
Portanto, somando an e an , a solução geral da equação (15) é

an = c1 · 2n + c2 · 3n + 2n (−2n2 − 6n). 

3.4 Superposição
Vamos considerar as seguintes três relações de recorrência:

an+2 + αan+1 + βan = gn(1) , (16)


an+2 + αan+1 + βan = gn(2) , (17)
an+2 + αan+1 + βan = γ1 gn(1) + γ2 gn(2) , (18)

onde γ1 e γ2 são constantes reais. Observe que essas recorrências estão todas asso-
ciadas à mesma recorrência homogênea, e que o termo independente da terceira é
uma combinação linear dos termos das duas primeiras, com pesos γ1 e γ2 .
O teorema abaixo, conhecido como o “Princı́pio da Superposição”, relaciona
soluções dos problemas acima, e diz que soluções de (18) serão combinações lineares
de soluções de (16) e de (17), com os mesmos pesos γ1 e γ2 . Essencialmente, o
teorema nos dá uma forma de dividir um problema mais complicado em problemas
mais simples: para achar uma solução particular de (18), basta encontrar soluções
particulares de (16) e de (17), e “combiná-las” linearmente.
(1) (2)
Teorema 4. Se an for uma solução qualquer da recorrência (16) e an for uma
(1) (2)
solução qualquer da recorrência (17), então an = γ1 an + γ2 an será uma solução
de (18).
(1) (2)
Para provar este teorema, basta substituir an = γ1 an + γ2 an na equação (18),
e usar as equações (16) e (17). (Um resultado análogo para equações diferenciais
lineares é dado em [1], seção 3.5.)

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Exemplo 12. Como achar a solução geral da equação

an+2 + an+1 − 2an = 12n + 1 + 12(−2)n . (19)

usando os métodos aqui já apresentados?


Usando o Princı́pio da Superposição, conseguimos encontrar facilmente uma res-
(1)
posta. Note que gn = 12n+1 é exatamente o termo independente na recorrência (6)
(2)
(exemplo 4) e que gn = 12(−2)n é o da recorrência (11) (exemplo 8).
Como vimos no exemplo 4,

a(1) 2
n = 2n − 3n

é uma solução particular de an+2 + an+1 − 2an = 12n + 1. No exemplo 8, vimos que

a(2)
n = 2n(−2)
n

é uma solução particular de an+2 + an+1 − 2an = 12n(−2)n .


Pelo Princı́pio da Superposição,

a(P) (1) (2) 2


n = an + an = 2n − 3n + 2n(−2)
n

é uma solução particular de (19).


(H)
A solução geral da recorrência homogênea associada a (19) é an = c1 (−2)n + c2 ,
como já visto antes. (A recorrência homogêna associada é an+2 + an+1 − 2an = 0, a
mesma dos exemplos 4 e 8.) Assim, a solução geral de (19) é

an = a(H)
n + an
(P)

= c1 (−2)n + c2 + 2n2 − 3n + 2n(−2)n ,

pelo Teorema 3. 

4 Resumo
Em resumo, para encontrar uma solução particular de uma recorrência linear
de segunda ordem não homogênea com termo independente da forma gn = sn P (n),
podemos usar a seguinte “tabela de chutes”, onde Q(n) é um polinômio com mesmo
grau de P (n), com coeficientes a determinar:

Condição Chute
(P)
Se s não é raiz de p(x) an = sn Q(n)
(P)
Se s é raiz simples de p(x) an = sn nQ(n)
(P)
Se s é raiz dupla de p(x) an = sn n2 Q(n)

Observe que esta tabela comprime em apenas três linhas todos os nove casos expli-
cados anteriormente (três casos para polinômios, três casos para exponenciais e três
casos para polinômios exponenciais). Lembre que consideramos gn da forma sn P (n).
Caso gn seja um polinômio, basta tomar s = 1. Para obter o caso exponencial, basta
tomar P (n) constante (polinômio de grau zero), assim ficamos com gn = b · sn . O
caso de gn constante é obtido tomando s = 1 e P (n) constante.

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Referências
[1] William E. Boyce e Richard C. DiPrima, Equações Diferenciais Elementares
e Problemas de Valores de Contorno, Nona Edição (2010), Livros Técnicos e
Cientı́ficos Editora Ltda.

[2] Ronald L. Graham, Donald E. Knuth e Oren Patashnik, Concrete Mathematics,


Second Edition (1994), Addison-Wesley Publishing Company, Inc.

[3] Seymour Lipschutz e Marc L. Lipson, Theory and Problems of Discrete Mathe-
matics, Third Edition (2007), Schaum’s Outline Series, McGraw-Hill.

[4] Edward R. Scheinerman, Mathematics: A Discrete Introduction, Third Edition


(2013), Brooks/Cole, Cengage Learning.

[5] Alan Tucker, Applied Combinatorics, Sixth Edition (2012), John Wiley & Sons,
Inc.

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