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Grupo de Estudos

Direito das Obrigações – Canal Resenha Forense


Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

Estudos da Monarquia

Canal RESENHA FORENSE

MARCELO PICHIOLI DA SILVEIRA


Professor. Especialista em direito processual civil pela Universidade Cândido Mendes (Rio de
Janeiro/RJ). Membro da Associação Brasileira de Direito Processual (ABDPro). Parecerista da
Revista Brasileira de Direito Processual (RBDPro) e da Revista Eletrônica de Direito Processual
(REDP). Colunista do Empório do Direito.

ENCONTRO 1. É PRECISO DESMISTIFICAR A MONARQUIA


Assista:

Sumário: 1. O que me fez pensar em estudar a monarquia?; 2. E como desmistificar a Monarquia?

1. O que me fez pensar estudar a Monarquia?

Já faz tempo que venho desconfiando da narrativa mainstream que costuma aparecer
em manuais brasileiros de direito constitucional e de direito administrativo. A cultura
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acadêmica que se impregnou nos cursos de direito retroalimenta um inconsciente coletivo.


Pensa-se no Estado com uma excessiva abstração. Basicamente, os publicistas costumam
retroalimentar algo similar àquela narrativa desataviada1 de que o “Estado Liberal” esteve aí
para substituir reis perversos; que o “Estado Liberal” falhou e deu lugar “Estado Social”, onde
finalmente se sonhará com um paraíso terrestre que, na prática, nunca ocorreu.
Qualquer professor medíocre de direito administrativo dirá que, no princípio,
havia apenas trevas; e que as Monarquias foram, sempre, perversas, ainda que elas
continuem tendo sucesso absoluto em nações como Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido,
Canadá, Suécia, Noruega, Espanha, Dinamarca, Luxemburgo, Liechtenstein, Países Baixos,
Bélgica, Mônaco e Japão. Em conversa, falou-me EDUARDO JOSÉ DA FONSECA COSTA a
respeito do interessante caso da Suécia: trata-se de uma Monarquia constitucional
parlamentarista e, de acordo com a Constituição Sueca, sempre que o monarca morre, o
Parlamento deve reunir-se para decidir se a Monarquia persiste ou não. E a Suécia jamais
largou a monarquia...
Conheci, nos últimos anos, pessoas inteligentíssimas que se colocaram como
monarquistas. Essas pessoas tinham várias semelhanças entre si: a) todas eram estudiosas; b)
todas dominam, com exuberância, o direito lusitano; c) todas têm excelente repertório
historiográfico; e d) todas eram experientes e amadurecidas.
Como qualquer estudante que sempre ouviu a mesma ladainha, foi evidente, em
mim, a desconfiança com a monarquia. Por isso, não julgo aqueles que permanecem com
esse sentimento: pode parecer estranho imaginar uma família predominante sobre as demais
com a chancela do transcendente... Um poder no sangue.
Por outro lado, há muita mitificação por trás da Monarquia. E o grau de mitificação
é diretamente proporcional à escala de santificação da República. Depois da Revolução
Francesa e do peso do “iluminismo” sobre nós, conceitos como direitos naturais, tradição,
hábito, costume, moral e nação passaram imediatamente para uma “caixa” do cérebro chamada
“coisas para desconfiar”.
A perfeição da humanidade, segundo o senso comum absolutamente reinante na
academia, teria surgido com a Revolução Francesa, genialmente comparada por ALEXIS DE
TOCQUEVILLE com revoluções religiosas: ela “considerou o cidadão de um modo abstrato,
apartado de todas as sociedades particulares, assim como as religiões consideram o homem
em geral, independentemente do país e da época. Não indagou apenas qual era o direito
particular do cidadão francês, mas quais eram os deveres e os direitos gerais dos homens em

1
Vide, e. g., BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 8.ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
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matéria política”2. “O Estado moderno não pretende realizar essa unidade? Mas que métodos
usa, senão os coativos? Busca-se o ecumênico, o universal pela coação. Não há mais o
consensus, senão em estamentos sociais, que por sua vez se mantém separados dos outros”3.
Segundo esses professores reducionistas, apaixonados pelo hiperpublicismo
“racional” e estatolatário – e eles são típicos na graduação –, os “órgãos” estatais são “puros”,
“incorruptíveis” e vocacionados ao cumprir dos límpidos princípios. A República seria,
portanto, a escolha mais inteligente. Quem defender a Monarquia é espécime excêntrica.
Isso tem sido mais frequente nos cursos de direito, com discursos coletivistas perigosíssimos
(exemplo: classificação de calouros segundo estirpe social – isso ocorreu na Faculdade de
Direito da USP) e com simplificações da realidade (exemplo: teoria da “apropriação
cultural” – fomento de agrupamento de sujeitos ocultos, abstratos, genéricos e coletivos 4,
numa religião étnica condenável).
A geração que nasceu no século XXI se acha no direito de contestar, só para
exemplificar, as posições da Igreja Católica. Pois bem: “a Igreja não é do seu tempo; ela é
de todos os tempos. Depois de muita, muita, MUITA deliberação é que a Igreja,
eventualmente pode mudar um ou outro preceito acessório... Mas esperar que a religião
mais explicadinha e intelectualmente robusta que existe vá contra sua própria essência é se
comportar como aquele querido personagem infantil que queria muito uma bola quadrada”5.
O ponto de vista cristão – como muitos outros – não sumirá. As teorias “sociológicas” não
darão conta, jamais, de explicar um sem número de fatores. A religião exerce um desses
papeis de difícil apreensão.
A política racionalista acha que um “caderninho de instruções” dará conta do
recado. Mas é evidente que “o manual contém somente o que cabe em suas páginas... regras
técnicas”6. Exatamente o que acontece na estrutura burocrática estatal da República que, até
agora, não mostrou a fraqueza do Império. Não custa anotar que o texto constitucional que
mais durou entre nós foi a Constituição do Império, de 1824. Foram 66 anos de existência;
não fosse o golpe republicano, estaria conosco até hoje. A Constituição da República de
1988 mal completou seus 30 anos e já está perto de sua centésima Emenda Constitucional
(!). Duvido muito que esse texto durará mais três décadas. Até porque DOM PEDRO II, com
todo o poder moderador, foi muito mais comedido que esse despotismo esclarecido do

2
TOCQUEVILE, Alexis de. O Antigo Regime e a Revolução. Trad. Rosemary Costhek Abílio. São Paulo:
Martins Fontes, 2017, p. 15.
3
SANTOS, Mário Ferreira dos. Filosofia da Crise. São Paulo: É Realizações, 2017, p. 117.
4
MORGENSTERN, Flávio. De boas intenções, o Congresso está cheio. Podcast “Senso Incomum”. Disponível
em: https://goo.gl/YFvix7. Acesso em 01 mar. 2019.
5
CANAL BRASILEIRINHOS. Não Tenhais Medo ep. 13: GOD MODE 6. Disponível em:
https://goo.gl/KFpEbW. Acesso em 01 mar. 2019.
6
OAKESHOTT, Michael. Conservadorismo. Trad. André Bezamat. Belo Horizonte: Âyiné, 2016, p. 53.
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Supremo Tribunal Federal que hoje fagocita o poder com o controle abstrato de
constitucionalidade, como vem ocorrendo na ação direta de inconstitucionalidade por
omissão. Conta-se que quando o presidente da Venezuela, JUAN PABLO ROJAS PAÚL, soube
da queda do império brasileiro, afirmou: “Se ha acabado la unica Republica que existia en
America: el Imperio del Brasil”7.
Quando ERIC VOEGELIN estudou as razões por trás da ascendência de um A.
HITLER, p. ex., cravou que os manuais de “teoria geral do Estado” não servirão de nada:
esses manuais arrolam “princípios gerais bem conhecidos, primorosamente dispostos como
num livro didático”8... A lição de VOEGELIN é inteiramente cabível no estudo das
Monarquias. Não se pode explicar a Monarquia segundo esquematismos gerais e abstratos.
Nem a República! O esquema político-estatal não é engendrado segundo a régua imaginada
em gabinetes. Há a força da tradição, do hábito, dos costumes.
Segundo um grande amigo, JUAREZ ROGÉRIO FELIX, os republicanos brasileiros
saquearam o Palácio Real roubando joias, pertences e móveis. Destruíram, também, um
Imperador aclamado pelo mundo inteiro. PEDRO II tinha prestígio menor apenas do que o
Papa. O presidente americano teria dito: “Não se sabe porque caiu a Monarquia do Brasil”. E até
hoje essa República capenga só contribuiu para o roubo e a destruição da nação. Avançou
com ditaduras evidentes (1930-1945; 1964-1988). Teve, sempre, instabilidade.
Geralmente, a acusação é que PEDRO II acumulara poder demais... Sobre isso, JUAREZ
ROGÉRIO FELIX diz: “o problema não é, como muitos diriam, o Imperador, mas o
Parlamento, teratomaquia de vendilhões. Já na Constituinte de 1823 nosso herói maior
Dom Pedro I teve que dissolvê-la, pois as raposas se engalfinhavam pelos destroços das
galinhas. Outorgou uma Constituição Liberal, que já não previa a escravidão. Esta era
defendida com base na teoria americana de que o direito público (Constituição) não se
sobrepunha ao direito privado (propriedade). Nos rincões do Brasil a escravidão acabou
apenas com o Código Civil de 1916, substituto das Ordenações Filipinas”. EDUARDO JOSÉ
DA FONSECA COSTA acrescentou que o presidente argentino da época, BARTOLOMÉ MITRE,
afirmou que o Brasil seria a “democracia coroada”...
Há muito a desvendar.

2. E como desmistificar a Monarquia?

7
CALMON, Pedro. História da Civilização Brasileira. Brasília: Senado Federal, 2002, p. 217.
8
VOEGELIN, Eric. Hitler e os Alemães. Trad. Elpídio Mário Dantas Fonseca. São Paulo: É Realizações, 2007,
p. 73.
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Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

Só muita leitura e muita abertura do espírito podem aquebrantar o mito por trás
das Monarquias. Para tanto, proponho uma fase inicial consistente num avanço paulatino da
seguinte grade bibliográfica:
• A Democracia Coroada – JOÃO CAMILO DE OLIVEIRA TORRES;
• Imperador Cidadão – RODERICK J. BARMAN;
• As barbas do Imperador – LILIA SCHWARCZ;
• Joaquim Nabuco – Um Estadista do Império – JOSÉ THOMAZ NABUCO DE ARAÚJO;
• O que é Parlamentarismo Monárquico – IVES GANDRA DA SILVA MARTINS; e
• alguns textos constitucionais das monarquias modernas.

O 2.º encontro começará o exame da primeira obra: A Democracia Coroada, de JOÃO


CAMILO DE OLIVEIRA TORRES.

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