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MESTRADO EM ESTUDOS SOBRE A EUROPA

IDEOLOGIAS, CONFLITOS E TENSÕES

- Actividade 6 -
Trabalho Final 2017

Neoliberalismo, Conflitos e Tensões


O mundo depois do neoliberalismo.

Paulo Sousa - nr. 1001020


[30-06-2017]
Mestrado de Estudos sobre a Europa
Ideologias, Conflitos e Tensões

Índice

1. Introdução ................................................................................................................................................ 2

2. Como identificar uma ideologia ............................................................................................................... 3

2.1. Ideologia Dominante ............................................................................................................................. 3

3. Definições sucintas ................................................................................................................................... 4

3.1. Liberalismo ............................................................................................................................................ 4

3.2. Capitalismo ............................................................................................................................................ 4

3.3. Conservadorismo................................................................................................................................... 4

3.4. O neoliberalismo, definido por David Harvey. ...................................................................................... 4

4. Neoliberalismo ......................................................................................................................................... 5

4.1. As origens .............................................................................................................................................. 5

4.2. A Teoria Neoliberal de Sociedade ......................................................................................................... 6

4.3. A opinião de Boaventura de Sousa Santos ............................................................................................ 7

4.4. Colocação temporal............................................................................................................................... 8

4.5. A definição de David Harvey ............................................................................................................... 10

4.6. Definindo o Neoliberalismo................................................................................................................. 11

4.7. É esta a era do neoliberalismo? .......................................................................................................... 13

5. Conclusão ............................................................................................................................................... 14

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“Estou certo de que o poder dos interesses instituídos é muito exagerado em comparação com a
invasão gradual das ideias … mais cedo ou mais tarde, são as ideias, não os interesses instituídos,
que são perigosos para o bem e para o mal.” (Keynes, 1954, p.383-84, tradução nossa).

1. Introdução
Ao longo destes últimos meses, em função das diversas necessidades no desenvolvimento dos
temas estudados e, em particular no tema das ideologias levou-me a um aprofundamento da
pesquisa efectuada, incluído ao tema escolhido para este trabalho final, o Neoliberalismo. Não é
nada de novo, ou melhor, não é um conceito ou ideologia surgida recentemente, porque o seu
fundamento foi descrito em primeira mão por Adam Smith, no seu livro publicado em 1776 “An
Inquiry on the Nature and Causes of the Wealth of Nations”. Estes fundamentos serão por certo
sobre os quais ideologias pró-capitalista ou as vertentes predominantes da teoria económica
ortodoxa se firmaram, porque permaneceram essencialmente inalterados, pouco ou nada poderão
acrescentar ao que foi escrito há mais de trezentos anos. Esta linha de pensamento dos governos é
a que impera nas suas acções politicas e económicas, talvez porque queiram ou porque
simplesmente já ninguém consegue travar a dinâmica desta ideologia. O conceito de
"neoliberalismo", nas últimas décadas, tornou-se bastante difundido em alguns debates políticos e
académicos. Vários autores até sugeriram que o neoliberalismo é "a ideologia dominante e que é
esta que molda o mundo de hoje", e que vivemos numa "era do neoliberalismo". A “ofuscante”
importância concedida por alguns a este fenómeno não significa, no entanto, que seja um conceito
claramente definido. Esta introdução pode parecer de um trabalho sobre economia, mas julgo que
o Neoliberalismo não se consegue desassociar desta sua primeira raiz, pois, foi por ela que evoluiu
até aos nossos dias. O neoliberalismo não é redutível apenas a uma ideologia convincente ou uma
mudança nas políticas económicas ou sociais, nem é principalmente sobre uma mudança na relação
entre o estado e o mercado ou entre trabalhadores e capital em geral, ou financeiramente em
particular. Em vez disso, o neoliberalismo é um estágio no desenvolvimento do capitalismo
sustentado pela financeirização. O neoliberalismo é altamente diversificado nas suas
características, impacto e resultados, refletindo combinações específicas de estudo, ideologia,
política e prática. Por sua vez, estas são anexadas a culturas materiais distintivas que dão origem
à neoliberalização da vida cotidiana e, a modalidades específicas de crescimento económico,
volatilidade e crise. Com este trabalho final tentarei indicar algumas, das muitas formas em que
esta ideologia se consegue manifestar, recorrendo às opiniões e escritas de alguns autores de
renome. Sendo o neoliberalismo tão “adaptável” às condições e necessidades do momento, que na
tentativa de o definir torna-se uma missão quase impossível, será um projecto “utópico” porque

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nunca estará realizado na perfeição, escreveu Harvey (2005, p19). Concluiremos que o
neoliberalismo teve muito êxito na criação de uma elite económica e no aumento continuo da sua
riqueza.

2. Como identificar uma ideologia


Quando se pensa em todas as coisas em que acreditamos e.g. sobre política, religião ou sociedade,
onde nos “encaixamos” com as outras pessoas, na comunidade ou país? Como é que viemos a ter
essas crenças? Nossas crenças e perspectivas sobre o mundo e o que está ao nosso redor são parte
essencial de nossas identidades, e quando elas combinam com as crenças e as perspectivas da
maioria, passa a ser conhecida como a ideologia dominante. Uma ideologia é uma coleção de
crenças e ideias que moldam o comportamento de uma pessoa e a sua percepção do mundo. O
fundamentalismo religioso, por exemplo, é uma ideologia porque tem um conjunto específico de
crenças informado por um texto religioso particular, como a Bíblia, que influencia fortemente
aqueles com essa ideologia, o seu comportamento e a forma como entendem os que os rodeiam.
Nesse caso, os seguidores aderem às ideias e regras estabelecidas num texto religioso com pouca
variação ou interpretação. O fundamentalismo religioso existe em muitas religiões diferentes, e
em algumas culturas, é a ideologia dominante.

2.1. Ideologia Dominante

Quando se ouve o termo "ideologia dominante", referem-se a uma das duas coisas: o conceito
abstrato como é descrito acima, ou uma teoria defendida pelo filósofo alemão Karl Marx, do século
XIX. Muito simplificadamente: Marx acreditava que a ideologia dominante era um sistema de
moral e valores estabelecidos por aqueles que estavam no poder para controlar a classe
trabalhadora. De acordo com a teoria de Marx, a classe trabalhadora acreditava que a ideologia
dominante era algo sobre o qual eles não tinham controle, então simplesmente aceitavam e
sustentavam o sistema de crenças. Isso levou a classe trabalhadora a desistir do poder da
dissidência política, em resultado disto, mantinha no poder um regime autoritário. De acordo com
Marx, isto era algo que a classe trabalhadora estava ciente, o que era uma grande parte do
problema, isto é, o povo estava desprovido de poderes sem ter conhecimento disso.

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3. Definições sucintas
3.1. Liberalismo

O liberalismo reconhece o individualismo ou a importância central do humano como indivíduo


que pode contribuir para a sociedade. Reconhece a capacidade do indivíduo para melhorar seu
status social, político e económico na vida. Por parte do governo, garante a evolução dos seus
cidadãos através do reconhecimento de seus talentos e habilidades. Fornece também, espaço e
oportunidades para melhorar e maximizar essas qualidades positivas e potencialmente produtivas.

3.2. Capitalismo

O capitalismo dá credibilidade à acumulação de capital para expandir as operações comerciais e


aumentar o lucro das empresas. Como uma filosofia económica, apoia a criatividade dos
empresários na concepção ou na formulação de produtos e serviços novos e melhores. Essa
ideologia também subscreve a ideia de propriedade privada.

3.3. Conservadorismo

A principal característica do conservadorismo é a preservação do status quo ou o atual estado de


coisas. O conservadorismo dá mais importância às tradições experimentadas de longa data das
gerações passadas do que ao do novo sistema do período atual. Os conservadores acreditam que o
novo sistema pode não ter uma direção clara e pode não ser capaz de responder aos problemas
urgentes que há muito incomodam a sociedade. Seus princípios básicos incluem ordem política,
nacionalismo, moralidade e lealdade.

3.4. O neoliberalismo, definido por David Harvey.

O neoliberalismo é, em primeira instância, uma teoria das práticas económica s políticas que
propõe que o bem-estar humano seja melhor avançado libertando liberdades e habilidades
empresariais individuais dentro de um quadro institucional caracterizado por fortes direitos de
propriedade privada, mercados livres e comércio livre. O papel do Estado é criar e preservar um
quadro institucional adequado a tais práticas. O estado deve garantir, por exemplo, a qualidade e
a integridade do dinheiro. Também deve constituir as estruturas e funções militares, de defesa,
policiais e legais necessárias para garantir os direitos de propriedade privada e garantir, se for caso
disso, o bom funcionamento dos mercados. Além disso, se os mercados não existem (em áreas
como terra, água, educação, cuidados de saúde, segurança social ou poluição ambiental), eles

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devem ser criados, por ação estatal, se necessário. Mas, além dessas tarefas, o Estado não se deve
aventurar. As intervenções estatais nos mercados (uma vez criado) devem ser mantidas a um
mínimo, uma vez que, de acordo com a teoria, o estado não pode possivelmente possuir
informações suficientes para adivinhar os sinais do mercado (preços) e porque grupos de interesses
poderosos inevitavelmente distorcem e prejudicam as intervenções estaduais (Particularmente em
democracias) para seu próprio benefício. (Harvey 2005, p2, tradução nossa)

4. Neoliberalismo
4.1. As origens

A visão económica do Adam Smith pelas suas caraterísticas, poderíamos aceitar como
neoliberalista, contudo é associado à escola do liberalismo clássico. A crença nos benefícios do
crescimento económico para toda a humanidade, juntamente com crenças nos benefícios da
aplicação dos princípios da divisão de trabalho articulados por Smith, juntamente com os
potenciais benefícios dos mercados nos quais os fornecedores competem uns com os outros para
atender às necessidades dos consumidores, então uma "mão invisível" garante que cada fornecedor
que se esforça por sua própria vantagem beneficie a sociedade (Smith, 1910, p.400-1, tradução
minha).
Depois da 2ª Guerra Mundial e todas as suas consequências, o mundo continuava a procurar
soluções para todos os problemas sociais, políticos e económicos criados pelas sucessivas crises,
e ainda muito influenciadas também pelas consequências da Guerra Fria, Vietnam, entre outras. A
década de 1970 trouxe ao mundo uma nova forma de crise económica, a estagflação1.
Anteriormente, os ciclos económicos seguiram um padrão de prosperidade com baixo desemprego,
juntamente com um risco de inflação a ser seguido por recessões com alta taxa de desemprego e
com risco de deflação. A nova crise apresentou uma imagem de inflação muito alta que pareceu
criar estagnação económica e alta taxa de desemprego. Isso criou uma situação muito paralisante.
Um padrão similar prevaleceu no Reino Unido, onde houve greves recorrentes exigindo aumentos
salariais em resposta à inflação. Os governos de Jimmy Carter2 e James Callaghan3 tentaram
essencialmente soluções keynesianas de intervenção do governo para lidar com o problema. Os
controles de salários e preços foram instituídos para lidar com a inflação e os gastos do governo
foram aumentados num esforço para estimular o emprego. Esses esforços não tiveram êxito. O

1
estagflação in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora,
2003-2017. [consult. 2017-06-29]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-
portuguesa/estagflação
2
Jimmy Carter in Artigos de apoio Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2017. [consult. 2017-06-29].
Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$jimmy-carter
3
James Callaghan [consult. 2017-06-29]. Disponível na Internet: https://www.gov.uk/government/history/past-
prime-ministers/james-callaghan
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crescente coro neoliberal compreendeu a situação como uma acusação de social-democracia e a


síntese keynesiana. O problema foi finalmente tratado por uma abordagem monetarista. Carter
nomeou Paul Volker como presidente do Federal Reserve. Ele adotou uma política de dinheiro
muito rigorosa, elevando as taxas de juros repetidas vezes. Ele conseguiu espremer a inflação para
fora da economia e criou uma recessão. Quando Margaret Thatcher4 chegou ao poder no Reino
Unido (1979), adotou políticas monetaristas similares. Foi a crise de estagflação que proporcionou
ao emergente movimento neoliberal a oportunidade de colocar o pé na porta. Este movimento
criou crises políticas que levaram o governo conservador de Ronald Reagan5 (1980) e Margaret
Thatcher ao poder. Ambos os governos adotaram políticas neoliberais e instalaram ideólogos
neoliberais em posições de influência.
A Sociedade Mont Pelerin6 é tida como um bastião do neoliberalismo, reuniu-se pela primeira vez
em 1947. Este grupo incluiu Friedrich von Hayek, Ludwig von Mises e Milton Friedman. Eles
acreditavam que seu compromisso com os ideais de liberdade pessoal lhes dizia ser "liberal". Eles
pensavam que os indivíduos e os grupos de voluntários haviam sido prejudicados por extensões
de poder arbitrário e que tais desenvolvimentos foram fomentados pelo declínio da crença na
propriedade privada e nos mercados competitivos. Eles estavam comprometidos com os princípios
do mercado livre da economia neoclássica, que substituíram a economia clássica e foram
desenvolvidos por Adam Smith e seus sucessores (Harvey, 2005, págs. 19-20). Ao contrário dos
economistas neoclássicos convencionais, os neoliberais não acreditam no laissez faire. Os
neoliberais acreditam na necessidade de um estado forte para promover e sustentar uma sociedade
de mercado estável. Mas nem economistas neoclássicos nem neoliberais chegaram a qualquer
consenso sobre o que precisamente isso significa (Mirowski, 2013, pp. 53-55).

4.2. A Teoria Neoliberal de Sociedade

O neoliberalismo apresenta-se como uma doutrina baseada nas verdades inexoráveis da economia
moderna. No entanto, a economia moderna não será uma disciplina científica, mas a elaboração
sistemática de uma teoria social muito específica. Os fundamentos do neoliberalismo remontam
ao “The Wealth of Nations”7 de Adam Smith. Nos últimos três séculos, os argumentos de Smith

4
Margeret Thatcher [consult. 2017-06-29]. Disponível na Internet: https://www.gov.uk/government/history/past-
prime-ministers/margaret-thatcher
5
Ronald Reagan in Artigos de apoio Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2017. [consult. 2017-06-29].
Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$ronald-reagan
6
A Sociedade Mont Pelerin é composta por pessoas que continuam a ver os perigos para a sociedade civilizada
delineados na declaração de objetivos. Eles viram o liberalismo económico e político em ascensão desde a Segunda
Guerra Mundial em alguns países, mas também seu declínio aparente em tempos mais recentes. [consult. 2017-06-
29]. Disponível na Internet: https://www.montpelerin.org/
7
Título completo: “An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations”, publicado em 1776.
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foram formalizados e desenvolvidos com maior rigor analítico, mas os pressupostos fundamentais
subjacentes ao neoliberalismo permanecem os propostos por Adam Smith, conforme descritos no
capítulo 3 do seu livro “The Wealth of Nations”. Smith lançou as bases do neoliberalismo com seu
ataque ao estado mercantilista parasitário que derivou suas receitas da restrição do comércio. Smith
argumentou que o intercâmbio gratuito era uma transação de que ambos os partidos beneficiaram
necessariamente, uma vez que ninguém se envolveria voluntariamente num intercâmbio a partir
do qual sairiam pior. Friedman referiu o neoliberalismo baseia-se na "proposição elementar de que
ambas as partes de uma operação económica se beneficiam, desde que a transação seja
bilateralmente voluntária e informada" (Friedman 1962, p.55, tradução minha).
Consequentemente, qualquer restrição à liberdade de comércio irá reduzir o bem-estar, negando
aos indivíduos a oportunidade de melhorar a sua situação. Além disso, argumentou Smith, a
expansão do mercado permitiu uma especialização crescente e, portanto, o desenvolvimento da
divisão do trabalho. As vantagens obtidas através da troca não foram vantagens adquiridas por
uma das partes em detrimento de outra. O intercâmbio foi o meio pelo qual as vantagens obtidas
através do aumento da divisão do trabalho foram compartilhadas entre as duas partes para a troca.
A implicação imediata do argumento de Smith é que quaisquer barreiras à liberdade de troca
limitam o desenvolvimento da divisão do trabalho e, portanto, o crescimento da riqueza da nação
e a prosperidade de todos e cada um dos seus cidadãos. Adam Smith não esperava que seus
argumentos científicos tivessem muito impacto, devido ao peso político dos interesses adquiridos
associados ao estado mercantilista; mas, no início do século XIX, as doutrinas de Smith foram
transformadas de um ataque subversivo em um estado parasitário para se tornar a ideologia
ortodoxia de um estado liberalizante (Clarke 1988, p.1-8). O papel do Estado não era mais
restringir e taxar o comércio, mas usar todos os seus poderes para estender a liberdade de comércio
dentro e além das suas fronteiras nacionais.

4.3. A opinião de Boaventura de Sousa Santos

Respondendo a perguntas durante o Fórum Social Mundial, em 2015, que o Neoliberalismo não é
uma nova ideologia, ou novo tipo de Liberalismo, mas um conjunto de politicas económicas cuja
aplicação e intensidade das suas medidas não depende do regime politico de ideologias, dado poder
ser implementado por partidos de direita ou esquerda.
A pergunta: “Começando pela Europa, o que podemos avaliar na atual conjuntura?
A Resposta: “As políticas que dominam neste momento são típicas do neoliberalismo. O que
estamos a assistir são cortes nas despesas públicas dos Estados, nas despesas sociais, educação,
saúde, privatização da previdência social, redução dos salários, precarização do trabalho. […].

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Os partidos, sejam da esquerda ou da direita, adotaram medidas do neoliberalismo. Os partidos


socialistas estão totalmente desacreditados na Grécia e na Espanha, em Portugal nem tanto.”8

4.4. Colocação temporal

A literatura "crítica" de acordo com Saad-Filho e Johnston (2005: 1), "vivemos na era do
neoliberalismo". Juntamente com os outros autores do livro “Neoliberalism - A Critical Reader”,
eles compartilham a visão bastante comum, mas não necessariamente factual, de que o poder e a
riqueza estão, cada vez mais, concentrados em corporações transnacionais e grupos de elite, como
resultado da implementação prática de uma ideologia económica e política que eles identificam
como neoliberalismo. Em conjugação de ideias vão ao ponto de descrever o neoliberalismo como
sendo a ideologia dominante que molda nosso mundo hoje, apesar de sua suposta importância
acham impossível definir o neoliberalismo puramente teoricamente, mas, mesmo dentro da mesma
publicação existe discórdia, porque de acordo com outra contribuição, não será possível determinar
com exatidão o momento que o neoliberalismo surgiu, mas as suas bases podem ser rastreadas até
o liberalismo clássico defendido por Adam Smith e a concepção específica do homem e da
sociedade sobre a qual ele funda suas teorias económicas (Clarke 2005, p50). O neoliberalismo é
considerado como um "paradigma" totalmente novo para a teoria económica e a formulação de
políticas, uma ideologia por detrás do estágio mais recente no desenvolvimento da sociedade
capitalista, ao mesmo tempo, um renascimento das teorias económicas de Smith e seus herdeiros
intelectuais no século XIX. Este argumento é continuado por Palley (2005), que argumenta que
ocorreu uma "grande reversão", onde o neoliberalismo substituiu as teorias económicas de Keynes9
e seus seguidores. O keynesianismo10, foi o quadro teórico dominante na economia e na
formulação de políticas económicas no período entre 1945 e 1970, mas foi então substituído por
uma abordagem mais "monetarista" inspirada nas teorias e pesquisas de Milton Friedman11. Desde
então, somos levados a acreditar que o "neoliberalismo", ou seja, o monetarismo e as teorias
relacionadas, dominou a formulação de políticas macroeconómicas, como é indicado pela

8
“Fórum Social Mundial (FSM) 2015, Boaventura de Sousa Santos. [consult. 2017-06-29]. Disponível na Internet:
http://alice.ces.uc.pt/news/?p=4384

9
John Maynard Keynes (1883-1946), foi um economista britânico cujas ideias mudaram fundamentalmente a teoria
e prática da macroeconomia, bem como as políticas económicas instituídas pelos governos.
10
A escola Keynesiana ou Keynesianismo é a teoria económica consolidada pelo economista inglês John Maynard
Keynes no seu livro “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda” (titulo orinigal: General theory of employment,
interest and money)
11
Milton Friedman (1912-2006), foi um dos mais importantes e influentes economistas do século XX. Foi fundador
da Escola Monetarista de Chicago. Foi um dos principais defensores do liberalismo econômico e um dos idealizadores
do neoliberalismo. Foi também professor de economia na Universidade de Chicago. Por suas realizações e estudos
nas áreas de análise de consumo e teoria monetária, recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1976.
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tendência para regulamentos estaduais menos severos sobre a economia e maior ênfase na
estabilidade da política económica em vez de nos objetivos "keynesianos", como o pleno emprego
e o alívio da pobreza abjecta. A existência da possibilidade de haver um mercado autorregulador
é uma suposição básica no liberalismo clássico e também um importante pressuposto entre os
neoliberais. A alocação eficiente de recursos é o objetivo mais importante de um sistema
económico, e a maneira mais eficiente de alocar recursos passa por mecanismos de mercado, de
acordo com teorias económicas neoliberais. Os actos de intervenção na economia de agências
governamentais são, portanto, quase sempre indesejáveis, porque a intervenção pode prejudicar a
lógica do mercado bem afinada e assim reduzir a eficiência económica. Como "a ideologia
dominante que molda nosso mundo hoje", o neoliberalismo exerce, de acordo com Ronaldo Munck
(2005), grande poder sobre os debates contemporâneos sobre reformas do comércio internacional
e do setor público, basicamente obriga a assumir uma posição contra as reformas neoliberais, ou
então contribuir para a sua difusão e consolidação. O neoliberalismo é um conceito provocador,
um tema infindável na sua capacidade de brotar debates, discussões, novas obras literárias,
"literatura crítica" cujo principal objetivo é denunciar a existência de uma tendência poderosa que
se chama "Neoliberalismo" Várias dessas obras concordam com o neoliberalismo, mas que ao
mesmo tempo, parecem dar-se por satisfeitas em deixar o conceito de neoliberalismo
completamente indefinido, alegando que desafia a definição. Por conseguinte, pode-se facilmente
começar a suspeitar que o conceito se tornou, em alguns círculos pelo menos, um termo genérico
de depreciação, quando descrevendo qualquer tipo de desenvolvimento económico e político
considerado indesejável. No entanto e, mesmo que o surgimento da literatura sugira que o
neoliberalismo é um fenómeno “novo”, o uso do termo remonta até o final do século XIX (Oxford
English Dictionary 1989a), quando apareceu num artigo do proeminente economista francês e
ideólogo central do movimento cooperativo, Charles Gide (1898; 1922). No seu artigo, que é
principalmente uma controvérsia contra o economista italiano de tendência neoliberal Maffeo
Pantaleoni (1898), Gide prefigura o uso posterior do termo, onde geralmente se pensa que o
neoliberalismo é um retorno às teorias económicas liberais clássicas de Adam Smith e seus
atendentes. Depois de Gide, no entanto, poucos fazem uso de seu conceito e o uso é inconsistente,
pois diferentes autores parecem enfatizar diferentes aspectos do liberalismo, quando descrevem
contribuições mais recentes para a teoria liberal como "neoliberal". O primeiro trabalho tipo livro,
o qua emprega no título, o termo "neoliberalismo", é a tese de doutoramento de Jacques Cros de
1950, "Le néo-libéralisme et la révision du libéralisme". Para Cros, o neoliberalismo é a ideologia
política que resultou de alguns esforços para revigorar o liberalismo clássico no período
imediatamente anterior e durante a Segunda Guerra Mundial, por teóricos políticos como Röpke e
Hayek. O argumento principal de Cros é que esses "neoliberais" procuraram redefinir o

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liberalismo, voltando para uma postura mais directa ou laissez-faire em questões de política
económica, em comparação com o “liberalismo igualitário” de Keynes. Cros geralmente aplaudiu
os "neoliberais" por tomarem uma posição contra o totalitarismo num período em que apenas
algumas o fizeram, especialmente entre a comunidade intelectual da época. No entanto ele
permaneceu cético à teoria, a que é comum à maioria dos liberais clássicos de que a liberdade
individual depende de uma economia de mercado livre, onde o Estado voluntariamente desiste da
capacidade de controlar a economia pelo bem da sociedade como um todo, ou os interesses dos
seus cidadãos.

4.5. A definição de David Harvey

Na editada "crítica" de David Harvey, ele destaca-se como sendo um dos poucos que tenta, em sua
obra intitulada “O Neoliberalismo: História e Implicações”12, dar ao conceito uma definição
abrangente, que em parte retorna às análises enviadas por Cros, Nawroth e ainda ver Eecke
(Harvey, 2005). Penso que a sua tentativa de definição derrama um raio de luz sobre a questão do
tipo de fenómeno que o neoliberalismo é:

"O neoliberalismo é, em primeiro lugar, uma teoria das práticas económicas políticas
que propõe que o bem-estar humano seja melhor avançado ao liberar o indivíduo
Liberdades empresariais e habilidades dentro de um quadro institucional
caracterizado por fortes direitos de propriedade privada, mercados livres e comércio
livre. O papel do Estado é criar e preservar um quadro institucional adequado a tais
práticas. O estado deve garantir, por exemplo, a qualidade e a integridade do
dinheiro. Também deve constituir as estruturas e funções militares, de defesa,
policiais e legais necessárias para garantir os direitos de propriedade privada e
garantir, se for caso disso, o bom funcionamento dos mercados. Além disso, se os
mercados não existem (em áreas como terra, água, educação, cuidados de saúde,
segurança social ou poluição ambiental), eles devem ser criados, por ação estatal, se
necessário. Mas, além dessas tarefas, o Estado não deve se aventurar. As intervenções
estatais nos mercados (uma vez criado) devem ser mantidas a um mínimo, uma vez
que, de acordo com a teoria, o estado não pode possivelmente possuir informações

12
Título original “A Brief History of Neoliberalism”, 2005, Este livro relata a história político-económica da origem da
neoliberalização e de como ela se proliferou no cenário mundial, revelando sua origem, descrevendo sua
disseminação pelo globo e explicitando seus efeitos, sugere ainda uma estrutura passível de permitir identificar e
construir propostas políticas e econômicas alternativas.

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suficientes para adivinhar os sinais do mercado (preços) e porque grupos de interesses


poderosos inevitavelmente distorcem e prejudicam as intervenções estaduais
(Particularmente em democracias) para seu próprio benefício"(Harvey 2005: 2).

A definição sugerida por Harvey de neoliberalismo será adequada numa análise geralista, que
inclui a firme convicção de que o mundo experimentou conforme ele mesmo refere "uma mudança
enfática no neoliberalismo nas práticas político-económicas e no pensamento desde a década de
1970" (Ibid.). Com esta definição, Harvey propõe para que o neoliberalismo seja visto, não como
o rejuvenescimento do liberalismo em geral, mas como uma teoria económica distinta que
substituiu abordagens keynesianas um liberalismo mais moderado de governação
macroeconómica, inspiradas no liberalismo moderno. Entende-se que Harvey vê o neoliberalismo
não como uma continuação específica do liberalismo, mas como algo independente dos valores e
políticas liberais tradicionais. Na verdade, parece que alguns neoliberais não são liberais em
nenhum sentido significativo, porque ele próprio encaixa autocratas antiliberais como Deng
Xiaoping e Augusto Pinochet entre a vanguarda política do neoliberalismo. No entanto, parece
haver neoliberais com uma identidade liberal, teóricos e economistas políticos, tais como Hayek e
Friedman, que figuram proeminentemente junto a políticos nominalmente conservadores, como
Reagan e Thatcher, e que na sua visão da nossa história recente, como sendo em grande parte
responsáveis por todas as coisas ditas neoliberais. Com a sua definição, que incorpora tudo do
Thatcherismo13 ao "socialismo com características chinesas", Harvey enfatiza, com razão, que o
neoliberalismo é "uma teoria das práticas económicas políticas" e não uma ideologia política
"completa". Na verdade, não parece ser qualquer tipo de conexão clara ou mesmo uma correlação
entre uma avaliação favorável das práticas económicas neoliberais e um compromisso com o
liberalismo "adequado".

4.6. Definindo o Neoliberalismo

O neoliberalismo será um conjunto informalmente demarcado de crenças políticas que, de forma


mais proeminente e prototípica, incluem a convicção de que o único propósito legítimo do Estado
é salvaguardar a liberdade, sobretudo comercial, do indivíduo, bem como os direitos de

13
Thatcherismo designa a ideologia e as políticas defendidas pelo Partido Conservador britânico, desde
que Margaret Thatcher foi eleita líder do partido, em 1975, e, posteriormente, o estilo do governo Thatcher, no
período em que foi primeira-ministra (1979-1990). Thatcher diferenciou-se dentre os demais primeiro-ministros
britânicos conservadores por ser uma ferrenha defensora do liberalismo clássico (industria e serviços deveriam
pertencer ao sector privado e não ao estado [consult. 2017-06-30]. Disponível na Internet:
http://www.britpolitics.co.uk/thatcherism

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propriedade privada (Nozick 1974; Hayek, 1979). Esta convicção geralmente causa, por sua vez,
a crença de que o estado deve ser mínimo ou pelo menos drasticamente reduzido em força e
tamanho, e que qualquer transgressão do Estado para além deste seu único propósito legítimo é
inaceitável (ibid.). Essas crenças também se poderiam aplicar a nível internacional, onde um
sistema de livre mercado e livre comércio deveria também ser implementado. O único motivo
aceitável para regulamentar o comércio internacional é salvaguardar o mesmo tipo de liberdade
comercial e os mesmos tipos de direitos de propriedade que deveriam ser realizados a nível
nacional. O neoliberalismo geralmente também inclui a convicção de que os mecanismos de
mercado livremente adotados são a maneira ideal de organizar todas as trocas de bens e serviços,
acredita-se que os mercados livres e o livre comércio, libertarão o potencial criativo e o espírito
empreendedor incorporado na ordem espontânea de qualquer sociedade humana e, assim, levará a
uma maior liberdade e bem-estar individual e a uma alocação mais eficiente de recursos (Friedman
1962, Hayek 1973). O neoliberalismo também poderia incluir uma perspectiva sobre virtude
moral, o individuo bom e virtuoso terá “permissão” de aceder aos mercados relevantes e actuar
como ator competente nesses mercados. Esse individuo deverá está disposto a aceitar os riscos
associados à participação em mercados livres e a se adaptar às mudanças rápidas decorrentes dessa
participação (Friedman, 1980). Os indivíduos também são considerados únicos responsáveis pelas
consequências das escolhas e decisões que eles fazem livremente, instâncias de desigualdade e
injustiça social flagrante são moralmente aceitáveis, pelo menos até o grau em que possam ser
vistos como resultado de decisões livremente tomadas (Nozick,1974; Hayek,1976).
Compreendendo e/ou definido desta forma o neoliberalismo, torna-se num conjunto de ideias de
como o relacionamento entre o estado e ambiente que o rodeia deve ser organizado e, não de uma
forma integra ou completa de determinada filosofia ou ideologia. Na verdade, não será de modo
algum a forma de entender uma teoria sobre como os processos políticos deve ser organizado. O
neoliberalismo é, por exemplo, “mudo” sobre a questão de saber se deve haver democracia ou
trocas de ideias políticas. Isto significa, como indica Harvey (2005), que as políticas inspiradas
pelo neoliberalismo poderiam ser implementadas sob a tutela dos autocratas e das democracias
liberais. Os neoliberais apenas afirmam, efectivamente que deve ser deixado o máximo possível
ao mercado ou a outros processos dos quais os indivíduos escolham livremente participar, e,
consequentemente, deve ser submetido o mínimo possível a processos genuinamente políticos. Os
defensores do neoliberalismo são muitas vezes retratados na "literatura crítica" como céticos da
democracia, para o caso de o processo democrático retardar as reformas neoliberais, ou ameaçar a
liberdade individual e comercial, o que às vezes acontece. Nestes casos a democracia deve ser
contornada/evitada e substituída pela regra de peritos ou instrumentos jurídicos concebidos para
esse fim. Portanto, a implementação prática das políticas neoliberais, levará a uma deslocalização

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do poder dos processos políticos para os processos económicos, do estado para os mercados e
indivíduos e, finalmente, das autoridades legislativas e executivas para o judiciário.

4.7. É esta a era do neoliberalismo?

Pelo descrito anteriormente, podemos entender que o neoliberalismo não é meramente um recente
ressurgimento do liberalismo conforme poderia sugerir o próprio conceito, será talvez melhor
entendido como sendo um descendente radical do “próprio” liberalismo, no qual as exigências
liberais tradicionais de "igualdade de liberdade" foram desviadas para uma exigência de liberdade
total para os talentosos e suas empresas/organizações. Nesse sentido, o neoliberalismo se
assemelha ao fenómeno paralelo do "neoconservadorismo", tal como o neoliberalismo não é uma
nova forma ou um recente ressurgimento do conservadorismo tradicional, mas sim um novo e
singular conjunto de ideias políticas, mas decididamente mais intransigente. Estaremos ainda em
uma não especificada etapa do desenvolvimento político e económico do mundo para "a era do
neoliberalismo" ou já estará concluída. Muito do que atrás está descrito, está relacionada com as
tendências encontradas, nos livros, i.e., “Neoliberalism – A Critical Reader” e “A Breve História
of Neoliberalism”, ou seja, o afastamento de formato obsoleto de governação “democrática” afim
de exercer a autoridade política, para um novo tipo da sociedade em que as “condições para a
política” foram severamente restringidas devido à investida de reformas políticas inspiradas no
pensamento e nas teorias neoliberais.
Há uma série de questões que, naturalmente, surgem quando somos confrontados com a ideia de
que vivemos mesmo na era do neoliberalismo. As questões mais centrais são ligeiramente
irreverentes em relação à literatura "crítica" e à análise geral, é realmente o caso de o
neoliberalismo ser "a ideologia dominante que molda nosso mundo hoje"? Estamos realmente em
movimento em direção à "sociedade neoliberal", entendida como uma sociedade governada pela
ideologia neoliberal? Poderemos mesmo e de algum modo significativo pensar que estamos
vivendo "a era do neoliberalismo"? Se existe uma tendência para reformas do setor público,
economia e comércio internacional inspirado no neoliberalismo? E essa tendência reformista está
a ganhar velocidade? Ou talvez existam indícios de que o impulso a reformas "neoliberais" possa
estar abrandando ou até paralisando? A um nível mais fundamental, será pertinente, também fazer
algumas perguntas sobre a utilidade científica e a eficiência do conceito. Será que conceito de
"neoliberalismo" nos ajudará a entender melhor o que se passa no mundo, ou é o que nos fará
desviar? Isso nos fará superar algumas tendências e subestimar outros, dos quais alguns vão
contrariar e até mesmo neutralizar as reformas do setor público e outros desenvolvimentos
inspirados nas teorias e ideologias económicas neoliberais? Mas tantas questões e tendemos voltar

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ao princípio, fará sentido falar sobre pessoas que vivem na era do neoliberalismo ou em uma
sociedade neoliberal? As convicções e atitudes contidas nas definições acima serão realmente
generalizadas e influentes? Talvez seja melhor não responder, talvez seja a melhor solução para
não pisar nenhum risco, o mais aproximado da verdade será falar de uma era de maior
complexidade, incerteza e volatilidade, em vez de uma era dominada pela ideologia neoliberal.
Parece-nos ser o mais sensato adiar ou mesmo não tentar responder de forma concreta, deixando
isso para os profissionais. Contudo o conceito de neoliberalismo deve ser considerado como uma
descrição de um conjunto de ideias que, nos últimos tempos tiveram algum impacto político, mas
que ainda continuarão a ser, quando vistos como um todo, uma ideologia extremamente radical.
Mantem-se uma questão aberta se o neoliberalismo é ou não a tendência predominante no mundo
de hoje, que muito da literatura mencionada acima sugere, ou se é melhor percebido como um
conjunto bastante radical de ideias que, no entanto, teve um certo impacto na sociedade e a política
nos últimos tempos. De qualquer forma, continua a ser necessário que as tendências supostamente
pretendidas para as formas neoliberais de organização da sociedade devem ser estudadas mais de
perto. Mas também devemos, ao mesmo tempo, interrogar-nos se outros conceitos podem ou não
descrever as tendências recentes no mundo com mais precisão.

5. Conclusão
O Neoliberalismo continua a ser um movimento por acabar, julgo que não estará errado ao dizer
que os seus melhores resultados estão bem mais visíveis nos países mais ricos. O fracasso do
neoliberalismo ao nível económico é evidente, não há qualquer evidência de ter conseguido a
revitalização do capitalismo avançado, contudo, ao nível social os resultados alcançados são por
demais evidentes positivamente, reparamos que a sua marca está bem patente nas sociedades
desiguais criadas, mas talvez ainda não tão desestatizadas quanto o esperado.
Quando os seus fundadores deram vida a este conceito, tenho para mim (ou talvez esteja a ser
demasiado ingénuo), que procuravam encontrar a melhor solução para aquele momento para
conseguir melhorar as condições de uma forma generalizada, não penso que eles conseguissem
entender a dimensão que alcançaria e o que provocariam nas sociedades a nível mundial. Criaram
o conceito que melhor encaixa na fragilidade humana, um dos maiores defeitos da humanidade é
o de nunca estar satisfeita com o que tem, procura sempre ter mais do que não precisa. O Poder e
depois a riqueza serão os instigadores por detrás da dinâmica deste conceito, talvez não
inicialmente, mas rapidamente tomaram o leme. O êxito fenomenal conseguido ao nível politico e
ideológico não estaria sequer no horizonte dos seus criadores, porque aparentemente não existem

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alternativas aos seus princípios, ou seja, quer queiramos ou não, estando contra ou favor a
adaptação às suas normas é uma questão de tempo.
Não há exemplo na história de uma ideologia ter conseguido uma expansão tão vasta e dinâmica,
poderíamos categorizar como uma hegemonia, devido à sua supremacia sobre todos e tudo. É de
facto como uma força invasora, não militar, mesmo assim é pela via da força do pensamento, pela
imposição de restrições aos Estados, tornando-os reféns economicamente e consequentemente aos
seus cidadãos, provocando o impulso nos opositores de criar formas de combater e contrariar com
outros regimes alternativos. Tudo isto não passará de teorização, não haverá como prever quando
ou como estes movimentos surgirão.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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