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História
Sociedade & Cidadania
2
ENSINO MÉDIO
COMPONENTE CURRICULAR
HISTÓRIA
2ª edição
São Paulo – 2016
FTD
MANUAL DO PROFESSOR
Página 2
FTD
Editores assistentes João Carlos Ribeiro Jr., Maiza Garcia Barrientos Agunzi
Diagramação Anderson Sunakozawa, Carolina Ferreira, Dayane Martins, Débora Jóia, Claritas Comunicação, Helena Mariko,
Ponto Inicial
Ilustrações e cartografia
Ilustradores: Alex Argozino, Getulio Delphim, Ilustra Cartoon, Luis Moura, Manzi, Mário Pita, Mozart Couto, Rmatias, Roberto
Melo
Cartografia: Alexandre Bueno, Carlos Vespucio, Renato Bassani
Revisão Aline Araújo, Carina de Luca, Claudia Anazawa, Felipe Bio, Fernando Cardoso, Lívia Perran, Lucila Segóvia, Marcella
Arruda, Pedro Fandi, Sônia Cervantes, Veridiana Maenaka
Aspecto de uma apresentação do grupo Jongo de Piquete (SP), em 2007. O Jongo é uma manifestação cultural de raiz banto que se
desenvolveu durante a expansão da cafeicultura pelo Vale do Paraíba, no interior paulista. Ele inclui canto, dança e percussão de
tambores. Em 2005, foi registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Imaterial do
Brasil.
Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada.
APRESENTAÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Um dia desses coloquei-me no seu lugar e fiquei pensando em como você iria se sentir
no primeiro contato com este livro de História.
Imaginei, então, algumas perguntas que você faria: “Será que esse livro é chato?”; “Será
que é bacana?”; “Será que vou começar a gostar de História?”; “Será que vou continuar
gostando de História?”; “Será que tem o que eu preciso aprender para passar no Enem
e/ou Vestibular?” Isto sem contar aquelas perguntas de sempre, que alguns
certamente farão: “mas para que serve a História?”; “Pra que eu tenho de saber ‘o que
já passou’?”.
Olha, vamos imaginar que você esteja debatendo com os seus colegas sobre um
assunto do seu gosto, seja qual for: amor, saúde, esporte, viagem, festa, um show que
vai estrear, ou outro assunto qualquer. Pois bem, se você quiser compreender melhor
qualquer um desses assuntos (e argumentar com mais segurança) é só lembrar que
todos eles possuem uma história, que faz parte de outras tantas histórias, passadas e
presentes. Ou seja, a História lhe dá o privilégio de debater qualquer assunto em uma
perspectiva temporal; e isto a distingue das demais disciplinas.
Também; mas não só. O estudo da História nos permite ainda conhecer a aventura
humana sobre a Terra. E isto é uma fonte de prazer.
Bem, já falei demais para uma apresentação (nós, professores, geralmente nos
entusiasmamos quando temos a palavra).
Agora eu quero convidá-lo a folhear e, depois, a ler o livro que fizemos com carinho e
para você!
O Autor
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Cada unidade é iniciada com uma abertura em página dupla. Nessas aberturas são apresentados, por meio de
imagens e textos, os temas que serão trabalhados.
ABERTURA DE CAPÍTULO
As aberturas dos capítulos propõem a discussão dos temas que serão trabalhados nas páginas seguintes.
GLOSSÁRIO
DIALOGANDO
Desafios propostos ao longo do texto para discutir imagens, gráficos, tabelas e textos.
PARA REFLETIR
Uma seção que traz textos estimulantes sobre os conteúdos estudados e propõe a discussão sobre esses temas.
PARA SABER MAIS
Um quadro que apresenta informações extras sobre os conteúdos dos capítulos trabalhados.
Página 5
ATIVIDADES
Retomando
Questões variadas sobre os conteúdos dos capítulos para serem realizadas individualmente ou em grupo. Uma forma
de rever aquilo que foi estudado.
» Leitura de imagem
Seção que permite o estudo de imagens relacionadas aos temas dos capítulos.
Interpretação de diferentes gêneros textuais. Para completar o estudo dos temas, são propostas atividades de
pesquisa ou escrita de um texto.
Integrando com...
Nesta seção, a História e outras áreas do conhecimento se encontram, o que permite ampliar ou complementar o que
foi visto no capítulo.
» Cruzando fontes
Uma seção que permitirá a você se aproximar do trabalho de um historiador, por meio da análise e da comparação de
diferentes fontes.
Você cidadão!
Reflexão sobre temas como meio ambiente, ética e solidariedade. As atividades visam estimular o exercício da
cidadania. Esta seção encerra o estudo da unidade.
Página 6
SUMÁRIO
UNIDADE 1 NÓS E OS OUTROS: A QUESTÃO DO
ETNOCENTRISMO 10
Capítulo 1 – América indígena 12
Povos americanos 13
Os astecas 13
A sociedade asteca 14
Os maias 15
As cidades-Estado maias 16
Sociedade, economia e arte 17
Os incas 18
Economia inca 19
O ayllu e a mita 20
A sociedade incaica 20
Indígenas nas terras onde hoje é o Brasil 22
Diferenças entre os indígenas 22
As línguas indígenas 23
As artes indígenas 24
Semelhanças entre os indígenas 24
Encontro e desencontro: os portugueses e os tupiniquins 25
Demografia e terra 26
Problemas dos indígenas hoje 27
As lutas dos povos indígenas 27
Atividades 29
I. Retomando 29
II. Leitura e escrita em História 31
Palê Zuppani/Pulsar
Pedro Ladeira/SambaPhoto
Página 10
››Fonte 1
DavidEnglish Photos/Alamy/Latinstock
O Pensador, escultura de Auguste Rodin; note que a menina olha para ela com admiração e
encantamento. Museu de Belas Artes Legion of Honor, Califórnia, Estados Unidos, 2007.
››Fonte 2
Gonzalo Azumendi/Easypix
Visão infantil, escultura de John Davies; note que a estátua provoca o estranhamento e o riso nos
garotos. Museu de Belas Artes de Bilbao, Espanha, 2010.
››Fonte 3
Acervo Folhapress
A fotografia retrata uma briga entre torcidas organizadas, fato cada vez mais comum nos estádios
de todo o país. Essas brigas, combinadas, por vezes, pela internet, têm resultado em mutilações e
mortes de jovens torcedores. Apesar das penalidades impostas aos agressores, a intolerância, a
hostilidade e a violência continuam fazendo vítimas, disseminando o medo e inibindo a ida aos
estádios. São Paulo (SP), 2014.
Página 11
›› Fonte 4
Além da fome, [...] das doenças, da desigualdade, um dos graves problemas que o mundo
contemporâneo enfrenta é a intolerância entre os povos. A dificuldade em encarar a
diversidade humana conduz à negação dos valores culturais alheios e supervalorização do
“grupo do eu”, visão e atitude que chamamos de etnocentrismo [...].
Uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os
outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições
do que é existência. [...]
De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta
de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa
igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados
em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos
deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz as coisas
como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais
grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo
e, ainda que diferente, também existe. [...]
O grupo do “eu” faz, então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a
melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro”, o grupo do diferente fica, nessa
lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. (ROCHA, Everardo. O que é
etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 7-9.)
ASSIS, Cássia Lobão; NEPOMUCENO, Cristiane Maria. Estudos contemporâneos de cultura. Campina Grande:
UEPB/UFRN, 2008. Disponível em:
<http://www.ead.uepb.edu.br/arquivos/cursos/Geografia_PAR_UAB/Fasciculos%20-
%20Material/Estudos_Contemporaneos_Cultura/Est_C_C_A15_J_GR_260508.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2016.
Xenofobia: é o medo do “outro” levado ao extremo. O que veio de fora, o estranho ou o estrangeiro é alguém
capaz de contaminar, destruir o lugar em que se vive. Esta fobia produz um medo que induz à intolerância, ao
crime, à agressão e inclusive às guerras.
Professor: a intenção, aqui, é evidenciar e valorizar as permanências de indivíduos e culturas indígenas nas sociedades
latino-americanas atuais, a fim de motivar o aluno ao estudo do passado e do presente dos povos indígenas da América.
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Patrick Frilet/Hemis/Corbis/Latinstock
Fabio Colombini
Povos americanos
Sabe-se que os povos ameríndios eram numerosos. Mas, sobre o total da população
na época do contato com o europeu em 1492, temos apenas uma estimativa.
Observe a tabela.
Fonte de pesquisa: LOCKHART, James; STUART, B. Schwartz. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2002. p. 57.
Entre todos os povos que viviam na América antes de Colombo, daremos especial
atenção aos astecas, maias, incas e tupis.
Os astecas
Os astecas viveram em Aztlán (daí o seu nome), no norte da América, até por volta
do século XII, quando deixaram sua região de origem em busca de terras férteis. No
início do século seguinte, depois de muito caminhar, chegaram ao Vale do México, à
beira do lago Texcoco, e, em 1325, fundaram a cidade de Tenochtitlán.
Império Asteca: nunca foi uma unidade política; era, na verdade, um conjunto de povos com diferentes
graus de subordinação aos astecas. Alguns pagavam tributos, mas tinham uma relativa autonomia; outros
eram apenas governados e, outros, ainda, só pagavam tributos à força, quando eram vítimas de expedições
punitivas promovidas pelos astecas.
Detalhe de A grande cidade de Tenochtitlán, afresco do muralista mexicano Diego Rivera (1886-
1957). Rivera inovou ao valorizar a matriz indígena na história do México, numa época em que os
livros de História daquele país mostravam os espanhóis como “os únicos construtores” da nação. O
movimento das pessoas, o tipo de trabalho e a existência de mercadorias expostas à venda
mostradas em primeiro plano indicam tratar-se de um mercado. O detalhe mostra os canteiros
flutuantes, as chinampas, ilhas artificiais feitas sobre estacas fixas no fundo do lago. A fertilidade
dessas terras pantanosas garantia a produção de alimentos para os habitantes da cidade lacustre.
Cortada por canais e aquedutos, ruas largas e retas, Tenochtitlán provocou enorme admiração nos
conquistadores espanhóis nascidos em cidades relativamente menores, de ruas tortas e estreitas.
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A dominação e os tributos exigidos pelos astecas geravam revolta. Além disso, no coração do
Império Asteca havia a cidade de Tlaxcala, inimiga ferrenha dos astecas.
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Fonte: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina colonial. São Paulo: Edusp, 2004. v. 1. p. 56.
Lista de tributos pagos pelos povos submetidos aos astecas, século XVI.
A sociedade asteca
O Império Asteca apresentava uma sociedade complexa e estratificada. O
imperador, considerado um ser semidivino, concentrava enorme poder e riqueza.
Essa riqueza provinha, sobretudo, dos impostos (na forma de pedras preciosas,
tecidos, cereais e outros), que se acumulavam no palácio imperial, onde eram
registrados pelos escribas. Em tempo de escassez, os celeiros imperiais eram
abertos para que se distribuíssem alimentos e roupas ao povo. Pelo fato de o
imperador ser o comandante do exército e, ao mesmo tempo, o mais alto
sacerdote, alguns historiadores afirmam que o Império Asteca era uma monarquia
militar teocrática.
Dica! Documentário sobre a formação do império asteca e as invenções desse povo. [Duração: 44
minutos]. Acesse: <http://tub.im/uiuagf>.
Allmaps
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2011. p. 236.
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Estela maia de cerca de 732 a.C. encontrada na cidade de Copán, atual Honduras. A estela é uma
coluna com inscrições e figuras de deuses ou personagens históricos usada para adornar urnas
mortuárias.
As cidades-Estado maias
Assim como os antigos gregos, os maias viviam em cidades-Estado, ou seja, cidades
com governo, leis e costumes próprios. Em caso de guerra contra um inimigo
comum, as cidades maias se organizavam em confederações, mas nunca chegaram
a constituir um império, a exemplo das astecas e das incas.
Marcelo Lambert
Vista geral do centro cerimonial da cidade maia de Palenque, 2011. Note que o conjunto
arquitetônico emerge da exuberante floresta tropical. O centro cerimonial era destinado ao culto
dos deuses, à prática do comércio (troca de bens agrícolas, artesanais e sagrados) e também à
celebração das festas maias. Fotografia de Marcelo Lambert, estudioso da história e da cultura dos
povos astecas, incas e maias. 2
Por volta do século IX, os maias abandonaram suas cidades subitamente. Para
alguns, as razões do abandono foram flagelos naturais, como epidemias, secas
prolongadas, inundações, terremotos, furacões. Para outros, as causas do
abandono das cidades maias foram tragédias provocadas pelo próprio ser humano,
tais como invasões violentas, pressão de grupos periféricos, insurreições
populares.
A astronomia e o calendário
Para administrar esses cálculos, foi concebido um sistema simples e engenhoso – tendo por
base o número 20 – reduzindo-se ao emprego de dois símbolos: o ponto para a unidade, a
barra para o cinco, mais um signo em forma de concha alongada equivalente a “zero”, ou
melhor, significando ausência de valor. Esses signos prestavam-se facilmente à composição de
números inteiros, podendo ultrapassar o milhar. Segundo esse sistema mesoamericano, o valor
de posição crescia progressivamente, nas colunas verticais, de baixo para cima. [...]
GENDROP, Paul. A civilização maia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 36-37.
O observatório El Caracol, em Chichén Itzá, no México, foi construído por volta de 1050. Esse sólido
edifício de pedra com argamassa e plataformas nos quatro lados era usado como observatório de
astronomia. Fotografia de 2013.
Os incas
Acredita-se que, enquanto caminhavam à procura de terras férteis, os incas
chegaram ao interior da Cordilheira dos Andes por volta do século XIII. Naquelas
terras altas, começaram suas vidas como camponeses e pastores e ergueram a
cidade de Cuzco. Aos poucos, no entanto, ampliaram seus domínios aliando-se aos
povos da região ou submetendo-os. Em 1438, fundaram um império, que teve
Pachakuti como primeiro imperador. No processo de formação do seu império, os
incas assimilaram elementos de outras culturas, inclusive o quéchua, a língua que
mais tarde espalhariam pelos Andes.
O Império Inca expandiu-se consideravelmente graças às sucessivas conquistas.
Ele era dividido em várias regiões administrativas, cujos governadores deviam
prestar contas de seus atos ao imperador. A interligação entre as regiões do
império era feita por uma eficiente rede de estradas construídas nas encostas das
montanhas. Jovens eram treinados desde a infância para correr por elas, levando e
trazendo informações e produtos por longas distâncias. As principais estradas
incas ligavam o interior a Cuzco, uma cidade planejada que servia como capital do
império incaico. Veja o que disse sobre ela um cronista espanhol do século XVI:
DIALOGANDO
Os incas justificavam a dominação sobre outros povos dizendo que o objetivo era tirá-los da
barbárie e levar-lhes a “civilização”. Você conhece outros povos que usaram esse mesmo
argumento, antes ou depois, para justificar suas conquistas?
Era grande e majestosa e deve ter sido fundada por gente capaz e inteligente. Tem ruas muito
boas, embora estreitas, e as casas estão construídas de maciças pedras, belamente unidas [...]
Cuzco era a cidade mais rica das Índias, pelo grande acúmulo de riquezas que chegavam a ela
com frequência, para incrementar a grandeza dos nobres.
LEÓN, Pedro Cieza de, 1553 apud NEVES, Ana Maria Bergamin; HUMBERG, Flávia R. Os povos da América: dos
primeiros habitantes às primeiras civilizações urbanas. São Paulo: Atual, 1996. p. 77-80. (História geral em
documentos).
Maquete: representação em escala reduzida de uma obra de arquitetura ou engenharia a ser executada.
Economia inca
Habitando regiões montanhosas, os incas adotavam a irrigação sistemática e
construíam terraços na forma de uma imensa escada para a prática da agricultura.
Nos degraus mais altos, cultivavam espécies vegetais resistentes ao frio, como a
batata; nos do meio, milho, abóbora e feijão; nos mais baixos, semeavam as árvores
frutíferas. Com isso, conseguiam colheitas variadas e fartas o ano inteiro. Os incas
se dedicavam também ao pastoreio: criavam a lhama, animal de carga com grande
resistência, além da alpaca e do guanaco, dos quais obtinham a lã e o leite.
Abaixo, vista dos terraços e construções de Machu Picchu, 2012. À esquerda, uma lhama, no mesmo
local, em 2013.
HEMIS.FR/Image Forum
Alex Robinson/JAI/Corbis/Latinstock
O ayllu e a mita
A maioria da população inca era composta de famílias camponesas que
trabalhavam na agricultura ou no pastoreio. Um conjunto de famílias unidas por
laços de parentesco ou aliança formava o ayllu, unidade social básica, cujo chefe
chamava-se kuraka. As terras de cada ayllu eram divididas em três partes: uma
pertencia ao imperador, outra aos deuses (isto é, aos sacerdotes) e uma terceira
parte, aos camponeses que ali viviam.
Allmaps
Fonte: KINDER, Hermann; HERGT, Manfred; HILGEMANN, Werner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a nuestros
días. 22. ed. Madrid: Akal, 2007. p. 234.
Situado ao longo da Cordilheira dos Andes, o Império Inca abrangia terras hoje pertencentes ao
Equador, ao Peru, à Bolívia, ao Chile e ao norte da Argentina.
A sociedade incaica
No topo da sociedade incaica estava o imperador, intitulado Inca, o “filho do Sol”,
reverenciado e respeitado por todos. Abaixo dele, a nobreza, da qual saíam os
governantes, os sacerdotes e os chefes militares.
Para refletir
Leia o texto a seguir com atenção.
Muita gente pensa que nos países da América Latina são faladas apenas duas línguas, espanhol e
português. Mas na realidade há centenas, ainda que um grande número delas esteja em risco de
extinção.
[...]
Há dois países onde não só o castelhano, mas também certas línguas indígenas têm estatuto
oficial: Peru e Paraguai. No Peru, o quéchua e o aimara são reconhecidos como oficiais pela
Constituição, mas num papel secundário: na prática, são reconhecidas apenas para serem
usadas e ensinadas dentro das respectivas comunidades indígenas e não há nenhuma tentativa
séria de tratá-las como línguas nacionais. Já no Paraguai, o guarani é realmente a segunda
língua nacional, ensinada em todas as escolas. [...]
COSTA, Antonio Luiz Monteiro Coelho da. As línguas da América Latina. Como é a América Latina, 24 maio 2012.
Blogue. Disponível em: <http://www.comoaamericalatina.blogspot.com.br/2012/05/as-linguas-da-america-
latina.html>. Acesso em: 6 abr. 2016.
d) Segundo o autor, as línguas indígenas são “naturalmente” afetivas?d) Não; isto deriva
do modo como as línguas indígenas são aprendidas e usadas pelos falantes bilíngues. Eles geralmente aprendem a falar a
língua indígena com a mãe e a utilizam em ambientes íntimos. Já a língua europeia é aprendida na escola e usada em
ambientes que exigem certa formalidade, a exemplo das repartições públicas.
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Dica! Documentário produzido pelo Museu do Índio sobre os indígenas brasileiros. [Duração: 24
minutos]. Acesse: <http://tub.im/rge3nm>.
Francis Castelnau. 1850-1859. Gravura. Biblioteca do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, São Paulo
Hércules Florence. 1828. Aquarela. Academia de Ciências da Rússia, Moscou
Repare nas diferenças físicas entre os indígenas representados nesta página. As representações que
os pintores europeus fizeram desses povos são quase sempre idealizadas, mas suficientes para
marcar as diferenças entre eles. Cortes de cabelo, adornos, pintura corporal e arte plumária
expressam uma grande diversidade sociocultural. As pinturas são do século XIX e foram feitas por
Francis Castelnau (primeira imagem, superior) e Hércules Florence (segunda imagem).
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As línguas indígenas
Um elemento importante da cultura de um povo é a língua; as línguas são
agrupadas em famílias e estas, em troncos. As línguas latinas, celtas, germânicas e
eslavas, por exemplo, originaram-se todas de um mesmo tronco, o indo-europeu. O
quadro a seguir é uma representação de línguas e famílias pertencentes ao tronco
indo-europeu.
Cultura: modo de um povo viver e interagir com o seu meio. Cada povo possui uma cultura própria, e
nenhuma é superior a outra.
TRONCO INDO-EUROPEU
Latim Celta Germânico Eslávico
espanhol bretão inglês russo
português irlandês holandês polonês
francês etc. gaulês etc. alemão tcheco etc.
sueco
norueguês etc.
Fonte de pesquisa: TEIXEIRA, Raquel F. A. As línguas indígenas no Brasil. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA,
Aracy Lopes da. A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília:
MEC/Unesco, 1998. p. 300.
DIALOGANDO
Porque deriva do latim, que era falado pelo povo da Roma antiga.
TRONCO TUPI
Tupi-guarani Arikém Juruna Mondé
akwáwa karitiana juruna aruá
amanayé xipáya cinta-larga
anambé gavião
Fonte de pesquisa: TEIXEIRA, Raquel F. A. As línguas indígenas no Brasil. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA,
Aracy Lopes da. A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília:
MEC/Unesco, 1998. p. 300.
Fonte de pesquisa: TEIXEIRA, Raquel F. A. As línguas indígenas no Brasil. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA,
Aracy Lopes da. A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília:
MEC/Unesco, 1998. p. 299.
DIALOGANDO
No nosso dia a dia, usamos, sem perceber, muitas palavras de origem Tupi. Jacaré, por
exemplo, é uma delas. Diga quais das palavras a seguir são de origem indígena: abacaxi, açaí,
amendoim, arara, babaçu, bacurau, beiju, caju e curumim.
Todas elas. As espécies frutíferas citadas (abacaxi, açaí e caju) foram domesticadas por indígenas.
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As artes indígenas
Além da língua, outro elemento de diferenciação entre os povos indígenas são as
artes praticadas por eles. Segundo um estudo sobre o assunto:
[...] As formas de manipular pigmentos, plumas, fibras vegetais, argila, madeira, pedra e outros
materiais conferem singularidade à produção ameríndia, diferenciando-a da arte ocidental,
assim como da produção africana ou asiática. Entretanto, não se trata de uma “arte indígena”, e
sim de “artes indígenas”, já que cada povo possui particularidades na sua maneira de se
expressar e de conferir sentido às suas produções. [...]
» A divisão do trabalho é feita por sexo e idade. Isto é, há tarefas que são
masculinas, como derrubar a mata e preparar a terra para o plantio, cuidar da
segurança do grupo, caçar, pescar, construir moradias; e outras que são femininas,
como plantar, colher, transportar, fazer farinha, cestos, redes, cozinhar e cuidar das
crianças. As crianças ajudam os adultos em tarefas compatíveis com sua idade;
Fig. 1: construção de oca, Aldeia Kamayurá, Parque do Xingu, Mato Grosso, 2014.
Fabio Colombini
Fabio Colombini
Fig. 3: mulher Kalapalo preparando beiju, Aldeia Aiha, também no Parque do Xingu, 2011.
Encontro e desencontro: os portugueses e os
tupiniquins
Os primeiros contatos entre os tupiniquins e os portugueses nas terras onde hoje é
Porto Seguro, na Bahia, em 1500, foram mediados pelo estranhamento. Segundo o
escrivão da armada de Cabral, Pero Vaz de Caminha, esses habitantes eram pardos,
não usavam qualquer vestimenta e traziam consigo arcos e setas.
Esses povos, por sua vez, reagiram à escravização por meio de revoltas coletivas,
da violência individual, do saque e da fuga para o Sertão. Mas os colonizadores
acabaram vencendo pela força e conquistando para si as terras indígenas. As
guerras de apresamento, as grandes fomes que geralmente acompanhavam essas
guerras, a escravização e, sobretudo, doenças, como gripe, sarampo, tuberculose e
varíola, causaram a morte de dezenas de milhares de indígenas.
Pau-brasil: espécie de madeira nativa da Mata Atlântica: tem o tronco recoberto de espinhos, o interior
avermelhado, e pode atingir até 30 m de altura e 1,5 m de diâmetro.
Tuberculose: infecção que se manifesta nos pulmões, sistema nervoso, intestino e rins. É transmitida por
leite contaminado, pela saliva e pela manipulação de objetos. Os sintomas são emagrecimento e tosse.
Varíola: doença infecciosa caracterizada por febre alta e erupções na pele, com formação de bolhas com pus.
Costuma deixar marcas.
DIALOGANDO
Você sabe por que, no caso dos indígenas, as doenças mataram mais do que as armas de
fogo?
Os indígenas não tinham defesas naturais (imunidade) contra as doenças. Além disso, elas se manifestavam como epidemias,
atingindo muitas pessoas de uma só vez. Não havendo quem cuidasse dos doentes, muitos morriam por inanição, como
explicou a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha.
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Demografia e terra
Contrariando previsões fatalistas segundo as quais os povos indígenas estariam em
extinção, a população indígena vem crescendo em um ritmo acelerado. Observe a
tabela.
O número de pessoas que se declararam indígenas em 2010 foi 11% maior que o registrado no
Censo de 2000.
Dica! Documentário baseado na obra do sociólogo Darcy Ribeiro sobre o povo brasileiro, com
foco nos indígenas. [Duração: 26 minutos]. Acesse: <http://tub.im/fois4r>.
Em 2010, os cerca de 817 mil índios contabilizados pelo censo do IBGE no país
estavam distribuídos em mais de 305 etnias, que falam 274 línguas, das quais
apenas metade foi estudada e é, de fato, conhecida. Com relação às terras
indígenas, mais de 80% delas encontram-se na região Norte. Segundo o Instituto
Socioambiental havia no Brasil, em 2016, 700 terras indígenas (TIs), a maior parte
dela na Amazônia Legal. Conheça a situação dessas terras observando a tabela:
*A extensão neste grupo refere-se às TIs em revisão ou às com restrição de uso. Fonte de pesquisa: INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL (ISA). Povos indígenas no Brasil. Disponível em:
<http://pib.socioambiental.org/pt/c/0/1/2/situacao-juridica-das-tis-hoje>. Acesso em: 2 maio 2016.
DIALOGANDO
As terras indígenas correspondem hoje a cerca de 14% do território nacional. Para alguns
grupos, no Brasil “há terra demais para pouco índio”. Para outros, os índios devem possuir
as terras que tradicionalmente ocupam. E você, o que pensa sobre o assunto?
Resposta pessoal.
Em identificação: é quando a Funai, que é o órgão indigenista federal, inicia estudos para definir se
a terra é, de fato, tradicionalmente ocupada por um ou mais povos indígenas. Identificada: é
aquela terra sobre a qual já se possui estudo realizado pela Funai e publicado no Diário Oficial da
União. Declarada: são as terras aprovadas pelo Ministro da Justiça, que autoriza a sua demarcação
por meio de uma Portaria. Homologada: terras cuja demarcação foi homologada por meio de um
decreto assinado pelo presidente da República.
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1. Dica! Documentário sobre a aldeia indígena Ribeirão Silveira, em Bertioga (SP). [Duração: 27
minutos]. Acesse: <http://tub.im/gjq2e4>.
Outro problema é a invasão das áreas indígenas (já delimitadas) por fazendeiros,
posseiros, madeireiros e garimpeiros desejosos de explorar as riquezas nelas
existentes. Mais um problema, ainda, é que os povos indígenas são numerosos,
falam línguas diferentes e estão espalhados por áreas distantes umas das outras, o
que dificulta a luta deles por direitos. 2
2. Dica! Vídeo produzido pela ONU abordando os suicídios e o desespero de indígenas Tupi
-Guarani no Brasil. [Duração: 9 minutos]. Acesse: <http://tub.im/pta6nc>.
Palê Zuppani/Pulsar
As lutas dos povos indígenas têm rendido frutos. Sua participação ativa nos
trabalhos que deram origem à Constituição de 5 de outubro de 1988 foi importante
para a aprovação de várias leis de seu interesse.
Dica! Documentário sobre a luta dos povos indígenas do rio Xingu contra a construção da usina
de Belo Monte. [Duração: 10 minutos]. Acesse: <http://tub.im/zdkxnk>.
O caput do artigo 231 da Constituição de 1988 afirma que “são reconhecidos aos
índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições [...]”. Diz ainda
o mesmo artigo: “São reconhecidos aos índios [...] os direitos originários sobre as
terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens”.
Além disso, o parágrafo 2º do artigo 210, dessa mesma Constituição, assegura aos
povos indígenas um Ensino Fundamental regular em língua portuguesa,
respeitando a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem, incentivando, assim, a educação escolar indígena.
Já se foi o tempo de missionários, juristas e políticos decidirem o destino dos índios. Isso cabe a
eles. A eles cabe o direito de decidir seu futuro, resolver o que querem mudar e o que
pretendem manter. A nós, cabe lutar por uma sociedade que saiba respeitar a diferença e
conviver com ela, possibilitando a todos o acesso à plena cidadania.
Escola indígena com estudantes do povo saterê-maué, em Manaus (AM), 2014. Atualmente vêm
sendo desenvolvidos métodos de ensino e aprendizagem, conteúdos e materiais didáticos
adequados à educação escolar indígena. A educação oferecida por estas escolas quer ajudar o aluno
a consolidar sua identidade étnica, valorizar o conhecimento tradicional, sua língua e a história do
grupo ao qual pertence. Note que a professora mostrada na imagem também é indígena.
Página 29
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Unemat-MT – 2015)
Tenochtitlán, uma cidade de canais, praças e mercados, pirâmides, templos, palácios, lojas e
residências, que começou numa ilha no lago Texcoco e estendeu-se para as praias mais
próximas com as quais se comunicava por estradas. Na época da conquista espanhola, ela era
uma orgulhosa metrópole de 200 mil habitantes, tão soberba que o conquistador Bernal Diaz
del Castillo registrou que mesmo “aqueles que estiveram em Roma ou Constantinopla dizem
que em termo de conforto, regularidade e população nunca viram algo semelhante”.
PINSKY, Jaime et al. História da América através de textos. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1991. Adaptado.
a) Inca.
b) Asteca.
c) Maia.
d) Tolteca.
e) Tupinambá.
1. Resposta: b.
2. (UEL-PR – 2014) As cidades antigas, construídas por diversas sociedades, expressaram através
do tempo sua cultura, arquitetura, ciência e modo de vida. Muitas se tornaram monumentos ao ar
livre, nos quais se desenvolveram pesquisas arqueológicas que abasteceram de objetos históricos
as maiores coleções museográficas europeias. Relacione as cidades, na coluna da esquerda, com as
suas respectivas sociedades, na coluna da direita.
2. Resposta: e.
a) Curaca.
b) Ayllu.
c) Calpulli.
d) Halach Uinic.
e) Batab.
3. Resposta: b.
II. Houve inúmeros movimentos migratórios indígenas, forçados ou voluntários, para o interior do
Brasil; para fugirem das epidemias e da escravização.
III. O despovoamento do litoral brasileiro durante o primeiro século de ocupação conferiu uma
dimensão trágica à colonização.
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
4. Resposta: e.
Página 30
5. (Enem/MEC – 2015)
A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras; convém a saber, não se acha nela
F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa
maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.
GÂNDAVO, P. M. A primeira história do Brasil: história da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos
Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004 (adaptado).
A observação do cronista português Pero de Magalhães de Gândavo, em 1576, sobre a ausência das
letras F, L e R na língua mencionada, demonstra a
5. Resposta: d.
6. (Enem/MEC)
Em geral, os nossos tupinambá ficam bem admirados ao ver os franceses e os outros dos países
longínquos terem tanto trabalho para buscar o seu arabotã, isto é, pau-brasil. Houve uma vez
um ancião da tribo que me fez esta pergunta: “Por que vindes vós outros, mairs e perós
(franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em
vossa terra?”
(LÉRY, J. Viagem à Terra do Brasil. In: FERNANDES, F. Mudanças Sociais no Brasil. São Paulo: Difel, 1974)
O viajante francês Jean de Léry (1534-1611) reproduz um diálogo travado, em 1557, com um
ancião tupinambá, o qual demonstra uma diferença entre a sociedade europeia e a indígena no
sentido
6. Resposta: a.
Etnocentrismo: tendência para considerar a cultura de seu próprio povo como a medida para
todas as outras.
››Texto 2
[Os índios] não têm fé, nem lei, nem rei (...). são mui desumanos e cruéis, (...) são mui
desonestos e dados à sensualidade (...). Todos comem carne humana e têm-na pela melhor
iguaria de quantas pode haver (...). Vivem mui descansados, não têm cuidado de cousa alguma
se não de comer e beber e matar gente.
7. a) Sim, porque o autor expressa a visão de mundo dominante no Ocidente cristão daquela época e julga o “outro”, no caso
os indígenas, tomando por bases suas próprias crenças e valores. Seu etnocentrismo fica evidente quando ele os acusa de
desonestos, preguiçosos (“mui descansados”), relapsos (“não têm cuidado de cousa alguma”) e de só se dedicarem a comer,
beber e matar gente.
b) Comente algumas das consequências, para as populações indígenas, da chegada dos portugueses
à América.
7. b) Os indígenas foram vítimas das guerras de conquista e apresamento; das grandes fomes que geralmente acompanham
as guerras; da desestruturação social; da escravização, e, sobretudo, das doenças, como gripe, sarampo, tuberculose, varíola
e malária, que provocaram a morte de dezenas de milhares de pessoas.
Página 31
O império do Sol
Muito longe [...] na Cordilheira e nas costas do Pacífico, estendia-se um outro mundo, o
Tahuantinsuyu [...]. Era um império repleto de cidades imponentes – enormes cidadelas, onde
circulava um exército de funcionários –, cortado por estradas que passavam por cristas e
abismos graças a inúmeras pontes de cipós e milhares de escadarias de pedra. Por todo lado
havia postos de parada, que eram ao mesmo tempo albergues e depósitos, à beira desses
itinerários trilhados pelos correios oficiais ou chasqui, enviados pelos representantes do Inca.
Todas as estradas terminavam na capital do império, Cuzco.
Cristas: elevações.
Esse outro mundo era o dos incas e dos povos a eles submetidos. [...]
[...] O império inca era composto por um mosaico de povos e de paisagens naturais, dispersos
num quadro montanhoso que dificultava a comunicação. Sua expansão encontrava obstáculos.
“Enquanto no norte e no sul o império dominava imensas regiões, era detido a oeste e a leste
por duas fronteiras: uma, oceânica [...], outra, geopolítica, onde elementos naturais e pessoas
resistiam melhor que em outro lugar à política expansionista imperial. [...]
A força dos incas é primeiramente o império de uma língua, o quéchua, imposta às populações
tributárias e ensinada aos chefes dos grupos derrotados. É também o resultado de um
centralismo estatal e de uma política de deportação que fixava nas regiões controladas pelo
Império Inca as etnias oriundas das regiões insubmissas. É a eficácia de uma rede viária de
vinte mil quilômetros que cobria a maior parte do país. Por fim, é um laço ideológico e
religioso, o culto ao Sol Inti, que não parava de reafirmar a superioridade do Inca.
GRUZINSKI, Serge. A passagem do século: 1480-1520: as origens da globalização. São Paulo: Companhia das Letras,
1999. p. 76-78. (Virando séculos).
JTB Photo/UIG via Getty Images
Vista de Machu Picchu, em Cuzco, 2013. Situadas no Peru, a 2 560 m de altitude, as ruínas são hoje
um dos mais instigantes sítios arqueológicos do mundo.
d) Em dupla. Na visão de vocês, quais dessas razões têm maior potencial explicativo?
Página 32
Colonizações: espanhóis e
Capítulo 2
ingleses na América
A fonte 1 é texto da historiadora Janice Theodoro; já a fonte 2 é uma imagem atual
da Igreja e Convento de Santo Domingo, localizados em Cuzco, cidade que um dia
foi capital dos incas.
››Fonte 1
O colonizador, como se fosse um escultor, talhou a América na forma em que havia imaginado.
Destruía pirâmide para construir igrejas, derrubava habitações para obter o desenho da praça
ou o traçado desejado para as ruas, jogava pedras nos canais para que os cavalos pudessem
circular melhor na cidade. Reconstituía-se tudo o que era possível para que o núcleo urbano
lembrasse a Europa.
››Fonte 2
Professor: o texto confirma a imagem e ambos se complementam. Como disse o historiador Cleber Cristiano Prodanov: “Os
espanhóis pouco se importaram com a arte e as formas dos incas; destruíram tudo que não fosse a imagem da Europa.
Portanto, além de obterem riquezas, os europeus consideravam importante destruir as formas de representação dos
americanos, mostrar sua fragilidade, humilhar seu imperador e seus deuses, liquidá-los também moralmente [...].”
(THEODORO, Janice. Descobrimentos e renascimento. São Paulo: Contexto, 1991. p. 46)
Hemis/Alamy/Glow Images
A Conquista
Os espanhóis iniciaram a ocupação das terras da América pelas ilhas chamadas de
Guanaani pelos nativos e renomeadas pelos espanhóis como São Salvador. Mas os
metais preciosos encontrados nesses locais eram insuficientes para saciar a “sede
de ouro e prata” que moveu aqueles europeus a virem para a América.
Movidos pela crença de que tinham direito às terras americanas e contando com a
ajuda de milhares de aliados indígenas, Cortez e suas forças venceram os homens
de Montezuma (governante asteca) e conquistaram Tenochtitlán (1521). Não se
sabe ao certo o número de indígenas que auxiliou Cortez a tomar a capital asteca;
historiadores especializados acreditam que na primeira investida espanhola esse
número tenha sido de 6 mil homens; e que na investida final contra a capital asteca
tenha chegado a 200 mil aliados indígenas, que nada receberam em troca.
Batalha de Tepexic. Esta imagem é uma cópia de um dos 80 desenhos que constam do Lienzo de
Tlaxcala, obra extraordinária feita por artistas indígenas da cidade de Tlaxcala no século XVI. Note
que Hernán Cortez é desenhado a cavalo enquanto seus aliados batalham a pé.
Escola espanhola. Séc. XVII. Óleo sobre painel. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Esta pintura do século XVII representa a conquista de Tenochtitlán pelos espanhóis. Como a
imagem sugere, a aliança dos espanhóis com dezenas de milhares de nativos foi importante fator da
Conquista. Note que o autor da obra destaca os espanhóis mostrando-os em primeiro plano e numa
posição superior a de seus aliados indígenas.
Página 34
DIALOGANDO
Resposta pessoal. Professor: comentar que os incas estranharam que um líder pudesse mentir. Entre eles o líder era visto
como um ser semidivino e que, portanto, só falava a verdade.
1. Dica! Documentário sobre a conquista do México liderada por Cortez. [Duração: 46 minutos].
Acesse: <http://tub.im/x5i7g5>.
2. Dica! Documentário sobre a conquista do Império Inca pelos espanhóis. [Duração: 46 minutos].
Acesse: <http://tub.im/bdx59u>.
Christian Vinces/Shutterstock
Igreja e Convento de São Francisco na principal praça do Centro Histórico de Lima, cuja construção
se iniciou no século XVI. Fotografia de 2012.
Página 35
Para refletir
A resistência indígena
A resistência inca no sul do Peru, por exemplo, durou quase 40 anos. Protegidos
pela muralha de neve da Cordilheira dos Andes, eles resistiram aos espanhóis de
1532 a 1572. Só com muito esforço e com a ajuda de efetivos vindos da Espanha foi
que os espanhóis conseguiram vencer os incas. Na ocasião, o lendário Túpac
Amaru, considerado o último líder da resistência inca, foi aprisionado e decapitado
pelos espanhóis.
Homens, mulheres e crianças indígenas se reúnem para homenagear seus ancestrais em Cuzco, no
Peru, 1989. As pedras nas quais eles se apoiam são restos de uma muralha erguida pela resistência
inca aos espanhóis.
1. da democracia racial;
2. da cordialidade espanhola;
3. do indígena receptivo;
a) Alternativa 4.
b) A imagem reforça e documenta o afirmado no texto, pois descendentes de indígenas assistem a uma celebração
acomodados ou apoiados em pedras que faziam parte de uma muralha erguida pelos incas para lutar contra os
conquistadores espanhóis.
c) Tente responder: por que, durante muito tempo, a resistência indígena durante
a conquista europeia da América esteve ausente dos livros escolares?
c) Essa atitude de negação do indígena como sujeito de sua história deveu-se a uma multiplicidade de fatores, entre os quais
cabe destacar:
•durante muito tempo a história de viés positivista apoiou-se em documentos escritos; os povos ágrafos eram considerados
povos parados no tempo, sem história;
• a historiografia de filiação positivista produziu uma história eurocêntrica, apresentando os indígenas sempre como
coadjuvantes; além disso, postulou que, mais cedo ou mais tarde, o processo civilizatório levaria à completa integração dos
indígenas a nossa sociedade, ou ao seu desaparecimento.
Página 36
Fac-símile da capa do livro Sete mitos da conquista espanhola, de Matthew Restall. O livro desfaz
mitos e lança luz sobre uma questão que sempre preocupou historiadores: o que explica a
conquista espanhola da América?
Uma declaração clássica é a de [...] que “a história da Conquista do México foi concluída com a
rendição da capital”. Embora a frase esteja de acordo com a vasta maioria do que foi escrito
sobre a Conquista, desde o século XVI até o presente, após a destruição de Tenochtitlán os
espanhóis não haviam conquistado o México; haviam tão somente desmembrado o Império
Asteca. [...]
[...] Enquanto isso, a presença hispânica no restante da região coberta pelo Império Asteca era
mínima – e seu controle sobre a área mais ampla que viria a ser o México moderno,
praticamente nulo. Na verdade, os espanhóis sequer haviam posto os pés na maioria dos
territórios do que seria a Nova Espanha colonial [...]. No início da década de 1520, Cortés
aparentemente acreditava [...] que Michoacán fora subjugada e encontrava-se sob o domínio
hispânico – muito embora [...] a população nativa considerasse seu império a potência
dominante da região. [...] Portanto, ao mesmo tempo em que 1521 representou o fim da guerra
[...] contra o Império Asteca, assinalou também o princípio das guerras de conquista na maior
parte do México e Mesoamérica [...].
[...] De par com o tênue domínio do México central pelos espanhóis em 1521, o controle do
Peru era quase inexistente em 1532 (não obstante a captura e execução de Atahuallpa) [...]. O
Estado inca independente subsistiu até seu governante, Túpac Amaru, ser executado pelos
hispânicos em 1572 – e, mesmo depois disso, porções significativas dos Andes continuaram
fora do controle colonial direto.
RESTALL, Matthew. Sete mitos da conquista espanhola. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 136-137.
Mito da completude: para o historiador Matthew Restall, a ideia de que a conquista foi imediata e total é
um mito ao qual ele dá o nome de mito da completude.
Página 37
»» as visões de mundo dos astecas e incas eram muito diferentes das dos
espanhóis. A guerra para os astecas incluía a realização de cerimônias que
antecediam as batalhas – que eliminavam a possibilidade de ataques de surpresa –
e a captura de inimigos para posterior execução ritual, em vez de matá-los no ato.
Pedro Subercaseaux. Sem data. Coleção particular
Detalhe de O jovem Lautaro, obra do século XIX. O líder araucano Lautaro continua presente no
imaginário popular chileno. Nas terras onde hoje é o Chile, os indígenas araucanos ofereceram dura
e longa resistência aos espanhóis. Os araucanos aprenderam com os espanhóis a usar o cavalo como
arma de guerra e ficaram conhecidos pela maestria com que utilizavam esse animal em diversas
situações.
Página 38
A economia colonial
A colonização da América espanhola foi impulsionada por nobres sem fortuna,
comerciantes, aventureiros e pelos reis da Espanha, ou seja, por interesses
públicos e privados, e se insere no contexto do mercantilismo. A crença no
metalismo, por exemplo, ajuda a explicar por que os espanhóis daquele tempo
manifestavam tanta sede de ouro.
A mita, hábito inca adaptado pelos espanhóis, era a obrigação que os indígenas
tinham de trabalhar durante 4 meses por ano em troca de baixos salários. Esses
trabalhadores (os mitayos) recebiam por seu trabalho cerca de um terço do salário
de um trabalhador livre daquela época. Parte do salário era paga em moeda (ou
metal) e parte, em alimentos, tecidos e bebidas. Muitos deles se viciavam no
consumo de álcool e acabavam morrendo.
A mineração
Na América, os espanhóis iniciaram a extração de metais preciosos pela ilha de
Hispaniola (atuais Haiti e República Dominicana). O ouro ali encontrado, no
entanto, era ouro de aluvião e se esgotou rapidamente. Foi somente em 1545,
com a descoberta das minas de prata de Potosí (atual Bolívia) e, no ano seguinte,
das de Zacatecas (atual México), que a mineração veio a ser o setor mais dinâmico
da economia colonial.
Ouro de aluvião: ouro depositado nas margens ou no leito dos rios e de fácil extração.
Esta gravura de Théodore de Bry (1590) mostra pessoas conduzindo lhamas carregadas de prata.
Elas deixavam as terras altas da cordilheira andina depois de um longo percurso e chegavam ao
litoral da América banhado pelo Atlântico. De lá a prata era embarcada para o porto de Sevilha, na
Espanha.
Página 40
A agropecuária
A agropecuária foi praticada em extensas áreas do território americano. A unidade
produtora básica nos campos coloniais foi a fazenda (hacienda), grande
propriedade rural voltada para a policultura. Entre as plantas mais cultivadas
estavam o milho, a batata, o cacau, e o tabaco (nativas da América) e a cana-de-
açúcar (introduzida na América pelos europeus); além disso, criava-se gado de
corte e de transporte (como mulas e cavalos).
Séc. XVIII. Gravura. Coleção particular. Foto: The Granger Collection/Glow Images
Engenho de produção de açúcar na região das Antilhas em uma gravura do século XVIII. No canto
superior direito, vê-se a casa do fazendeiro; no canto inferior direito, as habitações dos escravos; ao
centro, as plantações de cana e, no canto inferior esquerdo, a casa onde se fabricava o açúcar.
Página 41
Obraje: oficina que utiliza o trabalho manual para produzir tecidos, artigos de couro, cigarros, charutos,
entre outros.
O porto de Sevilha, c. 1580, detalhe da obra de Sanchez Coello (1531- 1589). A imagem desse porto
ajuda a imaginar o que pode ter sido o movimentado comércio entre a Espanha e suas colônias na
América.
Página 42
A administração colonial
O principal órgão da administração espanhola na América foi o Conselho Real e
Supremo das Índias, criado por Carlos V, em 1524. Com sede na Espanha, esse
órgão era encarregado de todas as questões coloniais de ordem legislativa,
eclesiástica, militar ou jurídica.
Fonte: THE TIMES Atlas of the World History. Londres: Times Books, 1990. p. 161.
Página 43
A sociedade colonial
A sociedade colonial hispano-americana era formada basicamente por:
chapetones ou peninsulares (colonos nascidos na Espanha), criollos (filhos de
espanhóis nascidos na América), mestiços (filhos de peninsulares ou de criollos
com indígenas ou africanas), indígenas (maioria da população) e negros
escravizados. Essa sociedade possuía hierarquia rígida e pouca mobilidade social
(a dificuldade de ascensão social era grande).
O início da vida desses primeiros colonos que vieram para a América inglesa não
foi fácil, pois tiveram de enfrentar a fome, o frio, as doenças e a resistência dos
indígenas à ocupação de suas terras. Esses fatores levaram ao fracasso a primeira
experiência de colonização inglesa em terras americanas.
E, por isso, lançaram uma propaganda prometendo terras férteis e uma nova vida
àqueles que embarcassem para a América.
Dica! Documentário sobre os primeiros ingleses que chegaram à América do Norte. [Duração: 43
minutos]. Acesse: <http://tub.im/i9nsvj>.
Os primeiros colonos
As pessoas atraídas pela propaganda das Companhias de Comércio eram de
diversas origens e condições sociais: aventureiros, degredados, mulheres para
serem leiloadas como esposas, órfãos e crianças raptadas... Havia também:
Peregrinos deixando a Inglaterra rumo à América. Nessa obra de 1857, o pintor Robert Walter Weir
os representa portando a Bíblia e orando.
DIALOGANDO
Professor: comentar que ocorreu uma apropriação da memória da colonização: só a parte wasp (em inglês, branco, anglo-
saxão e protestante) da população foi valorizada, enquanto os indígenas, os africanos e os vários grupos europeus foram
mantidos no esquecimento.
Página 45
A América inglesa, do Atlântico até o Pacífico era habitada por centenas de grupos
indígenas, como os Cherokees, iroqueses, algonquinos, comanches e apaches. A
história desses povos foi profundamente afetada pela chegada dos europeus.
Dentre os grupos indígenas com os quais os colonos tiveram mais contato
inicialmente, podemos destacar os iroqueses e os algonquinos. Ambos viviam nas
florestas temperadas das Colônias do Norte e também onde é hoje o Canadá. Esses
e outros grupos indígenas nunca foram integrados à colonização inglesa.
Os indígenas resistiram ao avanço dos colonos europeus sobre suas terras por
meio de violentos ataques a eles. Durante a colonização, esses conflitos se
intensificaram e alguns deles culminaram em acordos de demarcação de terras. Em
decorrência desses acordos surgiram, também, as reservas indígenas, áreas
destinadas exclusivamente a indígenas. No entanto, muitos desses acordos foram
violados, e as áreas das reservas indígenas, desrespeitadas.
Edward S. Curtis/Corbis/Latinstock
As Treze Colônias
COLÔNIAS ORIGINAIS
Nome Fundada por Ano
Virgínia Companhia de Londres 1607
New Hampshire Companhia de Londres 1623
Massachusetts John Mason e outros separatistas 1620- 1630
(Plymouth) puritanos
Maryland Lord Baltimore 1634
Connecticut Emigrantes de Mass 1635
Rhode lsland Roger Williams 1636
Carolina do Norte Emigrantes da Virgínia 1653
Nova York Holanda 1613
Nova Jersey Barkeley Carteret 1664
Carolina do Sul Nobres ingleses 1670
Pensilvânia William Penn 1681
Delaware Suécia 1638
Geórgia George Oglethorpe 1733
Fonte: KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007. p.
44.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício et al. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 62.
O mapa mostra as Treze Colônias que deram origem aos Estados Unidos da América. Dez delas
foram fundadas por britânicos. Nova York, cujo primeiro nome foi Nova Amsterdã, era
originalmente holandesa. Delaware foi colonizada por suecos. Todas elas passaram depois ao
domínio britânico.
Página 47
As colônias do Centro-Norte
As colônias do Centro-Norte da costa Atlântica, área de clima temperado,
semelhante ao europeu, desenvolveram-se com base na policultura (trigo, maçã,
batata, milho), na pequena propriedade e na mão de obra familiar ou servil. Além
disso, produziram também manufaturas feitas de lã, couro, ferro e madeira. Esses
produtos eram exportados para diferentes lugares; era o chamado comércio
triangular. Veja como esse lucrativo comércio funcionava:
» Passo 2 – essa bebida era levada para a costa ocidental da África e trocada,
usualmente, por africanos escravizados.
Dica! Vídeo sobre o comércio triangular na colonização inglesa. [Duração: 3 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/ka2nmk>.
Allmaps
Fonte: NARO, Nancy P. S. A formação dos Estados Unidos. 3. ed. São Paulo/Campinas: Atual/Editora da Unicamp,
1987. p. 15. (Discutindo a História).
As colônias do Sul
O Sul – região de clima quente e planícies extensas – produziu, desde cedo, gêneros
agrícolas de larga aceitação na Europa, como o fumo, o algodão e o anil. Desde cedo
também os fazendeiros sulistas trouxeram escravizados da África Ocidental para
trabalharem nas suas plantações. Assim, o Sul foi sendo ocupado por plantations
(grandes propriedades escravistas que cultivavam um único produto, como o
algodão, por exemplo). Com isso, formou-se na região uma sociedade aristocrática
e caracterizada por grande desigualdade social. Os sulistas vendiam fumo, algodão
e anil para a Inglaterra e compravam dela quase tudo de que necessitavam: desde
ferramentas e livros até garfos, facas, entre outros. Essa dependência econômica
em relação à metrópole inibia o afloramento de ideias de independência política.
Governador: em algumas colônias os governadores eram nomeados pela monarquia inglesa e tinham o
poder de anular (vetar) as leis contrárias aos interesses metropolitanos; em outras eram eleitos pelos próprios
colonos e não tinham direito de veto.
Página 49
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. Interprete a seguinte afirmação:
Os espanhóis pouco se importaram com a arte e as formas dos incas; destruíram tudo que não
fosse a imagem da Europa. Portanto, além de obterem riqueza, os europeus consideravam
importante destruir as formas de representação dos americanos, mostrar sua fragilidade,
humilhar seu imperador e seus deuses, liquidá-los também moralmente [...]
PRODANOV, Cleber Cristiano. O mercantilismo e a América. São Paulo: Contexto, 2001. p. 46. (Repensando a História
Geral).
1. Com essa afirmação o historiador Prodanov quer chamar a atenção para outro móvel da Conquista, além da busca
obsessiva por ouro e prata: o desejo europeu de impor aos ameríndios seu modo de vida, valores e crenças. Um exemplo
disso é que as estátuas de deuses indígenas levadas para a Europa eram rapidamente derretidas e transformadas em
moedas de ouro ou prata, com a efígie do rei da Espanha.
2. (UFPel-RS)
Naquele tempo, não havia doenças, nem febres, nem doenças dos ossos ou de cabeça [...].
Naquele tempo, tudo estava em ordem. Os estrangeiros mudaram tudo quando chegaram. De
fato, por mais saudosismo que possa expressar esse lamento, parece mesmo que as doenças do
Velho Mundo foram mais frequentemente mortais nas Américas do que na Europa. O
missionário alemão chegou inclusive a escrever no finalzinho do século XVIII que os índios
morrem tão facilmente que só a visão ou o cheiro de um espanhol os fazem passar deste para
outro mundo. Umas quinze epidemias dizimaram a população do México e do Peru.
FERRO, Marc. História das colonizações - das conquistas às independências - séculos XIII a XIX. São Paulo: Cia. das
Letras, 1996.
Codex Florentino. C. 1540. Litogravura. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
c) Imperialismo ibérico e dos Países Baixos exterminando as populações incas, maias e astecas, na
Idade Contemporânea.
2. Resposta: a.
3. (Unesp-SP)
[...] como puder, direi algumas coisas das que vi, que, ainda que mal ditas, bem sei que serão de
tanta admiração que não se poderão crer, porque os que cá com nossos próprios olhos as
vemos não as podemos com o entendimento compreender.
O processo de conquista do México por Cortés estendeu-se de 1519 a 1521. A passagem acima
manifesta a reação de Hernán Cortés diante das maravilhas de Tenochtitlán, capital da
Confederação Mexica. A reação dos europeus face ao novo mundo teve, no entanto, muitos aspectos,
compondo admiração com estranhamento e repúdio. Tal fato decorre:
Página 50
3. Resposta: c.
4. Resposta: a.
5. (UFMG) Leia estes trechos em que se trata das relações de trabalho nas colônias espanholas da
América:
II. “Cada comunidade deveria fornecer, periodicamente, uma quantidade de trabalhadores para as
atividades coloniais [principalmente nas minas]. [...] Pelo trabalho[...], os índios deveriam receber
um salário, parte do qual obrigatoriamente em moeda (ou metal), a fim que pudessem pagar o
tributo régio.”
VAINFAS, Ronaldo. Economia e sociedade na América Espanhola. Rio de Janeiro: Graal, 1984. p. 61-4.
5. Resposta: c.
b) Baseava-se numa forma de servidão temporária que submetia os colonos pobres a um conjunto
de obrigações em relação aos grandes proprietários de terras.
6. Resposta: c.
Página 51
a) Observe o vestuário, a postura e os acompanhantes dos líderes mostrados na pintura. Quem são
eles?
a) À esquerda, vê-se o chefe asteca, Montezuma; em sua frente, à direita, está o líder espanhol Hernán Cortez. Repare que o
líder indígena e seus acompanhantes vestem-se com trajes tradicionais dos astecas: tangas, mantos sobre os ombros e
sandálias; Cortez, por sua vez, aparece vestido à moda da nobreza espanhola do século XVI. Tanto Montezuma quanto Cortez
aparecem sentados em cadeiras bem trabalhadas, mas o último encontra-se sobre um tablado.
b) A índia que se vê ao lado de Cortez é Malinche, uma jovem que tinha sido aprisionada pelos
astecas e presenteada aos espanhóis logo que eles chegaram à América. Por isso, Malinche
guardava um forte ressentimento dos astecas. No decorrer do tempo, ela decidiu trocar o nome
para Marina, adotou o cristianismo e tornou-se mulher de Cortez, seu braço direito, intérprete, guia
e conselheira. O que Malinche parece estar fazendo?
b) Na cena ela tem o dedo indicador apontado para os indígenas e, ao que parece, está traduzindo o que eles dizem para
Cortez. Ela sabia falar o nahuatl, língua oficial do Império Asteca e logo aprendeu a falar também o espanhol. Para muitos
mexicanos, Malinche foi uma traidora, pois passou para o lado dos espanhóis. Até hoje, no México, quando se quer dizer que
alguém é antimexicano, diz-se que é “malinchista”.
c) Com base nessa pintura é possível concluir se o primeiro encontro formal entre astecas e
espanhóis foi violento ou amistoso? Explique.
c) A pintura informa que o primeiro encontro formal entre espanhóis e ameríndios foi amistoso, como se pode ver pelos
presentes que os astecas estão oferecendo aos espanhóis. O cocar, ao centro e no alto, destinado a Cortez, juntamente com
outros presentes que se encontram no chão: pedras preciosas, aves típicas daquela região da América, gaiolas com pássaros
(provavelmente desconhecidos dos espanhóis) e uma outra gaiola, no canto inferior esquerdo, com um animal de maior
estatura.
d) Qual a importância para a História dessa e de outras pinturas do Lienzo de Tlaxcala?
d) Essas pinturas expressam sensibilidades e técnicas de artistas indígenas, bem como as rivalidades entre os próprios
ameríndios no interior do Império Asteca à época da Conquista.
O texto a seguir é historiográfico e foi escrito pelo professor Leandro Karnal. Leia-o com atenção.
[...] Mais de uma vez os autores empregaram a expressão “genocídio” para caracterizar o
massacre que as populações indígenas sofreram na América do Norte. Isto não é incorreto nem
diferente do que ocorria em todo o resto da América. A ideia europeia de colonização
significou uma mortandade imensa por todo o território da América.
KARNAL, Leandro. Estados Unidos: da colônia à independência, 5. ed. São Paulo: Contexto, 1999. p. 44. (Repensando a
História geral).
a) Dê o significado de “genocídio”.
A América portuguesa e a
Capítulo 3
presença holandesa
Professor: o Brasil é hoje o produtor de açúcar mais competitivo do mundo, responsável por cerca de 40% do produto
comercializado no mercado internacional. Além disso, está entre os maiores produtores mundiais de cana-de-açúcar,
matéria-prima usada também para fazer rapadura, cachaça, álcool combustível e, mais recentemente, biodiesel.
Diferentemente do que ocorria no Nordeste colonial, em que a produção de açúcar contava apenas com a força humana,
animal ou da água, boa parte da produção atual é mecanizada. Em São Paulo, por exemplo, cerca de 85% da produção de
cana-de-açúcar já é feita por colheitadeiras. Isso significa menos empregos para boias-frias, trabalhadores agrícolas
contratados apenas na época da safra e cujo trabalho é considerado extenuante. Fontes para os dados:
<https://www.fao.org.br/download/PA20142015CB.pdf> e
<http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=13601>. Acessos em: 17 mar. 2016.
Do escambo à colonização
Para melhor conhecer a Nova Terra, a Coroa portuguesa enviou para cá expedições
exploradoras e de reconhecimento que confirmaram a existência de pau-brasil,
árvore típica da Mata Atlântica. E, ao perceber seu valor comercial, a Coroa logo
arrendou a exploração da valiosa madeira a um grupo de mercadores que, em
troca, se comprometiam a erguer no litoral do Brasil uma feitoria – armazém
fortificado no qual era guardada a madeira até que as naus chegassem para buscá-
la.
Dica! Vídeo apresentando o pau-brasil e o local onde foi fundada a primeira feitoria. [Duração: 28
minutos]. Acesse: <http://tub.im/hkjmrg>.
Além do perigo representado pela ameaça francesa, havia também o interesse dos
portugueses nas riquezas desta parte da América. Por isso, a monarquia
portuguesa encabeçada por D. João III enviou para cá, em 1530, a expedição de
Martim Afonso de Souza, que combateu os franceses, explorou o litoral do Brasil
até o Rio da Prata, fundou São Vicente, em 1532 (a primeira vila), e ergueu o
primeiro engenho destinado à produção de açúcar. Teve início, assim, a
colonização portuguesa na América. 1
Administração colonial
Durante sua longa história, o Império Português – que abrangia terras como
Macau, na China; Goa, na Índia; Angola, na África; e Brasil, na América – adotou
diferentes formas de administração nas suas colônias. A primeira delas foi o
sistema de capitanias hereditárias, utilizado inicialmente nas ilhas portuguesas do
oceano Atlântico e, depois, no Brasil e em Angola. 2
As capitanias hereditárias
Esse sistema consistia na doação a particulares (os capitães donatários) do direito
de administrar e tirar proveito econômico de imensos lotes de terra na costa
brasileira. Eram 15 capitanias e 12 donatários, isso porque alguns deles, como
Martim Afonso de Souza e seu irmão, Pero Lopes de Souza, receberam mais de uma
capitania. As primeiras foram doadas por Dom João III, em 1534, a homens que
tinham prestado serviços ao Império Português na África, no Oriente ou em
Portugal.
»» retirar para si a vintena (5%) de que render o pau-brasil, assim como toda
espécie de drogas e especiarias;
Allmaps
Fonte: REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. ano 10, n. 108, set. 2014, p. 12.
Uma pesquisa recente feita pelo engenheiro Jorge Cintra, professor de Informações Espaciais na
USP, descobriu que as capitanias do norte foram divididas de forma vertical e não horizontal, como
até pouco tempo se pensava. Essa pesquisa muda a maneira de se ver a configuração do Brasil nas
primeiras décadas.
O Governo-Geral
Por sua posição geográfica estratégica, o rei Dom João III escolheu a Bahia para
sede do Governo-Geral. Para o cargo de primeiro governador do Brasil nomeou
Tomé de Souza, que recebeu do rei parte dos poderes pertencentes aos
donatários; era ele agora o chefe da administração e o comandante militar da
Colônia. Tomé de Souza chegou à Bahia, em 1549, acompanhado de três auxiliares:
o capitão-mor, que cuidava da defesa, o ouvidor-mor, encarregado da justiça, e o
provedor-mor, responsável pelas finanças. Com ele vieram também cerca de mil
pessoas: um arquiteto, vários pedreiros, carpinteiros, degredados, funcionários,
soldados e jesuítas chefiados por Manuel da Nóbrega.
Degredado: pessoa expulsa de Portugal sob a acusação de pequenos furtos, promessas de casamento não
cumpridas, adultério, feitiçaria. Conforme afirmou o historiador Ronaldo Vainfas: “[...] A imagem dos
degredados como grandes assassinos ou perigosos ladrões não resiste, assim, às evidências da documentação”.
(VAINFAS, 2000, p. 181)
Página 56
Tão logo chegaram, Tomé de Souza e seus homens iniciaram a disputa da terra
com os indígenas, destruindo várias de suas aldeias e escravizando-os. Nas terras
tomadas dos indígenas deram início à construção da cidade de São Salvador,
primeira capital do Brasil, fundada em 1549. O primeiro governador e seus
auxiliares incentivaram a construção de engenhos e introduziram o gado bovino
trazido de Cabo Verde e distribuído aos colonos como retribuição por serviços
prestados.
DIALOGANDO
a) Como o indígena que está de frente para Tomé de Souza foi representado
b) Seu gesto é de quem está rendendo homenagem ao governador português. Na vida real, os indígenas disputaram Salvador
palmo a palmo com Tomé de Souza e seus soldados.
c) Sim, à direita, vê-se um bispo da Igreja Católica com uma cruz alta nas mãos.
d) A imagem sugere que os indígenas se renderam aos portugueses e, com isto, constrói uma representação enviesada do
encontro entre eles.
Vespúcio Cartografia
Fonte: ROSS, Jurandyr. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. p. 441.
Acima, na primeira imagem, vê-se a planta de Piratininga, embrião da vila e, depois, cidade de São
Paulo. Abaixo, fotografia de 2014 do Pátio e da Igreja do Colégio, reconstruídos no século XX com
base em documentos iconográficos do século XVII. Em frente à Igreja do Colégio vê-se um
monumento chamado “Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo”, obra de Amadeo Zani. Ele é
composto de um pedestal e uma coluna em granito, encimada por uma figura feminina em bronze,
que representa a cidade de São Paulo coroando seus fundadores.
O governo de Duarte da Costa foi bastante tumultuado por conflitos entre colonos
e jesuítas (estes se opunham à escravidão indígena) e pela invasão da baía da
Guanabara. Ali, em 1555, um grupo de huguenotes (calvinistas franceses), que
tinham o apoio do rei da França, fundou uma colônia comercial, de nome França
Antártica. Aliando-se aos Tupinambá, os franceses ganharam força para enfrentar
os portugueses, que, por sua vez, eram aliados dos tupiniquins. Com a ajuda dos
Tupinambá, os franceses permaneceram no local por 12 anos. O incentivo às
rivalidades e disputas entre os povos indígenas foi uma estratégia muito usada
pelos europeus com o objetivo de dominação e ocupação do território americano.
Dois anos depois da fundação do Rio de Janeiro, a França Antártica foi vencida e os
franceses foram expulsos. Mem de Sá conseguiu, assim, equacionar os problemas
herdados do governo anterior e, quando morreu, em 1572, na Bahia, era um
homem rico e prestigiado. Naquele mesmo ano, visando facilitar o controle e a
defesa do Brasil, o rei de Portugal dividiu o território colonial em dois governos:
Governo do Norte, com capital em Salvador, e Governo do Sul, com capital no Rio
de Janeiro. Em 1578, não atingindo o objetivo desejado, o rei voltou atrás,
reunificando a Colônia e mantendo Salvador como capital.
Mais tarde, em 1621, a Coroa voltou a dividir o território colonial em duas áreas
administrativas: Estado do Maranhão, com capital em São Luís (que, em 1751,
passaria a se chamar Estado do Grão-Pará e Maranhão, com capital em Belém), e
Estado do Brasil, com capital em Salvador.
Luís do Santos Vilhena. 1775. Biblioteca Nacional do Brasil Autor desconhecido. Séc. XIX. Coleção particular
Este mapa é uma representação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e foi feito por Luís dos
Santos Vilhena (1744- 1814), que morava em Salvador, onde trabalhava como professor de grego e
latim.
Câmaras Municipais
A monarquia portuguesa criou também órgãos locais de administração nas
principais vilas e cidades brasileiras: as Câmaras Municipais, sendo a primeira a
da cidade de Salvador. Geralmente, as câmaras eram compostas de três ou quatro
vereadores: um procurador, um escrivão e um tesoureiro, além de funcionários
nomeados conforme a necessidade. Estudando as câmaras municipais de Salvador,
São Paulo e Rio de Janeiro, descobriu-se que essas câmaras eram formadas não só
por proprietários de terras, mas também por comerciantes.
Descobriu-se também que, para um indivíduo ser vereador era preciso ter “pureza
de sangue”, ou seja, não podia descender de negros, judeus ou mouros. As câmaras
tinham poder de decisão sobre diversos setores da vida pública: administravam o
espaço urbano e a área rural; realizavam obras públicas (estradas, pontes,
calçadas); cuidavam da conservação das ruas, da limpeza e da arborização da
cidade; cobravam impostos; e eram responsáveis pelo abastecimento de gêneros e
cultivos da terra.
A partir de 1711, assistiu-se ao declínio da autonomia das Câmaras, pois a Coroa
começou a enviar funcionários para gerir os assuntos fiscais das cidades.
Jorge Araújo/Folhapress
Nessa fotografia de 2000, vemos o edifício da Câmara de Salvador, que foi restaurado e conservou
suas características coloniais. Observe no detalhe o mesmo edifício em fotografia do século XIX.
Página 59
A economia colonial
Ao se decidir pela colonização do Brasil, iniciada por volta de 1530, a Coroa
portuguesa tinha pela frente três desafios: escolher o produto que seria usado
para impulsionar o aproveitamento econômico da terra; buscar capital para
financiar a produção; e conseguir mão de obra adequada ao trabalho.
Detalhe do mapa de Georg Marcgraf e Johanes Blaeus, de 1643, que representa um engenho de
açúcar e a divisão do território brasileiro em capitanias hereditárias. O trabalho de arte é do pintor
e gravurista Frans Post.
O produto
O produto escolhido para dar início à colonização foi o açúcar de cana, especiaria
de elevado valor na Europa. Os portugueses tinham experiência anterior com o
açúcar nas suas possessões atlânticas: Ilha da Madeira, de Cabo Verde e ilhas de
São Tomé e Príncipe. Os engenhos dessas regiões já empregavam a mão de obra
africana escravizada. Da Ilha da Madeira vieram as mudas e os profissionais
capacitados para trabalhar no Engenho do Governador, de Martim Afonso de
Souza, em São Vicente (SP). A partir daí construíram-se vários engenhos,
especialmente no Nordeste, onde a cana encontrou solo e clima favoráveis ao seu
cultivo.
A mão de obra
Durante a maior parte do século XVI, os engenhos usaram como escravos os
indígenas capturados por meio das chamadas guerras justas. Em fins do século
XVI e início do XVII, no entanto, os indígenas foram sendo substituídos por
africanos escravizados.
Guerra justa: nome que os colonos davam à guerra que faziam aos indígenas com o objetivo de escravizá-
los.
Imagem de um líder indígena Munduruku feita por Hercule Florence durante a Expedição
Langsdorff, no século XIX.
Para refletir
A economia colonial não era só plantation
[...] Apesar da ênfase dada à agroexportação, a economia colonial não se esgotava nas
plantações de açúcar voltadas para o mercado europeu. [...] Assim, por exemplo, no Recôncavo
Baiano, ao lado da atividade açucareira, havia os pequenos e médios produtores de alimentos
que, utilizando o trabalho familiar e/ou escravo, abasteciam os engenhos e as cidades. Algo
semelhante ocorria no Rio de Janeiro do século XVII. Além da produção de mantimentos nas
próprias áreas açucareiras, ao longo do século XVII e no seguinte, [...] os agricultores de São
Paulo, do sul da Bahia, do Espírito Santo e, posteriormente, os do Maranhão passariam a
orientar as suas atividades para um comércio intercapitanias, esboço de um incipiente
mercado interno colonial.
FRAGOSO, João et al. A economia colonial brasileira (séculos XVI-XIX). São Paulo: Atual, 1998. p. 49. (Discutindo a
História do Brasil).
a) O texto é historiográfico e foi escrito por dois especialistas em história econômica (João Fragoso e Manolo Florentino) e
uma especialista em história da família, a professora Sheila de Castro Faria.
b) O texto é uma contribuição de três historiadores à análise da economia colonial. Eles afirmam que o tamanho dos
engenhos e o número de escravos por engenho variaram muito. De fato, houve pequenas, médias e grandes unidades de
produção de açúcar, e a maioria delas possuía menos de 20 escravos. Esses novos estudos chamam também a atenção para a
importância da produção de alimentos e do mercado interno na economia colonial brasileira.
c) Com base em pesquisas em arquivos públicos, museus e em um farto material bibliográfico, que abrange desde
dissertações e teses até monografias e obras nacionais e estrangeiras sobre o assunto.
d) Você já deve ter descoberto algo importante por meio de pesquisa. Conte de
modo resumido como foi essa sua experiência.
d) Resposta pessoal. Professor: a intenção aqui é estimular o gosto pela pesquisa e enfatizar a importância dela na vida
profissional.
Fabio Colombini
Algodão
Cacau
Fabio Colombini
Mandioca
Fernando Bueno/Pulsar Imagens
Milho.
O tabaco (ou fumo), planta domesticada pelos indígenas da América e usada por
eles em determinados rituais, logo se tornou um produto de grande aceitação no
território colonial. No século XVII, era o segundo colocado na pauta das
exportações brasileiras, sobretudo por sua estreita vinculação com o tráfico de
africanos. Enquanto o fumo de primeira e de segunda qualidade era consumido
internamente ou vendido para a Europa, o fumo de terceira era a moeda que os
traficantes usavam para conseguir escravos na África. Por ser mais simples e
menos onerosa do que a lavoura de cana-de-açúcar, a lavoura fumageira se
difundiu rapidamente pela Bahia e por Sergipe (então comarca baiana), Espírito
Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
A pecuária colonial, por sua vez, foi responsável pela ocupação de boa parte do
sertão do Brasil e se constituiu num setor decisivo da economia colonial.
Página 63
[...] No lugar da imagem de colonos engessados pela metrópole, vem à tona um grande
dinamismo nas relações comerciais dos principais portos do Brasil com o rio da Prata, no sul
da América, com Costa da Mina, Angola e Moçambique, na África e com Índia, Goa e Macau na
Ásia. [...] Colonos do Brasil, portanto, comercializavam diretamente com outras regiões,
furando a ideia de “pacto colonial”.
Por outro lado, os comerciantes que forneciam escravos para o Brasil no século XVIII
negociavam diretamente com traficantes e chefes locais da África. Eram esses comerciantes,
residentes no Brasil, que [...] detinham o monopólio do lucrativo tráfico negreiro — e não a
metrópole.
FARIA, Sheila de Castro. Colônia sem pacto. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 3, n. 34, p.
71, jul. 2008.
Monopólio: exclusividade.
Sociedades coloniais
No Brasil colonial existiram várias regiões econômicas, em torno das quais se
formaram múltiplas sociedades com características próprias: a paulista do século
XVII (com seus bandeirantes e indígenas) era, por exemplo, muito diferente da
açucareira nordestina. Embora diferentes e espalhadas por todo o território, elas
tinham pelo menos duas características comuns: a escravidão, presente em quase
todo o território colonial, e uma hierarquia excludente que garantia direitos, poder
e prestígio a poucos.
Dica! Vídeo baseado na obra Casa-grande e Senzala, de Gilberto Freyre. [Duração: 9 minutos].
Acesse: <http://tub.im/3kjnir>.
Os senhores de engenho
Havia ainda homens livres que arrendavam terras do senhor de engenho para
cultivar a cana; mas, por falta de recursos, eram obrigados a moê-la no engenho do
proprietário, por isso, eram chamados de “lavradores obrigados”. Em troca, eles
entregavam ao senhor parte do açúcar obtido e ainda pagavam a ele o aluguel pelo
uso da terra.
Os comerciantes
Mas muitas fortunas foram feitas com o comércio de africanos. Enriquecidos por
meio do tráfico atlântico, comerciantes estabelecidos em cidades como Rio de
Janeiro, Salvador e Recife usavam navios próprios e forneciam empréstimos aos
senhores de engenho para a compra de escravos e/ou equipamentos. Dessa forma,
alguns conseguiam comprar terras e montar engenhos; outros casavam com filhas
de senhores de engenho e, com isso, passavam a pertencer à nobreza da terra.
Os escravizados
[...] Incapazes de firmar contratos, dispor de suas vidas e possuir bens, defender-se e à sua
família dos maus-tratos do proprietário, testemunhar contra homens livres, escolher seu
trabalho e empregador, e limitados pela lei e pelos costumes de inúmeros outros modos, os
cativos permaneceram [...] em situação mais desvantajosa na sociedade.
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial – 1550-1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988. p. 214.
Editora Nova Fronteira
O mercador de escravos Francisco Félix de Souza era filho de português com uma indígena. Ainda
jovem, viajou para a África onde construiu uma fortuna com a venda de escravizados para o Brasil.
Página 65
Os trabalhadores assalariados
Desde o início, os senhores de engenho contrataram assalariados para dividir com
os escravos a tarefa no engenho, para trabalhar em funções especializadas, como a
de mestre de açúcar (responsável pela qualidade do açúcar) ou a de carpinteiro,
pedreiro, ferreiro, entre outros. Ou ainda para realizar tarefas que os donos de
engenho não confiavam a escravos, como o de feitor (encarregado de vigiar e punir
os escravos). Por isso se diz que o conhecimento e o serviço dos trabalhadores
assalariados eram decisivos para o funcionamento dos engenhos.
Página 66
Nesta obra de 1648, vê-se o mestre de açúcar trabalhando enquanto é observado por um feitor.
Holandeses no Nordeste
No século XVII, os holandeses invadiram o Nordeste açucareiro por duas vezes.
Para compreendermos as razões dessas invasões, precisamos relacioná-las ao
contexto europeu do século anterior.
Países Baixos espanhóis: nome que se dava ao território ocupado hoje por Holanda e Bélgica.
O Império Espanhol, que, à época, era imenso, ficou ainda maior em 1580; naquele
ano, o rei português D. Henrique morreu sem deixar herdeiros. Abriu-se, então,
uma disputa pelo trono português; o vencedor foi um parente do rei morto de
nome Felipe II, rei da Espanha que, com isso, tornou-se também rei de Portugal. O
controle da Espanha sobre Portugal e suas colônias ficou conhecido como União
das Coroas Ibéricas e durou até 1640. Os domínios de Felipe II eram tão vastos
que na época se dizia que neles “o sol nunca se punha”.
Invasão da Bahia
A primeira invasão dos holandeses ocorreu na Bahia, que, além de possuir muitos
engenhos em pleno funcionamento, era o centro político do Brasil. Eles chegaram a
Salvador em maio de 1624 com 3 300 homens, uma frota de 26 navios e 450
canhões. Prenderam o governador português e o substituíram pelo holandês Van
Dorth. A população luso-brasileira, por sua vez, retirou-se para o interior e lá
organizou a resistência.
O líder dessa resistência, o bispo Dom Marcos Teixeira, apresentava a luta contra
os holandeses como uma cruzada contra os hereges, uma vez que, como vimos, os
invasores eram protestantes. Uma das táticas da resistência foi a guerra de
emboscadas: divididos em pequenos grupos, os combatentes saíam das matas e se
lançavam sobre o inimigo de surpresa, impedindo assim seu avanço rumo à região
dos engenhos.
A Espanha, por sua vez, enviou ao Nordeste do Brasil uma esquadra com 52 navios
e 12 mil homens, comandados por Dom Fradique de Toledo Osório, que forçou os
holandeses a bater em retirada, em 1625. Dois anos depois, no entanto, eles
voltaram a atacar: liderados por Pieter Heyn, saquearam o porto de Salvador
levando consigo açúcar, fumo, algodão e pau-brasil. E, na volta para a Holanda,
capturaram a frota de prata espanhola, que transportava a produção anual desse
metal do vice-reinado do Peru para a Espanha.
Sergio Pedreira/Pulsar Imagens
Imagem de 2014 do Forte de Santo Antônio da Barra, construído no século XVII e conhecido hoje
como Farol da Barra. O forte foi erguido para defender a cidade de Salvador da invasão holandesa
em 1624.
Página 68
Engenho de açúcar, óleo sobre madeira do artista holandês Frans Post, mostra escravizados
trabalhando no transporte e na moagem da cana em um engenho real. Na época, as capitanias do
Nordeste possuíam, juntas, cerca de 150 engenhos, que produziam por volta de 700 mil arrobas de
açúcar ao ano.
Invasão de Pernambuco
Com os saques realizados, os holandeses reuniram recursos e invadiram
novamente o Nordeste açucareiro, mas dessa vez o alvo foi Pernambuco.
DIALOGANDO
a) Resposta pessoal.
b) Já ouviu falar de algum crime mais recente que tenha ocorrido por esse motivo?
b) Suspeita-se que o assassinato do empresário Paulo Cesar Farias, homem forte do governo de Fernando Collor de Mello,
tenha sido “queima de arquivo”.
O governo de Nassau
Adotando uma política de conciliação de interesses, Maurício de Nassau tomou três
medidas decisivas para a sua administração: forneceu aos senhores
Página 69
Além de pintores, ele trouxe cientistas que se dedicaram ao estudo da região, como
Georg Marcgraf, que documentou a flora e a fauna, e o médico Willem Piso, que
pesquisou doenças características da região. Trouxe também letrados, como Elias
Herckman, que escreveu um precioso relato sobre a Capitania da Paraíba.
O governo de Nassau instalou sua capital em Recife e ali realizou uma série de
importantes obras: calçou ruas; abriu canais por onde transitavam barcas,
mercadorias e pessoas; drenou áreas alagadiças; construiu pontes que ligavam o
antigo porto à Ilha de Antônio Vaz e esta ao continente. Nessa ilha, criou um jardim
botânico, um zoológico e construiu o Palácio das Torres (Palácio de Friburgo),
residência oficial e sede do governo. A esse conjunto de obras deu-se o nome de
Cidade Maurícia (atualmente bairro de Santo Antônio).
Albert Eckhout. Séc. XIX. Óleo sobre tela. Coleção particular
Vista aérea do bairro de SantoAntônio em Recife (PE). Nela vemos, em primeiro plano, o Palácio do
Governo rodeado por grandes árvores e, atrás dele, o prédio do Teatro Santa Isabel. Fotografia de
2013.
Página 70
A Restauração em Portugal
Enquanto os holandeses lucravam com o açúcar do Brasil, Portugal encontrava-se
exaurido economicamente e responsabilizava a União Ibérica por essa situação.
Diante disso, os portugueses promoveram uma revolta separatista, em 1640, e se
libertaram da Espanha no episódio conhecido como Restauração. Dom João IV, da
dinastia de Bragança, ocupou o trono de Portugal e, no ano seguinte, firmou com a
Holanda um acordo de paz por 10 anos.
Vitor Meirelles. 1879. Óleo sobre tela. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
O negro liberto Henrique Dias, líder de um batalhão de negros, o índio de etnia potiguar Felipe
Camarão, líder dos índios potiguares, e André Vidal de Negreiros, filho de um senhor de engenho
nascido na Paraíba, lutaram lado a lado na guerra contra os holandeses. Esse fato foi usado para a
construção da falsa ideia de que o Brasil é o resultado da “união das três raças”. Essa ideia foi
veiculada ao longo do tempo em livros, revistas, jornais e pinturas, como A Batalha de Guararapes,
feita por Vitor Meirelles (1832-1903) em 1879, em que os três personagens citados aparecem
combatendo juntos. Tudo isso ajudou a forjar a ideia de que a convivência entre brancos, negros e
índios foi pacífica, o que não corresponde aos fatos. Apesar de ter havido momentos de colaboração,
a convivência entre esses grupos humanos em território colonial foi tensa e pontilhada de conflitos.
Página 71
Pelourinho: uma coluna de pedra ou madeira erguida em praça pública; era símbolo de autonomia
administrativa e, ao mesmo tempo, lembrava a escravidão (os escravos eram amarrados a ele para serem
castigados publicamente).
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Enem/MEC – 2013)
De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu,
vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com
arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro,
nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito
bons ares [...]. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta
gente.
Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FARIA, R. História moderna através de textos. São
Paulo: Contexto, 2001.
A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto colonizador para a nova terra. Nesse
trecho, o relato enfatiza o seguinte objetivo:
e) Criticar o modo de vida dos povos autóctones para evidenciar a ausência de trabalho.
1. Resposta: a.
2. (Uespi-PI – 2014)
A armada de Martim Afonso de Sousa, que deveria deixar Lisboa a 3 de dezembro de 1531,
vinha com poderes extensíssimos, se comparados aos das expedições anteriores, mas tinha
como finalidade principal desenvolver a exploração e limpeza da costa, infestada, ainda e cada
vez mais, pela atividade dos comerciantes intrusos.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. As Primeiras Expedições. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. (org). História Geral da
Civilização Brasileira. Tomo I, Volume 1. São Paulo: DIFEL, 1960. p. 93.
Com base nesta citação, assinale a opção que indica corretamente os principais objetivos das
primeiras expedições portuguesas às novas terras descobertas na América:
b) garantir as terras brasileiras para Portugal, nos termos do Tratado de Tordesilhas, e expulsar os
invasores estrangeiros.
c) instalar núcleos de colonização estável, baseados na pequena propriedade familiar, e escravizar
os indígenas.
2. Resposta: b.
3. (UFF-RJ)
Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é
possível fazer, conservar e aumentar fazenda.
Assinale a opção que, baseada na citação do jesuíta Antonil, justifica corretamente os fundamentos
da sociedade colonial.
b) O ideal de sociedade colonial, segundo os inacianos, era o de uma sociedade de missões, o que
explica a crítica do jesuíta Antonil à escravidão.
Página 73
c) A estrutura social do Brasil Colônia era fundamentalmente escravista, uma vez que os setores
essenciais da economia colonial, a exemplo da agro-manufatura do açúcar, dependiam do trabalho
escravo, sobretudo dos africanos.
d) A sociedade escravista erigida na Colônia sempre foi condenada pelos jesuítas que, a exemplo de
Antonil, desejavam ardorosamente que índios e africanos se dedicassem ao mundo de Deus.
e) A sociedade colonial possuía duas classes, senhores e escravos, polos antagônicos do latifúndio
ou da “fazenda” mencionada por Antonil.
3. Resposta: c.
4. (Enem/MEC)
VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & irmão. 1951 – Adaptado.
O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre a Paixão de Cristo e
5. (Fuvest-SP – 2015)
4. Resposta: e.
Se o açúcar do Brasil o tem dado a conhecer a todos os reinos e províncias da Europa, o tabaco
o tem feito muito afamado em todas as quatro partes do mundo, em as quais hoje tanto se
deseja e com tantas diligências e por qualquer via se procura. Há pouco mais de cem anos que
esta folha se começou a plantar e beneficiar na Bahia [...] e, desta sorte, uma folha antes
desprezada e quase desconhecida tem dado e dá atualmente grandes cabedais aos moradores
do Brasil e incríveis emolumentos aos Erários dos príncipes.
André João Antonil. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. São Paulo: EDUSP, 2007. Adaptado.
O texto acima, escrito por um padre italiano em 1711, revela que
b) todo o rendimento do tabaco, a exemplo do que ocorria com outros produtos, era direcionado à
metrópole.
c) não se pode exagerar quanto à lucratividade propiciada pela cana-de-açúcar, já que a do tabaco,
desde seu início, era maior.
5. Resposta: e.
Página 74
6. (UPE – 2015) A primeira metade do século XVII em Pernambuco foi marcada pela invasão
holandesa à capitania. A presença holandesa em Pernambuco durou 24 anos, de 1630 a 1654. A
invasão foi motivada por vários fatores, dos quais podemos destacar
6. Resposta: c.
VOZES DO PRESENTE
A escravidão dificultou o amor entre os escravos, mas não foi forte o suficiente para impedir os
sentimentos que brotavam no coração deles. Muitas vezes, depois de um dia de trabalho exaustivo,
eles fugiam e andavam horas para visitar a namorada ou outras pessoas queridas sem se importar
se seriam ou não castigados por isso. Além disso, geralmente, os escravizados constituíam família.
Veja o que uma historiadora diz sobre esse assunto.
Amor e família
Durante muitos anos, os historiadores acharam que o sistema escravista havia massacrado de
tal forma homens e mulheres escravos que eles se tornaram um grupo absolutamente
dominado e sem vontade própria. Para esses historiadores, não havia sido dada ao escravo
nem mesmo a oportunidade de constituir família, organização básica de apoio e de identidade
social para todos os seres humanos. Os senhores não teriam permitido que escravos casassem.
Em suma, os historiadores acreditavam que eles eram tratados como “coisa” ou, no máximo,
como animais para quem só valia a vontade do dono.
Diversos estudos atuais, entretanto, vêm demonstrando que a situação não era bem assim. Boa
parte dos escravos constituía família, sendo essa importantíssima para suas vidas. Concluíram
ainda que aos senhores interessava que eles se unissem em família para melhor se adequar à
vida no cativeiro. Revelaram também que separar filhos pequenos de seus pais era atitude
rara. Crianças de até doze anos de idade, na quase totalidade dos casos, viviam com seus pais
ou, pelo menos, com suas mães.
FARIA, Sheila de Castro. Viver e morrer no Brasil Colônia. 1. ed. São Paulo: Moderna, 1999. p. 16. (Desafios).
c) Em dupla. Segundo a autora, a família é uma organização básica de apoio e identidade social
para todos os seres humanos. Vocês concordam com essa afirmação? O que a família é para vocês?
Página 75
a batata [...], originária do Peru, erroneamente chamada inglesa; a mandioca [...]; o milho [...]; a
batata-doce [...]; o tomate [...]; feijões e favas, como o amendoim [...]; fruteiras como o cacau [...],
o abacaxi [...], o caju [...], o mamão [...]; amêndoas como a castanha-do-pará [...].
Inúmeras espécies vegetais, objeto de coleta por parte dos índios, foram adotadas pelos
colonizadores europeus, passando a ser cultivadas, algumas em larga escala, desempenhando
hoje relevante papel na economia mundial. [...]
A borracha [...], dentre todas, inicia o ciclo industrial moderno. Conhecida pelos índios, que a
utilizavam para fazer bolas, seringas e impermeabilizar objetos, a borracha só foi realmente
“descoberta” pela civilização ocidental na segunda metade do século XIX.
RIBEIRO, Berta G. A contribuição dos povos indígenas à cultura brasileira. In: GRUPIONI, Luís Donizete Benzi. A
temática indígena na escola. 2. ed. Brasília: MEC/Unesco, 1998. p. 199-203.
Criança ianomâmi carregando cacho de pupunha madura na Aldeia do Kona, Santa Isabel do Rio
Negro (AM), 2011.
c) Na segunda metade do século XIX surgiram na Europa novos tipos de indústrias, que tinham a
borracha como matéria-prima essencial. Que indústrias eram essas?
d) Reflita e elabore um comentário sintético sobre a ideia defendida pela autora no texto.
e) Em grupo. A demarcação das terras indígenas tem ocasionado conflitos violentos: de um lado
estão os povos indígenas e seus aliados; eles argumentam ter direito à terra que tradicionalmente
ocupam e que esse direito é garantido por lei. De outro lado estão indivíduos e grupos interessados
nas terras reivindicadas pelos indígenas; eles argumentam que “tem terra demais para pouco
índio”. Debatam, reflitam e opinem sobre essa disputa e justifiquem a posição tomada por vocês.
Postem o resultado do debate no blog da turma.
Página 76
UNIDADE 2 Diversidade e
pluralismo cultural
Gabriel Santos/Tyba
G. Evangelista/Opção Brasil/Imagens
Professor: segundo um historiador: “Cultura não é apenas o conjunto de manifestações artísticas. Envolve as formas de
organização do trabalho, da casa, da família, do cotidiano das pessoas, dos ritos, das religiões, das festas etc.”. (BEZERRA,
Holien Gonçalves. Ensino de História: conteúdos e conceitos básicos. In: KARNAL, Leandro. História na sala de aula:
conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 46)
Africanos no Brasil:
Capítulo 4
dominação e resistência
Observe estas fotografias.
Professor: Fig. 1: Milton Santos (1926-2001), geógrafo, cientista e professor universitário com uma enorme contribuição no
campo da Geografia e da reflexão sobre cidadania. Fig. 2: Ludmilla, cantora e compositora de funk melody, durante
apresentação na edição 2014 da festa junina beneficente no Retiro dos Artistas no Rio de Janeiro (RJ), cujo objetivo é
arrecadar fundos para a manutenção da casa que hoje abriga 62 artistas em idade avançada. Fig. 3: Hugo Pessanha, judoca
representante do Brasil numa final com Kirill Denisov, da Rússia, durante Grand Slam de Judô realizado no Ginásio do
Maracanãzinho, 2010, no Rio de Janeiro (RJ). Fig. 4: Emicida, rapper e compositor, em um show no Hard Rock Café, em
Curitiba (PR), 2015.
Flávio Florido/Folhapress
Glaucon Fernandes/AE
3
Celso Pupo/Fotoarena
Estudiosos da história da África e dos afro-brasileiros: Alberto da Costa e Silva, José Rivair Macedo,
Marina de Mello e Souza, Leila Leite Hernandez, Nei Lopes, entre outros.
Para refletir
O texto a seguir foi escrito pelo africanista Alberto da Costa e Silva. Leia-o com
atenção.
Os africanos não escravizavam africanos, nem se reconheciam então como africanos. Eles se
viam como membros de uma aldeia, de um conjunto de aldeias, de um reino e de um grupo que
falava a mesma língua, tinha os mesmos costumes e adorava os mesmos deuses. Eram, ainda
que pudessem ignorar estes nomes – que muitas vezes lhes eram dados por vizinhos ou
adversários –, mandingas, fulas, bijagós, axantes, daomeanos, vilis, iacas, caçanjes, lundas,
Página 80
O comércio transatlântico de escravos era controlado pelos grandes da terra, pelos poderosos
da Europa, da África e das Américas. Fazia parte de um processo de integração econômica do
Atlântico, que envolvia a produção e a comercialização, em grande escala, de açúcar, algodão,
tabaco, café e outros bens tropicais, um processo no qual a Europa entrava com o capital, as
Américas com a terra e a África com o trabalho, isto é, com a mão de obra cativa.
SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2012. p. 88-89.
Editora AGIR
Fac-símile da capa do livro A África explicada aos meus filhos, de Alberto da Costa e Silva.
a) Não; os africanos não se reconheciam como africanos. Eles se viam como membros de um determinado povo (iorubá, ibo,
daomeano ou congo), uma determinada comunidade, linhagem, grupo linguístico ou reino; e assim sendo eles escravizavam
seus adversários ou os estranhos. Professor: os africanos passaram a adquirir consciência de sua africanidade durante as
lutas pela independência de seus países, ou seja, durante o processo de sua emancipação política frente aos Estados
europeus.
b) Ele o insere no processo de integração econômica do Atlântico Sul, que envolvia a produção e a venda de gêneros
tropicais, como açúcar, algodão e café, além de crianças, homens e mulheres escravizados.
c) O autor está se referindo aos grupos com riqueza e poder, a exemplo dos comerciantes de escravos da Europa, do Rio de
Janeiro e de Salvador ou os chefes de linhagens africanas, que se envolviam em guerras para obter e vender os adversários.
O início da roedura
Na África, a dinâmica e a intensidade da escravidão mudaram radicalmente depois
da chegada dos europeus ao litoral africano. Em 1443, os portugueses ergueram
uma feitoria em Arguim, na costa ocidental, que funcionou como um ponto de
comércio de africanos escravizados. Posteriormente, foram erguidos outros
entrepostos de escravizados perto dos rios Senegal e Gâmbia (1456), e em São
Jorge da Mina (1482), no Golfo da Guiné.
Dica! Vídeo sobre a história dos africanos e seus descendentes. [Duração: 12 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/j54vfn>.
Guerra e escravidão
Inicialmente, europeus armados obtinham escravos no litoral da África por meio
do sequestro. Mas logo a captura e a venda de africanos passaram a ser um negócio
grande e rentável, envolvendo europeus, americanos e africanos e as duas margens
do oceano Atlântico. Entenda o seu funcionamento acompanhando o roteiro:
Página 81
Tráfico atlântico: nome dado ao comércio de homens e mulheres pelo Atlântico entre os séculos XVI e XIX.
Processo de roedura: expressão de Joseph Ki-Zerbo, professor de metodologia da História da África, para
caracterizar a penetração e a exploração colonialista na África.
Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007. p. 86.
Boa parte dos povos africanos entrados no Brasil saiu dos portos de Benguela, Luanda e Cabinda, no
Centro-Oeste da África. Outra parte saiu da África ocidental, pelos portos de Lagos, Ajudá e São
Jorge da Mina. E um número menor, pelo porto de Moçambique, no sudeste africano. Os africanos
trazidos do Congo, do Ndongo (Angola) e de Moçambique eram de origem banto e desembarcaram
principalmente em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Da África ocidental, entre a Nigéria e o Senegal
atuais, saíram os sudaneses, entre os quais se destacam os iorubás, entrados no Brasil por Salvador
e conhecidos como “nagôs”, na Bahia, e os jejes, que desembarcaram nas costas do Maranhão.
Página 82
A travessia
Aglomerados nas feitorias em barracões de madeira ou pedra, os escravizados
aguardavam a chegada dos navios negreiros, que só partiam depois de completada
a carga, para garantir a lucratividade da viagem. Amontoados em seus porões,
eram mal alimentados e tinham de respirar um ar viciado que favorecia a
ocorrência de doenças e o contágio. A sede também era comum nesses navios, que
carregavam poucas pipas de água para não ocupar espaço e evitar excesso de peso.
Mas com o auxílio de geneticistas, esses historiadores estão revendo seus dados.
Analisando o material genético compartilhado por brasileiros e africanos, os
geneticistas Sérgio Danilo Pena (UFMG) e
Página 83
Maria Cátira e Tábita Hünemeier (UFRGS), por sua vez, analisaram 94 negros
cariocas; desses, 31% eram originários da África ocidental, sendo que a maioria,
como já se sabia, veio mesmo do Centro-Oeste, região congo-angolana. Essa é
também a região de origem da maioria dos 107 negros gaúchos analisados por
elas; apenas 18% deles eram da África ocidental.
Dica! Vídeo que aborda a história do comércio de seres humanos sendo contada através das vozes
de escravizados. [Duração: 34 minutos]. Acesse: <http://tub.im/95qvmz>.
Manifestação da cultura banto: Grupo Jongo de Piquete – dança de roda de origem africana com
acompanhamento de tambores e solista. Piquete (SP), 2007.
Manifestação da cultura de origem iorubá, em 2003: dançarinas do Ilê Aiyê, bloco afro que nasceu
no Curuzu, no bairro da Liberdade, em Salvador (BA). O Ilê Aiyê preserva e recria importantes
elementos da cultura iorubá e desenvolve um trabalho social reconhecido nacionalmente.
Página 84
O trabalho escravo
A escravidão existiu em todo o território colonial e os escravizados trabalhavam
nas mais diferentes ocupações. No engenho eram eles que realizavam a maioria
das tarefas, desde semear a cana até controlar a qualidade do açúcar. Na época do
plantio, os escravos trabalhavam geralmente das 5 da manhã às 6 da tarde; na
época da safra (corte e beneficiamento da cana) chegavam a trabalhar 18 horas por
dia.
Obtido mediante coação, o trabalho escravo incluía, por vezes, as manhãs dos
domingos e feriados, usadas para serviços gerais, como reparo de edificações e
conserto de cercas e estradas. No Brasil, a intensa utilização de escravos levou a
uma inversão de valores: o trabalho passou a ser visto pelas pessoas livres como
desonroso; como coisa de escravo.
A violência
Onde houve escravidão, houve violência. Os castigos aplicados eram muitos e
variados; incluíam os rotineiros, como a palmatória, até os mais especializados,
como a máscara de flandres.
A resistência
O trabalho estafante, a violência física e psicológica, a liberdade negada quando os
escravizados conseguiam juntar dinheiro para comprá-la, tudo isso provocou
respostas. Eles reagiam fisicamente fazendo “corpo mole” no trabalho, quebrando
ferramentas, incendiando plantações, agredindo feitores e senhores. Chegaram,
inclusive, a praticar o suicídio. Os escravizados resistiram também, culturalmente,
fundando irmandades, praticando religiões de matriz afro e a capoeira ou
promovendo festejos como o congado.
Irmandades: associações organizadas por leigos e sediadas em igrejas católicas; para que uma irmandade
funcionasse, era necessário que fosse acolhida por uma igreja e tivesse seus estatutos aprovados por uma
autoridade eclesiástica.
Bertrand Gardel/Hemis/Alamy/Glow Images
Demonstração de capoeira em praia de Salvador (BA), 2005. A capoeira, uma manifestação cultural
em que os jogadores dançam e lutam ao mesmo tempo, foi um meio de resistência dos negros
escravizados. Nela, a malícia é mais importante do que a força física. Na capoeira, mandingueiro é
aquele que tem maior capacidade de enganar o adversário.
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Festejo da Assunção de Nossa Senhora, promovido pela Irmandade da Boa Morte, na Bahia, 2010.
Essa irmandade é formada exclusivamente por mulheres negras com mais de 40 anos e está
estabelecida na cidade de Cachoeira. Estima-se que tenha sido fundada por volta de 1820.
1. Dica! Trailer do filme Besouro, de João Daniel Tikhomiroff. [Duração: 2 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/tsi26c>.
Os quilombos
Os quilombos não foram um fenômeno isolado; proliferaram por toda a América
escravista. Na América espanhola, receberam o nome de palenques; na inglesa,
maroons; na francesa, grand marronage; na América portuguesa, quilombos ou
mocambos.
2. Dica! Vídeo sobre a dominação e a resistência dos escravizados. [Duração: 14 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/wz3qkp>.
3. Dica! Vídeo sobre a história do Quilombo dos Palmares. [Duração: 7 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/6vffod>.
Página 87
Allmaps
Fonte: REIS, João José; SANTOS, Flávio. Liberdade por um fio. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 30.
CASTRO, Yeda Pessoa de. In: MOURA, Clóvis. Quilombos: resistência ao escravismo. 2. ed. São Paulo: Ática, 1989. p.
45. (Série Princípios).
Casa de quilombo no Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas,
2010. Arqueólogos que trabalham na Serra da Barriga descobriram um grande vaso cerâmico, que,
segundo o professor Pedro Paulo Funari, pode ter sido feito pelos palmarinos para armazenar
comida, conforme costume banto, ou pelos indígenas que habitavam o quilombo.
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A guerra
Zumbi: nome derivado de Nzumbi, título banto concedido a um chefe militar e religioso.
Festa em homenagem ao Dia da Consciência Negra na Escola Municipal Pastor Alcebíades Ferreira
de Mendonça, no Quilombo de Sobara, município de Araruama (RJ), 2015. Em primeiro plano,
veem-se crianças vestidas com trajes que lembram os de alguns povos africanos e um cartaz com a
figura de Zumbi. Em 1978, os diversos movimentos negros do país proclamaram o 20 de novembro
– dia da morte de Zumbi – como o Dia Nacional da Consciência Negra. A data serve como reflexão a
respeito do racismo à brasileira e das possíveis soluções para esse problema nacional.
Página 89
Remanescentes de quilombos
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas
terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos
respectivos.
Crianças brincam com bola de pano no Quilombo Soledade, em Caxias (MA), 2014.
Página 90
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Fuvest-SP – 2014) O tráfico de escravos africanos para o Brasil
a) teve início no final do século XVII, quando as primeiras jazidas de ouro foram descobertas nas
Minas Gerais.
b) foi pouco expressivo no século XVII, ao contrário do que ocorreu nos séculos XVI e XVIII, e foi
extinto, de vez, no início do século XIX.
c) teve início na metade do século XVI, e foi praticado, de forma regular, até a metade do século XIX.
d) foi extinto, quando da Independência do Brasil, a despeito da pressão contrária das regiões
auríferas.
e) dependeu, desde o seu início, diretamente do bom sucesso das capitanias hereditárias, e, por
isso, esteve concentrado nas capitanias de Pernambuco e de São Vicente, até o século XVIII.
1. Resposta: c.
O historiador Luis Felipe de Alencastro defende que, nos séculos XVI e XVII, o Brasil foi um
polo de produção escravista dependente e organicamente ligado a Angola, um outro polo
produtor de mão de obra escrava para a agricultura brasileira. A formação do Brasil, portanto,
seria um resultado da relação entre esses dois países.
“A nossa História não está restrita ao nosso território”, afirma o autor. Tendo o Atlântico Sul
como ligação, a trajetória do Brasil dos séculos XVI e XVII está intimamente ligada à de Angola.
Com uma ocupação portuguesa efetiva, esse país teve seus reinos independentes dizimados e
limitou-se a desenvolver uma economia complementar à brasileira. A prioridade era o
fornecimento de escravos para o mercado brasileiro, e atividades que pudessem concorrer
com a agroindústria exportadora do Brasil não eram incentivadas. Sob esse aspecto, Alencastro
sustenta que o Brasil, tradicionalmente visto como um país explorado, também explorou.
“Angola foi pilhada pelos brasileiros, ou pelos colonos deste enclave lusitano”, afirma o
historiador. Isso ocorreu por meio de guerras com o intuito de aumentar o tráfico de escravos.
a) o Atlântico sul relacionava a América e a África, logo a formação do Brasil não se restringiu
apenas ao binômio Brasil-Portugal.
d) o trabalho compulsório no Brasil colônia foi formado pelo tráfico de escravos africanos e
também por “negros da terra”.
2. Resposta: a.
3. (Fuvest-SP – 2015) Uma observação comparada dos regimes de trabalho adotados nas
Américas de colonização ibérica permite afirmar corretamente que, entre os séculos XVI e XVIII,
a) a servidão foi dominante em todo o mundo português, enquanto, no espanhol, a mão de obra
principal foi assalariada.
d) não houve escravidão africana nos territórios espanhóis, pois estes dispunham de farta oferta de
mão de obra indígena.
e) o Brasil forneceu escravos africanos aos territórios espanhóis, que, em contrapartida, traficavam
escravos indígenas para o Brasil.
3. Resposta: c.
4. (Enem/MEC – 2013)
A recuperação da herança cultural africana deve levar em conta o que é próprio do processo
cultural: seu movimento, pluralidade e complexidade. Não se trata, portanto, do resgate
ingênuo do passado nem do seu cultivo nostálgico, mas de procurar perceber o próprio rosto
cultural brasileiro. O que se quer é captar seu movimento para melhor compreendê-lo
historicamente.
MINAS GERAIS. Cadernos do Arquivo 1: Escravidão em Minas Gerais. Belo Horizonte: Arquivo Público Mineiro, 1988.
Com base no texto, a análise de manifestações culturais de origem africana, como a capoeira ou o
candomblé, deve considerar que elas
4. Resposta: c.
5. (Enem/MEC)
Torna-se claro que quem descobriu a África no Brasil, muito antes dos europeus, foram os
próprios africanos trazidos como escravos. E esta descoberta não se restringia apenas ao reino
linguístico, estendia-se também a outras áreas culturais, inclusive à da religião. Há razões para
pensar que os africanos, quando misturados e transportados ao Brasil, não demoraram em
perceber a existência entre si de elos culturais mais profundos.
(SLENES, R. Malungu, ngoma vem! África coberta e descoberta do Brasil. Revista USP, n. 12, dez./jan./fev. 1991-92 –
Adaptado).
5. Resposta: a.
a) 1, 2 e 4;
b) 3, 4 e 5;
c) 1, 3 e 5;
d) 1, 2 e 3;
e) 2, 3 e 5.
6. Resposta: d.
Página 92
VOZES DO PASSADO
›› Fonte 1
O trecho a seguir foi escrito por Mahommah Gardo Baquaqua, um africano nascido onde hoje é o
Benin e trazido para Pernambuco como escravo, em 1847. Depois de conseguir a liberdade, ele
escreveu um livro do qual retiramos o trecho a seguir:
Comida e bebida eram escassos na viagem, havendo dias em que os escravos não ingeriam
absolutamente nada. Houve um pobre companheiro que ficou tão desesperado pela sede que
tentou apanhar a faca do homem que nos trazia água. Foi levado ao convés, e eu nunca mais
soube o que lhe aconteceu. Suponho que tenha sido jogado ao mar.
VIEIRA, Leonardo. Historiadores traduzem única autobiografia escrita por ex-excravo que viveu no Brasil. O Globo,
Rio de Janeiro, 27 nov. 2014. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade/historia/historiadores-traduzem-
unica-autobiografia-escrita-por-ex-escravo-que-viveu-no-brasil-14671795#ixzz3Kja8UxlC>. Acesso em: 11 mar.
2016.
››Fonte 2
b) Segundo o autor, como era o tratamento dispensado aos escravizados no navio negreiro?
c) Reflita e opine: o fato de o autor ter viajado em um navio negreiro como escravo torna o seu
relato mais confiável? Justifique.
d) Agora observe a imagem (fonte 2) com atenção; ela reforça ou nega a descrição feita por
Baquaqua na fonte 1? Justifique.
Página 93
11. Quem vai nos ombros dos outros não sente a longa distância. [...]
LOPES, Nei. Kitábu: O livro do saber e do espírito negro-africanos. Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2005. p. 187-
190.
a) Encontre no dicionário o significado do termo provérbio e verifique em que sentido ele se aplica
ao provérbio número 9.
c) Em dupla. O provérbio de número 5 relaciona a situação de uma nação às condições do povo que
nela vive. Vocês consideram essa relação pertinente? Justifique sua resposta com base nos seus
conhecimentos de História.
e) Em grupo. Parte do que sabemos deve-se ao que aprendemos com os mais velhos. Registrem
por escrito os contos, adivinhas, receitas e provérbios que vocês aprenderam com eles; postem o
resultado do trabalho no blog da turma.
f) Em dupla. A música do compositor e cantor cearense Antonio Belchior, Como os nossos pais, se
tornou famosa na voz de Elis Regina. Pesquisem a letra dessa canção e respondam: até que ponto
vocês agem de modo diferente do de seus pais, e até que ponto agem como eles?
Página 94
Expansão e ouro na
Capítulo 5
América portuguesa
Professor: o autor das cartas chama de “louco chefe” o governador das Minas, Luís da Cunha Menezes, o “Fanfarrão
Minésio”. Nesta sua obra, Gonzaga critica a exploração e o sofrimento dos presos utilizados na construção da cadeia (hoje
abrigando o Museu da Inconfidência de Ouro Preto) vista na fotografia à esquerda. Note que o autor considera a construção
inteiramente dispensável em sua magnitude, com mão de obra constituída por prisioneiros sem culpa formada e forçados a
trabalhar a mando do despótico governador. Por terem sido feitos com base na vivência do autor e conjurado Tomás Antônio
Gonzaga, esses versos podem ajudar o alunado a formar uma ideia do viver mineiro no século XVIII.
O trecho a seguir foi extraído de Cartas chilenas, obra que apresenta três
personagens principais: Critilo, pseudônimo de Tomás Antônio Gonzaga, o autor
da obra; Doroteu, pseudônimo do escritor Cláudio Manuel da Costa, o destinatário
da carta; e o fictício governador chileno Fanfarrão Minésio, pseudônimo de Luís
da Cunha Menezes, que governou Minas Gerais de 1783 a 1788. Leia-o com
atenção.
RESENDE, Maria Efigênia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos. História de Minas Gerais: as Minas setecentistas. Belo
Horizonte: Autêntica/Companhia do Tempo, 2007. v. 2, p. 331.
Os soldados
Desde o início do século XVI, piratas e corsários europeus assaltavam a costa da
América, em busca de riquezas. Com a União das Coroas Ibéricas, a partir de 1580,
a pirataria no litoral brasileiro se intensificou, pois, estando sob domínio espanhol,
o Brasil passou a atrair também os inimigos da Espanha. O governo luso-espanhol,
por sua vez, reagia enviando expedições e erguendo fortes em pontos estratégicos
do território colonial.
»» Forte dos Reis Magos (1598), localizado em uma posição que possibilitava
observar o mar, o rio Potengi e as matas vizinhas. Erguido sobre arrecifes para
firmar a construção, o forte está na origem da cidade de Natal, fundada dois anos
depois.
Rubens Chaves/Pulsar Imagens
»» Forte de São Luís (1612), que está na origem da cidade de São Luís, capital do
Maranhão. O forte foi fundado por calvinistas franceses que, interessados no
açúcar nordestino, tentavam estabelecer aqui uma colônia comercial (a França
Equinocial). Para essa empreitada, eles tiveram o apoio do rei da França e
contaram com o auxílio dos Tupinambá, inimigos dos portugueses. A França
Equinocial, no entanto, durou pouco tempo; três anos depois, forças luso-
espanholas já tinham conseguido expulsar os franceses do Maranhão.
Em primeiro plano vemos os muros do forte em torno do qual se formou a cidade de São Luís; ao
fundo, o Palácio dos Leões, sede do governo do Estado do Maranhão, 2014.
Os jesuítas
Os jesuítas vieram dispostos a difundir o cristianismo nas terras americanas,
converter indígenas e integrá-los à civilização ocidental; para isso atravessaram o
oceano Atlântico.
Allmaps
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 24.
Soldados de Cristo: denominação dada aos jesuítas pelo fato de se pautarem por hierarquia e disciplina
rígida que lembra a dos militares.
Gerson Sobreira/Terrastock
Escultura em madeira policromada representando Jesus Cristo, trabalho feito por indígenas de São
Miguel das Missões (RS). Fotografia de 2010.
A Revolta de Beckman
Constituído em 1621, o estado do Grão-Pará e Maranhão compreendia, na época,
todas as terras situadas entre o Rio Grande do Norte e o Pará.
Johannes Vingboons. Séc. XVII. Óleo sobre tela. Arquivo Nacional, Holanda
Maranhão, obra do pintor holandês Johannes Vingboons (1616-1670); a obra mostra uma vista de
São Luís e foi produzida em 1665.
Os bandeirantes
Enquanto na capitania de Pernambuco os engenhos de produção de açúcar
progrediam a olhos vistos, na capitania de São Vicente eles vinham declinando. Por
isso, boa parte da população vicentina subiu a Serra do Mar e se estabeleceu no
planalto paulista. Lá, liderados pelo padre José de Anchieta, inauguraram um
colégio e deram início a um povoado, São Paulo do Campo de Piratininga.
São Paulo, capital bandeirante
Na passagem do século XVI para o XVII, São Paulo era uma vila relativamente
pobre, que produzia para a subsistência e não tinha como importar aquilo de que
necessitava. A população era, em sua maioria, formada de mamelucos (mestiço de
branco com índio) e assimilara muito da cultura tupi. Os paulistas deslocavam-se a
pé ou de canoa (até por volta de 1630, o cavalo ainda não tinha sido introduzido no
planalto paulista); andavam descalços; dormiam em redes e falavam o tupi,
Página 99
língua predominante na região até o século XVIII. Além disso, cultivavam seus
alimentos, costuravam suas roupas e fabricavam seus artefatos de caça e de pesca.
Muito do que sabiam aprenderam em contato com os indígenas.
As bandeiras
As bandeiras eram expedições com organização e disciplina militar, que partiam
geralmente de São Paulo, a fim de capturar indígenas e encontrar metais preciosos.
Essas expedições eram lideradas por jovens paulistas. Eram os pais ou sogros
desses jovens que custeavam as bandeiras e forneciam o chumbo e a pólvora,
esperando receber, em troca, metade dos indígenas aprisionados.
A caça ao indígena
Desde o século XVI, os paulistas aprisionavam indígenas para utilizá-los em suas
lavouras. A partir de 1620, porém, com o crescimento das plantações de trigo na
região, intensificou-se a procura por mão de obra. Os paulistas organizaram, então,
grandes bandeiras em direção ao Sul, onde estavam localizadas as missões –
amplos aldeamentos indígenas, relativamente isolados dos núcleos urbanos,
administrados pelos padres jesuítas. Nesses aldeamentos, era grande o número de
indígenas da nação Guarani – exímios agricultores, e, por isso, muito cobiçados
desde o início da colonização.
Dica! Vídeo sobre Raposo Tavares, um dos bandeirantes famosos de nossa história. [Duração: 7
minutos]. Acesse: <http://tub.im/u7j4mp>.
Acampamento bandeirante para plantio de roças, aquarela de Ivan Washt Rodrigues. As alianças
entre paulistas e índios ajudam a explicar a formação econômica e social do interior da Colônia.
Página 100
Para refletir
Primeiro nome das terras de MinasGerais, no início do século XVIII, foi Minas dos Cataguases,
uma referência ao grupo indígena de procedência Jê que habitava vastas regiões dos sertões.
[...] Durante a segunda metade do século XVIII, dezenas de bandeiras devassaram todo o
território, em uma guerra não declarada que afugentou, exterminou, aprisionou e escravizou
populações indígenas de diversas procedências étnicas. Criavam-se, assim, condições para a
apropriação e a exploração das terras que se tornaram uma das maiores benesses para
participantes dessas campanhas. A violência contra os índios não ocorreu apenas no início da
corrida do ouro, como imaginaram alguns, mas persistiu ao longo de todo o século XVIII.
É verdade que os diversos povos nativos da região – incluindo Coroado, Puri, Botocudo,
Kamakã, Pataxó, Maxakali, Caiapó, entre outros – encontraram-se, no fim, em minoria de armas
e homens, atacados por doenças e obrigados a se deslocarem continuamente, em face da
diminuição da terra e dos recursos naturais. Mesmo assim, eles lutaram tenazmente,
sobretudo no caso dos caiapós no oeste e dos botocudos no leste da capitania, em territórios
de grande interesse do poder colonial.
RESENDE, Maria L. Chaves de; LANFER, Hal. O ouro vermelho de Minas Gerais. Revista de História da Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro, ano 1, n. 10, p. 58-60, maio/jun. 2006.
Página 101
b) Como os grupos indígenas foram vistos pelos bandeirantes que lideravam essas
expedições?
b) Os indígenas foram vistos como “invasores”, quando, na verdade, eles reagiam à ocupação de suas terras.
c) De que formas essas expedições aos sertões de Minas afetaram os indígenas que
lá viviam?
c) Muitos deles foram mortos em razão das armas de fogo e das doenças contraídas no contato com os integrantes dessas
expedições; além disso, esses grupos perderam a maior parte de seu território.
d) Sim. Professor: perseguidos em uma guerra não declarada nos sertões e arraiais, os índios resistiram e contribuíram
para a formação das sociedades coloniais do Centro-Oeste brasileiro.
O sertanismo de contrato
Nos séculos XVII e XVIII, os bandeirantes também foram contratados por
fazendeiros e autoridades para combater índios ou negros rebelados contra a
escravidão. Esse tipo de bandeirismo voltado à repressão de revoltas indígenas e
quilombos é chamado de sertanismo de contrato. Uma conhecida bandeira de
sertanismo de contrato foi a que destruiu o Quilombo dos Palmares, em 1694.
Principais bandeiras
Allmaps
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 24.
Página 102
Ouro e fome
Oscar Pereira da Silva. c. 1920. Óleo sobre tela. Museu Paulista da USP, São Paulo
A tela representa pessoas se dirigindo para a região das minas. Repare que algumas delas estão
calçadas, outras não, o que mostra que eram de diferentes estratos sociais, pois, na época, estar
calçado era um sinal de distinção.
Emboaba: para alguns, o termo significa “forasteiro”; para outros, é uma palavra de origem indígena que
significa “ave de pés cobertos”, apelido dado pelos paulistas aos portugueses pelo fato de eles calçarem botas.
1. Dica! Vídeo que discute e desvenda os mitos da Guerra dos Emboabas. [Duração: 26 minutos].
Acesse: <http://tub.im/w7qak8>.
Allmaps
1. Dica! Vídeo sobre a Revolta ocorrida em Vila Rica. [Duração: 2 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/5yx78t>.
A revolta foi duramente reprimida, e seus líderes, presos. Felipe dos Santos foi
morto e teve seu corpo esquartejado e exposto na margem de uma estrada. O
morro onde ficava a mina de ouro de Pascoal da Silva, e que levava o seu nome, foi
queimado em noite de vento por ordem do governador da região.
2. Dica! Vídeo sobre a história de Vila Rica, atual Ouro Preto. [Duração: 26 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/p8jqhy>.
Carlos Julião. c. 1776. Aquarela. Acervo Biblioteca José e Guita Mindlin
Detalhe da obra Negras vendedoras, de Carlos Julião, c. 1776. Escravas de ganho a serviço de seus
donos ou mulheres alforriadas que sustentavam a família com a venda de seus quitutes, as negras
do tabuleiro eram conhecidas também por proteger escravos fugidos e por esconder ouro e
diamantes entre os alimentos que vendiam, a fim de ajudar a comprar a carta de alforria. Em 1729,
o então governador da capitania, D. Lourenço de Almeida, chegou a baixar uma lei proibindo-as de
vender comestíveis ou bebidas com tabuleiros.
Nos cinco anos seguintes liberou a exploração dos diamantes a todos os homens
brancos que tivessem escravos e recursos para investir, estabelecendo uma taxa
sobre cada escravo empregado na extração. Exigiu, também, que sua exportação
fosse feita apenas em navios portugueses.
Anônimo, escola portuguesa. Séc. XVIII. Gravura. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa
Modo de lavar os diamantes, século XVIII. Nessa gravura, vemos escravizados trabalhando na
lavagem de diamantes, vigiados por uma autoridade local. No trabalho da mineração, os
escravizados entoavam vissungos, palavra que vem do umbundo (língua banta) e que quer dizer
“cantiga”, “canto”.
Durante muito tempo se disse que este livro foi um caso atípico, que de tão severo
transformou-se no terror da população local. Atualmente, no entanto, a
historiografia relativiza essa afirmação. A historiadora Júnia Ferreira Furtado, por
exemplo, afirma que:
[...] o Regimento veio ampliar ou completar, mas acima de tudo consolidar as leis anteriores
[...]. Aproveitando muito da legislação que estava em vigor para toda a Capitania, dela pouco se
afastou ou trouxe de novo. Em todos os lugares, a aplicação da lei não se fazia de forma
homogênea, sendo que negros, [...] pobres e vadios acabavam sofrendo mais a violência da
repressão e as penas mais duras, chegando até à pena de morte. As cadeias viviam
superlotadas e em condições subumanas.
Editora Annablume
Editoria de arte
Fonte de pesquisa: MAURO, Féderic (Coord.). O império luso-brasileiro – 1720- 1750. In: SERRÃO, J.;MARQUES, A. H.
de Oliveira (Org.). Nova história da expansão portuguesa. Lisboa: Estampa, 1991. v. 8.
Dica! Reportagem sobre a rota do ouro e dos diamantes. [Duração total: 50 minutos]. Dividido em
três partes. Para a primeira parte, acesse: <http://tub.im/uaiaju>.
Acompanhe agora o que um estudioso disse sobre o impacto do ouro nas Gerais.
Se o ouro não ajudou Portugal a se desenvolver, qual o seu papel em Minas Gerais? Ali,
produziu uma civilização singular nos quadros da Colônia. O ouro [...] vai possibilitar o
desenvolvimento de uma realidade marcada pela urbanização, mais significativa que em
qualquer outro local da Colônia [...]. A Capitania de Minas Gerais foi a mais populosa da
América Portuguesa, tendo o maior contingente de população escrava e o maior contingente de
população livre.
Sociedade dotada de diversidade econômica e cultural, Minas Gerais, no século XVIII, deveu
muito de seu dinamismo à produção mineral, ao ouro e aos diamantes, que, se não trouxeram
efetivo desenvolvimento econômico e social, contribuíram para mostrar uma significativa
capacidade criativa, no campo artístico e cultural, que são referências decisivas para a
construção de nossa plena emancipação.
PAULA, João Antônio de. A mineração de ouro em Minas Gerais no século XVIII. In: RESENDE, Maria Efigênia Lage de;
VILLALTA, Luiz Carlos. História de Minas Gerais: as minas setecentistas. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. v. 1. p. 299-
300.
Acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo. Foto: Romulo Fialdini/Tempo Composto
Santa Mestra, estátua de madeira dourada do século XVIII, atribuída a Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho.
Mudanças no território colonial
No Brasil, a mineração estimulou uma série de mudanças, entre as quais cabe
destacar:
» a mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro (1763), único porto por
onde o governo português permitia que se embarcasse o ouro;
A sociedade do ouro
Além de ser mais complexa do que a do açúcar, a sociedade do ouro era
marcadamente urbana; nas cidades – locais de residência, de serviços, de comércio,
de oração e de festa – desenvolveu-se a vida social na região mineradora. Nela, a
discriminação contra negros, indígenas e seus descendentes era intensa e o medo e
o valor dado às aparências eram enormes.
Em 1776, a população da Capitania do Ouro era formada por cerca de 320 mil
habitantes, distribuídos conforme o gráfico ao lado.
No século XVIII, 78% da população das Minas Gerais era formada de negros e
pardos, muitos dos quais, escravizados.
Editoria de arte
Fonte: MELLO E SOUZA, Laura. Desclassificados do Ouro: a pobreza mineira no século XVIII. Rio de Janeiro: Edições
Graal, 1986. p. 141.
Os potentados
Estudos recentes sugerem que as maiores fortunas nas Minas Gerais pertenciam a
grandes comerciantes (potentados), muitos dos quais praticavam também a
agiotagem. Manuel Nunes Viana, por exemplo, enriqueceu vendendo gado e carne
das suas fazendas nos sertões do São Francisco para os açougues mineiros. Os
contratadores de diamantes e alguns funcionários do governo português também
conseguiram fazer fortuna.
Entre os donos de minas, foram poucos os que conseguiram enriquecer, pois boa
parte do que ganhavam servia para o pagamento de impostos. Outra era gasta com
a compra de mercadorias caras, como escravos, ferramentas, bebidas (vinho e
aguardente) e alimentos importados.
As camadas médias
As possibilidades de negócio com o ouro em pó, a demanda de serviços urbanos e a
ampliação do mercado consumidor favoreceram o crescimento das camadas
médias: taberneiros, sitiantes, militares, artesãos, advogados, padres, garimpeiros,
cirurgiões-barbeiros e roceiros. Estes plantavam milho, arroz, feijão, mandioca;
cultivavam plantas frutíferas e hortaliças e criavam galinhas e porcos. Nos últimos
anos do século XVIII, desenvolveu-se também a criação de vacas leiteiras e a
fabricação de queijo.
Os escravizados
Na base da sociedade colonial mineira estavam os escravizados. Eles trabalhavam
na extração do ouro em rios ou galerias subterrâneas, onde comumente ocorriam
desabamentos e mortes. Na mineração de diamantes, não era muito diferente:
erguiam-se barreiras para represar as águas da bacia do rio Jequitinhonha; como
essas se rompiam frequentemente, muitos também acabavam morrendo. Os
escravizados trabalhavam na produção de alimentos, na construção de casas,
praças e chafarizes, na abertura de estradas, no transporte de pessoas e
mercadorias pelas ladeiras acidentadas dos arraiais mineiros e no comércio pelas
ruas e lavras.
Mas nessa região os cativos também ofereceram forte resistência à escravidão: foi
lá que surgiu o maior número de quilombos. Segundo o historiador Carlos Magno
Guimarães, nos anos entre 1710 e 1798 foram descobertos e combatidos 160
desses núcleos.
Mestre Ataíde. c. 1809. Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, Ouro Preto. Foto: Manoel Novaes
Glorificação da Virgem, pintada pelo Mestre Ataíde no teto da igreja de São Francisco, em Ouro
Preto, é um ícone do barroco mineiro. Artista original, Mestre Ataíde pintou, com cores vivas e
alegres, virgens e anjos com traços afro -brasileiros, à semelhança dos de sua companheira e de
seus filhos. Nem sempre os pintores mineiros tinham recursos para importar suas tintas; então
criavam as suas próprias, misturando terra queimada, leite, clara de ovo e extratos de plantas e
flores. Por isso se diz que não existe nas artes plásticas do século XVIII um colorido como o que
vemos nas pinturas mineiras.
Séc. XVIII. Têmpera sobre madeira. Museu da Inconfidência, Ouro Preto.Foto: Romulo Fialdini/Tempo C
A pecuária colonial
Como disseram os historiadores João Fragoso, Manolo Florentino e Sheila de
Castro Faria, a criação de gado foi uma das principais atividades econômicas da
Colônia e um setor básico para o funcionamento da economia colonial como um
todo. A pecuária ligava-se necessariamente ao mercado interno, não sendo os
animais destinados somente à alimentação, mas também ao trabalho. Daí haverem
na Colônia amplas áreas especializadas nessa atividade, como o sertão do rio São
Francisco até os rios Tocantins e Araguaia, boa parte do Piauí, do Maranhão, o
sertão da Bahia, os campos de Curitiba, o litoral do norte fluminense, o sul de
Minas e as campinas do sul do Brasil.
Fonte de pesquisa: LINHARES, Maria Yedda. História Geral do Brasil. 9. ed. São Paulo: Campus, 1990. p. 84.
Caminhos do gado
Allmaps
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 38.
No Nordeste, o gado servia para puxar os carros de boi, moer a cana, alimentar a
população local e fornecer matérias-primas, principalmente o couro. Nessa época,
o curral do gado era o quintal do engenho. Com a expansão da economia
açucareira, no entanto, o gado criado nos engenhos passou a ser considerado um
problema, pois, além de destruir as plantações, ocupava terras que poderiam ser
mais rentáveis se aproveitadas para o plantio da cana. Em 1701, o próprio governo
português, interessado nos lucros do açúcar brasileiro, proibiu a criação de gado a
menos de 10 léguas do litoral. Assim, aos poucos, o gado foi ganhando o sertão.
A expansão do gado pelo sertão foi um processo conflituoso, marcado por lutas
sangrentas entre os criadores luso-brasileiros e os indígenas. Com o auxílio dos
bandeirantes paulistas, os criadores venceram a resistência indígena e o sertão foi
ocupado pelas fazendas de gado.
O gado no Sul
Com a destruição das missões jesuíticas no Sul, o gado se dispersou e reproduziu-
se nas extensas planícies da região. Atraídos por esses rebanhos sem dono, os
paulistas fundaram no litoral do atual estado de Santa Catarina os povoados de São
Francisco, em 1642; Desterro (atual Florianópolis), em 1673; e Laguna, em 1684,
dando início à ocupação do Sul.
Açoriano: habitante da ilha dos Açores, pertencente a Portugal e localizada no oceano Atlântico.
Vista do Monumento aos Açorianos, no Largo dos Açorianos. Porto Alegre (RS), 2014.
As novas fronteiras
Como vimos, os habitantes da América portuguesa ocuparam terras que, pelo
Tratado de Tordesilhas, pertenciam à Espanha. Os espanhóis, por sua vez, também
invadiram áreas do Oriente, pertencentes a Portugal. Considerando ter direito às
terras conquistadas na América, Portugal fez vários acordos internacionais para
oficializar essa conquista. Os mais importantes foram:
2
Alexandre Campbell/Tyba
Fig. 1: ruínas da Igreja de São Miguel das Missões, sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo, no atual
estado do Rio Grande do Sul, 2011. Em 1983, a Unesco declarou essas ruínas patrimônio histórico
da humanidade. Fig. 2: A cruz acima da lança, em concreto armado, em frente à Prefeitura
Municipal de São Luiz Gonzaga (RS), 2013.
Allmaps
ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 30.
Como se pode ver no mapa, as fronteiras estabelecidas pelo Tratado de Badajós eram bem
parecidas com as fixadas pelo Tratado de Madri. Definia-se, assim, o novo território da América
portuguesa.
Página 114
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Enem/MEC – 2014)
O índio era o único elemento então disponível para ajudar o colonizador como agricultor,
pescador, guia, conhecedor da natureza tropical e, para tudo isso, deveria ser tratado como
gente, ter reconhecidas sua inocência e alma na medida do possível. A discussão religiosa e
jurídica em torno dos limites da liberdade dos índios se confundiu com uma disputa entre
jesuítas e colonos. Os padres se apresentavam como defensores da liberdade, enfrentando a
cobiça desenfreada dos colonos.
Entre os séculos XVI e XVIII, os jesuítas buscaram a conversão dos indígenas ao catolicismo. Essa
aproximação dos jesuítas em relação ao mundo indígena foi mediada pela
1. Resposta: e.
2. (Unicamp-SP – 2014)
A história de São Paulo no século XVII se confunde com a história dos povos indígenas. Os
índios não se limitaram ao papel de tábula rasa dos missionários ou vítimas passivas dos
colonizadores. Foram participantes ativos e conscientes de uma história que foi pouco
generosa com eles.
a) A escravidão foi por eles aceita, na expectativa de sua proibição pela Coroa portuguesa, por
pressão dos jesuítas.
b) Sua participação nos aldeamentos fez parte da integração entre os projetos religioso e bélico de
domínio português, executados por jesuítas e bandeirantes.
c) A existência de alianças entre indígenas e portugueses não exclui as rivalidades entre grupos
indígenas e entre os nativos e os europeus.
d) A adoção do trabalho remunerado dos indígenas nos engenhos de São Vicente contrasta com as
práticas de trabalho escravo na Bahia e Pernambuco.
2. Resposta: c.
3. (UECE) A corrida do ouro em Minas Gerais no final do século XVII trouxe uma riqueza muito
grande para a Coroa portuguesa mas também exigiu muitos esforços no sentido de fiscalizar a
produção e punir o contrabando. Assinale a expressão correta a respeito das medidas fiscais
empreendidas por Portugal na área das minas:
a) apesar dos protestos dos fidalgos encarregados da arrecadação, a Coroa portuguesa evitava
pressionar os produtores através das derramas, limitando-se a aumentar os impostos.
b) sem conseguir se impor aos proprietários das minas, a administração colonial passou a permitir
a livre comercialização do ouro, arrecadando impostos nos portos e nas estradas.
3. Resposta: d.
A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por
caminhos tão ásperos como são os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do
número de pessoas que atualmente lá estão [...]. Cada ano, vêm nas frotas quantidades de
portugueses e de estrangeiros para passarem às minas. Das cidades, vilas e recôncavos e
sertões do Brasil, vão brancos, pardos e pretos, e muitos índios, de que os paulistas se servem.
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo: Melhoramentos; Brasília: INL,1976. p. 167. [1ª edição:
1711].
A descrição acima refere-se à sociedade formada na região das Minas Gerais, no século XVIII. A
respeito dessa sociedade, considere as seguintes afirmações.
I. A possibilidade de ascensão social era mais facilitada do que na atividade açucareira empreendida
no Nordeste.
II. A riqueza gerada promoveu o desenvolvimento de uma agricultura em grande escala, voltada
para a exportação.
III. O desenvolvimento acarretou uma sociedade urbana, heterogênea, composta por comerciantes,
funcionários reais, profissionais liberais e escravos.
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e II.
d) Apenas I e III.
e) Apenas II e III.
4. Resposta: d.
5. (UFRGS-RS – 2014) Sobre o Tratado de Madri, assinado em 1750 por Portugal e Espanha,
considere as seguintes afirmações.
I. A Colônia de Sacramento passou para a Espanha, e os Setes Povos das Missões passaram para
Portugal, consagrando o princípio do uti possidetis.
II. A expulsão dos jesuítas foi fator importante para a eclosão da chamada guerra guaranítica (1752-
1756), reduzindo os efeitos do Tratado.
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas I e III.
5. Resposta: d.
6. A resistência indígena pode ser identificada em lutas e enfrentamentos diversos, como na Guerra Guaranítica e em fugas
para áreas do interior da Amazônia.
d) invernadas e estâncias;
e) a produção do charque.
7. O texto fornece elementos para a resposta. A intenção aqui é dar continuidade ao trabalho de estímulo à competência
escritora do aluno e ajudá-lo a fixar conhecimentos sobre a ocupação e o povoamento do sul do Brasil.
Página 116
VOZES DO PRESENTE
Eu quero é ouro!
[...] Nas Minas Gerais do final do século XVII e das primeiras décadas do XVIII, todos queriam
ouro. A qualquer preço. Os próprios representantes do Estado português – governadores,
ouvidores, provedores [...] contribuíam para desviar as riquezas da Fazenda Real (a Receita
Federal da época). [...]
[...] Mas a fábrica de moeda falsa de que realmente se tem notícia [...] foi obra de [...] Inácio de
Souza Ferreira, [...] sob a proteção [...] do próprio governador das Minas Gerais, D. Lourenço de
Almeida (1721-1732) [...]. D. Lourenço, a propósito, retornou riquíssimo a Portugal, com
bagagem reluzente, no fim do seu governo. Estes sim, e não os escravos, foram os grandes
descaminhadores.
CAVALCANTE, Paulo. Eu quero é ouro! Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 4, n. 38, p. 28-
30, nov. 2008.
Descaminhar: extraviar.
Museu Paulista da Universidade de São Paulo. Foto: Romulo Fialdini/Tempo Composto
a) O extravio de ouro e diamantes nas Minas Gerais do início do século XVIII era uma prática
exclusiva dos escravizados? Justifique.
b1) Quem praticava esses extravios? De que forma isto era feito?
b2) No texto, o autor afirma que os representantes do governo, e não os escravos, foram os
grandes extraviadores. Explique essa afirmação de acordo com o contexto da época.
Página 117
A Revolução Inglesa e a
Capítulo 6
Industrial
Professor: partimos de uma imagem e um mapa atuais para verificar o que o aluno sabe sobre o tipo de monarquia adotado
no Reino Unido, dar início ao trabalho com o conceito de monarquia parlamentar e o processo que levou ao advento desse
regime político na Inglaterra. Na cerimônia registrada na foto, a rainha Elizabeth II apresentou um programa com os
seguintes pontos: cortes no orçamento, geração de empregos, construção de casas populares, creches gratuitas e controle da
imigração; este programa ajuda-nos a pensar sobre a capacidade de renovação da monarquia parlamentar britânica e de
adequação de suas propostas às demandas do mundo atual.
Dica! Reportagem sobre aspectos da história da Grã-Bretanha nos séculos XVI e XVII. [Duração:
27 minutos]. Acesse: <http://tub.im/3jt2n5>.
Capitalismo: sistema socioeconômico caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção
(terras, fábricas, equipamentos etc.), relações assalariadas de trabalho e produção visando o lucro.
Cercamento: consistia em cercar as terras de uso comum, de onde os camponeses retiravam sua
subsistência, para transformá-las em pastos para a criação de ovelhas (produtoras de lã) ou em áreas de
produção de cereais, frutas e vegetais destinados à venda. A prática dos cercamentos se estendeu por um longo
período, mas teve momentos de maior intensidade.
Publicado por Jan Blaeu. Séc. XVII. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Era comum também a compra de terras por parte da gentry e dos yeomen. Assim,
por meio dos cercamentos e/ou da compra, essas camadas sociais foram
acumulando terras. E, pouco a pouco, a agricultura de subsistência foi cedendo
lugar à agricultura comercial com características capitalistas.
Cornwall Lamorna Cove. Séc. XIX. Óleo sobre tela. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Camponeses ingleses de um vilarejo. Esta obra do século XIX ajuda-nos a imaginar um fenômeno
típico do século XVII, na Inglaterra: a migração de famílias camponesas do campo para as cidades
inglesas.
Sentindo sua autoridade ameaçada, Carlos I passou à ofensiva: invadiu com sua
guarda pessoal a Câmara dos Comuns, órgão de maioria puritana, para prender os
líderes da oposição. A oposição, no entanto, já havia se retirado do recinto para se
unir às forças puritanas armadas na luta contra o absolutismo; tinha início, assim,
na Inglaterra, uma guerra civil que se estendeu de 1642 a 1649.
Lir Anthony van Dyck. 1635. Óleo sobre tela. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A pintura intitulada Carlos I em três posições é um dos vários retratos que o pintor Anthony van
Dyck fez desse rei, seu protetor e mecenas. Repare que Carlos I foi retratado de três ângulos
diferentes, de modo a impressionar o observador e evocar a ideia de força e poder de rei
absolutista.
Revolução Puritana
Do ponto de vista social, a alta nobreza, burgueses favorecidos por monopólios
reais e os membros do clero anglicano e católico lutaram ao lado do rei; a
burguesia manufatureira e mercantil, a gentry e os yeomen, de religião puritana,
lutaram ao lado do Parlamento.
Integrante do exército dos “cabeças redondas”, c. 1640. Os puritanos, nome dado aos calvinistas na
Inglaterra, acreditavam na predestinação. Muitos desses soldados, como esse representado na
imagem ao lado, acreditavam que tinham sido eleitos por Deus para combater no exército de
Cromwell.
A República de Cromwell
Apoiado no exército, Oliver Cromwell (1649-1658), um republicano moderado, foi
um dos governantes mais autoritários da história inglesa. Externamente, sufocou o
levante dos católicos da Irlanda e o dos separatistas da Escócia; internamente,
combateu os movimentos populares puritanos que exigiam reformas radicais. As
terras dos partidários do rei e da Igreja anglicana foram confiscadas e vendidas
para a burguesia manufatureira, para os gentry e para os yeomen, os vencedores da
Revolução Puritana.
[...] as mercadorias europeias não podiam ser transportadas para a Inglaterra, a não ser em
navios ingleses ou em navios do país de origem; do mesmo modo os produtos da Ásia, da
América ou da África não podiam ser importados senão pela marinha britânica ou colonial.
DIALOGANDO
A intenção de Cromwell era fortalecer a marinha inglesa, enriquecer comerciantes e armadores de seu país e atingir a
Holanda, que na época era sua principal concorrente nos mares.
A partir daí, Cromwell aproveitou-se da guerra para tornar seu cargo vitalício e
hereditário (1653), impondo seu poder pessoal à nação, com o título de Lorde
Protetor da Inglaterra, Irlanda e Escócia. Por isso, cinco anos depois, quando
Cromwell morreu, o poder passou às mãos de seu filho Ricardo.
Vista de Londres, c. 1700. A indústria têxtil, a produção de carvão e a política mercantilista dos
governantes ingleses contribuíram para a prosperidade de Londres, a maior cidade da Europa no
século XVII.
Página 123
A restauração da monarquia
Ricardo não tinha o apoio do exército e, além disso, mostrava-se incapaz de fazer
alianças e de controlar as oposições. Ao mesmo tempo, os movimentos populares
liderados por grupos político-religiosos puritanos, como os levellers (niveladores)
e os diggers (cavadores), pressionavam por mudanças.
»» o direito de voto a todos os homens, o fim da Câmara dos Lordes e todo o poder
para a Câmara dos Comuns;
Os diggers exigiam que todas as terras e florestas da Coroa, os terrenos comunais e ociosos
fossem cultivados pelos pobres, através da posse comunitária, e que a compra e venda da terra
deveria ser proibida por lei.
HILL, Christopher. O eleito de Deus: Oliver Cromwell e a Revolução Inglesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p.
18.
Jaime II (1685-1689), seu irmão e sucessor, foi mais longe: tentou impor o
catolicismo aos ingleses desafiando o Parlamento, de maioria protestante. E
também aliou-se a Luís XIV, da França, o monarca absolutista mais poderoso da
Europa.
Editora Cia. das Letras
A Revolução Gloriosa
O Parlamento reagiu às imposições de Jaime II reunindo tropas para destroná-lo. O
rei, por sua vez, preferiu deixar o trono a resistir. Os líderes do Parlamento, então,
convidaram o príncipe holandês Guilherme de Orange, casado com a filha
protestante de Jaime II, a ocupar o trono inglês. Em 1688, Guilherme de Orange
entrou na Inglaterra com o seu exército e, por ato do Parlamento, foi declarado rei.
Era a Revolução Gloriosa (1688), assim denominada por ter ocorrido sem
derramamento de sangue.
Página 124
Escola inglesa. Séc. XIX. Ilustração. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Na imagem vemos um membro do Parlamento entregando aos reis Guilherme de Orange e sua
esposa, Maria, a Declaração de Direitos, documento que limitava o poder real.
Locke defendia o direito de cada pessoa escolher sua religião, apoiar um grupo
político, defender suas ideias em público ou por meio da imprensa. Esses direitos
individuais deveriam ser respeitados e protegidos pelos governantes. Por essas
suas ideias, Locke foi considerado um dos “criadores” do liberalismo na política.
Séc. XIX. Gravura. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
John Locke, filósofo inglês, pregou a ideia de que os governos foram criados para defender os
“direitos naturais” dos homens.
A partir da Revolução Gloriosa, tornou-se comum dizer: “o rei reina, mas quem
governa é o Parlamento”. Embora a afirmação não deva ser tomada ao pé da letra,
o fato é que a Inglaterra deixava de ser uma monarquia absolutista e passava a ser
uma monarquia parlamentar. Os ingleses deixavam de ser súditos para
tornarem-se cidadãos, com direitos e deveres. Além disso, a Revolução favoreceu o
desenvolvimento do capitalismo e, consequentemente, a expansão dos negócios da
gentry e da burguesia manufatureira e mercantil, o que ajuda a compreender o
pioneirismo inglês na Revolução Industrial.
Página 125
A Revolução Industrial
A Revolução Industrial pode ser definida como uma transformação sem
precedentes no modo de produzir mercadorias, de viver e de pensar, que
impressionou muito os homens e as mulheres que a vivenciaram. Essa Revolução
teve início na Inglaterra na década de 1760 e se propagou pela Europa nas décadas
seguintes.
1. Dica! Vídeo sobre os usos e a importância do carvão mineral. [Duração: 26 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/5c5tp6>.
Por volta de 1760, foi disseminado o uso da lançadeira volante inventada por John
Kay. Essa máquina permitia tecer peças largas, com menos trabalhadores e
Página 126
DIALOGANDO
Você já ouviu o ditado “a necessidade é a mãe de todas as invenções”? Você concorda com
isso?
Resposta pessoal. Professor: o assunto dá oportunidade a esse debate e para iniciá-lo é interessante perguntar: qual é a
origem de uma invenção? Um invento atende, principalmente, à necessidade social de determinado momento histórico.
William Ibbitt. Séc. XVIII. Litogravura. Coleção particular. Foto: SSPL via Getty Images
Cidade inglesa de Sheffield no século XVIII. Naquele tempo, as chaminés das fábricas eram um
elemento novo na paisagem. Os grossos rolos de fumaça que saíam dessas chaminés poluíam o ar,
dando início ao que hoje chamamos de “questão ambiental”. Industrialização e urbanização
caminharam de mãos dadas. Muitas cidades surgiram ou cresceram em torno das fábricas,
desordenada e rapidamente, sob o impacto das famílias que vinham do campo, ansiosas por
trabalho e uma vida melhor.
Se o problema antes era a carência, agora passa a ser o excesso de fios. A solução
para esse problema foi o tear mecânico, inventado pelo reverendo Edmund
Cartwright, em 1785, cuja capacidade de produção era muitas vezes maior que a
do tear manual.
As primeiras fábricas de tecidos foram construídas às margens dos rios para aproveitar a energia
da água. Com a descoberta da máquina a vapor, isso deixou de ser necessário, e as fábricas
passaram então a ser erguidas no centro das cidades. A imagem ao lado representa a experiência de
James Watt com a força da expansão do vapor de água.
Séc. XIX. Gravura. National Museum Of Science And Industry, Londres. Foto: De Agostini/Getty Images
Dica! Vídeo sobre as máquinas que tornaram possível a Revolução Industrial. [Duração: 29
minutos]. Acesse: <http://tub.im/77yjcb>.
Fiandeiras trabalhando com máquinas, c. 1835. A máquina podia ser alimentada por roda d’água ou
a vapor. No canto inferior esquerdo, vê-se uma mulher limpando a parte de baixo da máquina,
trabalho arriscado e que era feito, geralmente, por crianças.
Página 129
Cólera: doença infecciosa gastrointestinal produzida pelo vibrião colérico, uma bactéria em forma de vírgula.
Dica! Vídeo sobre o combate às doenças da Inglaterra do século XIX. [Duração: 29 minutos].
Acesse: <http://tub.im/uhqwuv>.
Como os aluguéis eram caros, quase não sobravam recursos para a alimentação; a
principal refeição dos operários reduzia-se, na maioria das vezes, a uma torta de
batata. Os bares (pubs) serviam como ponto de encontro para diversões e debates
políticos entre os operários. Lá eles conversavam sobre o seu dia a dia, distraíam-
se com jogos e também discutiam assuntos de interesse coletivo, como, por
exemplo, as condições de trabalho no interior das fábricas.
Sabotar: a palavra “sabotagem”, derivada do francês sabot (tamanco), está ligada às lutas operárias.
Revoltado, o operário sabotava o trabalho enfiando seu tamanco entre as engrenagens das máquinas e
parando a produção.
O movimento teve início em 1811, na cidade inglesa de Nottingham, e se espalhou
rapidamente pelas regiões vizinhas. A repressão aos luditas foi dura: em 1812, o
Parlamento aprovou a pena de morte para quem destruísse máquinas, e, no ano
seguinte, o governo inglês condenou à forca o também líder George Mellor e mais
de uma dezena de seus companheiros.
DIALOGANDO
Segundo o historiador Eric Hobsbawm, a quebra de máquinas era uma tática dos luditas para conseguir melhores condições
de trabalho e impedir a queda dos salários.
Página 130
O Parlamento, por sua vez, aprovou leis que proibiam a greve, as associações
operárias (trade unions) e as marchas de protesto. Em 1819, na cidade inglesa de
Manchester, uma manifestação de protesto com cerca de 80 mil trabalhadores
terminou em tragédia: 11 deles foram mortos. O episódio ficou conhecido como
Massacre de Peterloo. Pressionado pelo movimento operário, em 1824 o
Parlamento britânico reconheceu as trade unions, organizações de trabalhadores
que promoviam auxílio mútuo entre os seus associados e que, no fim do século XIX,
passaram a atuar como sindicatos (órgãos de defesa da classe trabalhadora).
» abolição do voto censitário para o Parlamento (do qual até então só podiam fazer
parte os ricos);
A luta pela aprovação da Carta do Povo deu origem a um movimento popular com
grande força em toda a Inglaterra: o cartismo. As exigências dos cartistas foram
recusadas pelo Parlamento, desencadeando ondas de greves, prisões e mortes de
líderes operários.
Cartismo: os cartistas recolhiam milhares de assinaturas nas oficinas, fábricas e associações operárias e
organizavam numerosas marchas que cortavam as principais cidades do país, entoando canções de protesto.
As petições cartistas foram enviadas ao Parlamento por diversas vezes, mas, apesar de virem acompanhadas
de milhares de assinaturas, eram rejeitadas.
As lutas operárias, no entanto, não foram em vão; eis algumas conquistas, parte
das quais se devem aos cartistas:
» 1846 – supressão dos impostos sobre os cereais importados, como o trigo, que
encareciam o preço do pão.
Manifestação na porta de uma fábrica em Salford, Inglaterra, em agosto de 1842. Repare que os
policiais se valem de cassetetes para reprimir os operários.
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ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (UEL-PR – 2016) Thomas Morus, em sua obra Utopia, criou uma analogia para a sociedade de
sua época. Nessa representação da sociedade, caracterizada pelo caos, ovelhas se alimentavam de
seres humanos, explicitando, dessa forma, um rompimento do equilíbrio social, no século XVIII.
Com base nos conhecimentos sobre as transformações históricas ocorridas nesse período, assinale
a alternativa que apresenta, corretamente, a denominação da fase do sistema produtivo e a nação
correspondente nesse processo.
a) Plantations – Alemanha.
b) Dominium – Itália.
c) Servidão – Portugal.
d) Corveia – França.
e) Cercamentos – Inglaterra.
1. Resposta: e.
c) a independência das treze colônias inglesas da América do Norte e a abertura dos portos ingleses
aos navios estrangeiros.
d) a derrota militar das forças reformistas e a consolidação do absolutismo monárquico nas mãos
de Oliver Cromwell.
2. Resposta: a.
3. (UFMG) Durante a Revolução Inglesa, no século XVII, foi formado o Exército de Novo Tipo,
liderado por Oliver Cromwell, de que participavam, além da classe mercantil, da gentry, dos
pequenos proprietários camponeses e de trabalhadores urbanos, segmentos mais radicais, que
defendiam reformas profundas no Estado inglês. É correto afirmar que esses segmentos eram
constituídos:
3. Resposta: b.
c) a expulsão das tropas napoleônicas do território inglês, que uniu os interesses nacionais em
torno de um esforço de desenvolvimento.
4. Resposta: a.
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5. (Enem/MEC – 2015)
Dominar a luz implica tanto um avanço tecnológico quanto uma certa liberação dos ritmos
cíclicos da natureza, com a passagem das estações e as alternâncias de dia e noite. Com a
iluminação noturna, a escuridão vai cedendo lugar à claridade, e a percepção temporal começa
a se pautar pela marcação do relógio.
Se a luz invade a noite, perde sentido a separação tradicional entre trabalho e descanso —
todas as partes do dia podem ser aproveitadas produtivamente.
SILVA FILHO, A. L. M. Fortaleza: imagens da cidade. Fortaleza: Museu do Ceará; Secult-CE, 2001 (adaptado).
5. Resposta: e.
Pode-se afirmar que as conquistas no início do século XX, decorrentes da legislação trabalhista,
estão relacionadas com
e) a vitória dos partidos comunistas nas eleições das principais capitais europeias.
6. Resposta: c.
De 1815 a 1847, F. Gaillot arrola uma quinzena de casos ocorridos e outros tantos de tentativas
abortadas. O ludismo é mais importante em 1848, quando assume feições particularmente
graves, à imagem da duração da crise e da esperança despertada pela nova República.
PERROT, M. Os excluídos da História. Operários, mulheres, prisioneiros. Trad. Denise Bottmann. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1988. p. 37.
7. Resposta: c.
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O texto a seguir foi retirado de um site educacional inglês, contendo depoimentos de pessoas que
trabalharam nas fábricas inglesas do século XIX desde a infância. O depoimento a seguir é de John
Birley, nascido em Londres em 1805 e que começou a trabalhar com 6 anos de idade. Leia o que ele
conta.
Matthias Dunn. 1848. Ilustração. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Nosso horário normal era das cinco da manhã até as nove ou dez da noite; e aos sábados, até as
onze, e às vezes meia-noite, e então éramos enviados para limpar o maquinário aos domingos.
Não havia tempo para o café da manhã, não podíamos sentar para o jantar e não tinha tempo
para tomar chá.
Nós íamos para a mina às cinco da manhã e trabalhávamos até quase oito ou nove horas,
quando eles traziam nosso café da manhã, que consistia em mingau com bolo de aveia e
cebolas pra temperar.
O jantar consistia em panqueca cortada em 4 pedaços, separadas em duas pilhas. Uma tinha
manteiga e a outra tinha melado. Ao lado das panquecas havia leite. Nós tomávamos o leite e,
com um pedaço de panqueca na mão, voltávamos a trabalhar sem sentar.
Nós então trabalhávamos até nove ou dez da noite, quando a roda d’água parava. Quando nós
parávamos de trabalhar, éramos levados para a casa dos aprendizes, situada a
aproximadamente 300 metros da mina. Era uma casa grande de alvenaria, cercada por um
muro de dois ou três metros de altura, com uma porta que era mantida trancada. Era capaz de
abrigar cerca de cento e cinquenta aprendizes.
SIMKIN, John. John Birley. Spartacus Educational, set. 1997. Tradução do autor. Disponível em: <http://spartacus-
educational.com/IRbirley.htm>. Acesso em: 26 fev. 2016.
d) Por que, na Inglaterra do século XIX, os empregadores podiam exigir dos aprendizes longas
jornadas de trabalho?
1. <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/06/brasil-e-o-pais-que-mais-reduziu-o-
trabalho-infantil>
2. <http://www.unicef.org/brazil/pt/media_25610.htm>
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A primeira vacina
A primeira vacina foi descoberta pelo médico inglês Edward Jenner, em 1796. Era uma vacina
contra varíola (doença que provoca erupções na pele e deixa cicatrizes). Jenner observou que
as pessoas infectadas com a varíola bovina (cowpox) não contraíam a varíola comum
(smallpox) e estudou o assunto por vários anos. Em 1796, inoculou com varíola bovina um
menino saudável de 8 anos. Algum tempo depois, Jenner expôs o garoto ao contágio com
varíola comum e ele não contraiu a doença: seu organismo havia desenvolvido defesas contra a
varíola. Estava descoberta a primeira vacina. A reação inicial da comunidade médica foi de
indiferença. Dois anos depois, contudo, Jenner divulgou os resultados de sua pesquisa em um
livro e conseguiu reconhecimento no meio científico. A vacina criada por Jenner difundiu-se
rapidamente na Europa e depois no resto do mundo.
››Fonte 2
Entre as preocupações está a hepatite B, transmissível por beijos, relações sexuais e sangue,
que pode se tornar crônica, levando a complicações como a cirrose. A vacina contra a hepatite
B é a primeira a ser dada ao bebê, mas só entrou no Programa Nacional de Imunização a partir
de 1998. Quem tem mais de 15 anos pode não ter recebido as doses necessárias. “[...]. É preciso
se certificar de que o adolescente tomou as três doses, que garantem a imunidade”, disse o
médico Renato Kfouri, presidente nacional da Sbim.
Kfouri lembra que “[...] é difícil levar o adolescente à sala de vacina. Ele não se sente vulnerável
às doenças.” [...] “A preocupação com o adolescente é que ele enfrenta riscos, não só pela idade,
mas pelo comportamento. Ele se expõe mais socialmente, beija mais, tem uma atitude social
que aumenta o contato com várias pessoas diferentes e fica mais suscetível”, afirmou Isabella
Ballalai, presidente da regional Rio da Sbim. [...]
THOMÉ, Clarissa. Médicos alertam para a vacinação de adolescentes. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 27 jun. 2012.
Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,medicos-alertam-para-a-vacinacao-de-
adolescentes-,892039,0.htm>. Acesso em: 8 mar. 2016.
b) Responda com base na fonte 2: o que explica a preocupação dos médicos com a incidência da
hepatite B entre os adolescentes?
c) Em grupo. Segundo Isabella Ballalai, o adolescente “se expõe mais socialmente, beija mais [...] e
fica mais suscetível”. Vocês concordam com ela?
[...] O crime é justamente esse: o glotocídio. A cada quinze dias morre o último falante de uma
das 6 700 línguas faladas atualmente em 193 países. Com ele desaparece para sempre mais
uma língua.
Com o objetivo de criar estratégias para fortalecer as línguas ameaçadas na América Latina, o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Ministério da Cultura
organizaram [...] um encontro [...] no Seminário Ibero-americano da Diversidade Linguística,
que reuniu mais de 400 pessoas comprometidas com a luta pelos direitos linguísticos das
minorias. [...]
Das línguas indígenas apenas 11 têm acima de cinco mil falantes, o que significa que a maioria
corre sério risco de extinção. [...]
No seminário foi lembrado o drama recente de dois índios. Um deles – Tikuein – único falante
da língua Xetá, vivia na aldeia São Jerônimo, norte do Paraná, com índios Kaingang e Guarani.
Como estratégia para manter a língua viva, ele falava com o espelho e algumas vezes,
caminhando pela aldeia, com um interlocutor fictício [...].
O outro caso foi registrado em 1978 por Zelito Viana no filme Terra de Índio. Ele gravou dona
Maria Rosa, que vivia no Posto Indígena Icatu (SP) e era ali a única falante da língua Ofaié
Xavante. Quando a fez escutar o que ela mesma havia dito, dona Maria Rosa estabeleceu um
diálogo com o gravador, a quem perguntou por seu pai, por sua mãe e no final se despediu do
aparelho dizendo: “Até logo, agora não falo mais porque estou rouca, viu?”.
BRASIL perdeu mais de 1100 línguas indígenas em 500 anos. Circuito Mato Grosso. Disponível em:
<http://circuitomt.com.br/editorias/brasil/53754-brasil-perdeu-mais-de-1-100-linguas-indigenas-em-500-
anos.html>. Acesso em: 25 abr. 2016.
Acervo Memorial da América Latina. Foto: Renato Soares/Pulsar Imagens
b) O texto informa que, das línguas indígenas faladas no Brasil, apenas 11 têm acima de 5 mil
falantes; o que isso significa?
c) Quais foram as estratégias usadas por Tikuein e Maria Rosa para manterem suas línguas vivas?
Que avaliação você faz dessas estratégias?
d) E você, considera importante manter vivas as línguas indígenas do Brasil? Por quê?
e) Em dupla. Façam uma pesquisa e tentem descobrir de que forma a tecnologia auxilia na
sobrevivência das línguas indígenas. Postem o resultado da pesquisa no blog da turma.
Página 136
Professor: para o autor da fonte 1 a cidadania envolve direitos civis, políticos e sociais. A intenção nesta abertura de
unidade é estimular o debate sobre cidadania a fim de preparar o alunado para exercê-la e, ao mesmo tempo, perceber a
historicidade desse conceito. Esse debate inicial pode, por exemplo, ajudar os estudantes a compreenderem o processo que
conduziu a passagem do súdito a cidadão durante a Revolução Francesa, tema vertebral dessa unidade.
O texto a seguir foi escrito pelo historiador José Murilo de Carvalho; leia-o com
atenção.
Tornou-se costume desdobrar a cidadania em direitos civis, políticos e sociais. O cidadão pleno
seria aquele que fosse titular dos três direitos. Cidadãos incompletos seriam os que
possuíssem apenas alguns dos direitos. Os que não se beneficiassem de nenhum dos direitos
seriam não cidadãos. Esclareço os conceitos. Direitos civis são os direitos fundamentais à vida,
à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Eles se desdobram na garantia de ir e vir,
de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, [...] de não ser preso a
não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis, de não ser condenado sem
processo legal regular. [...] Sua pedra de toque é a liberdade individual.
É possível haver direitos civis sem direitos políticos. Estes se referem à participação do
cidadão no governo da sociedade. Seu exercício é limitado a parcela da população e con-siste
na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado.
Em geral, quando se fala de direitos políticos, é do direito do voto que se está falando. [...] Sem
os direitos civis, sobretudo a liberdade de opinião e organização, os direitos políticos,
sobretudo o voto, podem existir formalmente mas ficam esvaziados de conteúdo e servem
antes para justificar governos do que para representar cidadãos. [...]
Finalmente, há os direitos sociais. [...]. Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário
justo, à saúde, à aposentadoria. [...] Os direitos sociais permitem às sociedades politicamente
organizadas reduzir os excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo e garantir um
mínimo de bem-estar para todos. A ideia central em que se baseiam é a da justiça social.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 9-10.
Tasso Marcelo/AE
››Fonte 2
Fonte 2: pessoa com deficiência visual caminhando sobre piso tátil. O piso tátil é diferenciado por
cor e textura e tem a função de orientar pessoas com deficiência visual ou com baixa visão.
Fotografia de 2015.
››Fonte 3
Fonte 3: balanço para pessoas com deficiência física, em Petrópolis (RJ), 2015.
››Fonte 4
Martin Benrnetti/AFP Photo/Image Forum
O Iluminismo e a formação
Capítulo 7
Jonny White/Alamy/Latinstock
Robert Schlesinger/dpa/Corbis/Latinstock
Wikipédia
[...] Desde seu início, a Wikipédia tem aumentado sua popularidade e seu sucesso tem feito
surgir outros projetos irmãos. [...]
A Ilustração
O Iluminismo ou Ilustração (palavra mais apropriada segundo os especialistas)
foi um movimento de ideias desenvolvidas nos séculos XVII e XVIII, na Europa
Ocidental, sendo a França o seu principal centro de produção e divulgação.
Princípio de toda verdade, autônoma por definição, a razão iluminista se opõe a tudo que [...]
se oculta sob as denominações vagas de “autoridade”, “tradição” e “revelação”.
FALCON, Francisco José Calazans. Iluminismo. 4. ed. São Paulo: Ática, 1994. p. 36. (Princípios).
Para os iluministas, a gestão da sociedade também deveria ser submetida ao império da razão. Note
que nesse baralho comemorativo da Revolução Francesa, em vez do rei de paus, vemos a figura do
filósofo Rousseau, opositor convicto da monarquia absolutista que ajudou a derrubar.
O conceito remonta ao próprio século XVIII, quando uma série de expressões relacionadas à
ideia de luz – em oposição às trevas da ignorância e da intolerância – entrou em circulação. [...]
Em 1784, [...], I. Kant (1724-1804) respondeu à indagação de um periódico berlinense sobre o
significado do termo [...]“ilustração”. Esta consistiria num processo de esclarecimento,
representado pela “saída do homem de sua menoridade”, graças ao uso de seu próprio
entendimento. Em sintonia com a crença otimista da época, Kant entendia, assim, as Luzes
como um movimento da humanidade em direção a um futuro melhor que buscava uma
liberdade de pensamento que viabilizasse, pelo “uso público da razão”, o aprimoramento dos
negócios públicos, até então conduzidos no círculo fechado das Cortes.
NEVES, Guilherme Pereira. Iluminismo. In: VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2000. p. 296.
Escola alemã. Séc. XIX. Óleo sobre tela. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Os iluministas acreditavam também que o mundo era regido por leis naturais.
Conhecer essas leis era sinal de progresso; daí o ardor com que se dedicaram à
ciência, o que resultou em importantes descobertas científicas como as realizadas à
época por Lavoisier. Por fim, é importante lembrar que o Iluminismo foi também
uma reação ao Antigo Regime: monarquias absolutistas em que o rei, a nobreza e
o clero acumulavam poder e privilégio. Os iluministas opunham-se ao
absolutismo, aos privilégios da nobreza e do clero, à intolerância religiosa e à falta
de liberdade de expressão.
Lavoisier: Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794), cientista francês, personagem mais importante no
desenvolvimento da química enquanto ciência e autor do livro Elementos de química, publicado em 1789.
Privilégio: no Antigo Regime, a palavra privilégio não possuía o sentido que tem hoje, de vantagem
conseguida sem esforço ou ilegalmente. No Antigo Regime, privilégio era o direito legítimo – concedido ou
comprado – de usufruir de um território, um cargo público ou uma pensão, que conferia ao seu possuidor
poder, prestígio e riqueza.
Pensadores iluministas
Os iluministas ocuparam-se de várias áreas do conhecimento: ciência, técnica,
filosofia, literatura, entre outras.
Por seus escritos, Voltaire chegou a ser preso duas vezes. Para evitar uma nova
prisão, refugiou-se na Inglaterra. Durante seu exílio escreveu a obra Cartas
inglesas, na qual fazia apologia da monarquia constitucional inglesa e do
liberalismo político defendido por John Locke. Voltaire também foi um defensor
incansável da liberdade de pensamento e de expressão. É atribuída a ele a frase:
“Posso não concordar com nenhuma palavra que você disse, mas defenderei até a
morte o seu direito de dizê-las”.
Dica! Vídeo com crítica de Voltaire ao fanatismo religioso. [Duração: 3 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/vvkm4x>.
François Bouchot. Séc. XIX. Gravura colorida. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Gravura de François Bouchot (1800-1842) representando Voltaire preso na Bastilha (prisão usada
pelos monarcas absolutistas franceses para castigar quem, de alguma forma, opunha-se ao Antigo
Regime).
Página 141
Uma ideia importante dessa obra é a de que as leis mantêm estreitas relações com
a história e a realidade do povo submetido a elas. Assim, para Montesquieu, não há
leis justas ou injustas, mas leis adequadas ou não a um determinado povo, tempo e
lugar.
Montesquieu dizia que todo indivíduo que detém o poder tende a abusar dele;
portanto, tudo estaria perdido se o mesmo indivíduo exercesse o poder de fazer
leis, executar e julgar. Por isso, eram necessárias a separação e a distinção dos
poderes. Leia o que o próprio Montesquieu diz sobre o assunto.
A liberdade política [...] é esta tranquilidade de espírito que prové m da opinião que cada um
tem sobre a sua seguranç a; e para que se tenha esta liberdade é preciso que o governo seja tal
que um cidadã o não possa temer outro cidadã o.
Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou
do povo exercesse os trê s poderes [...].
MONTESQUIEU. O espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 168.
Nessa obra, Rousseau inova ao ver a criança como um ser singular e não como um
adulto em miniatura, como até então ela era vista. Sua premissa filosófica é a de
que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Essa ideia está resumida em
uma frase do personagem Emílio: “Tudo é certo em saindo das mãos do Autor das
coisas, tudo degenera nas mãos do homem”. Com base nessa premissa Rousseau se
coloca contra as rotinas tradicionais destinadas as crianças de sua época, e em prol
da felicidade e das necessidades delas. Emílio é uma obra ao mesmo tempo
filosófica e pedagógica que, ao ser lida ao longo do tempo, influenciou fortemente
práticas e reflexões no campo da pedagogia.
Escola francesa. Séc. XVIII. Ilustração. Bibliotheque Nationale, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Vontade geral: para Rousseau, a vontade geral era a integração, e não a simples soma das vontades
individuais.
2. Dica! Vídeo sobre as ideias de Rousseau e sua influência na história do Brasil. [Duração: 11
minutos]. Acesse: <http://tub.im/3bg6go>.
A Enciclopédia
Quando se fala em Iluminismo, nos vem à cabeça imediatamente a Enciclopédia,
obra composta de 35 volumes e 2 885 ilustrações, organizada pelo filósofo Denis
Diderot (1713-1784) e pelo matemático Jean D’Alembert (1717-1783).
Página 143
Em 1751, quando essa obra começou a ser publicada na França, foi considerada
perigosa e chegou a ser proibida e retirada de circulação.
[...] os editores conseguiram uma fortuna. Com um investimento inicial de 70 mil libras, o lucro
pode ter chegado a 2,5 milhões de libras.
DARNTON, Robert. O Iluminismo como negócio: história da publicação da “Enciclopédia”, 1775-1800. Trad. Laura
Teixeira e Márcia Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 25.
Dica! Animação sobre o século das luzes na Europa dos séculos XVIII e XIX. [Duração: 25
minutos]. Acesse: <http://tub.im/dgkhcz>.
Escola inglesa. Séc. XVIII. Desenho. Cabinet Des Arts Graphiques, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Desenho do século XVIII representando o interior do Café Procope em Paris, ponto de encontro de
intelectuais e artistas. As ideias iluministas foram divulgadas também entre os populares, nas ruas,
nas praças e nos cafés, e não apenas nos salões dos nobres ou nas residências de burgueses
enriquecidos.
Iluminismo e economia
A revolução intelectual iluminista não se restringiu a criticar o absolutismo
monárquico: atacou também sua política econômica, o mercantilismo. Seus
ataques se voltaram, sobretudo, para a principal característica do mercantilismo: a
intervenção do Estado na economia.
Em sua obra A riqueza das nações (1776), A. Smith fez uma descoberta científica,
uma espécie de ovo de Colombo, qual seja, a de que somente o trabalho cria
riqueza (e não o comércio, como acreditavam erroneamente os mercantilistas; ou a
agricultura, como pensavam os fisiocratas).
Para Smith, o valor do trabalho seria determinado pela lei da oferta e da procura.
Essa e outras leis do mercado garantiriam a evolução “natural” e saudável da
economia, ou seja, a “mão invisível” do mercado conduziria ao progresso
econômico sem que fosse necessária a “mão pesada” do Estado. Adam Smith
opunha-se, portanto, à intervenção do Estado e de grupos monopolistas na
economia e defendia a livre concorrência e o livre-comércio entre as nações. Se
todas as nações comerciassem entre si, dizia ele, todas elas sairiam lucrando, pois
cada uma produziria somente aquilo que conseguisse fazer melhor. As nações com
perfil mais agrícola se dedicariam à agricultura, e as mais industrializadas se
especializariam na indústria.
1. Dica! Vídeo sobre a vida e a obra de Adam Smith. [Duração: 6 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/2h6gzy>.
2. Dica! Vídeo sobre o liberalismo de Adam Smith e o socialismo de Karl Marx. [Duração: 20
minutos]. Acesse: <http://tub.im/7fufsq>.
Escola inglesa. Séc. XVIII. Gravura. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Gravura de Adam Smith no livro Os maiores benfeitores da humanidade, de Samuel Adams Drake,
século XIX.
O despotismo esclarecido
As ideias iluministas foram aplicadas por alguns monarcas absolutistas como
estratégia de governo. Esses monarcas “esclarecidos” pretendiam
modernizar/reformar e enriquecer seus domínios e ampliar seu poder, prestígio e
fama. O tipo de governo adotado por eles foi chamado pelos historiadores do
século XIX de despotismo esclarecido. Em todos os lugares da Europa onde a
experiência foi bem sucedida, isso foi possível porque tais reformas não puseram
em risco a sobrevivência do Antigo Regime. É de se notar que, na Europa, só não
houve despotismo esclarecido na Inglaterra e na França. Na Inglaterra, porque lá já
não existia o absolutismo; e, na França, porque se as reformas tivessem sido
efetivadas, elas teriam correspondido, pela situação do país, a uma revolução, a
uma superação do Antigo Regime.
Página 145
A imagem de 1731 representa o Rei Frederico II da Prússia inspecionando, com seu secretário, os
domínios reais, no interior da Prússia.
Os ideais iluministas foram aplicados efetivamente, pela primeira vez, nas Treze
Colônias da América do Norte.
Página 146
Fonte: VIDAL-NAQUET, Pierre; BERTIN, Jacques. Atlas histórico. Lisboa: Círculo do Livro, 1990. p. 208.
Na Guerra Franco-Índia e na Guerra dos Sete Anos, os habitantes das Treze Colônias ganharam
experiência na formação de unidades militares e no combate armado, elementos importantes nas
lutas travadas contra a metrópole inglesa.
Currier e Ives. C. 1846. Ilustração. Yale University Art Gallery. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A Festa do Chá em Boston, de N. Currier e J. M. Ives, 1846. Essa é uma das versões da ilustração
produzida na epóca por Sarony and Major. O porto de Boston estava situado em Massachusetts e
era o mais movimentado das Treze Colônias.
Página 148
» Leis Intoleráveis (1774) – O governo inglês respondeu com várias leis que os
norte-americanos chamaram de “intoleráveis”. Uma delas interditava o porto de
Boston até que fosse pago o prejuízo causado pelo derramamento do chá; outra
determinava a ocupação de Massachusetts pelo exército inglês e restringia o
direito de reunião; outra, ainda, determinava que todo ato de rebeldia contra a
Inglaterra seria julgado por tribunais ingleses.
Revoltados contra a política fiscal inglesa, alguns colonos lançaram bolas de neve
contra um quartel inglês. Assustados, os soldados reagiram matando quatro
manifestantes. Esse episódio, conhecido como Massacre de Boston, foi
amplamente utilizado pela propaganda a favor da independência. 1
1. Dica! Vídeo sobre o processo de independência das Treze Colônias. [Duração: 43 minutos].
Acesse: <http://tub.im/g4qr6a>.
O movimento de independência
Litogravura. Escola inglesa. Séc. XVIII. Coleção particular. The Bridgeman Art Library/Keystone
Observando a imagem, percebe-se que a coroa, símbolo da monarquia, está no chão. E se nota
também que o pé esquerdo de Paine está prestes a pisá-la, numa clara afronta à monarquia inglesa
que, à época, oprimia as Treze Colônias.
Para refletir
O trecho a seguir foi retirado do panfleto de Paine. Curiosamente ele era inglês de
nascimento; e, apesar de ter chegado aos Estados Unidos somente aos 37 anos de
idade, resumiu com muita propriedade o sentimento de revolta crescente dos
colonos norte-americanos contra a Inglaterra. Com 50 páginas de texto, seu
panfleto chegou às livrarias em 10 de janeiro de 1776 e logo fez um enorme
sucesso. Leia o trecho a seguir com atenção.
A Inglaterra é, apesar de tudo, a pátria-mãe, dizem alguns. Sendo assim, mais vergonhosa
resulta sua conduta, porque nem sequer os animais devoram suas crias nem fazem os
selvagens guerra a suas famílias; de modo que esse fato volta-se ainda mais para a condenação
da Inglaterra.
[...]
A Europa está separada em muitos reinos para que possa viver muito tempo em paz, e onde
quer que estoure uma guerra entre a Inglaterra e qualquer potência estrangeira, o comércio da
colônia sofre ruínas, por causa de sua conexão com a Grã-Bretanha... Tudo o que é justo ou
razoável advoga em favor da separação. O sangue dos que caíram e a voz chorosa da natureza
exclamam: Já é hora de separar-nos! Inclusive a distância que o Todo-Poderoso colocou entre a
Inglaterra e as colônias constitui uma prova firme e natural de que a autoridade daquela sobre
estas nunca entrou nos desígnios do Céu...
PAINE, Thomas. In: KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto,
1999. p. 85.
a) Diz que apesar de ser a pátria-mãe adota uma conduta vergonhosa com relação a seus filhos.
b) Interprete. A quem Thomas Paine está se referindo quando diz “Nem fazem os
selvagens, guerra a suas famílias”?
b) Ele se refere aos povos indígenas da América do Norte. Professor: comentar que o uso do termo selvagens desvela a
visão que os europeus daquela época tinham dos ameríndios.
c) Argumento 1: o fato de que qualquer guerra em que a Inglaterra se envolvesse prejudicava as Treze Colônias. Argumento
2: a distância geográfica que o Todo-Poderoso colocou entre a Inglaterra e as Treze Colônias. [Note que o panfleto de
Thomas Paine mistura elementos de racionalismo iluminista com argumentos de viés religioso.]
d) O argumento religioso foi decisivo para o sucesso do panfleto, pois os habitantes das Treze Colônias eram em sua maioria
puritanos e tinham grande apego à Bíblia e à ideia de que todo cristão deve obediência aos “desígnios do céu”; à vontade do
Senhor.
O Segundo Congresso acabou optando pela separação. O comando das tropas foi
entregue a George Washington, um rico fazendeiro do Sul. Uma comissão redigiu
a Declaração de Independência, publicada em 4 de julho de 1776; seu principal
autor foi Thomas Jefferson. O texto da Declaração defendia a resistência à tirania,
o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade.
Página 150
A tradição política estadunidense elegeu alguns homens como “pais da pátria”, fundadores da
Nação, os grandes responsáveis pelo que os Estados Unidos são hoje. Eles foram representados das
mais diversas formas em estátuas, pinturas, ilustrações, gibis, e figuram, inclusive, nas notas de
dólar, a exemplo das que trazem a imagem de Thomas Jefferson, à esquerda, e de Benjamin
Franklin, à direita.
A Constituição – em vigor até hoje – foi concluída em 1787 e declarou o país uma
República presidencialista e federalista. O federalismo é um conceito-chave dessa
Constituição: cada estado passou a ter autonomia para criar leis próprias,
organizar forças militares e até mesmo pedir empréstimos no exterior. Ao governo
federal, cabia a responsabilidade pela política externa, pela defesa e pelo comércio
exterior.
pensavam a divisão entre os três poderes tendo por base uma sociedade
constituída por cidadãos juridicamente iguais.
Com o apoio da maioria dos estados, George Washington foi eleito presidente, o
primeiro dos Estados Unidos da América.
DIALOGANDO
c) “Nós, o povo”.
d) Logo no início da Constituição estadunidense lê-se: “Nós, o povo dos Estados Unidos”. A palavra
“povo” refere-se a todos os estadunidenses daquela época?
d) Não; na prática, a expressão “Nós, o povo dos Estados Unidos...” refere-se apenas aos homens adultos e brancos, que
possuíssem certa renda (da terra ou de investimentos). A maioria do povo teria de lutar muito tempo ainda para conquistar
a cidadania plena.
Repercussões da independência
A independência estadunidense abalou o prestígio do rei na Inglaterra e provou
ser possível fazer valer a soberania popular. Provou também ser possível romper o
elo entre governantes e governados quando os primeiros não garantissem aos
segundos seus direitos fundamentais. Para as colônias da América espanhola e
portuguesa, os Estados Unidos serviriam de inspiração e exemplo de sucesso de
luta pela independência. Essa conquista também repercutiu na França
Página 152
Primeira imagem: Urso em Pé, chefe Sioux, trajado com a roupa cerimonial de seu povo c. 1885.
Segunda imagem: jovem marinheiro negro em uma fotografia de corpo inteiro, Ohio, 1863. Terceira
imagem: atriz estadunidense Fanny Davenport, c. 1880. Esses personagens representam grupos
que foram excluídos da cidadania na Constituição feita para reger os Estados Unidos.
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ATIVIDADES
I. Retomando
ESCREVA NO CADERNO.
c) A confiança depositada pelos iluministas no papel absoluto dos desejos e das vontades humanas
surgia como um contraponto à ditadura imposta pela razão humana.
d) Como figura proeminente do Iluminismo, o pensador francês Immanuel Kant destacou-se como
combatente do pensamento filosófico-científico.
1. Resposta: b.
2. (Unesp-SP – 2015)
Entre as críticas ao Antigo Regime mencionadas no texto, podemos citar a rejeição iluminista do:
b) livre comércio.
c) liberalismo econômico.
d) republicanismo.
e) absolutismo monárquico.
2. Resposta: e.
3. (Enem/MEC)
3. Resposta: a.
Página 154
4. (UFF-RJ) O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no século XVIII, é considerado um dos
grandes pensadores do Iluminismo ou Século das Luzes. Ele afirma o seguinte sobre a importância
de manter acesa a chama da razão:
Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, ainda renascem algumas cabeças da hidra
do fanatismo. Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas goelas são menos
devoradoras. Mas o monstro ainda subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar-se-á a
ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas trevas? Ou deve-se acender um archote onde a
inveja e a calúnia reacenderão suas tochas? No que me tange, acredito que a verdade não deve
mais se esconder diante dos monstros e que não devemos abster-nos do alimento com medo
de sermos envenenados.
a) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não é um sábio, pois corre um risco
desnecessário.
b) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse sempre se impõe sobre os seres humanos.
c) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade deve munir-se da coragem para enfrentar o
obscurantismo e o fanatismo.
d) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do passado e por isso a razão não precisa mais estar
alerta.
4. Resposta: c.
5. (Enem/MEC – 2013)
Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido
pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos
nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções
públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da
liberdade, sendo que esta não existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer os referidos
poderes concomitantemente.
MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).
A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que possa haver
liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja
e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governante eleito.
5. Resposta: d.
6. Resposta: a.
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VOZES DO PRESENTE
NOTIMEX
O historiador Robert Darnton estudou o Iluminismo, desde a sua concepção e materialização até a
sua difusão. Fotografia de 2014.
[...] É difícil acreditar que os leitores setecentistas não buscavam informação na Enciclopédia,
mas seria um anacronismo supor que eles a usavam da mesma maneira que os leitores de hoje
em dia consultam as enciclopédias atuais. Diderot e D’Alembert tencionavam informar e ao
mesmo tempo iluminar o espírito. [...] Embora seja impossível penetrar-lhes na mente,
podemos entrar em suas bibliotecas e, ocasionalmente, vislumbrá-los debruçados sobre as
páginas da Enciclopédia. Eis, por exemplo, uma cena extraída da autobiografia de Stendhal:
“Meu pai não me via folhear a Enciclopédia senão com desgosto. Eu tinha a mais inteira
confiança nesse livro em razão do afastamento de meu pai e do ódio decidido que ele inspirava
aos p[adres] que frequentavam a casa. O vigáriogeral e cônego Rey, grande figura
amarfanhada, com cinco p[és] e dez polegadas de altura, fazia uma singular careta ao
pronunciar atravessadamente os nomes de Diderot e de D’Alembert. Essa careta dava -me um
gozo íntimo e profundo.”
DARNTON, Robert. O Iluminismo como negócio: história da publicação da “Enciclopédia”, 1775-1800. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996. p. 253-254.
b) No texto, Stendhal diz que passou a confiar mais na Enciclopédia quando percebeu que ela
inspirava ódio nos padres. O que explica essa posição dele?
»» quanto ao conteúdo;
A Revolução Francesa e a
Capítulo 8
Era Napoleônica
Professor: tanto a imagem quanto o texto são de julho de 2009, e tratam dos desdobramentos da Revolução Francesa na
atualidade. A intenção foi usar duas fontes atuais sobre esse importante episódio histórico para iniciar uma aula dialogada
sobre o assunto. Pode-se lembrar aos alunos que a Revolução Francesa repercutiu fortemente na história do Ocidente.
Animou, por exemplo, os conjurados baianos, em 1799, no Brasil, e a independência das terras do atual Haiti, na América
Central, e, entre tantos outros desdobramentos, influenciou profundamente a Constituição que nos rege, conforme informa o
texto.
Comemoram-se, hoje (14), 220 anos da Revolução Francesa. Este movimento exerceu grande
influência sobre a liberdade e o respeito dos direitos humanos em todo o mundo. Seus
princípios fundamentais estão, hoje, inscritos nas Constituições de todos os países
democráticos, inclusive na Constituição Federal (CF) brasileira de 1988 [...].
Esses ideais foram absorvidos pelos constituintes brasileiros, que inseriram, na atual
Constituição Federal, um extenso rol de direitos e garantias individuais e coletivas, limitando a
interferência do poder estatal na vida e dignidade do cidadão [...].
Desde os princípios fundamentais – que consagram a separação dos poderes (art. 1º. ao 4º.) –
passando pelos direitos e garantias dos cidadãos no âmbito social, político e econômico (arts.
5º. ao 17), até chegarmos à proteção do meio ambiente e de nossas crianças e adolescentes,
que são o futuro do país (arts. 225 a 230), sente-se a presença da centelha revolucionária.
Supremo Tribunal Federal. A Revolução Francesa de 1789 e seus efeitos no Brasil. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=110843>. Acesso em: 4 mar. 2016.
Fotografia da comemoração dos 220 anos da Revolução Francesa, em Paris, França, 2009.
Claude-Guy Halle. Séc. XVII. Óleo sobre tela. Coleção particular. Foto: DEA / G. DAGLI ORTI / Getty
Luís XIV (no canto superior direito) recebendo submissão de um nobre; repare na pose, nos gestos
e na posição dos pés do rei.
A sociedade
A sociedade francesa estava dividida em três ordens ou estados: o Primeiro Estado
(o clero); o Segundo Estado (a nobreza); e o Terceiro Estado (camponeses,
burguesia e trabalhadores das cidades).
Dízimo: imposto destinado à prática da caridade, mas usado para sustentar o luxo e a ociosidade do alto
clero. O dízimo – pago com parte da colheita e do rebanho – era um imposto odiado pelos camponeses.
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Sans-culottes: “sem culote”. Culote era uma calça justa que terminava um pouco abaixo do joelho, usada
pelos nobres. Como os pobres não usavam esse tipo de calça (e nem tinham os privilégios da nobreza),
tornaram-se conhecidos como sans-culottes.
A economia e a política
Na França, desde o século XV, o capitalismo vinha se desenvolvendo a passos
largos. A burguesia ganhava importância social e prosperava por meio da
indústria, do empréstimo de dinheiro a juros e do comércio com o Oriente, a
América e a África. Mas o Estado absolutista francês representava um obstáculo
aos negócios da burguesia, pois a carga de impostos encarecia os preços das
mercadorias; as práticas mercantilistas impediam a livre concorrência (a produção
de seda, por exemplo, era monopólio de um pequeno grupo); os diferentes
sistemas de pesos e medidas dificultavam o comércio interno. Com o tempo, essa
situação se agravou e muitas empresas faliram gerando desemprego e fome nas
cidades.
Lesueur Brothers. Séc. XVIII. Gravura. Museu Carnavalet, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Nesta gravura de 1793, ano IV da Revolução Francesa, uma senhora distribui pratos de comida a
populares famintos. A imagem sugere a situação de penúria em que vivia o povo francês antes da
Revolução.
Página 159
Enquanto isso, a dívida do governo do rei Luís XVI aumentava sob o peso dos
gastos com a Corte e com as guerras movidas ou apoiadas pela monarquia
francesa. Callone, ministro de Luís XVI, chegou a propor que o clero e a nobreza
passassem a pagar impostos, mas sua proposta foi rejeitada.
Nessa Assembleia dos Estados Gerais, o Terceiro Estado conseguiu eleger mais
deputados do que o clero e a nobreza juntos (578 x 561) e lançou então uma
campanha em defesa do voto por cabeça.
Isidore Helman. Séc. XVIII. Gravura. Biblioteca Nacional, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Representação da sessão de abertura da Assembleia dos Estados Gerais. Repare que o pintor
preocupou-se em demonstrar a rígida hierarquia do Antigo Regime: sobre o estrado, em frente da
assembleia, o rei, a família real, os marechais e os duques da França; ao pé do estrado, à mesa, o
conselho do rei; no plenário, à direita da mesa, o clero; diante dele, no mesmo plano, a nobreza; no
lado oposto ao do rei, os deputados do Terceiro Estado; o povo fica atrás e entre as colunas, nas
galerias.
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A Revolução em marcha
FASES DA REVOLUÇÃO FRANCESA
Linha do tempo
Editoria de arte
A tomada da Bastilha vista por um de seus participantes, Claude Cholat, dono de uma taberna. A
queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, representou uma vitória popular e marcou o início da
Revolução propriamente dita. O fato mereceu uma infinidade de representações, o que desvela sua
enorme importância.
Mão-morta: pagamento feito pelo servo quando seu pai morria, para manter o direito de utilizar a terra.
Para refletir
No dia 5 de outubro de 1789, diante da falta de pão, milhares de mulheres armadas
decidem ir a Versalhes trazer o rei para Paris e garantir com isso o abastecimento
da cidade. Veja o que um observador da época escreveu sobre essa marcha das
mulheres.
As primeiras mulheres chegaram aos portões do castelo às cinco horas [...]. Quiseram obrigar
as sentinelas a arrebentar os portões e abri-los. Estas se recusaram: não se abre a porta a
desordeiros, a furiosos, muito menos a furiosas [...].
OSTERMANN, Nilse Wink; KUNZE, Iole Carretta. Às armas, cidadãos! A França revolucionária (1789-1799). São
Paulo: Atual, 1995. p. 51.
Escola francesa. Séc. XVIII. Gravura. Museu Carnavalet, Paris. Foto: Roger-Viollet/Glow Images
Gravura mostrando mulheres indo a Versalhes em outubro de 1789. O movimento das mulheres foi
vitorioso. O rei e os cortesãos foram obrigados a retornar a Paris e residir no Palácio das Tulherias.
a) Com base no texto é possível afirmar que as mulheres tiveram participação
importante na Revolução Francesa?
a) Sim, as mulheres ajudaram a acelerar o processo revolucionário fazendo uma marcha vitoriosa ao Palácio de Versalhes a
fim de trazer o rei de volta para a capital francesa.
b) As mulheres eram vistas como inferiores aos homens. No texto, as sentinelas do castelo estabeleceram uma hierarquia ao
dizer “não se abre a porta a desordeiros, a furiosos, muito menos a furiosas” (grifo nosso).
Página 162
A monarquia constitucional
Em setembro de 1791 foi aprovada a primeira Constituição francesa, que:
A Convenção Nacional
Vencido o exército invasor, elegeu-se uma nova Assembleia Nacional, denominada
Convenção, que imediatamente extinguiu a Monarquia e proclamou a República.
DIALOGANDO
Qual dos grupos do Terceiro Estado foi mais beneficiado por essa Constituição?
A burguesia: o voto passou a ser censitário; os sindicatos e as greves foram proibidos. A burguesia passava a conduzir, então,
o processo revolucionário.
Escola francesa. Séc. XVIII. Gravura. Museu Carnavalet. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A proclamação da República na França, em 1792, deu início a novos tempos que passaram a ser
contados por um novo calendário: 1792 passou a ser o Ano I da República Francesa. Na imagem, vê-
se escrito: “Unidade Indivisível da República: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Ou a morte”.
Página 163
A planície, que era composta de deputados que agiam conforme seus interesses
imediatos, ora apoiava os jacobinos, ora os girondinos. Sentavam-se ao centro, nos
lugares mais baixos do plenário; daí o nome de “planície”.
O rei foi levado a julgamento pela Convenção, fato que dividiu os deputados: os
girondinos propunham uma solução conciliatória; já os jacobinos desejavam a
execução do rei. A descoberta, no cofre real, do acordo que o rei fizera com
monarcas estrangeiros em favor da invasão da França precipitou os
acontecimentos; após intensos debates, 683 dos 721 deputados presentes (cerca
de 95%) declararam Luís XVI culpado. Em janeiro de 1793, diante de uma multidão
de cerca de 20 mil pessoas, o rei foi guilhotinado e sua cabeça exibida ao povo.
O governo jacobino
Os jacobinos organizaram um governo fortemente centralizado, dirigido por
Robespierre, e composto de uma série de órgãos especiais; o principal deles, o
Comitê de Salvação Pública, concentrava enorme poder. Subordinado a esse
órgão, havia o Tribunal Revolucionário, que julgava sumariamente os indivíduos
considerados contrarrevolucionários.
Marat era médico e cientista, mas ficou mais conhecido por sua atuação à frente do jornal O Amigo
do Povo, no qual defendia ardentemente as causas populares.
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Piloty. Séc. XVIII. Gravura. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A cena mostra um girondino condenado à guilhotina sendo conduzido para o patíbulo; uma
multidão raivosa parece estar acusando o condenado.
O Diretório
Ao assumir o poder, em 1794, o novo governo liberou os preços dos alimentos e
dos aluguéis e restabeleceu a escravidão nas colônias francesas. Além disso,
estimulou o crescimento da indústria do algodão, da metalurgia e da mineração,
intensificando o desenvolvimento do capitalismo francês. Em 1795, aprovou uma
nova Constituição que restabeleceu o voto censitário (que excluía a maioria da
população do direito ao voto) e confiou o poder Executivo a um Diretório,
formado por cinco deputados escolhidos por sorteio.
Página 165
O Diretório reagiu decretando uma lei que condenava à morte todos os que eram
favoráveis à reforma agrária ou à volta da monarquia (Babeuf e seu grupo foram
presos e executados). A seguir, ordenou a ocupação militar de Paris, anulou as
eleições e fechou a imprensa oposicionista.
2. Dica! Uma revisão para melhor compreender o significado da Revolução Francesa. [Duração: 7
minutos]. Acesse: <http://tub.im/yz5g9p>.
O governo de Napoleão
Uma nova Constituição criou o consulado, órgão do Poder Executivo formado por
três cônsules. O poder de fato, porém, cabia ao primeiro-cônsul, Napoleão
Bonaparte, cujo mandato era de 10 anos.
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Observando essa imagem, publicada em 1902, percebe-se que o olhar determinado e soberano do
primeiro-cônsul, Napoleão Bonaparte, contrasta com a inexpressividade dos dois outros cônsules. A
imagem contribui para reforçar o mito criado em torno de sua figura.
Liceu: internato que, na época, era destinado a formar ocupantes de altos cargos civis ou militares.
Jacques-Louis David (detalhe). 1806-07. Óleo sobre tela. Museu do Louvre, Paris
Na imagem acima vemos uma tela pintada por Jacques-Louis David por volta de
1806 e intitulada Coroação de Napoleão e Josefina. O pintor procurou destacar o
exato momento em que Napoleão está prestes a coroar a si mesmo. Enquanto isso,
a futura imperatriz aguarda ajoelhada. Com tal gesto, Bonaparte provavelmente
quis dizer que nem mesmo o chefe da Igreja estava acima dele. Na imagem abaixo
(esboço feito em 1804), percebemos melhor a expressão arrogante de Napoleão
durante o evento.
O expansionismo bonapartista
O período do Império foi marcado pelo expansionismo bonapartista que se fez por
meio de guerras consecutivas. No mais das vezes, essas guerras tinham, de um
lado, a França de Napoleão e, de outro, a Grã-Bretanha e três importantes países
absolutistas (a Prússia, a Áustria e a Rússia). Os Estados absolutistas europeus
temiam a propagação das ideias revolucionárias francesas em seus territórios; já a
Grã-Bretanha, maior potência naval e industrial daquela época, temia a
concorrência da França no mercado europeu. As duas nações capitalistas
buscavam ampliar territórios e mercados na Europa e em outros continentes. Isso
ajuda a explicar a participação da Grã-Bretanha em quase todas as coligações
contra a França.
Grã-Bretanha: até 1801, a Grã-Bretanha era constituída por Inglaterra, País de Gales e Escócia. Em 1801
formou-se o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, um reino constituído por Inglaterra, País de Gales, Escócia
e Irlanda. Hoje, o Reino Unido é formado por Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte.
A estratégia adotada por Napoleão foi proibir – por decreto – a Europa continental
de comerciar com a Inglaterra. O objetivo desse decreto – conhecido como
Bloqueio Continental – era enfraquecer a economia da Inglaterra para, depois,
conquistá-la. Muitos países europeus aderiram ao bloqueio; alguns, no entanto,
continuaram permitindo a entrada de produtos ingleses em seus territórios e
portos. Um desses países foi Portugal, tradicional aliado da Inglaterra.
Escola inglesa. Séc. XIX. Litogravura. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Nesta charge inglesa de 1803, Napoleão é mostrado sobre o Globo e em tamanho muito maior que
seu adversário. A imagem ironiza o comportamento megalomaníaco de Napoleão, sua ânsia
desenfreada de conquistar terras e povos.
Fontes: ATLAS histórico. Barcelona: Editorial Marin, 1995. p. 139; DUBY, Georges. Atlas Historique Mondial. Paris:
Larousse, 2011, p. 85.
Página 169
J.A. Klein. Séc. XIX. Gravura. Academia de Belas Artes, França. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Em dezembro de 1812, o que restava do grande exército francês atravessou a fronteira com a
Prússia de volta para casa. A imagem é uma representação da batalha de Berezina, durante sua
retirada da Rússia, e as dificuldades enfrentadas diante do rigoroso inverno russo. As carroças,
como a que você vê na imagem, atolavam na neve.
Jonathan Weiss/Alamy/Latinstock
A flor-de-lis era símbolo do rei da França e estava presente nas bandeiras do antigo regime.
STILLFX/Shutterstock/Glow Images
Napoleão teve de abrir mão do trono, mas ganhou plenos poderes sobre a pequena
ilha de Elba, na costa da Península Itálica, para onde foi exilado. O trono da França
foi entregue a Luís XVIII, irmão do rei guilhotinado durante a Revolução Francesa.
Quando a população francesa viu que Luís XVIII (e toda a Corte) voltava(m) ao país
e ao trono, desfraldando não a bandeira tricolor da Revolução, mas a bandeira com
a flor-de-lis, do Antigo Regime, deu-se conta que precisava retomar a luta para
reenterrá-lo.
Mas, dessa vez, seu governo durou pouco mais de 100 dias.
Uma nova coligação (a sétima), liderada uma vez mais pela Inglaterra, venceu o
exército napoleônico na Batalha de Waterloo (1815). Dessa vez, Bonaparte foi
preso e exilado em Santa Helena, uma ilha minúscula e longínqua sob o domínio
inglês, situada no Atlântico Sul, a mil milhas da costa africana, onde passou os
últimos anos de sua vida.
Escola francesa. Séc. XIX. Gravura. Coleção Particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Nesta charge de c. 1814, Napoleão é mostrado como um artista que se equilibra entre Madri (a
oeste) e Moscou (a leste); a vareta que liga seus pés a essas duas cidades localizadas em posições
opostas sugere que seu poder sobre a Europa estava se esfacelando, que o seu imenso império
estava desmoronando. Repare que seu cetro – símbolo de poder – e a sua coroa, encimada por uma
cruz, estão caindo, sinal de que seus tempos de glória haviam chegado ao fim.
Página 171
Charge exposta na Biblioteca Nacional de Viena que mostra os representantes das grandes
potências dividindo entre si o continente europeu. No balão de fala, junto à balança sustentada pelo
estadista austríaco Metternich, está escrito: “le prix de sang”, isto é, “o preço do sangue”. Ou seja, o
ganho de territórios que as potências estavam tendo era o pagamento pelo sangue derramado em
razão das guerras napoleônicas.
Página 172
Allmaps
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2001. p. 86.
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (UEG-GO – 2016) Leia o texto a seguir.
Socialmente, os sans-culottes representam os citadinos que vivem de seu trabalho, seja como
artesãos, seja como profissionais de ofício; alguns, depois de uma vida laboriosa, se tornam
pequenos proprietários na cidade, e usufruem as rendas de um imóvel.
PÉRONNET, Michel. Revolução Francesa em 50 palavras-chaves. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 248.
A análise do texto demonstra que os interesses sociais dos sans-culottes, importantes personagens
da Revolução Francesa, se confundiam com os
a) da pequena burguesia que, apesar das conquistas econômicas, via-se pressionada pelo aumento
no custo de vida.
b) dos camponeses, já que ambos lutavam pela abolição dos privilégios feudais no campo e posse
de terras coletivas.
c) dos membros do baixo clero, uma vez que lutavam por reformas sociais, mas não eram contra a
liberdade religiosa.
d) da classe dos girondinos, pois apesar das diferenças de classe, ambos os grupos eram
politicamente moderados.
1. Resposta: a.
2. (UERJ – 2015)
Temos necessidade de nossos fiéis súditos para nos ajudarem a superar todas as dificuldades
em que nos achamos e para estabelecer uma ordem constante e invariável em todas as partes
do governo que interessam à felicidade dos nossos súditos e à prosperidade de nosso reino.
Esses grandes motivos nos determinaram convocar a assembleia dos Estados de todas as pro-
víncias sob nossa obediência, para que seja achado, o mais rapidamente possível, um remédio
eficaz para os males do Estado e para que os abusos de toda espécie sejam reformados e
prevenidos.
Adaptado de MATTOSO, K. de Q. Textos e documentos para o estudo de história contemporânea. São Paulo: Edusp,
1976.
A convocação dos Estados Gerais deu início à Revolução Francesa, ocasionando um conjunto de
mudanças que abalaram não só a França, mas também o mundo ocidental em finais do século XVIII.
2. a) O endividamento do Estado francês e a aguda crise econômica e financeira envolvendo o aumento do desemprego, a
carestia e a fome.
2. b) A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, que estabelecia o direito de resistência à opressão, e a
livre comunicação dos pensamentos. O rompimento com o Antigo Regime, vigente ainda em várias partes da Europa, mostra
que é possível a emergência de uma sociedade formada de cidadãos.
3. (Unicamp-SP – 2015)
Adaptado de Lynn Hunt, A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.
19.
b) A lei inglesa, ao referir-se aos antigos direitos, preservava a hierarquia, os privilégios exclusivos
da nobreza sobre a propriedade e os castigos corporais como procedimento jurídico.
d) Os direitos do homem, por serem direitos dos humanos em relação uns aos outros, significam
que não pode haver privilégios, nem direitos divinos, mas devem prevalecer os princípios da
igualdade e universalidade dos direitos entre os humanos.
3. Resposta: d.
4. (Enem/MEC)
COSTA, Emília Viotti da. Apresentação da coleção. In: Wladimir Pomar. Revolução Chinesa. São Paulo: Unesp, 2003
(com adaptações).
c) Tanto nos Estados Unidos quanto na França, as teses iluministas sustentavam a luta pelo
reconhecimento dos direitos considerados essenciais à dignidade humana.
d) Por ter sido pioneira, a Revolução Francesa exerceu forte influência no desencadeamento da
independência norte-americana.
e) Ao romper o Pacto Colonial, a Revolução Francesa abriu o caminho para as independências das
colônias ibéricas situadas na América.
4. Resposta: c.
I. O governo jacobino, dirigido por Robespierre, e o Comitê de Salvação Pública foram responsáveis
pelo período do Terror.
II. O Terror foi uma política de extermínio liderada pelos girondinos de origem burguesa.
III. O objetivo dessa política centrava-se na defesa da Revolução contra os inimigos internos e
externos.
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas I e III.
5. Resposta: e.
Página 175
Vozes do Presente
›› Fonte 1
O texto foi escrito pela historiadora Raquel Stoiani, doutora em História pela Universidade de São
Paulo (USP).
Uma preocupação constante de Napoleão Bonaparte foi a construção de sua imagem pública.
Enquanto esteve no poder (1799-1815), ele estruturou uma complexa máquina de
propaganda. Do homem da paz ao deus da guerra, [...] modificava sua figura pública de acordo
com as necessidades do momento. Seus opositores, por sua vez, buscaram desfigurá-lo com o
mesmo empenho. [...]
No início do século XX, Napoleão começa a ser apreciado de forma mais contida, [...] Georges
Lefèbvre (1874-1959), em seu Napoléon (1935), enfatiza as realizações positivas do
imperador e aprecia a grandeza de sua figura, mas não toma partido e evita julgamentos
morais. [...]
STOIANI, Raquel. Mitos de além-túmulo. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 4 abr. 2010.
Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/mitos-de-alem-tumulo>. Acesso em: 4 mar. 2016.
››Fonte 2
David Jacques Louis. C.1797-98. Óleo sobre tela. Museu do Louvre. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
a) Após a morte de Napoleão, teve início a sua transformação em uma lenda. Que argumentos
foram usados para isto?
c) O que se vê na fonte 2?
d) Relacione o debate histórico em torno da figura de Napoleão (fonte 1) ao modo como ele foi
retratado na fonte 2.
Página 176
Independências: Haiti e
Capítulo 9
América espanhola
Professor: com base em elementos materiais, a taça Libertadores da América e a moeda com a efígie de Bolívar, buscou-se
estimular o interesse pelas lutas de independência na América espanhola. O nome da taça e da competição é, como se sabe,
uma homenagem aos “Libertadores da América”, a exemplo de Simón Bolívar, representado na moeda abaixo. A Copa
Libertadores da América começou a ser disputada em 1960 e é a principal competição de futebol da América do Sul. Em
2009, foi anunciada a criação da Copa Libertadores Feminina, e a primeira delas foi disputada no Brasil.
DeAgostini/Getty Images
Luis Vera/LatinContent/Getty Images
As sociedades hispano-americanas
Os chapetones, colonos nascidos na Espanha, desfrutavam de poder e privilégio,
ocupando todos os principais cargos administrativos, militares e religiosos. Os
criollos, filhos de espanhóis nascidos na América, eram ricos fazendeiros, donos
de minas e grandes comerciantes. Alguns possuíam formação universitária. Apesar
de terem projeção econômica e social, eram impedidos de ocupar altos cargos no
governo, no Exército e na Igreja.
Cana-de-açúcar, do mexicano Diego Rivera. Na América colonial espanhola havia estreita relação
entre origem e ocupação social: os brancos detinham riqueza, poder e o privilégio de ocupar os
melhores cargos; já os mestiços, indígenas e negros faziam geralmente vários tipos de trabalho
forçado e/ou serviços mais mal remunerados. A obra explora esse aspecto da realidade.
Página 178
Homem peruano segurando o retrato de Túpac Amaru, c. 1997. A cidade de Cuzco, que um dia foi
capital do Império Inca, é hoje considerada Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco.
Página 179
1. Dica! Animação sobre a revolta liderada por Túpac Amaru. [Duração: 2 minutos.] Acesse:
<http://tub.im/bdm2yp>.
Nova Granada: vice-reinado que abrangia os atuais Equador, Colômbia, Venezuela e Panamá.
O brasão da cidade de Charalá (Colômbia) é uma homenagem ao líder José Antonio Galán e ao
movimento comunero.
Página 180
Allmaps
A ilha de São Domingos está situada no mar do Caribe e foi encontrada por Colombo na sua
primeira viagem à América. Inicialmente ele a denominou Hispaniola; posteriormente, foi
rebatizada com o nome de São Domingos. A porção ocidental da ilha de São Domingos (hoje Haiti)
foi ocupada pelos franceses, e a porção oriental (atual República Dominicana) continuou sob
domínio dos espanhóis.
Gran marronage: quilombo; comunidade de escravos fugidos. Existiram quilombos por toda a América; na
inglesa recebiam o nome de maroons; na espanhola, palenques; e na francesa, grand marronage (para
diferenciar da petit marronage, nome dado à fuga individual).
Página 181
A notícia da vitória dos negros no Haiti logo se espalhou por toda a América,
disseminando o medo entre as elites; no Brasil, esse medo, chamado à época de
haitianismo, foi particularmente intenso, já que cerca de 2/3 da população do país
era composta de negros escravizados.
Manuel Cohen/Image Forum
Dica! Vídeo sobre a revolução escrava que deu origem à atual República do Haiti. [Duração: 6
minutos.] Acesse: <http://tub.im/tu72s5>.
Anton Raphael Mengs. Museu do Prado. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Escola espanhola. C. 1750. Painel. Nuestra Senora de Copacabana, Lima. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Casamento duplo entre dois colonos nascidos na Espanha (chapetones) e duas mulheres incas, c.
1750. No canto superior esquerdo, o artista representou familiares das noivas e, no canto superior
direito, familiares dos noivos.
Página 183
Em Madri, os espanhóis pegaram em armas para resistir aos franceses, mas foram
reprimidos com muita violência.
Francisco Goya. Séc. XIX. Água-forte. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
“E eles são como bestas selvagens”, prancha 5 da série Os desastres da guerra, de Francisco Goya
(1746-1828). Esse artista espanhol, que viveu na época das guerras napoleônicas, representou a
luta das mulheres espanholas na resistência aos invasores franceses. Em primeiro plano, vemos
uma mulher carregando e protegendo uma criança com a mão esquerda, enquanto combate o
invasor com a mão direita, munida de uma lança apenas.
Cortes Constituintes: nome dado ao Parlamento, isto é, ao conjunto de deputados encarregados de fazer
leis que regeriam a sociedade e limitariam o poder do rei.
DIALOGANDO
Goya definiu a guerra como uma derrota da humanidade. E para você, o que é a guerra?
Resposta pessoal. Professor: a intenção aqui é chamar a atenção para o lado absurdo e trágico presente em todas as
guerras, contribuindo com isso para a disseminação de uma cultura da paz, tal como pretendido pela ONU.
Página 184
Juntas Governativas: governos locais autônomos formados a partir dos cabildos (câmaras municipais
amplamente dominadas pelos criollos).
»» Já a segunda fase, de 1815 a 1824, começou quando o rei Fernando VII – que
reassumira o trono espanhol com a queda de Napoleão – anulou a Constituição de
Cádiz, reestabeleceu o absolutismo e enviou para a América uma grande expedição
com 10 mil homens e 18 navios de guerra para reprimir os movimentos pela
independência.
Anos depois, o Exército dos Andes desembarcou no Peru, protegido pelos navios
ingleses sob o comando de Thomas Cochrane, e colaborou para a independência
daquele país (1821).
Thomas Cochrane: almirante inglês que também participou das lutas para garantir a emancipação política
do Brasil.
Dica! Vídeo didático abordando as ações do Exército dos Andes. Em espanhol. [Duração: 4
minutos.] Acesse: <http://tub.im/urnrkk>.
[…] Simón Bolívar também teve uma vida repleta de peripécias. Nasceu em Caracas, em 24 de
julho de 1783, filho de uma rica e tradicional família de fazendeiros de cacau. Órfão desde
muito cedo, foi criado pelo avô, que lhe proporcionou uma esmerada educação de inspiração
liberal […]. Como era comum entre os criollos mais ricos, viajou várias vezes à
Página 185
Europa, tendo passado por França, Itália e Espanha. Neste último país, casou-se com Maria
Tereza del Toro que, após oito meses de casada, faleceu em terras venezuelanas, de febre
amarela, para grande desgosto do marido.
[...]
As vitórias e derrotas das forças rebeldes lideradas por Simón Bolívar, no norte da América do
Sul, demonstravam a dificuldade da Espanha em vencer os rebeldes e os obstáculos que estes
enfrentavam para manter as conquistas. Depois da restauração de Fernando VII, como já foi
indicado, chegou a Nova Granada a grande expedição do general Pablo Morillo para
reconquistar os territórios perdidos. A repressão foi muito violenta, indicando num primeiro
momento que esta era a estratégia correta. [...] Bolívar e seus generais reorganizaram os
exércitos e iniciaram a virada no tabuleiro da guerra, prometendo a alforria aos escravos que
se alistassem e terra aos soldados do exército. [...]
PRADO, Maria Lígia C.; SOARES, Gabriela P. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. p. 31-33.
Autor desconhecido. Retrato de Simón Bolívar. Séc. XIX. Ilustração. Coleção particular. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock
Pintura de Manuela Sáenz, c. 1820. Ela lutou ao lado de Bolívar pela independência na América
espanhola. Hoje é vista por muitos latino-americanos como uma das heroínas dos movimentos
independentistas na América.
Página 186
A exemplo do que fizera San Martín, Simón Bolívar atravessou a Cordilheira dos
Andes à frente de um exército regular e conquistou Bogotá, em 1819. Dois anos
depois, proclamou a República da Grã-Colômbia (Colômbia, Venezuela e Equador),
da qual se tornou presidente. Mas ao contrário do que desejou Bolívar, essa
unidade política se fragmentou e se formaram então as repúblicas da Colômbia, da
Venezuela e do Equador.
2. Dica! Vídeo sobre a vida de José de San Martín. [Duração: 10 minutos.] Acesse:
<http://tub.im/5vov7s>.
Para refletir
O projeto de Bolívar era ver formar-se na América uma confederação
republicana, isto é, uma associação de Estados independentes unidos por
objetivos de cooperação e defesa. Na célebre Carta da Jamaica, em 1815, Bolívar
escreveu:
É uma ideia grandiosa pretender formar de todo o Novo Mundo uma única nação com um
único vínculo que ligue as partes entre si com o todo. Já que tem uma só origem, uma só língua,
mesmos costumes e uma só religião, deveria, por conseguinte, ter um só governo que
confederasse os diferentes Estados que haverão de se formar.
BOLÍVAR, Simón. In: WASSERMAN, Cláudia (Coord.). História da América Latina: cinco séculos. Porto Alegre: UFRGS,
2000. p. 165.
Ariana Cubillos/AP Photo/Glow Images
Pedestres à frente de um mural representando Simón Bolívar, visto como herói no imaginário
popular venezuelano. Caracas, Venezuela, 2008.
a) Bolívar defende a formação de uma só nação em toda a América (Novo Mundo); uma grande República federativa
obediente a um só governo.
c) Hugo Chávez e Nicolás Maduro utilizavam a força do mito bolivariano para legitimar suas políticas externas de crescente
oposição aos Estados Unidos. Evocando ideais bolivarianos, defendiam a integração econômica e militar entre os países
latino-americanos. O mito bolivariano tem uma penetração enorme entre as camadas populares da Venezuela.
Página 187
O caso do México
A primeira tentativa de emancipação política na América espanhola ocorreu no
Vice-Reino da Nova Espanha, em 1810, e foi liderada por Miguel Hidalgo, padre
do pequeno povoado de Dolores, próximo às minas de Guanajuato. À frente de
milhares de camponeses, o padre iniciou uma rebelião contra o domínio espanhol
que clamava por independência e terra para os pobres (inclusive as da Igreja). Nas
suas marchas reivindicatórias em direção à Cidade do México, os rebeldes
ostentavam estandartes de Nossa Senhora de Guadalupe, uma virgem mestiça,
morena como milhões de nativos do México.
Vice-Reino da Nova Espanha: unidade administrativa fundada em 1535; era a parte mais rica do Império
Espanhol na América.
Na repressão ao movimento, parte da elite criolla uniu-se uma vez mais aos
realistas e ajudou a esmagar a revolta. O padre Hidalgo foi preso e fuzilado em
julho de 1811. A luta pela independência prosseguiu, então, sob a liderança de um
outro padre, José Maria Morellos. Ele propunha que se dividissem a terra e o
dinheiro dos mais ricos entre os vizinhos pobres do mesmo povoado. A adesão de
grande quantidade de indígenas e camponeses (cerca de 80 mil) às forças de
Hidalgo e Morellos se explica pela pobreza extrema em que vivia a maioria da
população. Esse movimento popular também foi vencido, e o padre Morellos,
fuzilado em 1815.
A América Central esteve unida ao México até 1824, quando proclamou sua
independência com o nome de Províncias Unidas da América Central.
Posteriormente, sob forte pressão inglesa e estadunidense, a região se fragmentou
em pequenas repúblicas: Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa
Rica.
Juan O’Gorman. Séc. XIX. Mural. Coleção particular. Foto: The Granger Collection/Glow Images
Detalhe da pintura mural de Juan O’Gorman, contando em linguagem pictórica a luta dos indígenas
e camponeses mexicanos liderados pelo padre Hidalgo. Repare que eles carregam um estandarte
com a imagem da Virgem de Guadalupe, que hoje é um dos símbolos do México.
Página 188
Danny Lehman/Corbis/Latinstock
Indivíduos quíchua, povo que já habitava o Vice-Reino do Peru nos tempos de Túpac Amaru. O
quíchua, falado nos Andes desde a época do Império Inca, é hoje uma das línguas oficiais do Peru.
Fotografia de 2001.
Independências e fragmentação
No Congresso do Panamá, em 1826, Simón Bolívar continuou lutando pela unidade
latino-americana. No entanto, ela não se concretizou; o que se viu foi a formação de
uma América fragmentada, dividida em 19 Estados nacionais (1830), cada qual
com um governo próprio. A fragmentação da América em diversas repúblicas tem
sido tema de debates entre os historiadores; as razões mais citadas para explicar
essa fragmentação são três:
Página 189
»» a força dos caudilhos, chefes políticos ou militares locais, com grande poder
em sua localidade ou província;
Allmaps
Fonte: DUBY, Georges. Atlas Historique Mondial. Paris: Larousse, 2011. p. 243.
Caudilhos: a historiografia recente entende que o poder do caudilho se constrói por meio de relações nos
níveis local, nacional e internacional e se fortalece em contextos históricos específicos nos quais as instituições
políticas são frágeis. Uma das características importantes do caudilhismo é o clientelismo – relações pessoais
que indivíduos com riqueza, poder e prestígio elevados mantêm com outros relativamente pobres e sem
prestígio social. O cliente, um peão, por exemplo, busca conseguir de seu patrão proteção política e econômica
e oferece, em troca, sua força de trabalho e lealdade.
Por vezes, os caudilhos conseguiram reunir sob seu comando as forças de uma
região e, até mesmo, de toda uma república. Foi esse o caso da Argentina, onde
após a independência, a disputa pelo poder político opôs os unitários (favoráveis a
centralização) aos federalistas (que defendiam a autonomia das províncias). As
divergências entre eles se desdobraram em guerras civis intermitentes. Lá, a
presença de caudilhos à frente de grupos armados impediu a organização de um
Estado nacional centralizado até 1862, quando Bartolomeu Mitre assumiu a
Presidência do país como um todo.
Dica! Documentário sobre os 200 anos da independência dos países latino-americanos. [Duração:
202 minutos.] Dividido em duas partes. Para a primeira parte, acesse: <http://tub.im/7n6wwh>.
Página 190
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. Leia as fontes 1 e 2 com atenção.
››Fonte 1
››Fonte 2
DONGHI, Halperin. Fonte: GUAZZELLI, César A. B. In: WASSERMAN, Cláudia (Coord.). História da América Latina:
cinco séculos. 2. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2000. p. 134.
1. a) Que, no final do século XVIII, a imensa maioria da população da ilha de São Domingos era formada por negros
escravizados (87,75%). Mestiços e brancos juntos somavam apenas 12,25%.
1. b) Que a maioria negra era oprimida pela minoria branca, o que tornava a vida social tensa. Professor: entre os franceses
e os africanos escravizados havia fortes divergências por motivos étnicos e também socioeconômicos.
2. (Unemat-MT – 2014)
HOBSBAWM, Eric. Ecos de Marselhesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 124-125.
Qual país latino-americano teve sua independência influenciada pela Revolução Francesa?
a) Espanha
b) Brasil
c) Estados Unidos
d) Austrália
e) Haiti
2. Resposta: e.
3. (UFPI)
[...] todos os brasileiros, e sobretudo os brancos, não percebem suficientemente que é tempo
de se fechar a porta aos debates políticos [...]. Se se continua a falar dos direitos dos homens, da
igualdade, terminar-se-á por pronunciar a palavra fatal: liberdade, palavra terrível e que tem
muito mais força num País de escravos que em qualquer outra parte [...]
In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). 1822: dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1972. p. 482.
O texto acima, escrito provavelmente por volta de 1823/1824, é parte de uma carta sobre a
independência do Brasil, enviada por um observador europeu a D. João VI.
Leia com atenção o texto e, a seguir, assinale a alternativa que expressa a configuração social do
processo brasileiro de independência.
b) A “solução monárquica”, através da qual a jovem nação optava por afastar-se de seus vizinhos
americanos e adotar modelos políticos europeus, foi historicamente necessária como instrumento
de conciliação das raças no Brasil.
Página 191
c) O “haitianismo”, temor da elite branca brasileira de que se repetisse no Brasil uma revolução
negra, tal qual ocorrera no Haiti, limitou as bases sociais da independência e justificou
manifestações como essa da carta transcrita.
d) Em razão de temores como aquele expresso na carta citada, a independência fez-se acompanhar
de um processo crescente de enfraquecimento da escravidão. Os mesmos grupos que lideraram o
processo de independência liderariam, anos depois, a abolição da escravatura.
e) O temor expresso na carta é infundado, pois além de contar com um número pequeno de
escravos à época da independência, as relações entre os escravos e seus senhores, no Brasil, sempre
foram cordiais, decorrendo justamente disso a noção de “democracia racial”.
3. Resposta: c.
4. (Unicamp-SP – 2016)
Rafael Rojas. Las repúblicas de aire. Buenos Aires: Taurus, 2010. p. 11.
b) o caudilhismo, sob a liderança política criolla, e o discurso revolucionário de uma nova ordem
política, que assegurou profundas transformações econômicas na América.
4. Resposta: a.
5. (Unesp-SP – 2015)
Era o fim. O general Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios ia embora
para sempre. Tinha arrebatado ao domínio espanhol um império cinco vezes mais vasto que as
Europas, tinha comandado vinte anos de guerras para mantê-lo livre e unido, e o tinha
governado com pulso firme até a semana anterior, mas na hora da partida não levava sequer o
consolo de acreditarem nele. O único que teve bastante lucidez para saber que na realidade ia
embora, e para onde ia, foi o diplomata inglês, que escreveu num relatório oficial a seu
governo: “O tempo que lhe resta mal dá para chegar ao túmulo.”
O perfil de Simón Bolívar, apresentado no texto, acentua alguns de seus principais feitos, mas deve
ser relativizado, uma vez que Bolívar
a) foi um importante líder político, mas jamais desempenhou atividades militares no processo de
independência da América Hispânica.
b) obteve sucesso na luta contra a presença britânica e norte-americana na América Hispânica, mas
jamais conseguiu derrotar os colonizadores espanhóis.
c) defendeu a total unidade das Américas, mas jamais obteve sucesso como comandante militar nas
lutas de independência das antigas colônias espanholas.
d) teve papel político e militar decisivo na luta de independência da América Hispânica, mas jamais
governou a totalidade das antigas colônias espanholas.
e) atuou no processo de emancipação da América Hispânica, mas jamais exerceu qualquer cargo
político nos novos Estados nacionais.
5. Resposta: d.
Página 192
Diego Rivera. La guerra de la independencia de México. 1810. Mural. Palácio Nacional, México, DF.
a) Quem são os padres que ocupam o centro da cena e quem é o imperador retratado no canto
esquerdo?
a) Os padres representados ao centro são Miguel Hidalgo e José Maria Morellos, que, na visão do pintor, foram importantes
vultos da independência no México; no canto esquerdo, vemos o imperador Iturbide.
b) Padre Hidalgo, o personagem central, traz na mão direita uma corrente partida (que representa a liberdade obtida com o
fim do domínio colonial espanhol), e, na mão esquerda, um estandarte com a imagem da Virgem de Guadalupe. À direita de
Hidalgo está o padre Morellos, com o braço direito estendido como quem aponta o caminho a seguir: o da libertação, o da
independência; gesto idêntico faz a personagem-soldado que está um pouco abaixo, vestindo armadura e portando uma
espada na mão direita e uma espingarda na esquerda; além disso, ele aponta para os camponeses armados à sua frente (e de
costas para o observador) o caminho a seguir. Finalmente, o imperador Iturbide, no canto esquerdo do mural e com uma
coroa na cabeça, é mostrado com o olhar parado, como um simples coadjuvante; alguém sem importância no rumo dos
acontecimentos.
c) Há ainda na parte inferior do mural uma cena que merece destaque. Qual é ela?
c) Na parte inferior do mural e ao centro está uma águia com uma cobra presa ao bico. Essa figura era, segundo a crença dos
sacerdotes astecas, um sinal dos deuses de que ali onde estava a águia era o local onde os astecas tinham de fundar a cidade
de Tenochtitlán (atual Cidade do México). Hoje, a figura da águia com a serpente em seu bico é um símbolo da nação
mexicana e está, inclusive, em sua bandeira.
Em busca da participação das mulheres nas lutas pela independência política da América
Latina
[...]
Em segundo lugar, ressalte-se que a despeito dessa atuação bastante visível, em nenhum dos
países latino-americanos operou-se a transformação de uma dessas mulheres em heroína
nacional [...]. As homenagens e o reconhecimento oficial da participação das mulheres como
“fundadoras da pátria” são extremamente restritos. A mais destacada, neste particular, parece
ser a boliviana, Juana Azurduy de Padilla; no aeroporto de Sucre que também leva seu nome –
ganhou uma estátua que a representa montada a cavalo, ameaçando os realistas com ar
desafiador. [...]
Página 193
Finalmente, uma observação sobre a questão de seu comportamento político. O que mais me
chamou a atenção foi a transformação de mulheres rebeldes, que desafiaram as instituições
mais poderosas – as metrópoles e a Igreja – em modelos exemplares de “bom” comportamento.
Josefa Dominguez, “La Corregidora”, por exemplo, “desobedeceu” o marido [...]. Leona Vicário
fugiu do convento onde estava presa, auxiliada por três oficiais rebeldes [...]. Maria Quitéria
escapou de sua família para se vestir de homem e lutar como soldado, numa decisão
premeditada e consciente. Em uma palavra, foram mulheres rebeldes, insubordinadas, agindo
fora das regras e das normas, que ganharam respeitabilidade, transformadas em modelos de
esposas e mães, glorificadas por todas as virtudes cristãs intimamente trançadas com as
virtudes patrióticas. [...]
Em uma palavra, foi esquecido ou ocultado que as mulheres participantes dos movimentos
pela independência atuaram num circuito claramente identificado como o da política,
motivadas por ideias, sentimentos e crenças que as levaram a romper com os padrões sociais e
religiosos vigentes. Sua notável coragem – especialmente nos momentos trágicos da prisão e
condenação – indica que estavam preparadas para aceitar as consequências das escolhas
efetuadas.
PRADO, Maria Lígia C. Em busca da participação das mulheres nas lutas pela independência política da América
Latina. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 12, n. 23/24, p. 77-90, set. 1991-ago. 1992. Disponível em:
<www.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=3713>. Acesso em: 11 abr. 2016.
b) A que conclusões a leitura do texto permite chegar considerando o que está explícito?
c) A que conclusão a leitura permite chegar considerando o que está implícito (subentendido)?
Lembrar que os silêncios de um texto podem ser tão ou mais importantes do que aquilo que é dito.
Observe com atenção estas duas imagens. Compare o gesto da personagem central,
a posição do cavalo, o agrupamento de soldados em círculo com suas espadas
erguidas, entre outros aspectos.
Jean-Louis Ernest Meissonier. c. 1875. Óleo sobre tela. Metropolitan Museum of Art, Nova Yorque
A Batalha de Friedland, tela pintada pelo artista francês Ernest Meissonier em 1875.
Pedro Américo. 1888. Óleo sobre tela. Museu Paulista da USP, São Paulo
Independência ou Morte!, tela pintada pelo artista brasileiro Pedro Américo em 1888.
Agora responda:
A administração de Pombal
No reinado de D. José I (1750-1777), o ministro e homem forte do governo foi
Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal, cuja política à frente do
Estado português ficou conhecida como Reformismo Ilustrado. Pombal empenhou-
se em fortalecer a economia e o Estado e tirar Portugal da posição de inferioridade
em que se encontrava em relação a outros países europeus. Para isso, tomou uma
série de medidas que afetaram fortemente Portugal e sua colônia na América, o
Brasil. Eis algumas dessas medidas:
Revoltas na Colônia
A opressão da metrópole portuguesa no reinado de D. Maria I e de seu filho Dom
João (1792-1816) contribuiu para a ocorrência de vários movimentos de rebeldia
no Brasil, entre os quais cabe citar: a Conjuração Mineira (1789), a Conjuração
Baiana (1798) e a Insurreição Pernambucana (1817).
A Conjuração Mineira
A partir de 1760, o governo português reagiu ao declínio da produção de ouro no
Centro-Sul brasileiro aumentando a vigilância sobre os impostos cobrados na
região. Some-se a isso os abusos e desmandos do governador da capitania de
Minas Gerais, Luís da Cunha Menezes (1783-1788), e se compreenderá o clima de
revolta ali existente na época.
Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro. Foto: Rômulo Fialdini
Derrama: cobrança forçada da dívida em atraso. Em 1751, ficou estabelecido que o Brasil deveria pagar a
Portugal 100 arrobas anuais de ouro; caso a cota não fosse completada, seria lançada a derrama.
Candido Portinari. 1948-49. Têmpera sobre tela. Memorial da América Latina, São Paulo. Reprodução autorizada por João Candido Portinari
1. Dica! Vídeo com foco na personagem Joaquim Silvério dos Reis. [Duração: 4 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/sscmq7>.
Note também que Pedro Américo pintou a cabeça de Tiradentes ao lado do corpo
crucificado de Jesus Cristo. Com isso, ele pretendia assemelhá-lo ao maior mártir
do Cristianismo. Além disso, sabe-se hoje que, na época de Tiradentes, os
condenados eram executados sem cabelo e sem barba, mas, mesmo assim, o pintor
representou o inconfidente com barba e cabelos longos, usando mais esse recurso
para cristianizá-lo.
A Conjuração Baiana
Enquanto os principais envolvidos na Conjuração Mineira eram homens de negócio
e intelectuais de origem europeia, os rebeldes baianos eram em sua maior parte
mestiços e/ou negros e pobres. Como muitos deles exerciam o ofício de alfaiate, a
Conjuração Baiana (1798) ficou conhecida também como Revolta dos Alfaiates.
Página 199
»» a diminuição dos impostos e o aumento dos soldos para 200 réis diários;
Isonomia: princípio geral do direito segundo o qual todos são iguais perante a lei.
Assim que os cartazes dos rebeldes ganharam as ruas, o governador da Bahia, Dom
Fernando José de Portugal, ordenou o início das investigações e a prisão de
dezenas de rebeldes: alfaiates, soldados, escravos de ganho, além de indivíduos de
estratos sociais mais elevados, como o cirurgião Cipriano Barata e o farmacêutico
João Ladislau de Figueiredo, em cuja casa funcionava a loja maçônica Cavaleiros da
Luz. Estes dois últimos, chamados nos inquéritos de “pessoas de consideração”,
foram inocentados; os soldados Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens e os
alfaiates João de Deus e Manuel Faustino foram enforcados e esquartejados na
Praça da Piedade, em Salvador. 1 e 2
Uniforme do Regimento dos Henriques Milicianos, 1802. Luís Gonzaga das Virgens era um dos
integrantes desse regimento. Ao examinar a caligrafia dos manuscritos apreendidos na cidade de
Salvador, as autoridades descobriram que ele era o autor de alguns dos mais importantes desses
manuscritos.
Página 200
Bloqueio Continental: decreto imposto pelo imperador francês Napoleão Bonaparte proibindo os demais
países europeus de comerciar com a Inglaterra ou receber navios ingleses em seus portos.
Por esses motivos, no final de 1807, o príncipe Dom João, que assumira a regência
em razão da doença de sua mãe, D. Maria I, a Louca, sua família e cerca de 10 a 15
mil pessoas embarcaram para o Brasil. Escoltada pela marinha inglesa, a comitiva
de Dom João desembarcou em Salvador em 22 de janeiro de 1808 e, um mês e
meio depois, chegou ao Rio de Janeiro, que passou a ser então a sede do Império
Português, cujo território abrangia terras na Europa, África e Ásia.
Durante sua permanência, Dom João e sua corte estabeleceram uma aliança com a
elite de São Paulo e do Rio de Janeiro, por meio de negócios entre eles envolvendo
terras e comércio de abastecimento, de casamentos com famílias locais e de
empregos concedidos por Dom João aos membros dessa elite. Essas relações
sociais e mercantis com a elite do Centro-Sul levaram ao enraizamento da Corte
portuguesa e à sua intenção de permanecer no Brasil, fenômeno que a historiadora
Maria Odila Dias chamou de interiorização da metrópole. 1, 2 e 3
1. Dica! Reportagem sobre a viagem de fuga da família real portuguesa para o Brasil. [Duração:
19 minutos]. Acesse: <http://tub.im/mey7jz>.
2. Dica! Vídeo sobre a fuga da Corte portuguesa para o Brasil. [Duração: 22 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/czrabc>.
3. Dica! Documentário sobre a vinda da família real portuguesa. Narrativa baseada nas obras do
escritor Laurentino Gomes. [Duração: 36 minutos]. Acesse: <http://tub.im/98e3yb>.
Candido Portinari. 1952. Óleo sobre painel. Banco da Bahia, Salvador. Reprodução autorizada por João Candido Portinari
Quadro de Portinari que representa a chegada da família real portuguesa ao Brasil. Note que nessa
versão triunfal o autor valoriza sobretudo o príncipe, que ocupa o centro da tela, com seus trajes
elegantes e gestos cuidadosamente pensados.
Página 201
Dica! Reportagem sobre a economia brasileira nos tempos de Dom João VI. [Duração: 21
minutos]. Acesse: <http://tub.im/mx2c4z>.
Museu da Casa Brasileira, São Paulo. Foto: Romulo Fialdini/Tempo Composto
Com a abertura dos portos e o Tratado de 1810, dezenas de navios entraram trazendo mercadorias
nos portos brasileiros inglesas de luxo, como cigarreiras, portas-charuto, candelabros e louças
refinadas, a exemplo das que vemos na fotografia cima.
Administração joanina
Uma vez instalado, o governo de Dom João empenhou-se em modernizar a cidade
do Rio de Janeiro, assemelhando-a a Lisboa. Multiplicaram-se as obras em solo
carioca: abriram-se vias para facilitar a circulação de pessoas e mercadorias,
construíram-se novas habitações com amplos jardins e janelas envidraçadas, que
permitiam a entrada de luz, e instalaram-se importantes órgãos político-
administrativos, como o Ministério e o Conselho de Estado, a Intendência da
Polícia, o Erário Régio, o Banco do Brasil e a Casa da Moeda. Além disso, foram
criadas importantes instituições científico-culturais, como a Imprensa Régia, que
publicou livros, folhetos e o primeiro jornal feito no Brasil, a Gazeta do Rio de
Página 202
1. Dica! Animação sobre a vinda da família real portuguesa e as transformações por ela
provocadas. [Duração: 57 minutos]. Acesse: <http://tub.im/qjansc>.
Com essa decisão [...] foi reconhecida a autonomia do Brasil perante o Reino de Portugal. A
partir daquele momento, o Reino Unido, como foi chamado, transformava-se, juntamente com
os domínios portugueses na África e na Ásia, na expressão política do Império, passando as
capitanias a ser designadas províncias do Império. E essa situação inédita foi sacramentada em
1816, quando, com a morte de D. Maria I, o então regente passou a ser o novo rei, D. João VI. 2
OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles. A Independência e a construção do Império: 1750-1824. São Paulo: Atual, 1995. p.
70. (Discutindo a História do Brasil).
A Insurreição Pernambucana
O governo de D. João VI beneficiou, sobretudo, a elite do Rio, São Paulo e Minas,
particularmente os produtores e comerciantes dedicados ao abastecimento da
Corte. Esses grupos ascendiam sobretudo através de privilégios (como o de cobrar
impostos) e da obtenção de títulos de nobreza e de empregos concedidos pelo
governo joanino.
O beija-mão na Corte do Rio de Janeiro é uma das 20 pranchas que integram um livro editado em
Londres, em 1825, e intitulado Aspectos da vida, modos e costumes portugueses. Não se sabe até hoje
quem é o autor do texto e das imagens do livro; sabe-se apenas que ele assina A.P.D.G. No trono
maior vê-se sentado D. João VI, representado de maneira caricaturizada. Enquanto um dos súditos
beija a mão do rei, os outros aguardam em uma fila enorme. Nessas ocasiões, os súditos
aproveitavam para fazer elogios e pedidos ao rei.
Diante das pressões externas, representadas pelo poder das Cortes, e internas (dos
grupos de políticos favoráveis e contrários à separação de Portugal), em 26 de
abril de 1821, D. João VI partiu com sua família para Lisboa deixando no Brasil seu
filho e herdeiro Dom Pedro na condição de príncipe regente. 1
1. Dica! Reportagem sobre a revolução do Porto e o retorno da família real para Portugal.
[Duração: 22 minutos]. Acesse: <http://tub.im/78ogyy>.
DIALOGANDO
Reflita: qual era a intenção de D. João VI ao deixar no Brasil Dom Pedro como príncipe
regente?
Professor: ressaltar que a intenção de D. João VI era garantir o poder para sua família e ter no Brasil uma autoridade central
capaz de reprimir as manifestações pela independência nas províncias brasileiras, evitando, assim, a fragmentação do
território.
Oscar Pereira da Silva. S.d. Óleo sobre tela. Museu Paulista da USP, São Paulo
Sessão das Cortes de Lisboa, de Oscar Pereira da Silva. Com a expectativa de participar dos trabalhos
de elaboração de uma Constituição comum a Portugal e ao Brasil, 45 deputados de diferentes
regiões brasileiras seguiram para Lisboa; mas, lá chegando, foram vaiados e impedidos de falar.
Descobriram, então, que o desejo dos deputados portugueses era de que a sede do Império
Português, instalada no Rio de Janeiro, voltasse a ser Lisboa.
»» a regência de Dom Pedro foi dada como extinta, devendo o príncipe regente
voltar para Portugal imediatamente.
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. Leia o texto a seguir com atenção:
Não acreditamos ser possível [...] fechar questão quanto ao movimento de 1789, como se ele
fosse uno [...], íntegro em seus propósitos [...] e estratégias.[...] Um dos temas centrais de
dissenso entre os inconfidentes era precisamente o fato de que, enquanto alguns eram mesmo
movidos por elevadas aspirações políticas reformadoras, para outros, [...] o objetivo da
Inconfidência era apenas a suspensão da derrama, efetivamente obtida em 14 de março de
1789. A partir dessa premissa, é possível entender e explicar o arrefecimento dos ânimos e
relativo enfraquecimento do levante antes mesmo da repressão que se abateu sobre os
revoltosos [...] a partir de maio de 1789.
FURTADO, João Pinto. A Inconfidência Mineira: um novo tempo ou reedição dos motins do Antigo Regime? In:
RESENDE, Maria Efigênia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos (Org.). História de Minas Gerais: as minas setecentistas.
Belo Horizonte: Autêntica; Companhia do Tempo, 2007. v. 2. p. 636.
Dissenso: discordância.
1. a) Como um movimento contraditório sem unidade quanto aos seus propósitos e estratégias. Professor: comentar que o
mesmo autor afirma que entre os protagonistas da Conjuração de 1789 estavam também pessoas de diferentes camadas
sociais.
b) Que distinção ele faz entre os inconfidentes quanto aos seus objetivos?
b) Ele os divide em dois grupos: um movido por ideais políticos reformadores; outro que tinha como único objetivo a
suspensão da derrama.
c) Para o autor do texto, o que explica a perda de entusiasmo por parte dos conjurados a partir de
março de 1789?
c) A suspensão da derrama, cobrança que certamente exaltaria os ânimos da população de Minas Gerais.
d) Com base no que você estudou, qual era outro ponto de divergência entre os inconfidentes?
1. d) Divergiam quanto ao fim da escravidão; a maioria deles era favorável à continuidade da escravidão em Minas Gerais.
e) Em dupla. Debatam, reflitam e opinem: qual era a motivação dos conjurados: as ideias de
reforma inspirados no Iluminismo ou a suspensão da derrama? Justifique.
e) Resposta pessoal. Professor: a intenção é estimular o alunado a reunir e organizar argumentos e expressá-los por escrito
em defesa de um ponto de vista.
2. (Unicamp-SP – 2016) A aquarela do artista João Teófilo, aqui reproduzida, dialoga com a
pintura de Pedro Américo, “Tiradentes esquartejado” (1893). Sobre a obra de João Teófilo,
publicada na capa de uma revista em 2015, é possível afirmar que:
(http://www.revistadehistoria.com.br/revista/edicao/118.)
a) Trata-se de uma obra baseada em um quadro do gênero da pintura histórica, sendo que no
trabalho de Pedro Américo o corpo de Tiradentes no patíbulo afasta-se da figura do Cristo, exemplo
maior de mártir.
b) Utilizando-se das mesmas formas do corpo esquartejado de Tiradentes pintado por Pedro
Américo, o autor limita o número de sujeitos esquartejados e acentua o tom conservador da
aquarela.
2. Resposta: c.
Página 209
3. (Fuvest-SP) A invasão da Península Ibérica pelas forças de Napoleão Bonaparte levou a Coroa
portuguesa, apoiada pela Inglaterra, a deixar Lisboa e instalar-se no Rio de Janeiro. Tal decisão teve
desdobramentos notáveis para o Brasil. Entre eles:
d) a abertura dos portos brasileiros a outras nações, a assinatura de acordos comerciais favoráveis
aos ingleses e a instalação da Imprensa Régia.
e) a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido, a abertura de estradas de ferro ligando o litoral
fluminense ao porto do Rio e a introdução do plantio do café.
3. Resposta: d.
4. (Enem/MEC – 2014)
NOVAIS, F. A.; ALENCASTRO, L. F. (Org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1997.
4. Resposta: b.
c) A revolução do Porto, movimento de cunho liberal que eclodiu em 24 de agosto de 1820, tinha
intenção de emancipar o Brasil, desmembrando o que ainda estava no império ultramarino
português.
5. Resposta: a.
Página 210
VOZES DO PRESENTE
O texto 1 é de Boris Fausto e o texto 2 é uma entrevista com Cecília Helena de Salles Oliveira, ambos
professores da Universidade de São Paulo.
››Texto 1
[...] a emancipação do Brasil não resultou em maiores alterações da ordem social e econômica,
ou da forma de governo [...]
Uma das principais razões dessa continuidade se encontra na vinda da família real para o
Brasil e na forma como se deu o processo de Independência. A abertura dos portos por parte
de Dom João VI estabeleceu, como vimos, uma ponte entre a Coroa portuguesa e os setores
dominantes da colônia, especialmente os que se concentravam no Rio de Janeiro, São Paulo e
Minas Gerais. Os benefícios trazidos para a região fluminense, com a presença do rei no Brasil,
vinham incentivar a expansão econômica daquela área, ligada aos negócios do açúcar, do café e
do tráfico de escravos [...] A elite política promotora da Independência não tinha interesse em
favorecer rupturas que pudessem pôr em risco a estabilidade da antiga colônia. É significativo
que os esforços pela autonomia, que desembocaram na Independência, concentraram-se na
figura do rei e depois na do príncipe regente. [...]
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 6. ed. São Paulo: Edusp/Fundação do Desenvolvimento da Educação, 1998. p. 146-
147.
››Texto 2
[...] Em primeiro lugar, é preciso desmistificar a ideia de que a Independência foi feita sob o
signo da continuidade e a organização do Império carregava as marcas da monarquia
portuguesa e das tradições coloniais. O estudo das lutas sociais entre 1820 e 1824 [...] permite
compreender a ruptura que a Independência assinalou em relação ao Antigo Regime e à
monarquia absolutista portuguesa. Em segundo lugar, quando se leva em conta o intenso
debate político da época e o envolvimento de diferenciados setores sociais nessas discussões, é
possível perceber, com clareza, que o momento da Independência representou, pela primeira
vez no Brasil, a elaboração prática de princípios do liberalismo, definidores de relações de
dominação social burguesa, e que a escravidão não era incompatível com a nova ordem social
que então se configurava. O que procuro apontar [...] é que a época da Independência teve
enorme importância enquanto marco decisivo da formação do Estado liberal no Brasil [...]
OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles. A Independência e a construção do Império: 1750-1824. São Paulo: Atual, 1995. p.
2-3. (Discutindo a História do Brasil).
e) Em grupo: debatam, reflitam e respondam: qual das duas versões sobre o significado da
Independência vocês consideram mais convincente?
Página 211
Professor: a intenção aqui foi contribuir para estimular a reflexão sobre a participação popular no processo de
independência, bem como sobre a memória construída em torno das lutas que ocorreram para sua concretização. É
interessante notar que, na visão dos autores do hino, foi o Senhor do Bonfim que conduziu os baianos à vitória.
Festejos pelos 192 anos da Independência da Bahia, em Salvador (BA), em 2015. O desfile de 2 de
julho teve início no Largo da Lapinha, seguindo até o Centro Histórico. Uma multidão participou
dessa festa que atrai pessoas de diferentes condições sociais.
Na época, o Sete de Setembro não teve a importância que lhe foi atribuída mais
tarde. A data usada para marcar a emancipação política do Brasil era o Doze de
Outubro, dia da aclamação de Dom Pedro I. Sua coroação como imperador do
Brasil ocorreria em 1º de dezembro de 1822. Como parte dos preparativos desse
evento, o Império encomendou ao francês Jean-Baptiste Debret uma pintura, que
faria sua estreia em uma apresentação extraordinária no Teatro da Corte. A
pintura foi feita por Debret em um Pano de Boca (cortina que fecha o palco nos
entreatos de um espetáculo teatral). Observe-a com atenção:
No alto, e ao centro, vê-se um grupo de anjinhos sustentando uma esfera coroada em que se lê a
letra “P”, de Pedro. O centro da imagem é ocupado pelo trono imperial feito de mármore branco. No
braço esquerdo do trono se vê o emblema do comércio e, no direito, o da justiça. Uma mulher
sentada, coroada e com a tábua da Constituição apoiada na mão direita representa a Monarquia
(note-se que geralmente a Monarquia é representada por um homem).
É nítida a idealização que Debret faz do Estado nascente como uma união
harmônica de negros, índios e descendentes de europeus unidos e dispostos a
contribuir para a construção do Império. Assim, a pintura forja uma realidade que
interessava ao poder estabelecido.
A baiana Maria Quitéria de Jesus Medeiros, representada nesse quadro, foi um personagem
importante das lutas populares pela independência da Bahia. Quitéria, “a baiana que ardia de amor
pela Pátria”, pediu à irmã as roupas do cunhado, cortou os cabelos, e alistou-se para lutar contra os
portugueses do general Madeira de Melo, numa época em que a mulher não podia atuar como
soldado. Por seu empenho nos campos de batalha, ela foi condecorada com a Ordem Imperial do
Cruzeiro do Sul (repare a medalha que ela traz no peito). A participação das mulheres nessas lutas
nem sempre é lembrada, porque muitas vezes a história é mostrada apenas na ótica masculina.
O reconhecimento da independência
Conseguir o reconhecimento da independência também não foi tarefa fácil. As
nações absolutistas, que formavam a Santa Aliança, opunham-se ao liberalismo na
Europa e ameaçavam frustrar a emancipação política latino-americana.
Os Estados Unidos, por sua vez, tinham interesse em proteger a América contra a
política intervencionista da Santa Aliança e a influência europeia. Isso ajuda a
explicar por que, com base na Doutrina Monroe, os Estados Unidos foram o
primeiro país a reconhecer a independência política do Brasil, fato ocorrido em
1824.
Doutrina Monroe: a Doutrina Monroe pode ser sintetizada na frase “A América para os americanos”, ou
seja, cada país da América deveria se autogerir e não aceitar a interferência europeia. Ao longo do século XIX,
ajudou a justificar e legitimar o imperialismo estadunidense na América Latina.
Página 215
Para pagar a dívida assumida com Portugal, o Brasil de Dom Pedro I pediu um
empréstimo aos banqueiros ingleses. Estes concordaram em emprestar o dinheiro,
mas, como Portugal tinha uma dívida com a Inglaterra, o dinheiro não chegou a
sair dos cofres ingleses.
Esses acordos, que ampliaram a influência britânica no Brasil do século XIX, foram
mal recebidos por políticos brasileiros, colaborando para o enfraquecimento do
poder de Dom Pedro I.
»» para ser eleitor, era preciso ter uma renda mínima equivalente a 150 alqueires
de farinha de mandioca (com isso, excluía-se da vida política a imensa maioria da
população);
debatendo a situação, por isso aquela noite foi apelidada de Noite da Agonia. Na
manhã seguinte, Dom Pedro I tomou uma medida extrema: dissolveu a Assembleia
Constituinte e mandou prender vários deputados, entre os quais estavam os
irmãos Andrada. A seguir prometeu um novo projeto de Constituição duas vezes
mais liberal do que o anterior:
[...] o projeto de Constituição que eu lhe hei de breve apresentar; que será duplicadamente
mais Liberal, do que o que a extinta Assembleia acabou de fazer
COLEÇÃO das leis do Império do Brasil de 1823, p. 85. Disponível em: <www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/legislacao/publicacoes/doimperio/colecao2.html>. Acesso em: 11 abr. 2016.
Prédio onde se reuniu a Primeira Assembleia Constituinte brasileira, no centro da cidade do Rio de
Janeiro.
A Constituição do Império
D. Pedro I, no entanto, não convocou uma nova Assembleia, mas nomeou um
Conselho de Estado composto por 10 homens de sua confiança para escrever uma
Constituição em 40 dias.
Outorgada: constituição que parte da autoridade de governo; já a Constituição promulgada é a que foi
discutida e aprovada por uma Assembleia.
Censitário, porque dependia de rendimentos. Para ser eleitor era preciso ter uma
renda anual de no mínimo 100 mil-réis; para ser candidato a deputado, uma renda
de 400 mil-réis; e para senador, 800 mil-réis. Não podiam ser eleitores os criados
de servir, os menores de 25 anos e os libertos, mesmo tendo renda suficiente.
Rmatias
2. Dica! Vídeo educativo abordando a história das sete constituições brasileiras. [Duração: 8
minutos]. Acesse: <http://tub.im/aum38w>.
DIALOGANDO
Resposta pessoal. Professor: a ideia aqui é refletir sobre o respeito à liberdade religiosa num mundo em que o fanatismo
religioso tem provocado uma série de conflitos.
Para refletir
Constituição e cidadania
A manutenção da escravidão e a restrição legal do gozo pleno dos direitos civis e políticos aos
libertos tornavam o que hoje identificamos como “discriminação racial” uma questão crucial
na vida de amplas camadas das populações urbanas e rurais do período. Apesar da igualdade
de direitos civis entre os cidadãos brasileiros reconhecida pela Constituição, os brasileiros não
brancos continuavam a ter até mesmo o seu direito de ir e vir dramaticamente dependente do
reconhecimento costumeiro de sua condição de liberdade. Se confundidos com cativos ou
libertos, estariam automaticamente sob suspeita de serem escravos fugidos — sujeitos, então,
a todo tipo de arbitrariedade, se não pudessem apresentar sua carta de alforria.
MATTOS, Hebe Maria. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 20-21.
(Descobrindo o Brasil).
Ao circularem pelas ruas, as pessoas negras podiam ser abordadas a qualquer momento por
policiais e, se não tivessem como comprovar sua condição de liberdade, acabavam, quase sempre,
sendo vítimas de violência física, verbal e/ou psicológica.
a) Direitos civis são os direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei, consequentemente, o cidadão
que possui tais direitos tem garantido o seu direito de ir e vir.
b) Com base no que você estudou e no texto, quais eram as exigências para que um
cidadão pudesse exercer o direito de ser eleitor?
b) Para ser eleitor era preciso ter uma renda anual de no mínimo 200 mil-réis e ter nascido “ingênuo” (isto é, livre).
Professor: comentar que, além do critério censitário, havia também o de nascimento.
c) É a ideia de que, embora os libertos tivessem seus direitos civis reconhecidos pela Constituição, na prática eram
impedidos de exercê-los. Para circular pelas ruas precisavam trazer consigo a “carta de alforria”.
A Confederação do Equador
Ao dissolver a Assembleia e impor a Constituição de 1824 ao país, o governo de
Dom Pedro I foi alvo de protestos em várias províncias brasileiras. Em
Pernambuco, essas críticas eram estampadas em jornais como Sentinela da
Liberdade, de Cipriano Barata, e Tiphys Pernambucano, do carmelita Frei Joaquim
do Amor Divino Caneca, ambos com sede na cidade do Recife.
Cipriano Barata (1762-1838): foi deputado pela Bahia nas Cortes Constituintes e, ao voltar de Portugal,
decidiu se estabelecer no Recife. Lá usou a imprensa escrita para fazer oposição declarada a Dom Pedro I e, por
isso, foi preso.
Queridas Compatriotas.
O imperador que soube de tal arte iludir-nos, que chegamos a adoralo como Fundador, e
Defensor da Liberdade, e Independência do Brazil, trahindo nossa confiansa [...] tirou
finalmente a mascara hypocrita com que se disfarçava, e fez ver em toda a claridade, que se nos
embalava com a Independência, hera para mais facilmente nos adormecer sobre as suas
verdadeiras intenções de nos escravizar [...].
BERNARDES, Denis A. de Mendonça. “A gente ínfima do povo e outras gentes na Confederação do Equador”. In:
Revoltas, motins, revoluções: homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. DANTAS, Monica Duarte (Org.).
São Paulo: Alameda, 2011. p. 153-154.
Fonte: ATLAS histórico IstoÉ – Brasil 500 anos. São Paulo: Ed. Três, 1998. p. 50.
Página 220
BERNARDES, Denis A. de Mendonça. “A gente ínfima do povo e outras gentes na Confederação do Equador”. In:
Revoltas, motins, revoluções: homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. Monica Duarte Dantas (Org). São
Paulo: Alameda, 2011. p. 155-156.
Editora Alameda
»» o déficit na balança comercial, ao longo dos anos 1820, quando os gastos com as
importações foram superiores aos ganhos com as exportações;
»» a insuficiência das rendas obtidas pelo Império por causa da taxa de apenas
15% cobrada dos produtos importados ingleses desde 1810;
e) A sucessão do trono português. Com a morte de Dom João VI, em 1826, Dom
Pedro I herdou o trono português, mas logo renunciou a ele em favor de sua filha,
Maria da Glória. No entanto, Dom Miguel, o irmão de Dom Pedro I, desfechou um
golpe de Estado e ocupou o trono que caberia à sobrinha, proclamando-se rei. Dom
Pedro I reagiu enviando dinheiro brasileiro para ajudar os constitucionalistas na
luta contra seu irmão, em Portugal. Diante disso, no Brasil a oposição liberal
passou a acusá-lo de estar mais interessado no trono português do que nos
problemas brasileiros.
Em Minas Gerais foi recebido com extrema frieza. De volta ao Rio de Janeiro, foi
recepcionado pelos comerciantes portugueses, que organizaram uma grande festa
pública, no centro da cidade, para homenageá-lo. Foi o que bastou para o início de
brigas de rua entre “brasileiros” e “portugueses”, todos armados de paus, pedras e
garrafas. Os conflitos ocorreram entre 12 a 15 de março de 1831 e ficaram
conhecidos como Noite das Garrafadas.
Nesta pintura de Aurélio Figueiredo, de cerca de 1890, o artista sugere que Dom Pedro I era uma
figura soberba. Repare que ele é mostrado com a cabeça erguida e estendendo a mão para entregar
o documento de sua abdicação. À esquerda vemos um menino loiro, recostado no ombro de sua
mãe. Ele é Dom Pedro de Alcântara, aquele que, anos depois, viria a ser Dom Pedro II.
Veja o que duas estudiosas da História disseram sobre o modo como o povo
recebeu o 7 de abril.
No Brasil, a euforia tomou conta do ambiente, e de tal modo, que a abdicação foi entendida
como um marco inaugural e fundador. Muitos a consideraram uma revolução exemplar, pois
fora pacífica e não levara a derramamento de sangue. Outros a chamaram “regeneração
brasileira”, tal seu caráter popular. Toda uma memória foi criada em torno do evento, como se
ele representasse um tempo novo: a verdadeira independência. O importante é que o Sete de
Abril, muito mais do que o Sete de Setembro, consagrou o espaço público como uma arena
política [...].
SCHWARCZ, Lilian M.; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 242.
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (UFF-RJ) Como “mito de origem nacional” para a Bahia, a Guerra de Independência, de 2 de julho
de 1823, é sempre relembrada em festas e comemorações oficiais. Assinale a alternativa que
melhor identifica o papel dos baianos no contexto da independência brasileira.
a) A articulação revolucionária das camadas populares da capital baiana esteve restrita aos
interesses dos libertos e dos homens livres e pobres, sem o apoio de parte dos intelectuais da
cidade de Salvador.
c) A sedição de 1798 na Bahia sepultou os desejos separatistas dos baianos e os afastou da política
brasileira de 1822. Por essa razão, a população baiana esteve alijada do contexto político da
independência.
1. Resposta: d.
2. (Unesp-SP) O Brasil assistiu, nos últimos meses de 1822 e na primeira metade de 1823,
b) ao esforço do imperador para impor seu poder às províncias que não haviam aderido à
Independência.
d) à pacífica unificação de todas as partes do território nacional, sob a liderança do governo central,
no Rio de Janeiro.
2. Resposta: b.
3. Resposta: e.
( ) Os revoltosos propunham a organização de uma república nos moldes dos Estados Unidos da
América.
( ) A adesão dos segmentos populares foi fundamental para unir todos os revoltosos.
( ) A imprensa, infelizmente, atuou contra o movimento e nenhum jornal nas províncias envolvidas
quis apoiar a causa. A sequência correta, de cima para baixo, é:
a) F, V, V, V, F.
c) V, F, F, V, F.
b) V, F, F, V, V.
d) V, V, V, F, F.
4. Resposta: d.
5. (Enem/MEC)
Após o retorno de uma viagem a Minas Gerais, onde Pedro I fora recebido com grande frieza,
seus partidários prepararam uma série de manifestações a favor do imperador no Rio de
Janeiro, armando fogueiras e luminárias na cidade.
Página 224
Contudo, na noite de 11 de março, tiveram início os conflitos que ficaram conhecidos como a
Noite das Garrafadas, durante os quais os “brasileiros” apagavam as fogueiras “portuguesas” e
atacavam as casas iluminadas, sendo respondidos com cacos de garrafas jogadas das janelas.
VAINFAS, R. (Org.). Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008 – Adaptado.
Os anos finais do I Reinado (1822-1831) se caracterizaram pelo aumento da tensão política. Nesse
sentido, a análise dos episódios descritos em Minas Gerais e no Rio de Janeiro revela:
a) estímulos ao racismo.
b) apoio ao xenofobismo.
c) críticas ao federalismo.
d) repúdio ao republicanismo.
e) questionamentos ao autoritarismo.
5. Resposta: e.
a) A dissolução da Constituinte.
b) A crise econômico-financeira.
6. Resposta pessoal. O objetivo da questão é estimular o desenvolvimento da competência escritora a partir de um episódio
importante da história brasileira: a abdicação de Pedro I.
VOZES DO PRESENTE
O primeiro terço do século XIX marcou profundamente a história econômica do Brasil pela
combinação de dois movimentos fundamentais. Um era universal: a implantação mundial do
capitalismo como modo de produção. Outro, local: a construção de um Estado nacional em
meio a esse processo. Em trinta anos, tudo mudou. [...]
[...] A ligação entre grandes centros e o mercado interno [...] tinha base no tráfico de escravos.
Começando pelo Rio de Janeiro, nas décadas de 1790 e 1800, desembarcaram na cidade cerca
de 10 mil escravos por ano, número que dobrou a partir da vinda da corte portuguesa; [...]. Mas
essa era uma atividade para poucos. Embora haja registros de 279 traficantes operando entre
1811 e 1830, apenas as 13 maiores empresas [...] eram responsáveis por 42,1% do total de
viagens. A mesma concentração acontecia em Salvador. [...] No rol das grandes fortunas, em
que estavam os traficantes, havia apenas 37 nomes.
era obtida com uma fração relativamente reduzida da produção local. Estudos recentes
indicam que algo em torno de 85% da produção total brasileira era consumida no mercado
interno, e apenas 15% da produção eram destinados à exportação.
CALDEIRA, Jorge. O processo econômico. In: Crise colonial e independência 1808-1830. SILVA, Alberto da Costa
(coord.) Rio de Janeiro: Mafre e Editora Objetiva, 2011; p. 161; 167-169.
a) Que processos históricos foram detectados pelo autor nos trinta primeiros anos do século XIX?
b) Que relação o autor estabelece entre tráfico de escravos e riqueza no Brasil colonial?
c) O que se pode concluir sobre o destino da produção colonial brasileira com base no texto?
ARAÚJO, Jurandir de Almeida. Racismo, violência e direitos humanos: pontos para o debate. Disponível em:
<http://www2.faac.unesp.br/ridh/index.php/ridh/articje/download/177/93>. Acesso em: 17 maio 2016.
c) Segundo o autor, de que forma a polícia brasileira se relaciona com os cidadãos e cidadãs?
d) Em dupla. Reflitam e opinem: vocês concordam com o autor quando ele diz que “quanto mais
escura a pele da pessoa, mais suscetível ela está de ser vítima de violência por parte da polícia”?
Justifiquem e postem a conclusão de vocês no blog da turma.
Página 226
Professor: o texto desta página dupla de abertura chama a atenção para o fato de que essas comunidades viviam na
invisibilidade: não tinham a atenção do Estado e nem existia nenhum tipo de lei que as protegessem de agressões externas
(a cobiça de grileiros, por exemplo). A Constituição Federal reconheceu a propriedade definitiva aos quilombolas, além de
compelir o Estado à emissão dos títulos. Pode-se comentar também que a Lei de Terras (1850), assunto desta unidade, foi
em grande parte alterada em favor dos ocupantes das áreas remanescentes dos quilombos; com o Art. 68 e o Art. 216
iniciou-se o processo de recuperação de espaços usurpados, por meios quase sempre violentos, ao longo de séculos de
história.
››Fonte 1
COMUNIDADES quilombolas de Minas Gerais no século XXI. História e resistência. Organizado por Centro de
Documentação Eloy Ferreira da Silva. Belo Horizonte: Autêntica/CEDEFES, 2008. p. 51.
››Fonte 2
Ricardo Funari/Olhar Imagem
›› Fonte 3
Na fonte 2, casa no quilombo Itamatatiua em Alcântara (MA), 2009. A fonte 3 registra a Festa
Marujada no Quilombo Mangal e Barro Vermelho, município Sítio do Mato (BA), 2015.
Página 227
››Fonte 4
Pedro Ladeira/SambaPhoto
››Fonte 5
Fonte 4: comunidade quilombola dos Kalunga, durante festa religiosa no Vão do Moleque, próximo
a Cavalcante (GO), 2006. Fonte 5: agricultura com arado em comunidade quilombola, Pelotas (RS),
2008.
Professor: a ideia é partir da comemoração da Semana Farroupilha para estimular o aluno a conhecer as lutas que os
sulistas travaram contra o Império entre 1835 e 1845 e o contexto em que isso ocorreu. Sugerimos trabalhar também a
memória construída em torno da Farroupilha e, ao mesmo tempo, evidenciar os laços que unem o passado ao presente.
Comentar a presença dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) em muitos estados brasileiros, chamando a atenção para a
força da cultura tradicional gaúcha no Brasil como um todo. Lembrar que no fechamento da Semana Farroupilha ocorrem
desfiles, a cavalo ou em charretes, que reúnem em todo o Rio Grande do Sul milhares de pessoas trajando as vestimentas
típicas – os homens usam bombachas, botas, lenços e chapéus de aba larga; e as mulheres usam vestidos de prenda, rodados
e coloridos, e flores nos cabelos.
Regências: a unidade
Capítulo 12
ameaçada
Leia com atenção esta notícia.
Joel Vargas/PMPA
Milhares de pessoas passaram na manhã deste domingo, 20, pela avenida Edvaldo Pereira
Paiva (Beira-Rio) para prestigiar o tradicional desfile cívico do 20 de Setembro. Neste ano, o
festejo trouxe como tema O Campeirismo e os 180 anos da Revolução Farroupilha. […]
[...] coreógrafos [...] coordenaram o espetáculo de teatro a céu aberto. […] cerca de 800
cavalarias e 55 entidades tradicionalistas participaram do desfile cívico.
[…]
BARROS, Bibiana. Desfile Farroupilha comemora os 180 anos da Revolução. Porto Alegre: Prefeitura de Porto Alegre,
2015. Disponível em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/acampamentofarroupilha/default.php?p_noticia=
180946&DESFILE+FARROUPILHA+COMEMORA+OS+180+ANOS+DA+REVOLUCAO>. Acesso em: 11 abr. 2016.
Vimos que, ao se ver isolado politicamente e sob forte pressão popular, D. Pedro I
abdicou, em 1831, em favor de seu filho Pedro de Alcântara, que tinha apenas 5
anos de idade.
O avanço liberal
No dia da abdicação, a Assembleia estava em recesso, por isso os poucos deputados
e senadores que estavam no Rio de Janeiro só puderam escolher regentes
provisórios. Em junho de 1831, a Assembleia elegeu o brigadeiro Francisco de
Lima e Silva, além dos deputados João Bráulio Muniz e José da Costa Carvalho, para
compor a Regência Trina Permanente. O Ministério da Justiça foi entregue ao
padre paulista Diogo Antônio Feijó.
DIALOGANDO...
b) No tempo das Regências, eram comuns o mandonismo local e o uso privado de cargo
público. No Brasil de hoje isso ainda acontece?
Professor:
a) a intenção do governo era armar cidadãos considerados confiáveis (leia-se: dispostos a reprimir as revoltas populares).
b) A intenção é levar os alunos a refletir sobre o presente e a se posicionar, aprendendo a argumentar e a contestar
argumentações.
Aos fazendeiros mais ricos foi concedida a patente de coronel da Guarda Nacional,
a mais alta de todas elas. Cada um deles organizava um destacamento com homens
de sua confiança e com recursos próprios, conseguindo com isso um grande poder
local.
Coronel: nome dado aos ricos fazendeiros que chefiavam a Guarda Nacional e tinham grande poder político
nas suas localidades.
Juiz de paz: magistrado não remunerado e sem formação profissional específica, eleito localmente em cada
distrito.
»» aboliu o Conselho de Estado, órgão bastante impopular que tinha sido criado
por D. Pedro I, mas conservou a vitaliciedade do Senado;
1. Dica! Vídeo didático explicando o que foi e como foi aplicado o Ato Adicional de 1834.
[Duração: 7 minutos.] Acesse: <http://tub.im/7j6z8m>.
Diogo Antônio Feijó (1784-1843) foi padre, deputado, senador e ministro da Justiça. Foi o primeiro
chefe do poder Executivo brasileiro a ser escolhido em eleição nacional. Era líder da ala
progressista do grupo moderado, favorável à descentralização política (maior autonomia para as
províncias). Outra de suas bandeiras foi a luta contra o celibato clerical.
Durante seu governo, Feijó teve de enfrentar vários desafios, entre os quais a
eclosão de duas das maiores rebeliões regenciais: a Cabanagem, no Norte, e a
Farroupilha, no Sul. Para reprimir essas rebeliões nas províncias, Feijó precisava
de recursos que deveriam ser aprovados pela Câmara dos Deputados, porém a
maioria dessa Câmara movia uma pesada oposição contra ele, que nada podia fazer
pois o Ato Adicional de 1834 não o autorizava a dissolvê-la.
Além de se oporem a Feijó, os deputados da oposição o acusavam de não reprimir
com firmeza as revoltas provinciais e de ser anticelibatário. Em 1837, o deputado
e jornalista Evaristo da Veiga, principal aliado de Feijó, faleceu, aumentando ainda
mais seu isolamento político.
Anticelibatário: contrário a que os padres se mantivessem solteiros. Feijó era de fato favorável ao
casamento dos padres, tema que gerou grande polêmica na época e lhe rendeu vários adversários.
2. Dica! Vídeo sobre o governo do padre Feijó e as forças políticas atuantes no Brasil da época.
[Duração: 9 minutos.] Acesse: <http://tub.im/nendqk>.
Seu sucessor legal, Pedro de Araújo Lima, era, além de um político experiente e
formado em Coimbra, senhor de engenho em Pernambuco e politicamente
conservador. Ele, que no ano seguinte foi eleito regente com mais de 4 mil votos,
também era radicalmente contrário à descentralização política; por isso deu início
ao Regresso, uma política de fortalecimento do poder central que tinha o apoio de
representantes da cafeicultura e dos grandes comerciantes do Sudeste.
Página 232
Desenho aquarelado, de 1860, que mostra o figurino do uniforme dos membros efetivos do
Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. O modelo era o do Instituto Histórico de Paris, que serviu
de inspiração para o brasileiro.
Página 233
» a Cabanagem (1835-1840);
» a Sabinada (1837-1838);
» a Balaiada (1838-1841).
A Cabanagem
Insurreição de escravos e rebeliões sociais nas Regências
Allmaps
Fonte: ATLAS histórico IstoÉ: Brasil 500 anos. São Paulo: Editora Três, 1998. p. 57.
Editoria de arte
Fonte de pesquisa: FAZOLI FILHO, Arnaldo. O período regencial. 2. ed. São Paulo: Ática, 1994. p. 55.
Ricardo Oliveira/Tyba
Dos tempos da Cabanagem para cá, a área correspondente ao Grão-Pará mudou muito, como se
pode ver na fotografia acima, que capta uma vista noturna do bairro Nossa Senhora das Graças, em
Manaus (AM), em junho de 2015.
Mas ao longo do rio Negro continuam existindo palafitas (veja imagem acima, em uma fotografia
também atual), construções semelhantes àquelas em que os cabanos viviam.
Reagindo a essa situação, em 1835, homens ricos e influentes, aliados aos cabanos,
invadiram o Palácio do Governo, em Belém, e entregaram a chefia do primeiro
governo cabano ao fazendeiro Félix Melcher. Iniciava-se assim a Cabanagem.
Melcher, porém, traiu o movimento e prometeu fidelidade ao futuro imperador.
Diante disso, outro líder da revolta, Francisco Vinagre, venceu Melcher pelas armas
e assumiu o segundo governo cabano.
O governo do padre Feijó, por sua vez, enviou ao Grão-Pará, em 1836, uma
esquadra comandada pelo brigadeiro Soares d’Andrea, que retomou a cidade de
Belém. A repressão à Cabanagem foi brutal. Soares d’Andrea mandou prender e
fuzilar cabanos sem julgamento prévio.
DIALOGANDO
Resposta pessoal. Professor: a questão visa estimular a reflexão sobre a noção de justiça.
Pedro Weingärtner. Séc XIX. Óleo sobre tela. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
Chegou tarde, do artista porto-alegrense de origem alemã Pedro Weingärtner. A obra mostra o
interior de uma casa do Rio Grande do Sul, no século XIX. Repare nas roupas dos personagens.
A população da província de São Pedro do Rio Grande era de cerca de 150 mil
pessoas, das quais somente 10% viviam em Porto Alegre, sua capital.
1. Dica! Vídeo sobre a Guerra dos Farrapos com contribuição de vários historiadores. [Duração:
25 minutos.] Acesse: <http://tub.im/okw3wf>.
2. Dica! Cenas de minissérie que tem como pano de fundo a Guerra dos Farrapos. [Duração: 4
minutos.] Acesse: <http://tub.im/oxfwoz>.
Painel Epopeia Rio-Grandense, Missioneira e Farroupilha, em Porto Alegre (RS), 2012. Esta obra de
Danúbio Gonçalves é uma homenagem à cavalaria e ao líder farroupilha Bento Gonçalves, figuras
decisivas do movimento que agitou o sul do Brasil no século XIX. A cavalaria foi a principal arma
dessa luta prolongada.
Então, para pôr fim à guerra, Caxias, que representava o braço armado do Império,
propôs a chamada “paz honrosa”. Por meio deste acordo de paz assinado em 1845:
1. Dica! Vídeo pedagógico em que uma avó ensina a sua neta sobre a Guerra dos Farrapos.
[Duração: 11 minutos.] Acesse: <http://tub.im/i3fnxz>.
2. Dica! Reportagem sobre o Museu de Piratini (RS) apresentando importantes fontes escritas e
materiais para o estudo da Guerra dos Farrapos [Duração: 9 minutos.] Acesse:
<http://tub.im/cv2dpk>.
DIALOGANDO
Resposta pessoal. Professor: lembrar que o governo imperial atendeu a várias exigências dos farroupilhas.
Para refletir
A participação negra na Guerra dos Farrapos
[...]
Estima-se que em alguns momentos os lanceiros negros, como ficaram conhecidos estes
soldados, tenham representado metade do exército rio-grandense. O africano José, de nação
angola, foi um desses homens que sonharam em conquistar a liberdade pegando em armas. [...]
[...]
Somente nos últimos anos a importância e a dimensão da participação negra neste conflito têm
recebido maior atenção. Hoje é possível afirmar com segurança que negros, índios e mestiços
desempenharam papel fundamental na Guerra dos Farrapos não somente como soldados, mas
também trabalhando em diversos outros setores importantes da economia de guerra, como
nas estâncias de gado, na fabricação de pólvora e nas plantações de fumo e erva-mate
cultivadas pelos rebeldes.
[...]
OLIVEIRA, Vinicius Pereira de; SALAINI, Cristian Jobi. Escravos farrapos. Revista de História, Rio de Janeiro, 19 nov.
2010. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/escravos-farrapos>. Acesso em:
7 maio 2016.
Juan Manuel Blanes. Séc. XIX. Óleo sobre tela. Coleção particular
Retrato de um Lanceiro Negro, de Juan Manuel Blanes (1830-1901). Pesquisas recentes apontam
para uma intensa participação de negros na Guerra dos Farrapos.
a) O engajamento dos escravizados nas fileiras farroupilhas pode ser considerado
uma forma de resistência negra na história do Brasil?
a) Sim, pois os escravizados aderiram à causa farroupilha mediante a promessa de que, ao final do conflito, eles obteriam a
liberdade.
b) “A questão da abolição era controversa entre seus líderes. Ao mesmo tempo em que o governo rebelde prometia
liberdade aos escravos engajados e condenava a continuidadedo tráfico de escravos, seu jornal oficial, O Povo, estampava
anúncios de fugas de cativos.”
c) Esse silêncio demorado no tocante à participação dos negros pode ser associado ao predomínio de uma história
eurocêntrica de viés positivista, seja nos estudos acadêmicos, seja nos livros escolares brasileiros. A invisibilidade dos
negros e a recusa em vê-los como sujeitos históricos são desdobramentos do predomínio dessa abordagem na história
escrita e ensinada no Brasil.
d) Resposta pessoal.
Página 238
Aquarela representando Gezo, personagem que havia sido rei do Daomé (atual Benin, na África).
Entre os africanos escravizados trazidos para o Brasil havia líderes religiosos, políticos e militares,
e até mesmo reis, a exemplo deste representado na imagem.
Acima, vista interna de uma loja, década de 1990, isto é, porão de um sobrado. Em uma dessas lojas,
no centro de Salvador, viviam os africanos libertos Manuel Calafate e Aprígio, ambos de origem
iorubá e líderes da Revolta Escrava de 1835. Fotografia de João José Reis.
Dica! Vídeo sobre a matriz afro na formação da cidade de Salvador. [Duração: 23 minutos].
Acesse: <http://tub.im/85h5uo>.
Vodum: nome dado às divindades nos cultos jejes; equivalente a inquice, na cultura angola, e orixá, no Ketu.
O culto malê era uma combinação de elementos das religiões africanas e dos
princípios muçulmanos contidos no Corão (o livro sagrado dos muçulmanos). Os
malês não comiam carne de porco, jejuavam às sextas-feiras e, uma vez por ano,
faziam uma dieta especial à base de inhame, língua de vaca, arroz, leite e mel. O
tempo de duração desse sacrifício é conhecido como Ramadã (mês do jejum
muçulmano).
Dica! Vídeo produzido pelo Centro de Memória da Bahia sobre a Revolta dos Malês. [Duração: 9
minutos]. Acesse: <http://tub.im/hk7oy3>.
Acima, Festa do Nosso Senhor do Bonfim, no Benin, África, 2011. Essa festa organizada por
descendentes de brasileiros, os agudás, foi levada para a África por negros que haviam sido
escravizados no Brasil
Max Haack/Prefeitura de Salvador
Aspecto da Festa do Senhor do Bonfim, na Bahia, 2015. O ritual, que se repete todos os anos desde
1754, reúne milhares de pessoas e acontece sempre na segunda quinta-feira posterior ao Dia de
Reis, no mês de janeiro.
A Sabinada
Na Bahia, era grande a insatisfação com a política centralizadora do governo
instalado no Rio de Janeiro. Os principais motivos dessa insatisfação eram: o envio
obrigatório de rendas para o Rio de Janeiro; a necessidade de fornecer soldados
para lutar no Sul; e a prolongada crise de abastecimento que provocava carestia e
fome.
Praça da Piedade, tendo ao fundo o Convento de Nossa Senhora da Piedade, em Salvador. Produzida
por J. M. Rugendas, a imagem mostra vários grupos da sociedade baiana da época da Sabinada.
Em detalhe, acima, cadeirinha de arruar, usada para o transporte de pessoas. Em estilo rococó, com
assento de madeira, cabeceira de couro, almofada, essa cadeira encontra-se no Museu Paulista da
Universidade de São Paulo.
A Balaiada
Ocorrida nas terras do atual Maranhão e do Piauí, entre 1838 e 1841, a Balaiada
teve suas raízes na luta da população pobre contra a opressão, na luta dos políticos
provinciais por autonomia em relação ao Império, nos conflitos por hegemonia na
respectiva província e também nas dificuldades econômicas enfrentadas pelo
Nordeste no período regencial.
Este enviou para o Maranhão cerca de 8 mil homens sob o comando de Luís Alves
de Lima e Silva. A repressão ao movimento efetuou torturas, prisões e milhares de
execuções sem direito à defesa. Calcula-se que cerca de 11 mil balaios tenham
morrido em combate com as tropas imperiais. Quanto aos líderes, Manuel
Francisco dos Anjos morreu lutando, Raimundo Gomes foi expulso do Maranhão e
Cosme Bento das Chagas acabou preso e enforcado em praça pública para servir de
exemplo aos que ousassem desafiar as elites imperiais.
Dica! Reportagem sobre a importância histórica da Balaiada nos dias atuais. [Duração: 4
minutos.] Acesse: <http://tub.im/ygusg7>.
Cesar Diniz/Pulsar Imagens
Acima, no jardim do Memorial, vê-se a estátua do vaqueiro Raimundo Gomes. Repare que a obra
está protegida por uma cerca, provavelmente porque depredações de monumentos têm sido
comuns em todo o Brasil. Fotografia de 2014.
Moisés Saba/Fotoarena
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (UFMG – 2013) Leia o trecho:
O sete de abril de 1831, mais do que o sete de setembro de 1822, representou a verdadeira
independência nacional, o início do governo do país por si mesmo, a Coroa agora representada
apenas pela figura quase simbólica de uma criança de cinco anos. O governo do país por si
mesmo [...] revelou-se difícil e conturbado. Rebeliões e revoltas pipocaram por todo o país,
algumas lideradas por grupos de elite, outras pela população tanto urbana como rural, outras
ainda por escravos.
CARVALHO, J. Murilo et al. Documentação política, 1808-1840. Brasiliana da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro:
Fundação Biblioteca Nacional/Nova Fronteira, 2011. s/p.
a) Explique o sentido da frase considerando o seu contexto histórico: “a Coroa agora representada
apenas pela figura quase simbólica de uma criança de cinco anos”.
1. a) Em 1831, D. Pedro I abdicou do trono em favor de seu filho Pedro de Alcântara, que tinha apenas 5 anos de idade. Esse
momento representou a consolidação de um processo de rompimento com a Coroa portuguesa, uma vez que o Brasil passou
a ser governado por brasileiros.
b) Apresente dois fatores que contribuíram para as conturbações políticas e sociais que levaram às
rebeliões e às revoltas do período.
1. b) Entre os fatores que contribuíram para as conturbações políticas e sociais do período podemos citar a luta de indígenas,
mestiços, negros e brancos pobres por liberdade e melhores condições de vida e o desejo de as elites das províncias terem
maior autonomia diante do poder imperial.
Com relação à Guarda Nacional, criada durante o Império, é CORRETO afirmar que:
a) funcionava como única força armada que podia defender os interesses dos escravistas e coibir a
fuga dos escravos.
d) atuava na defesa das fronteiras externas brasileiras, impedindo a expansão dos países platinos
em direção ao território brasileiro.
2. Resposta: c.
3. (UFRGS-RS – 2014) Durante a regência de Araújo Lima (1837-1840), foram criadas algumas
instituições político-culturais, com o objetivo de produzir uma história da nação, que conferisse aos
brasileiros um sentimento de pertencimento e de nacionalidade, e assim de auxiliar na
centralização e fortalecimento do Estado.
a) a Guarda Nacional.
3. Resposta: b.
4. (UFC-CE) O período regencial brasileiro (1831- 1840) foi marcado por rebeliões e revoltas, em
várias províncias, que expressavam as diferentes lutas políticas e sociais. Em relação à composição
dos grupos que participaram da Cabanagem (1835-1840), assinale a alternativa correta.
a) As elites agrárias atuaram no movimento, defendendo uma partilha de terras que incluísse os
camponeses.
d) Os militares revoltosos lutaram contra as elites, pois eram a favor da abolição da escravatura.
e) Os elementos oriundos das camadas mais pobres tiveram papel de destaque na liderança do
movimento.
4. Resposta: e.
Em nome do povo do Rio Grande, depus o governador Braga e entreguei o governo ao seu
substituto legal Marciano Ribeiro. E em nome do Rio Grande do Sul eu lhe digo que nesta
província extrema [...] não toleramos imposições humilhantes, nem insultos de qualquer
espécie. [...] O Rio Grande é a sentinela do Brasil, que olha vigilante para o Rio da Prata. Merece,
pois, maior consideração e respeito. Não pode e nem deve ser oprimido pelo despotismo.
Exigimos que o governo imperial nos dê um governador de nossa confiança, que olhe pelos
nossos interesses, pelo nosso progresso, pela nossa dignidade, ou nos separaremos do centro e
com a espada na mão saberemos morrer com honra, ou viver com liberdade.
Bento Gonçalves [carta ao Regente Feijó, setembro de 1835] apud Sandra Jatahy Pesavento. A Revolução Farroupilha,
1986.
5. Resposta: a.
O balaio entrou!
O balaio entrou!
Cadê o branco?
Não há mais branco!
Não há mais branco!
SOARES, Claudete Maria Miranda Dias. Balaios e bem-te-vis: a guerrilha sertaneja. Teresina: Instituto Dom Barreto,
2002. p. 117.
6. Os versos sugerem que a luta dos balaios se voltou também contra o escravismo e o racismo presentes na sociedade
maranhense daquela época. [Como observou uma historiadora: “Em seu momento de maior radicalização, os balaios vão
priorizar a reivindicação de direitos iguais para o ‘povo de cor’ (tanto ‘cabras’ quanto ‘caboclos’) [...]” (MATTOS, Hebe Maria.
Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. p. 28).]
Esse viés [...] caracterizou os poemas da primeira fase do Romantismo e se manifestou também
em inúmeros romances indianistas publicados ao longo do século XIX. Assim, a literatura
romântica ajudou a determinar e difundir os símbolos representativos da jovem nação
brasileira, que recentemente havia conseguido sua liberdade política da metrópole
portuguesa, em 1822.
TORRALVO, Izeti Fragata; MINCHILLO, Carlos Cortez. Linguagem em movimento. São Paulo: FTD, 2010. p. 32.
DIAS, Gonçalves. Poesia completa e prosa escolhida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1959. p. 103.
b) Trechos da “Canção do exílio” foram incorporados ao Hino Nacional. Você saberia dizer quais?
Modernização, mão de
Capítulo 13
Vista externa da casa-grande da Fazenda Boa Vista, 2011. Na fotografia é possível observar seus
vários cômodos.
Professor: essa e outras centenas de fazendas do Vale do Paraíba são documentos materiais do enorme poder que os
cafeicultores da região tiveram nos tempos do Império. Em geral, o capital empregado na construção ou reconstrução dessas
casas era originário da venda de café para o exterior, café este produzido e transportado por africanos escravizados trazidos
aos milhares pelo tráfico atlântico. Sugerimos comentar que a Fazenda Boa Vista é um importante ponto turístico do Vale do
Paraíba na atualidade.
Imagem de Dom Pedro com 12 anos de idade; repare que, antes mesmo de assumir o trono, ele é
mostrado como comandante em chefe das Forças Armadas. Dois anos depois, com 15 anos
incompletos, ele assumiu o poder.
O golpe da maioridade
Interessados em derrubar os conservadores e manter privilégios ameaçados por
rebeliões, como a Balaiada e a Farroupilha, os liberais passaram a divulgar que só
um imperador poderia “salvar a nação” da desordem. Como Pedro de Alcântara
contava com apenas 14 anos, eles lançaram uma campanha em jornais e revistas
em prol da antecipação da maioridade, que logo ganhou o apoio de boa parte da
população.
Justiça: pela Reforma do Código do Processo Criminal, aprovada em 3 de dezembro de 1841, o ministro da
Justiça – como representante do imperador – passava a ser responsável pela nomeação dos chefes de polícia,
dos comandantes da Guarda Nacional e de quase todos os magistrados.
DIALOGANDO
b) A charge ironiza o uso da violência nas disputas entre liberais e conservadores. Professor: comentar que a violência e a
fraude foram usadas tanto pelos liberais quanto pelos conservadores.
Página 247
Dica! Reportagem sobre o município de Silveiras (SP), palco de algumas revoltas liberais de 1842.
[Duração: 2 minutos]. Acesse: <http://tub.im/xq3xmr>.
A Rebelião Praieira
Em Pernambuco, durante boa parte da história do Império, o poder esteve nas
mãos das famílias tradicionais. Duas dessas famílias, os Rego-Barros e os
Cavalcanti, unidas por laços de parentesco, governaram a província de 1837 a
1844. Durante esse período, usaram o poder público em favor de seus interesses,
além de colocar seus familiares nos principais cargos públicos, gerando assim
grande descontentamento popular.
Cavalcanti: eram donos de um terço dos engenhos pernambucanos. Havia pessoas dessa família tanto no
Partido Liberal quanto no Conservador que, em Pernambuco, tinha seus membros apelidados de gabiru (rato
grande).
Esta gravura do século XIX é um indício de que a sociedade pernambucana dos tempos da
Revolução Praieira era altamente hierarquizada. Ao centro, vemos escravizados trabalhando
descalços. Na calçada da esquerda, um bacharel com fraque e cartola; na da direita, um homem, que
parece ser um fazendeiro, conversando com uma senhora da elite.
Página 248
No campo militar, os praieiros comandados pelo capitão Pedro Ivo, por Felix de
Brito Melo ou pelo crioulo Elias, líderes populares da revolta, conseguiram
algumas vitórias. Ao tentarem conquistar Recife, no entanto, foram derrotados
pelas tropas imperiais. Os principais líderes foram condenados à prisão perpétua,
mas acabaram anistiados em 1852. Com a Praieira encerrou-se, por assim dizer, o
ciclo de revoltas ocorridas no Império entre 1831 e 1850, e teve início um período
marcado por progresso econômico e certa estabilidade política.
Presidente do Conselho de Ministros: cargo equivalente ao de primeiro-ministro que foi criado por D.
Pedro II em 1847.
Imagem de Dom Pedro II distribuindo favores a políticos: prática habitual no Império brasileiro.
Saquarema: apelido dado aos conservadores, em função do município fluminense de Saquarema, no qual os
líderes do partido tinham terras e escravizados.
Luzia: apelido dado aos liberais por ter sido Santa Luzia (MG) o lugar em que eles sofreram sua maior
derrota, em 1842.
Dica! Documentário sobre os imigrantes nas plantações de café no norte do Paraná. [Duração
total: 19 minutos]. Dividido em duas partes. Para a primeira parte, acesse:
<http://tub.im/wb6ipr>.
Página 250
Thomas Crane. 1882. Desenho. Coleção particular. Foto: Culture Club/Getty Images
Desenho de 1882 mostrando uma família inglesa, em férias, tomando café ao ar livre em um parque
de Paris, na França; note que o garçom serve a família que, pelos trajes, parece ser rica.
A imagem, de cerca de 1885, mostra escravizados com peneiras e outros instrumentos de trabalho
saindo para a colheita de café em fazenda do Vale do Paraíba.
Página 251
2. Dica! Documentário que aborda o impacto da produção do café na São Paulo do século XIX.
[Duração: 27 minutos]. Acesse: <http://tub.im/kqfwuc>.
Allmaps
Fonte: RODRIGUES, João Antonio. Atlas para Estudos Sociais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1977. p. 26.
Acompanhe a expansão das fazendas de café durante os séculos XIX e XX. Em 1819, o Nordeste
concentrava 51,2% da população escravizada do país; em 1870, a maioria dos escravizados (quase
60%) trabalhava no Sudeste.
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Fonte de pesquisa: FAUSTO, Boris. História do Brasil. 6. ed. São Paulo: Edusp, 1998. p. 191.
Modernização no Império
Um dos fatores de modernização do Império na segunda metade do século XIX foi a
construção de uma malha ferroviária que agilizou o transporte de mercadorias
brasileiras até os portos do litoral. Com apenas 14 km de extensão, a primeira
ferrovia foi uma iniciativa do empresário brasileiro Irineu Evangelista de Souza, o
Barão de Mauá, em 1854, e ligava a baía de Guanabara à Serra de Petrópolis, no Rio
de Janeiro. No Nordeste, a necessidade de escoamento da produção agrícola,
sobretudo a de açúcar, estimulou um empreendimento
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pioneiro financiado por capitais ingleses: a construção da Recife and São Francisco
Railway, iniciada em Pernambuco, em 1855. Três anos depois era inaugurada esta
que é a segunda ferrovia brasileira, e que ligava a capital de Pernambuco ao
município do Cabo.
Café e ferrovias
Já no Centro-Sul, quase toda a malha ferroviária foi construída visando ao
escoamento do café. Pensando em agilizar o transporte desse produto, o Barão de
Mauá planejou a construção de uma ferrovia ligando Jundiaí a Santos, passando
pela cidade de São Paulo. O plano de Mauá se concretizou em 1868, com a
inauguração da São Paulo Railway. Os capitais, os técnicos e os materiais usados
na construção dessa importante ferrovia eram, no entanto, predominantemente
ingleses.
São Paulo Railway: ela foi chamada também de Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.
A partir de Jundiaí, o avanço dos trilhos foi inteiramente financiado por capitais
brasileiros, principalmente dos cafeicultores do Oeste Paulista, que pensavam
como empresários: compravam terras, importavam máquinas e investiam na
expansão das ferrovias.
Trecho da São Paulo Railway, no topo da Serra do Mar em uma fotografia de Marc Ferrez, 1895. No
quarto mês de funcionamento, a ferrovia já permitia aos ingleses um lucro de 300%. Com a
construção da Santos-Jundiaí, os ingleses garantiram uma posição estratégica que lhes assegurava o
controle do escoamento de todo o café produzido no interior paulista.
Página 254
Dica! Vídeo didático explicando a Lei Eusébio de Queirós. [Duração: 3 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/y7ew3w>.
Uma das principais iniciativas de Mauá foi a compra de uma pequena fundição e
estaleiro com o nome de Ponta da Areia (1846), em Niterói, no Rio de Janeiro. Em
pouco tempo, o estabelecimento já fabricava tubos para encanamentos, navios a
vapor e trilhos de ferro. Outra importante empresa de Mauá foi a Companhia de
Iluminação a Gás da cidade do Rio de Janeiro, que, a partir de 1854, passou a
fornecer luz para as ruas e residências da capital do Império.
Acima, a casa desse barão em Petrópolis (RJ), que hoje abriga a Secretaria de Educação da cidade,
2012.
Página 255
Tumbeiro (nome dado aos navios negreiros usados no Brasil por causa da alta taxa de mortalidade
dos escravizados transportados) sendo atacado pela marinha inglesa, em uma gravura do século
XIX.
»» 1831: Uma lei brasileira declara ilegal o comércio de escravizados para o Brasil.
Essa lei, no entanto, permaneceu letra morta, isto é, sem valia.
»» 1845: O Parlamento inglês aprovou a Bill Aberdeen, lei proposta pelo ministro
inglês George Aberdeen que autorizava a Marinha inglesa a prender ou
bombardear os navios negreiros, e a levar os contraventores para serem julgados
na Inglaterra. A Bill Aberdeen foi uma represália à Tarifa Alves Branco, que elevava
as taxas sobre os produtos importados e contrariava, assim, os interesses ingleses.
A tabela abaixo mostra o número de escravizados trazidos para o Brasil entre 1845
e 1850. Note que, ao perceber que o tráfico atlântico se aproximava do fim, os
proprietários passaram a comprar mais africanos para as suas lavouras.
ANO Nº DE ESCRAVIZADOS
1845 19 453
1846 50 325
1847 56 172
1848 60 000
1849 54 000
1850 23 000
Fonte de pesquisa: COSTA, Emília Viotti. Da senzala à colônia. São Paulo: Unesp, 1998.
negreiro para o Brasil. Este passava a ser considerado crime, ato de pirataria, e
como tal seria julgado. A proibição do tráfico, porém, colocava um problema para
os proprietários escravistas: quem iria trabalhar para eles quando a escravidão
fosse extinta? Em um país com muita terra disponível, como fazer para que o
trabalhador não se estabelecesse como posseiro?
DIALOGANDO
Atualmente o Brasil continua sendo um país em que a terra se encontra concentrada nas
mãos de poucos?
Sim; segundo dados do Incra, a concentração de terras aumentou no Brasil em anos recentes. Entre 2010 e 2014, as grandes
propriedades privadas passaram de 238 milhões para 244 milhões de hectares. Quase a metade das propriedades rurais está
nas mãos dos grandes fazendeiros.
Para refletir
O quadro a seguir, chamado por alguns de A redenção de Cam e, por outros, de A
marca de Caim, é de autoria de Modesto Brocos y Gomez. A obra é uma pintura a
óleo e data de 1895.
Modesto Brocos y Gomez. 1895. Óleo sobre tela. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
a) A avó negra, cuja filha é mestiça, agradece a Deus pelo fato de o seu neto ter nascido branco, isto é, por ter a cor da pele do
pai dele.
b) A intenção do artista neste quadro é mostrar que a criança branca veio redimir a sua família da “marca de Caim”, isto é, da
cor negra. O bebê puxou ao pai: não traz na pele a cor da avó e nem a de sua mãe. Isto explica as mãos erguidas da avó.
c) Segundo ele, em 100 anos, a contar de 1910, a população brasileira seria totalmente branca, por meio de intensa
miscigenação; assim, os negros e os mestiços desapareceriam das terras brasileiras.
d) Segundo a projeção feita pelo IBGE em janeiro de 2016 a população brasileira é de 205.416.315 habitantes, e os negros e
pardos somam 53,6% da população.
e) Em grupo. O Brasil é um país que apresenta uma rica diversidade étnica e
cultural. Reflitam, debatam e proponham medidas educativas que contribuam para
o respeito à diversidade. Postem o trabalho no blog da turma.
e) Resposta pessoal.
Imigrantes no Brasil
A opção pelo imigrante como solução para o problema de mão de obra estimulou a
vinda de milhares de europeus para o Brasil. O que os impulsionou a virem para cá
no tempo do Império foi a busca de trabalho e o desejo de ter uma terra própria.
Eram, em sua maioria, pessoas pobres, que fugiam das guerras e da carência de
terras agricultáveis e vinham para um país jovem, que a propaganda apresentava
como um “paraíso”, com muitas terras e clima saudável.
Antônio Rocco, c. 1910. Óleo sobre tela. Pinacoteca do Estado, São Paulo. Foto: Nelson Toledo
ALVIM, Zuleika. Imigrantes: a vida privada dos pobres do campo. In: NOVAIS, Fernando; SEVCENKO, Nicolau. História
da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 233.
Pintura de Rosalbino Santoro intitulada Terreiro de café, 1903. Na tela, o artista recriou o que de
fato acontecia em algumas fazendas: imigrantes dividiam o trabalho com os negros. No canto
superior direito, vemos a casa-grande e o que parece ser uma capela. À esquerda e ao fundo, vemos
as casas dos trabalhadores. Entre os dois trabalhadores à direita, e mais ao fundo, vemos a figura de
um capataz inspecionando o trabalho.
Uma das primeiras foi a colônia alemã de São Leopoldo, criada em 1824, próxima
de Porto Alegre. A colonização alemã também se estendeu a Santa Catarina, onde o
pioneiro Hermann Bruno Otto Blumenau fundou a colônia Blumenau. Ele se
empenhou em trazer da Alemanha pessoas das mais variadas profissões. Os 17
primeiros colonos chegaram a Blumenau em 2 de setembro de 1850, sendo a
maioria deles do meio rural. Dr. Blumenau, como era mais conhecido, tinha uma
única exigência: que todos começassem a vida como pequenos proprietários,
artesãos, pequenos comerciantes ou exercendo uma profissão liberal. Ele não
queria ninguém trabalhando como assalariado para um grande proprietário. Com
isso, Otto Blumenau ajudou a implantar no Brasil um novo tipo de colonização,
baseada na pequena propriedade e na policultura. Introduziu também um novo
tipo de mentalidade, divulgando a ideia de que, por meio do trabalho, era possível
melhorar de vida e conseguir autonomia (no Brasil daquela época, o trabalho era
visto como coisa de escravizado). 1 e 2
1. Dica! Reportagem sobre a imigração alemã em São Leopoldo (RS). [Duração: 6 minutos].
Acesse: <http://tub.im/rf826b>.
Acima, bonecas Frida em loja do parque Vila Germânica, Blumenau, (SC), 2010.
Já os italianos começaram a chegar ao Sul por volta de 1875. No Rio Grande do Sul
fundaram as colônias de Caxias (hoje Caxias do Sul), Conde D’Eu (atual Garibaldi) e
Dona Isabel (hoje Bento Gonçalves). Em pouco tempo, a colonização italiana
avançou e se espalhou por todo o nordeste gaúcho.
Um começo difícil
Alemães, italianos ou poloneses, os imigrantes tiveram um começo difícil no Brasil
– lotes reservados a eles ficavam distantes da cidade, as terras nem sempre eram
boas para o cultivo dos produtos agrícolas a que estavam acostumados e o
isolamento dificultava a adaptação e o progresso.
rias chegarem aos portos de Buenos Aires e Montevidéu, que, dali, seguiam para o
interior ou eram vendidas para a Europa.
Os países sul-americanos lutaram entre si pelo controle dos rios, das terras, do
gado e, sobretudo, do poder. O Império Brasileiro, por exemplo, interveio diversas
vezes na região platina. Em 1851, invadiu o Uruguai para derrubar o blanco
Manuel Oribe e colocar no poder o colorado Frutuoso Rivera. No ano seguinte,
invadiu a Argentina para depor o caudilho Juan Manoel Rosas. E, anos depois,
voltou a invadir o Uruguai para depor Atanásio Aguirre, que era aliado do ditador
paraguaio Solano López. O ditador, então, revidou mandando apreender o navio
brasileiro Marquês de Olinda, que seguia com destino ao Mato Grosso e, em 13 de
dezembro de 1864, declarou guerra ao Brasil dando início à Guerra do Paraguai.
1e2
2. Dica! Vídeo abordando polêmicas sobre a Guerra do Paraguai que até hoje provocam
divergências entre Brasil e Paraguai. {Duração: 14 minutos]. Acesse: <http://tub.im/ci3ec7>.
Para o historiador Ricardo Salles, por exemplo, o Brasil tinha interesse em impedir
a formação de um Estado nacional forte nas terras onde hoje estão Uruguai,
Paraguai e Argentina, assegurar a livre navegação nos rios da bacia platina e
garantir os ganhos territoriais nas áreas de fronteira.
A Argentina queria garantir a unidade do país, ameaçada pelo fato de que suas
províncias de Entre Rios e Corrientes queriam separar-se e formar países
independentes, contando para isso com o apoio do Paraguai.
Allmaps
Fontes: CAMPOS, Flávio de; DOLHNIKOFF, Miriam. Atlas: História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1994; ATLAS
histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1960; CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico Saraiva. São Paulo: Saraiva,
2009.
Numa primeira fase, por meio de manobras rápidas, o Paraguai obteve vitórias por
terra. Mas, nos rios, a Marinha de Guerra brasileira mostrou-se superior, vencendo
os paraguaios em junho de 1865, na batalha naval do Riachuelo, travada no rio
Paraná. Em setembro do mesmo ano, outra vitória aliada, desta vez por terra, em
Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
A segunda fase da guerra foi marcada por importantes vitórias dos aliados, apesar
da tenaz resistência paraguaia. Em 1868, sob o comando do Duque de Caxias, as
forças aliadas conquistaram a fortaleza de Humaitá e venceram importantes
batalhas, como as de Itororó, Avaí, Lomas Valentinas e Angostura, chamadas de
dezembradas por terem ocorrido no mês de dezembro. Essas vitórias facilitaram
o caminho para Assunção, capital do Paraguai, conquistada em janeiro de 1869.
Nesta gravura de 1868, publicada em um jornal paraguaio, o ditador Solano López é mostrado a
cavalo afugentando, com sua espada, o imperador Pedro II, que é mostrado no chão e de joelhos
dobrados. Ao contrário do que mostra a imagem, em 1868, o Paraguai estava perdendo a guerra e
Solano López vinha sendo obrigado a recuar.
Um balanço da guerra
O Brasil incorporou territórios, garantiu a ligação fluvial com o sul do Mato Grosso
e conservou a hegemonia na região, mas tudo isso a um custo muito alto. Os dados
oficiais falam em 23 917 mortos em combate; mas há estudos que estimam em 100
mil, entre civis e militares.
Os gastos com a guerra foram de 614 mil contos de réis, 11 vezes o orçamento do
governo brasileiro em 1864. O déficit gerado pela guerra atravessou décadas e
ocorreu um aceleramento da dívida externa brasileira, por causa dos empréstimos
contraídos com os banqueiros ingleses.
Juan Manuel Blanes. 1880. Óleo sobre tela. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
La Paraguaya, 1880. Repare como o pintor Juan Manuel Blanes recriou o ambiente de desolação e
perdas resultantes da guerra em solo paraguaio. Note também a ausência de homens com vida na
pintura, o que sugere um fato realmente acontecido: o elevado número de baixas registradas na
população masculina paraguaia.
Página 264
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Unesp-SP – 2012) A maioridade do príncipe D. Pedro foi antecipada, em 1840, para que ele
pudesse assumir o trono brasileiro. Entre os objetivos do chamado Golpe da Maioridade, podemos
citar o esforço de:
a) obter o apoio das oligarquias regionais, insatisfeitas com a centralização política ocorrida
durante o Período Regencial.
b) ampliar a autonomia das províncias e reduzir a interferência do poder central nas unidades
administrativas.
c) abolir o Ato Adicional de 1834 e aumentar os efeitos federalistas da Lei Interpretativa do Ato,
editada seis anos depois.
1. Resposta: e.
2. (UFPE) O ano de 1848 assistiu a várias revoluções na Europa como, por exemplo, na França e na
Itália. O espírito “quarenta e oito”, como se chamou este período, também atingiu o Brasil e,
particularmente, Pernambuco. Esta questão diz respeito à Revolução Praieira. ( ) A concentração da
propriedade fundiária e o monopólio do comércio a retalho pelos portugueses foram fatores que
provocaram a Revolução Praieira.
( ) O Partido da Praia, integrado por liberais pernambucanos, tinha no jornal o DIÁRIO NOVO um
instrumento de veiculação de suas ideias políticas.
2. Resposta: V , V , F, V, V.
3. (UERN – 2013)
O Brasil possui atualmente uma economia forte e sólida. O país é um grande produtor e
exportador de mercadorias de diversos tipos, principalmente commodities minerais, agrícolas
e manufaturados. As áreas de agricultura, indústria e serviços são bem desenvolvidas e
encontram-se, atualmente, em bom momento de expansão. Considerado um país emergente, o
Brasil ocupa o 7º lugar no ranking das maiores economias do mundo (dados de 2011). O Brasil
possui uma economia aberta e inserida no processo de globalização.
O Segundo Reinado é a fase da História do Brasil correspondente ao governo de D. Pedro II, que
teve início em 1840, com a mudança na constituição que declarou a maior idade de Pedro de
Alcântara, com 14 anos, tornando-o apto para assumir o governo. A administração de D. Pedro II,
que durante 49 anos esteve à frente do estado brasileiro, foi marcada por muitas mudanças sociais,
políticas e econômicas no Brasil. Quanto à economia do império nesse período,
d) nota-se que o café tomou posição de liderança nas exportações, possibilitando acúmulo de
capital.
3. Resposta: d.
Página 265
c) suspendeu por alguns anos o tráfico transatlântico de escravizados, que foi retomado nas
décadas seguintes.
4. Resposta: b.
5. (UERJ – 2015)
A Guerra do Paraguai (1864-1870) foi o conflito externo de maior repercussão para os países
envolvidos − Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai −, quer quanto à mobilização e perda de
homens, quer quanto aos aspectos políticos e financeiros. Essa guerra foi, na verdade,
resultado do processo de construção dos Estados nacionais no rio da Prata e, ao mesmo tempo,
marco nas suas consolidações.
Adaptado de DORATIOTO, F. F. M. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002.
Apresente dois motivos que expliquem essa guerra, tendo em vista as disputas na região do rio da
Prata durante a segunda metade do século XIX.
5. Entre os motivos da Guerra pode-se citar: disputa pela liderança regional entre o Brasil e a Argentina; controle da
navegação pelos rios Paraguai, Paraná e Uruguai; o desejo do Paraguai de conseguir uma saída para o mar.
Cheio de glória, coberto de louros, depois de ter derramado seu sangue em defesa da pátria e
libertado um povo da escravidão, o voluntário volta ao seu país natal para ver sua mãe
amarrada a um tronco horrível de realidade!...
Angelo Agostini. Séc. XIX. Coleção particular
AGOSTINI. A vida fluminense, ano 3, n. 128, 11 jun. 1870. In: LEMOS, R. (Org.). Uma história do Brasil através da
caricatura (1840-2001). Rio de Janeiro: Letras & Expressões, 2001 (adaptado).
Na charge, identifica-se uma contradição no retorno de parte dos “Voluntários da Pátria” que
lutaram na Guerra do Paraguai (1864-1870), evidenciada na
6. Resposta: a.
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VOZES DO PRESENTE
O trecho a seguir é uma entrevista concedida pelo professor Francisco Doratioto à Revista de
História da Biblioteca Nacional. Leia-o com atenção.
Lula Marques/Folhapress
FD – Fala-se Paraguai por uma questão didática, mas a decisão foi de Solano López. Tratava-se
de uma ditadura, mas não na forma contemporânea que conhecemos. Não havia meios de
comunicação ou inserção internacional, como hoje. Uma ditadura hoje, por mais ferrenha que
seja, tem que reagir ao contexto internacional e há algum processo decisório, mas na de Solano
López tudo se concentrava nele. No Paraguai não existia jornal, além de um diário oficial, e
nem oposição. A oposição estava em cemitérios ou no exílio na Argentina. A população era
pequena, o país era fechado ao exterior e ela não tinha acesso a outras informações, que não as
oficiais. [...]
FD – Começar uma guerra contra o Brasil, em um ataque surpresa a Mato Grosso, para garantir
a retaguarda paraguaia, o que ocorreu em dezembro de 1864 e, ao ter negada permissão de
Mitre para passar com as tropas por território argentino para invadir o Rio Grande do Sul,
Solano López invadiu a província de Corrientes em abril de 1865 e o Rio Grande do Sul em
junho. Ao que tudo indica, o plano era vencer Mitre e impor uma derrota militar ao Império no
Uruguai. Esse plano era exequível, tanto que os paraguaios chegaram até Uruguaiana e
ocuparam Corrientes com facilidade. Só não foram além porque, no Rio Grande do Sul, o
coronel Estigarribia desobedeceu a ordem de não entrar nas cidades para não perder tempo na
marcha. Mas como Uruguaiana era um centro comercial, os paraguaios nela entraram para
saqueá-la, dando tempo aos aliados de se organizarem, sitiarem a cidade e, após combate,
obterem a rendição de Estigarribia.
GARCIA, Bruno. Entrevista com Francisco Doratioto. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 9,
n. 97, p. 40-41, out. 2013.
a) De que forma o autor caracteriza Solano López e que paralelo ele estabelece entre o governante
paraguaio e alguns governantes atuais?
b) Que elementos o autor cita para comprovar sua visão a respeito de López? Justifique.
c) Durante muito tempo Solano López foi visto pela historiografia como vítima do imperialismo
inglês e não como um dos causadores da guerra. Qual a posição do autor do texto a respeito disto?
Explique.
d) Em dupla. O autor do texto destaca a ambição do coronel Estigarribia que, contrariando a ordem
de seus superiores, entrou em Uruguaiana para saqueá-la, dando tempo de os aliados se
organizarem e contra-atacarem. Debatam e escrevam uma reflexão pessoal com o título “Ambição e
guerra”.
Página 267
Professor: a ideia aqui foi estimular o aluno a ler e interpretar imagens com base em uma charge criada por Angelo Agostini.
Um indígena, simbolizando a Nação (apoiado por negros rebelados), rompe correntes e chuta a carruagem do Império,
lançando ao chão o imperador (com sua coroa, seu livro e sua luneta) e seus seguidores (membros da elite imperial
identificados por seus fraques, botas e cartolas). Enfim, a Nação rompe os grilhões e se liberta da monarquia. Dois animais
conduzem a carruagem: um cavalo identificado como Dissidência Liberal e um touro denominado Partido Conservador. Não
por acaso o título da charge é “A grande degringolada”.
O processo de abolição
O processo que conduziu à extinção legal da escravidão no Brasil foi longo e contou
com ampla participação popular, incluindo-se aí a ação dos próprios escravizados,
além de ativistas e intelectuais negros e brancos, chamados, na época, de
abolicionistas.
A resistência negra
Um exemplo expressivo da resistência à escravidão no século XIX foi o ciclo de
revoltas lideradas por africanos ou crioulos na Bahia, entre 1807 e 1835. Segundo
o historiador João José Reis, naqueles anos, a Bahia foi palco de mais de 20 revoltas
e conspirações promovidas pelos africanos e seus descendentes; etnias envolvidas
nessas revoltas foram: haussá em 1887; nagô, haussá e jeje em 1809; haussá de
novo, em 1814; etnias diversas em 1816 e, sobretudo, nagô em 1826, 1830 e 1835.
Acima, menino aprendendo a jogar capoeira. A capoeira, que é dança e luta ao mesmo tempo, pode
ser considerada também uma forma de resistência negra no campo da cultura.
Editora Cia. das Letras
Fac-símile da capa do livro de João José Reis que trata da rebelião escrava de 1835 em Salvador, a
maior ocorrida em uma cidade brasileira.
Dica! Entrevista com o historiador João José Reis sobre a escravidão no Brasil. [Duração: 11
minutos]. Acesse: <http://tub.im/cmktfm>.
Página 269
O abolicionismo
Outra força importante no processo que levou à extinção legal da escravidão foi o
abolicionismo, movimento social liderado por pessoas de diferentes etnias e
condições sociais e que se estendeu por quase todo o século XIX.
Dica! Vídeo sobre a vida de Luiz Gama. [Duração: 12 minutos]. Acesse: <http://tub.im/k552er>.
Nascido em Pernambuco em 1849, Joaquim Nabuco era filho de José Tomás Nabuco de Araújo, um
destacado senador do Império.
Rodolfo Bernardelli. Séc. XIX. Óleo sobre tela. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro
Nascido em 1830, na Bahia, Luiz Gama era filho da negra nagô Luiza Mahin e de um comerciante de
origem portuguesa.
São elas:
Art. 1º Os filhos de mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei serão
considerados de condição livre.
§ 1º Os ditos filhos menores ficarão em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mães,
os quais terão a obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de 8 anos completos. Chegando o
filho da escrava a esta idade, o senhor da mãe terá opção, ou de receber do Estado a
indenização de 600 mil-réis, ou de utilizar-se dos serviços do menor até a idade de 21 anos
completos.[...]
BRASIL. Lei n. 2.040, de 28 de setembro de 1871. Câmara dos deputados. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/internet/infdoc/conteudo/colecoes/legislacaolegimpcd-06/leis1871/pdf17.pdf#
page=6>. Acesso em: 18 mar. 2013.
Fonte de pesquisa: LINHARES, Maria Yedda. História geral do Brasil. 9. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1990. p. 271.
Pode-se concluir que a maioria dos deputados do Norte/Nordeste (onde o trabalho escravizado na época tinha menos
importância) votou a favor da lei, enquanto os das províncias do Centro-Sul (como Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo)
onde a cafeicultura estava em expansão colocaram-se, em sua maioria, contra ela.
Página 271
Na década de 1880, a luta pela abolição ganhou corpo. Em 1883, foi fundada a
Confederação Abolicionista, que assumiu a proposta de André Rebouças de
abolição sem indenização e de doação de terras para os ex-escravizados.
Pernambuco viu surgir o Clube do Cupim, associação emancipatória que
alforriava e defendia os escravizados contrariando interesses centenários dos
poderosos da província. Em São Paulo, o advogado Antônio Bento fundou uma
organização secreta chamada Caifazes, também promovia e apoiava a fuga de
escravizados. Essa organização protegeu os milhares de escravizados que fugiram
das fazendas paulistas em direção aos morros da cidade paulista de Santos, onde
formaram o Quilombo do Jabaquara. Esse quilombo, surgido nos últimos anos do
período imperial, chegou a reunir cerca de 10 mil quilombolas, entre homens,
mulheres e crianças, e era liderado pelo crioulo sergipano Quintino de Lacerda. A
população livre local escondia os fugitivos e facilitava a chegada deles ao alto dos
morros.
O historiador Eduardo Silva trabalha com a ideia de “quilombo abolicionista”, um modelo específico
de resistência à escravidão. Seus membros organizavam-se próximo aos grandes centros e seus
líderes mantinham relações estreitas com figuras centrais do movimento abolicionista como André
Rebouças e Rui Barbosa. Entre os exemplos de quilombos abolicionistas estão o Quilombo do
Jabaquara, na cidade paulista de Santos, e o Quilombo do Leblon, no Rio de Janeiro. Na sua obra As
camélias do Leblon, Eduardo Silva parte da camélia, flor que simbolizava a luta pela abolição, para
evidenciar as relações estreitas entre a campanha abolicionista e o aumento das fugas. As camélias,
conhecidas na época como “flores da liberdade”, eram cultivadas, colhidas e distribuídas no
Quilombo do Leblon, onde hoje está o bairro do Leblon. À esquerda, fac-símile da capa de As
camélias do Leblon.
Jangadeiro Francisco José do Nascimento na visão do chargista Angelo Agostini. Note que o
chargista, que também era abolicionista, procurou homenagear o jangadeiro em sua obra.
Página 272
O governo de Dom Pedro II reagiu à onda abolicionista promulgando uma nova lei.
Senhoras vendendo frutas e legumes nas ruas, em Rio Grande (RS), c. 1910. As duas senhoras vistas
ao centro aparentam ter por volta de 60 anos na data em que a fotografia foi publicada. Se tivessem
essa idade no ano em que a lei foi publicada teriam de trabalhar mais três anos para conseguir a
alforria. A Lei dos Sexagenários livrava os proprietários da obrigação de fornecer comida e moradia
para os poucos escravizados que conseguiam chegar aos 60 anos de idade.
Sob forte pressão popular, o governo imperial, exercido na época pela princesa
Isabel, assinou a Lei Áurea, que declarava extinta a escravidão no Brasil, sem
direito de indenização aos senhores e sem nenhuma reparação aos escravizados,
que, segundo uma estimativa realizada um ano antes, somavam 723419 pessoas,
pouco menos de 5% da população brasileira.
Politicamente a Lei Áurea contribuiu para o desgaste da monarquia: muitos
fazendeiros escravistas, inconformados de não terem sido indenizados, aderiram à
República. Por isso, foram chamados na época de republicanos de última hora.
Carioca filho de migrantes baianos, João Machado Guedes fez parte do que o compositor
Martinho da Vila chamou de “santíssima trindade da música brasileira”: João da Baiana,
Pixinguinha e Donga.
Filho de Tia Perciliana, uma das famosas baianas da Cidade Nova, onde foi criado, João
notabilizou-se por popularizar o pandeiro no samba e por ser exímio ritmista no prato-e-faca,
herança de sua formação na tradição baiana.
João foi um personagem da cidade do Rio de Janeiro. Funcionário da Estrada de Ferro, recusou
o convite dos parceiros Pixinguinha e Donga para realizar a primeira turnê internacional de
um grupo popular no Brasil – os renomados Oito Batutas. Preferiu a estabilidade do emprego,
mas manteve intensa atividade musical.
[...]
Zahar Editora
Como o samba ainda estava procurando seu espaço na sociedade, era muito comum os músicos
serem presos pelo simples fato de portarem um instrumento. Certa noite, João da Baiana foi
convidado para ir a uma festa no palácio do senador Pinheiro Machado, um dos mandachuvas
da política na época. Acabou não comparecendo por ter sido preso pela polícia na Festa da
Penha. Acusação: levava um pandeiro a tiracolo. Dias depois, o todo-poderoso senador quis
saber por que João não aparecera em sua festa. Sabendo da história, Pinheiro Machado
mandou fazer um pandeiro na loja Cavaquinho de Ouro, do seu Oscar, com a dedicatória “A
minha admiração, João da Baiana – senador Pinheiro Machado”. Coincidência ou não, o fato é
que João nunca mais foi importunado.
DINIZ, André. Almanaque do samba: a história do samba, o que ouvir, o que ler, onde curtir. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2008. p. 30-31.
O republicanismo
Ideias republicanas estavam presentes entre os brasileiros há tempos. No século
XVIII, inspiraram movimentos contra o domínio português, como a Conjuração
Mineira e a Conjuração Baiana, e, no século seguinte, rebeliões do período
regencial, como a Balaiada e a Farroupilha.
Federalismo: autonomia para as províncias fazerem suas leis, elegerem seus representantes e
administrarem suas rendas.
A Questão Religiosa
A união entre o Estado e a Igreja era regulada pela Constituição de 1824, que
concedia ao imperador o padroado, isto é, o direito de nomear religiosos para os
principais cargos eclesiásticos (por exemplo, o de bispo), e o beneplácito, o direito
de aprovar ou não as bulas papais, que só seriam cumpridas em território
nacional mediante o placet (permissão) do imperador.
Bula papal: carta expedida pelo papa contendo orientações aos católicos.
Maçonaria: instituição de perfil religioso, político e filantrópico que reúne membros voluntários de diversas
crenças e religiões. A princípio, só era acessível ao sexo masculino.
A Questão Militar
O poder de Dom Pedro II também foi abalado pela Questão Militar, nome dado a
uma série de conflitos entre o exército e o Império, durante a década de 1880. Na
época, os militares eram proibidos de se manifestar pela imprensa. O tenente-
coronel Sena Madureira e o coronel Cunha Matos contrariaram essa proibição e
foram punidos pelo governo imperial.
Angelo Agostini. Séc. XIX. Desenho. Coleção particular
Charge de Angelo Agostini ironizando a recusa de Deodoro da Fonseca em punir oficiais do exército
que faziam declarações por meio da imprensa.
Página 276
Mocidade militar: jovens militares de menos de 30 anos que possuíam educação superior e valorizavam o
estudo das ciências exatas.
2. Dica! Vídeo com falas do historiador Boris Fausto sobre a abolição e as razões que teriam
levado à República. [Duração: 7 minutos]. Acesse: <http://tub.im/58four>.
O major Benjamin Constant (1833-1891) era fluminense. Foi professor de matemática na Escola
Militar e o principal divulgador do positivismo entre a mocidade militar.
O positivismo
VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 586-587.
Página 277
A proclamação da República
No dia 9 de novembro de 1889, em clima de forte comoção, Benjamin Constant
comandou uma reunião no Clube Militar para discutir a situação do país e pediu
plenos poderes para mudar a situação dos militares. A mocidade militar respondeu
com uma chuva de aplausos.
3. Dica! Teleaula sobre o fim do Império e o início da República no Brasil. [Duração total: 12
minutos]. Dividido em duas partes. Para a primeira parte, acesse: <http://tub.im/jmc9ui>.
Pedro Bruno. 1919. Óleo sobre tela. Museu da República, Rio de Janeiro
A pátria, de Pedro Bruno, 1919. Note que a bandeira republicana, elemento central do quadro, é
mostrada como objeto de amor e devoção: ela é abraçada, ela protege, ela abriga seus filhos.
Auguste Comte, o idealizador do positivismo, acreditava que só a ordem poderia conduzir ao
progresso.
Página 278
Para refletir
››Fonte 1
Zahar Editora
Todas as fontes disponíveis destacam a liderança que Benjamin Constant [...] exercia sobre a
“mocidade militar” formada na Escola Militar da Praia Vermelha. Ele seria o [...] “líder” [...] ou
“apóstolo” desses militares. [...]
Minha perspectiva, no entanto, focaliza não o “líder” [...] mas seus pretensos “liderados” [...]. Ao
invés de assistirmos a Benjamin Constant catequizando os jovens da Escola Militar,
encontraremos justamente a “mocidade militar” seduzindo-o e convertendo-o para o ideal
republicano. Atribuo à “mocidade militar”, portanto, o papel de protagonista da conspiração
republicana no interior do Exército.
CASTRO, Celso. A proclamação da República. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. p. 8-10. (Descobrindo o Brasil).
››Fonte 2
O ano de 1889 não significou uma ruptura do processo histórico brasileiro. As condições de
vida dos trabalhadores rurais continuaram as mesmas; permaneceram o sistema de produção
e o caráter colonial da economia, a dependência em relação aos mercados e capitais
estrangeiros.
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 8. ed. São Paulo: Fundação Editora Unesp,
2007. p. 491-492.
b) Na visão dele, foi a juventude militar que seduziu Benjamin Constant e não o inverso. [Celso Castro reuniu uma enorme
documentação e apresentou a mocidade militar como principal protagonista no golpe que instalou a República no Brasil.]
c) Semelhança: tanto o autor da fonte 1 quanto a autora da fonte 2 veem a proclamação da República como um “golpe” de
Estado. Diferença: para Celso Castro, o golpe republicano de 1889 foi organizado e executado pelos militares; já para Emília
Viotti o golpe republicano resultou da ação de três forças conjugadas: uma parcela do Exército, os fazendeiros do Oeste
Paulista e os representantes das camadas médias.
d) Resposta pessoal. Professor: a atividade visa familiarizar os alunos com o debate historiográfico em torno da
proclamação da República e estimulá-los a argumentar em defesa de um ponto de vista.
Página 279
»» criou novos símbolos nacionais; a nova bandeira tinha por lema uma máxima
de inspiração positivista: a Ordem por base e o Progresso por fim.
Durante sua gestão, Rui Barbosa promoveu uma reforma financeira visando,
sobretudo, à industrialização do Brasil. Como a quantidade de moeda em
circulação no país era insuficiente para financiar a arrancada industrial e pagar
salários, Rui Barbosa baixou decretos autorizando quatro bancos a emitir dinheiro
e a conceder empréstimos àqueles que desejassem abrir uma empresa (1890).
Especulação: prática que consiste em criar uma procura ou oferta artificial de um bem ou de uma
mercadoria visando obter lucro.
Bolsa de Valores: local em que são negociados determinados papéis de empresas e do governo. Os papéis
do governo são chamados de títulos e os das empresas, de ações.
Nos dois primeiros anos da República, a inflação disparou, saltando de 1,1% para
89,9%, e a moeda brasileira perdeu o valor. A crise resultante da política
industrialista de Rui Barbosa recebeu o apelido de encilhamento. O nome vem do
verbo “encilhar” (colocar arreios ou cilhas no cavalo para prepará-lo para a
corrida). Como o clima de jogatina existente no lugar onde os jóqueis encilhavam
cavalos e onde os jogadores faziam suas apostas era semelhante ao da Bolsa de
Valores, o nome encilhamento estendeu-se à crise.
Inflação: aumento generalizado e contínuo dos preços, resultando na perda do poder aquisitivo da moeda.
A charge mostra os deputados constituintes que elegeram Deodoro da Fonseca (ao centro, à direita)
e Floriano Peixoto (ao centro, à esquerda) para a presidência e a vice-presidência da República,
respectivamente. As figuras femininas representam os estados da República.
Na presidência, enfrentou forte oposição por ter nomeado um monarquista – o
barão de Lucena – para o Ministério da Fazenda e por ter sido responsável pelo
encilhamento. Quando os parlamentares da oposição aprovaram um projeto
limitando seu poder, Deodoro da Fonseca fechou o Congresso.
Apesar disso, durante seu mandato, Floriano Peixoto teve de enfrentar muitos
inimigos: políticos civis organizaram uma campanha antiflorianista, com base no
artigo 42 da Constituição, exigindo novas eleições presidenciais, e oficiais do
Exército assinaram o Manifesto dos Treze Generais, exigindo sua renúncia. Esse
artigo estipulava que, se o cargo da presidência ou vice-presidência estivesse vago
antes de decorridos dois anos do mandato, haveria nova eleição. Como Deodoro
governara menos de nove meses, os antiflorianistas reclamavam nova eleição.
Floriano reuniu forças para enfrentar os civis e aposentou os generais que queriam
depô-lo. 1
Por suas atitudes decididas à frente do governo da República, Floriano Peixoto ficou conhecido
como Marechal de Ferro.
A Revolução Federalista
Outro desafio enfrentado por Floriano Peixoto foi a Revolução Federalista – uma
guerra civil sangrenta resultante da disputa pelo poder no Rio Grande do Sul
(1893).
De um lado, estavam os seguidores do republicano Júlio de Castilhos (conhecidos
como pica-paus). De outro, os adeptos de Gaspar Silveira Martins (apelidados de
maragatos).
Desterro: depois de retomada pelo governo, a cidade de Desterro passou a se chamar Florianópolis, em
homenagem a Floriano Peixoto.
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Enem/MEC – 2013)
A escravidão não há de ser suprimida no Brasil por uma guerra servil, muito menos por
insurreições ou atentados locais. Não deve sê-lo, tampouco, por uma guerra civil, como o foi
nos Estados Unidos. Ela poderia desaparecer, talvez, depois de uma revolução, como aconteceu
na França, sendo essa revolução obra exclusiva da população livre. É no Parlamento e não em
fazendas ou quilombos do interior, nem nas ruas e praças das cidades, que se há de ganhar, ou
perder, a causa da liberdade.
NABUCO, Joaquim. O abolicionismo [1883]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; São Paulo: Publifolha, 2000 (adaptado).
No texto, Joaquim Nabuco defende um projeto político sobre como deveria ocorrer o fim da
escravidão no Brasil, no qual
1. Resposta: c.
2. (Unimontes-MG – 2014)
[...] Mesmo depois de abolida a escravidão // negra é a mão de quem faz a limpeza // lavando a
roupa encardida, esfregando o chão // negra é a mão, é a mão da pureza // negra é a vida
consumida ao pé do fogão // negra é a mão nos preparando a mesa // limpando as manchas
do mundo com água e sabão. [...]
GIL, Gilberto. A mão da limpeza. In: www.gilbertogil.com.br/sec-disco-info. Acesso em: 3 abr. 2014.
As ações desempenhadas pelos negros, nos versos dessa canção, tornaram-se comuns no Brasil,
entre outras coisas, porque
b) a Lei Áurea previa que, aos alforriados, seria garantido com exclusividade o exercício de
profissões que demandassem habilidade manual, em face do desinteresse dos negros pela ciência.
c) a abolição da escravidão se fez sem uma preocupação política de garantir ao povo negro o acesso
à cidadania plena e sem a garantia de condições para a conquista da igualdade intelectual.
2. Resposta: c.
2016
A charge ironiza o dístico “ordem e progresso”, presente na atual Bandeira do Brasil. A sua origem e
significado remetem a um contexto marcado
Página 283
a) pela presença do catolicismo romano nas instituições políticas do Império Brasileiro e o esforço
de preservar a ordem social vigente.
b) pela influência do positivismo francês entre os oficiais militares republicanos e uma postura
ideológica das elites dirigentes em evitar radicalismos políticos.
c) pelo desejo dos oficiais militares republicanos em romper os laços com a sociedade agrária
imperial, inspirando-se no liberalismo norte-americano.
d) pelo esforço das elites agrárias paulista e mineira em manter os seus privilégios sociais e
políticos, mas, ao mesmo tempo, buscando o progresso econômico.
3. Resposta: b.
4. (Enem/MEC – 2015)
MARINS, P. C. G. Nas matas com pose de reis: a representação de bandeirantes e a tradição da retratística monárquica
europeia. Revista do IEB, n. 44, fev. 2007.
A prática governamental descrita no texto, com a escolha dos temas das obras, tinha como
propósito a construção de uma memória que
4. Resposta: a.
VOZES DO PRESENTE
Bestializados ou bilontras?
O povo assistiu bestializado à proclamação da República, segundo Aristides Lobo; não havia
povo no Brasil, segundo observadores estrangeiros, inclusive os bem informados como Louis
Couty; o povo fluminense não existia, afirmava Raul Pompeia. Visão preconceituosa de
membros da elite [...]? Etnocentria de franceses? [...]
Página 284
Havia tribofe na política, na bolsa, no câmbio, na imprensa, no teatro, nos bondes, nos
aluguéis, no amor. Não se obedecia nem à lei dos homens, nem a de Deus. Como diria o próprio
tribofe: “Ah, minha amiga, nesta boa terra os mandamentos da lei de Deus são como as
posturas municipais... Ninguém respeita!” [...]
Havia consciência clara de que o real se escondia sob o formal. [...] Perdia-se o humor apenas
quando o governo buscava impor o formal, quando procurava aplicar a lei literalmente. Nesses
momentos o entendimento [...] era quebrado, o poder violava o pacto, a constituição não
escrita. Então tinha de recorrer à repressão, ao arbítrio, o que gerava a revolta em resposta.
Mas [...] eram momentos de crise, não o cotidiano.
O povo sabia que o formal não era sério. Não havia caminhos de participação, a República não
era para valer. Nessa perspectiva, o bestializado era quem levasse a política a sério, era o que
se prestasse à manipulação. Num sentido [...], a política era tribofe. Quem apenas assistia, como
fazia o povo do Rio por ocasião das grandes transformações realizadas a sua revelia, estava
longe de ser bestializado. Era bilontra.
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das
Letras, 1987. p. 140, 159-160.
Tribofe: gíria da época que significa trapaça, enganação, engodo. Em 1891, Artur Azevedo lançou uma revista
denominada O tribofe, cujo conteúdo continha forte crítica social e por meio do humor ironizava o
comportamento do fluminense.
a) O que Aristides Lobo quis dizer com “o povo assistiu bestializado à proclamação da República”?
O texto a seguir é da professora da Universidade de São Paulo Emília Viotti da Costa. Leia-o com
atenção.
O rápido crescimento das plantações de café fez do trabalho o problema mais urgente. Como
podiam os fazendeiros satisfazer suas necessidades de trabalho após a interrupção do tráfico
de escravos? [...] Os fazendeiros das áreas em expansão haviam encontrado a resposta na
imigração. [...] Como eles não se organizaram para defender a instituição, a escravidão foi
abolida por um ato do Parlamento sob os aplausos das galerias. Promovida principalmente por
brancos, ou por negros cooptados pela elite branca, a abolição libertou os brancos do fardo
Página 285
COSTA, Emília Viotti da. DA MONARQUIA À REPÚBLICA: momentos decisivos. São Paulo: Ed. Unesp. 2007. p. 366.
››Fonte 2
O trecho a seguir é da professora da Universidade Federal Fluminense Hebe Mattos. Leia-o com
atenção.
Festejada por milhares de pessoas, a Abolição foi um acontecimento ímpar. Pela primeira vez
se reconheceu a igualdade civil de todos os brasileiros. Mesmo que não tenha significado sua
imediata efetivação, marca a invenção de uma cidadania brasileira entendida em termos
universais. Porém, até o surgimento dos movimentos negros do século XX, a hierarquização
racial pouco se modificou.
MATTOS, Hebe M. A face negra da Abolição. In: Revista Nossa História, ano 2, n. 19, p. 20 maio 2005.
a) Segundo a autora da fonte 1, qual foi a solução encontrada pelos fazendeiros das áreas onde o
café se expandia?
d) Em dupla: debatam, argumentem: qual das duas interpretações da Abolição é mais convincente?
Justifiquem.
Príncipe guerreiro, d. Obá apresentou-se para lutar na Guerra do Paraguai (1864-1870), saindo
oficial (...) do exército, por bravura. Em 1877, fixou residência no Rio de Janeiro, onde passou a
fazer campanha por melhores condições de vida, igualdade racial, abolição da chibata e da
escravatura.
Abolição da chibata: abolição dos castigos físicos ministrados com a chibata (vara usada para surrar
pessoa ou animal).
Com dois metros de altura, voz firme e modos de soberano, sua figura imponente chamava
atenção. Apresentava-se sempre bem vestido, de fraque, cartola, luvas, guarda-chuva, bengala,
pincenê de ouro e suas “finas roupas pretas” [...].
A elite da época, ignorando a história da África e os direitos reais africanos, entendia d. Obá II
como um subproduto da Guerra do Paraguai [...] uma espécie de veterano resmungão, “meio
amalucado”, figura meramente folclórica. Por outro lado, o povo negro reconhecia e se-
Editora Cia. das Letras
Fac-símile da capa do livro Dom Obá II D’África, o Príncipe do Povo, de Eduardo Silva.
Página 286
guia sua liderança como príncipe real. Escravos, negros libertos do cativeiro e homens negros
livres, ou seja, que nunca foram escravos, não só compartilhavam suas ideias como
contribuíam financeiramente para a publicação nos jornais. E depois se reuniam em suas
modestas casas para ler em voz alta e discutir os artigos.
Mas o que interessava tanto aos leitores? D. Obá pensava de um modo bem diverso da elite que
via as raças humanas essencialmente diferentes; para ele, pareciam perfeitamente
semelhantes, e o valor dos homens não estava na cor da pele, mas no mérito, no valor
guerreiro e humano de cada um. Por isso, a defesa da igualdade entre os homens se torna um
dos pontos centrais de sua prática política, e a abolição total da escravatura vira sua bandeira
de luta pública a partir de 1882.
Soldado valoroso, defensor da pátria nos campos da batalha, d. Obá II d’África se sentia com
autoridade moral para criticar abertamente a classe dominante e os escravistas [...]
E quando sentia que o rumo dos acontecimentos necessitava de uma boa ajuda, apelava para
as forças do sincretismo afro-brasileiro: “invoco sempre ao bem estar dos conselheiros
enfermos [...] em todas as minhas preces [...] a santa Bárbara e aos mais santos da África [...]”.
SILVA, Eduardo. O rei dos excluídos. In: Revista Nossa História, ano 2, n. 19, p. 22-24, maio 2005.
Segundo o texto, o modo como a elite da época via d. Obá é muito diferente do modo como o povo
negro o via. Explique:
e) Em dupla. Debatam, reflitam e opinem sobre a visão de d. Obá segundo a qual o valor dos
homens não estava na cor da pele, mas no mérito, no valor guerreiro e humano de cada um.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sugestões de leitura complementar
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Atual, 1999.
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FERREIRA, Jorge Luiz. Conquista e colonização da América espanhola. São Paulo: Ática, 1996.
FUNARI, Pedro Paulo; GALDINO, Luiz. Os antigos habitantes do Brasil. São Paulo: Editora da
Unesp/Imprensa Oficial, 2001.
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GRESPAN, Jorge Luís da Silva. Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo: Contexto 2003.
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MAURO, Frédéric. O Brasil no tempo de D. Pedro II: 1831- 1889. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
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e conflitos na província de São Paulo (1822-1845). São Paulo: Alameda, 2012.
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WASSERMAN, Cláudia (Coord.). História da América Latina: cinco séculos. 2. ed. Porto Alegre: Editora da
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Página 289
SUMÁRIO
1. METODOLOGIA DA HISTÓRIA 292
1.1. Visão de área 292
1.2. Correntes historiográficas 293
1.3. Pressupostos teóricos 295
1.4. Objetivos para o ensino de História 296
1.5. Conceitos-chave da área de História 297
1. Metodologia da História
Vivendo imersos nesse mundo virtual e apreendendo o que “aconteceu” por meio dos
telejornais com frases sintéticas e imagens fragmentadas, os jovens são levados a
identificar aquilo que estão vendo com a “verdade” e a explicar o presente com base
nele próprio. Ocorre que o complemento desse presenteísmo avassalador é a
destruição do passado, o que pode afetar muito, e negativamente, as novas gerações.
Veja o que diz sobre o assunto o historiador britânico Eric Hobsbawm:
A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à
das gerações passadas – é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase
todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com
o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que outros
esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio. Por esse mesmo motivo,
porém, eles têm de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 13.
O passado nos cerca e nos preenche; cada cenário, cada declaração, cada ação conserva um conteúdo
residual de tempos pretéritos. Toda consciência atual se funda em percepções e atitudes do passado;
reconhecemos uma pessoa, uma árvore, um café da manhã, uma tarefa, porque já os vimos ou já os
experimentamos.
LOWENTHAL, David, 1998 apud OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). História: ensino fundamental. Brasília,
DF: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. p. 160. v. 21. (Explorando o ensino).
interpretando-se, assim, a história em função de critérios inadequados, como se os atuais fossem válidos para todas
as épocas. BRASIL. Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o Plano
conhecer uma determinada sociedade do passado, é importante colocarmo-nos na
pele das pessoas que viveram naqueles tempos. Essa postura, sugerida por ele na
abordagem do medievo ocidental, é, a nosso ver, útil no trabalho com qualquer
sociedade humana, independentemente de tempo ou lugar.
Nacional do Livro Didático. PNLD 2018. Brasília, DF: Ministério da Educação, Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação, Secretaria de Educação Básica, 2015. p. 47.
Página 293
como com as relações entre um e outro. Dissertando sobre esse duplo compromisso da
História, Jaime Pinsky observou:
Compromisso com o presente não significa, contudo, presenteísmo vulgar, ou seja, tentar encontrar no
passado justificativas para atitudes, valores e ideologias praticados no presente (Hitler queria provar
pelo passado a existência de uma pretensa raça ariana superior às demais). Significa tomar como
referência questões sociais e culturais, assim como problemáticas humanas que fazem parte de nossa
vida, temas como desigualdades sociais, raciais, sexuais, diferenças culturais, problemas materiais e
inquietações relacionadas a como interpretar o mundo, lidar com a morte, organizar a sociedade,
estabelecer limites sociais, mudar esses limites, contestar a ordem, consolidar instituições, preservar
tradições, realizar rupturas...
Compromisso com o passado não significa estudar o passado pelo passado, apaixonar-se pelo objeto de
pesquisa por ser a nossa pesquisa, sem pensar no que a humanidade pode ser beneficiada com isso.
Compromisso com o passado é pesquisar com seriedade, basear-se nos fatos históricos, não distorcer o
acontecido, como se esse fosse uma massa amorfa à disposição da fantasia de seu manipulador. Sem o
respeito ao acontecido a História vira ficção. Interpretar não pode ser confundido com inventar. E isso
vale tanto para fatos como para processos.
PINSKY, Jaime. In: KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo:
Contexto, 2003. p. 23-24.
Vale dizer, ainda, que o historiador se volta para o passado a partir de questões
colocadas pelo presente. Depois de estabelecer um determinado recorte, ele
transforma o tema em problema. A partir daí, trata-o com base em instrumentos e
métodos próprios da História. Por isso se diz que toda narrativa histórica está
relacionada a seu tempo e também é objeto da História.
[...] São três as correntes mais discutidas: Positivismo, Materialismo Histórico e Nova História.
Positivismo é o nome de uma corrente filosófica originada no século XVIII, no contexto do processo de
industrialização da sociedade europeia. Para os pensadores positivistas cabe à história fazer um
levantamento descritivo dos fatos. “A história por eles escrita é uma sucessão de acontecimentos
isolados retratando, sobretudo, os feitos políticos de grandes heróis, os problemas dinásticos, as
batalhas, os tratados diplomáticos etc.” (BORGES, 1987, p. 32-33). Neste sentido, os documentos oficiais
são as principais fontes de investigação assim como as ações do Estado são as eleitas para constituírem a
narrativa histórica. A concepção de tempo nesta forma de abordagem histórica é caracterizada pela
linearidade (sucessão) dos fatos porque são os fatos o objeto de estudo da história.
Com a efetivação do capitalismo na sociedade europeia do século XIX, proliferam-se as críticas à
sociedade burguesa e outra teoria explicativa para a realidade foi elaborada buscando a superação da
mesma – o materialismo dialético. Karl Marx e Friedrich Engels podem ser destacados como os
principais pensadores desta corrente filosófica para a qual a necessidade de sobrevivência do homem
impele-o a transformar a natureza e, ao transformar a natureza, transforma a si mesmo, numa relação
dialética. Essa ação humana não se dá de forma isolada, mas em conjunto. Portanto, o “ponto de partida
do conhecimento da realidade são as relações que os homens mantêm com a natureza e os outros
Página 294
homens” (BORGES, 1987, p. 35), analisadas a partir das condições materiais de existência.
A investigação histórica realizada a partir dos pressupostos do materialismo dialético considera que a
realidade é dinâmica, dialética e repleta de contradições, gerada pela luta entre as diferentes classes
sociais. Portanto, a concepção de tempo que podemos identificar nesta corrente de pensamento busca
explicar o passado, não somente a partir do tempo do acontecimento, mas da contradição que pode ser
encontrada em todo fato e, para compreender a contradição, faz necessário deslocar-se temporalmente,
intentando como determinados fatos se constituíram historicamente e por que se apresentam de tal
forma ao homem no presente.
Ainda que com o materialismo histórico tenha se constituído uma forma diferente de investigação sobre
o passado e, consequentemente, provocado mudanças na narrativa histórica, foi com a Nova História,
mais precisamente com a Escola dos Annales, em 1929, que a concepção de tempo na historiografia sofre
significativas alterações.
A alteração na concepção de tempo deve ser compreendida a partir da concepção de História, ou melhor,
de como se constrói a narrativa histórica para os pensadores da Nova História. Para estes, todos os
acontecimentos humanos poderiam ser entendidos como temáticas para a construção da História e não
somente a narrativa dos feitos de alguns homens relacionados à história política de seus países. Da
mesma forma, toda produção humana seria passível de ser entendida enquanto fonte para a pesquisa do
historiador, e não somente os documentos oficiais.
Esta forma de se entender a História rompeu com a ideia do tempo do acontecimento, com a concepção
de que a humanidade caminha de forma irreversível para algum ponto preestabelecido e também com a
noção de um progresso linear e contínuo. O papel do historiador, nesta perspectiva, é considerar o tempo
da duração nas análises dos acontecimentos. Para alcançar tal intento, não basta estudar os fatos a partir
de sua organização cronológica, mas considerar também os movimentos de continuidade e mudança.
[...] o acontecimento (fato de breve duração) corresponde a um momento preciso: um nascimento, uma
morte, a assinatura de um acordo, uma greve, etc.; a estrutura (fato de longa duração), cujos marcos
cronológicos escapam à percepção dos contemporâneos: a escravidão antiga ou moderna, o cristianismo
ocidental, a proibição do incesto, etc.; a conjuntura (fato de duração média) que resulta de flutuações
mais ou menos regulares no interior de uma estrutura: a Revolução Industrial inglesa, a ditadura militar
brasileira, a guerra fria etc.
A concepção de tempo apresentada pelos historiadores da Escola dos Annales nos indica que devem ser
considerados, na construção da História, a simultaneidade das durações assim como os movimentos de
permanências e mudanças que ocorrem em uma sociedade ao longo de um determinado período. Para
realizar esta abordagem não é possível considerar somente a cronologia como ponto de partida para a
compreensão do tempo histórico.
Os conteúdos e as metodologias apresentados nos livros didáticos relacionam-se diretamente com estas
concepções historiográficas abordadas aqui de forma sucinta. Nos manuais destinados aos professores,
os autores explicitam suas opções teóricas, o que merece ser destacado e contribui na melhoria da
qualidade das obras, visto que é ponto pacífico entre os historiadores que todos os sujeitos falam de
determinados lugares sociais e que são influenciados pelas características destes lugares. Estas
informações são valorizadas nas resenhas que compõem o Guia do PNLD porque é importante que o
professor identifique de que “lugar” o autor fala.
OLIVEIRA, Sandra Regina F. de. Os tempos que a História tem... In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.).
História: ensino fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. p. 42-45. v.
21. (Explorando o ensino).
Página 295
Neste livro, pautamo-nos por alguns referenciais teóricos da Nova História, daí
entendermos a História como um conhecimento em permanente construção; por isso
tomamos o documento como ponto de partida e não de chegada na construção do
conhecimento e, além disso, incorporamos a ação e a fala das mulheres, dos negros,
dos indígenas, dos operários e de outros sujeitos históricos antes relegados ao
esquecimento.
Ao longo da obra, utilizamos também a história social inglesa, recorrendo mais de uma
vez aos trabalhos de Christopher Hill, E. P. Thompson e Hobsbawm para compreender
episódios decisivos na formação do mundo atual, como a Revolução Inglesa, a
Revolução Industrial, a Revolução Francesa, o imperialismo, o movimento operário,
entre outros. Entendemos que as pesquisas desenvolvidas pelos neomarxistas ingleses
nem sempre se opõem às realizadas pelos integrantes dos Annales e seus
continuadores da Nova História. Por vezes, elas se fundem e/ou se complementam.
Por fim, é preciso dizer que demos maior ênfase ao conhecimento da história política e
do passado público por considerarmos que neste nível de ensino isso é decisivo para o
aluno desenvolver uma consciência crítica. Com essa consciência, ele pode orientar
sua prática como cidadão e participar de projetos de mudança social e cultural. Em um
artigo importante sobre o assunto, a historiadora Maria de Lourdes Mônaco Jannoti
chama atenção para o perigo de se valorizar o privado em detrimento do público:
A História não é terreno do “interessante” e do mundo privado enquanto tal. Este cresce em relação
direta à redução das atividades da vida pública e à consciência da cidadania, como tão bem explicou
Hannah Arendt, podendo levar, como o fez nos anos 20 e 30, à privatização do próprio Estado pelas
ditaduras nazifascistas. Tal experiência deu-se no Brasil num passado muito próximo, durante a ditadura
getulista e a ditadura militar, por mais de quarenta e cinco anos, neste século.
Mesmo considerando [...] fundamentais os estudos sobre a vida privada no passado e no presente [...] é
fundamental rever determinada prática da investigação e do ensino da História que, inspirada em uma
estreita leitura da Nova História com seus novos objetos e abordagens, acabam por não estabelecer
nenhuma “relação orgânica com o passado público da época em que vivemos”, segundo Hobsbawm.
JANNOTI, Maria de Lourdes Mônaco. In: BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histórico na sala de aula. 2. ed. São
Paulo: Contexto, 1998. p. 43-44. (Repensando o ensino).
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). História: ensino fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2010. p. 10. v. 21. (Explorando o ensino).
Ou seja, cada época coloca novos problemas, e é a partir deles que nos debruçamos
sobre o passado para investigar, crivar as fontes, comparar, analisar e construir uma
versão dos fatos. Buscando romper com uma visão passadista da História, entendemos
que o presente também é suscetível de conhecimento histórico, desde que o
ancoremos na própria História.
Ciente de que o conhecimento é provisório, o aluno terá condições de exercitar nos procedimentos
próprios da História: problematização das questões propostas, delimitação do objeto, exame do estado
da questão, busca de informações, levantamento e tratamento adequado das fontes, percepção dos
sujeitos históricos envolvidos (indivíduos, grupos sociais), estratégias de verificação e comprovação de
hipóteses, organização dos dados coletados, refinamento dos conceitos (historicidade), proposta de
explicação para os fenômenos estudados, elaboração da exposição, redação de textos.
BEZERRA, Holien Gonçalves. In: KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.
São Paulo: Contexto, 2005. p. 42.
»» Facilitar a construção, por parte do educando, da capacidade de pensar historicamente, sendo que
esta operação engloba uma percepção crítica e transformadora sobre os eventos e estudos históricos.
»» Contribuir para a compreensão dos processos da História, através da análise comparada das
semelhanças e diferenças entre momentos históricos, de forma a perceber a dinâmica de mudanças e
permanências.
»» Propiciar o desenvolvimento do senso crítico do educando, no sentido de que este seja capaz de
formar uma opinião possível sobre os eventos históricos estudados.
Página 297
PESTANA, Maria Inês Gomes de Sá et al. Matrizes curriculares de referência para o Saeb. 2. ed. rev. ampl. Brasília, DF:
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1999. p. 63.
Atingir esses objetivos, ainda que parcialmente, pode ajudar o aluno a interpretar
situações concretas da vida social, posicionar-se criticamente diante da realidade
vivida e construir novos conhecimentos.
História. Marc Bloch define a História como o estudo das sociedades humanas no
tempo. Para ele:
O historiador nunca sai do tempo [...], ele considera ora as grandes ondas de fenômenos aparentados que
atravessam, longitudinalmente, a duração, ora o momento humano em que essas correntes se apertam
no nó poderoso das consciências.
BLOCH, Marc L. B. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 135.
Seguindo a trilha aberta por Bloch, o historiador Holien Bezerra afirma que a História
busca desvendar “as relações que se estabelecem entre os grupos humanos em
diferentes tempos e espaços”. Outra definição de História:
[...] A história é a arte de aprender que o que é nem sempre foi, que o que não existe pôde alguma vez
existir; que o novo não o é forçosamente e que, ao contrário, o que consideramos por vezes eterno é
muito recente. Esta noção permite situarmo-nos no tempo, relativizar o acontecimento, descobrir as
linhas de continuidade e identificar as rupturas.
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). História: ensino fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2010. p. 18. v. 21. (Explorando o ensino).
Há autores atuais, como Hayden White, que entendem a História como um gênero da
literatura e querem reduzi-la à ficção. Nós discordamos dessa visão e lembramos que a
História, ao contrário da literatura, tem compromisso com a evidência, e,
parafraseando Marc Bloch, diferentemente do literato, o historiador só pode afirmar
aquilo que tem condições de provar.
[...] processo de mudança direcional, no qual os sujeitos históricos, em meio à indeterminação das
relações sociais, constroem os caminhos possíveis, inscrevendo nas diferentes dimensões temporais
(conjunturas e estruturas) os acontecimentos que repercutem de modo variado nos diferentes espaços
de ação (privado ou público, local, regional ou mundial) e que contêm diversos elementos (políticos,
econômicos, sociais, culturais) [...]
PCN + ENSINO MÉDIO: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências
Humanas e suas Tecnologias. Brasília, DF: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2002. p. 77-78.
Página 298
Tempo. É uma construção humana, e o tempo histórico, uma construção cultural dos
povos em diferentes tempos e espaços. As principais dimensões do tempo são:
duração, sucessão e simultaneidade. Isso pode ser trabalhado em aula apresentando-
se as diferentes maneiras de vivenciar e apreender o tempo e de registrar a duração, a
sucessão e a simultaneidade dos eventos – tais conteúdos tornam-se, portanto, objeto
de estudos históricos. O tempo que interessa ao historiador é o tempo histórico, o
tempo das transformações e das permanências. O tempo histórico não obedece a um
ritmo preciso e idêntico como o do relógio e/ou dos calendários. Por isso o historiador
considera diferentes temporalidades/durações: a longa, a média e a curta duração.
[...] cultura [é] um conjunto de crenças, conhecimentos, valores, costumes, regulamentos, habilidades,
capacidades e hábitos construídos pelos seres humanos em determinadas sociedades, em diferentes
épocas e espaços.
PCN + ENSINO MÉDIO: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências
Humanas e suas Tecnologias. Brasília, DF: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2002. p. 71-72.
[...] Cultura não é apenas o conjunto de manifestações artísticas. Envolve as formas de organização do
trabalho, da casa, da família, do cotidiano das pessoas, dos ritos, das religiões, das festas etc. Assim, o
estudo das identidades sociais, no âmbito das representações culturais, adquire significado e
importância para a caracterização de grupos sociais e de povos.
BEZERRA, Holien Gonçalves. In: KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.
São Paulo: Contexto, 2005. p. 46.
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial [...] nos quais se
incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas,
artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1998. p. 134. (Repensando o
ensino).
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. p. 121. (Docência em
formação).
A memória [...] é uma recriação constante no presente do passado enquanto representação, enquanto
imagem impressa na mente.
FUNARI, Pedro Paulo. Antiguidade clássica: a história e a cultura a partir dos documentos. 2. ed. Campinas: Unicamp,
2003. p. 16.
A memória pode ser definida também como o modo como os seres humanos se
lembram ou se esquecem do passado; já a História pode ser vista como a crítica da
memória. Em sociedades complexas, como esta em que vivemos, a memória coletiva
dá origem a lugares de memória, como museus, bibliotecas, espaços culturais, galerias,
arquivos ou uma “grande” história, a história da nação. A memória nos remete à
questão do tempo.
Política. O termo política teve sua origem na Grécia antiga e foi sendo ressignificado
ao longo do tempo. Ele está estreitamente relacionado à ideia de poder. Segundo
Nicolau Maquiavel (1469-1527), o fundador da política como ciência, a política é a arte
de conquistar, manter e exercer o poder. Já para Michel Foucault (1926-1984), o poder
não se concentra somente no Estado, mas está distribuído por todo o corpo social.
Seguindo essa trilha, dois estudiosos observaram que:
Há relação de poder entre pais e filhos, alunos e professores, governantes e governados, dirigentes de
partido e seus filiados, patrões e empregados, líderes de associações sindicais e seus membros, e assim
por diante. A verdade é que tais relações são, no mais das vezes, sutis, móveis, dispersas e de difícil
caracterização.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005. p.
335.
Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo, ter
direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os
direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a
participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde,
a uma velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p. 9.
A compreensão da cidadania em uma perspectiva histórica de lutas, confrontos e
negociações, e constituída por intermédio de conquistas sociais de direitos, pode
servir como referência para a organização dos conteúdos da disciplina histórica. Vale
lembrar ainda que os conceitos possuem uma história, e que esta variou no tempo e no
espaço. Cientes disso nos esforçamos para evitar visões anacrônicas, a-históricas ou
carregadas de subjetividade.
2. Metodologia de ensino-aprendizagem
O trabalho com História em sala de aula é uma construção coletiva e se faz a partir do
saber aceito como legítimo pela comunidade de historiadores. Antes de tudo, porém, é
preciso considerar que esse saber acadêmico não deve ser confundido com o
conhecimento histórico escolar, embora lhe sirva de suporte.
Página 300
[...] não pode ser entendido como mera e simples transposição de um conhecimento maior, proveniente
da ciência de referência e que é vulgarizado e simplificado pelo ensino. [...] “Nenhuma disciplina escolar é
uma simples filha da ‘ciência-mãe’”, adverte-nos Henri Moniot, e a história escolar não é apenas uma
transposição da história acadêmica mas constitui-se por intermédio de um processo no qual interferem o
saber erudito, os valores contemporâneos, as práticas e os problemas sociais.
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1998. p. 25. (Repensando o ensino).
2. tem-se o tempo como categoria principal (como o assunto em estudo foi enfrentado por outras
sociedades);
3. dialoga-se com o tempo por meio das fontes (utiliza-se o livro didático, mapas, imagens, músicas [...]);
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). História: ensino fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2010. v. 21, p. 11. (Explorando o ensino).
A História Nova ampliou o campo do documento histórico; ela substituiu a história de Langlois e
Seignobos2, fundada essencialmente nos textos, no documento escrito, por uma história baseada
22 Nomes dos historiadores franceses por meio dos quais a história metódica, mais conhecida como positivista,
Uma estatística, uma curva de preços, uma fotografia, um filme, ou para um passado mais distante,
um pólen fóssil, uma ferramenta, um ex-voto são, para a História Nova, documentos de primeira ordem
[...].
LE GOFF, Jacques. In: MARTINS, Ronaldo Marcos. Cuidado de si e educação matemática: perspectivas, reflexões e
práticas de atores sociais (1925-1945). Rio Claro: Unesp, 2007. p. 23. (Tese de doutorado).
Mas, se por um lado é consensual entre os historiadores que estamos vivendo uma
“revolução documental”, por outro a reflexão sobre o uso de documentos em sala de
aula merece, a nosso ver, uma maior atenção. Com base nas reflexões daqueles que
pensaram sobre o assunto e na nossa experiência docente, recomendamos que, ao
trabalhar com documentos na sala de aula, o professor procure:
a) evitar ver o documento como “prova do real”, procurando situá-lo como ponto de
partida para se construírem aproximações em torno do episódio focalizado;
»» diminui a distância entre o conhecimento acadêmico e o saber escolar, uma vez que
os alunos são convidados a se iniciarem na crítica e contextualização dos documentos,
procedimento importante para a educação histórica.
Uma das questões que mais têm preocupado os educadores é que, se, por um lado, a
internet facilita o acesso a um amplo leque de textos e imagens, por outro, pode criar o
hábito de buscar o “trabalho pronto”, usando o famoso copiar/colar/imprimir, ou seja,
encerrando a pesquisa naquele que deveria ser o seu primeiro passo. No que tange ao
nosso campo de atuação, e considerando que a internet tem sido uma ferramenta
muito utilizada no processo de ensino-aprendizagem, sugerimos alguns
procedimentos que podem nos ajudar a pensar sobre o seu uso na educação histórica:
das informações veiculadas; e, por fim, estimular o posicionamento crítico diante das
informações e análises ali disponíveis.
d) Alertar o aluno para o fato de que nem tudo o que está na internet é verdade e que
as homepages são muitas vezes pouco consistentes. Por isso, a indicação do tema deve
vir acompanhada de perguntas que incentivem o aluno a investigar.
• A imagem é polissêmica
Misto de arte e ciência, técnica e cultura, a imagem é polissêmica. Até um simples
retrato admite várias interpretações. Exemplo disso é ver um álbum de fotografias em
família: uma foto que desperta alegria ou satisfação nos avós pode ser causa de
inibição ou vergonha para os netos.
Outro exemplo: Mona Lisa, certamente o quadro mais conhecido do mundo, pode ser
tomado como exemplo dessa característica da imagem. Já se afirmou que, se
estivermos melancólicos, temos tendência a ver, no sorriso enigmático da personagem
retratada, melancolia; se estivermos alegres, ela nos parecerá contente. Ou seja, ela
expressa os nossos sentimentos no momento em que a vemos.
Efetivamente, [...] Guernica – no espírito de muita gente que não tem mais o cuidado de saber exatamente
de onde isto surgiu – é um quadro de Picasso. [...] Guernica tornou-se a representação de um fato preciso.
O fato preciso está esquecido, a representação continua.
VILLAR, Pierre. In: D’ALESSIO, Marcia Mansor et al. (Org.). Reflexões sobre o saber histórico. São Paulo: Unesp, 1998.
p. 30. (Prismas).
O fato preciso a que Pierre Villar está se referindo é, como se sabe, o bombardeio da
pequenina cidade espanhola de Guernica pela aviação nazista, a mando de Hitler,
durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). O fato, o bombardeio, ocorrido em 26
de abril de 1937, foi esquecido; a representação produzida por Picasso, um óleo sobre
tela, com o nome de Guernica, permaneceu marcando gerações.
O que torna mais escorregadio o terreno para quem se decide pelo uso de imagens em
sala de aula é justamente o fato de a imagem possuir um efeito de realidade, ou seja, a
capacidade de se parecer com a própria realidade.
Pedro Américo. D. Pedro II na abertura da Assembleia Geral, 1872. Óleo sobre tela. Museu Imperial, Petrópolis
D. Pedro II.
S. R. de Sá. Retrato de D. Pedro I, 1826. Óleo sobre tela. Museu Imperial, Petrópolis
D. Pedro I.
Sobre a construção das imagens de Dom Pedro I, como jovem, e de Dom Pedro II, como
velho, observou uma estudiosa:
A ilustração do pai jovem e do filho velho tem causado uma certa perplexidade aos jovens leitores e falta
a explicação do aparente paradoxo. A imagem de um Dom Pedro II velho foi construída no período pós-
monárquico e demonstra a intenção dos republicanos em explicar a queda de uma monarquia
envelhecida que não teria continuidade. É interessante destacar a permanência dessas ilustrações na
produção atual dos manuais, reforçando uma interpretação utilizada pelos republicanos no início do
século XX, mesmo depois de variadas pesquisas e publicações historiográficas sobre os conflitos e
tensões do período.
BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histórico na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1998. p. 80. (Repensando o
ensino).
Página 304
No entanto, é preciso que se repita à exaustão: “eu vi” não significa “eu conheço”.
Assim, ver no noticiário televisivo um episódio do conflito no Oriente Médio não
significa conhecer aquele conflito, seus motivos, seu contexto, o teatro de operações
etc.
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1998. p. 122. (Repensando o ensino).
LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família: leitura da fotografia histórica. São Paulo: Edusp, 1993. v. 9, p. 12. (Texto
& arte).
De fato, a imagem é captada pelo olho, mas traduzida pela palavra. Tomá-la como fonte
para o conhecimento da História envolve vê-la como uma representação, uma
estratégia, uma linguagem com sintaxe própria. Para obter as informações a partir
dela é indispensável desnaturalizá-la e contextualizá-la, interrogando-a com perguntas
tais como: por quê, por quem, em que contexto e com que intenção foi produzida.
É indispensável, enfim, perceber que a imagem não reproduz o real. Ela congela um
instante do real, “organizando-o” de acordo com uma determinada estética e visão de
mundo.
O ouro e os diamantes passavam pelas autoridades no interior de estátuas ocas de santos feitas de
madeira. Daí a expressão “santinho do pau oco”: pessoa que tem aparência de santo, mas não é
confiável.
Com base nas reflexões de alguns estudiosos e na nossa experiência didática, e cientes
de que essa tarefa não é das mais fáceis, propomos a seguir alguns procedimentos
para introduzir a leitura de imagens fixas na sala de aula.
Passo 1. Apresentar aos alunos uma imagem (fotografia, pintura, gravura, caricatura
etc.) sem qualquer legenda ou crédito. A seguir, pedir que eles observem a imagem e
descrevam livremente o que estão vendo, antes de fornecer qualquer informação. A
intenção é permitir que eles associem o que estão vendo às informações que já
possuem, levando em conta, portanto, seus conhecimentos prévios. Nessa leitura
inicial, os alunos são estimulados a identificar o tema, os personagens, suas ações,
posturas, vestimentas, calçados e adornos, os objetos presentes na cena e suas
características, o que está em primeiro plano e ao fundo, se é uma cena cotidiana ou
rara. Enfim, estimular nos alunos o senso de observação e a capacidade de levantar
hipóteses e traçar comparações.
Passo 3. De posse das informações obtidas na pesquisa, pedir aos alunos que
produzam uma legenda para a imagem em foco. Comentar com eles que a legenda
pode ser predominantemente descritiva, analítica e/ou conter um comentário
Página 306
Ao comentar as legendas produzidas pelos alunos, lembrar que o que estão vendo é
uma representação do real e não sua reprodução. Evidentemente, essa proposta de
trabalho é apenas uma entre várias possibilidades. Experimentamos esses
procedimentos em sala de aula e eles se mostraram viáveis.
Por fim, dizer que se, diariamente, uma grande quantidade de imagens é posta diante
dos olhos dos alunos numa velocidade crescente, sua transformação em fonte para o
conhecimento da História pode, com certeza, ajudar o leitor a ganhar autonomia e
capacidade crítica: um leitor capaz de perceber que a imagem não reproduz o real, ela
congela um instante do real, “organizando-o” de acordo com uma determinada estética
e visão de mundo; um leitor capaz de olhar criticamente as imagens dos meios de
comunicação, ciente de que a imagem efêmera que a mídia está veiculando como
verdadeira pode ser – e quase sempre é – a imagem preferida, a que ela escolheu
mostrar!
Sim, certamente, mas de uma maneira muito peculiar. Daí a necessidade de tomarmos
alguns cuidados ao utilizá-lo.
Todo filme, seja ele ficcional ou documental, é uma fonte a ser considerada pelo
historiador, pois o que se vê na tela é um tipo de registro do que aconteceu em algum
lugar, em algum momento.
No gênero ficcional, temos o registro de atores, figurinos, cenários, luzes etc., filmados
numa ordem diversa da que vemos na tela. A ordenação das sequências é arranjada
depois, no momento da montagem. No filme documental, a câmera registra imagens
selecionadas pelo documentarista, previamente ou no calor da hora. Depois de
revelados os negativos, o realizador monta-os, corta o que não lhe agrada, coloca-os
em uma determinada ordem, dá-lhes certo ritmo, insere trechos de outros filmes,
depoimentos etc. A isso se chama editar. Se ele não age assim, não temos filme, mas o
que os profissionais chamam de “material bruto”, algo parecido com um automóvel
inteiramente desmontado que não serve a nenhum motorista.
Isso é ruim? De forma alguma. A consciência disso é que permite ao professor desvelar
o que pode estar oculto, subentendido, enfim, o tipo particular de registro que
qualquer filme é, seja ele documental ou ficcional. Ao fazer uso do filme ficcional,
sugerimos lembrar aos alunos que se está diante de uma versão, de uma
representação, e não dos fatos históricos tal como eles ocorreram.
Página 307
Mas nem por isso a ficção “de época” deve ser tratada como uma mentira
inconsequente, interesseira. Ela é uma narrativa que procura transformar em imagens
verossímeis o acontecido, ou imaginar como pode ter acontecido, servindo-se dos
meios disponíveis na ocasião em que o filme foi realizado. Assim, desqualificar um
filme porque não apresenta a “verdade” é uma ingenuidade. Ora, o que é uma verdade
acabada do ponto de vista histórico?
Geralmente, o filme histórico revela mais sobre a época em que foi feito do que sobre a
época que pretendeu retratar. Um exemplo: Danton, o processo da Revolução (1983),
de Andrzej Wajda, é um filme sobre a Revolução Francesa de 1789, mas a obra que
Wajda realiza é mais uma crítica ao autoritarismo e ao clima de medo vivido na
Polônia dos anos de 1980 (lugar e tempo em que o diretor viveu) do que uma
narrativa sobre o episódio vivido pelos franceses em 1789 (época em que o filme foi
ambientado).
a) Muitas horas de preparo. Decidindo por um filme, o professor deve assistir a ele
pelo menos duas vezes. Na segunda, deve marcar, com muita atenção, as principais
sequências, cenas e planos, para saber repeti-los no momento adequado da aula,
comentando-os.
d) Percepção de que o sentido de um filme narrativo está no modo como ele conta a
história, seu ritmo, a duração e a sucessão dos planos, o posicionamento da câmera, o
tipo de luz e de fotografia escolhidos, o uso ou não da música, o estilo de interpretação
dos atores, e assim por diante. Tudo isso muito bem amarrado é que nos dá a
significação e o prazer de um bom filme. Um bom livro não se transforma
necessariamente em um bom filme.
BITTENCOURT, Circe. Livros didáticos entre textos e imagens. In: ________ (Org.). O
saber histórico na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1998.
BORGES, Maria Eliza Linhares. História & fotografia. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
D’ALESSIO, Márcia Mansor (Org.). Reflexões sobre o saber histórico. São Paulo: Unesp,
1998.
GAULUPEAU, Yves. Les manuels par l’image: pour une approche sérielle des contenus.
Histoire de l’Education, Paris: INRP, n. 58, maio de 1993.
LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família: leitura da fotografia histórica. São Paulo:
Edusp, 1993.
NAVES, Rodrigo. A forma difícil: ensaios sobre a arte brasileira. 2. ed. São Paulo: Ática,
2001.
O vídeo está umbilicalmente ligado à televisão e a um contexto de lazer, e entretenimento, que passa
imperceptivelmente para a sala de aula. Vídeo, na cabeça dos alunos, significa descanso e não “aula”, o
que modifica a postura, as expectativas em relação ao seu uso. Precisamos aproveitar essa expectativa
positiva para atrair o aluno para os assuntos do nosso planejamento pedagógico. Mas ao mesmo tempo,
saber que necessitamos prestar atenção para estabelecer novas pontes entre o vídeo e as outras
dinâmicas da aula.
[...]
Linguagens da TV e do vídeo
[...]
O vídeo explora também e, basicamente, o ver, o visualizar, o ter diante de nós as situações, as pessoas,
os cenários, as cores, as relações espaciais (próximo-distante, alto-baixo, direita-esquerda, grande-
pequeno, equilíbrio-desequilíbrio). Desenvolve um ver entrecortado – com múltiplos recortes da
realidade – através dos planos – e muitos ritmos visuais: imagens estáticas e dinâmicas, câmera fixa ou
em movimento, uma ou várias câmeras, personagens quietos ou movendo-se, imagens ao vivo, gravadas
ou criadas no computador. Um ver que está situado no presente, mas que o interliga [...] com o passado e
com o futuro. [...]. A fala aproxima o vídeo do cotidiano, de como as pessoas se comunicam
habitualmente. Os diálogos expressam a fala coloquial, enquanto o narrador (normalmente em off)
“costura” as cenas, as outras falas, dentro da norma culta, orientando a significação do conjunto. A
narração falada ancora todo o processo de significação.
[...] O vídeo é sensorial, visual, linguagem falada, linguagem musical e escrita. Linguagens que interagem
superpostas, interligadas, somadas, não separadas. Daí a sua força. Atingem-nos por todos os sentidos e
de todas as maneiras. O vídeo nos seduz, informa, entretém, projeta em outras realidades (no
imaginário) em outros tempos e espaços. O vídeo combina a comunicação sensorial-cenestésica, com a
audiovisual, a intuição com a lógica, a emoção com a razão. [...]
TV e vídeo encontraram a fórmula de comunicar-se com a maioria das pessoas, tanto crianças como
adultas. O ritmo torna-se cada vez mais alucinante (por exemplo, nos videoclipes).
[...]
Vídeo-enrolação: exibir um vídeo sem muita ligação com a matéria. O aluno percebe que o vídeo é
usado como forma de camuflar a aula. Pode concordar na hora, mas discorda do seu mau uso.
Vídeo-perfeição: existem professores que questionam todos os vídeos possíveis porque possuem
defeitos de informação ou estéticos. Os vídeos que apresentam conceitos problemáticos podem ser
usados para descobri-los, junto com os alunos, e questioná-los.
Só vídeo: não é satisfatório didaticamente exibir o vídeo sem discuti-lo, sem integrá-lo com o assunto de
aula, sem voltar e mostrar alguns momentos mais importantes.
Propostas de utilização
É, do meu ponto de vista, o uso mais importante na escola. Um bom vídeo é interessantíssimo para
introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade, a motivação para novos temas. Isso facilitará
o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar o assunto do vídeo e da matéria.
O vídeo muitas vezes ajuda a mostrar o que se fala em aula, a compor cenários desconhecidos dos alunos.
Por exemplo, um vídeo que exemplifica como eram os romanos na época de Júlio César ou Nero, mesmo
que não seja totalmente fiel, ajuda a situar os alunos no tempo histórico. Um vídeo traz para a sala de
aula realidades distantes dos alunos, como por exemplo, a Amazônia ou a África. A vida se aproxima da
escola através do vídeo.
[...]
Vídeo que mostra determinado assunto, de forma direta ou indireta. De forma direta, quando informa
sobre um tema específico orientando a sua interpretação. De forma indireta, quando mostra um tema,
permitindo abordagens múltiplas, interdisciplinares.
[...]
Dinâmicas de análise
Análise em conjunto
O professor exibe as cenas mais importantes e as comenta junto com os alunos, a partir do que estes
destacam ou perguntam. É uma conversa sobre o vídeo, com o professor como moderador.
[...]
Análise globalizante
Fazer, depois da exibição, estas quatro perguntas:
»» Aspectos negativos
Se houver tempo, essas perguntas serão respondidas primeiro em grupos menores e depois
relatadas/escritas no plenário. O professor e os alunos destacam as coincidências e divergências. O
professor faz a síntese final, devolvendo ao grupo as leituras predominantes (onde se expressam valores,
que mostram como o grupo é).
[...]
Análise da linguagem
[...]
»» Que ideias passa [...] o programa (o que diz [...] esta história)
»» Ideologia do programa
»» Valores afirmados e negados pelo programa (como são apresentados a justiça, o trabalho, o amor, o
mundo)
»» Como cada participante julga esses valores (concordâncias e discordâncias nos sistemas de valores
envolvidos). A partir de onde cada um de nós julga a história.
Completar o vídeo
MORAN, José Manuel. O vídeo na sala de aula. Comunicação & Educação, São Paulo: ECA-Moderna, p. 27-35, jan./abr.
de 1995.
Bibliografia complementar
BABIN, Pierre; KOPULOUMDJIAN, Marie-France. Os novos modos de compreender : a
geração do audiovisual e do computador. São Paulo: Paulinas, 1989.
FERRÉS, Joan. Vídeo e educação. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
MORAN, José Manuel. Mudanças na comunicação pessoal. 2. ed. São Paulo: Paulinas,
2000.
Art. 2º [...] o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF, dez. 1996.
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 9 jun. 2016.
Art. 35 [...]
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF, dez. 1996.
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 9 jun. 2016.
Com base nessa nova perspectiva, concluiu-se que, para capacitar os jovens para o
enfrentamento de um mundo que muda constantemente e de modo acelerado, é
necessário estimulá-los a desenvolver um conjunto variado de competências e
habilidades. Segundo o sociólogo suíço Philippe Perrenoud:
Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades,
informações etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações. Três exemplos:
»» Saber orientar-se em uma cidade desconhecida mobiliza as capacidades de ler um mapa, localizar-se,
pedir informações ou conselhos; e os seguintes saberes: ter noção de escala, elementos da topografia ou
referências geográficas.
»» Saber curar uma criança doente mobiliza as capacidades de observar sinais fisiológicos, medir a
temperatura, administrar um medicamento; e os seguintes saberes: identificar patologias e sintomas,
Página 312
»» Saber votar de acordo com seus interesses mobiliza as capacidades de saber se informar, preencher a
cédula; e os seguintes saberes: instituições políticas, processo de eleição, candidatos, partidos,
programas políticos, políticas democráticas etc.
GENTILE, Paola; BENCINI, Roberta. Construindo competências: entrevista com Philippe Perrenoud, Universidade de
Genebra. Nova Escola, set. 2000. Disponível em:
<www.unige.ch/fapse/SSE/teachers/perrenoud/php_main/php_2000/2000_31.html>. Acesso em: 18 maio 2016.
Já o termo habilidade pode ser definido como a capacidade de realizar uma tarefa ou
um conjunto de tarefas necessárias ao desenvolvimento de uma competência. Por
exemplo, para ser considerado competente como cirurgião, o indivíduo precisa ter
habilidades tais como diagnosticar, decidir, cortar, suturar e, mais recentemente,
manusear equipamentos de informática.
Habilidades
Habilidades
H 8 – Analisar a ação dos Estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos
populacionais e ao enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
Habilidades
Habilidades
Habilidades
Habilidades
Sabendo que o Pisa constrói as questões das provas de leitura com vistas a medir a
compreensão e a interpretação de textos e imagens e o grau de autonomia do aluno
para compreender a realidade e reconhecê-la por meio da representação gráfica,
conclui-se que nossos alunos ainda precisam desenvolver muito a competência leitora.
Daí a ênfase que demos a ela no livro.
Apresentamos a seguir alguns textos que subsidiam a nossa decisão de assumir que ler
e escrever é também um compromisso do componente curricular História.
• Texto 1
O texto a seguir faz parte da obra Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Leia-
o com atenção.
[...] Reclamamos da má qualidade da leitura e da escrita dos estudantes em geral, mas a quem compete a
responsabilidade de reverter essa situação? [...]
[...]
[...] ler e escrever não é questão exclusiva da aula de português, mas compromisso da escola como um
todo. [...]
[...]
A sociedade vê a escola como o espaço privilegiado para o desenvolvimento da leitura e da escrita [...].
Todo estudante deve ter acesso a ler e a escrever em boas condições, mesmo que nem sempre tenha uma
caminhada escolar bem traçada. Independente de sua história, merece respeito e atenção quanto a suas
vivências e expectativas. Daí a importância da intervenção mediadora do professor e da ação
sistematizada da escola na qualificação de habilidades indispensáveis à cidadania e à vida em sociedade,
para qualquer estudante, como são o ler e o escrever.
O professor é aquele que apresenta o que será lido: o livro, o texto, a paisagem, a imagem, a pintura, o
corpo em movimento, o mundo. É ele quem auxilia a interpretar e a estabelecer significados. Cabe a ele
criar, promover experiências, situações novas e manipulações que conduzam à formação de uma geração
de leitores capazes de dominar as múltiplas formas de linguagem e de reconhecer os variados e
inovadores recursos tecnológicos, disponíveis para a comunicação humana presentes no dia a dia.
A escola é aqui unanimemente responsabilizada pela tarefa de levar o aluno a atrever-se a errar; a
construir suas próprias hipóteses a respeito do sentido do que lê e a assumir pontos de vista próprios
para escrever a respeito do que vê, do que sente, do que viveu, do que leu, do que ouviu em aula, do que
viu no mundo lá fora, promovendo em seus textos um diálogo entre vida e escola, entre a disciplina e o
mundo.
[...]
NEVES, Iara C. Bitencourt et al. (Org.). Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 9. ed. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2011. p. 15-17.
• Texto 2
O texto a seguir foi escrito por Maria Auxiliadora Schmidt, professora pós-doutorada
em Didática da História pela Universidade Nova de Lisboa (Portugal), e Marlene
Cainelli, doutora pela Universidade Federal do Paraná. Leia-o com atenção.
É na sala de aula que se realiza um espetáculo cheio de vida e sobressaltos. Cada aula é única. Nesse
espetáculo, a relação pedagógica é, por essência, plural; uma relação em que o “professor fornece a
matéria para raciocinar, ensina a raciocinar, mas, acima de tudo, ensina que é possível raciocinar”.
Nesse sentido, o professor de história ajuda o aluno a adquirir as ferramentas de trabalho necessárias
para aprender a pensar historicamente, o saber-fazer, o saber-fazer-bem, lançando os germes do
histórico. Ele é o responsável por ensinar ao aluno como captar e valorizar a diversidade das fontes e dos
pontos de vista históricos, levando-o a reconstruir, por adução, o percurso da narrativa histórica. Ao
professor cabe ensinar ao aluno como levantar problemas, procurando transformar, em cada aula de
história, temas e problemáticas em narrativas históricas.
Página 316
Ensinar História passa a ser, então, dar condições ao aluno para poder participar do processo de fazer o
conhecimento histórico, de construí-lo. O aluno deve entender que o conhecimento histórico não é
adquirido como um dom, como comumente ouvimos os alunos afirmarem. O aluno que declara “eu não
sirvo para aprender História” evidencia a interiorização de preconceitos e incapacidades não resolvidas.
Ele deve entender que o conhecimento histórico não é uma mercadoria que se compra bem ou mal.
Assim, a aula de história é o espaço em que um embate é travado diante do próprio saber: de um lado, a
necessidade de o professor ser o produtor do saber, de ser partícipe da produção do conhecimento
histórico, de contribuir, pessoalmente, para isso; de outro, a opção de se tornar tão somente eco do que
já foi dito por outros.
A sala de aula não é apenas o espaço onde se transmitem informações, mas o espaço onde se estabelece
uma relação em que interlocutores constroem significações e sentidos. Trata-se de um espetáculo
impregnado de tensões, no qual se torna inseparável o significado da relação entre teoria e prática, entre
ensino e pesquisa. Na sala de aula, evidenciam-se, de forma mais explícita, os dilaceramentos da
profissão de professor e os embates da relação pedagógica.
[...]
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2009. p. 33-35. (Coleção
Pensamento e ação na sala de aula).
• Texto 3
[…]
Há algumas décadas, houve um equívoco expressivo na modernização do ensino. Julgou-se que era
necessário introduzir máquinas para se ter uma aula dinâmica. Multiplicaram-se os retroprojetores, os
projetores de slides e, posteriormente, os filmes em sala de aula. O retroprojetor, em particular, ganhou
uma popularidade extraordinária no ensino médio, fundamental e superior. Mais do que modernizar (o
que implica um ar de mera reforma), trata-se de pensar se a mensagem apresenta validade, tenha ela
cara nova ou velha.
Que seja dito e repetido à exaustão: uma aula pode ser extremamente conservadora e ultrapassada
contando com todos os mais modernos meios audiovisuais. Uma aula pode ser muito dinâmica e
inovadora utilizando giz, professor e aluno. Em outras palavras, podemos utilizar meios novos, mas é a
própria concepção de História que deve ser repensada. O recorte que o professor faz é uma opção
política. Por mais antiga que pareça essa afirmação, ela se tornou muito importante num país como o
nosso, redemocratizado nos aspectos formais, mas com padrões de desigualdade de fazer inveja aos
genocídios clássicos do passado.
[...]
O maior objetivo deste livro é fazer o leitor, possivelmente um professor ou candidato a professor,
perceber que, sem uma reflexão sobre a mudança contínua e as permanências necessárias, a atividade do
professor torna-se insuportável com o passar dos anos. Todas as profissões têm sua “perda de aura” no
enfrentamento entre a pluma do ideal e o aço do real, mas aquelas que trabalham com a formação de
pessoas parecem tornar esse desgaste ainda mais gritante, pois contrariam a descoberta que uma aula
deve ser. Continuar descobrindo coisas em nossa área pode ser uma forma de diminuir bastante esse
desgaste. Ler, criticar, discutir, reunir-se com outras pessoas interessadas em não morrer profissional e
pessoalmente podem ser caminhos para atenuar esse desgaste.
KARNAL, Leandro. (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003. p. 9-11.
Página 317
• Texto 4
O texto a seguir foi escrito por Fernando Seffner, professor adjunto da Faculdade de
Educação da UFRGS e docente e orientador junto ao Programa de Pós-Graduação em
Educação. Leia-o com atenção.
Uma leitura chama o uso de outras fontes de informação, de outras leituras, possibilitando a articulação
de todas as áreas da escola. Uma leitura remete a diferentes fontes de conhecimentos, da história à
matemática. Nesse sentido, leitura e escrita são tarefas fundamentais da escola e, portanto, de todas as
áreas. Estudar é ler e escrever.
Os conhecimentos históricos podem servir de apoio na leitura de qualquer outra modalidade de texto,
em qualquer outra área, na medida em que todo texto é datado historicamente, vinculado a determinada
visão de mundo ou conjuntura. A partir de referenciais da história, podemos interrogar textos
produzidos em outras áreas, verificando sua relação com as discussões e problemáticas de cada período
histórico. Nesse sentido, um olho no texto e outro na realidade social circundante constituem a receita
mais apropriada para as atividades de leitura e escrita numa aula de história:
Admita-se, portanto, que ler envolve, de um lado, uma competência específica – que pode ser dada pela
escola quando se trata do domínio do código escrito – e, de outro, uma convivência com as complexas
instâncias da sociedade global. A rigor, quando se trata de ler um texto escrito, essas duas variáveis se
cruzam num elemento específico dado pelo signo verbal impresso. (CITELLI, 1994, p. 48)
As atividades de leitura e escrita associadas ao ensino de história devem possibilitar que o aluno elabore
seu projeto social (escrever) a partir da análise de outros projetos (leitura do social). Fazer do aluno um
agente histórico é ensiná-lo a reconhecer diferentes projetos sociais embutidos nas diferentes falas
sociais, e ajudá-lo a construir sua trajetória a partir destes referenciais.
SEFFNER, Fernando. Leitura e escrita na história. In: NEVES, Iara C. Bitencourt et al. (Org.). Ler e escrever:
compromisso de todas as áreas. 9. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2011. p. 123.
Boa parte do que os alunos aprendem em História na escola é resultado da leitura (de
textos e imagens), daí a importância de familiarizá-los também com os procedimentos
de leitura, específicos e diferenciados, adequados a cada um desses registros. Sem
adentrarmos na discussão teórica sobre o assunto, é importante lembrar que imagem
e texto possuem estatutos diferentes e demandam tratamentos e abordagens
diferenciados. Ao receberem um tratamento adequado, os textos e as imagens deixam
de servir só para ilustrar ou exemplificar um determinado tema e passam a ser
materiais a serem interrogados, confrontados, comparados e contextualizados.
Página 318
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. p. 334.
É esse trabalho sistemático e planejado que permite aos leitores e escritores alunos,
com a mediação do professor, conquistar autonomia para ler e contextualizar textos e
imagens.
»» delimitar o tema e definir como cada disciplina pode contribuir para investigá-lo;
Esta escolha deve ser feita por meio de um amplo debate com os alunos, incorporando
seus desejos e interesses, pois o sucesso do projeto dependerá, em boa parte, do
envolvimento deles no processo. Para a escolha do tema propomos que se adotem os
seguintes critérios:
Página 320
Sugestão: escolhido o tema, afixar uma faixa ou painel na entrada da escola com o
título do projeto, a fim de manter a comunidade externa informada e estimular sua
participação.
Para César Coll, a avaliação pode ser definida como uma série de atuações que devem
cumprir duas funções básicas:
»» controlar – ou seja, verificar se os objetivos foram ou não alcançados (ou até que
ponto o foram).
Para diagnosticar e controlar o processo educativo César Coll recomenda o uso de três
tipos de avaliações:
Página 321
Fonte: COLL, César. Psicologia e currículo. São Paulo: Ática, 1999. p. 151. (Fundamentos).
Nos PCN, a avaliação também é vista como um conjunto de atuações que tem a função
de alimentar, sustentar e orientar a intervenção pedagógica. Os PCN recomendam uma
avaliação inicial, para o planejamento do professor e uma avaliação ao final de uma
etapa de trabalho, a qual, por sua vez, subsidiará a avaliação final. Recomendam,
assim, uma avaliação contínua do processo de ensino-aprendizagem. Por meio da
avaliação contínua o professor colhe elementos para planejar; o aluno toma
consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades; a escola identifica os
aspectos das ações educacionais que necessitam de maior apoio.
Os alunos podem ser avaliados por meio de produções escritas, orais, gestuais, da
resolução de problemas, da geração de imagens (fotos, desenhos, mapas, gráficos,
tabelas), da participação em sala de aula e nas atividades extraclasse. Um dos
instrumentos para avaliar essa participação do aluno é a observação sistemática.
Digamos que um aluno tenha tido um desempenho não satisfatório durante a
elaboração em grupo de um produto para o Projeto, mas contribuiu com um material
variado para essa atividade. Sugestão: anotar na ficha a atitude do aluno e levá-la em
consideração na avaliação formativa.
A avaliação final do projeto deve ser continuada e visar ao processo educacional como
um todo. Pode-se recorrer aos seguintes instrumentos:
Página 322
b) entrevista com participantes do projeto visando colher dados sobre sua atuação e
sua visão dele;
MACHADO, Nilson José. Educação: projetos e valores. 3. ed. São Paulo: Escrituras,
2000. (Ensaios transversais).
NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos: uma jornada interdisciplinar rumo
ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. São Paulo: Érica, 2001.
Então, perguntamos nós, é por obediência à lei que se deve estudar a temática afro e a
temática indígena?
Não só, pois, além de obedecer à lei e contribuir assim para a construção da cidadania,
há razões para se trabalhar a temática afro e a indígena na escola que merecem ser
explicitadas, a saber:
b) Esse trabalho atende a uma antiga reivindicação dos movimentos indígenas e dos
movimentos negros: “o direito à história”.
Cabe lembrar também que a população indígena atual (817 mil pessoas), segundo o
Censo 2010, vem crescendo e continua lutando em defesa de seus direitos à cidadania
plena. Já os afro-brasileiros (pardos e pretos, segundo o IBGE) constituem cerca de
metade da população brasileira. Além disso, todos os brasileiros, independentemente
da cor ou da origem, têm o direito e a necessidade de conhecer a diversidade étnico-
cultural existente no território nacional.
• Texto 1
Os habitantes da África devem ser pensados por nós como civilizações e como culturas. A riqueza da
história dos povos do continente só é compreensível se conseguirmos vislumbrar toda a diversidade e
genialidade que cada povo conseguiu forjar ao longo de milênios de lutas e interação entre si e com a
natureza.
A negação a essas culturas, que partiu de pressupostos históricos hoje superados, estabeleceu o “atraso”
africano em contraposição ao referencial de “progresso” europeu. Com isso, durante muito tempo
acreditou-se que o berço da humanidade fosse a Europa, mas em meados do século XX o investigador
Cheikh Anta Diop publicou uma série de pesquisas em que demonstrou ser a África o nascedouro da
humanidade e da civilização ocidental. Pesquisas posteriores corroboraram esses pressupostos,
possibilitando a avaliação de que o homo sapiens sapiens surgiu na África há cerca de 130 000 anos e
que o seu deslocamento povoou a Europa há 40 000 anos. Os achados arqueológicos, as pesquisas com
carbono-14 e o desenvolvimento do conhecimento genético têm proporcionado elementos que
provocam a refutação dos discursos racialistas e, sobretudo, esclarecem alguns pontos obscuros, não só a
respeito da história da África, como dos demais continentes.
Os elos estabelecidos pela arqueologia e antropologia são agora ratificados pelas pesquisas genéticas,
que esvaziam a ideia de raça e propõem uma origem única. A ousada pesquisa da equipe de Allan Wilson,
de rastreamento de polimorfismos no DNA mitocondrial de mulheres descendentes de diferentes
grupos, portanto com fenótipos diferentes, concluiu que a humanidade teria como origem uma mulher
subsaariana que foi designada “Eva, mãe de todos nós”.
ARNAUT, Luiz; LOPES, Ana Mônica. História da África: uma introdução. Belo Horizonte: Crisálida, 2005. p. 20-21.
Página 324
• Texto 2
Desde 1988 o Ilê Aiyê vem desenvolvendo ações educativas através da Escola Mãe
Hilda no sentido de ampliar o conhecimento e fortalecer a identidade e a autoestima
das crianças afrodescendentes. Em 1995, o Ilê Aiyê criou o Projeto de Extensão
Pedagógica que visa à construção da cidadania em torno de três eixos: Educação
Preventiva Integral, Etnicidade e Iniciação Profissional. A partir desse projeto também
foi criada a Banda Erê e o Coral Erê, que pertencem à Escola de Percussão, Centro e
Dança Band’Erê. O Ilê já firmou convênios com a Prefeitura Municipal de Salvador e a
Universidade Estadual da Bahia (Uneb) para a área de educação.
Juca Varella/Folhapress
A característica mais marcante do trabalho do Projeto de Educação Pedagógica do Ilê é o seu corte racial.
Este tem sido o eixo fundamental de todo e qualquer trabalho desenvolvido pelo Ilê, notadamente na
área educacional. Em alguns momentos esta opção pelos afrodescendentes e pelos excluídos tem servido
de pretexto para fortes críticas ao trabalho do Ilê, acusando-os de racismo às avessas. Estas críticas têm
origem clara e definida: os conservadores de sempre que não se conformam com o combate aberto que o
Ilê faz a todas as formas de racismo e o sucesso que este trabalho vem alcançando na cidade do Salvador
[...].
ARAÚJO, Zulu. A influência dos blocos afros na formulação e implementação das políticas de ações afirmativas na
cidade do Salvador. 2002, p. 14. Disponível em:
<www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2002/Com_RC_ST24_Araujo_texto.pdf>. Acesso em: 26 maio 2016.
O trabalho do Ilê Aiyê serviu de inspiração para alguns projetos, como o “Projeto de
Profissionalização para Cidadania”, do Centro de Estudos Afro-Orientais da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), voltado para a educação afro-brasileira, e
projetos do poder público em andamento visando combater a evasão escolar e acolher
crianças em situação de risco, cujo número em Salvador não é pequeno.
A Escola Criativa Olodum é uma obra do Grupo Cultural Olodum, fundado em 1979, no
Pelourinho, e tem entre seus principais objetivos a construção da cidadania a partir
das experiências de vida dos próprios alunos. Sua ação pioneira foi a Banda Mirim do
Olodum, composta de crianças de 7 a 12 anos, expostas a situações de risco e
moradoras do Pelourinho. A Banda Mirim é hoje reconhecida no exterior (em países
Página 325
• Texto 3
Maria Stella de Azevedo Santos ou Mãe Stella (como é mais conhecida) nasceu em
Salvador e é bisneta do africano Konigbabé e dos Azevedo, de Portugal. Formada em
enfermagem, está aposentada da profissão e dedica seu tempo à sua religião. Tem dois
livros publicados: E daí aconteceu o encanto (Stella Azevedo e Cléo Martins, 1988,
edição das autoras) e Meu tempo é agora (São Paulo, Oduduwa, 1993). Foi a primeira
iyalorixá a escrever livros e artigos sobre a sua religião, gerando polêmica por se
colocar contrária ao sincretismo religioso. No texto a seguir ela nos conta uma história
do saber africano tradicional.
Histórias de Oyá3
Iansã é um orixá caracterizada pela rapidez nos seus atos e pensamentos. Foi Iansã que instituiu o ritual
axexê ou ajejê, que vem a ser vigília.
O axexê é um ritual, em que durante 7 dias se homenageia a pessoa falecida com cânticos, danças e
alimentos.
Para quem entende algumas das tradições há de ver que é um ritual muito forte e completo, quando são
ditas palavras que nos levam à realidade que a morte é apenas uma mudança de estágio e que o ser não
se acaba. Passa de ser humano para ancestral, quando será sempre presente em nosso pensamento.
Daí diz a cantiga: Morte eu lhe saúdo. A morte tanto leva o velho como a criança. Esse é o maior exemplo
de que entre os seres humanos, todos têm os mesmos direitos, independente de etnia, classe social ou
financeira.
Quando Deus (Olorum) deu atributo a cada Orixá, deu a Osaim a responsabilidade de cuidar dos vegetais.
Daí ele passou a ser o Orixá médico.
No entanto as folhas não servem só pra remédio. Daí, quando cada Orixá precisava de alguma, tinha que
depender da vontade de Osaim. Iansã achando que todos tinham direito às folhas, embora a
responsabilidade fosse de Osaim, tomou uma atitude: provocou um vendaval.
Quando todas as folhas se espalharam, cada Orixá pegou as que lhe convinha. Por isso, apesar de Osaim
ser o responsável pelos vegetais, cada Orixá tem direito a alguns apropriados.
Tiramos daí a lição de que dividir é bem melhor e que os direitos são iguais. Digo, direitos essenciais. Os
demais são adquiridos com o potencial de cada um.
SANTOS, Maria Stella de Azevedo (Mãe Stella de Oxóssi). Histórias de Oyá. Revista Eparrei, Salvador, nov. 2002.
Disponível em: <http://www.casadeculturadamulhernegra.org.br/v1/rn_relig.htm>. Acesso em: 18 maio 2016.
Página 326
BRAZ, Júlio Emílio. Zumbi: o despertar da liberdade. São Paulo: FTD, 1999.
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Sites
Filmes
A cor púrpura. Direção de Steven Spielberg. EUA: Warner, 1985. (154 min).
Entre dois amores. Direção de Sydney Pollack. EUA: Universal Pictures, 1985. (162
min).
Cozinha de Totó. Direção de Harry Hook. Inglaterra: British Screen Productions, 1987.
(87 min).
Canção da liberdade. Direção de Phil Alden Robinson. EUA: Warner Home Video, 2000.
(150 min).
Cidade de Deus. Direção de Fernando Meirelles. Brasil: Lumière e Miramax Films, 2002.
(135 min).
Atlântico negro, na rota dos Orixás. Direção de Renato Barbieri. Brasil: Instituto Itaú
Cultural/ VGP Videographia, 1998. (75 min).
A negação do Brasil. Direção de Joel Zito Araújo. Brasil, 2000. (90 min).
Duelo de titãs. Direção de Boaz Yakin. EUA: Buena Vista Pictures, 2000. (113 min).
Homens de honra. Direção de George Tillman Jr. EUA: 20th Century Fox, 2000. (128
min).
Hotel Ruanda. Direção de Terry George. Itália/ África do Sul/EUA: United Artists/Lions
Gate Films Inc./Imagem Filmes, 2004. (121 min).
Kiriku e a feiticeira. Direção de Michel Ocelot. França: ArtMann, 1998. (71 min).
Meu mestre, minha vida. Direção de John G. Avildsen. EUA, 1987. (109 min).
Quanto vale ou é por quilo? Direção de Sérgio Bianchi. Brasil, 2005. (104 min).
» História – A ciência que problematiza e narra a experiência de todos os homens no tempo, que auxilia
na constituição da identidade e na orientação da vida prática (BLOCH, 2000; RÜSEN, 2007).
»» Sociedade – Totalidade ordenada de indivíduos que atua coletivamente (DA MATA, 1981).
»» Cultura – Sistema de significados (hábitos, regras, leis), atitudes e valores partilhados por um grupo
e as formas simbólicas (apresentações, objetos artesanais) em que eles são expressos ou encarnados
(BURKE, 1989).
»» Indígenas – São os que se identificam e são reconhecidos como indígenas e também os que guardam
relações históricas com as sociedades pré-colombianas (SANTILLI, 2000).
»» Identidade/diferença – É uma entidade abstrata, sem existência real, mas indispensável como
ponto de referência. A identidade adquire sentido por meio da linguagem e dos sistemas simbólicos
pelos quais ela é representada. Ela é simplesmente aquilo que se é. Exemplos: “sou brasileiro”, “sou
negro”, “sou homem” (LÉVI-STRAUSS, 1977; SILVA, 2000).
»» Diversidade – Multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram
sua expressão (símbolos, artes, valores) entre e dentro dos grupos e sociedades (UNESCO, 2007).
»» Etnocentrismo – Visão das coisas segundo a qual nosso próprio grupo é o centro de todas as coisas
e todos os outros grupos são medidos e avaliados em relação a ela. (SUMMER, 1999).
»» Preconceito – Julgamento prévio rígido e negativo sobre um indivíduo ou grupo, efe tuado antes de
um exame ponderado e completo, e mantido rigidamente mesmo em face de provas que o contradizem
(WILLIAMS JR., 1996).
FREITAS, Itamar. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). História: ensino fundamental. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. v. 21, p. 177-178. (Explorando o ensino).
FREITAS, Itamar. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). História: ensino fundamental. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. v. 21, p. 178. (Explorando o ensino).
Enfim,os índios são tão diferentes uns dos outros quanto nós somos dos
estadunidenses, dos chineses, dos russos etc. Cada grupo se vê como um todo. Um
Xavante, um Botocudo ou Ianomâmi, mesmo sabendo-se índio, continua se vendo
como um Xavante, um Botocudo, um Ianomâmi.
• Texto 1
O texto a seguir é de Luís Donisete Benzi Grupioni, um estudioso dos povos indígenas,
e sua importância reside na caracterização que ele faz daquilo que torna os indígenas
semelhantes entre si e diferentes do restante da sociedade.
As sociedades indígenas compartilham de um conjunto de traços e elementos básicos, que são comuns a
todas elas e as diferenciam de sociedades de outro tipo. A lógica e o modelo societal compartilhado pelos
grupos indígenas são diferentes do nosso. Duas ordens de problemas estão colocados: o que faz com que
uma sociedade seja indígena? e o que a diferencia uma das outras? É o modo de viver, de organizar as
relações entre as pessoas e destas com o meio em que vivem e com o sobrenatural que faz com que uma
sociedade seja indígena. Sociedades indígenas são sociedades igualitárias, não estratificadas em classes
sociais e sem distinções entre possuidores dos meios de produção e possuidores de força de trabalho.
São sociedades que se reproduzem a partir da posse coletiva da terra e dos recursos nela existentes e da
socialização do conhecimento básico indispensável à sobrevivência física e ao equilíbrio sociocultural
dos seus membros.
Mais que a especialização, embora sempre haja exímios caçadores, cantadores e artesãos, é a divisão do
trabalho por sexo e por idade que regula a produção nestas sociedades. As tarefas do dia a dia são
repartidas entre homens e mulheres de acordo com suas idades e nenhuma classe ou grupo detém o
monopólio sobre uma parte do processo produtivo ou sobre uma atividade específica. [...]
GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (Org.). Índios no Brasil. São Paulo/Brasília: Global/MEC, 1998. p. 18.
• Texto 2
O texto a seguir, de João Pacheco de Oliveira e Carlos Augusto da Rocha Freire, relata
uma das muitas manifestações de resistência indígena no território colonial, a Revolta
de Ajuricaba, cujo líder tornou-se um ícone das lutas indígenas em defesa da liberdade
e do direito à terra.
A Revolta de Ajuricaba
Na disputa pelas drogas do sertão no século XVII, os portugueses avançaram sobre a região do Vale do
rio Negro, na Amazônia, onde a população indígena tinha grande densidade. Além de empregarem os
índios na coleta dos produtos, interessava aos portugueses expandir as fronteiras territoriais do império
e comercializar escravos indígenas.
Este processo foi iniciado com a construção, em 1669, da fortaleza de São José da Barra, na foz do rio
Negro. Nessa época, o jesuíta Antônio Vieira afirmou que mais de 2 milhões de índios já haviam sido
mortos no processo de colonização do Estado do Maranhão e Grão-Pará (PREZIA; HOORNAERT, 2000).
No Vale do rio Negro, região do rio Jurubaxi, viviam os índios Manao (FARAGE, 1991), povo guerreiro de
língua aruák que dominava outros povos indígenas daquela bacia hidrográfica. Os portugueses trocavam
os índios cativos dos Manao por armas, ferramentas e utensílios diversos, recebendo ainda apoio desses
índios nas expedições de preação de outros povos. Huiuebene Tuxaua Manao, que mantinha esses
vínculos, acabou morto pelos portugueses devido a desentendimentos comerciais.
Página 330
Em 1723, os Manao decidiram vingar Huiuebene. O guerreiro Ajuricaba, seu filho, afastou as aldeias
indígenas dos povoados portugueses e comandou ataques através de emboscadas. Os holandeses da
Guiana cediam armas aos índios, buscando alianças que não se efetivaram nas áreas de fronteira.
O padre jesuíta José de Souza tentou inutilmente convencer os índios a encerrarem o conflito,
procurando cooptar Ajuricaba (FARAGE, 1991). Souza acabou informando à Coroa portuguesa que
Ajuricaba deveria ser subjugado pelas armas.
A Lei de 28/04/1688 considerava como “justa” a guerra contra os inimigos da fé católica e contra os
índios que não reconheciam os domínios reais, ameaçando o Estado português. Baseados nessa lei de
1688, foram elaborados dois “Regimentos de Tropa de Guerra e Resgates no Rio Negro” contra os índios
Manao, enfatizando em 1724 e 1726 que esses índios eram criminosos por desejarem as propriedades de
suas terras no Vale do rio Negro. Ajuricaba tornou-se criminoso por combater os “resgates” e não desejar
alianças com portugueses, impedindo a conquista de mão de obra necessária ao projeto colonial
português (CARVALHO, 1998).
Portugal ampliou os recursos militares para o rio Negro, enviando uma expedição militar com forte
artilharia para bombardear as aldeias indígenas. Belchior Mendes de Morais, comandante da expedição,
seguiu destruindo aldeias e matando os índios habitantes do rio Negro e seus afluentes. Cálculos oficiais
falaram em mais de 40 mil índios mortos, além do extermínio do povo Manao. Aprisionado com centenas
de outros índios Manao, Ajuricaba rebelou-se a caminho da prisão em Belém, morrendo afogado ao se
atirar no rio Negro para escapar dos portugueses.
Ajuricaba tornou-se um mito da Amazônia, presente ainda hoje na memória do povo (SOU- ZA, 1978,
1979; CARVALHO, 1998).
OLIVEIRA, João Pacheco de; FREIRE, Carlos Augusto da Rocha. A presença indígena na formação do Brasil. Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília, DF: Laced/Museu Nacional,
2006. p. 56-57.
• Texto 3
A partir da República se passou a considerar que os índios poderiam evoluir a “um grau superior” de
civilização, equiparando-se aos “brancos”. [...]
Em 1910 foi criado o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), cuja direção foi entregue ao marechal Rondon,
que estivera à frente da Comissão das Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas.
Recorrendo a meios não violentos, Rondon conseguira que muitos povos indígenas autorizassem a
passagem das linhas telegráficas por seus territórios. Ao assumir a direção do SPI, ele estabeleceu como
diretrizes:
• pacificar o índio arredio e hostil para permitir o avanço da civilização nas zonas pioneiras, recém-
abertas à exploração econômica;
• demarcar suas terras, criando “reservas indígenas”, para que eles “parassem de correr de um lado para
o outro”.
As reservas disporiam de um chefe branco, que ensinaria aos índios técnicas civilizadas de agricultura,
noções de higiene, as primeiras letras, ofícios mecânicos e manuais e lhes garantiria tratamento para as
doenças transmitidas pelos brancos. Ali eles também estariam protegidos de usurpadores e de
comerciantes espertos.
O SPI teve o mérito de despertar na opinião pública brasileira a ideia de que o índio é parte da nação. No
entanto, como resultado de sua atuação, houve a extinção de diversos povos.
Página 331
Inúmeros outros grupos sofreram tremendas baixas populacionais. Além disso, com frequência os
próprios funcionários do SPI usavam a mão de obra indígena em regime de semiescravidão nos
seringais, na lavoura etc. [...]
A partir de 1912 o governo brasileiro começou a criar reservas, com o principal objetivo de pacificar e
fixar os índios (liberando parte de seus territórios tradicionais para a ocupação pelos demais brasileiros)
e, ao mesmo tempo, garantir um lugar para que eles pudessem viver.
Para criar reservas era necessário estabelecer limites, mas não havia critérios para definir tais limites.
Por outro lado, não se conhecia a cultura dos povos indígenas que iam sendo contatados, nem tampouco
a dimensão de seus territórios tradicionais de uso e ocupação.
A fixação de limites se tornou a base fundamental para a criação das reservas, com o propósito de
destinar aos índios uma determinada quantidade de terras. Mas desde o início a demarcação se deparou
com um problema legal: perante a lei, os povos indígenas eram considerados menores de idade; assim,
não poderiam ser proprietários das terras da reserva.
VALADÃO, Virgínia. In: Índios do Brasil 2. Secretaria de Educação a Distância, Secretaria de Educação Fundamental.
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novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. 2. ed. São Paulo: Global; Brasília,
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GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA, Aracy Lopes da. Índios no Brasil. 3. ed. São
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GRUPIONI, Luís Donisete Benzi et al. Povos indígenas e tolerância: construindo práticas
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LOPES DA SILVA, Aracy. A questão indígena na sala de aula. São Paulo: Brasiliense,
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PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. Brasil indígena: 500 anos de resistência. São
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ZENUN, Katsue Hamada; ALVES ADISSI, Valeria Maria. Ser índio hoje: a tensão
territorial. São Paulo: Loyola, 1998. v. 1. (História temática retrospectiva).
Sites
Filmes
Tainá, uma aventura na Amazônia. Direção de Tânia Lamarca e Sérgio Bloch. Brasil,
2000. (90 min).
Tainá 2, a aventura continua. Direção de Mauro Lima. Brasil, 2005. (80 min).
Caramuru, a invenção do Brasil. Direção de Jorge Furtado e Guel Arraes. Brasil, 2000.
(110 min).
Brava gente brasileira. Direção de Lúcia Murat. Brasil, 2000. (103 min).
Terra vermelha. Direção de Marco Bechis. Brasil/ Itália, 2008. (180 min).
Avaeté, semente de vingança. Direção de Zelito Viana. Brasil, 1985. (110 min).
Dança com lobos. Direção de Kevin Costner. EUA, 1990. (180 min).
Terra dos índios. Direção de Zelito Viana. Brasil, 1979. (105 min).
Uirá, um índio em busca de Deus. Direção de Gustavo Dahl. Brasil, 1973. (90 min).
Iracema, a virgem dos lábios de mel. Direção de Carlos Coimbra. Brasil, 1979. (98 min).
A lenda de Ubirajara. Direção de André Luiz Oliveira. Brasil, 1975. (100 min).
Um aspecto da história das mulheres que a distingue particularmente das outras é o fato de ter sido uma
história a um movimento social: por um longo período, ela foi escrita a partir de convicções feministas.
Certamente toda história é herdeira de um contexto político, mas relativamente poucas histórias têm
uma ligação tão forte com um programa de transformação e de ação como a história das mulheres. Quer
as historiadoras tenham sido ou não membros de organizações feministas ou de grupos de
conscientização, quer elas se definissem ou não como feministas, seus trabalhos não foram menos
marcados pelo movimento feminista de 1970 e 1980.
[...]
Malgrado os desacordos de interpretação, como no debate sobre a cultura das mulheres, as historiadoras
das mulheres deram prova de engenhosidade em descobrir a experiência das mulheres no passado e em
oferecer uma interpretação crítica. Elas fizeram um trabalho de pioneiras ao redescobrir a importância
de fontes históricas como as biografias e os testemunhos pessoais. As mulheres como atores da história,
suas atividades, suas diferenças de raça, de classe e de origem nacional, suas concepções
Página 333
importantes da história das mulheres: completar a descrição e a interpretação com a explicação; vincular
seus resultados aos problemas atuais mais gerais.
TILLY, L. A. Gênero, história das mulheres. Cadernos Pagu, nº 3, p. 29-62, 1994. Disponível em:
<http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1722/1706>. Acesso em: 27 maio de 2016.
• Texto 2
O texto a seguir foi escrito pela historiadora e editora Carla B. Pinsky, doutora em
Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na área de família
e gênero.
Quando falamos em gênero, estamos falando na construção cultural do que é percebido e pensado como
diferença sexual, ou seja, das maneiras como as sociedades entendem, por exemplo, o que é ser “homem”
e “ser mulher”, e o que é “masculino” e “feminino”. Assim, podemos tratar essas noções como conceitos
históricos. Nessa perspectiva, as ideias sobre “masculinidade” e “feminilidade”, as oposições do tipo [...]
“moça de família”/ “leviana”, e os papéis de identidades tais como “esposa ideal”, “boa mãe”, “pai de
família”, “homossexual”, são encaradas como concepções produzidas, reproduzidas, mas também
transformadas ao longo do tempo, que podem variar em cada contexto social.
As concepções relacionadas à diferença sexual tanto são produtos das relações sociais quanto produzem
e atuam na construção dessas relações. Em outras palavras, assim como as ideias de gênero influenciam
a vida das pessoas, as experiências de homens e mulheres concretos e os elementos materiais de sua
existência, por sua vez, afetam e moldam o pensamento num movimento dialético. Gênero, portanto,
refere-se às ideias que têm como referência a diferença sexual e que servem de base para outras
interpretações do mundo quanto às práticas sociais orientadas por essas ideias.
As relações de gênero são definidas pela maneira como as pessoas dão significados e interpretam suas
experiências (entre elas, a da percepção das diferenças sexuais), em épocas e contextos determinados, e,
ao mesmo tempo, passam a agir de acordo com as representações construídas.
PINSKY, Carla B. Mulheres dos anos dourados. São Paulo: Contexto, 2014. p. 11-12.
• Texto 3
e os modos de ser das pessoas de uma forma que parece envolver toda a vida humana.
Ele ordena nossa forma de pensar delimitando qualidades, espaços, atitudes, poderes a serem
distribuídos entre homens e mulheres. O conjunto dessas classificações é conformado como moralidade
que orienta nosso comportamento, estabelecendo o que é considerado certo e errado, mas não apenas
isso, também funciona como um mecanismo de poder, hierarquizando as pessoas e legitimando as
desigualdades. Esta conformação parece estabelecer gênero como a posição social central na vida de
uma pessoa, sendo uma forma primária de identificação, a partir da qual as outras identificações são
arranjadas ao longo da vida. Ou seja, uma das principais identidades de uma pessoa é sua identidade de
gênero como homem e como mulher. Nesse sentido, gênero conforma nossa subjetividade.
Esta conformação das subjetividades nos leva a uma característica importante da categoria gênero. Por
ser um referente fundamental para a afirmação da identidade, gênero se estabelece de forma relacional,
uma vez que toda identidade se constrói sempre na relação entre um e outro. É a partir das relações
entre homens e mulheres que constituímos os conteúdos culturais de gênero e, nesse sentido, para
estudar as mulheres, os homens devem ser considerados. Da mesma forma, é necessário estudar as
relações entre os próprios homens e entre as próprias mulheres. Torna-se possível compreender que as
mulheres são diferentes entre si, bem como os homens entre eles [...].
Por fim, [...] gênero se constitui numa das primeiras formas para significar e distribuir o poder. Ou seja,
as classificações culturais realizadas com base no gênero, no ocidente, são utilizadas para legitimar a
distribuição do poder entre as pessoas. Tende-se a considerar superior, mais forte e mais poderoso o que
é classificado culturalmente como masculino. O que é classificado culturalmente como feminino é
significado como menor, mais fraco e com menos poder, devendo ficar na esfera da proteção e da
submissão ao masculino.
O conjunto dessas operações, que orientam nossas práticas sociais, atua nas nossas vidas de maneira
interligada e inconsciente. Elas têm um poder de verdade que dificulta serem questionadas. As aceitamos
sem entender que elas foram elaboradas ao longo da história e que por isso podem ser transformadas.
ALBERNAZ, L. S. F.; LONGHI, M. Para compreender gênero: uma ponte para relações igualitárias entre homens e
mulheres. In: SCOTT, P. et al. (Org.). Gênero, diversidade e desigualdades na educação: interpretações e reflexões para
formação docente. Editora Universitária: Recife, 2009. p. 84-85.
BRUSCHINI, Maria Cristina; PINTO, Celi Regina. Tempos e lugares de gênero. São Paulo:
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sobre corpo, mídia e novas tecnologias [on-line]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo:
Cultura Acadêmica, 2010.
DEL PRIORE, Mary. História das mulheres: as vozes do silêncio. In: FREITAS, Marcos
César de (Org.) Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto/EDUSF,
1998.
DEL PRIORE, Mary (Org.); BASSANEZI, Carla (Coord.). História das mulheres no Brasil.
8. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
DUBY, Georges; PERROT, Michelle (Org.). História das mulheres no Ocidente: o século
XX. Porto/ São Paulo: Afrontamento/Ebradil, 1991.
Página 335
PEDRO, Joana M.; WOLF, Cristina F.; VEIGA, Ana Maria (Org.). Resistência, gênero e
feminismo contra as ditaduras no Cone Sul. Florianópolis: Mulheres, 2011.
PEDRO, Joana M.; GROSSI, Miriam P. (Org.). Masculino, feminino, plural: gênero na
interdisciplinaridade. Florianópolis: Mulheres, 1998.
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2007.
SELBACH, Jeferson Francisco [et al.]. Mulheres: história e direitos. Cachoeira do Sul:
Edição do autor, 2005.
STEARNS, Peter N. História das relações de gênero. São Paulo: Contexto, 2007.
Sites
Filmes
De gravata e unha vermelha. Direção de Miriam Chnaiderman. Brasil, 2015. (86 min).
Histórias cruzadas. Direção de Tate Taylor. EUA/ Emirados Árabes Unidos, 2011. (146
min).
Hoje eu quero voltar sozinho. Direção de Daniel Ribeiro. Brasil, 2014. (96 min).
Milk: a voz da igualdade. Direção de Gus Van Sant. EUA, 2009. (128 min).
Silêncio das inocentes. Direção de Ique Gazzola. Brasil, 2010. (49 min).
O sorriso de Mona Lisa. Direção de Mike Newell. EUA, 2003. (117 min).
Preciosa: uma história de esperança. Direção de Lee Daniels. EUA, 2009. (110 min).
Revolução em Dagenham. Direção de Nigel Cole. Reino Unido, 2011. (113 min).
Virou o jogo: a história de Pintadas. Direção de Marcelo Villanova. Brasil, 2012. (26
min).
Página 336
4. As seções da obra
A obra está organizada em unidades e capítulos, que apresentam a estrutura descrita a
seguir.
Os registros imagéticos utilizados nas páginas de abertura das unidades são os mais
variados: reproduções de pinturas, fotos antigas ou atuais, caricaturas, desenhos,
reproduções de cenas de filmes, de histórias em quadrinhos etc. Interrogando essas
fontes, atentos ao que informam e ao que omitem, pretendemos dar início ao trabalho
com a competência leitora, estimulando nos alunos a capacidade de observar,
identificar, associar, comparar, relacionar, entre outras.
Para refletir
Quando o objetivo é estimular, como o nome mesmo diz, a reflexão por meio de um
questionamento direto.
Dialogando
É uma seção que faz um convite à participação oral dos alunos. Eles são desafiados a
responder a uma questão sobre conteúdos conceituais ou atitudinais, a interpretar
uma imagem, um gráfico ou uma tabela etc. Essa interrupção do texto principal
funciona como respiro e uma oportunidade para o aluno colocar-se como sujeito do
conhecimento.
Página 337
4.5. Atividades
Aprender História depende da leitura e da escrita. E ler e escrever implica
compreensão, análise e interpretação de uma diversidade de gêneros de textos e de
imagens fixas de diferentes tipos, além de gráficos, tabelas e filmes (imagens em
movimento). As atividades deste livro visam justamente auxiliar no desenvolvimento
da competência leitora e escritora que, a nosso ver, são complementares e
interdependentes, além de ajudar o aluno a capacitar-se para o exercício da cidadania.
6. Para quem fala (Para o público em geral? Para seus pares? Para os seus
subalternos? Para as autoridades?).
11. Relacionar o texto com o contexto, salientando a importância dele para o estudo de
determinada questão ou época.
12. Outras conclusões e/ou observações sobre o texto que se considere importante
registrar.
Na seção Integrando com... nos esforçamos para dar um passo em direção à adoção
de uma perspectiva interdisciplinar. As atividades dessa seção abordam temas
relevantes para os alunos do Ensino Médio e os estimulam a mobilizar conhecimentos
e conceitos de outras disciplinas, como Língua Portuguesa, Biologia, Sociologia,
Geografia, entre outras.
Já a seção Você cidadão!, no final de cada unidade, visa estimular o alunado a traçar
paralelos entre o passado e o presente, a interrogar o presente, a debater e, sobretudo,
a se posicionar diante de uma questão/problema, ajudando-o, assim, a se preparar
para o exercício da cidadania.
Por fim, sabemos que talvez não seja possível realizar em sala de aula todas as
atividades propostas, diante da carga horária reservada à História na escola. Nossa
intenção foi fornecer opções, permitindo assim que cada professor selecione as que
mais se adequarem a sua proposta de ensino-aprendizagem, ao projeto pedagógico da
escola e à quantidade de horas-aula de que dispõe.
2. Elaborar uma proposta para o blog, explicitada por um nome significativo e uma
curta descrição de seus objetivos.
4. Avaliar criteriosamente fotos, tabelas, gráficos, mapas e textos dos mais variados
gêneros destinados ao blog.
5. Os alunos poderão se organizar em grupos. Cada grupo será responsável por uma
área de atuação, a saber:
Sugestão: poderá haver um rodízio quinzenal ou mensal entre os grupos, de modo que
todos os alunos possam vivenciar as várias funções.
Textos complementares
• Texto 1
O texto a seguir é de Gersem dos Santos Luciano, índio da nação Baniwa, graduado em
filosofia pela Universidade Federal do Amazonas (1995), com mestrado na
Universidade de Brasília (2006).
Saúde indígena
O índice médio de mortalidade da criança indígena até os 9 anos, que é quase o dobro do índice médio de
mortalidade da criança não indígena, revela que há uma diferença significativa na fruição do direito à
saúde pelo simples fato de ser a criança indígena ou não. Seria imprescindível, portanto, considerando-se
o direito à igualdade previsto na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente,
programas que tratassem a questão da saúde da população indígena infantil com a maior atenção. De
toda sorte, não se pode negar que o problema da saúde infantil indígena é complexo. Concluir que seria
simplesmente fruto de falhas de políticas indigenistas dos governos locais ou mesmo falhas do programa
Fome Zero do Governo Federal, por exemplo, implicaria um reducionismo falacioso. A questão da
diversidade cultural por si só é um fator catalisador deste problema, o que fica mais fácil de entender
quando lembramos o caso do índio Kaiowá de 2 anos e quatro meses que foi encontrado morto em
fevereiro de 2005 na região de Dourados; segundo relatos, sua mãe relutava em buscar atendimento
médico para o filho, pois acreditava que ele tivesse sido atingido por um feitiço.
Outro dado que revela a disparidade de atenção do serviço público é com relação à tuberculose. No
Brasil, o número de portadores da doença é de 60,7 para cada grupo de 1.000 habitantes, já considerado
intolerável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Porém, entre a população indígena esse número
sobe para 112,7. O descaso com que a população indígena é tratada resulta também na disseminação de
doenças, como a depressão e o alcoolismo. Os casos notificados de Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DST-AIDS), cerca de 4 mil, mostram que a doença também já preocupa.
LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje.
Brasília, DF: MEC/SECAD; LACED/Museu Nacional, 2006. p. 186-187 (Coleção Educação Para Todos. Série Vias dos
Saberes, n. 1).
• Texto 2
O texto a seguir foi escrito por Milton Hernán Bentancor, professor da Universidade de
Caxias do Sul que atua no Programa de Pós-Graduação em Letras, Cultura e
Regionalidade.
Muito antes que o primeiro espanhol chegasse à América, os povos indígenas que habitavam estas terras
já haviam acumulado uma grande produção intelectual. Ao longo dos séculos, haviam construído
Página 342
uma civilização organizada, com estrutura social complexa, além de suas tradições míticas para explicar
a origem do ser humano e sua relação com o mundo. No caso dos povos maias-quichés, essas crenças
estiveram guardadas em um livro sagrado por eles chamado de Popol Vuh.
Para chegar ao nosso conhecimento, mais de 500 anos depois, esse relato sobreviveu em muitos aos
povos que lhe deram origem e passou por várias mãos, inclusive dos colonizadores espanhóis. [...] Há
vários indícios de que os espanhóis tenham alterado a versão original do Popol Vuh. Mas nem por isso
ele é uma fonte menos interessante. Ao contrário: parte do fascínio de sua interpretação reside
justamente nos contatos culturais.
[...] Quando os espanhóis chegaram, os maias Já tinham criado um sistema de escrita com base em
símbolos gráficos que lhes permitiu coletar suas histórias de imagens e hieróglifos (códices). Podemos
supor que o Popol Vuh foi, originalmente, um livro dessa natureza.
[...] o texto apresenta uma primeira parte sobre a criação do mundo, descrevendo o trabalho dos deuses
em sua busca por um ser que os adorasse. Três tentativas teriam fracassado: com os animais, com
homens de barro e com homens de madeira [...]. Fechando a primeira parte do livro, o relato retorna à
origem do homem, interrompida depois dos erros divinos. A matéria-prima de sua criação seria o milho.
Quando saiu das mãos dos deuses, o homem era perfeito e, por ciúmes, os criadores o reduziram à
condição atual.
A segunda parte do Popol Vuh apresenta a história dos quichés: suas guerras contra outros povos da
região [...] a origem da dinastia real e a sucessão genealógica dos reis até a conquista espanhola.
[...] Nos últimos anos surgiram interpretações que classificam o Popol Vuh como uma expressão
hispânica e cristã de mitos e lendas indígenas. Embora a intervenção espanhola seja uma verdade
incontestável a marcar os materiais que chegaram até os nossos dias, tampouco se pode ignorar a
qualidade desses escritos.
Ao mesmo tempo em que os pontos de interferência cultural podem distorcer o verdadeiro significado e
adulterar o pensamento original maia, eles não chegam a eliminar elementos autênticos [...] O Popol Vuh
envolve a beleza do romance e a austeridade da história, pintando com as mais vivas cores a cultura e a
mentalidade de um grande povo.
BENTANCOR, Milton. H. O gênesis quiche. In: Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 10, n. 108,
p. 80-84, set. 2014.
• Texto 3
Em primeiro lugar, a descoberta da América, ou melhor, a dos americanos, é sem dúvida o encontro mais
surpreendente de nossa história. Na “descoberta” dos outros continentes e dos outros homens não
existe, realmente, este sentimento radical de estranheza. Os europeus nunca ignoraram totalmente a
existência da África, ou da Índia, ou da China, sua lembrança esteve sempre presente, desde as origens. A
Lua é mais longe do que a América, é verdade, mas hoje sabemos que aí não há encontro, que esta
descoberta não guarda surpresas da mesma espécie. Para fotografar um ser vivo na Lua, é necessário que
o cosmonauta se coloque diante da câmara, e em seu escafandro há um só reflexo: de um outro
terráqueo. No início do século XVI, os índios da América estão ali, bem presentes, mas deles nada se sabe,
ainda que, como é de esperar, sejam projetadas sobre os seres recentemente descobertos imagens e
ideias relacionadas a outras populações distantes. O encontro nunca mais atingirá tal intensidade, se é
que esta é a palavra adequada. O século XVI veria perpetrar-se o maior genocídio da história da
humanidade.
Mas não é unicamente por ser um encontro extremo, e exemplar, que a descoberta da América é
essencial para nós, hoje. Além deste valor paradigmático, ela possui outro, de causalidade direta. A
história do globo é, claro, feita de conquistas e derrotas, de colonizações e descobertas dos outros; mas
[...], é a conquista da América que anuncia e funda nossa identidade presente.
Página 343
Apesar de toda data que permite separar duas épocas ser arbitrária, nenhuma é mais indicada para
marcar o início da era moderna do que o ano de 1492, ano em que Colombo atravessa o oceano Atlântico.
Somos todos descendentes diretos de Colombo, é nele que começa nossa genealogia – se é que a palavra
começo tem um sentido. Desde 1492 estamos, como disse Las Casas, “neste tempo tão novo e a nenhum
outro igual” (Historia de las índias, 1, 881). A partir desta data, o mundo está fechado (apesar de o
universo tornar-se infinito). “O mundo é pequeno”, declarará peremptoriamente o próprio Colombo
(Carta Raríssima, 7.7.1503). Os homens descobriram a totalidade de que fazem parte. Até então,
formavam uma parte sem todo.
TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. Trad. Beatriz Perrone Moisés. São Paulo: Martins
Fontes, 1993. p. 4-6.
• Texto 4
A aceleração da produção de açúcar nas regiões de floresta tropical do “novo mundo” também está
relacionada com o impacto social de enorme alcance: foi o principal estímulo para a construção do
escravismo moderno. Foi nos territórios da América tropical que o modelo de produção de monoculturas
e trabalho escravo gerou maior impacto na ecologia das paisagens. [...] O desmatamento tropical é um
fenômeno moderno, que atingiu o seu auge no século XX. O Brasil e algumas ilhas do Caribe, como Cuba e
Jamaica, tornaram-se os símbolos do desmatamento provocado pela cana. Mas ele se alastrou para várias
outras regiões, como as Ilhas Maurício, Indonésia, Filipinas, Havaí e Fiji.
[...] A floresta tropical, com toda a sua diversidade, aos olhos dos produtores, representava apenas um
“embaraço” para o avanço da cana.
E o impacto nas florestas não se devia apenas à abertura de terras para o plantio. Para cada quilo de
açúcar produzido, cerca de 15 quilos de lenha eram queimados nas fornalhas que alimentavam os
enormes caldeirões onde o caldo na cana era cristalizado. Para purgar o açúcar nas moendas, utilizava-se
cinza de madeira, em muitos lugares retirada dos manguezais. O conjunto da infraestrutura estava
calcado na madeira ou em materiais cuja produção requeria o uso de lenha em fornalhas – como tijolos,
telhas e cal. Das árvores tropicais provinham até as caixas onde o açúcar era acondicionado para
exportação [...].
PÁDUA, José Augusto. O amargo avanço da doçura. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 8, n.
94, p. 18-21, jul. 2013.
Atividades complementares
1. O texto a seguir é de duas historiadoras que vêm se empenhando no estudo dos
primeiros povos da América. Leia-o com atenção.
As cidades incas
A maior cidade inca era Cuzco, a capital do império. Era uma cidade planejada, que tinha como centro
uma praça, da qual saíam as ruas em linha reta. Além dessa praça, a cidade possuía outras menores e era
dividida em duas partes: Cuzco de cima e Cuzco de baixo, onde se encontrava o Templo do Sol [...].
Página 344
As construções eram feitas de grandes blocos de pedra, cortados com perfeição com o uso de
ferramentas de pedra e instrumentos de cobre e encaixados uns nos outros sem necessidade de cimento
ou qualquer outra substância colante. Antes do início das construções, os arquitetos incas faziam
pequenas maquetes de argila e pedra, a partir de seus projetos.
Ainda hoje, construções inteiras feitas pelos incas ou vestígios delas podem ser vistas em cidades como
Cuzco, Lima e Quito. Muitas das construções europeias dessas cidades foram feitas sobre ruínas de
edificações incas. Existem também várias localidades – praticamente intactas – em que se pode ver como
se organizavam os bairros e as cidades incas. É o caso de Macchu Picchu, Pisac e Tiahuanaco. [...]
[...]
O império inca foi brutalmente destruído, no século XVI, pelos conquistadores espanhóis, que
impuseram sua cultura à população andina. Apesar da grande destruição causada pela colonização, ainda
hoje encontramos na região dos Andes traços culturais identificados com a tradição inca, embora
descaracterizados por sua fusão à cultura europeia.
NEVES, Ana Maria Bergamin; HUMBERG, Flávia Ricca. Os povos da América: dos primeiros habitantes às primeiras
civilizações urbanas. São Paulo: Atual, 1996. p. 77-80.
Pode-se concluir que eram construtores competentes: projetavam antes de construir e possuíam grande capacidade técnica;
prova disso são as construções incas que resistiram ao tempo e podem ser vistas, ainda hoje, em Cuzco, Lima e Quito.
Os vestígios materiais ali encontrados podem nos informar sobre o conhecimento, as técnicas agrícolas, as práticas religiosas
além de vários outros aspectos da vida do povo inca.
Elas utilizam o binômio destruição/fusão; segundo elas, inicialmente ocorreu uma brutal destruição; mas é possível
encontrar também traços da cultura inca mesclados a outros da cultura europeia, ocorrendo também, portanto, fusão
cultural.
[...] “O que acontece camaradas? O que temeis? Não vos anima saber que Deus está convosco e que já vos
concedeu tantos sucessos? Pensais que vossos inimigos são melhores e mais valorosos? Não vedes que
está em vossas mãos a expansão da fé de Cristo? Ganhareis, para vosso Soberano e para vós mesmos,
reinos e poder, contanto que sejais constantes! É pouco o que falta e eu não temo, mas se por acaso
morrermos, quereis maior felicidade? Nenhum homem poderá ter morte mais gloriosa! Além do mais,
lembrais que sois espanhóis que costumam ser perseverantes e arriscam suas vidas, quando se trata do
serviço de Deus Onipotente, ou se apresenta uma ocasião para merecer honrarias. Além do mais, para
onde iremos? Que faremos cansados na ociosidade do litoral? Ânimo! Recobrais o ânimo! Submeteis
comigo estas nações bárbaras sob a Lei de Cristo, e sob a obediência a nosso rei! Quanta glória a
posteridade vos dará por estas façanhas, que nenhum homem jamais enfrentou! Nossa pátria e os países
vizinhos vos darão tanta honra, maior do que deram a Hércules da Grécia quando veio à Espanha, para
quem construíram monumentos. São muito mais importantes os vossos trabalhos e também serão
maiores os prêmios. Despertais, pois, e com ânimo valente empreendeis comigo a aventura começada,
sem duvidar da vitória”.
MÁRTIR DE ANGLERIA, Pedro. Décadas del nuevo mundo. IN: Janotti, Maria de Lourdes (Coord.). Secretaria da
Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Proposta curricular de História e Geografia para o 2o.
grau. São Paulo: SE/CENP, 1978.
Página 345
Século XVI.
Resposta pessoal. Professor: estimular a reflexão sobre o uso da fé cristã para legitimar a guerra contra os povos indígenas
e/ou sua sujeição.
Relendo a carta de Pero Vaz de Caminha, pode-se tentar imaginar as reações dos índios, nas praias
brasileiras, à chegada dos europeus. Primeiro, é a perplexidade diante dessas montanhas flutuantes que
eram as caravelas, depois, a curiosidade diante do espetáculo desses visitantes de pele branca cujo corpo
inteiramente vestido não estava tingido de preto ou vermelho, nem tinha plumas multicoloridas, e cujos
gestos pareciam tão esquisitos, cujos gritos eram incompreensíveis e frequentemente abafados pelo
barulho das ondas que estouravam na praia. [...] Os visitantes não sabiam cortar os cabelos nem pintar a
testa de preto. [...] Em compensação, possuíam poderosos instrumentos talhados num material duro
desconhecido dos índios – o ferro – e essas ferramentas maravilhosas que cortavam e recortavam a
madeira a toda velocidade.
[...] Por outro lado, os colares de contas brancas causaram a imediata curiosidade e cobiça dos indígenas,
que os experimentaram em volta do pescoço e depois em volta do braço: na verdade, eram terços.
GRUZINSKI, Serge. A passagem do século: 1480-1520: as origens da globalização. São Paulo: Companhia das Letras,
1999. p. 70-71.
a) Que tipo de fonte histórica o autor utiliza para imaginar as reações dos indígenas?
Qual a importância dela para nós?
Ele utiliza a carta escrita pelo escrivão da armada de Cabral, Pero Vaz de Caminha. Nele encontramos informações preciosas
sobre o modo de vida dos indígenas que ele encontrou e os interesses que moviam os portugueses daquela época, entre
outras.
b) Segundo o texto, quais foram as reações dos indígenas à chegada dos europeus?
O autor sugere ter havido três reações: perplexidade ao avistar as caravelas, embarcações desconhecidas dos indígenas;
curiosidade ao ver aqueles homens de pele branca e vestidos da cabeça aos pés; e de estranhamento ao observar os
gestos e as falas dos recém-chegados.
O texto nega essa versão, ao sugerir a admiração dos indígenas pelas ferramentas portuguesas. Professor: na verdade, tais
objetos como machados, facas, espelhos eram úteis aos indígenas. Segundo o autor do texto, os indígenas viram as
ferramentas trazidas pelos portugueses como algo valioso, o que contraria a versão historiográfica eurocêntrica, segundo a
qual os indígenas extraíam e ofereciam aos portugueses o “valioso” pau-brasil e, em troca, recebiam deles “bugigangas e
quinquilharias”.
Página 346
Pode-se concluir que os indígenas ressignificaram o terço; eles o destituíram do valor religioso que tinha para os
portugueses, e o utilizaram como enfeite no pescoço e no braço. A ressignificação dos objetos de uma determinada cultura é
uma prática frequente durante as trocas culturais havidas entre os povos, ao longo da História.
Nas sociedades indígenas a posse da terra e dos recursos nela existentes é coletiva. Ou, como disse a professora Aracy Lopes
da Silva, “a terra é do conjunto de pessoas que vive em cada aldeia”. Enquanto um grupo estiver trabalhando numa
determinada área tem direito a usufruir de seus recursos e frutos. Já nas sociedades capitalistas, a terra é uma propriedade
privada que pode ser vendida, arrendada, alugada etc. Alguém pode ser dono de uma terra que não conhece.
• Texto 1
Desde logo salientamos a doçura nas relações de senhores com domésticos, talvez maior no Brasil do que
em qualquer outra parte da América. A casa-grande fazia subir da senzala para o serviço mais íntimo e
delicado dos senhores uma série de indivíduos – amas de criar, mucamas, irmãos de criação dos meninos
brancos. Indivíduos cujo lugar na família ficava sendo não o de escravos, mas o de pessoas da casa.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 21. ed.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. p. 393.
• Texto 2
A violência era parte constitutiva desse tipo de organização que supunha a propriedade de um homem
por outro. Com efeito, o cativeiro só poderia existir em virtude da disseminação do medo e do exemplo
de controle. É por isso mesmo que, no Brasil, criou-se um verdadeiro “museu de horrores”, com castigos
dos mais rotineiros aos mais especializados. [...]
SCHWARCZ, Lilia Moritz; REIS, Letícia Vidor de Souza (Org.). Negras imagens: ensaios sobre cultura e escravidão no
Brasil. São Paulo: Edusp/Estação Ciência, 1996. p. 21-22.
a) O que se pode concluir comparando a visão do autor do texto 1 com a das autoras
do texto 2?
Enquanto o autor do texto 1 afirma que as relações entre os senhores e seus escravos domésticos foram adocicadas (mais
suaves do que em outras partes da América), as autoras do texto 2 acreditam que a escravidão é violenta por si mesma.
Gilberto Freyre justifica a suavidade nas relações entre brancos e negros no interior da casa-grande dizendo que, graças ao
convívio ameno com os seus senhores, os escravizados deixavam sua condição original e se tornavam “pessoas da casa”,
“pessoas da família”. Já as autoras do texto 2 justificam a ideia de que a violência é inerente à escravidão e,
consequentemente, esta só podia ser mantida por meio de castigos corporais, abusos etc.
c) Em dupla. Debatam, reflitam e respondam: qual das versões vocês acham mais
convincente? Justifiquem.
Resposta pessoal.
A imagem mostra indivíduos de origem brasileira sob a bandeira holandesa, indicando que Calabar
não foi o único a trair a pátria.
[...] A deslealdade de Calabar fica ainda mais agravada quando comparada a personagens como Henrique
Dias, negro forro que se notabilizou na defesa dos interesses luso-espanhóis. [...]
Tomado isoladamente, e a partir do século XIX, como um dos exemplos mais acabados de traidor da
pátria, Calabar viveu em um tempo no qual a fidelidade à Coroa era o mínimo que se esperava de seus
súditos. Mas esse compromisso era facilmente relativizado para aqueles que viviam as urgências da vida
colonial [...] incerta em tempos de guerra. A falta de pagamento de soldos e até de alimentação tornou as
forças luso-espanholas presas fáceis do assédio holandês. [...].
HERMANN, Jacqueline. Deserção de Olinda a Holanda. In: Revista Nossa História: Medicina, ano 2, n. 21, p. 38-42, jul.
2005.
Não. Isto pode ser percebido logo no início quando a autora diz: “Muitos fatores contribuíram para a vitória dos holandeses
calvinistas em território até então governado por reis católicos, mas é sobre a figura superdimensionada de Domingos
Fernandes Calabar que as culpas mais pesaram”.
Segundo a autora, a identificação de Calabar como traidor da pátria é uma construção do século XIX, tempo em que foram
forjadas as figuras dos heróis da pátria e de sua antítese, os “traidores da pátria”. Professor: Lembrar aos alunos que o
século XIX foi o século do nacionalismo, do romantismo e do individualismo.
“A falta de pagamento de soldos e até de alimentação tornou as forças luso-espanholas presas fáceis do assédio holandês”.
d) Em dupla. Debatam, reflitam e respondam: Calabar foi, de fato, um traidor da
pátria?
Resposta pessoal. Professor: comentar com o alunado que a ideia de pátria/patriotismo são construções do século XIX, e,
portanto, estranhas ao século XVII, época em que Calabar viveu. Note-se também que o número de nativos que conhecia bem
a região e que passou para o lado dos holandeses foi grande. Calabar, eleito traidor-símbolo pelos vencedores da guerra, foi
executado.
Página 348
Textos complementares
• Texto 1
Esses embates ocorriam por razões variadas, como o rapto de mulheres de comunidades clânicas ou
linhageiras, os conflitos entre “Estados” em formação ou mesmo entre os já constituídos ou ainda as
guerras de expansão, assim chamadas porque os mercadores incorporam povos tributários, segundo
sistema de servidão com tributos e prazos fixados pela tradição. Uma vez capturados, vendidos ou
mesmo no caso de morrerem em combate, os filhos desses escravos não eram vendidos nem
maltratados. Criados na maioria das vezes na corte, acabavam por reconhecer o soberano como seu
próprio pai; além disso, desempenhavam funções quase sempre importantes nas esferas administrativa
e militar.
O segundo mecanismo que levava à escravidão era a fome que, desestruturando uma sociedade, impelia
os destituídos a vender a si mesmos ou a seus filhos como escravos, como meio de sobrevivência. Por sua
vez, o terceiro mecanismo era “resultado de punição judicial por algum crime ou como uma espécie de
garantia para o pagamento de débito. No último caso trata-se da difundida instituição da penhora
humana. Nessas situações os escravos eram relativamente bem tratados: tinham acesso aos meios de
produção (basicamente a terra), podiam casar-se com pessoas livres e eram considerados membros da
família do senhor”.
HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves Leite. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo
Negro, 2005. p. 37.
• Texto 2
alimentar, como evidencio em “A terra de quem lavra e semeia: alimentos e cotidiano em Minas
colonial”, é vigorosa, atende ao mercado, constrói um gosto alimentar e forja um cotidiano sem fronteiras
nítidas entre o rural e o urbano. Já Flávio Marcus da Silva, em “Práticas comerciais e abastecimento
alimentar em Minas Gerais no século XVIII”, revela que a ordenação desse abastecimento concilia
práticas e medidas intervencionistas das câmaras, estimula a produção e o pequeno comércio, além de
garantir a conservação de caminhos. “Homens que não mineram: oficiais mecânicos nas Minas Gerais
Setecentistas”, também de minha autoria, como o título sugere, trata de indivíduos que não mineram,
embora possam eventualmente ter lavras de ouro, dedicam-se a fazeres e saberes essenciais em
atividade fabril e em serviços banais, suprindo um mercado consumidor e exigindo ordenação aos
moldes lisboetas. Como se vê, os textos da unidade “Economia: diversificação, dinâmica evolutiva e
mercado interno” apresentam uma economia diversificada e complexa.
Lacunas persistem, estimulam e ferem a sensibilidade dos historiadores que têm como objeto as Minas
Gerais setecentistas. De imediato, é necessário um esforço para se escrever a história de Minas no
período antecedente ao século XVIII. Ela existe, a despeito da limitação de seus vestígios documentais.
Nessa busca, um diálogo transdisciplinar com a arqueologia, a antropologia e outras.
[...] São necessários maiores esforços para complementar as lacunas documentais, visando maior aporte
serial e quantitativo. Tarefa nada fácil, e à qual se dedicaram os historiadores que, revisando a tradição
interpretativa da história regional de Minas Gerais, colaboraram neste livro. Análises documentais
permitem intepretações problematizadoras da construção sócio-histórica. Possibilitam leituras, da
mesma forma, variadas. A economia setecentista mineira dá luz às versões de historiadores, aqui
apresentadas, para a crítica dos leitores.
MENESES, José Newton. Introdução. In: RESENDE, Maria E. L. de; VILLALTA, Luiz C. (Org.). As Minas Setecentistas.
Belo Horizonte: Autêntica, 2007. v. 1, p. 276-277.
• Texto 3
Após a derrota dos radicais, em 1660, e a liquidação definitiva do antigo regime em 1688, os dirigentes
da Inglaterra organizaram um império comercial de extrema eficácia e um sistema de dominação de
classes que se revelou extraordinariamente resistente à passagem do tempo. A ética protestante impôs-
se, pelo menos, às ideias e sentimentos que puderam encontrar expressão impressa. A sociedade
produziu grandes cientistas, grandes romances. Inventou o romance. Newton e Locke ditaram normas ao
mundo intelectual. Esta foi uma civilização poderosa, que para a maior parte das pessoas representou
um progresso face ao que antes existia. Porém que certeza podemos ter, em última análise,
Página 352
de que esse mundo era o melhor dentre os possíveis – um mundo em que poetas enlouqueceram, em que
Locke tinha medo da música e da poesia, e Newton tinha ideias secretas e irracionais que não se atrevia a
tornar públicas?
[...] Essa sociedade, que à primeira vista parecia tão racional, tão despreocupada, talvez pudesse ter sido
mais saudável se não fosse tão rígida, se não tivesse escondido todas as suas contradições: ocultadas à
primeira vista, à consciência. A ética protestante dominou tanto as atitudes morais das classes médias, a
filosofia mecanicista dominou tão completamente o pensamento científico, que nem foi preciso renovar a
lei de censura ao expirar ela em 1695 – não devido a um possível triunfo dos princípios libertários dos
radicais, mas simplesmente porque a censura já não era necessária. Iguais a Newton nesse ponto, os
formadores de opinião dessa sociedade se autocensuravam. Nada era impresso que pudesse assustar os
proprietários. O que assim passava ao mundo subterrâneo e clandestino só podemos suspeitar. Alguns
poucos poetas tinham ideias românticas que destoavam desse mundo; mas não era preciso levá-los
demasiado a sério. A autocensura implicava a satisfação consigo mesmo.
HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça: ideias radicais durante a revolução inglesa de 1640. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987. p. 365-367.
• Texto 4
O texto a seguir foi escrito por Edgar Morin, filósofo, antropólogo, sociólogo e
pesquisador emérito do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), França.
Assim, a Razão soberana converte-se ela mesma em razão providencial e em mito quase religioso,
alcançando até mesmo um momento transitório de verdadeira deificação com a instituição por
Robespierre do culto à “Deusa” Razão. Nessa perspectiva, a ciência torna-se a produtora do autêntico
conhecimento, ou seja, da verdade. Trata-se de uma época de grande desenvolvimento das ciências
físicas, químicas e biológicas. Impõe-se então a ideia de que o universo seria totalmente inteligível [...].
A Razão guia a humanidade na direção do progresso e assim o Progresso torna-se a lei inexorável da
história [...]. O ano de 1789, com a expressão dos direitos do Homem proclamados pela Revolução
Francesa cheia de tantas promessas, pode ser realmente descrito, de acordo com Hegel, como “um
esplêndido nascer do sol”.
Já com Rousseau o tema da afetividade (da sensibilidade) passa a opor-se à razão e indica que sozinha a
razão tem um caráter abstrato e quase inumano. Rousseau revela do seu jeito o aspecto de abstração
existente na ruptura entre o humano e o natural e dá à natureza uma importância quase matricial,
maternal. Voltaire, sarcasticamente, dizia que Rousseau queria “nos fazer andar de quatro patas”. Para
Rousseau a civilização acarreta a degradação humana. Assim, concebe o mito do homem natural que
pressupõe não a existência de uma espécie de Jardim do Éden, mas potencialidades humanas inibidas
pelas civilizações, reprimidas por nossas sociedades. Disso resulta um questionamento do progresso,
que não é mais considerado somente como uma fonte permanente de ganho e de melhoria. A questão
passa a ser esta: o que se perde quando se obtém um progresso, um progresso técnico, um progresso
material, um progresso urbanístico? Problema, efetivamente, de enorme atualidade em nossa crise de
civilização.
MORIN, Edgar. Para além do Iluminismo. Revista FAMECOS, Porto Alegre, n. 26, p. 24-28, abr. 2005. Disponível em:
<http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/famecos/article/view/416/343>. Acesso em: 19 maio 2016.
Página 353
Atividades complementares
1. O texto a seguir foi escrito por Adler Homero Fonseca de Castro, pesquisador do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Leia-o com atenção.
A engenharia do medo
A preocupação com a segurança [...], sobretudo nas grandes cidades, não é um assunto novo no Brasil.
Nossos ancestrais também viviam num estado de medo permanente [...]. E as populações, como na
atualidade, exigiam das autoridades que medidas fossem tomadas para dar-lhes segurança.
[...] Houve até um estilo arquitetônico no Brasil chamado de “casa-forte”, nas quais as residências eram
construídas com dois pavimentos, sem janelas ou portas no térreo, o acesso à casa sendo pelo segundo
andar, por uma escada de madeira que podia ser removida em caso de ataque. Também houve quartéis
fortificados – o palácio dos governadores de Ouro Preto, hoje Escola de Minas, foi construído sobre uma
base que reproduz uma fortificação renascentista. Do outro lado do poder, mesmo os quilombos tiveram
obras defensivas. A principal povoação de Palmares era protegida por uma longa muralha de cinco
quilômetros, conhecida como “cerca do macaco”.
O esquema de defesa que viria a ser seguido na maior parte do território durante todo o período colonial
foi o estabelecido por Tomé de Souza: haveria bases fortificadas construídas e mantidas pelo governo,
enquanto vilas e povoados menores deveriam construir e manter suas próprias fortificações. Esse
esquema de “privatização” da atividade militar explica por que há no Brasil um grande número de fortes.
Hoje em dia ainda existem 110 dos mais de 450 que foram feitos aqui ao longo dos séculos. Também
explica por que a maior parte dessas fortificações, com poucas exceções, são pequenas, mal projetadas e
mal construídas. [...]
Contudo, o maior complexo fortificado do século XVII foi a cidade do Rio de Janeiro. Inicialmente
defendido por pequenos fortes pagos pelos moradores, estes foram incapazes de lidar com a cobiça
criada pela descoberta de ouro em Minas Gerais. A possibilidade de lucro fácil atraiu os corsários
franceses Duclerc e Duguay-Trouin. Como é comum, depois do roubo, trocaram-se as fechaduras da
porta. No caso do Rio, foi enviado um engenheiro português que projetou todo um vasto complexo para
proteger a povoação, incluindo um muro de defesa. [...]
Essas construções acompanharam a mudança no eixo militar do Brasil. Com o ouro, as “capitanias do Sul”
adquiriram mais importância do que as do Nordeste produtor de açúcar. E a antiga capital, Salvador,
praticamente deixou de ter acréscimos em seus fortes, já tendo perdido suas muralhas pouco depois das
invasões holandesas. O Rio de Janeiro, pelo contrário, continuou recebendo cada vez mais recursos.
CASTRO, Adler Homero Fonseca de. A engenharia do medo. Revista Nossa História, ano 3, n. 27, p. 26-27; 29-30, jan.
2006.
a) A falta de segurança continua sendo um problema sério no Brasil. Para se ter uma
ideia da extensão do problema basta ver que as empresas da segurança privada e de
blindagem de automóveis têm crescido bastante nos últimos anos. O que isso indica?
Isso indica que houve um crescimento da violência, sobretudo nas grandes cidades. Não há exagero em dizer que os
habitantes de cidades brasileiras, pobres, ou ricos, têm vivido sob um medo constante.
b) Nos tempos coloniais, por questão de segurança, construíam-se casas com dois
pavimentos, sem janelas ou portas no térreo, sendo o acesso feito por uma escada
removível. Hoje, observando o exterior das casas, fica evidente também a preocupação
com segurança?
Sim, são comuns nas cidades brasileiras casas com muros altos, guaritas e vigilantes armados, cercas elétricas, havendo
também moradias que se assemelham a fortes, com vigilantes posicionados em lugares altos, com visão privilegiada em
várias direções.
Página 354
c) O que o autor quis dizer com “o governo português privatizava a atividade militar”?
Significa dizer que a Coroa transferia para particulares (habitantes das vilas e povoados) a obrigação de construir e manter
suas próprias fortificações. Professor: comentar que a privatização também explica o fato de a maioria das fortificações
serem pequenas, mal projetadas e mal construídas.
d) Por que o maior complexo fortificado do século XVIII foi erguido no Rio de Janeiro?
Porque o fato de o Rio de Janeiro ter se tornado o principal escoadouro do ouro e das pedras preciosas, descobertas em
Minas Gerais, atraiu a cobiça de corsários (piratas financiados por reis ou rainhas) franceses que atacaram a “cidade
maravilhosa” duas vezes consecutivas: em 1710, sob o comando de J. F. Duclerc, e, em 1711, sob o comando de René Duguay-
Trouin, que saqueou a cidade levando consigo 610 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois. Daí a decisão do governo
português de erguer um complexo fortificado no Rio. Professor: ao chegar a seu país, Duguay-Trouin foi condecorado e
recebeu do rei Luís XIV uma pensão vitalícia pelos serviços prestados à França.
À luz dos documentos históricos, a historiadora Júnia Furtado compõe uma outra
imagem de Chica da Silva; esta mais próxima da mulher que viveu no século XVIII onde
é hoje Diamantina.
A Chica da Silva de carne e osso viveu como uma senhora rica, integrou várias
irmandades e conseguiu distinção social e respeito para si e os seus filhos. Por isso, em
vez da imagem criada pelo cinema, Júnia Furtado propõe que vejamos Chica da Silva
como alguém que, apesar de ter sido escrava, conseguiu retomar o controle sobre sua
vida. A união estável de Chica com um homem branco e rico era, talvez, a única forma
de uma mulher afrodescendente e liberta conseguir distinção social e respeito na
sociedade elitista de Minas Gerais no século XVIII.
O texto compara a imagem fantasiosa de Chica da Silva, criada pelo cinema, à que foi construída pela historiadora Júnia
Furtado com base em pesquisa histórica.
Resposta pessoal. Professor: chamar a atenção para o fato de que Chica da Silva fez questão que os seus filhos com o
contratador João Fernandes Oliveira tivessem o sobrenome do pai e uma boa educação.
c) Em dupla. No século XVIII, na região das minas, era difícil para mulher
afrodescendente conseguir distinção social e respeito. E nos dias atuais isso ainda
acontece?
Resposta pessoal. Não se pode negar que, nos dias atuais, a situação da mulher afrodescendente é muito diferente da vivida
por ela no século XVIII. No entanto, pesquisas acadêmicas recentes indicam que a discriminação de raça e gênero no Brasil
ainda continua vitimando os afrodescendentes, especialmente as mulheres. No mercado de trabalho, por exemplo, seus
salários são menores do que os dos homens negros que, por sua, vez ganham menos do que os brancos. Ver a esse respeito
Maria Aparecida Silva Bento. Cidadania em preto e branco: discutindo as relações raciais. São Paulo: Ática, 2005.
3. O texto a seguir é de Gerrard Winstanley, escritor e líder popular inglês, que viveu
durante o processo da Revolução Inglesa, e que se considerava um nivelador autêntico
(ou cavador). Leia-o com atenção.
Página 355
No princípio dos tempos, o grande criador, a Razão, fez a terra: para ser esta um tesouro comum onde
conservar os animais, os pássaros, os peixes e o homem, este que seria o senhor a governar as demais
criaturas [...] Nesse princípio não disse palavra alguma que permitisse entender que uma parte da
humanidade devesse governar outra [...] Porém, [...] imaginações egoístas [...] impuseram um homem a
ensinar e mandar em outro. E dessa forma [...] o homem foi reduzido à servidão e tornar-se mais escravo
dos que pertencem à sua mesma espécie, do que eram os animais dos campos relativamente a ele. E
assim a terra [...] foi cercada pelos que ensinavam e governavam, e foram feitos os outros [...] escravos. E
essa terra, que na criação foi feita como um celeiro comum para todos, é comprada, vendida e
conservada nas mãos de uns poucos, o que constitui enorme desonra para o Grande Criador, como se
Este fizesse distinção entre as pessoas, deleitando-Se com a prosperidade de alguns e regozijando-Se
com a miséria mais dura e as dificuldades de outros. Mas, no princípio, não era assim [...]
[...]
O mais pobre dos homens possui título tão autêntico e direito tão justo à terra quanto o mais rico dentre
eles... A verdadeira liberdade reside no livre desfrute da terra...
HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça: ideias radicais na Revolução Inglesa de 1640. São Paulo: Companhia
das Letras, 1987. p. 139-140.
a) Lendo o texto percebe-se a relação entre religião e economia nas lutas sociais
travadas na Inglaterra do século XVII. Localize no texto um trecho que justifique essa
afirmação.
A relação entre religião e economia fica explícita no trecho em que o autor afirma que o fato de a terra estar concentrada nas
mãos de poucos é uma “desonra para o Grande Criador”. Ou seja, ele invoca o Criador para legitimar seu ponto de vista de
que todos os seres humanos têm direito a terra.
b) O autor considerava o Grande Criador o Leveller Chefe. O que ele queria dizer com
isso?
Na visão do autor do texto, Jesus Cristo queria nivelar as pessoas, eliminando as distâncias entre ricos e pobres; dai ser
considerado o “nivelador chefe”. O termo leveller vem do verbo to level que, em inglês, quer dizer nivelar. O autor do texto
se considerava um nivelador autêntico; os niveladores autênticos ficaram conhecidos como diggers, ou seja, cavadores.
c) Que relação se pode estabelecer entre o processo de cercamento das terras inglesas
e esse texto do líder popular inglês?
Nesse texto, o líder popular inglês ataca frontalmente o processo de cercamento, através do qual os grandes proprietários
cercavam as terras de uso comum, expulsavam os camponeses dali, e transformavam o terreno vazio em área de cultivo
comercial.
d) Em dupla. Reflitam, debatam e opinem: vocês concordam que “O mais pobre dos
homens possui título tão autêntico e direito tão justo à terra quanto o mais rico dentre
eles”?
Resposta pessoal. Professor: a questão buscou estimular a reflexão sobre a concentração da terra nas mãos de poucos,
problema que agita a sociedade brasileira há muito tempo. Mas ao trazer essa discussão para o presente, levar em conta que
a fala do líder popular inglês ocorreu em um contexto bem diferente do nosso. Comentar que, em 1650, os diggers exigiam
que a terra confiscada à Igreja, à Coroa e aos realistas fosse entregue aos pobres.
c) O que é governo?
Resposta pessoal. Professor: o objetivo uma vez mais é estimular a escrita com base nas ideias do filósofo suíço Jean-
Jacques Rousseau. Comentar com os alunos que a noção de “vontade geral”, entendida como integração e não como simples
soma das vontades individuais, é central no pensamento de Rousseau. Para ele, a vontade geral é soberana. Daí deriva a
noção de que o governo é apenas o delegado do povo e que este tem poder para estabelecê-lo ou destituí-lo.
Página 356
J.F. Ryder. Depois Archibald MacNeal Willard. Séc. XIX. Cromolitogravura. Coleção particular. Foto: Art Images Archive/Glow Images
Os personagens principais são um trio de músicos composto de um flautista e dois tocadores de tambor, um garoto e um
idoso. O garoto dirige ao idoso um olhar de admiração. O flautista olha para a frente, com a expressão atenta. O idoso, por
sua vez, avança a passos largos, sem se intimidar com o fogo inimigo. A mensagem é clara: o idoso serve como exemplo,
encorajando os mais jovens a atravessar o campo de batalha, apesar do perigo.
O artista recria o que pode ter sido uma batalha entre colonos e os “casacas vermelhas” (sodados ingleses). Envolta em uma
nuvem de fumaça, vê-se a bandeira dos Estados Unidos carregada por um grupo de rebeldes, um dos quais acena com o
chapéu, como se estivesse dizendo: “Vamos em frente!”. O cenário sugere a violência da batalha: o soldado caído que segura
o chapéu, a fumaça das explosões, uma roda partida.
c) Depois de observar a imagem e ler seu título, responda: que ideia o artista
pretendeu transmitir?
O artista quis enaltecer a determinação do povo estadunidense durante as lutas pela independência, daí o título da imagem:
O espírito de 1776. O povo está representado por meio de heróis anônimos. A obra ocupa, hoje, um papel de destaque no
imaginário estadunidense.
d) Observe novamente a imagem, agora com a preocupação de responder à pergunta:
As diferentes etnias que compõem a população estadunidense estão representadas na
imagem?
Não; a concepção de povo estadunidense veiculada na obra é excludente: os participantes da luta pela independência são
todos brancos e do sexo masculino. Não vemos mulheres nem pessoas negras ou de ascendência indígena.
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Textos complementares
• Texto 1
Mulheres combatem ao lado de homens durante o período revolucionário, em 1793. Arquivos franceses
registram dados biográficos de oitenta dessas guerreiras.
“Não fiz a guerra como mulher, fiz a guerra como um bravo!”, declarou Marie-Henriette Xaintrailles em
carta ao imperador Napoleão Bonaparte (1769-1821). Indignada por lhe recusarem pensão de ex-
combatente do Exército “porque era mulher”, ela lembrou que, quando fez sete campanhas do Reno
como ajudante de campo, o que importava era o cumprimento do dever, e não o sexo de quem o
desempenhava. Madame Xaintrailles não foi um caso isolado. Em 1792, quando a França declarou guerra
à Áustria, voluntárias se alistaram no Exército para lutar ao lado dos homens contra as forças da coalizão
austro-prussiana que ameaçavam invadir o país. Muitas se apresentaram com identidades falsas e
disfarçadas de homem. Além de conseguirem se alistar, protegiam-se do risco da violência sexual. Quem
eram as mulheres-soldados e por que se engajaram no conflito armado? E quais foram os motivos de sua
relativa aceitação por parte de líderes revolucionários e companheiros de armas?
Não se conhece o número exato de mulheres-soldados durante o período revolucionário francês (1789-
1799). Há oitenta casos registrados nos arquivos parlamentares, militares e policiais, e informações
biográficas esparsas sobre apenas quarenta e quatro. Entretanto, existem muitas referências em imagens
e testemunhos da época. O deputado Grégoire (1750-1831) as elogiou oficialmente: “E vós, generosas
cidadãs que participaram da sorte dos combates”. Essas constatações nos permitem supor que elas eram
mais numerosas e bem integradas à vida militar do que pode parecer. Quase todas vinham de meios
sociais modestos. Eram filhas de pequenos camponeses e artesãos, e tinham apelidos como Felicité Vai-
de-bom-coração ou Maria Cabeça-de-pau. A maioria era muito jovem, como Ana Quatro-vinténs, que se
alistou aos 13 anos, e aos 16 servia na artilharia montada. [...]
Há registros da boa acolhida das mulheres-soldados por parte dos companheiros de armas. O capitão
Dubois e sua mulher combateram juntos no 7º Batalhão de Paris. Ao ser ferido, sua esposa foi designada
vice capitã pelos outros soldados. [...]
Mas havia vozes discordantes: alguns cidadãos se queixavam abertamente das mulheres promovidas a
oficial, alegando que os soldados tinham vergonha de receber suas ordens. Diminuindo o mérito das
combatentes, explicavam aquela coragem como exceção, atribuindo-a ao milagre da Liberdade. [...]
O número expressivo de prêmios e aplausos às soldadas atesta a boa vontade dos chefes militares e até
dos governantes em Paris. Mesmo levando-se em conta que elas transgrediam as normas de
comportamento feminino, apropriando-se de atributos inerentemente masculinos como as armas e o
serviço militar. As mulheres-soldados foram até certo ponto aceitas porque tinham moral elevada,
dignidade e bons costumes; eram combatentes, e não libertinas. Embora a violência não seja
normalmente associada à mulher, na guerra elas matavam “os escravos dos tiranos”, prestando um
serviço à nação. Eram discretas, e muitas vezes seu sexo só era descoberto quando feridas na batalha. [...]
De todo modo, as soldadas encarnavam as virtudes republicanas. Não era pouco. Por essa razão, Liberté
Barreau e Rose Bouillon figuravam na Coletânea de Ações Heroicas e Cívicas dos Republicanos
Franceses, publicada em 30 de dezembro de 1793. Enfrentando a morte, também deram a vida,
dedicaram-se com amor aos maridos e filhos. Cuidaram de doentes e feridos com a doçura e o
Página 360
altruísmo associados à imagem feminina. Sacrificaram-se pela pátria sem esquecer as virtudes de seu
sexo. Eis aí o grande mérito. Numa República marcada por apelos à moral, as mulheres-soldados
contribuíram com um modelo de comportamento feminino positivo.
MORIN,Tania Machado. Revolução francesa e feminina. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 8
dez. 2010. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/revolucao-francesa-e-feminina>.
Acesso em: 26 maio 2016.
• Texto 2
A burguesia, sem dúvida, em primeiro plano. Qualquer colegial sabe hoje, mesmo sem ter lido Marx, que
o movimento que se iniciou em 1789 foi sobretudo uma Revolução burguesa – burguesa pelos seus
protagonistas principais, quase todos jovens advogados da província ou de Paris (a depuração do
terceiro estado, em 1789, não contava com um único camponês, artesão ou operário), burguesa pela
filosofia e pelo liberalismo econômico, burguesa pela filosofia e pelo liberalismo econômico, burguesa em
seu projeto político de ascensão ao poder, demarcando-se do povo e excluindo a aristocracia.
Mas a Revolução Francesa não é somente a Assembléia, ela é também o campo. A revolução agrária é
indissociável da revolução urbana. Foi o campesinato que desde 1789 começou a invadir castelos e
pilhar propriedades rurais, forçando a Assembléia a abolir as prerrogativas feudais, num movimento
liderado pelos próprios privilegiados, na sessão histórica de 4 de agosto. Foi ele que tornou irreversíveis
as conquistas sociais da Revolução, adquirindo os bens nacionais, o que gerou uma nova camada de
pequenos proprietários agrícolas radicalmente hostis à restauração do Ancien Regime.
A Revolução Francesa é também a rua. Foi o povo que imprimiu à Revolução suas guinadas mais
decisivas. Foi ele que tomou a Bastilha, ele que foi buscar em Versalhes a família real, ele que se fez
massacrar no Campo de Marte, destruindo a ilusão de uma aliança de classes, ele que depôs a realeza em
10 de agosto de 1792, ele que provocou a grande matança das prisões, em setembro do mesmo ano, ele
que forçou o expurgo da Convenção expulsando os girondinos e contribuindo para frustrar manobras
contra-revolucionárias.
Enfim, a Revolução foi também uma revolução aristocrática, pois no início parecia haver uma
comunidade de interesses entre a nobreza e a burguesia, ambas voltadas contra o absolutismo
monárquico. [...]
Em suma, podemos dizer que a Revolução Francesa foi uma série de revoluções telescopadas, na qual
predomina evidentemente a revolução burguesa, mas que inclui também uma revolução camponesa,
popular e aristocrática.
ROUANET, Sérgio Paulo. O espectador noturno: a Revolução Francesa através de Rétif de La Bretonne. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988. p. 42-44.
• Texto 3
O texto a seguir foi escrito por Maria Ligia Prado e Gabriela Pellegrino Soares, duas
estudiosas com muitos anos de pesquisa em História da América. O texto trata das
independências na América espanhola.
Sujeitos da História
Como vimos, os exércitos rebeldes contaram com comandantes estrategistas para vencer a guerra. Mas,
para que as forças insurgentes se pusessem em marcha, era preciso que pessoas abastadas
patrocinassem sua organização. Nesse sentido, os ricos comerciantes da cidade de Buenos Aires
financiaram a formação dos primeiros batalhões e, na Venezuela, foram os plantadores de cacau os
responsáveis por parte importante de tal financiamento.
Página 361
Porém, não há exército sem soldados que, por sua vez, deviam estar convencidos de que a causa da
independência era a mais justa e necessária para destruir a ordem colonial. Desse modo, “pessoas
comuns” dos mais diversos segmentos sociais e étnicos foram indispensáveis para engrossar as fileiras
insurgentes, mas suas histórias acabaram esquecidas ou pouco valorizadas. Assim, é importante mostrar
tal participação.
As novas ideias que estimularam a independência foram divulgadas por um grupo considerável de
letrados provenientes das diversas partes da América. Nos muitos escritos desse período – panfletos,
memórias, discursos, jornais – defendiam a independência, demonstrando sólido conhecimento das
ideias liberais. Fundamentaram-se nelas para armar suas plataformas de ação e sua justificativa da
ruptura com a metrópole. [...]
Do mesmo modo que os homens ilustrados contribuíram para a independência, os mais desfavorecidos
membros da sociedade colonial, os escravos negros, marcaram sua presença. Como já vimos, eles foram
os protagonistas centrais nas lutas da independência do Haiti. Mas também lutaram nas guerras na
América do Sul. A eles, em geral, era concedida a alforria, caso se alistassem do lado dos insurgentes. Há
muitos exemplos a serem indicados. [...] O mais conhecido foi o “Batalhão Negro de Buenos Aires”,
integrante do exército de San Martín, que atravessou os Andes. De um total de 5 mil homens que
partiram em direção ao Chile, 1 500 eram negros. [...]
PRADO, Maria Ligia; SOARES, Gabriela P. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. p. 33-35.
• Texto 4
Se a economia do mundo do século XIX foi constituída principalmente sob a influência da revolução
industrial britânica, sua política e ideologia foram constituídas fundamentalmente pela Revolução
Francesa. A Grã-Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias e fábricas, o explosivo econômico que
rompeu com as estruturas socioeconômicas tradicionais do mundo não-europeu; mas foi a França que
fez suas revoluções e elas deu suas ideias, a ponto de bandeiras tricolores de um tipo ou de outro terem-
se tornado o emblema de praticamente todas as nações emergentes, e as políticas europeias (ou mesmo
mundiais), entre 1789 e 1917, forma em grande parte lutas a favor e contra os princípios de 1789, ou os
ainda mais incendiários princípios de 1793. [...] A França forneceu os códigos legais, o modelo de
organização técnica e científica e o sistema métrico de medidas para a maioria dos países. A Ideologia do
mundo moderno atingiu, pela influência francesa, as antigas civilizações que até então resistiam às ideias
europeias. [...]
[...] A Revolução Francesa pode não ter sido um fenômeno isolado, mas foi muito mais fundamental do
que os outros fenômenos contemporâneos e suas consequências foram, portanto, muito mais profundas.
Em primeiro lugar, ela aconteceu no mais populoso e poderoso Estado da Europa (com exceção da
Rússia). Em 1789, cerca de um em cada cinco europeus era francês. Em segundo lugar, ela foi,
diferentemente de todas as revoluções que a precederam e a seguiram, uma revolução social de massa, e
incomensuravelmente mais radical do que qualquer levante comparável. Não é casual que os
revolucionários americanos e os jacobinos britânicos que emigraram para a França, devido a suas
simpatias políticas, tenham sido vistos, na França, como moderados. Tom Paine era um extremista na
Grã-Bretanha e na América; mas, em Paris, ele estava entre os mais moderados dos girondinos.
Resultaram das revoluções americanas, grosseiramente falando, países que continuaram a ser o que
eram, apenas sem o controle político dos britânicos, espanhóis e portugueses. O resultado da Revolução
Francesa foi o de que a era de Balzac substituiu a era de Mme Dubarry.
Em terceiro lugar, entre todas as revoluções contemporâneas, a Revolução Francesa foi a única
ecumênica. Seus exércitos partiram para revolucionar o mundo; suas ideias de fato o revolucionário.
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. p. 7-9.
Página 362
• Texto 5
Para que elucidemos melhor este ponto, é preciso delinear, primeiro, o complexo jogo
classificatório/identitário que se abriria nas terras da antiga América Portuguesa com a decisão da
emancipação política. Especialmente, desse processo surgiria o “brasileiro” [...]
A Constituição de 1824 naturalizou todos os nascidos em Portugal que aqui permaneceram após a
independência e que tivessem aderido à “causa do Brasil” de modo que, durante pelo menos a primeira
década após a declaração de independente, brasileiros e portugueses foram identidades intercambiáveis
e profundamente carregadas de conteúdos políticos. Por outro lado, desde a chamada Conjuração dos
Alfaiates, em 1798, a igualdade entre pardos e brancos, juntamente com o aumento do soldo das tropas,
era apresentada como principal reivindicação de caráter popular no bojo das agitações políticas de
cunho liberal do período. Nesse contexto, a causa do Brasil apareceria nas ruas do Rio de Janeiro ou de
Salvador, fortemente marcada por uma linguagem racial, na qual a origem africana era esgrimida como
marca de discriminação pelo “partido português e absolutista” e como signo da identidade brasileira
pelo povo nas ruas, jogando “cabras” contra “caiados”, “brasileiros pardos” contra “branquinhos do
reino”.
MATTOS, Hebe Maria. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. p. 18-
19. (Descobrindo o Brasil).
Atividades complementares
1. O texto a seguir foi escrito por um importante historiador francês; leia-o com
atenção.
Esses deputados abolem o regime feudal: não haverá mais senhores usufruindo dos favores que eram
chamados de privilégios. Por exemplo, eles não recebem mais os tributos senhoriais pagos por seus
camponeses, perdem o privilégio de ser os únicos que praticam certas atividades como a caça, não
devem mais se distinguir por sinais exteriores: vestuários luxuosos e perucas, carruagens etc.
Os deputados proclamam que todos os franceses são livres e iguais. Eles atribuem à república uma divisa
que figura nos edifícios públicos: “Liberdade, igualdade, fraternidade”. Vocês acham, a partir do que
veem em volta de vocês, que esse ideal foi realizado?
LE GOFF, Jacques. Uma breve história da Europa. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 110.
Editora Vozes
a) Como o autor justifica sua afirmação de que, em 1789, os franceses fizeram uma
Revolução?
Ele justifica dizendo que os franceses mudaram radicalmente tanto o jeito como eram governados quanto a sociedade.
Eles aboliram o regime feudal (os privilégios da nobreza e o direito de receber tributos dos camponeses) e proclamaram que
todos os franceses eram livres e iguais.
Resposta pessoal. Professor: a questão favorece o debate em torno das ideias dos revolucionários de 1789, que continuam
empolgando pessoas, grupos e movimentos sociais nos dias de hoje.
2. O nome desta tela é Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808. Ela foi pintada pelo
espanhol Francisco Goya, em 1814, e está atualmente no Museu do Prado, em Madri.
Francisco Jose de Goya. 1814. Óleo sobre tela. Museu do Prado, Madri
Ele é o personagem-símbolo do quadro e representa a resistência popular espanhola. Usando com maestria o jogo de luz e
sombra, Goya atrai o olhar do observador para ele. Contrastando o despojamento desse personagem popular com a violência
cega dos atiradores, Goya o transforma no principal mártir dessa resistência.
Ao centro, vê-se outro grupo de prisioneiros desesperados. O que está à frente cobre o rosto com as mãos; atrás e à
esquerda, um prisioneiro de roupa branca; à direita, outro prisioneiro tristonho de olhar cabisbaixo; ao fundo e no alto, uma
igreja, que representa bem a Espanha católica. Repare que a igreja ocupa um lugar de destaque na obra.
Goya os representou como se fossem idênticos; não nos deixa ver seus rostos. A opressão não tem rosto, diz Goya, usando a
linguagem pictórica. Com isso, o artista ultrapassa o fato particular (a dominação napoleônica) e atinge o universal,
estendendo sua crítica a todos os regimes tirânicos.
e) Observe a tela, leia o seu título e responda: em que contexto ela foi feita?
A pintura se insere no contexto da ocupação da Espanha pelo exército de Napoleão Bonaparte. O pintor congela um
momento de grande violência da ocupação francesa na Espanha: populares espanhóis sendo fuzilados por soldados
franceses.
Francisco José de Goya y Lucientes nasceu em 1746, na província de Saragoça (Espanha). Era filho de um dourador de
estátuas para igrejas e, ainda jovem, iniciou seus estudos de pintura e de decoração. Mas tinha um espírito irrequieto e
preferia as ruas, os bares e as touradas ao atelier, chegando a atuar profissionalmente como toureiro. Um marco em sua vida
artística foi o quadro Maja desnuda, no qual retratou uma mulher nua, causando grande polêmica na sociedade espanhola.
Com a invasão da Espanha pelo exército napoleônico, Goya realizou uma série de quadros exaltando a resistência popular
espanhola.
O Estado, que começava a se organizar depois de atingida a independência, assumiu como tarefa destruir
a velha ordem colonial. Em primeiro lugar, tendo em vista os interesses criollos dominantes
Página 364
e também as pressões dos comerciantes ingleses, havia de derrubar todo o regime de monopólios,
privilégios e restrições ao comércio e outros ramos da produção em geral. Essa foi uma iniciativa
realizada com êxito, ainda que isso não tenha significado, como esperavam os criollos, um grande
crescimento econômico imediato.
Outro objetivo do Estado que surgia era a destruição dos foros especiais do Exército e da Igreja. [...] Essa
luta terminou, em geral, já no fim do século [XIX] – em alguns países, neste século [XX] – com a separação
total entre o Estado e a Igreja e com a subordinação desta ao poder maior do Estado laico.
Os privilégios dos espanhóis foram, na verdade, rapidamente suplantados nessa batalha, já que eles
terminaram por perder seus favores políticos e econômicos, chegando mesmo a ser expulsos de alguns
países.
Esse Estado esteve sempre preocupado com a manutenção da ordem social; os setores mesmo
divergentes das classes dirigentes sempre se aliaram, sustentando o Estado, em momentos em que a
ordem instituída foi ameaçada pelos de abajo. As constantes revoltas de índios, de camponeses e de
escravos contribuíram para o fechamento autoritário do Estado. Entretanto, algumas concessões foram
feitas. Aboliu-se o tributo indígena [...] aplainaram-se as distinções de castas. A escravidão negra foi
abolida, mais cedo ou mais tarde, nos países independentes, tendo permanecido apenas (além do Brasil)
nas ilhas de Cuba e Porto Rico, ainda sob o domínio espanhol.
PRADO, Maria Lígia. A formação das nações latino-americanas. 18. ed. São Paulo: Atual, 1994. p. 17-18.
A destruição da velha ordem colonial, com a liquidação dos foros especiais do exército e da Igreja e dos privilégios dados aos
chapetones.
Diante da ameaça à ordem social estabelecida, as classes dirigentes se aliaram e reprimiram as manifestações populares.
[Comentar que o Estado reagiu a essas revoltas constantes de forma autoritária e violenta.]
c) Com base neste texto e no que você estudou, analise as independências latino-
americanas destacando mudanças e permanências.
Resposta pessoal. [No tocante às mudanças, os alunos podem apontar a ascensão dos criollos aos principais cargos nos
Estados recém-formados e a abolição do tributo indígena, das distinções de castas e da escravidão. Quanto às permanências,
poderão ser citadas a manutenção da estrutura agrária, das desigualdades sociais e da dependência externa, sobretudo em
relação à Inglaterra.]
Resposta: c.
5. (Unimontes-MG – 2014) Em 1777, com a morte do rei Dom José I, sua filha, D.
Maria I, sucedeu-lhe no trono de Portugal. Sobre as ações encetadas durante o seu
reinado, é CORRETO afirmar:
Resposta: a.
Página 365
6. O texto a seguir é trecho de uma entrevista dada pela historiadora Emília Viotti da
Costa. Leia-o com atenção.
Devemos, sim, comemorar a Independência, mas cientes das limitações dela, pois, no mundo
“globalizado”, o Brasil continua tremendamente dependente dos países mais desenvolvidos. Temos uma
independência mais nominal que real. Celebrar ou não é questão de gosto. Para mim o presente sempre
preocupou mais que o passado. [...] Vejo a História como uma forma de compreender o presente. Nunca
fui uma colecionadora de história.
COSTA, Emília Viotti da. Faz sentido celebrar a Independência? Nossa História, ano 1, n. 11, p. 34, set. 2004.
a) A comemoração da Independência;
Devemos, sim, comemorar a Independência, mas cientes das limitações dela, pois, no mundo “globalizado”, o Brasil continua
tremendamente dependente dos países mais desenvolvidos.
b) A independência do Brasil.
c) A História.
d) Com a classe dividida em três grupos criem um debate sobre a afirmação feita pela
historiadora: o Brasil continua tremendamente dependente dos países mais
desenvolvidos. Um grupo defende a posição da historiadora; outro contesta sua
posição, e um terceiro avalia o desempenho dos dois grupos no debate.
Respostas pessoais. Professor: levar em conta a capacidade de argumentação do alunado. Estimular os alunos a buscar
argumentos e dados em defesa de seu ponto de vista. Para esquentar o debate lembrar que, se por um lado o Brasil é
considerado hoje a 7ª economia do mundo, por outro, depende em boa parte das exportações de gêneros agrícolas e
matérias-primas para países como a China, por exemplo.
7. (UEMG – 2015) Em abril de 1831, na cidade do Rio de Janeiro, era comum ouvir nas
ruas versos como esses:
c) vivia um entrave na sua relação política com a elite agrária brasileira, já que a
constituição do Império, que havia sido promulgada no ano de 1824, muito
democrática e liberal, concedia importantes direitos sociais à massa popular.
Resposta: d.
Página 366
Textos complementares
• Texto 1
Cantor do indígena, Gonçalves Dias parece retomar o caminho trilhado pelos iniciadores do romantismo
entre nós. Mas é com outra perspectiva e outro vigor poético que o faz. Há nele uma consciência
dramática, senão trágica, de que a colonização extinguiu populações inteiras de silvícolas. I-Juca Pirama
não é tão somente “aquele que deve morrer” quando vencido pela tribo inimiga. É também aquele que
acabaria morrendo às mãos dos conquistadores brancos que vieram de além-mar. No “Canto do Piaga”,
um de seus primeiros “poemas americanos”, sobe ao primeiro plano a visão horrífica dos invasores que
virão de repente “matar vossos bravos guerreiros” e “roubar-vos a filha e a mulher”.
[...]
O índio de Gonçalves Dias não é decorativo, é expressivo. Quando épico, é viril e sóbrio na concisão da
fala do selvagem indômito:
Da tribo pujante
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte.
Meu canto de morte
Guerreiros, ouvi
BOSI, Alfredo. Cultura. In: CARVALHO, José Murilo de. (Coord.). A construção nacional 1830-1889. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012. v. 2, p. 234-236.
Página 369
• Texto 2
O texto a seguir é de Maria Teresa Garritano Dourado, doutora em História Social pela
USP, e autora da tese A História esquecida da Guerra do Paraguai: fome, doenças e
penalidades.
Ana Néri já não é tão lembrada hoje, mas foi uma das poucas mulheres brasileiras participantes do
conflito a ficar conhecida nacionalmente, tendo sido muito festejada na época do confronto. Ela teria
adquirido experiência como enfermeira junto às Irmãs de Caridade São Vicente de Paula, no Rio Grande
do Sul, e em Salto, na Argentina. Naqueles tempos, a enfermagem não tinha um caráter técnico ou
científico e era exercida em um viés humanitário ou religioso.
Durante a guerra, Ana residiu em Corrientes, Humaitá e Assunção, fixando residência perto dos campos
de operações para atender aos feridos. Tratou de doentes em hospitais de sangue e perdeu um filho e um
sobrinho no período. Muitos anos depois de morrer, teve seu nome dado a várias escolas de enfermagem
no Brasil, sendo considerada uma de suas pioneiras. Seu prestígio foi longe: em cartas à sua mulher,
Benjamin Constant, militar e republicano histórico, referiu-se a ela como “uma respeitável senhora
brasileira” e “muito minha amiga”.
Grande parte do contingente feminino que acompanhava o exército era formado por mulheres simples
do povo, conhecidas apenas por um nome e apelido, como Ana Mamuda, Aninha Gangalha, Maria Fuzil,
entre outros. Ana Néri, porém, era exceção. Senhora de elite, ela teve direito a nomes e sobrenomes por
ser viúva de um homem de projeção: havia se casado com o oficial de Marinha capitão-de-fragata Isidoro
Antonio Néri, que faleceu em 1844 a bordo do brigue Três de Maio, no Maranhão.
Ana Néri ficou por quase cinco anos com o exército. Quando regressou, recebeu várias homenagens.
Ainda em vida teve um reconhecimento raras vezes dado a uma mulher brasileira. Em 6 de fevereiro de
1870, foi presenteada por uma comissão de senhoras baianas residentes na capital com uma coroa de
ouro na qual estava gravado: “à heroína da caridade, as baianas agradecidas”. Hoje, o objeto faz parte do
acervo do Museu do Estado da Bahia. A enfermeira também ganhou um álbum com a dedicatória
“Tributo de admiração à caridosa baiana por damas patriotas”.
Todos os biógrafos de Ana Néri ressaltam o importante trabalho que ela desenvolveu tanto junto aos
feridos brasileiros e aliados quanto aos paraguaios. Não à toa, ficou conhecida como Mãe dos Brasileiros,
numa denominação dada pelo próprio Exército na Campanha do Paraguai.
DOURADO, Maria Teresa Garritano. Sofrimento invisível. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro,
ano 10, n. 117, p. 24, jun. 2015.
• Texto 3
O texto a seguir foi escrito pela historiadora e antropóloga brasileira Lilia Schwarcz
Moritz, e pela cientista política e professora da UFMG Heloísa Starling.
O dia seguinte
Por sinal, passada a euforia dos primeiros momentos da Lei Áurea, de 1888, foram ficando claras as
falácias e incompletudes da medida. Se ela significou um ponto final no sistema escravocrata, não
Página 370
priorizou uma política social de inclusão desses grupos, os quais tinham poucas chances de competir em
igualdade de condições com os demais trabalhadores, sobretudo brancos, nacionais ou imigrantes. [...]
Na realidade, nos primeiros anos da República pairava um verdadeiro “medo” de novas escravizações, ou
da vigência de políticas raciais no país. Sobre os libertos recaía, portanto, um fardo pesado, condicionado
pelos modelos deterministas de interpretação social e pela própria história. Foi por isso que ocorreu,
então, uma reversão de expectativas, uma vez que a igualdade jurídica e social acabou sendo
condicionada por novos critérios raciais, religiosos, étnicos e sexuais. Segundo a visão da época, a
explicação para a falta de sucesso profissional ou social dos negros e mestiços estaria na biologia: ou
melhor, na raça, e não numa história pregressa ou no passado imediato. Henrique Roxo, médico do
Hospício Nacional, em pronunciamento no II Congresso Médico Latino-Americano de 1904 asseverava
que negros e pardos deveriam ser considerados como “tipos que não evoluíram”; “ficaram
retardatários”. Segundo ele, se cada povo carregava uma “tara hereditária”, no caso desses grupos ela era
“pesadíssima”, levando à vadiagem, ao álcool e demais distúrbios mentais. O médico não deixava de
incluir argumentos sociais, culpando a “transição bruscada”, assim como o crescimento desorganizado
das cidades.
SCHWARCZ, L. K. M.; STARLING, Heloísa. Brasil: uma biografia. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. v. 1, p.
342-343.
Atividades complementares
1. Cruzando fontes
• Fonte 1
Com efeito, os escravos foram a pedra de toque da Cabanagem, na medida em que suas ações [...] foram
encaminhadas com autonomia frente aos demais grupos rebeldes. Por isso mesmo, suas manifestações
dirigiam-se [...] para aqueles que representavam [...] a continuidade do cativeiro. Por isso mesmo
também sobre eles recaiu toda a fúria repressiva das autoridades [...]. Durante toda a revolta, a
perseguição e morte de suas lideranças mais expressivas, como os negros Diamante e Patriota, foram
parte do preço que tiveram de pagar para reinventar a liberdade.
Da trajetória dessas duas lideranças negras da Cabanagem pouco se sabe além dos registros que
aparecem na obra de Domingos Raiol. Sabe-se que Patriota era a alcunha de um negro liberto que se fez
líder de um grupo [...] que chegou a aglutinar mais de 400 escravos fugidos. [...] A figura de Diamante é
também iluminada por Raiol. Negro, chamava-se João do Espírito Santo e sob seu comando “organizou
[...] um corpo que denominou de guerrilheiros” e chegou a elaborar um plano para assumir o controle do
poder na Província, derrubando o então presidente... Eduardo Angelim.[...]
PINHEIRO, Luís Balkar S. Peixoto. Cabanagem: percursos históricos e historiográficos. In: DANTAS, Mônica Duarte
(Org.). Revoltas, motins, revoluções: homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. São Paulo: Alameda,
2011. p. 226-227.
Alcunha: apelido.
• Fonte 2
Fonte: FILHO, Arnaldo Fazoli. O período Regencial. São Paulo: Editora Ática, 1994. p. 55.
Página 371
a) Que trecho do texto comprova que os escravos do Grão-Pará agiram com autonomia
frente aos outros grupos?
O trecho que afirma que o líder negro Diamante queria derrubar o governo cabano de Eduardo Angelim e substituí-lo no
poder; eis o que o autor diz: “Negro, chamava-se João do Espírito Santo e [...] chegou a elaborar um plano para assumir o
controle do poder na Província, derrubando o então presidente... Eduardo Angelim.”
b) Com base na tabela, o que é possível saber sobre a presença de negros e índios na
população do Grã-Pará, em 1835?
Pode-se dizer que negros e índios somavam 63 mil habitantes, mais de 50% da população. Professor: comentar que 50% + 1
constitui maioria absoluta.
A porcentagem de negros era de 25% e a de brancos era de 12,5%; a porcentagem de negros era, portanto, o dobro da de
brancos.
A maioria dos paraenses era muito pobre; morava em cabanas e era constituída por índios, negros e mestiços que, juntos,
somavam 85% da população.
e) Que relação se pode estabelecer entre o texto (fonte 1) e a tabela (fonte 2)?
O texto destaca a participação política dos negros escravizados na Cabanagem e a tabela informa sobre sua expressiva
participação numérica (25% do total de habitantes do Grão-Pará).
2. Leia com atenção esta tabela sobre a distribuição de riquezas na cidade de Salvador
(BA), entre 1800 e 1850.
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês (1835). 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
p. 23.
a) O que se pode concluir comparando a média do valor dos bens dos indivíduos
situados nos diversos grupos?
O valor médio dos bens dos que pertenciam à minoria dos 10% mais ricos era de 64:086$500 (sessenta e quatro contos,
oitenta e seis mil e quinhentos réis). Esse grupo pequeno dos 10% mais ricos possuía em média 7,5 vezes mais que os 30%
seguintes e 180 vezes mais que os últimos 30%.
Um dos fatores que ajuda a explicar esse perfil de distribuição de riqueza é justamente o fato de a sociedade soteropolitana
da época ser uma sociedade escravista e fortemente preconceituosa (fato que dificultava a ascensão dos libertos).
3. (FMJ – 2014)
Entre 1852 e 1859, chegaram de outras províncias para o Rio de Janeiro 26 622 escravos.
(Ana Luiza Martins. Império do café: a grande lavoura no Brasil, 1850 a 1890, 1990.)
Página 372
c) pelo efeito direto da grave crise mundial desencadeada nas indústrias têxteis
britânicas, o que fez reduzir a exportação algodoeira da Bahia.
d) pelas leis de restrição ao uso de escravos aprovadas nas províncias mais ricas do
nordeste: Ceará e Pernambuco.
Resposta: e.
4. (UEMA – 2013)
• Texto I
Valeu, Zumbi
O grito forte dos Palmares
Que correu terra, céus e mares
Influenciando a abolição.
• Texto II
Resposta: a.
5. (Unicamp – 2014)
Angelo Agostini (1833-1910) expressou sua crítica a D. Pedro II em uma caricatura publicada na
Revista Ilustrada, em 1887.
A expectativa era de que os candidatos pudessem apreender, a partir da representação visual (monarca idoso, sem energia,
sonolento, jornais espalhados, por exemplo), o descompasso entre os problemas existentes no final do Império e a gestão de
D. Pedro II.
Página 373
Poderiam ser mencionados e explicados processos como a campanha abolicionista, o crescimento do movimento
republicano, as questões militares, a questão religiosa e a Guerra do Paraguai, que representaram a perda de apoio de
importantes grupos ao Imperador, desencadeando um processo de crise que levou à proclamação da República.
6. (Fuvest-SP – 2014)
A República não foi uma transformação pacífica. Bem ao contrário. Para além da surpresa provocada
pelo golpe de Estado de 15 de novembro, seguiu-se uma década de conflitos e violências de toda ordem,
na qual se sucederam as dissensões militares, os conflitos intraoligárquicos, os motins populares, a
guerra civil, o atentado político contra a vida de um presidente da República. No interior dessas lutas se
forjou a transformação do Estado Imperial em Estado Republicano, do Império Unitário em República
Federativa, do parlamentarismo em presidencialismo, do bipartidarismo organizado nacionalmente em
um sistema de partidos únicos estaduais. Forjou-se um novo pacto entre as elites e um novo papel para
as forças armadas.
Wilma Peres Costa. A espada de Dâmocles. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 16.
Podem ser citadas a Primeira e a Segunda Revolta da Armada (1891 e 1893). Na Primeira, unidades da Armada (Marinha)
ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro caso o presidente Deodoro da Fonseca não renunciasse à presidência. E
na Segunda, liderada pelo oficial Custódio José de Melo, a Marinha bombardeou a cidade do Rio de Janeiro, exigindo a
renúncia de Floriano Peixoto. Ou ainda, a Revolução Federalista no Rio Grande (1893-1895): guerra civil gaúcha resultado
da disputa entre os seguidores do republicano Júlio de Castilhos, que contou com o apoio de Floriano Peixoto, e os adeptos
de Gaspar Silveira Martins, com apoio da marinha.
As revoltas e conflitos na Primeira República envolveram, em maior ou menor grau, as forças armadas que, não por acaso,
assumem um patamar político de suma importância no processo de instalação e consolidação do novo regime. A busca por
maior participação política, iniciada pelos militares ainda nos últimos anos do império, tem resultado exatamente após o
golpe de 15 de novembro de 1889, com dois governos de presidentes militares: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.
Por apresentar uma visão otimista do presente e do futuro, o período que se estendeu do final do século
XIX ao início do XX foi caracterizado [...] como sendo uma belle époque. Havia, contudo, uma face
sombria nesse período. O início da República conviveu com crises econômicas, marcadas por inflação,
desemprego e superprodução de café. Tal situação, aliada à concentração de terras e à ausência de um
sistema escolar abrangente, implicou que a maioria dos libertos passasse a viver em um estado de quase
completo abandono. Esses últimos, além dos sofrimentos da pobreza, tiveram de enfrentar uma série de
preconceitos cristalizados em instituições e leis, feitas para estigmatizá-los como subcidadãos, elementos
sem direito à voz na sociedade brasileira.
[...]
O racismo dos tempos iniciais da República voltou-se também ao combate de tradições culturais. A
capoeira, assim como as várias formas de religiosidade africanas tornam-se, segundo o código penal de
1890, práticas criminosas. [...] Nem mesmo as festas escapam ao furor antiafricano. Em plena Salvador,
os batuques e afoxés (na época denominados candomblés) são colocados na ilegalidade. (...)
Página 374
Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela
denominação de capoeiragem [...]
PRIORE, Mary Del; VENÂNCIO, Renato Pinto. O livro de Ouro da História do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. p.
269-274.
Como um período em que predominava uma visão otimista do presente e do futuro, mas que, ao mesmo tempo, tinha uma
face sombria, marcada por uma crise econômica envolvendo superprodução de café, inflação e desemprego. Ou seja, foi uma
bela época somente para uns poucos.
Sem terra, sem instrução e tendo a pele escura em uma sociedade racista, os libertos viviam relegados ao abandono, eram no
máximo subcidadãos.
c) Que exemplos os autores dão do “furor antiafricano” praticado nos tempos iniciais
da República?
Batuques e afoxés foram colocados na ilegalidade; a prática da capoeira tornou-se um crime, com pena que variava de dois a
seis meses de prisão. Somente durante o Estado Novo, a capoeira deixou de ser perseguida para tornar-se um esporte
nacional. Conforme o estudioso Rafael Veríssimo: “Em 1937, Getúlio Vargas descriminalizou a capoeira como parte de seu
projeto político nacionalista e, em 1953, afirmou: ‘a capoeira é o único esporte genuinamente nacional’.” VERÍSSIMO, Rafael.
Análise de narrativas culturais da capoeira constata: sua origem não é brasileira. Agência USP de notícia, São Paulo, n. 1524,
10 nov. 2004. Disponível em: <http://www.usp.br/agen/bols/2004/rede1524.htm>. Acesso em: 5 jun. 2016.
• Vozes do presente
matar membros seus; causar-lhes grave lesão à integridade física ou mental [...];
realizar a transferência forçada de crianças dum grupo para outro”. GENOCÍDIO. In:
NOVO Dicionário Eletrônico Aurélio versão 6.0.7. Curitiba: Positivo Informática, 2010.
b) Resposta pessoal.
Capítulo 3
• Vozes do presente
a) Uma visão apresenta os escravizados como um grupo sem vontade própria; outra
como um grupo que constituiu família, mantendo uma organização básica de apoio e
de identidade social, enfim como sujeito da História. Professor: a comparação entre
essas duas visões quer estimular o alunado a confrontar diferentes abordagens sobre
o mesmo assunto.
b) Descobriu-se que boa parte deles constituía família e que ela tinha grande
importância em suas vidas. Além disso, geralmente os filhos pequenos moravam com
seus pais ou, pelo menos, com suas mães.
• Você cidadão!
b) “Inúmeras espécies vegetais, objeto de coleta por parte dos índios, foram adotadas
pelos colonizadores europeus, passando a ser cultivadas, algumas em larga escala
[...].”.
Capítulo 4
• Vozes do passado
d) A imagem reforça e ilustra o trecho em que Baquaqua diz: “O porão era tão baixo
que não podíamos ficar de pé, éramos obrigados a nos agachar ou nos sentar no chão.
Noite e dia eram iguais para nós, o sono nos sendo negado devido ao confinamento de
nossos corpos”.
a) Provérbio: frase curta de origem popular que resume um conceito sobre a realidade
ou uma regra social/moral. O provérbio de número nove contém, como se pode
concluir, uma recomendação moral.
e) Resposta pessoal. Professor: sugerir aos alunos que conversem com o professor de
Língua Portuguesa sobre os desafios de transformar um legado oral em texto escrito.
Conto: gênero literário que se caracteriza por ser breve, ter poucas personagens e
ações e espaço reduzido. Adivinha: pergunta enigmática que exige resposta ou
solução; adivinhação, enigma. Receita: gênero textual que apresenta duas partes bem
definidas: ingredientes e modo de preparo.
Capítulo 5
• Vozes do presente
b2) Os altos funcionários (pelo cargo que ocupavam) tinham uma possibilidade maior
de retirar para si parte da riqueza extraída. Este era o caso, por exemplo, dos
contratadores, dos responsáveis pelas casas de fundição, dos fabricantes de moedas,
entre outros.
Página 377
Capítulo 6
• Vozes do passado
d) Porque não havia leis trabalhistas e nenhuma justiça do trabalho para coibir os
constrangimentos e as longas jornadas de trabalho a que os jovens aprendizes eram
expostos.
e) Resposta pessoal.
a) Varíola é uma doença causada por vírus que pode infectar os órgãos internos, a
corrente sanguínea e as células da pele, formando pústulas (erupções na pele). Ela
pode ser transmitida por vias respiratórias ou gotículas de saliva de pessoas
portadoras do vírus. A taxa de mortalidade entre os infectados é grande. A vacina
inventada por Jenner foi decisiva, pois não havia tratamento para essa doença na
época.
c) Resposta pessoal. Espera-se que o aluno responda que os adolescentes têm mais
chances de contrair doenças (sobretudo as sexualmente transmissíveis) devido a sua
exposição contínua a riscos.
d) Resposta pessoal. Entre as sugestões que podem ser apresentadas para o Ministério
da Saúde, cabe destacar uma campanha massiva de conscientização direta (para o
próprio adolescente) e indireta (para os pais e familiares), alertando para os riscos das
exposições exageradas e para a falta de cuidado e/ou de prevenção. O foco da
campanha poderia ser a importância da vacinação na prevenção de doenças.
Professor: segundo o Ministério da Saúde, as vacinas para adolescentes com idade
entre 11 e 19 anos são:
Fonte: TOSCANO, Cristiana. Cartilha de vacinas: para quem quer mesmo saber das coisas. Brasília, DF: Organização
Pan-Americana da Saúde, 2003. p. 20-23. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/1c0dee80474580598c59dc3fbc4c6735/cart_vac.pdf?MOD=AJPERE
S>. Acesso em: 23 maio 2016.
Página 378
• Você cidadão!
b) Isto significa que a maioria das línguas indígenas corre sério risco de extinção.
Professor: comentar que quando o último falante de uma língua morre, perdem-se
saberes e práticas de inestimável valor para todos nós.
c) Tikuein falava com o espelho, enquanto caminhava pela aldeia; Maria Rosa
dialogava com um gravador. Resposta pessoal. Professor: comentar que essas
estratégias criativas usadas pelos dois indígenas dão a dimensão da importância que a
língua tem para a vida e o cotidiano de um indivíduo.
Capítulo 7
• Vozes do presente
a) Anacronismo é o ato de analisar o passado com os mesmos critérios usados para
entender o presente. No texto em foco, o historiador diz que o modo como os leitores
do século XVIII usavam a Enciclopédia era diferente do modo como os leitores atuais
manuseiam as enciclopédias de hoje. E que, se nós não percebermos essa diferença,
vamos cometer anacronismo. O professor Georges Duby afirma: “Vistam a pele dos
homens e mulheres de outras épocas se quiserem entendê-los”, ou seja, coloquem-se
no lugar deles, tentem saber como eles pensavam, se quiserem compreendê-los.
c) Iluminar o espírito, para eles, era fazer uso da razão humana para alcançar o
esclarecimento, a luz. A razão deveria ser aplicada a todas as atividades humanas,
destruindo a ignorância, combatendo os preconceitos e o fanatismo religioso.
• O único meio usado para acessar a Enciclopédia dos franceses era o papel, no caso, o
livro. Já as enciclopédias atuais estão disponíveis também em meio digital, permitindo
assim o acesso à distância.
Capítulo 8
• Vozes do presente
a) Ele passou a ser descrito como o filho da Revolução Francesa, o homem que
consolidou a posse da igualdade de direitos, que tornou possível a saída da França do
feudalismo, glorificando-a com suas vitórias.
Página 379
Capítulo 9
• Vozes do presente
a) O texto é argumentativo e foi escrito por uma historiadora que conhece seu ofício e
é especialista no tema das independências políticas da América Latina.
c) Pelo texto, fruto de um árduo processo de pesquisa, ficou subentendido que durante
muito tempo a historiografia privilegiou a participação dos homens nas lutas pela
independência e transformou alguns deles em heróis nacionais. Adotou, portanto, uma
abordagem sexista, omitindo o protagonismo feminino em um episódio decisivo da
história da América.
Capítulo 10
• Vozes do presente
d) Para Boris Fausto, a Independência foi um arranjo político promovido pela elite e
em favor dela, daí a liderança do processo ter ficado com a nobreza. Já para Cecília
Helena houve, sim, participação popular nas lutas pela Independência.
Página 380
e) Resposta pessoal.
Capítulo 11
• Vozes do presente
a) A implantação do capitalismo e a construção do Estado nacional, processo este do
qual fazem parte episódios como o Sete de Setembro e a abdicação.
c) Como ensina Jorge Caldeira, cerca de 85% da produção total brasileira era
consumida no mercado interno, e apenas 15% da produção era destinada à
exportação. Professor: durante muito tempo se afirmou que a economia colonial
brasileira se assentava na grande propriedade escravista voltada para o mercado
externo. O autor do texto apresenta resultados de pesquisas que revolucionaram os
estudos de economia colonial brasileira nos últimos 15 anos, como as dos
professores/pesquisadores João Fragoso, Manolo Florentino e Sheila de Castro Faria,
que destacaram a enorme importância do mercado interno na economia colonial
brasileira.
• Você cidadão!
b) Isto significa que o Brasil é um país com muitas etnias e diversas culturas.
Professor: comentar que é nesta diversidade que reside sua riqueza.
b) O trecho incorporado está entre aspas a seguir: Teus risonhos, lindos campos “têm
mais flores;” / “Nossos bosques têm mais vida”, / ”Nossa vida” no teu seio “mais
amores”.
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c1) Ufanismo: orgulho exacerbado pelo país em que se nasceu; patriotismo excessivo.
c2) Resposta pessoal. Professor: os exemplos são muitos; movido pela saudade, o
poeta idealiza a natureza do Brasil, descrevendo-a como mais bela e mais rica que a
terra do exílio (Portugal).
Capítulo 13
• Vozes do presente
a) Ele o caracteriza como um ditador que não dava satisfação de seus atos a ninguém.
O autor distingue a ditadura de López das atuais, enfatizando que, à época, inexistiam
meios de comunicação de massa; e, assim sendo, um ditador não tinha a necessidade
de reagir ao contexto internacional, como ocorre hoje.
b) Ele afirma que no Paraguai de Solano López a oposição estava “em cemitérios ou no
exílio”; não havia jornais, apenas um diário oficial; portanto, inexistia uma imprensa
participativa ou que expressasse as demandas e os conflitos de interesses da
sociedade paraguaia da época.
c) Ele apresenta Solano López como aquele que iniciou a guerra; seu plano era vencer
o líder argentino Bartolomeu Mitre e derrotar o Império Brasileiro no Paraguai.
Capítulo 14
Abolição e República
• Vozes do presente
a) Ele criticou a postura do povo; seu não envolvimento na proclamação da República,
um ato executado por militares, em 15 de novembro de 1889.
b) Segundo ele, a República manteve o povo excluído da política; isto fica evidente no
trecho em que o autor diz: “O povo sabia que o formal não era sério. Não havia
caminhos de participação, a República não era para valer”.
c) Ele afirma que “bestializado era quem levasse a política a sério”. A política, segundo
o autor, era tribofe (engodo, trapaça); assim, ao preferir apenas assistir à proclamação
da República, o povo estava longe de ser bestializado; foi esperto!
• Cruzando fontes
d) Resposta pessoal. Enquanto Emília Viotti enfatiza o fato de a Lei Áurea não ter
previsto nenhuma forma de amparo aos libertos, Hebe Mattos destaca o fato de que,
embora limitada, a igualdade civil conquistada com a Abolição não deve ser
subestimada. Como afirma Viotti, a Lei Áurea não protegeu o ex-escravizado na sua
difícil travessia à condição de homem livre: não lhe concedeu terra, como havia
proposto André Rebouças, não previu sua instrução, como havia sugerido Joaquim
Nabuco, e tampouco lhe conferiu direitos políticos. Mas não se pode esquecer que, em
13 de maio de 1888, a igualdade civil de todos os brasileiros foi pela primeira vez
reconhecida. Concluindo: as duas historiadoras enfatizam diferentes aspectos de uma
mesma realidade. Professor: o importante é estimular o posicionamento do aluno e a
sua capacidade de argumentação.
• Você cidadão!
b) O povo negro via d. Obá como um príncipe pertencente a uma família real africana.
c) Conforme o autor, a elite da época ignorava a história da África, bem como o modo
como se organizavam politicamente os reinos africanos. Já o povo negro, preservando
no Brasil a cultura (ou as culturas) africanas, reconhecia em d. Obá as suas origens
reais, compartilhava de suas ideias.
7. Referências bibliográficas
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