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Psicocaca
Sei também que os familiares desses pacientes estão revoltados. Não
da maneira que Paolielo cita mais adiante na referida nota introdutória,
"com as condições de atendimento do doente", mas justamente com a
falta de atendimento decorrente da implantação da "reforma
psiquiátrica" à revelia da comunidade psiquiátrica mais esclarecida e
dos principais interessados, os doentes mentais. Pelo menos é o que
diz o presidente da Associação de Familiares e Amigos dos Pacientes
Psiquiátricos (Afapp), sr. Gutemberg Caldeira, em reportagem do jornal
O Tempo: "A idéia da prefeitura é implantar um modelo diferente, mas
que não está dando certo. Quando levo meu irmão [esquizofrênico] ao
Galba Veloso ele é medicado e os médicos o mandam de volta para
casa. (...) Ele sai e ameaça se suicidar" (O Tempo, 24/07). Na mesma
reportagem, o jornal faz uma enquete sobre a desativação de leitos
psiquiátricos levada a cabo pela prefeitura em BH (1640 nos últimos
anos!). O resultado é letra para quem sabe ler: 85% votaram contra (a
desativação). Esse não deve ter sido o voto da sra. Cláudia Pequeno,
coordenadora de saúde mental da PBH, que declarou ao repórter:
"Queremos um jeito diferente de tratar os diferentes"... Porventura
alguém já notou que quase sempre há algo angelical na ignorância?
No último Jornal Mineiro Psiquiatria, abordei a questão de a AMP ter
cunhado a expressão "Nova Clínica" e feito dela o leitmotiv do
congresso psiquiátrico de agosto/ 2002. Alcunhei esse ente exótico de
Noviclínica, inspirado na Novilíngua, linguagem produzida pelo Big
Brother orwelliano com o fito de amansar consciências individuais que
se aventurassem contra o pensamento monolítico do coletivismo
burocrático reinante (qualquer semelhança...). Mas o que vem a ser
afinal a Noviclínica?
PS: A respeito do apreço que a sra. Gilda Paolielo tem pela frase onde
Heráclito diz que só a mudança não muda, descobri uma segunda
entidade também avessa a mudanças: a própria AMP...
(1) De Valentim, "Uma leitura anotada do projeto brasileiro de reforma
psiquiátrica", Revista USP nº 43. Ver também entrevista do mesmo
autor ao Jornal Mineiro de Psiquiatria nº 12.