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Operação Condor
Olavo de Carvalho
Mesmo que os números da contabilidade funerária que ressalta o horror da
primeira operação fossem autênticos -- e não são --, ainda assim a
comparação só faria ressaltar a diferença entre os militares
latino-americanos, que enfrentavam a luta armada nos seus próprios
territórios, e uma agressão estrangeira que enviou 57 mil soldados ao
outro lado do oceano para intervir numa guerra que não dizia respeito a
Cuba exceto ideologicamente e em função da estratégia comunista global.
Ainda assim, é um bocado de gente. Mas essa cifra é só o que consta da
apresentação inicial. Se você se der o trabalho de examinar a lista mesma,
verá que dela só constam... 2.422 vítimas.
Só que, para completar, das 2.422 "vítimas", 1.785 não têm nomes, o que
suscita um pequeno problema: se não se sabe nem mesmo quem um
sujeito é, como se pode assegurar que foi morto por motivos políticos?
Há também, é claro, os desaparecidos. Na lista da Comissão, são 2.286.
Ora, bolas! Para aceitar a priori que qualquer agente comunista
desaparecido tenha sido necessariamente assassinado, é preciso
desconhecer tudo do mundo da espionagem e do terrorismo
internacionais, onde a circulação de pessoas, de nomes, de identidades e
de documentos por baixo do pano é um jogo alucinante de prestidigitações
e disfarces. Não é razoável admitir que 2286 desaparecidos sejam 2286
vítimas de assassinato enquanto ninguém se der o trabalho de averiguar
se, sob outros nomes, e com um leque de passaportes falsos de várias
nacionalidades, não reapareceram em Cuba, na União Soviética, na China,
na Colômbia ou em Porto Alegre. Mas admitamos que todos tivessem sido
realmente mortos pela ditadura argentina. Somados aos casos
comprovados, seriam 2.973 -- menos de um quinto da lista de vítimas de
Fidel Castro (estas, sim, conhecidas com nomes e a descrição das
circunstâncias da morte). Devemos condenar os EUA por "não ter feito
nada" contra os argentinos? Ou contra Fidel Castro?