Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
com)
Quando dizemos que o hábito é contração, não falamos, pois, da ação instantânea que se
compõe com outra para formar um elemento de repetição, mas da fusão desta repetição no
espírito que contempla.
Contemplar é transvasar.
Não nos contemplamos, mas só existimos contemplando, isto é, contraindo aquilo de que
procedemos.
Ninguém melhor que Samuel Butler mostrou que não havia outra continuidade a não ser a do
hábito e que não tínhamos outras continuidades a não ser aquelas dos nossos mil hábitos
componentes, formando em nós outros tantos eus supersticiosos e contemplativos, outros
tantos pretendentes e satisfações:
É fácil multiplicar as razões que tornam o hábito independente da repetição: agir nunca é
repetir, nem na ação que se prepara nem na ação totalmente preparada. Vimos como a ação
tinha, antes, o particular como variável e a generalidade como elemento. Mas, se é verdade
que a generalidade é coisa totalmente distinta da repetição, ela remete, todavia, à repetição
como à base
Sob o eu que age há pequenos eus que contemplam e que tornam possíveis a ação e o sujeito
ativo.
Não dizemos "eu" a não ser por estas mil testemunhas que contemplam em nós; é sempre um
terceiro que diz eu.
==========
==========
A repetição imaginária não é uma falsa repetição que viria suprir a ausência da verdadeira; a
verdadeira repetição é a da imaginação
==========
Entre uma repetição que não pára de se desfazer em si e uma repetição que se desdobra e se
conserva para nós no espaço da representação, houve a diferença, que é o para-si da
repetição, o imaginário.
==========
Entre uma repetição que não pára de se desfazer em si e uma repetição que se desdobra e se
conserva para nós no espaço da representação, houve a diferença, que é o para-si da
repetição, o imaginário. A diferença habita a repetição.
==========
==========
a diferença nos faz passar de uma ordem a outra da repetição: da repetição instantânea, que
se desfaz em si, à repetição ativamente representada por intermédio da síntese passiva. De
outra parte, em profundidade, a diferença nos faz passar de uma ordem de repetição a outra e
de uma generalidade a outra nas próprias sínteses passivas.
==========
A diferença está entre duas repetições. Não quer isto dizer, inversamente, que a repetição
também está entre duas diferenças, que ela nos faz passar de uma ordem de diferença a
outra? Gabriel Tarde assinalava assim o desenvolvimento dialético: a repetição como
passagem de um estado das diferenças gerais à diferença singular, das diferenças exteriores à
diferença interna - em suma, a repetição como o diferenciante da diferença40. A síntese do
tempo constitui o presente no tempo. Não que o presente seja uma dimensão do tempo. Só o
presente existe. A síntese constitui o tempo como presente vivo e constitui o passado e o
futuro como dimensões deste presente.
Todavia, esta síntese é intratemporal, o que significa que este presente passa.
==========
Todavia, esta síntese é intratemporal, o que significa que este presente passa.
==========
DELEUZE, G. Diferença e repetição (mayllon.lyggon@gmail.com)
A partir de nossas contemplações, definem-se todos os nossos ritmos, nossas reservas, nossos
tempos de reações, os mil entrelaçamentos, os presentes e as fadigas que nos compõem.
==========
a repetição está entre duas diferenças e nos faz passar de uma ordem a outra da diferença: da
diferença externa à diferença interna, da diferença elementar à diferença transcendente, da
diferença infinitesimal à diferença pessoal e monadológica. Portanto, a repetição é o processo
pelo qual a diferença não aumenta nem diminui, mas "vai diferindo" e "se dá como objetivo
ela mesma" (cf.
==========
a repetição está entre duas diferenças e nos faz passar de uma ordem a outra da diferença: da
diferença externa à diferença interna, da diferença elementar à diferença transcendente, da
diferença infinitesimal à diferença pessoal e monadológica. Portanto, a repetição é o processo
pelo qual a diferença não aumenta nem diminui, mas "vai diferindo" e "se dá como objetivo
ela mesma"
==========
Estes mil hábitos que nos compõem symbol 190 \f "Symbol" \s 12 estas contrações, estas
contemplações, estas pretensões, estas presunções, estas satisfações, estas fadigas, estes
presentes variáveis - formam, pois, o domínio de base das sínteses passivas.
==========
==========
Há eu desde que se estabeleça em alguma parte uma contemplação furtiva, desde que
funcione em alguma parte uma máquina de contrair, capaz, durante um momento, de
transvasar uma diferença à repetição.
==========
O eu não tem modificações; ele próprio é modificação, sendo que este termo designa,
precisamente, a diferença transvasada.
==========
só se é o que se tem ; é por um ter que o ser aqui se forma ou que o eu passivo é.
==========
O tempo não sai do presente, mas o presente não pára de mover-se por saltos que se
imbricam uns nos outros. É este o paradoxo do presente: constituir o tempo, mas passar neste
tempo constituído.
==========
A fundação concentre ao solo e mostra como algo se estabelece sobre este solo, ocupa-o e o
possui; mas o fundamento vem sobretudo do céu, vai do ápice às fundações, avalia o solo e o
possuidor de acordo com um título de propriedade.
==========
O hábito é a fundação do tempo, o solo movente ocupado pelo presente que passa.
==========
O Hábito é a síntese originária do tempo que constitui a vida do presente que passa; a
Memória é a síntese fundamental do tempo que constitui o ser do passado (o que faz passar o
presente).
==========
ao invés de uma linha de tempo, tem-se um emaranhado de tempo, em vez de fluxo, uma
massa; em lugar de rio, um labirinto; não mais um círculo, porém um turbilhão em espiral;
==========
==========
==========
==========
Para o filósofo o dado pode ser entendido como o “fluxo do sensível, uma coleção de
impressões e de imagens, um conjunto de percepções, (...) o movimento, a mudança, sem
identidade nem lei” (Deleuze, 1953/2001, p. 95).
==========
==========
HUR, D. Memória e tempo em Deleuze (mayllon.lyggon@gmail.com)
as relações que estruturam a experiência não derivam da natureza das coisas, mas sim de suas
articulações.
==========
o sujeito não é nem senhor, nem objeto passivo do campo experiencial, mas sim em que é
produzido pelas condições a priori e pelas afecções, que ao atuar por princípios de associação,
produz um sistema, uma regra geral de associações dentro da imaginação, chamada de hábito.
==========
No hábito opera-se uma força de contração do presente, uma ligação entre as imagens
captadas, que é uma apreensão pré-reflexiva do dado, sendo assim um dispositivo subjetivo de
síntese do tempo; o hábito é considerado essencialmente contração do dado e está ligado ao
presente.
==========
Portanto, o hábito é um modo de afecção que aparece como regra geral de associação no
interior da imaginação, como disposição que opera uma contração, uma espécie de síntese,
sobre o dado.
==========
==========
o hábito não aparece como algo exercido por um sujeito, mas sim como algo que em sua
repetição permite a produção desse Eu. O sujeito não é o responsável pela reprodução do
hábito, pois a repetição de atos e operações do hábito não é operacionalizada pelas faculdades
do entendimento e “o hábito não tem necessidade da memória” (Deleuze, 1953/2001, p. 106).
O hábito então aparece como a primeira síntese do tempo (mas uma síntese passiva) e como
elemento constituinte do Eu, em que se constitui o sujeito porque o hábito aparece como
“princípio ativo que fixa e desdobra as sínteses passivas da associação” (Prado Jr, 2000, p. 44).
É tamanha a importância do hábito na
==========
o hábito não aparece como algo exercido por um sujeito, mas sim como algo que em sua
repetição permite a produção desse Eu.
==========
o hábito não aparece como algo exercido por um sujeito, mas sim como algo que em sua
repetição permite a produção desse Eu.
==========
o hábito não aparece como algo exercido por um sujeito, mas sim como algo que em sua
repetição permite a produção desse Eu.
==========
O sujeito não é o responsável pela reprodução do hábito, pois a repetição de atos e operações
do hábito não é operacionalizada pelas faculdades do entendimento e “o hábito não tem
necessidade da memória” (Deleuze, 1953/2001, p. 106).
==========
“Somos hábitos, nada más que hábitos, el hábito de decir yo... Acaso no haya habido una
respuesta más sorprendente para el problema del yo” (Deleuze, 2007, p. 330).
==========
passado e futuro estão contidos nesse presente vivo do hábito, do sujeito e da experiência.
==========
==========
campo transcendental “não é”, funciona, maquina, mais verbo no infinitivo do que adjetivo. É
o agenciamento entre sujeito e mundo, entre sujeito e campo experiencial, agenciamento
fluxo do sensível-sujeito formado, em que o sujeito não pode ser pensado separado do seu
“mundo exterior”, que no caso não é tão exterior, pois o forma e faz parte de si.
==========
campo transcendental “não é”, funciona, maquina, mais verbo no infinitivo do que adjetivo. É
o agenciamento entre sujeito e mundo, entre sujeito e campo experiencial, agenciamento
fluxo do sensível-sujeito formado, em que o sujeito não pode ser pensado separado do seu
“mundo exterior”, que no caso não é tão exterior, pois o forma e faz parte de si.
==========
O sujeito nessa primeira síntese torna-se assim agenciamento, maquinação e articulação com
o mundo, produção do hábito, enfim, acontecimento.
==========
Em síntese, ao discutir a constituição do sujeito, Deleuze (1953/2001) opera uma reflexão que
versa sobre sua relação com o mundo e os objetos, culminando na constituição do que
denomina de “campo transcendental”, em que sujeito e campo formam uma inter-relação, um
agenciamento, no qual os fluxos de afecções do mundo constituem a subjetividade. O sujeito,
dotado de agência, também agirá no mundo, constituindo outros acontecimentos e
agenciamentos.
==========
==========
Nessa tarde, eu me varandeava, olhando o oceano. Não é que eu olhasse aquele todo azul. O
mar levava era os meus sonhos a passear. E eu ficava cego para lembranças,
==========
==========
==========
O filósofo considera que a duração também é memória, é vida, então a memória comporta-se
da mesma forma que a duração.
==========
==========
a experiência dos atores sociais, dando às suas histórias sua conectividade e dinamicidade.
==========
a memória constitui e estrutura a experiência dos atores sociais, dando às suas histórias sua
conectividade e dinamicidade.
==========
HUR, D. Memória e tempo em Deleuze (mayllon.lyggon@gmail.com)
Nas suas sínteses do tempo tudo é repetição, no caso do hábito, repetição de instantes e
elementos associados e no caso da memória, repetição de um todo de planos de
temporalidades virtuais coexistentes.
==========
O que repete sempre é a diferença, a emergência de uma novidade, uma diferença que é a
afirmação da positividade e não da negatividade; a repetição é uma transgressão do que está
aí.
==========
Então o filósofo entende que o que repete não é a cópia, o idêntico, o mesmo, e sim o novo, o
positivo, a diferença, ou no que resgatou na figura platônica do simulacro.
==========
é necessário distinguir o simulacro de uma cópia degradada e entendê-lo como “uma potência
positiva que nega tanto o original, como a cópia, tanto o modelo como a reprodução”
(Deleuze, 1969/2003, p. 267). O simulacro é compreendido como positividade afirmada da
diferença, anomalia, dispositivo que atualiza a multiplicidade e a novidade através da
repetição; ou seja, aparece como disposição diferencial produzida pela operação da repetição
e é o dispositivo que torna possível a articulação entre diferença e repetição.
==========
==========
HUR, D. Memória e tempo em Deleuze (mayllon.lyggon@gmail.com)
==========
a terceira síntese do tempo abre uma brecha, uma rachadura, uma fissura para o futuro, em
que vai além das outras duas sínteses do tempo, o hábito e a memória-tempo, e instaura uma
abertura para a indeterminação, o acaso e o acontecimento. O eterno retorno é a potência de
afirmar, do novo, do descentramento, da divergência, do caos e do futuro; ou seja, é a
afirmação de um futuro incondicionado a se produzir e a se criar.
==========
das três sínteses do tempo temos elementos para pensar a experiência do sujeito num campo
experiencial formado originariamente pelo hábito e a memória enquanto multiplicidade e
como geradora de futuro.
==========
Aí está o primeiro paradoxo: o da contemporaneidade do passado com o presente que ele foi.
Ele nos dá a razão do presente que passa. É porque o passado é contemporâneo de si como
presente que todo presente passa, e passa em proveito de um novo presente. Um
Ele nos dá a razão do presente que passa. É porque o passado é contemporâneo de si como
presente que todo presente passa, e passa em proveito de um novo presente. Um segundo
paradoxo deriva daí, o paradoxo da coexistência, pois se cada passado é contemporâneo do
presente que ele foi, todo o passado coexiste com o novo presente em relação ao qual ele é
agora passado. O passado não está "neste" segundo presente como não está "após" o
primeiro.
quando dizemos que ele é contemporâneo do presente que ele foi, falamos necessariamente
de um passado que nunca foi presente, pois ele não se forma "após".
Há, portanto, um elemento substancial do tempo (Passado que jamais foi presente)
desempenhando o papel de fundamento. Ele próprio não é representado. O que é
representado é sempre o presente, como antigo ou atual.
O primado da identidade, seja qual for a maneira pela qual esta é concebida, define o mundo
da representação.
Mas o pensamento moderno nasce da falência da representação, assim como da perda das
identidades, e da descoberta de todas as forças que agem sob a representação do idêntico.
Todas as identidades são apenas simuladas, produzidas como um "efeito" óptico por um jogo
mais profundo, que é o da diferença e da repetição.