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Coisas no Ar (parte 1)

(Da alquimia á química)


Prof. Luiz Ferraz Netto
leobarretos@uol.com.br

Introdução
Estamos no século XVII. Conquistas anteriores culminaram com altas
pontuações no assalto bem sucedido do homem contra os problemas da medida
do tempo e do espaço.

Com esse sucesso, veio a possibilidade de navegar rotineiramente pelo globo


inteiro. Tendo o mundo como seu mercado, o homem civilizado tinha agora
acesso fácil às coisas boas da vida que eram tão desigualmente distribuídas
sobre a Terra. O comércio mundial começou a aliviar as necessidades e a
escassez que tinham caracterizado toda a história do homem.

A despeito do seu extraordinário sucesso na navegação e na medida do tempo,


o homem não tinha aumentado significativamente o número de espécies de
coisas que podiam ser usadas para satisfazer suas ânsias ou necessidades.
Apenas relativamente poucas plantas, animais e substâncias naturais são
diretamente utilizáveis como alimento ou na fabricação de produtos de utilidade.
Sua conquista sobre a natureza referia-se mais ao transporte do que à inovação
de outros materiais.

No final do século XVIII, o conhecimento do homem sobre os metais, fabricação


de vidro, cerâmica, tintura, fermentação, tecelagem e medicina, pouco excedia
ao dos povos antigos do Mediterrâneo. Ainda usava a mesma vela, o mesmo
arado, roda d'água e pedra de amolar, que eram mais antigos que a história
registrada. As melhores sedas ainda provinham do Oriente, e o melhor estanho,
das Ilhas Britânicas. As únicas grandes invenções ou novas indústrias que o
homem moderno podia reivindicar eram a imprensa e a manufatura da pólvora,
instrumentos ópticos e relógios mecânicos de precisão.

A despeito do modesto progresso do homem no desenvolvimento de novos


materiais, o século XIX o encontrou à beira de um fantástico desenvolvimento.
Nos anos que se seguiram, o cidadão comum alcançaria um padrão de vida que
estava muito além da compreensão dos seus antepassados. Um grande fator
dessa revolução social foi a ciência que chamamos de Química.

Nossa tarefa nesse resumido texto será tentar acompanhar os passos que
levaram ao homem a possibilidade de criar novos e maravilhosos produtos e
materiais, partindo das substâncias mais inesperadas da natureza. Comecemos.

A Química dos Antigos


O homem primitivo coletava materiais úteis da terra e do mar, das rochas, de
estranhas fontes de cheiros, de animais e de plantas, e os utilizava para fabricar
seus metais, tecidos, pinturas, corantes, perfumes, vasos e remédios. Como a
capacidade de produzir substâncias puras apareceu muito mais tarde, a
qualidade de seus produtos dependia usualmente das peculiaridades da matéria-
prima existente em sua região.

O ouro, a prata e o cobre ocorrem como metais na natureza, e sua descoberta


remonta a tempos perdidos na história. Embora todos os três fossem valorizados
pelo homem antigo, cedo deve ter-se tornado aparente que o cobre era o mais
útil dos metais para a fabricação de instrumentos práticos. A fabricação do
bronze  uma liga de cobre e estanho  não ocorreu senão muito mais tarde,
talvez por volta de 1500 a.C. Embora o cobre comum seja mole, torna-se muito
mais duro depois de trabalhado a frio, com o martelamento e o curvamento
envolvidos na fabricação de um instrumento com o metal frio. O uso do cobre
nativo marca o início de todas as culturas metálicas no progresso humano em
direção à civilização.

Muito mais tarde, o homem aprendeu a fundir o útil metal vermelho, partindo de
seus minérios. Podemos apenas especular sobre uma descoberta acidental do
processo. O carbonato de cobre, de cor verde, chamado malaquita, foi usado no
Egito antigo como cosmético. Se um pedaço de malaquita tivesse caído nas
brasas do carvão de um fogo em extinção, logo apareceriam alguns pingos de
cobre. A malaquita é transformada em óxido de cobre pelo calor, este, por sua
vez, é reduzido a cobre puro quando calcinado juntamente com o carvão. A
remoção do oxigênio de uma substância é chamada de redução, possivelmente
o primeiro processo químico aprendido pelo homem.

Embora o ferro não seja encontrado em estado nativo, o homem familiarizou-se


com ele na forma de fragmentos meteóricos provenientes do espaço exterior.
Durante longo tempo, o ferro foi mais apreciado que o ouro, porque era mais
escasso e muito mais útil. Pequenas pedras de ferro meteórico foram usadas no
Egito como jóias, anteriormente a 3400 a.C. A separação do metal do seu
minério parece ter sido conseguida pelos hindus, cerca de 2000 a.C.

Uma grande quantidade de minérios, como a hematita, são ricos em ferro


combinado com o oxigênio. Assim, a extração do ferro deve ter sido realizada por
analogia com a fundição do cobre. O estanho utilizado para fabricar o bronze
também pode ser obtido dos seus minérios comuns, com a remoção do oxigênio.
Assim, a metalurgia dos primeiros tempos começou com a redução dos minérios,
agora chamados óxidos ou carbonatos, calcinando-os juntamente com o carvão,
em uma câmara fechada.

Entretanto, muitos minérios não cedem ao processo de redução isoladamente.


Os minérios que chamamos de sulfetos  combinações de um metal com o
elemento enxofre  requerem primeiramente um outro processo. Alguns desses
minérios podem ser reduzidos ao metal se forem calcinados previamente no ar.
Chamamos a esse processo de oxidação, ou seja, adição de oxigênio a uma
substância. Deve ter sido logo observado que a oxidação é facilitada se o minério
quente for continuamente suprido de ar fresco. Apareceram então os foles, e
com eles vieram os primeiros altos-fornos toscos. Deve também ter sido
observado que certos minérios de ferro, que continham calcários, formam uma
massa fundida com mais facilidade.

Estas artes eram praticadas há milhares de anos atrás, mas sua verdadeira
natureza permaneceu um mistério, até o século dezenove.

Como Materializar Espíritos Invisíveis


Além da redução e da oxidação, também devemos aos antigos o processo de
destilação. Este processo, que já era conhecido dos alexandrinos, é utilizado
para separar substâncias umas das outras, com base em suas características
individuais. Vê-se, na ilustração a seguir, um alambique tradicional.

O material impuro a ser separado é colocado no receptáculo A e aquecido. Uma


parte dele, então, aparentemente desaparece ou se desmaterializa. Embora
invisíveis, essas substâncias etéreas são impedidas de escapar pela retorta B.
Em seguida, elas se materializam e são coletadas no recipiente C. Sabemos hoje
que várias substâncias se vaporizam em temperaturas características. Mantendo
a mistura colocada em A, a uma temperatura apropriada, o componente que tiver
a menor temperatura de vaporização pode ser separado, enquanto os outros
permanecem em estado líquido.

A natureza deste processo permaneceu em mistério até tempos recentes.


Quando aquecidas substâncias como o álcool ou a água, supunha-se que elas
desapareciam, tornando-se espíritos  termo que persiste até hoje. A tarefa do
alquimista era fazer materializarem-se esses espíritos.

Nos tempos medievais, as substâncias que chamamos de gases e vapores não


eram reconhecidas como o terceiro estado da matéria. Somente dois estados
eram aceitos: o sólido e o líquido. Os antigos filósofos não podiam compreender
que o terceiro estado da matéria fosse o elo de ligação entre a fusão dos metais
e a destilação do álcool. A física de Aristóteles ensinava que o ar não tem
peso, e assim sendo, nem os espíritos nem o ar podiam ser concebidos como
uma forma da matéria. Como nas outras ciências exatas, uma antiga barreira
aristotélica tinha que ser removida, antes que a ordem pudesse emergir do caos
das receitas dos alquimistas.

As primeiras idéias sobre a matéria


Como era de se esperar, a ciência da Química teve suas raízes históricas nas
mentes dos antigos filósofos gregos. O primeiro cujo nome chegou até nós foi
Tales de Mileto (cerca de 600 a.C.), o grande geômetra grego. Em Tales
encontramos o desejo científico universal de reduzir os fenômenos
aparentemente não relacionados da natureza a uma certa unidade. Tales
acreditava que deveria haver uma matéria primária, da qual tudo se desenvolveu
por um processo gradual de transformação ou diferenciação. Pensava que a
água devia ser essa matéria primária. Infelizmente, a linha de pensamento que
levou Tales a tal conclusão perdeu-se para nós. Igualmente não sabemos por
que seu colega, Anaxímenes de Mileto (cerca de 585-528 a.C.) anunciou que o
ar é a matéria primária de todas as coisas.

Outro grego, Heráclito (480 a.C.) considerou o fogo como sendo a referida
matéria. Sentiu-se impressionado pelas continuas transformações que observava
em todas as coisas. A única realidade, portanto, era a transformação em si
mesma.

Existir é transformar-se. Escolheu o fogo como a matéria básica, porque ele não
permanece idêntico a si mesmo sequer por um único momento.

Em oposição radical a Heráclito estava seu contemporâneo, Parmênides,


filósofo de Eléia, uma colônia grega do sul da Itália. De acordo com Parmênides,
a realidade é inalterável, e a transformação nada mais é que uma ilusão. Não é
importante para nosso propósito seguir a linha de raciocínio de Parmênides para
chegar a tal conclusão. Como muitos filósofos subseqüentes que se distraiam em
fazer ciência, Parmênides utilizou uma lógica inatacável para chegar
precisamente à conclusão errada. Isso sempre aconteceu, e acontecerá, quando
não são utilizados na argumentação, 'termos' bem definidos.

Ele negou todo valor à percepção dos sentidos, e argüiu que toda verdade deve
originar-se na mente. Já tivemos ocasião de salientar, em meus textos, a
extensão em que esse desprezo pelo método experimental prejudicou o
desenvolvimento científico. Platão foi seu grande expoente, mas Parmênides foi
seu autor.

Os átomos de Demócrito
A filosofia de Parmênides causou uma profunda impressão, embora infeliz, em
seus contemporâneos. A ciência grega tinha-se posto impetuosamente em
campo para explicar os fenômenos de transformação ocorridos na natureza, e
Parmênides convenceu seus colegas de que tais transformações eram
impossíveis. A primeira tarefa enfrentada por Demócrito (cerca de 460 a.C.)
portanto, foi a de explicar como as transformações eram perfeitamente possíveis.
Ele acreditava que, mesmo que toda transformação fosse uma ilusão, tal ilusão,
de qualquer maneira, requeria uma explicação.
Demócrito ensinou que as coisas que são inalteráveis e indivisíveis são os
átomos, os componentes da matéria. Como ele deveria pensar, os menores
pedacinhos da matéria. Tudo mais é um vazio, ou vácuo, como poderíamos
dizer. Admitindo o vazio, Demócrito aceitou que seus átomos eram separados e
podiam movimentar-se. A transformação nada mais é que a união ou separação
dos átomos que são inalteráveis. Uma substância pode modificar-se somente
quando seus átomos se unem com outros átomos, ou se separam uns dos
outros. Sejam quais forem as diferenças que percebemos em um objeto, elas
são baseadas nas diferenças em tamanho, forma ou posição de seus átomos.

A teoria atômica de Demócrito era notavelmente precisa, quando consideramos


sua completa falta de prova experimental. Esse é o verdadeiro chute de gênio.

Mais de dois mil anos depois, suas idéias deveriam desenvolver-se em uma
teoria física que seria testada no laboratório.

Mas a Idade de Ouro da Grécia não era ainda a época apropriada para tal
desenvolvimento.

Os Elementos de Empédocles;

De acordo com Empédocles (cerca de 450 a.C.), existem quatro componentes


básicos de todas as coisas  ar, fogo, terra e água. Cada um desses elementos
(não com o significado de elemento que temos hoje) é inalterável, e todas as
substâncias os contêm, em proporções variáveis. Uma substância se modifica
quando as proporções dos seus elementos componentes se modificam.

A escolha de terra, água, ar e fogo como elementos básicos de toda a matéria


não é realmente tão estranha como possa parecer à primeira vista. Obviamente,
eles são análogos aos sólidos, líquidos, gases e ao próprio fogo  uma
classificação que decorre naturalmente, quando consideramos o mundo material.
Também não devemos imaginar que os elementos de Empédocles sejam a
água, a terra, o ar e o fogo comuns, que conhecemos tão bem. Na vida real,
somente encontramos os elementos em combinação. O líquido que conhecemos
como água, de acordo com a teoria, contém uma preponderância da água
elementar, como também pequenas quantidades dos três outros elementos. A
verdadeira água elementar é meramente a essência da água  algo que nunca
poderemos perceber.

Os Sêmenes de Anaxágoras

Anaxágoras, que viveu mais ou menos no mesmo tempo de Empédocles,


concebeu um número ilimitado de diferentes elementos primitivos, que ele
chamou de semens. Seus sêmenes eram eternos e inalteráveis. Uma substância
se modifica quando seus sêmenes se separam uns dos outros, ou quando se
unem com sêmenes diferentes. A principal diferença entre a teoria de
Anaxágoras e a de Demócrito era o fato de que todas as substâncias de
Anaxágoras continham todas as espécies possíveis de sêmenes. Suas
propriedades dependiam do tipo de sêmen que predominasse.

Os Elementos e os Compostos de Aristóteles

Embora Aristóteles fosse um mau físico, foi um excelente observador. Acreditava


firmemente que uma teoria deve ser baseada na experiência geral, no senso
comum. Atacou a teoria atômica de Demócrito em todas as oportunidades,
porque ela não lhe parecia encaixar-se com as observações da vida diária.
Sentia-se muito mais confortável com o fogo, a terra, a água e o ar de
Empédocles, e aceitou-os em sua própria teoria.

Enquanto seus predecessores se contentaram em falar sobre transformações em


termos gerais, Aristóteles foi específico. Em seus livros Da Geração e da
Decomposição e Da Alma, ele fornece uma derivação lógica dos quatro
elementos. Argumenta ele que o tato é o sentido primário  noção esta que
examinaremos mais adiante, no texto em que trataremos da Óptica (se eu
conseguir terminar!). Portanto, as qualidades primárias dos elementos primários
devem ser observáveis pelo sentido do tato. Essas qualidades ou propriedades
primárias são frio e quente, úmido e seco. Existem apenas seis pares de
combinações dessas quatro propriedades: quente-frio, quente-seco, quente-
úmido, frio-seco, frio-úmido, seco-úmido. A primeira e a última destas
combinações são triviais, de maneira que podem ser abandonadas, deixando
apenas quatro. Conforme se mostra na ilustração a seguir, supõe-se então que
os quatro elementos estão relacionados do seguinte modo com as quatro
propriedades:

(propriedades) (elementos)

quente-seco FOGO Elementos


Químicos de
Empédocles e
quente-úmido AR suas
propriedades,
frio-seco TERRA segundo
dedução de
frio-úmido ÁGUA Aristóteles.

Foi lógica a derivação feita por Aristóteles dos quatro elementos de Empédocles,
e aquele estava firmemente convencido de que ela se baseava na experiência.
Quer consideremos ou não seus argumentos convincentes, suas idéias sobre a
transformação eram certamente baseadas em fundamentos mais sólidos que as
de Demócrito. Certa ou errada, entretanto, a teoria de Aristóteles seria a base
das idéias relativas à Química durante dois milhares de anos.

Aristóteles também divergiu de Demócrito em seu conceito de um composto


químico. Argumentou que a formação de uma substância comum, partindo dos
elementos básicos, é mais do que uma reunião desses elementos. Eles próprios
se modificam, quando se combinam entre si. A combinação química de
elementos é a participação para ser um dos reagentes modificados.

Esta afirmação daria mais tarde motivo a uma grande controvérsia, sobre se os
elementos continuam ou não a existir como tais, nos compostos químicos.

Aristóteles Versus Demócrito

Os gregos não se contentavam com uma explicação fragmentária da natureza.


Uma teoria tinha que abarcar todos os fenômenos em um abraço intelectual
único. Embora não o tenhamos mencionado anteriormente, Demócrito também
propôs uma espécie de átomo do qual é feita a alma humana. Os átomos da
alma são perfeitos e redondos, podendo penetrar no corpo inteiro. Provocam os
movimentos do corpo e as funções vitais. Até mesmo o pensamento podia ser
reduzido a um movimento desses átomos da alma.

O sistema de Demócrito é classificado como materialismo, porque tudo na


natureza é explicado por princípios materiais.

Isto nos ajuda a compreender por que Platão, Aristóteles e a maior parte dos
pensadores rejeitaram suas idéias, durante dois mil anos. Eles não podiam
aceitar uma filosofia que reduzia os nobres feitos da mente a um simples
movimento de átomos materiais. Não foi senão após o grande despertar da
Ciência, ocorrido no século dezessete, que os homens começaram a suspeitar
que Aristóteles tinha errado uma vez mais.

A Alquimia no Islã

Muito antes da era cristã, os egípcios tinham adquirido grande habilidade na


extração e no trabalho dos metais. Tinham-se também tornado peritos na
coloração da superfície dos metais e na preparação das ligas que imitavam a
aparência do ouro e da prata. Em Alexandria, tal conhecimento foi combinado
com a astrologia e a magia dos babilônios e com a filosofia dos gregos. De
Alexandria, esta fusão de conhecimento, especulação e misticismo passou-se
para a Síria e a Pérsia e mais tarde, no século VII, para a Arábia. Os árabes
tomaram a palavra grega chemeia, que se referia à imitação do ouro e da prata,
deram-lhe o artigo árabe al como prefixo, e nos legaram a palavra alquimia.

As premissas fundamentais da alquimia são as seguintes:

1. Toda matéria é composta de uma mistura de terra, ar, água e


fogo, em proporções variáveis.

2. O ouro é o mais nobre e mais puro dos metais, seguido pela


prata.
3. Qualquer metal pode ser transformado em outro, por um
processo chamado transmutação, que consiste em modificar
as proporções dos quatro elementos básicos.

Os alquimistas acreditavam que a transmutação de um metal básico em ouro


podia ser conseguida com o uso de uma substância indefinida chamada pedra
filosofal. Acreditavam também em um elixir da vida e em uma panacéia. O
primeiro prolongaria a vida indefinidamente, e o último curaria todos os males.

Tais objetivos da alquimia eram tão reais para os alquimistas árabes como é hoje
a síntese de uma nova droga ou fibra para o químico moderno. Mas não
devemos pensar na alquimia simplesmente como uma massa de superstições
fantásticas. Os alquimistas têm sido caluniados por avaliações superficiais dos
seus feitos. Se deixarmos de lado o misticismo e o charlatanismo inevitáveis, há
muita coisa de valor que pode ser encontrada na alquimia dos árabes. Sua
contribuição  e ela foi realmente indispensável  foram as tentativas de todas
as possíveis combinações das substâncias conhecidas, durante muitos séculos;
a rejeição das que não interagiam, e o registro lento e metódico de todas as
receitas que o faziam. Sem essa paciente pesquisa  não considerando seus
motivos  a Química não se teria transformado em uma Ciência.

Uma receita típica da alquimia foi aquela dada, para o esmaltamento de louças
por Jabir (cerca de 760-815), alquimista árabe que se tornou conhecido dos
europeus como Geber. Ele escreveu em seu Livro das Propriedades:

Tome uma libra de litargírio (um composto de chumbo e oxigênio), pulverize-o bem e
aqueça-o suavemente junto com quatro libras de vinagre de vinho, até reduzi-lo à metade
de seu volume original. Tome então uma libra de barrilha e aqueça-a juntamente com
quatro libras de água, até reduzir seu volume à metade. Filtre as duas soluções até que se
tornem límpidas, e acrescente gradualmente a solução de barrilha à de litargírio. Forma-se
uma substância que se deposita no fundo. Jogue fora a água e deixe secar o resíduo. Ele
se tornará um sal tão branco como a neve.

Este material é o chumbo branco, utilizado durante séculos na esmaltação de


louça e na pintura.

O maior dos alquimistas árabes foi Rhazes (865-925), cujo nome significa
"homem de Ray", uma cidade da Pérsia. Um de seus livros descreve o
equipamento de um laboratório. Suas sugestões incluem, entre outras coisas, as
seguintes:

Forno tenazes frascos estufas

fole tesourões vidros fornalhas

cadinhos tachos caldeirões funis

alambiques balanças fogões pratos


conchas pesos filtros banheiras etc.

Um laboratório assim equipado é pouco mais do que o covil de uma bruxa.

Rhazes conhecia muitos compostos químicos, incluindo possivelmente os ácidos


sulfúrico e nítrico. Ele foi também o primeiro a classificar a matéria como animal,
vegetal ou mineral.

Classificou esta última em seis subclasses:

(1) espíritos, como o mercúrio ou o enxofre, que desaparecem ou


se queimam, quando aquecidos ;

(2) sete metais;

(3) seis bóraces, inclusive o nosso atual bórax;

(4) onze sais, inclusive o sal marítimo, a cal, a potassa e alguns dos
nossos álcalis;

(5) treze pedras, incluindo a malaquita (óxido de cobre), a hematita


(óxido de ferro), a gipsita (sulfato de cálcio) e o alúmen; e

(6) seis vitríolos, certos compostos de um metal, enxofre e oxigênio,


tendo uma aparência vitrificada.

Os alquimistas mouros que se seguiram fizeram novos avanços na classificação


dos químicos. Fizeram o reconhecimento das soluções de ácidos, sais e álcalis,
de acordo com seu efeito sobre os corantes vegetais que eram usados nos
tecidos. Um desses corantes era chamado de tornassol, perfeitamente familiar,
hoje em dia, a todos os estudantes de Química. O papel de tornassol torna-se
vermelho quando mergulhado em um ácido, ou azul, quando mergulhado em
uma solução de um álcali (nossas bases, como a barrela ou a cal viva). Os
alquimistas mouros também deram as fórmulas dos três ácidos mais importantes
da indústria moderna: nítrico, sulfúrico e clorídrico. Note-se o valor científico da
alquimia.

Estes eram obtidos pela destilação dos vapores formados quando vários sais
eram aquecidos.

A Alquimia da Europa

O século dezesseis viu a liderança da alquimia passar do Islã para a Europa. Ali
ela adquiriu um objetivo mais nobre sob a influência de um médico suíço,
Aureolus Philippus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, também
conhecido mais concisamente por Paracelso (1493-1541). Era um homem de
temperamento violento, jactancioso e rebelde, cuja maior contribuição foi uma
reorientação do esforço químico para sendas mais proveitosas. Ele desviou seus
seguidores da obcecação da fabricação do ouro, "a arte falsa e perniciosa da
alquimia", para o estudo dos medicamentos. Ensinou que o verdadeiro objetivo
da alquimia devia ser a cura dos males humanos e das doenças, através do
estudo e desenvolvimento de novas drogas. Suas idéias inauguraram uma nova
era na Química, conhecida como iatroquímica ou química médica. Este novo
campo atuou como uma ponte entre a alquimia e os primórdios da ciência exata
da Química no século dezessete.

O Caos na Química

A importância vital do ar para os processos químicos foi primeiramente


reconhecida por Johann van Helmont, que nasceu em Bruxelas em 1577. Ele
mostrou experimentalmente que há muitas espécies de gases, sendo todos de
natureza material.

Introduziu realmente o termo gás, que tirou da palavra chaos.

Não conseguiu um meio de coletar um gás e identifica-lo, por isso suas


descrições são quase sempre incompletas. Não obstante, veio a convencer-se
de que há muitas espécies de gases, todos tendo diferentes propriedades. Este
foi um grande avanço sobre a idéia anterior, de que o ar é a única substância de
tal espécie. Enumerou muitos gases: gás de vento (ar), gás turbulento (dióxido
de carbono, o gás da soda efervescente), gás de fumaça, gás seco etc.
Descreveu esses gases de modo incipiente, baseado em suas propriedades
físicas mais evidentes. Parece ter sido o primeiro químico a suspeitar que o
poder destrutivo da pólvora era causado pelos gases que ela produz.

Jean Rey, que viveu por volta de 1630, foi o primeiro a reconhecer que o ar está
envolvido de certa maneira na calcinação (oxidação) dos metais, quando eles
são aquecidos em contato com o ar. Sabemos agora que o oxigênio se combina
com o metal para formar um novo composto chamado óxido, mas tal processo
estava além da compreensão dos predecessores de Rey.

Ele nos conta que um certo droguista lhe perguntou por que o estanho e o
chumbo aumentam de peso quando calcinados em contato com o ar. Em
resposta, Rey "dedicou várias horas à questão", durante as quais escreveu vinte
e sete ensaios sobre o assunto que ele deixou "escorregar de suas mãos". Sua
principal contribuição para a Química foi a idéia de que todas as coisas, inclusive
o ar, têm peso. Referindo-se ao droguista, ele nos conta que tendo colocado
duas libras e seis onças de excelente estanho inglês em um vaso de ferro,
aquecendo-o fortemente em uma fornalha aberta durante seis horas.., ele
recuperou duas libras e treze onças de um resíduo branco. De onde tinham vindo
as sete onças extras? Ora ... do ar, que se tornou mais denso no vaso, mais
pesado, e até certo ponto adesivo, pelo calor veemente e continuo da fornalha;
ar esse que se mistura com o resíduo (com auxilio de continua agitação),
aderindo às suas parcelas mais minúsculas; maneira esta que não é nada
diferente da água tornando mais densa a areia quando é lançada sobre ela e
agitada, umedecendo-a e aderindo aos seus grãos mais pequeninos.
A despeito da importância da idéia de Rey, três coisas tiram seu valor para nós,
como provavelmente o fizeram para seus contemporâneos: (1) ele não
apresentou prova de que o peso extra era devido ao ar; (2) descreveu o ar como
combinando com o resíduo branco, em vez de combinar com o metal; e (3)
comparou o processo com uma mistura de água e areia.

Embora Rey não tivesse compreendido toda o significado da união do ar com um


metal, ele estava convencido de que o ar tinha peso. Os seguidores de
Aristóteles argumentaram que o ar é imponderável, porque um balão cheio de ar
pesa a mesma coisa que um balão vazio. Rey replicou que "somente o mais
rematado palhaço" emprestaria qualquer significado a tal espécie de medida.
Salientou que as medidas de peso são normalmente tomadas no ar ambiente ou,
menos freqüentemente, na água. "É por tal motivo", escreveu ele, "que o erro
que venho combatendo (que o ar é imponderável) provoca um argumento que
pode ofuscar os olhos mais fracos, mas não os que vêem claro.

Pois, pesando o ar no meio do próprio ar, e não encontrando nenhum peso, eles
acreditam que ele na verdade não pesa. Mas façam-nos pesar a água (que eles
acreditam que tem peso) dentro da própria água, e eles não encontrarão
igualmente nenhum peso." Rey tornara-se o primeiro cientista a compreender
claramente que o princípio de Arquimedes da flutuabilidade se aplica tanto ao ar
como a um líquido. Se pesarmos no ar uma panela comum de cozinha, seu peso
não será aumentado pela quantidade de ar que ela contém . Ela pesaria
precisamente a mesma coisa se a panela fosse amassada até formar uma
massa compacta contendo pouco ou nenhum ar. Observem, entretanto, que Rey
provou apenas que o ar pode ter peso; ele não provou que o ar tem peso . Seu
raciocínio meramente demoliu os argumentos aristotélicos contra a possibilidade
de o ar ter peso.

Pouco depois do aparecimento dos ensaios de Rey, a bomba de ar foi inventada.


O peso do ar podia ter sido provado conclusivamente se alguém tivesse
simplesmente pesado um recipiente quando estivesse cheio de ar e quando
estivesse vazio.

Mas ninguém pensou em faze-lo. A grande descoberta de que o ar é uma


matéria pesada foi feita por Torricelli, um discípulo de Galileu.

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