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Introdução
Estamos no século XVII. Conquistas anteriores culminaram com altas
pontuações no assalto bem sucedido do homem contra os problemas da medida
do tempo e do espaço.
Nossa tarefa nesse resumido texto será tentar acompanhar os passos que
levaram ao homem a possibilidade de criar novos e maravilhosos produtos e
materiais, partindo das substâncias mais inesperadas da natureza. Comecemos.
Muito mais tarde, o homem aprendeu a fundir o útil metal vermelho, partindo de
seus minérios. Podemos apenas especular sobre uma descoberta acidental do
processo. O carbonato de cobre, de cor verde, chamado malaquita, foi usado no
Egito antigo como cosmético. Se um pedaço de malaquita tivesse caído nas
brasas do carvão de um fogo em extinção, logo apareceriam alguns pingos de
cobre. A malaquita é transformada em óxido de cobre pelo calor, este, por sua
vez, é reduzido a cobre puro quando calcinado juntamente com o carvão. A
remoção do oxigênio de uma substância é chamada de redução, possivelmente
o primeiro processo químico aprendido pelo homem.
Estas artes eram praticadas há milhares de anos atrás, mas sua verdadeira
natureza permaneceu um mistério, até o século dezenove.
Outro grego, Heráclito (480 a.C.) considerou o fogo como sendo a referida
matéria. Sentiu-se impressionado pelas continuas transformações que observava
em todas as coisas. A única realidade, portanto, era a transformação em si
mesma.
Existir é transformar-se. Escolheu o fogo como a matéria básica, porque ele não
permanece idêntico a si mesmo sequer por um único momento.
Ele negou todo valor à percepção dos sentidos, e argüiu que toda verdade deve
originar-se na mente. Já tivemos ocasião de salientar, em meus textos, a
extensão em que esse desprezo pelo método experimental prejudicou o
desenvolvimento científico. Platão foi seu grande expoente, mas Parmênides foi
seu autor.
Os átomos de Demócrito
A filosofia de Parmênides causou uma profunda impressão, embora infeliz, em
seus contemporâneos. A ciência grega tinha-se posto impetuosamente em
campo para explicar os fenômenos de transformação ocorridos na natureza, e
Parmênides convenceu seus colegas de que tais transformações eram
impossíveis. A primeira tarefa enfrentada por Demócrito (cerca de 460 a.C.)
portanto, foi a de explicar como as transformações eram perfeitamente possíveis.
Ele acreditava que, mesmo que toda transformação fosse uma ilusão, tal ilusão,
de qualquer maneira, requeria uma explicação.
Demócrito ensinou que as coisas que são inalteráveis e indivisíveis são os
átomos, os componentes da matéria. Como ele deveria pensar, os menores
pedacinhos da matéria. Tudo mais é um vazio, ou vácuo, como poderíamos
dizer. Admitindo o vazio, Demócrito aceitou que seus átomos eram separados e
podiam movimentar-se. A transformação nada mais é que a união ou separação
dos átomos que são inalteráveis. Uma substância pode modificar-se somente
quando seus átomos se unem com outros átomos, ou se separam uns dos
outros. Sejam quais forem as diferenças que percebemos em um objeto, elas
são baseadas nas diferenças em tamanho, forma ou posição de seus átomos.
Mais de dois mil anos depois, suas idéias deveriam desenvolver-se em uma
teoria física que seria testada no laboratório.
Mas a Idade de Ouro da Grécia não era ainda a época apropriada para tal
desenvolvimento.
Os Elementos de Empédocles;
Os Sêmenes de Anaxágoras
(propriedades) (elementos)
Foi lógica a derivação feita por Aristóteles dos quatro elementos de Empédocles,
e aquele estava firmemente convencido de que ela se baseava na experiência.
Quer consideremos ou não seus argumentos convincentes, suas idéias sobre a
transformação eram certamente baseadas em fundamentos mais sólidos que as
de Demócrito. Certa ou errada, entretanto, a teoria de Aristóteles seria a base
das idéias relativas à Química durante dois milhares de anos.
Esta afirmação daria mais tarde motivo a uma grande controvérsia, sobre se os
elementos continuam ou não a existir como tais, nos compostos químicos.
Isto nos ajuda a compreender por que Platão, Aristóteles e a maior parte dos
pensadores rejeitaram suas idéias, durante dois mil anos. Eles não podiam
aceitar uma filosofia que reduzia os nobres feitos da mente a um simples
movimento de átomos materiais. Não foi senão após o grande despertar da
Ciência, ocorrido no século dezessete, que os homens começaram a suspeitar
que Aristóteles tinha errado uma vez mais.
A Alquimia no Islã
Tais objetivos da alquimia eram tão reais para os alquimistas árabes como é hoje
a síntese de uma nova droga ou fibra para o químico moderno. Mas não
devemos pensar na alquimia simplesmente como uma massa de superstições
fantásticas. Os alquimistas têm sido caluniados por avaliações superficiais dos
seus feitos. Se deixarmos de lado o misticismo e o charlatanismo inevitáveis, há
muita coisa de valor que pode ser encontrada na alquimia dos árabes. Sua
contribuição e ela foi realmente indispensável foram as tentativas de todas
as possíveis combinações das substâncias conhecidas, durante muitos séculos;
a rejeição das que não interagiam, e o registro lento e metódico de todas as
receitas que o faziam. Sem essa paciente pesquisa não considerando seus
motivos a Química não se teria transformado em uma Ciência.
Uma receita típica da alquimia foi aquela dada, para o esmaltamento de louças
por Jabir (cerca de 760-815), alquimista árabe que se tornou conhecido dos
europeus como Geber. Ele escreveu em seu Livro das Propriedades:
Tome uma libra de litargírio (um composto de chumbo e oxigênio), pulverize-o bem e
aqueça-o suavemente junto com quatro libras de vinagre de vinho, até reduzi-lo à metade
de seu volume original. Tome então uma libra de barrilha e aqueça-a juntamente com
quatro libras de água, até reduzir seu volume à metade. Filtre as duas soluções até que se
tornem límpidas, e acrescente gradualmente a solução de barrilha à de litargírio. Forma-se
uma substância que se deposita no fundo. Jogue fora a água e deixe secar o resíduo. Ele
se tornará um sal tão branco como a neve.
O maior dos alquimistas árabes foi Rhazes (865-925), cujo nome significa
"homem de Ray", uma cidade da Pérsia. Um de seus livros descreve o
equipamento de um laboratório. Suas sugestões incluem, entre outras coisas, as
seguintes:
(4) onze sais, inclusive o sal marítimo, a cal, a potassa e alguns dos
nossos álcalis;
Estes eram obtidos pela destilação dos vapores formados quando vários sais
eram aquecidos.
A Alquimia da Europa
O século dezesseis viu a liderança da alquimia passar do Islã para a Europa. Ali
ela adquiriu um objetivo mais nobre sob a influência de um médico suíço,
Aureolus Philippus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, também
conhecido mais concisamente por Paracelso (1493-1541). Era um homem de
temperamento violento, jactancioso e rebelde, cuja maior contribuição foi uma
reorientação do esforço químico para sendas mais proveitosas. Ele desviou seus
seguidores da obcecação da fabricação do ouro, "a arte falsa e perniciosa da
alquimia", para o estudo dos medicamentos. Ensinou que o verdadeiro objetivo
da alquimia devia ser a cura dos males humanos e das doenças, através do
estudo e desenvolvimento de novas drogas. Suas idéias inauguraram uma nova
era na Química, conhecida como iatroquímica ou química médica. Este novo
campo atuou como uma ponte entre a alquimia e os primórdios da ciência exata
da Química no século dezessete.
O Caos na Química
Jean Rey, que viveu por volta de 1630, foi o primeiro a reconhecer que o ar está
envolvido de certa maneira na calcinação (oxidação) dos metais, quando eles
são aquecidos em contato com o ar. Sabemos agora que o oxigênio se combina
com o metal para formar um novo composto chamado óxido, mas tal processo
estava além da compreensão dos predecessores de Rey.
Ele nos conta que um certo droguista lhe perguntou por que o estanho e o
chumbo aumentam de peso quando calcinados em contato com o ar. Em
resposta, Rey "dedicou várias horas à questão", durante as quais escreveu vinte
e sete ensaios sobre o assunto que ele deixou "escorregar de suas mãos". Sua
principal contribuição para a Química foi a idéia de que todas as coisas, inclusive
o ar, têm peso. Referindo-se ao droguista, ele nos conta que tendo colocado
duas libras e seis onças de excelente estanho inglês em um vaso de ferro,
aquecendo-o fortemente em uma fornalha aberta durante seis horas.., ele
recuperou duas libras e treze onças de um resíduo branco. De onde tinham vindo
as sete onças extras? Ora ... do ar, que se tornou mais denso no vaso, mais
pesado, e até certo ponto adesivo, pelo calor veemente e continuo da fornalha;
ar esse que se mistura com o resíduo (com auxilio de continua agitação),
aderindo às suas parcelas mais minúsculas; maneira esta que não é nada
diferente da água tornando mais densa a areia quando é lançada sobre ela e
agitada, umedecendo-a e aderindo aos seus grãos mais pequeninos.
A despeito da importância da idéia de Rey, três coisas tiram seu valor para nós,
como provavelmente o fizeram para seus contemporâneos: (1) ele não
apresentou prova de que o peso extra era devido ao ar; (2) descreveu o ar como
combinando com o resíduo branco, em vez de combinar com o metal; e (3)
comparou o processo com uma mistura de água e areia.
Pois, pesando o ar no meio do próprio ar, e não encontrando nenhum peso, eles
acreditam que ele na verdade não pesa. Mas façam-nos pesar a água (que eles
acreditam que tem peso) dentro da própria água, e eles não encontrarão
igualmente nenhum peso." Rey tornara-se o primeiro cientista a compreender
claramente que o princípio de Arquimedes da flutuabilidade se aplica tanto ao ar
como a um líquido. Se pesarmos no ar uma panela comum de cozinha, seu peso
não será aumentado pela quantidade de ar que ela contém . Ela pesaria
precisamente a mesma coisa se a panela fosse amassada até formar uma
massa compacta contendo pouco ou nenhum ar. Observem, entretanto, que Rey
provou apenas que o ar pode ter peso; ele não provou que o ar tem peso . Seu
raciocínio meramente demoliu os argumentos aristotélicos contra a possibilidade
de o ar ter peso.