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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”


CÂMPUS DE ILHA SOLTEIRA

unesp
AULAS DE

MATEMÁTICA APLICADA II
Versão 2002

Prof. Ernandes Rocha de Oliveira


Departamento de Matemática

Ilha Solteira - SP

2002
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
CÂMPUS DE ILHA SOLTEIRA

unesp
AULAS DE

MATEMÁTICA APLICADA II
Versão 2002

Prof. Ernandes Rocha de Oliveira


Departamento de Matemática

Ilha Solteira - SP

2002
Índice de Aulas

Apresentação vi

Programa vii

Aula 1 1
O modelo massa-mola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
Um modelo RLC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
O pêndulo simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

Aula 2 10
Transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Propriedades da Transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

Aula 3 25
Funções degrau: Função de Heaviside . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Funções periódicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

Aula 4 40
Resolução de problemas de valor inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

Aula 5 59
Funções impulso: delta de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Convolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
O Teorema da convolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
ÍNDICE DE AULAS
iv
Aula 6 72
A equação de condução do calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Princípio da superposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
O método de separação de variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

Aula 7 79
Séries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
As fórmulas de Euler-Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

Aula 8 89
O Teorema de Dirichlet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

Aula 9 97
Desenvolvimento de meio período . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Forma complexa da série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

Aula 10 108
Desigualdade de Bessel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Sobre convergência da série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
Identidade de Parseval . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

Aula 11 118
Resolução do problema do calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
Barra sujeita a outras condições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Equação do calor não homogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

Aula 12 126
A equação da corda vibrante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
Exemplos de acordo com o tipo de forças externas . . . . . . . . . . . . 127
Exemplos de problemas de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
Resolução por séries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
Harmônicos, freqüência e amplitude . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
Vibrações forçadas e ressonância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


ÍNDICE DE AULAS
v

Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135

Aula 13 136
Corda infinita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
Solução geral do problema de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . 136
A Fórmula de D’Alembert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
Um problema com extremidade livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
Uma série de Fourier especial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147

Aula 14 148
Noções sobre a transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
Algumas propriedades da transformada de Fourier . . . . . . . . . . . 152
Convolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
Algumas aplicações da transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . 158
Um problema unidimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161

Referências Bibliográficas 164

Índice remissivo 165

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Apresentação

Esta apostila tem como objetivo servir de auxílio aos alunos da disciplina
Matemática Aplicada II, disciplina que usualmente tem sido oferecida no se-
gundo semestre do segundo ano aos estudantes dos cursos de Engenha-
ria Elétrica e Engenharia Mecânica da FEIS-UNESP. O conteúdo deste tra-
balho corresponde ao programa atual dessa disciplina, que consiste em al-
guns tópicos sobre a Transformada de Laplace e sua aplicação a proble-
mas de valor inicial e séries de Fourier com aplicação a problemas de con-
torno para duas classes de equações diferenciais parciais lineares importan-
tes, a equação do calor (ou de difusão) e a equação de ondas. Ainda que
não conste do programa da disciplina, dedicamos pelo menos uma aula ao
tópico Transformada de Fourier, de modo muito ingênuo servindo apenas
como uma introdução ao assunto. A organização deste trabalho visa facili-
tar sua utilização como material didático por isso fizemos a divisão por Aulas,
cada Aula corresponde a 4h de trabalho na disciplina. É importante lem-
brar que esta apostila não pretende substituir os bons livros existentes sobre
transformada de Laplace, equações diferenciais ordinárias e equações dife-
renciais parciais e que fazem parte da bibliografia da disciplina, por exemplo
[Boyce and DiPrima, 1998],[Churchill, 1978],[de Figueiredo and Neves, 1997],
dentre outros, são, na minha opinião, excelentes referências para um curso
no mesmo nível em que tenho ministrado esta disciplina. Este trabalho cer-
tamente apresenta erros e, desde já, agradeço a colaboração das pessoas in-
teressadas no assunto e que gostariam que um trabalho como este tivesse
continuação, apresentasse melhoras e pudesse cumprir seu destino.

Ilha Solteira, 25 de julho de 2002


Ernandes Rocha de Oliveira
Programa

MAT0152 - Matemática Aplicada II

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. Transformada de Laplace.

1.1. Definição, exemplos e propriedades.

1.2. Transformada inversa.

1.3. Decomposição em frações parciais.

1.4. Aplicações.

1.4.1. Resolução de equações diferenciais ordinárias.


1.4.2. Vibrações livres.
1.4.3. Vibrações com amortecimento.
1.4.4. Vibrações forçadas-ressonância.
1.4.5. Circuitos elétricos.

1.5. Transformadas de funções periódicas.

1.6. Funções degrau unitário e impulso.

1.7. O teorema da convolução.

2. Séries de Fourier.

2.1. Funções periódicas.

2.2. Definição e Cálculo dos coeficientes de Fourier.

2.3. Séries de Fourier para funções pares e ímpares

2.4. Noções de Seqüências e Séries.

2.4.1. Seqüências de funções.


2.4.2. Convergência pontual e convergência uniforme.
Programa viii

2.4.3. Séries de funções: derivação e integração.

2.5. Teoremas sobre convergência da série de Fourier.

2.6. Forma Complexa da Série de Fourier.

2.7. Integração e Diferenciação de Série de Fourier.

3. Noções de Equações Diferenciais Parciais (E.D.P.).

3.1. Método da Separação de Variáveis.

3.2. A equação do Calor.

3.4.1. Condições homogêneas.


3.4.2. O problema da barra isolada.

3.3. A equação da corda unidimensional.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BUTKOV, E. Física Matemática. Rio de Janeiro, Guanabara Dois, 1978.


FIGUEIREDO, D.G. Análise de Fourier e Equações Diferenciais Parciais. São
Paulo, Edgard Blucher, 1977.
SPIEGEL, M.R. Transformadas de Laplace. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil,
1981.
BOYCE, W.E., DIPRIMA, R.C. Equações Diferenciais Elementares e Problemas
de Valores de Contorno. Guanabara Dois, 1997.
IÓRIO, V. EDP um Curso de Graduação - Coleção Matemática Universitária.
Rio de Janeiro, IMPA, CNPq, 1991.

CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Durante o período serão realizadas duas provas (P1 e P2 ). Precedendo cada


uma dessas provas, serão realizados trabalhos, pelo menos um por prova,
cujas médias aritméticas irão compor as notas de trabalho (t1 e t2 ). A média

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Programa ix

final será calculada mediante a seguinte fórmula

Mf = 0, 5M1 + 0, 5M2

nesta fórmula Mi (i = 1, 2) é dada por Mi = 0, 7Pi + 0, 3ti . Será considerado


aprovado o aluno que obtiver Mf maior ou igual a 5, 0. Haverá uma prova
substitutiva cuja nota poderá substituir a menor das notas de provas P1 ou
P2 .

email:ernandes@fqm.feis.unesp.br

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Aula 1

O objetivo desta aula é apresentar alguns exemplos de problemas que po-


dem ser descritos por equações diferenciais ordinárias lineares de segunda
ordem, e que são modelos matemáticos importantes em qualquer curso de
Engenharia. Os problemas descritos nessa aula, e que de modo algum se
pretende esgotá-los aqui, podem ser encontrados com mais detalhes nas re-
ferências [Jr and Penney, 1995, pág. 147-164] ou [Boyce and DiPrima, 1998,
pág. 118-135].

Estudo do movimento de uma massa ligada a uma


mola

Figura 1.1: Massa ligada a uma mola

Consideremos, como na Figura 1.1, uma mola suspensa de comprimento l.


Apliquemos a essa mola uma massa m e consideremos a situação de equilíbrio
ilustrada na mesma Figura (1.1). Na situação de equilíbrio, teremos, supondo
que toda a massa do sistema esteja concentrada na massa m, pela Lei de
O modelo massa-mola 2

Hook e supondo ainda que o alongamento L seja suficientemente pequeno,

mg = kL com k > 0 denotando a constante da mola .

Consideremos agora que o sistema seja posto em movimento e que esse


movimento se dê apenas na direção vertical. Descreveremos então a posição
da massa, relativamente à posição de equilíbrio e em cada instante de tempo t,
por u(t). Observe que, como vamos supor que o movimento seja unidimensio-
nal, podemos tratar as grandezas como escalares. Na situação da Figura (1.1)
a Segunda Lei de Newton nos dá

mu 00 (t) = R(t) , (1.1)

com R(t) representando a resultante das forças externas que atuam sobre m,
que são

1- a força peso: P = mg;

2- a força restauradora da mola: Fm = −k(L + u);

3- uma força de amortecimento, Fa , que vamos supor dependente da veloci-


dade escalar da massa: Fa = −cu 0 (t), com a constante de amortecimento
c > 0, em geral Fa é devida à viscosidade do meio;

4- uma força excitadora externa f(t) imposta ao sistema.

Voltando à equação (1.1) obtemos

mu 00 (t) = mg − kL − ku(t) − cu 0 (t) + f(t)

e daí resulta,
mu 00 (t) + cu 0 (t) + ku(t) = f(t) ,

que é uma equação diferencial que descreve, de modo aproximado, mas para
muitas situações satisfatório, as pequenas oscilações de uma massa ligada a
uma mola. Observe que m, c e k são constantes positivas. Para que pos-
samos resolver completamente o problema da determinação do deslocamento
u(t) devemos especificar a posição inicial u(0) e a velocidade inicial u 0 (0) da
massa. Teremos assim algo que chamamos de problema de valor inicial

mu 00 (t) + cu 0 (t) + ku(t) = f(t)


(1.2)



u(0) = u0 u 0 (0) = u00

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Um modelo RLC 3

Observação 1.1. Quando pudermos desprezar o efeito amortecedor, isto é,


quando pudermos considerar que c = 0 na equação (1.2) e, além disso, estiver-
mos na ausência de forças externas excitadoras, o que significa que f(t) ≡ 0,
obteremos o problema

mu 00 (t) + ku(t) = 0 , u(0) = u0 , u 0 (0) = u00 . (1.3)

O problema (1.3) é conhecido como o problema do oscilador harmônico


livre. Qual deve ser o movimento da massa num movimento harmônico livre?
Ora, é de se esperar que a massa fique indefinidamente oscilando em torno
de sua posição de equilíbrio de modo simétrico em relação à origem. Podemos
então esperar que algo semelhante a uma senóide seja solução de (1.3) e é isso
de fato o que ocorre como veremos mais tarde.

Estudo da corrente elétrica num circuito RLC em


série
Consideremos agora um circuito RLC, de uma malha simples, como ilus-
trado na Figura (1.2).

Figura 1.2: Circuito RLC

Para a análise desse sistema físico, vamos considerar que I(t) seja a função
que descreve a corrente em cada instante t ≥ 0. Além disso,

(a) a queda (ou diferença) de potencial através do resistor

ER = RI (Lei de Ohm) R > 0;

(b) que o indutor é um elemento que se opõe à variação de corrente. Deste


modo obtém-se experimentalmente que queda de potencial através do

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Um modelo RLC 4

indutor é proporcional à taxa de variação da corrente no tempo


dI
EL = L L>0 (L é chamada indutância) ;
dt

(c) que o capacitor é um elemento que armazena energia. A queda de potencial


através do capacitor é proporcional à carga total Q no capacitor em cada
instante
1
EC = Q C>0 (C é chamada capacitância) .
C
Tem-se também
dQ
I(t) = .
dt
Daí, Z
1 t
EC = I(s) ds .
C
Para a análise de um circuito como o que estamos considerando, deve-se usar
a
Lei de Kirchoff para a voltagem: A voltagem imposta em uma malha simples
fechada qualquer é igual à soma de todas as quedas de potencial nos elementos
do circuito.
Assim podemos escrever

ER + EL + EC = E

e Z
dI 1 t
L + RI + I(s)ds = E . (1.4)
dt C
Esse é um tipo de equação chamada equação integro-diferencial. Se esco-
lhermos a carga Q(t) para incógnita obtemos
d2 Q dQ 1
L 2
+R + Q=E (1.5)
dt dt C
e, se derivarmos a equação (1.4) em relação a t, resulta
d2 I dI 1 dE
L 2
+R + I= . (1.6)
dt dt C dt
Assim, temos as equações (1.4) e (1.6) para a corrente e a equação (1.5)
para a carga.

Observação 1.2. Num circuito RC que é aquele no qual o indutor está ausente,
as equações acima tomam a forma
dQ 1
R + Q = E,
dt C
(1.7)
dI 1 dE
R + I= .
dt C dt
MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.
O pêndulo simples 5

As equações (1.7) obtidas para esse modelo são exemplos, bastante sim-
ples, de equações diferenciais lineares de primeira ordem, e a primeira
delas é importante no estudo da carga e descarga de um capacitor em série
com um resistor.

Observamos que, formalmente, as equações do sistema massa-mola e do


circuito elétrico são as mesmas e da forma

ay 00 + by 0 + cy = f(t), a, b, c constantes reais .



d2 Q dQ 1
L
dt2 + R dt + C Q = E



d2 I dI 1 dE

L + R + I =
dt 2 dt C dt



d2 u du
m +c + ku = f(t)

dt 2 dt
O seguinte quadro ilustra a analogia entre o papel que cada componente
de um sistema tem em relação ao outro.

massa-mola circuito elétrico em série

m (massa) L (indutor)

c (constante de viscosidade) R (resistência)


1
k (constante da mola) (inverso da capacitância)
C
Corrente I(t) / carga Q(t) deslocamento u(t)

O pêndulo simples
Vamos agora considerar uma outra situação, que após realizarmos alguma
simplificação, faremos recair em uma equação diferencial ordinária linear de
segunda ordem com coeficientes constantes. Um pêndulo simples consiste
de uma massa m, ligada a um fio de comprimento L e massa desprezível,
balançando para trás e para frente num plano vertical, conforme ilustra a
Figura (1.3). Vamos descrever o movimento da massa m através do ângulo θ =
θ(t), descrito no sentido anti-horário, que o fio faz com a vertical no instante
t.

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


O pêndulo simples 6

@
@
@ L
θ(t)
@
@
@
@
@zm

r
0

Figura 1.3: Pêndulo simples

Vamos supor também que sejam desprezíveis os efeitos de amortecimento


e que sobre o sistema atua somente a força da gravidade. Além disso, vamos
supor que o ângulo θ pode atingir no máximo um certo valor α. Nessas con-
dições, podemos usar a Lei de conservação de Energia que estabelece que a
soma da energia cinética com a energia potencial permanece constante.
A distância ao longo do arco circular de 0 a m é s(t) = Lθ(t), assim a
ds dθ
velocidade da massa é v = = L . Portanto, a energia cinética é
dt dt
 2
mv2 mL2 dθ
T= = .
2 2 dt

O ponto que estamos escolhendo como ponto de referência é o ponto mais


baixo da trajetória que indicamos por 0. Então a energia potencial, U, é o
produto do peso mg pela altura vertical, h que, neste caso, é obtida por

h = L(1 − cos(θ)) .

Isto é
U = mgL(1 − cos(θ)) .

Sendo E = T + U constante, teremos


 2
mL2 dθ
+ mgL(1 − cos(θ)) = C .
2 dt

Portanto,
2C 2g(1 − cos(θ(t))
(θ̇(t))2 = 2
− .
mL L
Em princípio, t poderá variar em R e, quando θ for máximo, θ̇ = 0 e |θ| = α.
Assim
C = mgL(1 − cos(α)) .

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


O pêndulo simples 7

Logo,
2g
(θ̇(t))2 = {cos(θ(t)) − cos(α)} .
L
Derivando essa última expressão em relação a t, obtemos
2g
2θ̇θ̈ = − θ̇ sen(θ) .
L
Assim resulta o seguinte problema, determinar uma função θ(t) verificando as
condições 
 g

 θ̈ + sen(θ) = 0
 L
(1.8)



 θ(0) = θ ,
0 θ̇(0) = θ̄0 , −α ≤ θ ≤ α .
Agora, sendo a função sen(θ) analítica, temos sua representação em série
de Taylor
X
+∞
(−1)n θ2n+1 θ3 θ5 (−1)n θ2n+1
sen(θ) = =θ− + − ... + + ...
n=0
(2n + 1)! 3! 5! (2n + 1)!

de modo que para θ pequeno teremos

sen(θ) ≈ θ

e o problema (1.8) pode ser reescrito, de modo aproximado, como



 g

 θ̈ + θ = 0
 L
(1.9)



 θ(0) = θ , θ̇(0) = θ̄ , −α ≤ θ ≤ α .
0 0

Observe que equação (1.9) é do mesmo tipo que as equações (1.5) e (1.6),
mesmo descrevendo situações físicas diferentes.
Os exemplos que vimos acima podem ser agora sistematizados. Uma equa-
ção diferencial ordinária de segunda ordem para a função incógnita y é uma
equação que tem a forma
d2 y dy
2
= f(t, y, ). (1.10)
dt dt
Diremos que a equação (1.10) é linear se puder ser reescrita na forma

y 00 + p(t)y 0 + q(t)y = g(t) (1.11)

ou
P(t)y 00 + Q(t)y 0 + R(t)y = G(t) , (1.12)

na qual P(t) 6= 0 para todo t em um determinado intervalo. Se, em (1.12),


G(t) ≡ 0, diremos que a equação é homogênea, caso contrário, a equação é

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Exercícios 8

chamada não-homogênea. Assim, um problema homogêneo tem a seguinte


forma
y 00 (t) + p(t)y 0 (t) + q(t)y(t) = 0 .

Um problema de valor inicial é formado por uma equação diferencial como


(1.10) ou (1.11) ou (1.12) e por um par de condições da forma

y(t0 ) = y0 y 0 (t0 ) = y0 . (1.13)

Quando as funções P(t), Q(t) e R(t) são constantes, a equação (1.12) toma
a forma
ay 00 + by 0 + cy = f(t) (1.14)

Vamos, nas aulas seguintes, aprender uma ferramenta chamada Transfor-


mada de Laplace e vamos usá-la para estudar os problemas de valor inicial
para a equação (1.14). A demonstração do seguinte resultado pode ser encon-
trada em [de Figueiredo and Neves, 1997].

Teorema 1.3 (Existência e unicidade). Se p(t), q(t) e f(t) são funções contí-
nuas em um intervalo aberto I e x0 ∈ I, então existe uma única função y(t)
contínua em I e com derivadas primeira e segunda contínuas em I e tais
que
00
y (t) + p(t)y 0 (t) + q(t)y = f(t) t ∈ I




y(x0 ) = y0 y 0 (x0 ) = y0 ,

com y0 e y0 dados.

Após estudarmos as propriedades mais importantes da Transformada de


Laplace, voltaremos a esses problemas para completar a discussão.

Exercícios
1. O tipo mais simples de equação diferencial ocorre quando temos de en-
contrar uma primitiva para uma função. Assim o problema dada f(t) de-
terminar uma função y(t) tal que y 0 = f(t) pode ser visto como um primeiro
exemplo de equação diferencial. Para cada função dada abaixo encontre
a y correspondente.

1.1. f(t) = sen(t) + t cos(t)

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Exercícios 9

1.2. f(t) = e−5t − tet


1 1
1.3. f(t) = − e ainda y(0) = 1
1 + t2 t2 − 5t + 6
2. Seja µ(t) uma função diferenciável em R e tal que µ(t) 6= 0 para todo
t ∈ R. Considerando a função f(t) = ln(|µ(t)|) determine f 0 (t). Como você
poderia usar esse resultado para resolver a equação y 0 − ay = g(t), com a
constante não nula e g(t) uma função contínua dada?

3. Sejam a, b e c constantes. Determine para que valores de λ a função


y(t) = exp(λt) é solução da equação ay 00 (t) + by 0 (t) + cy(t) = 0

4. Encontre soluções das seguintes equações na forma y(t) = exp(λt)

4.1. y 00 + 3y 0 + 2y = 0

4.2. y 00 + 5y 0 + 3y = 0

4.3. y 00 + y 0 + 3y = 0. Neste caso como deverá se comportar um sistema


massa mola que seja descrito por esta equação?

4.4. y 00 + 2y 0 + y = 0. Neste caso como deverá se comportar um sistema


massa mola que seja descrito por esta equação?

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Aula 2

Nesta Aula iniciamos o estudo da ferramenta que utilizaremos para tratar


os problemas de valor inicial descritos por equações diferenciais ordinárias
lineares com coeficientes constantes. Definimos a transformada de Laplace, e
apresentamos suas principais propriedades.

Transformada de Laplace
Consideremos uma função f(t) definida para t ≥ 0, isto é, cujo domínio é
o intervalo ]0, +∞[. A Transformada de Laplace de f, que denotaremos por

L f , ou com mais freqüência por F(s), é definida por
Z +∞

F(s) := L f(t) = e−st f(t)dt (2.1)
0

com s ∈ C parâmetro (variável) complexa. A expressão acima somente faz


sentido desde que a integral imprópria seja convergente. A integral (2.1) é um
dos casos de integrais impróprias (ver [Swokowski, 1991, pág. 636-643]) e seu
significado é o seguinte
Z +∞ Zb
g(t)dt = lim g(t)dt .
a b→+∞ a

Se esse limite existir, diremos que a integral converge, caso contrário, dire-
mos que a integral diverge.
É claro que a convergência ou divergência da integral que define a trans-
formada de Laplace vai depender do parâmetro s ∈ C.

Exemplo 2.1. Como o integrando em (2.1) envolve uma exponencial, vamos


relembrar uma propriedade importante dessa função. Sabemos que

lim ey = +∞ e lim ey = 0
y→+∞ y→−∞

Observe o comportamento do gráfico da função exponencial quando t → +∞


e também quando t → −∞.
Transformada de Laplace 11

Figura 2.1: Gráfico da função exponencial

Sejam k ∈ R, k 6= 0 e f(t) = ekt definida para t ≥ 0. Então, para cada b > 0,


Zb
1 kb
ekt dt =

e −1 .
0 k

Se tivermos k > 0, então


Z +∞ Zb
1
e dt = lim ekt dt = lim ekb − 1 = +∞ .
kt

0 b→+∞ 0 k b→∞

Ou seja, a integral diverge. Se k < 0 então


Z +∞
1
ekt dt = − .
0 k

Ou seja, a integral converge.

Observação 2.2. No caso em que k ∈ C, teremos


Z +∞
1
e−kt dt = −
0 k

desde que <e(k) > 0. Basta observar que


Z +∞ Z +∞ Z +∞
|e | dt =
−kt
−kt

e dt ≤
e−<e(k)t dt
0 0 0

a última integral sendo convergente, pelo que vimos acima, se <e(k) > 0.

Muitas funções importantes são definidas por meio de integrais impróprias,


uma delas é a função fatorial.

Exemplo 2.3. Para cada p > 0 definimos a função Gamma por


Z +∞
Γ (p) := e−x xp−1 dx , Γ (1) = 1 . (2.2)
0

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Transformada de Laplace 12

Vamos estudar dois casos:


Caso a: Vamos considerar p ≥ 1. Como

xp−1
lim x = 0,
x→+∞ e 2

segue-se que existe uma constante M > 0 tal que

xp−1
x ≤ 1, para cada x ≥ M .
e2

Daí,
x
e−x xp−1 ≤ e− 2 , para cada x ≥ M .

Escrevendo Z +∞ ZM Z +∞
−x p−1 −x p−1
e x dx = e x dx + e−x xp−1 dx ,
0 0 M

teremos que a primeira integral é convergente, pois é uma integral definida


de uma função contínua no intervalo fechado [0, M]. Para a segunda integral,
temos Z +∞ Z +∞
1
−x p−1
e x dx ≤ e− 2 x dx ,
M M

que é convergente pelo Exemplo (2.1). Logo, a integral que define a função
Γ (p), é convergente para cada p ≥ 1.
Caso b: Consideramos agora 0 < p < 1. Defina α = 1 − p. Desse modo
teremos 0 < α < 1. Recordemos que se 0 < α < 1 teremos
Z1 Z1
dx dx 1 − 1−α 1
α
= lim+ α
= lim = .
0 x →0  x →0+ 1 − α 1−α

Podemos escrever
Z +∞ Z1 Z +∞
−x p−1 −x p−1
e x dx = e x dx + e−x xp−1 dx .
0
|0 {z } |1 {z }
I1 I2

Agora
Z1 Z1
dx dx
I1 = lim+ x α
≤ lim+ α
< +∞
→0  e x →0  x

e Zb Zb
dx
I2 = lim ≤ lim e−x dx < +∞ ,
b→+∞ 1 ex xα b→+∞ 1

isto pelo Exemplo (2.1).


Concluímos então que a integral que define a função Γ (p) é convergente
também para 0 < p < 1. Integrando por partes (2.2), resulta que

Γ (p + 1) = p Γ (p) , para todo p > 0 . (2.3)

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Transformada de Laplace 13

A propriedade (2.3), quando aplicada a n ∈ N, nos dá

Γ (n + 1) = nΓ (n)

e, por recorrência, concluímos que

Γ (n + 1) = n! . (2.4)

A função Γ é algumas vezes chamada função fatorial. É possível mostrar


que (veja em [Spiegel, 1971, pág. 10 e pág. 30])

1 √
Γ( ) = π .
2

Como a transformada de Laplace é definida por uma integral, é importante


sabermos que tipo de funções podemos colocar sob o sinal de integração.

Definição 2.4 (função contínua por partes). Diremos que uma função f(t) é
contínua por partes num intervalo [a, b], se esse intervalo puder ser dividido
por um número finito de pontos

t0 = a < t1 < . . . < tn = b

de modo que

(1) f é contínua e limitada em cada sub-intervalo aberto ]ti−1 , ti [ com i =


1, 2, . . . , n;

(2) existem e são finitos os limites laterais

lim f(t) e lim f(t) i = 1, 2, . . . , n .


t→t+
i−1 t→t−
i

Diremos que uma função f(t) é contínua por partes num intervalo [a, +∞[
se, para cada b > a, f(t) for contínua por partes no intervalo [a, b].

Exemplo 2.5. As duas funções abaixo não são contínuas por partes

 
 1  1

 sen( ) se 0 < t ≤ 1 
 se 0 < t ≤ 1
 t  t
f(t) = e g(t) = (2.5)

 


 0 
 0
se t = 0 se t = 0 .

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Transformada de Laplace 14

f(t) 6

0 -
t

Figura 2.2: Função contínua por partes

Figura 2.3: Gráfico de sen(1/t) Figura 2.4: Gráfico de 1/t

Vamos dar agora uma condição que garante a existência da transformada


de Laplace.

Teorema 2.6. Suponhamos que

(1) f(t) seja contínua por partes em [0, +∞[;

(2) f(t) seja de ordem exponencial , isto é, que existam constantes C > 0,
M > 0 e α ∈ R tais que

|f(t)| ≤ C eαt para todo t ≥ M .

Então a transformada de Laplace


Z +∞

L f(t) = F(s) = e−st f(t)dt
0

existe sempre que <e(s) > α. Diremos que f ∈ Eα se f satisfizer as duas condi-
ções acima.

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Transformada de Laplace 15

Observação 2.7. Se duas funções são de ordem exponencial, então sua soma
e seu produto são também de ordem exponencial.

Observação 2.8. Em muitos momentos, principalmente quando nos é dada


apenas a função F(s), pode-se usar o princípio do prolongamento analítico
(ver [Churchill, 1975, cap.12 A]) e considera-se que F(s) esteja definida para
todo valor de s que não seja uma singularidade. Assim
 1
F(s) = L 1 =
s

está definida e é analítica em C\{0}



Exemplo 2.9. Seja f(t) = 1, para t ≥ 0, determine L f(t) .

Temos, por definição e usando o exemplo (2.1), que


Z +∞
 1
L f(t) = e−st dt = para <e(s) > 0 .
0 s

Logo
 1
L 1 = , <e(s) > 0 .
s

Exemplo 2.10. Sejam a ∈ C e f(t) = eat definida para t ≥ 0. Determine L f(t) .

Por definição temos


Z +∞ Z +∞
 1
L f(t) = −st at
e e dt = e−(s−a)t dt =
0 0 s−a

com a integral convergindo para <e(s) > <e(a). Logo, usando a observação já
feita sobre o maior domínio da transformada de Laplace, escrevemos
 1
L eat = para s 6= a .
s−a

Exemplo 2.11. Sejam n ∈ N e f(t) = tn definida para t ≥ 0. Determine L f(t) .

Temos por definição Z +∞



L tn = e−st tn dt ,
0

para <e(s) > 0. Agora, vamos considerar o parâmetro s real, para simplificar.
Fazendo a substituição u = st teremos
Z
 n 1 +∞ −u n Γ (n + 1)
L t = n+1 e u du = .
s 0 sn+1

Logo
 Γ (n + 1) n!
L tn = n+1
= n+1 s > 0. (2.6)
s s

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Propriedades da Transformada de Laplace 16

Observação 2.12. Se p ∈ R é tal que p > −1 então usando o mesmo argumento


podemos escrever
 Γ (p + 1)
L tp = s > 0.
sp+1
Observação 2.13. A expressão (2.6) também é válida para s ∈ C e neste caso
teremos
 n!
L tn = n+1 s 6= 0 .
s
Exemplo 2.14 (Linearidade). Sejam f1 (t) e f2 (t) dadas. Suponhamos que

L f1 (t) exista para <e(s) > a1 ;

L f2 (t) exista para <e(s) > a2 ;

então, para <e(s) > max(a1 , a2 ) teremos


  
L c1 f1 (t) + c2 f2 (t) = c1 L f1 (t) + c2 L f2 (t) ,

com c1 e c2 constantes quaisquer.

Exemplo 2.15. Sabemos que


eibt − e−ibt
sen(bt) = .
2i
Daí, usando a linearidade da transformada de Laplace,

 1  1 
L sen(bt) = L eibt − L e−ibt
2i 2i
1 1 1 1 b
= − = 2 .
2i s − ib 2i s + bi s + b2
Ou seja,
 b
L sen(bt) = .
s2 + b2
Isso é válido sempre que <e(s) > 0.

Propriedades da Transformada de Laplace


Veremos agora algumas propriedades importantes da transformada de La-
place.

Teorema 2.16 (Deslocamento em s). Se f ∈ Eα então, para cada constante


k ∈ R vale

L ekt f(t) = F(s − k) desde que <e(s) > α + k ,

com

F(s) = L f(t) .

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Propriedades da Transformada de Laplace 17

Demonstração. De fato,
Z +∞ Z +∞

L e f(t) =
kt
e−st kt
e f(t)dt = e−(s−k)t f(t)dt .
0 0

Como Z +∞
F(s) = e−st f(t)dt
0
para <e(s) > α, então, para <e(s − k) > α. Ou seja, para <e(s) > α + k, teremos
Z +∞

F(s − k) = e−(s−k)t f(t)dt = L ekt f(t) .
0


Exemplo 2.17. Encontre L e2t sen(t) .
Sabemos que
 1
L sen(t) = desde que <e(s) > 0 .
s2 +1
Logo
 1
L e2t sen(t) = desde que <e(s) > 2 .
(s − 2)2 + 1
Para simplificar a exposição, consideraremos em alguns resultados, que o
domínio da Transformada de Laplace é real.

Teorema 2.18. Sejam f ∈ Eα e F(s) = L f(t) , com s ∈ R, então teremos

lim F(s) = 0 .
s→+∞

De fato, basta observar que para algum α ∈ R, C > 0, M > 0 tem-se


C (1 − e−sM ) C e−(s−α)M
|F(s)| ≤ + desde que s > α .
s s−α
Exemplo 2.19. Nem toda função F(s) é a transformada de Laplace de uma
 √
função de ordem exponencial. Por exemplo, existe f ∈ Eα tal que L f(t) = s ?
Resposta: Não, pois

lim s = +∞ .
s→+∞

Teorema 2.20 (Mudança de escala no tempo). Sejam a ∈]0, +∞[, f ∈ Eα e



F(s) = L f(t) . Então
 1 s
L f(at) = F( ) .
a a
De fato, fazendo a mudança de variável u = at, teremos
Z +∞ Z +∞
 u du 1 s
L f(at) = −st
e f(at)dt = e−s a f(u) = F( ) .
0 0 a a a
Daí,
 1 s
L f(at) = F( ) .
a a

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Propriedades da Transformada de Laplace 18


Teorema 2.21 (Derivada em s). Seja f ∈ Eα então, se F(s) = L f(t) , teremos

L tf(t) = −F 0 (s) .

De fato Z +∞
F(s) = e−st f(t)dt
0
e, derivando sob o sinal de integração, obtemos
Z +∞ Z +∞
0 −st
F (s) = (−t)e f(t)dt = − e−st tf(t)dt .
0 0

Daí,

L tf(t) = −F 0 (s) .
 1
Exemplo 2.22. Vimos que L 1 = para <e(s) > 0, ora, para cada n = 1, 2, . . .
s
1
teremos, para F(s) = ,
s
(−1)n n!
F(n) (s) = desde que <e(s) > 0 .
sn+1
Daí,
 1  2  6
L t = 2 , L t2 = 3 , L t3 = 4 , etc .
s s s
De modo geral teremos
 n!
L tn = n+1 para <e(s) > 0 .
s
Mas,
 Γ (n + 1)
L tn = .
sn+1
Daí,
Γ (n + 1) = n! .

Exemplo 2.23. Determine L 5 + te−t − t2 .

Temos,
      
L 5 + te−t − t2 = L 5 + L te−t + L −t2 = 5L 1 + L te−t − L t2 .
 1
Agora, usando os resultados já obtidos, teremos L 1 = ,
s

 
d 1 1
L te−t = − =
ds s + 1 (s + 1)2
 2
e L t2 = 3 . Portanto,
s
 5 1 2
L 5 + te−t − t2 = + 2
+ 3
s (s + 1) s
válido para <e(s) > 0.

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Propriedades da Transformada de Laplace 19

Teorema 2.24 (Transformada da Derivada). Se f ∈ Eα , f contínua e f 0 contí-


nua por partes então
 
L f 0 (t) = sL f(t) − f(0) .

Exemplo 2.25. Determine L cos(bt) com b 6= 0.
sen(bt)
Seja f(t) = então f 0 (t) = cos(bt). Daí,
b
  sen(bt) s 
L cos(bt) = sL = L sen(bt) ,
b b
mas
 b
L sen(bt) = .
s2 + b2
Daí,
 s
L cos(bt) = .
s2 + b2
Exemplo 2.26. Sejam f e f 0 elementos de Eα . Suponhamos que f 0 seja contínua
e que f 00 seja contínua por partes, então
 
L f 00 (t) = sL f 0 (t) − f 0 (0) .

Como
 
L f 0 (t) = sL f(t) − f(0) ,

resulta
 
L f 00 (t) = s2 L f(t) − sf(0) − f 0 (0) .

Observação 2.27. Se f ∈ Eα e é contínua em [0, +∞[ e



L f(t) = F(s) = 0

então é possível mostrar que f(t) = 0. Desse modo, se


 
L f(t) = L g(t) , g(t) contínua, em [0, +∞[

então
f(t) = g(t), para todo t ≥ 0 .

Se F(s) = L f(t) diremos que f(t) é a transformada de Laplace inversa de
F(s), escrevemos

f(t) = L−1 F(s) .

Assim,
 
f(t) = L−1 F(s) ⇐⇒ F(s) = L f(t) .

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Propriedades da Transformada de Laplace 20

1 
Exemplo 2.28. Dada F(s) = , com <e(s) > 2, determine L−1 F(s) .
s−2
Sabemos que
 1
L eat = .
s−a
Daí,
 1
L−1 = eat .
s−a
Assim,
 1
L−1 = e2t .
s−2
Exemplo 2.29. Achar a solução, y(t), da equação diferencial

y 0 (t) + y(t) = 1 (2.7)

que satisfaz a condição inicial y(0) = 0.

Tomando a transformada de Laplace da equação temos


 
L y0 + y = L 1 .

Usando a linearidade da transformada, resulta


  1
L y0 + L y = .
s

Usando o teorema da transformada da derivada teremos


  1
sL y − y(0) + L y = .
s

Usando a condição inicial


 1  1
(s + 1)L y = =⇒ L y = .
s s(s + 1)

Usando separação por frações parciais

1 1 1  1 1
= − =⇒ L y = − .
s(s + 1) s s+1 s s+1

Logo
1 1 1  1
y(t) = L−1 − = L−1 − L−1 .
s s+1 s s+1
Assim,
y(t) = 1 − e−t .
 3
Exemplo 2.30. Encontre L−1 .
s2 + 4

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Propriedades da Transformada de Laplace 21

Sabemos que
 b  1 sen(bt)
L sen(bt) = =⇒ L−1 2 = .
s2 +b2 s + b2 b

Logo
 3  1 3 sen(2t)
L−1 = 3L −1
= .
s2 + 4 s2 + 4 2
 4
Exemplo 2.31. Encontre L−1 .
(s − 1)3
2 2
Seja F(s) = . Observe que F(s − 1) = e que estamos procurando
s3 (s − 1)3
 
L−1 2F(s − 1) = 2L−1 F(s − 1) .

Sabemos que
 2
L t2 = 3
s
e sabemos que
 
L ekt f(t) = F(s − k) , F(s) = L f(t) .
 
Logo L−1 F(s − 1) = et f(t) e L−1 F(s) = t2 . Portanto
 4
L−1 3
= 2et t2 = 2t2 et .
(s − 1)

Exemplo 2.32. Ache a transformada inversa de

1
G(s) = .
s2 − 4s + 5

Podemos escrever
1 1
= .
s2
− 4s + 5 (s − 2)2 + 1
 1
Sabemos que se f(t) = sen(t) então L f(t) = 2 . Vimos também que
s +1

L ekt f(t) = F(s − k) .

Portanto,
 1
L e2t sen(t) = .
(s − 2)2 + 1
Logo
 1
L−1 2
= e2t sen(t) .
s − 4s + 5
Exemplo 2.33. Calcule a transformada de Laplace de f(t) = (sen(t) − cos(t))2 .

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Propriedades da Transformada de Laplace 22

Temos que
f(t) = 1 − 2 sen(t) cos(t) = 1 − sen(2t) .

Usando os resultados já obtidos


 a
L sen(at) =
s2 + a2
e
 1
L 1 =
s
podemos escrever,
 1 2
L f(t) = − 2 .
s s +4

Exemplo 2.34. Calcule L 2e3t sen(4t) .
  
Temos L 2e3t sen(4t) = 2L e3t sen(4t) . Sabemos que se F(s) = L f(t)
então

L ekt f(t) = F(s − k) .
 4
Como L sen(4t) = segue-se que
s2 + 16
 8
L 2e3t sen(4t) = .
(s − 3)2 + 16

Exemplo 2.35. Calcule L sen2 (t) .
1
Temos sen2 (t) = (1 − cos(2t)) daí,
2
 1  1 
L sen2 (t) = L 1 − L cos(2t) .
2 2
Como
 s
L cos(at) =
s2 + a2
resulta
 1 s
L sen2 (t) = − 2
.
2s 2(s + 4)

Teorema 2.36 (Transformada de integrais). Se F(s) = L f(t) então
Z
 t F(s)
L f(u) du = .
0 s
Zt
Demonstração. De fato, se g(t) = f(u) du então g 0 (t) = f(t) e daí
0
 
L g (t) = sL g(t) − g(0) .
0

Como g(0) = 0 segue-se que


Zt
 
L f(t) = sL f(u) du .
0

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Exercícios 23

Exercícios
1. Esboce o gráfico de cada uma das funções abaixo. Diga quais delas são
contínuas, contínuas por partes (ou nem contínua por partes) no inter-
valo 0 ≤ t ≤ 3.
 

 t2 , 0≤t≤1 
 t2 , 0≤t≤1

 

1.1. f(t) = 2 + t, 1 < t ≤ 2 1.3. f(t) = 1, 1<t≤2

 


 6 − t, 2 < t ≤ 3 
 3 − t, 2<t≤3
 

 t2 , 0≤t≤1 
 0≤t≤1

 

t,
1.2. f(t) = (t − 1)−1 , 1 < t ≤ 2 1.4. f(t) = 3 − t, 1<t≤2

 


 1, 
 1,
2<t≤3 2<t≤3

2. Sejam a e b números reais diferentes de 0, determine a transformada de


Laplace das seguintes funções:

2.1. f(t) = cos(at). 2.4. f(t) = eat cosh(bt) 2.7. f(t) = eat cos(bt)

2.2. f(t) = cosh(bt) 2.5. f(t) = eat senh(bt) 2.8. f(t) = teat

2.3. f(t) = senh(bt) 2.6. f(t) = eat sen(bt) 2.9. f(t) = t sen(at)

3. Determinar se cada uma das seguintes integrais é ou não convergente.


Z +∞ Z +∞
2 −1
3.1. (t + 1) dt 3.3. t−2 et dt
0 1
Z +∞ Z +∞
3.2. te−t dt 3.4. e−t cos(t) dt
0 0

4. Suponha que f ∈ Eα que f 0 seja contínua e de ordem exponencial e que



F(s) = L f(t) , s ∈ R.

4.1. [Teorema do valor inicial] Se os limites limf(t) e lim sF(s) existem,


t→0 s→+∞
mostre que
limf(t) = lim sF(s) .
t→0 s→+∞

4.2. [Teorema do valor final] Se os limites lim f(t) e limsF(s) existem,


t→+∞ s→0
mostre que
lim f(t) = limsF(s) .
t→+∞ s→0

5. Se F(s) = L f(t) , verifique que
Z +∞
F(0) = f(t)dt se a integral for convergente .
0

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Exercícios 24

 f(t)
6. Se F(s) = L f(t) , s ∈ R, e lim existe, mostre que
t→0 t
Z +∞
 f(t)
L = F(u) du .
t s

 sen(t)
7. Determine L .
t

8. Mostre que se F(s) = L f(t) , s ∈ R então
Z +∞ Z +∞
f(t)
dt = F(s)ds, desde que as integrais convirjam .
0 t 0

Z +∞
sen(t) π
9. Mostre que dt = .
0 t 2
Z
 t sen(u)
10. Determine L du .
0 u
 2
11. Encontre L t cos(at) , onde a > 0.

12. Encontre as seguintes transformadas inversas:


 s  6s  n+1 n!
12.1. L−1 12.3. L−1 −1 2
s2 + 2 12.5. L
s2 − 16 sn+1
 4  2s + 1
12.2. L−1 12.4. L−1
(s + 2)2 2
4s + 4s + 5

13. Resolva, usando a transformada de Laplace, os seguintes problemas de


valor inicial

13.1. y 0 −2y = sen(t), com y(0) = 0. 13.4. y 0 + y = cos(πt), com y(0) = 0.

13.2. y 0 + 2y = et , com y(0) = 1. 13.5. y 00 + y 0 + y = 0, com y(0) = 1 e


13.3. y 0 −y = sen(2t), com y(0) = 0. y 0 (0) = 1

14. Construa uma tabela de transformadas de Laplace (se necessário, con-


sulte [Spiegel, 1971]).

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Aula 3

Nesta aula estudaremos as principais propriedades da função degrau uni-


tário e sua utilização na descrição, e cálculo de transformada de Laplace,
de funções descontínuas. Estudaremos também alguns exemplos de fun-
ções periódicas descontínuas, sua transformada de Laplace e como tratar de
problemas simples em equações diferenciais ordinárias com entrada desse
tipo. Para o material desta aula consulte também [Jr and Penney, 1995, cap.
4],[Spiegel, 1971] e [Boyce and DiPrima, 1998, cap. 6].

Funções degrau: função de Heaviside


Definimos a função degrau unitário (ou função de Heaviside) por


 0 se t < 0


1
u(t) = se t = 0

 2

 1 se t > 0 .

Observe que
 1
L u(t) = , se <e(s) > 0 .
s
Ou seja,
 
L u(t) = L 1 .

u(t)
6
1 a
1/2 q
-t

Figura 3.1: Função degrau unitário


Funções degrau: função de Heaviside 26

Com freqüência é útil considerar as seguintes funções: para cada c > 0


definimos a função


 0 se t < c


1
uc (t) := u(t − c) = se t = c
 2


 1 se t > c .

Observe que o que fizemos foi apenas dar um deslocamento no gráfico de u(t)
de c unidades.

u(t−c)
6
1 a

1/2 q

a -t
c

Figura 3.2: Gráfico de u(t − c)

Observação 3.1. Dada uma função f(t), definida para t ≥ 0 se quisermos des-
locar seu gráfico c unidades para a direita podemos fazê-lo considerando a
função (c > 0)

 0 se t < c
g(t) := uc (t)f(t − c) =
 f(t − c) se t > c .

6
f(t) uc (t)f(t−c)

Figura 3.3: Deslocamento em t

Teorema 3.2 (Deslocamento no tempo). Seja f(t) uma função tal que exista

sua transformada de Laplace. Se F(s) = L f(t) então

L u(t − c)f(t − c) = e−cs F(s) .

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Funções degrau: função de Heaviside 27

Em particular
 e−cs
L u(t − c) = .
s
Demonstração. De fato, temos
Z +∞ Z +∞

L u(t − c)f(t − c) = −st
e u(t − c)f(t − c) dt = e−st f(t − c)dt .
0 c

Usando a substituição y = t − c resulta,


Z +∞ Z +∞ Z +∞
−st −s(y+c) −cs
e f(t − c)dt = e f(y)dy = e e−sy f(y)dy .
c 0 0

Portanto,
 
L u(t − c)f(t − c) = e−cs L f(t) .

Teorema 3.3 (Deslocamento no tempo - forma 2). Seja f(t) uma função tal
que exista sua transformada de Laplace. Então
 
L f(t)u(t − c) = e−cs L f(t + c) sempre que c > 0

Exemplo 3.4. Achar a transformada inversa de

1 − e−2s
F(s) = .
s2
1 e−2s 
Podemos escrever F(s) = 2
− 2
. Seja f(t) = L−1 F(s) . Sabemos que
s s
 1
L t = 2.
s

Logo,
 e−2s
L u(t − 2) · (t − 2) = 2 .
s
Assim,
 
F(s) = L t − L u(t − 2) · (t − 2) .

Daí,
 
L f(t) = L t − u(t − 2) · (t − 2) .

Ou seja,
f(t) = t − u(t − 2) · (t − 2) para cada t ≥ 0 .

Podemos descrever essa função também por



 t se 0 ≤ t ≤ 2
f(t) =
 2 se t ≥ 2

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Funções degrau: função de Heaviside 28

veja seu gráfico na Figura 3.4.

Figura 3.4:

Exemplo 3.5. Dada 


 2t se 0 ≤ t ≤ 1
f(t) =
 t se t > 1

calcule L f(t) .

2 r

 b



 1 -

Figura 3.5: Gráfico da função f(t) do Exemplo 3.5

Observe que para c > 0 temos



 1 se t < c
1 − u(t − c) =
 0 se t > c .

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Funções degrau: função de Heaviside 29

1−u(t−c)
6

b -
c

Figura 3.6: Gráfico da função 1 − u(t − c)

Podemos escrever

f(t) = 2t − 2tu(t − 1) + tu(t − 1)

para t 6= 1. Se g(t) = 2t + 2 então

g(t − 1) = 2t .

Daí,
1
f(t) = 2t − g(t − 1)u(t − 1) + g(t − 1)u(t − 1) .
2
Logo,
 2 2 2 1 2 2
L f(t) = 2 − e−s ( 2 + ) + e−s ( 2 + ) .
s s s 2 s s
Ou seja,
 2 e−s e−s
L f(t) = 2 − 2 − .
s s s
Dados a e b números reais, com a < b, consideremos a função

v(t) = u(t − a) − u(t − b), t ∈ R

temos 




0 se t < a
v(t) = 1 se a < t < b



 0 se t > b

b b
a b

Figura 3.7: Gráfico de u(t − a) − u(t − b)

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Funções degrau: função de Heaviside 30

A função v(t) é muito útil quando desejarmos descrever por uma única
expressão funções definidas através de múltiplas fórmulas.

Exemplo 3.6. Suponha que a função f seja definida por



 t, 0 ≤ t < 1
f(t) =
 1, t ≥ 1 .

(a) Ache L f(t) .

(b) Resolva o problema de valor inicial

y 0 + 4y = f(t) , com y(0) = 0

1
6

-
1

Figura 3.8: Gráfico de f(t)

(a) Em primeiro lugar observamos que



 t, 0 ≤ t < 1
t(1 − u(t − 1)) =
 0, t > 1

e para obtermos f(t) devemos somar a função



 0 se t < 1
u(t − 1) =
 1 se t > 1 .

Daí,
f(t) = t − tu(t − 1) + u(t − 1) .

Assim,
   
L f(t) = L t − L tu(t − 1) + L u(t − 1) .

Usamos agora o teorema (3.3) para calcular a segunda parcela


   
L tu(t − 1) = e−s L t + 1 = e−s [L t + L 1 ] .

Assim,
 1 e−s e−s e−s
L f(t) = 2 − 2 − + .
s s s s
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Funções degrau: função de Heaviside 31

portanto,
 (1 − e−s )
L f(t) = .
s2
(b) Aplicando a transformada de Laplace na equação resulta
  
L y 0 + 4L y = L f(t) .

Daí,
  (1 − e−s )
sL y − y(0) + L y = .
s2
Ou seja,
 (1 − e−s )
(s + 4)L y = .
s2
Portanto,
 (1 − e−s )
L y = 2 .
s (s + 4)
Decompondo em frações parciais

1 A Bs + C
= + .
s2 (s+ 4) s+4 s2

Daí, 

 1


A = 16
1 = As2 + Bs(s + 4) + C(s + 4) =⇒ 1
B = − 16



 C= 1.
4

Logo,

 
1/16 1/16 1/4
L y = (1 − e )
−s
− + 2 .
s+4 s s
Assim,

e−4t 1 t u(t − 1)e−4(t−1) u(t − 1) u(t − 1) · (t − 1)


y(t) = − + − + − .
16 16 4 16 16 4

Ou ainda,  −4t

 e t 1

 + − se 0 ≤ t < 1
 16 4 16
y(t) =



 −4t
1
 (1 − e4 ) e + se t > 1 .
16 4
Observe que
e−4 3
lim− y(t) = lim+ y(t) = + ,
t→1 t→1 16 16
e−4 1
lim− y 0 (t) = lim+ y 0 (t) = − +
t→1 t→1 4 4
mas,
lim y 00 (t) = e−4 6= e−4 − 1 = lim+ y 00 (t) .
t→1− t→1

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Funções degrau: função de Heaviside 32

Ou seja, as funções y(t) e y 0 (t) são contínuas para todo t ∈ [0, +∞[ porém
y 00 (t) possui uma descontinuidade de salto finito (portanto é contínua por
partes se a redefinirmos em t = 1 como um valor finito) em t = 1.

Figura 3.9: Gráfico da solução Figura 3.10: Gráfico da derivada

Figura 3.11: Gráfico da derivada segunda

Para facilitar nosso trabalho vamos apresentar a seguir uma pequena ta-
bela contendo a transformada de Laplace das funções mas usuais.

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Funções degrau: função de Heaviside 33

Uma Tabela de Transformadas de Laplace


f(t) F(s) = L f(t)

Z +∞
1 f(t) F(s) = e−st f(t) dt Aula 2
0

1
2 1 Aula 2
s

1
3 eat Aula 2
s−a

n!
4 tn , n ∈ N Aula 2
sn+1

Γ (p + 1)
5 tp , p > −1 Aula 2
sp+1

 
6 c1 f1 (t) + c2 f2 (t) c1 L f1 (t) + c2 L f2 (t) Aula 2

b
7 sen(bt) Aula 2
s2 + b2

s
8 cos(bt) Aula 2
s2 + b2

s
9 cosh(bt) Aula 2
s2 − b2

b
10 senh(bt) Aula 2
s2 − b2

b
11 eat sen(bt) Aula 2
(s − a)2 + b2

s−a
12 eat cos(bt) Aula 2
(s − a)2 + b2

b
13 eat senh(bt) Aula 2
(s − a)2 − b2

s−a
14 eat cosh(bt) Aula 2
(s − a)2 − b2

1
15 teat Aula 2
(s − a)2

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Funções degrau: função de Heaviside 34

Uma Tabela de Transformadas de Laplace


f(t) F(s) = L f(t)

2as
16 t sen(at) Aula 2
(s2 + a2 )2

17 ekt f(t) F(s − k) Aula 2

1 s
18 f(at), a > 0 F( ) Aula 2
a a

19 tf(t) −F 0 (s) Aula 2


20 f 0 (t) sL f − f(0) Aula 2


21 f 00 (t) s2 L f − sf(0) − f 0 (0) Aula 2

Z +∞
f(t)
22 F(z) dz Aula 2
t
Z Ts
e−st f(t) dt
0
23 f(t) periódica de período T Aula 3
1 − e−sT

e−cs
24 u(t − c) (Heaviside) Aula 3
s

25 u(t − c)f(t − c) e−cs F(s) Aula 3

Zt
F(s)
26 f(x) dx Aula 2
0 s
Zt
27 f(x)g(t − x) dx (convolução) F(s)G(s) Aula 5
0

28 δ(t − a) (delta de Dirac) e−as Aula 5

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Funções periódicas 35

Funções periódicas
Diremos que uma função f(t), t ∈ R é periódica de período T > 0 se

f(t) = f(t + T ) para cada t ∈ R . (3.1)

Observe que se T é um período então nT , com n = 1, 2, . . ., também é um


período. O menor valor de T > 0 para o qual vale (3.1) é chamado período
fundamental. Se f(t) é periódica de período T > 0 então
Z +∞ +∞ Z (n+1)T
X

L f(t) = e −st
f(t) dt = e−st f(t) dt .
0 n=0 nT

Fazendo x = t − nT , teremos
Z (n+1)T ZT
e f(t) dt = e−s(x+nT ) f(x + nT ) dx
−st
nT 0

mas
f(x + nT ) = f(x) .

Assim,
ZT
 X+∞
L f(t) = e−snT e−sx f(x) dx .
n=0 0

Portanto, !Z
 X
+∞ T
L f(t) = (e−sT )n e−sx f(x) dx .
n=0 0

Agora, se |e−sT | < 1 então, usando a soma da série geométrica,

X
+∞
1
(e−sT )n = .
n=0
1 − e−sT

Portanto, ZT
 e−st f(t)dt
L f(t) = 0
.
1 − e−sT
Provamos assim o seguinte

Teorema 3.7 (Transformada de função periódica). Seja f(t) uma função de-
finida para t ≥ 0 e periódica de período T > 0. Então
ZT
 e−st f(t)dt
L f(t) = 0 .
1 − e−sT

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Funções periódicas 36

Exemplo 3.8. Consideremos a função



 1, 0≤t<1
f(t) =
 0, 1≤t<2

com
f(t + 2) = f(t) para todo t ≥ 0 .

Isto é, f(t) periódica de período T = 2.

1 b b b
. . .
. . .
. . .
. . .
. . .
. . .
. . .
. . .
. . .
. b . b . -
1 2 3 4 5

Figura 3.12: Onda quadrada

Temos Z2 Z1
−st −st −e−st 1 1 − e−s
e f(t) dt = e dt = =
0 0 s 0 s
logo,
 1 − e−s
L f(t) =
s(1 − e−2s )
Exemplo 3.9. Seja f(t) = t em 0 ≤ t < 1 e tal que f(t + 1) = f(t) para todo t ≥ 0.

6
1

b. b. b. ...b ...b ...b


1
... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ..
... ... ... . . -..
1 2 3 4 5

Figura 3.13: Onda dente de serra

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Exercícios 37

Integrando por partes obtemos


Z1 Z1 Z1
−st −st −te−st 1 1
e f(t) dt = e t dt = + e−st dt
0 0 s 0 s 0

daí, Z1
e−s 1 − e−s
e−st t dt = − + .
0 s s2
Portanto,
 1 − e−s e−s
 
1
L f(t) = − .
1 − e−s s2 s

Exercícios
1. Seja f(t) definida por

 sen(t) , 0≤t≤π
f(t) =
 f(t + π) = f(t) , para todo t ≥ 0


Esboce o gráfico de f(t) e determine L f(t) .

2. Seja f(t) uma função periódica de período T e tal que

f(t + T/2) = −f(t) para todo t ≥ 0 . (3.2)

(Exemplo: sen(t), cos(t), etc). Mostre que


Z T/2
 e−st f(t)dt
L f(t) = 0
.
1 + e−sT/2

Uma função periódica que verifica (3.2) é chamada harmônica-ímpar.

3. Seja f(t) uma função harmônica-ímpar de período T . A retificação de onda


completa de f(t) é a função

 f(t) T
se 0≤t<
fR (t) = 2
 f (t + T/2) = f (t) para todo t.
R R

3.1. Dê exemplos de retificações.

3.2. Mostre que fR (t) é uma função periódica de período T/2.


 1 + e−sT/2 
 
3.3. Mostre que L fR (t) = L f(t) e deduza que
1 − e−sT/2
 sT 
L fR (t) = cotgh( )L f(t) .
4

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Exercícios 38

4. Seja f(t), periódica de período 4, definida por



 t se 0 ≤ t ≤ 2
f(t) =
 −t + 4 se 2 ≤ t ≤ 4

calcule L f(t) .

5. Seja f(t) periódica de período 2 definida por



 1 se 0 ≤ t < 1
f(t) =
 −1 se 1 ≤ t < 2

calcule L f(t) .

6. Calcule L f(t) se

 cos t se 0≤t<π
6.1. f(t) =
 f(t + π) = f(t) para todo t

 t se 0 ≤ t < 1
6.2. f(t) = e ainda f(t + 2) = f(t) ∀t ≥ 0.
 −t se 1 ≤ t < 0

 sen(t) se 0 ≤ t < π/4
7. Seja f(t) definida por f(t) =
 sen(t) + cos(t − π/4) se t ≥ π/4 .

Esboce o gráfico de f(t) e determine L f .

8. Achar a transformada inversa de


1 − e−2s 2(s − 1)e−2s
8.1. F(s) = 8.3. F(s) =
s2 s2 − 2s + 2
e−2s 2e−2s
8.2. F(s) = 2 8.4. F(s) = 2
s +s−2 s −4

9. Para cada uma das funções abaixo, esboce o gráfico e determine sua trans-
formada de Laplace.

9.1. f(t) = u(t − 1) + 2u(t − 3) − 6u(t − 4), t ≥ 0

9.2. f(t) = g(t − π)u(t − π), com g(t) = t2

9.3. f(t) = (t − 1)u(t − 1) − 2(t − 2) · u(t − 2) + (t − 3) · u(t − 3)



 0 se t < 2
9.4. f(t) =
 (t − 2)2 se t ≥ 2


 0


se t < π
9.5. f(t) = t − π se π ≤ t < 2π



 0 se t ≥ 2π

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Exercícios 39






t se t < 1
9.6. f(t) = 0 se 1 ≤ t < 4



 t − 4 se 4 ≤ t

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Aula 4

Nesta Aula usaremos a transformada de Laplace para resolver alguns pro-


blemas de valor inicial em equações diferenciais ordinárias.

Resolução de problemas de valor inicial


Vimos na Aula 1, pág. 1, pág. 3 e pág 5, alguns problemas simples cujos
modelos matemáticos podem ser descritos por equações diferenciais ordiná-
rias lineares de segunda ordem com coeficientes constantes. Sejam a, b e c
constantes reais e consideremos o problema de valor inicial

 ay 00 + by 0 + cy = f(t)
(4.1)
 y(0) = y0 y 0 (0) = v0

com y0 e v0 dados. Vamos dividir em etapas o procedimento que devemos


adotar.
Etapa 1: Aplicamos a transformada de Laplace na equação.
 
L ay 00 + by 0 + cy = L f(t) .

Usando a linearidade da transformada


   
aL y 00 + bL y 0 + cL y = L f(t) . (4.2)

Usando a fórmula da transformada da derivada


 
L y 0 = sL y − y(0)

e
  
L y 00 = sL y 0 − y 0 (0) = s2 L y − sy(0) − y 0 (0) .

Usando agora as condições iniciais: y(0) = y0 e y 0 (0) = v0 resulta que


 
L y 0 = sL y − y0
Resolução de problemas de valor inicial 41

e
 
L y 00 = s2 L y − sy0 − v0 .

Substituindo essas expressões em (4.2) resulta


 
(as2 + bs + c)L y = L f(t) + asy0 + av0 + by0 .

Resolvendo para L y

 L f(t) asy0 av0 + by0
L y(t) = 2
+ 2 + 2 . (4.3)
as + bs + c as + bs + c as + bs + c
1
Observação 4.1. A função H(s) = é chamada função de transfe-
as2
+ bs + c
rência do problema com condições homogêneas, isto é, y0 = 0 e v0 = 0. O
polinômio as2 + bs + c é chamado polinômio característico da equação dife-
rencial em (4.1).

Etapa 2: Uso de frações parciais (ou outra técnica) para decompor a ex-

pressão obtida para L y(t) em (4.3) em expressões facilmente reconhecidas
numa tabela de transformadas e deste modo poder encontrar a solução y(t).

Exemplo 4.2. Encontre a solução do seguinte problema de valor inicial.



 y 00 + 2y = 0
(4.4)
 y(0) = 1 y 0 (0) = 1 .

Aplicando a transformada de Laplace na equação obtemos


 
L y 00 + 2L y = 0 . (4.5)

Como
 
L y 00 = s2 L y(t) − sy(0) − y 0 (0) ,

resulta que
 
L y 00 (t) = s2 L y(t) − s − 1 .

Substituindo na equação (4.5), segue-se que



(s2 + 2)L y(t) = s + 1 .

Daí,
 s 1
L y(t) = + 2 .
s2 +2 s +2
Sabemos que
 s  a
L cos(at) = 2 2
e L sen(at) = 2 .
s +a s + a2

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Resolução de problemas de valor inicial 42

Logo,
  √ 1 √
L y(t) = L cos( 2t) + √ sen( 2t) .
2
Portanto,
√ 1 √
y(t) = cos( 2t) + √ sen( 2t) .
2

Figura 4.1: Gráfico da solução y(t) do Exemplo 4.4

Vamos agora estudar um caso mais geral do Exemplo 4.2.

Exemplo 4.3. Encontre a solução do seguinte problema de valor inicial, que cor-
responde a um oscilador harmônico simples não amortecido (veja a equação 1.3
na página 3). Sejam m > 0 e k > 0 determinar a função y(t) definida para t ≥ 0
e tal que verifique as seguintes condições

 my 00 + ky = 0
(4.6)
 y(0) = a y 0 (0) = b .

Tomando a transformada de Laplace na equação teremos


 
mL y 00 (t) + kL y(t) = 0 . (4.7)

Como
 
L y 00 (t) = s2 L y(t) − sy(0) − y 0 (0) ,

resulta
 
L y 00 (t) = s2 L y(t) − as − b .

Substituindo na equação (4.7), segue-se que



(ms2 + k)L y(t) = (as + b)m .

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Resolução de problemas de valor inicial 43

Daí,
 as b
L y(t) = + 2 .
s2 + k/m s + k/m
Seja
k
ω2 = .
m
Sabemos que

 
p
s k/m
L cos(ωt) = 2
e que L sen(ωt) = 2 .
s + k/m s + k/m

Logo
  b 
L y(t) = aL cos(ωt) + p L sen(ωt) .
k/m
Portanto
b
y(t) = a cos(ωt) + sen(ωt) .
ω
Observe que se definirmos

a2 ω2 + b2
A := ,
ω

então podemos escrever

y(t) = A sen(ωt + δ) , (4.8)

com
a aω
sen(δ) = =√
A a2 ω2 + b2
e
b/ω b
cos(δ) = =√ .
A a2 ω2 + b2
Observação 4.4. A expressão (4.8) é chamada uma harmônica de amplitude
A, freqüência ω (relativamente a intervalos de comprimento 2π) e fase δ. Seu

gráfico é uma senóide de período T = . Observe que a amplitude no sistema
ω r
k
massa-mola considerado nesse exemplo, depende da freqüência ω = .
m
Vamos agora resolver um problema com amortecimento (veja a equação 1.2,
na página 2).

Exemplo 4.5. Encontre a solução y(t) da equação diferencial

y 00 (t) + y 0 (t) + y(t) = 0

que satisfaz
y(0) = 1 e y 0 (0) = 0 .

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Resolução de problemas de valor inicial 44

Aplicando a transformada da Laplace na equação teremos


  
L y 00 (t) + L y 0 (t) + L y(t) = 0 .

Como
 
L y 0 (t) = sL y(t) − 1 ,
 
L y 00 (t) = s2 L y(t) − s

e

L 0 =0

teremos, após substituirmos na equação,



(s2 + s + 1)L y(t) = s + 1 .

Daí,
 s+1
L y(t) = .
s2 +s+1
Como as raízes do denominador s2 + s + 1 têm parte imaginária não nula,
podemos escrever
s2 + s + 1 = (s + 1/2)2 + 3/4 .

Daí,
s+1 s+1 s + 1/2 1/2
= = + .
s2 +s+1 2
(s + 1/2) + 3/4 (s + 1/2) + 3/4 (s + 1/2)2 + 3/4
2

Consultando a tabela de Transformadas temos


 s−a
L eat cos(bt) =
(s − a)2 + b2
e
 b
L eat sen(bt) = .
(s − a)2 + b2
Logo √
 t 3 s + 1/2
L e−t/2 cos( ) =
2 (s + 1/2)2 + 3/4
e √ √
 −t/2 t 3 3/2
L e sen( ) = .
2 (s + 1/2)2 + 3/4
Portanto
√ √
s+1  −t/2 t 3  1 −t/2 t 3
=L e cos( ) +L √ e sen( ) .
s2 + s + 1 2 3 2
Ou seja,  √ √ 
t 3 1 t 3
y(t) = e−t/2 cos( ) + √ sen( ) .
2 3 2

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Resolução de problemas de valor inicial 45

Observe que lim y(t) = 0.


t→+∞

Figura 4.2: Gráfico da solução y(t) do Exemplo 4.5

Vamos agora estudar um caso genérico desse exemplo.

Exemplo 4.6. Sejam L, R e C constantes estritamente positivas. Encontre a


solução y(t) da equação diferencial

1
Ly 00 (t) + Ry 0 (t) + y(t) = 0
C

que satisfaz
y(0) = a e y 0 (0) = b .

Aplicando a transformada de Laplace na equação obtemos

1 
(Ls2 + Rs + )L y = aLs + bL + aR .
C

Daí
 aLs + bL + aR
L y = . (4.9)
Ls2 + Rs + C1
A decomposição em frações parciais de (4.9) depende do tipo de raízes da
equação s2 + Rs/L + 1/LC = 0 e isso depende do sinal do discriminante ∆ =
R2 /L2 − 4/LC.
Suponhamos inicialmente que R2 /L2 − 4/LC < 0. Nesse caso as raízes da
equação s2 + Rs/L + 1/LC = 0 possuem a forma
r
R 1 R2
s1,2 = − ±i − .
2L LC 4L2

Vamos reescrever (4.9) na forma


 as + b + aR/L
L y = 2 R 1
.
s + L s + LC

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Resolução de problemas de valor inicial 46

Podemos escrever

R 1 R 2 1 R2
s2 + s+ = (s + ) + − .
L LC 2L LC 4L2

Como 4L − CR2 > 0, segue-se que

1 R2 4L − CR2
− = > 0.
LC 4L2 4L2 C

Podemos definir ω > 0 por


r
1 R2
ω := − .
LC 4L2

Assim
 as + b + aR/L as + aR/2L + b + aR/2L
L y = = .
(s + R/2L)2 + ω2 (s + R/2L)2 + ω2
Ou ainda

   
s + R/2L b + aR/2L
L y =a + .
(s + R/2L)2 + ω2 (s + R/2L)2 + ω2

Consultando a tabela de Transformadas temos


 s + R/2L
L e−Rt/2L cos(ωt) =
(s + R/2L)2 + ω2

e
 ω
L e−Rt/2L sen(ωt) = .
(s + R/2L)2 + ω2
Logo
  (b + aR/2L)  −Rt/2L
L y = aL e−Rt/2L cos(ωt) + L e sen(ωt) .
w
Portanto
(b + aR/2L)
y(t) = e−Rt/2L {a cos(ωt) + sen(ωt)} .
w
Observe que lim y(t) = 0 e que a velocidade e a forma com que isso acon-
t→+∞
tece depende da relação R/2L.
Suponhamos agora que R2 /L2 − 4/LC = 0. Nesse caso teremos

R 1 R 2
s2 + s+ = (s + ) .
L LC 2L

Daí
 as + b + aR/L a b + aR/2L
L y = R 2
= R
+ R 2
.
(s + 2L ) s + 2L (s + 2L )
Consultando a tabela de Transformadas teremos
 1
L e−Rt/2L = R
s + 2L

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Resolução de problemas de valor inicial 47

e
 1
L te−Rt/2L = R 2
.
(s + 2L )
Portanto
−Rt/2L aR
y(t) = e a + (b + )t .
2L
Observe que lim y(t) = 0, mas nesse caso não existe possibilidade de que
t→+∞
esse comportamento apresente-se de modo oscilatório. r
R2 1
Finalmente suponhamos que R2 /L2 −4/LC > 0. Seja w := 2
− . Então
4L LC
R 1
as raízes de s2 + s+ = 0 são
L LC
r
R R2 1
s1,2 =− ± 2
− .
2L 4L LC
R R R
Como w > temos que s1 = − − w < 0 e s2 = − + w > 0. Podemos
2L 2L 2L
escrever
R 1
s2 + s+ = (s − s1 )(s − s2 ) .
L LC
Daí,
 as + b + aR/L A B
L y = 2 R 1
= + ,
s + L s + LC s − s1 s − s2
onde A = a/2 − b/2w − aR/4Lw e B = a/2 + b/2w + aR/4Lw. Portanto,

y(t) = Aes1 t + Bes2 t = es1 t (A + Be2wt ) .

Observe que, nesse caso, podemos ter |y(t)| → +∞ se t → +∞, bastando que

a b aR
+ + 6= 0 .
2 2w 4Lw

Exemplo 4.7. Encontre a solução do seguinte problema inicial, observe que se


trata de um oscilador harmônico simples não amortecido, porém agora temos
uma força externa descontínua atuando sobre o sistema.

 y 00 + y = f(t)
 y(0) = 0 y 0 (0) = 1

com 
 1 se 0 ≤ t < π/2
f(t) =
 0 se π/2 ≤ t < +∞ .

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Resolução de problemas de valor inicial 48

f(t)
6
1

π/2
-
t

Figura 4.3: Gráfico de f(t)

Podemos escrever
π
f(t) = 1 − u(t − ).
2
Aplicando a transformada de Laplace na equação resulta
  
L y 00 + L y = L f(t) .

Temos
 
L y 00 (t) = s2 L y(t) − 1

e
 1 e−sπ/2
L f(t) = − .
s s
Logo
 1 e−sπ/2
(s2 + 1)L y(t) − 1 = − .
s s
Assim,
 1 e−sπ/2 1
L y(t) = 2
− 2
+ 2 .
s(s + 1) s(s + 1) s + 1
Usando frações parciais obtemos

1 1 s
= − 2 .
s(s2 + 1) s s +1

Assim,
 1 s e−sπ/2 s e−sπ/2 1
L y(t) = − 2 − + 2 + 2 .
s s +1 s s +1 s +1
 1  s  1 
Como L 1 = , L cos(t) = 2 , L sen(t) = 2 , L u(t − π/2) =
s s +1 s +1
e−sπ/2
e
s
 s e−sπ/2
L u(t − π/2) cos(t − π/2) = 2 ,
s +1
segue-se que

y(t) = 1 − cos(t) + sen(t) − u(t − π/2) + u(t − π/2) cos(t − π/2) .

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Resolução de problemas de valor inicial 49

Ou ainda, 
 1 − cos(t) + sen(t) se 0 ≤ t < π
y(t) = 2 (4.10)
 2 sen(t) − cos(t) π
se t ≥ .
2

Figura 4.4: Gráfico da solução y(t) do Exemplo 4.7

 π
 cos(t) + sen(t) se 0 < t <
y 0 (t) = 2 (4.11)
 sen(t) + 2 cos(t) se t > π
2

Figura 4.5: Gráfico da derivada y 0 (t) (ver (4.11)

 π
 cos(t) − sen(t) se 0 < t <
00
y (t) = 2 (4.12)
 −2 sen(t) + cos(t) se t > π
2

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Resolução de problemas de valor inicial 50

Figura 4.6: Gráfico da derivada segunda y 00 (t) (ver (4.12))

Observe que y(t) e y 0 (t) são contínuas enquanto que

lim y 00 (t) = −1 6= lim


− π+
y 00 (t) = −2
t→ π
2 t→ 2

ou seja y 00 é apenas contínua por partes.

Exemplo 4.8. Vamos considerar o mesmo oscilador do exemplo 4.7, porém


agora a força externa além de descontínua será periódica. Seja f a função
definida por 
 1 se 0 ≤ t < π
f(t) =
 0 se π ≤ t < 2π

e f(t + 2π) = f(t)para todo t ≥ 0, achar a solução do problema de valor inicial



 y 00 + y = f(t)
 y(0) = 0 y 0 (0) = 0 .

Aplicando a Transformada de Laplace resulta

f(t)
6
1

- t
π 2π 3π 4π

Figura 4.7: Gráfico de f(t)

  
L y 00 (t) + L y(t) = L f(t) .

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Resolução de problemas de valor inicial 51

Sabemos que
R2π
 e−st f(t) dt
L f(t) = 0
.
1 − e−2πs
Daí, Z 2π Zπ π
−st −st e−st 1
e f(t) dt = e dt = − = (1 − e−πs ) .
0 0 s 0 s
Logo,
 1 − e−πs 1
L f(t) = −2πs
= .
s(1 − e ) s(1 + e−πs )
Por outro lado,
 
L y 00 (t) = s2 L y(t) .

Assim,
 1
(s2 + 1)L y(t) = .
s(1 + e−πs )
Daí,
 1
L y(t) = .
s(s2 + 1)(1 + e−πs )
Como
1 1 s
= − 2 ,
s(s2 + 1) s s +1
obtemos
 1 s
L y(t) = − 2 .
s(1 + e ) (s + 1)(1 + e−πs )
−πs

Vamos agora ver como podemos determinar a transformada inversa


 s
L−1 .
(s2 + 1)(1 + e−πs )

Escrevemos, usando a série geométrica1 ,

1 X
+∞ X
+∞
n −nπs
−πs
= (−1) e =1+ (−1)n e−nπs .
1+e n=0 n=1

Daí,
s s X −nπs +∞
ns e
= 2 + (−1) 2 .
(s2 + 1)(1 + e−πs ) s + 1 n=1 s +1
Agora,
 s e−nπs
L u(t − nπ) cos(t − nπ) = 2 .
s +1
Logo,

 s X
+∞
L −1
2 −πs
= cos(t) + (−1)n u(t − nπ) cos(t − nπ) .
(s + 1)(1 + e ) n=1

1
Aqui é importante observar que devemos ter |e−πs | = e−π<e(s) < 1 e que isso só ocorre se
<e(s) > 0.

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Resolução de problemas de valor inicial 52

De modo análogo,

 1  X e−nπs
+∞
−1 1
L −1
= L + .
s(1 + e−πs ) s n=1 s

Daí
 1 X
+∞
L−1 −πs
= 1 + (−1)n u(t − nπ) .
s(1 + e ) n=1

Assim,

  X
+∞

L y(t) = L 1 + (−1)n u(t − nπ) − L cos(t) −
n=1

X
+∞

−L (−1)n u(t − nπ) cos(t − nπ) .
n=1

Ou seja,

X
+∞
y(t) = (1 − cos(t)) + (−1)n u(t − nπ)(1 − cos(t − nπ)) .
n=1

Pode-se verificar que para cada n ∈ N

1 + (−1)n
y(t) = − (n + 1) cos(t) se nπ < t < (n + 1)π .
2

Veja a Figura (4.8) para um esboço do gráfico dessa função.

Figura 4.8: Gráfico da solução

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Resolução de problemas de valor inicial 53

Figura 4.9: Gráfico da derivada

A seguir, incluímos um arquivo MatLab 5.2 que permite simular o sistema


acima e outros do mesmo tipo podendo inclusive ter amortecimento.

1 %Simulação para um exemplo da Aula 4


2 %a equação é da forma
3 %
4 % y’’+ y = f(t), y(0)=1 e y’(0)=0
5 %
6 % onde f(t) é uma onda quadrada de período 2pi
7 % De modo geral o sistema é descrito por
8 %
9 %
10 % x’=Ax+Bu
11 % y=Cx+Du
12 %
13 %
14 %A é chamada matriz de estado, B é chamada matriz
15 %de entrada, C é chamada matriz de saída e D é
16 %chamada matriz de transmissão.
17 %
18 %A matriz A tem a forma
19 %
20 %
21 % A=[0 1
22 % -k/M - b/M ]

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Resolução de problemas de valor inicial 54

23 %
24 % M é a massa , k é a constante da mola que está
25 % ligada a M a constante b,é a constante de
26 %amortecimento.
27 %
28 %A matriz B tem a forma
29 %
30 % B=[0
31 % 1/M]
32 %
33 %
34 %A matriz C para essa simulação foi escolhida como
35 %
36 %C=eye(2) e a matriz D como D=zeros(2,1)
37 %
38 %
39 %Neste exemplo a variável do sistema é chamada Sistema1.
40 %Assim, caso deseje um exemplo simples, ou ainda
41 %visualizar as matrizes digite Sistema1 logo após ter
42 %rodado massa1.m.
43 %Para maiores informações abra o arquivo.
44
45
46 M=input(’Digite um valor positivo para a massa m= ’)
47 %escolha de M
48
49 k=input(’Digite um valor positivo para a
50 constante da mola k= ’)
51 %escolha da mola
52 b=input(’Digite um valor para a constante de
53 amortecimento b= ’)
54 tf=input(’Digite um valor para o tempo
55 de simulação tf= ’);
56 %Matriz A
57 A=[0 1 ; -k/M -b/M ];

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Resolução de problemas de valor inicial 55

58
59 B=[0 ; 1/M];
60
61 C=[1 0 ;0 1 ];
62
63 D=[0 ; 0];
64
65 estados={’posição da massa M’,’velocidade de M’};
66 %escolhas dos nomes das variáveis
67
68 force={’força’};%escolha de rótulos para a força externa
69
70 respostas={’posição de M’,’velo de M’};
71 %escolha de rótulos para as respostas
72
73 %Transforma o problema na forma de estados
74 Sistema1=ss(A,B,C,D,’statename’,estados,’inputname’,
75 force,’outputname’,respostas);
76
77 [U,t]=gensig(’square’,2*pi,tf,0.1); V=1-U; X0=[0,0];
78 [r,t]=lsim(Sistema1,V,t); plot(t,r(:,1)) figure(2),...
79
80 plot(t,r(:,2))
81 %Se você deseja resposta a degrau unitário
82 %basta entrar com
83 %step(Sistema1)
84 %
85 % Se for à delta de Dirac em t=0: impulse(Sistema1)
86 %
87 %Se desejar resposta a uma senóide
88 %[U,t]=gensig(’sin’,2,10,0.1) gera uma
89 %senóide de período 2
90 % atuando durante 10s com amostras de 0.1 segundo
91 % em seguida
92 %lsim(Sistema1,U,t) faz a simulação.

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Resolução de problemas de valor inicial 56

93 %Um outro modo de fazer isso é


94 %entrar com o tempo t=0:0.1:10 e em seguida entrar com
95 % a função.
96 %Por exemplo:
97 %v=3*cos(pi*t)
98 %depois é só mandar simular
99 %lsim(Sistema1,v,t)
100 %caso as condições iniciais sejam não nulas devemos
101 % especificá-las.
102 %Por exemplo X0=[1 1] e em seguida entrar com
103 %lsim(Sistema1,v,t,X0)
104 %observe que denotamos nosso sistema por Sistema1
105 %caso queira apenas uma das oito respostas do sistema
106 %(são duas para cada estado, cada uma correspondente a
107 %uma das duas entradas)
108 % por exemplo à função delta de Dirac, digitamos
109 %impulse(Sistema1(1,1))ou ainda impulse(Sistema1(3,2))
110 %
111 %Caso queira a resposta do sistema devido
112 %apenas a um deslocamento
113 %inicial, isto é , estudar o sistema
114 %
115 % x’=Ax
116 % y=Cx ,x(0)=x0
117 %
118 %devemos entrar com
119 %initial(Sistema1,x0,t)
120 %onde t representa ou um instante final
121 %(neste caso a simulação começa em t=0)
122 %ou um vetor da forma t=0:dt:tf
123 %Para maiores informações sobre as funções, MATLAB,
124 %aqui usadas consulte o help.
125 %
126 %
127 %Caso queira transformar esse sistema para a forma

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Exercícios 57

128 %de função de transferência


129 %uma das formas de se fazer isso é
130 %
131 %[num,den]=tfdata(Sistema1);
132 %H=tf(num,den) , mostra todas as funções de
133 %transferência associadas ao sistema.
134 %
135 %Em qualquer caso , quando queremos guardar as respostas
136 %para utilização em outro momento, podemos fazê-lo
137 %simplesmente assim,
138 %[r,t]=Matfunção(Sistema1,condições), cada solução do
139 %nosso sistema corresponde a uma linha da matriz r .

Exercícios
1. Sejam a e b constantes não nulas. Use a transformada de Laplace para
resolver os seguintes problemas de valor inicial

1.1. ay 0 + by = c com y(0) = y0

1.2. y 0 + by = sen(t) com y(0) = 0

1.3. y 0 + by = et com y(0) = 1

1.4. y 0 + by = eit com y(0) = 1 e i2 = −1


di 1
1.5. R + i = 0 com i(0) = 1, sendo R e C diferentes de zero.
dt C
di 1
1.6. R + i = sen(t) com i(0) = 0, sendo R e C diferentes de zero.
dt C
di
1.7. L + Ri = a com i(0) = 0, sendo R e L diferentes de zero.
dt
di
1.8. L + Ri = cos(t) com i(0) = 0, sendo R e L diferentes de zero.
dt

2. Escreva a solução y(t) do Exemplo 4.2 na forma y(t) = A(ω) sen(ωt + δ)

3. Resolva os seguintes problemas de valor inicial usando a transformada


de Laplace

3.1. y 00 + y 0 − 2y = 0 com y(0) = 1 e y 0 (0) = 1.

3.2. y 00 + y = 0 com y(0) = 1 e y 0 (0) = 1.

3.3. y 00 + y − 2y 0 = 0 com y(0) = 1 e y 0 (0) = 1.

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Exercícios 58

3.4. y 00 + y 0 − 2y = 0 com y(0) = 0 e y 0 (0) = 1.

4. Resolva os seguintes problemas de valor inicial usando a transformada


de Laplace

4.1. y 00 − 4y 0 + 3y = 10e−2t com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0.

4.2. y 00 + 3y = 8t2 com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0.

4.3. y 00 − y 0 − 2y = 10 cos(t) com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0.

4.4. y 00 − y 0 − 2y = 3e2t com y(0) = 0 e y 0 (0) = −2.

4.5. y 00 + y 0 − 2y = −6 sen(2t) + e−t com y(0) = 1 e y 0 (0) = 2.



 t se 0 ≤ t < 1
5. Seja f(t) = , resolva o seguinte problema usando a
 1 se t ≥ 1
transformada de Laplace.

y 00 + 2y = f(t) com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0 .



 1 se 0 ≤ t < 1
6. Seja f(t) = , resolva os seguintes problemas usando a
 0 se t ≥ 1
transformada de Laplace.

6.1. y 00 + 2y = f(t) com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0.

6.2. y 00 + 3y 0 + 2y = f(t) com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0.

6.3. y 00 − 2y 0 + y = f(t) com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0.

6.4. y 00 + 2y 0 + 3y = f(t) com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0.




 0 se 0 ≤ t < 1


7. Seja f(t) = 1 se 1 ≤ t < 2 , resolva o problema usando a transfor-



 0 se t ≥ 2
mada de Laplace

y 00 + 3y = f(t) com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0




 cos(t) se 0 ≤ t < π/2


8. Seja f(t) = 0 se π/2 ≤ t < π , resolva o problema



 t−π se t ≥ π

y 00 + 4y = f(t) com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0

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Aula 5

Nesta Aula estudaremos modelos em que entradas impulsivas devem ser


consideradas, veremos também a integral de convolução e seu uso na resolu-
ção de equações diferenciais.

Funções impulso: delta de Dirac


Continuaremos ainda com modelos descritos por equações de segunda or-
dem do tipo
ay 00 (t) + by 0 (t) + cy(t) = f(t) . (5.1)

Em algumas aplicações é necessário tratar com variações de voltagens ou


forças de grande valor mas que atuam durante curtos intervalos de tempo.
Além disso, os valores dessas entradas, f(t), podem não ser conhecidos ou
mesmo relevantes e só importando o impulso da entrada:
Z a+
I() := f(t) dt  > 0 pequeno
a−

e f(t) nula fora do intervalo ]a − , a + [.

Figura 5.1: Exemplo de um modelo de impulso

Podemos escrever a integral


Z +∞
I= f(t)dt
−∞
Funções impulso: delta de Dirac 60

como a medida da intensidade da função de entrada. Em particular, se a = 0


e f(t) for definida por

 1

 se − < t < 
 2
f(t) = d (t) = (5.2)



 0 se t ≤ − ou t ≥ 

teremos

d (t)
6

1
2

-t
− 0 

Figura 5.2: Gráfico de d (t)

Z +∞
I= d (t)dt = 1
−∞

qualquer que seja  > 0. Daí,


Z +∞
1 = lim d (t) dt = I .
→0 −∞

Seja f(t) uma função contínua em 0. Então


Z +∞ Z
1 +
d (t)f(t)dt = f(t) dt .
−∞ 2 −

Pelo teorema do valor médio para integral (ver [Leithold, 1986, p.251-255]),
para cada , existe t ∈] − , [ tal que
Z
1 +
f(t) dt = f(t ) .
2 −

Assim, Z +∞
lim d (t)f(t)dt = lim f(t ) = f(0) .
→0 −∞ →0

O físico Paul Dirac idealizou em 1940 uma função impulso unitário δ,


que representaria um impulso unitário no instante t = 0, mas que seria nula
para todos os outros valores de t. Assim a função δ é definida pelas seguintes
propriedades

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Funções impulso: delta de Dirac 61

(δ1) δ(t) = 0 se t 6= 0,
Z +∞
(δ2) δ(t)f(t)dt = f(0), para toda função contínua f(t), e em particular
−∞
Z +∞
(δ3) δ(t)dt = 1.
−∞

Não é difícil verificar que a δ de Dirac não corresponde a nenhuma função


que se estuda no Cálculo Diferencial e Integral Elementar (ver [Zemanian, 1987,
pág. 10]). Somente durante a década de 1950, L. Schwartz criou uma teoria
matemática, chamada Teoria das Distribuições, que permitiu reinterpretar
todo o Cálculo Diferencial de modo a fazer sentido em se falar de uma fun-
ção δ de Dirac, tendo propriedades semelhantes às acima citadas (δ1, δ2 e
δ3) e ainda a seguinte

d
δ(t) = u(t) (u(t) é a função de Heaviside) .
dt

Finalmente na década de 1980, J.F. Colombeau cria uma nova teoria ma-
temática (Teoria das funções generalizadas de Colombeau), que inclui a te-
oria anterior de L. Schwartz, reinterpretando todo o Cálculo Diferencial e
Integral, na qual a δ de Dirac possui exatamente as propriedades δ1, δ2 e
δ3. Até o momento este é o estado mais avançado de recriação do Cálculo
Diferencial e Integral no qual objetos matemáticos, como a delta de Dirac e
outros, atingem a condição de serem considerados funções. Neste curso, con-
tinuaremos a tratar a delta de Dirac de modo ingênuo, como por exemplo
em [Boyce and DiPrima, 1998]. Uma vez que δ(t) corresponde a um impulso
unitário em t = 0, δ(t − t0 ) corresponderá a um impulso unitário no instante
t = t0 (t0 > 0). Assim podemos escrever

(δ1 0 ) δ(t − t0 ) = 0 para t 6= t0


Z +∞
0
(δ2 ) δ(t − t0 )f(t)dt = f(t0 ), para toda função contínua f(t), e em particular
−∞
Z +∞
(δ3 0 ) δ(t − t0 )dt = 1.
−∞

É possível definir a transformada de Laplace da função δ do seguinte modo


 
L δ(t − t0 ) = lim L d (t − t0 ) .
→0

Teremos Z +∞ Z t0 +
 1
L d (t − t0 ) = −st
d (t − t0 )e dt = e−st dt .
0 2 t0 −

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Funções impulso: delta de Dirac 62

Ou seja,

t +
1 −st 0 1
L d (t − t0 ) = − e = (es − e−s ) e−st0 .
2s  t0 − 2s 
Daí,
 senh(s) −st
L d (t − t0 ) = e 0.
s
Usando a regra de L’Hôpital (ver [Leithold, 1986, pág .504]), encontramos

senh(s)
lim = 1.
→0 s

Daí,

L δ(t − t0 ) = e−st0 .

Em particular, quando t0 = 0, teremos



L δ(t) = 1 .

Observação 5.1. Existem algumas seqüências de funções, fn (t), que servem


como um modelo para a delta de Dirac. Algumas características que essas
seqüências devem possuir são

• lim fn (0) = +∞;


n→+∞

• lim fn (t) = 0 se t 6= 0;
n→+∞
Z +∞
• fn (t) dt = 1;
−∞

• fn (t) é uma função par para cada n ∈ N.

Como exemplo temos


2n
fn (t) = .
1 + 4π2 n2 t2
Um outro exemplo é
n exp(−n2 t2 )
fn (t) = √ .
π
Exemplo 5.2. Achar a solução do problema de valor inicial

 y 00 + 2y 0 + 2y = δ(t − π)
 y(0) = 0 y 0 (0) = 0 .

Observe que este sistema corresponde a um modelo massa mola amortecido no


qual um impulso unitário foi imposto em t = π.

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Funções impulso: delta de Dirac 63

Aplicando a transformada de Laplace resulta


   
L y 00 + 2L y 0 + 2L y = L δ(t − π) . (5.3)

Agora,
  
L y 0 = sL y − y(0) = sL y ,
  
L y 00 = sL y 0 − y 0 (0) = s2 L y

e

L δ(t − π) = e−πs .

Substituindo em (5.3) resulta


  
s2 L y + 2sL y + 2L y = e−πs .

Daí,

(s2 + 2s + 2)L y = e−πs .

Ou seja,
 e−πs e−πs
L y = = .
s2 + 2s + 2 (s + 1)2 + 1
Sabemos que
 1
L sen(t) = .
s2 + 1
Daí
 1
L e−t sen(t) = .
(s + 1)2 + 1
Agora,
 
L u(t − c)f(t − c) = e−cs L f(t) .

Daí,
 e−πs
L u(t − π)e−(t−π) sen(t − π) = .
(s + 1)2 + 1
Portanto,
y(t) = u(t − π)e−(t−π) sen(t − π) ;

ou ainda 
 0 se 0 ≤ t < π
y(t) =
 e−(t−π) sen(t − π) se t ≥ π .

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Convolução 64

Figura 5.3: Gráfico da solução

Convolução
 
Se F(s) = L f(t) e G(s) = L g(t) então, em geral, não é verdade que

F(s)G(s) = L f(t)g(t) . Nossa questão agora será como determinar uma relação

entre as funções L−1 F(s)G(s) , f(t) e g(t).

Definição 5.3. Dadas as funções f(t) e g(t), contínuas por partes no intervalo
]0, +∞[, definimos a integral de convolução (ou simplesmente convolução)
de f por g como Zt
(f ∗ g)(t) = f(x)g(t − x) dx .
0

Exemplo 5.4. Se f(t) é uma função contínua por partes, então


Zt
(f ∗ 1)(t) = f(x) dx .
0

Em particular, para f(t) = cos(t), teremos

(f ∗ 1)(t) = sen(t) .

Exemplo 5.5. Seja f(t) = t para todo t ≥ 0. Determine f ∗ f.

Teremos Zt Zt Zt
(f ∗ f)(t) = x(t − x) dx = t x dx − x2 dx .
0 0 0

Logo,
t3
(f ∗ f)(t) = .
6
Observe que
f ∗ f 6= f2 .

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Convolução 65

Teorema 5.6 (propriedades da convolução). Não é difícil verificar que são


verdadeiras as seguintes propriedades

(comutatividade) f ∗ g = g ∗ f, isto é,
Zt
(f ∗ g)(t) = f(t − x)g(x) dx .
0

(distributividade) f ∗ (g + h) = (f ∗ g) + (f ∗ h).

(associatividade) f ∗ (g ∗ h) = (f ∗ g) ∗ h.

(zero) f ∗ 0 = 0.

Verificação. Vamos verificar apenas a associatividade, ficando a verificação


das outras propriedades como
Zt exercício. Zt
Temos que (g ∗ h)(t) = g(x)h(t − x) dx e (f ∗ (g ∗ h))(t) = f(y)(g ∗ h)(t − y) dy.
0 0
Por outro lado, Z t−y
(g ∗ h)(t − y) = g(x)h(t − y − x) dx, logo,
0
Zt Z t−y 
(f ∗ (g ∗ h))(t) = f(y) g(x)h(t − y − x) dx dy .
0 0

Façamos agora a substituição: z = t − y − x na integral mais interna,


Z t−y Z0 Z t−y
g(x)h(t − y − x) dx = − g(t − y − z)h(z) dz = g(t − y − z)h(z) dz .
0 t−y 0

Logo
Zt Z t−y  Zt Z t−y 
f(y) g(x)h(t − y − x) dx dy = f(y) g(t − y − z)h(z) dz dy .
0 0 0 0

Assim, Zt Z t−y 
(f ∗ (g ∗ h))(t) = f(y) g(t − y − z)h(z) dz dy .
0 0
Mudando a ordem de integração segue-se que
Zt Z t−z 
(f ∗ (g ∗ h))(t) = h(z) f(y)g(t − z − y) dy dz .
0 0

Ou seja,
Zt
(f ∗ (g ∗ h))(t) = h(z)(f ∗ g)(t − z)dz = (h ∗ (f ∗ g))(t) = ((f ∗ g) ∗ h)(t) .
0

Observação 5.7. As propriedades acima mostram que a convolução tem o


mesmo comportamento que o produto usual entre funções, exceto a existência
de um elemento unidade (elemento neutro) para esse novo produto.

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Convolução 66

Exemplo 5.8. Dadas as funções f(t) = t e g(t) = sen(t), encontre (f ∗ g)(t).

Teremos
Zt Zt Zt
(f ∗ g)(t) = sen(x)(t − x)dx = t sen(x) dx − x sen(x) dx .
0 0 0

Daí,
(f ∗ g)(t) = −t cos(t) + t − [−t cos(t) + sen(t)] = t − sen(t) .

O Teorema da convolução

A demonstração do seguinte teorema pode ser encontrada em [Boyce and DiPrima, 1998
pág. 233]

Teorema 5.9. Se f(t) e g(t) são contínuas por partes e de ordem exponencial
 
em ]0, +∞[ e, se F(s) = L f(t) , e G(s) = L g(t) . Então

L (f ∗ g)(t) = F(s).G(s) .

Ou ainda,

L−1 F(s).G(s) = (f ∗ g)(t) .
 a
Exemplo 5.10. Determine L−1 .
s2 (s2 2
+a )
Sabemos que
 a  1
L sen(at) = e L t = 2.
s + a2
2 s
Pelo teorema da convolução, resulta
Zt
 a at − sen(at)
L −1
2 2 2
= (t − x) sen(ax) dx = .
s (s + a ) 0 a2
Exemplo 5.11. Seja g(t) uma função contínua por partes. Achar a solução do
problema de valor inicial

 y 00 (t) + 4y(t) = g(t)
 y(0) = 3 y 0 (0) = −1 .

Tomando a transformada de Laplace


  
L y 00 + 4L y = L g(t) .

Temos
  
L y 0 = sL y − y(0) = sL y − 3 ,
  
L y 00 = sL y 0 − y 0 (0) = s2 L y − 3s + 1 .

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Convolução 67


Pondo G(s) = L g(t) , resulta

(s2 + 4)L y = 3s − 1 + G(s) .

Daí,
 3s 1 G(s)
L y = − 2 + 2 .
s2 +4 s +4 s +4
Como
 s
L−1 = cos(2t)
s2 + 4
e
 1 sen(2t)
L−1 = ,
s2 + 4 2
segue-se que Zt
 1 1
L −1
G(s) 2 = g(x) sen 2(t − x) dx .
s +4 2 0

Portanto,
Zt
1 1
y(t) = 3 cos(2t) − sen(2t) + g(x) sen 2(t − x) dx . (5.4)
2 2 0

Assim, uma vez conhecida a função g(t) podemos calcular a integral no


segundo membro de (5.4).

Exemplo 5.12. Achar a transformada de Laplace de


Zt
f(t) = cos(x) sen(t − x) dx .
0

Observamos que se g(t) = cos(t) e h(t) = sen(t), então

1
f(t) = (g ∗ h)(t) = t sen(t) .
2

Assim,
   
L f(t) = L (g ∗ h)(t) = L g(t) .L h(t) .
 s  1
Como L g(t) = 2 e L h(t) = 2 , resulta que
s +1 s +1
 s
L f(t) = 2 .
(s + 1)2

Exemplo 5.13. Sejam f(t) e k(t) funções contínuas por partes dadas. Determi-
nar a função y(t) que satisfaz a equação integral
Zt
y(t) + k(t − ξ)y(ξ) dξ = f(t) . (5.5)
0

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Convolução 68

A equação (5.5) pertence à classe das equações integrais de Volterra. A


equação (5.5) pode ser escrita na forma

y(t) + (k ∗ y)(t) = f(t) .

Tomando a transformada de Laplace nesta última equação obtemos


   
L y(t) + L k(t) .L y(t) = L f(t) .
 
Pondo K(s) = L k(t) e F(s) = L f(t) , teremos

(1 + K(s))L y = F(s) .

Daí,
 F(s)
L y = .
1 + K(s)
Então
 F(s)
y(t) = L−1 .
1 + K(s)
Exemplo 5.14. Resolver a equação integral
Zt
y(t) + 3 y(ξ) sen(t − ξ) dξ = 4t .
0

Nesse caso temos


k(t) = 3 sen(t) e f(t) = 4t .

Daí,
3 4
K(s) = e F(s) = .
s2 + 1 s2
Logo, aplicando a transformada de Laplace, resulta
 
 
3 4
L y(t) + 2
L y(t) = 2.
s +1 s

Daí,
 4 4
L y(t) = + 2 2 .
s2 + 4 s (s + 4)
Assim,
Zt Zt
y(t) = 2 sen(2t) + 2 x sen(2(t − x)) dx = 2 sen(2t) + 2 (t − x) sen(2x) dx .
0 0

Portanto,
3
y(t) = t + sen(2t) .
2

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Exercícios 69

Observação 5.15 (Sobre existência e unicidade de soluções). Na Aula 1 foi


enunciado um teorema de existência e unicidade de soluções para equações
diferenciais ordinárias lineares de segunda ordem e, nesse teorema, havia a
exigência de continuidade das funções que seriam os coeficientes da equa-
ção e também da função de entrada (força externa). Quando introduzimos
a função de Heaviside e vimos que muitos problemas significativos são mo-
delados usando essa função, ficamos, como estudantes de Matemática, sem
uma garantia de que os procedimentos adotados são matematicamente corre-
tos e não gerariam contradições ou erros. Não é possível, neste nível, tra-
tar da teoria de equações ordinárias como ela deve ser feita, mas vamos
mencionar que existem teoremas de existência e unicidade de soluções de
equações diferenciais ordinárias muito mais potentes que o encontrado em
[Boyce and DiPrima, 1998, pág. 68]. Para tratar problemas que envolvam a
função de Heaviside (ou qualquer função integrável) podemos apelar para o
Teorema de Carathéodory em [Hale, 1980, pág. 28]. Agora, a situação fica um
pouco mais complicada quando temos entradas do tipo delta de Dirac. No caso
em que a equação é linear e com coeficientes constantes (ou C∞ ), podemos uti-
lizar os resultados de [Treves, 1975, pág. 26-31]. No caso geral, podemos nos
socorrer em [Fernandez, 1996, pág. 91-110].

Observação 5.16. Na Teoria das Distribuições de L. Schwartz a propriedade


(δ2 0 ) é escrita da seguinte forma

(δ ∗ f)(t0 ) = f(t0 )

Exercícios

 1 se 0 < t < 2
1. Seja f(t) = e periódica de período 4. Encontre a solu-
 −1 se 2 < t < 4
ção do seguinte problema

 Zt

 di

 (t) + 4i(t) + 3 i(θ)dθ = f(t) t > 0
 dt 0





 i(0) = 1

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Exercícios 70

2. Seja y(t) solução do problema


 2


d y dy

 dt2 (t) + b (t) + cy(t) = δ(t) t > 0
dt




y(0) = 0 y 0 (0) = 0

Mostre que y(t) também é solução de


 2


d y dy

 2
(t) + b (t) + cy(t) = 0 t > 0
dt dt




y(0) = 0 y 0 (0) = 1

Como você explica esse fato?

3. Use convolução para encontrar a solução do seguinte problema

 2


d y dy
(t) + a2 y(t) = f(t) t > 0

 dt2 (t) + 2a
dt




y(0) = 0 y 0 (0) = 0
 s
sabendo que L f(t) = 2 .
s +9
4. Use convolução para expressar a solução dos seguintes problemas de valor
inicial

4.1. y 00 + ω2 y = g(t), com y(0) = 0 e y 0 (0) = 1.

4.2. y 00 + 2y 0 + 2y = sen(αt), com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0.

4.3. y 00 + 3y 0 + 2y = cos(αt), com y(0) = 1 e y 0 (0) = 0.

5. Ache a solução de cada um dos problemas abaixo e faça os gráficos dessas


soluções.

5.1. y 00 (t) + 2y 0 (t) + 2y(t) = δ(t − π), com y(0) = 1 e y 0 (0) = 0.

5.2. y 00 (t) + 4y(t) = δ(t − π) − δ(t − 2π), com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0.

5.3. y 00 (t) + 4y(t) = u(t − π/2) + 3δ(t − 3π/2) − u(t − 2π), com y(0) = 0 e
y 0 (0) = 0.

5.4. yiv (t) − y(t) = δ(t − 1), com y(0) = y 0 (0) = y 00 (0) = 0 e y 000 (0) = 0.

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Exercícios 71

X
10
6. Seja f(t) = (−1)k+1 δ(t − kπ/2). Encontre a solução do problema
k=1

 2


d y

 dt2 (t) + y(t) = f(t) t > 0




y(0) = 0 y 0 (0) = 0

e esboce seu gráfico.

7. Verifique as propriedades de seqüência delta para as duas seqüências da-


das na Observação 5.1

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Aula 6

O objetivo desta aula é apresentar um modelo matemático que descreve


processos de difusão e o método de separação de variáveis, ou método de
Fourier, freqüentemente usado para tentar resolvê-lo. Ao final, veremos como
naturalmente surgem as chamadas séries trigonométricas para o estudo desse
e de outros fenômenos físicos.

A equação de condução do calor


Vamos considerar um problema de condução de calor numa barra cilín-
drica retilínea, de seção reta uniforme e feita de um material homogêneo.
u(x,t)


..  ..
..  ..
..  .. -x
.. ..
.. ..
x=0 x=l

Sejam x o eixo da barra, x = 0 e x = l as extremidades da barra. Supo-


nhamos que as superfícies laterais da barra estejam perfeitamente isoladas,
de modo que não haja passagem de calor através delas. Admitiremos tam-
bém, que as dimensões da seção reta são tão pequenas que a temperatura,
que aqui denotaremos por u, pode ser considerada uniforme sobre qualquer
seção reta da barra. Assim, a temperatura u, é função somente da coorde-
nada x e do tempo t. A equação da condução do calor tem a seguinte forma
(para uma dedução dessa equação, a partir das hipóteses consideradas aqui,
consulte [de Figueiredo, 1977, pág. 1-11] ou [Boyce and DiPrima, 1998, pág.
431-434]).
∂u ∂2 u
(x, t) = α2 2 (x, t), 0 < x < l , t > 0. (6.1)
∂t ∂x
Princípio da superposição 73

Na equação (6.1), α2 é uma constante, chamada constante de difusividade


térmica e só depende do material da barra. Vamos supor também que a
distribuição inicial de temperatura seja dada por uma função f(x)

u(x, 0) = f(x), 0 ≤ x ≤ l.

Vamos admitir que

u(0, t) = 0 e u(l, t) = 0, t > 0.

O problema da condução do calor consiste em determinar uma função u(x, t)


satisfazendo
 2

 ∂u 2∂ u

 (x, t) = α (x, t) (equação do calor homogênea)

 ∂t ∂x2




 u(x, 0) = f(x) (condição inicial)








 u(0, t) = 0 , e u(l, t) = 0 (condições de fronteira) .
(6.2)
Observe que procuramos uma solução u(x, t) definida na faixa 0 ≤ x ≤ l,
t ≥ 0. Usaremos as seguintes notações:

Q := {(x, t) / 0 < x < l, t > 0} ,

Q = {(x, t) / 0 ≤ x ≤ l, t ≥ 0} .

Princípio da superposição
O princípio de superposição é uma propriedade característica de proble-
mas lineares, essencialmente diz que qualquer combinação linear de soluções
ainda é uma solução. A seguinte extensão, para séries, pode ser encontrada
com mais detalhes em [Iório, 1991, pág. 9]. Suponha que (um )m=1,2,... seja uma
família de funções de classe C2 (Q), isto é, contínuas e com derivadas primeiras
e segundas contínuas, satisfazendo a equação do calor (6.1), isto é,

∂um ∂2 um
= α2 , ∀ m = 1, 2, . . .
∂t ∂x2

Se (αm )m=1,2,... for uma seqüência de números reais tal que a série

X
+∞
u(x, t) = am um (x, t)
m=1

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


O método de separação de variáveis 74

seja convergente e duas vezes derivável termo a termo em Q, então a fun-


ção u(x, t) satisfaz a equação

∂u ∂2 u
(x, t) = α2 2 (x, t), 0 < x < l , t > 0.
∂t ∂x

O método de separação de variáveis


O método de separação de variáveis consiste em buscar soluções do pro-
blema do calor (6.2)) na forma

u(x, t) = X(x).T (t) .

Substituindo essa forma na equação (6.1), obtemos

X(x)T 0 (t) = α2 X 00 (x)T (t) .

Daí, separando (considerando intervalos nos quais as funções não são nulas)
resulta
T 0 (t) X 00 (x)
= . (6.3)
α2 T (t) X(x)
Observe que o primeiro membro de (6.3) só depende de t e o segundo mem-
bro só depende de x. Ora, sendo x e t variáveis independentes uma da outra,
segue-se que os dois membros só podem ser iguais se o forem a uma mesma
constante, digamos σ. Assim devemos ter

X 00 (x) T 0 (t)
= 2 = σ.
X(x) α T (t)

Obtemos então duas equações diferenciais ordinárias

X 00 (x) − σX(x) = 0 , (6.4)

T 0 (t) − α2 σT (t) = 0 . (6.5)


∂u ∂2 u
Observe que a equação diferencial = α2 2 foi substituída pelas equa-
∂t ∂x
ções (6.4) e (6.5), sendo σ uma constante a determinar. No entanto, só estamos
interessados nas soluções de (6.4) e (6.5), que denotaremos por Xσ e Tσ , tais
que, ao definirmos uσ (x, t) = Xσ (x)Tσ (t), tenhamos também

uσ (0, t) = uσ (l, t) = 0 .

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O método de separação de variáveis 75

Logo, devemos ter


Xσ (0)Tσ (t) = 0 e


Xσ (l)Tσ (t) = 0

para todo t > 0.


Na primeira equação, se Tσ (t) ≡ 0 então uσ (x, t) ≡ 0 e, se f(x) 6= 0, não te-
ríamos uσ (x, 0) = f(x). Portanto, devemos ter Xσ (0) = Xσ (l) = 0. Essa segunda
condição decorre da segunda equação. Vamos então estudar o seguinte pro-
blema: determinar Xσ (x) 6≡ 0 solução de

 X 00 (x) − σX(x) = 0 , 0<x<l
(6.6)
 X(0) = 0 e X(l) = 0 .

É possível mostrar, facilmente, que σ ∈ R. Assim, vamos estudar os três


casos possíveis.
Caso A: Caso em que σ = 0.
A equação em (6.6) se torna

X 00 (x) = 0

cuja solução geral é dada por

X(x) = c1 x + c2 .

Como X(0) = 0, devemos ter c2 = 0 e, para que tenhamos X(l) = 0, c1 deve


ser também igual a 0. O que nos dá X(x) ≡ 0. Como queremos soluções não
identicamente nulas, este caso não nos interessa.
Caso B: Caso em que σ < 0.
Vamos supor que σ tenha a forma

σ = −λ2 com λ > 0 .

Nesse caso, equação (6.6) se torna



 X 00 (x) + λ2 X(x) = 0
(6.7)
 X(0) = 0 X(l) = 0 .

Vamos usar transformada de Laplace para resolver (6.7).


 
L X 00 + λ2 L X = 0 .

Temos
 
L X 00 = s2 L X − X 0 (0) .

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O método de separação de variáveis 76

Substituindo resulta

(s2 + λ2 )L X = X 0 (0) .

Daí,
 X 0 (0)
L X = 2 .
s + λ2
Ou seja,
X 0 (0)
X(x) = sen(λx)
λ
e, como queremos X(x) 6= 0, devemos ter

X 0 (0) 6= 0 .

Por outro lado, X(l) = 0, daí resulta que

sen(λl) = 0 ⇒ λl = nπ, n = 1, 2, . . . .

Ou seja,

λ= .
l

Assim, (6.7) tem solução X(x) 6≡ 0 se e somente se λ = , n = 1, 2, . . ., isto
l
é, se e somente se
n2 π2
σ=− , n = 1, 2, . . . . (6.8)
l2
Nesse caso, para cada n = 1, 2, . . . temos

nπx
Xn (x) = cn sen( ).
l

Vamos usar o valor de σ obtido acima e estudar a equação (6.5). Para cada
n = 1, 2, . . . teremos
α2 n2 π2
T 0 (t) + T (t) = 0 .
l2
Daí,
 α2 n2 π2 
L T 0 (t) + 2
L T (t) = 0 .
l
Logo,
 α2 n2 π2 
sL T (t) − T (0) + 2
L T (t) = 0 .
l
Daí,
α 2 n 2 π2 
(s + )L T (t) = T (0) .
l2
Portanto,
 T (0)
L T (t) = α2 n2 π2
.
(s + l2
)

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O método de separação de variáveis 77

Assim, para cada n = 1, 2, . . . teremos


α2 n2 π2
Tn (t) = dn e− l2
t
.

Logo, para cada n = 1, 2, . . .,


α2 n2 π2 nπx
un (x, t) = kn e− l2
t
sen( )
l
é solução da equação diferencial
∂u ∂2 u
= α2 2
∂t ∂x
e satisfaz também as condições

u(0, t) = u(l, t) = 0 .

Pelo princípio da superposição devemos ter


X
+∞ X
+∞
α2 n2 π2 nπx
u(x, t) = un (x, t) = kn e− l2
t
sen( )
n=1 n=1
l
como candidata a solução do problema (6.2). Para que isso de fato ocorra,
ainda devemos ter
u(x, 0) = f(x)

ou seja, devemos ter


X
+∞
nπx
f(x) = kn sen( ).
n=1
l
Nosso problema fica resolvido, se soubermos como expressar uma dada fun-
ção numa série em senos. Além disso devemos também investigar quando é
possível fazê-lo. Devemos ainda estudar o caso em que σ > 0.
Caso C: Caso em que σ > 0.
Vamos supor que σ tenha a seguinte forma

σ = λ2 , com λ > 0 .

A equação (6.4) assume a forma



 X 00 (x) − λ2 X(x) = 0
(6.9)
 X(0) = 0 X(l) = 0 .
Usando novamente a transformada de Laplace, verifica-se facilmente que a
única solução desse problema é

X(x) ≡ 0

o que não nos interessa.


Nosso objetivo então para as próximas aulas será estudar como expres-
sar funções em séries envolvendo funções trigonométricas e assim podermos
resolver completamente o problema de condução de calor proposto.

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Exercícios 78

Exercícios
1. Enunciar o problema de valor de contorno que determina a temperatura
em uma barra de cobre (α2 = 1, 71cm2 /s), com 1 metro de comprimento, se
toda a barra estiver inicialmente a 10o C e uma das extremidades é então
aquecida a 30o C e mantida nesta temperatura, enquanto a outra extremi-
dade fica a 10o C .

2. Dar uma interpretação e achar a solução do problema de calor




 100uxx = ut ,


0<x<1, t>0
u(0, t) = 0 , u(1, t) = 0 , t > 0



 u(x, 0) = sen(2πx) − sen(5πx) , 0≤x≤1

3. Dar uma interpretação e achar a solução do problema de calor





 u = 4ut ,
 xx
0<x<2, t>0
u(0, t) = 0 , u(2, t) = 0 , t > 0



 u(x, 0) = 2 sen(πx/2) − sen(πx) + 4 sen(2πx) , 0 ≤ x ≤ 2

4. Considere a equação
auxx − but + cu = 0 (6.10)

na qual a, b e c são constantes.

4.1. Seja u(x, t) = eδt w(x, t), com δ constante. Substitua u(x, t) na equação
(6.10) e encontre a equação diferencial parcial correspondente para
w(x, t).

4.2. Seja b 6= 0, mostre que δ pode ser escolhido de modo que a equa-
ção diferencial parcial encontrada na parte (a) não tenha termo em
w. Conclua então que por uma mudança de variável dependente é
possível reescrever a equação (6.10) na forma da equação do calor.

5. Mostre que σ em (6.6) é real.

6. Mostre que a solução do problema (6.9) é a função identicamente nula.

7. Use o método de separação de variáveis para estudar o seguinte problema





 u + ux = ut , 0 < x < l , t > 0
 xx
u(0, t) = 0 , u(l, t) = 0 , t > 0



 u(x, 0) = f(x) , 0 ≤ x ≤ l

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Aula 7

Nesta Aula estudaremos a série de Fourier, trigonométrica, de funções.


Recordemos que ao tentarmos resolver o problema do calor
 2


∂u 2∂ u

 ∂t = α , (x, t) ∈ Q
∂x2
 u(0, t) = u(l, t) = 0 , t ≥ 0



u(x, 0) = f(x) , 0 ≤ x ≤ l , f(0) = f(l) = 0
usando o método de separação de variáveis (u(x, t) = X(x)T (t)) vimos que

(i) A equação do calor juntamente com as condições de fronteira nos levam ao


problema 
 X 00 (x) − σX(x) = 0 0 < x < l
(7.1)
 X(0) = 0 X(l) = 0

e à equação T 0 (t) − α2 σT (t) = 0. Qualquer valor para σ tal que (7.1) tenha
solução X(x) não identicamente nula, é chamado um autovalor para (7.1)
e as soluções correspondentes são chamadas autofunções. Vimos que
os autovalores de (7.1) são da forma

n2 π2
σn = − , n = 1, 2, 3, . . .
l2

e as autofunções correspondentes são

nπx 
Xn (x) = sen , n = 1, 2, 3, . . . .
l
n2 π2 α2 0
Vimos também que a equação T (t) + T (t) = 0 tem por solução
l2
n2 π2 α2
Tn (t) = bn e− l2
t
.

(ii) Obtivemos as soluções un (x, t) = bn Xn (x)Tn (t) isto é,

n2 π2 α2 nπx 
un (x, t) = bn e− l2
t
sen , n = 1, 2, 3, . . . .
l
Exercícios 80

Usando o princípio da superposição, procuramos uma solução da forma


X
+∞
n2 π2 α2 nπx 
u(x, t) = bn e− l2
t
sen .
n=1
l

Como queremos ainda u(x, 0) = f(x), devemos ter


X
+∞
nπx 
f(x) = bn sen , 0 ≤ x ≤ l.
n=1
l

Se as extremidades da barra também estiverem isoladas, o problema cor-


respondente será


 ∂u ∂2 u

 = α2 2 , (x, t) ∈ Q

 ∂t ∂x





∂u ∂u (7.2)
 (0, t) = (l, t) = 0 , t ≥ 0

 ∂x ∂x







 u(x, 0) = f(x) , 0 ≤ x ≤ l , f(0) = f(l) = 0 .

Usando o método de separação de variáveis, chegamos ao problema



 X 00 (x) − σX(x) = 0 , 0 < x < l
(7.3)
 X 0 (0) = 0 X 0 (l) = 0 ,

cujos autovalores são da forma


n2 π2
σn = − , n = 0, 1, 2, . . .
l2
com autofunções
nπx 
Xn (x) = cos , n = 0, 1, 2, . . . ,
l
o que nos leva a escrever

a0 X
+∞
nπx 
f(x) = + an cos , 0 ≤ x ≤ l.
2 n=1
l

O método de separação de variáveis nos leva então, ao estudo de séries do


tipo
a0 X 
+∞
nπx  nπx 
f(x) = + an cos + bn sen ,
2 n=1
l l
chamada Série de Fourier. Vamos então tentar responder às seguintes ques-
tões.

(i) Dada uma função f : [0, l] → R quando é possível expressar f como série de
Fourier ?

(ii) Como calcular os coeficientes an e bn , conhecendo f?

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Séries de Fourier 81

Séries de Fourier
Lembremos que uma função f : R → C é periódica com período T > 0 se

f(t + T ) = f(t) para todo t do domínio de f . (7.4)

O menor valor de T , para o qual vale (7.4), é chamado período fundamen-


tal e todos os períodos são múltiplos inteiros do período fundamental. Isso
significa que, se T é um período, então kT também é um período, onde k ∈ Z é
um inteiro qualquer.

Exemplo 7.1. As funções sen(t) e cos(t) são periódicas com período funda-
mental T = 2π.

Exemplo 7.2. Se m ∈ N então cos(mt) e sen(mt) são periódicas com período



fundamental T = .
m
De fato,

cos(m(t +)) = cos(mt + 2π) = cos(mt) .
m
2π 2π
Portanto, é um período e, se 0 < T < e ainda se cos(m(t + T )) = cos(mt),
m m
então cos(mt+mT ) = cos(mt). Como o período fundamental da função cosseno
é 2π, segue-se que
mT = k2π para algum k ∈ Z .

Mas, 0 < T < 2π e daí devemos ter 0 < mT < 2π. Ou seja, 0 < k2π < 2π. Isso é
impossível. De modo semelhante tratamos a função sen(mt).

Exemplo 7.3. Se a > 0 então cos(at) e sen(at) são periódicas e possuem pe-

ríodo fundamental T = . Em particular, as funções cos(2πt) e sen(2πt)
a
têm período fundamental T = 1.

Consideremos agora o espaço vetorial das funções contínuas em um inter-


valo [a, b] a valores em C. Nesse espaço vamos introduzir o seguinte produto
interno. Dadas f : [a, b] → C e g : [a, b] → C, definimos
Zb
< f, g >:= f(t)g(t)dt ∈ C .
a

Recordemos, rapidamente, as propriedades do produto interno (também


chamado produto escalar).

(i) < f + g, h > = < f, h > + < g, h >;

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Séries de Fourier 82

(ii) < f, g + h > = < f, g > + < f, h >;

(iii) se λ ∈ C, então
< λf, g > = λ < f, g > ;

< f, λg > = λ < f, g > ;

(iv) < f, g > = < g, f >;

(v) < f, f > ≥ 0 e < f, f > = 0 ⇔ f = 0.

Para maiores detalhes sobre espaços com produto interno e todas as pro-
priedades inerentes a esses objetos matemáticos consulte a referência [Callioli et al., 1995,
cap. 6]. Graças às propriedades acima, podemos definir os seguintes concei-
tos geométricos:

(a) Norma (ou comprimento) de um vetor (no caso em que estamos interes-
sados os vetores são funções)

kfk = < f, f > .

(b) Ortogonalidade entre vetores (funções): diremos que as funções f e g são


ortogonais se seu produto interno for igual a zero, isto é,

f ⊥ g ⇐⇒< f, g > = 0 .

Observe que a função f(t) ≡ 0 é ortogonal a todas as outras funções


contínuas e, é claro, que se < f, g > = 0 para toda g contínua então, em
particular, < f, f > = 0. Portanto, f = 0.

(c) Se f é ortogonal a g então vale o Teorema de Pitágoras

kf + gk2 = kfk2 + kgk2 .

De modo geral, vale a identidade do paralelogramo

kf + gk2 + kf − gk2 = 2 kfk2 + kgk2 .




Diremos que um conjunto de funções é mutuamente ortogonal (ou apenas


ortogonal) se qualquer par de funções do conjunto for ortogonal. Para facilitar
as notações usaremos ϕ0 (t) ≡ 1 e, para cada m = 1, 2, 3, . . ., definimos
 mπt

 ϕm (t) = cos( ) , −l ≤ t ≤ l

 l
.



 ψ (t) = sen( mπt ) , −l ≤ t ≤ l
m
l
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Séries de Fourier 83

2l
Essas funções têm período fundamental T = . Portanto, todas têm
m
período 2l.

Teorema 7.4 (Relações de ortogonalidade). São válidas as seguintes rela-


ções.

Zl  2l se m = 0
mπt
(i) cos( ) dt =
−l l  0 se m = 1, 2, 3, . . .

Zl
mπt
(ii) sen( ) dt = 0 para cada m = 1, 2, 3, . . .
−l l

Zl  0 se m 6= n
mπt nπt
(iii) < ϕm , ϕn > = cos( ) cos( ) dt =
−l l l  l se m = n

Zl
mπt nπt
(iv) < ϕm , ψn > = cos() sen( ) dt = 0 para cada m, n.
−l l l

Zl  0 se m 6= n
mπt nπt
(v) < ψm , ψn > = sen( ) sen( ) dt =
−l l l  l se m = n

Demonstração. (i) e (ii) são imediatas. Para verificar as outras relações, deve-
mos recordar as identidades trigonométricas

cos(a ± b) = cos(a) cos(b) ∓ sen(a) sen(b)

e
sen(a ± b) = sen(a) cos(b) ± sen(b) cos(a)
mπt nπt
daí, fazendo a = eb= resulta
l l


 a + b = (m + n)πt
l

 a−b= (m − n)πt
l
assim,
 
mπt nπt 1 (m + n)πt (m − n)πt
cos( ) cos( )= cos( ) + cos( )
l l 2 l l

e  
mπt nπt 1 (m − n)πt (m + n)πt
sen( ) sen( )= cos( ) − cos( )
l l 2 l l
e  
mπt nπt 1 (m + n)πt (m − n)πt
cos( ) sen( )= sen( ) − sen( )
l l 2 l l
usando essas identidades segue facilmente os itens (iii),(iv) e (v).

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Séries de Fourier 84

Observação 7.5. O Teorema 7.4 nos diz que o conjunto de funções contínuas
B definido por
mπt mπt
B := { 1, cos( ), sen( ) / m = 1, 2, 3, . . . }
l l
é um conjunto ortogonal e, conseqüentemente, forma um conjunto infinito
linearmente independente de funções contínuas.

As fórmulas de Euler-Fourier

Suponhamos que uma dada função f, contínua e periódica de período 2l,


possa ser expressa na forma

a0 X
+∞  
kπt kπt
f(t) = + ak cos( ) + bk sen( ) . (7.5)
2 k=1
l l

Isto é, que f seja igual a sua série de Fourier. Conhecida f como determinar os
coeficientes ak e bk ? Usaremos as relações de ortogonalidade para responder
essa questão. Para cada n = 0, 1, 2, 3, . . . , consideramos o produto interno de
ϕn com a série (7.5)

a0 X
+∞
< f, ϕn > =< , ϕn > + [ak < ϕk , ϕn > + bk < ψk , ϕn > ] .
2 k=1

Das relações de ortogonalidade resulta

< f, ϕn > = an < ϕn , ϕn > = lan para cada n = 0, 1, 2, . . . .

Ou seja,
Zl
1 nπt
an = f(t) cos( ) dt .
l −l l
Em particular,
Zl
1
a0 = f(t) dt .
l −l
Agora, para cada n = 1, 2, 3, . . . , consideremos o produto interno de ψn com a
série (7.5)

a0 X
+∞
< f, ψn > =< , ψn > + [ak < ϕk , ψn > + bk < ψk , ψn > ] .
2 k=1

Das relações de ortogonalidade resulta

< f, ψn > = bn < ψn , ψn > = lbn para cada n = 1, 2, . . . .

Ou seja,
Zl
1 nπt
bn = f(t) sen( ) dt .
l −l l

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Séries de Fourier 85

mπt mπt
Observação 7.6. Como as funções ϕm (t) = cos( ) e ψm (t) = sen( ) são
l l
periódicas de período 2l, segue-se que as relações de ortogonalidade são as
mesmas se em lugar de integrarmos em [−l, l] usássemos qualquer intervalo
de comprimento 2l.

Definição 7.7. Seja l > 0 e seja f : [−l, l] → C uma função integrável e tal que
a função |f| também seja integrável. Definimos a Série de Fourier de f como a
série
a0 X
+∞  
nπt  nπt 
Sf (t) = + an cos + bn sen
2 n=1
l l
com os coeficientes a0 , an e bn sendo calculados por
Zl
1
a0 = f(t) dt ,
l −l

Zl
1 nπt
an = f(t) cos( ) dt
l −l l
e Zl
1 nπt
bn = f(t) sen( ) dt .
l −l l
Observação 7.8. Não se exige, na definição acima, que a função f esteja defi-
nida em toda a reta.

Definição 7.9. Seja l > 0 e seja f : [−l, l] → C uma função integrável e tal que a
função |f| também seja integrável. Para cada n ∈ N, definimos a n-ésima soma
parcial de Fourier de f por

a0 X
n  
kπt  kπt 
Sn (t) = + ak cos + bk sen .
2 k=1
l l

Exemplo 7.10. Determinar os coeficientes da série de Fourier da função



 1 se −1 ≤ t < 0
f(t) =
 0 se 0 ≤ t < 1 ,

sabendo-se que f é periódica de período 2. Isto é, f(t + 2) = f(t) para todo t ∈ R.

Neste exemplo temos l = 1. Assim,


Z2 Z2
a0 = f(t) dt = dt = 1 ,
0 1

e Z2 Z2 2
sen(nπt)
an = f(t) cos(nπt) dt = cos(nπt) dt = ,
0 1 nπ 1

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Séries de Fourier 86

−3 −2 −1 0 1 2 3 4 5
-

Figura 7.1: Gráfico de f(t)

1
an = {sen(2nπ) − sen(nπ)} = 0 .

Assim,
a0 = 1 e an = 0 para todo n = 1, 2, . . . .

Por outro lado,


Z2 Z2 2
cos(nπt)
bn = f(t) sen(nπt) dt = sen(nπt) dt = − .
0 1 nπ 1

Daí,
1 1
bn = {cos(nπ) − cos(2nπ)} = [(−1)n − 1] .
nπ nπ
Logo,

Figura 7.2: Soma parcial para n = 1 Figura 7.3: Soma parcial para n = 5


 0 se n é par
bn =
 − 2 se n é ímpar.

Podemos então escrever

2
b2n = 0 e b2n−1 = − , n = 1, 2, 3, . . . .
(2n − 1)π

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Exercícios 87

Figura 7.4: Soma parcial n = 15 Figura 7.5: Soma parcial n = 25

A série de Fourier de f será (veja as Figuras 7.2, 7.3, 7.4 e 7.5)

1 X
+∞
2
Sf (t) = − sen[(2n − 1)πt] .
2 n=1 (2n − 1)π

Exercícios

 −t , −2 ≤ t < 0
1. Seja f(t) = e f(t + 4) = f(t) para todo t ∈ R. Esboce o
 t, 0≤t<2
gráfico de f e determine os coeficientes de sua série de Fourier.


 0 , −3 ≤ t < −1


2. Seja f(t) = 1 , −1 ≤ t < 1 e f(t + 6) = f(t) para todo t ∈ R. Esboce o



 0, 1≤t<3
gráfico de f e determine os coeficientes de sua série de Fourier.

 t + 1 , −1 ≤ t < 0
3. Seja f(t) = e f(t + 2) = f(t) para todo t ∈ R. Esboce o
 t, 0≤t<1
gráfico de f e determine os coeficientes de sua série de Fourier.

4. Seja f(t) = −t, −π ≤ t < π com f(t + 2π) = f(t) para todo t ∈ R. Esboce o
gráfico de f e determine os coeficientes de sua série de Fourier.

5. Suponha que g seja uma função integrável e periódica de período T .

5.1. Se 0 ≤ a ≤ T , mostre que


ZT Z a+T
g(t) dt = g(t)dt
0 a

5.2. Mostre que qualquer que seja a, não necessariamente em [0, T ], ainda
vale ZT Z a+T
g(t) dt = g(t) dt
0 a

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Exercícios 88

5.3. Mostre que quaisquer que sejam a e b, vale


Z b+T Z a+T
g(t) dt = g(t) dt
b a

6. Se f é derivável e periódica, com período T , mostre que f 0 também é perió-


dica com período T . Determine as condições para que
Zt
F(t) = f(ξ) dξ
0

também seja uma função periódica.

7. Estude o problema (7.2) usando o método de separação de variáveis.

8. Sejam m e n naturais. Mostre que a função f(t) = A cos(mt) + B sen(nt) é


periódica.

9. Sejam m e n racionais. Mostre que a função f(t) = A cos(mt) + B sen(nt) é


periódica.

10. Sejam n natural e α irracional. Mostre que a função f(t) = A cos(nt) +


B sen(αt) não é periódica se A e B são diferentes de zero.

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Aula 8

O Teorema de Dirichlet
Dada uma função f definida no intervalo [−l, l], consideramos sua série de
Fourier

a0 X
+∞  
nπt nπt
Sf (t) = + an cos( ) + bn sen( ) (8.1)
2 n=1
l l
cujos coeficientes são dados por
Z
1 l nπt
an = f(t) cos( ) dt , n = 0, 1, 2, . . . ,
l −l l
Z
1 l nπt
bn = f(t) sen( ) dt , n = 1, 2, . . . .
l −l l
nπt nπt
Como as funções cos( ) e sen( ) são periódicas de período 2l se, (8.1)
l l
representar uma função em R, então essa função é periódica de período 2l. A
questão que se põe é a seguinte: quando é que (8.1) converge para f? Uma
resposta para essa questão é dada pelo seguinte

Teorema 8.1 (Teorema de Dirichlet). Se f e f 0 são funções contínuas por


partes no intervalo −l ≤ t < l e, se f é definida fora desse intervalo, de modo a
ser periódica com período 2l, então a série de Fourier de f converge para f(t) em
cada ponto no qual f seja contínua e converge para o valor médio dos limites
laterais,
f(t+) + f(t−)
2
nos pontos de descontinuidade de f.

Demonstração. Para uma demonstração desse teorema veja [Iório, 1991, pág.
135].

Exemplo 8.2. Determinar a série de Fourier da função



 −1 , −π ≤ t < 0
f(t) =
 1, 0 ≤ t < π.
O Teorema de Dirichlet 90

Procedemos do seguinte modo: inicialmente estendemos a definição da fun-


ção dada à reta toda de modo a torná-la 2π-periódica

f(t + 2π) = f(t) , para todo t ∈ R .

f(t)
6

-
−π 0 π t

−1

Vamos agora calcular os coeficientes da série.

a0 X
+∞
Sf (t) = + (an cos(nt) + bn sen(nt))
2 n=1
Zπ Z0 Zπ
1 1
a0 = f(t) dt = − dt + dt = 0
π −π π −π 0
e Zπ Z 0 Zπ
1 1
an = f(t) cos(nt) dt = cos(nt) dt + cos(nt) dt = 0 .
π −π π −π 0
Também,
Zπ Z 0 Zπ
1 1
bn = f(t) sen(nt) dt = sen(nt) dt + sen(nt) dt .
π −π π −π 0

Daí, Zπ  π 
2 2 − cos(nt)
bn = sen(nt) dt = .
π 0 π n
0
Portanto, 
2  0 se n é par
bn = (1 − (−1)n ) =
nπ  4 se n é ímpar.

Assim obtemos
 
4 1 1
Sf (t) = sen(t) + sen(3t) + sen(5t) + · · · .
π 3 5
Pelo teorema de Dirichlet resulta

Sf (t) = f(t) , se − π < t < 0 ou 0 < t < π .

Se t = ±π, ou t = 0, teremos

Sf (−π) = Sf (π) = Sf (0) = 0 .

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


O Teorema de Dirichlet 91

Figura 8.1: Soma parcial n = 15 Figura 8.2: Soma parcial n = 50

Figura 8.3: Soma parcial para n = 505

Para facilitar alguns cálculos de integrais, vamos introduzir as noções im-


portantes de funções pares e funções ímpares.

Definição 8.3. Diremos que uma função f, definida em um intervalo da forma


] − a, a[, é par, se
f(t) = f(−t) para todo t ∈] − a, a[ .

Diremos que uma função f, definida em um intervalo da forma ]−a, a[, é ímpar,
se
f(t) = −f(−t) para todo t ∈] − a, a[ .

Exemplo 8.4. As funções f(t) = cos(nt) e g(t) = tk , com k inteiro par, são
exemplos de funções pares. As funções f(t) = sen(nt) e g(t) = tk , com k inteiro
ímpar são exemplos de funções ímpares.

Veremos agora algumas propriedades das funções pares e das funções ím-
pares.

Proposição 8.5. As seguintes propriedades são verdadeiras.

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


O Teorema de Dirichlet 92

(a) Se f for uma função par e se g for uma função ímpar, então o produto

h(t) = f(t).g(t)

é uma função ímpar. Se f e g forem funções pares, então o produto

h(t) = f(t).g(t)

é uma função par. Se f e g forem funções ímpares, então o produto

h(t) = f(t).g(t)

é uma função par.

(b) Se f for uma função par e a > 0, então


Za Za
f(t) dt = 2 f(t) dt .
−a 0

Se f for uma função ímpar, então


Za
f(t) dt = 0 .
−a

(c) Se f(t) for uma função qualquer, então

f(t) + f(−t)
P(t) := é uma função par
2

e
f(t) − f(−t)
I(t) := é uma função ímpar .
2

(d) Qualquer função f(t) pode ser escrita como soma de uma função par com
uma função ímpar.

Demonstração. (a) Suponhamos que f(t) seja uma função par e que g(t) seja
uma função ímpar. Considerando o produto h(t) = f(t).g(t), então

h(−t) = f(−t).g(−t) = f(t).(−g(t)) = −f(t).g(t) = −h(t) .

Portanto, a função h(t) é ímpar. De modo análogo, prova-se as outras duas


afirmações.
(b) De fato, teremos
Za Z0 Za
f(t) dt = f(t) dt + f(t) dt .
−a −a 0

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O Teorema de Dirichlet 93

Fazendo a mudança de variável de integração, t = −u, na primeira integral do


segundo membro da igualdade, e, usando a hipótese de f ser uma função par,
obtemos
Za Z0 Za Z0 Za
f(t) dt = − f(−u) du + f(t) dt = − f(u) du + f(t) dt =
−a a 0 a 0
Za Za Za
= f(u) du + f(t) dt = 2 f(t) dt
0 0 0
De modo análogo verifica-se a outra afirmação.
(c) Basta observar que P(−t) = P(t) e que I(−t) = −I(t).
(d) De fato, dada uma função qualquer f(t), escrevemos
f(t) + f(−t) f(t) − f(−t)
f(t) = + = P(t) + I(t) .
2 2

Exemplo 8.6. Escreva f(t) = et como soma de uma função par com uma função
ímpar.

Teremos
et + e−t
P(t) = = cosh(t)
2
e
et − e−t
I(t) = = senh(t) .
2
Portanto,
et = cosh(t) + senh(t) .

Teorema 8.7. Se f(t) for uma função par e periódica de período 2l, então os
coeficientes da série de Fourier de f serão dados por
Z
2 l nπt
an = f(t) cos( ) dt , n = 0, 1, 2, 3, . . .
l 0 l
e
bn = 0 , n = 1, 2, 3, . . . .

Demonstração. Basta usar as definições correspondentes para cada coefici-


ente e aplicar o item (b) da proposição (8.5).

Teorema 8.8. Se f(t) for uma função ímpar e periódica de período 2l, então os
coeficientes da série de Fourier de f serão dados por

an = 0 , n = 0, 1, 2, 3, . . .

e Zl
2 nπt
bn = f(t) sen( ) dt , n = 1, 2, 3, . . . .
l 0 l

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O Teorema de Dirichlet 94

Demonstração. Basta usar as definições correspondentes para cada coefici-


ente e aplicar o item (b) da proposição (8.5).

Exemplo 8.9. Seja f(t) = t definida no intervalo −π < t < π. Determine a série
de Fourier de f.

Estendemos a função f como uma função periódica de período 2π

f(t + 2π) = f(t) para cada t ∈ R .

Observamos que a função dada é uma função ímpar. Assim, seus coeficientes
de Fourier são calculados de acordo com a proposição (8.8), isto é,

an = 0 , n = 0, 1, 2, . . .

e Zπ
2
bn = t sen(nt) dt , n = 1, 2, 3, . . . .
π 0

Integrando por partes, resulta


π Z
2 −t cos(nt) 1 π
bn =
π n + n cos(nt) dt .
0 0

Daí, π
2 −π cos(nπ) 1 2(−1)n 2
bn = + 2 sen(nt) = − = (−1)n+1
π n n 0 n n
para cada n = 1, 2, 3, . . . . Logo,

X
+∞
2
Sf (t) = (−1)n+1 sen(nt) .
n=1
n

Ou seja,
 
sen(2t) sen(3t) sen(4t)
Sf (t) = 2 sen(t) − + − + ··· .
2 3 4

Pelo teorema de Dirichlet, teremos Sf (t) = f(t), para cada −π < t < π. Em
particular, para t = π/2 teremos
 
π 1 1 1 1
= 2 1 − + − + − ··· .
2 3 5 7 9

Daí,
π 1 1 1 1 1
=1− + − + − + ··· .
4 3 5 7 9 11

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Exercícios 95

Figura 8.4: Soma parcial com n = 5 Figura 8.5: Soma parcial n = 20

Figura 8.6: Soma parcial com n = 80

Exercícios
1. Em cada um dos itens abaixo é dada uma função f(t) periódica de período
2l. Faça um esboço do gráfico da função dada e encontre sua série de
Fourier.

1.1. f(t) = 1, se −π < t < π e periódica de período 2π.



 0 se −π < t ≤ 0
1.2. f(t) = e periódica de período 2π.
 1 se 0 < t ≤ π

 3 se −π < t ≤ 0
1.3. f(t) = e periódica de período 2π.
 −2 se 0 < t ≤ π
1.4. f(t) = t se 0 < t < 2π e periódica de período 2π.

1.5. f(t) = |t| se −π < t < π e periódica de período 2π.

1.6. f(t) = t2 se −π < t < π e periódica de período 2π.

2. Nos itens abaixo, determine se a função dada é par, ímpar ou nem uma
coisa nem outra.

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Exercícios 96

2.1. f(t) = t3 − 2t 2.3. f(t) = t3 − 2t + 1

2.2. f(t) = tg(2t) 2.4. f(t) = sen(t2 )



 t se 0 ≤ t < 2
3. Seja f(t) = . Esboce o gráfico das extensões periódicas
 1 se 2 ≤ t < 3
par e ímpar de f(t) de período 6.

4. Seja f(t) = 4−t2 , com 0 < t < 1. Esboce os gráficos das extensões periódicas
par e ímpar de f(t) de período 2.

5. Achar os coeficientes de Fourier das funções dos exercícios (3) e (4).

6. Encontre a série de Fourier em cossenos da função



 1 se 0 < t < 1
f(t) =
 0 se 1 < t < 2 .

Esboce o gráfico da função para a qual a série converge (pontualmente) no


intervalo −2 ≤ t ≤ 2.

 t se 0 < t < 1
7. Encontre a série de Fourier em senos da função f(t) = .
 1 se 1 ≤ t < 2
Esboce o gráfico da função para a qual a série converge (pontualmente) no
intervalo −2 ≤ t ≤ 2.

8. Prove que a derivada de uma função par é uma função ímpar e que a de-
rivada de uma função ímpar é par. Vale o mesmo resultado para integrais
indefinidas?

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Aula 9

Desenvolvimento de meio período


Vamos, nesta aula, considerar a possibilidade de representação em série de
Fourier de funções que estão definidas apenas em intervalos limitados da reta.
Dada uma função f : [0, l] → R, para obtermos uma representação em série de
Fourier para essa função, devemos em primeiro lugar defini-la no intervalo
[−l, 0] e, em seguida, estendê-la a reta toda como uma função periódica de pe-
ríodo 2l. Dentre os possíveis modos de se fazer essa extensão vamos destacar
os dois seguintes.
Extensão par: definimos

 f(t) se 0 ≤ t ≤ l
fp (t) := , fp (t + 2l) = fp (t) para cada t ∈ R .
 f(−t) se −l < t < 0

fp (t)

-
−l 0 l t

Figura 9.1: Esboço de uma extensão par


Assim, fp é uma função par, periódica de período 2l e, portanto, sua série
de Fourier é da forma
a0 X
+∞
nπt
Sp (t) = + an cos( ).
2 n=1
l
Extensão ímpar: definimos

 f(t) se 0 ≤ t ≤ l
fi (t) := , fi (t + 2l) = fi (t) para cada t ∈ R .
 −f(−t) se −l < t < 0
Desenvolvimento de meio período 98

fi (t)

-
−l 0 l t

Figura 9.2: Esboço de uma extensão ímpar

Assim, fi é uma função ímpar, periódica de período 2l e, portanto, sua série


de Fourier é da forma
X
+∞
nπt
Si (t) = bn sen( ).
n=1
l

Exemplo 9.1. Seja f(t) = t, definida no intervalo 0 ≤ t < π. Obtenha uma série
em cossenos que represente f nesse intervalo.

Figura 9.3: Extensão par de f

Consideremos a função

 t se 0 ≤ t < π
fp (t) =
 −t se −π ≤ t < 0

com fp (t + 2π) = fp (t). Assim, fp é uma função par e periódica, com período 2π.
Temos
bn = 0 , n = 1, 2, 3, . . .

2 2 π2
a0 = t dt = =π
π 0 π 2

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Desenvolvimento de meio período 99

e, para cada n = 1, 2, 3, . . .
Z Z
2 π 2 π
an = t cos(nt) dt = − sen(nt) dt .
π 0 πn 0

Daí, 
2 2 
0 se n é par
an = {cos(nπ) − 1} = ((−1)n
− 1) = 4 . Pode-
n2 π n2 π  − se n é ímpar
n2 π
mos então escrever

4
a0 = π , a2n = 0 e a2n−1 = − , n = 1, 2, 3, . . . .
(2n − 1)2 π

Figura 9.4: Soma parcial n = 2 Figura 9.5: Soma parcial n = 20

Assim, pelo teorema de Fourier, teremos

π 4 X cos(nt)
+∞
f(t) = − , 0 ≤ t < π.
2 π n=1 (2n − 1)2

Em particular, para t = 0,

π2 1 1 1
= 1 + 2 + 2 + 2 + ··· .
8 3 5 7

Exemplo 9.2. Seja f(t) = t2 definida no intervalo 0 ≤ t < 1. Obtenha

(a) uma série em cossenos que represente f;

(b) uma série em senos que represente f.

(a) Em primeiro lugar, para que possamos ter uma série em cossenos repre-
sentando uma dada função, devemos estender essa função a reta toda como
uma função par e periódica. Estendemos f como uma função par e periódica
de período 2 (ver figura 9.6).
Consideremos a extensão par, definida por

 f(t) se 0 ≤ t < 1
fp (t) = , fp (t + 2) = fp (t) para todo t ∈ R .
 f(−t) se −1 < t < 0

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Desenvolvimento de meio período 100

Figura 9.6: Extensão par de f

Escrevemos agora a série de Fourier de fp .


Z1 Z1 1
t3
2 2
a0 = fp (t) dt = t dt = = ,
−1 −1 3 −1 3
Z1 Z1
an = fp (t) cos(nπt) dt = t2 cos(nπt) dt ,
−1 −1
1 Z Z
t2 sen(nπt) 2 1 2 1
an = − nπ t sen(nπt) dt = − t sen(nπt) dt .
nπ −1 −1 nπ −1
Logo,
Z1
2
an = − t sen(nπt) dt .
nπ −1

Mais uma integração por partes nos dá


 1 Z 
2 t cos(nπt) 1 1
an = − nπ cos(nπt) dt
nπ nπ −1 −1

 1 
2 cos(nπ) cos(nπ) sen(nπt)
an = + − .
nπ nπ nπ n2 π2 −1
Assim,
4(−1)n
an = , n = 1, 2, 3, . . . .
n2 π2
Por outro lado, sendo fp uma função par, resulta

bn = 0 n = 1, 2, 3, . . . .

Assim, de acordo com o teorema de Fourier, teremos

1 X
+∞
(−1)n
fp (t) = + 4 2 π2
cos(nπt) , para cada − 1 < t < 1 .
3 n=1
n

Daí,

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Desenvolvimento de meio período 101

Figura 9.7: Soma parcial para n = 5 Figura 9.8: Soma parcial para n = 30

1 X
+∞
(−1)n
2
t = +4 cos(nπt) , para cada 0 ≤ t < 1 .
3 n=1
n2 π2
(b) Estendemos f a reta toda como uma função ímpar e periódica de período
2 ( ver figura 9.9).

Figura 9.9: Extensão ímpar de f

Consideremos 
 t2 se 0 ≤ t < 1
fi (t) =
 −t2 se −1 ≤ t < 0 .

Escrevemos agora a série de Fourier de fi . Teremos

a0 = 0 e an = 0 , n = 1, 2, 3, . . . ,

pois fi é ímpar.
Z1 Z1
bn = fi (t) sen(nπt) dt = 2 t2 sen(nπt) dt .
−1 | {z } 0
é par !

Usando integração por partes, resulta


 1 Z 
t2 cos(nπt) 2 1
bn = 2 − + nπ t cos(nπt)dt .
nπ 0 0

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Desenvolvimento de meio período 102

Daí, Z
(−1)n 2 1
bn = 2 − + t cos(nπt)dt .
nπ nπ 0
Uma nova integração por partes nos dá
 1 Z 
2(−1)n+1 4 t sen(nπt) 1 1
bn =

+
nπ nπ − nπ sen(nπt)dt =
0 0
  .
1
2(−1)n+1

4 cos(nπt)
= +
nπ nπ n2 π2 0

Logo

2(−1)n+1 (−1)n
 
4 1 2 2
bn = + − = (−1)n+1
+ 2 2 {(−1) − 1} .
n
nπ nπ n2 π2 n2 π2 nπ n π

Daí,

Figura 9.10: Soma parcial n = 3 Figura 9.11: Soma parcial n = 15

Figura 9.12: Soma parcial n = 60

X
+∞
2

2

fi (t) = (−1)n+1
+ 2 2 {(−1) − 1} sen(nπt) .
n

n=1
nπ n π

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Forma complexa da série de Fourier 103

Forma complexa da série de Fourier


Um modo muito conveniente de se escrever uma série de Fourier é usando
a notação complexa. Recordemos a Fórmula de Euler

eiθ = cos(θ) + i sen(θ) .

Então
eiθ + e−iθ eiθ − e−iθ
cos(θ) = e sen(θ) = .
2 2i
Assim,
 nπt nπt   nπt nπt 
i −i i −i
nπt nπt e l + e l  e l − e l 
an cos( ) + bn sen( ) = an   + bn  .
l l  2   2i 

Ou seja,

  nπt   nπt
nπt nπt an bn i an bn −i
an cos( ) + bn sen( )= + e l + − e l .
l l 2 2i 2 2i

Logo, se consideramos uma série trigonométrica

a0 X
+∞  
nπt nπt
S(t) = + an cos( ) + bn sen( ) ,
2 n=1
l l

então podemos escrever


nπt +∞  nπt
a0 X X an + ibn  −i
+∞  
an − ibn i
S(t) = + e l + e l
2 n=1
2 n=1
2

e, trocando n por −n no segundo somatório, resulta


nπt  nπt
a0 X X
+∞   −∞ 
an − ibn i a−n + ib−n i
S(t) = + e l + e l .
2 n=1
2 n=−1
2

Definimos então, para cada n ∈ Z, a seqüência de números complexos





an − ibn

 se n > 0
 a 2
0
cn := se n = 0

 2


 a−n + ib−n se n < 0 .
2
Desse modo podemos escrever
nπt
X
+∞
i
S(t) = cn e l .
n=−∞

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Forma complexa da série de Fourier 104

Essa expressão é a forma complexa da série de Fourier. Agora, dada uma


função f(t) periódica de período 2l, teremos
Zl
1 nπt
an = f(t) cos( )dt = a−n , n ∈ Z
l −l l

e Zl
1 nπt
bn = f(t) sen( )dt = −b−n , n ∈ Z .
l −l l
Daí,
−ibn = ib−n , n ∈ Z .

Logo, a fórmula para o cálculo dos coeficientes da série de Fourier na forma


complexa, é dada por
Zl
1 nπt
cn = f(t)e−i l dt , n ∈ Z .
2l −l

Observe que
Zl
1
c0 = f(t) dt .
2l −l

Exemplo 9.3. Escrever a série de Fourier na forma complexa da função

f(t) = et , definida no intervalo − π ≤ t < π

e estendida a reta toda como uma função periódica de período 2π; ou seja,

f(t + 2π) = f(t) .

Figura 9.13: Extensão de f(t) = et de período 2π

Temos l = π e Zπ
1 eπ − e−π
c0 = et dt = .
2π −π 2π

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Forma complexa da série de Fourier 105

Para cada n ∈ Z\{0}, teremos


Z Z
1 π t −int 1 π (1−in)t
cn = ee dt = e dt ,
2π −π 2π −π
π  " −(1−in)π
#
1 e(1−in)t 1 e(1−in)π−e

cn = = .
2π 1 − in −π 2π 1 − in
Da definição da exponencial complexa, teremos

e−inπ = einπ = cos(nπ) = (−1)n .

Segue-se então que


(−1)n eπ − e−π
   
n senh π 1 + in
cn = = (−1) .
2π 1 − in π 1 + n2
Logo, observando que essa última expressão também inclui o caso n = 0,
teremos
senh π X
+∞  
n 1 + in
Sf (t) = (−1) 2
eint .
π n=−∞
1 + n

Exemplo 9.4. Encontre a série de Fourier na forma complexa da onda qua-


drada de período 4 dada por


 0 se −2 ≤ t ≤ −1


f(t) = 1 se −1 < t < 1 , f(t + 4) = f(t) ∀ t ∈ R .



 0 se 1 ≤ t ≤ 2

Figura 9.14: Gráfico de f

Temos l = 2 e Z2
1 1
c0 = f(t) dt = .
4 −2 2
Para cada n ∈ Z\{0}, teremos
Z Z1 "
− inπt
1 #
1 2 inπt 1 inπt 1 2e 2
cn = f(t)e− 2 dt = e− 2 dt = − =
4 −2 4 −1 4 inπ −1
2  −inπ/2
 
1 inπ/2
= − e −e .
4 inπ

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Exercícios 106

Podemos então escrever

einπ/2 − e−inπ/2 sen(nπ/2)


cn = = .
2inπ nπ

Definindo a função
sen(πt)
se t 6= 0
πt
sinc(t) :=

1 se t = 0 ,
podemos escrever,
n sen( nπ
2
)
sinc( ) = nπ = 2cn .
2 2
Essa expressão valendo inclusive para o caso n = 0. Portanto,

1 n
cn = sinc( ) .
2 2

Daí,
X
+∞
1 n inπt
Sf (t) = sinc( )e 2 .
n=−∞
2 2

Figura 9.15: Gráfico da função sinc(t)

Exercícios

 0, 0<t<1
1. Seja f(t) = . Obtenha
 1, 1<t<2

1.1 Uma série em senos que represente f

1.2 Uma série em cossenos que represente f

Como deve ser definida a função f em t = 0, t = 1 e t = 2, para que as séries


obtidas convirjam para f em todos os pontos de [0, 2]?

2. Seja f(t) = cos(t), para 0 ≤ t < π. Obtenha uma série em senos para f.

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Exercícios 107

3. Seja f(t) = sen(t), para 0 ≤ t < π. Obtenha uma série em cossenos para f.

 0, 0<t<1
4. Seja f(t) = e periódica de período T = 2. Obtenha a série
 1, 1<t<2
de Fourier na forma complexa.

5. Seja f(t) = t, para 0 ≤ t < 1 e periódica de período T = 1. Obtenha a série


de Fourier de f na forma complexa.

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Aula 10

Nesta aula veremos algumas propriedades importantes das séries de Fou-


rier. Duas ótimas referências para o conteúdo desta aula são [Tolstov, 1972]
e, é claro, [de Figueiredo, 1977].

Desigualdade de Bessel
Dada uma função f : R → C periódica de período 2l, vimos que sua série de
Fourier é escrita na forma
X
+∞
inπt
Sf (t) = cn e l

n=−∞

com os coeficientes cn calculados pela fórmula


Zl
1 −inπt
cn = f(t)e l dt para cada n ∈ Z .
2l −l

Recordemos, mais uma vez, as relações de ortogonalidade entre as exponen-


ciais complexas.

Zl  2l se m = n
inπt −imπt
e l e l dt = (10.1)
−l  0 se m 6= n .

Para cada N ∈ N, definimos a truncada de ordem N, ou N-ésima soma


parcial da série de Fourier complexa de f, por

X
N
inπt
SN (t) := cn e l . (10.2)
n=−N

É claro que
Sf (t) = lim SN (t) .
N→+∞

Além disso, observe que


Zl
1
|cn | ≤ |f(t)|dt , para cada n ∈ Z . (10.3)
2l −l
Desigualdade de Bessel 109

Os coeficientes (cn )n∈Z formam uma seqüência de números complexos e,


essa seqüência, é algumas vezes chamada transformada de Fourier de f. De
modo mais preciso, a Transformada de Fourier de uma função f, periódica de
período 2l, é a função
f̂ : Z → C ,

definida por
Zl
1 −inπt
f̂(n) := f(t)e l dt = cn .
2l −l

Assim, podemos escrever

X
N
inπt
SN (t) = f̂(n)e l .
n=−N

Observe que (10.3) também pode ser vista como


Z
1 l
|f̂(n)| ≤ |f(t)| dt ≤ Cte
2l −l
para cada n ∈ Z.
Recordemos que a notação
Zl
< f, g >= f(t)g(t)dt
−l

define um produto interno no espaço vetorial das funções contínuas e periódi-


cas de período 2l, com norma dada por
Zl
2
kfk = |f(t)|2 dt .
−l

Uma propriedade importante das séries trigonométricas, é a de que, den-


tre todos os polinômios trigonométricos, a N-ésima soma parcial da série de
Fourier de uma função f, SN , fornece a melhor aproximação quadrática para a
função. De modo mais preciso, temos

Teorema 10.1. Seja f(t) uma função contínua por partes e periódica de pe-
ríodo 2l. Seja SN (t) a N-ésima soma parcial de sua série de Fourier na forma
complexa. Se (rn )n∈Z for uma seqüência limitada de números complexos e, se
definirmos, para cada N ∈ N, o polinômio trigonométrico

X
N
inπt
RN (t) := rn e l

n=−N

então, para cada N ∈ N, teremos


Zl Zl
|f(t) − SN (t)| dt ≤
2
|f(t) − RN (t)|2 dt .
−l −l

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Desigualdade de Bessel 110

Ou ainda,
kf − SN k ≤ kf − RN k , para cada N ∈ N .

A igualdade vale se e somente se SN = RN .

Demonstração. Seja

inπt
X
N
g(t) := f(t) − f̂(n)e l = f(t) − SN (t) .
n=−N

Das relações de ortogonalidade (10.1), obtemos


Zl
ikπt
g(t)e− l dt = 0 , para cada k = −N , . . . , N .
−l

Em particular, se
X
N
inπt
h(t) := (f̂(n) − rn )e l ,
n=−N

teremos Zl
g(t)h(t)dt = 0 .
−l

Logo, g é ortogonal a h e, usando as notações da página 82 e o teorema de


Pitágoras,
kg + hk2 = kgk2 + khk2 ≥ kgk2 .

Ou seja, como
g(t) + h(t) = f(t) − RN (t)

obtemos
kf − SN k2 ≤ kf − RN k2 .

Daí concluímos o teorema.

Vamos agora verificar uma importante desigualdade, chamada desigual-


dade de Bessel.

Teorema 10.2 (Desigualdade de Bessel). Seja f(t) uma função contínua por
inπt
X
+∞
partes e periódica de período 2l e seja Sf (t) = f̂(n)e l sua série de Fourier.
n=−∞
Então Zl
X
+∞
1
|f̂(n)| ≤ 2
|f(t)|2 dt .
n=−∞
2l −l

Em particular, teremos
lim f̂(n) = 0 .
|n|→+∞

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Desigualdade de Bessel 111

Proposição 10.3. Se f(t) for uma função contínua por partes e periódica de
período 2l e se

a0 X
+∞  
nπt nπt
Sf (t) = + an cos( ) + bn sen( )
2 n=1
l l

for sua série de Fourier, então


X
+∞ X
+∞
2
(i) as séries an e b2n são convergentes;
n=1 n=1

Zl
a2 X 2
+∞
1
(ii) 0 + (an + b2n ) ≤ |f(t)|2 dt.
2 n=1
l −l

X
N
inπt
Prova do Teorema e da Proposição. Seja SN (t) = f̂(n)e l a N-ésima soma
n=−N
parcial da série de Fourier de f. Então

X
N
−inπt
SN (t) = f̂(n)e l .
n=−N

Ora,

0 ≤ kf − SN k2 =< f − SN , f − SN >= (10.4)

= kfk2 − < f, SN > − < SN , f > + < SN , SN > .

Agora,
Zl
< f, SN >= f(t)SN (t)dt =
−l
X
N Zl
−inπt
= f̂(n) f(t)e l dt =
n=−N −l

X
N X
N
= f̂(n)f̂(n) = 2l |f̂(n)|2 .
n=−N n=−N

Como
X
N
< SN , f >= < f, SN > = 2l |f̂(n)|2
n=−N
e
Zl X
N
< SN , SN >= SN (t)SN (t)dt = 2l |f̂(n)|2 ,
−l n=−N

teremos, substituindo essas duas expressões em (10.4),

X
N
2
0 ≤ kfk − 2l |f̂(n)|2 .
n=−N

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Desigualdade de Bessel 112

Ou seja,
X
N Zl
1
|f̂(n)| ≤2
|f(t)|2 dt .
n=−N
2l −l

Daí obtemos, passando ao limite, N → ∞,


X
+∞ Zl
1
|f̂(n)| ≤ 2
|f(t)|2 dt .
n=−∞
2l −l

Essa é a desigualdade de Bessel.


Lembrando que os coeficientes de Fourier na forma complexa estão relaci-
onados com os coeficientes de Fourier na forma trigonométrica por



an − ibn

 se n > 0
 a 2
0
f̂(n) = se n = 0

 2


 a−n + ib−n se n < 0
2
segue-se que, se n > 0,
a2n b2n
|f̂(n)|2 = +
4 4
e, se n < 0,
a2−n b2−n
|f̂(n)|2 = + .
4 4
Em qualquer caso, a desigualdade de Bessel nos dá
Z
a20 X 2 X 2
+∞ +∞
1 l
+ an + bn ≤ |f(t)|2 dt .
2 n=1 n=1
l −l

Em particular, teremos
X
∞ X
∞ X
+∞
(i) As séries a2n e b2n são convergentes, assim como a série |f̂(n)|2 .
n=1 n=1 n=−∞
(ii) lim an = lim bn = 0, e
n→+∞ n→+∞
(iii) lim |f̂(n)| = lim f̂(n) = 0. Em outros termos
|n|→∞ |n|→∞

Zl
inπt
lim f(t)e− l dt = 0 .
|n|→∞ −l

Esse resultado é chamado Lema de Riemann-Lebesgue.

Quando uma função f(t) tiver derivada, existirá uma relação muito impor-
tante entre os coeficientes de Fourier de f e os coeficientes de Fourier de f 0 .

Teorema 10.4 (Transformada da Derivada). Seja f(t) uma função contínua e


periódica de período 2l. Suponha que f 0 (t) seja uma função contínua por partes.
Então
inπ
fˆ0 (n) = f̂(n) , para cada n ∈ Z . (10.5)
l

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Sobre convergência da série de Fourier 113

Demonstração. Temos Zl
1 inπt
fˆ0 (n) = f 0 (t)e− l dt
2l −l

integrando por partes resulta


Zl
inπ inπt inπ
fˆ0 (n) = 2 f(t)e− l dt = f̂(n)
2l −l l

Observação 10.5. Observe que (10.5) nos diz que


l ˆ0
f̂(n) = f (n) , se n ∈ Z , n 6= 0 .
inπ
Como |fˆ0 (n)| ≤ Cte , para cada n ∈ Z, segue-se que, para cada n ∈ Z, com
n 6= 0,
Cte
|f̂(n)| ≤ .
|n|
Ou seja, temos uma estimativa para a velocidade de convergência da série de
Fourier. Generalizando, se f(t) tem derivada de ordem k contínua por partes
então  k d
l dk f
f̂(n) = (n) , se n ∈ Z , n 6= 0 . (10.6)
inπ dtk
Daí,
Cte
|f̂(n)| ≤ .
|n|k

Sobre convergência da série de Fourier


Vamos aqui apenas citar alguns resultados que garantem que as operações
que fizemos até agora com as séries de Fourier são permitidas, dentro de
certas restrições.
Seja I ⊂ R um intervalo da reta. Para cada número natural n ∈ N, suponha-
mos dada uma função fn : I → C, diremos então que está dada uma seqüência
de funções (fn ) em I. É sempre conveniente pensar numa seqüência como
uma listagem de funções

f1 , f2 , f3 , . . . , fn , . . . .

Diremos que uma seqüência de funções fn : I → C converge pontualmente (ou


converge ponto a ponto) a uma função f : I → C, se, para cada t0 ∈ I, a
seqüência de números complexos

(f1 (t0 ), f2 (t0 ), . . . , fn (t0 ), . . .)

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Sobre convergência da série de Fourier 114

convergir a f(t0 ). Isso será escrito na forma

lim fn (t0 ) = f(t0 ) , para cada t0 ∈ I .


n→+∞

Exemplo 10.6. A seqüência fn : [0, 1] → R definida por

fn (t) := tn

 0 , se 0 ≤ t < 1
converge pontualmente para a função f(t) =
 1 , se t = 1 .

Exemplo 10.7. A seqüência de funções fn : [0, 1] → R definida por

fn (t) := tn (1 − tn )

converge pontualmente para a função f(t) ≡ 0 em [0, 1]. Observamos que para
cada n ∈ N fixado,
p
fn ( n 1/2) = 1/4 .

Exemplo 10.8. Vimos no Exemplo 8.2 (ver pág. 89), que a seqüência de fun-
ções contínuas Sn : [−π, π] → R, definida por

4X
n
1
Sn (t) := sen((2k − 1)t)
π k=1 (2k − 1)

converge pontualmente para a função







−1 se −π < t < 0
f(t) = 1 se 0 < t < π



 0 se t = −π ou t = 0 ou t = π

Na verdade, no nosso estudo sobre séries de Fourier, trabalhamos com um


tipo de seqüência obtida a partir de uma dada seqüência de funções, são as
séries. Dada uma seqüência de funções fn : I → C consideremos a seqüência
sn : I → C definida do seguinte modo

X
n
s1 := f1 , s2 := f1 + f2 , s3 := f1 + f2 + f3 , . . . , sn := fk , . . . .
k=1

A seqüência sn : I → C é chamada uma série de funções. Assim, diremos


que a série (sn ) converge pontualmente a uma função s (chamada soma da
série) se, para cada t0 ∈ I, tivermos

lim sn (t0 ) = s(t0 ) . (10.7)


n→+∞

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Sobre convergência da série de Fourier 115

É usual que se escreva


X
+∞
s(t0 ) = sn (t0 )
n=1
para representar o limite em (10.7). Infelizmente, por certas deficiências, a
convergência pontual é pouco útil quando desejamos aplicar sobre seqüên-
cias (ou séries) as operações fundamentais do Cálculo, derivação e integração,
principalmente a derivação. Para corrigir esse defeito, é que se introduz a no-
ção de convergência uniforme. Diremos que a seqüência (ou série) sn : I → C
converge uniformemente em I a uma função s : I → C se, para cada  > 0 dado,
existir um índice n0 ∈ N tal que, para qualquer n ≥ n0 , vale

|sm (t) − s(t)| <  qualquer que seja t ∈ I .

É claro que se uma seqüência (sn )n∈N converge uniformemente a s, ela também
converge pontualmente para s em I. Um importante critério para decidir sobre
a convergência uniforme de funções é o Critério de Cauchy.

Teorema 10.9 (Critério de Cauchy). Uma seqüência (sn )n∈N de funções com-
plexas definidas num intervalo I converge uniformemente em I, se e somente se,
para cada  > 0 dado, existir um índice n0 ∈ N, a partir do qual temos

|sm (t) − sn (t)| < 

qualquer que seja t ∈ I e quaisquer que sejam m ≥ n ≥ n0 .

Um outro critério muito usado é o Teste de Weierstrass.

Teorema 10.10. Considere dadas (fn )n∈Z uma seqüência de funções complexas
e (an )n∈Z uma seqüência de números reais positivos tais que

• |fn (t)| ≤ an para cada n ∈ Z e todo t.


X
• A série an é convergente.
n∈Z
X X
Então, as séries fn , |fn |, são uniformemente convergentes.
n∈Z n∈Z

Vamos agora enunciar alguns teoremas sobre convergência de seqüências


e suas conseqüências no estudo de séries de Fourier.

Proposição 10.11. Sejam I = [a, b] um intervalo e sn : [a, b] → C uma seqüência


de funções contínuas por partes em [a, b]. Suponha que (sn ) convirja pontual-
mente para uma função s(t), integrável em [a, b]. Então
Zb Zb
lim sn (t)dt = s(t)dt .
n→+∞ a a

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Sobre convergência da série de Fourier 116

Esse teorema só tem utilidade se conhecemos de antemão a integrabili-


dade da função limite. Na prática, só conhecemos a seqüência (sn ) e na ver-
dade queremos tirar conclusões sobre a função limite, mesmo sem conhecê-la
explicitamente.

Proposição 10.12 (Integração de séries de Fourier). Seja f(t) uma função


contínua por partes e periódica de período 2l. Se

a0 X
+∞  
nπt nπt
Sf (t) = + an cos( ) + bn sen( )
2 n=1
l l

for a série de Fourier de f, então


Zt Zt X
+∞  Zt Zt 
a0 nπt nπt
f(t)dt = dt + an cos( )dt + bn sen( )dt .
0 0 2 n=1 0 l 0 l

Isto é, mesmo que a série de Fourier não seja convergente para f, podemos
integrar termo a termo a série e o resultado é a integral de f.

Podemos concluir que o limite de uma seqüência é uma função contínua,


desde que a convergência da seqüência seja uniforme.

Proposição 10.13. Se sn : I → C for uma seqüência de funções contínuas e (sn )


convergir uniformemente a uma função s, então s é contínua.

A convergência uniforme de uma série de Fourier é garantida pelo seguinte


resultado.

Proposição 10.14. Seja f(t) uma função contínua por partes e periódica de
período 2l. Suponha que f 0 (t) seja contínua por partes. Então a série de Fourier
de f(t) converge uniformemente para f em cada intervalo fechado no qual f
seja contínua. Em particular, se f(t) for contínua, a convergência é uniforme em
toda a reta.

Proposição 10.15 (Derivação de séries de Fourier). Suponha que

a0 X
+∞  
nπt nπt
Sf (t) = + an cos( ) + bn sen( )
2 n=1
l l

seja a série de Fourier de uma função f. Se soubermos que f 0 (t), Sf 0 , existe e que
é contínua por partes, então a série de Fourier para f 0 é obtida derivando-se a
série Sf (t) termo a termo.
X
+∞ 
nπbn nπt nπan nπt

Sf 0 (t) = cos( )− sen( ) .
n=1
l l l l

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Identidade de Parseval 117

Um problema interessante é saber se uma dada série trigonométrica é a sé-


rie de Fourier de alguma função. Mas isso, em muitos casos, pode ser resolvido
pelo seguinte resultado que é uma espécie de releitura de (10.6).

Proposição 10.16. Seja dada a série trigonométrica

a0 X
+∞  
nπt nπt
S(t) = + an cos( ) + bn sen( ) .
2 n=1
l l

Se as seguintes relações forem verificadas

|nk an | ≤ M , |nk bn | ≤ M (n ≥ 2 , M = Cte)

então S(t) é uma função contínua, periódica de período 2l, com (k − 2) derivadas
contínuas, que podem ser obtidas derivando-se a série termo a termo.

Identidade de Parseval
Suponhamos agora que f : R → C seja uma função contínua periódica de
período 2l e com f 0 contínua por partes. O Teorema de Fourier nos diz então
que nesse caso
X
+∞
inπt
f(t) = f̂(n)e l (10.8)
n=−∞
como
X inπt
f(t) = f̂(n)e− l .

Usando as relações de ortogonalidade e supondo que podemos comutar a pas-


sagem ao limite com a integração, teremos
Zl Zl X
+∞
|f(t)| dt =
2
f(t)f(t)dt = |f̂(n)|2 .
−l −l n=−∞

Essa é a chamada identidade de Parseval. Observe também que se em (10.8)


fizermos t = 0, resultará
X
+∞
f(0) = f̂(n) .
n=−∞

X
+∞
Ou seja, a série f̂(n) é convergente. Por enquanto, isto é, com as hipóteses
n=−∞
X
+∞
que temos, nada podemos afirmar sobre a convergência da série |f̂(n)|.
n=−∞
Observação 10.17. A identidade de Parseval (ou a desigualdade de Bessel) tam-
bém é útil para verificarmos se uma dada série trigonométrica é a série de
Fourier de alguma função contínua definida num intervalo ] − l, l[.

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Aula 11

Vamos, nesta aula, retomar o problema de condução do calor que foi o


nosso ponto de partida para o estudo das séries de Fourier.

Resolução do problema do calor


u(x,t)


..  ..
..  ..
..  .. -x
.. ..
.. ..
x=0 x=l

Ao estudarmos o problema da condução do calor em uma barra com extre-


midades mantidas à temperatura zero, obtivemos o seguinte problema: deter-
minar uma função u(x, t) (temperatura na seção de coordenada x no instante
t) definida para t ≥ 0 e 0 ≤ x ≤ l e satisfazendo as condições


 u (x, t) = α2 uxx (x, t) , t > 0 ,

 t
0<x<l
u(0, t) = u(l, t) = 0 , t > 0 (11.1)



 u(x, 0) = f(x) , 0≤x≤l

onde a constante α2 e a função f são conhecidas. Esse tipo de problema é


chamado problema de valor inicial e de fronteira, ou de forma abreviada, PVIF.
Usando o método de separação de variáveis obtivemos a expressão
X
+∞
n2 π2 α2 t nπx
u(x, t) = cn e− l2 sen( ) (11.2)
n=1
l

na qual os coeficientes cn devem ser dados de tal modo que a terceira condição
em (11.1) seja verdadeira. Isto é, devemos ter
X
+∞
nπx
f(x) = u(x, 0) = cn sen( ).
n=1
l
Resolução do problema do calor 119

Portanto, os coeficientes cn devem ser os coeficientes de Fourier da função f,


definida no intervalo [0, l] e estendida para a reta toda de modo ímpar e perió-
dico de período 2l. Antes de aceitarmos (11.2) como solução do PVIF (11.1),
devemos dizer o que se entende por solução do PVIF (11.1). Isso pode pare-
cer estranho em um primeiro momento, mas observando a equação em (11.1),
vemos que devem existir restrições quanto ao tipo de função que esperamos
como solução. Em primeiro lugar, devemos ser capazes de derivar a solução
uma vez em relação a t e duas vezes em relação a x. Porém, só isso não
basta. Por exemplo, suponhamos que a temperatura inicial seja uma função
f(x) definida para 0 ≤ x ≤ l. É razoável supor que essa função não apresente
descontinuidades no intervalo 0 < x < l mas que possivelmente seja descontí-
nua nas extremidades x = 0 e x = l. Tomemos por exemplo f(x) ≡ 0. Ora, por
substituição direta vemos que


 0 , se t = 0 e 0 ≤ x ≤ l


u(x, t) := 0 , se x = 0 ou x = l e t > 0 (11.3)



 1 , se t > 0 , 0 < x < l

satisfaz todas as condições em (11.1), mas não pode ser uma “solução” aceitá-
vel, pois, nesse exemplo, estamos com a situação de termos uma barra isolada
termicamente, sem fontes internas de calor e inicialmente sua temperatura é
constante e igual a zero. Logo, o modelo nos diz que devemos esperar que, em
qualquer outro instante, t > 0, a temperatura permaneça constante e igual a
zero. Por isso devemos ter um certo cuidado em selecionar o tipo de solução
matemática que estamos buscando; evitamos frases do tipo “a teoria diz uma
coisa e a prática outra”, simplesmente compreendendo os limites que a pró-
pria teoria impõe à interpretação dos resultados. Recordemos duas notações
já utilizadas:
Q := { (x, t) ∈ R2 / 0 < x < l e t > 0 } ,

Q := { (x, t) ∈ R2 / 0 ≤ x ≤ l e t ≥ 0 } .

Definição 11.1 (Definição de solução para o PVIF (11.1)). Uma função

u : Q −→ R

é uma solução do problema (11.1) se ela for contínua em Q, tiver derivadas


parciais ut e uxx em Q e verificar as três condições em (11.1).

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Resolução do problema do calor 120

Observação 11.2. Observe que não exigimos continuidade das derivadas par-
ciais, mas isso não é importante, pois existe um teorema que mostra que
qualquer função contínua que satisfaça a equação do calor (11.1) possui de-
rivadas contínuas de todas as ordens. Com essa definição excluímos, pelo
menos, (11.3) de ser considerada solução de (11.1).

Como o método de separação de variáveis nos leva à representação em


série de Fourier, devemos também impor certas restrições ao dado inicial f(x).
A mais simples é a seguinte.

Definição 11.3. Diremos que uma função f : [0, l] −→ C tem quadrado integrá-
vel se Zl
|f(x)|2 dx < +∞ .
0

Temos então o seguinte resultado

Teorema 11.4 (Existência e unicidade). Seja f : [0, l] −→ R uma função con-


tínua com f(0) = f(l) = 0 e tal que sua derivada f 0 (x) exista em [0, l] e seja uma
função de quadrado integrável. Então a função definida por
X
+∞
n2 π2 α2 t nπx
u(x, t) = cn e− l2 sen( ) (11.4)
n=1
l
com Zl
2 nπx
cn = f(x) sen( )dx
l 0 l
é a solução do problema (11.1).

Demonstração. Veja [de Figueiredo, 1977, pág. 107 e pág. 121]

Exemplo 11.5. Achar a temperatura u(x, t) em uma barra cilíndrica de alu-


mínio, α2 = 0, 86, de comprimento unitário, com sua superfície lateral isolada
termicamente, inicialmente com temperatura uniforme de 10o C em todo seu com-
primento e cujas extremidades são mantidas a 0o C para todo t > 0.

Temos que



 u (x, t) = 0, 86uxx (x, t)
 t
t>0, 0<x<1
u(0, t) = u(1, t) = 0 , t>0



 u(x, 0) = 10 , 0 ≤ x ≤ 1.

Observe que f(x) ≡ 10 não satisfaz f(0) = f(1) = 0, mas mesmo assim podemos
achar uma solução, u(x, t), pelo método de separação de variáveis, na forma
X
+∞
2 π2 t
u(x, t) = cn e−0,86n sen(nπx)
n=1

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Resolução do problema do calor 121

com 
 40
Z1 
 , se n é ímpar
 nπ
cn = 20 sen(nπx)dx =


0

 0, se n é par.
Daí,
40 X
+∞
1 2 2
u(x, t) = e−0,86(2n−1) π t sen((2n − 1)πx) .
π n=1 2n − 1

Barra sujeita a outras condições

Veremos agora exemplos de alguns outros problemas de contorno para a


equação do calor, e que podem também ser resolvidos usando o método de
Fourier.

Barra com extremidades isoladas

O problema matemático consiste em determinar uma função u : Q −→ R


verificando as condições


 u (x, t) = α2 uxx (x, t) , em

 t
Q
ux (0, t) = ux (l, t) = 0 , para t > 0 (11.5)



 u(x, 0) = f(x) , para 0 ≤ x ≤ l .

Usando o método de separação de variáveis, vamos considerar soluções da


forma
u(x, t) = X(x)T (t) .

Substituindo essa expressão na equação (11.5), resulta

X(x)T 0 (t) = α2 X 00 (x)T (t) .

Daí,
X 00 (x) T 0 (t)
= 2 = σ = cte .
X(x) α T (t)
Assim 
 X 00 (x) − σX(x) = 0
 T 0 (t) − σT (t) = 0 .
Usando as condições de contorno, teremos

ux (0, t) = X 0 (0)T (t) = 0 =⇒ X 0 (0) = 0

e
ux (l, t) = X 0 (l)T (t) = 0 =⇒ X 0 (l) = 0 .

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Resolução do problema do calor 122

Devemos então determinar σ e X(x) tais que




 X 00 (x) − σX(x) = 0


e X(x) 6≡ 0 (11.6)



 X 0 (0) = X 0 (l) = 0 .

Usando, por exemplo, a transformada de Laplace para resolver (11.6), ob-


n2 π2
temos o seguinte: para cada n = 0, 1, 2, 3, . . . , o valor σn = − 2 é um auto-
l
nπx
valor para (11.6), com autofunção correspondente dada por Xn (x) = cos( ).
l
Agora, o problema
n 2 π2
Tn0 (t) + 2 α2 Tn (t) = 0 ,
l
tem como solução
n2 π2 α2 t
Tn (t) = e− l2 .

Construímos então a família de soluções

n2 π2 α2 t nπx
un (x, t) = cn e− l2 cos( ).
l

O princípio da superposição nos diz que devemos tentar como solução a ex-
pressão
X
+∞
n2 π2 α2 t nπx
u(x, t) = cn e− l2 cos( ). (11.7)
n=0
l
Como, para satisfazer a condição inicial, devemos ter

X
+∞
nπx
f(x) = u(x, 0) = cn cos( ), 0 ≤ x ≤ l,
n=0
l

devemos então tomar a extensão par e periódica de período 2l de f e cn como


os coeficientes da série de Fourier; isto é,
Z
2 l nπx
cn = f(x) cos( )dx .
l 0 l

Condições de contorno não homogêneas

Suponhamos agora que uma das extremidades da barra seja mantida na


temperatura constante T1 e a outra extremidade mantida na temperatura
constante T2 . Temos então

u(0, t) = T1 e u(l, t) = T2 , para todo t > 0

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Resolução do problema do calor 123

assim, vamos estudar o problema: determinar uma função u : Q → R, contínua


satisfazendo as condições


 u (x, t) = α2 uxx (x, t) , (x, t) ∈ Q

 t
u(0, t) = T1 , u(l, t) = T2 , para todo t > 0 (11.8)



 u(x, 0) = f(x) , 0≤x≤l

Idéia: fazer uma mudança na incógnita u de modo a recairmos no pro-


blema (11.1). Para isso vamos escolher uma função qualquer v(x, t), contínua
e verificando as condições

 v (x, t) = α2 v (x, t) , (x, t) ∈ Q
t xx
(11.9)
 v(0, t) = T1 , v(l, t) = T2 , para todo t > 0

e substituímos a incógnita u(x, t) em (11.8) pela nova incógnita w(x, t) definida


por
w(x, t) := u(x, t) − v(x, t) (11.10)

assim teremos


 w (x, t) = α2 wxx (x, t) , (x, t) ∈ Q

 t
w(0, t) = 0 , w(l, t) = 0 , para todo t > 0 (11.11)



 w(x, 0) = f(x) − v(x, 0) , 0 ≤ x ≤ l

Uma função v(x, t) que verifica as condições (11.9) é

x
v(x, t) = v(x) = (T2 − T1 ) + T1
l

Agora, a solução do problema (11.11) é dada por

X
+∞
n2 π2 α2 t nπx
w(x, t) = bn e− l2 sen( )
n=1
l

com os coeficientes bn calculados por


Z
2 l nπx
bn = [f(x) − v(x)] sen( )dx
l 0 l

segue-se então que

x X
+∞
n2 π2 α2 t nπx
u(x, t) = (T2 − T1 ) + T1 + bn e− l2 sen( )
l n=1
l

A função v(x) dada acima é chamada distribuição permanente de tempera-


tura (corresponde ao estado estacionário obtido tomando lim u(x, t)). A função
t→+∞
w(x, t) é chamada a parte transiente da solução u(x, t).

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Resolução do problema do calor 124

Equação do calor não homogênea

A equação do calor não homogênea tem a forma

ut (x, t) = α2 uxx (x, t) + g(x, t)

ela aparece quando levamos em consideração a existência de uma fonte de


calor (interna ao sistema). Vamos aqui tratar apenas do seguinte problema:
determinar uma função u : Q → R, contínua e satisfazendo as condições


 u (x, t) = α2 uxx (x, t) + g(x, t) , (x, t) ∈ Q

 t
u(0, t) = u(l, t) = 0 , para todo t > 0 (11.12)



 u(x, 0) = f(x) , 0≤x≤l

Recordemos que se g(x, t) ≡ 0 então u(x, t) é dada por


X
+∞
n2 π2 α2 t nπx
u(x, t) = bn e− l2 sen( )
n=1
l

Vamos usar um método chamado método de variação de parâmetros para


estudar (11.12): consiste em tentar uma solução com a forma
X
+∞
nπx
u(x, t) = bn (t) sen( )
n=1
l

e determinar as funções bn (t). Suponhamos que para cada t > 0 fixado,


possamos escrever
X
+∞
nπx
g(x, t) = gn (t) sen( )
n=1
l
com os coeficientes gn (t) dados por
Z
2 l nπx
gn (t) = g(x, t) sen( )dx
l 0 l
isto é, fixado t0 > 0 consideramos uma extensão ímpar e periódica de período
2l de g(x, t0 ) e escrevemos sua série de Fourier, supondo ainda que essa série
seja convergente para g(x, t0 ) de tal modo que todas as operações que faremos
na seqüência fiquem justificadas. Substituindo as expressões para u(x, t) e
g(x, t) na equação (11.12) e supondo que podemos derivar as séries termo a
termo, resulta
X
+∞
nπx X
+∞ 2 X
+∞
0 2π 2 nπx nπx
bn (t) sen( ) = − α 2 bn (t)n sen( )+ gn (t) sen( )
n=1
l n=1
l l n=1
l

ou seja, para cada n = 1, 2, 3, . . . teremos


n2 π2 α2
bn0 (t) = − bn (t) + gn (t) , para todo t > 0
l2
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Exercícios 125

como
X
+∞
nπx
u(x, 0) = f(x) = bn (0) sen( )
n=1
l
então Zl
2 nπx
bn (0) = f(x) sen( )dx
l 0 l
ou seja, bn (0) é, para cada n ∈ N, o coeficiente de Fourier da extensão ímpar e
periódica de período 2l de f. Assim, a solução u(x, t) será escrita na forma

X
+∞
nπx
u(x, t) = bn (t) sen( )
n=1
l

com os coeficientes bn (t) sendo, para cada n = 1, 2, 3, . . . a solução do pro-


blema
 Z

 n2 π2 α2 2 l nπx


0
bn (t) + bn (t) = gn (t) , t > 0 e com gn (t) = g(x, t) sen( )dx
 l 2 l 0 l



 b (0) = 2 Rl f(x) sen( nπx )dx

n
l 0 l
(11.13)
O problema (11.13) pode, por exemplo, ser resolvido usando a transfor-
mada de Laplace.

Exercícios
1. Considere o conjunto de dados em relação ao problema (11.1) e resolva
cada um dos casos.

1.1. α2 = 1, 71cm2 /s, l = 10cm, f(x) = sen(0, 1πx)

1.2. α2 = 1, 14cm2 /s, l = 20cm, f(x) = x(400 − x2 )

2. Com o mesmo conjunto de dados do problema anterior, estude o problema


(11.5).

3. Considere o conjunto de dados em relação ao problema (11.8) e resolva


cada um dos casos.

3.1. α2 = 0, 86cm2 /s, l = 10cm,f(x) ≡ 1, T1 = 0o C, T2 = 15o C.

3.2. α2 = 0, 011cm2 /s, l = 10cm,f(x) = x2 , T1 = 10o C, T2 = 25o C.

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Aula 12

A equação da corda vibrante


O modelo que vamos estudar é o de pequenas vibrações transversais de
uma corda perfeitamente flexível. Uma dedução deste modelo pode ser vista
em [Boyce and DiPrima, 1998, p.434]. Consideremos a figura

6
u

Configuração num instante t ~Fb 

u(x,t) .......... .. .. θb
.. ..
.. ..
.. ..
.. .. -
..
a x b x
θa
~Fa

• u(x, t) representa a posição do ponto x da corda no instante t;

• ρ(x, t) representa a densidade da corda; como as vibrações são transver-


sais (isto é, perpendiculares à direção x) segue-se que podemos conside-
rar que ρ = ρ(x);

A quantidade de movimento da porção da corda entre a e b é dada por


Zb
M(t) = ρ(x)ut (x, t)dx
a

as tensões: F~a e F~b com |F~a | = f(a, t) e |F~b | = f(b, t), onde F~a e F~b são forças que o
restante da corda exerce sobre o trecho entre a e b. Como não há quantidade
de movimento na direção x, teremos

f(a, t) cos(θa ) = f(b, t) cos(θb ) .


Exemplos de acordo com o tipo de forças externas 127

Logo, a componente horizontal da tensão só depende de t, vamos denotá-la


por τ(t). A força total na direção vertical é dada por

|F~b | sen(θb ) − |F~a | sen(θa ) = |F~b | cos(θb ) tg(θb ) − |F~a | cos(θa ) tg(θa ) =

= τ(t) tg(θb ) − τ(t) tg(θa ) .

Ou seja,
x=b Z b


τ(t) tg θb − τ(t) tg θa = τ(t)ux (x, t) = τ(t)uxx (x, t)dx
x=a a

Além das forças de tensão, o sistema pode estar sujeito à ação de forças
externas. Se h1 (x, t, u, ut ) denotar a densidade linear dessas forças ao longo
da corda, usando a Lei de Newton, teremos:
Z Zb Zb
d b
ρ(x)ut (x, t)dx = τ(t)uxx (x, t)dx + h1 (x, t, u, ut )dx
dt a a a

ou ainda, Zb
{ρ(x)utt (x, t) − τ(t)uxx (x, t) − h1 (x, t, u, ut )} dx = 0
a

Como a e b são arbitrários obtemos a equação da corda vibrante

ρ(x)utt (x, t) = τ(t)uxx (x, t) + h1 (x, t, u, ut )

ou seja,
utt (x, t) = c2 uxx (x, t) + h1 (x, t, u, ut ) (12.1)
τ(t) ML M L
com c2 (x, t) = . Como [τ] = 2 e [ρ] = resulta que [c] = , isto é, c tem
ρ(x) T L T
dimensão de velocidade. Vamos nos limitar ao caso em que c é constante.

Exemplos de acordo com o tipo de forças externas


(1) Vibrações livres: forças externas nulas. Neste caso a equação (12.1)
toma a forma
utt (x, t) = c2 uxx (x, t)

(2) Vibrações forçadas: suponhamos que h = h(x, t), neste caso teremos

utt (x, t) = c2 uxx (x, t) + h(x, t)

(3) Vibrações amortecidas: existência de uma força externa de resistência


ao movimento e dependendo da velocidade. Caso mais simples: h(x, t, u, ut ) =
−but (x, t) com b > 0.

utt (x, t) = c2 uxx (x, t) − but (x, t)

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Exemplos de acordo com o tipo de forças externas 128

(4) Vibrações sob ação de uma força restauradora: existência de um dis-


positivo que produz uma força que tende a trazer a corda para a posição de
equilíbrio (u(x, t) = 0). Caso mais simples: h(x, t, u, ut ) = −au(x, t) com a > 0.

utt (x, t) = c2 uxx (x, t) − au(x, t)

Exemplos de problemas de contorno

(1) Corda finita com extremidades fixadas. Consideremos uma corda com
comprimento l. A condição para que as extremidades x = 0 e x = l estejam
fixas é
u(0, t) = u(l, t) = 0 , para todo t ≥ 0

além disso vamos considerar conhecida a configuração inicial da corda :

u(x, 0) = f(x) , para todo 0 ≤ x ≤ l

e também a velocidade inicial da corda:

ut (x, 0) = g(x) , para todo 0 ≤ x ≤ l .

O problema matemático consiste então em determinar uma função u(x, t)


definida para 0 ≤ x ≤ l e t ≥ 0 satisfazendo as condições:


 u (x, t) = c2 uxx (x, t) ,

 tt
0<x<l , t>0
u(0, t) = u(l, t) = 0 , t>0 (12.2)



 u(x, 0) = f(x) e ut (x, 0) = g(x) , 0 < x < l

(2) Corda finita com extremidades livres. Neste caso teremos as condições

ux (0, t) = ux (l, t) = 0 , t > 0

assim o problema matemático consiste em determinar uma função u(x, t) de-


finida para 0 ≤ x ≤ l e t ≥ 0 satisfazendo as condições:


 u (x, t) = c2 uxx (x, t) ,

 tt
0<x<l , t>0
ux (0, t) = ux (l, t) = 0 , t>0 (12.3)



 u(x, 0) = f(x) e ut (x, 0) = g(x) , 0 < x < l

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Resolução por séries de Fourier 129

Resolução por séries de Fourier


Usaremos séries de Fourier para resolver o problema (12.2). O método de
resolução mais uma vez será o método de separação de variáveis já utilizado
na equação do calor. Vamos procurar uma função na forma u(x, t) = X(x)T (t)
de modo a verificar as duas primeiras condições

 u (x, t) = c2 u (x, t)
tt xx
 u(0, t) = 0 u(l, t) = 0

teremos, após a substituição,

X(x)T 00 (t) = c2 X 00 (x)T (t)

daí,
T 00 (t) X 00 (x)
= = σ = constante
c2 T (t) X(x)
portanto obtemos as duas equações

 X 00 (x) − σX(x) = 0
 T 00 (t) − σc2 T (t) = 0

usando as hipóteses de u(0, t) = 0 e u(l, t) = 0 obtemos as duas condições

X(0) = 0 = X(l)

Assim obtemos o seguinte problema: determinar soluções não nulas do


problema de contorno

 X 00 (x) − σX(x) = 0
(12.4)
 X(0) = 0 , X(l) = 0

O problema (12.4) já foi estudado e obtivemos como solução que para cada
n = 1, 2, 3, . . . devemos tomar

n2 π2
σn = −
l2

e
nπx
Xn (x) = sen( )
l
assim, para cada n = 1, 2, 3, . . . devemos resolver

n2 π2 c2
Tn00 (t) + Tn (t) = 0
l2

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Harmônicos, freqüência e amplitude 130

usando, por exemplo a transformada de Laplace, teremos


nπct nπct
Tn (t) = an cos( ) + bn sen( )
l l
logo, as funções
nπx nπct nπx nπct
un (x, t) = an sen( ) cos( ) + bn sen( ) sen( )
l l l l
são, para cada n = 1, 2, 3, . . . soluções da equação da onda (12.2) e satisfa-
zem as condições de fronteira. Usando o princípio da superposição, devemos
determinar constantes an e bn de modo que
+∞
X
nπx nπct nπx nπct
u(x, t) = an sen( ) cos( ) + bn sen( ) sen( )
n=1
l l l l

satisfaça também as condições u(x, 0) = f(x) e ut (x, 0) = g(x). Devemos então


ter
X
+∞
nπx
f(x) = an sen( )
n=1
l
isto é, an é o coeficiente de Fourier da extensão periódica de período 2l e ímpar
de f: Z
2 l nπx
an = f(x) sen( )dx
l 0 l
como, derivando formalmente a série,
+∞
X
nπcan nπx nπct nπcbn nπx nπxt
ut (x, t) = − sen( ) sen( )+ sen( ) cos( )
n=1
l l l l l l

devemos ter
X
+∞
nπcbn nπx
g(x) = sen( )
n=1
l l
daí, pelo mesmo argumento usado com f teremos
Z
nπcbn 2 l nπx
= g(x) sen( )dx
l l 0 l
logo
Zl
2 nπx
bn = g(x) sen( )dx
nπc 0 l

Harmônicos, freqüência e amplitude


Vimos acima que ao usarmos o método de separação de variáveis para
estudar o problema


 utt (x, t) = c2 uxx (x, t) ,


0<x<l , t>0
u(0, t) = u(l, t) = 0 , t>0 (12.5)



 u(x, 0) = f(x) e ut (x, 0) = g(x) , 0 < x < l

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Vibrações forçadas e ressonância 131

obtivemos funções
 
nπct nπct nπx
un (x, t) = an cos( ) + bn sen( ) sen( )
l l l
p
pondo An = a2n + b2n e tomando θn de modo que

bn an
cos θn = p , e sen θn = p
a2n + b2n a2n + b2n

então podemos escrever


 
nπct nπx
un (x, t) = An sen + θn sen( )
l l

A função un é chamada onda estacionária (ou n-ésimo harmônico) ou ainda


nπx
n-ésimo modo (natural) de vibração. Para cada x ∈ [0, l] tal que = kπ, isto
l
kl
é, xk = , k = 0, 1, 2, . . . , n teremos
n

un (xk , t) = 0 , para todo t ≥ 0

esses pontos são chamados nós do modo de vibração. Observe que a distância
l 2l
entre dois nós consecutivos é . O comprimento de onda é dado por que é
n n
nπx
o período fundamental de sen( ). Observamos agora que o movimento de
l
nπx
cada ponto x da corda obedece uma lei senoidal de amplitude An sen( )e
l
2l
período Tn = . De fato, temos
nc
   
nπc 2l nπct nπct
sen (t + ) + θn = sen( + θn + 2π) = sen + θn
l nc l l
nc
e freqüência ωn = . Assim, a freqüência de vibração de todos os pontos
2l
nc
da corda é a mesma. A freqüência ωn = é chamada freqüência natural e
2l
nπx
An sen( ) é a amplitude do n-ésimo modo de vibração.
l

Vibrações forçadas e ressonância


Consideremos agora o problema


 utt (x, t) = c2 uxx (x, t) + g(x, t) ,

 0 < x < l ,t > 0


 u(0, t) = u(l, t) = 0 , t>0
(12.6)
 u(x, 0) = f(x) ,
 0<x<l




 ut (x, 0) = g(x) , 0<x<l

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Vibrações forçadas e ressonância 132

Como no problema da condução do calor, suponhamos que para cada t


fixado tenhamos
X
+∞
nπx
g(x, t) = gn (t) sen( )
n=1
l
vamos tentar uma solução da forma

X
+∞
nπx
u(x, t) = cn (t) sen( )
n=1
l

substituindo teremos
X
+∞
nπx X
+∞ 2 2
n π nπx X
+∞
nπx
cn00 (t) sen( ) = −c 2
cn (t) sen( )+ gn (t) sen( )
n=1
l n=1
l2 l n=1
l

daí resulta
n2 π2 c2
cn00 (t) + cn (t) = gn (t)
l2
ou ainda,

cn00 (t) + (2πωn )2 cn (t) = gn (t) (12.7)

como
X
+∞
nπx
u(x, 0) = cn (0) sen( ) = f(x)
n=1
l
e
X
+∞
nπx
ut (x, 0) = cn0 (0) sen( )
n=1
l
devemos ter

 2 Rl

 cn (0) = f(x) sen( nπx )dx
 l 0 l
(12.8)



 c 0 (0) = 2
Rl
n l 0
g(x) sen( nπx
l
)dx
Temos então que determinar cn (t) satisfazendo a equação (12.7) e as con-
dições (12.8). Usando a transformada de Laplace teremos
  
s2 L cn − scn (0) − cn0 (0) + (2πωn )2 L cn = L gn

daí,
 
(s2 + (2πωn )2 )L cn = cn0 (0) + cn (0)s + L gn

portanto

 cn0 (0) s L gn
L cn = + cn (0) 2 +
s2 + (2πωn )2 s + (2πωn )2 s2 + (2πωn )2

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Vibrações forçadas e ressonância 133

logo
Zt
c 0 (0) sen(2πωn u)
cn (t) = n sen(2πωn t) + cn (0) cos(2πωn t) + gn (t − u)du
2πωn 0 2πωn

assim fica determinada a função u(x, t).

Exemplo 12.1. Suponhamos que g(x, t) = A sen(2πωt), isto é, que a corda vibre
sob ação de uma força periódica de freqüência ω. Estude o comportamento do
sistema para diferentes valores de ω.

Inicialmente vamos calcular os coeficientes gn (t):


Z " l #
2 l nπx 2A l nπx
gn (t) = A sen(2πωt) sen( )dx = sen(2πωt) − cos( )
l 0 l l nπ l 0

daí,
2A
gn (t) = sen(2πωt)(1 − cos(nπ))

devemos resolver então o problema

2A(1 − cos(nπ))
cn00 (t) + (2πω)2 cn (t) = sen(2πωt)

conhecendo os valores de cn (0) e cn0 (0). Vamos recordar a solução do seguinte


problema 
 y 00 (t) + k2 y(t) = B sen(λt)
(12.9)
 y(0) = y0 , y 0 (0) = y1
Usando transformada de Laplace resulta
  Bλ
s2 L y − sy(0) − y 0 (0) + k2 L y =
s2 + λ2

daí,
 Bλ
(s2 + k2 )L y = + y0 s + y1
s2 + λ2
ou seja,
 Bλ y0 s y1
L y = + + 2 .
(s2 + λ2 )(s2 + k2 ) s2+k 2 s + k2
Vamos estudar separadamente dois casos.
Caso 1: k 6= λ. Usando frações parciais teremos

1 Es + F Cs + D
= + 2
(s2 + λ2 )(s2 + k2 ) 2
s +λ 2 s + k2

daí,
1 1 1 1
2 2 2 2
= 2 − 2
(s + λ )(s + k ) k − λ2 2
s +λ 2 s + k2

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Vibrações forçadas e ressonância 134

logo,
 B λ λ y0 s y1
L y = − 2 + + 2
k − λ2
2 2
s +λ 2 s + k2 s2+k 2 s + k2
portanto,

y1 λB 1 1
y(t) = y0 cos(kt) + sen(kt) + 2 sen(kt) − sen(λt)
k λ − k2 k λ

Caso 2: k = λ. Neste caso teremos


 Bλ sy0 y1
L y = + 2 + 2
(s2 2
+λ ) 2 s +λ 2 s + λ2

e daí,
B y1
y(t) = 2
{sen(λt) − λt cos(λt)} + y0 cos(λt) + sen(λt)
2λ λ
voltando para os coeficientes cn (t) teremos
Caso 1: se 2πω 6= 2πωn , para todo n ∈ N, então

c 0 (0)
cn (t) = cn (0) cos(2πωn t) + n sen(2πωn t)+
2πωn

4Aω(1 − cos(nπ)) 1 1
+ 2 2 2
sen(2πωn t)− sen(2πωt)
n[4π (ω − ωn )] 2πωn 2πω

para todo n ∈ N.
Caso 2: existe n0 ∈ N tal que 2πω = 2πωn0 . Neste caso teremos

A(1 − cos(nπ))
cn0 (t) = {sen(2πωt) − 2πωt cos(2πωt)} +
4nπ3 ω2
cn0 (0)
+cn0 (0) cos(2πωt) + 0 sen(2πωt)
2πω

Observe que o caso 2 pode ser obtido tomando-se no caso 1 lim cn (t).
ω→ωn
Assim, se a freqüência ω da força externa for igual a uma das freqüências
próprias da corda livre, isto é ω = ωn , para algum n, aparecerá na expressão
de u(x, t) um termo que não é limitado quando t → ∞. Assim, as amplitudes
de u(x, t) crescem ilimitadamente. Neste caso dizemos que há ressonância.
Na prática os efeitos da ressonância em vibrações mecânicas são reduzidos
colocando-se um amortecimento (ou viscosidade) na equação, por exemplo,
acrescentando um termo da forma −aut , (x, t) no segundo membro da equação
(12.6).

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Exercícios 135

Exercícios
1. Resolva o seguinte problema de contorno para a equação da corda
 2

 ∂ u ∂2 u

 = 4 , 0<x<π, t>0
 ∂t2 ∂x2
 u(0, t) = 0 , u(π, t) = 0 , t≥0



 u(x, 0) = 1
sen x − sen(3x) , ut (x, 0) = 0 , 0 ≤ x ≤ π
10

2. (corda dedilhada) Sejam l > 0 e b > 0. Considere a função



 bx , se 0 ≤ x ≤ l/2
f(x) =
 b(l − x) , se l/2 ≤ x ≤ l

esboce o gráfico de f e resolva o seguinte problema de contorno


 2
 ∂ u ∂2 u

 = , 0<x<l, t>0
 ∂t2 ∂x2
 u(0, t) = 0 , u(l, t) = 0 , t≥0



u(x, 0) = f(x) , ut (x, 0) = 0 , 0 ≤ x ≤ l

3. Para uma corda de comprimento l que vibra no ar com resistência propor-


cional à velocidade, o problema de contorno é
 2 2


∂ u 2∂ u ∂u

 ∂t2 = c 2
− 2h , 0<x<l, t>0
∂x ∂t
 u(0, t) = 0 , u(l, t) = 0 , t≥0



u(x, 0) = f(x) , ut (x, 0) = 0 , 0 ≤ x ≤ l

Resolva esse problema usando o método de separação de variáveis e mostre


que a solução tem a forma

X
+∞
nπx
−ht
u(x, t) = e cn cos(ωn t − θn ) sen( )
n=1
l

compare este problema com o problema sem amortecimento. O que você


pode concluir?

4. Resolva o seguinte problema de contorno para a equação da corda


 2
 ∂ u ∂2 u

 = 4 + 2 sen(2πt) , 0 < x < π , t>0
 ∂t2 ∂x2
 u(0, t) = 0 , u(π, t) = 0 , t≥0



u(x, 0) = 0 , ut (x, 0) = 0 , 0 ≤ x ≤ π

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Aula 13

Nesta Aula, continuaremos estudando o problema da corda vibrante porém


consideramos um modelo no qual a corda pode ser considerada como tendo
comprimento “infinito".

Corda infinita
O problema consiste em determinar uma função u(x, t), definida no semi-
plano −∞ < x < +∞, t ≥ 0, e satisfazendo as seguintes condições


 u (x, t) = c2 uxx (x, t) , −∞ < x < +∞ , t ≥ 0

 tt
u(x, 0) = f(x) , −∞ < x < +∞ . (13.1)



 ut (x, 0) = g(x) , −∞ < x < +∞

Esse problema é conhecido por problema de valor inicial, ou ainda, problema


de Cauchy para a equação da onda unidimensional.

Solução geral do problema de Cauchy

Seja (ξ, η) um novo sistema de coordenadas definido por



 ξ = x + ct
.
 η = x − ct

Definimos uma nova função v por

v(ξ, η) = v(x + ct, x − ct) = u(x, t) .

Teremos, pela regra da cadeia,

∂ξ ∂η
ut (x, t) = vξ + vη = cvξ − cvη
∂t ∂t

daí,
utt (x, t) = c {vξξ c − cvξη − cvηξ + cvηη }
Corda infinita 137

portanto
utt = c2 (vξξ − 2vξη + vηη ) .

Também,
∂ξ ∂η
ux = vξ + vη = vξ + vη
∂x ∂x
daí,
uxx = vξξ + vξη + vηξ + vηη

portanto
uxx = vξξ + 2vξη + vηη .

Como
utt = c2 uxx

teremos
c2 vξξ − 2c2 vξη + c2 vηη = c2 vξξ + 2c2 vξη + c2 vηη .

Logo devemos ter


vξη = 0

isto é,  
∂ ∂v
=0
∂ξ ∂η
portanto, integrando em relação a ξ, resulta
∂v
= G1 (η) .
∂η
Integrando agora em relação a η teremos
Z
v(ξ, η) = G1 (η) dη +F(ξ) .
| {z }
G(η)

Logo
v(ξ, η) = F(ξ) + G(η)

ou seja,
u(x, t) = F(x + ct) + G(x − ct) .

Conclusão: qualquer função que satisfaça a equação

utt (x, t) = c2 uxx (x, t)

tem a forma
u(x, t) = F(x + ct) + G(x − ct) . (13.2)

Ou seja, u(x, t) é a superposição de duas ondas:

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Corda infinita 138

• uma onda regressiva F(x + ct) que caminha no sentido negativo do eixo x
com velocidade constante c;

• uma onda progressiva, G(x − ct).

A Fórmula de D’Alembert

Para resolver o problema de Cauchy (13.1), devemos encontrar u(x, t) veri-


ficando, além da equação de onda, as condições seguintes:

u(x, 0) = f(x) e ut (x, 0) = g(x) .

Ou seja, usando a representação geral (13.2),



 F(x) + G(x) = f(x)
. (13.3)
 cF 0 (x) − cG 0 (x) = g(x)

Derivando a primeira equação em (13.3) em relação a x, e multiplicando por c,


resulta 
 cF 0 (x) + cG 0 (x) = cf 0 (x)
.
 cF 0 (x) − cG 0 (x) = cg(x)

Daí, somando as duas equações,

2cF 0 (x) = cf 0 (x) + g(x) ,

integrando, podemos escrever


Zx
1 1
F(x) = f(x) + g(s)ds + K
2 2c 0

e, usando este resultado na segunda equação, obtemos

c 0 1
f (x) + g(x) − cG 0 (x) = g(x) .
2 2

Daí,
c 0 1
cG 0 (x) = f (x) − g(x) ,
2 2
portanto Zx
1 1
G(x) = f(x) − g(s)ds − K .
2 2c 0

Reunindo os dois resultados, podemos escrever


Z Z
1 1 x+ct 1 x−ct
u(x, t) = [f(x + ct) + f(x − ct)] + g(s)ds − g(s)ds ,
2 2c 0 2c 0

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Corda infinita 139

portanto, a solução do problema (13.1) é dada por


Z x+ct
1 1
u(x, t) = [f(x + ct) + f(x − ct)] + g(s)ds . (13.4)
2 2c x−ct

A expressão (13.4), para a solução do problema (13.1), é chamada fórmula


de D’Alembert.
Usando a fórmula de D’Alembert, podemos também estudar o problema da
corda finita. Vamos considerar o problema


 utt (x, t) = c2 uxx (x, t) , 0 < x < l ,

 t>0


 u(x, 0) = f(x) , 0≤x≤l
(13.5)

 ut (x, 0) = 0 , 0≤x<l




 u(0, t) = 0 , u(l, t) = 0 , t > 0 .

Para que haja compatibilidade entre os dados, devemos ter

f(0) = f(l) = 0 .

Para que possamos usar a fórmula de D’Alembert, devemos estender o dado


f(x) à reta toda. Seja F : R → R tal que

F(x) = f(x) para 0 ≤ x ≤ l .

Então, o problema com F no lugar de f, tem por solução

1
u(x, t) = [F(x + ct) + F(x − ct)] , 0 ≤ x ≤ l , t ≥ 0 .
2

Como deve ser a extensão F? Observe que

1
0 = u(0, t) = [F(ct) + F(−ct)] ,
2

ou seja,
F(ct) = −F(−ct)

para todo t ≥ 0. Logo devemos ter

F(y) = −F(−y) , para todo y ∈ R .

Portanto a extensão F de f, é uma função ímpar. Além disso,

1
0 = u(l, t) = [F(l + ct) + F(l − ct)]
2

para todo t ≥ 0. Assim,


F(l + ct) = −F(l − ct) ,

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Corda infinita 140

e, fazendo y = ct,
F(l + y) = −F(l − y) = F(y − l) ,

para todo y ∈ R, pois F é ímpar. Em particular, teremos

F(y) = F((y + l) − l) = F(l + (y + l)) = F(y + 2l) .

Ou seja
F(y + 2l) = F(y) , para todo y ∈ R .

Logo, F é uma função periódica de período 2l. Assim, a solução do problema


(13.5), é obtida pela fórmula

1
u(x, t) = [F(x + ct) + F(x − ct)] , 0 ≤ x ≤ l , t ≥ 0 ,
2

com F : R → R sendo a extensão ímpar e periódica de período 2l da função f(x)


dada.
Consideremos agora o problema


 utt (x, t) = c2 uxx (x, t) , 0 < x < l , t > 0




 u(x, 0) = 0 , 0≤x≤l
(13.6)

 ut (x, 0) = g(x) , 0≤x<l




 u(0, t) = 0 , u(l, t) = 0 , t > 0 .

Usando o mesmo tipo de procedimento, seja G : R → R tal que

G(x) = g(x) , para 0 ≤ x ≤ l .

Então, o problema com G em lugar de g, tem por solução


Z
1 x+ct
u(x, t) = G(s) ds , para 0 ≤ x ≤ l , t ≥ 0 .
2c x−ct

Fazendo x = 0 resulta Z ct
G(s) ds = 0 .
−ct

Isto é, Z0 Z ct
G(s) ds + G(s) ds = 0 .
−ct 0

Logo,
Z ct Z0 Z −ct
G(s) ds = − G(s) ds = G(s)ds .
0 −ct 0

Derivando em relação a t, resulta

cG(ct) = −cG(−ct) .

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Um problema com extremidade livre 141

Ou seja,
G(y) = −G(−y) , para todo y ∈ R .

Portanto, G é uma extensão ímpar de g. Podemos também verificar que G é


periódica de período 2l. Finalmente, se tivermos um problema do tipo


 utt (x, t) = c2 uxx (x, t) , 0 < x < l , t > 0




 u(x, 0) = f(x) , 0≤x≤l
(13.7)

 ut (x, 0) = g(x) , 0≤x<l




 u(0, t) = 0 , u(l, t) = 0 , t > 0 ,

procedemos do seguinte modo: sejam v1 (x, t) e v2 (x, t), respectivamente, a


solução do problema (13.5) e (13.6). Então,

u(x, t) = v1 (x, t) + v2 (x, t)

é a solução do problema (13.7), como se pode verificar facilmente por substi-


tuição desta expressão em (13.7).

Um problema com extremidade livre


Vamos considerar um exemplo de uma corda finita com uma extremidade
fixa e outra livre.

Exemplo 13.1. Use o método de Fourier para resolver o problema






 utt (x, t) = 2 uxx (x, t) , 0 < x < π , t > 0


 u(x, 0) = 0 , 0≤x≤π
(13.8)

 ut (x, 0) = x(π − x) , 0≤x<π




 u(0, t) = 0 , ux (π, t) = 0 , t > 0 .

Separação de variáveis: supondo u(x, t) = X(x)T (t), teremos

X(x)T 00 (t) = 2X 00 (x)T (t) .

Daí,
T 00 (t) X 00 (x)
= = σ = Cte .
2T (t) X(x)
Assim, 
 T 00 (t) − 2σT (t) = 0
 X 00 (x) − σX(x) = 0 .

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Um problema com extremidade livre 142

Uso das condições de contorno: u(0, t) = X(0)T (t) = 0. Logo, devemos ter
X(0) = 0. Por outro lado, ux (π, t) = X 0 (π)T (t) = 0. Logo devemos ter X 0 (π) = 0.
Devemos agora resolver o problema: encontrar valores σ ∈ R e funções X(x) 6≡ 0
verificando as condições

 X 00 (x) − σX(x) = 0
(13.9)
 X(0) = 0 , X 0 (π) = 0

Vamos inicialmente mostrar que necessariamente σ < 0. Multiplicando a


equação em (13.9) por X(x), resulta

X 00 (x)X(x) = σX2 (x) .

E integrando em 0 < x < π obtemos,


Zπ Zπ
00
X(x)X (x) dx = σ X2 (x)dx .
0 0

Usando integração por partes, na primeira integral, teremos


Zπ Zπ
0 2
− (X ) (x)dx = σ X2 (x)dx .
0 0
Zπ Zπ
Como devemos ter X2 (x)dx > 0 e (X 0 )2 (x)dx ≥ 0, resulta que
0 0

σ ≤ 0.

Agora, se σ pudesse ser igual a zero, então teríamos



(X 0 )2 (x) dx = 0 .
0

Daí X 0 (x) ≡ 0. Ou seja, X(x) = Cte. E como X(0) = 0, seguir-se-ia que X(x) ≡ 0,
e isto não pode ocorrer. Portanto σ < 0. Tomamos então σ da forma

σ = −λ2 , com λ > 0 .

Estudaremos o problema

 X 00 (x) + λ2 X(x) = 0
(13.10)
 X(0) = 0 , X 0 (π) = 0 .

Usando a transformada de Laplace para resolver (13.10), resulta


 
s2 L X − X 0 (0) + λ2 L X = 0 .

Daí

(s2 + λ2 )L X = X 0 (0) .

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Um problema com extremidade livre 143

Ou seja
 X 0 (0)
L X = 2 .
s + λ2
Portanto,
X 0 (0)
X(x) = sen(λx) .
λ
Como X 0 (π) = 0,devemos ter
cos(λπ) = 0 .

Ou seja,
(2n − 1)
λπ = π,
2
para cada n = 1, 2, 3, . . .. Logo,

2n − 1
λn = n = 1, 2, 3, . . . ,
2

e as funções correspondentes são

2n − 1
Xn (x) = sen( x) , n = 1, 2, 3, . . . .
2

Temos agora que resolver o problema

(2n − 1)2
Tn00 (t) + Tn (t) = 0 .
2

Suas soluções são da forma

(2n − 1) (2n − 1)
Tn (t) = an cos( √ t) + bn sen( √ t) .
2 2
Assim obtemos os n-ésimos harmônicos
 
(2n − 1) (2n − 1) (2n − 1)
un (x, t) = an cos( √ t) + bn sen( √ t) sen( x) ,
2 2 2

e tentaremos uma solução da forma

X
+∞
u(x, t) = un (x, t) .
n=1

Uso das condições iniciais: devemos determinar os coeficientes an e bn de


modo que

X
+∞ 
(2n − 1) (2n − 1)

(2n − 1)
u(x, t) = an cos( √ t) + bn sen( √ t) sen( x) ,
n=1
2 2 2

verifique as condições iniciais dadas

u(x, 0) = 0 , e ut (x, 0) = x(π − x) , para 0 ≤ x ≤ π .

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Um problema com extremidade livre 144

Devemos ter
X
+∞
(2n − 1)
0= an sen( x) .
n=1
2
E
X
+∞
(2n − 1) (2n − 1)
√ bn sen( x) = x(π − x) ,
n=1
2 2
em algum sentido. É claro que podemos tomar os coeficientes an todos iguais
a zero, mas e quanto aos coeficientes bn ? Vamos então, dar uma parada e
estudar uma forma de representação em série trigonométrica que nos permita
resolver o problema da determinação dos coeficientes bn .

Uma série de Fourier especial

Seja f(x) uma função definida no intervalo 0 ≤ x ≤ l. Queremos escrever


uma série em senos que represente f mas que não contenha todos os múltiplos
da freqüência fundamental.
Tomemos uma extensão qualquer de f(x) em l < x < 2l e em seguida es-
tendemos a nova função à reta toda como uma função periódica de período 4l.
Sabemos que se essa última extensão for ímpar obteremos uma série em senos
nπx
com termos do tipo sen( ) e se a extensão for par uma série com termos do
2l
nπx
tipo cos( ), isto é
2l
X
+∞ Z
nπx 1 2l nπx
f(x) = bn sen( ) , com bn = f(x) sen( )dx .
n=1
2l l 0 2l

Ou Z 2l
X
+∞
nπx 1 nπx
f(x) = an cos( ) , com an = f(x) cos( )dx .
n=1
2l l 0 2l
Vamos agora experimentar dois tipos de expansões.
Caso 1: estendemos inicialmente f, no intervalo l < x < 2l, de modo a ser
simétrica em relação à reta x = l, isto é, de modo que

f(2l − x) = f(x) , para 0 ≤ x < l .

Em seguida, estendemos a nova função como uma função ímpar e periódica de


período 4l. Vamos ver como fica sua série de Fourier. Denotemos por f̃ essa
última extensão,


 se 0 ≤ x ≤ l


f(x)
f̃(x) = f(2l − x) se l < x < 2l (13.11)



 f̃(x + 4l) = f̃(x) para todo x ∈ R .

MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Um problema com extremidade livre 145

Então, sendo f̃ uma função ímpar e periódica de período 4l, sua série de Fou-
rier tem a forma
X
+∞ Z 2l
nπx 1 nπx
f̃(x) = an sen( ) , com an = f̃(x) sen( )dx .
n=1
2l l 0 2l

Ora,
Z 2l Zl Z 2l
nπx nπx nπx
f̃(x) sen( )dx = f(x) sen( )dx + f(2l − x) sen( )dx .
0 2l 0 2l l 2l

Na segunda integral, façamos a substituição u = 2l − x,


Z 2l Z0
nπx nπ(2l − u)
f(2l − x) sen( )dx = − f(u) sen( )du =
l 2l l 2l
Zl Zl
nπu n+1 nπu
= f(u) sen(nπ − )du = (−1) f(u) sen( )du .
0 2l 0 2l

Daí, Z 2l Zl
nπx n+1 nπx
f̃(x) sen( )dx = [1 + (−1) ] f(x) sen( )dx .
0 2l 0 2l
Ou seja,

Z 2l 
 0 se n é par
nπx Zl
f̃(x) sen( )dx = nπx
0 2l 
 2 f(x) sen( )dx se n é ímpar .
0 2l

Portanto, Z
2 l (2n − 1)πx
b2n = 0 , e b2n−1 = f(x) sen( )dx .
l 0 2l
Daí, f(x) tem série de Fourier da forma

X
+∞
(2n − 1)πx
cn sen( ),
n=1
2l

com Z
2 l (2n − 1)πx
cn = f(x) sen( )dx .
l 0 2l
Antes de continuarmos com o Caso 2, vamos concluir o exemplo que estáva-
mos estudando. Vimos que para determinarmos os coeficientes bn , deveríamos
poder escrever a função f(x) = x(π − x), 0 ≤ x ≤ π, como uma série da forma

X
+∞
(2n − 1) (2n − 1)
√ bn sen( x) .
n=1
2 2

Logo, pelo que vimos acima, e que justifica também a escolha de an = 0,


devemos ter Zπ
(2n − 1) 2 (2n − 1)x
√ bn = x(π − x) sen( )dx .
2 π 0 2

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Um problema com extremidade livre 146

Ou seja,
√ Zπ
2 2 (2n − 1)x
bn = x(π − x) sen( )dx , n = 1, 2, 3, . . . .
(2n − 1)π 0 2

Com esses valores, para bn , a solução é dada por

X
+∞
(2n − 1)t (2n − 1)x
u(x, t) = bn sen( √ ) sen( ).
n=1
2 2

Caso 2: definimos inicialmente f, no intervalo l < x < 2l, de modo a ser


simétrica em relação ao ponto (0, l), isto é, de modo que

f(2l − x) = −f(x) , para 0 ≤ x < l .

Em seguida, estendemos a nova função como uma função par e periódica de


período 4l. Vamos ver como ficará sua série de Fourier. Denotemos por f̃ essa
última extensão,


 se 0 ≤ x ≤ l


f(x)
f̃(x) = −f(2l − x) se l < x < 2l (13.12)



 f̃(x + 4l) = f̃(x) para todo x ∈ R .

Então, sendo f̃ uma função par e periódica de período 4l, sua série de Fourier
tem a forma
Z 2l
a0 X
+∞
nπx 1 nπx
+ an cos( ) , com an = f̃(x) cos( )dx .
2 n=1
2l l 0 2l

Ora,
Z 2l Zl Z 2l
nπx nπx nπx
f̃(x) cos( )dx = f(x) cos( )dx − f(2l − x) cos( )dx .
0 2l 0 2l l 2l

Na segunda integral façamos a substituição u = 2l − x:


Z 2l Z0
nπx nπ(2l − u)
f(2l − x) cos( )dx = − f(u) cos( )du =
l 2l l 2l
Zl Zl
nπu n nπu
= f(u) cos(nπ − )du = (−1) f(u) cos( )du .
0 2l 0 2l

Daí, Z 2l Zl
nπx nπx
f̃(x) cos( )dx = [1 − (−1)n ] f(x) cos( )dx .
0 2l 0 2l
Ou seja,

Z 2l 
 0 se n é par
nπx Z
f̃(x) cos( )dx = l
nπx
0 2l 
 2 f(x) cos( )dx se n é ímpar .
0 2l

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Exercícios 147

Portanto,
Z
2 l (2n − 1)πx
a2n = 0 , n = 0, 1, 2, . . . e a2n−1 = f(x) cos( )dx , n = 1, 2, 3, . . . .
l 0 2l

Assim, f(x) tem série de Fourier da forma

X
+∞ Z
(2n − 1)πx 2 l (2n − 1)πx
cn cos( ) , com cn = f(x) cos( )dx .
n=1
2l l 0 2l

Exercícios
1. Encontre a função u(x, t) que descreve os deslocamentos de uma corda
vibrante, para o problema de valor inicial



 u (x, t) = uxx (x, t) , −∞ < x < +∞ , t > 0
 tt
u(x, 0) = f(x) , −∞ < x < +∞



 ut (x, 0) = 0 , −∞ < x < +∞

nos seguintes casos



 1 − |x| , se |x| < 1
1.1. f(x) =
 0, se |x| ≥ 0

 sen x , se |x| < π
1.2. f(x) =
 0, se |x| ≥ π

 cos x , se |x| < π/2
1.3. f(x) =
 0, se |x| ≥ π/2

2. Use o método de Fourier para estudar o problema




 utt (x, t) = c2 uxx (x, t) ,

 0<x<a, t>0


 u(x, 0) = f(x) , 0<x<a

 ut (x, 0) = 0 , 0<x<a




 u(0, t) = 0 , ux (a, t) = 0 , t > 0

3. Use o método de Fourier para estudar o problema




 2
 utt (x, t) = c uxx (x, t) ,
 0<x<a, t>0


 u(x, 0) = f(x) , 0<x<a

 ut (x, 0) = 0 , 0<x<a




 ux (0, t) = 0 , ux (a, t) = 0 , t > 0

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Aula 14

Nesta Aula vamos apenas iniciar um estudo sobre transformada de Fourier


de funções de uma variável dois bons textos para que você possa consultar e
estudar outras aplicações são [Hsu, 1973] e [O’Flynn and Moriarty, 1987].

Noções sobre a transformada de Fourier


Seja f(t) uma função real qualquer, f : R → R. Vamos considerar a seguinte
família de funções construídas a partir de f: para cada l ∈ N, definimos

 f(t) , se −l < t < l
fl (t) =
 fl (t + 2l) = fl (t) , para todo t ∈ R .

É claro que
lim fl (t) = f(t) , para cada t ∈ R .
l→∞

Consideremos, para cada l ∈ N fixado, os coeficientes de Fourier de fl .


Z
ˆ 1 l −inπt
fl (n) = fl (t)e l dt , n ∈ Z/, . (14.1)
2l −l
Tomemos
π
ω0 = .
l
Então a série de Fourier de fl pode ser escrita na forma
X
+∞  Z
1 l

−inω0 x
Sl (t) = fl (x)e dx einω0 t . (14.2)
n=−∞
2l −l

1 ω0
Como = , resulta que (14.2) pode ainda ser escrita como
2l 2π
X
+∞  Z
1 l

−inω0 x
Sl (t) = fl (x)e dx ω0 einω0 t .
n=−∞
2π −l

Vamos agora argumentar de modo não muito rigoroso, porém o suficiente


para o que temos em mente apresentar. Inicialmente suponhamos que

lim Sl (t) = f(t) .


l→+∞
Noções sobre a transformada de Fourier 149

Se
ωn := nω0

vemos que
∆ωn = (n + 1)ω0 − nωn = ω0 .

Assim, para l suficientemente grande, podemos escrever


X
+∞  Z
1 l

−iωn x
f(t) ≈ f(x)e dx ∆ωn eiωn t .
n=−∞
2π −l

Fazendo l → ∞, teremos ∆ωn = ω0 → 0. Porém, ωn → ω (ω variável


contínua) e, observando que a série acima é muito parecida com uma soma de
Riemann (aquela da integral definida), podemos esperar que
Z +∞  Z
1 +∞

−iωx
f(t) = f(x)e dx eiωt dω . (14.3)
−∞ 2π −∞

Se definirmos Z +∞
1
f̂(ω) := √ f(x)e−iωx dx , (14.4)
2π −∞
escreveremos (14.3) como
Z +∞
1
f(t) = √ f̂(ω)eiωt dω .
2π −∞
Observe a semelhança entre (14.4) e (14.1).

Definição 14.1. Seja f : R → R uma função contínua por partes e tal que
Z +∞
|f(t)|dt < +∞ . (14.5)
−∞

A Transformada de Fourier de f é a função

f̂ : R → C

definida por Z +∞
1
f̂(ω) := √ f(x)e−iωx dx . (14.6)
2π −∞
Outra notação usada é

F f = f̂ .

Sob certas condições, ver por exemplo [Iório, 1991], vale a fórmula de in-
versão de Fourier Z +∞
1
f(t) = √ f̂(ω)eiωt dt . (14.7)
2π −∞

Observe que, sendo f̂(ω), um número complexo, podemos escrever

f̂(ω) = |f̂(ω)|eiθ(ω) .

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Noções sobre a transformada de Fourier 150

A função ω → |f̂(ω)| é chamada espectro de amplitudes e a função ω → θ(ω)


é chamada espectro de fases.
Como, em muitas situações, teremos f : R → R, segue-se que o espectro de
amplitudes é uma função par. De fato,
Z +∞
1
f̂(−ω) = √ f(t)eiωt dt = f̂(ω) . (14.8)
2π −∞
Portanto,
|f̂(ω)| = |f̂(ω)| .

Usando (14.8) é fácil verificar a seguinte

Proposição 14.2. Seja f : R → R, tal que vale a fórmula de inversão (14.7).


Então

(a) =m(f̂) ≡ 0 se e somente se f for uma função par.

(b) <e(f̂) ≡ 0 se e somente se f for uma função ímpar.

Demonstração. (a) De fato, suponha que =m(f̂) ≡ 0. Usando (14.7) resulta


Z +∞
1
f(−t) = √ f̂(ω)e−iωt dω
2π −∞
agora, de (14.8) teremos f̂(ω) = f̂(−ω). Daí,
Z Z
1 +∞ i(−ω)t 1 +∞
f(−t) = √ f̂(−ω)e dω = √ f̂(ω)eiωt dω = f(t) .
2π −∞ 2π −∞
Usando a mesma idéia com (14.6), pode-se mostrar que se f é par então
=m(f̂) ≡ 0. A prova do item (b) é análoga.

Exemplo 14.3. Ache a transformada de Fourier da função







1 , se −l < t < l
f(t) =



 0 , se |t| ≥ l ,

e esboce o gráfico do espectro de amplitudes.

Temos
Z Z
1 +∞ −iωt 1 l −iωt
f̂(ω) = √ f(t)e dt = √ e dt =
2π −∞ 2π −l
−iωl iωl
1 e − eiωl 2 e − e−iωl
=√ = √ .
2π −iω ω 2π 2i
Assim r r
2 sen(ωl) 2 sen(lω)
f̂(ω) = =l .
π ω π lω

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Noções sobre a transformada de Fourier 151

Figura 14.2: Espectro de amplitudes


Figura 14.1: Gráfico de f̂(ω) |f̂(ω)|

Exemplo 14.4. Ache a transformada de Fourier de



 e−αt , se t > 0
f(t) =
 0, se t ≤ 0
com α > 0.

Usando a fórmula (14.6) teremos


Z +∞
1
f̂(ω) = √ f(t)e−iωt dt .
2π −∞

Daí, Z +∞ Z +∞
1 −αt −iωt 1
f̂(ω) = √ e e dt = √ e−(α+iω)t dt .
2π 0 2π 0

Logo
+∞
1 1
−(α+iω)t
f̂(ω) = √ − e .
2π α + iω
0
Como α > 0 segue-se que

1
f̂(ω) = √ .
2π(α + iω)

Observe que
1
|f̂(ω)| = √
√ .
2π α2 + ω2
1
Observação 14.5. A escolha do fator √ que aparece nas fórmulas (14.6) e

(14.7), não é de modo algum uma unanimidade entre os autores de textos
sobre transformada de Fourier, veja [Hsu, 1973] por exemplo. Escolhemos
essa forma para manter uma certa simetria entre as fórmulas.

Observação 14.6. Se em lugar da freqüência ω usarmos a freqüência

ω
ν= ,

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Algumas propriedades da transformada de Fourier 152

teremos a fórmula para a transformada


Z +∞
1
f̂(ν) = √ f(t)e−i2πνt dt
2π −∞
e a fórmula de inversão
√ Z +∞
f(t) = 2π f̂(ν)ei2πνt dν .
−∞

Observação 14.7. Lembrando que

e−iωt = cos(ωt) − i sen(ωt) ,

podemos escrever
1
f̂(ω) = √ {C(ω) − iS(ω)}

com Z +∞
C(ω) := f(t) cos(ωt)dt .
−∞
Essa expressão é chamada transformada cosseno e
Z +∞
S(ω) := f(t) sen(ωt)dt
−∞

é chamada transformada seno.

Algumas propriedades da transformada de Fourier


Compare as propriedades a seguir com aquelas desenvolvidas para a trans-
formada de Laplace.

Teorema 14.8 (Linearidade da transformada). Se f̂(ω) = F f(t) e ĝ(ω) =

F g(t) então

F af(t) + bg(t) = af̂(ω) + bĝ(ω) .

Teorema 14.9 (Propriedade de deslocamento no tempo). Se f̂(ω) = F f(t)
então

F f(t − t0 ) = f̂(ω)e−iωt0 .

Demonstração. De fato,
Z +∞ Z +∞
 1 1
F f(t − t0 ) = √ f(t − t0 )e −iωt
dt = √ f(u)e−iω(u+t0 ) du =
2π 2π

−∞
Z +∞ −∞
1
= e−iωt0 √ f(u)e−iωu du .
2π −∞
Logo,

F f(t − t0 ) = f̂(ω)e−iωt0 .

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Algumas propriedades da transformada de Fourier 153

Teorema 14.10 (Propriedade de mudança de escala). Seja a 6= 0 e f̂(ω) =



F f(t) então
 1 ω
F f(at) = f̂( ) .
|a| a
Demonstração. Suponhamos inicialmente que a > 0. Então

Z +∞ Z +∞
 1 1 u du
F f(at) = √ f(at)e −iωt
dt = √ f(u)e−iω a .
2π −∞ 2π −∞ a
Daí, Z +∞
 1 1 1 ω 1 ω
F f(at) = √ f(u)e −i(ω/a)u
du = f̂( ) = f̂( ) .
a 2π −∞ a a |a| a
Se a < 0 teremos
Z +∞ Z +∞
 1 −iω u du 1 1
F f(at) = √ f(u)e a =− √ −i(ω/a)u
f(u)e du .
2π −∞ a a 2π −∞

Isto é
 1 ω 1 ω
F f(at) = f̂( ) = f̂( ) .
−a a |a| a

Observação 14.11. A maioria dessas propriedades são válidas para funções


contínuas por partes que verificam a seguinte condição: existe m ∈ N tal que

Z +∞
|tk/2 f(t)|2 dt < +∞ , k ∈ {0, 1, 2, . . . , m} . (14.9)
−∞
Tais funções, necessariamente, verificam também

lim tk f(t) = 0 , k = 0, 1, . . . , m .
|t|→∞

Teorema 14.12 (Transformada da derivada). Seja f(t) uma função tal que f e

f 0 verificam (14.9), então, se f̂(ω) = F f(t) ,

F f 0 (t) = iωf̂(ω) .

Demonstração. De fato,
Z Z +∞
 0
+∞
1 +∞ 0 1
F f (t) = √ −iωt

−iωt −iωt
f (t)e dt = √ f(t)e + iω f(t)e dt .
2π −∞ 2π −∞ −∞

Daí, Z +∞
 1
F f (t) = iω
0
√ f(t)e −iωt
dt = iωf̂(ω) .
2π −∞

Teorema 14.13 (Multiplicação por t). Seja f(t) verificando (14.9). Então
 d
F tf(t) = i f̂(ω) .

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Convolução 154

Demonstração. De fato,
Z +∞
 1
F tf(t) = √ tf(t)e−iωt dt .
2π −∞

Agora,
d −iωt
(e ) = −ite−iωt .

Assim, Z +∞
 1 d −iωt
F tf(t) = √ if(t) (e )dt .
2π −∞ dω
Ou seja,
Z +∞
 d 1 df̂
F tf(t) = i √ f(t)e −iωt
dt = i (ω) .
dω 2π −∞ dω

Convolução
Sejam f(t) e g(t) duas funções satisfazendo a condição (14.5) definimos
então a convolução de f por g do seguinte modo
Z +∞
(f ∗ g)(t) := f(u)g(t − u)du .
−∞

A convolução satisfaz as seguintes propriedades.

(conv1) (f ∗ g)(t) = (g ∗ f)(t) para todo t.

(conv2) f ∗ (g ∗ h) = (f ∗ g) ∗ h.

Teorema 14.14 (Transformada da convolução). Se f(t) e g(t) verificam a


condição (14.5), então
 √
F (f ∗ g)(t) = 2πf̂(ω)ĝ(ω) .

Demonstração. De fato,
Z Z Z
 1 +∞ 1 +∞ +∞

F (f ∗ g)(t) = √ (f ∗ g)(t)e−iωt
dt = √ f(u)g(t − u)du e−iωt dt =
2π −∞ 2π −∞ −∞
Z Z +∞
1 +∞

−iωt
=√ f(u) g(t − u)e dt du .
2π −∞ −∞

Usando a propriedade de deslocamento no tempo, teremos


Z +∞ √  √
g(t − u)e−iωt dt = 2πF g(t − u) = 2πĝ(ω)e−iωu .
−∞

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Convolução 155

Daí,
Z Z +∞
 1 +∞ √
F (f ∗ g)(t) = √ iωu
2πf(u)ĝ(ω)e du = ĝ(ω) f(u)e−iωu du =
2π −∞ −∞

= 2πf̂(ω)ĝ(ω) .

2
Proposição 14.15. Seja f(x) = e−x definida para todo x ∈ R. Então
Z +∞
2 √
I := e−x dx = π
−∞

e, é claro que, sendo f(x) uma função par, teremos


Z +∞ √
−x2 π
e dx = .
0 2

Demonstração. Consideremos
Z +∞ Z +∞
2 −x2 2
I = e dx e−y dy .
−∞ −∞

Podemos escrever Z +∞ Z +∞
2 2 2
I = dx e−(x +y ) dy .
−∞ −∞

Usando agora coordenadas polares, podemos escrever


Z +∞ Z 2π Z +∞
2 −r2 2
I = rdr e dθ = 2π re−r dr .
0 0 0

Ou seja,
Z0 0
2 u

u
I =π e du = πe = π.
−∞ −∞
Portanto,

I= π.

2 
Exemplo 14.16. Seja f(t) = e−t definida para todo t ∈ R. Calcule F f(t) .

Teremos Z +∞
1 2
f̂(ω) = √ e−t e−iωt dt .
2π −∞

Por outro lado, Z +∞


 1 2
F tf(t) = √ te−t e−iωt dt .
2π −∞

Integrando por partes, com

u = e−iωt −→ du = −iωe−iωt dt ,

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Convolução 156

2
−t2 e−t
dv = te −→ v = −
2
teremos  Z 
 2 +∞
1 e−t e−iωt iω +∞ −t2 −iωt
F t f(t) = √ − − 2 e e dt .
2π 2 −∞ −∞

Portanto Z
 iω +∞ −t2 −iωt iω
F t f(t) = − √ e e dt = − f̂(ω) .
2 2π −∞ 2
Agora usando o Teorema 14.13 temos
 d
F tf(t) = i f̂(ω) .

Logo, podemos escrever


d ω
f̂(ω) = − f̂(ω) .
dω 2
Como Z +∞
1 2 1
f̂(0) = √ e−t dt = √ ,
2π −∞ 2
segue-se que 
 d ω

 f̂(ω) = − f̂(ω)

 dω 2



 1
 f̂(0) = √ .
2
Ou seja
ω2
1 −
f̂(ω) = √ e 4 .
2
2 /2
Exemplo 14.17. Seja f(t) = e−t , mostre que

f̂(ω) = f(ω) .

2 √
De fato, se g(t) = e−t então temos f(t) = g(t/ 2). Agora, usando o Teorema
14.10, podemos escrever
 √ √ √
f̂(ω) = F g(t/ 2) = 2ĝ( 2ω) .

Ou seja
2
f̂(ω) = e−ω /2 .

 |t|

 1− , se |t| < a
 a 
Exemplo 14.18. Sejam a > 0 e f(t) = . Determine F f .



 0, se |t| ≥ a

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Convolução 157

Temos Z +∞
1
f̂(ω) = √ f(t)e−iωt dt .
2π −∞

Daí, Za 
|t|

1
f̂(ω) = √ 1− e−iωt dt .
2π −a a
Ou seja,
Z a Z
1 1 a
f̂(ω) = √ e−iωt
dt − |t|e−iωt
dt =
2π −a a −a
−iωt a  Z0 Za 
1 e 1 −iωt −iωt
=√ − − − te dt + te dt .
2π iω −a a −a 0

Usando integração por partes teremos


Z
te−iωt e−iωt
te−iωt dt = − + + Cte .
iω ω2

Observando que

2 eiωa − e−iωa
 
1  −iωa iωa
 2 sen(ωa)
− e −e = = ,
iω ω 2i ω

podemos escrever

2 sen(ωa) 1 aeiωa eiωa ae−iωa e−iωa
 
1 1 1
f̂(ω) = √ − − 2+ 2 − + − 2 .
2π ω a iω ω ω iω ω2 ω

Ou seja,

1 2 sen(ωa) eiωa 1 eiωa e−iωa e−iωa 1
f̂(ω) = √ − + − + − + .
2π ω iω aω2 aω2 iω aω2 aω2

Assim,

eiωa − e−iωa eiωa + e−iωa
   
1 2 sen(ωa) 1 2 2 2
f̂(ω) = √ + 2 2
− − .
2π ω aω aω ω 2i aω2 2

Portanto,
1 2
f̂(ω) = √ (1 − cos(ωa)) .
2π aω2
Ou ainda,
2
f̂(ω) = √ [1 − cos(aω)] .
aω2 2π

Exemplo 14.19. Sejam a > 0 e f(t) = e−a|t| . Determine F f .

Temos Z +∞
1
f̂(ω) = √ e−a|t| e−iωt dt .
2π −∞

Daí Z 0 Z +∞
1 at −iωt −at −iωt
f̂(ω) = √ e e dt + e e dt .
2π −∞ 0

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Algumas aplicações da transformada de Fourier 158

Assim,
Z 0 Z +∞
1 (a−iω)t −(a+iω)t
f̂(ω) = √ e dt + e dt =
2π  −∞
+∞ 
0
0
1 e(a−iω)t e−(a+iω)t
=√ − .
2π a − iω −∞ a + iω 0

Sendo a > 0 teremos



1 1 1
f̂(ω) = √ + .
2π a − iω a + iω
Ou ainda
2a
f̂(ω) = √ .
2π(a2 + ω2 )

Algumas aplicações da transformada de Fourier

O problema de condução de calor unidimensional

Consideremos o seguinte problema de valor inicial para a equação do calor


 2


∂u 2 ∂ u

 ∂t (x, t) = α (x, t) , −∞ < x < +∞ , t>0
∂x2
u(x, 0) = f(x) , −∞ < x < +∞ (14.10)




|u(x, t)| ≤ Cte ∀ (x, t) ∈ R × [0, +∞[ .
Vamos supor que a função f(x) verifique a condição (14.9). Mostra-se em
[de Figueiredo, 1977, pág. 219], que o problema (14.10) possui uma única
solução u(x, t) contínua e limitada. Vamos proceder, na busca da solução, su-
pondo que possamos justificar rigorosamente todas as operações que faremos.
Para cada t > 0 fixado, aplicamos a transformada de Fourier em relação a
x, sobre a função u(x, t).
Z +∞
1
û(ω, t) = √ u(x, t)e−iωx dx .
2π −∞

Daí, Z +∞
d 1 ∂u
û(ω, t) = √ (x, t)e−iωx dx .
dt 2π −∞ ∂t
Usando a equação teremos
Z +∞
d α2 ∂2 u
û(ω, t) = √ (x, t)e−iωx dx . (14.11)
dt 2π −∞ ∂x2
Agora, usando a fórmula para a transformada da derivada obtida no Teo-
rema 14.12,
  
F f 00 = iωF f 0 = −ω2 F f ,

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Algumas aplicações da transformada de Fourier 159

teremos
 ∂2 u 
F 2
= −ω2 F u .
∂x
Isto é, Z +∞ 2
1 ∂ u
√ 2
(x, t)e−iωx dx = −ω2 û(ω, t) .
2π −∞ ∂x
Voltando a (14.11), obtemos

d
û(ω, t) = −α2 ω2 û(ω, t) .
dt

Como queremos também


u(x, 0) = f(x) ,

devemos esperar que


û(ω, 0) = f̂(ω) .

Vamos então resolver o problema



 d û(ω, t) = −α2 ω2 û(ω, t)
dt (14.12)
 û(ω, 0) = f̂(ω) .

Ora, como ω não depende de t, isso significa que podemos resolver (14.12)
considerando ω constante. Teremos

2 ω2 t
û(ω, t) = f̂(ω)e−α .

A solução u(x, t) do problema (14.10) será dada pela fórmula de inversão,


(14.7), Z +∞
1
u(x, t) = √ û(ω, t)eiωx dω .
2π −∞
Vamos agora usar algumas propriedades já vistas, para que possamos ex-
pressar u(x, t) de uma forma mais conveniente.
Usando o Exemplo 14.17, sabemos que
  2 2
f̂(ω) = F f , e F e−x /2 = e−ω /2 .

Usando a propriedade de mudança de escala,


 1 ω
F f(ax) = f̂( )
|a| a

1
com a = √ . Observando que se,
α 2t
2 /2
ĥ(ω) = e−ω ,

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Algumas aplicações da transformada de Fourier 160

então
√ 2 2
ĥ(αω 2t) = e−α ω t .

Teremos
x2
 e− 4α2 t 2 2
F √ = e−α ω t .
α 2t
Logo,
x2

  e 4α2 t
û(ω, t) = F f(x) F √ .
α 2t
Observando agora o Teorema 14.14, que dá a transformada da convolução,
podemos esperar que
1
u(x, t) = √ (f ∗ G)(x, t) (convolução só em x)

com a função G(x, t) definida por

x2
1 −
G(x, t) = √ e 4α2 t .
α 2t
Usando a definição da convolução resulta

Z +∞ (x − u)2
1 f(u) −
u(x, t) = √ √ e 4α2 t du .
2π −∞ α 2t
Ou ainda,
Z +∞ (x − u)2
1 −
u(x, t) = √ f(u)e 4α2 t du .
α 4πt −∞
Consideremos agora o seguinte problema de contorno
 2

 ∂u 2 ∂ u

 (x, t) = α (x, t) , 0 < x < +∞ , t>0

 ∂t ∂x2

u(0, t) = 0 , t>0
(14.13)



 u(x, 0) = f(x) , 0 < x < +∞



|u(x, t)| ≤ Cte ∀ (x, t) ∈ R+ × R+ .

Para resolvermos o problema (14.13), vamos considerar uma extensão h :


R → R, de f, e resolver o problema
 2


∂v 2 ∂ v

 ∂t (x, t) = α (x, t) , −∞ < x < +∞ , t>0
∂x2
v(x, 0) = h(x) , −∞ < x < +∞ (14.14)




|v(x, t)| ≤ Cte ∀ (x, t) ∈ R × [0, +∞[ .

Agora, como deve ser escolhida a função h de modo a termos

u(x, t) := v(x, t) , 0 < x < +∞ , t > 0

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Exercícios 161

solução de (14.13)? Vimos que a solução de (14.14) é dada pela fórmula


Z +∞
1 (x−y)2
v(x, t) = √ h(y)e− 4α2 t dy , −∞ < x < +∞ , t > 0 .
α 4πt −∞
Como queremos v(0, t) = 0 devemos ter
Z +∞
y2
0= h(y)e− 4α2 t dy .
−∞

Ou ainda,
Z +∞ Z0 Z0
y2 y2 z2
− −
h(y)e 4α2 t dy = − h(y)e 4α2 t dy = h(−z)e− 4α2 t dz .
0 −∞ +∞

Isto é, Z +∞ Z +∞
y2 z2

h(y)e 4α2 t dy = − h(−z)e− 4α2 t dz .
0 0

Ou seja, Z +∞
z2
[h(z) + h(−z)]e− 4α2 t dz = 0 . (14.15)
0

É claro que obtemos (14.15) escolhendo h : R → R como a extensão ímpar de f.

Exercícios
Em todos os exercícios abaixo indicaremos por u(t) a função de Heaviside
(degrau unitário).

1. Esboce o gráfico e determine a transformada de Fourier das seguintes


funções

(a) f(t) = et {u(t) − u(t − 1)}

(b) f(t) = e2t u(−t)

(c) f(t) = te−t u(t)

2. Seja f̂(ω) a transformada de Fourier de uma função f(t). Determine a


transformada das seguintes funções

(a) f1 (t) = f(t) cos(ω0 t)

(b) f2 (t) = f(t) sen(ω0 t)


sen(3t) cos(200t)
(c) f3 (t) =
t
X
+∞

3. Se f(t) = cn einω0 t é uma função periódica, determine F f(t)
n=−∞

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Exercícios 162

4. Seja f(t) uma função tal que f(t) é contínua por partes, de ordem expo-
nencial, f(t) = 0 se t < 0 e
Z +∞
|f(t)| dt < +∞ .
0

Se F(s) = L f(t) verifique que, para ω ∈ R,
 1
f̂(ω) = F f(t) (ω) = √ F(iω) .

5. Use o resultado do exercício anterior para determinar a transformada de


Fourier das seguintes funções

(a) f(t) = e−3t u(t)

(b) f(t) = u(t)e−t cos(20t)

(c) f(t) = u(t) − u(t − 5)


 2
sen(t)
6. Determine a transformada de Fourier de f(t) =
t
7. Determine a transformada de Fourier de f(t) = u(t)t3 e−t

8. Seja f(t) a função definida por


 2|t| + 1 se |t| < 1/2
f(t) =
 0 se |t| ≥ 1/2
esboce o gráfico de f e determine a transformada de Fourier de g(t) =
f(t) cos(t)

9. Seja f(t) uma função tal que


 1
f̂(ω) = F f(t) (ω) =
2 + iω
determine Z +∞
f(t) dt
−∞

10 + 2iω
10. Seja f(t) uma função tal que f̂(ω) = . Determine a trans-
(5 + 3iω)(2 + iω)
formada de Fourier das seguintes funções

(a) g(t) = f(t) sen(ω0 t)

(b) g(t) = f(t/5)


d3 f
(c) g(t) = (t)
dt3

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Referências Bibliográficas

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Analysis. Dover Publications inc. An Introduction to Generalized Functions,
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MATEMÁTICA APLICADA II E.R.O.


Índice Remissivo

Autofunções, 79 delta de Dirac, 60


Autovalor, 79 fatorial, 13
Gamma, 11
Comprimento de onda, 131
impulso unitário, 60
Convolução, 154
periódica, 35, 81
propriedades da, 65
período fundamental, 35
Desigualdade de Bessel, 110 Funções
ímpares, 91
Equação
coeficientes de Fourier, 93
da condução do calor, 72
conjunto ortogonal de, 82
integral de Volterra, 68
extensão ímpar, 97
Equação de ondas, 127
extensão par, 97
Equação diferencial
linearmente independentes, 84
com coeficientes constantes, 5
norma, 82
linear de primeira ordem, 5
ortogonalidade, 82
ordinária de segunda ordem, 7
pares, 91
linear, 7
coeficientes de Fourier, 93
Equação do calor
produto interno, 81
Problema de fronteira, 118
Problema de valor inicial, 118 Identidade do paralelogramo, 82
Espectro de amplitudes, 150 Impulso, 59
Espectro de fases, 150 Integral de convolução, 64

Fórmula de D’Alembert, 139 Lema de Riemann-Lebesgue, 112


Fórmula de Euler, 103
Método
Freqüência natural de vibração, 131
de separação de variáveis, 74
Função
Método de separação de variáveis,
contínua por partes, 13
129
de ordem exponencial, 14
Método de variação de parâmetros,
de transferência, 41
124
degrau unitário, 25
Modo de vibração, 131
ÍNDICE REMISSIVO 166

Onda estacionária, 131 tranformada da derivada, 153


Onda progressiva, 138 trasformada da convolução, 154
Onda regressiva, 138 Transformada de Laplace, 10
derivada em s, 18
Período fundamental, 81
deslocamento em s, 16
Polinômio característico, 41
deslocamento no tempo, 26
Princípio da superposição, 73
inversa, 19
Problema
linearidade, 16
do calor numa barra, 72
mudança de escala no tempo, 17
Problema de Cauchy, 136
Teorema do valor final, 23
Problema de valor inicial, 136
Teorema do valor inicial, 23
Relações de ortogonalidade, 83 transformada da derivada, 19
Ressonância, 134 Transformada seno, 152

Série de Fourier, 80, 89 Valor inicial


forma complexa, 104 problema de, 2, 8
Séries de Fourier
identidade de Parseval, 117
Séries de
derivação, 116
integração, 116
Seqüências
convergência pontual, 113
convergência uniforme, 115
critério de Cauchy, 115
teste de Weierstrass, 115

Teorema de Dirichlet, 89
Teorema de Pitágoras, 82
Transformada cosseno, 152
Transformada da derivada, 112
Transformada de Fourier, 109, 149
deslocamento no tempo, 152
fórmula de inversão, 149
linearidade, 152
mudança de escala, 153
multiplicação por t, 153

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