Vous êtes sur la page 1sur 5

27/09/2019 O que é socialização e o que é educação?

- QG Feminista - Medium

O que é socialização e o que é educação?


Verbete de Claude Zaidman para o Dicionário Crítico do Feminismo
Furiosa Follow
May 27, 2018 · 7 min read

ZAIDMAN, Claude. Educação e socialização. In: HIRATA, H. et al (org.). Dicionário


Crítico do Feminismo. Editora UNESP : São Paulo, 2009, p. 80–84.

A educação consiste em permitir a entrada individual e coletiva de novos membros numa


sociedade. Nesse sentido, faz parte dos processos de reprodução social. A definição de
Durkheim (1922/1977), fundador da Sociologia da educação na França, associa dois
conceitos: “A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda
não estão maduras para a vida social…”; ela consiste numa “socialização sistemática da
geração jovem” que visa “constituir o ser social em cada um de nós”. Segundo o autor,
trata-se, antes de tudo, do meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as
condições de sua própria existência.

Opõe-se, frequentemente, o caráter intencional da educação — que realiza um ou vários


projetos — e da socialização — que funcionaria mais por osmose — no conjunto das
interações sociais. Um dos problemas suscitados é, então, o modo de compartilhamento
e os sistemas de relações entre as diferentes instâncias de socialização, como a escola, a
família, o grupo de pares, as mídias, os meios profissionais etc.

A Sociologia da educação e as relações sociais de sexo


Nos anos 70, a Sociologia da educação francesa é, sobretudo, centrada na escola, sua
estrutura e os fluxos de entrada e saída de alunos. A principal problemática é a das
desigualdades sociais do resultado escolar, e o debate fundamental é sobre o papel da
https://medium.com/qg-feminista/educação-e-socialização-b38756aadf1 1/5
27/09/2019 O que é socialização e o que é educação? - QG Feminista - Medium

escola como fator de mobilidade social ou de reprodução. Nessa perspectiva, as


desigualdades de sexo não são levadas em conta (Kandel, 1975; Duru-Bellat, 1994) e os
poucos trabalhos relativos à educação de meninas são o resultado de uma história à
parte.

A generalização das escolas mistas nos anos 70, como aplicação — atrasada –, em
termos de gênero, do princípio da igualdade de oportunidades para todos os cidadãos
perante a educação, permite educar juntos meninas e meninos e comparar diretamente
os seus desempenhos. Depois de ter recuperado o atraso no que se refere à escolarização,
as meninas exibem um “melhor resultado escolar” em número de anos de estudo e essa
constatação vai incidir sobre o conceito de reprodução das desigualdades pela escola.

Porém, trabalhos recentes — baseados na problemática das relações sociais de sexo —


moderam esse otimismo, mostrando que, se os mecanismos de seleção de classe e sexo
diferem em seus princípios, a escola permanece um elo importante na manutenção da
divisão sexual do trabalho. O ponto de vista longitudinal permite analisar os diferentes
percursos escolares mediante a observação dos comportamentos diferenciados dos
diversos atores escolares, na vida cotidiana dos estabelecimentos, nos vários níveis de
orientação, e nos processos de inserção e rentabilização dos diplomas na vida
profissional.

Constatamos então que, se as meninas têm melhores resultados do que os meninos no


ensino primário e no ensino geral, o que as leva a serem maioria entre os que realizam o
exame final do segundo grau (baccalauréat) e no ensino superior, mesmo assim
continuam concentradas num pequeno número de áreas que em geral resultam em
profissões que representam as formas socializadas de funções tradicionalmente
atribuídas à mulher dentro da família, como é o caso dos serviços, do comércio, da
educação, da saúde, enquanto se mantêm as desigualdades de acesso às carreiras
científicas e técnicas.

A questão se volta, então, para os processos que expliquem essa má rentabilização da


escola pelas meninas. Estudos baseados na análise das competências escolares
demostraram que, para entender os mecanismos de reprodução da divisão sexual do
trabalho, é preciso se interessar pelos mecanismos de orientação mais do que pelas
diferentes aptidões “naturais”.

Alguns pesquisadores veem, acima de tudo, nessa desvalorização escolar das meninas no
momento da orientação, o efeito da socialização primária de meninos e meninas,
reforçado por comportamentos diferenciados dos professores de acordo com o sexo dos
alunos. Outros interpretam tal resultado como uma “escolha racional” das meninas, um
cálculo que antecipa os problemas postos pela difícil “conciliação” entre vida familiar e
vida profissional, conciliação cujo peso ainda repousa amplamente sobre as mulheres
devido à manutenção da divisão sexual do trabalho.

https://medium.com/qg-feminista/educação-e-socialização-b38756aadf1 2/5
27/09/2019 O que é socialização e o que é educação? - QG Feminista - Medium

Além disso, há o debate sobre o papel próprio da escola em relação ao da família ou


ainda das estruturas profissionais: a escola é um fator de emancipação ou de
manutenção das relações de dominação?

A socialização diferencial dos sexos


Outro modo de abordar o problema do papel específico da escola é utilizar a noção de
socialização. Esse conceito é usado em diversas disciplinas, como a Antropologia Social,
a Psicologia Social ou, ainda, a Economia.

Na Sociologia, esse termo foi inicialmente usado pela abordagem funcionalista a fim de
descrever como são inculcados os papéis de sexo. Nessa perspectiva, a sociedade
funciona com base num consenso social quanto à dualidade fundamental dos sexos. Essa
dualidade se basearia numa diferença natural, uma bicategorização de ordem biológica
que implica a complementaridade dos papéis sociais. Para manter o equilíbrio social, os
novos membros individuais da sociedade devem interiorizar as normas de
comportamentos esperados. Uma segunda abordagem critica essa perspectiva e enfatiza
o aspecto coercivo e repressivo da transmissão de modelos.

Uma série de trabalhos feministas denuncia a fabricação de uma diferença hierarquizada


dos sexos pela educação e, especialmente, o processo de produção social dos corpos
sexuados desde a infância. Em 1914, Madeleine Pelletier destacava esse processo de
formação à submissão, que se prolonga nas aprendizagens intelectuais. Simone de
Beauvoir (1949) descreve a educação tradicional que limita a atividade e a autonomia
das meninas, impedindo-as de se afirmar como “sujeito” da mesma forma que os
meninos. Elena G. Belotti (1974) mostra como se constrói a diferença entre os sexos por
meio do comportamento de pais e professores conforme o sexo da criança.

No contexto do movimento de libertação das mulheres, nasce um debate entre as


feministas voltado para a noção da identidade feminina (Les temps modernes, 1976),
debate que se inscreve na oposição entre feminismo da igualdade e feminismo da
diferença, que marcará os anos 70. Algumas feministas reprovam a abordagem de Elena
G. Belotti, que promove o modelo “masculino” como o único modelo universal para a
plena realização das qualidades humanas. Ora, elas dizem, “por que negar o que a
especificidade feminina — mesmo tendo nascido da opressão — poderia nos dar?”.

Recentemente, as teorias da dominação abrem um novo campo de reflexão e de debates


com respeito às relações sociais de sexo. A importância da construção dos corpos
sexuados nos mecanismos de socialização é teorizada por Colette Guillaumin (1992). Na
sua abordagem materialista da dominação, ela salienta a “aprendizagem corporal
sexuada” que conduz dos jogos infantis ao trabalho das mulheres. Para Pierre Bourdieu
(1998), a socialização como processo de produção dos hábitos passa, em primeiro lugar,
pela produção social do corpo sexuado que se torna, assim, o “lembrete da dominação”
masculina. Sua teoria, que convida a grandes polêmicas, se apoia na noção da “violência
simbólica” que, segundo ele, assegura a submissão das mulheres à ordem estabelecida,
seu consentimento à dominação.
https://medium.com/qg-feminista/educação-e-socialização-b38756aadf1 3/5
27/09/2019 O que é socialização e o que é educação? - QG Feminista - Medium

A produção do gênero
Podemos nos referir a trabalhos da Psicologia Social, da Antropologia e da Sociologia
interacionista de origem anglo-saxônica para encontrar novas abordagens à socialização
como processo ativo. Trata-se de descrever as situações de interação social nas quais a
diferença dos sexos, o gênero, é produzido e reproduzido socialmente: “A ‘socialização’
de cada nova geração de crianças pela sociedade adulta não é só o resultado do reforço e
da repressão diretamente exercidos sobre os indivíduos… mas dos materiais a partir dos
quais as crianças constroem as categorias de sexo que servem, em seguida, para guiar
seu comportamento” (Jacoby, 1990). Nessa perspectiva, acentuam-se as situações nas
quais as relações sociais de sexo se atualizam, como as escolas mistas onde os jovens
“socializados” podem aprender os comportamentos de gênero esperados nas diversas
situações e construir respostas consideradas apropriadas. Essa abordagem permite
considerar as diferentes relações sociais que estruturam uma determinada situação, e as
relações de gênero podem ser consideradas um protótipo ou uma simples reprodução
das relações entre grupos dominantes e dominados.

Assim, na escola, a produção de categorizações sexistas ou racistas intervém de modo


complexo nas relações entre adultos e crianças e entre as próprias crianças por meio de
comportamentos cotidianos na instituição ou nos conflitos entre indivíduos. Na França,
as novas pesquisas em Sociologia da educação sobre a experiência escolar, sobre o
“currículo oculto” e sobre a interação família/escola, incluem, com cada vez mais
frequência, a variável da diferença dos sexos. Entretanto, ainda existem poucos
trabalhos que integram as problemáticas de gênero, tais como os que abordam a relação
com o saber e o acesso das mulheres a carreiras científicas, as modalidades de escolas
mistas em diferentes etapas da escolaridade, a visão global das trajetórias escolares em
função do sexo, e outras características sociais dos alunos, tais como a classe social ou a
nacionalidade dos pais.

. . .

Referências
Baudelot, Christian; Establet, Roger. Allez les fi lles !, Seuil, 1992, 351p.

Duru-Bellat, Marie. La ‘découverte’ de la variable sexe et ses implications théoriques


dans la sociologie de l’éducation française contemporaine, Nouvelles questions féministes,
1994, v.15, n.1, p.35–68.

________. Note de synthèse: Filles et garçons à l’école, approches psychologiques et


psychosociales. 1. Des scolarités sexuées, refl et de différences d’aptitudes ou de
différences d’attitudes?, Revista francesa de pedagogia, 1994, n.109, p.111–43; 2. La
construction sociale de la différence entre les sexes, Revista francesa de pedagogia,
1995, n.110, p. 75–111.

Manassein, Michel de (Dir.). De l’égalité des sexes, Paris, CNDP, 1995, 317p.

https://medium.com/qg-feminista/educação-e-socialização-b38756aadf1 4/5
27/09/2019 O que é socialização e o que é educação? - QG Feminista - Medium

Mosconi, Nicole. Femmes et rapport au savoir. La société, l’école et la division sexuelle des
savoirs, Paris, L’Harmattan, 1994, 362p.

Zaidman, Claude. La mixité à l’école primaire, Paris, L’Harmattan, 1996, 238p.

. . .

Aplauda! Clique em quantos aplausos (de 1 a 50) você acha que ele merece e deixe seu
comentário!

Quer mais? Segue a gente:

Medium

Facebook

Twitter

Instagram

Educação Socialização Feminismo Feminismo Materialista FAQ

About Help Legal

https://medium.com/qg-feminista/educação-e-socialização-b38756aadf1 5/5

Vous aimerez peut-être aussi