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CAPOEIRA

CEM ANOS DO ASSASSINATO DE ROSA


LUXEMBURGO (DEMOCRACIA NAS
NOTAS SOBRE A REVOLUÇÃO RUSSA)
_____________________________________
Revista de Humanidades e Letras RESUMO
ISSN: 2359-2354 O presente artigo pretende recuperar a trajetória da Revolucioná-
Vol. 5 | Nº. 1 | Ano 2019 rio polonesa Rosa Luxemburgo, destaca-se sua crítica ao partido
bolchevique nas notas sobre a Revolução Russa escritas no ano de
1918 e publicadas postumamente por Paul Levi em 1921.
Palavras-chave: Rosa Luxemburgo; Revolução Russa; marxis-
mo.
Paulo Alves Junior
UNILAB
____________________________________
ABSTRACT
This artiche to recover the trajectory of the polish Revolution Ro-
sa Luxemburg, stands out its criticismo of the bolshevik party in
the notes on the Russian Revolution written in 1918 and publis-
hed by Paul Levi posthumosly in 1921
Keywords: Rosa Luxemburg; Russian Revolution; marxism.

Site/Contato
www.capoeirahumanidadeseletras.com.br
capoeira.revista@gmail.com
Editores
Marcos Carvalho Lopes
marcosclopes@unilab.edu.br

Pedro Acosta-Leyva
leyva@unilab.edu.br
Paulo Alves Junior

CEM ANOS DO ASSASSINATO DE ROSA


LUXEMBURGO (DEMOCRACIA NAS NOTAS SOBRE A
REVOLUÇÃO RUSSA).
Paulo Alves Junior 1

Poucos são os intelectuais que, devido a forma ereta de agir e pensar a respeito da “vida
social”, se colocam adiante de seu tempo. As escolhas políticas e sociais, determinam, em grande
medida, a grandeza daqueles que procuram compreender a condição humana e, devido a isso,
definem uma conduta crítica durante anos. Entre esses poucos se destaca a figura de Rosa Lu-
xemburgo.
Rosa nasceu na Polônia em 5 de março de 1870 na cidade de Zamosc, sendo a caçula
numa família de 5 filhos. Fugindo da perseguição que sofria em sua cidade, desde 1887 quando
passa a militar no movimento operário polonês, chega em Zurique no ano de 1889. Na capital da
Suíça ingressa na Universidade para estudar economia política. Defende sua tese de doutorado
em 1897 – a respeito do desenvolvimento industrial na Polônia – no ano seguinte parte para a
Alemanha e começa a trabalhar para a socialdemocracia2.
Seu ingresso nas polêmicas da socialdemocracia alemã ocorre a partir de então, quando a
disputa em torno da mudança nos rumos da socialdemocracia ganha fôlego e a figura de Berns-
tein, como principal responsável pela inflexão, principalmente após a morte de Engels e a cria-
ção da Segunda Internacional, leva o partido a sua crise mais grave antes da primeira guerra
mundial:
O debate com Bernstein iniciou a crise mais grave e demorada da socialdemocracia internacio-
nal antes da guerra. Ele convocou todos os pensadores práticos marxistas para o campo de ba-
talha: na Alemanha, Párvus, Kautsky, Mehring, Bebel, Clara Zetkin; na Rússia, Plekhánov, que
defendia o materialismo histórico, sobretudo no campo filosófico; na Itália, Antonio Labriola;
na França, Jules Guesde e até mesmo Jean Jaurès, cujo temperamento impetuoso, inflamado
pelas tradições da grande Revolução, o levou além das concepções de Bernstein, que para ele,
apesar de aparentadas com seu pensamento político, eram muito sóbrias e pedantes. (Frölich,
2019, p. 63).

A militância sempre foi pedra de toque e fonte de inspiração intelectual, sua produção foi
extremamente significativa, ensaios, panfletos, brochuras, além da oratória e repertório intelectu-
al invejável. Sua tomada de posição diante dos impasses da social democracia na Alemanha e o
embate com Lênin após a Revolução de 1905 são marcos. O desfecho dessa trajetória de menos

1
Professor Adjunto da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afrobrasileira (Unilab/Campus
Malês)
2
A respeito J. P. Nettl afirma: “Rosa Luxemburgo chegou em Berlim no dia 12 de março de 1898. Seus primeiros
atos oficiais foram se inscrever na polícia para receber uma identidade (não há nenhum problema, meus papéis estão
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Cem anos do assassinato de Rosa Luxemburgo (democracia nas Notas sobre a Revolução Russa)

de 20 anos como uma das maiores intelectuais do Partido Social Democrata Alemão (adotaremos
sua sigla em alemão – SPD) começa a ganhar contorno trágico com a votação de créditos da
guerra no Reichstag e a capitulação da social democracia.
Entre as polêmicas travadas ao longo dos anos, sua categórica oposição as propostas de-
fendidas por Bernstein e Kautsky são destaque, porém nada se compara ao choque gerado pela
concessão dos créditos para a participação do exército alemão na primeira guerra mundial. Com
uma surpreendente decisão, a bancada socialdemocrata decidiu sua posição com relação aos cré-
ditos de guerra, segundo Isabel Loureiro:

A 4 de agosto, a aprovação unânime dos créditos de guerra por parte da bancada da social de-
mocracia no Reichstag representa o golpe de misericórdia na proposta de ação de massas de-
fendida por Rosa. Como sabemos, a socialdemocracia converte-se a política da União Sagrada
em torno da pátria, abandonando o princípio marxista da luta de classes, tanto no plano prático,
o que não era novidade, quanto no teórico. A Internacional-Kautsky passará a explicar – é ins-
trumento adequado a tempo de paz, não a tempos de guerra. (Loureiro, 2017, p.19).

A medida covarde dos membros do SPD – aceitar as decisões do imperador Guilherme


quanto a aprovação dos créditos para a guerra – foi o estopim para que membros do partido rom-
pessem e formassem um grupo revolucionário contrário a, cada vez mais, medidas revisionistas e
conciliatórias da social democracia. Durante a primeira guerra (1914-1918), que se mostrou uma
carnificina para a classe operária, teve ainda no mês de agosto a elaboração do manifesto que
levaria a criação da Liga Espartaquista, com participação de Rosa, Liebknecht entre outros.
O contexto fundamental nas obras de Rosa Luxemburgo tem como pano de fundo os
acontecimentos que foram desencadeados pela primeira guerra, principalmente as revoluções na
Rússia e na Alemanha. Tratando do comportamento acovardado da socialdemocracia, Rosa per-
de qualquer esperança com relação a participação do partido ao lado dos interesses de massa.
Nesse cenário de profunda desesperança que estreita os laços de amizade com Karl Liebknecht.
No dia 18 de fevereiro de 1915 ela foi detida e levada à penitenciária em Berlim, depois
de ter passado um período relativamente longo com sérios problemas de saúde. “A intenção era
enterrar viva a perigosa revolucionária, enquanto durasse a guerra. De fato, começara a dura pri-
são que, por uma breve interrupção, duraria até Rosa ser libertada pela revolução.” (Frölich,
2019, p. 223).
Nos anos de prisão escreve, sob o pseudônimo de Junius3 (1916), o panfleto A crise da
social democracia:

todos em ordem) e, logo após, se apresentou na sede do partido social democrata alemão (SPD). Seu estado de
ânimo era de desespero e determinado, como sempre violentamente alternados”. (Nettl, 1974; p. 117).
3
“Rosa quis assinar o escrito com seu nome. No entanto, amigos a convenceram de que o gesto corajoso não
conseguiria compensar o dano que adviria de um novo encarceramento. Assim, ela escolheu o pseudônimo de
Junius. Honrava, dessa forma, o nome tão maltratado do grande defensor da Constituição inglesa contra os ataques

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Essa brochura representa um impiedoso ajuste de contas com a Internacional socialista, com a
socialdemocracia alemã e com o próprio proletariado por terem todos, cada um à sua maneira,
aderido ao delírio bélico. No seu entender, a humanidade encontra-se perante a seguinte alter-
nativa: socialismo ou barbárie. Pensa, entretanto, que nem tudo estará perdido se as massas
proletárias souberem tirar lições dos seus próprios erros. (Loureiro, 2017, p.20).

No seu terceiro ano de prisão, mais precisamente em setembro de 1918, Rosa Luxembur-
go escreve as notas conhecidas com o título A Revolução Russa. Nestas, redigidas na prisão, pu-
blicadas postumamente por Paul Levi em 1922, Rosa crítica, a política autoritária dos bolchevi-
ques. As condições que foram impostas pela Revolução levaram as lideranças – Lênin e Trotski
– a adotar ações de coerção que afetavam as massas. O contexto, em que pese a derrota da Revo-
lução na Alemanha, limitou a adoção de medidas democráticas. Rosa crítica essas ações da lide-
rança bolchevique, mas, justiça seja feita, ela os coloca em grande conta pela enorme coragem
revolucionária, e questiona a “necessidade como virtude” e a concepção de uma “única via” para
o socialismo.
Ela entende que a realização do socialismo exige vida pública, espaço público, total li-
berdade para as massas trabalhadoras. Não basta um partido prenhe de vontade para que o socia-
lismo se instale, esse passo só será possível com a experiencia e ação das massas, toda contradi-
ção que os acontecimentos podem impor na complexidade dos fatos, somente com plena liberda-
de de escolher quais serão os melhores encaminhamentos para solucionar os obstáculos, ou
mesmo voltar atrás quando necessário, é parte do processo de aprendizagem revolucionária.
O que também ganha destaque nessa brochura A Revolução Russa é a discussão a respei-
to dos caminhos para instalar a “ditadura do proletariado” e a democracia no contexto revolucio-
nário. Falsificada em demasia nos dias que correm, em que sua premissa de “valor universal” cai
por terra e ganha muito mais um aspecto adjetivo4 do que uma preocupação premente com os
valores universais necessários para um bom e saudável funcionamento da sociedade. Dessa for-
ma, o impacto da publicação gerou polêmicas e Lênin se opunha ao que ele chamava de “erros

absolutistas de Jorge III: tinha o mesmo conhecimento dos fatos políticos, a mesma virulência do ataque, a mesma
impetuosidade da argumentação, a mesma força e elegância da linguagem, mas esta última era mais intempestiva e
mais passional, como exigia a monstruosidade dos acontecimentos.” (Frölich, 2019, p. 226).
4
“Quando em polêmica com Kautsky, Lênin afirmou que não existe democracia pura, que a democracia é sempre
burguesa ou proletária, ele não estava pondo em discussão o que Berlinguer chama hoje de valor universal da
democracia política. O que Lênin tinha em vista, contra o formalismo oportunista de Kautsky, não era negar a
validade do substantivo democracia, mas lembrar que – no plano do conteúdo histórico-concreto – ele aparece
sempre adjetivado. Em outras palavras: fiel aos ensinamentos de Marx e Engels, Lênin afirmava não poder existir –
salvo em breves períodos de transição – regime estatal sem conteúdo de classe determinado, sem que uma classe
fundamental no modo de produção determinante exerça através desse regime (não importa por meio de quantas
mediações) sua dominação sobre o conjunto da sociedade. Contra a concepção liberal de democracia defendida por
Kautsky (o Estado democrático como um regime político neutro e situado acima das classes), Lênin reafirmava – no
nível permitido por uma situação histórica concreta – os princípios básicos da teoria marxista da democracia.
(Coutinho, 1980, p. 22).
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teóricos de Rosa Luxemburgo”. A verdade é que podemos ter a interpretação dos acontecimentos
de outubro de 1917 na Rússia como um “erro estratégico de grandes revolucionários”5.

Notas sobre a Revolução Russa (crítica aos bolcheviques)

É conhecida a tentativa de Lênin, através de Clara Zetkin, de inibir a publicação da aná-


lise de Rosa Luxemburgo a respeito da revolução Russa6. Com tentativa de persuasão não foi
adiante em 1921, Paul Levi publica as impressões que Rosa teve a respeito do levante Bolchevi-
que de Outubro de 1917. Com todos seus méritos e tratativas extremamente elogiosas a ação
digna e corajosa dos bolcheviques, a defesa de todo poder aos sovietes e das figuras expressivas
de Lênin e Trotsky, os acontecimentos não deixaram de sofrer crítica de Rosa.
Um dos questionamentos realizados por Rosa Luxemburgo, que implica em sua polêmica
quanto a democracia imperante no contexto da Revolução Russa, é a respeito da omissão dos
Bolcheviques – aqui explicitamente a crítica é a Lenin e Trotsky – com relação a ação revolucio-
nária e anexação a Rússia dos estados que saíram do conflito de 1914 a 1918, o argumento fica,
naquilo que Rosa chama de “oca fraseologia pequeno-burguesa”, na defesa do “direito das na-
ções à autodeterminação”. Ela afirma:

Essa contradição flagrante é tanto mais incompreensível quanto as formas democráticas da vida política em
todos os países, constituem de fato os mais preciosos e indispensáveis fundamentos da política socialista.
Esse direito faz parte do bê-á-bá da politica socialista que a pequena burguesia combate, como qualquer es-
pécie de opressão, também a opressão de uma nação por outra. (...) Se políticos tão lúcidos como Lênin,
Trotsky e seus amigos, que não fazem senão dar de ombros ironicamente a qualquer espécie de fraseologia
utópica como desarmamento, sociedade das nações etc., desta vez fizeram um cavalo de batalha de uma
frase oca precisamente da mesma categoria, isso ocorreu, por uma espécie de política circunstancial. (Lu-
xemburgo, 2015, p. 168).

5
No ensaio a respeito da brochura “Revolução Russa”, G. Lukacs afirma: “O que importa é o conteúdo efetivo da
brochura. Porém, o princípio, o método, o fundamento teórico, a avaliação geral sobre o caráter da revolução que
condiciona, em última análise, a tomada de posição em relação às questões individuais é mais importantes do que a
atitude adotada em relação aos problemas particulares da Revolução Russa. Estes foram, em grande parte, resolvidos
com o passar do tempo” (Lukacs, 2003, p. 490)
6
“Querida Clara, digo-o abertamente: a bagagem que os russos, no momento, põem nas costas do comunismo, nós
comunistas alemães, mal a poderíamos arrastar, mesmo que ainda tivéssemos um Partido Comunista – que Deus me
perdoe se não levo em conta o atual...
Os russos têm agora um método cômodo. Quem diz alguma coisa (contra eles) é menchevique. Assim sendo,
considero uma necessidade do momento escancarar as fontes mais profundas dos erros dos russos em termos
puramente ideológicos; na minha opinião, é preciso mostrar que esses erros provêm de uma concepção leninista que
Rosa Luxemburgo combatia há cerca de 20 anos e que, tanto pela causa como contra um método demasiado
cômodo, é preciso distanciar-se do menchevismo. (...) Um Lênin deveria saber afinal que menchevismo é algo
completamente diferente. Acredito que existe uma diferença profunda, tanto entre Rosa e os mencheviques, quanto
entre Rosa e os bolcheviques. Penso, querida Clara, que você não faz justiça a Rosa quando reduz tudo a mal-
entendidos, a falta de informação – Rosa estava muito bem informada – ou a mau humor pessoal.
Uma pessoa com uma visão de mundo tão completa como Rosa é sempre a mesma por toda parte: quer escreva o
programa de Spartakus ou critique os bolcheviques, quer escreva artigos ou livros, quer faça um discurso ou tome
decisões táticas – é sempre a mesma pessoa, e precisamente o que consola é que existam ou tenham existido pessoas
assim.” (Paul Levi, em 23 de setembro de 19221, a Clara Zetkin. In: Schütrumpf, 2015, p.150).

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Rosa Luxemburgo tem como ponto inicial de sua analise a respeito da Revolução Russa,
a falta de consciência e a incapacidade do proletariado alemão de levar adiante um projeto revo-
lucionário que permitisse que os acontecimentos de Moscou em outubro de 1917 fossem levados
adiante e realizassem um movimento de tomada do poder por parte do proletariado alemão e rus-
so, aqui a “falta de maturidade do proletariado alemão para cumprir sua missão histórica” (Lu-
xemburgo, 2015, p. 153).
A possibilidade de imaginar que o primeiro experimento histórico mundial de ditadura da
classe operária, realizado nas mais difíceis condições, o caos provocado pelo genocídio imperia-
lista que caracterizou a primeira guerra mundial, que o experimento da ditadura operaria em
condições tão anormais, tudo o que se fez ou deixou de fazer na Rússia alcançasse o cúmulo da
perfeição. Ao contrário, os conceitos elementares da política socialista e a compreensão dos
pressupostos históricos necessários à realização dessa política obrigam a reconhecer que em
condições tão fatais, nem o mais gigantesco idealismo, nem a mais inabalável energia revolucio-
nária seriam capazes de realizar a democracia e o socialismo, mas apenas rudimentos frágeis e
caricaturas de ambos
Analisar a Revolução Russa em todo o seu complexo desenvolver histórico, é a forma
mais correta de educar os trabalhadores alemães e de outros países para as tarefas resultantes da
situação atual. Para a autora é salutar que o enfrentamento travado no calor do genocídio, foi de-
cisivo para o educar dos bolcheviques, o que permitiu a eles assumirem a vanguarda revolucio-
nária e apontar as contradições e limites da classe operária na Alemanha e a debilidade de seus
dirigentes.
A proposta através do lema “Paz, pão e terra”7, fez com que os movimentos a serem ado-
tado pelos revolucionários fossem definidos em outubro de 1917. Na tentativa de instituir na
Rússia uma democracia, os bolcheviques foram os responsáveis por sua radicalização. “coube
aos bolcheviques o mérito histórico de ter proclamado e seguido, desde o início, com uma coe-
rência férrea, a única tática que podia salvar a democracia e fazer avançar a revolução. Todo o
poder exclusivamente nas mãos das massas trabalhadoras e camponesas, nas mãos dos sovietes –
essa era de fato a única saída para as dificuldades em que a revolução havia caído, o golpe de
espada que cortava o nó górdio, tirava a revolução do impasse e deixava o campo livre para que
ela continuasse a se desenvolver sem entraves.
Depois de poucos meses, a situação real da Revolução Russa resumia-se à alternativa: vitória
da contrarrevolução ou ditadura do proletariado, Kaledin ou Lênin. Essa situação objetivava a

7
“Ao tratar-se da gênese da produção capitalista, eu disse que, no fundo, ela é a separação radical entre produtor e
seus meios de produção e que a base de toda essa evolução é a expropriação dos agricultores. Ela só se realizou de
um modo radical na Inglaterra. (...). Mas todos os outros países da Europa ocidental percorrem o mesmo processo.”
(Carta de K. Marx a V. Zasulitch a respeito da possibilidade de revolução na Rússia em 1881, In: Marx e Engels,
2013, p.88).
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Cem anos do assassinato de Rosa Luxemburgo (democracia nas Notas sobre a Revolução Russa)

que chega rapidamente toda revolução, uma vez dissipada a primeira embriaguez, resultou na
Rússia das questões concretas e candentes da paz e da terra, para as quais não existia solução
nos limites da revolução “burguesa”. (Luxemburgo, 2015, p. 158).

“Todo o poder ao proletariado e campesinato!” Com essa assertiva Rosa mostra sua pon-
deração a um dos pontos, na sua percepção, críticos com relação a Revolução. Para ela, os bol-
cheviques também estabeleceram imediatamente, como objetivo da tomada do poder, o mais
avançado e completo programa revolucionário: não se tratava de garantir a democracia burguesa,
e sim a ditadura do proletariado, tendo como fim a realização do socialismo. Desse movimento
estabelecido pelos bolcheviques, eles adquiriram “o imperecível mérito histórico” de terem pro-
clamado, pela primeira vez, os objetivos finais do socialismo como programa imediato da prática
política. Tudo o que, num momento histórico, um partido pode dar em termos de coragem, ener-
gia, perspicácia revolucionária e coerência, foi plenamente realizado por Lênin, Trotsky e seus
companheiros. Dessa forma, Rosa mostra que a “honra e a capacidade de ação revolucionária”
que faltaram à socialdemocracia ocidental, principalmente a alemã, encontravam-se nos bolche-
viques. Com o levante de outubro, não somente salvaram, de fato, a Revolução Russa, “mas
também a honra do socialismo internacional.”
As objeções que explicita em suas notas a respeito da Revolução Russa, diz respeito ao
afastamento dos anseios democráticos que o processo revolucionário deveria defender. A tática
adotada por Lênin, Trotsky e as lideranças bolcheviques permeiam as dúvidas que Rosa levanta
sobre o caminho trágico que os acontecimentos tendem a tomar a medida que os valores demo-
cráticos são escamoteados. Sua avaliação, quanto a concepção bolchevique de uma Constituinte
mostra seus questionamentos:
Enquanto manifestavam um desprezo glacial pela Assembleia Constituinte, pelo sufrágio uni-
versal, pela liberdade de imprensa e de reunião, em suma, por todo o aparato das liberdades
democráticas fundamentais das massas populares cujo conjunto constituía o direito à autode-
terminação na própria Rússia, eles tratavam o direito das nações à autodeterminação como a
joia da política democrática, por amor ao qual era preciso calar todas as considerações práticas
da crítica realista. Enquanto não se tinham deixado impressionar minimamente pelo voto popu-
lar para a Assembleia Constituinte na Rússia – voto popular fundado no sufrágio mais demo-
crático do mundo, dado na plena liberdade de uma república popular – e, a partir de austeras
considerações críticas, simplesmente declararam nulo seu resultado, em Brest defenderam o
“voto popular” das nações não russas para decidir fazer, ou não, parte do Estado russo, apre-
sentando-o como o verdadeiro paládio da liberdade e da democracia, a quintessência inalterada
da vontade popular, a instância suprema, a instância decisiva na questão do destino político das
nações. (Luxemburgo, 2015, p. 167).

O episódio de Brest-Litovsky marca uma situação que o estado russo, frágil econômica e
militarmente naquele contexto, não poderia abrir mão. Os termos das condições de paz do Estado
Russo diziam:
Tendo o governo russo reconhecido, de conformidade com seus princípios, o direito de todos
os povos, sem exceção, que fazem parte do Estado russo a dispor de si mesmos e até a se sepa-
rar inteiramente, toma conhecimento das decisões que exprimem a vontade dos povos da Polô-
nia, da Lituânia da Curlândia, de parte da Estônia e da Finlândia, decididos a se separarem do
Estado russo e a se constituírem como Estados inteiramente independentes. (Serge, 2007,
p.191).

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A contraproposta russa exigia a evacuação desses países chamados a decidir, por si sós,
sobre a própria sorte. Essa decisão acabou aceita e plebiscitos locais acabaram definindo a “au-
tonomia” com relação a Rússia revolucionária. A crítica impositiva de Rosa a essa medida impli-
ca no entendimento do papel dos setores revolucionários. Não é compreensível abandonar de-
terminados povos ao jugo de suas lideranças imperialistas e, nas antípodas, subjugar as massas
locais a práticas pouco democráticas que não absorvem as demandas e carências de uma liberda-
de socialista
Essa influência constantemente viva do estado de espírito e da maturidade política das massas
sobre os organismos eleitos, justamente numa revolução, seria impotente perante o esquema rí-
gido das etiquetas partidárias e das listas eleitorais? Muito ao contrário! É justamente a revolu-
ção que, por sua efervescência e seu ardor, cria essa atmosfera política leve, vibrante, recepti-
va, na qual as vagas do estado de espírito popular, a pulsação da vida do povo, influem instan-
taneamente e do modo mais extraordinário sobre os organismos representativos. É justamente
sobre isso que se assentam sempre as cenas célebres e impressionantes, no estágio inicial de
todas as revoluções, em que velhos parlamentos reacionários ou muito moderados, eleitos no
antigo regime por um sufrágio restrito, transformam-se subitamente em porta vozes heroicos da
insurreição, em revolucionários românticos e impetuosos. (Luxemburgo, 2015, p. 176).

Desacreditar na relevância e grandeza das massas só pode diminuir os ganhos obtidos


pela Revolução. A proposta, que sempre passa pelos seus escritos segundo Isabel Loureiro
(2017), repercute negativamente na ação revolucionária. Em muitos casos, o papel do partido
não pode se colocar acima da centralidade das massas, com a traição da social democracia, para
Rosa não é possível subestimar, independente dos argumentos, o protagonismo das massas.
Dessa forma, é um contrassenso fazer do direito de voto um produto utópico, um produto
da imaginação desconectado da realidade social, sendo assim, não constitui um instrumento sério
da ditadura proletária. Quando, após a Revolução de Outubro, toda camada média, a intellingent-
sia burguesa e pequeno-burguesa boicotaram durante meses o governo soviético, paralisando as
estradas de ferra, os correios, o telégrafo, as escolas e o aparelho administrativo, insurgindo-se
assim contra o governo dos trabalhadores, impunham-se todas as medidas de pressão para que-
brar com mão de ferro a resistência contra ele: privação dos direitos políticos, dos meios de sub-
sistência etc. “Assim se exprimiria, com efeito, a ditadura socialista, que não deve recuar peran-
te nenhum meio coercitivo para impor ou impedir certas medidas no interesse de todos.” (Lu-
xemburgo, 2015, p. 179).
Mas o interesse de todos deve ser a “pedra de toque” dos bolcheviques, não pode existir
nenhum tipo de limite, ou mesmo prática que subverta a máxima “liberdade é a liberdade de to-
dos”. Que Lênin agiu dentro de “ideais” corretos e coerentes, não existe dúvida”, porém o preço
Rosa já mostrava que seria muito caro!
“Lênin diz: o Estado burguês é um instrumento para oprimir a classe trabalhadora, o Estado so-
cialista, um instrumento para oprimir a burguesia. Esse seria, por assim dizer, o Estado capita-
lista de cabeça para baixo. Essa concepção simplista negligência o essencial: a dominação de
classe da burguesia não requer a formação nem a educação política de toda massa do povo, pe-
lo menos não para além de certos limites estreitamente traçados. Para a ditadura proletária, ela
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Cem anos do assassinato de Rosa Luxemburgo (democracia nas Notas sobre a Revolução Russa)

é o elemento vital, o ar sem o qual não pode viver. As tarefas gigantescas que os bolcheviques
enfrentaram, com coragem e determinação, exigiam precisamente a mais intensiva formação
política das massas e acúmulo de experiencias, não é liberdade. Liberdade é sempre a liberdade
de que pensa de modo diferente. Não por fanatismo pela “justiça”, mas porque tudo quanto há
de vivificante, salutar, purificador na liberdade política depende desse caráter essencial e deixa
de ser eficaz quando a “liberdade” se torna privilégio)”. (Luxemburgo, 2015, p. 181).

O sistema social socialista não deve nem pode ser senão um produto histórico, nascido
da própria escola da experiência, da máxima liberdade possível, nascido da história viva, pois só
assim, “terá belo hábito de produzir sempre, junto com uma necessidade social real, os meios de
satisfaze-la; ao mesmo tempo em que a tarefa a realizar, a sua solução”. (Luxemburgo, 2015, p.
182). E assim sendo, é claro que os rumos da revolução, por sua própria natureza, não podem ser
outorgados nem introduzidos por decreto.
Se a vida pública nos Estados de liberdade limitada é tão medíocre, tão miserável, tão
esquemática, tão infecunda, é justamente porque, excluindo a democracia, ela obstrui a fonte vi-
va de toda riqueza e de todo progresso intelectual. No plano político, mas também econômico e
social. É preciso que toda a massa popular participe. Senão o socialismo é decretado, outorgado
por uma dúzia de intelectuais fechados num gabinete. (Luxemburgo, 2015, p. 182).
Quem governa é uma ditadura de poucos, de um punhado de políticos, ou seja, uma dita-
dura no sentido burguês. Esse obstáculo que já indicava elementos de coercitivos para estrutura
do Estado russo necessitava desaparecer para que não existisse uma classe dirigente cerceadora e
burocratizada. As notas, no que diz respeito ao futuro estado burocrático soviético, se mostraram
tristemente corretas.
O erro fundamental da teoria de Lênin e Trotsky consiste precisamente em opor, tal como
Kautsky, a ditadura a democracia. Ditadura ou democracia, assim é posta a questão, tanto pelos
bolcheviques, quanto por Kautsky. Este se decide naturalmente pela democracia, isto é, pela
democracia burguesa, visto que é a alternativa que propõe a transformação socialista. Em con-
trapartida, Lenin-Trotsky se decidem pela ditadura em oposição a democracia e, assim sendo,
pela ditadura de um punhado de pessoas, isto é, pela ditadura burguesa. São dois polos opostos,
ambos igualmente muito afastados da verdadeira política socialista. Quando o proletariado to-
ma o poder não pode nunca, segundo o bom conselho de Kautsky, renunciar à transformação
socialista, com o pretexto de que o “o país não está maduro”, e consagrar-se apenas à democra-
cia, sem trair a si mesmo e sem trair a Internacional e a Revolução. (Luxemburgo, 2015, p.
185)

Deve ser instalado a democracia sem limites. Como marxistas nunca fomos idólatras da
democracia formal, escreve Trotsky. A tarefa histórica do proletariado quando toma o poder,
consiste em instaurar a democracia socialista no lugar da democracia burguesa, e não em supri-
mir toda democracia. A democracia socialista não começa somente na terra prometida, quando
tiver sido criada a infraestrutura da economia socialista, como um presente de Natal, já pronto,
para o bom povo que, entretanto, apoiou fielmente o punhado de ditadores socialistas. “A demo-
cracia socialista começa com a destruição da dominação de classe e a construção do socialismo.

Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 1 | Ano 2019 | p. 98


Paulo Alves Junior

Ela começa no momento da conquista do poder pelo partido socialista. Ela nada mais é que a di-
tadura do proletariado.” (Luxemburgo, 2015, p. 185)
Ditadura que visa colocar em prática a democracia, deve almejar superar os entraves e
obstáculos instituídos pela sociedade burguesa. O poder político deve emanar das considerações
e decisões das camadas populares. O problema não pode ser resolvido na Rússia, ali ele só pode
ser colocado como problema para o mundo inteiro. Das ações de Lenin e Trotsky surge o “bol-
chevismo”.

A revolução alemã (o desfecho)

Enquanto a Revolução Russa seguia seu curso, a instabilidade política que pairava sobre
a Alemanha a partir de janeiro de 1919, levou a contrarrevolução ter elementos contundentes pa-
ra frear os avanços da Liga Espartaquista. Mas a classes dos trabalhadores tinha alguns trunfos
poderosos na manga. “Ainda possuía armas e vontade de lutar”. Uma ação planejada provavel-
mente teria arrastado com ela os regimentos berlinenses que haviam sido um desafio para os mi-
litares. A vitória de Berlim não era impossível, mas havia perigos por trás dessa vitória, na de-
mora do movimento no interior.
A derrota de Berlim foi selada pelo fracasso da liderança. A corporação, que anunciara
tão afoitamente a conquista do poder, não sabia o que fazer com ele. A Comissão Revolucionária
emitiu uma conclamação para uma manifestação em 6 de janeiro, distribuiu algumas armas e
empreendeu uma tentativa de ocupar o Ministério da Guerra. Isso foi tudo. Não se preocupou
com as tropas que haviam ocupado os jornais, não lhes atribuiu tarefas, abandonou-as em prédios
que nem tinham valor estratégico. A única medida militar razoável, a ocupação das estações fer-
roviárias, aconteceu por iniciativa dos próprios trabalhadores. A Comissão perdeu dias e noites
em intermináveis e infrutíferas discussões e acabou agarrando-se a negociações com o inimigo
que só desorientavam e desmoralizavam suas próprias fileiras.
As lideranças da Liga Spartacus, principalmente Liebknecht e Pieck, se empenharam por
ela e o prestígio de Liebknecht certamente colaborou para a decisão. Seu ímpeto o levava longe
demais, ele que era um instigador audacioso, mas não um político ou um estrategista de raciocí-
nio frio. Ele e Pieck agiram sem o conhecimento da direção do partido e esta não concordava
com uma luta que significava uma decisão final. Rosa Luxemburgo teve discussões seríssimas
com Liebknecht por causa de sua própria iniciativa. Admirada e indignada, ela lhe recordou as
regras táticas do programa espartaquista.
Rosa não rejeitava a luta por princípio. Mas queria assegurar sua condição de luta defen-
siva. O Partido Comunista conquistara simpatias entre as massas ativas de Berlim, mas ainda não

Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 1 | Ano 2019 | p. 99


Cem anos do assassinato de Rosa Luxemburgo (democracia nas Notas sobre a Revolução Russa)

era uma liderança reconhecida da classe e não estava pronto para organizar as tarefas monumen-
tais de uma luta pelo poder, e muito menos de exercer, ele próprio esse poder. Por esses motivos,
Rosa era a favor da resistência contra o golpe contrarrevolucionário a partir de objetivos que não
desencorajassem as massas indecisas de trabalhadores e soldados, mas que as fizessem progredir
substancialmente.
Enquanto durou a luta, a Rote Fahme insistiu sistematicamente nas palavras de ordem: desar-
mamento da contrarrevolução, armamento do proletariado, unificação de todas as tropas fiéis à
revolução e novas eleições para os Conselhos dos Trabalhadores e Soldados, para derrubar o
governo Elbert-Schidemann com esses fundamentos revolucionários e transformar os Conse-
lhos em verdadeiros centros de ação. A concretização desse programa pressupunha a vitória em
Berlim, o que também daria um impulso enorme ao movimento revolucionário. Por isso, Rosa
Luxemburgo insistia em levar adiante, com toda a energia, a luta já começada. (Loureiro, 2017,
p. 75).

As ações desencontradas e pouco precisas dos primeiros dias de janeiro de 1919, foram
decisivas para a fragilidade das lideranças revolucionárias, impedindo de levarem adiante a or-
ganização revolucionária. Nas palavras de um participe daquele momento:
No decorrer do dia 6 acabaram-se as ilusões da véspera; a Divisão popular da marinha, a única
tropa revolucionária, declara-se neutra. No total são menos de dez mil homens decididos a lutar
– um pequeno grupo de amigos de Eichhorn, alguns milhares de Espartaquistas entrincheirados
nos jornais e uma pequena parte dos delegados revolucionários. No dia 6 de janeiro de 1919,
embora ninguém soubesse, a revolução alemã tinha morrido. (Loureiro, 2017, p. 80)

A contraofensiva acaba por desorganizar o comitê revolucionário e a central do Partido Comu-


nista da Alemanha (KPD). Uma parte dos dirigentes se esconde ou se prepara para fugir para o
exterior, outros são presos. Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, que resolvem ficar ao lado dos
insurrectos, são detidos e brutalmente assassinados na noite de 15 de janeiro por membros de um
dos corpos francos, a Divisão de Cavalaria da Guarda, comandada pelo capitão Pabst. Os assas-
sinos de Liebknecht e da “sanguinária Rosa a porca judia”, tiveram penas leves, sendo conside-
rados heróis durante o Terceiro Reich. A imprensa burguesa, para quem a morte dos dois revolu-
cionários era consequência necessária de seu comportamento absurdo, escrevia:

Sangue clamava por sangue!” O banho de sangue pelo qual Liebknecht e Rosa Luxemburgo
eram responsáveis clamava por castigo. Este não tardou a chegar, e no caso de Rosa Luxem-
burgo foi cruel, mas justo. A polaca foi espancada até a morte. A temível e todo-poderosa cóle-
ra popular exigia vingança. (Nettl, 1974, p. 757).

Rosa Luxemburgo foi assassinada em 13 de janeiro de 1919, sua ação política partidária
é conhecida e sua figura está no Panteão, com lugar de destaque, daqueles que seguiram a tradi-
ção marxista e a inova com uma leitura peculiar e criativa dos pais do socialismo8.

8
Em 1962, em entrevista ao semanário alemão Der Spiegel, o mesmo Pabst de triste memória justifica o assassinato
de Rosa dizendo ter sido correto “eliminar essa demagoga”, porque presa, mais cedo ou mais tarde seria posta em
liberdade e voltaria a incendiar o coração das massas. (Loureiro,2017, p.89)

Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 1 | Ano 2019 | p. 100


Paulo Alves Junior

Durante a prisão dedica-se a um intenso reexame de suas ideias. É dessa época o famoso
panfleto de Junius, escrito na primavera de 1915 e publicado em janeiro de 1916 com o título A
crise da socialdemocracia. Essa brochura representa um imperioso ajuste de contas com a Inter-
nacional socialista, com a socialdemocracia alemã e com o próprio proletariado por terem todos,
cada um à sua maneira, aderido ao delírio bélico. No seu entender, a humanidade encontra-se
perante a seguinte alternativa: socialismo ou barbárie. Pensa, entretanto que nem tudo estará per-
dido se as massas proletárias souberem tirar lições dos seus próprios erros.
O legado de Rosa Luxemburgo, o que a fazia tão perigosa para o stalinismo em ascen-
são, não era de modo algum um sistema teórico, e sim suas posições políticas: sua implacável
exigência de democracia e de vida pública no campo da esquerda, assim como sua incorruptível
insistência na liberdade como condição fundamental para qualquer movimento emancipador.
O resgate dos ensinamentos – para pensarmos uma sociedade democrática, que tenha o
socialismo como fundamento sócio-político a plena e mais radical possível democracia para as
massas subalternas – dessa grande intelectual, que teve a vida ceifada pelos mais repugnantes
sicários do capital, merece ser utilizado para nosso entendimento de falsos e equivocados acor-
dos de uma suposta social democracia.

REFERENCIAS

COUTINHO, C. N. Democracia como valor universal. SP, Livraria de Ciências Humanas, 1980.
FRÖLIICH, P. Rosa Luxemburgo – biografia, SP: Boitempo/Iskra, 2019.
LOUREIRO, I. “As vicissitudes de um texto polêmico”, In: LUXEMBURGO, R. “A Revolução
Russa”, SP: Fundação Rosa Luxemburgo, 2017.
LUKÁCS, G. História e consciência de classe: estudos sobre a dialética marxista, SP: Martins
Fontes, 2003.
LUXEMBURGO, R. “A Revolução Russa”. In: SCHÜTRUMPF, J. Rosa Luxemburgo, ou o
preço da liberdade. (organizador Jorn Schütrumpf). SP: Expressão Popular, coedição Fundação
Rosa Luxemburgo, 2015, pp. 151 a 187.
NETTL, J.P. Rosa Luxemburg, México/D.F.: Edições ERA, 1974.
MARX, K e ENGELS, F. Lutas de classes na Rússia. SP: Boitempo, 2013.
SCHÜTRUMPF, J. Rosa Luxemburgo, ou o preço da liberdade. (organizador Jorn Schütrumpf).
SP: Expressão Popular, coedição Fundação Rosa Luxemburgo, 2015.
SERGE, V. O ano I da Revolução Russa, SP: Boitempo, 2007.

Paulo Alves Junior


Professor Adjunto da Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afrobrasileira
(Unilab/Campus Malês).

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