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ABSTRACT: the objective is to report a survey of students of the 3rd year of high school. This
united the theoretical and conceptual reflection to the practice of empirical research. Having
as object the city and the multiple social practices that are outlined in it, this comes as a space
for critical work the perception of citizenship. Thus, leaving the city as socially constructed
space, reflection on topics such as environment, architecture, politics, art, leisure, education,
health, sanitation, religion and social movements, enable understanding of how the theories
apply empirically, making are strong suggestions for ideas and concrete proposals.
Introdução 3
Dizer que a cidade é o lugar da diversidade é uma afirmação que reforça uma
desnecessária obviedade. Para todas as ciências que dela se ocupam, e sem medo
de cometer uma redução ocidentalista e para lá de parcial, a cidade é o motor de
nossa civilização. Sem dúvida, ela se configura como o locus da vida econômica,
religiosa, política, afetiva, entre outras manifestações profundamente humanas da
hoje imensa maioria dos indivíduos que agem sobre o planeta.
No conjunto, as cidades dialogam com seus habitantes e com todos aqueles que de
alguma forma desejam dela tirar proveito, quer seja pela manutenção da
sobrevivência, quer pela necessidade social de compartilhar e de estar junto. Não
falamos apenas daquelas que, territorial ou sociologicamente, são denominadas
1 Este artigo foi originalmente escrito e utilizado como comunicação oral no III Encontro Nacional sobre
o Ensino de Sociologia na Educação Básica, de 31 de maio a 03 de junho de 2013, na Universidade
Federal do Ceará, dentro do grupo de trabalho Contribuições da Sociologia para a Pesquisa em
Educação.
Doutor em Antropologia e professor do Departamento de Sociologia do Colégio Pedro II.
Essas breves linhas servem para demonstrar que as diversas disciplinas que
compõem as ciências humanas, mas não só elas, se preocupam e aprendem muito
com a cidade, ou melhor, com a experiência urbana. Deste modo, a Sociologia, a
Antropologia e a Ciência Política, matrizes tradicionais dos cursos universitários
brasileiros de ciências sociais que disponibilizam seus conteúdos, metodologias e
orientações no processo de transposição para o Ensino Básico das instituições
formais de educação, têm como obrigação e como responsabilidade pedagógica e
formativa fazer da discussão das características e possibilidades fornecidas pela
cidade uma fonte de permanente aprendizado.
Para este relato de experiência convém, desde já, esclarecer algumas informações
preliminares.
Tal carga horária distribui-se entre os 3 trimestres letivos, que preveem, como
avaliações formais, uma certificação individual de 70 pontos e um instrumento
avaliativo preferencialmente não individual (dupla ou mais componentes) no valor de
30 pontos. O caso em questão se insere nesta última modalidade, que ocorreu na
forma de exibição de vídeos e seminários temáticos, confeccionados a partir das
experiências de campo e do levantamento de material bibliográfico.
Assim, programa (ver abaixo) e proposta (ver no Anexo) buscaram interligar a noção
de cidade como construção sociológica à reflexão conceitual de sala de aula – que
subsidiou a pesquisa bibliográfica dos próprios alunos para qualificarem
sociologicamente seus objetos – e às práticas de pesquisa de campo.
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O objeto favela, espaço físico e social emblemático de diversas questões urbanas no
estado do Rio de Janeiro, e as tentativas do poder público e privado de controle social
sobre ela, bem como as tentativas dos pesquisadores de apreender suas
particularidades, torna-se o catalisador da dinâmica pedagógica que a proposta de
trabalho coloca. Na prática, dois dos três trabalhos aqui citados não giram em torno
do tema, porém a questão da moradia aqui apresentada discute-o indiretamente.
Este texto tem o valor de propor uma metodologia que recorta os autores clássicos a
partir das variáveis dependente (cuja preocupação são os fatores históricos de
formação das cidades), independente (cujo foco está na função da cidade) e
contextual (que ilumina a própria cidade como causa maior das transformações). Com
esta distinção metodológica das formas de abordagem, o texto auxilia os alunos a
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compreenderem como os autores tidos como pilares da Sociologia (Karl Marx, Émile
Durkheim e Max Weber) pensam a cidade, organizando, assim, o seu próprio
pensamento na hora de analisarem e debaterem os dados recolhidos com base, como
veremos, em perspectivas teóricas e conceituais complementares.
2 Em regra, trabalha-se, neste trimestre, outros temas afetos à cidade, mas estes, a fim de facilitar a
pesquisa com um número menor de abordagens, são propostos e elaborados na forma de um trabalho
de sociologia visual, cuja proposta na íntegra também se encontra no Anexo deste texto. Seus temas
(ver Anexo) são Violência: espaços e formas de manifestação; O espaço visual da cidade: arte pública
e propaganda; Lazer, entretenimento e seus circuitos; e Exclusão e segregação urbanas: população
em situação de rua e trabalho informal.
No pensamento de Park, de acordo com Joseph (2005, p. 111), uma cidade é “algo
esponjoso que atrai e repele ao mesmo tempo”. Está longe, contudo, de ser a priori a
única forma de reunião, tampouco a melhor delas. Ela não é apenas um meio que
tolera as diferenças; ela as premia, assim como acentua as “excentricidades”, sejam
elas profissionais ou culturais.
Por fim, o texto “A cidade como objeto de estudo: diferentes olhares sobre o urbano”,
de Maria Josefina Sant´Anna, que arremata passagens dos teóricos pós-Escola de
Chicago, bem como discute as sociologias latino-americana e brasileira. Destaque 9
Além destes, somamos outros textos ao conjunto dos materiais pedagógicos que
fornecem suporte na preparação para as referidas pesquisas, como “O Brasil e suas
Favelas”, de Suzana Taschner (2003), “A base da violência”, de Edmilson Marques
(2007), “Favelização contemporânea”, de Selmo Nascimento (2010), “O passado nas
cidades do futuro”, de Cristina Meneguello, “A vida nas cidades”, de Nildo Viana
(2007). Completamos estes materiais com os vídeos “Cidade”, coleção Ecce Homo
Como afirmei acima, são muitos os temas trabalhados. Deste modo, opto por recortar
3 deles para discutir seus resultados como demonstração do potencial das cidades
para a educação. Lembro, mais uma vez, que a orientação, em linhas gerais, era
realizar um documentário que contivesse no máximo 15 minutos, a partir de pesquisa
de campo e que resultasse da associação com a literatura disponível sobre o tema.
Tema que notadamente faz parte de seu cotidiano, e por isso, num sentido amplo,
automaticamente significativo para seu aprendizado, a sociedade de controle via
tecnologia tal como discutida inicia-se em casa (mães e pais que aprimoram formas
de monitorar a utilização da internet pelos filhos), estende-se à escola (câmeras,
detectores de metal, bloqueios para sites etc.) e aplica-se ao mundo da rua, com os
sensores e detectores nos bancos, as câmeras nas ruas, os cartões magnéticos de
acesso, entre outros. Mais do que nós, a geração destes jovens pode tender a
naturalizar estes mecanismos, uma vez que já nasceram sob a égide deles. Assim,
discutir sobre a existência e funcionamento destas formas modernas de controle,
refletindo sobre seus inegáveis benefícios e prejuízos, sensibiliza ainda mais os
alunos ao que está a sua volta, bem como apura seu senso crítico sobre as formas de
poder investidas em diversos elementos da realidade.
Por fim, recuperando o discurso oficial de que a principal razão para a proliferação
das câmeras de segurança, como instrumentos mais visíveis do monitoramento e do
controle diretos, é a manutenção da segurança, propõem que é necessário maior
investimento em pesquisas sobre os porquês da criminalidade e da violência,
arrematando, com um argumento fundamentalmente sociológico, com o fato de que
as pessoas entrevistadas incorporaram a ideia de que há pessoas ou mecanismos –
sempre referidos por “eles” – responsáveis por esse monitoramento. Deste modo, os
entrevistados, recorte que são de uma realidade social maior, aprovam-nos
tacitamente, mesmo sob pena de não ter “muito acesso às informações que eles têm”,
como afirma uma entrevistada. Além disso, a partir da análise do que diz outra
entrevistada, as formas de monitoramento controlam as “ações externas”, isto é, estão
ali para garantir a segurança física já que não é possível “adivinhar a índole das
pessoas”, o que demonstra a incorporação do discurso disciplinador pelos próprios
sujeitos.
Nós, docentes de Sociologia do Colégio Pedro II, temos por hábito de ofício (e de
formação) relacionar a presença dos clássicos da disciplina em quase todos os temas,
a fim de demonstrar para os alunos sua importância na edificação do capital temático
da área. Contudo, apesar do caráter indiscutivelmente essencial de alguns temas, os
mesmos não entram nominalmente no currículo praticado. Digo que não entram
nominalmente pois estão presentes nas discussões e debates das aulas como uma
referência ainda profundamente presente na organização da visão de si e do mundo
dos mais distintos indivíduos. A religião é um destes temas.
Iniciando pela discussão conceitual e teórica de Émile Durkheim, presente nas Formas
elementares da vida religiosa, obra de referência adotada, o grupo apresenta a religião
como uma instituição constitutiva da existência das coletividades humanas, de
aspecto comunitário e que se coloca como fato social, já que é reflexo das crenças da
sociedade. Ultrapassando o âmbito propriamente religioso, a religião impregna o
cotidiano das pessoas, moldando sua visão de mundo e a percepção da realidade.
As conclusões a que o grupo chegou é que existe uma função social nas religiões.
Mas, para além desta constatação quase “natural” dos discursos dos fiéis
entrevistados, houve a constatação de uma hierarquização no seio de um segmento
da sociedade que lida discursivamente com o espírito e que, portanto, não deveria,
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por suposição, se envolver com questões de fundo político relacionadas à
autenticidade, autoridade e legitimidade ou não das instituições religiosas.
Preocupando-se em iniciar por uma conceituação dos movimentos sociais, carro chefe
do trabalho realizado, os alunos caracterizam sua contribuição para a compreensão
3No vídeo, com profunda perspicácia sociológica, o grupo pergunta à outra entrevistada, na cena
seguinte à supracitada, se uma igreja a ser fundada ou recém fundada tem um público-alvo, testando
as diversas versões e modos de ver de fiéis igualmente diversos.
Optando por uma conceituação que destaca “o caráter sociopolítico e cultural” dos
movimentos sociais, pela via da “expressão de demandas” e pelo prisma das “forças
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sociais” em movimento, ou seja, na defesa da mobilização como geradora de uma
força coletiva e reivindicadora de um direito garantido pelas leis, o vídeo, em sua
composição, alterna a exibição de clipe musical pró-ocupação de imóveis sem função
social de uso (este embala a eleição simpática do grupo ao movimento social em
questão), com passagens explicativas da legislação urbana (o Estatuto da Cidade) e
entrevistas com uma moradora afetada pela política de remoções e com militantes de
organizações não governamentais que atuam na questão do direito à habitação
urbana.
(op. cit.) e entendem, por fim, que as regras criadas para qualificar como desvio o que
infraciona a norma devem ser relativizadas já que o desvio não é uma qualidade
inerente ao ato, mas uma consequência da aplicação das regras e sanções ao
transgressor.
Conclusão
Referências bibliográficas
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ADORNO, Theodor e HORKHEIMER, Max. "A indústria cultural: o lluminismo como
mistificação de massa". In: LIMA, Luis Costa. Teoria da cultura de massa, RJ:
Paz e Terra, 1978.
BOURDIEU, Pierre. Questões de Sociologia, RJ: Marco Zero, 1983
DELEUZE, Gilles. Conversações, SP: Editora 34, 2004.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder, RJ: Graal, 1986.
JOSEPH, Isaac. A respeito do bom uso da Escola de Chicago. In: VALLADARES,
Lícia do Prado (org.). A Escola de Chicago: impacto de uma tradição no Brasil e
na França. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2005.
PARK, Robert Ezra. A cidade: sugestões para a investigação do comportamento
humano no meio urbano [1916]. In: VELHO, Otávio Guilherme (org.). O
fenômeno urbano. 4ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
Leituras complementares
Anexos
II – DO PRODUTO FINAL
A formatação seguirá o padrão A4, Times 12, margens 2,5; 3,0; 2,5; 3,0 e as
fontes de pesquisa utilizadas devem constar no fim da lauda – recomenda-se a citação
bibliográfica concordante com a norma (ver exemplo nos livros didáticos). 19
Vale lembrar que é permitida e sugerida a consulta a outros professores de
Sociologia, assim como aos professores de História, Geografia, Filosofia e Literatura.
2. TEMAS
3. SOBRE AS IMAGENS
1) Título dado pela dupla – centralizado, Times 16, cor preta e negritado;
2) Local, data e hora – alinhado à esquerda, Times 14 e cor preta;
3) Descrição com o motivo da escolha, de NO MÍNIMO 4 e NO MÁXIMO 10 linhas
– modo justificado, Times 14 e cor preta (OBS.: o ideal é que a fotografia esteja
colada em papel cartão do tamanho da metade de uma folha ofício).
4. SOBRE A ANÁLISE
Deverá ser feita uma breve análise sociológica do tema escolhido. Portanto, será
produzida, de modo reflexivo e conceitual, a análise sobre a problemática
apresentada na imagem, tendo em vista as discussões das aulas e dos textos
sobre sociologia urbana.