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CIÊNCIA POLÍTICA

- FORMAS DE GOVERNO E REGIMES POLÍTICOS


. Objetivos da Unidade: diferenciar e explicar conceitos como
democracia autocracia
parlamentarismo
autoritarismo
democracias liberais
 presidencialismo
totalitarismo
democracias não liberais
- OBSERVAÇÃO : Formas de governo e regimes políticos existentes nas sociedades
contemporâneas têm estreitas relações com liberalismo e marxismo (duas principais correntes
teórico-filosóficas), mas não decorrem deles automaticamente
. Democrático liberais: os regimes atuais possuem fundamento no pensamento liberal, embora
nenhum teórico original do liberalismo tenha defendido a democracia (lembrar da Unidade 2).
. Socialistas: os regimes que surgiram em diversas partes do mundo a partir do século XX,
tinham fundamentos no marxismo, embora Marx tivesse a convicção de que o socialismo fosse
emergir nas sociedades capitalistas altamente industrializadas e desenvolvidas – o que não era
o caso da Rússia, China e Cuba – países onde o capitalismo era pouco desenvolvido
- Conclusão: as teorias certamente influenciam a ação dos indivíduos na sociedade, mas a ação
humana diverge bastante das perspectivas teóricas que as motivaram
. A classificação e análise dos diferentes REGIMES POLÍTICOS existentes são feitas com base
em duas dimensões fundamentais:
- Análise geral: diz respeito à abertura dos regimes políticos à participação popular na
seleção dos governantes – grau de participação dos governados no processo de escolha
dos governantes
Abertos – Democráticos Fechados – Não Democráticos – Autocráticos
- Análise particular: diz respeito à esfera de liberdade assegurada aos governados nos
diferentes regimes – grau de independência dos governados em relação aos governantes
. Essa liberdade depende da existência de limites constitucionais e institucionais ao
exercício do poder dos governantes sobre os governados
Livres – Liberais Não Livres – Não liberais
. A combinação dos dois critérios oferece quatro diferentes tipos de regimes políticos:

Autocracias Liberais Democracias Liberais

Autocracias não liberais Democracias não liberais

- Problema: a tabela acima é uma forma muito simplificada de classificar todos os regimes
políticos existentes
. Ela ignora os diferentes graus de participação e de liberdade em cada um deles:
variáveis extremamente relevantes
- Solução: distribuir os regimes políticos existentes no mundo em um gráfico, considerando
os diferentes graus de “participação dos governados na escolha dos governantes” e de
“liberdade civil dos governados em relação aos governantes”
Autocracia Auto: referido a si próprio
Cratos: poder
Democracia Demos: povo
dos governados em relação aos governantes
Grau de liberdade civil (ou independência)

Grau de participação dos governados na escolha dos governantes

- TIPOS DE AUTOCRACIAS: regimes políticos fechados à influência popular na escolha dos


governantes – é o governo derivado de si mesmo
- OBSERVAÇÃO : A denominação usualmente empregada por leigos para esse tipo de regime é
“autoritarismo”. Entretanto, o autor optou por utilizar o termo “autocracia” por duas razões técnicas:
. Autocracia é o termo “tecnicamente mais preciso” para designar todos os regimes
autorreferenciados – o grupo no poder monopoliza o acesso ao exercício do governo
. Autoritarismo é o termo “tecnicamente mais preciso” para designar um dos tipos de autocracia
– e não todos eles
. O estudo dos diferentes regimes políticos será iniciado pelas autocracias
- Motivo: a humanidade viveu, durante boa parte da história, sob regimes autocráticos –
ainda hoje, uma grande parcela da população mundial vive sob autocracias (sobretudo na
África e Ásia)
- As autocracias assumiram formas variadas ao longo da história:
. Oriente:
- despotismo oriental: designa os diversos regimes asiáticos pré-contemporâneos
(impérios chinês e japonês)
- sultanatos árabes e da Índia
- regime comunista: União Soviética
. Europa:
- monarquias absolutas: séculos XVI ao XVIII
- monarquias constitucionais: Inglaterra do século XVII
- repúblicas aristocráticas: Doges de Veneza (Renascença)
- regime nazista: Alemanha de Hitler
. América Latina:
- Ditaduras militares
. Apesar de existir muitas diferenças entre esses regimes, é possível classificar a todos como
autocracia devido ao fato de serem “regimes em que a escolha dos governantes independe
dos governados”
Regimes Autocráticos
São essencialmente anti-liberais, pois não reconhecem qualquer esfera da vida
Totalitários
social livre da intervenção do Estado
Podem ser divididos em mais ou menos liberais, de acordo com o grau de
Autoritários
liberdade civil que concedem aos governados
- REGIMES AUTOCRÁTICOS TOTALITÁRIOS: regimes mais fechados
. O grupo governante não só detém o monopólio do acesso ao exercício do governo, como
também pretende exercer o controle total sobre a sociedade.
- Os regimes totalitários (ou totalitarismo) surgiram na Europa durante a primeira metade do
século XX.
- OBSERVAÇÃO : O termo “totalitarismo” apareceu pela primeira vez na obra “As origens do
totalitarismo”, escrito em 1951 pela pensadora alemã Hannah Arendt1.
. Ela defendeu que a “Alemanha hitlerista” e a “União Soviética stalinista” constituem exemplos
genuínos de governos totalitários: caracterizados pelo constante recurso ao terror e pela
pretensão de controlar totalmente os indivíduos e a sociedade.
- Em 1965, o pensador francês Raymond Aron2, na obra “Democracia e totalitarismo”, apresenta
uma concepção mais abrangente do termo “totalitarismo”.
. Ele manteve os regimes nazistas e stalinistas, mas também inseriu os regimes existentes na
Coréia do Norte e em Cuba (que por sinal, ainda existem no mundo atual).
- Diante da extensão prática, o autor irá basear suas interpretações do totalitarismo considerando os
critérios estabelecidos por Aron.
. A pretensão totalitária nunca se realizou plenamente: mesmo sob regimes totalitários resta
sempre alguma esfera de liberdade para os indivíduos – decidir com quem se casar ou a
profissão a exercer
- Alguns regimes totalitários chegaram a restringir inclusive esta pequena parcela de
liberdade de escolha limitada à esfera da vida privada: o regime nazista, p. e., proibia
casamentos entre alemães e judeus e obrigava os prisioneiros nos campos de
concentração ao trabalho forçado.
. Se não restasse uma pequena esfera de liberdade para os indivíduos, uma vez implantando o
totalitarismo em uma sociedade, esta nunca mais conseguiria se ver livre dele – neste caso, os
cidadãos se encontraria totalmente controlada pelo Estado
- É exatamente a parcela livre do controle do Estado que possibilita a queda de um regime
Características do totalitarismo (segundo Aron)
 Antiliberal
Possui a pretensão de controlar todas as instâncias da vida social: diminuindo

as fronteiras entre o Estado e a sociedade civil
 Regime de partido único
 Ideologia revolucionária
 Combinação entre ideologia e terror
. Das cinco características, o sistema de partido único (característica ) é a que mais
claramente revela a natureza totalitária do regime
- Ao determinar a existência de apenas um partido como meio de acesso ao poder e
controle do Estado, os regimes totalitários:
. excluem qualquer possibilidade alternativa para se chegar ao poder
. barram o surgimento e expressão de qualquer forma de pluralismo
- Partido único representa “tudo e a todos” – ou seja, totalitarismo
. Exemplos de regimes políticos que se organizaram sob a forma de sistema de partido
único:
- Fascismo: Itália de Mussolini3 (1922-1945)

1 Hannah Arendt: foi uma cientista política germânica de origem judia. É considerada um dos grandes nomes do
pensamento político contemporâneo por seus estudos sobre os regimes totalitários e sua visão crítica da questão judaica.
2 Raymond-Claude-Ferdinand Aron: sociólogo, filósofo e jornalista francês, notabilizado sobretudo por sua posição crítica

quanto às ortodoxias políticas, notadamente o comunismo soviético.


3 Benito Mussolini: líder do fascismo italiano, iniciou sua carreira política no Partido Socialista Italiano (PSI), em 1900.

Durante alguns anos, foi professor na Suíça e funcionário do partido em Trento, na época território austríaco.
- Nazismo: Alemanha hitlerista (1933-1945)
- Regimes Comunistas: União Soviética (1917-1991), China (1949– ), Coréia do
Norte (desde 1954) e Cuba (desde 1959) + os demais países do mundo onde
houve regimes autodenominados comunistas
. Regimes totalitários que tenham “partidos únicos que monopolizam o poder” () – geralmente
também são portadores de “ideologia revolucionária4” () – ela serve para orientar a ação do
Estado e conquistar o apoio das massas
- Ingrediente fundamental das ideologias:
. Nazistas e fascistas: racismo
. Comunismo: luta de classes
- Ideologia nazista: a revolução da sociedade alemã se faria com a extirpação do seu interior das
raças inferiores (sobretudo judeus e ciganos) e com a purificação da raça ariana (considerada
superior)
. 1a Fase: os judeus foram privados dos direitos civis e proibidos de se casarem com alemães
. 2a Fase: foram confinados em guetos
. 3a Fase: foram levados aos campos de concentração – para trabalho escravo, cobaia de
experiência científica ou morte
- Foram enviados aos campos de concentração todos aqueles que representavam um
empecilho à revolução pretendida (judeus, ciganos, comunistas e liberais)
- Ideologia comunista: ao contrário da ideologia revolucionária nazista, a comunista nunca teve
qualquer viés racista ou genocida – embora defendesse uma modificação radical da sociedade
existente que poderia talvez incluir uma tentativa de depuração
. A 1a Fase da revolução comunista na Rússia tinha como objetivo depurar a nascente “União
das Republicas Socialistas e Soviéticas” da burguesia existente – a depuração não incluía a
eliminação física dos burgueses, mas a expropriação dos seus bens
. Em todos os países que tiveram revoluções comunistas, o objetivo principal era acabar com a
propriedade privada (em contrapartida, com as classes sociais que exploravam a maioria
trabalhadora) – portanto, a ideologia comunista nunca objetivou exterminar indivíduos
pertencentes a determinados grupos étnicos
- Conclusão: apesar das grandes diferenças, as ideologia comunista e nazifascista mantinham a
semelhança ao objetivar “criar uma nova sociedade e um homem novo” – ou seja, em ambas a
ideologia revolucionária foi um ingrediente presente – e portanto, distintivo dos regimes totalitários
. O exame agora irá recair sobre a característica  – combinação entre ideologia e terror
- Nos regimes totalitários não é admitida nenhuma divergência da linha ideológica adotada
pelo partido único: todo crítico ou opositor do regime é considerado inimigo
. Aron: os regimes totalitários consideram o “inimigo ideológico” como mais culpado que
o “criminoso do direito comum”
- A intimidação e a ameaça a quem esboçar a menor divergência é uma das características
distintivas do totalitarismo
- Antes de tomarem o poder:
. Os grupos fascistas e nazistas usavam milícias organizadas dentro do partido único para
intimidar os opositores (usavam, inclusive, a força física)
- Itália: os fascistas organizaram a milícia paramilitar “camisas negras” (camicie nere)
- Alemanha: o Partido Nazista formou a SA (Sturmabteilung) – tropa de assalto
- América Latina: existiram organizações paramilitares semelhantes e inspiradas nos
mesmos princípios e ideologias
. Brasil: “camisas verdes” ligados ao Partido Integralista de Plínio Salgado (anos 1930)
. O Partido Comunista, na Rússia, não formou milícias paramilitares para intimidar os opositores
antes da tomada do poder.

4 Ideologia revolucionária: vontade deliberada de modificar radicalmente a sociedade existente.


- Ao contrário da Itália e da Alemanha (que na ascensão do nazifascismo já eram
sociedades democráticas), a Rússia ainda era um país onde o czar governava como
monarca absoluto – foi para derrubar a monarquia czarista que o Partido Bolchevique
(comunista) trabalhava.
- Depois que tomaram o poder:
. Os métodos de intimidação por milícias paramilitares (bastante úteis para os grupos fascistas e
nazistas, que pretendiam chegar ao poder a todo custo) foram substituídos pelo controle direto
das polícias
- Alemanha: a SA foi integralmente substituída pela SS e pela GESTAPO, inclusive as
funções de intimidação
. O Partido Comunista, após a consolidação do Estado soviético, criou a Tcheka (em 1917). Ela
tinha a finalidade de reprimir toda e qualquer atividade antirrevolucionária.
- De 1954 até o fim da União Soviética (1991) as atividades de controle, segurança e
intimidação passaram a ser exercidas pela KGB
- Exercício do Terror de Estado:
. Alemanha nazista: foi exercido pela GESTAPO
. União Soviética: esse papel coube a KGB
- Ela podia chamar qualquer cidadão soviético para prestar esclarecimentos sem que
nenhuma garantia houvesse de que ele iria voltar para casa, podendo dali ser enviado para
os campos de trabalho na Sibéria5
. Partido único () + ideologia revolucionária () + recurso à intimidação e ao terror de Estado
  elementos comuns a todas as formas de totalitarismo (regimes nazifascistas e os
regimes comunistas)
- Só que existem, segundo Aron, diferenças relevantes entre eles:
Divergências Regimes nazifascistas Partidos comunistas
Recrutamento dos O partido mobilizava as massas populares. Mas, A militância era recrutada principalmente, mas
quadros e militantes no geral, não recrutava seus quadros no não exclusivamente, na classe operária
do partido operariado
Antes de Mussolini (Itália) e Hitler (Alemanha) Em nenhum país os comunistas tiveram
Relação das classes tomarem o poder, parte das classes dirigentes contaram com a simpatia das classes dirigentes
dirigentes em relação (grandes industriais e banqueiros) era – pelo contrário, os comunistas se opunham à
ao partido francamente favorável aos partidos fascista e ordem burguesa e pregavam a extinção das
nazista classes proprietárias dos meios de produção
Os regimes nazifascistas nunca se pretenderam Os regimes comunistas pretendiam-se governos
governos de classe – eles eram governos da classe operária sob a forma da ditadura do
nacionalistas, que defendiam o interesse proletariado
nacional de todo o povo contra: - Foi claramente o caso da União Soviética
- os inimigos externos: as demais nações Nos países onde a classe operária era reduzida,
capitalistas os governos comunistas passaram a reivindicar
- os traidores internos: judeus, no caso da a representação da maioria trabalhadora (do
Alemanha povo)
Apesar de apelarem às massas populares (e - É o caso da China e de Cuba
Objetivos, ideologias
terem uma retórica anticapitalista), os regimes Uma vez expropriada as classes proprietárias e
e práticas
nazifascistas favoreciam claramente as extinta a burguesia, esses regimes passaram a
burguesias nacionais justificar a manutenção da ditadura:
O regime nazista, por exemplo, se - Pela constante ameaça representada pelo
autodenominava nacional-socialista, algo imperialismo das nações capitalistas
diferente: - Pela existência de inimigos internos
- Do capitalismo: modelo existente na contrarrevolucionários
Alemanha, antes da chegada de Hitler ao
poder, e em outros países da Europa
- Do comunismo, vigente na União Soviética

5 Ainda hoje, os cidadãos de Moscou dizem que, nos tempos da União Soviética, das janelas do prédio da antiga KGB, que
fica no centro de Moscou, avistava-se a Sibéria – alusão ao risco de quem para lá fosse chamado para ser interrogado, ser
depois deportado para os campos de concentração na Sibéria (reservado aos críticos e dissidentes do regime)
. As diferenças entre nazifascistas e comunistas são enormes: é impossível confundi-los.
. Por outro lado, existe um mesmo traço marcante entre eles: a pretensão do Estado em
controlar totalmente a sociedade – por isso, apesar das diferenças, ambos são classificados
como totalitários

- REGIMES AUTOCRÁTICOS AUTORITÁRIOS: regimes mais abertos


. Comparação com os regimes totalitários:
- Semelhanças: mantêm estrito controle sobre o governo
- Diferenças:
. São muito mais comuns do que os regimes totalitários
. Não buscam exercer controle total sobre a sociedade
. Não fazem uso do terror de modo tão constante e brutal
. Reservam aos indivíduos algumas esferas de liberdade e independência
- Regimes autoritários: a propriedade privada é um direito garantido a todos
- Regimes totalitários:
. Nazismo: o direito à propriedade era restrito aos não judeus - estes tiveram os
seus bens expropriados pelo Estado
. Comunismo: o direito à propriedade era, e continua sendo, praticamente,
inexistente
- Regime Chinês: bom exemplo de regime totalitário que foi progressivamente se transformando em
autoritário
. Durante o governo de Mao Tsé Tung6: a China viveu sob um regime totalitário comunista típico
- Em alguns aspectos era até mais rigoroso do que o da União Soviética
. Nos campos de deportados da Sibéria: os detentos eram deixados em paz. “No Gulag
podia-se pensar livremente”.7
. Nos campos de prisioneiros da China: durante a Revolução Cultural (iniciada em 1966)
objetivava-se não apenas punir os dissidentes, mas recuperá-los ideologicamente
. Após a morte de Mao Tsé Tung e com a ascensão de Deng Xiaoping8 ao poder: pôs-se fim à
Revolução Cultural e começaram lentas reformas do sistema econômico chinês em direção ao
capitalismo
. Atualmente:
- Convivem parte capitalista + parte comunista:
. Uma economia de mercado: o direito à propriedade privada é garantido pelo Estado, e
o investimento privado + enriquecimento individual são permitidos (até estimulados)
. Um controle estrito do sistema político e de acesso ao governo pelo partido único
comunista
- A brutal repressão das manifestações estudantis na Praça da Paz Celestial, em Pequim
(1989), mostrou que a abertura econômica da China para o capitalismo (estimulada pelo
Partido Comunista Chinês) não iria ser acompanhada de qualquer tipo de abertura do
sistema político
. O regime chinês pode ser considerado um caso raro e híbrido de elementos:
- Totalitários: como o partido único

6 Mao Tsé-tung: (1893-1976) Chefe de Estado e do Partido Comunista na China. Fundador da República Popular da China.
Foi um dos fundadores do Partido Comunista chinês em 1921. Teve especial aceitação nos países do Terceiro Mundo como
teórico da guegrra popular revolucionária.
7 Frase de Alexander Soljenítsin, escritor russo, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1970 e conhecido por suas

ferozes críticas ao regime soviético, e em especial às prisões e aos campos de trabalhos forçados em que eram confinados
os dissidentes, denunciados em sua célebre obra Arquipélago Gulag.
8 Den Xiaoping – Teng Hsiao-ping: (1904-1997) Político e líder comunista chinês, foi o principal inspirador da reação contra

o maoísmo e da introdução das últimas grandes reformas políticas e econômicas na China. Ligado ao Partido Comunista
desde a juventude, participou da Longa Marcha comandada por Mao Tsétung.
- Autoritários: como o monopólio do acesso ao controle do governo associado a alguma
liberdade de mercado
. As ditaduras pessoais (sobretudo as ditaduras militares) são os casos mais típicos de regimes
autoritários durante o século XX
Foi ditador por 37 anos. O salazarismo, regime autoritário por ele
Antônio Salazar
Portugal instituído, se estendeu até 1974, quando a Revolução dos Cravos
(1889-1970) pôs fim a mais longa ditadura da Europa Ocidental.
Francisco Franco Foi ditador por 34 anos. O franquismo, regime autoritário por ele
Espanha
(1892-1975) instituído, acabou somente após a sua morte.
. América Latina: diversos regimes autoritários foram implantados nas décadas de 1960 e 1970 -
por meio de golpes militares
- Esses regimes foram chamados “regimes de exceção”: exceção às regras democráticas e
ao Estado de Direito
- Argentina, Uruguai e Chile: as ditaduras militares suspenderam de imediato a vigência das
constituições nacionais, fecharam os parlamentos e acabaram com os partidos políticos
. As ditaduras militares combatiam a “subversão comunista” promovida por grupos
guerrilheiros revolucionários:
- Uruguai: Tupamaros
- Argentina: Montoneros
. Esses regimes autoritários não hesitaram em sequestrar, prender, torturar e matar
aqueles que julgavam ser subversivos
- Entre 1976 (ano do golpe militar na Argentina) e 1982 (quando caiu a junta militar
que governava o país, em decorrência da derrota na Guerra das Malvinas), as
forças repressivas militares e paramilitares tenham deixado um saldo de até 30 mil
mortos e desaparecidos.
. Apesar da brutalidade da repressão, o regime chinês e as ditaduras militares não são
considerados regimes totalitários.
- Motivo: eles não possuem as características básicas dos regimes totalitários:
. Nos regimes autoritários dos países do Cone Sul da América Latina, não foi
implantado um “sistema de partido único” () como via exclusiva de acesso ao
governo
- A atividade dos diferentes partidos anteriormente em funcionamento foi suspensa
e a escolha dos governantes dava-se exclusivamente dentro das forças armadas
. Esses regimes não agiam movidos por qualquer “ideologia revolucionária” ()
- Eles eram contrarrevolucionários: queriam impedir que se promovesse qualquer
mudança na ordem social capitalista instituída
- Eles não mobilizavam as massas populares por meio de uma ideologia
revolucionária (assim como faziam os regimes totalitários): os regimes autoritários
latino-americanos pretendiam desmobilizá-las, reprimindo qualquer tentativa de
manifestação popular
. É inegável que as ditaduras militares mais violentas do continente chegaram a instituir
um regime de terror de Estado, mas este não se encontrava combinado com qualquer
ideologia revolucionária ()
. Nenhum regime autoritário pretendeu controlar totalmente a sociedade: esta era uma
característica marcante do totalitarismo ()
- Regime militar no Brasil: de 1964 a 1985 – classificado como um regime autoritário
. Ao contrário dos regimes autoritários da América Latina, a atividade dos partidos políticos no
Brasil não chegou a ser suspensa:
- De 1964 a 1966: os mesmos partidos que haviam sido criados em 1945 encontravam-se
em atividade
- Em 1966: sistema de partidos foi dissolvido para dar origem a um sistema bipartidário:
. ARENA: Aliança Renovadora Nacional – partido de sustentação do governo
. MDB: Movimento Democrático Brasileiro – partido de oposição
- Em 1979: sistema bipartidário foi extinto para dar lugar a um sistema multipartidário
. Surgiram alguns dos partidos hoje em atividade
- Partido dos Trabalhadores (PT)
- Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB)
- Partido Democrático Trabalhista (PDT)
- Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)
- Considerando que a ausência de um sistema multipartidário é característica dos regimes
totalitários, o regime militar brasileiro não pode ser assim classificado.
. O regime autoritário no Brasil, ao contrário dos países vizinhos, também conviveu com uma
ordem constitucional e com um parlamento em funcionamento.
- Em 1967: a Constituição de 1946 foi substituída pela Constituição de 1967 que, dois anos
mais tarde foi reformada – gerando a Constituição de 1969
. Esta última veio adequar a ordem constitucional ao endurecimento do sistema político
promovido pelo Ato Institucional No 5
- Os outros governos militares governaram o Brasil sob a égide da Constituição de 1969 –
até a transmissão do poder para um presidente civil, em 1985
- O Congresso Nacional foi mantido aberto e em funcionamento durante praticamente todo o
período do regime militar - as eleições para deputados federais e senadores ocorreram
regularmente a cada quatro anos
. Exceções:
- 1968: fechamento do Congresso, com a edição do AI-5
- 1977: para promoção de reformas constitucionais (“pacote de abril”), que
introduziram mudanças nos processos eleitorais9
. Ao contrário do regime militar brasileiro, na Argentina não havia eleições, partidos, constituição
e a repressão política foi muito mais violenta
- Então, podemos classificar os dois regimes em autoritários? Sim. Independentemente do
grau de violência e de repressão política empregados, em ambos regimes:
. a escolha dos governantes era autocrática: independente da expressão da vontade
popular e decidida exclusivamente pelo alto escalão das forças armadas
. ambos os regimes, em maior ou menor medida, desrespeitavam as regras básicas do
Estado de Direito
- Império da lei: significa que em uma sociedade, todos se encontram submetidos
ao ordenamento legal
- Hierarquia legal: no topo da qual se encontra a constituição
- Divisão e equilíbrio dos poderes do Estado
- Garantia dos direitos fundamentais dos indivíduos
. O regime militar brasileiro não respeitava nenhuma das regras básicas do Estado de Direito
- AI-5: instituído em 13 de dezembro de 1968, conferiu poderes excepcionais ao Presidente
da República, não previstos pela Constituição de 1967, subvertendo, assim, a hierarquia
das leis
- Executivo preponderava, de fato, sobre os demais poderes constituídos, comprometendo o
equilíbrio dos poderes do Estado

9 Foi instituindo a eleição de um dos três senadores por estado pelas assembleias legislativas, e não por votação popular.
Estes senadores foram chamados de “senadores biônicos”. Cargos biônicos são aqueles cujos titulares foram investidos
mediante a ausência de sufrágio universal e cujo parâmetro para escolha era a sanção das autoridades de Brasília nos
tempos da Ditadura Militar de 1964. O termo "biônico" foi popularizado no Brasil graças ao seriado O Homem de Seis
Milhões de Dólares. Nele o protagonista da série recebeu implantes cibernéticos que salvaram-lhe a vida após um grave
acidente e passou a trabalhar como agente do governo americano usando para isso suas capacidades ampliadas.
Transposta para o universo político, tal designação serviu para apontar quem ascendeu ao poder sem o desgaste de uma
campanha eleitoral.
- O próprio Estado violava os direitos fundamentais dos indivíduos ao impor censura aos
meios de comunicação, prender indivíduos sem ordem judicial e praticar a tortura
. Independentemente do grau de violência utilizado pelo Estado, as ditaduras militares do Brasil,
Argentina, Uruguai e Chile devem ser classificadas como regimes autoritários

- REGIMES AUTOCRÁTICOS LIBERAIS: serão chamados apenas de regimes liberais


. Foram nos países onde autocracias liberais se encontravam estabelecidas que surgiram as
primeiras democracias do mundo contemporâneo
- Período de passagem do século XIX para o século XX
. Os pensadores liberais eram bastante críticos em relação à democracia: eles a julgavam
incompatível com os princípios de uma sociedade liberal
- Só que a experiência histórica acabou provando o contrário: a democracia e liberalismo se
tornaram compatíveis
. Regimes liberais: predominaram na Europa Ocidental (século XIX)
- Suas instituições e práticas foram diretamente inspiradas nas ideias e teorias dos
pensadores iluministas (séculos XVII e XVIII)
- A implantação na Europa resultou de um longo e tortuoso período de lutas contra o poder
absoluto dos monarcas
Características dos regimes liberais
regras básicas de - império da lei

organização do Estado - divisão de poderes
- liberdade de expressão
- liberdade de reunião
 direitos civis - liberdade de religião
- liberdade de ir e vir
- direito à propriedade
- direito à representação política
- direito a voto limitado aos homens instruídos e proprietários
 direitos políticos
de bens
- direito das minorias
. Império da lei10: significa que ninguém encontra-se acima da lei – na sociedade, todos
se encontram submetidos à constituição e às leis que dela decorrem
- Getúlio Vargas falava que “Aos amigos, tudo! Aos inimigos, a lei”, pensamento
oposto ao princípio primeiro do liberalismo
- Regimes liberais do século XIX: vivia-se sob o império da lei
. Divisão de poderes: é uma decorrência lógica do império da lei – se a lei é soberana,
então o poder do governo deve ser submetido à lei (limitado)
- Implica também que o poder do Estado deve ser distribuído de forma equilibrada
entre as diferentes esferas dos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário –
conforme defendido por Montesquieu
- Quando um poder constituído usurpa as funções de outro poder acaba o equilíbrio
e a independência entre os poderes e o governo extrapola os seus limites
- Regimes liberais: a separação e o equilíbrio entre os poderes do Estado são
regras fundamentais
. Liberdade de culto: da Reforma Protestante (século XVI) até o século XIX, as grandes
disputas no Ocidente se deram em torno de questões religiosas
. Países católicos: França, por exemplo - o culto protestante chegou a ser
proibido em determinados períodos durante o Antigo Regime

10 Em inglês, rule of law.


. Oriente: países muçulmanos e na Índia, por exemplo – as religiões continuam
sendo a principal causa dos conflitos entre os grupos de uma mesma
sociedade
- Tolerância religiosa + separação entre Estado e religião: foi a solução que o
Ocidente encontrou, após séculos de conflitos entre católicos e protestantes, para
minimizar os impactos
- Regimes liberais do século XIX: a liberdade de religião passou a ser garantida a
todos os indivíduos, inclusive naqueles países em que Estado e a religião não
chegaram a se separar
. Grã-Bretanha: o anglicanismo é a religião oficial do Estado, e a rainha a
autoridade suprema da religião anglicana
. Liberdade de expressão: direito de todo indivíduo de exprimir livremente as suas ideias
políticas, filosóficas e morais
- Deriva do direito de professar qualquer fé
. Foi a tolerância religiosa que abriu caminho para a tolerância política nas
sociedades ocidentais – posteriormente, abriu espaço para todas as demais
formas de tolerância
- Todo indivíduo está obrigado a obedecer as leis: encontra-se submetido ao
império da lei
. Mas nenhum indivíduo se encontra obrigado a concordar com elas: os
cidadãos podem manifestar livremente o seu pensamento e a sua
discordância em relação a tudo o que não lhe parecer justo ou adequado
- Regimes autoritários: há censura sobre os meios de comunicação e sobre a
imprensa – existe a figura criminal do delito de opinião
- Regimes liberais: respeito ao direito dos indivíduos exprimirem livremente a sua
opinião
. Liberdade de reunião: é uma condição lógica para o exercício da liberdade de culto
- A liberdade de culto precedeu e abriu o caminho para a liberdade de expressão
nos regimes liberais
- O direito assegurado aos indivíduos de reunirem-se em clubes e igrejas levou ao
reconhecimento do direito de promover manifestações públicas, participar de
comícios, organizar sindicatos e, por fim, formar partidos políticos
- A liberdade de reunião é severamente restringida em regimes autoritários
. Liberdade de ir e vir: o direito dos indivíduos de circular livremente pelo território
- Idade Média: na Europa, aos servos da gleba não era permitido ir além dos limites
da gleba de terra da qual eles eram servos
- China atual: apesar de todas as liberdades de mercado introduzidas no país nas
últimas décadas, o direito de circulação dos indivíduos é bastante restrito
. Deixar o campo para ir trabalhar na cidade (mesmo que temporariamente)
requer uma licença especial
. Trocar o campo pela cidade como habitante permanente, requer outra licença
mais difícil ainda
- A mobilidade dos indivíduos no território é um direito eminentemente liberal.
. Direito à propriedade: todo indivíduo tem direito ilimitado a propriedade, e nenhum tipo
de propriedade pode ser vetado a qualquer indivíduo
- Todos os bens existentes sobre a terra ou a serem produzidos pela ação humana
são passíveis de apropriação individual na forma da lei nos regimes liberais
. A exceção é a propriedade de um ser humano sobre outro: constitui
escravidão e fere os princípios básicos de liberdade e igualdade que
constituem o liberalismo
- Idade Média: na Europa – a terra era um bem coletivo e não passível de
apropriação privada
- Regimes comunistas: a terra (e os demais meios de produção) não poderiam ser
apropriados privadamente
. União Soviética: havia dois tipos de regime de propriedade da terra: o coletivo:
(os kolkozes) e o estatal
- Sobre os demais meios de produção só havia a propriedade estatal
- Regimes liberais: o direito à propriedade é imprescritível e perpétuo
. Dependendo do delito cometido por um indivíduo, ele pode ser punido com a
perda da liberdade ou da própria vida (depende da lei de cada país)
- Neste caso, os bens passam por herança aos seus descendentes
- Sob nenhuma hipótese alguém pode ser punido com a proibição de
adquirir bens ou com a sua expropriação
- A perda do direito de propriedade sobre algum bem só é admissível nos
em dois casos:
. Riqueza adquirida de forma ilícita: tornando a propriedade ilegal
. Bem privado passa a ser de interesse público: por exemplo, um
pedaço de terra sobre o qual se pretende construir uma estrada para
uso coletivo
- O Estado pode desapropriar um indivíduo, mas mediante o
pagamento de uma indenização equivalente ao valor do bem
desapropriado
- Fora essas exceções, a propriedade é um direito intocável dos indivíduos
nos regimes liberais
. Direito à representação política: são os mecanismos de participação indireta dos
governados nos negócios do governo
- O governo governa como representante do povo: independentemente de ter sido
escolhido por este ou não (caso das monarquias hereditárias)
- O governo governa prestando contas a uma assembleia de representantes eleitos
pelo povo
- A representação popular por via eleitoral é uma criação dos regimes liberais
- Democracias da Grécia Antiga: os cidadãos participavam dos negócios do governo
diretamente (não havia o intermédio de representantes eleitos) – os cidadãos
reuniam-se em praça pública e decidiam questões de interesse coletivo – era a
chamada democracia direta
- Antigo Regime (França): o rei podia convocar a reunião dos estados gerais, nos
quais tinham representação a nobreza, o clero e a burguesia (ou o terceiro estado)
– mas a reunião dos estados gerais não era periódica, nem tinha atribuições
definidas por uma constituição (como é o caso dos parlamentos dos regimes
liberais)
- Regimes liberais: uma pequena parcela da população – constituída por indivíduos
do sexo masculino, educados ou proprietários de bens – podia participar das
eleições
. A grande maioria da população (inculta ou pouco escolarizada e não
proprietária) encontrava-se excluída da vida política – não podiam votar e nem
ser votada como representante do povo no parlamento
. Esta é a razão dos regimes liberais serem classificados como autocracias
- A maioria dos governados não tinha qualquer influência sobre a indicação
do governo, e não dispunham de qualquer instrumento de controle dos
governantes
. John Stuart Mill: era absolutamente necessário para o bom governo que o
sufrágio fosse “o mais largamente distribuído”. Entretanto, sendo a grande
maioria dos eleitores constituída de trabalhadores manuais, o duplo perigo de
um “baixo nível de inteligência política” e de uma “legislação de classe”
continuaria a existir em um grau considerável
- Para evitar o duplo perigo (um risco que aterrorizava a todos os liberais),
os regimes liberais impuseram restrições ao acesso das classes populares
à participação eleitoral – isso aconteceu por meio de mecanismos como:
. Voto censitário: estabelecia patamares mínimos de renda para que os
cidadãos pudessem votar, e renda ainda mais elevada para poderem
se candidatar aos cargos eletivos
. Voto plural: conferia peso maior ao voto dos eleitores mais educados
. Direito das minorias: garantia de liberdade para as minorias reunirem-se e
manifestarem-se livremente – é um direito central e distintivo dos regimes liberais
- Essa garantia impede uma eventual maioria tiranizar a minoria ou exterminá-la,
perpetuando-se no poder
- Ela mantém o pluralismo em uma sociedade, permitindo em um momento futuro, a
depender da vontade do eleitor, que a minoria de hoje venha a se tornar maioria, e
vice-versa
. A maior resistência dos pensadores liberais, residia no temor de que uma vez
que a maioria inculta tivesse acesso à disputa eleitoral e por esse meio
chegasse ao poder, viesse a governar sem respeitar os direitos da minoria
- A consolidação dos regimes liberais (ao longo do século XIX) + o enraizamento do
princípio do respeito ao direito das minorias na cultura política de algumas
sociedades europeias – abriu espaço para a democratização
. Virada do século XIX para o século XX: após uma longa luta dos trabalhadores
pelo direito ao voto, diversas sociedades liberais europeias tornaram-se
democráticas ao adotar o sufrágio universal masculino
. Império Austro-Húngaro: permaneceu governado por um regime claramente
autocrático, mas francamente liberal, até a sua dissolução ao final da Primeira
Guerra Mundial
. Depois disso, praticamente todas as sociedades liberais se tornaram
democráticas, dando origem ao termo “sociedades liberais democráticas”
- Exceção: Hong Kong – claro exemplo de uma autocracia liberal moderna
. Território chinês que só foi restituído pelos britânicos ao controle da
China em 1997
. Durante os 156 anos de domínio britânico, foi governada
autocraticamente – os governadores eram indicados pelo governo
britânico, e não pela sua população
. Mas o governo local sempre assegurava aos governados o exercício
dos direitos civis básicos e típicos dos regimes liberais e o
funcionamento de um Poder Judiciário independente

- TIPOS DE DEMOCRACIAS:
. A democracia moderna difere da democracia dos antigos: devido à forma como o povo
participa da vida política
. Democracia dos antigos: o povo exercia o seu poder diretamente e sem intermediários ou
representantes, votando em praça pública as questões do Estado que estavam em discussão e
sobre as quais cabia a ele deliberar – a democracia dos antigos é chamada de democracia
direta
- Os antigos consideravam a “eleição de representantes” um método aristocrático – já que
implicava na seleção de uns poucos (os melhores11) dentre o grande número

11 Aristocracia: aristos, em grego, significa os melhores.


- O método democrático de selecionar, dentre um grande número, os poucos que iriam
exercer temporariamente as funções administrativas do Estado e que não exigiam
conhecimentos ou habilidades específicas era o sorteio
. Pelo sorteio: todos os cidadãos tinham chances iguais de virem a exercer alguma
função a serviço do Estado
. Pela eleição: a igualdade entre os cidadãos ficaria comprometida – no processo
eletivo, os cidadãos acabariam discriminando os melhores do restante do povo
. Democracia moderna: o povo participa das decisões do governo indiretamente – por meio de
seus representantes eleitos – os regimes democráticos contemporâneos são chamados de
democracias representativas
- O método típico de seleção dos governantes é o eleitoral (considerado método
aristocrático pelos antigos), deixando completamente de lado o sorteio
- Joseph Schumpeter12: pôs em destaque o caráter aristocrático e seletivo da democracia
moderna
. Ele a qualificou como um “sistema de competição entre elites”
-  Não ocorre a democracia como um sistema por meio do qual o povo delibera
sobre questões de interesse coletivo: “a democracia é o governo do povo, pelo
povo e para o povo”
-  Ocorre é um procedimento por meio do qual as diversas elites de uma
sociedade disputam o voto popular, com o objetivo de exercer as funções de
governo
. O termo “elite” foi empregado em sentido amplo: referindo não apenas aos mais ricos,
mas a todos aqueles que têm uma posição de destaque na sociedade, liderando e
representando os seus mais diversos segmentos
- Elite empresarial, elite agrária, eclesiástica, intelectual, sindical, operária
- Por isso, a concepção de democracia de Schumpeter é conhecida como “teoria
elitista da democracia”
- Para classificar um regime como democrático, não basta haver eleições
. É necessário que as eleições ocorram em um ambiente de liberdade e que o seu resultado
seja apurado de forma justa
. Sem liberdade e sem lisura nos processos eleitorais, os resultados não podem ser
considerados como “representativos da vontade da maioria”
- Primeira República no Brasil (1891-1930): não pode ser considerado como um regime
democrático – embora houvesse eleições para todos os cargos executivos e legislativos,
essas eleições não eram livres nem justas
. Regime democrático: é aquele por meio do qual todos os cidadãos participam em igualdade
de condições de eleições periódicas, livres e justas para a escolha de seus governantes
. Samuel Huntington13: descreveu o surgimento da democracia moderna no mundo como um
movimento de ondas
- Ocorreu na virada do século XIX para o século XX: regimes liberais existentes
na Europa e Estados Unidos tornaram-se democráticos
1a onda - Depois dessa onda de expansão, houve períodos de refluxo da democracia no
democrática mundo
- Portugal e Espanha: democracias que deram lugar a regimes autoritários
- Alemanha e Itália: democracias que deram lugar a regimes totalitários

12 Joseph Schumpeter: destaque da Teoria Econômica Moderna. Famoso pela Teoria do Desenvolvimento Econômico.
Considerava que as crises conjunturais não obedeciam apenas a fatores externos (guerras, más colheitas), mas estavam
igualmente relacionadas com a atividade empresarial, com o sistema de créditos e com a tecnologia que, em sua opinião,
eram causas diretas do desenvolvimento econômico.
13 Samuel Huntington: Aos 23 anos, iniciou sua admirável carreira de professor na Universidade de Harvard,

interrompendo-a após 58 anos de atividade, com o respeito da sociedade americana e dos governantes pela sua
contribuição intelectual às questões do Estado.
- Ocorreu após a Segunda Guerra Mundial
- Alemanha e Itália: os regimes totalitários sucumbiram, abrindo espaço
para a implantação de novos regimes democráticos
América Latina e em outras partes do mundo: novas democracias
2a onda -
floresceram – o Brasil teve a sua primeira experiência democrática (1946-
democrática 1964)
- Novamente houve períodos de refluxo da democracia – várias das novas
democracias deram lugar a regimes autoritários (praticamente toda a América
Latina)
- Teve início nos anos de 1970: queda dos últimos regimes autoritários da
Europa Ocidental (Portugal, Espanha e Grécia)
- Década de 1980: ditaduras militares na América Latina foram dando
paulatinamente lugar a regimes democráticos
- Década de 1990: regimes totalitários da Europa Central e Oriental foram
3a onda
substituídos por regimes democráticos – se espalhou por diversos países da
democrática África e da Ásia14
- Após queda do muro de Berlim e dissolução da União Soviética
- Queda do Regime racista da África do Sul
- Esta onde não foi sucedida por um refluxo, ao contrário, manteve-se constante
por três décadas
- A 1a e a 2a onda geraram regimes democráticos liberais. A 3a onda, ao contrário das ondas
anteriores, gerou regimes democráticos não liberais

- REGIMES DEMOCRÁTICOS LIBERAIS:


. Definição: são aqueles regimes em que:
- O governo resulta da escolha da maioria por meio de eleições periódicas, livres e justas
- Conservam todas as características dos regimes liberais: regras básicas de organização
do Estado + direitos civis + direitos políticos dos seus cidadãos
. Ao longo do século XX, a teoria da democracia sofreu modificações
- Abandonou o conteúdo clássico: “governo do povo, para o povo e pelo povo”
- Ganhou contornos mais estritamente processuais e compatíveis com os princípios liberais
- No geral, as diferentes teorias da democracia basearam-se na observação dos regimes
liberais democráticos
. Conceito de Democracia:
- Schumpeter: sistema político em que, além da livre competição entre elites pelo voto dos
eleitores, prevalecem também o império da lei, as liberdades individuais de manifestação e
as de imprensa, possibilitando que a minoria venha a se tornar maioria e ocupar o governo
. Ele defende essa concepção de democracia pois acredita que ela é mais realista do
que aquela que a define como “governo do povo”
. Além de apresentar a vantagem de pôr em destaque a importância vital da liderança
na vida política – negligenciada pela concepção tradicional de democracia
- Robert Dahl: cientista político americano que trouxe contribuições relevantes para a teoria
contemporânea da democracia
. Ele reservou a palavra democracia para designar somente o sistema político ideal
. Criou o termo poliarquia para designar sistemas políticos abertos à influência popular
existentes no mundo real

14 Observando esse novo fenômeno político, o cientista político americano de origem indiana Fareed Zakaria escreveu, em
1997, um artigo sob o instigante título “O surgimento da democracia iliberal”. A democracia "liberal" não pressupõe apenas
eleições livres e justas, mas também a proteção constitucional dos direitos dos cidadãos. A democracia "iliberal" ocorre
quando eleições livres e justas associam-se à refutação sistemática de garantias constitucionais.
. Semelhanças entre Dahl e Schumpeter:
- Eles concordam que uma série de procedimentos adotados nos regimes liberais
democráticos são centrais e essenciais para considerá-los
. Democracia: para Schumpeter
. Poliarquia: para Dahl
- Dalh também enumera uma série de condições e características para que se possa
considerar um regime poliárquico:
. A maioria dos adultos em uma sociedade deve ter direito a voto e o exerça livre de
coerção
. Os votos de cada membro da comunidade eleitora devem possuir o mesmo peso, e
não pesos diferentes conforme a renda e a educação do eleitor (como as sociedades
liberais do século XIX)
. As autoridades não eleitas do Estado encontrem-se subordinadas aos líderes eleitos, e
que esses, por sua vez, estejam subordinados aos não líderes – à votação popular
. Que existam fontes alternativas de informação disponíveis para a população e livres de
constrangimento
. Que seja garantido o direito de oposição àqueles que aceitarem e respeitarem todas
essas regras
. Diferenças entre Dahl e Schumpeter:
- Schumpeter: põe em destaque o caráter elitista da competição eleitoral
- Dahl: põe em relevo o caráter pluralista do exercício do poder
. O termo “poliarquia” designa que o poder encontra-se distribuído nas mãos de várias
pessoas e não concentrado nas mãos de um só (caso da monarquia) ou igualmente
distribuído pelo povo (caso da definição clássica de democracia)
. Observando as modernas sociedades capitalistas (ditas democráticas), Dahl constatou
que, apesar da extrema desigualdade na distribuição do exercício e do controle do
poder, nenhuma liderança exerce um alto grau de controle sobre as demais, donde se
retira a definição desse sistema como uma poliarquia (poli = vários, arquia = poder)
. Análise das duas principais “formas de organização do governo” nos regimes liberais
democráticos: presidencialismo e parlamentarismo
- Diferenças principais:
. Papéis de chefia
. Relações entre Executivo e Legislativo
. Duração dos mandatos dos parlamentares e governantes
. Presidencialismo: papéis de chefe de Estado e chefe de governo são exercidos pelo presidente
. Parlamentarismo:
- Papel de chefe de Estado:
. Monarquias parlamentares: Espanha, Grã-Bretanha, Holanda e Suécia – o papel de
chefe de Estado é exercido pelo rei (somente protocolar)
. Repúblicas parlamentares: Portugal, Itália, Alemanha e Áustria – as atribuições de
chefe de Estado cabem ao presidente
- Papel de chefe de Governo: sempre exercida pelo primeiro-ministro (necessariamente um
parlamentar)
.  Errado – No presidencialismo, o governo é mais forte do que sob o parlamentarismo
- O fato de o presidente ser eleito diretamente pelo povo e o primeiro-ministro ser eleito pelo
parlamento, nada diz a respeito da força de um governo
. Governos parlamentares fortes: Margaret Thatcher (1979-1990) na Grã-Bretanha -
teve força necessária para implementar suas políticas
. Governos presidenciais fracos: Raúl Alfonsín (1983-1989) na Argentina – acabou
transferindo o governo ao seu sucessor eleito (Carlos Menem) antes do fim do seu
mandato
. Conclusão: a força ou a fraqueza de um governo não derivam da sua forma
.  Errado – Governo forte é um governo de força
- Governos fortes: são aqueles que têm capacidade governativa
- Governo de força: são aqueles que se utilizam da força física para governar
.  Errado – No parlamentarismo, Poderes Executivo e Legislativo encontram-se fundidos
- Apesar da separação entre Poder Executivo e Legislativo ser mais clara sob o
presidencialismo, isso não significa que sob o parlamentarismo essa separação é menor
. No parlamentarismo, é a maioria dos parlamentares que indica entre os seus pares o
chefe de governo (primeiro-ministro)
. Entretanto, uma vez no governo, o primeiro-ministro exerce suas funções
completamente separado do parlamento – tal como um governo presidencial
- Não se deve confundir governo parlamentar com governo de assembleia
. Governo parlamentar: as funções executivas e legislativas encontram-se claramente
separadas
. Governo de assembleia: as funções encontram-se fundidas
- Exemplo mais trágico de governo de assembleia: Convenção Nacional (1792-
1795), o período do terror da Revolução Francesa
. A assembleia acumulava o Poder Executivo e o Legislativo
. Não havia uma instituição separada incumbida de governar e prestar contas à
assembleia: instaurou-se a ditadura revolucionária
. Os líderes revolucionários (Danton, Robespierre, Saint-Just15) tomavam as
decisões e agiam ditatorialmente pela assembleia – a ela somente cabia
referendar os atos executados em seu nome
- Presidencialismo: os mandatos do presidente e dos parlamentares são fixos e não há
possibilidade de um Poder intervir na duração do mandato do outro
. Existe uma rígida separação entre Executivo e Legislativo
. O presidente não tem o poder de dissolver o parlamento e convocar novas eleições
. O parlamento não pode destituir o presidente do seu cargo, exceto no caso de
impeachment por crime de responsabilidade
- Parlamentarismo:
. O governo e os parlamentares não têm mandatos rigidamente definidos
- Primeiro-ministro: a duração do governo não se encontra previamente definida,
durando o seu governo enquanto a maioria do parlamento lhe der sustentação
. Não há limite temporal para um primeiro-ministro exercer o governo
- Parlamentares: eles possuem mandato com duração máxima estipulada, mas não
rigidamente estabelecida
. É facultado ao governo dissolver o parlamento e convocar novas eleições:
quando o plenário não for capaz de formar uma maioria e dar sustentação ao
seu governo
. A separação entre os Poderes Executivo e Legislativo é flexível
- Qual é melhor?
. Teoricamente: um sistema de governo mais flexível é sempre melhor do que um mais
rígido. Portanto, a forma parlamentar de governo seria superior à presidencial
. Na prática: não existe um modelo melhor do que o outro e tudo depende,
fundamentalmente, da cultura e da experiência política de cada sociedade
- Estados Unidos: impensável trocar a forma presidencial de governo pelo
parlamentarismo
- Inglaterra: ninguém cogita trocar o parlamentarismo pelo presidencialismo
- Brasil: já teve as duas experiências – na Assembleia Nacional Constituinte de
1987-1988, a divisão entre parlamentarismo e presidencialismo foi tão forte que os
constituintes resolveram convocar um plebiscito (realizado em 1993) para que os

15 Todos posteriormente foram levados à guilhotina.


brasileiros decidissem diretamente se queriam um governo presidencial ou
parlamentar – vence, por ampla maioria, a manutenção do presidencialismo
- Formas de governo não dominantes:
. Semipresidencialismo (França):
- Um presidente eleito diretamente pelo povo, que tem um mandato fixo e
desempenha as funções de governo relativas à política internacional
- Um primeiro-ministro nomeado pelo presidente, entre a maioria dos parlamentares,
que exerce as demais funções de governo
. Governo colegiado (Suíça): não é parlamentar, nem presidencial, mas integrado por
sete membros que compõem o Conselho Federal (Poder Executivo)
. Atenção: as diferenças entre as forma de governo são relevantes apenas nos regimes liberais
e democráticos – fora das democracias, não faz qualquer sentido estudar as diferenças entre
parlamentarismo e presidencialismo
- Nas autocracias (que não sejam monarquias hereditárias – Marrocos e Arábia Saudita), os
autocratas denominam-se presidentes, mas é uma falsa denominação já que eles não
chegam ao poder como nas democracias contemporâneas

- REGIMES DEMOCRÁTICOS NÃO LIBERAIS:


. É uma nova forma de democracia, que não se encontra associada aos princípios liberais
- Fareed Zakaria denominou democracia iliberal
. Embora a democracia moderna tenha surgido nas sociedades liberais, não existe entre
liberalismo e democracia qualquer relação necessária
- A democracia encontra-se em pleno desenvolvimento no mundo, enquanto o liberalismo
não está
. Pesquisa realizada em 1997, entre 193 países independentes no mundo
. 118 democracias reuniam 54,8% da população mundial
. Metade destas não eram liberais: variavam dentro de um espectro que ia
- Desde pequenos atentados aos princípios liberais: Argentina governada pelo
presidente Menem – ele legislava por decretos, usurpando as atribuições
legislativas do Congresso
- Até democracias quase tirânicas:
. Bielo-Rússia governada por Aleksandr Lukashenko: os Poderes Legislativo e
Judiciário eram fracos e as liberdades civis e econômicas extremamente
limitadas
. Peru sob o governo de Alberto Fujimori: eleito e reeleito pelo voto popular, o
parlamento foi dissolvido e a vigência da constituição suspensa
. O fenômeno das democracias não liberais pode ser observado em todo o mundo: na
Europa Oriental, Ásia, África e América Latina
- Comparação democracias liberais e não liberais:
. Semelhanças: forma de constituição dos governos é feita pelo voto popular, em
eleições periódicas, livres e justas
. Diferenças: as democracias não liberais não possuem uma ou várias das
características dos regimes liberais (separação entre os poderes, por exemplo)
. Gillermo O’Donnell: cientista político argentino que criou o termo “democracia delegativa”
- Usado para designar uma nova forma de regime democrático (surgido após 1990): nele
todo o poder é delegado aos presidentes
. O governante é, inquestionavelmente, eleito por procedimentos democráticos, mas
exerce o poder sem limites claramente definidos
. Casos típicos: Argentina, Peru, Bolívia, Venezuela e Equador
- Brasil e Chile, ao contrário, são exemplos de democracias liberais bem consolidadas na
América Latina
. O que será destas novas democracias não liberais? Ainda é cedo para saber.
- Entretanto, ficou inquestionável que, nesse início de século XXI, democracia e liberalismo
voltaram a ser termos claramente separáveis
- Dicas: reflita sobre o padrão de relacionamento entre Estado e sociedade, especialmente o grau de controle
pretendido pelos agentes estatais sobre a vida social
. Procure ter claro como as diferentes experiências "autocráticas" são caracterizadas pelo autor – note a ênfase
dada para a relação entre autocracia e liberalismo, e como a democracia nasceu desta tensão
. Reflita sobre a complexidade das instituições políticas democráticas, considerando as diferentes combinações:
democracias liberais e não liberais; parlamentarismo, presidencialismo e os "casos singulares" (França e Suíça)
. Pense em como essa complexidade se revela no caso da América Latina, que entre a década de 1990 e 2000
produziu diversos exemplos de democracias que podem ser interpretadas como pertencentes ao campo das
experiências liberais e não liberais
. Reflita sobre o papel da administração pública na consolidação e nas perspectivas da democracia brasileira

- REPRESENTAÇÃO POLÍTICA:
. Objetos clássicos de estudo da Ciência Política:
- Formas de representação política
- Sistemas eleitorais e de partidos
. Futuro administrador público: é essencial entender as relações entre sistema eleitoral de um
país e o seu sistema de partidos, e como ambos influenciam a ação do Estado (campo de ação
profissional)
. Estudo do tema: análise do caso brasileiro e, partindo dele, análise das teorias e estudos mais
gerais que tratam dos sistemas eleitorais e partidários
- Restrição: comparações apenas com sistemas eleitorais e partidários de regimes
democráticos – os regimes totalitários e autoritários serão deixados de lado, apesar deles
também possuirem partidos e processos eleitorais (frágeis, quando comparados com os
existentes nas democracias)
- Inicialmente será analisada a questão da representação política, para depois examinarmos
como o sistema eleitoral brasileiro processa a representação política e influencia o sistema
partidário do País
. Democracias contemporâneas: são baseadas em mecanismos de representação popular
- Por meio deles os votos individuais dos cidadãos, dados a um determinado candidato ou
partido, resultam em representantes eleitos para exercer as funções e os Poderes
Executivo e Legislativo do Estado
- A representação popular no Brasil, e nas demais democracias representativas do mundo,
baseada nas seguintes regras:
. Sufrágio universal: todo cidadão tem direito de eleger e ser eleito, independentemente
do sexo, raça, língua, renda, propriedade, classe social, religião ou convicção política
- Essa regra não é incompatível com algumas exigências
. idade mínima para votar e ser eleito
. estar em pleno gozo das suas faculdades mentais
. não ter limitações jurídicas ou criminais ao exercício dos seus direitos civis e
políticos
- Sociedades liberais do século XIX: vigorava o voto censitário – condicionado à
renda e à propriedade do indivíduo
- Nas democracias atuais não existe este tipo de limitação.
. Sufrágio igual: peso igual para o voto de todo eleitor
- Cada eleitor tem direito a apenas a um voto, independentemente da sua condição
social, educação, sexo, raça ou qualquer outra diferença natural ou social
- Antes do advento da democracia representativa: vigorava o voto plural – atribuía
aos eleitores um número de votos diferente conforme a sua educação, riqueza e
propriedade
. Sufrágio secreto: garante o sigilo da escolha do eleitor, protegendo-o de pressões
externas e permitindo que o seu voto expresse apenas a sua vontade
. No Brasil, essas três regras básicas só passaram a existir a partir da legislação eleitoral
estabelecida em 1932
- Primeira República: não havia o sufrágio secreto – o voto era aberto, o que acaba coibindo
a livre expressão da vontade dos eleitores
- Império: não havia o sufrágio universal – o voto era censitário, dependente da renda do
eleitor
. O sufrágio universal foi progressivamente se ampliando ao longo do tempo, no Brasil e
no mundo – o seu marco inicial foi a concessão do direito de voto a todos os homens,
independentemente da sua renda ou classe social
. Sufrágio universal masculino: introduzido na Primeira República, mas ainda reservado
aos indivíduos alfabetizados, em uma sociedade composta por uma alta proporção de
analfabetos
- A exclusão dos analfabetos do sistema eleitoral manteve-se até a CF de 1988
. Extensão do sufrágio às mulheres: ocorreu no Brasil (1932), muito antes de vários
países desenvolvidos
- França e Itália: após a Segunda Guerra Mundial (1946)
- Suíça: 1971
. Apesar da observância das três regras democráticas, a legislação eleitoral brasileira apresenta
certas distorções na representação dos seus cidadãos, dependendo dos Estados da federação
onde moram e votam
- Essas distorções resultam de dois fatores:
. adoção de um número mínimo de 8 e máximo de 70 deputados por Estado
. adoção de um quantitativo fixo para as bancadas estaduais, independentemente da
variação do seu eleitorado ao longo do tempo
- Casos gritantes:
- Sub-representação: habitantes de São Paulo
- Sobrerrepresentação: Estados da região Norte, sobretudo dos habitantes de
Roraima
. É como se o sufrágio igual não estivesse em vigência, uma vez que o voto de um
habitante de Roraima pesa 14 vezes mais do que o de um habitante de São Paulo
. A expressiva sub-representação de São Paulo na Câmara dos Deputados tem razões
históricas – remetem ao predomínio de São Paulo sobre os demais Estados da
federação durante a Primeira República
- Naquela época, a representação na Câmara era estritamente proporcional e a
bancada paulista (aliada a de Minas Gerais) se sobrepunha a todas as demais
- Apesar das diferenças, as distorções foram mantidas no sistema eleitoral
tradicional.
- Conclusão: nas democracias representativas, os sistemas eleitorais procuram manter a
igualdade entre os cidadãos, embora isso não seja sempre garantido
. Brasil: existe uma combinação de pleitos regidos pelo princípio majoritário + pleitos regidos
pelo sistema proporcional
- Sistema majoritário de representação: cargos executivos (presidente, governadores de
Estado e prefeitos) + Senado Federal
- Sistema de representação proporcional: cargos legislativos da Câmara dos Deputados,
Assembleia Legislativa, Câmara Distrital e Câmara de Vereadores

- SISTEMAS PARTIDÁRIOS: ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS


. Eleições presidenciais:
- Brasil: sistema de sufrágio majoritário direto
. O país constitui uma única circunscrição eleitoral – os presidenciáveis se submetem ao
sufrágio de todos os brasileiros
. O peso do voto de todos os brasileiros é rigorosamente igual: o voto de um habitante
de Roraima vale igual ao de um habitante de São Paulo
. O voto de cada eleitor brasileiro é computado junto, independentemente do Estado
onde ele se encontre
. Será eleito presidente quem tiver recebido a maioria dos votos dos brasileiros, seja no
1o turno, ou no 2o turno, no qual concorrem apenas os dois candidatos mais votados
- Igual para as eleições para governadores de Estado (circunscrição eleitoral é o
Estado) e para prefeitos municipais (circunscrição eleitoral é o município)
. Também são realizadas eleições majoritárias para o cargo de senador
- Mesmo quando são eleitos dois senadores por Estado (a cada oito anos), a forma
de eleição de cada um é nominal e majoritária
- São eleitos os dois candidatos mais votados, independentemente dos partidos ou
das coligações partidárias pelas quais eles tenham se candidatado
. Ex. hipotético: um Estado brasileiro em que dois partidos apresentem dois candidatos
para duas vagas no senado, em disputa em um determinado ano
- Partido Azul: candidatos A (130 mil) e B (70 mil)
- Partido Amarelo: candidatos C (80 mil) e D (10 mil)
. Pela regra da votação nominal e majoritária, eleitos foram os candidatos A (Partido
Azul) e C (Partido Amarelo) – foram eles que receberam o maior número de votos,
individualmente
- Apesar do Partido Azul ter tido mais do que o dobro dos votos dados aos
candidatos do Partido Amarelo, ele não fará dois candidatos
- Estados Unidos: sistema de sufrágio majoritário indireto
. As eleições são majoritárias e podem participar todos os cidadãos
. Mas são indiretas: os eleitores não elegem diretamente o presidente, mas
representantes que irão votar em um determinado candidato no colégio eleitoral
. A circunscrição eleitoral em que os eleitores americanos votam não é a do país, mas a
do Estado onde habitam
- Cada Estado americano elege um número de representantes para o colégio
eleitoral proporcional à sua população
- Mas a eleição dos representantes de cada Estado no colégio eleitoral obedece à
regra majoritária
. Ex. hipotético: os Estados Unidos fossem compostos por apenas quatro Estados, e
possuísse 100 mil habitantes – a representação no colégio eleitoral seria:
- Estado A: 40% dos habitantes do país (40.000) – 40 representantes
- Estado B: 30% (30.000) – 30 representantes
- Estado C: 20% (20.000) – 20 representantes
- Estado D: 10% (10.000) – 10 representantes
. Dois candidatos disputam a eleição (candidato X e candidato Y)
- A regra de eleição para o colégio eleitoral é majoritária: quem recebe a maior parte
dos votos leva tudo, e quem recebe a menor não leva nada, independentemente
de qualquer proporcionalidade dos votos efetivamente recebidos
. Logo, neste sistema de votação, é possível que a vontade da maioria dos eleitores
acabe não sendo expressa no número de representantes eleitos
. Por outro lado, as eleições brasileiras para Câmara de Deputados, Assembleias Legislativas,
Câmara Distrital e Câmaras Municipais obedecem aos princípios e às regras do sistema de
representação proporcional – ele é bem diferente do sistema majoritário, e as chances de um
candidato vir a ser eleito variam muito
- SISTEMAS PARTIDÁRIOS: ELEIÇÕES PROPORCIONAIS
. Existem dois tipos de sistemas de representação proporcional:
- Lista aberta: empregado no Brasil
. Cada partido apresenta ao eleitorado uma lista de candidatos a serem livremente
escolhidos pelo eleitor – o número de candidatos varia:
- Se for partido isolado: candidatos em número equivalente a até 150% o número de
cadeiras a serem ocupadas no parlamento
- Se for coligação: candidatos em número equivalente a até 200% o número de
cadeiras em disputa no parlamento
. Exceção: Câmara dos Deputados – estados onde houver no máximo 20 cadeiras em
disputa, os partidos podem apresentar uma lista com 200% as cadeiras em disputa, e
as coligações são autorizadas a apresentar um número de candidatos 250% ao de
cadeiras em disputa
- São Paulo: são eleitos 70 deputados para a Câmara dos Deputados
. Partido isolado: pode apresentar uma lista de até 105 candidatos
. Coligação de partidos: uma lista de até 140
- Roraima: detém oito cadeiras na Câmara dos Deputados
. Partido isolado: pode apresentar uma lista de até 16 candidatos
. Coligação de partidos: uma lista de até 20
. Nesse sistema, existe um número superior de candidatos ao de cadeiras a serem
ocupadas no parlamento – e os eleitores têm uma maior margem de escolha
- Mas nada garante que o candidato do partido X, que tenha tido uma votação
nominal maior do que outro candidato do partido Y, será eleito.
. É frequente o fato de candidato com votação nominal menor do que a recebida
por um candidato de outro partido seja eleito
. Motivo: as cadeiras no parlamento são distribuídas entre os partidos e as
coligações de acordo com a proporção de votos recebida por cada lista
. A votação nominal serve apenas para classificar os candidatos de uma lista
- Sistema eleitoral de proporcional de lista aberta: a lista de candidatos não é pré-
ordenada pelo partido, mas ordenada na eleição de acordo com os votos nominais
recebidos por cada partido ou coligação partidária
. Ex. hipotético: um Estado pequeno e pouco populoso que tenha 8 cadeiras na Câmara
dos Deputados e onde 3 partidos apresentaram lista de candidatos à eleição
- Compareceram às urnas 100 mil eleitores: 72 mil escolheram candidatos
nominalmente e 20 mil votaram na legenda (não houve votos nulos e em branco)

. Cálculo do coeficiente eleitoral:


-
- Fase 1: Partidos e coligações que participarão da disputa – será necessário, pelo
menos, atingir o coeficiente eleitoral: todos eles estão na disputa
. Observe que apenas um dos candidatos recebeu votação individual superior
ao coeficiente eleitoral – nenhum dos outros sete eleitos receberam votos em
número suficiente para atingir o coeficiente
- Conclusão: com exceção do candidato mais votado, todos os outros
eleitos somente conseguiram se eleger graças aos votos dados à legenda
e aos outros candidatos do seu partido
- Fase 2: Definir a quantidade de vagas que cada partido ou coligação tem direito
. Partido A:
. Partido B:
. Partido C:
- Fase 3: repescagem – maior sobra de votos (votos não usados para eleger
anteriormente)
. Partido A:
. Partido B:
. Partido C:
- O partido B terá o direito de eleger mais um candidato, pois tem a maior
sobra – este será eleito com menos votos do que o coeficiente exige.
. Análise : alguns candidatos eleitos de um partido tiveram votação nominal inferior à
recebida pelos candidatos não eleitos de outro partido – ou seja, eles somente foram
eleitos em função do desempenho global do partido
- Os eleitos devem a sua eleição aos candidatos não eleitos (figuração) e aos votos
de legenda – este último indica que, para os eleitores, o apelo do partido é mais
forte do que o dos seus candidatos individualmente
. Análise : o desempenho eleitoral do Partido B aponta que o seu candidato mais
votado (mais bem votado de toda eleição) recebeu mais de dois terços dos votos
dados ao seu partido
- Ele é o famoso “puxador de voto” – com a sua votação nominal consegue eleger
outros candidatos inscritos na lista, mesmo que estes tenham reduzido apelo
pessoal junto ao eleitorado, e, portanto, com pequena votação nominal
. Análise : o partido C não tem inscrito na sua lista um grande puxador de votos, nem
ter um grade apelo junto ao eleitorado, expresso pelo voto na legenda
- Desempenho dos candidatos é equilibrado: foi a soma dos votos de todos os
candidatos inscritos na lista que elegeram o primeiro colocado
. Críticas ao sistema proporcional de lista aberta:
- Não deixa claro ao eleitor quem ele está, de fato, elegendo
. Caso do Partido C: 4 mil eleitores tiveram o candidato eleito, mas voto de
outros 8 mil eleitores ajudaram a eleger um candidato diferente do que eles
escolheram
. Caso do Partido B: os eleitores sabem que elegeram o seu candidato, mas
provavelmente não sabem que com seu voto ajudaram a eleger dois outros
candidatos que não escolheram
- Dado o grande número de candidatos em disputa, é muito comum que após as
eleições, os eleitores não mais se lembrem do candidato a deputado em quem
votaram, como mostram reiteradamente as pesquisas
- Favorece o individualismo e incentiva a disputa interna entre os candidatos de um
mesmo partido, porque para se elegerem precisam disputar entre si o voto dos
eleitores
- Lista fechada: empregado na Argentina
. Quem define a ordem dos candidatos a serem eleitos com os votos dados ao partido é
a direção partidária, e não o eleitor
- Vantagens:
. É mais compreensível para o eleitor
. Fortalece os partidos como instâncias decisórias e torna previsível a
composição da bancada a ser eleita
- Desvantagens:
. Não permite ao eleitor interferir na composição da bancada do partido que
escolheu para votar
. Impede a renovação dos quadros parlamentares do partido, dando um poder
enorme às suas lideranças e facilitando a sua permanência no controle da
organização
- Robert Michels16: sociólogo alemão, afirmava que os partidos políticos são
regidos pela “lei de ferro das oligarquias” – diante de um sistema
proporcional de lista fechada, o controle das oligarquias (da burocracia
partidária sobre os partidos) torna-se ainda maior
. Os dois modelos de sistemas eleitorais proporcionais possuem defeitos intrínsecos, mas
ambos têm um defeito comum: custam caro
- Fazer uma campanha eleitoral em uma circunscrição eleitoral que abarca o território de
todo um Estado exige muito dinheiro
- No sistema de lista aberta, essa exigência financeira acaba dando maiores chances aos
mais ricos ou àqueles que têm maior capacidade de arrecadar recursos para as suas
campanhas junto às empresas e aos doadores ricos
- Diante disso, várias pessoas propõem a radical substituição do sistema de representação
proporcional pelo majoritário

- SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO MAJORITÁRIA NA COMPOSIÇÃO DOS PARLAMENTOS


. Também conhecido como sistema distrital: é o mais antigo sistema e mais amplamente
utilizado no mundo contemporâneo
- Obedece à mesma lógica e regras das eleições majoritárias para os cargos executivos
. Diferença entre sistema proporcional e majoritário aplicados às eleições para os parlamentos:
- Sistema proporcional: atualmente em vigor – os 27 milhões de eleitores de SP escolhem
os seus candidatos a deputado federal dentre os nomes das listas apresentadas pelos
partidos (ou coligações) – para ocupar as 70 cadeiras reservadas ao Estado na Câmara
dos Deputados
- Sistema majoritário: SP seria divido em 70 circunscrições eleitorais com número de
eleitores equivalente (cerca de 380 mil eleitores por circunscrição) – em cada uma delas,
os partidos (ou coligações) apresentariam aos eleitores apenas um candidato
. Se houvesse 8 partidos e coligações em disputa, haveria apenas 8 candidatos
disputando os votos dos eleitores de uma determinada circunscrição eleitoral
- Escrutínio em turno único: é eleito o candidato que receber o maior número de
votos – usado em países onde apenas dois grandes partidos disputam as eleições
- Escrutínio em dois turnos: no caso de nenhum candidato conseguir a maioria dos
votos no 1o turno, haveria um 2o turno de eleição para escolher um dentre os dois
mais votados – adotado em sistemas pluripartidários
. Seja escrutínio em turno único ou em dois turnos, certo é que expressiva parte dos
eleitores ficará sem representação no parlamento

16 Robert Michels: sociólogo alemão nascido em 1876, marcou a história da sociologia com a publicação, em 1911, de um
trabalho intitulado Sociologia dos Partidos Políticos, no qual procurava relacionar a crescente burocracia das instituições
com as tendências oligárquicas nas sociedades modernas.
- Ocorre exclusão da representação de algumas minorias e a sobrerrepresentação
da maioria
. Vantagem: governabilidade
- Ao ampliar a representação da maioria eleitoral no parlamento, o sistema
majoritário garante ao governo um amplo apoio parlamentar para governar – ao
contrário do sistema proporcional, em que, raramente, o governo escolhido nas
urnas dispõe de maioria parlamentar
- Brasil: o Presidente é eleito por maioria absoluta dos votos, mas o partido e as coligações
não conseguem conquistar a maioria das cadeiras nas duas casas do parlamento: Senado
+ Câmara dos Deputados
. O governo é obrigando a fazer uma ampla negociação pós-eleitoral com as lideranças
dos diversos partidos representados no Legislativo – o intuito é formar uma maioria
que dê sustentação às ações do governo
. Sérgio Abranches chama esse sistema de articulação pós-eleitoral entre Executivo e
Legislativo de “presidencialismo de coalizão” – para ele, o governo é, de fato, exercido
pelo Presidente, mas a sua “governabilidade” está ancorada em uma ampla coalizão
de partidos formada após as eleições
- A dificuldade de formar maiorias para dar sustentação ao governo atinge regimes
presidenciais baseados em eleições proporcionais para o parlamento e regimes
parlamentaristas baseados em eleições proporcionais
. Israel: todo partido que tenha conquistado 2% dos votos tem garantida a sua
representação no parlamento
- A formação dos governos se dá após as eleições e longas e complicadas
negociações entre os partidos
. Grã-Bretanha: o sistema eleitoral é majoritário de turno único
- Após apurados os votos, os eleitores sabem qual será o governo e quem será o
primeiro-ministro
. Se vencedor for o “partido conservador”, então todo governo será composto
pelos conservadores – e o primeiro-ministro (chefe do governo) será o líder do
partido majoritário que por sua vez também foi eleito parlamentar pela sua
circunscrição
. Se vencedor for o “partido trabalhista”, então todo governo será composto
pelos trabalhistas – e o primeiro-ministro será o líder do partido no parlamento
- A maioria eleita tem sempre ampla representação em relação à minoria
- A terceira força eleitoral (Partido Liberal-Democrata) raramente consegue
representação no parlamento
- Desvantagem dos sistemas de representação majoritária: exclusão das minorias
- Vantagem dos sistemas de representação proporcional: representação parlamentar das
minorias
. Brasil: sistema de representação proporcional lista aberta
- Permite a representação das minorias no parlamento – desde que elas estejam
organizadas dentro de um partido, financiem o seu candidato e trabalhem pela sua
eleição
- Em SP (70 cadeiras na Câmara dos Deputados), uma minoria equivalente a 2% do
eleitorado tem condições de eleger um deputado, desde que se organize e
trabalhe para isso
. Diante de tantos prós e contras dos sistemas eleitorais (proporcional de lista aberta ou de lista
fechada ou majoritário de turno único ou de dois turnos) é que tanto se discute – e nunca se
faz – uma reforma política no Brasil – uma reforma do sistema eleitoral
- E olha que entre as formas básicas de representação (majoritária e proporcional) ainda
existe um meio termo
. Alemanha: sistema misto
- 50% das cadeiras do parlamento são preenchidas conforme o sistema majoritário
- 50% pelo sistema proporcional
. A forma híbrida alemã seria uma alternativa a ser adotada pelo Brasil, mas ela não tem
encontrado respaldo na opinião pública e entre os parlamentares (quem aprova
mudanças dessa envergadura)
- Existem dois sistemas básicos de representação parlamentar, utilizados nos diversos
países democráticos do mundo:
. Proporcional
. Majoritário (ou distrital)
- Cada um desses sistemas se subdivide em dois:
. Sistema proporcional de lista aberta e de lista fechada
. Sistema majoritário de eleição em único turno e em dois turnos
- Existe ainda um sistema misto (Alemanha)
. Os sistemas eleitorais guardam relações diretas com o sistema de partidos em cada sociedade
– ambos exercem influência um sobre o outro
- O sistema eleitoral influencia o sistema de partidos
- O sistema de partidos influencia o sistema eleitoral

- SISTEMAS DE PARTIDOS
. Nos regimes democráticos existem dois sistemas de partidos:
- Sistema Bipartidário: comum nos países anglosaxões
. Estados Unidos: democratas e republicanos
. Grã-Bretanha e Austrália: conservadores e trabalhistas
- Sistema Pluripartidário: no restante dos países democráticos
. Três ou mais partidos encontram-se em disputa
. Maurice Duverger17: em 1950, empreendeu um grande e detalhado estudo sobre os partidos
políticos no mundo
- Ele estabelecer relações de causa e efeito entre os sistemas eleitorais e os sistemas
partidários – as chamadas “três leis sociológicas de Duverger”
. Lei : a representação proporcional tende a um sistema de partidos múltiplos, rígidos,
independentes e estáveis (salvo o caso de movimentos passionais)
- Caso típico do Brasil
- 19 partidos encontravam-se representados na Câmara dos Deputados em
setembro de 2009
. O senso comum costuma desprezar os partidos políticos brasileiros,
classificando-os como organizações inorgânicas e indiferenciadas. Ao
contrário, enaltece a coesão, disciplina e coerência do partidos de países
desenvolvidos
- O autor acha que os partidos brasileiros são agremiações bastante
consolidadas e estáveis.
- Desde a CF de 1988, os partidos são basicamente os mesmos
. Ao final da Assembleia Nacional Constituinte, havia 13 partidos
representados na Câmara dos Deputados, 12 dos quais ainda
continuam atuantes no parlamento
- Todos os grandes partidos (mais de 50 deputados) já existiam e eram
importantes há 20 anos
- Todos os partidos médios (mais de 20 e menos de 50 deputados) já
tinham atuação na Câmara dos Deputados no final dos anos de 1980
- Entre os quatro pequenos partidos (possuem mais de 10 e menos de 20
deputados) apenas o PV não existia ao tempo da Constituinte
17 Cientista político francês.
- Existem seis partidos “nanicos” (menos de dez deputados): juntos, eles
não reúnem mais do que 16 dos 513 deputados federais
. A existência de 19 partidos em exercício reflete a pluralidade econômica,
social e política do Brasil contemporâneo – esse número não compromete a
governabilidade no País
- Todos os governos conseguiram costurar acordos partidários,
assegurando uma base parlamentar capaz de aprovar os projetos do seu
interesse
- Exceção: governo Collor – ele não se esforçou para montar uma maioria
parlamentar para dar lhe sustentação no Poder Legislativo
. Lei : o escrutínio majoritário de dois turnos tende a um sistema de partidos múltiplos,
flexíveis, dependentes e relativamente estáveis (em todos os casos)
- Caso da França contemporânea (não da França de Duverger, que adotava o
sistema proporcional)
- Existem vários partidos de esquerda, de centro e de direita que disputam entre si
os votos no 1o turno – para o 2o turno, eles acabam se associando em um grupo
mais à esquerda e outro mais à direita
. Lei : o escrutínio majoritário de turno único tende a um sistema dualista, com
alternância de grandes partidos independentes
- Precisamente o caso dos países anglo-saxões:
. Presidencialistas: Estados Unidos (republicanos e democratas)
. Parlamentaristas: Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia (conservadores e
trabalhistas)
- As forças políticas organizaram-se e consolidaram-se em torno de duas
agremiações independentes que se alternam no poder
- Por isso, o sistema majoritário de turno único impôs-se como o mais adequado à
dinâmica política daqueles países
- Por que as três regras foram consideradas “leis sociológicas” e não regras jurídicas que
determinam a formação dos sistemas partidários
. Não existe uma arquitetura política que seja a mais desejável em qualquer
circunstância e aplicável a todas as sociedades
. Cada sociedade (com base em sua experiência, costumes e valores) acaba
desenvolvendo um conjunto de instituições políticas (que englobam o sistema de
governo e o sistema eleitoral) mais adequado à sua dinâmica
- EUA: criaram o presidencialismo há dois séculos e hoje não conseguem se
imaginar vivendo sob outra forma de governo
- Grã-Bretanha: o parlamentarismo foi-se desenvolvendo ao longo de muitas
décadas em um processo de transferência gradativa do poder do rei para o
parlamento – se cogita acabar com a monarquia, mas não com o regime
parlamentar
. As diferenças institucionais originam-se, portanto, da dinâmica histórica e política das
sociedades
- Dúvida: mesmo excluindo os 6 partidos nanicos (3% das cadeiras da Câmara dos
Deputados), os 13 partidos restante não são demais, quando comparados à vida partidária
americana (dominada por dois partidos que se alternam no poder)?
. Para o autor, 13 partidos nacionais não são muitos
- A sociedade americana é bem mais homogênea do que a brasileira: não há
grandes disparidades econômicas, sociais e culturais entre os Estados – a vida e a
dinâmica partidária não varia muito de um Estado para outro
. A dispersão partidária no Brasil é mais aparente do que real
- 4 grandes partidos reúnem 57% dos deputados
- 5 partidos médios detêm 30% das cadeiras da casa
- 4 partidos pequenos reúnem 10% dos deputados
. Não podemos, verdadeiramente, falar em dispersão eleitoral, atomização partidária e
problemas de governabilidade no Brasil
- Uma vez que 13 partidos conseguem:
. Reunir 97% dos deputados federais
. Representar a diversidade de 5.565 municípios, distribuídos por 27 Estados
em um território de 5,5 milhões de quilômetros quadrados
. A abordagem do autor sobre o sistema político partidário brasileiro é um tanto quanto otimista
em relação àquilo que se fala nas redes de televisão e se escreve nos jornais
- Estudos mostram que a vida e dinâmica partidárias no Brasil são bem mais consistentes e
estáveis do que se imaginava
. No Brasil (como em todos os regimes democráticos), a vida política se organiza e gravita em
torno de dois polos – que aglutinam os diferentes partidos e expressam posições políticas
opostas
- Duverger, ao se referir ao caráter dual das democracias, disse que:
. Opções políticas se apresentam sob a forma dualista
- Pode não haver dualismo dos partidos, mas quase sempre há dualismo das
tendências
. Toda política implica escolha entre dois tipos de soluções:
- As soluções intermediárias se relacionam umas com as outras – ou seja, não
existe centro em política
. Existe partido de centro, mas não tendência ou doutrina de centro
. Centro é o lugar geométrico em que se juntam os moderados das tendências
opostas, moderados da direita e moderados da esquerda
- Todo centro está dividido contra si mesmo, todo ele se separa em duas metades:
centro-esquerda e centro-direita
. O centro não é mais que o agrupamento artificial da parte direita da esquerda
e da parte esquerda da direita
. A polarização e oposição entre direita e esquerda é inerente aos regimes democráticos. Esses
regimes têm:
- Nos partidos políticos: os veículos de acesso dos diferentes grupos em disputa na
sociedade ao exercício do poder do Estado
- Nos diferentes sistemas eleitorais: os métodos de seleção daqueles que exercerão,
temporariamente, o poder político
- Mesmo que as noções de esquerda e direita tenham perdido o significado e clareza que
tinham décadas atrás, a polarização política permanece
. Importância dos temas aqui desenvolvidos:
- São essenciais para todos, principalmente para os futuros administradores públicos
. Atuando nas relações de poder e exercendo poder político – irá depender da
colocação funcional na estrutura hierárquica
. A alternância de grupos no poder é a regra: temos que estar preparados para atuar
sob a orientação de diferentes governos

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