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DOMINGO, 24/03

Acredito que este projeto começa muito antes do início dos ensaios,antes da reunião
com a equipe, antes ainda da disciplina de de preparação pro estágio, na qual escrevemos
o projeto dele. Sinto que ele vem crescendo há muito tempo, um pouco desajeitado e com
medo talvez, esperando o momento certo de entrar. Pode entrar, senta, fica a vontade, não
repara na bagunça. Existe um silêncio constrangedor. Trago um chá e um bolo. Acho que
agora podemos começar.
Para poder delimitar um corte no tempo, gostaria de começar falando do
desenvolvimento do projeto na disciplina de Preparação pro Estágio. Entre as aulas havia
uma angústia profunda em mim por não conseguir pensar num tema. Conseguia pensar na
forma, no como, mas não no que eu queria dizer. Em determinado momento percebi que
gostaria de trabalhar com mulheres, e que a temática também se aproximaria de temáticas
feministas. Na época cheguei a pesquisar dramaturgias latinoamericanas de mulheres, mas
não encontrava o que me interessasse. Houve um dia em que voltando de ônibus ouvindo
música, escutei a canção “Maria” de Maria Beraldo, em que a compositora vai tecendo
relações entre sua mãe e avó e e si mesma, homenageando sua ancestralidade.
Foi então que percebi que ao invés de procurar meu tema fora de mim, eu devia
voltar meus olhos para minha história, para dentro de mim. Percebi que tinha vontade de
contar a história das minhas avós, das minhas tias, de mim. Queria que sua história fosse
ouvida, queria contrapor os enredos tradicionais de teatro, não queria contar a história de
grandes heróis, queria contar a histórias de pequenas (?) heroínas, as mulheres do
cotidiano, não das grandes mulheres da história, necessariamente, mas das que constroem
a nossa vida e o nosso universo cotidiano. Queria homenagear sua história, suas
contribuições. Sobretudo, queria investigar o que delas ainda existe em mim, se o que
aconteceu com elas ainda acontece hoje com outras mulheres. queria que continuassem
vivas.

16/04
O processo antes de começar os ensaios foi de recolher referências gerais e ter os
primeiros encontros com as equipes. Nesse começo, tive uma primeira reunião com
Guadalupe pra falarmos sobre o projeto. Nos reunimos em sua casa, tomamos chimarrão e
fomos passando o projeto e comentando. Já nesse primeiro momento foi importante discutir
alguns pontos que já iam se modificando e se aprimorando. Se íamos falar de loucura,
iríamos trabalhar com planos de narrativa? quantos? de que modo eles operariam?
Entre outras perguntas, que sabíamos que iriam ser respondidas ao longo do processo
também.
Tive também uma segunda reunião, dessa vez com Bruna, Vitória e Vitório, além de
Guada. Nesse dia apresentei novamente para eles o projeto, eles trouxeram alguns
questionamentos, pudemos trocar algumas referências também. Por fim, tivemos uma
última reunião com toda a equipe e a professora orientadora Patrícia Leonardelli. Nessa
noite, fiz uma janta para todas nós. Contei a história de cada uma das avós, Maria Suely e
Lorena e fomos em meio disso comentando questões que nos intrigavam. Percebemos
como essas histórias se repetiam e nossa famílias, como apareciam padrões repetidos.
Fomos levantando referências, estéticas e temáticas, falando sobre algumas ideias da
encenação. Entrando em sintonia.
8/04
Nosso primeiro ensaio contou comigo e com Guada em sua casa. Fomos passando
ponto por ponto de um projeto de encenação proposto pela professora patrícia fagundes
numa disciplina de direção xxx na qual guadalupe participou. (EM ANEXO) Foi muito
produtivo termos passado por esse momento para destrincharmos alguns dos nós que
ainda tínhamos algumas dúvidas comuns. A grande questão que demoramos pra responder
foi a definição da temática. Falar da história dessas mulheres pra falar de que?. Também
trouxe a questão de que pensava a atuação de uma perspectiva autoral, não de alguém que
está ali a serviço de um dramaturgo/diretor/encenação, mas sim de de alguém que também
está construindo aquele trabalho e que tem sua participação ativa na criação.
22/04
No nosso primeiro ensaio em sala (22/04) trabalhamos a partir do texto que escrevi
com uma breve história de vida de Lorena e Suely, minhas avós. Fizemos o exercício de
linha do tempo com ações, em que para cada ano de vida meu eu realizava um gesto que
eu achasse representativo delas. Fizemos uma linha do tempo para cada uma, e repetimos
para retomar as ações. Depois disso utilizamos o pequeno texto que escrevi para um
exercício de narrar e fazer, em que Guada lia o texto e eu ia realizando as ações que
haviam no texto. Por fim, anotei a lista com as ações. (em anexo)

Lorena
cortar tecido Maria Suely
cozinhar parir
botar sapato branco cozinhar
cozinhar carnear ovelha
trocar foto do retrato engravidar
esfregar roupa no tanque engordar
comer doce escondido tirar foto com kodak
engravidar trocar terninho
engordar sovar pão
fazer sagu arrumar bibelôs
fungar olhar para arma
fazer permanente

Dia 29/04
Hoje trabalhamos a partir das ações que tínhamos coletado na semana passada.
Começamos com um alongamento. Depois comecei a caminhar pelo espaço, alternando
velocidades e focos. Guada orientou então que eu retomasse as ações que tinha coletado,
inserindo-as no deslocamento. Depois escolhi três ações, uma de cada vez, para trabalhar.
A primeira era “olhar o revólver”. No meio do exercício descobri uma ação diferente, que era
de fazer ao mesmo tempo o papel de quem atira e de quem é atirado. Explorei essa ação
por um tempo, estruturando-a. Então Guada pediu pra que eu testasse fazê-la com diversas
intensidades: pesado/leve, rápido/lento, pequeno/grande. Fiz isso com as três ações
escolhidas, que incluem ainda “cozinhar” e “fazer o cabelo”. Após encerrar o trabalho com
as ações, explorei os mais uma vez os deslocamentos, utilizando além da velocidade, as
intensidades (pesado, flutuar, faísca) os níveis e as vocalidades, tentando descobrir qual a
voz para cada uma dessas energias. Foi um pouco difícil pra mim explorar a energia
pesada, especialmente a voz, porque acho que é bastante diferente da mina energia
cotidiana. Também percebi que ao ficar tanto tempo realizando a mesma ação, entro num
estado de concentração intenso em que às vezes me sinto não me relacionando mais com
o exterior. Ao fazer a ação do revolver me senti angustiada depois de um certo momento; a
de cozinhar foi bastante lúdica e divertida, consegui me imaginar numa panela gigante; e a
de enrolar os cabelos foi imersiva, (imagino também porque era a última ação) e um pouco
angustiante também. No final do ensaio eu e Guada conversamos sobre como foi o ensaio
e sobre outras ideias.

DIA 03/05
Nesse dia minha tarefa era levar alguns objetos pro ensaio. Levei uma camisola e um
chambre, uma miniatura de barco que prevê o tempo de acordo com a temperatura, alguns
bobs e algumas fotos. Organizamos esse material em cima de uma mesa. Trabalhamos em
uma sala teórica e pequena e isso no começo com certeza foi algo q eu senti que me
atrapalhou mas que eu tinha de superar e continuar o trabalho. Retomamos as energias
flutuar, tensão e faísca. Então Guada posicionou a camisola em uma cadeira, o chambre
em outra e os bobs em cima da mesa. Pediu que eu saísse pela porta e escolhesse uma
energia para entrar na sala ir caminhando até um desses objetos e o colocasse. Escolhi o
chambre para flutuar, a camisola para tensão e os bobs pra faísca. Fiz uma vez e Guada
pediu então que eu repetisse a rodada mais duas vezes, dessa vez escolhendo a cada
rodada explorando o máximo e o mínimo dessa energia. Por fim, tinha que transitar entre
essas energias tentando explorar as nuances entre uma e outra e descobrir de onde no
meu corpo partia essa energia. Constatamos que a diferença entre flutuar e faísca era a
velocidade, pois de acordo com as notações de Laban, o vetor do movimento era o mesmo,
disperso. Pra mim foi mais difícil fazer esse exercício na segunda feira do que hoje, mas
ainda foi difícil fazer a energia no máximo fazendo ações concretas e não abstratas. A voz
veio bem mais fácil dessa vez também. Então fizemos o exercício de eu contar uma receita
de bolo com cada uma dessas energias. Por fim fizemos o exercícios de contar minha
árvore genealógica com cada uma dessa energias, primeiro com eu escrevendo no quadro
branco e depois usando nozes e passas. Guada teve a ideia de eu fazer isso usando
biscoitos em forma de pessoas, o que me pareceu combinar mais com a estética da peça.
Foi um ensaio cansativo mas muito produtivo apesar de eu sentir que estava com pouca
energia.

06/05
Nesse dia comecei com um breve aquecimento, focando mais na voz. Guada posicionou
três cadeiras no fundo da sala, uma com cada elemento: a camisola, o chambre e os bobs.
Fui caminhando pelo espaço retomando as ações, que depois deveria incorporar a elas as
energias já trabalhadas. Me pediu que me detivesse sobre a ação de cozinhar e a de
carnear ovelha e que narrasse dois fatos: a internação da minha avó e as gestações e os
partos das duas enquanto realizasse essas ações. Em seguida, me pediu que elaborasse
uma pequena partitura com o tema “parto”. A notação fica a seguir: ANEXO
Em certo momento, Guada pediu que eu sentasse na cadeira e pensasse sobre a seguinte
pergunta: O que das minhas avós eu tenho em mim?. Quando terminasse de pensar,
deveria começar a cantar uma das canções que tinha preparado para esse ensaio. Cantei a
canção “Volver” de Carlos Gardel. Guada então pediu que eu repetisse mais duas vezes
essa canção e alguma outra que eu escolhesse fazendo o seguinte deslocamento: Ir
cantando enquanto caminhava em direção a uma das janelas, abri-la e seguir cantando pra
fora. O exercício tinha o intuito de ir conquistando desenvoltura para cantar em cena, já que
tínhamos essa vontade. Depois disso nos sentamos e começamos a conversar cena por
cena sobre as vontades que eu tinha e enumeramos (sem que elas tenham
necessariamente uma ordem cronológico no espetáculo). Por enquanto a ordem ficou
assim:
Me senti bem depois de um tempo cantando, sei que é uma insegurança que tenho que
vencer e que quero muito que haja uma cena cantando nessa peça. Eu gostei da partitura,
achei que plasticamente ficou bem interessante, consegui explorar níveis e velocidades
diferentes. Fiquei entretanto com algumas perguntas: que será que o parto é tão bonito
assim? Será que é tão leve? Fiquei feliz que a gente conseguiu conversar sobre as cenas e
assim podemos deixar elas frescas e ir trabalhando ao longo do tempo. Estou feliz com a
perspectiva de fazer uma cena bem bonita de homenagem à minha vó Suely. Percebemos
eu e Guada como a relação de tempo de trabalho e produção é diferente fazendo um solo,
pois em por exemplo 1h30 de trabalho já produzimos bastante e eu também fico cansada
mais rápido já que estou o tempo todo produzindo junto com a Guada.

8/05
Hoje o ensaio foi bem imersivo. Comecei uma um leve aquecimento, que logo foi acrescido
de cantaroladas e canções. Guada pediu que eu fosse me relacionando com o espaço, com
as paredes, o chão. Logo fui me relacionando com outros objetos, minha bolsa, um bolo que
eu tinha levado, a luza da sala, as janelas. Guada pediu que eu seguisse cantarolando
qualquer música que eu tivesse na cabeça. Fiquei nisso por um tempo até que a Guada
pediu que eu fizesse uma composição com esses objetos no espaço. Pediu que eu
desmontasse essa composição enquanto contava a história das duas avós apenas falando.
Depois pediu que eu cantarolasse essas histórias novamente, mas agora remontando
minha composição. Retomei minhas ações naquele espaço por um tempo, até que guada
pediu que eu sentasse numa cadeira e que fosse contando como foi meu dia na dinâmica
de troca, expande e avança enquanto realizava duas ações sentada. Nesse jogo a pessoa
vai contando uma história enquanto outra pode interromper pedindo que a pessoa troque o
que ela disse (troca), avance na história (avance) ou expanda o que aconteceu naquele
momento (expande). Fui contando a história do meu dia, mas aí com essa dinâmica foram
surgindo várias histórias malucas me até surrealistas, muito interessantes e belas imagens.
Entre elas surgiu uma história de que tínhamos nos tornado formigas e que as minhas avós
eram tão grande eu eu tão pequena. Também em um momento nomeei que estava
desenhando um mapa da casa das minhas avós que era invisível e só eu podia ver, mas
que estava desaparecendo. o exercício foi se tornando extremamente exaustivo e isso
acabou gerando imagens muito interessantes por ativar um certo fluxo de falar sem muito
filtro, além de exercitar o fazer e falar ao mesmo tempo.
10/05
Hoje ensaiei sozinha e me dediquei a duas tarefas que consistiam em pesquisar sobre
eletroconvulsoterapia para elaborarmos uma cena sobre isso e em preparar uma
performance a partir da pergunta “o que das minhas avós tem em mim?”. Pesquisei um
pouco sobre esse tema, reunindo algumas informações. Depois comecei a pensar na
performance. Me veio diretamente a ideia de genética, então pesquisei a partir de que
partes do corpo são retiradas amostras para análise de autenticação genética. eles são
feitos a partir da saliva, de secreções íntimas, de escovas de dente, de sangue, unha,
cabelo. A partir disso elaborei um texto em que fosse como se cada uma das avós e eu
falasse sobre seu cabelo, seu cuidado com as unhas, sobre casamento e por fim sobre
filhos.
elaborei uma versão em que as energias e as versões vão se misturando:

eu tenho o cabelo castanho escuro e curto; mas hoje meu cabelo é castanho claro e
ondulado, eu faço permanente no salão. Agora ele está bem branquinho, ele caiu um pouco
(eu arranquei) mas sei que ele vai voltar a crescer. Eu nunca gostei de pintar a unha, eu rôo
ela, então por isso eu pinto sempre de rosinha bem claro e corto bem curta, só coloco umas
cores bem extravagantes como rosa e roxo e gosto de deixar bem comprida. Eu tive 3
filhos. Eu não tive filhos; eu tive na verdade 7 filhos. Ninguém perguntou se eu queria ter
filhos. Mas já que todos vocês estão aqui eu vou tratar vocês como se fossem meus filhos.
Eu vou cuidar de vocês e vou amar vocês. Vou dar boa noite como se fossem meus filhos e
como se fossem meus filhos eu vou fazer café da manhã pra vocês. e vocês que pode ser
meus filhos, eu vou ensinar vocês a ler. e eu vou acordar de madrugada e tirar leite da vaca
pra vocês caso vocês vejam meus filhos. E eu vou assar um pão pra vocês como se fossem
são meus filhos. eu eu vou carnear uma ovelha para cada um de vocês meus filhos, eu vou
esfolar minhas mãos no tanque pra lavar as roupas dos meus filhos, eu vou esperar você
voltar por semanas a fio sem notícias cuidando dos nosso filhos e eu vou amar vocês meus
filhos como se eu não estivesse exausta porque eu queria que vocês todos fossem minhas
mães e que me amassem e cuidassem de mim e me pegassem no colo e fizessem carinho
e embalassem meu sono como se eu fosse a filha de vocês.

13/05
Nesse dia tinha que apresentar minha performance a partir da pergunta “o que das minhas
avós tem em mim?”. Dispus três cadeiras uma do lado da outra e da esquerda pra direita
coloquei sobre elas: na primeira uma camisola, dois chambres, e um vestido; na segunda a
caixa de som e meu celular; na terceira uma caixa com cigarros, maquiagem, bobs pro
cabelo e brincos. A performance consistia em, após acender as luzes e um áudio com a voz
da minha mãe, a realização de uma espécie de circuito entre essas três cadeiras/estações.
Ia me montando enquanto ia trocando os áudios que variavam entre entrevistas de médicos
sobre questões psicológicas, vídeos sobre turismo no interior do rio grande do sul, canções.
Entre essas duas ações ia trocando de roupa, começando vestida com um sutiã, uma
calcinha e uma cinta, numa progressão de roupas codificadas como mais jovens para
roupas mais velhas, sendo que ao colocar a camisola mais velha tirei a cinta. O
encerramento foi com eu já montada apagando a luz e no escuro o áudio da minha mãe.
Pra mim a cadeira das roupas foi disposta das roupas mais jovens pra mais velhas como
uma representação do ciclo da vida e da indicação das idades. A cadeira com a caixa de
som representa essas interferências externas e essa voz que não é minha, quase como um
rádio. Já a última cadeira com os objetos e maquiagens possui esses itens que são itens
que lembram minha avó misturados com outros que de certa maneira indicam a
feminilidade e a alterações no corpo de acordo com as expectativas em relação a mulher e
a manutenção da juventude. O áudio da minha mãe e os outros áudios de maneira geral
indicam essa dificuldade de se definir ou de falar sobre si em detrimento às vozes de outras.
tempo - outro - mulher
Depois da apresentação fomos assistir o espetáculo “No te Pongas Flamenca ou
porque ainda temos que brigar”, parte da pesquisa de Juliana Kersting do mestrado no
ppgac-ufrgs, uma investigação vinculada à pesquisa Práticas do encontro: o político na
cena contemporânea. O espetáculo solo entrelaça o flamenco, seu corpo, figurino e
musicalidade com relatos autobiográficos, revelando uma abordagem feminista e decolonial
da sua história e das mulheres de sua família.
A cena inicial é bastante leve e cômica e já evidente o posicionamento anti
hegemônico do espetáculo, com uma crítica irônica e ácida a considerações machistas
feitas por grandes intelectuais europeus sobre as mulheres e suas capacidades.
Considerando tratar-se de uma obra realizada em âmbito acadêmico, percebe-se também o
posicionamento da pesquisa em contraponto a uma hegemonia colonial e patriarcal dentro
do pensamento universitário.
O espetáculo segue utilizando um procedimento de colagem de cenas sem uma
linha dramatúrgica cronológica. Ao longo da peça vão sendo intercaladas cenas mais
narrativas com cenas mais coreográficas, explorando também as nuances entre elas. Nas
cenas mais narrativas Juliana remonta algumas histórias de sua avó, tias e mãe, ora num
tom cômico, ora num tom trágico. Me deterei sobre a análise de três aspectos do
espetáculo: a musicalidade, o uso de textos autobiográficos e a relação com os
espectadores.
A musicalidade aparece no espetáculo tanto de forma mais direta, através da trilha
de repertório flamenco, e de forma indireta, através de desdobramentos desse repertório.
Esses desdobramentos se dão através da recontextualização da execução do toque de
palmas e sapateado e das distorções sonoras. A música por si já nos evoca muitas imagens
do universo flamenco porém no momento em que entram as coreografias essa potência é
ressignificada nesse outro contexto cênico, evocando outras imagens e sentidos. O toque
de palmas e o sapateado entram como proposta de evidenciar o ritmo cênico e extrapolá-lo,
potencializando sensações como angústia ou desconforto nos espectadores. Por fim, o uso
à vista do público de distorções sonoras também produz esse efeito, especialmente na cena
em que Juliana grava ao vivo sua voz e o som de uma máquina de costura em
funcionamento com efeito de eco. Essa cena possui um texto tenso e pesado, e o som da
máquina de costura em looping vai adensando a atmosfera da cena evocando também
imagens relacionadas ao exaustivo trabalho doméstico, à costura.
Também presente na obra está o estreitamento de uma relação direta com os
espectadores. A linguagem ágil e objetiva direcionada ao público torna a comunicação
bastante fluida e foi fácil para mim me envolver com a cena. Além disso, o tom ácido de
certas abordagens em relação à situações machistas, na primeira cena por exemplo, trazia
uma provocação direta que provavelmente gerou alguns desconfortos intencionais,
pertinentes à proposta cênica. Por fim, há uma cena em que a atriz convida uma pessoa do
público para que ela tire algumas cartas de baralho cigano, outra cena em que essa relação
se intensifica, dessa vez mais explicitamente.
Por fim o último tópico a ser abordado é o tratamento dado aos elementos
autobiográficos na cena. Nessa mesma cena com a tirada de cartas, a atriz conta que sua
avó tirava cartas e que a tinha ensinado, e que agora era ela quem iria tirar. Ao invés de
narrar esse fato somente, a atriz realiza essa ação e materializa essa memória. Durante o
espetáculo esse procedimento acontece diversas vezes de diferentes maneiras. Numa outra
cena ela conta que quando era criança suas tias conversavam em polonês quando não
queriam que ela escutasse a conversa. É interessante como novamente ela toma o papel
de tia e de criança ao mesmo tempo, de maneira bastante cômica e dinâmica. O espetáculo
conta com diversas passagens autobiográficas pontuais, não necessariamente cronológicas
e que portanto deixam algumas lacunas, alguns espaços vazios em que temos a
possibilidade de respiro, especialmente entre as cenas mais densas.
O espetáculo investiga, entre outros aspectos, essas articulações e intersecções
entre os relatos autobiográficos e as células coreográficas na busca de uma dramaturgia
autoral e anti hegemônica. O espetáculo opera, em termos discursivos, com um manifesto
bastante ácido de exposição das condições patriarcais que perpassam a sua vida e a das
mulheres da sua família. Essa investigação também se dá na tentativa de se entender e
encontrar a si e seu lugar na cena, na arte e na universidade Além disso, me parece ser
também uma carta de amor e de apoio às mulheres e suas contribuições de resistência e
afeto ao mundo.

17 de maio
Nesse dia a Guada não pôde estar comigo no ensaio e então me deu uma tarefa que
consistia em retomar as ações das avós e experimentar contar a história delas e fazer as
ações ao mesmo tempo, e se surgisse oportunidade adicionar as energias que já tínhamos
trabalhado. Confesso que foi bem difícil trabalhar nesse dia, estava com dificuldade pra me
concentrar e era difícil se entregar para o trabalho já que não havia ninguém para me puxar
de volta para a superfície. Tentei realizar a tarefa algumas vezes, mas senti que não estava
realmente focada naquilo. Fiz o exercício de tentar não julgar e de apenas observar que
isso aconteceu. Em alguns dias somos mais produtivas, em outros menos, e assim é o
processo.

20 de maio
Hoje fizemos um encontro na casa de Guadalupe com quase todo o grupo, menos a Bruna,
para discutir algumas questões relacionadas ao uso de tecnologia em cena, já que a Vitória
possui uma pesquisa sobre isso e tinha coisas para nos mostrar. Discutimos sobre o uso do
vídeo em cena, sua interação com a atuação e quais seriam as possibilidade que tínhamos.
Entendo a tecnologia nesse espaço como uma maneira de multiplicar e potencializar as
imagens e a minha presença, além de ajudar na criação desse ambiente onírico e de
devaneio. Conversamos também sobre aspectos de cenografia e produção e chegamos
num protótipo possível de cenário que contaria com um fundo de algum tecido que serviria
como tela de projeção e algum tipo de tapete para delimitar o espaço cênico.
22 de maio
Hoje o ensaio contou com a presença da minha orientadora Patrícia. Comecei me
aquecendo e sempre tentando incorporar a voz nesse aquecimento, o que tem sido difícil
surpreendentemente. Sigo nesse esforço de incorporar a vocalidade nos exercícios. Em
seguida comecei a retomar as minha ações, adicionando aos poucos velocidades, níveis,
tamanhos e energias. Em seguida Guada pediu que eu escolhesse três lugares no espaço e
que decidisse que um fosse o lugar da memória, o lugar da loucura e o do presente. Eu
tinha que de alguma maneira diferenciar esses espaços, seja pelas ações que escolhi para
cada espaço, seja pelas energias. Decidi que escolheria o canto direito da sala como o
espaço da loucura com a energia de tensão as ações de olhar o revólver, comer escondido,
carnear ovelha; o da memória no centro era cortar legumes, cozinhar, cortar tecido com a
energia de flutuação; e do presente era no lugar da plateia com as ações de amarrar a fivela
do sapato, abotoar a camisa e passar batom com a energia de faísca. Retomamos o
exercício de cantar até a janela pra trazer a voz pro trabalho; o de contar a árvore
genealógica, dessa vez acrescentando que os próprios parentes se apresentassem; e o de
fazer as entradas com cada energia e objeto. Por último conversamos sobre a prática, e a
Patrícia trouxe a sugestão de eu investir em outros registros corporais, não apagando o
meu, mas tornando ele consciente. Concordo e confesso que nesse dia tive dificuldade com
as energias, sinto que estava fazendo tudo igual. Saí um pouco frustrada.

27 de maio
Nesse dia tivemos um ensaio com a intervenção audiovisual da Vitória. Primeiro iniciei com
a câmera ao vivo e vários tecidos e roupas. Fiquei por um tempo explorando essa mídia
com a qual tenho pouca familiaridade e investi um certo tempo explorando a essa relação
com os materiais e o meu corpo ampliado na câmera. Num segundo momento começamos
a utilizar as projeções com o único propósito de experimentar. Várias coisas surgiram pois
foram projetados todo tipo de mídia, como vídeos de receitas,da Palmirinha, fundos
estampados, mapas, vídeos de estradas, vídeos sobre o turismo no interior. Foi um dia
muito produtivo onde pude interagir com essas mídias e com muitos tecidos e roupas e
além disso improvisar várias situações num fluxo contínuo, onde surgiram várias imagens e
maneiras interessantes de contar histórias. Fiquei muito feliz pois consegui me divertir e
criar muitas coisas ao mesmo tempo. Além disso ter toda a equipe quase toda reunida me
deu uma sensação muito boa de realemnte não estar sozinha em cena.

29 de maio
Hoje minha irmã veio ao ensaio junto comigo. Depois de me aquecer brevemente sozinha,
fui começando um exercício de ir aquecendo as partes do corpo “separadas” tentando
entender como seria o movimento partindo dessas partes: pés, joelhos, quadril, peito,
ombro mãos/punhos, cabeça e coluna. Fui experimentando essas partes separadas e
depois juntei ficando trabalhando esses movimentos. Guada pediu então que eu fosse
explorando também as energias em cada parte e depois que eu escolhesse as quatro que
achei mais interessante. A tarefa agora era realizar um percurso entre cinco pontos com
transições entre si adicionando uma ou mais histórias das avós com 4 maneiras de contá-la:
narrar, narrar em 1a pessoa, cantarolar e fazer. O meu percurso foi o seguinte:
ANEXO
Fui realizando algumas vezes em voz baixa aumentando gradativamente o volume da voz,
uma tentativa de ensaiar algo que a recém tinha criado e que ainda estava sendo
estabelecido. Depois sentamos para conversar sobre o que fizemos e fiz um último
exercício, de contar a árvore genealógica com os próprios personagens se apresentando,
dessa vez usamos lápis ao invés de biscoitos. Foi um bom ensaio pois estava sentindo falta
de explorar mais as partes do corpo envolvidas nos movimentos, que estavam ainda muito
periféricos, não envolvendo o corpo inteiro. Estou tentando explorar outro lugares mais
diferentes do meu registro mais cotidiano. Também fiquei feliz com a presença da minha
irmã, que contribuiu muito com seu olhar afetivo e artístico.

31 de maio
Hoje ensaiei sozinha a partir das diretrizes que a Guadalupe me passou. Iniciei com um
mindfullness pois sempre que ensaio sozinha é mais difícil se concentrar. Depois do
mindfulness anotei o que a guadalupe me pediu no caderno pra ter à vista durante o ensaio.
Coloquei uma playlist de músicas pop/r&b para ir animando, antes de colocar a playlist do
projeto, que posso ir deixando rolar. Aproveitei para ir cantando as músicas, que já
conhecia, e aquecendo a voz. Fui retomando o exercício das partes do corpo e energias e
descobri outras coisas com essas músicas, aproveitei para dançar, cantar e ir seguindo um
pouco o fluxo da atenção, desde que não parasse de me movimentar e cantar. Alguns
momentos desviei do exercício mas foi importante pois outras coisas surgiram. Retomei
também as trajetórias que criei no último ensaio. É difícil ensaiar sozinha, ainda estou
aprendendo como fazer isso, pois a atenção fica bastante flutuante. Tenho tentado não
julgar o processo sozinha e encarar a produtividade desses ensaios de maneira mais
qualitativa e não tão quantitativa e aproveitar esses momentos sozinha pra dar mais
atenção para alguns detalhes, no caso do ensaio de hoje, o movimento.

7/06
Hoje ensaiei sozinha pois a Guadalupe estava estreando a última Peça do Sarcáustico.
Estava com dificuldade de ir ensaiar e procrastinando um pouco, mas fui mesmo assim pois
era o único dia de ensaio nesta semana. Fiz um mindfulness, anotei o que a Guadalupe me
pediu pra retomar (as energias, o trajeto, as partes do corpo, as ações) e comecei o
trabalho. Coloquei o álbum “Azul Moderno”, de Luiza Lian, e comecei meu aquecimento.
Percorri as partes do corpo novamente, retomei meu trajeto, e dancei bastante. Sinto que
era importante estar em movimento, mesmo que não estivesse retomando tudo o que
fizemos. é difícil ensaiar sozinha mas está sendo um aprendizado importante de autonomia

10/06
No ensaio de hoje trabalhamos com as questões sonoras e vocais. Vitório levou seus
equipamentos e ficamos testando vários efeitos no microfone pra eu ter um pouco de
familiaridade com isso. Testamos um pouco eu contar algumas histórias no microfone, e em
seguida começamos a passar um texto sobre a eletroconvulsoterapia, procedimento pelo
qual uma das minhas avós passou no período em que esteve internada. Era um texto bem
frio, tipo da wikipedia, que descrevia o procedimento e seus efeitos colaterais. Testamos
isso algumas vezes com o Vitório alterando a voz algumas vezes. Depois passamos para
outro exercício, que consistia em trabalhar com as sonoridades de objetos de uso
doméstico. A ideia é que eu fosse falando uma receita e fazendo som com os objetos,
enquanto o Vitório ia gravando e modificando os sons ao vivo, de maneira que acabava se
tornando uma espécie de sintonia ao vivo com os aqueles sons presenciais e virtuais. Aos
poucos isso foi se complexificando, de maneira que o texto foi se alterando e entre os
ingredientes estavam angústias dores e obsessões, ditas normalmente, causando um
estranhamento. Foi difícil coordenar tudo e desafiador, mas muito bom pra ir tornando
aquilo familiar pra mim e ir complexificando, recheando a ação. Foi um ensaio muito
produtivo, ainda que bastante objetivo já que nos preocupamos com duas propostas
pontuais, mas me parece que o trabalho com o som será mais assim. Foi muito prazeroso e
me senti bastante contemplada com as propostas e resultados que encontramos.

17/06
Ontem ensaiei sozinha mais uma vez. A tarefa de hoje era continuar trabalhando na cena
do choque, tentando elaborar um texto junto com as ações de passar roupa. Essa cena é
sobre a internação psiquiátrica da minha avó. Comecei colocando algumas músicas e
dançando e cantando para me aquecer. Não tinha tecidos ali naquele momento, então usei
minha roupas e fiquei explorando brincar com aqueles tecidos por um tempo. Então
comecei a contar essa história enquanto brincava com eles, e fui retomando as ações de
esfregar roupa e passar, e cortar tecidos. Fiquei explorando isso por algum tempo tentando
estruturar algo. Foi um pouco difícil hoje pois estava bastante procrastinadora e um pouco
desmotivada.

24/06
Ontem ensaiamos novamente eu e Guada. Depois de aquecer, retomei minha trajetória que
tinha criado por algum tempo. Em seguida Guada colocou uma cadeira num ponto da sala e
cima dela um casaco de lã. Minha tarefa era experimentar várias maneiras de
vestir/desvestir e dobrar o casaco, Fiquei explorando isso por um bom tempo e então Gada
pediu que eu retomasse alguns que eu achasse mais interessante. Tive dificuldade de
retomar pois estava bastante imersa em ir criando as coisas. Então Guada me pediu que eu
agora eu tentasse contar a história do casamento de minhas avós. Após fazer algumas
vezes ele ficou assim:
No dia do meu casamento eu acordei e fiquei olhando pro teto por muito tempo. Levantei,
fui tomar um copo d'água. Senti uma apatia muito grande. Decidi tomar banho, então fervi a
água no fogão a lenha e fui pro banheiro do lado de fora da nossa casa. Joguei a água
quente em cima de mim e senti que agora estava acordando realmente. Por alguns
segundos senti um alívio. Logo me sequei pois era um dia frio de inverno. Quando terminei
meu cabelo já estava seco, já que era um dia quente. Lembro que não conseguia colocar
nada no estômago nesse dia, então pedi que carneassem uma ovelha e mandei fazer
frango, purê de batata, polenta, que pegassem as radites do pátio, enfim um banquete de
almoço. Nesse dia não cozinhei, pois não queria engordar nada para poder caber direito na
roupa. Comi tanto mas tanto, como se alguma coisa estivesse me comendo por dentro. O
meu vestido, branco é claro, eu mesma costurei e pedi a uma costureira que bordasse. Eu
comprei as continhas de vidro e o tecido. Vesti minha melhor roupa, um terninho vermelho,
me maquiei bem simples, só um rouge, a sobrancelha bem alta, um batom laranja, que eu
mais gosto, não, batom vermelho, e só. Eu sei que meu marido passou o dia com a cara
emburrada por causa da roupa que eu escolhi, mas eu estava achando ótimo, eu estava
achando todo aquele dia muito estranho, não queria estar fazendo aquilo. Quando eu me
olhei no espelho eu me senti linda como nunca. Eu sentia como se em fosse eu, como se
estivesse fora do meu corpo. Eu estava magra, bem diferente, tenho as fotos ainda.
Pegamos o carro emprestado e no caminho até a igreja, que ficava no alto de um morro, e
subindo até lá, o carro enguiçou, e tivemos que empurrar o carro até lá em cima. Tinham
poucas pessoas lá com a gente na igreja, só a família do meu marido, alguns amigos e os
nossos padrinhos. Lembro de ir andando até o altar com muita calma e muito nervosismo.
Foi um dos dias mais estranhos da minha vida. Foi tudo muito formal, chegamos no cartório,
assinamos alguns papéis, embora eu conhecesse todo mundo porque o meu marido
trabalha ali, tudo precisa muito distante. No caminho até lá parecia que todos na rua nos
olhavam como se tivéssemos matado alguém. Meus filhos estavam muito felizes de ver a
mãe casando, eu arrumei eles todo muito bem com a melhor roupa e com os cabelinhos
penteados. Eles estavam muito eufóricos e esperaram a gente chegar em casa. Eu lembro
de ver todos aqueles olhares sobre mim com tanta expectativa, alegria, implorando pra que
eu fizesse aquilo, pra que eu sossegasse, pra eu poder descansar enfim.

26/06
Hoje trabalhamos a partir da ideia e morte. Primeiro recolhemos algumas referências sobre
morte, tentando angariar alguns exemplos. Depois comecei a improvisar maneiras de
morrer. Depois disso, podia acrescentar algumas ações do meu repertório a essas
maneiras. Depois Guada recolheu alguns momentos e ações e juntas fomo experimentando
as transições entre esse eles, até criarmos o que chamamos de coreô da morte. Repeti
algumas vezes, tentando trazer fluidez aos movimentos. Por fim Guada pediu que ao
terminar, eu abrisse a janela e cantasse uma música, que hoje foi Alfonsina y el Mar.

28/06
Na tarde desse dia ficamos discutindo algumas diretrizes e alguns pontos do nosso
cronograma, chegando a conclusão de que o mês de julho será dedicado a ir trabalhando
mais pontualmente nas cenas/temas específicos, para em agosto termos onde trabalhar e
criar transições e o que faltar, tentando ter a peça mais finalizada no começo de setembro.

01/07
Hoje o ensaio contou com vitória, Vitório e julia e retomamos algumas coisas para mostrar,
entre elas a coreo da morte, adaptada para outro espaço pra ver como me saía. Em
seguida passamos para a uma experimentação de cena a partir dos tecidos, em que minha
tarefa era de dobrar e desdobrar e organizar aqueles tecidos, em que cada um seria um
privilégio, como ser branca, de classe média, ter tido acesso a estudo, não ter sofrido
agressão nem do pai nem do marido, ter viajado para o exterior, ter podido escolher o que
comer.
Vitória também nos mostrou algumas experimentações a partir da câmera, com
multiplicações do meu rosto e sobreposições de imagens de bordado em cima do meu
corpo. Por fim tentamos uma parte com a câmera parada focando numa superfície em que
eu ia montando uma mesa com bibelôs e contando uma história. A história também seria
contada a partir dos objetos, e o foco estaria neles.

03/07
Ontem trabalhamos decidimos desenvolver o exercício do pano. Trabalhamos a partir da
tentativa de vender algum produto e das diversas maneiras e discursos que podem estar
envolvidos nisso. Primeiro fiz algumas vezes com objetos diversos, às vezes vendendo-os
pela sua função original, às vezes acrescentando outras funções ou formulando uma
maneira mais mirabolante de descrevê-lo. Depois de fazer algumas vezes Guada me
apontou aspectos que ela achou interessante e eu refiz o exercício, agora acrescentando
mais interações com a expectadora e a partir dos temas que tínhamos experimentado no
ensaio anterior, além de vários registros e estilos de abordagem do produto.

05/06
No ensaio de hoje nos dedicamos à composição da música da cena da morte.
Conversamos sobre a concepção da música e recolhemos alguma referências comuns. Fui
á casa do Vitório e fizemos um brainstorm de ideias. Escrevi um pequeno trecho com uma
melodia, e o Vitório elaborou um pouco mais no violão. Fomos trabalhando na ideia e
chegamos á seguinte proposta: pensamos na viagem como uma metáfora para a morte, e
como se fossem duas pessoas falando. A primeira, minha avó, comunicando que iria viajar,
com tranquilidade, e a segunda seria eu falando sobre sua morte. Para o refrão pensamos
numa música que minha avó inventou e costumava cantar bastante. Fomos construindo
essa letra provisoriamente e o Vitório depois elaborou a música como um todo. A música
ficará na geladeira por um tempo até termos mais definições da trilha.

8/07
Nesse dia a Vitória acompanhou o ensaio. Primeiro visitamos algumas referências de avós
que vitória trouxe da internet. Viemos a reflexão de que muito do imaginário relacionado às
avós era na verdade relacionado à mulheres velhas, não necessariamente à avós.
Recolhemos algumas que gostamos mais e tentei reproduzir as ações que apareciam:
derrubar uma garrafa, tentar pular um bambolê e cair, dançar ao lado de um carro, se
assustar com um jogo de realidade virtual, fazer exercícios físicos. Então pegamos um outro
vídeo que é o da palmirinha fazendo uma receita e estruturamos uma improvisação em que
eu começo dublando o que ela diz; depois começo a repetir o que ela está dizendo em voz
alta; depois começo a modificar o que ela diz. Depois de fazermos esse exercício algumas
vezes, passamos para um outro que consistia em contar uma história a partir dos bibelôs
para a câmera em detalhe. Dessa vez a Vitória trouxe seus objetos, então foi ótimo para
desapegar das minhas histórias e me entregar à ficção. Fizemos isso algumas vezes, e em
um momento eu não podia escolher qual objeto me era dado, e sim minha irmã ou meu
cunhado, que vieram assistir ao ensaio, me entregaram e eu tinha que improvisar com eles.
Foi um bom ensaio para aprimorar as questões com a tecnologia.
15/07
No ensaio de hoje estava toda a equipe reunida, incluindo minha orientadora Patrícia.
Comecei mostrando algumas coisas que já temos, a coreografia da morte, a partitura das
formas de falar, Comentei a cena do casamento. Também comentei a cena da projeção da
palmirinha e dos bordados se desfazendo. Consegui mostrar a cena dos privilégios e
tecidos e uma versão da cena dos bibelôs. Foi bem bom perceber que tinha muitas coisa ja,
mas fiquei bastante decepcionada de não poder mostrar as cenas todas e a de so poder
comentar sobre algumas.

17/07
Hoje elaboramos a cena que iria apresentar na festa de comemoração de 1 ano da Oficina
ELA promovida pela kalisy cabeda no Grupo Cerco. Eu trouxe a ideia de apresentar a
minha performance que tinha feito, então elaboramos os áudios que eu usava, utilizando
fragmento de áudios de turismo em vacaria e livramento, minha mae cantando o caravan,
um audio sobre genetica, outro da música maria da maria beraldo e por fim um áudio da
minha mãe falando sobre o que das minhas avós havia em mim. A cena começava com eu
oferecendo os biscoitos e contando a minha árvore genealógica para as pessoas de
maneira bastante convidativa. Depois eu contava para as pessoas que minhas avós tinham
trabalhado numa loja de tecidos e começava a cena dos privilégios.

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